obstetrícia apostila 2

38
1 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA ÁREA DE REPRODUÇÃO OBSTETRÍCIA VETERINÁRIA ROTEIRO DE ESTUDO 2 PATOLOGIAS DA GESTAÇÃO E PARTO PROCEDIMENTOS OBSTÉTRICOS Profa. Aurea Wischral Recife/2010

Upload: diego-ribeiro

Post on 02-Oct-2015

106 views

Category:

Documents


17 download

DESCRIPTION

obstreticia

TRANSCRIPT

  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINRIA

    REA DE REPRODUO

    OBSTETRCIA VETERINRIA

    ROTEIRO DE ESTUDO 2

    PATOLOGIAS DA GESTAO E PARTO PROCEDIMENTOS OBSTTRICOS

    Profa. Aurea Wischral

    Recife/2010

  • 2

    PATOLOGIAS DA GESTAO

    1. PATOLOGIAS DE ORIGEM MATERNA: 1.1- Edemas:

    O edema pode ser fisiolgico no final da gestao, sendo decorrente da maior

    reteno de lquidos proporcionada pelos esterides que so mais abundantes com a aproximao do parto. No entanto, a intensidade pode ser agravada e causar prejuzos ao animal, como dores, dificuldade de locomoo e leses. Sua causa pode ser de origens hormonais, alimentares ou manejo incorreto, ou ainda distrbios renal e circulatrio devido deficiente circulao de retorno. Para evitar estes casos, recomenda-se manter os animais em instalaes adequadas, que permitam o deslocamento e exerccio, estimulando o sistema circulatrio. O uso de duchas quentes, massagens e compressas tambm ajudam a diminuir o edema j instalado. Diurticos no esterides podem ser utilizados. 1.2- Pseudogestao ou Pseudociese:

    Condio clnica em que o animal apresenta alteraes comportamentais de ordem fisiolgica e psicolgica no metaestro. Acomete mais frequentemente as cadelas, mas tambm j foi observada em gatas, cabras e guas.

    A persistncia do corpo lteo (CL) foi considerada a causa por muito tempo, mas nas cadelas, o CL do metaestro semelhante ao da gestao, bem como o endomtrio responde similarmente. A prolactina, atualmente, tem sido responsabilizada, uma vez que no parto fisiolgico, a queda da progesterona seguida por um aumento da prolactina nas cadelas, que ir garantir a lactao. Cadelas castradas no metaestro e que sofrem uma retirada brusca da fonte de progesterona (ovrios), podem apresentar aumento de prolactina e pseudogestao aps a cirurgia.

    Por outro lado, as cadelas selvagens tm comportamento de matilha, onde a fmea dominante a caadora e, transfere seus filhotes para outras que desenvolvem pseudociese e os amamentam. Nas gatas raramente ocorre lactao.

    Com essas consideraes, podemos interrogar se a pseudogestao mesmo uma patologia. Os sintomas so muito semelhantes ao de uma gestao/parto, com aumento do apetite, abdome volumoso, comportamento de fazer ninho, atitudes maternas com objetos inanimados e galactopoiese.

    O diagnstico diferencial feito por palpao abdominal e exame radiolgico ou ultrassonogrfico. O tratamento visa modificar a conduta do animal e inibir a lactao. O uso de hormnios esterides deve ser evitado devido aos efeitos colaterais como metrorragias, piometra e neoplasia mamria. Os inibidores de prolactina, como a bromocriptina, tm sido usados nos casos mais graves.

    Administrar uma dieta mais pobre em protena e reduzir a oferta de gua, pincelar as mamas com revulsivo (iodo) ou permitir uma gestao normal so paliativos, em casos mais severos deve-se indicar a castrao (OSH), j que o animal fica mais predisposto piometra. 1.3- Estro durante a gestao:

    Os sinais clnicos de estro durante a gestao so mais comuns na gua e na vaca devido atividade estrognica ovariana. uma condio fisiolgica que pode resultar em perdas da gestao ou at mesmo superfetao se no houver o manejo adequado e, principalmente, um diagnstico de gestao preciso. As guas apresentam cio por volta do 4o ms, correspondendo ao perodo de produo do eCG. As vacas podem apresentar cio durante a 1a metade da gestao.

  • 3

    1.4- Hemorragias durante a gestao:

    As hemorragias durante a gestao podem ter diferentes origens: a) Leses de vagina ou vulva, ruptura de varizes vaginais (gua); b) Cpula ou inseminao de fmeas gestantes, incio de aborto; c) Tumores venreos transmissveis (cadela) d) Hemorragia placentria: brucelose, traumatismo, toro uterina; e) Hiperestrogenismo; f) Mola hemtica (hemorrgica) g) Em multparas, a morte de alguns fetos pode no interromper a gestao dos

    outros. As leses mais externas podem ser tratadas com pequenas cirurgias. O tratamento

    parenteral feito com anti-hemorrgicos, transfuso de sangue, vitamina K e repouso. A induo do parto ou do aborto pode ser utilizada nos casos de maior gravidade. 1.5- Ruptura Uterina:

    Pode acontecer em todas as fmeas domsticas e tem como causas: os

    traumatismos, toro uterina, hidropisias, esforos exagerados, gestao com sobrecarga uterina e sequelas de cirurgia anterior (aderncia).

    Os sintomas so de desconforto abdominal e distrbios digestivos (parada ruminal, perda do apetite, sndrome clica). Nos casos de grandes rupturas o feto pode cair na cavidade abdominal causando compresses de outros rgos, inclusive das alas intestinais, peritonite assptica e hemorragia interna.

    O diagnstico dado pelos sintomas, anamnese, palpao retal e se a cerviz estiver aberta podem-se palpar alas intestinais. O prognstico mau. O tratamento pode ser feito cirurgicamente, especialmente quando a ruptura grave, com extrao do feto. Fluidoterapia, antibiticos e transfuso de sangue podem ser necessrias.

    1.6- Gestao Ectpica ou extra-uterina:

    A gestao ectpica mais comum em humanos, onde o embrio pode no migrar para o tero e se fixar no oviduto (gestao tubrica) ou cair na cavidade abdominal iniciando a placentao em algum rgo vizinho (ovrio ou rim), neste caso se diz que a gestao ectpica primria.

    O tipo de placentao das espcies domsticas no permite este tipo de desenvolvimento fora do ambiente uterino. Em geral, nestas espcies, a ectopia secundria, pois o feto inicia seu desenvolvimento no tero e pode passar para a cavidade abdominal atravs de ruptura da parede uterina, podendo sobreviver se a placenta no for comprometida. Tambm podem morrer e mumificar sem que o fato tenha sido diagnosticado. Esta ocorrncia se d geralmente na segunda metade da gestao, o tero esvaziado inicia sua involuo, o que pode resultar na morte fetal. O diagnstico dado pela modificao do estado de gestante, podendo a fmea apresentar distrbios digestivos e sinais de clicas, semelhantes aos j citados na ruptura uterina. O prognstico desfavorvel para a gestao e pode resultar no descarte da fmea (grandes animais) ou castrao (carnvoros). 1.7- Ruptura do tendo Pr-pbico:

    O tendo pr-pbico faz a insero do msculo reto-abdominal face cranial do pbis. A sua ocorrncia maior na gua e na vaca, principalmente no final da gestao. Fatores predisponentes podem ser: hidropisias dos anexos fetais, sobrecarga uterina (excesso de fetos ou do tamanho fetal), traumatismos (quedas), degenerao do tendo e senilidade associada ao excesso de trabalho.

  • 4

    Os sintomas so afundamento do flanco, rebaixamento do assoalho do abdome, edema doloroso na regio inferior do abdome (incluindo a glndula mamria), dificuldade de locomoo, desconforto abdominal, taquicardia, hiperpnia e hemorragia interna. A pelve pode ser deslocada no sentido ventro-caudal e provocar luxao das articulaes coxo-femural e lombo-sacra (Fig. 1 e 2).

    O diagnstico baseado nos sintomas. Devendo-se diferenciar de hrnias, eventraes e edema acentuado. O prognstico mau para e fmea e feto, no havendo tratamento eficiente. O uso de cintas abdominais pode apenas prolongar a gestao a fim de manter o feto por mais tempo no tero, antes de retir-lo. 1.8- Histerocele gravdica:

    Caracteriza-se pela presena do

    tero grvido em contedo hernirio, podendo ser total ou parcial, isolado ou em conjunto com outros rgos. As hrnias mais comuns so: inguinal (Fig. 3), umbilical, perineal (Fig. 4), diafragmtica e ventral. No comum, mas pode ocorrer em todas as espcies domsticas.

    Nas cadelas, a hrnia inguinal mais frequente devido fragilidade deste ponto no incio da gestao, e o fato do ligamento redondo do tero passar atravs do canal inguinal para se inserir na regio perineal. Ocorre como uma tumefao na altura das ltimas mamas, que aumenta de volume com a progresso da gestao (Fig. 5).

    As vacas so mais acometidas de eventraes (hrnias esprias) de origem traumtica, predispostas pelo aumento da tenso abdominal, associado ao edema da musculatura abdominal (Fig. 6).

    A hrnia uterina aparece geralmente de forma abrupta, com aumento de volume pouco sensvel, elstico e redutvel na maioria dos casos. Muitas vezes o peritnio se rompe e apenas a pele mantm o contedo hernirio.

    O tratamento cirrgico e pode haver parto normal se houver acompanhamento de forma a orientar o feto herniado para o canal plvico.

    .

    Figura 1: Ruptura do tendo pr-pbico em gua com gestao avanada

    Figura 2: Ruptura do tendo pr-pbico em vaca com gestao avanada

    Figura 3: Histerocele por hrnia inguinal em cadela.

  • 2

    1.9- Inverso e Prolapso vaginal:

    A etiologia desta patologia baseia-se no excesso

    de relaxamento dos tecidos plvicos e aumento da presso intra-abdominal. So fatores predisponentes: raa (bovinos leiteiros, ces Boxer, Doberman e Fila brasileiro), utilizao de pastagens estrognicas (trevos), timpanismo ruminal, senilidade, flacidez do diafragma plvico, sobrecarga uterina, piso inclinado e confinamento.

    A vagina fica exposta total ou parcialmente atravs da rima vulvar (Fig. 7). H tenesmo, inquietao, leses da mucosa evertida, reteno urinria por compresso da uretra, prolapso retal secundrio ao tenesmo, compresso venosa com congesto do tecido prolapsado, vaginite e vulvite. Quando o prolapso completo, a cerviz pode ser visualizada e o tampo mucoso pode se destacar. O comprometimento da gestao pode resultar em morte fetal.

    O diagnstico baseado na evidncia clnica e

    o tratamento deve ser realizado o quanto mais cedo possvel. O prolapso deve ser limpo e reintroduzido na posio original. Deve-se considerar a severidade do prolapso e das leses, bem como a proximidade do parto.

    Em casos mais simples, o prolapso deve apenas ser reposto na posio original e modificar o manejo, permitindo maior movimentao e evitando pisos inclinados. Nos casos mais graves, e que tendem a recorrer, necessrio utilizar mtodos de suturas que evitam a reincidncia. A tcnica de Bhner (Fig. 8)

    Figura 7: Prolapso de vagina em vaca

    Figura 8 Tcnica de Bhner para conteno de prolapso vaginal.

    Figura 4: Hrnia perineal em cabra prenhe

    Figura 5: Histerocele por hrnia inguinal em cadela. Contedo com tero

    Figura 6: Eventrao na regio ventral do abdome em ovelha com gestao avanada.

  • 3

    a mais utilizada, simulando a ao do msculo constritor do vestbulo vaginal, devendo ser feita sob anestesia epidural. No entanto, deve ser controlada a hora do parto para que sutura seja retirada logo nos primeiros sinais de contrao, evitando que o feto seja expulso foradamente e rompa a vulva. Tcnicas cirrgicas podem ser usadas nos casos em que o parto ainda est longe de ocorrer. Pela tcnica de Caslick feita uma sutura na parte superior dos lbios vulvares (usada em pneumovagina das guas), a cirurgia de Winkler faz a sutura da parede vaginal ao tendo pr-pbico, porm de difcil realizao e tem o risco de lesar a bexiga.

    Quando o parto est prximo pode-se induzi-lo ou ento realizar a cesariana para posteriormente efetuar a sutura de Bhner e manter a vagina no local. Deve-se diferenciar da hipertrofia vaginal, das cadelas, que ocorre geralmente no estro, quando, sob a influncia do estrgeno, a parede vaginal se hipertrofia e edemacia ficando exposta pelos lbios vulvares. 1.10- Ectopia uterina:

    Caracteriza-se por desvios acentuados do tero e pode ser classificada como:

    a) Verso: lateral, dorsal ou ventral. O tero desviado em relao ao seu eixo longitudinal. As verses ventrais so fisiolgicas nas unparas, mas podem se tornar patolgicas quando h flacidez abdominal, ruptura do tendo pr-pbico ou hrnias (eventraes). b) Flexo: uma verso mais grave, dorsal ou ventral, que faz com que o tero se projete para a regio plvica. Os sintomas caracterizam-se por trabalho de parto improdutivo, sem insinuao dos fetos e anexos devido ao desvio do tero. O diagnstico dado por palpao retal e vaginal. O tratamento mais recomendado a cesariana. c) Toro: rotao do rgo no seu eixo longitudinal. mais comum na vaca por diversos fatores predisponentes como: posio do tero gestante na cavidade abdominal, assimetria dos cornos uterinos (gestao na ponta do corno), maneira de se levantar com o posterior primeiro (Fig. 9a), grande capacidade digestiva (rmen) permite deslocamento do tero, grande mobilidade do ligamento largo do tero. As guas apresentam implantao prxima ao corpo do tero, diminuindo a assimetria. Os sintomas variam conforme o grau da toro, que pode ser de 45 at 360.

    Nos casos mais leves no h sinais claros, podendo apresentar leve clica. A regresso pode ser espontnea e no compromete a gestao. Quando a toro maior, os animais apresentam sintomas evidentes de inquietao e clica, tenso abdominal, distrbios digestivos, dificuldade de locomoo, dispnia, taquicardia, sudorese, inapetncia e edema (Fig.9b) e repuxamento da rima vulvar (especialmente quando a toro na altura cervical). Nestes casos a gestao pode ser comprometida por congesto uterina, morte e reteno do feto. Tambm, o tero pode romper devido a necrose decorrente da toro. Nas multparas, a toro ocorre mais comumente na regio pr-cervical (Fig. 10 e 11), enquanto que nas unparas cervical (Fig. 12). O diagnstico dado por palpao retal, quando se observa o ligamento largo tenso sobre o tero (Fig. 13). Pela vaginoscopia podem ser observadas as pregas da mucosa e no se visualiza a cerviz. Deve-se diferenciar principalmente de retculo pericardite traumtica.

    O prognstico depende do grau de toro e do tempo da ocorrncia. O tratamento pode ser cruento, laparotomia, que geralmente acompanhado de cesariana. O tratamento incruento, nos casos menos graves, pode ser realizado manualmente pela vagina, ou externamente manipulando o abdome com o auxlio de uma tbua (Fig. 14).

  • 4

    (a) (b) Figura 9: (a) Posio de levantar em bovinos, levantando inicialmente o posterior. (b) Vulva edemaciada e assimtrica devido toro uterina em bovino.

    Figura 10: Esquema mostrando a toro uterina em carnvoros. Normal (esquerda) e torcido (direita).

    Figura 11: Toro uterina em cadela gestante. Local da toro prximo ao corpo uterino.

  • 5

    Figura 13: Esquema da toro uterina em vacas. A) Disposio normal dos ligamentos (l e r) e do tero (u) e os pontos de insero do ligamento no tero (x e y). B) Rotao de 90 para a direita, ligamento r mais tenso que o l. C) Rotao de 180 para a direita, ligamentos r e l muito tensos.

    Figura 14: Mtodos de correo para toro uterina em vacas. A) Rolamento da vaca com compresso do abdome. B) Movimentos basculantes do abdome com auxlio de uma tbua, com o animal em estao.

    Figura 12: Toro uterina em gua. Observar o edema assimtrico da vulva. Local de toro prximo cervix.

  • 6

    1.11- Toxemia da gestao: Causada por deficincia de energia, quando as demandas da me e do feto no

    esto sendo repostas pela alimentao. A reduo da alimentao no perodo seco de vacas de leite pode ser uma das causas deste problema. Os sintomas aparecem no final da gestao (ltimos 2 meses na vaca). 0 balano energtico negativo faz com que a fmea passe a consumir suas reservas lipdicas para produo de energia, gerando cidos graxos livres. Estes c. graxos so conduzidos ao fgado para serem oxidados em C02 e energia, no entanto, o excesso da liplise faz com que sejam transformados tambm em Coenzima A, que gera os corpos cetnicos, os quais intoxicam o animal.

    Clinicamente, a fmea apresenta hipoglicemia, hipercetonemia e cetonria, muitas vezes tambm apresenta disfuno heptica por excesso de gordura. 0 animal apresenta anorexia, perda de peso, fezes mucosas, atividade ruminal ausente ou diminuda, odor de acetona. Se o caso no for tratado, a fmea pode morrer em 1 a 2 semanas. 0 tratamento deve ser rpido e agressivo com soluo de glicose (40%) I.V., oralmente pode ser administrado o propilenoglicol por vrios dias (at 5 dias), terapia com corticoide deve ser administrada, lembrando que pode haver induo do parto.

    A induo do parto pode ser desejvel, especialmente se a fmea no reage bem ao tratamento, 20-30mg de betametazona e 500g de cloprostenol I.M. podem provocar o parto em 24 a 30 horas. Se a fmea no apresenta condies para um parto normal, deve-se eleger a cesariana.

    A toxemia da gestao tambm muito comum em ovelhas e cabras que recebem alimentao desbalanceada e que gestam gmeos duplos ou triplos. Os animais apresentam dificuldade de locomoo, com possveis sinais de afeco neurolgica. Em 24 a 48 horas o animal incapaz de se manter em p, seguindo a coma e morte. Nestes casos o tratamento deve ser bem mais rpido do que nos bovinos e a interrupo da gestao uma necessidade. Para melhorar a condio dos fetos, devem ser aplicados 10mg de dexametazona I.M. 2 a 3 horas antes da cirurgia. Em geral os filhotes no resistem quando nascem com antecipao maior do 48 que horas do parto fisiolgico. 2. PATOLOGIAS DE ORIGEM NOS ANEXOS FETAIS: 2.1- Hidropisia dos anexos fetais:

    o acmulo anormal de lquidos fetais dentro de suas bolsas, mais comum na vaca. Tanto pode ser lquido amnitico quanto alantoideano, eventualmente podem ocorrer conjuntamente.

    A hidropisia do mnio rara e espordica, embora possa aparecer em rebanhos, e de aparecimento lento. Frequentemente esta associada com anormalidade do feto (incluindo alteraes do palato, hipoplasia da hipfise e bezerros buldog). O animal pode apresentar dificuldade de locomoo e de se manter em p devido ao volume abdominal. Ao parto as contraes podem ser fracas, devido a distenso uterina. Excessiva quantidade de lquido notada ao parto. O tratamento nem sempre necessrio, a no ser o acompanhamento do parto e da provvel reteno de placenta.

    A hidropisia do alantide de aparecimento mais rpido, geralmente est associada com distrbios placentrios, placenta adventcia e alterao no metabolismo do sdio nas clulas. Os fetos podem apresentar rins policsticos e hidronefrose, alm de

    Figura 15: Vaca com hidroalantoide, aspecto de tonel, com aumento de volume bilateral

  • 7

    distrbios hepticos. O abdome apresenta rpido aumento de volume e tenso (Fig. 15), o tero apresenta-se todo aumentado e pela palpao retal dificilmente o feto alcanado. O tero pode conter at > 200 litros de lquido. O tratamento deve levar em considerao a data esperada do parto, a condio de sade da me, a viabilidade do feto, o valor econmico e a disponibilidade de cuidados ps-parto. Os mtodos podem ser: a) conservativo: quando a fmea est com boa sade e o parto est prximo; b) diurese: nem sempre eficaz; c) drenagem uterina: resolve temporariamente, mas rapidamente o lquido reposto e ainda h o risco de provocar uma infeco uterina; d) induo do parto: risco de feto prematuro e inrcia uterina; e) cesariana: com prvia drenagem parcial do tero para evitar a perda sbita da presso abdominal.

    Alguns casos podem complicar com ruptura do tero ou do tendo pr-pbico, hrnias ventrais, prolapso vaginal e retal, alm de paraplegia. Aps o parto, h reteno de placenta, metrite e agalaxia. 2.2 Edema da placenta:

    A placenta apresenta-se edemaciada, amarelada, com aspecto gelatinoso,

    principalmente entre os cotildones. mais frequente nos ruminantes e pode estar associada com hidropisias dos envoltrios fetais, estase sangunea na circulao placentria (tores uterinas e do cordo umbilical), ou tambm ser secundria a infeces como brucelose e fungos.

    2.3 Placentite:

    Nestes casos a placenta pode apresentar diferentes graus de inflamao desde edema at necrose. As causas variam entre infeces de origem hemtica, linftica ou vaginal. O parto pode terminar normalmente, mas em geral ocorre reteno de placenta. O diagnstico dado aps o parto, de forma macroscpica ou microbiolgica. O tratamento pode ser sintomtico para a reteno da placenta e ainda profiltico, quando as infeces so especficas.

    2.4 Molas:

    So processos degenerativos da placenta que provocam a morte do feto, em estgios precoces da gestao, mas a manuteno dos anexos fetais. A placenta se modifica apresentando diferentes aspectos: a) Cstico: os anexos fetais apresentam bolsas com contedo lquido; b) Hidatiforme: formao de pequenos cistos pedunculados, podendo se transformar em corioepiteliomas (Fig. 16); c) Viloso: H hipertrofia das vilosidades corinicas; d) Hemorrgico: h hemorragia da placenta por traumatismo ou desenvolvimento vascular anmalo, que posteriormente se organiza em um cogulo; e) Carnosa: a forma mais organizada da mola hemorrgica.

    Nos casos de molas, a gestao no progride com o tempo, pode-se fazer abortamento teraputico ou histerectomia nos pequenos animais.

  • 8

    Figura 16: Mola hidatiforme.

    2.5 Anomalias do cordo umbilical:

    As anomalias mais frequentes so as tores ou estrangulaes ao redor do feto. Estas podem provocar deficincia da circulao placentria e provocar a morte fetal. 3. PATOLOGIAS DE ORIGEM FETAL: 3.1 Gestao prolongada:

    Algumas patologias fetais podem determinar o no desencadeamento normal do parto e aumentar o perodo de gestao, entre elas podemos destacar: anencefalia fetal, hipoplasia ou agenesia hipofisria. Casos deste tipo no sero diagnosticados a no ser quando o parto no ocorrer no perodo esperado e for investigada a causa.

    3.2- Morte embrionria e fetal /Aborto:

    Conforme o perodo da gestao, a morte do concepto pode ser designada como morte embrionria ou fetal. Na primeira, o embrio pouco formado, no perodo pr- implantao, ser reabsorvido e a fmea retornar ao cio em perodo normal ou um pouco retardado. Na morte fetal, a interrupo da gestao mais tardia e o feto eliminado na forma de aborto. A morte embrionria pode ter diferentes causas: a) endcrina: desequilbrio estrgeno:progesterona; b) poucos fetos, em multparas; c) vrus; d) sequelas de infeces uterinas (pouca rea de aderncia); e) estresse lactacional; f) defeitos genticos; g) senilidade materna; h) sobrecarga uterina; i) incompatibilidade: espermatozide-vulo, embrio-tero

  • 9

    A morte fetal e consequente aborto pode ser espontneo (infeccioso ou no) ou induzido. Considera-se aborto quando ocorre antes de: 260 dias na vaca, 290 dias na gua, 110 dias na porca e 56 dias na cadela e gata.

    Os abortos no infecciosos podem ser decorrentes de: deficincias hormonais, defeitos genticos, causas nutricionais (deficincias ou excessos), traumas, alergias (anafilaxia), intoxicaes (drogas, plantas, produtos qumicos), gestao gemelar (gua), sobrecarga uterina.

    As causas infecciosas mais importantes so brucelose, leptospirose, BVD, IBR, parvovirose.

    Em todos os casos de aborto, devem-se tratar os restos fetais e a higiene do local como sendo um caso infeccioso, independente de que posteriormente seja diagnosticado que no infeccioso.

    3.3 Macerao:

    Ocorre quando o feto morre no tero e no ocorre o aborto, h regresso do corpo lteo, abertura cervical o suficiente para contaminar o tero com bactrias patognicas e autolticas. Os tecidos moles so digeridos e os ossos se tornam limpos de tecidos moles (Fig. 17).

    O material digerido pode ser

    eliminado pela vagina em forma de secreo purulenta e os ossos, frequentemente maiores do que a abertura cervical ficam retidos. Os sintomas so caractersticos de descarga vaginal purulenta em animal que deveria estar prenhe. Na palpao retal sentem-se os ossos soltos dentro do tero.

    Tambm podem ser detectados pedaos de ossos dentro da vagina. Nas pequenas espcies pode-se diagnosticar por RX ou Ultra-sonografia. O tratamento quase sempre infrutfero, os ossos devem ser retirados do tero e a abertura cervical insuficiente. Nos

    pequenos animais a histerectomia o mais indicado. Nos grandes pode-se tentar a retirada manual via cerviz, tentando o relaxamento cervical com PGE2 local. O uso de Estrgeno no relaxamento pode ser inadequado, pois provoca a dilatao capilar e pode aumentar a possibilidade de septicemia. Deve-se ter o cuidado de manipular os ossos para evitar perfuraes uterinas, que causariam peritonites.

    O tratamento deve prever o esvaziamento do tero, lavagem uterina, antibioticoterapia, tratamento de suporte para a toxi-infeco (fluidoterapia e hepatoprotetor).

    3.4 Mumificao:

    Caracteriza-se pela morte do feto sem abertura cervical, sem contaminao e sem aborto. Os lquidos so reabsorvidos, mas o feto e placenta ficam desidratados, o tero involui ficando com o aspecto do contorno fetal (Fig. 18). Os fetos podem apresentar colorao escura, decorrente da metabolizao do sangue que derramou entre o crion e o tero, mais frequente na vaca (mumificao hemtica) ou amarelada devido a

    Figura 17: Feto macerado em bovino

  • 10

    desidratao (mumificao papircea). A morte fetal pode acontecer por problemas no suprimento sanguneo (toro umbilical), deficincia na placentao, placentites, toxinas, traumatismos ou problemas genticos.

    A fmea apresenta poucos sinais da patologia podendo perder as caractersticas da gestao, o parto no ocorre no perodo esperado e no h retorno ao cio pela persistncia do corpo lteo. O prognstico favorvel para a vida da fmea, mas desfavorvel para a reproduo.

    O tratamento tentar simular o parto, com aplicao de estrgenos, corticides e PGF2a. O feto dever ser removido com muita lubrificao. Nos casos de fetos muito grandes pode ser necessrio realizar a cesariana ou at mesmo a ovariohisterectomia (OSH). Em geral as fmeas de produo so descartadas. Nas porcas a parvovirose suna pode provocar morte de apenas alguns fetos que se tornam mumificados, enquanto outros so normais. Em caninos mais causada por herpes vrus.

    PARTO DISTCICO Eutcico: parto normal Distcico: parto difcil Dificuldade ou impedimento do feto ultrapassar o canal do parto, que pode ser de origem materna, fetal ou ambas associadas. Ocorre com maior frequncia em vacas e cadelas, embora possa ocorrer em qualquer espcie. Alguns fatores podem contribuir para a ocorrncia de distocias: Fatores ambientais

    A) Alimentao: Tanto a deficincia como o excesso nutricional podem levar a problemas de parto. A dieta deve ser equilibrada com propores adequadas de minerais e energia de forma que o animal no apresente deficincias como, por exemplo, de clcio para as contraes uterinas. Alimentao excessiva pode causar aumento de peso do feto causando uma desproporo materno fetal que levar distocia. Racionar a alimentao nas proximidades do parto no benfico, pois o feto continuaria a demandar nutrientes que retiraria das reservas maternas, provocando toxemia e fraqueza materna.

    B) Superviso: Sempre que possvel o parto deve ser assistido, no entanto isto deve ser feito de forma sutil, sem que a presena do supervisor provoque estresse na fmea aumentando a incidncia de distocia.

    C) Doenas: salmonelose e brucelose em bovinos podem estar relacionadas com hipocalcemia e ser causa de distocia.

    D) Induo do parto: partos induzidos podem reduzir a distocia por desproporo materno fetal, no entanto, aumentam as alteraes da esttica fetal, falhas de abertura cervical e reteno das membranas fetais.

    Fatores intrnsecos:

    Figura 18: Feto bovino mumificado

  • 11

    A) Idade, nmero de partos, peso corporal e tamanho da pelve materna: em geral as distocias ocorrem em fmeas muito jovens ao primeiro parto e com crescimento deficiente.

    B) Raa: aspecto gentico, algumas raas so mais predispostas do que outras. C) Peso do feto, sexo e tamanho (bovinos): quanto maior o tamanho do bezerro

    maior a chance de distocia, especialmente os machos. Embora a gemelaridade produza fetos de tamanho reduzido, a gestao mltipla pode ter outros tipos de complicao.

    D) Durao da gestao: gestaes prolongadas podem provocar distocia pelo aumento do peso e tamanho do(s) feto(s).

    E) Macho: alguns machos tm predisposio a gerar problemas de distocia, geralmente por maior tamanho do feto, nestes casos deve-se dar preferncia a machos com reputao conhecida quanto aos problemas de parto de suas fmeas.

    F) Apresentao fetal: em fmeas unparas a apresentao posterior do feto pode ser causa de distocia e natimortos.

    EXAME OBSTTRICO (ROTEIRO) 1 Anamnase (perguntas importantes) 1) O parto est a termo ou prematuro? (checar data de cobertura) 2) A fmea primpara ou j teve outros partos? 3) J teve problemas nos partos anteriores? Quais e como foram resolvidos? 4) O macho que realizou a cobertura j teve crias com outras fmeas? Qual a proporo de tamanho entre macho e fmea? 5) A fmea sofreu alguma doena ou acidente durante a prenhez? Qual? 6) Foram observadas contraes abdominais? H quanto tempo? 7) Ocorreu alguma descarga vaginal? Qual a natureza? 8) Foi vista alguma membrana fetal ou parte do feto pela vulva? 9) J foi realizada alguma tentativa de ajudar a fmea? 10) Se for caso de multpara, j ocorreu o nascimento de alguns fetos? Vivos ou mortos? 11) A fmea est se alimentando? 12) Ocorreram vmitos (cadela)? 2 Exame Geral da Fmea 1) Estado geral: apatia, capacidade de se manter em p e andar, sinais de parto 2) Condio corporal (magra ou gorda) 3) Temperatura, pulso e respirao 4) Partes fetais expostas: presena de membranas fetais, umidade. 5) Membranas expostas: identificao e caracterstica 6) Descarga vaginal tipo e quantidade 7) Distenso abdominal 8) Conformao plvica, largura e inclinao 9) Glndula mamria: colostro, edema, ferimentos, fstulas, etc 3 Exame obsttrico 1) Conteno do animal, tranquilizante (se necessrio) 2) Exame vulvar: conformao, cicatrizes, corrimentos, edema, hematoma. 3) Exame vaginal: delicadeza e assepsia. Lavagem da regio perineal com gua e sabo e enxaguar com desinfetante. Veterinrio com mos limpas e unhas aparadas. Luvas. Lubrificante (gua e sabo).

  • 12

    4) Via fetal mole: verificar a dilatao, grau de lubrificao e possveis laceraes ou obstrues. 5) Feto: verificar esttica, localizao e relao do seu tamanho com o canal do parto, vitalidade fetal (reflexos de suco, ocular, podal, anal). 6) Membranas fetais: aspecto, colorao, umidade, odor, consistncia 7) Tonicidade uterina

    1. DISTOCIAS DE ORIGEM MATERNA 1.1 Anomalias plvicas: -pelve juvenil: associada a fmeas acasaladas muito jovens (Fig. 19) -exostose (calos sseos) -luxao sacro-ilaca -fraturas: geram calos sseos ou estreitamento da pelve por consolidao ssea -osteodistrofia Quanto maior o grau de estreitamento plvico pior ser o diagnstico. Em geral estes problemas resultam em cesariana ou fetotomia, sendo esta ltima indicada para os grandes animais, quando o feto j est morto. A trao forada s deve ser usada quando o estreitamento no muito severo, no entanto deve ser realizada com bastante lubrificao. Animais com estas patologias devem ser retirados dos programas reprodutivos. 1.2 Anomalias vulvares: -estenoses -hipoplasia -retraes cicatriciais -dilatao insuficiente (falta de elasticidade, deficincia de vitamina A e fsforo) -tumores Embora o canal do parto possa apresentar a dilatao necessria, a vulva no permite a passagem do feto podendo inclusive dificultar o exame obsttrico. Em alguns casos, o manuseio com intensa lubrificao pode ajudar no relaxamento. Se isto no ocorrer ser necessrio evitar que a comissura vulvar se rompa pelo esforo expulsivo do feto. A episiotomia (Fig. 20) uma tcnica utilizada nestes casos onde feito um corte na pele e mucosa da regio perineal lateralmente ao nus, para evitar ruptura do nus e reto. Aps a expulso fetal deve ser realizada sutura reparadora para restabelecer a morfologia dos lbios vulvares.

    Figura 19: Desproporo plvica

    Figura 20: Episiotomia em bovino. Notar o direcionamento lateral ao reto.

  • 13

    1.3 Anomalias vaginais -tumores (leiomiomas, carcinoma de clulas escamosas) -hematomas, edemas, abscessos -cistos das glndulas de Bartolin -retraes cicatriciais, bridas (pilares recobertos de mucosa prximos cerviz) -prolapsos, everso da bexiga (gua), distenso da bexiga (porca) -estenoses, hipoplasias -dilatao insuficiente -persistncia do hmen (craneal ao orifcio uretral), cadelas e porcas O diagnstico dado por palpao. A dilatao pode ser forada por manipulao e trao com intensa lubrificao. Nos casos de estruturas presentes pode se tentar a remoo com tesoura ou bisturi eltrico. O hmen pode ser rompido manualmente e outras obstrues mais srias devem resultar em cesariana com tratamento especfico posteriormente. Os casos de distenso da bexiga em porcas (Fig. 21) se devem reteno urinria com excessivo relaxamento da vagina e tecidos vizinhos, por palpao nota-se a elevao do assoalho da vagina. Estes casos so resolvidos por cateterismo vesical.

    Figura 21: Obstruo vaginal pela repleo da bexiga, em suno. 1.4 Anomalias cervicais -dilatao insuficiente: fatores hormonais e presso do feto e anexos sobre a cerviz -toro uterina -retrao cicatricial -formaes tumorais (leucose) -duplicidade (Fig. 22) -bridas

    Nestes casos o parto inicia, no entanto a fase de expulso no progride e no se observam partes fetais, nem dos anexos, proeminentes na vagina e vulva, a no ser que a dilatao seja apenas parcial.

    Deve-se certificar se o parto realmente iniciou e se no est apenas comeando. Pode-se tentar dilatar a cerviz manualmente, ou ainda com auxlio de medicamentos como estrgeno, clcio e oxitocina, porm esse processo lento e s deve ser utilizado quando as membranas fetais esto intactas e o feto vivo. Casos mais urgentes devem ser resolvidos com cesariana. Deve-se evitar que uma trao forada provoque o rompimento cervical o que de difcil reparao e pode trazer srios comprometimentos para a vida reprodutiva futura do animal.

  • 14

    Figura 22: Cerviz dupla; (A) durante a gestao e (B) Nos momentos que antecedem o parto, mostrando a bolsa fetal no orifcio do lado direito. 1.5 Anomalias uterinas 1.5.1 Atonia ou Inrcia Uterina: caracteriza-se pela falta de atividade uterina ou eficincia de contraes. -Atonia Uterina Primria: mais comum em cadelas, porcas e vacas Ausncia de contraes uterinas e abdominais com evidncias da fase prodrmica do parto. As causas mais comuns so: a) deficincia hormonal (estrgeno, relaxina, ocitocina); b) obesidade (cadelas, mais comum ser referente contrao da musculatura abdominal); c) hipocalcemia, hipomagnesemia, hipoglicemia; d) hidropisia dos anexos fetais, sobrecarga uterina (excesso de fetos); e) gestao prolongada (porcas e cadelas com poucos fetos); f) degenerao do miomtrio (infeces); g) parvovirose, natimortos e toxemia (porcas); h) rupturas uterinas ou do tendo pr-pbico; i) retculo pericardite (processo doloroso); j) senilidade (tnus muscular deficiente); k) estresse, histeria (cadelas Cocker Spaniel e Bull Terrier) I) hereditariedade.

    Em princpio, o tratamento consiste em aplicao de gluconato de clcio e ocitocina desde que seja observada a dilatao da via fetal mole. O parto pode ser ajudado por trao forada aps ruptura dos anexos fetais. Nos casos mais difceis a cesariana deve ser realizada.

    -Atonia uterina secundria:

    Trata-se de deficincia de contraes uterinas em decorrncia de outra distocia, p.ex: esttica fetal imprpria com resultante esgotamento do miomtrio.

    O animal apresenta um perodo de contraes uterinas fortes mas improdutivas que tornam-se fracas e desaparecem. Pela palpao, pode-se chegar ao diagnstico da causa primria da distocia.

    Em cadelas e porcas comum ocorrer fadiga do miomtrio aps a expulso de alguns fetos e no haver contraes uterinas para terminar a expulso dos fetos restantes. Porcas muito gordas so mais sensveis a este problema (inrcia uterina idioptica).

    Nos casos de distocia mais simples pode-se tentar resolv-las e s ento utilizar um tratamento a base de gluconato de clcio e ocitocina. Nos casos em que isto no surte efeito a cesariana ou fetotomia so as melhores opes.

    1.5.2 Hipertonia Uterina:

    Ocorre principalmente em guas quando o tero apresenta contraes

    excessivamente fortes que se tornam improdutivas. Nestes casos pode-se tentar anestesia epidural ou tranquilizante. O perneo deve ser protegido contra laceraes.

  • 15

    Algumas vezes o feto pode estar em esttica anormal e deve ser corrigido inicialmente. 1.5.3 Deslocamentos uterinos

    Toro, flexo e desvios so processos que geralmente ocorrem durante a gestao, mas que se no resolvidos podero provocar parto distcico.

    Nos casos de toro, quando o grau da rotao no muito acentuado e possvel alcanar o feto com a mo, pode-se tentar desfaz-la rodando o prprio feto sobre seu eixo, o sucesso deste procedimento depender da presena dos lquidos fetais. Em guas, a toro uterina ter sintomas semelhantes aos da clica e o parto no progride.

    Nas flexes e desvios deve-se alcanar o feto e tracion-lo para que possa encontrar a sada do tero. Em porcas mais comum a flexo ventral devido a conformao profunda do abdomen e excesso de fetos (Fig. 23). 1.5.4 Ruptura uterina

    mais comum de ocorrer no perodo gestacional, porm tambm pode ser consequncia de distocias, onde os esforos expulsivos improdutivos associados com miomtrio enfraquecido podem provocar a ruptura. Nestes casos a retirada do feto, se no for possvel por via vaginal deve ser por laparotomia na qual tambm ser realizada sutura do tero e inspeo abdominal, pois se houver ruptura das bolsas fetais o peritnio poder estar comprometido. 2. DISTOCIAS DE ORIGEM FETAL 2.1 Desproporo Materno -Fetal

    Vrias so as condies em que o feto se apresenta muito grande em relao a pelve materna:

    a) anasarca (hidropisia fetal): edema subcutneo generalizado do feto, normalmente os fetos no apresentam plos e os lquidos so insuficientes para a lubrificao adequada. Em geral, os fetos so retirados com intensa lubrificao e trao forada.

    b) ascite fetal: a cabea, pescoo e trax do feto so normais e se insinuam na vagina, porm o abdmen, dilatado pelo acmulo de lquidos, fica retido na pelve materna. Algumas vezes possvel extrair o feto por trao com lubrificao. Se possvel, o abdmen pode ser puncionado intra-tero para liberao dos lquidos e diminuio do volume abdominal.

    Figura 23: Desvio uterino ventral em porca

  • 16

    c) gigantismo: (> que 7 -8% do peso materno) caracteriza-se pelo desenvolvimento excessivo do feto. A hipertrofia muscular ou musculatura dupla pode ser uma das causas. uma anomalia hereditria onde os msculos se desenvolvem alm do normal especialmente no traseiro. Quando ocorre em grau moderado, os criadores consideram desejvel uma vez que h maior rendimento da carcaa, no entanto quando mais severa, a condio interfere no parto, provocando distocias,principalmente em novilhas.

    d) enfisema fetal: ocorre quando h morte fetal e incio de putrefao. As bactrias responsveis pela decomposio dos tecidos, produzem gs que se acumula no espao subcutneo provocando o aumento de volume do feto.

    e) cruzamento entre raas diferentes: macho de raa de porte maior do que a da fmea quando acasalado pode produzir fetos grandes que sero causa de distocia.

    f) hidrocefalia (ventrculos cerebrais e cavidade aracnoide): um aumento do crneo (Fig. 24) que impede o feto de se insinuar na pelve materna. Algumas vezes est associado a hipoplasia da pituitria e gestao prolongada.

    g) monstruosidades: g.1) celosomianos - unitrios, pouca sobrevivncia extra-uterina = esquistossomo reflexo: a regio abdominal da linha mdia ventral no se solda e o feto sofre curvatura dorsal, ficando com as vsceras expostas (Fig. 25). A pele frequentemente fica invertida encobrindo os membros e cabea. = perossomus elumbis: a parte anterior tem desenvolvimento normal, no entanto, as vrtebras lombares e o cordo espinhal so rudimentares e os membros posteriores so contorcidos e anquilosados (Fig. 26). A parte anterior se insinua facilmente pela pelve, porm o posterior fica retido devido a sua rigidez.

    g.2) eusonfalianos (duplos com cordo umbilical prprio - siameses) ou mononfalianos -duplos com cordo umbilical comum. Podem ser ligados pelo esterno (toracophagus), pelo esterno e abdmen (toracogastrophagus) (Fig. 27) ou abdmen e pelve (isquiogastrophagus ), apresentam 8 membros.

    Figura 24: Hidrocefalia em bovino

    Figura 25: Esquistossomo reflexo em bovino

    Figura 26: Perossomus elumbis em bovino

  • 17

    -Dicfalos Monosomianos: 2 cabeas sobre um corpo.

    -Monocefalianos: 1 cabea com 2 corpos ligados -Diprosopus: 2 faces mas a cabea incompleta (Fig. 28).

    - Polimelia: membros adicionais (Fig 29). - Feto mole: ou monstro acardaco (Fig. 30), em geral um gmeo de outro bezerro normal, consiste de uma coleo de tecidos variados e por ser pequeno, geralmente no provoca distocia. - Bezerro Bulldog ou lontra: uma forma severa de acondroplasia, possivelmente associada com gene autossmico. O feto anormal tem a cabea grande do tipo de co bulldog e membros curtos (Fig. 31). comum encontrar associao com ascite fetal. A distocia se deve ao tamanho da cabea e geralmente possvel retirar o feto apenas com trao e lubrificao.

    Figura 27: Toracogastrophagus bovino

    Figura 28: Diprosupus bovino

    Figura 29: Feto bovino com polimelia

    Figura 30: Feto acardaco bovino

    Figura 31: Bezerro acondroplsico

  • 18

    Em geral, nos casos de desproporo entre o feto e a me, haver dificuldade na progresso do feto, no estgio de expulso. Algumas vezes ser possvel visualizar membros expostos pela vulva ou at mesmo o focinho quando a apresentao anterior. Nos casos normais o parto deve terminar em at duas horas quando a cabea do feto se insinua na vagina, o que no ocorre nestes casos de desproporo materno fetal. O exame vaginal torna-se difcil quando o feto est insinuado na vagina, no permitindo a passagem da mo do veterinrio. Quando a desproporo bvia e o feto est vivo, deve-se proceder a cesariana sem mais demora. Fetos mortos podem ser retirados por fetotomia, desde que haja espao suficiente para a manobra. De qualquer forma, o feto deve ser re-introduzido no tero para haver condies de diagnstico mais preciso. 2.2 Distocias da Esttica Fetal

    a) Apresentao longitudinal posterior - embora o feto possa ser expulso normalmente nesta apresentao, os bezerros podem apresentar maior demora na fase de expulso, necessitando de alguma assistncia (Fig. 32). Sempre que isso for necessrio, deve-se assegurar que a h ajudantes suficientes, pois, ao se insinuar na pelve, o cordo umbilical poder se partir ou estrangular e o feto iniciar os movimentos respiratrios com a cabea imersa no lquido amnitico, com morte por asfixia se a expulso no for suficientemente rpida.

    Figura 32: Apresentao longitudinal posterior, posio lombo-sacra, atitude estendida (bovino) e flexionada (canino, neste caso o parto no progride). b) Apresentao transversal ventral ou dorsal - dependendo da parte fetal que se

    apresenta no canal plvico. Pode-se tentar fazer uma verso para colocar o feto na apresentao longitudinal e posteriormente uma rotao para mudar a posio lateral para dorsal. O parto deve terminar por trao do feto aps a correo. Esta apresentao embora rara mais comum nos equinos e est associada com gestao bicornual (Fig. 33 A). Como os movimentos do feto ficam restritos, pode ocorrer algum grau de anquilose. Em fetos vivos a cesariana o tratamento de eleio. Este tipo de distocia tambm pode ocorrer na porca quando ao invs de se introduzir no corpo uterino, o leito passa para o outro corno ficando atravessado.

    c) Apresentao vertical - rara em bovinos, pode ocorrer em equinos, e

    frequentemente chamada de posio de "co sentado" (Fig. 33B). O feto apresenta insinuao da cabea, pescoo e membros anteriores na vagina, mas tambm se insinuam as pontas dos membros posteriores. Quando o problema diagnosticado precocemente, possvel deslocar os membros traseiros para dentro do tero e tracionar os anteriores a fim de retirar o feto. Casos mais graves devem ser resolvidos por fetotomia, pois at a cesariana difcil a no ser que o feto possa ser repelido para o interior do tero.

  • 19

    (A) (B)

    Figura 33: (A) Apresentao transversal dorsal. (B) Apresentao vertical ventral com desvio dorsal da cabea. d) Apresentao posterior longitudinal - posio lombo-pubiana: nestes casos h o

    risco de que a vagna e assoalho do reto sejam rompidos pelos cascos do feto causando uma fstula. Possvel de ocorrer na gua e vaca, a correo se d por retropulso e rotao (Fig. 34A).

    e) Apresentao posterior longitudinal - posio lombo-ilaca: o lombo do feto se

    relaciona com a parte lateral do leo, sendo necessria a rotao do feto (Fig. 34B). mais fcil de ser realizado do que no caso anterior.

    (A) (B) Figura 34: (A) Apresentao longitudinal posterior, posio lombo-pubiana, atitude estendida. (B) Apresentao longitudinal posterior, posio lombo-ilaca, atitude flexionada da pata esquerda. f) Apresentao anterior longitudinal - posio dorso-pubiana: semelhante a

    lombo-sacra, no entanto menos perigosa quanto ao rompimento do teto vaginal (Fig. 35A).

    g) Apresentao anterior longitudinal - posio dorso-ilaca: semelhante lombo-

    ilaca (Fig. 35B).

  • 20

    (A) (B) Figura 35: (A) apresentao longitudinal anterior, posio dorso-pubiana, atitude estendida. (B) apresentao longitudinal anterior, posio dorso-ilaca, atitude estendida. h) Atitude de cabea: desvios de cabea (Fig. 36A) podem ocorrer no sentido ventral

    ou lateral, mais comum nos equinos devido ao pescoo ser mais longo, no entanto pode ocorrer em todas as espcies.

    i) Atitude de membros: So bastante comuns entre as espcies, especialmente

    bovina e equina (Fig. 36B).

    (A) (B)

    Figura 36: (A) apresentao longitudinal anterior, posio dorso-sacra, atitude estendida de patas e flexo lateral de cabea. (B) apresentao longitudinal anterior, posio dorso-sacra, atitude estendida de cabea e flexionada da pata esquerda.

    A correo de atitudes imprprias para a expulso geralmente feita por manipulao que s no possvel quando o quadro j est complicado pela morte fetal ou por anquiloses.

    MANOBRAS OBSTTRICAS 1 Retropulso: a manobra que faz o feto retroceder cavidade uterina depois de estar insinuado. Isto permite que sejam feitas correes de posio e atitude. A fora para empurrar o feto deve ser feita nos intervalos das contraes

  • 21

    2 Rotao: a manobra que gira o feto em torno do seu prprio eixo, aplicada em casos de posies imprprias. realizado com mais facilidade quando o feto ainda est vivo, podendo ser obtido apenas com presso sobre as rbitas. Caso contrrio, deve-se lubrificar o feto e cruzando seus membros tentar fazer a rotao. O Garfo de Cammerer pode ser utilizado nestes casos (Fig. 37). 3 Verso: modifica a apresentao transversal, implica em tracionar o anterior enquanto o posterior empurrado para dentro do tero. 4 Extenso: refere-se correo de defeitos de atitude de membros ou cabea. Na extenso das patas necessrio ter o cuidado de no permitir que os cascos lesionem a parede uterina, evitando assim as rupturas de tero (Fig. 38).

    Figura 38: Correo da distocia das patas, com o cuidado de evitar a leso uterina.

    Figura 37: Garfo de Cammerer

  • 22

    5 Trao: exercer fora sobre a parte exteriorizada do feto para ajudar ou substituir as contraes maternas. O mximo de fora que pode ser aplicado a um animal sem causar maiores danos o correspondente a 3 homens. A trao deve ser exercida em conjunto com as contraes da fmea e, em se tratando de grandes animais, cada membro deve ser tracionado isoladamente e alternadamente para a passagem das escpulas pela pelve (Fig. 39); aps o trax ter-se insinuado na vagina atrao deve ser exercida no sentido ventral acompanhando a curvatura do canal do parto. No momento da trao deve-se ter o cuidado de proteger o perneo para que no ocorram rupturas (Fig. 40).

    Figura 40: Proteo manual do perneo para evitar lacerao durante o parto.

    O uso de cordas ou correntes para facilitar a trao deve ser feito com cuidado. A Figura 41 mostra o local em que a corda deve ser colocada na cabea do feto, bem como

    Figura 39: Forma de tracionar o feto para minimizar o esforo expulsivo e evitar traumatismos no feto e na pelva materna.

  • 23

    nas patas, evitando as partes moles e articulares, de forma a no lesionar as estruturas fetais.

    Figura 41: Cuidados para a colocao de laos na cabea em patas a fim de efetuar a trao fetal. Evitar traumatismo nas patas e cabea do feto.

    Em pequenos animais a manobra obsttrica poder feita em cadelas de maior porte com auxlio de presso sobre o abdome e manipulao digital pela vagina (Fig. 42).

    Figura 42: Manipulao digital com compresso abdominal em parto canino.

  • 24

    6 FETOTOMIA Tomo = corte (grego) FETOTOMIA o conjunto de operaes que visam diminuir o tamanho do feto dentro do tero. Pode se parcial, quando apenas uma ou duas partes do feto so cortadas ou total, quando o feto completamente seccionado. Indicaes: 1. Fetos mortos; 2. Fetos absolutamente ou relativamente grandes; 3. Fetos enfisematosos; 4. Monstros fetais; 5. Preveno de trao excessiva; 6. Quando a cesariana contra-indicada. Contra-indicaes: 1. estreitamento da via fetal mole; 2. rupturas do tero; 3. hemorragias uterinas ou vaginais; 4. fetos vivos. Para realizao de fetotomia ou cesariana deve-se considerar os seguintes fatores: 1. a vitalidade do feto; 2. a acessibilidade ao feto; 3. material disponvel e experincia do obstetra; 4. demora em realizar os cortes (at 6 cortes em 1 hora); 5. sem alternativas alm da fetotomia: fetos mortos e presos na pelve; 6. condies maternas. Tcnicas: 1. Subcutnea: mais antiga (sc. XVIII), mas caiu em desuso aps a utilizao da tcnica

    percutnea. Consiste em dissecar o feto na cavidade uterina, com o uso de bisturi especfico, seccionando o feto nas articulaes.

    2. Percutnea: a partir de 1930. Necessita de material especializado composto de

    fettomo tubular, fio serra, puxadores de fio serra, gancho, vareta para introduo do fio serra no fettomo.

    A cabea do fettomo, que fica em contato com o feto, que direciona o corte. Tipos de corte: Transversal: quando o fettomo transversal parte a ser cortada; Longitudinal: quando o fettomo longitudinal parte a ser cortada; Diagonal: quando o fio fica em diagonal em relao ao fettomo.

    Complicaes da Fetotomia: 1. Perfurao do tero: remoo descuidada de partes fetais seccionadas; 2. Seco uterina: devida a cortes pelo fio serra juntamente com o feto; 3. Compresso da via fetal mole: pelo manuseio inadequado do fettomo; 4. Leses da via fetal mole: remoo descuidada de partes fetais seccionadas sem a devida proteo das pontas sseas com a palma da mo. Cuidados Ps Fetotomia: 1. Exame obsttrico rigoroso para identificar possveis leses do tero e vagina; 2. Retirada da placenta ou parte dela, no forar a extrao;

  • 25

    3. Lavagem do tero com soluo anti-sptica com sifonagem para retirada da maior parte do lquido; 4. Antibioticoterapia profiltica. Fetotomia total, segundo Goetze: (Fig. 43)

    Figura 43: Fetotomia total segundo Gtze.

  • 26

    4. CESARIANA

    A indicao para cesariana deve ser feita logo ao diagnstico e no ser uma ltima tentativa depois de outras intervenes frustradas. A cada interveno sem sucesso, diminuem as probabilidades de obter um produto vivel e de no comprometer a vida reprodutiva da me. Indicaes: 1. Desproporo maternofetal; 2. Esttica incorreta com correo difcil; 3. Torso uterina irredutvel; 4. Dilatao incompleta da cerviz; 5. Monstros fetais; 6. Obstrues ou leses da via fetal mole; 7. Ruptura ou hemorragia uterina; 8. Prolapso vaginal grave; 9. Inrcia uterina em multparas; 10. Eletivas: gestao prolongada, patologias da gestao (hidropisia, histerocele, toxemia), conhecidos estreitamentos plvicos, convenincia (transferncia de embries). Prognstico:

    Est em funo do tempo e da gravidade da distocia. Um bezerro no sobrevive quando a fase de expulso fetal dura mais do que 8 horas e a mortalidade da me maior quando a cirurgia realizada aps 24 horas do incio da distocia, ou se o feto est morto e enfisematoso. Em equinos o feto no sobrevive a uma fase de expulso muito demorada.

    Em porcas o prognstico passa a ser ruim quando a porca j est em trabalho de parto a mais do que 12 horas e apresenta sinais de toxemia (baixa temperatura, fraqueza, manchas prpuras nas orelhas, pescoo e perneo).

    As cadelas e gatas podem apresentar bom prognstico para a me e fetos se apenas se passaram 6 horas do incio da fase de expulso. Entre 6-12 horas, os primeiros fetos podem no sobreviver; entre 12-24 horas, os fetos podem morrer, mas o prognstico ainda bom para a me; entre 24-36 horas j comea a ser duvidoso para a me e aps 36 horas bastante perigoso.

    As cesarianas eletivas no devem ser realizadas muito precocemente e sim no estgio de dilatao do parto, para garantir o adequado suprimento de colostro e leite bem como diminuir o risco de reteno de placenta na vaca. Cordeiros geralmente no sobrevivem quando a cirurgia realizada antes de 48 horas do parto esperado, O uso de corticoides 24 horas antes da cirurgia pode ser uma forma de aumentar a produo de surfactante e assim melhorar as condies de sobrevivncia do recm-nascido. importante lembrar que a anestesia seja qual for, atravessa com rapidez a barreira placentria e que o feto tem atividade heptica deficiente. Preparao para a Cirurgia: 1. Drogas para sedao e anestesia geral ou local; 2. Aparelho para depilao; 3. Anti-spticos (para material e pele); 4. Material cirrgico (cordas e correntes esterilizadas podem ser necessrias em grandes animais) e de sutura; 5. Panos secos e limpos para enxugar os fetos; 6. Material de ressuscitao, inclusive estimulantes cardio-respiratrios; 7. Antibiticos parenteral ou, em casos de peritonite, dissolvido em soluo fisiolgica para instilao da cavidade peritonial. Tcnicas Cirrgicas: 1. BOVINO:

  • 27

    Flanco esquerdo: vantagens: animal em p, anestesia local, melhor ps-operatrio; desvantagens: mais difcil de exteriorizar o tero, o peritnio se contamina com facilidade quando h um processo infeccioso no tero. O flanco esquerdo preferido porque as alas intestinais no saem pela abertura da parede abdominal. Esta tcnica pode ser realizada tambm com o animal deitado, o que evita que durante a cirurgia o animal se deite repentinamente (Fig. 44).

    Figura 44: Cesariana no flanco com o animal em decbito esternal ou em estao.

    Paramamria: pode ser preferida se o animal apresenta-se debilitado, pois o acesso ao tero mais fcil. No entanto, o ps-operatrio mais reservado devido ferida cirrgica ficar na parte mais ventral do abdmen e estar sujeita presso exercida pelas vsceras alm de ser mais facilmente contaminada (Fig. 45).

    Como as cesarianas em geral no so premeditadas, dificilmente o animal estar em jejum adequado, muito embora as fmeas deixem de comer com o incio do trabalho de parto. Desta forma as cirurgias com animal deitado devem ser evitadas, pois grande o risco de timpanismo e regurgitao de lquido ruminal. Nos casos em que o animal mantido deitado, a cirurgia deve ser a mais rpida possvel.

    A anestesia feita apenas localmente, nas incises sublombares o bloqueio dos nervos paravertebrais a partir da ltima vrtebra torcica e trs primeiras lombares suficiente para relaxamento e analgesia, apesar de provocar hiperemia dos msculos e maior grau de hemorragia. Tambm pode-se optar pela infiltrao local ou L invertido (Fig. 46).

    A conteno do animal em p deve considerar que poder haver queda sbita e neste caso a cabea deve ser liberada facilmente.

    Figura 45: Cesariana paramamria em bovino

    Figura 46: Anestesia do flanco em L invertido no bovino.

  • 28

    Figura 47: Cesariana em suno pelo acesso do flanco ventral.

    2. EQUINOS: devido a pouca necessidade desta interveno na gua, a cesariana nesta espcie tida como perigosa e geralmente evitada. A anestesia deve ser geral e a inciso mais frequentemente utilizada na linha mdia ventral. Tambm podem ser feitas na linha paramediana e no flanco ventral. 3. SUNO: a difcil conteno da porca exige anestesia geral ou profunda sedao com anestesia local. A campo, cloridrato de ketamina (15-20 mg) sozinha ou associada com azaperone ou diazepan, funcionam bem para a porca, no entanto deprimem muito os fetos. A inciso feita no flanco ventral e o corno uterino exteriorizado fazendo-se a inciso o mais prximo possvel do corpo uterino (Fig. 47). 4. CANINOS E FELINOS: a linha mdia o acesso preferido para esta interveno e sempre realizada sob anestesia geral. CUIDADOS PS-OPERATRIOS: 1. Placenta: sempre que a placenta apresentar algum grau de resistncia ao ser tracionada deve-se evitar a retirada, pois trao excessiva poder causar hemorragias, alm da persistncia das vilosidades no endomtrio, o que na gua provoca endometrites; 2. Antibiticoterapia preventiva, curativos na ferida, evitar miase; 3. Observaes quanto amamentao, especialmente nos carnvoros e sunos. Algumas fmeas podem recusar os filhotes aps cesariana; 4. Peritonite: especialmente quando o feto est morto e contaminado (guas so bastante sensveis), pode ser acompanhado de perimetrite; 5. Mastite: pode ocorrer em qualquer parto e especialmente nas cesarianas devido infeco por E. coli. (vacas e porcas); 6. Fertilidade: em geral, animais submetidos a cesariana apresentam diminuio nos ndices de fertilidade e maior taxa de aborto. No entanto parece ser mais importante a condio do feto e do tero do que a cirurgia em si, apesar das aderncias e fibroses que se formam.

  • 29

    PATOLOGIAS PUERPERAIS

    O puerprio se inicia aps a expulso fetal e todos os problemas decorrentes ou no do parto que se manifestam neste perodo podem comprometer a involuo uterina e subsequente fertilidade. ] 1. HEMORRAGIAS:

    Observadas em carnvoros devido ao tipo de placentao ou em ruminantes devido ao coto umbilical que permanece no tero aps o rompimento do cordo. Quando em excesso, pode ser devida trao forada da placenta e leses uterinas decorrentes de auxlio inadequado, instrumentos, fetotomia ou ainda apndices fetais restantes no tero.

    A causa deve ser detectada e sanada. O tratamento cirrgico, se necessrio, pode incluir ovariosalpingohisterectomia ou histerorrafia, aplicao de soro e/ou sangue para repor a volemia, ocitocina, clcio e anti-hemorrgicos.

    Hemorragias do ligamento largo do tero so mais frequentes em guas e so devidas compresso dos vasos do ligamento largo pelo feto sobre a pelve. A hemorragia pode ficar contida no ligamento ou se espalhar pela cavidade peritoneal. Os sinais clnicos dependem da intensidade da hemorragia, podendo a fmea apresentar palidez de mucosas, fraqueza, hiperpnia, sinais de clica, colapso e morte. O hematoma pode ser detectado por via retal alm de se perceber defecao dolorosa. Nos casos severos pouco pode ser feito, mas nos casos leves analgesia, sedao e repouso so recomendados, alm de antibitico e, se necessrio, transfuso sangunea. 2. LACERAES: 2.1. TERO: mais comum na vaca e ovelha, podendo ser acidental ou decorrente de tratamento de distocia. Aps a manipulao e/ou retirada do feto, a inspeo uterina poder detectar a ruptura da parede do tero, inclusive com acesso cavidade abdominal e palpao dos rgos. Alas intestinais podero se insinuar para dentro da luz uterina. importante checar se o intestino materno ou pertence a um feto esquistossmico.

    H casos em que os sintomas no so observados a no ser quando se instala a peritonite. Isto pode ocorrer em poucas horas ou at no dia seguinte ao parto, quando a fmea apresenta depresso, toxemia, febre, ranger de dentes e gemidos na expirao.

    Quando a ferida pequena e no h insinuao de vsceras, pode-se administrar ocitocina para que o tero diminua de volume rapidamente e consequentemente a ferida tambm reduza. Se a ferida grande e na curvatura maior do tero ser prefervel fazer a sutura por laparotomia, acompanhada de antibitico e profilaxia contra ttano. Suturas via vaginal so extremamente difceis de realizar e dependem de material especializado (longos). Os casos mais severos e acompanhados de peritonite devem ser considerados quanto eutansia. 2.2. CERVIZ: no muito comum, no entanto o processo cicatricial que se desenvolve comprometer a dilatao cervical em partos subsequentes. Em geral causada por danos no parto, devido a fetos desproporcionais ou deficiente dilatao cervical. A identificao do problema ser feita no exame ps-parto, atravs de espculo ou palpao. O reparo dever ser feito via vaginal e depender de instrumental de cabo longo. 2.3. VAGINA E PERNEO: guas e vacas so mais acometidas pelo problema e normalmente ocorrem devido a posies incorretas do feto. A posio dorso-pubiana particularmente perigosa para o rompimento do teto da vagina, uma vez que as contraes uterinas empurram os cascos fetais promovendo a ruptura, que pode atingir

  • 30

    inclusive e assoalho retal, caso denominado de fstula reto-vaginal. A continuao do parto com a existncia da fstula resulta no rompimento do perneo, gerando uma lacerao de nus, vagina e perneo (Fig. 48).

    Figura 48: Lacerao de perneo (direita) e com ruptura retal associada (esquerda), formando a fstula reto-vaginal.

    Esta lacerao determina a constante aspirao de ar para o aparelho genital e tambm a contaminao da vagina pelas fezes.

    A correo da lacerao se no for feita imediatamente aps o parto, dever esperar at que o tecido cicatrize por segunda inteno. As tcnicas recomendadas podem ser a de Goetze (Fig. 49) que repara os tecidos de uma s vez ou de MacKinnon & Voss (Fig. 50) que faz a sutura em dois tempos. O importante que se reconstitua o assoalho retal e o teto vaginal sem deixar soluo de continuidade entre as duas vias. Em qualquer das tcnicas o perneo deve ser reparado somente depois da parte interna estar cicatrizada.

    Figura 49: Reparao de ruptura perineal pela tcnica de Goetze.

  • 31

    Figura 50: Reparao de ruptura perineal pela tcnica de MacKinnon & Voss (1992). A realizao das duas partes deve ter um intervalo de 15 dias. 3. EVERSO DE BEXIGA

    A bexiga se exterioriza atravs da uretra ficando com a mucosa exposta pela vagina e vulva. mais comum em guas devido a uretra ser curta e larga nesta espcie. A superfcie mucosa fica aparente e os orifcios ureterais so visveis e gotejam urina (Fig. 51). O tratamento consiste em repor a bexiga na sua posio original e antibioticoterapia. Nos casos recorrentes pode ser necessrio utilizar sutura de conteno. Muitos casos de fstula reto-vaginal com ruptura de perneo podem estar associados com everso da bexiga. 4. HEMATOMA DE VULVA

    Pode ser uni ou bilateral, mais frequente em marrs. Pode ser causado por presso do feto ao passar pelo canal do parto ou pelo traumatismo provocado pela baia da porca ao se debater durante o parto. Os hematomas vulvares no devem ser abertos, pois geralmente contm uma artria sangrando. Se deixados

    Figura 51: Everso da bexiga (bl) em gua com ruptura de perneo.

  • 32

    regredir naturalmente, podem regredir em alguns dias. Se ocorrer ruptura espontnea, a hemorragia pode ser contida por presso e ligao do vaso. 5. PROLAPSO UTERINO

    mais comum na vaca, no entanto pode ocorrer em qualquer espcie. Aps a expulso fetal, enquanto a placenta ainda se encontra em parte aderida, as contraes abdominais persistentes podem empurrar o tero para fora, especialmente quando o rgo est flcido (Fig. 52). Muitos destes casos so acompanhados de hipocalcemia e inrcia uterina. Pastagens estrognicas tambm podem determinar o problema. O prognstico depender do tipo e durao do prolapso, alm das condies do tero.

    Figura 52: Prolapso uterino completo em vaca (esquerda) e ovelha (direita).

    O tratamento consiste na reposio do tero a sua posio normal o que se torna mais fcil quanto mais rpido for o atendimento. A primeira providncia seria evitar que o tero sofra traumatismos, mantenha-se limpo e se possvel altura da vulva. Para fazer a reposio aconselhado colocar o animal com o posterior mais elevado que o anterior de forma a obter auxlio da fora da gravidade. Administrar anestesia epidural para evitar as dores e contraes. O tero deve ser lavado, avaliado quanto a leses e a placenta removida se for possvel. A reduo do edema pode ser obtida com compressa fria ou acar. No usar ocitocina antes de repor o tero para a cavidade abdominal. Uma das complicaes que podem estar associadas ao prolapso a ruptura de vasos do ligamento largo quando este se estica na exteriorizao do tero, provocando hemorragias internas que levam o animal a morte. 6. PROLAPSO DE RETO

    Uma leve everso do reto durante as contraes abdominais comum em todas as espcies e deve retroceder aps a expulso do feto. Na gua mais comum de ocorrer durante o parto um prolapso mais srio que exige cuidados e s possvel de ser reduzido com administrao de anestesia epidural. Nos casos de atendimento retardado, o reto pode se apresentar edematoso e traumatizado, sendo impossvel a reduo e nestes casos ser necessrio fazer a extirpao da parte exteriorizada. Nas guas isto complicado porque a retirada da parte mesentrica do clon resulta no infarto do rgo. 7. LESES DO PLEXO LOMBO-SACRO, PARALISIA DE GLTEO E OBTURADOR

  • 33

    Fraturas da pelve e deslocamento da articulao sacro-ilaca podem ser decorrentes de acidentes durante ou aps o parto, como quedas provocadas por trao forada (Fig. 53).

    O nervo obturador passa pela parte interna da pelve e nos casos de distocias em que o feto ficou dentro da pelve por longo perodo pressionando o nervo. Quando o animal consegue se manter em p, no tem condies de fechar as pernas traseiras (Fig. 54). Quando deitada apresenta uma posio anormal das pernas. O tratamento sintomtico, importante que se tente manter o animal em p, para juntar as pernas pode ser utilizada uma peja frouxa mantendo 20 cm de distncia entre os jarretes, impedindo a abertura descontrolada dos membros. A paralisia do nervo peroneal se deve ao decbito da fmea por tempo excessivo com consequente compresso do nervo. Em geral o animal consegue se levantar, mas no tem capacidade para manter a pata esticada. A articulao do metatarso e falanges est em posio flexionada e o animal pode

    traumatizar a regio por mant-la em contato com o cho (Fig. 54). Menos frequente a leso do nervo citico, do qual o n. peroneal um ramo, e neste caso o animal mantm a pata esticada para trs.

    O tratamento destes casos de traumatismo deve depender do aspecto prtico e

    econmico, pois em grande animais a manuteno do repouso necessrio para a recuperao pode ser muito complicada. 8. HIPOCALCEMIA (FEBRE DO LEITE)

    Figura 53: Ruptura da Snfise pubiana

    Figura 54: Paresia do nervo obturador (pernas abertas) e peroneal (falange flexionada).

    Figura 55: Tratamento de leses plvicas em bovinos.

  • 34

    Entre os problemas de paresia ps-parto, a febre do leite ou hipocalcemia ganha lugar de destaque entre as vacas e cadelas (eclmpsia puerperal). Nas vacas, em geral so animais de boa produo leiteira que apresentam incapacidade de se manter em p nas 48 horas seguintes ao parto. Este problema pode ser associado a atonia uterina. Ocorre hipotermia, pupilas dilatadas, rmen com baixa atividade, deita-se com a cabea -voltada para o flanco (Fig. 56). Concentrao plasmtica de clcio menor do que 1,5 mmol/l indicativo de hipocalcemia. O tratamento consiste em aplicar

    borogluconato de clcio adicionado de magnsio, fsforo e dextrose em injeo intravenosa lenta (400 ml). Dietas pobres em magnsio (< 0,8 mmol/l de plasma) podem diminuir a absoro do clcio. E a deficincia de fsforo (

  • 35

    Em geral a infeco uterina segue um parto distcico, prolapso uterino ou deficincia da involuo uterina. Os contaminantes mais comuns so estreptococus, E. coli, Actynomices pyogenes e ocasionalmente clostrdeos. A baixa resposta imune do tero tambm est envolvida. As vacas e ovelhas so mais frequentemente acometidas. Os animais apresentam febre, anorexia, rumen em atonia, sinais de toxemia, descarga vaginal ftida e avermelhada. Pode haver diarria em consequncia da toxemia e septicemia. A placenta quando presente encontra-se firmemente aderida, o tero apresenta-se grande e pesado, mucosa vaginal inflamada e a cerviz parcialmente aberta. O quadro pode se agravar para o estado comatoso e morte. O tratamento consiste em administrao imediata de antibitico endovenoso (oxytetraciclina, ampicilina, trimetroprim/sulfonamida) e tambm anti-inflamatrio no esteroide. Fluidoterapia para contornar a desidratao, toxemia e uremia. A terapia intrauterina deve ser evitada. Em porcas a metrite geralmente associada a mastite e agalaxia (MMA). 11. LAMINITE PUERPERAL

    Trata-se de uma complicao da metrite, mais frequente em guas, porm pode acontecer em outras espcies unguladas. Dois a quatro dias aps o parto, o animal apresenta postura tpica, com os membros posteriores colocados mais a frente possvel para a aliviar o peso sobre os membros anteriores que so mais gravemente afetados. uma afeco dolorosa que causa inapetncia e rpida perda de peso. A fmea passa muito tempo deitada e o potro pode ser privado de mamar. A preveno se baseia tambm em prevenir a reteno de placenta e/ou a metrite, tambm promover o tratamento rpido e adequado para estas afeces, como remoo da placenta (sem trao forada), antibitico, lavagem uterina com sifonagem, ocitocina tambm indicada. 12. AGALAXIA / MASTITE

    Em porcas a sndrome MMA (metrite, mastite e agalaxia) bastante comum. As porcas apresentam-se fracas, sem andar, com manchas rochas na pele relacionadas com septicemia. A agalaxia torna-se evidente aps 12 a 36 horas do parto e as porcas se deitam sobre as mamas para impedir que os leites mamem, devido a dor. A metrite caracteriza-se por descarga vaginal ftida e algumas vezes existem restos de placenta ou feto morto no tero. Os microrganismos mais frequentes so estreptococos, estafilococos, Klebsiella e micoplasma, alm de E.col. Os leites tendem a morrer pela falta do leite, a menos que se obtenha a amamentao artificial ou uma porca que os adote. O tratamento consiste em rpida aplicao de antibitico parenteral e anti-inflamatrio no esteroide. Fluidoterapia intravenosa.