ofensiva socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

12
Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR N° 16 novembro/dezembro 2013 Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) Tendência do PSOL site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152 Unificar desde já as lutas para 2014! pág. 03 Educação sofre retrocesso histórico com reforma de Haddad pág. 04 Lições da greve dos educadores no RJ pág. 05 Primeiro vereador quilombola toma posse pág. 07 Unificar as lutas por moradia em SP pág. 09 “Abstenção” ganha as eleições no Chile pág. 10 Transporte público fora dos trilhos pág. 12 Vitória histórica para socialista nos EUA Kshama Sawant foi eleita vereadora em Seattle com 93,6 mil votos A vitória da candidata socia- lista Kshama Sawant em Se- attle, a maior cidade no es- tado de Washington, é sem dúvidas um terremoto polí- tico. Apesar de se tratar de um mandato de vereadora, o impacto é nacional. Os 93,6 mil votos conquistados por ela marcam a maior votação de um candidato da esquer- da socialista revolucionária em décadas e revela uma mudança profunda na cons- ciência dos trabalhadores no país que está acontecen- do por de baixo da superfí- cie nos EUA, desde a eclo- são da crise em 2008. Mesmo antes de tomar posse, Kshama já está cumprindo um pa- pel importante nas lutas. A inter- venção em apoio dos trabalhado- res da Boeing, uma das maiores construtoras de aviões no mundo, que lutam contra rebaixamento de salários e benefícios, sob amea- ça de mudança da produção, teve grande repercussão. “A única resposta que po- demos dar se os executivos da Boeing se não concordam em manter a planta da empresa aqui é que os operários devem dizer que as máquinas estão aqui, os trabalhadores estão aqui, nós en- tão faremos o trabalho, nós não precisamos dos executivos. Os executivos não fazem o trabalho, os operadores das máquinas o fa- zem”, disse ela no ato dos traba- lhadores, defendendo que a fá- brica seja estatizada sob o con- trole e gestão democráticos dos trabalhadores. Um repórter da TV local cons- tatou que “Kshama Sawant ago- ra é uma das lideranças reconhe- cidas nacionalmente na luta para elevar o povo trabalhador à altu- ra da riqueza da nação”. A vitória de Kshama é uma vitória para toda a esquerda. Ela mostra como uma campanha elei- toral pode surgir da luta e servir a ela, ao mesmo tempo fortalecen- do uma alternativa política. A Al- ternativa Socialista (o seguidores do CIT nos EUA) está recolocan- do a necessidade da esquerda e movimentos começarem a cons- truir já uma ofensiva com 100 ou centenas de candidatos para as próximas eleições. Isso poderia significar um passo importante na construção de uma ferramen- ta política da classe trabalhadora nos EUA, onde o cenário políti- co é dominado pelos dois parti- dos das grandes empresas, os de- mocratas e republicanos. leia mais na pág. 11 Não queremos um PSOL light ou uma Marina Silva de gravata! Um setor do PSOL quer derrotar o projeto fundacional do partido. Sem Marina Silva na disputa elei- toral de 2014, acham que vão ocu- par esse espaço adotando uma ver- são light e amorfa para um partido que nasceu para reconstruir a es- querda socialista a partir das lutas. Fazem isso exatamente num mo- mento em que as ruas exigem uma nova radicalidade e uma nova pos- tura radicalmente democrática. Em sentido oposto, eles usam métodos escusos para garantir uma maioria artificial. Mas, não irão muito lon- ge. Junho anunciou. A força do novo vai superar a persistência do velho. leia mais nas páginas 06 e 07

Upload: liberdade-socialismo-revolucao

Post on 22-Mar-2016

212 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Jornal da Liberdade, Socialismo e Revolução, corrente do PSOL e seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores

TRANSCRIPT

Page 1: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR

N° 16 novembro/dezembro 2013

Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)

Tendência do PSOL

site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152

Unificar desde já as lutas para 2014!

pág. 03

Educação sofre retrocesso histórico com reforma de Haddad

pág. 04

Lições da greve dos educadores no RJ

pág. 05

Primeiro vereador quilombola toma posse

pág. 07

Unificar as lutas por moradia em SP

pág. 09

“Abstenção” ganha as eleições no Chile

pág. 10

Transporte público fora dos trilhos

pág. 12

Vitória histórica para socialista nos EUAKshama Sawant foi eleita vereadora em Seattle com 93,6 mil votosA vitória da candidata socia-lista Kshama Sawant em Se-attle, a maior cidade no es-tado de Washington, é sem dúvidas um terremoto polí-tico. Apesar de se tratar de um mandato de vereadora, o impacto é nacional. Os 93,6 mil votos conquistados por ela marcam a maior votação de um candidato da esquer-da socialista revolucionária em décadas e revela uma mudança profunda na cons-ciência dos trabalhadores no país que está acontecen-do por de baixo da superfí-cie nos EUA, desde a eclo-são da crise em 2008.

Mesmo antes de tomar posse, Kshama já está cumprindo um pa-pel importante nas lutas. A inter-venção em apoio dos trabalhado-res da Boeing, uma das maiores construtoras de aviões no mundo, que lutam contra rebaixamento de salários e benefícios, sob amea-ça de mudança da produção, teve grande repercussão.

“A única resposta que po-demos dar se os executivos da Boeing se não concordam em manter a planta da empresa aqui é que os operários devem dizer que as máquinas estão aqui, os trabalhadores estão aqui, nós en-

tão faremos o trabalho, nós não precisamos dos executivos. Os executivos não fazem o trabalho, os operadores das máquinas o fa-zem”, disse ela no ato dos traba-lhadores, defendendo que a fá-brica seja estatizada sob o con-trole e gestão democráticos dos trabalhadores.

Um repórter da TV local cons-tatou que “Kshama Sawant ago-ra é uma das lideranças reconhe-cidas nacionalmente na luta para elevar o povo trabalhador à altu-ra da riqueza da nação”.

A vitória de Kshama é uma vitória para toda a esquerda. Ela mostra como uma campanha elei-toral pode surgir da luta e servir a ela, ao mesmo tempo fortalecen-do uma alternativa política. A Al-ternativa Socialista (o seguidores do CIT nos EUA) está recolocan-do a necessidade da esquerda e movimentos começarem a cons-truir já uma ofensiva com 100 ou centenas de candidatos para as próximas eleições. Isso poderia significar um passo importante na construção de uma ferramen-ta política da classe trabalhadora nos EUA, onde o cenário políti-co é dominado pelos dois parti-dos das grandes empresas, os de-mocratas e republicanos.

leia mais na pág. 11

Não queremos um PSOL light ou uma Marina Silva de gravata!

Um setor do PSOL quer derrotar o projeto fundacional do partido. Sem Marina Silva na disputa elei-toral de 2014, acham que vão ocu-par esse espaço adotando uma ver-são light e amorfa para um partido que nasceu para reconstruir a es-

querda socialista a partir das lutas. Fazem isso exatamente num mo-mento em que as ruas exigem uma nova radicalidade e uma nova pos-tura radicalmente democrática. Em sentido oposto, eles usam métodos escusos para garantir uma maioria

artificial. Mas, não irão muito lon-ge. Junho anunciou. A força do novo vai superar a persistência do velho.

leia mais nas páginas 06 e 07

Page 2: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

As lutas dos estudantes da UFMTEm março desse ano, aconte-ceu uma manifestação com cerca de 60 estudantes. Entre eles, moradores da CEU (Casa de Estudantes Universitários) da UFMT, contra o fechamento de 5 casas.O governo respon-deu a esse ato com uma gran-de repressão policial, foram mais de 10 estudantes agredi-dos e presos pela ROTAM.

Nayara Del Santo estudante de psicologia da UFMT

Mas o movimento não se rendeu e continuou lutando. No dia seguinte, foram mais de mil pessoas na mani-festação, culminando em uma ocu-pação da reitoria da UFMT, que du-rou 17 dias. Essa ocupação tinha co-mo pauta principal maior investi-mento para as políticas de assistên-cia estudantil - entre elas, a amplia-ção do número de refeições no Res-taurante Universitário - além de exi-gir que a gestão do restaurante fos-

se pública (hoje o RU sofre um pro-cesso gradual de privatização, com-batido pelos estudantes). Esse ponto é fundamental para que a verba des-tinada à permanência estudantil sir-va de fato para esse fim, e não seja usada para enriquecer donos de uma empresa privada.

A reitoria não estava disposta a ne-gociar, sendo bastante intransigente. Porém, por pressão da luta, os estu-dantes conquistaram um acordo que trazia importantes vitórias. Uma de-las foi a permanência do RU na ges-tão pública da universidade.

Entidades do movimento estudantil

Os estudantes há muito tempo con-quistaram direito de se organizar de forma autônoma da reitoria e das di-retorias. Isso passa por poder ter CAs e um DCE organizados pelos próprios estudantes, e com fontes de renda pró-pria, para que possam financiar suas atividades sem precisem passar por

nenhum tipo de aprovação que não seja dos próprios estudantes.

Porém, há alguns anos a univer-sidade quer se apropriar das canti-nas que servem como financiamen-to para essa organização autônoma dos estudantes. Além disso, proibiu a realização de festas, outra impor-tante fonte de financiamento.

Reitoria tenta punir aqueles que lutam

Como protesto, a gestão do dce re-alizou 3 festas, chamadas Clandesti-nas, que foram realizadas em conjun-to com os CAs nos espaços da univer-sidade. Depois de alguns meses, dois estudantes da gestão foram notifica-dos de processos administrativos con-tra eles. Explicitando o caráter de per-seguição política desses processos, a administração superior da universi-dade chegou a falar que, se não con-seguisse expulsá-los, pelo menos le-variam uma suspensão de um mês - o que faria com que fossem reprovados.

Há informações de que outros oi-to estudantes estão sendo processa-dos por motivos políticos também, mas os processos correm em sigilo.

Reitoria beneficia empresas privadas

Ao mesmo tempo em que a reito-ria processa estudantes que se mobi-lizam, prepara um esquema com uma empresa para descumprir o acordo feito e privatizar o Restaurante Uni-versitário. A administração colocou a necessidade de uma reforma do res-taurante, que serviu como desculpa para abrir um processo licitatório do RU, cumprindo um antigo projeto de privatização que era impedido pela mobilização dos estudantes.

Como tentativa de desmobiliza-ção, a empresa que agora controla o RU começou a distribuir quentinhas na universidade e a Reitoria veicu-lou através da grande mídia que a universidade atendeu às reivindica-ções de estudantes de ter café da ma-

nhã e opção vegetariana e suco em todas as refeições. Essas bandeiras faziam parte do acordo que foi feito em março, mas o que a reitoria quer é esconder um fato fundamental, de que o mesmo acordo também colo-cava que a gestão teria que perma-necer pública.

Além de não cumprir o acordo an-terior, agora a Reitoria se recusa a dialogar com os estudantes e ataca novamente a autonomia de sua orga-nização, dizendo que não reconhece a gestão do DCE. Isso é só mais um argumento para dificultar o diálogo e implantar os projetos de repres-são ao movimento e de privatização.

Agora, os estudantes da UFMT têm três bandeiras principais para conquistar:

• fim dos processos por persegui-ção política;

• não à proibição de festas e à re-tirada das cantinas das entidades estudantis;

• por um RU público, gerido pe-la universidade.

2 • estudantil Ofensiva Socialista n°16 novembro/dezembro - 2013

é uma publicação da Liberdade, Socialismo e Revolução

Telefone: (11) 3104-1152E-mail: [email protected]ítio: www.lsr-cit.orgCorreio: CP 02009 - CEP 01031970 - SP Assinatura: 10 edições: R$ 20 reais (Envie cheque nominal p/Marcus William Ronny Kollbrunner à caixa postal)

Colaboraram nessa edição: André Ferrari, Cacá Melo, Carla Queiroz, Daniel Luca, Dimitri Silveira, Isabel Keppler, Jean Cruz, Jonathan Mendonça, José Afonso Silva, Lucas Aguiar, Luciano Barboza, Marcus Kollbrunner, Marilia El-Kaddoum Trajtenberg, Miguel Leme, Nayara Del Santo, Priscila Manfrinati, Vinicius Prado.

Mobilização avança na USPNeste semestre a USP passou por uma mobilização de um ta-manho que há muito tempo não se via. Diversos cursos entra-ram em greve ou organizaram paralisações. A principal pauta do movimento: mais democra-cia na universidade.

Carla Queirozestudante de Psicologia da USP

Desde o ano passado, a comunida-de uspiana tem se debruçado sobre o tema da democracia e sobre os pro-cessos de escolha do reitor da univer-sidade e dos diretores de cada uma de suas faculdades. Com a aproxi-mação do processo eleitoral para o cargo de reitor, este debate foi sen-do aprofundado.

Se de um lado o movimento dis-cutia democracia, do outro Rodas (atual reitor da USP) propôs institu-cionalmente o debate sobre o mes-mo tema. No começo do semestre, a reitoria lançou um site para a pu-blicação de propostas de modifica-ção do processo eleitoral para reitor.

Rodas distorce

É importante lembrar que Rodas tem um histórico de pautar o que discutimos no movimento, mas sem-pre de uma forma diferente. Exem-plo disso foi quando a reitoria acei-tou que se fizesse uma Comissão da Verdade da USP e, no fim das con-tas, o reitor, envolvido com persegui-ções políticas na USP, indicou a de-do cada um dos componentes dessa comissão, deslegitimando a comis-são eleita pelo movimento.

Por trás dessa tentativa de institu-cionalizar nosso debate também es-tava o medo das mobilizações de ju-nho. Muitos universitários acompa-nharam e construíram essas mobili-zações nas ruas com os movimen-

tos sociais. Possibilitar que a força dessas mobilizações estivesse pre-sente também na universidade seria um grande empecilho para o final da gestão Rodas. E por isso foi muito importante que ele apresentasse al-guma proposta de forma a tentar ca-nalizar as reivindicações por demo-cracia num espaço institucional, con-trolado pela própria reitoria.

“Abertura” com portas trancadas

Mas a abertura para discussão se limitava a um site. A reunião do Con-selho Universitário (órgão de maior poder decisório na universidade) que debateria as propostas apresentadas foi realizada a portas trancadas; o movimento não teve espaço onde de fato se tomariam as decisões. A partir daí, foi organizada a ocupação da rei-toria e a greve geral dos estudantes.

Foram esses instrumentos de luta que garantiram que a reitoria nego-ciasse com o movimento. Consegui-mos um termo de acordo com diver-sas garantias de pautas atuais e anti-gas: que os blocos K e L usados pela reitoria voltassem a ser moradia es-tudantil, que o Núcleo de Consciên-cia Negra não fosse demolido, a re-alização de um Congresso da USP, entre outros pontos. Apesar deste ter-mo não garantir modificações para as eleições dentro da universidade nem que as pessoas que se mobilizaram não sejam perseguidas, foi um avan-ço. Há anos que o movimento nem ao menos conseguia negociar com a reitoria, e com a nossa mobilização conseguimos até garantias.

Logo após a proposta do termo, Rodas voltou a se articular na Justi-ça para pressionar a reintegração de posse do prédio ocupado da reito-ria. E, enquanto o termo era discu-tido pelos estudantes, o pedido de reintegração de posse foi aprovado.

O reitor mostrou novamente sua sa-gacidade: primeiro fez uma propos-ta para dividir o movimento entre os que a aceitavam e os que não se con-tentavam com ela; depois preparou o terreno para poder chamar a polí-cia num momento que estivéssemos nos enfraquecendo. De certa forma foi o que aconteceu. Na hora de de-cidir entre aceitar ou não o termo proposto, não aprofundamos nos-so debate e acabaram se formando dois grandes blocos no movimento: um totalmente contra o termo e ou-tro totalmente a favor. Quando os de-bates se tornam superf iciais, as dis-putas facilmente caem para um de-bate moral e não político. É esse es-vaziamento que dificulta o avanço e enfraquece o movimento.

No fim das contas, a reintegração

de posse da reitoria foi realizada. Dois estudantes que estavam fora da ocupação e foram ver o que es-tava acontecendo foram presos, en-caminhados para um presídio, mos-trando mais uma vez que a reitoria e o Governo Alckmin não querem dialogar, mas lidam com movimen-tos sociais principalmente através da violência. Os dois estudantes foram soltos depois da pressão feita pelo movimento.

Debate democrático que fortalece a luta

No saldo das mobilizações dentro da universidade vemos que o movi-mento estudantil pode ter força su-ficiente para conseguir vitórias con-cretas. Mas, para isso, devemos po-

litizar nossos debates durante todo o processo de mobilização e garan-tir que um debate político de qua-lidade não transforme as divergên-cias em divisões que enfraquecem o movimento.

Além disso, o movimento estudan-til não pode se fechar dentro da uni-versidade. Reivindicamos democra-cia para que essa universidade cum-pra um papel diferente na sociedade, para que ela atenda aos interesses da população. O nosso movimento tam-bém deve estar intimamente ligado às pautas dos movimentos que estão fora da universidade: das lutas dos movimentos populares, dos profes-sores do ensino regular, dos cursi-nhos populares.

É a unidade dentro do movimento estudantil e junto desses outros seto-

A luta por democracia estava no centro da greve e ocupação na USP.

Page 3: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

movimento • 3 Ofensiva Socialista n°16 novembro/dezembro - 2013

Unificar desde já, as lutas para 2014!Encontro Nacional dos Movimentos de Junho é possível e necessário!2013 ficará na história. A ju-ventude, o povo e os trabalha-dores mostraram aos patrões e governos que querem que as suas reivindicações sejam atendidas.

Miguel LemeExecutiva Nacional

da CSP-Conlutas

As manifestações de junho, ten-do como principal bandeira a redu-ção da tarifa do transporte coletivo, provocou atos de massa por esta e outras reivindicações. A faísca para essa explosão de luta foi a realização da Copa das Confederações no país. Para o povo, ficou claro: enquanto o governo afirma não ter dinheiro para a saúde e educação, gastou e conti-nua gastando bilhões de reais com a Copa do Mundo. Isto ficou evidente nos cartazes exibidos nas manifesta-ções que exigiam “saúde e educação padrão Fifa” e que o “professor vale mais que o Neymar”.

A essas manifestações de junho, se incorporaram também, as reivindi-cações do movimento popular e do movimento sindical que esteve pre-sente, principalmente, nas paralisa-ções nacionais que ocorreram nos dias 11 de julho e 30 de agosto.

Greves se fortaleceram após junho

Essa nova situação aberta com es-sas manifestações contribuiu para que algumas greves fossem mais for-tes e radicalizadas, como foi o caso dos bancários, petroleiros, trabalha-dores dos correios e metalúrgicos. Patrões de fábricas importantes que há muito anos não sabiam o que era uma mobilização forte de trabalha-dores – como foi o caso da Embraer

de São José dos Campos-SP ou da Gerdau em Divinópolis-MG – foram obrigadas a enfrentar greves.

Entretanto, um destaque deve ser dado para a greve na educação no Rio de Janeiro. Essa vitoriosa gre-ve no Rio conseguiu a solidarieda-de, dentro e fora do país, em virtu-de da justeza de suas reivindicações e contra a postura truculenta e auto-ritária dos governos Sérgio Cabral e Eduardo Paes. Nas grandes cida-des do país, foram realizadas diver-sas ocupações de câmaras munici-pais, exigindo o passe livre para es-tudantes e desempregados, de reito-rias das universidades e de terrenos por trabalhadores sem teto, exigin-do o direito à moradia.

Muitas lutas, mas fragmentadas

Entretanto, todas essas lutas ocor-reram de forma fragmentada.

As entidades que dirigem os movi-mentos sociais do país – CUT, For-ça Sindical, UNE e o próprio MST – por estarem atreladas ao gover-no Dilma – não são consequentes e acabam, evidentemente, não tendo uma preocupação em unificar todas essas lutas.

Até mesmo a proposta de um ple-biscito popular sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte ex-clusiva para discutir a reforma polí-tica corre o risco de, na mão desses setores, virar um mecanismo para desviar o foco das lutas de massas.

2013 ficará marcado também, pelo aumento da criminalização dos mo-vimentos sociais e da pobreza sim-bolicamente expresso pelas mortes do Amarildo, Ricardo e pelos 200 estudantes e trabalhadores que fo-ram “fichados” pela polícia do go-verno Alckmin.

Se este ano foi muito importante, pois mudou a relação de forças no país, 2014 tem tudo para ser uma continuidade de todas essas lutas.

Os servidores federais, que reali-zaram uma forte greve nacional em 2012, aprovaram a antecipação da sua campanha salarial. Já há uma manifestação nacional marcada pa-ra o início de fevereiro de 2014. As manifestações de 8 de março tendem a ter uma participação maior de tra-balhadoras (es) do que em anos an-teriores. Também em março de 2014, ganhará visibilidade a luta pela puni-ção dos crimes promovidos pelo re-gime militar, em virtude dos 50 anos do golpe militar no país.

Entretanto, uma atividade mere-ce destaque: os protestos que serão realizados por diversos movimen-tos sociais, e em particular pelo Ju-bileu Sul, na Cúpula dos Brics, que

acontece em Fortaleza-CE, no final de março de 2014.

Na última reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas, nós da LSR e do Bloco de Resistência So-cialista – Sindical e Popular defen-demos que esta atividade deveria ser a mais importante da Central no pri-meiro trimestre de 2014.

Encontro Nacional

As ações durante esta cúpula não estão totalmente definidas, mas é possível, além de dar visibilidade às nossas reivindicações, realizar um Encontro Nacional com a participa-ção de milhares de jovens e traba-lhadores de todos os movimentos sociais, para que possamos aprovar uma pauta de reivindicação e um ca-lendário de luta comum, não só con-tra as consequências sociais da Co-

pa do Mundo, mas para todo o pró-ximo ano.

Com a realização deste Encontro Nacional, será dado o primeiro pas-so para a construção de uma alter-nativa política de poder para o pa-ís, que será marcado também, pelas eleições gerais.

Para que esse Encontro seja vito-rioso, é necessário evitar o hegemo-nismo de qualquer movimento ou setor. Entendemos que deve haver um esforço para que as resoluções relacionadas aos eixos de luta, calen-dário e forma de organização sejam consensuais. Para nós da LSR, qua-tro eixos de luta devem ser prioriza-dos: tarifa zero no transporte coleti-vo, contra os despejos e demais con-sequências sociais da Copa da Mun-do, mais investimentos em saúde e educação e o fim da criminalização dos movimentos sociais.

Porque o senhor atirou em nós?Em outubro desse ano, mais um caso de violência policial vitimou um jovem negro da pe-riferia de São Paulo. Douglas foi assassinado “a tiros aci-dentais” por um PM no bair-ro do Jaçanã e, antes de mor-rer, teria perguntado ao seu al-goz: “Porque o senhor atirou em mim?”

Priscila Manfrinatiprofessora e historiadora

No ano passado, as periferias de São Paulo contabilizaram mais mortes do que países atualmente em Guerra Civil. A criminalização da pobreza nunca matou tanto no Brasil.

Os homicídios tem cor, as favelas também

O extermínio da população po-bre, negra e periférica atingiu nú-meros tão alarmantes que nem mes-mo a prefeitura de Haddad pôde ma-quiar. É cada vez mais discrepante

a diferença de brancos e negros que morrem vítimas de violência. Re-centemente, foram divulgadas esta-tísticas da própria prefeitura de São Paulo explicitando a cor dos homi-cídios em São Paulo. Convocaram audiências públicas e estão imple-mentando o programa “Juventude Viva”, com ações socioeducativas e culturais voltadas principalmente para jovens negros das áreas mais preocupantes.

A violência é um pilar do sistema

O que eles não dizem é: quem é o autor desses crimes contra os po-bres? Não é preciso muito para che-gar à resposta: a mesma PM que ma-ta primeiro e pergunta depois, é a que serve ao governo na repressão dos movimentos sociais. É a desi-gualdade de um sistema excluden-te, mantido por um governo das eli-tes, que beneficia uma minoria cheia de privilégios e com as mãos sujas de sangue.

Tais ações não serão capazes de

acabar com a violência contra e en-tre os pobres. A violência é um pi-lar do sistema de classes em que vi-vemos, em que a pobreza não aca-ba por que dá lucro, e é defendido a qualquer custo. Ela se manifesta pe-la ação arbitrária e truculenta da PM de maneira física e simbólica e pe-los abismos sociais de oportunida-des. Os inimigos internos do siste-ma expõem as contradições de um modelo de sociedade que precisa de sua força de trabalho para existir, ao mesmo tempo em que repele e de-sumaniza sua existência. A tentati-va de humanização através da cul-tura e da educação é relevante, mas inócua dentro da realidade perversa vivida nas periferias, em que a RO-TA na rua é cotidiana e os conflitos têm contornos ainda mais agressi-vos. Nem o governo de Haddad e nem nenhum outro governo da bur-guesia poderá superar suas próprias contradições com programas sociais.

Assim como Douglas perguntou “Porque o senhor atirou em mim?”, perguntamos diariamente “Porque o senhor atirou em nós?”. O caso de

Douglas não é isolado. Ele se inse-re em um âmbito muito maior e tem suas proximidades com inúmeros casos pelo Brasil afora, o que nos impulsiona a reagir também cole-tivamente.

Criminalização da luta e da pobreza

Acontece que, assim como ser po-bre no Brasil é crime, também quem se organiza para lutar contra seus al-gozes é taxado como criminoso. O lucro e a ordem de tudo como está devem ser mantidos a qualquer cus-to, também debaixo de gás lacrimo-gêneo, bala de borracha, prisões e processos criminais. Vale lembrar que, durante as jornadas de junho, nas favelas do Rio de Janeiro a re-pressão foi operada à base de ar-mas de fogo.

Movimentos de rua, de ocupação rural e urbana, entre outros, são tra-tados como caso de polícia, tendo seus líderes perseguidos e até presos, sob acusações infundadas ou forja-das. No mesmo mês em São Paulo,

dois jovens foram encaminhados a penitenciárias após uma manifesta-ção de rua, enquadrados na lei de Se-gurança Nacional. Querem nos des-mobilizar, nos desmoralizar e calar a nossa voz, como calam a de tan-tos Douglas. Não conseguirão! Se-guiremos denunciando e combaten-do esse sistema que se sustenta pe-la miséria e violência. Defendemos os nossos mortos e nosso direito à livre manifestação, contra a crimi-nalização da pobreza a discrimina-ção racista e a perseguição aos que se mobilizam!

2014 vai maior! A esquerda tem que se preparar.

Page 4: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

4 • sindical Ofensiva Socialista n°16 novembro/dezembro - 2013

Educação sofre retrocesso histórico com reforma de HaddadA Educação está vivenciando um tremendo retrocesso na ci-dade de São Paulo. Fernando Haddad (PT) está implantan-do o programa “Mais educa-ção São Paulo” na rede munici-pal de ensino partindo de políti-cas educacionais arcaicas que há muito deviam ter sido aban-donadas.

Dimitri SilveiraConselheiro do Sinpeem

(Sindicato dos profissionais em Educação no ensino

municipal – SP) e membro dos Educadores Socialistas na Luta

Trata-se de uma reforma educa-cional de caráter eleitoreiro, ampa-rada no senso comum e que ofere-ce falsas soluções para os proble-mas da Educação. Não é a toa que a reforma petista tem recebido duras críticas de pesquisadores e cientis-tas da Educação. O retrocesso é tão significativo que o professor da fa-culdade de Educação da USP, Vitor Paro, disparou: “só falta instituir a palmatória”.

O carro-chefe da reforma de Ha-ddad é a repetência dos alunos. Os estudantes poderão ser reprovados em cinco momentos diferentes de sua vida escolar, em vez de em dois, como ocorre atualmente. Esta foi a saída demagógica encontrada pe-lo prefeito petista para o problema da promoção automática. Ou seja, pretende-se combater um problema criando-se outro problema. Ocorre que as pesquisas em educação mos-tram que reprovar aluno não fun-ciona. A reprovação estigmatiza o estudante, coloca-o numa condição

de fracassado e o fracasso não esti-mula ninguém a aprender. É por es-te motivo que a evasão escolar au-menta quando aumenta a repetência, pois o aluno repetente prefere aban-donar a escola a conviver constrangi-do no ambiente escolar, com a pecha de incompetente, fracassado. Repetir alunos é uma política tão nefasta que até mesmo Geraldo Alckmin (PS-DB) decidiu copiar Haddad e anun-ciou que a rede estadual de educa-ção paulista também aumentará, de dois para três, os momentos em que os alunos poderão ser reprovados.

Criar condições para progressão continuada

Para acabar com a promoção auto-mática é necessário garantir as ple-nas condições para a implementa-ção da progressão continuada, uma forma moderna de enxergar a edu-cação que parte do pressuposto de que todo mundo é capaz de apren-der, mas de diferentes formas, em tempos distintos e em salas de aula não homogêneas.

A reforma de Haddad prevê ainda a criação das salas mistas na educa-ção infantil. Isso significa que crian-ças de diferentes idades (de zero a cinco anos) ficarão amontoadas em uma mesma sala de aula, o que seria o mesmo que colocar alunos da 5ª sé-rie numa sala de 8ª série. Had dad pre-tende, com as salas mistas, diminuir a fila de espera na educação infantil, que hoje conta com mais de 100 mil crianças a procura de uma vaga nos Centros de Educação Infantil da ci-dade de São Paulo. Por não garantir recursos, estrutura e autonomia das escolas, as salas mistas de Haddad

são uma aberração pedagógica que reforça a concepção da escola como depósito de crianças e sem compro-misso com o aprendizado.

Os problemas do “Mais educação São Paulo” não param por aí. Pri-vatização, convênios com organiza-ções não governamentais e escolas de tempo integral sem estrutura pa-ra acomodar os alunos são algumas das medidas que já estão sendo apli-cadas na rede municipal como parte da reforma do ensino. Essas são po-

líticas requentadas da gestão Kassab que o PT está aprofundando.

Vale lembrar que alunos, pais e profissionais do ensino sequer fo-ram chamados para contribuir com suas propostas, o que mostra o cará-ter antidemocrático desta reforma. A Secretaria Municipal de Educação, num jogo de cena, ofereceu apenas 30 dias de consulta pública em uma página na internet para aqueles que quisessem fazer comentários sobre o conteúdo da reforma. Quando Paulo

Freire foi secretário de educação em São Paulo, na década de 90, e imple-mentou mudanças na rede de ensi-no, o tempo destinado para debater as propostas foi de um ano!

É certo que esta reforma não tra-rá nenhum avanço. As mudanças são para pior e não atacam o centro do problema. Se o objetivo fosse real-mente melhorar a qualidade do en-sino, como afirma o prefeito petis-ta, a reforma deveria garantir melho-res condições de trabalho aos profis-sionais da educação, expressiva re-dução do número de alunos por sa-la e remuneração decente capaz de libertar os professores do acúmu-lo de cargos.

Haddad tenta restaurar sua imagem

Longe de melhorar a qualidade do ensino, Haddad visa dois objetivos com o “Mais educação São Paulo”. O primeiro é restaurar a sua própria imagem, que ficou desgastada em função do aumento da tarifa de ôni-bus e a subsequente revolta que isso provocou. O segundo é se credenciar como o prefeito que mudou a histó-ria da educação municipal com vis-tas à disputa eleitoral de 2014. Ha-ddad precisa “mostrar serviço”, sob risco de ser um ponto fraco do PT nas próximas eleições, pois foi mi-nistro da Educação.

Desconsiderando os avanços cien-tíficos no campo da Educação base-ados na pedagogia, psicologia, neu-rociência e demais áreas do conhe-cimento, Haddad prefere ressuscitar uma política educacional falida que já se mostrou um fiasco no passado e certamente fracassará no futuro.

APP-sindicato, Governo Richa e a luta dos Trabalhadores em Educação no ParanáO estado do Paraná tem sua política marcada pela alternân-cia no poder de algumas pou-cas oligarquias, nos últimos 30 anos basicamente dois gru-pos se alternaram no governo do estado, representados atu-almente de um lado pelo Sena-dor Roberto Requião (PMDB) e do outro pelo Governador Beto Richa e o Senador Álvaro Dias (PSDB).

Vinicius Prado

Richa assumiu o governo no início de 2011, depois de uma campanha típica dos neoliberais, prometendo choque de gestão e a escolha dos cargos de chefia baseada em critérios técnicos, a fim de garantir a eficiência da máquina pública. O que vimos foi políticas de arrocho contra os direitos do funcionalismo público e da classe trabalhadora, e um aumento de cargos comissionados, os gastos com funcionários sem concurso saltaram de R$ 9,2 milhões para R$ 17,6 milhões ao mês.

O APP – Sindicato, sindicato dos trabalhadores em educação pública do estado do Paraná, tem há mais de 10 anos sua direção hegemonizada pela corrente Democracia Socialista (DS) do Partido dos Trabalhadores

(PT). Esta corrente assim como demais correntes sindicais ligadas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e ao PT, tiveram um papel importante na organização da classe trabalhadora no estado do Paraná e no Brasil. Porém a partir dos anos 90, deixam de ver a luta sindical como uma luta contra a estrutura do capital, e passam aos poucos para uma visão reformista de sindicalismo, se preocupando cada vez mais com problemas imediatos, buscando uma conciliação com o capital.

Sindicato desmobiliza a base

Em 2002, com a chegada do PT ao governo Federal, e no Paraná com o retorno de Roberto Requião, aliado do lulismo, ao governo estadual, a CUT e os sindicatos dirigidos por militantes do PT, acabam mudando o tom da luta, passam a defender uma luta extremamente burocratizada, focada nas negociações de gabinete, a fim de desmobilizar a base, e não causarem enfrentamento aos governos aliados.

Durante o governo Requião, o “marketing” da direção da APP-Sindicato teve certo eco na base da categoria, pois mesmo sem atender pautas históricas da categoria, a

agenda de “conquistas” definidas pelo governo apresentou alguns avanços, como Plano de Cargos e Carreira para professores e funcionários, a aprovação da reposição automática da inflação a cada ano, entre outros benefícios em sua maioria financeiros.

Com a chegada de Beto Richa ao governo do estado, a postura da direção da APP – Sindicato, não tem se mostrado diferente, mesmo com as políticas de ataque a categoria sendo acirradas, como o sucateamento da rede estadual de educação, programas intervencionistas como o Programa de Ação Descentralizada (PAD), que na prática é uma intervenção dos núcleos regionais de educação (NRE’s) nos colégios de baixo índice no IDEB, as alterações nas grades curriculares, direcionando para um currículo que vise apenas a obtenção de notas satisfatórias nos programas de avaliação externas, deixando de lado a formação humana, o sucateamento do já precário e privado Serviço de Atendimento a Saúde do Servidor, e sem contar os cerca de 50 milhões de reais, em direitos dos trabalhadores entre promoções e progressões que a mais de dois anos não são pagos.

O que vimos nestes dois anos de governo Richa foi uma direção sindical apática, que deixou

o governo definir as pautas e a agenda de luta da categoria, que seguidamente manobrou assembleias a fim de segurar uma radicalização da categoria, barrando repetidamente os anseios de greve nas assembleias, uma direção que esteve muito mais preocupada em garantir a manutenção do seu staus quo de “líderes” dos trabalhadores do que construir a luta com a categoria, temos por consequência disto uma base desmobilizada e em boa parte desacreditada da luta sindical.

Gleisi Hoffmann não nos representa!

No próximo ano teremos eleições tanto para o Governo do Estado, quanto para a direção sindical, e neste momento as ações da direção sindical se dão no sentido de construir candidaturas para as eleições, por um lado temos a exposição personificada de dirigentes que deverão ser candidatos às estruturas sindicais no próximo período, por outro vemos um posicionamento repentinamente mais radicalizado frente ao governo do estado, porém sem maiores ações práticas de mobilizações da base da categoria, tudo com o intuito de impulsionar a candidatura da Ministra Chefe da

Casa Civil Gleisi Hoffmann. A direção sindical que deveria

estar representando os interesses da classe trabalhadora, se propõe neste momento a construir a campanha da nobre ministra, que recentemente se empenhou em atacar direitos de minorias como dos indígenas, em defesa do grande latifúndio.

Construindo a oposição de esquerda no APP

Portanto, nós da LSR-Paraná estamos juntos na organização da oposição para a disputa do APP – Sindicato em 2014. Formamos um Bloco denominado: APP - de Luta e pela base, juntamente com os camaradas da CSP-Conlutas e independentes. Vamos avançar neste próximo ano na mobilização da maior base sindical do Paraná que tem como filiados (as) 80 mil trabalhadores (as).

Diante desse debate propomos:• Fortalecer a oposição “APP –

de luta e pela base”• Construir núcleos de trabalha-

dores nas escolas• Desmascarar os governos neo-

liberais tanto PSDB (Beto Richa) quanto os PT (Gleisi Hoffmann), pois ambos não representam a classe trabalhadora e sim o capital

Além de não cumprir o acordo após a greve dos professores municipais, Haddad implementa uma contrarreforma na educação

Page 5: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

sindical • 5 Ofensiva Socialista n°16 novembro/dezembro - 2013

Lições da greve dos educadores no RJAs greves das redes estadu-al e municipal dos profissionais da educação do Rio de Janeiro, que duraram cerca de dois me-ses, foram os acontecimentos mais importantes da luta de classes no Rio de Janeiro, após as mobilizações das jornadas de junho. A greve desmasca-rou a politica educacional ne-oliberal da meritocracia de Ca-bral e Paes.

Luciano Barbozaprofessor membro do

Luta Educadora

O Sindicato Estadual dos Profis-sionais da Educação (SEPE-RJ) as-sumiu, junto com os movimentos populares, o protagonismo das lu-tas com a palavra de ordem de “Fo-ra Cabral, vá com Paes!”. Essa gre-ve histórica dos profissionais da edu-cação unificou para além do SEPE. A pressão da base fez com que es-sa luta fosse ampliada para resgatar uma das pautas das jornadas de ju-nho que era a defesa da educação pú-blica de qualidade.

Apesar deste protagonismo do SE-PE percebemos que a sua direção ma-joritária composta por PSOL (Insur-gência e APS) e PSTU não estavam à altura do momento histórico e fize-ram durante toda a greve uma leitura equivocada da conjuntura. Não apos-taram na enorme disposição de luta da categoria como o motor da greve.

Priorizaram as mesas de negocia-ção com os governos, em detrimen-to da radicalização e da luta dire-ta exigida pela base da categoria. Além disso, assembleia atrás de as-sembleia a direção defendeu a sepa-ração das greves das duas redes, di-ficultando a unificação das pautas e da luta direta através de atos unifi-cados que só ocorreram no final da greve, quando a base unificou as lu-tas passando por cima da direção em votação em assembleia.

A greve estadual foi abandonada

As duas redes tiveram níveis de adesão diferenciados às greves. En-quanto a greve da rede municipal mobilizou até 90% da categoria, a greve da rede estadual não decolou porque a direção do SEPE priorizou a rede municipal e abandonou o tra-balho de base como as passagens em escolas para mobilizar para a greve da rede estadual.

A rede estadual possui uma lógi-ca própria, oriunda da histórica gre-ve de 2011 que conquistou vitórias e enfrentou Cabral. Os ativistas da re-de estadual possuem mais experiên-cia em movimentos grevistas e apro-varam a proposta de greve em 2013 em assembleia mesmo contra a po-sição da direção do SEPE. As ações mais radicalizadas como a ocupa-ção da SEEDUC e o acampamento na ALERJ em 2013 demonstram o aprendizado das lições de 2011, um movimento que trouxe novos edu-cadores para lutar junto ao SEPE e novos métodos de ação direta. O co-letivo Luta Educadora (independen-tes, LSR, Reage e CRS) surgiu fruto desse processo junto a outros seto-

res descontentes com as práticas da direção do SEPE.

A rede municipal não fazia uma gre-ve há 19 anos. Porém, apesar de me-nos experientes, foi essa rede que assu-miu a liderança das lutas em 2013 co-locando mais de 20 mil pessoas mar-chando semana atrás de semana pela educação pública de qualidade. Estava engasgado na garanta dos profissionais da educação todos esses anos de pés-simas condições de trabalho.

A greve da rede municipal sofreu uma influência direta das lutas de ju-nho, pois muitos jovens profissionais da educação haviam participado dos protestos ganhando essa nova expe-riência de luta. Por isso aderiram no dia 08/08 à greve do SEPE, muitos mesmo sem serem filiados ao sindi-cato ou mesmo sem nunca terem ido a uma assembleia da categoria ante-riormente. A greve trouxe uma no-va camada de lutadores que haviam entrado na rede municipal recente-mente. Este setor fez greve mesmo estando em estágio probatório, o que demonstra a firmeza da luta dos edu-cadores por seus direitos.

A luta teve repercussão nacional

A ocupação da Câmara Municipal e os atos de rua que unificaram os trabalhadores da educação pública do ensino básico com outras catego-rias em greve e a população em ge-ral, e que levaram aproximadamen-te cem mil pessoas as ruas nos dias 7 e 15 de outubro (dia do professor), rememoraram as passeatas de junho e deram repercussão nacional e in-ternacional a nossa luta.

O coletivo Luta Educadora tem responsabilidade com o movimento, e por isso defendeu na última assem-bleia propostas diferentes para as re-des estadual e municipal, pois eram realidades totalmente diferentes. Co-mo a rede municipal continuava mo-bilizada defendemos a manutenção da greve. Na rede estadual defende-mos o fim da greve por causa dos processos administrativos sobre os profissionais da educação que feri-ram a categoria e haviam desmobi-lizado a greve nesse setor.

Infelizmente a radicalidade de uma nova camada de ativistas do SEPE não se expressou nas atitudes e negociações conduzidas pela atu-al direção com os governos. A gota d’água foi o acordo firmado no STF que pôs fim às greves sem garantir vitórias reais para a categoria. Por conta disso acirraram-se as disputas entre setores descontentes da base e a maioria da atual direção.

Nova camada entrando na luta

Apesar da defesa de um plano de carreira municipal não ter sido con-quistada, pois o plano aprovado pelo governo não representa os interesses da categoria, a greve tem um balanço positivo, pois formou um novo se-tor de educadores que entrou na luta.

O ponto negativo desta greve foi a forma de condução da greve pela direção do SEPE. A direção mano-brou várias assembleias desrespei-tando a base e chegou mesmo a não

cumprir algumas decisões tomadas em assembleias. A Luta Educadora defende a entidade SEPE, mas após essa greve nossos diretores do SE-PE são parte da oposição a esta dire-ção autoritária com sua base e vaci-lante nas negociações com o gover-no. Nós da LE condenamos o ataque feito ao site do SEPE acusando a di-reção de ser pelega, devemos dispu-tar nossas posições nas assembleias e não deslegitimando o site da enti-dade que nos representa.

A base radicalizada não é contra o SEPE enquanto entidade, é con-tra essa direção que esta burocrati-zada e deslocada da base, talvez por estar a mais de uma década à frente do sindicato, esta direção perdeu o contato com a sala de aula e as reais reivindicações dos professores que eram relacionadas às questões pe-dagógicas tão importantes quanto as questões econômicas. A base do SEPE também quer mais democra-cia dentro da sua entidade sindical.

A greve se encerrou com a base mais radicalizada na política do que a direção do SEPE, o que demonstra que estamos vivendo um novo perí-odo de lutas onde a burocracia sin-dical deve ser superada para não tra-var mais as lutas da categoria. A luta dos profissionais da educação guarda seus próximos capítulos para 2014, podendo explodir durante a Copa do Mundo de 2014! A luta certamente continuará em defesa da escola pú-blica, gratuita e de qualidade.

Porque a greve dos professores no Rio acabou no judiciário?Após pouco mais de 20 anos de uma ditadura que uniu em-presários e militares para ope-rar reformas “modernizantes” com mãos de ferro - reformas essas que não trariam nenhum benefício aos trabalhadores - no ano de 1988 vimos ser as-sinada a nova constituição que iria reger o novo momento polí-tico anunciado como democra-cia burguesa.

Marilia El-Kaddoum Trajtenberg

Mestranda em história da UFF e militante da LSR-RJ

Hoje, 25 anos depois, nos vemos obrigados a lembrar às autoridades de certos direitos aprovados naque-la época. Um desses momentos foi a greve dos profissionais da educa-ção no RJ, em que prefeito e o go-vernador desrespeitaram indiscrimi-nadamente os direitos dos trabalha-dores. Se por um lado os professo-res reivindicavam a constituição pa-ra se proteger, por outro, o desfecho da greve, muito aquém daquele que poderia alcançar, se deu por uma brecha desta mesma Carta Magna.

O poder normativo da justiça sobre a legislação sindical e o direito de greve permitiu que o STF medias-se a alta pressão que os trabalhado-res estavam fazendo de forma dire-ta aos governos. Tanto o desrespei-to aos direitos quanto a solução ju-dicializada demonstram como o ju-diciário pode atacar um a categoria.

Na Constituinte de 1988, a es-querda vai levar suas propostas ao congresso e consegue de fato algu-mas coisas, como o voto dos anal-fabetos e alguns direitos relaciona-das à questão indígena e negra, di-reitos das mulheres etc. Mas aqui-lo que realmente a classe empresa-rial precisava preservar ficou a sal-vo: sua vantagem no conflito direto entre capital e trabalho.

Com relação ao trabalho, a consti-tuição prepara o terreno para a che-gada do neoliberalismo e da cada vez maior flexibilização do traba-lho. Para dar um exemplo, Em 1966 as categorias que tinham direito a estabilidade no emprego depois de algum tempo de trabalho têm es-se dispositivo substituído pelo FG-TS. Esta insegurança, que é reafir-mada em 1988, não apenas é alta-mente lucrativa para a empresa, co-

mo atrapalha o trabalhador a exer-cer os direitos de organização e lu-ta adquiridos em 1988. Por essa ra-zão, direito de greve e livre organi-zação sindical só existem com for-ça para o setor público.

A mediação do STF, as sentenças de ilegalidade emitidas pelos juízes e a coragem dos governos de des-respeitar o direito de greve – com ameaças de demissão e assédio mo-ral –mostra que no final quem de-cide é o juiz.

É evidente, como começamos dizendo, que a justiça tem poder normativo sobre a organização dos trabalhadores, e a Constituição de 1988, apesar de anunciar ter acaba-do com o maior entrave que já exis-tiu à luta dos trabalhadores – a legis-lação sindical corporativa que vin-culava o sindicato ao ministério do trabalho – deixou a salvo um dispo-sitivo que permite ao Estado pren-der as rédeas da classe trabalhadora sempre que essa lhe produza a ame-aça de colocar cem mil pessoas na rua. Cabe a nós ter clareza de que, apesar das brechas (sempre fruto da luta), as leis não foram feitas para proteger o oprimido, mas para man-tê-lo nesta condição.

Uma nova camada de professores ajudou a radicalizar a greve no ensino do Rio de Janeiro.

Page 6: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

6 • 4° congresso do PSOL Ofensiva Socialista n°16 novembro/dezembro - 2013

4º Congresso do PSOL

Randolfe é provocação!Não queremos um PSOL light ou uma Marina Silva de gravata!O Brasil rebelde de junho exi-ge muito mais do que a esquer-da brasileira está conseguindo oferecer. O tremor de terra das multidões nas ruas deveria ter servido para chacoalhar a poei-ra e o cheiro de mofo acumula-dos em anos de relativo reflu-xo das lutas. Mas, a lógica roti-neira das disputas burocráticas intestinais, do eleitoralismo e da fragmentação insiste em se manter.

André FerrariDiretório Nacional do PSOL

O impasse, a crise e o retrocesso provocados pela direção majoritária do PSOL no processo de seu 4º Con-gresso refletem a força do velho que insiste em se manter mesmo quando o novo surge disposto a varrer estru-turas ossificadas que já não cumprem o papel a que se propuseram.

O PSOL não é o único personagem desse drama, nem é o pior necessaria-mente, mas é onde ele se mostra com

todas as caras e cores. Como princi-pal espaço de reorganização da es-querda socialista depois da perda de-finitiva do PT para o grande capital, é no PSOL que as contradições des-se árduo processo se mostram de for-ma mais clara.

Provocação

A provocação representada pela proposta de que Randolfe Rodrigues seja escolhido pelo Congresso como o candidato a presidente pelo PSOL em 2014 é inaceitável para qualquer militante socialista. Mas, trata-se apenas a ponta do iceberg de um re-trocesso que já vinha se dando antes.

Não se trata apenas de nomes ou indivíduos. Trata-se do projeto que está por trás dessa iniciativa. Ao pro-por Randolfe, os setores alinhados com a Tese “Unidade Socialista por um PSOL popular” assumiram ple-namente sua opção pela linha adota-da no Amapá, seu significado políti-co, seu projeto e seus métodos.

Randolfe Rodrigues e o bloco da

mal chamada “Unidade Socialista” defendem as alianças políticas re-correntes com partidos e políticos de direita promovidas por Randolfe no Amapá. Justificam e reiteram o elei-toralismo que os levou a chamar Lu-la, Dilma e ministros do governo para o programa de TV do PSOL em Be-lém nas eleições de 2012.

Eles insistem em manter a política de alianças votada no Diretório Na-cional do partido em 2012 que orien-ta alianças na direção do campo lu-lista e ainda permite coligações com pequenos partidos de direita. Conti-nuam também a defender uma linha geral de voto no PT no segundo tur-no, apesar do fato de que esse parti-do segue sendo o principal represen-tante da classe dominante à cabeça do governo federal.

No lugar de reafirmar o PSOL co-mo uma força política claramente identificada com a radicalidade das ruas, jogam o partido na vala comum dos políticos tradicionais e confun-dem nossa bandeira vermelha com a bandeira desbotada de uma ex--esquerda que hoje serve ao que há de mais retrogrado no país: bancos, agronegócio, empreiteiras, multina-cionais, especuladores, concessio-nários privados de serviços públi-cos, conglomerados de ensino e saú-de privados, etc.

Randolfe Rodrigues e a política da “Unidade Socialista” colocam o PSOL na contracorrente do que de mais avançado surgiu no país no ulti-mo período, a força das ruas, do povo mobilizado, da juventude radicaliza-da e dos trabalhadores dispostos a se mover contra os ataques que sofrem.

Uma alternativa light?

Ao propor Randolfe, o bloco da “Unidade Socialista” aposta todas as fichas numa linha de conciliação crítica com o sistema político. A ima-gem mais clara dessa linha foi a vi-sita de Randolfe a Dilma Rousseff em pleno processo de mobilizações de massas durante o mês de junho.

Que outro sentido teria essa inicia-tiva infeliz a não ser o de construir uma imagem de quem, mesmo vindo de um partido que nasceu para apoiar as lutas nas ruas, mostra-se, porém, aberto ao diálogo e a saídas institu-cionais controladas.

Se naquele momento até mesmo os amigos mais fiéis de Randolfe, in-cluindo o presidente do partido Ivan Valente, vacilaram em relação à li-nha adotada pelo eminente senador – o que levou a que essa postura de Randolfe fosse rejeitada pela Execu-tiva Nacional do partido – logo em seguida, passou a ser a linha oficial dessa ala do PSOL.

A retirada da pré-candidatura de Marina Silva, que não conseguiu le-galizar seu novo partido e acabou fi-liando-se ao PSB de Eduardo Cam-pos, reforçou essa linha de transfor-mar o PSOL em uma alternativa li-ght ao governo e ao sistema político.

A política do campo majoritário

do PSOL hoje é moderar o perfil ra-dical do partido e identificá-lo cada vez mais com uma alternativa pon-derada, razoável, avessa a confron-tos, ainda que também mantenha um verniz crítico ao status quo.

Para ocupar o espaço que foi de Marina, segundo a ala majoritária, Randolfe deveria travestir-se de Ma-rina. Isso significa na prática adotar todas as ambiguidades e contradições do ‘marinismo’ e da fracassada ‘Re-de Sustentabilidade’. Isso significa matar o PSOL e impor um retroces-so na recomposição da esquerda so-cialista brasileira.

Métodos petistas na disputa interna

Ao fazer essa provocação à mili-tância socialista do PSOL, declaram guerra ao projeto fundacional do par-tido. O PSOL nasceu a partir de um projeto de recomposição da esquer-da socialista no Brasil baseado na in-dependência de classe dos trabalha-dores, no vínculo direto com as lutas populares, na defesa de um progra-ma anticapitalista e socialista e nas relações de ampla democracia inter-na. Surgimos como a única oposição de esquerda com vocação de massas diante do todo-poderoso lulismo, ao mesmo tempo em que proclamamos e logramos obter a unidade da esquerda não governista em muitas situações.

O setor hoje majoritário elimina qualquer possibilidade de convivên-cia interna na medida em que impõe sua posição com base na truculência, burocratismo e na armação de gran-des esquemas de irregularidades e mesmo fraudes na busca da constru-ção de uma maioria no Congresso.

Para impedir a fiscalização das Ple-nárias de base, manipularam listas, impediram o acesso de militantes com outras posições, utilizaram-se de agressões físicas, de seguranças contratados e da presença da Polí-cia Militar em Plenárias. O estado do Amapá de Randolfe Rodrigues foi o cenário privilegiado desse ti-po de ação. Mas, em outras regiões chegaram ao cúmulo de apelar para carreiristas vinculados a partidos e governos burgueses para que os aju-dem a conseguir uma maioria. Foi o caso daqueles que foram para o PSB em Minas Gerais e mesmo assim votaram no processo do Congresso e daqueles que estão em governos burgueses como no caso de Palmas (TO). O caso dos marginais que ten-taram vender dossiês no Rio é o caso extremo desse tipo de prática.

Também reproduziram no interior do partido os piores métodos petis-tas de arregimentação e mobilização clientelista de uma base filiada ao partido não para militar, mas exclu-sivamente para garantir uma “maio-ria” artificial de delegados.

O método utilizado reflete a políti-ca adotada. Depois de junho só exis-te uma forma de fazer com que essa política saia vitoriosa: impor a der-rota à esquerda do partido através de

meios escusos. Não percebem que to-dos sairão perdendo com isso.

Dessa forma, preparam o caminho para mais conflitos, fragmentação e divisão entre nós. Tudo para fazer va-ler seu projeto conciliatório e eleito-ralista. Isso exatamente no momen-to em que a unidade da esquerda em torno de um projeto radical, socialis-ta, de luta, se coloca como mais ne-cessária que nunca.

Campanhas a serviço das lutas e do socialismo

A lógica de apresentar o PSOL co-mo uma alternativa light represen-ta uma opção exclusiva pela insti-tucionalidade. A disputa eleitoral se tornaria o centro absoluto das ações do PSOL, relegando a luta direta dos trabalhadores a um mero instrumen-to auxiliar disponível aos candida-tos do partido.

Ainda assim, trata-se de uma opção temerária pois é extremamente tosca a visão de que a moderação na postu-ra é necessariamente mais eficiente do ponto de vista eleitoral. Depois de ju-nho, o grande desafio do PSOL é ofe-recer um caminho político estratégi-co aos movimentos em luta. Permitir que deem uma passo adiante assumin-do uma estratégia política de transfor-mação profunda, radical, que só pode ser anticapitalista e socialista.

Como já observamos em outros pa-íses, como é o caso recente do Chi-le, milhões que tomaram as ruas es-tão desiludidos com a “política insti-tucional” e as eleições. Chegar a es-se setor é o grande desafio do PSOL. Para isso é preciso mostrar radicali-dade e diferenciar-se profundamen-te do sistema político. Caso contrá-rio, serão os votos nulos, brancos e abstenções que prevalecerão, mes-mo com o voto obrigatório no Brasil.

Mas, o central é discutir qual a es-tratégia do PSOL: canalizar a insa-tisfação popular para a instituciona-lidade burguesa e assim contê-la ou aprofundar e radicalizar essa insatis-fação na linha de construir uma al-ternativa de poder baseada na força das ruas, dos trabalhadores e do po-vo oprimido?

Nós da LSR somos plenamente favoráveis a utilização dos espaços eleitorais para a disputa política. En-tendemos que o ano de 2014 abrirá muitas possibilidades para uma es-querda socialista consequente inclu-sive no campo eleitoral. Queremos a vitória eleitoral do PSOL, a conquis-ta de mandatos e o fortalecimento do partido na institucionalidade.

Mas, queremos isso para fazer avançar a luta dos trabalhadores com uma perspectiva socialista e não para reproduzir a lógica do PT de acumulo de forças na institucionalidade cujo desfecho todos conhecemos. O centro de nossa ação deve ser a organização e luta direta de nossa classe com base em uma estratégia socialista.

Para isso o PSOL deve se construir como um partido afiado com as ruas, de luta, socialista e, não menos im-

Randolfe e seus amigos: fazendo campanha eleitoral para Lucas Barreto do PTB em 2010 e com Dilma Rousseff durante a tentativa da presidenta

de retomar a iniciativa pós junho com proposta de reforma política.

Page 7: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

4° congresso do PSOL • 7 Ofensiva Socialista n°16novembro/dezembro - 2013

Mandatos de esquerda perseguidos na Câmara dos Vereadores em NatalOs vereadores Sandro Pi-mentel (PSOL), Marcos Anto-nio (PSOL) e Amanda Gurgel (PSTU), eleitos em 2012 pe-la Frente de Esquerda, sofrem perseguição na Câmara Munici-pal de Natal. Desde o início do ano, os três mandatos já rece-beram diversas ameaças, como processos no comitê de ética e boletins de ocorrência. Todas essas acusações visam enfra-quecer as lutas populares que os três vereadores defendem.

Isabel Keppler

Afinal, a quem eles estão incomo-dando? O vereador que encaminhou o processo para o comitê de ética já foi condenado por corrupção pe-la Operação Impacto, do Ministé-rio Público Federal. Esse vereador segue impune até hoje, seu manda-to não foi cassado. Qualquer puni-ção que um dos três mandatos sofre-

rem será mais um exemplo a servi-ço de quem está essa Câmara Muni-cipal de Natal!

No dia 18 de novembro, foi rea-lizado um ato em solidariedade aos mandatos, com cerca de 250 pesso-as de diversos movimentos sociais e entidades, como MST, SindForte, SindSaúde, SindBancários, Movi-mento Mulheres em Luta, além da militância do PSOL e PSTU. O ato

seguiu em caminhada até a Câmara Municipal. Lá, uma comissão se or-ganizou para falar com o Presidente da Câmara, Albert Dickson, exigin-do o arquivamento dos processos, através de um abaixo-assinado com assinatura das diversas organizações e moções de apoio que foram enca-minhadas no último periodo. No par-lamento e nas ruas, a criminalização dos que lutam não passará!

Mês da Consciência NegraRenatão do Quilombo – primeiro vereador quilombola toma posseRenatão do Quilombo tomou posse como primeiro verea-dor quilombola do Brasil. Ele é remanescente de quilombo e exerce importante liderança na comunidade do Quilombo do Grotão, na Serra da Tiririca no Engenho do Mato.

Luciano Barbozaexecutiva estadual do PSOL-RJ

À frente da comunidade forma-da pelo seu avô, Manoel Bonfim, que estabeleceu o Quilombo no En-genho do Mato, sua família vive há quase um século no local , onde te-ve inclusive papel fundamental na luta que originou a primeira refor-ma agrária do Brasil, na década de 60, em Niterói.

Renatão é conhecido defensor do meio ambiente e dos direitos das co-munidades locais, tem participação importante na defesa do Parque Es-tadual da Serra da Tiririca. À fren-te do Quilombo do Grotão, resga-tou costumes e tradições da região, como a Roda de Capoeira, o Jongo, Rodas de Samba de Raiz, em defe-sa da Cultura Negra.

Renatão obteve 1.013 votos para

vereador em 2012 e tornou-se 1º Su-plente do PSOL Niterói. Com a bre-ve licença do vereador Paulo Eduar-do Gomes (que precisou se ausentar da Câmara durante o mês de novem-bro para proferir uma série de pales-tras em diversos países da Europa a convite de Paul Murphy membro do Parlamento Europeu e do Comi-tê por uma Internacional dos Traba-lhadores), Renatão do Quilombo as-sumiu o mandato no mês da Consci-ência Negra e pretende ampliar a lu-ta de combate ao racismo e defender ideais ecossocialistas.

“A luta em defesa do meio am-biente, das mais diversas formas de cultura popular e a defesa do povo negro terão forte destaque no nos-so mandato. Dedico esse mandato a todas as comunidades de Niterói. A porta do meu gabinete estará sempre aberta a todas e todos os que lutam por uma cidade mais justa e frater-na”, disse Renatão do Quilombo, que fez uma série de atividades durante o mês de novembro, mês da Cons-ciência Negra.

O dia 20 de novembro de 1695 é o dia da morte de Zumbi dos Palma-res, o mais importante líder negro do Quilombo de Palmares, uma co-munidade autossustentável, formada

por escravos fugidos das fazendas. Aos 40 anos Zumbi morreu lutando pela libertação de todos os escravos e tornou-se o mártir da abolição da escravatura. Em 1995 após anos de reivindicação do movimento negro, essa data foi adotada como o dia da Consciência Negra.

Comemorando o mês da Consciência Negra

O dia 20 de novembro de 2013 foi comemorado em Niterói com grande festa no Quilombo do Grotão. Para a data foram desenvolvidas atividades fortemente influenciadas pela cultura negra como roda de samba, capoeira e a especial feijoada, além da exibi-ção do artesanato local.

“Festejamos a liberdade, conquis-tada pela luta de Zumbi dos Palma-res, o mais importante líder negro do Quilombo dos Palmares, már-tir da abolição da escravatura. Pa-ra nós, que estamos envolvidos no movimento negro, o dia da consci-ência, da independência, é o dia de Zumbi”, disse Renatão.

Acesse a página da internet do mandato do Renatão do Quilombo: renataodoquilombo.com/site, e fi-que por dentro das notícias da cidade

portante, organizar-se de forma radi-calmente democrática.

O caminho do Bloco de Esquerda

A construção de um bloco políti-co no PSOL oposto ao giro à direita promovido pelo campo da Tese “Uni-dade Socialista” representa um passo adiante significativo e uma esperan-ça no sentido de barrar a linha suici-da da direção majoritária.

O Bloco de Esquerda cumpriu um papel importante na denuncia da li-nha oportunista da direção majoritá-ria e na fiscalização do processo con-gressual. A existência do Bloco im-pediu uma fragmentação dos seto-res de esquerda do partido e ajudou a construir uma referência para mui-tos militantes honestos e combati-vos do PSOL.

É preciso apontar, porém, que o Bloco de Esquerda esteve aquém de suas enormes responsabilidades em muitos momentos. O principal é que faltou ao Bloco a totalização de uma linha política geral capaz de permi-tir uma ofensiva ainda mais forte da esquerda do partido. A impossibili-dade de construirmos uma proposta unitária de candidatura presidencial do Bloco de Esquerda reflete isso e enfraqueceu nossa atuação.

O principal adversário interno que tivemos no Bloco foram os elemen-

tos de ilusão nas possibilidades de conciliação com o bloco majoritário e de saídas consensuais. Isso esteve presente, por exemplo, na discussão em torno da hipótese de candidatura de Chico Alencar que supostamente estaria acima das diferenças internas.

Qualquer ilusão de recomposição e conciliação nesse momento com a ala Randolfista só representa aprofundar esse erro. É preciso seguir um cami-nho diverso. É preciso mostrar até o fim que não aceitaremos as fraudes e a provocação representada pela can-didatura de Randolfe. Isso precisa fi-car mais claro que nunca!

O papel do Bloco de Esquerda é utilizar o acumulo político positivo de sua batalha interna e sua constru-ção real nas lutas para seguir o com-bate por uma alternativa de esquer-da e socialista no PSOL, nas lutas, nas eleições e em todos os espaços.

O Bloco de Esquerda é majoritário entre a militância ativa do partido, entre o que há de melhor no PSOL. Em 2014 terá condições de aprovei-tar os espaços que existirão, nas lu-tas e nas eleições, para fortalecer-se e garantir um perfil e um projeto de esquerda para o partido.

A LSR continuará lutando pela uni-dade da esquerda socialista de den-tro e de fora do PSOL. Temos a con-fiança de que o Brasil depois de ju-nho abre oportunidades valiosas para o avanço da luta socialista no Brasil.

Queremos um PSOL afinado com as ruas: de luta, socialista e radicalmente democrático.

Renatão tomando posse como primeiro vereador quilombola.

Querem calar a luta em Natal.

Paulo Eduardo Gomes durante atividade do Partido Socialista

na Inglaterra.

Page 8: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

8 • sindical/nacional Ofensiva Socialista n°16 novembro/dezembro - 2013

Encontro fortalece a pauta de saúde do trabalhador na CSP-ConlutasNos dias 9, 10 e 11 de novem-bro, no sindicato dos petrolei-ros em São José dos Campos ocorreu o primeiro Encontro Nacional de Saúde do Trabalha-dor da CSP-Conlutas. O encon-tro contou com cerca de 180 pessoas de diversas entidades, de vários estados brasileiros como Rio de janeiro, Minas Ge-rais, Ceará, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia, etc. Dentre estes militantes estavam sin-dicalistas, cipeiros, delegados sindicais e trabalhadores da base de diversas categorias co-mo construção civil, comerciá-rios, metalúrgicos, professores e trabalhadores do judiciário.

Daniel Lucapsicólogo, assessor de saúde

do trabalhador do Sintrajud

O encontro reafirmou a grande im-portância da pauta da saúde do traba-lhador, proporcionou o debate apon-tando os problemas enfrentados pe-los trabalhadores pelo Brasil a fora com adoecimentos e acidentes do trabalho, apresentou conceitos teó-ricos sobre o tema relacionando com a realidade e também possibilitou a troca de experiências de atuações em saúde do trabalhador que tem con-quistado vitórias.

Reestruturação produtiva: Lucro à custa da saúde

dos trabalhadores

Após a crise do capital nos anos 70, houve a uma queda nas taxas de lucro. A burguesia apostou em mu-danças na forma de produção, distri-buição de mercadorias, entre outras. No Brasil, estas mudanças foram im-plementadas com certo atraso, pois nos anos 70 e 80 a classe trabalha-dora brasileira encontrava-se bastan-te ativa politicamente com greves e lutas políticas. Porém, nos anos 90 essas mudanças começam a ocorrer.

Isso se manifestou como o neoli-beralismo na política de estado e co-mo reestruturação produtiva na eco-nomia. O modelo toyotista represen-ta a maioria destas mudanças aplica-das, uma nova forma de gestão pau-tada em três principais objetivos: au-mento da produtividade, aumento da qualidade dos produtos e redução de custos. Dentre as formas de alcançar estes objetivos estão a terceirização, redução de pessoal, polivalência (isto é, a diversificação da quantidade de tarefas a ser realizadas por um mesmo trabalhador, que acumula funções que antes eram realizadas por 2, 3 ou mais trabalhadores), robotização, disputa ideológica dos trabalhadores (obscu-recendo a relação de classe e tratan-do, no discurso, o trabalhador como

um “colaborador”, visando fazer com que ele “vista a camisa da empresa” ), além de impor metas aos trabalha-dores e exercer grande pressão para que eles a atinjam.

Essa nova forma de produção, que se manifesta de maneira diferente em cada setor e que é perceptível em qua-se todos os ramos de alguma forma, é responsável por uma cruel intensi-ficação do trabalho que leva a diver-sos adoecimentos físicos, mas tam-bém muitos adoecimentos psicoló-gicos. Esta nova forma de organiza-ção do trabalho é apontada por mui-tos sindicalistas presentes como um fator que leva a um grande aumen-to dos adoecimentos e acidentes do trabalho, que esgota fisicamente di-versos trabalhadores e gera tamanha pressão e sofrimento psíquico que de-sencadeia diversos quadros depressi-vos, bipolares, de transtornos de an-siedade, entre outras psicopatologias.

O assédio moral: uma arma da burguesia

Entre os diversos problemas apon-tados no encontro, ficou claro que um deles era enfrentado por quase todos os trabalhadores, dos diferen-tes setores e locais do Brasil: o as-sédio moral.

Comumente relacionado à pressão pelo cumprimento de metas, as em-presas e instituições utilizam-se de ofensas, humilhações, constrangi-mento, isolamento entre outras prá-ticas para forçar que os trabalhado-res se esforcem para além dos seus limites de saúde na produção para as-sim ampliar ao máximo seus lucros, independente do sofrimento psíqui-co que isto acarrete.

O assédio moral também é uma ferramenta utilizada para “se livrar” daqueles que, por algum motivo, são indesejados pela empresa. Como tra-balhadores adoecidos, que eviden-ciam o papel adoecedor do trabalho, e militantes, que denunciam e com-batem os problemas do local de tra-balho. Este é um fato bastante triste, pois foram recorrentes falas de luta-dores que foram vítimas de assédio moral e que ainda carregavam o so-

frimento desta violência psicológica.Mas, um assunto polêmico também

foi abordado no encontro e que mere-ce atenção dos lutadores: a ocorrência de assédio moral nos sindicatos. Não podemos fingir que isso não ocor-re, infelizmente muitos dos que lu-tam pelos trabalhadores reproduzem a violência psicológica dentro das en-tidades, seja com outros diretores ou com funcionários e comumente rela-cionado de forma íntima com as dis-putas políticas dentro do sindicato. É preciso que o movimento sindical pa-re de jogar as denúncias para debai-xo do tapete e articule ações efetivas para extinguir tais práticas das enti-dades dos trabalhadores.

Armar o movimento sindical na luta

pela Saúde

O encontro reafirmou que, frente a atual realidade da organização do tra-balho é cada vez mais necessário os sindicatos buscarem ir além do eco-nomicismo, e darem, também, gran-de peso às pautas relacionadas à or-ganização do trabalho e à saúde e se-gurança do trabalhador. É fundamen-tal que os sindicatos busquem estru-turar secretarias e departamentos de saúde do trabalhador, que se instru-mentalizem para abrir CAT, fortale-cer as CIPAs, denunciar as más con-dições de trabalho, se aproximar dos CERESTs, contratar profissionais de saúde, entre outras atuações.

Mas, infelizmente, apesar do en-contro ser vitorioso e jogar um pa-pel muito importante na luta nesta área, é essencial fazermos um balan-ço que a participação foi ainda muito baixa, mostrando como grande parte dos sindicatos filiados à CSP-Con-lutas ainda não dão o devido valor à esta questão. Por isso se faz impor-tante o compromisso tirado na ple-nária final do encontro, de pautar es-se debate nas entidades e na base das categorias, de fortalecer o setorial da CSP-Conlutas de saúde do trabalha-dor e organizar encontros estaduais e regionais no próximo período.

Está certo que este é apenas o pri-meiro encontro, mas não temos tempo a perder. A situação atual é muito grave e provavelmente ficará ainda pior. O capital passa por uma crise econômi-ca mundial e a conta desta crise conti-nuará sendo jogada nas costas dos tra-balhadores, representando mais cortes em seus direitos. A deterioração das condições de trabalho gerada por es-tes ataques irão intensificar ainda mais os danos à saúde dos trabalhadores. Se não conseguirmos construir gran-des mobilizações dos trabalhadores, continuaremos a chorar o adoecimen-to e a morte de nossos(as) amigos(as), companheiros(as) e colegas.

Ainda é junho em Belo Horizonte...Depois de junho, o Brasil não é mais o mesmo. E esta afirma-ção não deixa de ser verdadei-ra para os mineiros belorizonti-nos. A farsa do choque de ges-tão dos atuais governos não corresponde à realidade da ju-ventude e dos trabalhadores.

Lucas AguiarCoordenação de

Movimentos Estudantil – C.A. Medicina da UFMG

Somos submetidos a uma lógica de mobilidade urbana que sacrifica o transporte público para favorecer os usuários de automóveis. Além disso, os cartéis que dominam a di-reção das empresas de ônibus são constantemente fortalecidos e fa-zem o que bem entendem para au-mentar seus lucros. O preço da pas-sagem aumenta, mas as condições do serviço são precárias e a lógica é perversa. Nosso objetivo é um: Ta-rifa Zero! Com a alteração da lógica de organização dos transportes co-letivos, a cidade pode ser finalmen-te ocupada pelo povo!

Saúde pública

A saúde pública é outro campo constantemente colocado em peri-go: a precarização do SUS contrasta fortemente com os privilégios que são concedidos aos planos de saú-de! Com mais médicos ou menos médicos, os serviços de saúde pú-blicos e universais vão continuar minguando em qualidade e capa-cidade, já que é de interesse dire-to de muitos dos nossos governan-tes a manutenção do sucateamento. Além disso, a EBSERH (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) vem galgando espaço e ameaçando a autonomia universitária da UFMG em um contrato que está sendo em-purrado goela abaixo pelos gover-nantes e pela reitoria da universi-dade, que mostra não ter sensibili-dade alguma com os gritos dos es-tudantes e servidores técnico-ad-ministrativos. Participamos do Fó-rum em Defesa do SUS para deba-ter com outros setores as ações que podem ser executadas.

Ocupações eclodem a todo mo-mento na grande BH, mostrando que o povo está insatisfeito com a hegemonia da especulação imobi-liária e com o descaso do governo

de Lacerda no que tange a questão de moradia. Bairros inteiros são re-movidos devido a intervenções ur-banísticas que não são acessíveis aos mais pobres, em contraste com alguns bairros de classe média-al-ta que se parecem com uma bolha, com uma cena das novelas de Ma-noel Carlos, onde os moradores de rua são expulsos dos únicos lugares que eles teoricamente têm acesso: as praças e ruas.

Ocupando as ruas

A ocupação das ruas por estudan-tes, movimentos sociais, culturais, sindicais, ou por quem quer que seja é um ato de resistência! Pelo aces-so aos espaços públicos e pela li-vre manifestação, política, cultural ou simplesmente pelo direito de ir e vir! A polícia militar é truculen-ta e preconceituosa. Ela age como o verdadeiro cão de guarda da pro-priedade privada, sendo os policiais os gatilhos que executam o plano de execução da população negra, pobre e marginalizada e a criminalização dos movimentos sociais e de mani-festantes. Pelo fim da polícia mili-tar! Pelo imediato processo de des-militarização da PM!

Portanto, é consenso que há mui-to a ser feito e só a luta muda a vi-da. E não há ninguém que saiba me-lhor o que significa a palavra “lu-ta” que o povo, os jovens, os traba-lhadores, porque a nossa realidade nos impõe batalhas duras todos os dias! A tarefa colocada atualmente é fortalecer os espaços coletivos pa-ra construir conjuntamente as estra-tégias de organização e intervenção na nossa realidade.

Organize-se!

Por isso, nós da LSR – Liberda-de, Socialismo e Revolução – en-tendemos a importância destas lutas e nos esforçamos para construí-las com os outros setores da sociedade, atuando nas principais frentes de lu-ta e mobilização como o Tarifa Ze-ro, o Fórum em Defesa do SUS e o Movimento Mulheres em Luta. En-tão, se você também não quer assis-tir sentado todos os problemas que são empurrados para o povo pelos partidos da ordem, entre em conta-to conosco para que possamos dis-cutir e nos organizar para as próxi-mas lutas!

Organizando a luta popular no Sítio CercadoTrabalhadoras, trabalhadores e jovens se reuniram no dia 21 de novembro para discutir os problemas do Sítio Cerca-do, bairro de Curitiba.

Jean CruzLSR Curitiba

A reunião foi uma iniciativa da LSR e apontou a necessidade de dar continuidade à organização dos tra-balhadores do bairro.

As demandas são básicas, como: calçadas para moradores e estudan-tes transitarem em segurança no seu próprio local de moradia, trabalho e estudo, além de saúde, transpor-te e educação pública de qualidade.

Para ter ideia do modelo de cida-de que Curitiba é, no Batel, bairro nobre da capital paranaense, as cal-çadas são de granito, o que custou ao bolso dos trabalhadores e aos co-fres públicos cerca de R$ 3 milhões, com direito a revitalização de todo o local, enquanto no Sítio Cercado não tem se quer calçadas nas ruas.

Foi decido coletivamente fazer um panfleto chamando outra reu-nião já na próxima semana, onde um número maior de trabalhado-res possa participar e começar a lu-ta no bairro.

Um movimento puxado pelos tra-balhadores e a juventude do Sítio Cercado está sendo construindo. Agora é se organizar e lutar pra ver.

Page 9: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

A primeira greve do serviço público municipal em Rio das OstrasO Movimento de Junho abriu caminho para a reorganização dos trabalhadores no Brasil. No Estado e Município do Rio de Janeiro, o movimento grevista dos professores inspirou diver-sos outros setores, inclusive de outras cidades, a resgatar a GREVE, esta importante ferra-menta de luta da classe traba-lhadora.

Jonathan Mendonça professor da Rede Pública

de Ensino de Rio das Ostras e Macaé e militante da Luta

Educadora e Presidente Municipal do PSOL

Em Rio das Ostras, os trabalha-dores do serviço público municipal, após uma greve dos guardas muni-cipais; paralisação de professores; grandes movimentos de junho; ocu-pação de câmara; grito dos excluí-dos; fora Cabral; e outros diversos movimentos construídos pelos ati-vistas da cidade construíram esta greve que foi motivada pela falta de diálogo do prefeito com o sindica-to para tratar as questões do aumen-to salarial, valorização profissional e condições de trabalho.

O prefeito, durante cerca de 2 me-ses não abriu diálogo, embora, já du-rante a greve, tenha afirmado na mí-dia local, TV, jornal, rádio, televisão

e através de informativos da prefei-tura com este fim, que “sempre es-teve aberto ao diálogo”, e que “Rio das Ostras não possui dinheiro pa-ra um aumento superior ao propos-to”, de 5,69%.

A Câmara dos Vereadores apro-vou o projeto enviado pelo prefei-to em duas votações em 12 e 13/11, sob muitos protestos dos servidores. O presidente da casa, vereador Ni-ni, restringiu o número de pessoas na casa e proibiu a entrada com ins-trumentos que pudessem “fazer ba-rulho”, além de proibir o uso de ce-lular (com o intuito de não permitir a filmagem da sessão).

220% para os vereadores

Alguns dos vereadores que eram situação no governo passado apro-ximaram seus discursos dos servi-dores para ganhar a simpatia des-te setor. Carlos Afonso, antigo pre-sidente da casa, corresponsável pe-la criação das 4 Secretarias que es-candalizaram a cidade, pelo aumen-to de 220% para os vereadores, pela aprovação do Plano de Cargos, Car-reiras e Vencimentos sem a partici-pação dos servidores, dentre outros, agora se coloca como oposição, di-zendo que está do lado do servidor junto a outros vereadores.

Do outro lado, o presidente da ca-sa, Nini, que no governo laranja se

demonstrava como oposição, inclu-sive “dialogando” com o sindicato, hoje aprova, junto a outros vereado-res, a reposição salarial à revelia do que querem os servidores. Também mantém na casa um Regimento In-terno que impede todos os assisten-tes de se expressarem e os popula-res de utilizarem o Púlpito.

Na verdade, nenhum destes seto-res está do lado dos servidores. Es-tão criando uma guerra interna pa-ra disputa da presidência da casa. E esta guerra não é nossa! No momen-

to que for necessário eles se junta-rão contra a população como já vi-mos diversas vezes nas homéricas oscilações de parceria entre Carlos Augusto, Sabino, Gelson e ‘Broder’.

Por tudo isto, fez-se necessário um movimento grevista. Entretanto, o SindServ (Sindicato dos Servido-res Públicos Municipais de Rio das Ostras) demorou muito para dar res-postas. A prática CUTista de priori-zar a institucionalidade fez com que o movimento perdesse o momento histórico de modo que a greve só te-

nha sido deflagrada após a aprova-ção do dissídio.

Em diversos outros momentos, fi-cou evidente que a direção do sindi-cato recuava quando era necessário avançar. Defendemos a construção da greve desde o início deste pro-cesso e acreditamos que a direção, muitas vezes sob o falso argumen-to da inviabilidade jurídica, desmo-bilizou setores importantes na cons-trução deste movimento.

Aprendizados da primeira greve

Acreditamos que o sindicato te-nha de se responsabilizar pela cons-trução da greve, garantindo a estru-tura, rodando as bases para mobili-zar, tomando a frente e avançando a consciência dos trabalhadores pa-ra a necessidade de ações que cons-tranjam a inércia do governo diante do diálogo com a categoria.

Saímos desta greve com muitos aprendizados e com a certeza de que estefoi um dos momentos mais im-portantes da história política da cida-de: a primeira greve dos servidores públicos municipais. Agora, temos de repetir os acertos e não cometer os mesmos erros rumo à construção de uma nova mobilização mais estrutu-rada que obrigue o governo a recuar e traga novas vitórias aos servidores.

movimentos/sindical • 9 Ofensiva Socialista n°16 novembro/dezembro - 2013

MTST organiza Seminário vitorioso pelo direito à moradia digna em SPEm seminário organizado no úl-timo dia 24 de novembro, o MTST reuniu dezenas de comu-nidades e ocupações no intui-to de unificar as lutas das dife-rentes comunidades da Gran-de São Paulo. Ao final do ato foi deliberado a construção de uma grande Jornada Nacio-nal de Lutas em defesa da mo-radia, prevista para o início de 2014, que deve parar o país.

José Afonso da Silva

Os reflexos das Jornadas de Junho ainda perduram por todo país. Pro-va disso é a quantidade de lutas de diferentes setores da sociedade que vem se organizando por direitos nos últimos meses.

Temos visto ações que vão do res-gate dos beagles do Instituto Royal aos protestos dos jogadores de fute-bol que reivindicam um calendário mais justo, das manifestações con-tra os crimes da polícia militar a luta por melhoria dos serviços públicos.

Com o movimento popular não é diferente. De junho para cá, somen-te na cidade de São Paulo, já foram mais de 110 ocupações de terrenos baldios ou reservados para a especu-lação imobiliária. São, na sua gran-de maioria, ocupações espontâne-as, efetuadas por aqueles que não aguentam mais esperar pelas pro-messas dos governos para resolver o problema da falta de moradia pa-ra a população mais pobre.

Também marca esse período a lu-ta das comunidades que estão em processo de urbanização. Um bom

exemplo disso foram as manifesta-ções realizadas pelos moradores da comunidade Estaiadinha, zona nor-te de São Paulo, que por várias ve-zes fecharam a Marginal do Tietê como forma de resistência ao des-pejo implementado pela prefeitura de São Paulo.

Assim como vem acontecendo em outras comunidades em processo de urbanização, as famílias são despe-jadas do terreno com uma mão na frente e outra atrás. Se a comunida-de não reage e enfrenta a truculên-cia da prefeitura e da polícia, a situ-ação ficaria muito pior.

O povo da periferia está mobiliza-do e deixa clara sua indignação com a realização de ocupações, com tra-vamentos de rodovias ou até mes-mo com ações de maior impacto. Es-se levante da periferia é muito im-portante, pois demonstra que o po-vo pobre não aceitará passivamen-te o abandono e o descaso a que são submetidos pelos governos.

Unificar as lutas

No entanto, essas várias lutas vem ocorrendo de forma isolada, sem uma coordenação, sem um víncu-lo com as dezenas de outras lutas e muitas vezes sem uma rede de soli-dariedade.

É preciso organizar e unificar es-sas lutas das diferentes comunida-des que enfrentam os mesmo proble-mas: despejos e remoções forçadas. Pois se essas lutas estivessem ocor-rendo de forma coordenada a for-ça seria muito maior e com maio-res condições de alcançar vitórias.

Com o objetivo de discutir e or-ganizar essas comunidades, unifi-cando todas numa luta só, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e a Periferia Ativa, organiza-ram no último dia 24 de novembro, o “Seminário pela Moradia Digna em São Paulo”.

Com a participação de cerca de 90 pessoas, representando mais de 35 ocupações e comunidades em pro-cesso de urbanização, a reunião con-tou com a participação de represen-tantes da Ocupação Estaiadinha, que vem protagonizando as lutas pelo direito à moradia nas últimas sema-nas, Ocupação Dona Deda, Ocupa-ção Capadócia. Participaram com-panheiros (as) da Ocupação SOMA de Sumaré e da Ocupação Primave-ra de Curitiba.

Os participantes se dividiram em três grupos, onde todos tiveram a oportunidade de repassar as experi-

ências da sua comunidade, de abor-dar os problemas enfrentados co-mo o despejos, ação da polícia, pa-pel dos governos, da justiça e como se organizar coletivamente.

Pauta para as lutas

A conferência foi um grande suces-so e teve como resolução a constru-ção para o começo de 2014 uma Jor-nada nacional de Lutas que dê início as seguintes campanhas envolvendo a questão do direito à moradia:

1°. Por uma política de prevenção de despejos! Nenhum despejo pode-rá acontecer sem que haja as garan-tias de moradia definitiva.

2°. Criação da lei do inquilinato, na qual os aluguéis só poderiam ser re-ajustados de acordo com a inflação.

3° Aumento nos gastos com mo-radia popular para famílias que te-nham renda de 0 a 3 salários míni-

mos. Surgiu uma proposta a ser pen-sada com outros movimentos de fa-zer uma campanha pelos 10% do PIB para a moradia.

4° Fazer uma campanha pela qua-lidade nos projetos do Minha Casa Minha Vida. Das cerca de um mi-lhão de moradias construídas pelo MCMV, menos de 40% foram des-tinadas a famílias de baixa renda e tinham padrão de 39 m2 e materiais de péssima qualidade.

5° Que as moradias sejam entre-gues com todas as condições neces-sárias de urbanização: saúde, trans-porte, educação, saneamento básico, entre outros .

Com isso os companheiros e com-panheiras do MTST e da Periferia Ativa dão o pontapé inicial para as lutas que marcarão o ano de 2014 e deixam claro que, no ano da Copa do Mundo, o Brasil vai ferver de lutas.

Ano que vem vai ser maior ...

Os dados que mostram a injustiça em Rio das Ostras.

O seminário dia 24 de novembro reuniu representantes de 35 ocupações e comunidades em luta.

Page 10: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

10 • internacional Ofensiva Socialista n°16 novembro/dezembro - 2013

Na Argentina, trotskistas tem mais de um milhão de votos!

No domingo, 27 de outubro, em uma eleição histórica na Argenti-na, ocorreu um resultado impor-tante para a acumulação de for-ças das esquerdas revolucionárias. A Frente de Esquerda e dos Tra-balhadores, reunindo partidos da esquerda de orientação trotskis-ta (PO, PTS e IS), conquistou um resultado histórico de mais de um milhão de votos em todo o país (1.154.657 votos), elegendo uma bancada com três deputados na-cionais. Elegeu também deputa-dos em sete províncias e repre-sentantes em muitos municípios. Esse resultado se dá em um con-texto de muitas lutas dos trabalha-dores e de esgotamento do mode-lo kirchnerista. Nessa situação, a construção de uma alternativa de esquerda é fundamental para bar-rar a direita mais abertamente ne-oliberal no país.

“Abstenção” ganha as eleições no ChileNo segundo turno nem Bachelet nem Matthei Lutar para reconstruir a esquerda socialistaNo dia 17 de novembro, os chi-lenos foram às urnas para as eleições gerais de 2013. O re-sultado final, entretanto, não surpreendeu ninguém: a coali-zão “Nueva Mayoria”, que re-úne a antiga “Concertación” mais o PC do Chile, que foi en-cabeçada pela ex-presidente Michelle Bachelet, foi a ven-cedora. Mas, sem conseguir maioria absoluta, ela irá dis-putar o segundo turno no dia 15 de dezembro contra Evelyn Matthei, da aliança de partidos conservadores.

Cacá Melo

Não há muitos motivos para Ba-chelet comemorar: essas eleições ti-veram um índice de abstenção recor-de. Mais de 51% dos eleitores não votaram. Dos cerca de 13,5 milhões de chilenos com direito ao voto, me-nos de sete milhões compareceram. Além disso, ainda houve mais de cem mil votos brancos e nulos. Es-ses números indicam uma forte des-crença no sistema político. Para a maior parte dos chilenos, nenhum dos candidatos na disputa os repre-senta. Segundo uma pesquisa rea-lizada nas vésperas das eleições de 2009, mais de 75% dos jovens não via sentido em votar.

Desde o fim da ditadura de Augus-to Pinochet, em 1990, a Concertaci-ón governou durante vinte anos com promessas de mudanças para a po-pulação mais pobre do país. Ao lon-go desse período, entretanto, a coali-zão (formada pelo Partido Socialista, Partido Democrata, Partido Demo-crata-Cristão, entre outros) não fez nada além de manter e ampliar as po-líticas autoritárias e neoliberais im-plementadas durante o governo Pi-nochet. A repressão às lutas popu-lares também foi intensa. A própria

Michelle Bachelet, que foi presiden-te entre 2006 e 2010, chegou a apli-car até mesmo as leis “antiterroris-tas”, utilizadas durante o regime mi-litar para perseguir opositores, para criminalizar as lutas dos indígenas!

A rejeição a essas traições foi tan-ta que, em 2009, o povo elegeu o di-reitista Sebastián Piñera como pre-sidente. A ilusão com os conserva-dores foi breve, e Piñera irá deixar o governo, no fim deste ano, como o presidente menos popular da his-tória do Chile – sua rejeição é maior até mesmo que a de Pinochet.

Nova fase nas lutas

Se o povo não consegue enxergar alternativas nas urnas, ele irá lutar por seus direitos nas ruas. Em 2006, estudantes secundaristas realizaram uma série de mobilizações contra a precarização da educação. Entre as exigências, estava o fim das taxas e mensalidades cobradas no siste-ma de ensino, o passe livre para to-dos os estudantes e maiores investi-mentos públicos no ensino. O movi-mento estudantil conseguiu articular a ocupação de escolas em todo o pa-ís e até mesmo uma greve de um dia, junto com universitários e professo-res na capital, Santiago.

A luta dos estudantes foi retomada em 2011. Os jovens secundaristas que participaram dos atos de 2006, agora, iniciaram as lutas dentro das univer-sidades, novamente exigindo inves-timentos do governo na educação e ganhando o apoio da maior parte da população. Ao mesmo tempo, outras mobilizações foram tomando corpo em diversas regiões do Chile. Na Pa-tagônia, ambientalistas se juntaram a lideranças locais nos protestos con-tra a usina hidrelétrica HidroAysén, que causaria impactos no meio-am-biente de toda a região. Ao longo de todo o período, os trabalhadores in-

dustriais também têm se envolvido em várias lutas por seus direitos, in-cluindo os operários da mineração de cobre, principal produto de exporta-ção do país. Em setembro deste ano, os estivadores também entraram em greve por melhores salários e condi-ções de trabalho, paralisando os por-tos do país por vários dias.

Assim, se os políticos tradicionais não os representam, os trabalhadores e a juventude do Chile vêm se unin-do nas lutas para que suas vozes se-jam ouvidas.

Uma alternativa socialista?

Um novo elemento surgiu na dis-puta das eleições de 2013: foi a alian-ça “Todos a La Moneda”, compos-ta por diversos partidos de esquer-da e movimentos sociais. O Socia-lismo Revolucionário, seção chilena do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores, também participou da coalizão. O Todos a La Mone-da foi construído democraticamen-te, nas ruas, em assembleias e comí-cios com a participação de estudan-tes e trabalhadores em todo o país. O movimento lançou a candidatura de Marcel Claude à presidência, com um programa que defende políticas sociais, meio-ambiente, nacionaliza-ção dos recursos naturais, os direi-tos das minorias e a integração lati-no-americana. Outra bandeira im-portante do movimento foi a defe-sa de uma Assembleia Constituinte com participação popular que desse fim ao regime construído desde a di-tadura de Pinochet.

O Todos a La Moneda, entretanto, não deve ser considerado como uma plataforma revolucionária. Apesar de seguir diversas ideias anticapitalistas e contar com o apoio de várias cor-rentes marxistas, o movimento vacila ao não defender abertamente um pro-

grama socialista para o Chile. Mesmo assim, a campanha de Marcel Claude recebeu o apoio de várias organiza-ções sindicais e militantes socialistas – especialmente após o Partido Co-munista do Chile ter debandado pa-ra o lado da Concertación. Também vale notar que o movimento foi ca-paz de tirar um bom segmento da ju-ventude da apatia “anti-políticos” e “anti-partidos”.

Ainda que Claude tenha obtido apenas 185 mil votos (cerca de 3% do total), o Todos a La Moneda po-derá ter um legado importante no fu-turo. Durante a campanha, nossos companheiros do Socialismo Revo-lucionário organizaram a Frente de

Trabalhadores por Marcel Claude, um fórum que reuniu sindicalistas, militantes e outros grupos de ativis-tas. O objetivo da Frente era buscar apoio para a campanha junto a tra-balhadores em luta e apontar a ne-cessidade de ideias socialistas no To-dos a La Moneda. Outras organiza-ções de esquerda também atuaram de forma semelhante durante a cam-panha eleitoral. Em breve, essas ini-ciativas poderão ser retomadas pa-ra que seja criado um novo partido de massas, dos jovens, dos pobres e da classe trabalhadora para, aí sim, com um programa realmente socia-lista, propor mudanças de verdade nas ruas e nas urnas.

Bom resultado para candidatos do CIT

Como parte da aliança Todos a La Moneda, a nossa organização-irmã Socialismo Revolucionário lançou seus candidatos próprios.

Celso Calfullan (foto), defensor dos direitos dos índios Mapuche, te-ve aproximadamente 16,5 mil vo-tos para o legislativo no distrito de Santiago. Já o economista do sin-dicato dos bancários Patrício Guz-mán teve cerca de 13 mil votos pa-ra o Senado.

A luta da juventude chilena ainda não se reflete na construção de uma alternativa socialista de massas. A maioria não votou nas eleições.

Page 11: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

internacional • 11 Ofensiva Socialista n°16 novembro/dezembro - 2013

Vitória histórica para socialista em Seattle, EUAA vitória da candidata socialista Kshama Sawant em Seattle, a maior cidade no estado de Wa-shington, é sem dúvidas um ter-remoto político. Apesar de se tratar de um mandato de verea-dora, o impacto é nacional. Os 93,6 mil votos conquistados por ela marcam a maior votação de um candidato da esquerda so-cialista revolucionária em déca-das e revela uma mudança pro-funda na consciência dos traba-lhadores no país que está acon-tecendo por de baixo da super-fície nos EUA, desde a eclosão da crise em 2008.

Marcus Kollbrunner

Mesmo antes de tomar posse, Kshama já está cumprindo um pa-pel importante nas lutas. A interven-ção em apoio dos trabalhadores da Boeing, uma das maiores construto-ras de aviões no mundo, que lutam contra rebaixamento de salários e be-nefícios, sob ameaça de mudança da produção, teve grande repercussão.

“A única resposta que podemos dar se os executivos da Boeing se não concordam em manter a planta da empresa aqui é que os operários devem dizer que as máquinas estão aqui, os trabalhadores estão aqui, nós então faremos o trabalho, nós não precisamos dos executivos. Os executivos não fazem o trabalho, os operadores das máquinas o fazem”, disse ela no ato dos trabalhadores, defendendo que a fábrica seja esta-tizada sob o controle e gestão demo-cráticos dos trabalhadores.

Um repórter da TV local constatou que “Kshama Sawant agora é uma das lideranças reconhecidas nacionalmen-te na luta para elevar o povo trabalha-dor à altura da riqueza da nação”.

Um novo período

Em 2008 a crise econômica mais profunda desde os anos 1930 teve início nos próprios EUA. Como no resto do mundo, ao mesmo tempo que os trabalhadores perdiam seus empregos e casas, os grandes ban-cos foram salvos pelo governo fede-ral. Ao mesmo tempo foram imple-mentados grandes ataques aos direi-tos dos trabalhadores, especialmen-te em nível regional e local, onde há uma crise profunda.

Inspirados pela luta do povo ára-be e os movimentos da juventude na Europa, vimos o surgimento do mo-vimento Ocupe Wall Street (o cen-tro financeiro do país), que se alas-trou pelo país. O movimento Ocupe revelou uma mudança na consciên-cia, especialmente entre a juventu-de. Pesquisas do Pew Research Cen-ter mostra que entre os jovens de 18-29 anos, uma maioria agora prefere “socialismo” de que “capitalismo”.

Os seguidores do CIT nos EUA, Alternativa Socialista, participaram da construção do movimento Ocupe e lá levantaran a necessidade de um instrumento político da classe traba-lhadora, colocando que “Wall Stre-et tem dois partidos, precisamos de um nosso”. Colocamos que se o mo-vimento Ocupe tivesse lançado 100 candidatos nas eleições 2012 pelo país inteiro, isso transformaria o ce-nário político.

Infelizmente a grande maioria dos ativistas e sindicalistas manteve a postura de apoiar os democratas co-mo “mal menor” e apostar na reelei-ção de Obama. Nessa situação de-cidimos que o melhor que podería-mos fazer era lançar uma candidatu-ra própria para mostrar que é possí-vel fazer uma candidatura indepen-dente dos democratas, sem dinheiro de grandes empresas, construída pe-la base e além de tudo com um pro-grama socialista!

Lançamos então a candidatura de Kshama Sawant, um professora de economia e ativista do Ocupe em Se-attle, para deputada estadual contra o principal político dos democratas, o presidente da assembleia legislati-va, Frank Chopp, que estava no car-go há 18 anos. Kshama Sawant con-seguiu 29,4% dos votos, o melhor resultado que alguém já conseguiu contra Chopp. Um jornal constatou que os 20 mil votos que ela conquis-tou foram “mais do que todos os ou-tros candidatos socialistas juntos no país inteiro”.

Candidaturas 2013

Com o resultado muito positivo da Kshama em 2012, a Alternativa Socialista decidiu aumentar a apos-ta em 2013 nas eleições municipais, lançando três candidatos: Kshama Sawant em Seattle, Ty Moore em Minneapolis e Seamus Whelan em Boston (esse último obteve 3 mil vo-tos nas prévias mas não conseguiu se qualificar para a própria eleição).

A situação política era mais favo-rável que em 2012. As candidaturas da Alternativa Socialista se fortale-ceram com a enorme desconfiança que existe em relação ao sistema po-lítico, enraizada na crise econômica e a lenta recuperação econômica. A pesar da fala de “recuperação” eco-nômica nos EUA, só as empresas e ricos estão percebendo alguma me-lhora. Ao mesmo tempo há muito

descontentamento com Obama, que rompeu a maioria de suas promessas. A recente paralisação do governo fe-deral, quando não havia acordo so-bre o orçamento, também alimentou a ira popular, o que permitiu que as campanhas socialistas tivessem um eco entre os trabalhadores. Duran-te a paralisação do governo, o índi-ce de aprovação do Congresso caiu para um mínimo histórico de 5%. Em uma pesquisa Gallup, um recor-de de 60% disseram que é necessá-rio um novo partido nos EUA, e um nível baixo recorde de apenas 26 % disseram que os dois partidos esta-vam fazendo um trabalho adequado.

Ao mesmo tempo as campanhas de Kshama Sawant e Ty Moore conse-guiram estar em sintonia com as lu-tas e movimentos e ao mesmo mos-trar que é possível desafiar o bipar-tidarismo com uma alternativa dos trabalhadores.

Kshama Sawant conseguiu se tor-nar uma das principais figuras em de-fesa do aumento do salário mínimo para 15 dólares (34 reais) por ho-ra, uma bandeira defendida na on-da de greves dos trabalhadores de fast-food recentemente. Dois ou-tros pontos centrais da campanha de Kshama foram a defesa de um controle sobre o os alugueis, que es-tão subindo cada vez mais, e tam-bém a taxação dos milionários pa-ra bancar transporte público, educa-ção e outros serviços. Um outro te-ma que entusiasmou foi o fato que nossos candidatos se compromete-ram a não receber o salário alto de político e viver com salário de tra-balhador médio. O salário de um ve-reador em Seattle é o segundo mais alto do país.

Ela teve apoio de seis sindicatos, além de grande apoio de imigrantes, ela mesmo sendo da Índia. A asso-ciação de somalis apoiou sua candi-datura. Ele teve também um gran-de apoio no movimento hip-hop, do principal jornal independente local,

the Stranger. Tudo isso se transfor-mou num exército de 350 voluntá-rios entre socialistas, ambientalis-tas, imigrantes e jovens, conseguin-do mobilizar gente que nunca vota-ram ou que antes votavam nos de-mocratas.

A campanha de Ty Moore tam-bém tinha raízes fortes no movimen-to. Ele foi uma das figuras centrais no movimento “Ocupe Casas”, que conseguiu barrar tentativas de despe-jos de famílias que não conseguiam pagar mais os empréstimos aos ban-cos. Até no dia das eleições, 05 de novembro, o movimento conseguiu barrar um despejo, contra a intenção das autoridades de tentar utilizar o fato de que os ativistas estavam fo-cados na eleição! Ty Moore também teve apoio importante de sindicatos, como o principal sindicato de servi-dores públicos, e lideranças de imi-grantes. Ty Moore conseguiu 42% dos votos em seu distrito, ficando somente 229 votos atrás do candi-dato democrata. Uma medida de seu apoio foi que ele conseguiu arreca-dar mais dinheiro para sua campa-nha que o democrata, apesar de ser através de muitas pequenas doações.

Kshama pautou o debate

O desafio para Kshama Sawant era bem maior, já que ela concorria com os votos da cidade inteira, não só em um pequeno distrito. Poucos acreditavam que ela conseguiria os quase 100 mil votos necessários para vencer seu oponente. Mesmo assim estava claro que seria algo inédito.

“A eleição só é daqui 10 dias, mas já podemos declarar uma gran-de vencedora em Seattle. É a socia-lista”, constatou o colunista Danny Westneat no Seattle Times, o princi-pal jornal da cidade.

Ambos os candidatos a prefeito ti-veram que começar apoiar vagamen-te o aumento do salário mínimo e re-fletir outros pontos do programa da Kshama. Seu oponente nem tentou fazer campanha “anticomunista”, sa-bendo que isso não teria mais efeito.

A campanha continuou a crescer. No último final de semana foi reali-zado 100 comícios e atos pela cida-de a favor da Kshama. Na primeira contagem de votos, ela estava 7,43% atrás do democrata Conlin, que es-tava 16 anos no cargo e se declarou rapidamente vencedor. Mas isso era baseado em somente cerca de 40% dos votos. Em Seattle a votação é postal, não em urna, e as pessoas po-dem votar durante semanas, com a

data limite 5 de novembro. Os pri-meiros votos refletiam aqueles que estavam acostumados a votar no “de sempre”. Os votos que chegaram nos últimos dias e foram contados mais tarde refletiam mais os novos eleito-res. Aos poucos a contagem dos vo-tos apontava para uma vitória his-tórica para Kshama e Conlin admi-tiu derrota no dia 15 de novembro.

Vitória para toda a esquerda

A vitória de Kshama é uma vitó-ria para toda a esquerda. Ela mostra como uma campanha eleitoral po-de surgir da luta e servir a ela, ao mesmo tempo fortalecendo uma al-ternativa política. A Alternativa So-cialista está recolocando a necessi-dade da esquerda e movimentos co-meçarem a construir já uma ofensi-va com 100 ou centenas de candi-datos para as próximas eleições. Is-so poderia significar um passo im-portante na construção de uma fer-ramenta política da classe trabalha-dora nos EUA, onde o cenário polí-tico é dominado pelos dois partidos das grandes empresas, os democra-tas e republicanos.

A construção dessa alternativa eleitoral tem que ir de mãos dadas com a construção das lutas. Em Se-attle, a luta pelo salário mínimo con-tinua. A primeira medida de Kshama será fazer uma proposta de lei sobre o assunto e mobilizar um grande ato a favor da demanda. Na cidade vi-zinha de Seattle, SeaTac, sindicalis-tas conseguiram pautar um plebis-cito sobre salário mínimo de 15 dó-lares por hora junto com as eleições e a proposta conseguiu uma peque-na maioria, mas sabemos que have-rá grande resistência das empresas.

Não é somente entre os jovens que vamos vir uma abertura maior para ideias socialistas. Há muitos lutadores experientes que podem tirar o apoio infrutífero aos democratas. Cheryl Bersch, que foi ativista toda a vida e voluntária na campanha de Ksha-ma Sawant, passou essa mensagem ao entrar no Alternativa Socialista:

“Eu fui uma democrata e membro de outros grupos de ativistas como a Organização Nacional de Mulheres por 47 anos. Fiz minha parte partici-pando em muitos, muitos protestos, escrevendo cartas a representantes e dando dinheiro, dinheiro, dinhei-ro – só para ver o Partido Democra-ta ir mais e mais à direita. Eu achei a explicação recentemente: é o sis-tema. O problema é o capitalismo.”

A campanha da Kshama Sawant contribuiu para avançar a luta pelo aumento do salário mínimo.

A luta contra os despejos foi uma das bandeiras centrais da candidatura de Ty Moore em Minneapolis.

Page 12: Ofensiva Socialista n°16 - novembro/dezembro 2013

Fora dos trilhosCorrupção no transporte público evidencia um modelo privatista que põe o usuário em segundo planoEm julho deste ano, a grande imprensa falou pela primeira vez sobre o escândalo de cor-rupção envolvendo o Metrô de São Paulo e a CPTM (Compa-nhia Paulista de Trens Metro-politanos). Segundo as denún-cias, várias empresas fabrican-tes de trens e equipamentos eletrônicos formaram um cartel para fraudar as licitações do transporte público na capital paulista. São elas: Siemens da Alemanha, Alstom da França, a canadense Bombardier, CAF da Espanha e a japonesa Mitsui, além da brasileira TTrans.

Cacá Melo e Isabel Keppler

Essa quadrilha teria atuado em pe-lo menos seis licitações desde 1998, época do governo Mário Covas. Se-gundo as investigações, as compa-nhias combinavam previamente os preços dos vencedores e dos perde-dores nas concorrências para cons-trução de novas linhas e compra de maquinário. Há também a denúncia de que as empresas mantinham um esquema de desvio de recursos pú-blicos e pagamento de propinas a autoridades do governo do Estado e do alto escalão do PSDB. No total, o caso provocou um prejuízo de mais de R$577 milhões aos cofres públi-cos – o equivalente a mais de dez ve-zes a quantia movimentada no men-salão do PT.

No dia 15 de agosto, a LSR parti-cipou de um ato de denúncia ao es-quema, que reuniu mais de três mil pessoas no centro de São Paulo. A manifestação, convocada pelo Mo-vimento Passe Livre (MPL), pelo Sindicato dos Metroviários e pela CSP-Conlutas, exigiu esclarecimen-tos e a abertura de uma CPI para in-vestigar o caso.

Corrupção, propinas e superfaturamento

Mas as irregularidades no trans-porte sobre trilhos não são exclu-sividade de São Paulo. O Metrô de Salvador, por exemplo, que está em construção desde 1999, é conheci-do na cidade como um monumento à corrupção. O projeto inicial pre-via um sistema de quarenta quilô-metros em duas linhas. Entretanto, o investimento foi todo gasto no pri-meiro trecho, de apenas seis quilô-metros. A obra já consumiu mais de um bilhão de reais sem que nenhum trem tenha circulado pelo trajeto. Em 2009, o Tribunal de Contas da União (TCU) já havia encontrado irregula-ridades nas obras, incluindo indícios de fraude e superfaturamento. Em ju-lho deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) iniciou novas investi-gações do consórcio responsável pe-las obras, formado pelas construtoras

Camargo Corrêa e Andrade Gutier-rez, além da Siemens, já envolvida no caso de corrupção em São Paulo.

Privatizar o transporte não é a solução

Além dos escândalos nos basti-dores, os usuários de trens e metrô em nosso país enfrentam todos os dias grandes filas nas estações, pas-sagens caras, vagões lotados, falhas técnicas constantes e malhas pouco extensas que não alcançam as regi-ões de maior demanda. Há quem de-fenda que a privatização é a solução para esses problemas: basta entregar os trilhos e os trens para a iniciativa privada e, de uma hora para outra, teremos transporte de qualidade. A realidade, entretanto, aponta justa-mente o contrário.

Em São Paulo, a linha 4 do metrô, construída e operada pelo consórcio privado Via Amarela, teve suas obras iniciadas em 2004, com previsão de entrega completa em 2010. Hoje, no-ve anos depois do início da constru-ção, a linha opera com apenas me-tade das estações previstas. Duran-te todo esse período, foram contabi-lizados diversos acidentes ao longo do trajeto. O mais grave foi em ja-neiro de 2007: durante a construção da estação Pinheiros, o desabamen-to de um túnel de acesso criou uma cratera de mais de oitenta metros de diâmetro, engolindo casas, carros, caminhões e um ônibus. Sete pes-soas morreram no acidente e cerca de 230 moradores tiveram que dei-xar suas casas. Segundo o MPF, o Metrô teria permitido que o consór-

cio Via Amarela fizesse economias irregulares na obra, com o objetivo de aumentar os seus lucros, ignoran-do plenamente a segurança dos ope-rários e dos moradores da cidade.

No Rio de Janeiro, tanto o metrô quanto os trens de subúrbio foram privatizados em 1998. O metrô, que não tem novas linhas inauguradas desde 1981, tem a tarifa mais cara do país: R$3,20. Mesmo pagando tudo isso, o passageiro enfrenta pro-blemas como superlotação em trens velhos e sem ar-condicionado (o que torna a viagem insuportável no ve-rão), atrasos nas viagens e assaltos e arrastões nos trens e estações. O sis-tema de trens metropolitanos, ope-rado pela concessionária SuperVia, tem problemas ainda maiores. A má conservação das composições cau-sa quebras frequentes no meio dos trajetos, incluindo acidentes graves com descarrilamento dos trens. A su-perlotação é ainda maior do que no metrô, forçando muitas vezes os va-gões a andar com as portas abertas. Mesmo com tod os esses problemas, o governo do Estado do Rio de Ja-neiro prorrogou a concessão da Su-perVia por mais 25 anos, até 2048.

A questão do transporte foi o pon-tapé inicial de junho

A atual jornada de movimentos populares reivindicando transpor-te público de qualidade tem antece-dentes ainda em 2003, com a Revol-ta do Buzú, de Salvador. Em agosto daquele ano, foi anunciado um au-mento da tarifa dos ônibus de R$1,30 para R$1,50. Milhares de manifes-tantes, principalmente jovens estu-dantes, fecharam as ruas em protes-

tos ao longo de três semanas. Entre 2004 e 2012, outras manifestações ocorreram em diversas cidades do país, como São Paulo, Belo Hori-zonte, Curitiba, Cuiabá, Rio Branco, Brasília, entre outras. Em muitos ca-sos, essas mobilizações alcançaram seus objetivos de redução das passa-gens - caso de Florianópolis em 2004 e 2005, Vitória em 2006, Belém em 2011 e Natal em 2012.

Em São Paulo, as manifestações tiveram início quando Prefeitura e Estado anunciaram o reajustes das tarifas de ônibus, metrô e trens de R$3,00 para R$3,20. Nos primei-ros atos, nos dias 6, 7 e 11 de junho, os manifestantes enfrentaram pesa-da violência policial, com dezenas de feridos e detidos. Na quinta-fei-ra da mesma semana, dia 13, os pro-testos se espalharam para mais cida-des, como Natal, Porto Alegre, Te-resina, Maceió, Fortaleza e Rio de Janeiro. Mesmo com as pautas das manifestações sendo modificadas e distorcidas, ao fim do mês, mais de cem cidades em todo o Brasil, entre elas São Paulo e Rio de Janeiro, já haviam reduzido as tarifas no trans-porte público.

O exemplo de Natal

Em Natal, a luta pelo transporte de qualidade e pelo passe livre tem mantido vivo o espírito das manifes-tações. Os últimos meses foram in-tensos, com plenárias, ocupações, vi-sitas a escolas, universidades e bair-ros e outras intervenções. A pressão popular conquistou, primeiro, a re-vogação do aumento das passagens. Depois, o projeto de lei do passe li-vre para estudantes foi protocolado na Câmara pela vereadora Aman-da Gurgel (PSTU) e subscrito pelos vereadores Sandro Pimentel e Mar-cos Antônio (PSOL). O projeto foi aprovado, por unanimidade, na pri-meira e segunda sessão.

Entretanto, o prefeito Carlos Edu-ardo Alves (PDT) vetou a proposta dos vereadores de esquerda e, por meio de diversos conluios com seus aliados na Câmara, conseguiu fazer passar o seu próprio projeto de lei. Esse “passe livre” do prefeito é uma grande decepção para a juventude, pois atende apenas aos estudantes da rede municipal (que não possui ensino médio), apenas nos dias le-tivos e com direito a só duas passa-gens diárias. Um projeto totalmente diferente do que o movimento rei-vindicava, com passe livre irrestrito para todos os estudantes da cidade.

Na nossa avaliação, o movimen-to já é vitorioso por conseguir levar uma bandeira histórica para a Câma-ra dos Vereadores: a discussão sobre os transportes na cidade e o conflito entre os interesses dos empresários e da população - assunto que se man-teve na mídia e na boca do povo por

meses. Dessa luta, certamente, não saímos derrotados, e sim mais for-talecidos. Foi possível que os traba-lhadores e a juventude de Natal des-cobrissem quem é a bancada do SE-TURN (Sindicato das Empresas de Transporte Urbano) na Câmara dos Vereadores. Esses, sim, saíram des-gastados nessa história!

Em 2013, a questão do transporte teve o poder de atrair as massas pa-ra as ruas, dando início às grandes mobilizações das jornadas de junho. Foi graças aos atos pela queda das tarifas que uma nova geração de lu-tadores (as) teve seu primeiro con-tato com as lutas populares. Mas a insatisfação popular não terminou com a revogação dos aumentos, as passagens continuam caras, o servi-ço continua ruim e superlotado. Em 2014, iremos presenciar lutas ainda maiores em todo o país, com pro-testos durante a Copa do Mundo, as eleições presidenciais e a reunião de cúpula dos BRICs em Fortaleza. En-tretanto, para resistirmos à repressão, precisamos nos organizar desde já! A LSR, junto com outras organizações, defende a construção de um grande encontro dos movimentos de junho para discutirmos as lutas para o pró-ximo período.

O que defendemos: ● Transporte de qualidade

para toda a população! ● Tarifa zero nos

transportes públicos! ● Estatização dos

transportes, sob controle democrático dos trabalhadores e usuários!

● Um encontro nacional dos movimentos de junho, ainda no primeiro semestre!

Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00

N° 16 novembro/dezembro 2013

Acesso o nosso site:

www.lsr-cit.orge-mail: [email protected]

telefone: (11) 3104-1152

O cartel de licitações nas obras de transporte público em São Paulo custou R$577 milhões aos cofres públicos.

Na luta pelo passe livre em Natal.