ofensiva socialista n°11 - agosto/setembro 2012

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Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR N° 11 agosto/setembro 2012 Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) Tendência do PSOL site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152 Petistas e tucanos unidos contra os trabalhadores Derrotar a nova e a velha direita nas urnas e nas ruas As eleições municipais acontecem em meio a um cenário de intensas lutas da classe trabalhadora e agravamento da crise. Por mais que disputem entre si nas eleições, petistas e tuca- nos estão unidos contra a greve do funcionalismo federal, em de- fesa das privatizações, do paga- mento da dívida pública aos ban- queiros e especuladores. Ambos estão atolados até a medula em escândalos de cor- rupção como o mensalão, o mensalão mineiro, a máfia de Carlinhos Cachoeira, etc. Nos municípios, cortam ver- bas para os serviços sociais, de- fendem a especulação imobiliá- ria, o transporte privado e arro- cho do funcionalismo. No processo eleitoral, o úni- co voto útil é o voto contra es- sas políticas e a favor da saúde, educação e transporte públicos e controlados pelos trabalhadores. Um voto pela construção de mo- radias populares e uma verdadei- ra reforma urbana planejada e re- alizada pelos trabalhadores. Um voto contra a corrupção e a fa- vor da construção de um autên- tico poder popular e dos traba- lhadores nos municípios. Mas, não basta votar. É preci- so organizar a luta independente- mente do resultado eleitoral. Es- sa é a única garantia de que nos- sa voz será ouvida e nossas de- mandas serão levadas em conta. Vote no PSOL 50 e junte-se à LSR na organização dos movi- mentos de resistência e luta por uma alternativa socialista. Caiu a máscara. Depois da lamban- ça do início do mandato, quando chegou a elevar as taxas de juros básicas temendo o crescimento da inflação, Dilma desesperou-se dian- te de um crescimento do PIB mui- to menor (2,7%) do que o espera- do em 2011e a perspectiva de um crescimento abaixo dos 2% esse ano. Seu Banco Central passou a reduzir progressivamente as taxas básicas de juros e o governo anun- ciou seguidamente medidas de es- tímulo econômico no mesmo tom adotado por Lula diante do tsunami internacional de 2008 e 2009. Não foram poucos os que, dentro do PT em particular, fizeram remendos na fan- tasia “desenvolvimentista” e tentaram a todo custo encaixá-la no figurino Dilmis- ta. Mas, além de pífias no que se refere ao grande capital financeiro, as medidas adotadas nada mais são do que garantias de privilégios aos grandes empresários às custas do dinheiro público, como no caso da redução de impostos. Usa-se dinheiro público para garantir o lucro de empresas privadas, inclusive quando elas demitem ou ameaçam demitir milhares de traba- lhadores, como no caso recente da GM de São José dos Campos. Governo ataca o funcionalismo A essência da resposta do governo Dil- ma diante da crise fica explícita nas medi- das de ataque do governo federal sobre os trabalhadores. Além dos cortes nos gastos públicos e da mão de ferro contra o fun- cionalismo federal em luta pela recompo- sição de suas perdas e em defesa do servi- ço público, o governo anuncia uma nova onda de privatizações e ataques. Com o anunciado Plano Nacional de Logística Integrada, serão milhares de quilômetros de rodovias e ferrovias, além de mais aeroportos e portos, entregues ao capital privado, inclusive estrangeiro, sob o formato de parcerias público-privadas – o modo petista de privatizar. Mas, sem- pre com a participação do BNDES no fi- nanciamento das empresas privadas, ao melhor estilo tucano. Junto com esse “PAC das privatiza- ções”, o governo trabalha para substi- tuir o fator previdenciário por um meca- nismo ainda pior para os trabalhadores. Junto com a fórmula 85/90 (valor da so- ma da idade com o tempo de contribui- ção para mulheres e homens respectiva- mente), o governo planeja propor uma fórmula móvel que exige mais tempo de contribuição dependendo da expectativa de vida do brasileiro, além de instituir a idade mínima. Apesar da negativa envergonhada de lambe-botas do governo nesse período eleitoral, está em estudo um projeto que flexibiliza a CLT e garante a prevalên- cia do negociado sobre o legislado. Isso abre na prática a possibilidade de des- respeito à legislação que garante direi- tos trabalhistas. 52% orçamento para o pagamento da dívida Os recursos necessários para os inves- timentos em infraestrutura, valorização do funcionalismo federal e dos serviços públicos são os mesmos que o governo acaba destinando ao pagamento e rola- gem da dívida pública. Segundo a Audi- toria Cidadã da Dívida, até 2 de agosto desse ano a dívida pública já consumiu 52% do orçamento de 2012. Esse valor é cinco vezes maior que o gasto com fun- cionalismo. Ao contrário do que propaga a impren- sa e o governo, os gastos com os servi- dores federais diminuíram nos últimos dez anos de governo do PT em relação ao crescimento do PIB. No último ano de FHC, o governo destinou 4,8% do PIB para o funcionalismo. Em 2012 esse mon- tante não ultrapassou 4,2%. Os ataques de Dilma à greve do fun- cionalismo federal, incluindo a repressão física, o corte de ponto e a substituição dos trabalhadores grevistas, estão a altura de FHC e serve para mostrar até onde o governo pode chegar com o agravamen- to da situação nacional e internacional. Diante da crise, não há como escapar da escolha entre os banqueiros, especu- ladores, grandes corporações privadas e o agronegócio, de um lado, ou os servi- ços públicos e os trabalhadores, de ou- tro. Assim como FHC e Lula antes dela, Dilma já fez sua escolha. Cabe aos mo- vimentos da classe trabalhadora impedir na marra que esse rumo se aprofunde a levantar sua alternativa de classe a esse sistema de crise e desigualdade. Economia patina e Dilma tenta choque de neoliberalismo Governo promove pacote de privatizações, ataques aos direitos trabalhistas, contrarreforma da previdência e repressão sobre quem resiste GM ameaça demitir milhares de trabalhadores ao mesmo tempo que recebe milhões de apoio do governo.

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Jornal da Liberdade, Socialismo e Revolução, corrente do PSOL e seção brasleira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores

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Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR

N° 11 agosto/setembro 2012

Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)

Tendência do PSOL

site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152

Petistas e tucanos unidos contra os trabalhadoresDerrotar a nova e a velha direita nas urnas e nas ruasAs eleições municipais acontecem em meio a um cenário de intensas lutas da classe trabalhadora e agravamento da crise.

Por mais que disputem entre si nas eleições, petistas e tuca-nos estão unidos contra a greve do funcionalismo federal, em de-fesa das privatizações, do paga-mento da dívida pública aos ban-queiros e especuladores.

Ambos estão atolados até a medula em escândalos de cor-rupção como o mensalão, o

mensalão mineiro, a máfia de Carlinhos Cachoeira, etc.

Nos municípios, cortam ver-bas para os serviços sociais, de-fendem a especulação imobiliá-ria, o transporte privado e arro-cho do funcionalismo.

No processo eleitoral, o úni-co voto útil é o voto contra es-sas políticas e a favor da saúde, educação e transporte públicos e controlados pelos trabalhadores. Um voto pela construção de mo-radias populares e uma verdadei-ra reforma urbana planejada e re-

alizada pelos trabalhadores. Um voto contra a corrupção e a fa-vor da construção de um autên-tico poder popular e dos traba-lhadores nos municípios.

Mas, não basta votar. É preci-so organizar a luta independente-mente do resultado eleitoral. Es-sa é a única garantia de que nos-sa voz será ouvida e nossas de-mandas serão levadas em conta.

Vote no PSOL 50 e junte-se à LSR na organização dos movi-mentos de resistência e luta por uma alternativa socialista.

Caiu a máscara. Depois da lamban-ça do início do mandato, quando chegou a elevar as taxas de juros básicas temendo o crescimento da inflação, Dilma desesperou-se dian-te de um crescimento do PIB mui-to menor (2,7%) do que o espera-do em 2011e a perspectiva de um crescimento abaixo dos 2% esse ano. Seu Banco Central passou a reduzir progressivamente as taxas básicas de juros e o governo anun-ciou seguidamente medidas de es-tímulo econômico no mesmo tom adotado por Lula diante do tsunami internacional de 2008 e 2009.

Não foram poucos os que, dentro do PT em particular, fizeram remendos na fan-tasia “desenvolvimentista” e tentaram a todo custo encaixá-la no figurino Dilmis-ta. Mas, além de pífias no que se refere ao grande capital financeiro, as medidas adotadas nada mais são do que garantias de privilégios aos grandes empresários às custas do dinheiro público, como no caso da redução de impostos. Usa-se dinheiro público para garantir o lucro de empresas privadas, inclusive quando elas demitem ou ameaçam demitir milhares de traba-lhadores, como no caso recente da GM de São José dos Campos.

Governo ataca o funcionalismo

A essência da resposta do governo Dil-ma diante da crise fica explícita nas medi-das de ataque do governo federal sobre os trabalhadores. Além dos cortes nos gastos públicos e da mão de ferro contra o fun-cionalismo federal em luta pela recompo-sição de suas perdas e em defesa do servi-ço público, o governo anuncia uma nova onda de privatizações e ataques.

Com o anunciado Plano Nacional de Logística Integrada, serão milhares de quilômetros de rodovias e ferrovias, além de mais aeroportos e portos, entregues ao capital privado, inclusive estrangeiro, sob o formato de parcerias público-privadas – o modo petista de privatizar. Mas, sem-pre com a participação do BNDES no fi-nanciamento das empresas privadas, ao melhor estilo tucano.

Junto com esse “PAC das privatiza-ções”, o governo trabalha para substi-tuir o fator previdenciário por um meca-

nismo ainda pior para os trabalhadores. Junto com a fórmula 85/90 (valor da so-ma da idade com o tempo de contribui-ção para mulheres e homens respectiva-mente), o governo planeja propor uma fórmula móvel que exige mais tempo de contribuição dependendo da expectativa de vida do brasileiro, além de instituir a idade mínima.

Apesar da negativa envergonhada de lambe-botas do governo nesse período eleitoral, está em estudo um projeto que flexibiliza a CLT e garante a prevalên-cia do negociado sobre o legislado. Isso abre na prática a possibilidade de des-respeito à legislação que garante direi-tos trabalhistas.

52% orçamento para o pagamento da dívida

Os recursos necessários para os inves-timentos em infraestrutura, valorização do funcionalismo federal e dos serviços públicos são os mesmos que o governo acaba destinando ao pagamento e rola-gem da dívida pública. Segundo a Audi-toria Cidadã da Dívida, até 2 de agosto desse ano a dívida pública já consumiu 52% do orçamento de 2012. Esse valor é cinco vezes maior que o gasto com fun-cionalismo.

Ao contrário do que propaga a impren-sa e o governo, os gastos com os servi-dores federais diminuíram nos últimos dez anos de governo do PT em relação ao crescimento do PIB. No último ano de FHC, o governo destinou 4,8% do PIB para o funcionalismo. Em 2012 esse mon-tante não ultrapassou 4,2%.

Os ataques de Dilma à greve do fun-cionalismo federal, incluindo a repressão física, o corte de ponto e a substituição dos trabalhadores grevistas, estão a altura de FHC e serve para mostrar até onde o governo pode chegar com o agravamen-to da situação nacional e internacional.

Diante da crise, não há como escapar da escolha entre os banqueiros, especu-ladores, grandes corporações privadas e o agronegócio, de um lado, ou os servi-ços públicos e os trabalhadores, de ou-tro. Assim como FHC e Lula antes dela, Dilma já fez sua escolha. Cabe aos mo-vimentos da classe trabalhadora impedir na marra que esse rumo se aprofunde a levantar sua alternativa de classe a esse sistema de crise e desigualdade.

Economia patina e Dilma tenta choque de neoliberalismoGoverno promove pacote de privatizações, ataques aos direitos trabalhistas, contrarreforma da previdência e repressão sobre quem resiste

GM ameaça demitir milhares de trabalhadores ao mesmo tempo que recebe milhões de apoio do governo.

2 • editorial Ofensiva Socialista n°11 agosto/setembro - 2012

é uma publicação da Liberdade, Socialismo e Revolução

Telefone: (11) 3104-1152E-mail: [email protected]ítio: www.lsr-cit.orgCorreio: CP 02009 - CEP 01031970 - SP Assinatura: 10 edições: R$ 20 reais (Envie cheque nominal p/Marcus William Ronny Kollbrunner à caixa postal)

Colaboraram nessa edição: Aldo Barreto, André Ferrari, Fernando Lacerda, Isabel Keppler, Jane Barros, José Afonso Silva, Kézia Bastos, Luciano da Silva Barboza, Marcus Kollbrunner, Mariana Cristina, Matheus Pacheco, Mauricio de Oliveira Filho, Nayara Moreira Gatti, Niall Mulholland, Raylane Walker, Zé Raimundo.

Esgotamento do Lulismo?As tarefas da esquerda em um momento de mudanças

Apesar do que indicam as pes-quisas sobre a popularidade do governo Dilma, existem ra-zões reais de preocupação com o futuro para o governo e o arco de forças em torno do modelo lulista, em vigor no pa-ís durante quase uma década de governo do PT.

A força demostrada pelo lulismo nos últimos anos tem representado a maior conquista por parte da clas-se dominante desde o final do regi-me militar. As ilusões nesse mode-lo significam também o obstáculo mais importante para a reconstru-ção de uma esquerda socialista de massas no Brasil.

O PIBinho de Dilma (crescimen-to do PIB de 2,7% em 2011 e ex-pectativa de menos de 2% em 2012) acendeu um sinal de alerta. Dilma corre o risco de ficar atrás de FHC em termos de crescimento econômi-co. Alguns dos pilares fundamentais que sustentaram o lulismo nos últi-mos anos tendem a se deteriorar em meio à crise atual.

Um processo de esgotamento, ainda que lento e contraditório, do modelo lulista resultante das graves turbulências no cenário internacio-nal e das contradições inerentes ao capitalismo brasileiro, tem uma im-portância fundamental para a opo-sição de esquerda ao governo. No-vas tarefas e novos desafios se co-locam de forma ainda mais aguda.

Limites da exportação de produtos primários

Uma das marcas centrais do pe-ríodo lulista foi o aprofundamen-to do modelo econômico baseado na prioridade dada à exportação de produtos primários para um mer-cado asiático em franca expansão. Isso garantiu um crescimento que, apesar de fraco em comparação com os períodos áureos de crescimento na história do país, ficou acima da média de FHC.

Esse crescimento, contraditoria-mente, consolidou uma dinâmica retrógrada de reprimarização da pauta de exportações do país. Esse modelo primário exportador, além de ser historicamente vinculado à superexploração da força de traba-lho e o aumento da desigualdade, provoca uma tendência clara em di-reção à desindustrialização do país e uma maior dependência.

O lulismo aprofundou uma ten-dência que vem desde FHC. Os pro-dutos primários representavam 25% das exportações brasileiras no iní-cio da década de 90. Em 2010 já representavam 45%. Enquanto is-so os produtos industrializados e bens de capital caíram de 70% das exportações no início dos anos 90 para 47% em 2010.

Nos dias de hoje, com o agrava-mento da crise internacional, in-cluindo a desaceleração da econo-mia chinesa, esse modelo baseado na exportação de produtos primá-rios não garante o dinamismo eco-nômico anterior. Volume e preço das commodities exportadas ten-dem a cair. O modelo se mostra es-truturalmente retrógrado e conjun-turalmente ineficiente até mesmo do ponto de vista da classe dominante.

Consumo a crédito

Outro pilar do lulismo foi o es-tímulo ao consumo através da am-pliação do crédito. O nível do cré-dito em relação ao PIB cresceu de 25% para quase 50% com Lula. Apesar do impacto no curto pra-zo, é evidente que há sérios limites para a continuidade dessa expan-são. As dívidas têm comprometi-do, em média, 42% da renda fami-liar, segundo pesquisa recente. O ní-vel de inadimplência só não cresce mais pelo caráter perverso do cré-dito consignado.

Se o crédito ao consumidor cres-ceu, os investimentos não seguem a mesma dinâmica. A proporção en-tre a formação bruta de capital fixo (investimentos em máquinas e equi-pamentos) e o PIB no último perí-odo chega a ser inferior até àquela observado na “década perdida” de 1980 (17% hoje para 19% naquele período). Um crescimento econô-mico baseado no crédito ao consu-midor e não em investimentos pro-dutivos apresenta poucas chances de se manter de forma prolongada e sustentável.

Nova classe média?

Para além das medidas de caráter compensatório e assistencial, como o “Bolsa Família”, há quem indique que a marca principal do lulismo foi a incorporação de milhões de brasi-leiros ao mercado de trabalho for-mal em conjunto com a elevação re-lativa do valor do salário mínimo.

Essa seria a base da formação do que os propagandistas do gover-no e do neoliberalismo chamam de “nova classe média” e que na ver-dade se trata de uma nova camada de trabalhadores que deixou uma si-tuação de exclusão social extrema, mas que permanece no patamar de grande precarização. 95% das novas vagas de emprego geradas no últi-mo período tem uma remuneração máxima de 1,5 salários mínimos.

Com a desaceleração da econo-

mia, além do aumento do desem-prego, há a tendência de queda na arrecadação, o que também afeta-ria a política de aumento do salá-rio-mínimo. Com mais desempre-gados e cortes no reajuste do míni-mo, a tendência é um retrocesso na tendência de ascensão social mes-mo limitada para um setor dos tra-balhadores mais pobres e excluídos.

Base de sustentação política e sindical

Outro sustentáculo fundamental para o modelo lulista tem sido a relação carnal entre governo e diri-gentes das organizações sindicais e movimentos sociais cooptados. Foi fundamental para o modelo contar com a colaboração da burocracia sindical da CUT, Força Sindical, CTB, UGT, etc.

As escaramuças entre governo e burocracia sindical logo no início do governo Dilma em torno da po-lítica de reajuste do salário-míni-mo, indicou dificuldades à frente. A atual onda de greves, protagoniza-da pelo funcionalismo federal, tem provocado uma situação onde mes-mo as direções sindicais pelegas e governistas tem sofrido a pressão da radicalização de suas bases sin-dicais e têm sido levadas ao confli-to com o governo.

Um setor da burocracia passa a te-orizar que Dilma não tem a mesma sensibilidade que Lula para o movi-

mento sindical. É verdade que Lu-la tinha mais autoridade para fre-ar as lutas e cooptar/comprar lide-ranças. Mas, mesmo Lula protago-nizou o um profundo ataque às lu-tas do funcionalismo no momento da greve contra a contrarreforma da previdência de 2003.

A tendência é que Dilma, em meio ao agravamento da crise, entre em conflitos mais profundos com o movimento sindical, abrindo espa-ço para a construção de novas di-reções combativas do movimento.

A construção das alternativas

É evidente que o modelo lulista ainda mantem importantes reservas de força. A própria figura de Lula, como um “Pelé no banco de reser-vas”, representa uma garantia de diante de qualquer desgaste mais profundo de Dilma, o governismo ainda terá fortes alternativas.

A fragilidade das alternativas de oposição ao governo também é um fator que contribui para a sobrevi-vência do lulismo. A direita tradi-cional de tucanos e demos viu seu projeto político e de classe ser se-questrado e aplicado com muito mais eficiência pelo lulismo.

A oposição de esquerda, encabe-çada pelo PSOL, por sua vez, de-monstra coerência e vê seu espa-ço crescer aos poucos ainda que de forma desigual no país. Ainda as-sim, a fragmentação das lutas e dos movimentos sociais combativos, a falta de um projeto político antica-pitalista e socialista suficientemen-te elaborado e fortemente enraiza-do socialmente, junto com as enor-mes pressões eleitoralistas, colocam dúvidas sobre seu futuro.

É por isso que se torna ainda mais inadmissível que o movimento sin-dical e popular combativo e inde-pendente de governos e patrões con-tinue ainda mais dividido e disper-so. É preciso unir as lutas em curso e construir ferramentas organizati-vas unitárias do movimento sindi-cal, popular, estudantil e de todos os setores oprimidos.

A esquerda socialista precisa es-tar unificada nas ruas e no proces-so eleitoral para levantar um pro-jeto alternativo de poder para to-dos aqueles que lutam ou são afe-tados pela crise e os ataques do lu-lismo que começa a entrar em sua fase decadente.

Fortalecer um polo de esquerda no PSOLO PSOL representa um instru-mento importante de luta por uma oposição de esquerda con-tra o governo Dilma, seus alia-dos e a direita tradicional. Des-de sua fundação em 2004, o partido tem se colocado como principal referência da esquer-da brasileira despois que o PT

abandonou o posto e passou para o outro lado.

Ainda assim, o PSOL tem sofrido uma enorme pressão para moderar suas posições e disputar o jogo po-lítico eleitoral reproduzindo certas fórmulas que pouco a pouco levaram o PT a virar o que é hoje. A políti-ca de alianças é um exemplo disso.

O Diretório Nacional do partido acabou por aprovar uma política de alianças para as eleições municipais desse ano que oferece um sério ris-co para o partido. Coligações com partidos governistas, incluindo PT e PCdoB, foram autorizadas junto com vários outros partidos, legen-das de aluguel sem fisionomia po-

lítica clara, mas que em geral ser-vem à direita.

Um conjunto de integrantes do DN e de forças políticas internas votou contra isso. Dentre esses setores que votaram contra essa política, as cor-rentes que compuseram junto com a LSR uma chapa comum no III Con-gresso do partido (CSOL, Enlace,

Reage Socialista, CLV e indepen-dentes), produziram uma Nota aler-tando sobre a gravidade da delibera-ção tomada (www.lsr-cit.org/951).

A LSR defende a formação de um campo político de esquerda, socialista e revolucionário, no interior do PSOL como instrumento de luta por um par-tido socialista de massas coerente.

Dilma e o primeiro ministro britânico David Cameron, do partido conservador, em Londres.

sindical • 3 Ofensiva Socialista n°11 agosto/setembro - 2012

Greve Nacional dos Servidores Públicos Federais

Da luta econômica à luta políticaO ano de 2012 ficará como marco na história das greves dos Servidores Públicos Fede-rais (SPF) no Brasil, não ape-nas pela grande dimensão dos seus números, mas principal-mente pela relevância política do movimento no atual quadro da crise econômica mundial. Cerca de 350 mil SPF realizam uma greve nacional que envol-ve mais de 30 entidades, além de outras com paralisações pontuais ou realizando as cha-madas “operação-padrão”.

Aldo BarretoServidor Público Federal do IBGE

O início do movimento se deu ain-da em maio deste ano com a inicia-tiva dos docentes das universidades federais que logo se tornou a maior greve da educação federal de todos os tempos. Com diferentes dinâmi-cas de mobilização, tendo por refe-rências construídas pelo Fórum Na-cional das Entidades dos Servidores Públicos Federais uma campanha sa-larial unificada e uma data para de-flagração das greves, diversas cate-gorias foram se somando a partir do dia 11 de junho ao movimento gre-vista, crescente ainda hoje.

A tática do governo Dilma-PT

O governo tem aplicado até então fórmula semelhante a que utilizou pa-ra quebrar movimentos grevistas an-teriores, ignorar a mobilização e ven-cer pelo cansaço. Porém, desta vez os resultados foram adversos. Ao invés de derrotar, fortaleceram as parali-sações. O cálculo dos servidores foi justamente baseado nas experiências de greves anteriores que não obtive-ram sucesso, por terem sido realiza-das por categorias individualmente. Portanto, criou-se a necessidade de ações conjuntas e a avaliação de que era preciso somar-se a onda grevista, a fim de dobrar o governo Dilma-PT e sua política de reajuste zero e cor-tes de verbas para diversas áreas do setor público (em período de cresci-mento econômico e recorde de arre-cadação pela receita federal).

Ao perceber que estavam perden-do o controle da situação, a respos-ta do governo foi de continuar a ne-gar efetiva negociação e atacar com medidas autoritárias a mobilização dos SPF, tais como: corte do ponto a mando direto da presidência; tentati-

va de manobras utilizando-se do sin-dicalismo governista (caso do PROI-FES); Decreto n°7.777 de 24 de ju-lho de 2012 (possibilita a substitui-ção de trabalhadores para cumprir atividades interrompidas por efeito de greves); determinação do STJ de retomada dos trabalhados de fiscais agropecuários e ameaça de punição para os reitores que não fornecerem a relação de nome dos grevistas para executar o desconto da falta-greve.

Por outro lado, a reação foi de for-talecer o movimento, que cresceu com adesão de novas categorias nas últimas semanas, e aumentar a pres-são, com atos conjuntos semanais nas capitais dos Estados e com mais uma semana de luta de 13 a 17 de agosto em Brasília.

Causas imediatas da greve e a luta política

As causas imediatas como a depre-ciação salarial, que acumula pouco mais de 20% nos últimos 3 anos, é fator fundamental para compreensão dos descontentamentos dos servido-res, porém não é único.

Outro fator importante é o grande número de aposentadorias que irão ocorrer, em algumas instituições po-de atingir 75% do quadro efetivo nos próximos 3 anos. Resultado do su-cessivo sucateamento, imposto pe-los governos neoliberais, a reposi-ção de pessoal foi insignificante em razão das necessidades concretas nos últimos 20 anos.

Para resolver está dramática situ-ação o planejamento é de amplia-ção das relações de trabalho precá-rias já hoje presentes nos órgãos pú-blicos federais. Os contratos tem-porários, aditados mensalmente por prazo máximo de 2 anos, assim co-mo as terceirizações, serão utiliza-dos mais acentuadamente no próxi-mo período para redução de gastos, criando situações críticas de condi-ções de trabalho.

Sobre as perdas salariais, deve-mos considerar que a elas se asso-ciam as expectativas de um futuro de grandes dificuldades, advindas dos reflexos mais aprofundados da crise econômica mundial no Brasil, e da campanha orquestrada por go-verno e grande impressa de empurrar a conta da crise gerada pelo capital para os trabalhadores em geral, mas em particular, de maneira mais ime-diata, para os SPF. Isto em razão dos seus vínculos mais diretos com a po-lítica econômica do governo federal

que privilegia o pagamento de juros e serviço da dívida pública (cerca de 47% do orçamento da união) na des-tinação dos recursos orçamentários.

Portanto, sobre o discurso de cau-tela e dos perigos da crise, afirmam que não podem atender aos interes-ses de um setor “privilegiado”, sem por em risco os investimentos para garantir os empregos do setor priva-do, que não conta com a estabilidade.

Na prática, aceitam a demissão de milhares de trabalhadores da in-dústria, como no emblemático caso da General Motors de São José dos Campos, ao mesmo tempo em que destinam imensa parcela de dinhei-ro público para as grandes empresas, através da isenção de impostos e re-cursos do BNDES. Dividem os tra-balhadores com este falso discurso e com o apoio da grande imprensa, a fim governar para garantir religio-samente os interesses do grande ca-pital nacional e internacional.

O eixo econômico do governo fe-deral, aplicado no momento de agu-dez dos reflexos da crise no Brasil, impõe a lógica de ataque aos traba-lhadores para garantir as taxas de lu-

cro através da transferência de capi-tal, reduzindo as margens para con-cessão sem choques com esta política.

Assim, a luta dos servidores fede-rais atinge o nível de luta política, ao por em questionamento a políti-ca econômica, o destino dos recur-sos da união gerado pelo trabalho e apropriado pelo capital.

E depois da greve?

Independente dos resultados fi-nal da greve nacional dos SPF, al-gumas considerações podemos tra-çar. O pior resultado seria se o go-verno conseguir impor, como de fato pretende, acordos rebaixados, parce-lados e dividindo as categorias, mes-mo com a atual relação de força, is-to porque aposta no desgaste pelo longo período de greve para algu-mas categorias. Porém, isto ainda não é certo. É bom lembrar que to-dos os ganhos serão frutos da luta, uma vez que não havia sequer nego-ciação e não existia reajuste progra-mado para 2013.

As ilusões no governo Dilma-PT foram mais do que nunca quebradas

para ainda uma parcela de SPF e ou-tros trabalhadores. Reflexo disso, é que mesmo na base petista e gover-nista do sindicalismo federal, hou-ve pressão para que as direções agis-sem, expondo as contradições do sin-dicalismo burocrático e governista, a exemplo da CUT.

Por outro lado, o campo das orga-nizações que permanecem nas lutas, independentes de governos e patrões, ganha espaço para o fortalecimen-to necessário para os futuros comba-tes que virão. A conclusão dos SPF a partir da unidade de ação nesta greve leva a uma reflexão sobre a recons-trução da ferramenta de organização capaz de responder aos atuais desa-fios da luta de classes num cenário de intensificação da crise econômica.

O debate de uma central sindical que responda aos anseios de unida-de e que esteja comprometida com as lutas dos trabalhadores está colo-cado pela luta concreta dos SPF. A CSP-CONLUTAS tem grande res-ponsabilidade nesse sentido, sendo referencia de atuação de seus mili-tantes nesta histórica greve nacional.

É preciso avançar!

É preciso avançar! Governos e pa-trões preparam novos golpes. A rea-lidade da Europa nos mostra o nível de ataques que podemos sofrer, en-quanto classe, para salvaguardar os interesses do grande capital. Se por lá vemos ruir o que sobrou do es-tado de bem estar social, em terras brasileiras o limiar é outro. Saúde e educação pública de qualidade e pa-ra todos nunca tivemos. Um imen-so contingente de trabalhadores vive com salários miseráveis (com meta-de da população vivendo com renda per capita de até R$375,00, segundo dados do censo 2012). A concentra-ção de renda é algo colossal.

Novamente os SPF serão respon-sabilizados pela crise, tratados co-mo insensíveis que não percebem a realidade do nosso país, jogarão a opinião pública contra nossas jus-tas reivindicações. Nossa reposta te-rá que ser maior e superior a que de-mos hoje. Num sentido mais amplo, este é nosso desafio. Unificar os tra-balhadores do país, derrotar o projeto de saque das riquezas da nação, que serve para alimentar os insaciáveis banqueiros e grandes empresários, e que mantém milhões sem acesso as necessidades básicas de vida. A lu-ta dos SPF é no fundo uma luta por justiça social.

Por um Sindicato de luta em Rio das OstrasChapa 1 – Renovar, Lutar e AvançarAproximam-se as eleições do Sindicato Municipal dos Servi-dores Públicos de Rio das Os-tras-RJ (28, 29 e 30 de Agos-to) que vai escolher a nova direção para o triênio outu-bro/2012 a outubro/2015.

Luciano da Silva Barboza militante do Bloco de

Resistência Socialista/CSP-Conlutas e candidato pela

chapa 1 a coordenador geral de finanças do Sindserv-RO

A chapa 1 reúne servidores como professores, profissionais da saúde,

transporte, meio ambiente, além da guarda municipal. Estes servidores vivenciaram variadas formas de per-seguição e assédio moral por parte da prefeitura porque sempre se colo-caram na luta contra os desmandos e abusos cometidos pelo atual gover-no de Carlos Augusto (PMDB) e pe-lo antigo governo do Sabino (PSC).

O caso do Plano de Carreiras que não foi debatido e que colocou os servidores nas mãos de pessoas com cargos comissionados da prefeitu-ra, que avaliarão se os funcionários públicos devem receber sua pro-gressão de carreira, é um verdadei-ro desrespeito. Defendemos que a

progressão seja automática e que a avaliação do trabalho do servidor seja feita pelos profissionais na ati-va da sua área de atuação, por isso queremos modificá-lo para atender as demandas dos servidores.

O sindicato deve avançar muito mais, estando mais presente nos lo-cais de trabalho, mapeando os pro-blemas, coletando críticas e contri-buições, promovendo campanhas permanentes de conscientização e de filiação sindical, incrementando a assistência jurídica, utilizando me-lhor o espaço da sede do sindicato, buscando formas alternativas de ar-recadação financeira e promovendo

mais espaços coletivos de construção e mobilização das lutas, como, por exemplo, assembleias gerais regu-lares bimestrais para debater a pau-ta e as estratégias com os servidores.

Outra chapa é atrelada ao prefeito

Caso a chapa 2 vença teremos um sindicato atrelado ao novo Prefeito, respaldando medidas que nos preju-dicam, como foi o plano de carreira aprovado. Com a chapa 2 apoiada pelo PMDB e PSC não haverá lu-tas dos servidores, e sem lutas não há vitórias.

Para fortalecer a luta dos servido-res municipais foi montada a chapa 1 – Renovar, Lutar e Avançar. Que-remos conquistar direitos através da mobilização dos servidores.

Nossa chapa não tem nenhuma ligação com Sabino e Carlos Au-gusto, pois somos oposição ao que eles já fizeram como prefeitos con-tra os servidores.

Por isso chamamos o voto na cha-pa 1, pois é a chapa que defende in-dependência política perante os go-vernos.

Queremos um sindicato para de-fender os servidores e não para apoiar as ordens dos prefeitos.

Marcha dos servidores federais à Brasília dia 18 de julho e policiais federais em greve.

Quando o caso é grave, a solução é greve!Esta é uma frase de grande re-percussão entre os grevistas, que sem dúvida, além de ex-tremamente impactante, es-ta carregada de significado de luta diante da conjuntura que nos é colocada atualmen-te. Lutar por uma educação de qualidade, é um dos elemen-tos importantes que nos mo-biliza e nos indigna dentro de um cenário mais amplo de ata-ques sofridos pela classe tra-balhadora no último perío-do. Ataques orquestrados pe-lo cruel e nefasto sistema ca-pitalista.

Kézia BastosColetivo Construção e CA de Psicologia da UFF-RO

Comandante desse sistema em nosso país, a presidente Dilma, apresenta claramente à que pro-pósito veio e a quem está servin-do, quando privilegia o pagamen-to da dívida pública e passa a enca-rar o setor público como gasto se-cundário, onde na divisão do bolo orçamentário do país, fica somente com a “raspa do tacho”! Não é di-fícil perceber o reflexo social que advêm dessas medidas arbitrárias: uma intensificação massiva e cres-cente das lutas em diversos setores que abarcam os trabalhadores brasi-leiros. Estes respondem através das greves que não topam o acordo de um só ganhador, de pagarmos nós, pela crise econômica.

Sucateamento do ensino superior

O processo de sucateamento que vêm sofrendo os IFES é mais um peixe nesse oceano de medidas con-trárias ao interesse do povo. Seguin-do a linha mercadológica e privatis-ta, o plano do governo Lula/Dilma para reestruturação do Ensino Su-perior se mostrou mais como des-cendente proporcional da era FHC, do que uma real modificação posi-tiva para a popularização do Ensi-no no Brasil.

Este plano impõe péssimas condi-ções de trabalho aos docentes, acar-retando em precárias condições de ensino, pesquisa e extensão. Dian-te destas condições adversas a ca-tegoria só poderia anunciar estado de emergência e clamar pela unifi-cação das lutas: servidores, estudan-tes e professores. Que juntos numa greve nacional, forte e combativa, não tem aceitado as migalhas, reali-zando a pressão necessária para ar-rancar a custo de muitas lutas, algu-mas vitórias concretas.

Foi nesse contexto que a juventu-de da LSR, atuando no coletivo na-cional Construção, percebeu a ne-cessidade não somente de uma or-ganização, mas de uma unificação dos campos da esquerda do movi-mento estudantil nesse momento tão adverso. Garantimos o máximo de participação e construção das ativi-dades de greve e reuniões dos co-mandos locais por onde atuamos.

Entendemos a importância de ocupar todos os espaços do movi-mento estudantil, tanto organizado num contexto mais amplo de luta

em defesa de uma educação publi-ca de qualidade para todos e todas, através do coletivo Construção, co-mo nos CA’s e DA’s, tratando das demandas mais específicas dos cur-sos no combate contra a precariza-ção do ensino público.

No período de greve não é dife-rente. Trata-se de um processo cha-ve, onde temos tido papel importan-te nas universidades que estamos, como a UFPB, UFG, Unifesp. Ou-tro importante pólo de nossa inser-ção tem sido a UFF, onde participa-mos ativamente nos Comandos Lo-cais, propondo atividades com o ob-jetivo de não perder o caráter mo-bilizatório crescente, desde a ocu-pação da reitoria no mesmo período do ano passado. Temos contribuído significativamente na interação en-tre os campi do interior, construindo assembleias conjuntas e formulan-do calendários de lutas. Além dis-so, conseguimos garantir represen-tatividade no Comando Nacional de Greve dos Estudantes (CNGE), que se instalou em Brasília.

Nesse espaço, a partir da conjun-tura de negociações com o gover-no federal, propúnhamos ativida-des e indicativos de posicionamen-tos a serem colocados nas assem-bleias locais, bem como trazíamos essas pautas vindas de diversas uni-versidades do país, para serem in-cluídas no documento geral de rei-vindicações, que foi, repetidas ve-zes, apresentado em reuniões com o MEC (Ministério da Educação e Cultura) e MPOG (Ministério do Planejamento, Orçamento e Ges-tão). Que em uma degenerada po-lítica de ignorar os movimentos so-ciais, postergou e dificultou ao má-ximo os processos de negociação.

O CNGE construiu atos na espla-nada com o objetivo de dar visibi-lidade ao movimento para um me-lhor diálogo com a população, pres-sionamento para que conseguísse-mos um canal de diálogo aberto e democrático para expor nossas in-quietações.

Construir a unidade nas lutas

Sem sombras de dúvida este mo-mento se configura como histórico pra nossa juventude, não somen-te por se tratar da greve mais for-te e representativa dos últimos dez anos, mas pelo potencial de unifica-ção que ela tem revelado. Além da atuação conjunta entre os setores da comunidade acadêmica, o CN-GE proporcionou o espaço pontu-al que precisávamos, no sentido de dar uma injeção de ânimo aos que já desacreditavam na possibilidade da construção de um espaço conjun-to do movimento estudantil.

Espaço este que abarcasse todos os tipos de organizados e indepen-dentes, atuando em torno de um ob-jetivo comum, superando a velha lógica da auto-construção. A gre-ve tem nos mostrado que é possí-vel propormos um Fórum Nacional de Mobilização Estudantil, que fu-ja da lógica burocratizada ou pele-ga das entidades, e tenha como me-ta conjunta, a valorização imediata do ensino público como alternati-va à barbárie.

4 • greve nas federais Ofensiva Socialista n°11 agosto/setembro - 2012

No dia 26 de junho deste ano foi aprovado a versão final do Projeto de Lei do novo Plano Nacional Da Educação – PNE, que ainda será votado pela Câ-mara dos Deputados e o Sena-do Federal. Assim como a in-clusão da meta 20 que prevê a destinação de 10% do PIB pa-ra a Educação até 2023, sen-do 7% em 2018. Este PNE vem sendo debatido desde 2010 e irá ditar as diretrizes para a Educação do nosso país nos próximos 10 anos.

Mauricio de Oliveira Filho e Nayara Moreira Gatti

estudantes de Serviço Social da Unifesp Baixada Santista

Raylane Walkerdiretora do DCE UFF

Um dos pontos mais polêmicos do documento era a questão do financia-mento. A proposta inicial do governo era de destinar apenas 7% do PIB. Porém diante do cenário de GREVE GERAL dos Institutos e Universida-des Federais em luta pela Educação, a pressão em defesa de mais investi-mento fez com que o documento fi-nal saísse os 10%, mas com contra-dições em torno do “pública” e não para gora.

Esse investimento na educação pú-blica de forma imediata é uma das bandeiras históricas do Movimento Estudantil. Entendemos que a defe-sa da educação pública, não passa de demagogia se não se propõe um aumento substancial do investimen-to público. Diversas ações já foram feitas por entidades, coletivos e mi-litantes dos Movimento Sociais em defesa da educação, como o Plebis-cito Nacional em defesa dos 10% do PIB para educação pública já de 2011, construído por DCE’s, Cen-tros Acadêmicos e Coletivos de di-versas universidades, CSP-Conlu-tas, MTST, MST e ANDES-SN. A direção majoritária da UNE (UJS - PCdoB, PT) se negou a participar, demostrando claramente de que la-do estava e está: ao lado do governo e dos grandes empresários da educa-ção. O resultado foi a aprovação de 99% dos 420 mil cidadãos que par-ticiparam.

Tentativa de desmobilizar

A aprovação dessa meta dos 10% agora demostra uma tentativa de des-mobilização dos estudantes por par-te do governo, para que aceitem con-quistas parciais e saiam da greve. Esse setor governista, a direção ma-joritária da UNE, se apropriou dessa pauta de forma oportunista, iludindo a todos os estudantes. Defendem um projeto de educação no qual não há espaço para o “pública” e nem o “já”. Também não se posicionam contra os cortes de verba e todos os ataques do governo a GREVE e a educação.

Mas é necessário que se desmonte

essa falácia: o que foi aprovado não contempla em nada a nossa reivindi-cação, pois além de ser apenas uma meta – não há nenhuma punição pre-vista em caso de descumprimento – e só está prevista para ser atingida no fim do período (2023), também não garante que esse investimento será feito na educação pública.

Continua a precarização e privatização

Além do financiamento, o novo PNE estabelece metas que vão na direção de um aprofundamento da precarização e privatização da edu-cação pública. As metas são vincu-ladas as demandas do mercado, co-mo a transferência de verba públi-ca para instituições privadas, PRO-NATEC e FIES, e o aprofundando do modelo REUNI (programa cau-sador da precarização do ensino su-perior público e em consequência a atual greve). Com isso, continua a farra de repasses de dinheiro públi-co para empresários da educação pri-vada, que tem suas dívidas perdoa-das em troca de bolsas de estudo. É o governo federal fazendo escambo com o mercado de diplomas.

O antigo PNE, válido de 2000 a 2010, a meta de investimento era de 7% do PIB no fim do período, po-rém, este valor nunca fora cumprido e o percentual investido hoje, varia entre cerca de 4% e 5%. Tanto o ex--presidente Fernando Henrique Car-doso (PSDB), quanto Lula da Silva (PT) chegaram a vetar o percentual de investimento, o que mostra uma semelhança entre ambos os progra-mas: defesa da educação de forma vazia e demagógica.

Os fatos se tornam ainda mais re-voltantes quando olhamos para os dados de execução orçamentária e constatamos como foi repartido o orçamento da União. Foi destinando praticamente a metade do orçamento

para o pagamento de juros e amor-tização da dívida pública 45,05% em 2011 e 47,19% em 2012, ou se-ja, metade do orçamento da União foi direto para a mão de credores (destes, 98% são bancos, fundos de pensão e/ou fundos de investimen-to). Para a educação são destinados míseros 2,99% em 2011 e 3,18% em 2012.

O Ministro da Educação, Aluí-zio Mercadante declarou recente-mente que é “difícil atender a meta dos 10% do PIB”. O ministro de Fa-zendo, Guido Mantega, afirmou ao participar de um encontro organiza-do pelo Lide (grupo de líderes em-presariais) em São Paulo que proje-tos como o PNE, que pretende ele-var os gastos do Governo Federal com a Educação para o equivalen-te a 10% do PIB, pode “quebrar” o Estado brasileiro.

Qual é o projeto de educação?

Isso mostra que o que está em dis-puta nesse momento não é somente o financiamento, mas sim um proje-to de educação, que para o governo não é uma educação pública gratuita e de qualidade para todos, mas sim privatizada e precarizada, para ga-rantir o lucro das empresas, do mer-cado. Isso porque a falta do dinhei-ro não é problema, já que o gover-no gasta quase metade do orçamen-to público pagando os juros e amor-tização da dívida pública, e menos de 4% com a educação. Importante dizer que essa dívida é ilegítima, in-justa e contêm diversos indícios de ilegalidade.

Esse projeto de educação preca-rizada e privatizada, protagonizada pelo governo pode ser visto pela im-plementação do REUNI nos últimos 5 anos. Este programa de expansão das universidades púbicas, baseado em metas tem sucateado a formação profissional superior. A universida-de se expandiu em número de vagas em 100%, porém recebeu para isso cerca de 20% de verba, insuficiente para garantir uma expansão física, de professores, técnicos e assistên-cia estudantil na mesma proporção.

Além disso, o governo Dilma cor-tou, os últimos 2 anos, cerca de 5 bilhões do orçamento da educação, que já não era pouco. Com isso, a resposta dada ao governo hoje pe-los alunos, professores e servidores não poderia ser outra: greve geral da educação!

Por isso, somos contra este PNE, defendemos um PNE construído pelos Movimentos Sociais, defen-demos os 10% do PIB para edu-cação pública já; contra as me-tas do REUNI e PROUNI e toda a privatização da educação que estes projeto geram. Somos contra os cortes de verba do governo nas áre-as sociais, defendemos uma edu-cação pública, gratuita, de qua-lidade, socialmente referenciada e para todos!

O novo PNE e os 10% do PIB para a educação: conquista ou enganação?

O PNE não garante os 10% do PIB para a educação.

greve nas federais • 5 Ofensiva Socialista n°11 agosto/setembro - 2012

Em 17 de agosto, a maior gre-ve da história de docentes das universidades federais com-pletará 90 dias. Desde en-tão, dezenas de outras catego-rias de servidores públicos fe-derais (SPFs) entraram em gre-ve e hoje o governo Dilma está sendo desafiado por centenas de milhares de trabalhadores que não aguentam mais precá-rias condições de trabalho e a intensa política de arrocho sa-larial aplicada ortodoxamente por Lula e Dilma.

Fernando Lacerdadiretor da regional

Planalto do Andes-SN

O início da greve dos SPFs não foi um raio que surgiu em um céu azul. De fato, nunca se gastou tão pouco com servidores públicos federais. Em 1995, Fernando Henrique Car-doso, gastava com pessoal, 56,2% da Receita Corrente Líquida do gover-no federal. Hoje, após 10 anos de go-vernos do PT, esse gasto é de 32,1%. Isto só foi possível com uma políti-ca de arrocho salarial contra a qual os SPFs estão, no atual movimento grevista, lutando.

As razões da greve

Não é somente contra a política de arrocho salarial que os docentes das universidades federais estão lu-tando, mas também contra as péssi-mas condições de trabalho criadas pela expansão precarizada das uni-versidades federais e contra um pla-no de carreira apresentado pelo go-verno que transformará o trabalho docente e os rumos da universidade brasileira. A precariedade da expan-são da universidade pública ocorrida durante o governo Lula ficou ainda mais clara durante o governo Dilma. Diversas obras iniciadas não foram concluídas, professores estão dando aula ou realizando pesquisas dentro de containers, banheiros são usados como laboratórios e faltam mate-riais básicos para o funcionamento da universidade. Junto com a expan-são precarizada, há dois elementos que contribuíram para o surgimen-to de uma greve tão forte: os impas-

ses nas negociações sobre a carrei-ra docente e a política salarial apli-cada pelo governo. Apenas nos últi-mos três anos, os docentes tiveram uma perda salarial de mais de 16%.

Junto com isso, o governo está, desde agosto de 2010, tentando en-fiar goela abaixo uma reestrutura-ção da carreira docente que busca, mediante um conjunto de mudan-ças, retirar direitos históricos – co-mo a autonomia universitária e a iso-nomia na carreira – e, ainda por ci-ma, realizar uma “mini-reforma” da previdência criando obstáculos para os professores alcançarem o topo da carreira e, ao mesmo tempo, desva-lorizar as remunerações de aposen-tados e pensionistas.

As negociações com o governo durante a greve

Até o início da greve os represen-tantes do governo Dilma vangloria-vam-se de não negociar com catego-rias em greve. Por exemplo, o ano passado os servidores técnico-ad-ministrativos passaram mais de 100 dias em greve sem que o governo recebesse representantes para escu-tar suas reinvindicações. No entan-to, esta postura truculenta apenas au-mentou a revolta dos trabalhadores. A greve dos docentes chegou a atin-gir mais de 95% das instituições fe-derais de ensino e obrigou o gover-no a abrir negociações com o mo-vimento docente. No dia 13 de ju-lho o governo recebeu representan-tes das entidades para negociar uma saída da greve.

Surpreendentemente, nesta data, o governo apresentou uma proposta que – além de não repor as perdas sa-lariais dos últimos anos ou não abor-dar o problema das condições de tra-balho – aprofundava os ataques do governo sobre a carreira docente. A proposta foi duramente rejeitada pe-la base que, em assembleias por to-do o país, pronunciou um estrondoso “não” à proposta do governo. Após a rejeição da primeira proposta o go-verno, em nova reunião, apresen-tou uma segunda proposta para ten-tar dar fim ao movimento grevista. Nesta nova proposta o governo pro-pôs gastar R$4,2 bilhões em reajus-tes salariais que seriam realizados

até março de 2015 e as decisões es-senciais sobre a carreira docente se-riam remetidas para um novo Gru-po de Trabalho constituído pelo go-verno, por representantes das rei-torias e pelas entidades que assina-rem o acordo.

Novamente, com exceção de duas universidades (UFSCAR e UFRGS), assembleias realizadas nas universi-dades em greve rejeitaram a propos-ta do governo. Em primeiro lugar, porque a proposta de reajuste sala-rial, além de não repor as perdas sa-lariais dos últimos anos, resulta, pa-ra muitos docentes, em congelamen-to ou perdas salariais. Além disso, a proposta de gastar apenas R$4,2 bi-lhões é ridícula. Somente em 2012, o governo gastou, por dia, R$2,1 bi-lhões para encher os bolsos de ban-queiros detentores de títulos da dí-vida pública.

10 bilhões para universidades privadas

Neste ano o governo também dei-xou de arrecadar mais de R$10 bi-lhões ao oferecer anistia fiscal pa-ra diversas instituições privadas da educação. Desta forma, ao oferecer apenas R$4,2 bilhões para o reajuste salarial, o governo Dilma, novamen-te, mostra para quem governa: mega-especuladores financeiros e empre-sários que lucram com a mercantili-zação da educação. Em segundo lu-gar, a proposta foi rejeitada porque ela coloca para um Grupo de Tra-balho definir os itens essenciais da reestruturação da carreira docente. Ora, se foi precisamente a inoperân-cia de um GT que resultou na gre-ve atual, não há qualquer razão pa-ra achar que um novo GT atenderá os anseios do movimento docente.

Infelizmente, enquanto a base se mobilizava contra os ataques do go-verno, um conjunto de burocratas da Federação de Sindicatos de Profes-

sores de Instituições Federais de En-sino Superior (PROIFES) – uma en-tidade criada durante o governo Lula para dividir o movimento docente e desmantelar o sindicalismo comba-tivo representado pelo ANDES/SN – se articularam com o governo pa-ra tentar derrotar o movimento gre-vista. Na última reunião de negocia-ção – realizada em 01 de agosto – o PROIFES decidiu assinar o acordo proposto pelo governo. Outras três entidades presentes na mesa de ne-gociação – ANDES/SN, SINASEFE e CONDSEF – explicaram que su-as bases rejeitavam o acordo e que o governo não deveria encerrar as negociações.

PROIFES: Tentáculo do governo no

movimento docente

O PROIFES representa entidades sindicais de apenas sete universida-des. Destas, quatro (UFBA, UFC, UFG e UFMS) rejeitaram a propos-ta do governo e decidiram continu-ar a greve. Com isso, ao assinar o acordo, os representantes do PROI-FES não apenas estavam desrespei-tando as decisões das outras 52 uni-versidades que essa entidade não re-presenta, mas estava desrespeitando as decisões da maioria das univer-sidades que representa. Com essa ação, o PROIFES se mostrou como um tentáculo do governo no movi-mento sindical que fará de tudo para combater qualquer movimento sin-dical ou político que possa desgas-tar o governo Dilma.

A assinatura do acordo pelo PROI-FES foi aproveitada pelo governo: este afirmou que as negociações estavam encerradas e iniciou uma ofensiva contra a greve. Porém, mais de 10 dias depois da assinatura do acordo, apenas duas universidades saíram da greve. Enquanto isso, do-centes de 54 das 59 universidades

federais brasileiras continuam em greve.

Hoje a greve dos docentes está so-frendo uma forte ofensiva midiática e política, além dos naturais desgas-tes criados por uma greve que se ini-ciou em 17 de maio. Desde a inten-sificação da greve dos SPFs o go-verno anunciou medidas como cor-tar o ponto de servidores grevistas e medidas (como o decreto 7.777) que possibilitam a contratação de funcionários substitutos em situa-ções de greve.

O Comando Nacional de Greve do movimento docente luta hoje pe-la reabertura das negociações e bus-ca o fortalecimento da greve nacio-nalmente. De fato, somente a luta or-ganizada dos docentes pode mudar a situação atual.

Lutar e fortalecer a unidade dos SPFs

Porém, uma vitória do movimento docente depende, fundamentalmen-te, do fortalecimento da unidade com os servidores públicos federais, pois os ataques contra as universidades públicas fazem parte de um projeto mais geral de desmantelamento do Estado, de austeridade fiscal e arro-cho salarial de setores da classe tra-balhadora que, minimamente, con-quistaram alguns direitos.

Em outras palavras, a luta dos tra-balhadores docentes hoje é parte das lutas da classe trabalhadora contra as políticas neoliberais que come-çaram com os governos de Collor e Fernando Henrique Cardoso e con-tinuaram com Lula e Dilma. Por is-so, só com o fortalecimento da greve e com o aprofundamento da unidade com as diversas categorias dos servi-dores públicos federais, o movimen-to docente pode obter vitórias con-tra os violentos ataques do governo Dilma à educação pública, gratuita e de qualidade.

Greve das universidades federais

Unidade para combater o peleguismo e o governo

Uma de inúmeras manifestações durante a maior greve do ensino superior da história.

6 • eleições 2012 Ofensiva Socialista n°11 agosto/setembro - 2012

Belo Horizonte: retomar a cidade para os trabalhadoresNa capital mineira, a Frente de Esquerda BH Socialista, com-posta pelos partidos PSOL (Par-tido Socialismo e Liberdade) e PCB (Partido Comunista Brasi-leiro) lançou a companheira Ma-ria Consolação, nº 50, como candidata a Prefeita. Seu vice é Antônio de Almeida Lima, antigo militante do “partidão”.

Zé RaimundoMilitante do PSOL-MG

A Frente questiona a forma como os governos do PT e PSB vêm go-vernando a cidade há duas décadas.

Os espaços públicos de manifesta-ção vem se reduzindo cada dia mais, a cidade não pertence mais ao povo e aos movimentos sociais. A Polícia, a mando do Prefeito Lacerda, junto com o governo estadual do PSDB, ataca os movimentos sociais e reti-ra trabalhadores acampados em lu-ta pela casa própria, como aconte-ceu na Ocupação Eliane Silva e co-

mo tem se tentado sistematicamen-te contra a Ocupação Dandara, on-de mais de 1000 famílias resistem em terreno particular na Zona Norte.

Lacerda, do PSB, atual prefeito, é ex-dirigente da Federação das In-dústrias de MG, ex-secretário de Aé-cio Neves, e foi eleito com o apoio do PT, que tem o atual vice. Até três dias antes da eleição, era certo que repetiria a dobradinha com o PT, mas os desarranjos da coligação levaram ao rompimento, e então foi anuncia-do o ex-Ministro Patrus Ananias, do Partido dos Trabalhadores, que tem o apoio do PMDB e PC do B.

Na primeira semana de campanha, Lacerda declarou ter arrecadado mais de 1 milhão de reais, enquanto Pa-trus quase o mesmo valor. Assim, é a campanha dos milionários contra a campanha do tostão.

Infelizmente, a esquerda socialis-ta também saiu dividida. Não soube romper suas dificuldades internas e, ao mesmo tempo, aproveitar o racha das candidaturas da elite empresa-

rial, e, assim, o PSTU também aca-bou lançando candidatura própria.

Por trás da campanha de Lacerda, estão o PSDB e mais uma lista de 19 pequenos partidos, entre eles o DEM, PTB, PSD. Não há consistência ide-ológica, apenas interesses de cargos, que se dividem nas diversas secreta-rias e nas obras da Copa que parali-sam a cidade.

Homem de negócios

Lacerda é homem de negócios e como tal dirige a cidade. As princi-pais avenidas estão sendo cavadas para instalar o ônibus chamado BRT, enquanto a ampliação do metrô fica para as calendas, mais uma vez. Isto tem explicação: os donos do trans-porte coletivo não permitem abrir mão da boquinha e a população so-fre e continuará sofrendo.

A política do PSB-PT-PSDB em BH chega ao absurdo de privatizar até ru-as. Recentemente, o prefeito autorizou a venda de uma rua para uma imobi-

liária construir prédios. Arranha-céus são erguidos sem respeitar as leis am-bientais, gerando mais problemas ur-banos como o congestionamento de veículos, a poluição, a insegurança pú-blica.Os discursos dos candidatos ma-joritários não trazem qualquer novida-de. Patrus reivindica o Governo Dilma e Lula, enquanto Lacerda faz referên-cias elogiosas a Aécio Neves e Anas-tasia. Por outro lado, não se ouve nada a respeito das lutas dos servidores pú-blicos federais, ou dos gastos excessi-vos do PSDB para fazer o novo Cen-tro Administrativo, que custou quase 2 bilhões de reais, enquanto o povo po-bre continua sem moradia e apinhado nos ônibus superlotados.

Também nada falam a respeito da situação precária da saúde pública. Na propaganda está tudo bem, mas na fi-la do SUS é que a população sente o drama, não se consegue marcar con-sultas e exames, cirurgias nem se fala.

Maria Consolação, do PSOL, é pro-fessora da rede pública municipal, mili-tante socialista bastante reconhecida nas

categorias de trabalhadores e no mo-mento social, pretende fazer uma cam-panha focada na denúncia da situação que vivem os trabalhadores e a popu-lação mais pobre da cidade. Os gastos de sua campanha serão modestos, pre-vistos para R$50 mil. Enquanto isso, Lacerda declarou R$35 milhões, e Pa-trus R$20 milhões junto ao TRE-MG.

As eleições deste ano acontecem em um momento que a crise econô-mica começa a apertar o bolso da população, diminuindo o acesso aos bens de consumo, aumento do endi-vidamento, e também do desempre-go. É um momento importante para se discutir que tipo de projeto as ci-dades precisam. E como não há ci-dade isolada do resto do País, é pre-ciso discutir a economia, o empre-go, o transporte, a saúde, a educação.

Uma boa oportunidade para a Frente de Esquerda BH Socialista dialogar com o povo, fortalecendo as opções de esquerda e construindo um projeto diferente do que a burgue-sia tem oferecido aos trabalhadores.

Natal foi cenário de uma jornada importante de lutas da juventude e dos trabalhadores contra a corrup-ção e desmandos da prefeitura no movimento “Fora Micarla”, além de greves e lutas de várias catego-rias e movimentos. Qual a impor-tância de uma candidatura como a sua, da Frente Ampla de Esquerda, nesse contexto? Existe uma relação entre esses movimentos e a candida-tura da Frente?

PROFESSOR ROBÉRIO: Sim, existe uma relação direta. Nossa can-didatura é a expressão de uma parte importante desse movimento. Temos dirigentes das categorias que protago-nizaram essas lutas, da saúde, dos ser-vidores federais, da juventude, na ba-se do processo de formação da Fren-te Ampla de Esquerda em Natal. Es-ses dirigentes participam ativamente da nossa campanha e nós somos mui-to bem recebidos nas Assembleias das categorias que estão em greve nesse momento, como no caso dos técnico--administrativos da UFRN, organiza-dos no Sintest, os servidores federais e a juventude no movimento da via costeira. Temos uma participação di-reta nessas lutas.

Como um socialista pode disputar as eleições municipais sem deixar de ser socialista ou fazer da defesa do socialismo um rótulo vazio? Quais são os principais eixos de propostas de sua candidatura?

PR: Eu me apresento publicamente como alguém que defende o socialis-mo, como fiz na entrevista ao princi-pal jornal do estado. É evidente que a implantação do socialismo não se fa-rá em um município apenas, mas po-demos adotar posturas que constru-am essa alternativa. Podemos mudar as prioridades do orçamento munici-pal em benefício da população mais pobre e dos trabalhadores.

Vamos dar um salto no investimen-to em educação dos atuais 18% do orçamento para 30%. Com isso, va-mos cumprir o piso nacional salarial dos professores, melhorar a merenda escolar e garantir educação em tem-po integral em boa parte das escolas municipais. Nós vamos desprivatizar a saúde que foi alvo de um grande es-quema de corrupção e fraude inves-tigados pela Polícia Federal. Vamos ainda criar uma empresa municipal de transporte público.

É claro que um governo nosso vai

provocar uma reação dos grandes em-presários. A FIERN, entidade empre-sarial do Rio Grande do Norte, recu-sou-se a nos chamar para o debate que organizaram entre os candidatos. Nós deixamos claro na campanha que não aceitamos financiamento privados de empresas e denunciamos os candida-tos que aceitam. Com socialistas as-sumindo governos municipais estarí-amos contribuindo para mudar a cor-relação de forças em favor dos traba-lhadores e das maiorias e assim criar condições para transformações mais profundas.

Qual a importância e a especifi-cidade de sua campanha para o de-bate que se trava no PSOL hoje so-bre política de alianças, programa e estratégia?

PR: O fato de termos consegui-do construir uma frente classista de forma democrática e pela base é um exemplo importante. Além do PSOL e do PSTU temos dirigentes e ativistas de movimentos e organizações impor-tantes dos trabalhadores participan-do da campanha. Infelizmente, ape-sar do nosso chamado, o PCB optou por não compor a Frente. Mesmo as-

sim, nossa candidatura é representati-va da esquerda de Natal e pode servir de exemplo nacional de que o PSOL não precisa e não deve querer alian-ças com partidos patronais.

Mas, ainda mais importante, é o fa-to de que ajudamos a educar milhares de pessoas, principalmente os jovens,

sobre o tipo de ação política que deve-mos fazer. Por isso também, nas por-tas das faculdades a reação à nossa campanha é excelente, com elogios à nossa postura nos debates, etc. Acho que podemos dar um exemplo para dentro e para fora do PSOL, diante de milhares de jovens e trabalhadores.

PROFESSOR ROBÉRIO 50 - PREFEITO NATAL

Um exemplo para a esquerda

AFONSO 50.123 - TABOÃO DA SERRAPor um vereador comprometido com a luta

Que a Câmara municipal de Ta-boão da Serra se tornou um balcão de negócios, não é novidade pra nin-guém. A compra de votos dos vere-adores pelos prefeitos em troca de secretarias e cargos livre-nomeados transformou a chamada “casa de leis” num espaço privilegiado para a cor-rupção e para Projetos de Leis con-tra a população.

Com campanhas eleitorais finan-ciadas com dinheiro de empreitei-ras, imobiliárias, grandes empresá-rios e grandes comerciantes do mu-nicípio, os futuros vereadores tor-

nam-se meros representantes empresariais, ao invés de re-presentar a po-pulação.

A candidatu-ra de Afonso é diferente de tu-do isso porque nasceu dos mo-

vimentos populares, não aceita di-nheiro de empresas e não faz alian-ças com os inimigos dos trabalhado-res e da juventude.

Afonso ajudou a construir a luta contra o aumento do IPTU, contra a corrupção, contra o aumento da pas-sagem, contra a destruição do meio ambiente pela especulação imobi-liária, contra o aumento do salário dos vereadores, em defesa do direi-to a moradia, contra a privatização da saúde e em defesa das professo-ras ADIs.

Votar em Afonso é a garantia de votar num representante incansável dos trabalhadores, da juventude, do funcionalismo público e da popula-ção mais pobre.

SÉRGIO 50.005 - João PessoaVote em quem luta junto com o povo pobre!

Na época das eleições aparecem candidatos sem propostas, só com musiquinhas e que nunca tiveram preocupação com os problemas que prejudicam a população pobre de João Pessoa.

Sérgio não é assim. Como vere-ador, Sérgio vai transformar o seu mandato em uma ferramenta dos mo-vimentos sociais e do povo organiza-do em luta. Só através da democracia direta e do poder do próprio povo é que se poderá melhorar João Pessoa.

Mais do que as eleições, que é um jogo de cartas mar-cadas pelas ri-cas candidatu-ras, nós cha-mamos os tra-balhadores pa-ra se organi-zar e lutar por

moradia, educação, saúde e todos os nossos direitos.

eleições 2012 • 7 Ofensiva Socialista n°11 agosto/setembro - 2012

Quem defende as bandeiras LGBTT’s?Recentemente foi divulgada a lista dos muitos LGBTT’s que estão participando do proces-so eleitoral deste ano. Infeliz-mente muitos desses candida-tos estão em partidos que nun-ca defenderam a diversidade sexual.

Matheus Pachecodo setorial LGBT da LSR e

militante do Construindo Igualdade Niterói (CIN)

Em alguns casos vemos essas pes-soas em partidos que são visivelmen-te contra os direitos dos sexodiver-sos. É o caso do PSC (Partido Social Cristão) que é contra reivindicações da população LGBTT, como o casa-mento civil igualitário, pois defende os “valores da família”. É também o caso do PCdoB que se apresentava como um partido a favor de tais di-reitos, mas nessas eleições tem aber-to mão de seu programa para conse-guir votos entre líderes evangélicos.

O PT, que já foi um partido de luta em prol dos direitos LGBTT’s, tem tido condutas muito conservadoras,

barganhando direitos sociais em prol do apoio da bancada evangélica. Is-so ocorreu com o veto ao kit anti--homofobia que combateria a into-lerância com os sexodiversos den-tro das escolas. O mesmo aconteceu com o veto ao comercial do minis-tério da saúde, que envolvia um ca-sal gay trocando afetos, o qual traria avanços para a população LGBTT.

Tais vetos da presidenta Dilma fo-ram claramente resultado da pressão da bancada evangélica. Essa mesma bancada se declarou contra a união estável para casais homoafetivos e contra a PLC 122 original que ga-rantiria a criminalização da homo-fobia. Declara-se também contra o casamento civil igualitário. Isso só mostra a qual a lado a presidenta Dil-ma pertence.

Defendemos a liberdade de expres-são religiosa e reivindicamos a pos-tura dos padres, pastores e religiosos que apoiam os direitos da população LGBTT. Respeitamos e lutamos tam-bém pela diversidade e a pluralida-de religiosa da sociedade. Mas não podemos confundir liberdade de ex-pressão com liberdade de opressão.

Vamos denunciar sempre que qual-quer segmento ou indivíduo fizer de-clarações e ações homofóbicas.

Candidato para trazer votos ou defender os

direitos LGBTT?Inúmeros candidatos LGBTT’s

espalhados pelo Brasil nos levam a pensar: será que esses candidatos vão defender a pauta LGBTT? Será que esses candidatos servem apenas como votos de legenda para eleger outros candidatos que não são bem vistos pela população LGBTT? E se defenderem os interesses dos sexo-diversos, vão se preocupar com os mais pobres, os que mais sofrem a opressão e exploração?

No Brasil já tivemos lições que respondem a essas perguntas, co-mo no caso do ex-deputado Clodo-vil Hernandes que foi o 3º deputado mais votado no estado de São Pau-lo, assim arrecadando muitos votos de legendas para seu partido, o PTC (Partido Trabalhista Cristão). Clo-dovil nunca reivindicou os direitos da população LGBTT’s, muito pelo

contrário, sempre se posicionou con-tra a parada gay, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o movi-mento LGBTT brasileiro.

No polo oposto vemos a senado-ra Marinor Brito, do PSOL do Be-lém do Pará, que sempre se mostrou a favor da diversidade sexual, defen-deu a PLC 122/06 no Senado, mesmo sendo heterossexual e casada com um homem. Isso só nos mostra que existem candidatos que mesmo não sendo LGBTT’s são a favor da diver-sidade sexual, e também que nem to-do candidato LGBTT vai reivindicar as pautas desse segmento. Ainda que ele (a) reivindique essas pautas pode acabar sendo apenas uma candidatu-ra que sirva para dar mais votos pa-ra uma legenda partidária controlada por políticos homofóbicos.

Acreditamos no papel que um ve-reador (a) pode ter como porta voz da população e dos movimentos po-pulares, denunciando os privilégios, esquemas de corrupção e as contra-dições de classe.

Mas sabemos que um mandato por si só não resolve os problemas dos (as) trabalhadores (as). É necessá-

rio uma pressão popular sobre o po-der legislativo e executivo. É preci-so uma organização da população LGBTT para a conquista das suas reivindicações.

Principalmente dos LGBTT’s po-bres, pois estes sofrem mais com os salários precarizados e com o pre-conceito social. Como, por exem-plo, a falta de dinheiro pra pagar mo-tel, que os obriga a trocar seus afe-tos na rua, podendo sofrer ataques homofóbicos.

Nós defendemos candidaturas de luta de partidos da Frente de Esquerda (PSOL, PSTU e PCB), que são com-prometidos com os interesses dos tra-balhadores (as)! Por isso é de extrema importância conhecer o candidato e o seu partido. Mas, todas as formas de opressão são intrínsecas à estrutura do capitalismo. Desta forma, todas as melhorias e reformas sociais feitas no capitalismo não serão suficientes para extinguir a opressão e garantir igual-dade para todos e todas. Defender a igualdade, liberdade sexual e a garan-tia de direitos passa pela luta contra o capitalismo, pelo socialismo!

Por que acha importante o PSOL disputar as eleições?

PAULO EDUARDO GOMES: Sa-bemos de todas as limitações da de-mocracia representativa. Sabemos, en-tretanto, que no imaginário da massa de nossos aliados de classe o mandato parlamentar tem grande valor. Deve-mos ocupar estes espaços para colocá--lo a serviço das lutas da classe, atuan-do pedagogicamente para a denúncia de suas próprias limitações e desvios.

O programa socialista do PSOL tem muita aceitação no Rio de Ja-neiro entre a juventude. Em Niterói, com a experiência do PSOL nas ru-as, nas lutas da classe trabalhadora,

isso tem influenciado a consciência dos eleitores?

PEG: Observamos que gradativa-mente voltamos a ocupar espaços que há 30 anos atrás pertenciam ao PT. A degeneração do PT aumentou em muito a descrença popular. Por ou-tro lado, as lutas e contradições que vivemos hoje têm desviado para o PSOL as expectativas de resistência, em especial relacionadas às lutas por manutenção e ampliação de direitos.

Quais são as disputas de interes-ses políticos em jogo na cidade?

PEG: Para nós do PSOL a disputa é clara! Queremos a cidade que valori-ze a vida dos que aqui vivem e traba-

lham, em contraposição radical àque-les que vêem a cidade como espaço de enriquecimento através de seus negócios, sejam aqueles ligados à es-peculação imobiliária, sejam aqueles que afetam dramaticamente a mobi-lidade urbana em Niterói.

Quais são os maiores desafios pa-ra um mandado popular e participa-tivo no qual você e o PSOL de Ni-terói pretende defender na câmara dos vereadores da cidade?

PEG: Compor uma bancada arti-culada que estimule, pela sua com-bativa atuação, a crescente partici-pação da cidadania, em especial os trabalhadores, nos assuntos que lhe

dizem diretamente respeito; saúde, educação, habitação popular e re-gularização fundiária. Na luta em defesa do meio ambiente urbano se travam em Niterói as principais lu-tas contra a especulação imobiliária.

Por fim, quais são as principais propostas para sua candidatura à vereador de Niterói?

PEG: Muito trabalho e dedicação para fortalecer a atuação do compa-nheiro Renatinho, atualmente nos-so único representante na Câmara, e de nossa bancada, reconhecidos que somos como a única força po-lítica conscientemente crítica, in-dependente e fiscalizadora dos atos

dos Prefeitos de Niterói nos últi-mos 20 anos.

PROFESSOR ANSElmO 50.001 - SÃO SEBASTIÃOSão Sebastião para o povo e não para as elites!

São Sebastião é uma cidade do Litoral Norte de São Paulo com aproximadamen-te 180 mil habi-tantes e uma economia que gira em torno do porto, da Petrobrás e também do turismo, onde predomina o trabalho informal e precarizado. A especulação imobiliária avança sobre o meio am-biente provocando devastação e ame-aças sobre comunidades indígenas re-manescentes. Falta saneamento bási-co, a privatização da saúde levou a es-cândalos de corrupção e foi revertida, mas os serviços públicos continuam péssimos. A cidade permanece con-trolada por um punhado de poderosos que mandam e desmandam.

A candidatura do professor Ansel-mo a vereador pelo PSOL represen-ta uma trincheira de luta contra toda essa situação. Com uma campanha organizada nas comunidades locais e defendendo uma alternativa para o povo pobre e trabalhador, preten-de fortalecer as bases para a organi-zação do movimento popular e ofe-recer uma alternativa de esquerda e socialista na cidade.

JOAquIm BOcA 50.050 - JAcAREíNa luta ontem, hoje e sempre

Joaquim Aris-teu, o Boca, tra-balhou na Am-Bev por mais de duas décadas en-frentando os pa-trões em defesa dos direitos dos trabalhadores.

Foi presidente do Sindicato dos tra-balhadores das indústrias de alimen-tação de São José dos Campos, Jaca-reí e região e militante incansável de todas as lutas operárias e populares nas últimas 3 décadas. É membro da Executiva estadual da CSP-Conlu-tas e dirigente do PSOL em Jacareí.

Nas eleições municipais de Jacareí, a candidatura de Joaquim Boca se co-loca como oposição às forças políti-cas dominantes no município – tudo farinha do mesmo saco! O PSOL nas-ceu para ser uma alternativa contra os candidatos dos empreiteiros, donos de empresas de ônibus, etc.

O mandato operário e popular de Joaquim Boca servirá como instru-mento de luta dos trabalhadores em defesa dos serviços públicos de saú-de, educação, creches, saneamento básico e transporte. Será um manda-to contra a privatização e a terceiri-zação, pela valorização do funciona-lismo municipal e pela participação popular direta e efetiva na definição do orçamento do município.

PROFESSOR DImITRI 50.200 - SÃO PAulOÉ de luta, é da educação e é so-cialista!

Dimitri Sil-veira é profes-sor da rede mu-nicipal de ensi-no e iniciou sua militância pelo socialismo há doze anos. Foi um dos funda-dores do Mo-vimento dos Sem-Educação organizando a luta pelo fim do vestibular, esteve presen-te na greve dos estudantes da USP em 2002, na greve da rede estadual de educação em 2010 contra o governo Serra, na campanha pelo investimen-to de 10% do PIB em educação pú-blica já, na histórica greve dos pro-fissionais de educação do município de São Paulo ocorrida este ano e é um dos participantes do recém cria-do Movimento por Democracia e In-dependência no Sinpeem.

Como vereador socialista, Dimitri Silveira continuará recebendo salário de professor e colocará seu mandato a serviço das lutas em defesa da edu-cação e dos movimentos sociais. Es-sa candidatura expressa a necessida-de de derrotar as políticas de sucate-amento e de privatização da Educa-ção municipal em São Paulo.

RAquEl GuzzO 50.150 - cAmPINAS

Raquel Gu-zzo é professo-ra e psicóloga, uma das funda-doras do PSOL em Campinas. Participou das Comunidades Eclesiais de Base e da Ju-ventude Estu-dantil Católica. Foi professora do En-sino Fundamental, Médio e hoje é pro-fessora da PUC de Campinas. Estuda e atua na área dos direitos de crianças e adolescentes e os desafios enfrenta-dos por profissionais da rede munici-pal de educação e assistência social.

Sua campanha tem como objetivo discutir com os trabalhadores e tra-balhadoras qual o projeto de educa-ção e assistência que queremos e ne-cessitamos. Estas questões são deba-tidas num marco de grande crise po-litica na cidade de Campinas com a cassação do antigo prefeito do PDT, Dr. Hélio, e o afastamento de seu vi-ce, Demétrio Vilagra do PT.

Raquel Guzzo é parte de um pro-jeto coletivo que, através das lutas, indica o caminho para nossas con-quistas. A campanha de Raquel Gu-zzo reforça a importância de termos mulheres socialistas, lutadoras e fe-ministas, na construção de alternati-vas de poder para uma maioria opri-mida e explorada.

PROFESSOR JONAThAN 50.123 - RIO DAS OSTRASEste você vê na luta!

O Professor Jonathan Men-donça é um mi-litante capaz de representar um projeto políti-co de esquer-da, socialista e de luta, elaborado coletivamente na cidade de Rio das Ostras-RJ. Profes-sor do munícipio, estudante do cur-so de Letras, ele se apresenta como parte de uma alternativa numa cidade aonde a maioria da juventude e dos (as) trabalhadores (as) são excluídos.

Rio das Ostras é a terceira cidade mais contemplada pela arrecadação de Royalties provenientes da extra-ção de Petróleo da Bacia de Campos. Segundo o IBGE, em 2002 foi a sex-ta cidade em renda per capta do pa-ís. Mas, apenas um punhado se apro-veita disso.

Como candidatura do Núcleo do PSOL-Serramar, visa, sobretudo fa-zer avançar a consciência de que só é possível mudar a nossa condição com luta. E que, acima de tudo, é necessário sonhar! Com uma cidade melhor, com um país melhor, e (por que não?) com um mundo melhor, um mundo socialista!

PAULO EDUARDO GOMES 50.001 - VEREADOR NITERÓI

8 • olimpíadas Ofensiva Socialista n°11 agosto/setembro - 2012

Diversos funcionários do Comi-tê Organizador dos Jogos Olím-picos e Paraolímpicos Rio2016 acompanharam de perto as Olimpíadas de Londres, com o intuito de aprender e tirar li-ções para a realização das Olimpíadas 2016 no Rio de Ja-neiro. Mas tais conclusões são baseadas na lógica que bene-ficia as grandes corporações e multinacionais e não a popula-ção local.

Mariana CristinaLSR Rio de Janeiro

O que nós trabalhadores vimos em Londres foi: a existência de uma cas-ta burocrata favorecida por privilé-gios explícitos; a privatização de es-paços públicos; desvios de investi-mentos que iriam para as áreas so-ciais; verba pública indo para empre-sas privadas; gastos muito maiores que os previstos e corrupção, dentre outras irregularidades. Será isso que o Brasil foi aprender em Londres?

O Comitê Olímpico Internacio-nal- COI funciona como uma gran-de empresa comercial, a serviço dos burocratas do esporte e das corpora-ções donas das marcas que patroci-nam a Olimpíada. Todo o proces-so de elaboração e construção deste evento esportivo visa o lucro dessas grandes marcas e multinacionais. O COI decide qual a cidade irá sediar a Olimpíada, quais meios de comu-nicação vão transmiti-la e quem se-rão os patrocinadores.

Quem paga o músico escolhe a melodia

As grandes marcas que patroci-nam este evento esportivo pagaram 60 milhões de libras, em um contra-to de 10 anos. Como “quem paga o músico escolhe a melodia”, tais cor-porações possuem poder de decisão e monopólio de vendas. Da mesma forma, as empresas que transmitem este evento possuem absoluta exclu-sividade, ao ponto de proibirem tu-

ristas de registrarem os jogos, para não postarem no Youtube.

Os privilégios não param por aí, foram criados 50 quilômetros de vias exclusivas para a Família Olímpica (burocratas do esporte, mídia, exe-cutivos e atletas), enquanto os bri-tânicos sofrem com quilômetros de trânsito. A falta de transparência e o controle absoluto do COI potenciali-zam os privilégios, como o mercado paralelo de ingressos. O The Guar-dian relatou que, dos 80 mil assen-tos disponíveis para o final dos 100 metros rasos masculinos, apenas 29 mil (36%) foram para o público, os demais são distribuídos de acordo com os interesses desta casta.

O pior desta história é que a far-ra de privilégios e lucros é garantida com o dinheiro público, que poderia ser investido em melhorias reais pa-ra a população. O orçamento inicial previsto para os jogos de Londres era 2,4 bilhões de libras (3,8 bilhões de dólares) e foi para 9,3 bilhões de li-bras (14,6 bilhões de dólares). Este valor já aumentou e pode chegar até a 11 bilhões de libras. O Comitê de Contas Públicas da Câmara dos Co-muns admitiu que menos de 2% do orçamento das Olimpíadas veio do financiamento privado, diferente do que imaginavam de início.

Aumentos desproporcionais no or-çamento de mega-eventos esportivos tem se tornado a regra e não mais a exceção, como vimos nas Olimpía-das da Grécia, nos jogos Panameri-canos que ocorreram no Brasil em 2007, etc. A falta de transparência nas contas e orçamentos nos permi-tem acreditar que existe “caixa dois” nesses eventos, esquemas de corrup-ção e desvio de dinheiro. Isso sem fa-lar na criação de “enormes elefantes brancos”, monumentos que não ser-vem para nada, somente para gerar mais lucro para as construtoras que os produzem.

O maior gasto foi com segurança

O maior gasto da Olimpíada de Londres foi com segurança públi-ca, que passou de 282 milhões de li-bras (902 milhões de reais) para 553 milhões de libras (1,7 bilhões de re-ais). Esta é a maior operação de se-gurança do Reino Unido, desde a 2ª Guerra Mundial. Usando o pretex-to do auto risco de ações terroristas, Londres aumentou seu aparato de coerção e repressão, se precavendo de lutas sociais e manifestações po-pulares. Esta lógica que trata os luta-dores como criminosos, a criminali-zação dos movimentos sociais, vem se repetindo na história sempre que as contradições do capitalismo estão emergentes e é necessário conter as explosões populares.

Infelizmente no Brasil não tem si-do diferente, vivemos no último pe-ríodo um aumento nas lutas popula-

res e sindicais. Junto com isso tam-bém cresceram medidas que impe-dem a organização popular, como a multa de cem mil reais por dia pa-ra a greve dos metroviários de São Paulo, que seguiu uma onda de gre-ves nos transportes, foram sete capi-tais. Além disso, temos o assassina-to de vários dirigentes populares no campo, mas também na cidade, co-mo os pescadores que foram assas-sinados no município do Rio no pri-meiro semestre deste ano.

A política de segurança pública que tem sido adotada no Brasil cri-minaliza a pobreza, reduzindo jo-vens pobres e negros a bandidos em potencial. Isso ocorre principalmente com o modelo que está sendo gesta-do no estado do Rio de Janeiro, ba-seado nas UPP, que será implemen-tado em outros estados. Desta for-ma, vemos que o crescente contro-le policial é a meta dos governantes de nosso pais.

Nesse sentido, não foi sem inten-ção que em 2011 o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes criou a Em-presa Olímpica Municipal que será responsável por coordenar a execu-ção dos projetos municipais volta-dos para 2016, semelhantes aos de Londres. Este visa utilizar o CPTED (prevenção ao Crime através do De-senho Ambiental), técnica criada em Londres que aponta para um maior controle sobre os ambientes urbanos. O governo brasileiro se comprome-teu a contratar mais 31 mil policiais até as Olimpíadas, número que de-ve aumentar ainda mais.

O poder privado

A empresa de segurança privada G4S treinou 23.700 pessoas para atuarem nas Olimpíadas deste ano. Tais medidas abrem um enorme es-paço para a privatização da seguran-ça pública, o que diminui ainda mais a possibilidade de controle da popu-lação sobre a guarda. Como vemos, a classe dominante está “se arman-do” para impedir o fortalecimento

das lutas sociais, o que já vem ocor-rendo no Brasil.

As privatizações não param por aí. O parque Olímpico, responsável pe-lo aumento exorbitante no orçamen-to inicial de gastos do governo, será administrado por uma empresa pri-vada. A mesma empresa que fez este projeto para as Olimpíadas em Lon-dres, a Aecom, fará o Parque Olím-pico da Rio 2016. Como vemos, as lições que o Brasil está tirando de Londres é a criminalização dos mo-vimentos sociais e dos pobres, a pri-vatização e o aumento do lucro das corporações!

Ganho público menor do que o esperado

Fica claro que somente quem ga-nhou com essa Olimpíada de 2012 foi a corja ligada ao COI. O rendi-mento normal que Londres adqui-riu com a vinda de turistas para co-nhecer a cidade caiu durante a Olim-píada, foram somente 1/3 do fluxo de pessoas esperado para esta época do ano. A previsão era de aumentar as vendas em 20% em função deste evento, ao invés disso ela diminuiu 10%. Mais de 800 mil turistas britâ-nicos visitam Londres no verão, nú-mero que caiu pela metade.

Um elemento que justifica esta queda no fluxo de turistas é a cres-cente crise econômica. Segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, a economia britânica caiu 0,7% en-tre abril e junho. É o terceiro trimes-tre consecutivo de Produto Interno Bruto negativo, e a segunda reces-são em três anos.

Os efeitos da crise econômica se mostraram presentes em Londres e deve ser considerado na Rio 2016. A tentativa de usar as Olimpíadas co-mo forma de alavancar a economia pode ser um tiro que sairá pela cula-tra. Em momentos de instabilidade e insegurança econômica as corpora-ções diminuem seus investimentos, o que força o governo a usar dinheiro público para investimentos que em

nada beneficiam o povo, como vi-mos em Londres. Também, a popu-lação tende a gastar menos. Exemplo explícito desta combinação perigosa que contribuiu para o déficit público e a crise social que assistimos hoje.

A desculpa para toda esta farsa é o incentivo ao esporte. Sim, uma farsa, pois diminuíram o número de pes-soas que praticam esportes em Lon-dres. Vale lembrar que a participa-ção da população no esporte caiu em mais de 100 mil na faixa etária entre 16 e 19 anos. A verba para o incentivo da prática de esportes pa-ra pessoas portadoras de necessida-des especiais foi reduzida. As mar-cas patrocinadoras deste evento nada têm a ver com a prática saudável de esportes, como Mc Donalds e a Co-ca Cola, cujos produtos são sabida-mente prejudiciais à saúde. Por fim, assistimos as transmissões da mídia, muitas vezes de forma sensaciona-lista e apelativa, usando da imagem/beleza física das atletas para “ven-der” as notícias, tratando as mulhe-res como objetos e desqualificando seu potencial como atleta.

Capital do mundo... para o capital privado

Infelizmente, já estamos assistin-do este “filme” no Brasil. Com a des-culpa de preparar a cidade do Rio de Janeiro para os mega-eventos espor-tivos, a cidade está sendo replaneja-da. A cidade-sede é pensada como a capital do mundo, o que justifica intervenções urbanas brutais para a população, que vão ao encontro dos interesses de políticos e das cons-trutoras, como a valorização do va-lor dos imóveis e a transformação ou demolição de patrimônios histó-ricos, culturais. O orçamento inicial para as Olimpíadas Rio 2016 prevê gastos de R$ 25,9 bilhões. Somen-te com a reforma do Maracanã, pa-ra se adaptar aos “padrões” exigidos pelos mega-eventos, foi gasto 1 bi-lhão de reais.

Enquanto isso milhares de famílias já foram desalojadas de suas casas, comunidades inteiras foram removi-das e desintegradas, sem terem um lugar adequado para serem realoja-das pelo governo. Desta forma, es-sas pessoas não perderam apenas su-as casas, mas empregos, e até mesmo suas identidades culturais por terem que migrar para outras regiões muito diferentes de seus locais de origem.

Devemos aprender com as lições de Londres para exigirmos dos nos-sos governantes as melhorias re-ais voltadas para os trabalhadores e trabalhadoras, diferente do que as-sistimos nas Olimpíadas deste ano. Quando a poeira abaixa, podemos ver o final do túnel! Se sabemos pa-ra quem a COI e os governos locais estão trabalhando, não vamos espe-rar a história se repetir, pois a histó-ria é feita por nós!

Privatizações, privilégios, criminalização dos movimentos sociais, desperdício de dinheiro público

Quais são as lições das Olimpíadas de Londres para o Rio 2016?

Protesto na Índia contra a Dow Chemicals, patricionadora das Olimpíadas e responsável pela catastrofe ambiental em Bhopal 1984.

“Mantenha o capitalismo fora do esporte”.

nacional • 9 Ofensiva Socialista n°11 agosto/setembro - 2012

No início de agosto, sete anos depois do caso ter vindo a to-na, foi iniciado o julgamento dos envolvidos no escândalo do Mensalão pelo Supremo Tri-bunal Federal (STF). O Mensa-lão foi um dos maiores esque-mas de lavagem de dinheiro, compra de apoio politico e uti-lização de dinheiro público pa-ra fins privados que já foi publi-cizado na história deste pais. Trinta e oito envolvidos es-tão sendo julgados pelo STF. Na cabeça do esquema estão aqueles que foram os dirigen-tes máximos do PT e que ainda possuem espaço central dentro do partido.

Jane Barros

Em 2005, o deputado federal Ro-berto Jéferson, presidente nacional do PTB, denunciou na CPI dos Cor-reios o fato de parlamentares do PT e de outros partidos, juntamente com empresários, publicitários e assesso-res, terem criado um super esquema de pagamento a parlamentares para garantir a governabilidade do man-dado do então presidente Lula. A intenção inicial da denuncia era ti-rar o foco do PTB, também envol-vido, mas o que ocorreu é que a coisa tomou proporções inespera-das por eles.

Um canal de repasse de dinhei-ro, conhecido como “valerioduto” por conta do papel do publicitário Marcos Valério, foi criado para pa-gar os parlamentares. Tudo isso du-rante o governo do presidente mais bem votado em toda história e em quem os trabalhadores depositaram suas esperanças de mudança e trans-formação.

José Dirceu (ex-ministro da ca-sa civil), José Genoíno (ex-deputa-do federal e ex-presidente do PT), Sílvio Pereira (ex-secretário-geral do PT) e Delúbio Soares (tesourei-ro da campanha do Lula em 2002 e ex-tesoureiro do PT) são os mento-res de todo o processo, o que o pro-curador geral da República, Rober-to Gurgel chama de núcleo político. Ainda segundo a procuradoria, exis-te um núcleo operacional, com Mar-cos Valério, um núcleo financeiro e outros que envolvem os partidos da base governista que receberam e fa-cilitaram a transação financeira em troca de apoio.

Um esquemão organizado para pe-gar empréstimos em bancos públicos (como o Banco do Brasil), mas tam-bém em outros como BMG e Ban-

co Rural, lavar o mesmo em agên-cias publicitarias e repassar para os partidos e seus respectivos líderes. Há provas e cruzamentos feitos na CPI dos correios entre os repasses financeiros e as votações importan-tes, em que o PT ganhou com o apoio dos partidos envolvidos no esquema.

O Julgamento e seus “julgadores”

Dos onze juristas responsáveis pe-la sentença, seis foram indicados pe-lo ex-presidente Lula e dois pela atu-al presidente Dilma. Este cenário é no mínimo pouco favorável, do pon-to de vista político, para uma possí-vel condenação mais rigorosa.

No entanto, o julgamento esta to-mando uma proporção maior do que os petistas e governistas esperavam. A mídia e a oposição de direita, PS-DB e aliados, estão explorando ao máximo esta questão e usarão estas denúncias no programa eleitoral. A pressão popular, mesmo que não tão ativa, poderá força-los a não jogar simplesmente a sujeira para debai-xo do tapete e encontrarem alguma punição, mesmos que flexível, para os culpados.

Durante este últimos sete anos, eleições gerais e municipais ocorre-

ram e pouco foi o impacto deste de-bate no conjunto da sociedade e elei-torado. Lula foi blindado e afastado do processo, mesmo sendo muito evidente a sua relação e alinhamen-to com toda esta politica.

O carisma e a história de Lula, jun-tamente com uma conjuntura econô-mica favorável para o Brasil, garan-tiram a vitória do “lulismo” nestes processos eleitorais, chegando até a eleição da Dilma.

O que ocorre é que não se tem mais Lula no governo, assim como a conjuntura econômica não se mos-tra mais tão favorável. O agravamen-to da crise econômica internacional, a politica frágil de incentivo ao cré-dito e a queda da previsão do PIB, definem um novo cenário.

Estratégia da defesa e a pseudo

neutralidade jurídica

A estratégia utilizada pela defesa, e pelo alto escalão do PT, foi a de co-locar toda a culpa em cima do Delú-bio Soares, e assumir que de fato fi-zeram um caixa 2 na campanha, um dinheiro não declarado, considerado crime eleitoral. Este crime ficaria fo-ra da responsabilidade do STF, de-vendo ser julgado em outra instân-cia, absolvendo-o, e a todos os ou-tros, das acusações da promotoria. Trata-se de um golpe!

No que se refere aos lideres políti-cos do esquemão, Dirceu e Genoíno, a defesa argumenta que não há pro-vas cabais contra os mesmos, e pe-dem sua absolvição. O debate entre os advogados “especialistas” é que é necessário fazer um julgamento técnico, baseado em provas mate-riais irrefutáveis, de modo a descar-tar elementos políticos do processo.

Ora, o argumento colocado pelos advogados burgueses é que a neu-tralidade jurídica deve ser mantida. A grande questão é que não é pos-sível falar em neutralidade politi-

ca num cenário onde as principais figuras envolvidas para articular a vitória do Lula, são representantes políticos e homens de partido. As-sim como não podemos ignorar o fato de que oito dos dozes juristas que darão seu veredicto são indi-cados pelo governo, incluindo Jo-sé Antônio Dias Tóffoli que foi ad-vogado do PT.

O velho camarada Marx, já apon-tava que o Estado capitalista é a “ca-marilha” da burguesia, seu escritó-rio, onde se trabalha para manter a acumulação de capital e os privilé-gios de uma minoria, sendo o direi-to seu braço jurídico. Este possui co-mo objetivo central, manter a pro-priedade privada dos meios de pro-dução e seus possuidores. Neste sen-tido, fica ridículo falar em neutrali-dade, ou ainda, em argumentos pu-ramente técnicos, isentos de lados e posicionamentos políticos. E o STF é a expressão máxima disso.

Foi este mesmo STF que absolveu Fernando Collor por falta de provas. Ou seja, depois do impeachment, da votação e posicionamento de todos os parlamentares e do conjunto da sociedade o órgão máximo da justi-ça burguesa democrática o conside-rou inocente das acusações!

Tem mensalão para todos os gostos: PT e PSDB

Alguns chamam o julgamento do mensalão como sendo o julgamen-to do PT. De fato, neste mensalão é o PT que esta no centro do fura-cão. No entanto é importante lem-brar que existe o mensalão do PSDB, onde o ex-governador de Minas Ge-rais, Eduardo Azeredo (PSDB) esta no centro das acusações juntamen-te com Marcos Valério, que aparece de novo como um dos articuladores.

Isso mostra que não existem dife-renças substanciais entre PT e PSDB dentro do jogo político burguês, que lava dinheiro, compra apoio e rouba

os cofres públicos. É evidente que se trata do mesmo projeto de socie-dade, onde tudo vale para manter o controle da maquina burocrática e o poder da classe dominante em vigor.

Enquanto isso, mais cortes de ver-bas nos serviços públicos, achata-mento dos salários dos servidores, sucateamento dos serviços básicos como transporte, saúde e educação.

Não tem saída fácil para o STF e a

democracia burguesa

O que de fato sabemos é que o STF não fará justiça neste julgamento.

A justiça de fato seria condenar to-dos os envolvidos no caso do Men-salão estendendo prerrogativas para os outros julgamentos, como no caso do mensalão do PSDB. Além de tu-do, iriam expor os limites e a fragi-lidade da democracia burguesa, po-tencializando o questionamento e a crítica de trabalhadores e do conjun-to da sociedade ao sistema democrá-tico burguês. Isso não é de interesse do PT e tampouco do PSDB.

A questão central é saber qual a ca-pacidade que o PT ainda tem de blin-dar os seus erros e métodos corrup-tos, e a força do PSDB em enfren-tar o hegemonismo lulista. O próprio fato do PT não ter conseguido jogar o julgamento para o período pós--eleição, evidencia que não é abso-luto no STF, apesar de ser hegemô-nico. E neste sentido o julgamento do mensalão, diante da impossibili-dade no contexto da democracia bur-guesa de um julgamento real, pode expor a verdadeira cara do governo Dilma, assim como de todo o siste-ma democrático burguês.

Pra nós socialistas esta é a oportu-nidade de constatar o quanto o sis-tema capitalista se utiliza da corrup-ção para manter o jogo democrático. O fim da corrupção pura e simples-mente não atinge o cerne da questão que é a existência de uma sociedade injusta, desigual onde nós trabalha-dores somos explorados como con-dição de existência da sociedade. No entanto, denunciá-la é também nos-sa tarefa, pois as brechas e as falhas do sistema ficam ainda mais expos-tas mostrando até onde estes parti-dos que não defendem os interes-ses dos trabalhadores tem coragem de ir, para que o seu poder não seja questionado.

Por isso nós da LSR, defendemos que todos sejam condenados, im-pedidos de retornar a vida pública e politica e que seus bens obtidos através da corrupção sejam confis-cados! Que nenhum mensalão fique impune! Seja o mensalão do PT e do PSDB!

Que o fim da corrupção seja o mo-te para defendermos o fim deste sis-tema político da burguesia que im-possibilita que a justiça seja feita de fato! Que os poderosos paguem pe-los seus crimes!

Para nós a única possiblidade de justiça só será possível com a des-truição da sociedade capitalista e a real construção de uma alternativa para os trabalhadores (as) e juventu-de, onde o socialismo não seja ape-nas uma utopia mas uma alternati-va real, concreta e verdadeiramen-te justa!

O julgamento do Mensalão no STF: tudo menos justiça

Uma punição para valer dos envolvidos no mensalão não virá deste tribunal.

O publicitário Marcos Valério fazia parte do núcleo operacional do mensalão, segundo a procuradoria.

10 • internacional Ofensiva Socialista n°11 agosto/setembro - 2012

... e lutas que se espalham pelo mundo

PIB 2008-20110 %

1,2 1,0 -0,7 -2,3 -4,2 -4,4 -5,0 -5,2 -11,8 -15,9EUA

ALEMANHA

FRANÇA

JAPÃO

ESPANHA

GRÃ BRETANHA

ITÁLIA

PORTUGAL

IRLANDA

GRÉCIA

Enquanto poucos países conseguiram recuperar as perdas da primeira onda da crise, vemos uma nova queda do PIB na maior parte dos países da Zona do Euro e a desaceleração nos EUA, China e Índia.GRÉCIA

GRÉCIAdesaceleração nos EUA, China e Índia.

China: a próxima bolha...Para evitar uma crise mais profunda em 2008 o

governo lançou um enorme pacote de estímulo

e liberou o crédito. O aumento de crédito 2009-

2010 foi equivalente a 60% do PIB e boa parte

disso foi para o setor imobiliário, inflando uma

nova enorme bolha. China tem agora 64 milhões

de imóveis vazios.

Enquanto poucos países Enquanto poucos países conseguiram recuperar as conseguiram recuperar as perdas da primeira onda perdas da primeira onda da crise, vemos uma nova queda do PIB na da crise, vemos uma nova queda do PIB na maior parte dos países da Zona do Euro e a maior parte dos países da Zona do Euro e a desaceleração nos EUA, China e Índia.desaceleração nos EUA, China e Índia.

maior parte dos países da Zona do Euro e a desaceleração nos EUA, China e Índia.

maior parte dos países da Zona do Euro e a maior parte dos países da Zona do Euro e a desaceleração nos EUA, China e Índia.

maior parte dos países da Zona do Euro e a

Desempregobate recorde na

Zona do Euro

jan 2008jan 2008 jun 2012jun 2012

7,3%11,2%

totaltotal jovens(<25 anos)jovens

24,8%

52,7%ESPANHA

totaltotal jovens(<25 anos)jovens

23,1%

54,9%GRÉCIA

bate recorde na

24,8%24,8%

A bolha que estourou...

O detonador da atual crise foi

o estouro da bolha imobiliária

nos EUA. Os índices de preços

de casas ainda estão longe de

se recuperar.

O detonador da atual crise foi

o estouro da bolha imobiliária

nos EUA. Os índices de preços

de casas ainda estão longe de

se recuperar.

19882012

20062009

20031997

20001994

1991

Essa foi a última

crise imobiliária

antes da atual...

CHILE25 DE ABRIL80 mil estudantes

protestam em Santiago na

retomada de luta por educação

pública e gratuita.

EGITONúmero de membros de

sindicatos independentes salta de 50 mil para 2,5

milhões desde a revolta que derrubou o ditador Mubarak.

TUNÍSIANovo governo mantém estado de sítio e repressão contra os movimentos. Várias greves gerais em nível municipal.

SÍRIA20 mil morreram até agora na revolta contra Assad, que cada vez mais toma a forma de guerra civil.

BÉLGICA30 DE JANEIRO

Greve geral contra

orçamento de austeridade.

... e lutas que se espalham pelo mundo... e lutas que se espalham pelo mundo... e lutas que se espalham pelo mundo

ÁFRICA DO SUL07 DE MARÇOGreve geral contra

terceirizações e precarização

do trabalho

ESPANHA29 DE MARÇO

Segunda grevel geral desde o começo da crise.

PORTUGAL22 DE MARÇO

A terceira greve geral

desde o começo da crise.

QUEBEC (CANADÁ)

FEVEREITO ATÉ AGORA

Centenas de milhares de estudantes universitários

em greve contra o aumento das mensalidades.

ÍNDIA28 DE FEVEREIRO

Greve geral com 100

milhões de participantes

contra desemprego,

aumento dos preços e

corrupção.

... e lutas que se espalham pelo mundo... e lutas que se espalham pelo mundo... e lutas que se espalham pelo mundo... e lutas que se espalham pelo mundo... e lutas que se espalham pelo mundo... e lutas que se espalham pelo mundo

GRÉCIA07 E 10-11 DE FEVEREIRO

3 dias de greve geral em uma semana contra novo pacote de austeridade.

A partido de esquerda Syriza, se torna o foco da resistência contra os ataques aso trabalhadores e avança nas eleições.

2009

4,6%

maio2012

junho2012

16,8%

26,9%

2012: ano de aprofundamento da crise...

internacional • 11 Ofensiva Socialista n°11 agosto/setembro - 2012

Escola de Verão do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores:

A crise do capitalismo e o avanço das lutas no mundoEntre os dias 8 a 13 de julho, aconteceu na Bélgica a Esco-la de Verão Europeia do Comi-tê Por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT). Estiveram presentes militantes de 32 pa-íses, dentre eles Reino Unido, Irlanda, França, Bélgica, Es-panha, Portugal, Grécia, Itá-lia, Alemanha, Áustria, Suécia, Rússia, Cazaquistão, Israel/Palestina, Sri Lanka, Tunísia, Hong Kong, Taiwan, Malásia, Austrália, Nova Zelândia, Nigé-ria, Estados Unidos, Canadá e outros. Nós da seção brasileira do CIT também estivemos lá.

Isabel Keppler

Dos países do G7 (EUA, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itá-lia e Japão), apenas três estão produ-zindo mais do que eles fizeram antes de 2007. O déficit público referente ao PIB aumentou de -2,1% (1999-2008) a -8,1% (2009). Ao mesmo tempo, estima-se que as empresas americanas e europeias tem quase 5 trilhões guardados no banco, pois não tem onde investir de forma que tenha lucro. Compreende-se que esta é uma crise profunda e não só mais uma crise cíclica do capital.

Ao que tudo indica, não há uma potência mundial que possa resol-ver esse problema econômico. Itália e Espanha tem uma dívida de 2,8 tri-lhões de euro. Esse valor é seis ve-zes maior que a reserva existente no Mecanismo Europeu de Estabilida-de (MEE), política criada para “sal-var” as economias em problemas. Está certo de que o euro irá entrar em colapso, a questão é quando e como.

O desemprego é massivo no mun-do inteiro. Estima-se 200 milhões de desempregados. No Reino Unido ti-veram cortes em massa no setor pú-blico, três anos de congelamento sa-larial e 85% dos cortes ainda estão por vir! O primeiro ministro de Por-tugal está aconselhando seriamente os jovens a emigrar para Moçambi-que ou Angola se querem empregos, alegando que “Portugal não é um pa-ís para jovens”.

A economia Chinesa está mostran-do sinais de desaceleração. Diante desses e outros dados, comprova-se que essa crise é muito mais do que uma crise cíclica ou uma crise eco-nômica do capital.

A crise política da burguesia

Um elemento importante trazido em debate na Escola é que essa é uma crise econômica e política – e uma crise das instituições burguesas como um todo. Ou seja, não se tra-ta apenas do sistema político, mas também da Igreja Católica, dos sin-dicatos patronais e outras institui-ções que revelam cada vez mais os esquemas de corrupção e as divi-sões internas.

O escândalo de corrupção que en-volve Bo Xilai, do Partido Comunis-ta da China, provocou desconfiança na população, sendo este o momen-to de maior divisão aberta na buro-cracia desde 1989. Na França, ain-

da que o país não tenha recebido os pacotes de austeridade, as disparida-des entre as classes, social e econô-micas, tem provocado uma crise po-lítica grande, e a direita vem perden-do cadeiras na Assembleia Nacional.

Na Itália, metade da população não participou das últimas eleições locais. Esse índice de abstenção é um problema generalizado na Eu-ropa, com o aumento de descrença no sistema político como um todo.

Uma nova radicalização

As lutas que ressurgem em diver-sos lugares, muitas de caráter espon-taneísta, revelam a indignação das pessoas e a vontade de transforma-ção. A palavra “socialismo” e “revo-lução” voltou a ser pronunciada com força nas vozes da juventude, de mu-lheres, LGBTT, trabalhadoras e tra-balhadores. No entanto, ainda é algo muito inicial, e a tomada de consci-ência ainda caminha muito mais len-ta do que o ritmo que os capitalistas tentam sobreviver, atirando pacotes de austeridade para todos os lados.

Como consequência da ausência de um programa anticapitalista e um projeto socialista revolucionário, em alguns lugares observa-se um campo aberto para nacionalistas, de esquer-da ou de direita. A preocupação pe-lo crescimento de partidos fascistas, que claramente se posicionam con-tra imigrantes, mulheres, homosse-xuais, é uma realidade concreta para muitos países. A juventude tem de-senvolvido um papel importante na luta contra isso, em organizações co-mo “Juventude contra o Fascismo”.

A experiência da formação de no-vos partidos de esquerda (Syriza na Grécia, Die Linke na Alemanha, e outros), de configuração semelhante ao do PSOL no Brasil, de uma forma geral, tem crescido e até em alguns lugares já possui parlamentares. Nós do CIT defendemos que após falên-cia dos antigos partidos como o PT, faz-se necessário novos partidos que consigam apresentar um programa concreto que expresse a luta dos tra-balhadores, organizados de forma ra-dicalmente democrática.

Construindo uma organização internacional

Participar da Escola foi uma opor-tunidade de ver concretamente a importância do internacionalismo. Nunca o capitalismo esteve tão in-tegrado no mundo todo como no úl-timo período, o que aponta para nós um espaço mais aberto para também construir uma luta unificada dos tra-balhadores internacionalmente.

Diante disso, existem iniciativas de fóruns e partidos que se articu-lam e mantém relação com grupos de esquerda de outros países. Além disso, muitas pessoas passaram a as-sumir as redes sociais da internet co-mo um canal importante para divul-gar lutas não apenas locais, mas que estão ocorrendo no mundo, possi-bilitando mostrar o fortalecimento de lutas e ter acesso a uma série de acontecimentos que a mídia burgue-sa nos esconde.

No entanto, a experiência das es-

colas de verão (além da Europeia, temos a Latino Americana e outras escolas), os congressos mundiais e outros fóruns do CIT mostram como uma maior organicidade nos possi-bilita potencializar a nossa interven-ção, local, nacional e mundialmen-te. A oportunidade de produzir acú-mulos coletivamente, mas também de debater e contribuir na interven-ção de outras companheiras e com-panheiros de diversos países já nos possibilita anos a mais de experiên-cia se comparado a pessoas que in-dividualmente se indignam. Nós te-mos a importante tarefa de traduzir esse acúmulo nos espaços que in-tervimos.

Assim, retornam 400 militantes para seus respectivos países, levan-do o acúmulo e o ânimo para trans-formar essa sociedade, neste perío-do tão decisivo e dinâmico em que vivemos, com a clareza de que o so-cialismo será mundial, ou não o será.

Desafios para a esquerda gregaA Grécia foi um dos grandes debates, tanto por compa-nheiros de lá como de outros países, que tiveram a oportu-nidade de contribuir com dife-rentes pontos de vista sobre a nossa intervenção e análise da situação.

No campo político, o Syriza che-gou a 28% dos votos, quando pre-viamente era de 4%, revelando um grande terremoto político que vi-ve a Grécia. O Syriza é um partido com potencial de se destacar como uma alternativa, de chamar a uni-dade da esquerda e de denunciar os pacotes de corte, como veio fazen-do no último período. Porém, des-de os primeiros ganhos eleitorais em maio, retrocederam, aumentan-do então as dúvidas sobre qual se-ria sua proposta concreta.

Crescimento dos fascistas: um perigo

Essa preocupação se dá nos mar-cos de um crescimento, por outro lado, da Aurora Dourada, que ga-nhou cerca de 7% nas duas elei-ções gerais esse ano. Se a esquer-da não conseguir dar respostas a al-tura do que a realidade demanda, abrirá cada vez mais espaço para o partido neonazista e outros gru-pos de direita.

Outro debate é que a saída da Zo-na do Euro já está colocada para a

Grécia, já que a dívida é impagável e o país será expulso por não cum-prir as exigências da União Euro-peia, seja dentro de um ano ou até menos que isso. Assim, o “como” será essa saída é a grande questão, refletida entre os trabalhadores mas a própria burguesia que ainda não sabe o que fazer.

Momentos decisivos

O momento é decisivo, onde re-almente existe a possibilidade de um partido de esquerda assumir o poder na Grécia, e seria um gran-de retrocesso ter um governo reco-nhecido como radical capitulando com as medidas de austeridade, ou mesmo que não tenha uma políti-ca clara do que fazer a partir daí.

Nós do CIT desempenhamos um papel importante com trabalhado-res da saúde, do transporte, com a juventude, imigrantes e outros se-tores, buscando realizar uma atu-ação em conjunto com o Syriza, mas apontando a necessidade de lutarmos por mais: defendemos que essa saída da Zona do Euro deve acontecer com a classe tra-balhadora assumindo o controle.

Faz-se necessário nacionalizar os bancos, principais indústrias, criar monopólio estatal do comér-cio exterior, e garantir as poupan-ças, comida e moradia da classe trabalhadora.

As mulheres e a crise mundialDurante toda a Escola, foram diversas as intervenções que traziam o debate das lutas contra as mais diversas for-mas de opressão: o racismo, machismo, a homofobia, a xe-nofobia, dentre outros. Tive-mos uma comissão específica que tratava da luta das mu-lheres, com uma explanação muito rica de Sarah Wrack, da Inglaterra, trazendo dados que comprovam como as mu-lheres estão sendo extrema-mente atacadas nesse con-texto da crise, e que isso co-loca a urgência de estarmos na linha de frente combaten-do o capitalismo.

É visível que as mulheres, sobre-tudo as mais jovens, estão se iden-tificando cada vez mais com o fe-minismo, ou demonstrando revol-ta em relação ao machismo. Com-panheiras de vários países trouxe-ram a experiência da construção da Marcha das Vadias, entre ou-tras iniciativas que vem surgindo no último período, como lutas a fa-

vor do aborto, contra violência do-méstica etc. Como marxistas, te-mos essa clareza de que as condi-ções objetivas é que determinam a consciência, e que por isso esse sentimento de indignação cresceu agora com grande força porque as mulheres estão sendo extremamen-te atacadas nesse contexto de crise – e não por sermos “alvos” do go-verno, mas porque já partimos de uma posição desigual na socieda-de, que se acentua nesse período.

Só o começo dos cortes

Na Grã-Bretanha, um artigo mostrou que do corte de 15 bilhões de euro implementados até agora, 11 bilhões atingiram as mulheres – principalmente diante dos cor-tes nos benefícios previdenciários e creches, mas também por conta do corte nos trabalhadores do setor público – nos últimos três meses de 2011 duas vezes mais mulheres que homens perderam seus empregos.

Nos EUA, em 82% dos progra-mas de abrigo contra violência do-méstica observa-se aumento da de-

manda, no entanto 77% tiveram corte de financiamento. Diante des-ses e outros dados, torna-se urgen-te que um programa para a clas-se trabalhadora reflita esse espe-cífico impacto que a crise tem nas mulheres.

É evidente que existem outros motivos para as mulheres se mobi-lizarem, mas Sarah apontou exem-plos de como muitos desses protes-tos, ainda que não estejam claros a relação com a crise, tem sido res-postas a esses ataques.

A discussão de mulheres foi uma das que mais mobilizou os partici-pantes, onde nos primeiros minu-tos em que se abriu para a fala, mi-litantes de todos os países ali pre-sentes já haviam manifestado inte-resse em falar.

Isso mostra o quanto é um tema que tem sensibilizado e preocupa-do o CIT como um todo, e a valio-sa contribuição das companheiras mulheres nos diversos temas que envolveram a Escola mostraram o saldo positivos das diversas seções ao atentarem em fortalecer a inter-venção no debate das opressões.

Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00

N° 11 agosto/setembro 2012

Acesso o nosso site:

www.lsr-cit.orge-mail: [email protected]

telefone: (11) 3104-1152

Síria: existe uma alternativa à guerra civil?Em todo o país ocorrem ata-ques indiscriminados por par-te das forças do regime de As-sad e suas milícias, represálias sectárias sangrentas por parte da oposição armada, uma onda de refugiados e catástrofes hu-manitárias. A segunda cidade, Aleppo, é o mais recente foco de combates entre as forças de oposição armadas e o exér-cito sírio, com milhares de re-fugiados.

Niall Mulholland, CIT

A batalha de Aleppo é importante para ambos os lados. Maior do que o capital, Damasco, ela é o principal centro econômico, com um setor in-dustrial importante.

Como o resto da Síria, Aleppo é composta por um mosaico de gru-pos étnicos e religiosos. A maioria da população da cidade são muçul-manos sunitas ou curdos. Há também armênios e outros cristãos das igre-jas maronita, ortodoxa sírias e orto-doxa grega. Muitos funcionários pú-blicos na cidade são da seita alauíta do presidente Assad.

Movimento popular

A revolta de março 2011 na Síria começou como um movimento po-pular genuíno contra o estado poli-cial de Assad, o desmoronamento do bem-estar social, altos níveis de pobreza e desemprego, e o governo da elite rica e corrupta. A ditadura de Bashar al-Assad respondeu à on-da de protestos contra os 40 anos de regime ditatorial - amplamente vis-to como parte da “Primavera Árabe” - com dura repressão.

A brutal repressão de manifestan-tes levou alguns ativistas a pegar em armas. O Comitê por uma Internacio-nal dos Trabalhadores (CIT, a organi-zação socialista internacional de que a LSR está filiada) defendeu a constru-ção de comitês de autodefesa demo-cráticos dos trabalhadores para prote-ger as comunidades e evitar uma divi-são sectária étnico-religiosa.

Ao mesmo tempo, o CIT vincu-lava isso com a necessidade de um programa que exigia o fim da dita-dura Assad e uma mudança demo-crática, social e econômica profunda.

Porém, um fator fundamental foi a falta de uma liderança independen-te da classe trabalhadora. Isso per-mitiu que figuras oposicionistas sec-tárias e pró-capitalistas parcialmen-te preenchessem o espaço político. Regimes árabes reacionários do Gol-fo Pérsico, junto com a Turquia, e com apoio do imperialismo ociden-tal, interveio com armas e dinheiro para a oposição.

Os EUA, a Grã-Bretanha e a Fran-ça têm há muito tempo considerado o regime de Assad como um obstá-

culo para os seus interesses impe-rialistas na região. Uma parte fun-damental de seus planos é enfraque-cer o seu principal adversário na re-gião, o Irã, que é um aliado do regi-me sírio. A queda de Assad poderia também fortalecer os regimes suni-tas pró-EUA do Golfo Pérsico, além de enfraquecer o Hezbollah xiita ba-seado no Líbano e a posição do im-perialismo russo na região.

O que começou como uma revol-ta popular na Síria está retroceden-do numa guerra civil, com as cres-centes dimensões sectárias. O núme-ro de mortos é estimado agora em 20 mil. A Organização das Nações Uni-das (ONU) acredita que 150 mil pes-soas fugiram do país.

Hipocrisia do imperialismo

Mas as palavras de preocupação para com o povo da Síria dos políti-cos ocidentais são hipócritas. Apenas alguns anos atrás, a administração Bush enviou “suspeitos de terroris-mo” para Damasco para serem tortu-rados pelos bandidos de Assad. Ago-ra, o presidente Obama afirma que ele quer ver a ditadura Bashar al-As-sad substituída por “democracia”.

No entanto, com a bênção dos

EUA, as autocracias reacionárias do Qatar e da Arábia Saudita estão armando e financiando os rebeldes sírios. O governo turco, um mem-bro da Otan (aliança militar domi-nada pelos EUA), denuncia a opres-são na Síria. Mas no próprio país, re-primem os meios de comunicação e os curdos.

Não há solução rápida

Embora possa ser apenas uma questão de tempo antes da queda de Assad, o conflito não mostra nenhum sinal de um final rápido. A deserção de algumas altas figuras militares e diplomáticas, incluindo o recém-no-meado primeiro-ministro Riad Hi-jab, deu a impressão de um regime em colapso em câmera lenta. No en-tanto, Assad não mostra nenhum si-nal de renunciar.

Enquanto a oposição tem feito al-gum avanço e agora está suposta-mente usando armamento pesado, está dividida em vários grupos sem liderança política clara.

Além disso, o caráter reacioná-rio e pró-capitalista, majoritariamen-te sunita, do Conselho Nacional Sí-rio, ligado ao Exército Livre Sírio e apoiado por governos da elite su-

nita do Golfo Pérsico, faz com que muitas das minorias alauítas, cris-tãs e curdas, bem como alguns su-nitas, fiquem com temor do que vi-ria em seguida da queda de Assad. A entrada de jihadistas estrangeiros de vários países está provocando divi-sões dentro da liderança da oposição.

Mesmo se Assad decida deixar o cargo ou for removido pela sua pró-pria facção dominante, a sua máqui-na militar, dominada pela seita alau-íta e seus aliados, poderiam continu-ar lutando. A Síria poderia enfrentar a terrível perspectiva de ser dividida em enclaves étnicos, como a ex-Iu-goslávia, numa luta amarga por ter-ritório durante anos. Isso lembraria a guerra civil do Líbano (que durou de meados dos anos 1970 aos anos 1990 – cerca de 200 mil morreram), mas em escala maior. O horror se agrava-ria se as armas químicas e biológicas do regime fossem usadas.

Uma conflagração sectária prova-velmente envolveria outros países da região, como Turquia, Irã, Israel e países do Golfo Pérsico. O confli-to sírio já se espalhou para o Líbano, onde o regime de Assad tem o apoio do Hezbollah, que é parte do gover-no de coalizão.

Intervenção ocidental

A ONU é incapaz de agir como um “mediador honesto” na crise síria. A impotência da ONU foi sublinhada com a renúncia de Kofi Annan (ex--presidente da ONU) que foi o envia-do especial da Liga Árabe, em 2 de agosto, como mediador do conflito.

A organização está sob o contro-le das grandes potências do mundo, em particular dos membros do Con-selho de Segurança, que estão pro-fundamente divididos sobre a Síria.

Enquanto alguns políticos estadu-nidenses, britânicos e franceses têm discutido a ideia de uma intervenção militar ocidental contra o regime de Assad, os ataques da OTAN no ano passado na Líbia não podem ser sim-plesmente repetidos neste contexto.

A Síria tem uma população mui-to maior que a Líbia e o regime sí-rio tem à sua disposição um exérci-to muito mais poderoso, melhor trei-nado e equipado. Um ataque arrisca-ria uma internacionalização do con-flito, em particular como uma ação ocidental seria amplamente vista no mundo árabe como o reforço da po-sição regional de Israel.

Além de aplicar sanções contra Damasco e dar luz verde aos países do Golfo Pérsico para armar e finan-ciar a oposição e para a Turquia for-necer apoio logístico, a Casa Bran-ca também está secretamente dan-do apoio direto aos opositores. De acordo com um relatório da agência de notícias Reuters (01 de agosto de 2012), o presidente Obama assinou uma ordem secreta no início deste

ano, que autoriza o apoio dos EUA para a oposição armada, incluindo a implantação da CIA e outras agên-cias norte-americanas. O ministro do exterior britânico confirmou recente-mente que a Grã-Bretanha também está dando apoio encoberto às for-ças anti-Assad.

Um regime pós-Assad, imposto pelo imperialismo, não traria esta-bilidade, nem democracia ou a pros-peridade para a Síria. Seria um regi-me militar dominado pelo ocidente, envolvendo as forças reacionárias e pró-capitalistas.

No entanto, o papel das potências ocidentais e os regimes reacioná-rios do Golfo Pérsico não justificam qualquer apoio ao regime de Assad. Ele não é uma espécie de “bastião” contra o imperialismo, como alguns da esquerda dizem.

Para os socialistas a alternativa foi apresentada durante as revoluções do ano passado na Tunísia e no Egi-to, bem como no início da revolta síria em 2011. Eles mostraram que é o movimento unido dos trabalha-dores e jovens que podem remover déspotas e seus regimes, resistir ao imperialismo e lutar pela mudança social e política real. Houve 18 me-ses de revolução e contrarrevolução e o processo está longe de terminar.

Classe trabalhadora

Enquanto o sectarismo está em as-censão no Egito, a luta de classes também se intensifica com uma nova onda de greves e ocupações que var-rem este país. Trabalhadores egíp-cios não estão esperando o novo go-verno para melhorar suas vidas. Eles estão construindo suas próprias or-ganizações e agindo de forma inde-pendente. Este é o modelo a seguir!

Os trabalhadores e pobres na Sí-ria enfrentam uma situação deses-peradora com o perigo real de uma guerra étnica e sectária. Socialistas em todo o mundo devem fazer todo o possível para ajudar os trabalha-dores da Síria para construir a uni-dade da classe para resistir e supe-rar essas divisões.

Baseando-se em um programa pa-ra unir os trabalhadores, com políti-cas socialistas para a mudança pro-funda – com controle e gestão de-mocrática dos trabalhadores sobre a economia para transformar as condi-ções de vida, gerando empregos com um salário digno, educação gratui-ta de qualidade, saúde e moradia e assim por diante - um movimento desse tipo iria inspirar trabalhado-res e jovens em toda a região, unin-do-se para expulsar os tiranos e o imperialismo.

Isto levaria a uma luta por uma confederação voluntária e igualitá-ria socialista do Oriente Médio, na qual os direitos de todas as minorias seriam garantidos.

Manifestação contra o regime de Bashar al-Assad.