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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
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A IMPORTÂNCIA DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA OS
ALUNOS DA ESCOLA PÚBLICA: RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA.
Cleuza Danielo Fachin¹
Suzete Terezinha Orzechowski²
Resumo: Este artigo tem como objetivo contribuir na discussão sobre a importância da
Orientação Profissional para os alunos da escola pública. Traz as contribuições de alguns
autores que entendem que a Orientação Profissional Crítica precisa partir do currículo escolar,
principalmente ressaltando a necessidade de discutir o tema “Trabalho”. Nesse sentido,
destacam-se os trabalhos de Ferretti(1997) e Bock(2002). Apresenta-se uma proposta em que
as disciplinas de História e Sociologia passam a contribuir no trabalho de Orientação Profissional
a ser desenvolvido com os alunos, principalmente por trazerem em seus currículos, conteúdos
que se relacionam com o mundo do trabalho. O estudo faz parte do Programa de
Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, e pretende
apresentar os resultados obtidos a partir da implementação do Projeto de Intervenção
Pedagógica realizado com os alunos do 3º ano do ensino médio de um colégio público estadual
do interior do Estado. O objetivo foi desenvolver a Orientação Profissional com esses alunos, de
maneira que tivessem condições de realizar suas escolhas profissionais com mais autonomia e
responsabilidade. Os resultados apresentados ressaltam a necessidade de se trabalhar a
Orientação Profissional nas escolas públicas, considerando que esses jovens necessitam de
informações e orientações que os auxiliem na tomada de decisões quanto ao seu futuro
profissional. A metodologia da pesquisa está ancorada na abordagem da pesquisa-ação e,
aprofundamento bibliográfico.
Palavras-chave: Orientação Profissional. Escolha Profissional. Mundo do trabalho.
Ensino Médio Público.
Introdução
Historicamente a Orientação Profissional começou a ser implementada nas
escolas com a finalidade de adaptar os sujeitos às ocupações do mercado de
trabalho conforme demanda da sociedade industrial. Com o passar do tempo os
serviços de Orientação Profissional foram consolidando-se em clínicas ou
_____________________________________
¹ Professora PDE, Licenciada em Pedagogia com habilitação em Orientação Educacional, Especialista em Educação Especial e Inclusiva, lotada no Colégio Estadual Antonio Dorigon, em Pitanga/PR.
² Professora do Departamento de Pedagogia da Unicentro, Campus Santa Cruz, Doutora em Educação-formação de professores. Integrante do grupo de Pesquisa GETFOP- Educação, Trabalho e Formação de Professores.
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Instituições particulares de ensino. Sendo oferecidos, sobretudo, por profissionais da
psicologia, aos jovens das classes média e alta da população, os quais, apresentam
melhores condições para pagar por esses serviços. Bock (2010) ressalta que
historicamente sempre foram essas camadas da população as que mais atingiram
níveis elevados de escolarização, como o ensino superior. O autor ainda aponta que
em função da baixa escolaridade, a que a maioria da população brasileira foi
submetida, a Orientação Profissional se firmou como “um fenômeno dos estratos
mais privilegiados da população” (Bock, 2010, p. 14). Porém em que pese a
Orientação Profissional historicamente estar associada a área da psicologia,
Grinspun (2001), ressalta que ela passou a ser desenvolvida nas escolas, a partir do
trabalho do Orientador Educacional. Este foi um profissional especialista formado no
curso de Pedagogia com habilitação em Orientação Educacional, o qual tinha, entre
suas muitas funções, também a Orientação Profissional.
Atualmente, com a abertura de concurso público para pedagogo nas escolas
públicas estaduais, a Orientação Profissional volta a fazer parte das atividades
desenvolvidas com os alunos do ensino público. Entretanto não existe mais a
formação que embasava tal procedimento pedagógico, desde a década de 1990.
Neste sentido, o papel do pedagogo no trabalho com a Orientação Profissional
embora, fundamental na articulação dos esforços de toda a comunidade escolar,
desenvolve tal ação, atualmente de forma mais intuitiva. Por isso a relevância deste
trabalho, com a pretensão de auxiliar no encaminhamento em torno da discussão da
escolha profissional entre os jovens. E, para tanto é imprescindível que a Orientação
Profissional esteja elencada no Projeto Político Pedagógico das escolas. Neste
contexto, o pedagogo constitui-se como agente capaz de mobilizar e organizar o
trabalho de todos os envolvidos com a Orientação Profissional, sejam professores,
funcionários, alunos, equipe pedagógica e direção.
Hoje a Orientação Profissional constitui-se como um importante trabalho a ser
desenvolvido com os alunos, principalmente nas escolas públicas, considerando que
esses jovens necessitam de informações e orientações que os auxiliem na tomada
de decisões quanto ao seu futuro profissional. Com a LDB 9.394/96 que traz a
progressiva extensão da obrigatoriedade do ensino médio, as escolas públicas
passaram a atender um número maior de jovens que buscam nesse nível de ensino
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a transição para um curso de nível superior e a inserção no mundo do trabalho.
Devido a grande diversidade de cursos existentes, tanto profissionalizantes quanto
de graduação, torna-se cada vez mais difícil para o jovem escolher em que área
atuar. Dessa forma, é papel da escola oportunizar aos seus alunos, o
desenvolvimento de saberes e experiências que o levem à tomada de decisões
quanto ao seu futuro profissional.
O principal motivo que levou a realização da pesquisa em questão foi a
percepção de que a maioria dos alunos do ensino médio não apresentava um
projeto de vida que os levassem a planejar ações relacionadas ao seu futuro
profissional. A maioria deles, além das dificuldades individuais para realizar uma
escolha, devido a desinformação em relação às profissões, ainda se depara com a
realidade socioeconômica, a qual não determina, mas, certamente interfere na
trajetória individual desses alunos e nas possibilidades de ingressarem num curso
de nível superior ou no mundo do trabalho. Pretende-se com este estudo demonstrar
a importância de desenvolver um trabalho de Orientação Profissional com os alunos
das escolas públicas. Um dos objetivos de trabalhar a Orientação Profissional nesse
contexto é contribuir na formação de sujeitos críticos e conscientes, capazes de
compreender a dinâmica da sociedade e consequentemente do mundo do trabalho.
Ferretti (1997) ressalta que é importante refletir sobre qual ideologia prevalece
atualmente na prática da Orientação Profissional desenvolvida nas escolas e propõe
que ela atue predominantemente através do currículo. Neste sentido o presente
estudo propõe que a Orientação Profissional possa ser desenvolvida de forma
interdisciplinar estabelecendo parcerias com outras disciplinas como História e
Sociologia. Estas disciplinas apresentam em seus currículos, os conteúdos
relacionados ao mundo do trabalho. Considerando que toda prática de Orientação
Profissional deve estar alicerçada na concepção de educação como ato político,
conforme defende Grinspun (2001), à escola cabe contribuir para discutir a questão
do trabalho. Não pelo caminho da sondagem de aptidões individuais, mas pelas
questões sociais, de suas desigualdades, do significado do trabalho no contexto
histórico e social no qual estão inseridos os jovens do ensino médio, atualmente.
O presente artigo faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional –
PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, e constitui-se no trabalho
final decorrente da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica realizado
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com os alunos do 3º ano do ensino médio de um colégio público estadual na cidade
de Pitanga/PR. Neste sentido, primeiramente o artigo destaca a importância da
Orientação Profissional para os alunos da escola pública, uma vez que ela contribui
para a formação de sujeitos mais conscientes do seu papel na sociedade. Além de
apresentar uma proposta de trabalhar a Orientação Profissional com o apoio das
disciplinas de História e Sociologia, as quais possuem as bases teóricas para a
discussão sobre o mundo do trabalho, favorecendo o processo de escolha
profissional. E por fim, apresenta um breve histórico da Orientação Profissional,
destacando as contribuições de Ferretti(1997) e Bock (2002) que entendem que a
Orientação Profissional precisa partir do currículo, considerando a questão do
trabalho e sua realização dentro da sociedade.
A importância da Orientação Profissional para os alunos da escola pública.
De acordo com Lucchiari (1993), a orientação profissional vem para auxiliar o
momento em que acontece a escolha. É um processo no qual o jovem reflete sobre
o seu momento decisório na profissão. Além de si mesmo o jovem leva em
consideração os aspectos que estão à sua volta: sociais, familiares e econômicos.
O processo de escolha profissional, no contexto escolar, visa promover o
autoconhecimento, o conhecimento das profissões bem como do mundo do trabalho
onde o aluno está inserido. A escolha profissional é parte de um processo mais
amplo que abrange todo o comportamento humano a partir de informações
fornecidas pelo meio social e cultural no qual se insere o jovem.
Desde pequenos somos levados a realizar escolhas em nossas vidas. “O que
você quer ser quando crescer?” Esta é uma pergunta clássica, que estamos
acostumados a ouvir desde crianças. O grande problema é que, para alguns jovens,
ainda é cedo para tomar essa decisão e nem sempre se tem a resposta a essa
famosa pergunta. E é em meio à fase crucial da sua vida, a adolescência, que o
jovem precisa tomar essa decisão.
A adolescência constitui-se numa fase permeada por mudanças de ordem
física, mental, emocional e social. O jovem acaba sendo afetado por essas
alterações, justamente no período em que precisa tomar decisões quanto a sua
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carreira e futuro profissional. Segundo Lucchiari (1993. p.11), “o momento da
escolha de uma profissão coincide com a fase do desenvolvimento na qual o jovem
está definindo sua identidade: quem ele quer ser e quem não quer ser.” Sem a
orientação adequada e com as expectativas que a família e a própria escola
depositam sobre ele em relação ao futuro, o jovem pode se precipitar em sua
escolha profissional.
Os profissionais da escola, atuando de forma intencional, podem contribuir
para que os alunos desenvolvam sua autonomia e responsabilidade levando-os a
construir um projeto de vida que contemple ações promotoras da continuidade do
processo educativo. Ter um projeto de vida significa levar o aluno a pensar e refletir
sobre “quem ele é; o que pretende ser, o que quer conquistar”. Isso implica um
conhecimento de si próprio e do mundo ao seu redor. Significa ter claros seus
interesses e sonhos, para que possa estabelecer relações sobre suas expectativas
futuras e as possibilidades que o mundo do trabalho lhe oferece. Significa também
enfrentar as dificuldades que o processo de escolha impõe ao sujeito. Nesse
sentido, Orzechowski (2008) ressalta que enfrentar a escolha profissional é
necessário e fundamental, e que nem sempre é possível fazer exatamente aquilo
que se gosta diante das transformações do mundo do trabalho. Sendo assim as
frustrações existem também no mundo do trabalho. Porém não é isso que vai
desestimular o sujeito pela busca de um trabalho ou uma profissão que o satisfaça.
Segundo (Lucchiari, 1993, p. 7): “A orientação profissional está inserida num
contexto maior, que é social, político e econômico e implica uma série de
circunstâncias que determinam a sua realização.” Diante dessa questão, torna-se
cada vez mais relevante compreender qual o papel da escola e de seus profissionais
nesta importante etapa da vida dos nossos alunos.
Os jovens precisam de espaços para discutir sobre suas escolhas. A escola
constitui-se como espaço ideal onde tais discussões podem ocorrer. Visto que os
profissionais da escola são formadores de opinião, em seu trabalho cotidiano podem
atuar de forma a colaborar nesta escolha, discutindo sobre projeto de vida e futuro
profissional com seus alunos.
A escola, como instância formadora, tem um papel fundamental de
proporcionar informações aos alunos sobre as profissões existentes. Levá-los a
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refletir sobre o mundo do trabalho e a diversas possibilidades de atuação
profissional. Trazer informações sobre os cursos e formas de ingresso no ensino
superior, bem como cursos profissionalizantes de nível médio. Tais ações
possibilitam a realização de escolhas profissionais mais conscientes e responsáveis.
Entretanto, esse jovem precisa saber que o sistema educacional brasileiro ainda tem
muito que avançar de forma a garantir à todos o acesso ao ensino superior e
também acesso e permanência no ensino médio.
Conforme aponta Bastos (2005), nas últimas décadas, o aumento da oferta de
Ensino Médio público no Brasil tem oportunizado o acesso a um número maior de
jovens a esse nível de ensino. Se pensarmos que esse fato vem contribuir para a
melhora no cenário educacional brasileiro, podemos estar equivocados, pois o
acesso por si só não garante que esse jovem tenha aumentada as suas chances de
ingressar no mercado de trabalho em profissões que exijam maior qualificação nem
tampouco garante o ingresso em cursos de nível superior.
O fato é que existe uma grande distância entre a realização da escolha
profissional e sua efetivação na prática, pois existe uma série de fatores
condicionantes que podem interferir na realização do curso ou da profissão
desejada. Conforme salienta Pimenta (1995) que:
Os objetivos que a educação escolar persegue são objetivos sociopolíticos de desmascaramento das condições de dominação, com a finalidade de transformar as estruturas sociais. Os objetivos da educação escolar são, portanto, objetivos sociais ordenados a um projeto de sociedade. É pelo ensino-aprendizagem dos conteúdos que a escola possibilita o acesso ao conhecimento dos mecanismos de dominação na sociedade capitalista de classes sociais antagônicas. Os conhecimentos criados pela humanidade em condições históricas determinadas são direcionados na sociedade de classes, em favor da manutenção dos interesses da classe dominante em detrimento e por expropriação da classe dominada, que alijada do processo de escolarização pela necessidade de trabalhar, libera a minoria dominante que usufrui do produto desse trabalho. Cumpre, pois devolver à minoria trabalhadora a riqueza social que constrói com seu trabalho. (PIMENTA, 1995, p. 174)
Conforme a autora aponta, a educação escolar como prática social tem um
papel fundamental de contribuir na transformação das estruturas sociais de
dominação através da apropriação do conhecimento. Portanto, conhecer o mundo
do trabalho na atual sociedade capitalista e entender que a realidade
socioeconômica interfere nas reais possibilidades de escolha profissional do jovem
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constitui-se como um grande desafio para os professores e pedagogos
comprometidos com a Orientação Profissional.
A História e a Sociologia como princípios educativos que favorecem a escolha
profissional.
Para desenvolver um trabalho de orientação profissional com alunos da
escola pública é preciso recorrer aos documentos legais que dão suporte à prática
pedagógica de professores e pedagogos. Os fundamentais são: o Projeto Político
Pedagógico e as Diretrizes Curriculares Estaduais. Ambos os documentos, buscam
entender que formação se quer dar aos alunos, e; para que sociedade. Esse é um
exercício de consciência pedagógica, ao qual, se submetem docentes e gestores
das escolas públicas. E, nesse processo está no horizonte uma sociedade justa e
solidária que se constrói também pelo trabalho digno que emancipe todos e todas
para uma cidadania crítica. Portanto, é inegável a necessidade de se refletir sobre o
direito à escolha profissional que tem os jovens da escola pública. Entretanto, nem
sempre este direito é respeitado. Segundo Orzechowski (2008):
Resumindo Enguitta (1989), podemos afirmar que a educação, principalmente na escola, nunca foi neutra, e a domesticação do trabalhador apresenta-se no respeito a regras que os professores pregam por razões técnicas e hierárquicas, reflexo de um sistema político e econômico fundamentado no capitalismo. A escola então exerce um duplo papel: de um lado abre caminho para a ascensão social; de outro, cerceia as ações coletivas, inserindo os indivíduos em práticas hostis, isoladas e com interesses contrapostos que não são enfrentados, mas sim adaptados a modelos sociais de submissão e, ancorados em necessidades competitivas. (RUIZ & ORZECHOWSKI, 2008, p.2).
Portanto a escola excludente também exclui o trabalho das suas
interpretações, embora o discurso esteja sempre ao lado da promoção da cidadania.
Os autores continuam:
A escola pouco tem feito pela emancipação, pela construção da cidadania e, muito menos tem a preocupação com o processo de profissionalização dos sujeitos. De outro foco, tem sim uma atenção efetiva em relação à adaptação ao mercado de trabalho. Atender este mercado é uma ação primordial no sentido de adequar cidadão e trabalhador. Apple (2003), em sua obra “Educando à Direita; Mercados, Padrões, Deus e Desigualdades”, vêm discutindo os novos processos neoliberais de organização e convencimento de que o atendimento ao mercado de trabalho é também mercantilizar a Educação. Neste contexto não se faz alusão ao mundo do trabalho, onde se insere o processo de emancipação e transformação humana. Onde, através da
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reflexão e da análise do processo dialético que se produz historicamente no mundo do trabalho, homens e mulheres vêem-se desempregados e sem qualificação. (RUIZ & ORZECHOWSKI, 2008, p.3).
A intenção é de despertar nos profissionais da educação, a necessidade de
refletir sobre estratégias possíveis de se propor um trabalho de Orientação
Profissional através do currículo, e a discussão proposta neste artigo apresenta a
possibilidade de conciliar o trabalho desenvolvido nas disciplinas de História e
Sociologia, a partir da discussão de conteúdos relacionados ao mundo do trabalho.
Nesse sentido o processo de Orientação Profissional deve ser realizado a partir de
um posicionamento crítico sobre o contexto social e as relações de trabalho.
Conforme comenta Araújo (1994), os profissionais da educação tem a
responsabilidade no que diz respeito ao tema “trabalho”, e precisam posicionar-se
em relação ao trabalho numa sociedade capitalista. Entender as relações de
trabalho numa sociedade capitalista que se organiza a partir da exploração dos
trabalhadores que vendem a sua força de trabalho, beneficiando a minoria que
detém o capital, exige posicionamento de todos envolvidos com educação na escola.
Por muito tempo a escola cumpriu com seu papel de formar indivíduos passivos,
preparando-os para o trabalho. O grande questionamento é se a Orientação
Profissional pode contribuir para mudar esse quadro.
Neste contexto complexo, temos a escola que historicamente contribuiu para alienar milhões de brasileiros. A questão do trabalho sempre foi vista na escola por uma ótica equivocada. Aparece como natural que uns sejam patrões e outros empregados, que uns sejam pobres e outros ricos, que os pobres tenham sempre funções subalternas e que os filhos dos ricos sejam sempre os patrões. (ARAÚJO, 1994, pg. 23)
Portanto, é de suma importância desenvolver um trabalho de Orientação
Profissional nas escolas públicas, principalmente por oportunizar a esses jovens a
discussão sobre a sociedade e os significados da sua escolha profissional,
preparando-os de forma mais crítica e consciente para o mundo do trabalho.
Grinspun (2001) defende que toda prática de Orientação Profissional deve
estar alicerçada na concepção de educação como ato político. Para a autora deve-
se discutir a questão do trabalho, não pelo caminho da sondagem de aptidões
individuais, mas pelas questões sociais, de suas desigualdades, do significado do
próprio trabalho. E, nestes aspectos as disciplinas de Sociologia e História tem muito
a contribuir.
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Conforme aponta Ferretti (1997), o objetivo da Orientação Profissional é o de
auxiliar o indivíduo no processo de escolha de modo que este realize opções
ocupacionais adequadas. O autor ressalta que é importante refletir sobre qual
ideologia prevalece atualmente na prática da orientação profissional desenvolvida
nas escolas e propõe que a orientação profissional atue predominantemente através
do currículo.
“Se se pretende que a orientação profissional crie condições para uma reflexão sobre a escolha profissional, assim como sobre o ingresso na força de trabalho e sobre o exercício de uma profissão num determinado contexto sócio-cultural, nada mais razoável que tomar, como conteúdo básico a ser enfocado, o trabalho e sua realização no âmbito da sociedade brasileira”. (FERRETTI, 1997, p. 47)
Na escola, disciplinas como História e Sociologia podem contribuir com o
trabalho de Orientação Profissional, trazendo à discussão em sala de aula, temas
voltados ao mundo do trabalho. Nas Diretrizes Curriculares Estaduais da Disciplina
de História, consideram-se como conteúdos estruturantes, desde o Ensino
Fundamental até o Ensino Médio, os seguintes conteúdos: Relações de trabalho;
Relações de poder; Relações culturais. A partir desses três conteúdos estruturantes,
seguem-se os demais conteúdos básicos de cada ano/série, os quais devem estar
articulados entre si. Conforme a DCE de História enfatiza que:
As relações de trabalho permitem diversas formas de organização social. No mundo capitalista, o trabalho assumiu historicamente um estatuto muito específico, qual seja, do emprego assalariado. Para entender como se formou este modelo e seus desdobramentos, faz-se necessário analisar alguns aspectos das relações de trabalho [...] reconhecer as contradições de cada época, os impasses sociais da atualidade e dispor-se a analisá-los, a partir de suas causas, permite entender como as relações de trabalho foram construídas no processo histórico e como determinam a condição de vida do conjunto da população. (Diretrizes Curriculares da Educação Básica – História, 2008, p. 64 e 65)
Com relação às Diretrizes Curriculares Estaduais da Disciplina de Sociologia,
um dos conteúdos que podem contribuir para a discussão a respeito do mundo do
trabalho, seria o conteúdo estruturante “Trabalho, produção e classes sociais”, para
os quais seguem os conteúdos básicos relacionados, na mesma DCE:
Tomando como fundamento as diferentes linhas sociológicas que interpretam as relações de trabalho e analisam processos históricos, o aluno do Ensino Médio deverá perceber que a organização social do trabalho não é algo dado; que a exclusão social e o desemprego, na sociedade brasileira – como analisa Dupas (2001) - são resultados de processos e determinações sociais, políticas e econômicas que, a depender das forças sociais que se organizam, podem ou não ser revertidos. È importante, ao discutir a historicidade das relações de trabalho na
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sociedade capitalista, analisar como o trabalho tem se organizado: flexível, precário, informal. (Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Sociologia, 2008, p. 82)
A proposta de articular o trabalho de Orientação Profissional às disciplinas de
História e Sociologia fundamenta-se no princípio de que essas disciplinas além de
apresentarem em suas Diretrizes Curriculares, os conteúdos que dão suporte às
discussões sobre as relações de trabalho, apresentam uma metodologia que
propicia a reflexão e discussão de vários aspectos relacionados a historicidade do
ser humano. Isso é fundamental para que os alunos avancem na percepção de que
os seres humanos se constituem como tal, a partir das relações que estabelecem
entre si, pelo convívio no seu grupo social e cultural do qual ele faz parte e que as
condições sociais e econômicas as quais os indivíduos estão submetidos são
igualmente construções humanas e históricas, não podendo ser dadas como
naturais.
Em se tratando de escola pública, muitos jovens pertencem a classe
socioeconômica baixa e em virtude disso precisam trabalhar o mais cedo possível
como forma de contribuir para a sua própria sobrevivência. Após concluírem o
ensino fundamental, muitos dos alunos iniciam no mercado do trabalho nas mais
diversas “ocupações”, muitas vezes submetendo-se a baixos salários e a rotinas
desgastantes. Tal procedimento impossibilita-os de continuarem os estudos no
ensino médio. Outros conseguem conciliar o trabalho geralmente em cursos
noturnos, enfrentando inúmeras dificuldades para conciliar as duas
responsabilidades. Portanto a responsabilidade da escola pública aumenta, no que
diz respeito ao atendimento daqueles que, conforme salienta Kuenzer (2000 p. 11),
“são os que vivem do trabalho”.
Não se pode negar a necessidade de admitir o trabalho como princípio
educativo, pois a LDB nº 9394/96, no seu artigo 35, define com clareza as
finalidades do Ensino Médio:
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
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III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
IV – a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada
disciplina.
Para Kuenzer (2000), a raiz dos males do Ensino Médio é a ambiguidade que
se coloca a este nível de ensino, que ao mesmo tempo tem de preparar para o
mundo do trabalho e para a continuidade dos estudos. Para a autora, o grande
desafio a ser enfrentado é a formulação de uma concepção de Ensino Médio que
articule de forma competente essas duas dimensões. Pois contrariamente a história
da educação brasileira apresenta a dualidade estrutural como categoria explicativa
da constituição do Ensino Médio e Profissional. Neste sentido Kuenzer argumenta
que “não se trata apenas de uma questão pedagógica, mas política, determinada
pelas mudanças nas bases materiais de produção, a partir do que se define a cada
época, uma relação peculiar entre trabalho e educação.” (KUENZER, 2001, p. 10)
A autora comenta que é com essa realidade que o Ensino Médio deverá
trabalhar, ao estabelecer suas diretrizes curriculares: um imenso contingente de
jovens que se diferenciam por condições de existência e perspectivas de futuro
desiguais. A própria LDB, ao apontar o caráter básico do Ensino Médio, e a
necessidade de assegurá-lo a todos, permite distintas modalidades de organização,
inclusive a habilitação profissional, com o intuito de tratar diferentemente os
desiguais, conforme seus interesses e necessidades, para que possam ser iguais.
Kuenzer defende que:
[...] oferecer um Ensino Médio com uma única modalidade em substituição aos distintos ramos de ensino técnico, que vinham sendo oferecidos para atender às demandas do taylorismo/fordismo, é tão inadequado quanto manter a estrutura atual, com um ramo de educação geral e outro de educação profissional.[...] se por um lado a crítica à dualidade estrutural mostra seu caráter perverso, por outro simplesmente estabelecer um modelo único não resolve a questão, posto que submeter os desiguais a igual tratamento só faz aumentar a desigualdade. (KUENZER, 2000, p. 36)
Para a autora, a escola pública de Ensino Médio só será efetivamente
democrática quando seu projeto pedagógico, propiciar as necessárias mediações
para que os menos favorecidos estejam em condições de identificar, compreender e
buscar suprir, ao longo de sua vida, suas necessidades com relação à participação
na produção científica, tecnológica e cultural. Pode-se dizer que esses três
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elementos “ciência, tecnologia e cultura” constituem o tripé da formação do aluno do
ensino médio e consequentemente do trabalhador, pois a própria LDB 9394/96
aponta dois caminhos a serem consolidados após o término desse nível de ensino: a
inserção desse sujeito no mundo do trabalho e/ou a continuidade dos estudos. Neste
sentido, de que forma a escola de ensino médio tem contribuído para a formação do
futuro profissional da sociedade moderna? Se realmente estamos vivendo uma
grande Revolução Tecnológica, como apontam alguns estudiosos, como fazer com
que a escola contribua com essa formação tão necessária nos dias de hoje?
Cabe ressaltar novamente uma das finalidades do Ensino Médio enfatizada
no texto da nova LDB: “a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos
processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada
disciplina.” Entende-se que seja necessário contribuir na formação de um sujeito que
compreenda, através do conhecimento científico, os processos produtivos e
tecnológicos do seu país e do mundo. Não cabe à escola de educação básica
ensinar na prática como fazer uso dessa ou daquela técnica, pois esse
conhecimento adquire-se no próprio processo de trabalho, em cursos
profissionalizantes ou de nível superior. Segundo Kuenzer (2001, p.10), temos
conhecimento de que “escola é espaço de apropriação de saber socialmente
produzido e não de desenvolver competências para o trabalho, pois estas se
desenvolvem no próprio trabalho”. O fundamental é que a escola proporcione a
reflexão de todo o processo histórico que a humanidade passou até chegar a
atualidade, em termos de incorporação da técnica e apropriação de novas
tecnologias relacionadas ao trabalho, e principalmente entender em que bases se
deram as relações de trabalho na sociedade. Para Saviani (1994, p.165):
“Pode-se afirmar que o trabalho foi, é e continuará sendo o princípio educativo do sistema de ensino em seu conjunto. Determinou o seu surgimento sobre a base da escola primária, o seu desenvolvimento e diversificação e tende a determinar, no contexto das tecnologias avançadas, a sua unificação.”
A modernidade trouxe com ela grandes transformações principalmente
relacionadas ao contexto das novas tecnologias, e nesse sentido novas concepções
de trabalho. Ruiz e Orzechowski (2008, p.4) salientam que “no mundo do trabalho se
faz necessário um profissional que contempla o que ainda está por vir, recriando e
redescobrindo a sua profissão cotidianamente.” Segundo os autores é a análise
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sobre o mundo do trabalho que permite a transformação do profissional, de forma
que ele busque sua atualização constante com vistas a uma competente atuação.
Conforme os autores apontam “este novo trabalho possui uma nova linguagem,
novas ferramentas, novas formas de relações interpessoais, novos processos
educativos dentro e fora da escola”. Isso implica uma nova abordagem educacional,
passando a exigir dos profissionais que atuam na escola, uma formação permanente
capaz de atender as necessidades originadas das transformações ocorridas na
sociedade. E, principalmente não se pode negar aos alunos do ensino médio as
possibilidades que se efetivam a partir das novas tecnologias.
Orientação Profissional para os alunos do ensino médio público.
Ao iniciar uma reflexão sobre a Orientação Profissional para os alunos do
ensino médio público, faz-se necessário destacar alguns momentos importantes
dentro da história da Orientação Profissional no Brasil, com a pretensão de proceder
uma contextualização a respeito.
Segundo Sparta 2003, a Orientação Profissional no Brasil teve início, mais
precisamente em 1924, com o surgimento do Serviço de Orientação Vocacional no
Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo sob a direção do engenheiro suíço Roberto
Mange. Salienta que a Orientação Profissional brasileira nasceu ligada à Psicologia
Aplicada, que vinha desenvolvendo-se no país, na década de 1920, junto à
Medicina, à Educação e à Organização do Trabalho. A autora fundamentou sua
pesquisa nos trabalhos de (Antunes, 1998; Carvalho, 1995; Massimi, 1990; Rosas,
2000; Santos, 1977).
A partir de 1930 começam a acontecer transformações no panorama da
economia brasileira passando de agrário-exportadora para urbano-industrial, esse
processo de mudança passa a exigir trabalhadores aptos a desenvolver tarefas
relativas à indústria, o que desencadeia a necessidade de qualificação humana e a
partir desse momento surgem os primeiros sinais da Orientação Profissional voltada
a atender as demandas do mercado. Os processos de seleção de trabalhadores se
intensificam na década de 40, nesse sentido a preocupação da educação passa a
ser o atendimento ao grande contingente de pessoas que se formavam nos centros
urbanos. Sparta (2003) ressalta que nesse período a Orientação Profissional
brasileira deu um grande salto no seu desenvolvimento.
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Conforme destaca Abade (2005) em 1947 foi criado o Instituto de Seleção e
Orientação Profissional (ISOP) da Fundação Getúlio Vargas. Com o objetivo básico
de contribuir para o “ajustamento entre o trabalhador e o trabalho”. A autora escreve
que esse instituto desenvolveu nos dez primeiros anos de seu funcionamento um
trabalho voltado principalmente para a implantação de técnicas de seleção e
Orientação Profissional, visando atendimento à classe média alta, numa tentativa de
orientação da futura elite dirigente. O ISOP também foi responsável pela formação
dos primeiros especialistas na área da Psicologia.
Sparta (2003) enfatiza que a Orientação Profissional brasileira pautou-se pelo
modelo da Teoria do Traço e Fator, isto é, o papel do orientador profissional é o de
fazer diagnósticos, prognósticos e indicações das ocupações certas para cada
indivíduo, tendo por base a Psicometria. A autora destaca que o psicólogo argentino
Rodolfo Bohoslavsky difundiu sua estratégia clínica de Orientação Profissional como
alternativa ao modelo da Teoria do Traço e Fator. Essa abordagem foi introduzida no
Brasil, na década de 70, por Maria Margarida de Carvalho, professora da USP/São
Paulo. A Estratégia de Bohoslavsky e o processo de intervenção grupal
desenvolvido por Carvalho originaram um novo modelo de Orientação Profissional,
sendo que a entrevista clínica aparece como o principal instrumento durante o
processo de orientação.
A Lei 5.692/71 trouxe novas diretrizes para o ensino de primeiro e segundo
graus e determinou que a Orientação Educacional fosse obrigatória nas escolas. As
escolas passaram a oferecer o Aconselhamento Vocacional aos alunos como forma
de sondagem de aptidões. Com o passar do tempo a Orientação Profissional vai se
consolidando nas escolas.
Apesar da Orientação Profissional ter nascido e se desenvolvido tendo por
base as teorias psicológicas, também teve influência do campo educacional. Isso se
deve ao trabalho desenvolvido nas escolas pelos Orientadores Educacionais. Em
sua trajetória histórica passa por um longo processo de discussão, onde vários
teóricos da área da psicologia e da educação propõem novas teorias e propostas de
atuação para este campo do conhecimento. Bock (2008) comenta que por muito
tempo a Orientação Profissional pautou-se por teorias positivistas de base liberal,
onde o indivíduo e a sociedade eram tidos como elementos dissociados, como se os
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determinantes sociais, econômicos e políticos não causassem nenhuma
interferência nas escolhas desse indivíduo.
Ferretti, (1988) apresenta uma análise crítica acerca das teorias de
Orientação Profissional. Afirma que “o liberalismo é a ideologia que subjaz às teorias
psicológicas de escolha e orientação profissional” (1988, p. 32). Para o autor o
liberalismo é uma ideologia sustentada por três axiomas básicos: o individualismo, a
liberdade e a igualdade. O primeiro deles, o individualismo se sustenta na crença de
que o indivíduo é o único responsável por seu sucesso ou fracasso, defende que as
potencialidades de cada indivíduo são desenvolvidas na competição com os demais,
desconsiderando as condições sociais e materiais envolvidas nas relações entre os
homens. A ascensão social é conquistada de acordo com os méritos pessoais de
cada um, bem como pelo resultado do seu próprio esforço pessoal e individual.
Nesse sentido o liberalismo utiliza-se do segundo axioma, a liberdade, onde todos
os indivíduos são livres para escolherem ter a profissão que almejam ou submeter-
se a serem explorados. "0 princípio da liberdade presume que um indivíduo seja tão
livre quanto outro para atingir uma posição social vantajosa, em virtude de seus
talentos e aptidões" (FERRETTI, 1988 p. 33). A igualdade, terceiro axioma, surge
trazendo uma falsa ideia de que todos são livres e iguais entre si para realizarem
suas escolhas de acordo com suas aptidões e interesses pessoais, a partir do
esforço de cada um. Cabe ressaltar que a igualdade de que se trata não é a
igualdade de condições materiais pois essa, segundo o liberalismo, é resultado do
esforço de cada um em conquistá-la.
(...) quaisquer pessoas têm iguais oportunidades perante a lei, de conseguir seu progresso pessoal e posição social vantajosa (...) Caracteriza-se assim, o principio da igualdade, que não deve ser confundido com igualdade de condições materiais, dado que as diferenças individuais geram, necessariamente, desigualdades sociais e econômicas, cabendo aos talentosos e/ou trabalhadores melhor posição social e mais riqueza. (FERRETTI, 1988 p. 34).
Ferretti (1988) aponta que existe uma ideologia por trás das teorias
psicológicas da escolha profissional, que é de manutenção da sociedade de classes
segundo a ordem capitalista. Nesse sentido o autor, apresenta um novo modelo de
Orientação Profissional, o qual propõe uma reflexão sobre o tema Trabalho, através
do currículo, levando o indivíduo a refletir sobre o próprio processo de escolha
profissional.
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Para Bock (2008) as teorias tradicionais de base liberal consideram que os
indivíduos realizam suas escolhas, independente das condições sociais e
econômicas. Para essas teorias “a escolha é um fenômeno natural e ocorre a partir
de características pessoais inatas ou adquiridas ao longo da vida. (BOCK 2008 p.
36)”. O autor escreve que:
Nessa perspectiva, “o indivíduo pode tudo”: o seu lugar na sociedade
(status, prestígio), a sua possibilidade de consumo e seu poder são
decorrentes das escolhas (inclusive e principalmente profissionais) que
realiza. Em síntese, a escolha sempre existe e o sujeito, independente da
economia e das condições sociais que vive, sempre escolhe. (Bock, 2008 p.
36)
Segundo Bock, (2001) essas teorias entendem ser necessário definir o perfil
profissional do indivíduo, formado a partir das suas características gerais,
representadas pelo conjunto de seus traços de personalidade, aptidões e interesses,
que são definidos numa determinada idade e quase não mudam ao longo da vida. A
partir da definição do seu perfil pessoal, estabelece-se uma aproximação com os
perfis das profissões já preestabelecidos, através do chamado “Modelo de Perfis”. O
objetivo é definir aquela profissão na qual o indivíduo melhor se adapta, ou seja,
ajustando o indivíduo à sociedade. O autor faz uma crítica a essas teorias
entendendo que elas fundamentam-se na ideologia liberal, colocando a escolha
profissional como sendo apenas individual. Responsabiliza-se o indivíduo pelo
sucesso ou fracasso dessa escolha, desconsiderando a influência dos contextos
social, histórico e econômico.
Na abordagem sócio-histórica defendida por Bock (2002) o autor afirma que o
“indivíduo escolhe e não escolhe sua profissão ao mesmo tempo”. Para Bock (2001)
a escolha profissional precisa ser entendida como algo a ser construído pelo sujeito,
que é um ser sócio-histórico. A construção acontece nas relações entre os sujeitos,
pelos saberes apropriados e construídos ao longo da vida escolar bem como através
das inúmeras experiências vivenciadas nos grupos social e cultural nos quais se
insere. Portanto essa “escolha” é processo, é construção e não algo dado
naturalmente pelo seu desenvolvimento bio-psicológico, como defendem as teorias
tradicionais da Orientação Profissional.
Nesse sentido a proposta de Orientação Profissional de abordagem sócio-
histórica defendida por Bock (2002) tem sua base teórica nas ideias de Vygotsky.
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Entende o sujeito na sua relação com a sociedade de forma dinâmica e dialética. Ao
admitir o ser humano como um ser sócio-histórico, formado a partir de suas relações
com os outros sujeitos, o processo de escolha profissional também precisa ser
discutido no âmbito da sociedade. E, se considera os aspectos sociais e econômicos
implicados na questão do trabalho.
Analisando as propostas de abordagem crítica defendidas por Ferretti e
Pimenta e também a Sócio-histórica, definida como “além da crítica” e sustentada
por Bock, observa-se que tanto uma como a outra propõe que ao se trabalhar a
Orientação Profissional, o orientador considere a questão do trabalho e sua
realização no âmbito da sociedade. Observa-se que as duas propostas atendem as
necessidades da escola pública, uma vez que sua função social é a formação de
sujeitos críticos e conscientes do seu papel na sociedade. Capazes de compreender
as desigualdades existentes na sociedade capitalista, e que as condições sociais,
históricas e econômicas também são determinantes nas escolhas profissionais.
Metodologia e análise dos resultados
Para a elaboração do presente artigo foram utilizados instrumentos da
pesquisa-ação, por considerarmos a que melhor adequa-se às necessidades de
intervenção no campo educacional. Esse tipo de pesquisa consiste na
transformação da própria prática com a finalidade de melhorá-la, integrando-se
perfeitamente na área da educação, uma vez que o pesquisador propõe-se a
realizar uma investigação com o objetivo de explorar uma realidade que necessita
de intervenção. Segundo FRANCO (2005), ao optar por trabalhar com pesquisa-
ação, deve-se ter a convicção de que pesquisa e ação caminham juntas,
principalmente quando pretende-se a transformação da prática. A autora ainda
destaca que a condição para ser pesquisa-ação crítica é “o mergulho na práxis do
grupo social em estudo”. (FRANCO, 2005 p. 486). Neste sentido tal abordagem se
articula muito bem à proposta de trabalho apresentada. A pesquisa realizada
permitiu que os sujeitos participantes fossem tomando consciência das
transformações que ocorreram em si próprios e no processo, delineando a dimensão
crítica da presente pesquisa.
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A elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica surgiu da observação
realizada em uma escola estadual do interior do Paraná. Observou-se a dificuldade
encontrada pelos alunos do ensino médio para realizarem suas escolhas
profissionais. Em discussões realizadas durante reuniões pedagógicas e conselhos
de classe, entre pedagogos e professores, discutia-se a questão dos alunos do
ensino médio não apresentarem um projeto de vida em relação ao seu futuro
profissional nem em relação a continuidade dos estudos. O objetivo principal do
Projeto foi estabelecer estratégias de ações para trabalhar a Orientação Profissional,
com alunos do 3º ano do ensino médio, auxiliando-os a realizarem suas escolhas
profissionais de forma mais consciente e responsável.
Inicialmente o Projeto foi divulgado aos professores e demais profissionais da
escola na semana Pedagógica de Fevereiro de 2015, para que se pudesse contar
com o apoio da comunidade escolar. Aos professores das disciplinas de História e
Sociologia, foi entregue um questionário com a finalidade de saber como eles
pensam a relação educação-trabalho. E, de que maneira os conteúdos das suas
disciplinas poderiam contribuir para a preparação do aluno em relação ao mundo do
trabalho.
A divulgação aos alunos foi realizada no retorno às aulas. Em sala de aula
foram apresentados slides sobre o que é Orientação Profissional, os objetivos do
projeto bem como sobre a metodologia de trabalho. Foram convidados alunos do 3º
ano do ensino médio dos turnos matutino e vespertino, dos quais vinte alunos
acabaram inscrevendo-se no projeto. Os encontros foram semanais, realizados nos
meses de agosto a novembro, totalizando 40 horas. Com o início dos encontros, foi
solicitado aos alunos que respondessem um questionário para sondagem das
expectativas pessoais em relação às escolhas profissionais. Foi solicitado também
que escrevessem um pouco sobre o seu Projeto de Vida. Todas as atividades
desenvolvidas com os alunos fizeram parte da produção didático-pedagógica, a
qual, foi dividida em três unidades. Na primeira unidade foram trabalhados temas
como: A diferença de Orientação profissional e vocação; escolha profissional, projeto
de vida, autoconhecimento, adolescência e juventude. Na segunda unidade foram
trabalhados conceitos que levam a compreender o mundo do trabalho; as relações
de trabalho na sociedade capitalista; os aspectos históricos das relações de
educação e trabalho. Na terceira unidade foram abordados temas relacionados às
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áreas profissionais; vestibular; programas de acesso à Educação Superior: ENEM,
Prouni, Sisu, Fies; palestra sobre cursos técnicos e profissionalizantes.
Foram realizadas visitas às Feiras de Profissões nas Universidades Públicas
e Faculdades particulares, havendo grande participação dos alunos. Conseguimos
realizar os encontros programados, durante os quais, utilizou-se dos seguintes
instrumentos: dinâmicas/vivências, trabalhos em grupo, produção de texto,
entrevistas semiabertas, relatos orais, pesquisas na internet e seminário. Foram
utilizados materiais audiovisuais para apresentação dos cursos oferecidos nas
Universidades. No último encontro foi aplicado um questionário avaliativo com a
finalidade de saber se o trabalho de Orientação Profissional contribuiu para que os
alunos pudessem realizar suas escolhas profissionais com mais segurança. A partir
da análise dos questionários observou-se que a maioria dos alunos analisou como
positiva a implementação do Projeto, evidenciando que faz-se necessário um
trabalho de Orientação Profissional nas escolas públicas.
Em relação aos resultados esperados, pode-se destacar algumas
considerações importantes observadas, as quais mereceram especial atenção:
Projeto de Vida e Escolha Profissional: os alunos participantes do projeto foram
questionados sobre a elaboração de um Projeto de Vida que os auxiliem na
realização da escolha profissional. A maioria dos alunos respondeu que pensam a
respeito, conversam com seus familiares sobre suas escolhas, mas ainda não
haviam pensado que caminhos precisariam traçar para efetivarem suas escolhas.
Concordaram que um bom planejamento contribui muito na realização das escolhas
profissionais. Principalmente porque ao planejar, ou seja, projetar o futuro o sujeito
tem condições de antecipar muitas ações importantes que são necessárias nesse
processo. Uma das ações que eles destacaram, foi o planejamento de uma rotina de
estudos. Os alunos comentaram que intensificaram o ritmo de estudos para os
vestibulares no terceiro ano do ensino médio. Entretanto, perceberam que seria
necessário ter um planejamento de estudos desde o primeiro ano do ensino médio.
A partir da análise das entrevistas realizadas, constatou-se que a maioria dos
jovens participantes do projeto encontrava-se em dúvida sobre pelo menos três
cursos de graduação. Entretanto, observou-se que em alguns casos a área
profissional mantinha-se a mesma. As atividades de pesquisa e confecção do mural
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em relação às áreas profissionais, eram indicadas por eles mesmos conforme a
profissão que se desejava conhecer. O seminário final de apresentação dos cursos
pretendidos; as visitas às Feiras de Profissões das Universidades, bem como o
material audiovisual da Universidade Federal do Paraná – UFPR, que apresentava
entrevistas com acadêmicos e professores sobre os cursos de graduação, foram
bem explorados por todos.
A contribuição das disciplinas de História e Sociologia para a reflexão sobre o
mundo do trabalho: com relação ao questionário entregue aos professores das
disciplinas de História e Sociologia, as respostas levaram a concluir que esses
professores procuram trabalhar os conteúdos relacionados ao mundo do trabalho de
maneira contextualizada. Os colegas destas disciplinas levam os alunos a refletirem
sobre as relações de exploração e dominação que são estabelecidas no mercado de
trabalho numa sociedade capitalista.
Com relação as atividades relacionadas ao tema Trabalho e desenvolvidas
com os alunos durante o projeto, a intenção foi possibilitar a reflexão sobre o tema
resgatando conceitos já trabalhados pelos professores em suas disciplinas. Pois, os
colegas já trabalham essa temática em diversos conteúdos durante todo o ensino
médio. Conforme destaca Ferretti (1997 p. 47) a Orientação Profissional deve criar
condições para uma reflexão sobre a escolha profissional e para tanto, “nada mais
razoável que tomar, como conteúdo básico a ser enfocado, o trabalho e sua
realização no âmbito da sociedade brasileira”. Neste sentido os alunos tiveram
oportunidade de relacionar os conteúdos já estudados em outras disciplinas, com as
atividades propostas para essa temática, havendo grande participação por parte de
todos. Esta articulação entre o Projeto de intervenção e os conteúdos das disciplinas
demonstra que é possível trabalhar a Orientação Profissional a partir do currículo,
como salienta Ferretti (1997). E, particularmente as disciplinas de Sociologia e
História tem muito a contribuir para o processo de análise crítica entre os alunos. E,
por isso é importante defender a ideia de currículo crítico, no qual, as áreas das
humanas são respeitadas e implementadas de forma a compor todo o quadro de
formação no ensino médio e, não somente, em uma ou outra etapa, com carga
horária diminuída. Sobre este fato, já escreveu Ruiz & Orzechowski:
Entretanto na realidade o que se apresenta curricularmente é um aligeiramento da formação profissional, o saber fazer, torna-se mais
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significativo do que o saber pensar. Disciplinas que promovem a reflexão até compõem o currículo formal, porém a carga horária é diminuída. Ou ainda, são integrados campos de conhecimento reflexivo, traduzidos em uma única disciplina que abrangeria noções filosóficas, sociológicas e psicológicas. (RUIZ & ORZECHOWSKI, 2008, p.4).
Portanto, o trabalho com a Orientação Profissional nas escolas não depende
do Pedagogo, mas também de um Projeto Político Pedagógico de toda a escola, no
qual, se define os objetivos a que se propõe a educação. E, ao considerar o que se
escreve na Lei 9394/1996, é orientação do artigo 27º, “III- a orientação para o
trabalho”. Neste sentido é fundamental trabalhar a Orientação Profissional em toda a
educação básica, principalmente, no Ensino Médio.
Considerações Finais
Considerando a importância da Orientação Profissional dentro do contexto
educacional, foi possível constatar que é extremamente necessário e viável a
realização de um projeto de Orientação Profissional para os alunos do ensino médio
público. Este é um trabalho pedagógico que leva os alunos à reflexão sobre o
processo de escolha de forma mais crítica e consciente.
Observou-se que a contribuição das disciplinas de História e Sociologia na
discussão sobre o mundo do trabalho e, portanto na implementação do Projeto de
Orientação Profissional, foi de grande valia. O aluno entendeu que pode relacionar
os conhecimentos sistematizados adquiridos ao longo da sua vida escolar com os
conhecimentos do seu contexto social e cultural. Neste sentido pode-se dizer que os
objetivos propostos na elaboração do projeto de intervenção foram alcançados.
Entendemos que a Orientação Profissional estando inserida num contexto maior que
é social, político e econômico precisa ser desenvolvida tendo como colaboradores
todos os profissionais da escola. E, sendo o pedagogo o articulador desse processo,
todas as disciplinas escolares podem contribuir trazendo à discussão temas
relacionados ao mundo do trabalho.
Esta pesquisa também permitiu uma maior compreensão das concepções
defendidas por diferentes autores em relação a Orientação Profissional.
Ultrapassando a visão tradicional liberal que considera o indivíduo como sendo o
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único responsável pelo sucesso ou fracasso de suas escolhas, considera-se a
influência dos contextos social, histórico e econômico no processo de escolha.
Partindo da realidade dos sujeitos da escola pública, tanto a abordagem
crítica da Orientação Profissional defendida por Ferretti (1997) o qual sugere que
sejam criadas condições para que os sujeitos envolvidos possam refletir sobre o
processo de escolha, bem como, o ingresso no mundo do trabalho, entendendo o
funcionamento da sociedade. Quanto a abordagem sócio-histórica apresentada por
Bock (2002) e que entende o indivíduo na sua relação com a sociedade de forma
dinâmica e dialética, considerando o indivíduo como um ser sócio-histórico, em
construção. Estas concepções são apropriadas para os sujeitos da escola pública.
As duas abordagens consideram que os aspectos sociais e econômicos implicados
na questão do trabalho podem interferir no processo de escolha. As possibilidades
de escolha dos jovens diferem principalmente pelas condições materiais de vida. E,
assim, é possível afirmar que a realidade socioeconômica não determina, mas
certamente interfere na efetivação de suas escolhas profissionais.
O propósito deste estudo foi refletir e discutir sobre a importância e
necessidade de trabalhar a Orientação Profissional nas escolas públicas, bem como
levantar alguns questionamentos que poderão servir de incentivo para futuras
pesquisas relacionadas à temática. E, nesse aspecto a investigação atendeu as
necessidades apontadas. Além disso, é possível que este trabalho, ora socializado,
venha servir de incentivo a outros pedagogos que desejem trabalhar com a
Orientação Profissional em suas escolas.
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