odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · odontologia para pacientes...

83
1 Odontologia para pacientes com comprometimento sistêmico

Upload: others

Post on 23-Aug-2020

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

1

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

Page 2: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi
Page 3: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi
Page 4: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi
Page 5: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi
Page 6: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

Copyright © 2018 by EDUFMA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃOProf.ª Dra. Nair Portela Silva Coutinho

ReitoraProf. Dr. Fernando de Carvalho Silva

Vice-ReitorAllan Kardec Duailibe Barros Filho

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e InovaçãoProfª. Dra. Silvia Tereza de Jesus Rodrigues Moreira Lima

Diretora do Centro de Ciências Biológicas e da SaúdeProf.ª Dra. Ana Emilia Figueiredo de Oliveira

Coordenadora-Geral da UNA-SUS/UFMA

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃOProf. Dr. Sanatiel de Jesus Pereira

Diretor

CONSELHO EDITORIALProf. Dr. Jardel Oliveira Santos; Profa. Dra. Michele Goulart Massuchin; Prof. Dr. Jadir Machado Lessa; Profa. Dra. Francisca das Chagas Silva Lima; Bibliotecária Tatiana Cotrim Serra Freire; Profa. Dra. Maria Mary Ferreira; Profa. Dra. Raquel Gomes Noronha; Prof. Dr. Ítalo Domingos

Santirocchi; Prof. Me. Cristiano Leonardo de Alan Kardec Capovilla Luz.

Projeto de designJoão Victor Figueiredo; Priscila Penha Coelho; Tiago do Nascimento Serra

NormalizaçãoEdilson Thialison da Silva Reis – CRB 13ª Região, nº de registro – 764

Revisão técnicaAna Lídia Ciamponi

Marina Helena Cury Gallottini

Revisão de textoFabiana Serra Pereira

Revisão pedagógicaCadidja Dayane Sousa do Carmo; Paola Trindade Garcia;

Regimarina Soares Reis; Alessandra Viana Natividade Oliveira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Universidade Federal do Maranhão. UNA-SUS/UFMA

Odontologia para pacientes com comprometimento sistêmico/Ana Emilia Figueiredo de Oliveira; Ana Estela Haddad (Org.). - São Luís: EDUFMA, 2018.

83 f.: il. ISBN: 978-85-7862-796-6

1. Saúde Bucal. 2. Gestante. 3. Políticas públicas de saúde. 5. UNA-SUS/UFMA. I. Campioni, Ana Lídia. II. Gallottini, Marina Helena Cury. III. Garrido, Deise. IV. Anderson, Levy. V. Silva, Taciana Mara Couto. VI. Prado, Isabelle Aguiar. Odontologia para pacientes com comprometimento sistêmico.

CDU 614:616.31

Impresso no Brasil

Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou para qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais dos textos e imagens desta obra é da UNA-SUS/UFMA.

Page 7: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

Ana Emilia Figueiredo de Oliveira

Graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), mestrado e doutorado em Radiologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), pós-doutorado/professora visitante pela University of North Carolina/Chapel Hill-EUA. Coordenadora-geral da UNA-SUS/UFMA. Presidente do Conselho Brasileiro de Telemedicina e Telessaúde - CBTms (gestão 2015-2017). Líder do Grupo de Pesquisa SAITE - Tecnologia e Inovação em Educação na Saúde (CNPq/UFMA).

Ana Estela Haddad

Livre docente, professora associada da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP). Foi assessora do ministro da Educação (2003-2005) e diretora de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (2005-2012), período em que coordenou a formulação e implementação do Pró-Saúde, PET Saúde, Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, instituição da Comissão Nacional de Residências Multiprofissionais e em Área Profissional da Saúde, Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (REVALIDA), Programa Telessaúde Brasil Redes, e participou da formulação e implementação da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS).

INFORMAÇÕES SOBRE AS ORGANIZADORAS

Page 8: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

Marina Helena Cury Gallottini

Graduação em Odontologia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP) em 1986. Mestrado em Diagnóstico Bucal pela FOUSP em 1989. Doutorado em Patologia Bucal pela FOUSP em 1994. Realizou a Livre Docência em Odontologia na FOUSP em 2000. Pós-doutorado na University of Medicine and Dentistry of New Jersey, USA, no Departamento de Ciências Diagnósticas da New Jersey Dental School, em 2006. Desde 2007, é professora titular da disciplina de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. Coordena o Centro de Atendimento a Pacientes Especiais da FOUSP (CAPE-FOUSP) desde 2000. Coordenadora do curso de Especialização em Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP.

Ana Lídia Ciamponi

Mestrado e doutorado em Odontopediatria pela Faculdade de Odontologia da USP (FOUSP). Pós-graduação pela Universidade de Michigan. Especialista em Ortodontia pela ABENO. Coordenadora do GEAPE/USP-Odontopediatria (Grupo de Estudos e Atendimento à Pacientes Especiais). Professora Associada 2 da FOUSP, disciplina de Odontopediatria.

Deise Garrido

Doutoranda em Ciências Odontológicas, Odontopediatria pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Ciências Odontológicas, Odontopediatria pela USP. Especialista em Informática em Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Graduação em Odontologia pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FORP-USP).

INFORMAÇÕES SOBRE OS AUTORES

Page 9: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

Levy Anderson

Pós-doutorando em Ciências Odontológicas pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP). Doutorado em Ciências Odontológicas pela FOUSP. Diretor Científico do Departamento de Odontologia da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP). Professor no curso de Especialização em Pacientes com Necessidades Especiais na Universidade Paulista (UNIP); professor nos cursos de Graduação em Odontologia na Universidade Paulista (UNIP) e Universidade Guarulhos (UnG); e professor convidado nos cursos de Aperfeiçoamento, Especialização e Mestrado em Odontologia na FUNDECTO, FAPES e Faculdade São Leopoldo Mandic.

Taciana Mara Couto Silva

Doutoranda em Ciências Odontológicas, Odontopediatria pela Universidade de São Paulo (USP). Mestrado em Ciências Odontológicas, Odontopediatria pela USP. Especialista em Informática em Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Graduação em Odontologia pela Universidade de Taubaté (UNITAU).

Isabelle Aguiar Prado

Mestranda em Odontologia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Designer instrucional no núcleo pedagógico da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS/UFMA). Graduação em Odontologia pela UFMA.

Page 10: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

SUMÁRIO

p.

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................152 DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS E O MODELO DE

ATENÇÃO À SAÚDE ...........................................................................17 REFERÊNCIAS .....................................................................................253 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA ............................................273.1 Definição .............................................................................................273.2 Aspectos epidemiológicos ................................................................283.3 Diagnóstico e tratamento ..................................................................303.4 Manifestações bucais .........................................................................333.5 Rede de atenção e linha de cuidado para portadores de HAS .........343.6 Condutas para o atendimento odontológico ....................................35 REFERÊNCIAS .....................................................................................394 DIABETES MELLITUS ........................................................................424.1 Definição e classificação ....................................................................424.2 Aspectos epidemiológicos .................................................................434.3 Diagnóstico e tratamento ..................................................................464.4 Complicações agudas e crônicas .......................................................484.5 Rede de atenção e linha de cuidado para portadores de DM ...........514.6 Manifestações bucais .........................................................................524.7 Condutas para o atendimento odontológico ....................................53 REFERÊNCIAS .....................................................................................575 DOENÇA RENAL CRÔNICA ...............................................................605.1 Definição .............................................................................................605.2 Aspectos epidemiológicos ................................................................615.3 Diagnóstico e tratamento ..................................................................625.4 Aspectos clínicos e complicações da DRC ........................................665.5 Rede de atenção e linha de cuidado da pessoa com DRC ................685.6 Manifestações bucais no portador de DRC .......................................705.7 Condutas para o atendimento odontológico ....................................72

REFERÊNCIAS ....................................................................................786 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................77

Page 11: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

PREFÁCIO

A cada dia a tecnologia ocupa mais espaço no nosso dia a dia, onde os computadores, smartphones, tablets e muitos outros eletrônicos nos apresentam conteúdos que mudaram nossa maneira de nos relacionarmos com as pessoas e com as nossas tarefas. O hábito de ler em meios digitais ainda é minoritário no Brasil. Mas já podemos apontar vantagens que certamente difundirão esse meio. A facilidade de adquirirmos livros digitais, o fato deles não ocuparem espaço, de serem fáceis de transportar, sustentáveis e de facilitarem pesquisa e hiperlinks, são certamente atrativos para muitas pessoas.

O presente livro digital dirigido aos dentistas traz informações sobre algumas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como a doença renal crônica, diabetes e hipertensão, que são cada vez mais frequentes na população mundial e na brasileira. O tratamento custa muito caro para o governo e as ações preventivas são fundamentais para evitar o crescimento epidêmico e suas drásticas consequências na qualidade de vida das pessoas.

Os dentistas são profissionais da saúde que têm grande potencial para realizar rastreio dessas doenças bem como aconselhar os seus pacientes quanto a hábitos alimentares, cessação do fumo e prática de exercícios físicos. Os dentistas também têm que promover a saúde bucal desses indivíduos e para tanto devem conhecer as implicações das alterações sistêmicas dos pacientes com potencial impacto no manejo odontológico. Bem como antecipar possíveis efeitos do manejo odontológico na condição sistêmica do indivíduo.

Ao conhecer a doença de base do seu paciente odontológico e conduzir o tratamento odontológico adequado, o dentista vai além: não apenas promove a saúde bucal, mas certamente contribui com o bem-estar e equilíbrio geral melhorando a qualidade de vida dos indivíduos com DCNT.

Este livro aborda os principais aspectos da doença renal crônica,

Page 12: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

diabetes e hipertensão enfatizando o impacto dessas doenças na boca e no manejo odontológico. Desta forma, o dentista pode enfrentar com mais segurança o desafio de tratar de pacientes odontológicos doentes e que por essa razão precisam muito desses cuidados.

Prof.ª Dra. Marina Helena Cury GallottiniProfessora titular da disciplina de Patologia Bucal da FOUSP.

Page 13: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

13

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

APRESENTAÇÃO

Os processos de transição – demográfica, epidemiológica, nutricional – trazem consigo, dentre outras coisas, alterações no perfil de adoecimento da população. Atualmente, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) constituem um dos maiores problemas de saúde pública, ocasionando inúmeras mortes prematuras e perda na qualidade de vida.

Na cavidade bucal, a cárie e a doença periodontal são exemplos de DCNT, que compartilham com as demais fatores de risco e determinantes sociais. A literatura aponta para relação da cárie e/ou doença periodontal com diversas condições sistêmicas, o que enfatiza a importância de estratégias conjuntas para o combate a estas condições.

Assim, esta obra busca conscientizar os cirurgiões-dentistas sobre o papel do seu trabalho para a saúde sistêmica dos pacientes, além de capacitar os profissionais para o atendimento de qualidade, priorizando a integração do cuidado para aqueles pacientes já acometidos por alguma DCNT.

Este livro digital é composto por um texto introdutório e quatro capítulos. O primeiro capítulo discorre acerca da necessidade de adequação do modelo de atenção à saúde para atender às necessidades de saúde da população. Os capítulos subsequentes versam sobre os aspectos da doença e os impactos no cuidado odontológico para pessoas diagnosticadas com hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e doença renal crônica.

Este e-book, que é fruto da parceria entre a Universidade Aberta do SUS/Universidade Federal do Maranhão (UNA-SUS/UFMA) e a Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP), tem o mérito de apresentar os principais aspectos sobre os cuidados odontológicos de pacientes com comprometimento sistêmico em

Page 14: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

14

decorrência de DCNT. Espera-se que o compartilhamento deste conhecimento possa contribuir para a melhoria do cuidado odontológico e, consequentemente, melhoria da qualidade das pessoas que vivem com alguma das DCNT aqui discutidas.

Prof.ª Dra. Ana Lídia CiamponiProfessora Associada da disciplina de odontopediatria da FOUSP.

Page 15: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

1 INTRODUÇÃO

Desde a década de 60, diversos países do mundo estão em processo de transição epidemiológica, demográfica e nutricional. Tais mudanças no perfil populacional resultaram em alterações no padrão de adoecimento da população, com declínio da carga de doenças infecciosas e aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).

As DCNT são responsáveis por um grande número de mortes, inclusive prematuras, atingindo principalmente grupos mais vulneráveis, como populações de baixa escolaridade e renda. Além dos determinantes sociais, as DCNT, têm em comum, fatores de risco modificáveis, como obesidade, sedentarismo, alimentação inadequada, uso de álcool e tabagismo, bem como alguns problemas de saúde bucal, que são a base para trabalharmos no enfrentamento desse problema.

Tendo em vista o aumento da prevalência das doenças crônicas, bem como a complexidade destas, é fundamental que o cirurgião-dentista busque conhecimentos sobre a temática para que possa atender com responsabilidade às necessidades de seus pacientes, avaliando as condições sistêmicas encontradas, individualizando o atendimento de acordo com as necessidades individuais e permitindo o cuidado integral. Assim, o compartilhamento do conhecimento, visando melhorar a qualidade do atendimento odontológico aos pacientes e consequentemente a qualidade de vida dos mesmos, se torna fundamental.

O uso de tecnologias de informação e comunicação, como o livro eletrônico, é uma ferramenta estratégica útil na materialização do conhecimento formal, tendo como vantagens sua portabilidade e fácil acessibilidade, bastando ter um aparelho celular para acessá-lo.Isso é essencial em um país como o nosso, com grandes dimensões territoriais e imensas dificuldades de acesso ao livro impresso.

15

Page 16: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

16

Aqui estão apresentados temas relacionados às Redes de Atenção à Saúde de Pessoas com Doenças Crônicas, abordando aspectos referentes à epidemiologia da doença, diagnóstico, tratamento e manejo odontológico, com enfoque na hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e doença renal crônica.

Page 17: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

17

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

2 DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS E O MODELO DE ATENÇÃO À SAÚDE

O paciente está mudando, o padrão de enfermidades está mudando, as tecnologias mudaram; contudo, o sistema de saúde não está mudando. Existe evidência crescente de que a forma atual de organização, financiamento e prestação de serviços de saúde não é compatível com um controle ótimo das doenças crônicas (BENGOA, 2008 apud MENDES, 2011, p. 51).

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são doenças multifatoriais que se desenvolvem no decorrer da vida e são de longa duração. Elas são responsáveis por aproximadamente 70% das mortes no mundo. No Brasil, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), entre estas o acidente vascular encefálico, infarto, hipertensão arterial, câncer, diabetes, doenças respiratórias e a doença renal crônica, constituem o problema de saúde de maior magnitude e correspondem a 73% das causas de morte, sendo 17% de mortes prematuras (WHO, 2017). As de maior prevalência no país são as doenças cardiovasculares, diabetes, câncer e doenças respiratórias crônicas.

Em comum, as DCNT possuem quatro fatores de risco modificáveis: tabagismo, alimentação não saudável, inatividade física e uso nocivo de álcool. Em relação a alimentação, quando avaliada a população brasileira, os dados são alarmantes. Apenas 18,2% dos adultos consomem cinco porções de frutas e hortaliças em cinco ou mais dias por semana, 34% consomem alimentos com elevado teor de gordura e 28% consomem refrigerantes cinco ou mais dias por semana, o que contribui para o aumento da prevalência de excesso de peso e obesidade, que atingem 48% e 14% dos adultos, respectivamente (BRASIL, 2011).

A Organização Mundial de Saúde formulou estratégias para o enfrentamento das DCNT e foram estabelecidas nove metas mundiais de redução da carga das doenças crônicas não transmissíveis a serem atingidas em 2025 (WHO, 2014):

Page 18: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

18

Figura 1 - Metas mundiais de redução da carga das doenças crônicas não transmissíveisa serem atingidas em 2025.

Fonte: WHO. Global status report on noncommunicable diseases 2014: Attaining the nine global noncommunicable diseases targets; a shared responsibility. Geneva: Who Press, 2014.

1. Redução relativa da mortalidade geral por doenças cardiovasculares, câncer, diabetes ou pelas doenças respiratórias crônicas em 25%.

2. Redução relativa do uso nocivo do álcool em pelo menos 10%, conforme o caso, no contexto nacional.

3. Redução relativa da prevalência de atividade física insuficiente em 10%.

4. Redução relativa de 30% na ingestão média de sal/sódio pela população.

5. Redução relativa da prevalência do consumo atualde tabaco em 30%, em pessoas com 15 anos ou mais.

6. Redução relativa de 25% na prevalência de hipertensão, ou contenção da prevalência de hipertensão, dependendo das circunstâncias do país.

7. Impedir o aumento da diabetes e da obesidade.

8. Tratamento farmacológico e aconselhamento (incluindo o controle glicêmico) de pelo menos 50% das pessoas que o necessitam para prevenir ataques cardíacos e acidentes cerebrovasculares.

9. Oitenta por cento (80%) de disponibilidade de tecnologias básicas e medicamentos essenciais, incluídos os genéricos, necessários para tratar as principais DCNT, acessíveis em centros públicos e privados.

Page 19: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

19

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

Figura 2 - Eixos do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (2011-2022).

Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Plano de açõesestratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 011-2012. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. p. 148. Disponível em: <http://actbr.org.br/uploads/conteudo/918_cartilha_dcnt.pd>.

O atual modelo de atenção à saúde hegemônico é totalmente inadequado para a situação epidemiológica do país. A Organização Mundial da Saúde tem recomendado a implantação de sistemas integrados ou Redes de Atenção à Saúde, com a adoção de um modelo de atenção que de fato atenda às necessidades de saúde da população (BRASIL, 2015).

Para cumprir essas metas, desde 2011 está em curso no Brasil o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (2011-2022) (BRASIL, 2011), com destaque para as ações na Atenção Primária à Saúde. O Plano está estruturado em três eixos, conforme ilustra a figura 2.

Page 20: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

20

Nesse sentido, as Redes de Atenção à Saúde (RAS) têm sido propostas para administrar políticas e projetos em que os recursos são escassos e os problemas complexos e não podem ser entendidas somente como um arranjo poliárquico entre diferentes atores dotados de certa autonomia, mas um sistema que busca, deliberadamente, no plano de sua institucionalidade, aprofundar e estabelecer padrões estáveis de inter-relações (MENDES, 2011).

Assim, o Anexo I da Portaria de Consolidação nº 3, de outubro de 2017, estabelece as normas para organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS), no âmbito do SUS (BRASIL, 2017). Uma RAS consiste na organização do conjunto de serviços e ações de saúde de distintas densidades tecnológicas que, integrados por meio de estruturas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado às populações de uma região de saúde (BRASIL, 2017).

As RAS apresentam três elementos constitutivos: a população, a estrutura operacional e os modelos de atenção à saúde (BRASIL, 2015). Sua estrutura operacional, que possui cinco componentes: o centro de comunicação, a APS; os pontos de atenção à saúde secundários e terciários; os sistemas de apoio (sistemas de apoio diagnóstico e terapêutico, sistemas de assistência farmacêutica, sistemas de teleassistência e sistemas de informação em saúde); os sistemas logísticos (registro eletrônico em saúde, sistemas de acesso regulado à atenção e sistemas de transporte em saúde); e o sistema de governança da RAS (BRASIL, 2015).

Page 21: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

21

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

Figura 3 - Elementos constitutivos das RAS.

Fonte: Adaptado de: AMORIM, C. C.; PESSOA, F. S. (Org.). Envelhecimento e saúdeda pessoa idosa: políticas, programas e rede de atenção à saúde do idoso. São Luís: UNA-SUS, 2014.

Page 22: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

22

Entre as principais características das RAS, destacamos: a Atenção Básica como centro de comunicação funcionando como centro coordenador e ordenador do cuidado; a centralidade nas necessidades de saúde da população; a atenção contínua e integral; o cuidado multiprofissional; o compartilhamento de objetivos e o compromisso com resultados sanitários e econômicos (BRASIL, 2017).

As doenças crônicas representam um grande desafio para a Atenção Básica, e seu enfrentamento envolve abordagem multiprofissional, empoderamento dos indivíduos, das famílias e da sociedade. A partir desse contexto, instituiu-se a Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas a partir da Portaria nº 483, de 1º de abril de 2014, revogada pela Portaria de consolidação nº 3, de outubro de 2017, fortalecendo e garantindo o cuidado integral (BRASIL, 2017).

Segundo a Portaria de consolidação nº 3, consideram-se doenças crônicas: “[...] doenças que apresentam início gradual, com duração longa ou incerta, que, em geral, apresentam múltiplas causas e cujo tratamento envolva mudanças de estilo de vida, em um processo de cuidado contínuo que, usualmente, não leva à cura” (BRASIL, 2017).

São objetivos da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas:

A implantação da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas se dará por meio da organização e operacionalizaçãode linhas de cuidado específicas, considerando os agravos de maior magnitude (BRASIL, 2017). As linhas de cuidado deverão:

I - realizar a atenção integral à saúde das pessoas com doenças crônicas, em todos os pontos de atenção, através da realização de ações e serviços de promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde; eII - fomentar a mudança no modelo de atenção à saúde, por meio da qualificação da atenção integral às pessoas com doenças crônicas e da ampliação das estratégias para promoção da saúde da população e para prevenção do desenvolvimento das doenças crônicas e suas complicações (BRASIL, 2017).

Page 23: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

23

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

Os serviços de saúde bucal se inserem na RAS e perpassam a linha de cuidado, inserindo-se em todos os níveis de atenção à saúde de uma RAS, como podemos observar na figura 4:

Figura 4 - Organização esquemática dos pontos da Rede Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas.

Fonte: Adaptado de: ALVES JUNIOR, A.C. Consolidando a rede de atenção às condições crônicas: experiência da rede hiperdia de Minas Gerais. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/consolidando_rede_atencao.pdf>.

I - expressar os fluxos assistenciais que precisam ser garantidos ao usuário a fim de atender às necessidades de saúde relacionadas a uma condição crônica; eII - definir as ações e os serviços que serão ofertados por cada componente da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas, baseadas em diretrizes clínicas e de acordo com a realidade de cada região de saúde, sempre considerando as evidências científicas sobre o tema de que trata (BRASIL, 2017).

Page 24: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

24

As condições crônicas, especialmente as doenças crônicas, iniciam e evoluem lentamente. Conforme já discutido, tais doenças usualmente apresentam múltiplas causas que variam no tempo, incluindo hereditariedade, estilos de vida, exposição a fatores ambientais e a fatores fisiológicos. Normalmente, faltam padrões regulares ou previsíveis para abordar essas condições, e a estruturação da atenção do cuidado na perspectiva de rede de atenção tem sido uma estratégia que atinge a essas necessidades.

Assim, neste livro discutiremos acerca do atendimento odontológico aos portadores de algumas doenças crônicas prevalentes: hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e doença renal crônica.

Page 25: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

25

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

REFERÊNCIAS

ALVES JUNIOR, A.C. Consolidando a rede de atenção às condições crônicas: experiência da rede hiperdia de Minas Gerais. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/consolidando_rede_atencao.pdf>.

AMORIM, C. C.; PESSOA, F. S. (Org.). Envelhecimento e saúde da pessoa idosa: políticas, programas e rede de atenção à saúde do idoso. São Luís: UNA-SUS, 2014.

BRASIL. CONASS. A Atenção Primária e as Redes de Atenção à Saúde. Brasília: CONASS, 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.160 p. (Série B. Textos Básicos de Saúde). Disponível em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf >. Acesso em: 30 abr. 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria de Consolidação n° 3, de 28 de setembro de 2017. Consolidação das normas sobre as redes do Sistema Único de Saúde. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prc0003_03_10_2017.html>. Acesso em: 30 abr. 2018.

MENDES, E. V. As redes de atenção à saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2011. 549 p.

WHO. Global status report on noncommunicable diseases 2014: Attaining the nine global noncommunicable diseases targets; a shared responsibility. Geneva: Who Press, 2014.

Page 26: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

26

WHO. Noncommunicable Diseases Progress Monitor. Geneva: World Health Organization, 2017. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/258940/9789241513029-eng.pdf;jsessionid=AE1A41248348FECFC13BD9AC7729B599?sequence=1. Acesso em: 30 abr. 2018.

Page 27: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

27

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

3 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

A hipertensão arterial sistêmica apresenta alta prevalência no Brasil e no mundo. É importante fator de risco para complicações cardiovasculares, acidentes vasculares encefálicos (AVE), doenças coronarianas, renais e vasculares periféricas. Além disso, a doença está associada às demais doenças e condições crônicas, tais como doença renal crônica, diabetes, entre outras. Essas evidências lhe conferem magnitude, em razão do agravamento das condições de saúde do indivíduo, concorrendo para a perda da qualidade de vida, para a letalidade precoce, para os altos custos sociais e do sistema de saúde. Nesse capítulo abordaremos aspectos clínicos relacionados ao atendimento odontológico do indivíduo com hipertensão arterial sistêmica.

3.1 Definição

Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão (2016), pressão arterial é a pressão exercida pelo sangue nas artérias durante a circulação. Para manutenção da circulação sanguínea e pressão arterial, o coração realiza os movimentos de sístole e diástole. A alteração na pressão exercida durante esses dois movimentos é o que pode levar ao quadro de hipertensão. Na figura 5 podemos observar melhor essas definições:

Page 28: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

28

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). É um problema mundial de saúde pública e está frequentemente associada a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos). As alterações metabólicas têm sido consideradas como o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares. Em um relato de meta-análise envolvendo 61 estudos com mais de um milhão de participantes hipertensos, observou-se que a redução de ambas as pressões, sistólica e diastólica, reduziram as complicações cardiovasculares (TURNBULL et al., 2005).

Figura 5 - Movimento do fluxo sanguíneo.

Fonte: Adaptado de: SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO. O que é hipertensão. São Paulo, 2016. Disponível em: <http://www.sbh.org.br/geral/oque-e-hipertensao.asp>.

3.2 Aspectos epidemiológicos

Estudos populacionais em diversas cidades brasileiras mostraram prevalência de HAS acima de 30%. Considerando valores de PA ≥ 140/90 mmHg, 22 estudos encontraram prevalências entre 22,3% e 43,9%, (média de 32,5%), com mais de 50% entre 60 e 69 anos e 75% acima de 70 anos (SBC, 2010). Estes mesmos estudos revelaram

Page 29: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

29

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

a prevalência de HAS em 35,8% nos homens e de 30% em mulheres, semelhante à de outros países. Uma revisão sistemática quantitativa de 2003 a 2008, envolvendo 44 estudos de 35 países, revelou prevalência global de 37,8% em homens e 32,1% em mulheres (PEREIRA et al., 2009).

Segundo a SBC; SBH; SBN (2010), a hipertensão arterial é mais prevalente na população masculina até os 50 anos de idade. A partir dessa faixa etária, esses números começam a se inverter, mostrando uma prevalência maior em mulheres. Porém, em ambos os sexos, os números são crescentes com o avançar da idade.

Entre os fatores de risco mais conhecidos para HAS, podemos citar idade, gênero e etnia, ingesta de sal, ingesta de álcool, sedentarismo, fatores socioeconômicos, entre outros, como:

Fonte: Adaptado de: SBC. SBH. SBN. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol, v. 95, n. 1, supl.1, p. 1-51, 2010. Disponível em: <http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2010/Diretriz_hipertensao_associados.pdf>.

Figura 6 - Fatores de risco modificáveis e não modificáveis para a hipertensão arterial sistêmica.

Page 30: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

30

3.3 Diagnóstico e tratamento

A HAS é diagnosticada pela detecção de níveis elevados e sustentados de PA pela medida casual. A medida da PA pode ser realizada por médicos e por profissionais da saúde, como os dentistas (JAMES et al., 2014).

Os valores que definem e classificam a hipertensão são arbitrários, mas necessários para orientar o diagnóstico, o tratamento e principalmente a prevenção. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, é considerada normal para o adulto a PA menor ou igual a 120 mmHg para pressão arterial sistólica (PAS) e inferior 80 mmHg para pressão arterial diastólica (PAD).

Segundo as Diretrizes da Associação Americana do Coração e do Colégio Americano de Cardiologia (2017), aceitam-se como normal para indivíduos adultos (com mais de 18 anos de idade) cifras inferiores a inferiores a 120 mmHg para pressão arterial sistólica (PAS) e inferior 80 mmHg para pressão arterial diastólica (PAD).

Cifras superiores a 120 mmHg para PAS com PAD < 80 mmHg já caracterizam o status de pressão arterial elevada. A tabela 1 sumariza a classificação da PA para indivíduos acima de 18 anos de idade, de acordo com 7ª diretriz brasileira de hipertensão arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Tabela 1 - Classificação da PA de acordo com a medição casual ou no consultório a

partir de 18 anos de idade.

Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Volume 107, Nº 3, Suplemento3, Setembro 2016. Disponível em: <http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.pdf>.

Page 31: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

31

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

REFLETINDO!

Agora que você já sabe o que é hipertensão arterial, suas causas e sua classificação, faça uma lista com todos os seus fatores de riscos e classifique a sua pressão arterial em uma aferição isolada. Dessa forma, você poderá observar se está com a pressão arterial controlada e quais os riscos de desenvolver HAS.

Atualmente existem programas para mensurar o risco de doença cardiovascular. Um exemplo é o que pode ser encontrado no site da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

O manejo adequado da hipertensão arterial, de caráter prioritário, requer ações articuladas nos três eixos: a vigilância da hipertensão, das comorbidades e de seus determinantes; a integralidade do cuidado; e a promoção da saúde. Estratégias comportamentais voltadas para mudança do estilo de vida devem ser o foco das ações para mobilização social. Incentivos para a construção de hábitos saudáveis e autocuidado, seja por meio de ações educativas ou mesmo investimentos governamentais que favoreçam o acesso a uma dieta mais saudável e a realização de atividades físicas, são fundamentais para o controle da HAS (BRASIL, 2013; WHELTON et al, 2017).

Muitos indivíduos com hipertensão apresentam outros fatores de risco para obesidade, diabetes mellitus, doença renal crônica (DRC) e outras doenças crônicas não transmissíveis. Assim, para todos os adultos

As mudanças na classificação da HAS ocorrem a partir dos resultados de estudos randomizados controlados e meta-análises que mostraram associação entre a hipertensão e as doenças cardiovasculares (DCV). Nesse sentido observou-se que valores de PA inferiores a 120/80 mmHg estiveram associados com menor ocorrência de doenças coronarianas e infarto do miocárdio, quando comparados a valores superiores de PA. Dessa forma, a classificação com valores desejados mais baixos de PA, busca a prevenção mais eficiente das DCV (WHELTON et al, 2017).

Page 32: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

32

Figura 7 - Órgãos-alvos do aumento da pressão arterial.

Fonte: Adaptado de: CRUZ, M.M. Inimiga do coração: hipertensão atinge um a cada quatro adultos: médicos tentam combater e alertar a população sobre a doença. 2015. Disponível em: <http://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2015/04/26/noticias-saude,187728/inimiga-do-coracao-hipertensao-atinge-um-a-cada-quatro-adultos.shtml>.

Estratégias medicamentosas para o controle da pressão arterial devem ser consideradas de acordo com fatores individuais, a partir do grau de motivação da pessoa para mudanças no estilo de vida, além dos níveis pressóricos e risco cardiovascular. Os medicamentosanti-hipertensivos são normalmente bem tolerados, apresentando poucos efeitos adversos durante o tratamento. Entretanto, uma queixa frequente dentre usuários dos fármacos é a tontura, atribuída ao

diagnosticados com HAS deve ser realizado o rastreio e o manejo dos fatores de risco modificáveis para prevenir o acometimento do indivíduo por outras doenças crônicas (WHELTON et al, 2017).

A HAS pode causar danos em outros órgãos, que são por essa razão denominados de órgão alvo. Observe na figura 7:

Page 33: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

33

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

excesso do efeito hipotensor (BRASIL, 2014). A queda brusca da pressão arterial e a hipotensão ortostática que podem acometer indivíduos usuários de anti-hipertensivos (especialmente aqueles com efeito vasodilatador) também podem provocar danos como a síncope (SBC, 2010).

3.4 Manifestações bucais

A hipertensão arterial sistêmica por si só não causa manifestações bucais diretamente, porém há manifestações secundárias, decorrente do uso de medicamentos para o controle da pressão arterial. O uso de medicamentos anti-hipertensivos, principalmente os diuréticos, podem ocasionar secura bucal. Outras possíveis alterações bucais estão resumidas no quadro 1.Quadro 1 - Principais manifestações bucais associadas ao uso de medicações por

pacientes hipertensos.

Fonte: FONSECA, F.A.H.; FENELON, G.D. (Coord.). I Manual SOCESP de condutas multidisciplinares no paciente grave. Rev Soc Cardiol do Estado de São Paulo, São Paulo, v. 25, n. 2, supl. A, p. 13-58, abr./jun. 2015. Disponível em: <http://www.socesp.org.br/upload/suplemento/2015/SUPLEMENTO-DA-REVISTA-SOCESP-V25-N2A-DIRETRIZ.pdf>.

Page 34: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

34

3.5 Rede de atenção e linha de cuidado para portadores de HAS

A finalidade da estruturação de uma Linha de Cuidado da hipertensão arterial sistêmica (HAS) é consolidar a atenção à pessoa com essa doença seguindo princípios de integralidade e de longitudinalidade do cuidado, em todos os pontos de uma rede (BRASIL, 2013).

Uma das medidas de rastreio da HAS na Atenção Básica é a aferição da pressão arterial de todo adulto com 18 anos de idade ou mais que se dirigir à Unidade Básica de Saúde (UBS) para consulta, atividades educativas, procedimentos, entre outros, e não tiver registro no prontuário de pelo menos uma verificação da PA nos últimos dois anos (BRASIL, 2013). Sendo essa uma medida que o cirurgião-dentista poderá contribuir, como discutiremos posteriormente.

Considerando a alta prevalência da hipertensão arterial sistêmica, é recomendado que o dentista realize a aferição da pressão arterial na primeira consulta do novo paciente. Assim, caso seja identificada alguma alteração da PA, o cirurgião-dentista deverá encaminhar esse indivíduo para o médico clínico geral ou cardiologista a fim de que estabelecido ou não o diagnóstico de hipertensão e o tratamento adequado seja instituído. O dentista ainda deve orientar o paciente sobre os fatores de risco das DCNT, como obesidade, sedentarismo, alimentação, tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas (BRASIL, 2013).

REFLETINDO!

É importante lembrar que não há necessidade de organizar o cuidado na Atenção Básica de forma fragmentada, por doenças, sendo fundamental garantir o acesso e o cuidado longitudinal para a pessoa independentemente de qual problema ela possui.

Page 35: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

35

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

3.6 Condutas para o atendimento odontológico

A principal preocupação do dentista que vai tratar de um paciente hipertenso diz respeito à manutenção de sua hemodinâmica. Nesse sentido, deve-se minimizar o risco de elevação rápida e sintomática da PA, com risco potencial de deterioração de órgão-alvo ou em casos raros e extremos, com risco imediato de vida. Também busca-se minimizar a queda brusca de PA e hipotensão ortostática, que podem cursar com síncope e acometer aqueles indivíduos que usam drogas anti-hipertensivas, em especial aquelas com efeito vasodilatador (ROSÁRIO et al., 2009).

Assim, a anamnese deve questionar sobre a data do diagnóstico de hipertensão, forma de tratamento, a identificação dos medicamentos anti-hipertensivos, a adesão do paciente ao regime terapêutico médico, se há presença de sintomas associados à hipertensão, órgão alvo afetados pela hipertensão e o nível de estabilidade e controle da doença (FONSECA; FENELON, 2015).

Usuários com HAS que procuram a UBS para atendimento odontológico precisam ter sua história clínica coletada previamente ao atendimento, obtendo-se informações sobre as condições gerais de saúde. Na mesma avaliação inicial, devem-se verificar quais são as necessidades odontológicas.

É recomendado ao cirurgião dentista que vai atender o paciente já diagnosticado com HAS que conheça a história médica pregressa e atual de seu paciente, medicamentos que faz uso e sua adesão ao tratamento médico proposto. Antes de iniciar as consultas odontológicas, eletivas ou não, a pressão arterial deve ser aferida.

Como mencionamos anteriormente, o ideal é que o tratamento odontológico ambulatorial não interfira na hemodinâmica do paciente, ou seja: deve-se evitar alterações bruscas de PA, ritmo cardíaco e demanda de oxigênio do miocárdio. Essas alterações podem ser provocadas pelo stress emocional, comum nas situações odontológicas.

Page 36: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

36

Por isso o dentista deve minimizar esse estresse agendando o paciente em horários de maior conforto para ele, realizar consultas curtas, controlar adequadamente a dor intraoperatória e prescrever, se necessário, droga ansiolítica antes do atendimento.

Infelizmente, não existem “receitas de bolo” e limites pressóricos que limitem ou que permitam o atendimento odontológico ambulatorial. Mas, a pressão arterial acima de 210X120 mmHg é considerada caso de urgência médica, prevalecendo sobre a urgência odontológica. A necessidade odontológica de pacientes com pressão arterial em estágio 3, 180X110 mmHg no momento da consulta deve ser analisada individualmente e na dependência do procedimento a ser realizado, do stress do paciente e de sua condição clínica o procedimento pode ser realizado ou postergado para uma outra consulta.

Não devemos nos esquecer que a dor colabora com o aumento da pressão arterial e por essa razão deve ser resolvida por meio de procedimentos operatórios ou prescrição medicamentosa.

Uma frequente preocupação do cirurgião-dentista ao atender o paciente com HAS diz respeito ao uso de anestésico local. Diversos estudos têm demonstrado não haver alteração nas condições hemodinâmicas de pacientes que receberam anestésico local com vasoconstritor (SILVESTRE et al., 2011; LARAGNOIT et al., 2009; NEVES Net al., 2007). O uso de anestésico local com vasoconstritor é indicado para pacientes hipertensos, uma vez que o controle da dor e do estresse emocional são importantes, pois aumentam a liberaçãos de catecola-minas endógenas. A sedação inalatória com óxido nitroso/oxigênio pode ser uma opção útil para diminuir o stress emocional de pacientes hipertensos (BRASIL, 2013).

O uso de 2 tubetes de lidocaína 2% com 1:100.000 de epinefrina é bem tolerado por indivíduos hipertensos, sendo que o uso deste vasoconstritor possui mais benefícios que riscos. Atenta-se para o cuidado de usar seringa com aspiração para prevenir a injeção no vaso, bem como não deve ser realizada anestesia intra-ligamentar. Estudos

Page 37: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

37

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

têm demonstrado que o uso da felipressina como vaso constritor também é seguro uma vez que é não adrenérgica, não eleva os valores pressóricos, nem a frequência cardíaca e nem a respiratória. Neste caso pode ser usada em maior quantidade, até 8 tubetes.

Embora não haja na literatura, relatos de complicação hipertensiva em consultório odontológico (nível de evidência C), uma possível complicação é a crise hipertensiva, termo genérico em que ocorre elevação rápida e sintomática da PA, invariavelmente com níveis de pressão diastólica (PAD) superiores a 120 mmHg, com risco potencial de deterioração de órgão-alvo ou de vida imediato.

Outras possíveis complicações incluem as síncopes, queda brusca de PA e hipotensão ortostática, mais frequente naqueles indivíduos que fazem uso de anti-hipertensivos, em especial aqueles com efeito vasodilatador.

A HAS associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos chamados órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não fatais. O infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular encefálico (“derrame”) são as duas manifestações agudas possíveis de acometer um paciente hipertenso em quaisquer situações de suas vidas, independentemente do tratamento odontológico.

Por apresentar como principal vantagem uma repercussão reduzida sobre o sistema cardiovascular, a literatura aponta que a felipressina 0,03 UI/ml é o vasoconstritor de melhor escolha para pessoas cardiopatas (BRASIL, 2013). A dose do anestésico está condicionada ao tipo e concentração do vasoconstritor e não há consenso sobre o uso de anestésicos com vasoconstritores. A dose máxima de felipressina recomendada para pessoas cardiopatas não deve ultrapassar 0,27 UI, o que equivale a cinco tubetes de 1,8 ml, enquanto a adrenalina 1:100.000 ou 1:200.000 também pode ser utilizada em doses pequenas; o ideal é não ultrapassar o limite de dois tubetes por sessão, quando

Page 38: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

38

se tratar de uma pessoa hipertensa controlada (BRASIL, 2013).Outro cuidado está relacionado à prescrição medicamentosa de

anti-inflamatórios não esteroidais (Aines) que podem afetar o mecanismo de ação de drogas anti-hipertensivas como β-bloqueadores, inibidores da ECA e diuréticos, e por isso devem ser prescritos por períodos curtos, de no máximo quatro dias (BRASIL, 2013; TURNBULL et al., 2005).

Estudos relatam que os Aines podem ser substituídos por analgésicos para evitar essa interação, entretanto, na prática, o uso de Aines produz um efeito clínico significativamente superior. Desse modo, seria ideal prescrever o medicamento por cerca de três dias e orientar a pessoa a diminuir a ingestão de sal durante o uso de Aines (BRASIL, 2013).

Devem-se planejar sessões curtas de atendimento, preferencialmente na segunda parte do período da manhã. A pressão arterial (PA) deve ser monitorada antes, durante e após toda a intervenção, na dependência do quadro de hipertensão do paciente (RAJEEV et al., 2010).

Na prática clínica, empiricamente, adotam-se os valores de PA até 180/110 mmHg como valores limites para realização de procedimento odontológico, apesar de não estar claramente estabelecido na literatura qual é o valor de PA seguro para a realização de um procedimento eletivo ou de urgência.

IMPORTANTE!

Vale ressaltar que o uso da sedação inalatória por cirurgiões-dentistas no SUS ainda não consta no Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS (SIGTAP), assim, é importante consultar periodicamente os procedimentos disponíveis no sistema. Essa atualização ocorre mensalmente (BRASIL 2016).

Page 39: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

39

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.160 p. (Série B. Textos Básicos de Saúde). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_acoes_enfrent_dcnt_2011.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2018.

_____. _____. _____. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. 128 p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 37). Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno _37.pdf>. Acesso em: 7 nov. 2016.

_____._____. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 128 p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 37). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/hipertensao_arterial_sistemica_cab37.pdf>. Acesso em: 7 nov. 2016.

_____._____. SIGTAP-Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS. DATASUS, 2016. Disponível em: <http://sigtap.datasus.gov.br/tabela-unificada/app/download.jsp>. Acesso em: 7 nov. 2016.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Volume 107, Nº 3, Suplemento 3, Setembro 2016. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/2014/diretrizes/2016/05_HIPERTENSAO_ARTERIAL.pdf>. Acesso em: 7 nov. 2017.

Page 40: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

40

FONSECA, F.A.H.; FENELON, G.D. (Coord.). I Manual SOCESP de condutas multidisciplinares no paciente grave. Rev Soc Cardiol do Estado de São Paulo, São Paulo, v. 25, n. 2, supl. A, p. 13-58, abr./jun. 2015. Disponível em: <http://www.socesp.org.br/upload/suplemento/2015/SUPLEMENTO-DA-REVISTA-SOCESP-V25-N2A-DIRETRIZ.pdf>. Acesso em: 7 nov. 2016.

JAMES, P.A. et al. Evidence-based guideline for the management of high blood pressure in adults: report from the panel members appointed to the Eighth Joint National Committee (JNC 8). JAMA, 2014. Disponível em: <http://jama.jamanetwork.com/journal.aspx>. Acesso em: 8 nov. 2016.

LARAGNOIT, A. B. et al. Locoregional anesthesia for dental treatment in cardiac patients: a comparative study of 2% plain lidocaine and 2% lidocaine with epinephrine (1:100,000). Clinics: v. 64, n.3. p.177-182, 2009.

NEVES, R.S. et al. Effects of epinephrine in local dental anesthesia in patients with coronary artery disease. Arq Bras Cardiol., São Paulo, v. 88, n. 5, p. 545-51, mayo. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0066-782x2007000500008&script=sci_arttext&tlng=en>. Acesso em: 8 nov. 2016.

PEREIRA, M. et al. Differences in prevalence, awareness, treatment and control of hypertension between developing and developed countries. J Hypertension, v. 27, n. 5, p. 963-975, mayo. 2009. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19402221>. Acesso em: 8 nov. 2016.

RAJEEV, G.; SONEIL, G. Strategies for initial management of hypertension. Indian J Med Res., v. 132, p. 531-542, nov. 2010. Disponível em: <http://medind.nic.in/iby/t10/i11/ibyt10i11p531.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2016.

Page 41: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

41

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

ROSÁRIO, T.M. et al. Prevalência, controle e tratamento da hipertensão arterial sistêmica em Nobres, MT. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 93, n. 6, p. 672–678, dec. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2009001200018>. Acesso em: 8 nov. 2016.

SBC. SBH. SBN. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol, v. 95, n.1, supl.1, p.1-51, 2010. Disponível em: <http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2010/Diretriz_hipertensao_associados.pdf>. Acesso em: 7 nov. 2016.

SILVESTRE, F.J. et al. Clinical study of hemodynamic changes during extraction in controlled hypertensive patients. Med Oral Patol Oral Cir Bucal, v. 16, n. 3 p.354- 358, 2011.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO. O que é hipertensão. São Paulo, 2016. Disponível em: <http://www.sbh.org.br/geral/oque-e-hipertensao.asp>. Acesso em: 7 nov. 2016.

TURNBULL, F. et al. Effects of different blood pressure-lowering regimens on major cardiovascular events in individuals with and without diabetes mellitus: results of prospectively designed overviews of randomized trials. Arch Intern Med., v. 165, n. 12, p. 1410-9, jun. 2005. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15983291>. Acesso em: 8 nov. 2016.

WHELTON, P.K. et al. High Blood Pressure Clinical Practice Guideline: Executive Summary. 2017. Disponível em: <http://hyper.ahajournals.org/content/hypertensionaha/early/2017/11/10/HYP.0000000000000066.full.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2018.

Page 42: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

42

4 DIABETES MELLITUS

A diabetes mellitus é considerada um dos maiores desafios à saúde no mundo no século 21. Estima-se que em 2040 a doença atinja 640 milhões de adultos no mundo com 60% de aumento na América Central e América do Sul (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2015). Por trás desse aumento da prevalência da diabetes tipo 2 estão fatores como o envelhecimento da população, mudanças dietéticas, tabagismo, obesidade, sedentarismo, entre outros (WHO, 2016). Neste capítulo discutiremos sobre os aspectos clínicos da diabetes mellitus e as possíveis implicações durante o atendimento odontológico.

4.1 Definição e classificação

Segundo a American Diabetes Association, diabetes mellitus (DM) é um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que apresenta em comum a hiperglicemia, resultado de defeitos na ação da insulina, na secreção de insulina ou em ambas (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2015).

A diabetes é classificada em diabetes mellitus tipo 1, tipo 2, diabetes gestacional e outros tipos específicos de diabetes (MILECH et al., 2016):

Page 43: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

43

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

Além dessa classificação, existem ainda duas situações específicas denominadas de “pré-diabetes”, consideradas de risco aumentado para o desenvolvimento de DM: a glicemia de jejum alterada e a tolerância à glicose diminuída. A glicemia de jejum alterada está relacionada às concentrações de glicemia de jejum inferiores ao critério diagnóstico para DM, contudo mais elevadas que o valor de referência normal. A tolerância à glicose diminuída representa uma anormalidade na regulação da glicose no estado pós-sobrecarga, diagnosticada por meio de teste oral de tolerância à glicose (TOTG) (MILECH et al., 2016).

4.2 Aspectos epidemiológicos

A diabetes é um problema de saúde pública, com importante morbidade decorrente de complicações agudas e crônicas e alta taxa de hospitalizações e de mortalidade. O número de casos e a sua preva-

Page 44: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

44

lência têm aumentado ao longo das últimas décadas. Entre os fatores relacionados a esse aumento, estão o envelhecimento populacional, a urbanização, o sedentarismo, a obesidade e a longevidade aumentada das pessoas com DM (WILD et al., 2004).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou, em 2016, que o número de pessoas com diabetes no mundo cresceu de 108 milhões, em 1980, para 422 milhões em 2014. A prevalência mundial entre adultos saltou de 4,7%, em 1980, para 8,5%, em 2014 (WHO, 2016 WILD et al., 2004).

Atualmente, o Brasil possui 14.3 milhões de pessoas com diabetes. Em 2014, estimou-se que 12 milhões de pessoas, na faixa etária de 20 a 79 anos, estavam com diabetes no Brasil. O país, que em 2000 ocupava o oitavo lugar entre os dez países com maior número de casos de diabetes (4,6 milhões), ocupará provavelmente a sexta posição em 2030 (WHO, 2016).

Para a diabetes tipo 1, os dados indicavam uma incidência de 24 novos casos por cem mil crianças (0 a 14 anos) por ano, no Brasil, em 2015 (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2015). Em crianças, a diabetes mellitus tipo 1 é responsável por 90% dos casos de diabetes; embora o diagnóstico antes dos 15 anos ocorra apenas em 50% dos casos (MILECH, 2016).

Podemos observar na figura 8 alguns dados relativos à epi-demiologia da diabetes no mundo:

Page 45: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

45

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

Figura 8 - Dados relativos à epidemiologia da diabetes no mundo.

Fonte: Internacional Diabetes Federation. IDF DIABETES ATLAS. 8ª edição. 2017. Disponível em: <http://diabetesatlas.org/IDF_Diabetes_Atlas_8e_interactive_EN/>. Acesso em: 09 jul. 2018.

Page 46: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

46

A doença provoca efeitos adversos na qualidade de vida e importantes impactos econômicos e sociais para os indivíduos, a sociedade e os países. Diabetes e hipertensão constituem a primeira causa de hospitalização no sistema público de saúde do Brasil (BRASIL, 2011). O custo direto estimado para o país gira em torno de 3,9 bilhões de dólares anuais. O Sistema Único de Saúde gasta aproximadamente R$ 40,3 milhões anuais, sendo 91% decorrentes de internações hospitalares (MILECH et al., 2016).

Com o objetivo de enfrentar esses desafios, a Organização Mundial de Saúde vem recomendando aos países a implantação de sistemas de atenção à saúde integrados, que efetivamente atendam às necessidades de saúde da população (WHO, 2015).

4.3 Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da DM pode ser estabelecido pela glicemia em jejum (8 horas), pela glicemia casual, pela tolerância oral à glicose e pela hemoglobina glicada, cujos valores de corte, determinados no último consenso, estão descritos no quadro 2 (MILECH et al., 2016).

Quadro 2 - Critérios para o diagnóstico de DM.

Fonte: MILECH, A. et al (Org.). Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2015-2016). São Paulo: Sociedade Brasileira de Diabetes. 2016, p.348. Disponível em: <http://www.diabetes.org.br/sbdonline/images/docs/DIRETRIZES-SBD-2015-2016.pdf>.

Page 47: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

47

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

O tratamento da diabetes fundamenta-se no controle dos níveis de glicose no sangue, com o objetivo de prevenir as complicações agudas e crônicas. Segundo a SBD, o principal recurso para o tratamento do indivíduo com diabetes inclui a modificação do estilo de vida, práticas de atividade física, reestruturação dos hábitos alimentares e uso de medicamentos e/ou insulina, quando necessário (MILECH et al., 2016).

O tratamento da DM varia de acordo com a sua classificação e aspectos clínicos.

O tratamento da diabetes tipo 1 é realizado com insulina exógena, uma vez que o pâncreas não a produz. Existem vários tipos de insulina, com diferentes tempos de ação. O tratamento, seja com múltiplas doses, seja com sistema de infusão contínua de insulina, requer o monitoramento intensivo do paciente, por meio dos testes de verificação da glicemia capilar ao longo do dia (MILECH et al., 2016).

Na diabetes tipo 2, o controle metabólico inclui estratégias que visam à mudança no estilo de vida, reorganização da dieta e uso de hipoglicemiantes orais e se necessário o uso de insulina exógena, quando o pâncreas perde a capacidade de secreção. Hábitos modificáveis que podem contribuir para o controle da diabetes tipo 2 incluem: praticar exercícios, alimentar-se adequadamente, manter o peso ideal e realizar exercícios físicos (MILECH et al., 2016).

PARA SABER MAIS!

Para entender um pouco mais sobre o que é a diabetes e quais os tratamentos mais indicados para cada tipo, você pode acessar as “Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes” (2015-2016), disponível no site da Sociedade Brasileira de Diabetes (MILECH et al., 2016).

Page 48: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

48

4.4 Complicações agudas e crônicas

A diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é assintomática em grande parte dos indivíduos, por isso cerca de 50% das pessoas com diabetes não sabem que têm a doença, muitas vezes permanecendo não diagnosticados até que complicações se manifestem. Por vezes, podem ser observados os chamados “sintomas clássicos” da diabetes, também conhecidos como os “4 Ps” distribuídos na figura 9.

Nas fases mais avançadas da doença ocorre uma série de complicações crônicas como neuropatia, retinopatia, doença cardiovascular aterosclerótica, dentre outras. Essas complicações decorrem principalmente das alterações vasculares (macro e micro) causadas pela hiperglicemia (WEINERT et al., 2011).

Em casos de DM tipo 1, as primeiras manifestações clínicas são evidentes e agudas, aparecem em menos de uma semana após a instalação da doença, sendo acompanhadas por quadro de cetoacidose (WEINERT et al., 2011; SELWITZ; PIHLSTROM, 2003).

As complicações agudas da diabetes decorrem da hipoglicemia e da hiperglicemia. A hipoglicemia é definida por valores sanguíneos de glicose abaixo de 70 mg/dl no sangue. Pode ser assintomática ou vir acompanhada de sintomas que incluem (figura 10):

Figura 9 - Sintomas comuns no diabetes tipo 2.

Fonte: Adaptado de: WHO. Global report on diabetes. Geneva: Who Press, 2016. Disponível em: http:// apps.who.int/iris/bitstream/10665/204871/1/97892 41565257_eng.pdf?ua=1>.

Page 49: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

49

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

Aumento da profundidade de sondagem

Aumento da mobilidade

dentária

Aumento do aparecimento da inflamação

gengival

Aumento do fluido crevicular

gengival

Figura 10 - Sintomas de diabetes mellitus.

Fonte: Adaptado de: SELWITZ, R.H.; PIHLSTROM, B.L. How to lower risk of developing diabetes and its complications: recommendations for the patient. J Am Dent Assoc.. v.134, oct., 2003.

Quando não tratada pode evoluir para síncope, convulsão, coma e morte (SELWITZ; PIHLSTROM, 2003).

As complicações agudas relacionadas com hiperglicemia são a cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH), e podem ocorrer na diabetes mellitus tipos 1 e 2 (DM1 e DM2). Os fatores precipitantes mais comuns de CAD e EHH são as infecções, especialmente as do trato respiratório superior, as pneumonias e as infecções de vias urinárias. Os tratamentos da CAD e o EHH são as infecções, especialmente as do trato respiratório superior, as pneumonias e as infecções de vias urinárias. Os tratamentos da CAD e o EHH são similares e devem ser conduzidos em unidade de terapia intensiva (SELWITZ; PIHLSTROM, 2003).

Page 50: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

50

As complicações crônicas decorrem da microangiopatia, da macroangiopatia e da neuropatia determinadas pela hiperglicemia a longo prazo. As mais comuns são a nefropatia, retinopatia, doença cardíaca coronária, doença cerebrovascular, polineuropatia e pé diabético. Essas alterações ocorrem na dependência da duração da diabetes, de seu controle metabólico, da presença e controle da hipertensão, e da susceptibilidade genética (SELWITZ; PIHLSTROM, 2003).

A vasculopatia na diabetes pode apresentar-se sob duas formas: a macroangiopatia, responsável pela doença cardio e cerebrovascular e a microangiopatia, responsável pela retinopatia e nefropatia.

Na figura 11 podemos ver exemplos de algumas complicações crônicas relacionadas com a diabetes e órgãos afetados:

Figura 11 - Complicações crônicas relacionadas com a diabetes e órgãos afetados.

Fonte: PESSOA, F. S. (Org.). Redes de atenção à saúde: rede de atenção às condições crônicas. São Luís: UNA-SUS, 2015.

Page 51: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

51

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

4.5 Rede de atenção e linha de cuidado para portadores de DM

A linha de cuidado da diabetes deve fortalecer e qualificar a atenção à pessoa com a doença. De acordo com as “Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus”, o processo de organização da linha de cuidado de DM para a equipe de Atenção Básica deve (BRASIL, 2013):

Page 52: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

52

Apesar das linhas de cuidado serem organizadas por doença, é importante ressaltar que os usuários devem ser avaliados integralmente, sem a fragmentação do cuidado. Nesse sentido, ações preventivas e curativas de saúde bucal são de fundamental importância para o cuidado dos pacientes portadores de DM. Assim, as ações de saúde bucal devem estar plenamente integradas entre a equipe de saúde bucal e os demais membros da Atenção Básica, possibilitando a manutenção da saúde dos usuários e melhor qualidade de vida (BRASIL, 2013).

4.6 Manifestações bucais

Não existem manifestações bucais específicas da diabetes, mas algumas alterações parecem estar relacionadas com sua presença e com a qualidade do controle glicêmico.

Alguns estudos mostram maior prevalência e severidade de doença periodontal (DP) em indivíduos com diabetes quando com-parados a pessoas sem diabetes. Alguns dados sugerem que a seve-ridade da DP está relacionada com o grau de controle metabólico, com o tempo de duração da diabetes e com a presença de comorbidades (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2015; WILD et al., 2004). A DP também pode interferir no controle glicêmico,uma vez que representa uma infecção. Uma vez diagnosticada a DP, o tratamento local deve ser instituído e seguir os mesmos princípios adotados para pacientes sem diabetes (SHIP, 2003; MEALEY; OATES, 2006).

A xerostomia e especialmente a diminuição do fluxo salivar podem decorrer da descompensação glicêmica e surgirem em virtude da desidratação ou estarem associadas ao uso de medicamentos que diminuem o fluxo salivar, como por exemplo os hipotensores, que muitas vezes são usados por pessoas com diabetes. A boca seca causa desconforto e aumenta a suscetibilidade a infecções oportunistas fúngicas, especialmente a candidíase. A candidíase pode ser tratada

Page 53: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

53

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

na dependência da extensão da infecção com (SHIP, 2003):

O emprego de estimulantes salivares, substitutos salivares artificiais, bochechos fluoretados e a boa higiene bucal são medidas possíveis para ajudar os pacientes com diabetes e redução do fluxo salivar. A síndrome da boca ardente, definida como dor ou sensação de ardência intensa na mucosa bucal, sem etiologia identificada, pode estar relacionada secundariamente a diabetes, alterações hormonais, deficiências nutricionais, entre outras situações (MILECH et al, 2016).

4.7 Condutas para o atendimento odontológico

A anamnese do paciente odontológico com diabetes deve ser detalhada e avaliar as condições gerais. Atenção principal deve ser dada aos níveis recentes de glicemia de jejum e de hemoglobina glicada, tipo e posologia dos medicamentos antidiabetogênicos e comorbidades presentes (KIDAMBI; PATEL, 2008; MILEY; TEREZHALMY, 2005; SHIP, 2003).

Antes de iniciar a consulta odontológica, mesmo que os procedimentos a serem realizados sejam não invasivos, é prudente aferir a glicemia capilar, considerando sempre as informações do paciente sobre hora e dose do medicamento ingerido e a hora da última ingestão alimentar (KIDAMBI; PATEL, 2008; MILEY; TEREZHALMY, 2005; SHIP, 2003).

Page 54: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

54

A pressão arterial deverá ser mensurada em pacientes com diabetes. Quer seja para rastreamento de hipertensão arterial sistêmica (HAS), quer seja para seu controle, caso o paciente já tenha diagnósticode HAS. A frequência de mensuração nas consultas odontológicas varia com a classificação da hipertensão. Assim, recomenda-se que pacientes com hipertensão em estágio 2 tenham sua PA aferida em toda a consulta odontológica (KIDAMBI; PATEL, 2008; MILEY; TEREZHALMY, 2005; SHIP, 2003).

O cirurgião-dentista não deve executar procedimentos se os níveis de glicemia capilar apontar valores inferiores a 70 mg/dl, a fim de prevenir crise hipoglicêmica. Nesses casos, ele pode pedir para o paciente se alimentar e depois iniciar o atendimento (KIDAMBI; PATEL, 2008; MILEY; TEREZHALMY, 2005; SHIP, 2003).

Não existem valores hiperglicêmicos definidos que restrinjam o atendimento odontológico ambulatorial. Quando a glicemia está acima de 250 mg/dl e houver sinais e sintomas, tais como náuseas, letargia, dor abdominal, dispneia, alterações visuais, sonolência, irritabilidade, taquicardia, hipotensão postural, desidratação, hipotermia, respiração de Kussmaul, hálito cetônico, a consulta deve ser postergada e o paciente deve ser encaminhado para o pronto atendimento, uma vez que ele provavelmente está em quadro de cetoacidose. Mas se o paciente estiver clinicamente bem, mesmo com valores acima de 250 mg/dl, intervenções odontológicas, especialmente no sentido de minimizarem a dor e quadros de infecção, podem ser realizadas (KIDAMBI; PATEL, 2008; MILEY; TEREZHALMY, 2005; SHIP, 2003).

Page 55: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

55

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

O monitoramento da pressão arterial naqueles pacientes com hipertensão arterial sistêmica no momento da consulta permite que o dentista conheça melhor o risco de complicações cardiovasculares, como angina, infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral, advindos de um possível aumento de PA quando da execução dos procedimentos operatórios odontológicos (FERNANDES et al., 2015; ARONOVICH et al., 2010; HUANG et al., 2013).

O uso de anestésico com vasoconstritores para pacientes com DM é recomendado. Indica-se anestésico com adrenalina 1:100.000 obedecendo-se às doses máximas recomendadas. A felipressina é outro vasoconstritor que pode ser utilizado de forma segura nos pacientes com DM, visto que não altera a glicemia, frequência cardíaca ou pressão arterial (FERNANDES et al., 2015; ARONOVICH et al., 2010; HUANG et al., 2013).

A insuficiência renal crônica é uma comorbidade presente em aproximadamente 30% a 40% dos pacientes com DM. Nesse caso, devemos evitar a prescrição de longo prazo de anti-inflamatórios não esteroidais, que são medicamentos metabolizados nos rins (SHIP, 2003).

IMPORTANTE!

Se durante a consulta odontológica o paciente apresentar queda nos níveis de glicose (crise hipoglicêmica), o tratamento deve ser suspenso imediatamente e proceder à administração de soluções contendo 15 g a 20 g de carboidratos (por exemplo, aproximadamente 120 ml de sucos/refrigerantes ou 240 ml de leite desnatado). Após sua administração, testar novamente os níveis de glicose após 15 min. Em casos de perda de consciência, recomenda-se a administração intramuscular ou subcutânea de glucagon (FERNANDES et al., 2015).

Page 56: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

56

Não existem evidências científicas que suportem o uso do antibiótico profilático antes de procedimentos invasivos odontológicos, pelo simples fato do paciente ter diabetes. Além disso, alguns estudos recentes, entre eles um realizado no Brasil, demonstraram que embora os pacientes com DM possam apresentar algum atraso na epitelização do alvéolo, a frequência de infecção ou complicação pós-operatória empacientes submetidos à exodontia simples não é maior em pessoas com diabetes quando comparadas a controles sem diabetes (FERNANDES et al., 2015; ARONOVICH et al., 2010; HUANG et al., 2013). Esses estudos permitem inferir que pacientes com diabetes não precisam, receber profilaxia antibiótica pelo fato exclusivo de terem diabetes antes de exodontias simples. Os estudos mostram que mesmo aqueles que apresentaram controle glicêmico pobre, mas estão clinicamente bem e cujo hemograma não mostra alteração, especialmente da série branca, não exibem maiores taxas de complicações pós-exodônticas, que a esperada para a população normorreativa (FERNANDES et al., 2015; ARONOVICH et al., 2010; HUANG et al., 2013). Se houver complicação infecciosa pós-exodôntica, aí sim essa complicação pode ser tratada com antibioticoterapia.

Page 57: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

57

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

REFERÊNCIAS

AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Diagnosis and classification of diabetes mellitus. Diabetes Care, v. 38, p. S8-S16, 2015.

ARONOVICH S. et al. The relationship of glycemic control to the outcomes of dental extractions. J Oral Maxillofac Surg., v. 68, n.12, p. 2955-2961, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: Diabetes Mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. v. 36. 162 p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 35). Disponível: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_36.pdf>. Acesso em: 27 out. 2016.

_____._____. Secretaria de Vigilância em Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2012. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. p. 148. Disponível em: <http://actbr.org.br/uploads/conteudo/918_cartilha_dcnt.pdf>. Acesso em: 8 jan. 2016.

FERNANDES, K.S. et al. Association between immunologic parameters, glycemic control, and postextraction complications in patients with type 2 diabetes. J Am Dent Assoc., v.146, n.8, p. 592-9, aug. 2015.

HUANG, S. et al. The healing of dental extraction sockets in patients with Type 2 diabetes on oral hypoglycaemics: a prospective cohort. Aust Dent J, v. 58, n.1, p.89-93, 2013.

INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION. IDF DIABETES ATLAS. 8ª edição. 2017. Disponível em: <http://diabetesatlas.org/IDF_Diabetes_Atlas_8e_interactive_EN/>. Acesso em: 09 jul. 2018.

KIDAMBI, S.; PATEL, S.B. Diabetes mellitus: considerations for dentistry. J Am Dent Assoc., v.139, oct. 2008.

Page 58: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

58

MEALEY, B.L.; OATES, T.W. American Academy of Periodontology. Diabetes mellitus and periodontal diseases. J Periodontol, v.77, n. 8, p.1289-303, 2006.

MILECH, A. et al (Org.). Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2015-2016). São Paulo: Sociedade Brasileira de Diabetes. 2016, p.348. Disponível em: <http://www.diabetes.org.br/sbdonline/images/docs/DIRETRIZES-SBD-2015-2016.pdf>. Acesso em: 27 out. 2016.

MILEY, D.D.; TEREZHALMY, G.T. The patient with diabetes mellitus: etiology, epidemiology, principles of medical management, oral disease burden, and principles of dental management. Quintessence Int., v.36, n.10, p.779-95, nov./dec. 2005.

PESSOA, F. S. (Org.). Redes de atenção à saúde: rede de atenção às condições crônicas. São Luís: UNA-SUS, 2015.

SELWITZ, R.H.; PIHLSTROM, B.L. How to lower risk of developing diabetes and its complications: recommendations for the patient. J Am Dent Assoc., v.134, oct. 2003.

SHIP, J.A. Diabetes and oral health: an overview. J Am Dent Assoc., v. 134, oct. 2003.

WEINERT, L.S. et al. Gestational diabetes management: a multidisciplinary treatment algorithm. Arq Bras Endocrinol Metabol., v. 55, n. 7, p. 435-45, oct. 2011.

WILD, S. et al. Global prevalence of diabetes: estimates for the year 2000 and projections for 2030. Diabetes Care, v. 27, n.5, p. 1047-53, mayo. 2004.

Page 59: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

59

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

WHO. Global report on diabetes. Geneva: Who Press, 2016. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/204871/1/9789241565257_eng.pdf?ua=1>. Acesso em: 17 out. 2016.

_____. Global Strategy on People-centred and Integrated Health Services. Geneva: Who Press, 2015. Disponível em: < http://www.who.int/servicedeliverysafety/areas/people-centred-care/global-strategy/en/>. Acesso em: 27 out. 2016.

Page 60: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

60

5 DOENÇA RENAL CRÔNICA

A doença renal crônica (DRC) caracteriza-se pelo declínio progressivo e irreversível da função renal de depuração, o que compromete a manutenção da hemostasia interna do organismo. Dentre as causas da doença nos adultos estão: hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, glomerulopatias, doença renal policística, dentre outras. A DRC é uma doença com alta morbidade, mortalidade e incapacidades. Assim, estratégias de prevenção primária são fundamentais para a redução da incidência de DRC. Nesse contexto, discutiremos neste capítulo alguns aspectos epidemiológicos e clínicos, relacionando-os aos cuidados em saúde bucal para os indivíduos portadores de DRC.

5.1 Definição

A insuficiência renal ou doença renal é a perda das funções renais, em decorrência de distúrbios vasculares, nos glomérulos, nos túbulos, no interstício renal ou no trato urinário inferior, podendo ser aguda ou crônica (LUKE, 2001). A doença renal crônica (DRC) é definida, de acordo com a National Kidney Foundation, como dano renal ou redução da função renal por mais de três meses, independentemente da causa (HOGG et al., 2003).

Embora nos últimos anos tenha havido melhora substancial nas terapias de diálise, a DRC está associada a significativo impacto na qualidade de vida dos indivíduos, morbidade e mortalidade elevadas. De uma forma geral, os pacientes que se submetem ao transplante renal têm uma maior sobrevida ao longo dos anos. Porém, a indicação da melhor estratégia de tratamento deve ser individualizada para cada caso.

Page 61: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

61

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

5.2 Aspectos epidemiológicos

A prevalência de DRC varia entre 11 a 13% considerando os diferentes estágios da doença (HILL, 2016). Entretanto, estima-se que o número de indivíduos com DRC seja maior do que apontam os dados disponíveis atualmente, dada a dificuldade de diagnóstico nos estágios iniciais, o que compromete a mensuração epidemiológica. A maioria dos estudos epidemiológicos é realizada com dados obtidos de centros de diálise, de pacientes em estágios avançados quando a terapia renal substitutiva (TRS) é necessária (LOUVISON et al, 2011; SESSO et al., 2014).

Em diversos países os dados disponíveis apontam um aumento da prevalência da doença renal crônica terminal (DRCT) tanto em adultos como em crianças, embora as causas para o aumento sejam diferentes (SARAN et al, 2015). A maior prevalência em adultos ocorre, sobretudo, pelo envelhecimento da população e pelo maior número de indivíduos acometidos por hipertensão e diabetes mellitus, principais causas da DRC em adultos (BASTOS; KIRSZTAJN, 2010; SESSO et al., 2014).

Na figura 12 você observa de forma ilustrativa as principais causas de DRC em crianças e adultos.

Figura 12 - Causas da DRC em crianças e adultos.

Fonte: Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD Work Group. KDIGO 2012 Clinical Practice Guideline for the Evaluation and Management of Chronic Kidney Disease. Kidney Int Suppl. 2013;3(1):1–150. Harambat J, van Stralen KJ, Kim JJ, Tizard EJ. Epidemiology of chronic kidney disease in children. Pediatr Nephrol [Internet]. 2012 Mar 29;27(3):363–73. Available from: http://link.springer.com/10.1007/s00467-011-1939-1.

Page 62: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

62

As causas da DRC em adultos incluem a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, as glomerulonefrites e causas indeterminadas. Nas crianças, condições herdadas geneticamente, doenças glomerulares e as malformações do trato urinário são as causas mais comuns (HARAMBAT et al., 2012).

Embora os números de indivíduos acometidos, menores de 20 anos, sejam bem inferiores quando comparados aos adultos, a DRC é devastadora quando acomete crianças e adolescentes (HARAMBAT et al., 2012). Diferentemente dos adultos, que apresentam maturidade física, intelectual e psicológica completas, as crianças acometidas são particularmente vulneráveis aos efeitos adversos da DRC. Frequentemente, elas apresentam comprometimento do crescimento, bem como problemas em seu desenvolvimento físico, sexual e mental (HARAMBAT et al., 2012).

5.3 Diagnóstico e tratamento

A DRC nos estágios iniciais é comumente assintomática, o que dificulta a detecção precoce. Muitas vezes, o paciente descobre a doença em fases avançadas, quando uma ou mais complicações já estão presentes. Para a determinação da causa são avaliadas a história médica anterior e familiar, fatores ambientais e sociais, medicações, exames físicos, laboratoriais, imaginológicos e histopatológicos.

A partir de 2013 a diretriz da Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) incluiu a proteinúria ou albuminúria, que são marcadores de dano renal, ao sistema de estadiamento, dada a importância desses fatores nos desfechos da doença e escolha do tratamento (KIDNEY INTERNATIONAL SUPPLEMENTS, 2013).

Abaixo, demonstramos, de modo resumido, a fisiopatologia da DRC.

Page 63: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

63

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

Figura 13 - Fisiopatologia da progressão da DRC – modelo simplificado.

Fonte: Adaptado de: REMUZZI, G.; PISONI, R.; SCHIEPPATI, A. Pathophysiology of chronic kidney disease-in. 5. ed. National Kidney Foundation, 2009. p. 422-35.

A DRC é classificada em cinco estágios progressivos de acordo com a intensidade de perda da função renal (figura 14). Os danos nos estágios 1 e 2 são reversíveis, mas a partir do estágio 3 o dano é permanente e será progressivo até atingir o estágio 5, que será fatal se não houver a possibilidade de diálise ou de transplante (HOGG et al., 2013).

Page 64: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

64

O nível de redução de função renal é determinado pela taxa de filtração glomerular (TFG), que mede a capacidade dos rins de depurar uma substância a partir do sangue. Em indivíduos com função renal normal a TFG é de aproximadamente 120 mL/min/1.73 m². Considera-se que a função renal está diminuída quando a TFG é < 60 mL/min/1.73 m².

Figura 14 - Estágios da DRC.

Fonte: Adaptado de: KIDNEY INTERNATIONAL SUPPLEMENTS. KDIGO2012 Clinical Practice Guideline for the Evaluation and Manage-ment of Chronic Kidney Disease. Official Journal of the Inter-national Society of Nephrology, v. 3, jan. 2012. Disponível em: <https://kdigo.org/wp-content/uploads/2017/02/KDIGO_2012_CKD_GL.pdf>. Acesso em: 9 jul. 2018.

Page 65: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

65

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

PARA SABER MAIS!

Na Portaria MS/GM nº 389, de 13 de março de 2014, que define os critérios para a organização da linha de cuidado da Pessoa com Doença Renal Crônica (DRC) e institui incentivo financeiro de custeio destinado ao cuidado ambulatorial pré-dialítico, você poderá observar os parâmetros para classificação do estágio clínico da DRC, segundo a TFG adotada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2014a).

De acordo com as diretrizes da K/DOQI, o tratamento da DRC deve ser individualizado, baseado no diagnóstico, no estágio da doença e no estado clínico do paciente e tem o objetivo de prevenir e retardar a perda da função renal, controlar a hipertensão, anemia, as doenças cardiovasculares e outros fatores de riscos. Em crianças, a atenção também se volta para os problemas do crescimento e desenvolvimento (HOGG et al., 2013; NATIONAL KIDNEY FOUNDATION, 2002).

No estágio mais avançado, o paciente é preparado para a terapia renal substitutiva (TRS) que inclui a diálise peritoneal, a hemodiálise e o transplante renal (HOGG et al., 2013; NATIONAL KIDNEY FOUNDATION, 2002).

A diálise remove metabólitos do sangue e é o tratamento mais comumente utilizado para DRC em estágio final, seguido do transplante renal.

Estudo publicado por Parekh (2002, apud LIYANAGE et al 2015) estima que o número de pessoas em todo o mundo, entre adultos e crianças que receberão TRS, mais que dobrará em 2030 (5,439 milhões) quando comparado aos números de 2010 (2,618 milhões). Somente metade ou menos da metade de todos os pacientes que necessitavam de TRS conseguiram acesso em 2010, ou seja, no mínimo, 2,284

Page 66: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

66

milhões de pessoas podem ter morrido prematuramente por falta de tratamento nesse ano.

Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia indicam que 100 mil pessoas faziam diálise no Brasil em 2013. Existem, atualmente, 750 unidades de diálise cadastradas, sendo 35 apenas na cidade de São Paulo. Eram estimados em 31 mil os pacientes em diálise em fila de espera para transplante renal. Os números mostram ainda que 70% dos pacientes que fazem diálise descobrem a doença tardiamente. Em 2013, a taxa de mortalidade de pacientes em diálise foi de 18% (SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2016).

PARA SABER MAIS!

Para mais informações a respeito do tratamento da DRC, leia as “Diretrizes clínicas para o cuidado ao paciente com doença renal crônica - DRC no Sistema Único de Saúde”, publicadas pelo Ministério da Saúde em 2014.

5.4 Aspectos clínicos e complicações da DRC

À medida que a doença renal crônica é um termo geral para diversas desordens que afetam a estrutura do rim e a sua função, as manifestações clínicas variam em função da causa, severidade e da taxa de progressão da doença (NATIONAL KIDNEY FOUNDATION, 2002).

Existe uma variabilidade nos indivíduos entre o nível da função renal e os sinais e sintomas de uremia. A diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG) está associada com uma ampla gama de complicações por causa das alterações em outros sistemas do organismo. Os principais sintomas da DRC são inchaços nas pernas,

Page 67: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

67

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

falta de apetite, palidez cutânea, cansaço, aumento da pressão arterial e alteração dos hábitos urinários (NATIONAL KIDNEY FOUNDATION, 2002; RIYUZO et al., 2003).

A redução da capacidade dos rins provoca retenção de inúmeras substâncias provenientes do metabolismo proteico, alteração da pressão arterial e do hematócrito, além de desequilíbrios nos níveis de potássio, sódio, água e equilíbrio ácido-base (LUKE, 2001).

Nos estágios avançados as hospitalizações são frequentes e há um significativo aumento da morbidade e mortalidade, notadamente pelos problemas cardiovasculares. As duas causas mais comuns de morte entre as crianças e adultos com DRC são as doenças cardíacas e as infecções (NATIONAL KIDNEY FOUNDATION, 2002).

O sistema cardiovascular é um dos mais afetados em pessoas com DRC, que apresentam risco elevado para a aterosclerose e lesões coronarianas (GANSEVOORT et al., 2013; PAREKH et al, 2002). Os fatores de risco principais e mais conhecidos são hipertensão arterial, diabetes, hiperuricemia e dislipidemia. Os mecanismos exatos para as mortes por problemas cardíacos ou os fatores de risco ainda não estão totalmente esclarecidos (REMUZZI et al., 2013).

A doença renal crônica é multifacetada e sua complexidade exige múltiplas abordagens. O aconselhamento nutricional, o cuidado nas prescrições medicamentosas, com atenção especial aos de metabolização renal, o controle da glicemia e da pressão arterial, a reabilitação física, o apoio psicológico e a manutenção da saúde oral envolvem um atendimento que deve ser coordenado e interdisciplinar. Embora não se saiba exatamente quais as ações que resultam em melhores desfechos, as interações entre pacientes bem informados e equipes interdisciplinares proativas oferecendo um tratamento previamente planejado podem trazer benefícios aos pacientes melhorando os desfechos em saúde (BASTOS; KIRSZTAJN, 2010; REMUZZI, 2013).

Page 68: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

68

5.5 Rede de Atenção e linha de cuidado da pessoa com DRC

Em se tratando da doença renal crônica, a complexa abordagem terapêutica exigida e o curso prolongado têm custos substanciais para os indivíduos, para a família e, sobretudo, para os sistemas de saúde, os custos com o tratamento de diálise e/ou transplante renal são os mais dispendiosos de todas as doenças crônicas e consomem valores desproporcionais dos orçamentos destinados à saúde em todos os países. Em 2013 e 2014 foram gastos, respectivamente, R$ 2,61 e R$ 2.62 bilhões com procedimentos dialíticos (CONASS, 2015).

Desse modo, o Ministério da Saúde, buscando prover tratamento adequado dos pacientes com fatores de risco para a DRC, assim como seu diagnóstico precoce e tratamento, visando ao cuidado integral e à redução de desfechos desfavoráveis, define, por meio da Portaria nº 389 de 13 de março de 2014, os critérios para a organização da linha de cuidado da pessoa com doença renal crônica (DRC) e institui incentivo financeiro de custeio destinado ao cuidado ambulatorial pré-dialítico (BRASIL, 2014a).

Os estabelecimentos de saúde integrantes da linha de cuidado à pessoa com DRC na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas observarão às seguintes diretrizes:

As pessoas com DRC devem ser acompanhadas por uma equipe multiprofissional, nas unidades básicas de saúde e, nos casos que requerem, nas unidades de atenção especializada em doença renal crônica, para orientações e educação, como: aconselhamento e suporte sobre mudança do estilo de vida; avaliação nutricional; orientação sobre exercícios físicos e abandono do tabagismo; inclusão na programação de vacinação; seguimento contínuo dos medicamentos prescritos; programa de educação sobre DRC e TRS; orientação sobre o autocuidado; orientações sobre as modalidades de tratamento da DRC; cuidado ao acesso vascular ou peritoneal, entre outros (BRASIL, 2014b).

Page 69: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

69

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

É importante enfatizar o papel de ordenar o cuidado da Atenção Básica (AB). O portador de DRC deverá ser acompanhado pelos profissionais que compõem a equipe de AB, incluindo as equipes de saúde bucal. As ações de saúde bucal na RAS deverão contemplar cuidado longitudinal, matriciamento e organizações que permitam a comunicação entre profissionais dos diferentes níveis assistenciais.

A Portaria nº 1.032, de 5 de maio de 2010, inclui procedimentos odontológicos na Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses e Próteses e Materiais Especiais do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento às pessoas com necessidades especiais (BRASIL, 2010).

I - foco da atenção nas necessidades de saúde da população coordenado pela Atenção Básica e contemplando todos os níveis de atenção;II - diagnóstico precoce de modo a identificar as pessoas com DRC;III - implementação da estratificação de risco da população com DRC de acordo com a classificação do seu estágio clínico, segundo a alteração de exame laboratorial da Taxa de Filtração Glomerular (TFG);IV - garantia de financiamento adequado para prevenção, tratamento dos fatores de risco e tratamento da DRC na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas, em especial ao cuidado das pessoas com DRC em estágios clínicos pré-dialíticos, bem como para o cuidado das pessoas com necessidades de Terapia Renal Substitutiva (TRS);V - garantia da educação permanente de profissionais da saúde para a prevenção, diagnóstico e tratamento da DRC e dos fatores de risco que levam à DRC, de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS);VI - implementação das diretrizes expressas no Programa Nacional de Segurança do Paciente;VII - garantia da oferta de apoio diagnóstico e terapêutico adequado para tratamento da DRC e dos fatores de risco que levam à DRC baseado nas necessidades de saúde, respeitando as diversidades étnico-raciais, culturais, sociais e religiosas;VIII - articulação intersetorial e garantia de ampla participação e controle social; eIX - desenvolvimento de medidas que garantam a difusão das ações e cuidado à pessoa com DRC em todos os pontos de atenção da linha de cuidado, bem como a comunicação entre os serviços de saúde para promoção do cuidado compartilhado (BRASIL, 2014a).

Page 70: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

70

É importante ressaltar que na odontologia define-se paciente com necessidades especiais o usuário que apresente uma ou mais limitações, temporárias ou permanentes, de ordem mental, física, sensorial, emocional, de crescimento ou médica, que o impeça de ser submetido a uma situação odontológica convencional (BRASIL, 2018). Logo, esse termo é abrangente e nele deverá estar contida a assis-tência ao portador de doença renal.

PARA SABER MAIS!

Para conhecer todos os procedimentos odontológicos realizados no âmbito hospitalar, leia as Portarias nº 1.032, de 5 de maio de 2010, e nº 1.696, de 1º de julho de 2010 (BRASIL, 2010).

5.6 Manifestações bucais no portador de DRC

A literatura relata a ocorrência de alterações nos tecidos duros e nos tecidos moles da boca em adultos e crianças com DRC. Algumas manifestações estão associadas à doença de base; outras, às medicações utilizadas (RUOSPO et al., 2014; PROCTOR et al., 2005).

Entre as alterações de tecido mole, destacamos a palidez da mucosa oral, petéquias e equimoses, e a estomatite urêmica (KHO et al., 1999). A estomatite urêmica é uma condição dolorosa e debilitante rara, causada provavelmente pelo acúmulo de substâncias nitrogenadas no sangue e que pode ocorrer nos estágios avançados da DRC. A presença de sangramento gengival, infecções e supressão imunológica podem ser fatores coadjuvantes no desenvolvimento dessa estomatite. Pode apresentar-se como lesão ulcerada, hemorrágica, recoberta por pseudomembrana ou até mesmo hiperqueratótica (SUDARSHAN et a.l, 2012).

Page 71: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

71

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

Por sua vez, alterações do metabolismo do cálcio e a ocorrência de hiperparatiroidismo nos pacientes com DRC podem levar a anormalidades ósseas e dentárias como desmineralização óssea, hipoplasia de esmalte, calcificação e estreitamento pulpar, e atrasos na erupção dentária. Mudanças no paladar, diminuição do fluxo salivar com sensação de boca seca, além de hálito urêmico são queixas comuns (RUOSPO et al., 2014; PROCTOR et al., 2005).

Estudos mostram que, apesar de comumente a higiene bucal nos pacientes ser deficiente, a dieta ser rica em carboidratos (necessária para reduzir o trabalho renal), os índices de hipoplasia de esmalte serem altos, o uso de medicações ser contínuo e o fluxo salivar ser baixo, a prevalência de cárie dental é baixa (SERAJ et al., 2011; ANURADHA et al., 2015; REYES et al., 2014). De acordo com alguns estudos, mudanças salivares podem explicar a baixa incidência de cárie nesses pacientes (KHO et al., 1999; SERAJ, et al., 2011; ANURADHA et al., 2015; SERAJ et al., 2011).

A gengivite e a periodontite tem sido observadas em alguns estudos (SHARMA et al., 2014; PALMER et al., 2015; HAJISHENGALLIS, 2015; FISHER et al., 2008). Resultados preliminares de um estudo de corte conduzido por Sharma et al (2014) demonstraram que pacientes com DRC em pré-diálise e com alto risco para eventos cardiovasculares apresentaram alta prevalência, severidade e extensão de doença periodontal.

Na figura 15 apresentam-se algumas das inúmeras manifestações bucais encontradas nos pacientes com DRC.

Page 72: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

72

Figura 15 - Manifestações bucais em pacientes com DRC.

Fonte: DAVIDOVICH, E. et al. Oral findings and periodontal status in children, adolescentsand young adults suffering from renal failure. J Clin Periodontol, v. 32, n. 10, p. 1076–82, Oct. 2005.

5.7 Condutas para o atendimento odontológico

Independentemente do nível de atenção à saúde, o tratamento odontológico deverá atender o cuidado humanizado ao indivíduo com DRC.

No quadro 3 apresentam-se as principais estratégias a serem consideradas em cada uma das etapas do atendimento odontológico em uma perspectiva de cuidado integral, uma vez que se torna imprescindível agregar à equipe multidisciplinar o profissional de saúde bucal para promover o cuidado integral ao portador de DRC, independentemente do estágio da doença.

Page 73: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

73

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

Quadro 3 - Principais estratégias a serem consideradas para o manejo odontológico emuma perspectiva de cuidado integral.

Fonte: Adaptado de: Proctor et al (2005); Brockmann; Badr (2010); Jover Cervero et al (2008).

Page 74: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

74

Embora fatores relacionados à complexa condição sistêmica da doença renal estejam envolvidos na ocorrência dos problemas bucais encontrados nesses pacientes, quer sejam adultos, quer sejam crianças, não podemos nos esquecer do papel etiológico do acúmulo de placa no processo da doença periodontal.

A pobre higiene bucal é um achado frequente nos pacientes crônicos renais, o que agrava a condição bucal (AKAR et al., 2011; PALMER et al., 2015; RUOSPO et al., 2014). Além disso, pesquisas indicam uma baixa procura por cuidados odontológicos, embora os pacientes com DRC sejam acometidos por inúmeros problemas bucais e sofram transtornos locais e sistêmicos (PROCTOR et al., 2005; AKAR et al., 2011).

As alterações bucais representam potenciais fatores preveníveis de desfechos adversos nos indivíduos com DRC (RUOSPO et al., 2014). Mas apesar das estratégias de tratamento e prevenção dos problemas bucais serem amplamente conhecidas, os pacientes com DRC sofrem com saúde bucal deficiente.

Uma melhor compreensão da fisiopatologia da DRC, bem como das alterações bucais a ela relacionadas, capacita os dentistas a realizarem o tratamento odontológico de forma mais efetiva prevenindo problemas bucais, sempre adaptado às necessidades individuais. Com a evolução e aumento da disponibilidade de diálise e de transplante renal, algumas manifestações bucais, especialmente as relacionadas com a uremia, são observadas com menos frequência. No entanto, o dentista desempenha um papel importante no seu diagnóstico e no tratamento desses pacientes.

Piores condições de saúde bucal em pessoas com DRC podem contribuir para o aumento da morbidade e mortalidade quando associadas às manifestações sistêmicas da doença, como inflamação, infecções, perdas energético-proteicas, complicações ateroscleróticas e hematológicas (AKAR et al., 2011). Estudos de coorte realizados desde 2010 na Europa, que incluíram 4.500 indivíduos com DRC em

Page 75: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

75

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

diálise, observaram que piores condições de saúde bucal estavam associadas à morte precoce, ao passo que práticas de saúde bucal preventiva foram associadas ao aumento da sobrevida dos pacientes (GUPTA; GUPTA, 2015).

Assim, o exame da cavidade bucal desses pacientes deve fazer parte do exame físico geral, a fim de que o paciente possa ser encaminhado ao dentista desde o início do tratamento nefrológico.

O manejo clínico odontológico de pessoas com IRC (insuficiência renal crônica) pode representar um desafio para o cirurgião-dentista, especialmente quando há a necessidade de realizar procedimentos odontológicos invasivos (GUPTA; GUPTA, 2015). As preocupações descritas por alguns autores incluem alteração do metabolismo em razão de uso de drogas, da resposta imunológica e do metabolismo ósseo, risco aumentado de sangramento. O risco aumentado para endocardite bacteriana é mencionado por alguns autores, porém não há evidência científica que suporte o uso do antibiótico profilático antes de procedimentos odontológicos invasivos (PROCTOR et al., 2005; GUPTA; GUPTA, 2015; WERNER; SAAD, 1999; JOVER CERVERÓ et al., 2008).

No que se relaciona a cuidados com hemostasia e prescrição de medicamentos, o atendimento interdisciplinar com o nefrologista é importante. Na anamnese devem ser coletadas informações relativas à condição sistêmica do indivíduo e solicitados exames hematológicos, coagulograma, creatinina e ureia.

O ideal é que pacientes que fazem hemodiálise sejam atendidos no dia seguinte a ela, à medida que o atendimento após a diálise o expõe a um maior risco hemorrágico. Mesmo assim não é raro o paciente com DRC em estágio avançado exibir disfunção plaquetária. Dessa forma, após exodontias recomenda-se o uso de hemostáticos locais quando maior sangramento for observado.

Quando houver necessidade de prescrição medicamentosa, o dentista deve considerar o estágio da DRC no qual o paciente se encontra, a TFG daquele momento e o mecanismo de excreção do

Page 76: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

76

medicamento. Algumas drogas, tais como os anti-inflamatórios não esteroidais devem ser evitados. Por outro lado, analgésicos com metabolização hepática são preferíveis para esses pacientes (JOVER CERVERÓ et al., 2008; PRADO; RAMOS; VALLE, 2001). A prescrição de amoxicilina, por exemplo, para um adulto com DRC, pode incluir doses de 500 mg de 8 em 8 horas para aqueles indivíduos com TFG maior que 50 mm/min, enquanto que aqueles que exibem TFG entre 10 e 50 ml/min e menor que 10 ml/min devem, respectivamente, receber uma dose a cada 12 e 24 horas (BROCKMANN; BADR, 2010).

Na tabela a seguir, disponibilizamos sumariamente os antibióticos mais comumente prescritos na prática odontológica aos pacientes com DRC.

Tabela 2 - Dosagens e ajustes de doses de alguns dos antibióticos mais comumente prescritos na prática odontológica para pacientes com DRC.

Fonte: Adaptado de: BROCKMANN, W.; BADR, M. Chronic kidney disease: pharmacological considerations for the dentist. J Am Dent Assoc., v. 141, p. 1330-9, 2010.

Page 77: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

77

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer desse livro digital abordamos aspectos gerais e odontológicos de três das principais doenças crônicas e que afetam de forma cada vez mais frequente a população em todo o mundo.

Ao final, esperamos que o conteúdo apresentado possa ter contribuído para ampliar seu conhecimento e fornecer subsídios para um atendimento odontológico adequado aos pacientes com doença renal crônica, diabetes e hipertensão.

Esperamos que o maior impacto desse trabalho seja o de permitir melhorar a saúde bucal, proporcionando melhores desfechos na saúde geral e melhor qualidade de vida aos pacientes com comprometimento sistêmico.

Page 78: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

78

REFERÊNCIAS

AKAR, H. et al. Systemic consequences of poor oral health in chronic kidney disease patients. Clin J Am Soc Nephrol., v. 6, n. 1, p. 218-26, 2011.

ANURADHA, B. et al. Oral and salivary changes in patients with chronic kidney disease: A clinical and biochemical study. J Indian Soc Periodontol., v. 19, n. 3, p. 297, 2015.

BASTOS, M.G.; KIRSZTAJN, G.M. Doença renal crônica: importância do diagnóstico precoce, encaminhamento imediato e abordagem interdisciplinar estruturada para melhora do desfecho em pacientes ainda não submetidos à diálise. J Bras Nefrol., v. 33, n. 1, p. 384-4, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Brasil Sorridente. 2018. Disponível em: <http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_brasil_sorridente.php?conteudo=pessoas_deficiencias>. Acesso em: 30 abr. 2018.

_____._____. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes Clínicas para o cuidado ao paciente com doença renal crônica – DRC no Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2014b. 37 p.

_____. _____. Portaria nº 1.032, de 5 de maio de 2010. Inclui procedimento odontológico na Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses e Próteses e Materiais Especiais do Sistema Único de Saúde - SUS, para atendimento às pessoas com necessidades especiais. Brasília, DF, 2010. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2010/prt1032_05_05_2010.html>. Acesso em: 6 set. 2016.

Page 79: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

79

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

_____. _____. Portaria nº 389, de 13 de março de 2014. Define os critérios para a organização da linha de cuidado da Pessoa com Doença Renal Crônica (DRC) e institui incentivo financeiro de custeio destinado ao cuidado ambulatorial pré-dialítico. Brasília, DF, 2014a. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/prt0389_13_03_2014.html>. Acesso em: 6 set. 2016.

BROCKMANN, W.; BADR, M. Chronic kidney disease: pharmacological considerations for the dentist. J Am Dent Assoc., v. 141, p. 1330-9, 2010.

CONASS. Assistência de média e alta complexidade. Brasília: CONASS, 2015. v. 4. (Coleção Para Entender a Gestão do SUS). Disponível em: <http://www.conass.org.br/biblioteca/pdf/atualizacao-2015/L04_ASSIS-DE-MEDIA-E-ALTA-COMPL_jun2015.pdf>. Acesso em: 16 set. 2016. FISHER, M.A. et al. Periodontal disease and other nontraditional risk factors for CKD. Am J Kidney Dis., v. 51, n. 1, p. 45-52, 2008.

GANSEVOORT, R.T. et al. Chronic kidney disease and cardiovascular risk: Epidemiology, mechanisms, and prevention. Lancet, v. 382, n. 9889, p. 3329-52, 2013.

GUPTA, M.; GUPTA, M. Oral conditions in renal disorders and treatment considerations - a review for pediatric dentist. Saudi Dent J., v. 27, n. 3, p. 113-9, 2015.

HAJISHENGALLIS, G. Periodontitis: from microbial immune subversion to systemic inflammation. Nat Publ Gr., v. 15, n. 1, p. 30-44, 2015.

HARAMBAT, J. et al. Epidemiology of chronic kidney disease in children. Pediatr Nephrol, v. 27, n. 3, p. 363-73, 2012. Disponível em: <http://link.springer.com/10.1007/s00467-011-1939-1>. Acesso em: 6 set. 2017.

Page 80: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

80

HOGG, R.J. et al. National Kidney Foundation’s Kidney Disease Outcomes Quality Initiative clinical practice guidelines for chronic kidney disease in children and adolescents: evaluation, classification, and stratification. Pediatrics. v. 111, n. 1, p. 1416 -21, 2013.

HILL, N. R. et al. Global prevalence of chronic kidney disease–a systematic review and meta-analysis. PloS one, v. 11, n. 7, p. e0158765, 2016.

JOVER CERVERÓ, A. et al. Dental management in renal failure: patients on dialysis. Med oral, Patol oral y cirugía bucal., v. 13, n. 7, p. 419-26, jul. 2008.

KIDNEY INTERNATIONAL SUPPLEMENTS. KDIGO 2012 Clinical Practice Guideline for the Evaluation and Management of Chronic Kidney Disease. Official Journal of the International Society of Nephrology, v. 3, jan. 2012. Disponível em: <https://kdigo.org/wp-content/uploads/2017/02/KDIGO_2012_CKD_GL.pdf>. Acesso em: 9 jul. 2018.

KHO, H.S et al. Oral manifestations and salivary flow rate, pH, and buffer capacity in patients with end-stage renal disease undergoing hemodialysis. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod, v. 88, n. 3, p. 316-9, 1999.

LOUVISON, M.C.P. et al. Prevalência de pacientes em terapia renal substitutiva no Estado de São Paulo. Bepa, v. 8, n. 95, p. 23–42, 2011.

LUKE, R.G. Insuficiência renal crônica. In: GOLDMAN, L.; BENNET, J.C. Tratado de medicina interna. 21. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p. 632–40.

NATIONAL KIDNEY FOUNDATION. K/DOQI Clinical Practice Guidelines for Chronic Kidney Disease: Evaluation, Classification and Stratification. American Journal of Kidney Diseases, v. 39, p. S1–266, 2002.

PALMER, S.C. et al. Dental health and mortality in people with end-stage kidney disease treated with hemodialysis: a multinational cohort study. Am J Kidney Dis., v. 66, n. 4, p. 666-76, 2015.

Page 81: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

81

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico

PAREKH, R.S et al. Cardiovascular mortality in children and young adults with end-stage kidney disease. J Pediatr., v. 141, n. 2, p. 191-7, aug. 2002.

PRADO, F.C.; RAMOS J.Á.; VALLE, J.R. Atualização terapêutica. 20. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2001.

PROCTOR, R. et al. Oral and dental aspects of chronic renal failure. J Dent Res, v. 84, n. 3, p. 199-208, 2005.

REMUZZI, G. et al. Kidney failure: aims for the next 10 years and barriers to success. Lancet., v. 9889, n. 382, p. 353-62, 2013.

REYES, E. et al. Caries-free subjects have high levels of urease and arginine deiminase activity. J Appl Oral Sci., v. 22, n. 3, p. 235-40, 2014.

RIYUZO, M.C. et al. Insuficiência renal crônica na criança: aspectos clínicos, achados laboratoriais e evolução. J Bras Nefrol., v. 25, n. 4, p. 200-8, 2003.

RUOSPO, M. et al. Prevalence and severity of oral disease in adults with chronic kidney disease: a systematic review of observational studies. Nephrol Dial Transplant, v. 29, n. 2, p. 364-75, 2014.

SARAN, R. et al. US Renal Data System 2014 Annual Data Report: Epidemiology of Kidney Disease in the United States. Am J Kidney Dis., v.65, 2015.

SESSO, R. C. C. et al. Relatório do censo brasileiro de diálise crônica 2012. Jornal Brasileiro de Nefrologia, v. 36, n. 1, p. 48-53, jan./mar. 2014. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/jbn/v36n1/0101-2800-jbn-36-01-0048.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2018.

SERAJ, B. et al. Oro-dental health status and salivary characteristics in children with chronic renal failure. J. Dent., v. 8, n. 3, p. 146-51, 2011.

Page 82: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

82

SHARMA, A. et al. Renal functional reserve and renal recovery after acute kidney injury. Nephron Clin Pract v. 127, p. 94–100, 2014.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA. Censo de diálise SBN 2016. Disponível em: <http://www.censo-sbn.org.br/censosAnteriores>. Acesso em: 30 abr. 2018.

SUDARSHAN, R. et al. Uremic stomatitis. Contemp Clin Dent., v.3, n.1, p. 113, 2012. Disponível em: <http://www.contempclindent.org>. Acesso em: 30 abr. 2018.

WERNER, C. W., SAAD, T. F. Prophylactic antibiotic therapy prior treatment for patients with end-stage renal disease. Spec Care in Dentist, Chicago, v.19, n.3, p.106-111, 1999.

Page 83: Odontologi ar aciente om comprometiment istêmico · 2020. 1. 7. · Odontologia para Pacientes Especiais da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP. Ana Lídia Ciamponi

83

Odontologia para pacientes comcomprometimento sistêmico