o uso da autobiografia para a construÇÃo da...
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE ARTES
MYKAELLE DIAS SILVA
O USO DA AUTOBIOGRAFIA PARA A CONSTRUÇÃO DA
PERSONAGEM NO ESPETÁCULO 3X4
Brasília
2015
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MYKAELLE DIAS SILVA
O USO DA AUTOBIOGRAFIA PARA A CONSTRUÇÃO DA
PERSONAGEM NO ESPETÁCULO 3X4
Trabalho de conclusão do curso de Artes Cênicas, habilitação em Bacharelado - Interpretação Teatral, do Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes da Universidade de Brasília.
Orientador(a): Prof(a) Dr (a) Simone Reis
Brasília
2015
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Elielda Dias e José Nicolau, que me apoiaram quando eu decidi sair
do interior do estado de Mato Grosso para fazer teatro em Brasília. Este espaço é
muito pequeno para agradecer tudo de maravilhoso que fizeram por mim.
Ao meu namorado Bruno Bloch, pela paciência e amor.
A todos os professores do departamento de Artes Cênicas da Universidade de
Brasília, com quem tive o privilégio de ter aula, mas especialmente Fernando Villar,
Cyntia Carla, Fabiana Marroni e Giselle Rodrigues, pelo incentivo e inspiração.
E a todos que de alguma forma ajudaram na criação e realização do espetáculo 3x4.
3
“É verdade que o autor, se quiser, pode nos contar
alguma coisa de si e de sua vida que não está no
romance; e é algo que devemos incentivar. Pois não
existe nada mais fascinante do que se enxergar a verdade
por trás daquelas imensas fachadas de ficção – isso se a
vida for de fato verdadeira e se a ficção for de fato
fictícia. E provavelmente a ligação entre ambas é de
extrema complexidade”.
Virgínia Woolf
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SUMÁRIO
Lista de figuras...........................................................................................................5
Introdução...................................................................................................................6
1 - PONTO DE PARTIDA.............................................................................................7
1.1 - Texto autoral e o processo colaborativo..............................................................8
1.1.1 - A caixa de frustrações: primeiro improviso.........................................................9
1.2 - O parto ou a Composição das personagens......................................................10
1.3 - A escolha de cenas............................................................................................11
1.4 – Irradiação ou inquietação?.................................................................................................13
2 – AUTOBIOGRAFIA NO TEATRO.........................................................................15
2.1 – Vivências autobiográficas..................................................................................17
3 – ESTUDO DE CASO: VIRGÍNIA MESQUITA DE FREITAS................................18
3. 1 - E João, é um homem ou um brinquedo?..........................................................19
3.2 - Ou Eu ou Virgínia: Realidade x ficção...............................................................20
3.3 – Cena Terapia dos selfs...................................................................................22
3.4 – Cena Enterro – Eu não quero ser uma defunta feia!.........................................23
3.5 – Considerações a Virgínia..................................................................................25
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................27
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. Foto do espetáculo 3x4 (2015); Mykaelle Dias interpretando
Virgínia....................................................................................................................................20
FIGURA 2. Foto do espetáculo 3X4 (2015) Mykaelle Dias cena Término do
João........................................................................................................................................23
FIGURA 3. Foto do espetáculo 3X4 (2015) cena Terapia dos selfs
................................................................................................................................................26
FIGURA 4. Foto do espetáculo 3x4 (2015) Cena
Enterro....................................................................................................................................27
FIGURA 5. Foto do espetáculo 3x4 (2015) Cena Virgínia fala com sua
mãe.........................................................................................................................................29
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Introdução
Este trabalho de graduação relata o processo de criação cênica por meio do uso de
elementos autobiográficos no espetáculo 3x4, o qual foi o resultado de conclusão do
curso de bacharelado em interpretação teatral da Universidade de Brasília. O foco
deste trabalho é relatar como o uso da autobiografia auxiliou na criação da
personagem Virgínia.
No primeiro capítulo contextualizo as primeiras conversas e experimentações
sobre os temas de interesse do grupo. Descrevendo alguns exercícios e decisões
importantes no início do processo de criação.
No segundo capítulo, discorrerei sobre as duas experiências percussoras da
minha pesquisa em torno do uso da autobiografia para a criação de personagens,
onde tive meu primeiro contato com a performance e a primeira experiência como
diretora, sendo que essas duas experiências tiveram grande influência sobre a
minha criação dentro do espetáculo 3x4.
No terceiro capítulo, falarei especificamente sobre Virgínia, e quais as formas
que utilizei o material pessoal para construí-la, descrevendo e comentando quais as
vivências que serviram de inspiração para essa criação.
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1. Ponto de partida.
O processo de criação do espetáculo 3x4 se iniciou no primeiro semestre de
2014 na disciplina de Metodologia de Pesquisa em Artes Cênicas, ministrada pela
professora Nitza Tenenblat. A princípio o grupo discutiu sobre textos e temas que
eram de interesse para a nossa montagem, e, inicialmente, percebi que a maioria
dos alunos que integravam o grupo, demonstravam o desejo de abordar a atualidade
em que vivemos, onde tudo é muito rápido e tempo é dinheiro1. A partir dessa
primeira latência, foram pesquisados outros temas que se compreendiam nessa
atualidade, como a necessidade de consumo, classes sociais, corrupção, meninos
de rua, angústia, depressão, ser contemporâneo e finalmente, a prostituição,
assunto que mais foi bem recebido pela maioria.
PAUSA PARA UMA IDA A CARTOMANTE
Mykaelle desesperada visita uma cartomante do bloco Q da quadra onde mora, e
conta seu drama:
“Sinceramente, eu tenho pavor do tema prostituição e não consigo entender qual a
finalidade de falar disso. Penso que há coisas muito mais urgentes a serem ditas.”
Palavras da cartomante:
Dona Beneditina:
- Como você não acha interessante falar da profissão mais antiga do mundo?
No entanto, uma minoria do grupo não se interessou por este tema e persistiu
na abordagem do “ser contemporâneo” e, por ser um tema bastante amplo, decidiu-
se criar um elo entre esses dois temas, optando por tratar a prostituição em duas
instâncias: como venda do corpo e como venda de si em função de status, imagem,
1 Sobre a expressão “tempo é dinheiro”, o físico Benjamin Franklin (1706-1790) teria chegado a ela depois de
ler obras do filósofo grego Teofrasto (372-288 a.C). O pensador grego, a quem é atribuída a autoria de cerca de 200 trabalhos em 500 volumes, teria mencionado a frase: tempo custa muito caro. Isso porque ele escrevia, em média, um livro a cada dois meses.
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consumo, carência e vícios. Tendo a prostituição como nosso tema central, a
professora Nitza Tenenblat nos questionou sobre o que queríamos que o público
entendesse do espetáculo que iria ser criado pelo grupo. Retomando minhas
anotações, encontrei respostas variadas dos integrantes de mostrar não só os
traumas e abusos que a vida noturna causa nas prostitutas e travestis, mas,
também, revelar outras circunstâncias ou profissões que o ser humano se vende,
seja por status, carência, vícios. Nesse sentido, a resposta final decidida pelo grupo
foi que gostaríamos que o público também se perguntasse: “Eu já me prostituí?”.
Partimos para a separação dessas duas esferas; enquanto as prostitutas e travestis
representariam a venda do corpo, o segundo grupo falaria sobre outras formas de
venda de si.
1.1 – Texto autoral e o processo colaborativo
Apesar de alguns textos teatrais terem sido levantados pelo grupo, o desejo
de se criar uma dramaturgia coletiva ainda era muito presente. Para contemplar o
desejo individual de cada um, optamos por construir um texto autoral. Nesse sentido,
o grupo assumiu a perspectiva do processo colaborativo onde, Segundo Adélia
Nicolete:
O texto dramatúrgico é elaborado ou reelaborado (caso se tome alguma obra como base) pela equipe; a configuração cênica é fruto da experimentação e da discussão feitas por todos os envolvidos; o encaminhamento das situações e personagens surge dos atores, mas pode conter contribuições dos outros artífices, ou seja, a cena, como a vida, “é mutirão de todos, por todos remexida e temperada”. (NICOLETE, 2005, p.11)
Chegamos a definir um grupo de dramaturgia, porém, esse grupo assumiu
mais uma função de organizar os materiais coletados do que escrever uma
dramaturgia, sendo assim, todos os integrantes estariam responsáveis pela criação
do texto e outras partes da encenação, como figurino, cenário, trilha sonora. Tendo
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optado pelo processo colaborativo, partimos para nossos primeiros improvisos com a
finalidade de começar a pensar conexões possíveis entre essas duas instâncias de
prostituição.
O primeiro improviso do grupo foi a “vitrine”. Esse primeiro improviso já nos
indicou a preferência e afinidade de alguns por fazerem prostitutas e outros de se
aprofundarem mais em seus temas de interesse individual. Este improviso seria
nossa base de construção para o próximo semestre de trabalho, no qual teríamos o
auxílio dos professores Dr Fernando Villar e a Mestre Giselle Rodrigues para a
concepção do espetáculo.
1.1.1 - A caixa de frustrações: meu primeiro improviso
Ainda na disciplina Metodologia de Pesquisa em Artes Cênicas, resolvi iniciar
as experimentações e improvisos com um olhar sobre mim e o outro, apresentando
uma performance que chamo de “Caixa de frustrações”. Eu me coloquei dentro de
uma caixa de papelão com um cartaz escrito: “Deposite aqui suas frustrações”, ao
lado posicionei um bloco de notas para que as pessoas pudessem escrever e
depositar dentro da caixa os seus depoimentos.
O meu objetivo com esse primeiro improviso, era simplesmente suscitar
reflexões sobre nós mesmos e incentivar meus colegas a trazerem materiais
pessoais para nosso processo, já que eu pretendia utilizar esse material
autobiográfico em meu auxilio durante a criação, principalmente como uma maneira
de incentivar o imaginário.
Em relação à imaginação Ariane Mnouchkine afirma que “é preciso dar
músculos a imaginação do ator, sendo que esse músculo deve ser exercitado,
fortalecido, trabalhado; é como uma panturrilha” (MNOUCHKINE, 2010, apud
FÉRAL, 2010, p. 77). Sendo uma criação autoral e colaborativa, onde tínhamos a
liberdade de toda a narrativa e também de criar os personagens, era de suma
importância o desenvolvimento e trabalho com a imaginação. Um dos exercícios
propostos pela professora Giselle Rodrigues foi o diálogo com um ser imaginário que
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utilizou a imaginação como uma forma de impulsionar a criação de novos materiais
sobre as personagens. O exercício consistia em imaginar um ser e ter um diálogo
com ele, dessa forma surgiu a mãe de Virgínia. A maneira como busquei dialogar
com essa mãe foi por meio de situações e conversas reais com a minha própria
mãe.
1.2 – O parto ou a Composição das personagens
Por termos escolhido criar as personagens, cada aluno buscou a sua própria
maneira. Após finalizar esse momento de pesquisa teórica e de primeiros improvisos
em torno do tema escolhido, iniciamos no segundo semestre de 2014. Durante o
processo de composição das personagens utilizamos exercícios como a escrita
automática2, e movimentos advindos da bacia que auxiliavam a descobrir
características físicas das personagens. Estes exercícios foram ministrados pelos
professores que orientavam este processo, mas a criação de cada personagem foi
realizada de forma muito particular por cada aluno, tendo como inspirações diversas
fontes como cinema, depoimentos reais de garotas de programa, pesquisas de
campo feito com prostitutas e travestis e também materiais autobiográficos.
É importante pontuar que nesse primeiro momento de experimentações, já
pude perceber o quanto a carga pessoal estava atrelada aos personagens que
estavam sendo criados, principalmente no grupo dos selfs, o qual eu participei, pois
não era raro escutar de alguns colegas: “meu personagem tem muito do meu irmão”,
“minha personagem tem gestos e características de quando tive síndrome do
pânico”, “meu personagem é o reflexo de mim mesmo”.
A partir de suas próprias inquietações pessoais, cada aluno começou a
pensar na linha do seu personagem, no intuito de aprofundar os temas de interesse
que cada um gostaria de abordar no discurso. Como não havia um texto pré-
definido, iniciou-se a tentativa de criação de uma dramaturgia linear, onde cada
personagem teria uma história com início meio e fim.
2 Exercício de escrita livre, onde se anota tudo o que vier a mente.
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Dois exercícios complementares que tiveram grande influência dentro dos
primeiros momentos de minha pesquisa de personagem foram a “Linha da vida” e
“Exercício de construção da dramaturgia a partir de personagens”
“Linha da vida” foi um exercício proposto pelo professor Fernando Villar e
consistia em contar a vida da personagem desde o ventre até a idade atual. Este
exercício proporcionou a liberdade de imaginarmos e criar as histórias da vida
destes personagens que ainda estávamos descobrindo. A partir desse exercício,
pude organizar melhor as minhas primeiras impressões de minha personagem.
“Exercício de construção da dramaturgia a partir de personagens” foi proposto
pela professora Nitza Tenenblat, consistia em responder minuciosamente questões
como: nome, idade, local de nascimento, profissão, cinco fatos que apenas ela sabe
sobre si mesma, uma ação/atividade/gesto que revela quem sou, e por último uma
questão sobre o que era primordial revelar ao público via esta personagem. A partir
das respostas de cada um partimos para uma segunda etapa, onde criaríamos
diversas situações uns para os outros. Por meio desse exercício, surgiu a cena do
enterro3.
1.3 - Escolha de cenas
Sobre a escolha de cenas que permanecem no roteiro final da peça do grupo
“Teatro da Vertigem”, Antônio Araújo comenta que “Grande parte das vezes o
critério definidor das escolhas encontra-se na coerência interna do todo, no ajuste
entre as partes rumo à produção de sentido(s) e no equilíbrio estrutural ou
composicional” (ARAÚJO, 2011, p. 128)
Dentro do nosso processo de criação mantivemos a liberdade criativa onde
todos podiam criar cenas e mostrar para o grupo. Esses materiais podiam ser
3 Esta cena será mais aprofundada no terceiro capítulo
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elaborados individualmente ou em grupos, podendo servir de inspiração para outras
cenas ou se desenvolvendo e permanecendo até o roteiro final.
As primeiras tentativas de união linear entre as cenas foram problemáticas,
pois as cenas que criávamos, individualmente ou em pequenos grupos, nos
causavam uma sensação de fragmentos soltos e não de uma unidade cronológica,
como era, a principio, o nosso objetivo. Esta situação foi reflexo das dúvidas não
esclarecidas a cerca do tema e das conexões frágeis entre os dois grupos
(prostitutas e selfs). A respeito desses empecilhos na criação coletiva, Antônio
Araújo diz:
Se, enquanto projeto utópico, a criação coletiva é
inspiradora e arrojada, sua prática revela uma série de contradições.
Talvez a mais acentuada tenha sido a de que nem todos os
participantes possuíam habilidades, interesse ou desejo de assumir
vários papéis no âmbito da criação. Essa polivalência de funções
acabava ocorrendo apenas no plano do discurso – teoricamente
ousado e estimulador – mas pouco concretizado na prática. Assim,
determinados indivíduos dentro do grupo assumiam, veladamente ou
com pouca consciência do fato, as áreas de criação que se sentiam
mais à vontade, fosse por alguma habilidade específica, fosse pelo
prazer advindo daí. (ARAÚJO, 2011, p.132)
Quando o grupo percebeu que não tínhamos uma unidade e poucas relações
estabelecidas, foi proposto pela professora Giselle Rodrigues que fizéssemos um
roteiro com todos os materiais que havíamos produzido. Buscando o equilíbrio
estrutural que Antônio Araújo comenta acima.
Mas por ser uma disciplina de conclusão de curso em que todos os alunos
precisavam ser vistos e avaliados por sua interpretação, era importante que todos
tivessem o que chamávamos de “a sua cena”. Nesse sentido, buscávamos sempre
contemplar a todos. Este então foi o critério para a escolha das cenas.
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1.4 – Irradiação ou inquietação?
Uma das coisas que a professora Giselle Rodrigues repetiu diversas vezes
durante o processo e que teve grande influência durante todo esse percurso de
criação, foi que deveríamos manter o corpo sempre irradiando independentemente
se fossemos os protagonistas da cena ou não, assim nos mantínhamos atentos e
com o corpo ativo enquanto estivéssemos em cena. Sobre a irradiação, Michael
Chekhov diz:
Irradiar no palco significa dar, transmitir a outrem. Sua contraparte é receber. A verdadeira atuação é um constante intercâmbio de ambas as coisas. Não existem momentos no palco em que um ator possa permitir a si mesmo - ou melhor, permitir a sua personagem – manter-se passivo nesse sentido sem correr o risco de enfraquecer a atenção do público e de criar a sensação de um vácuo psicológico. Sabemos como e por que o ator irradia, mas o que deve ele (a personagem) receber, quando e como? Ele pode receber a presença de seus parceiros em cena, as ações e as palavras destes, ou apenas receber seu ambiente circundante, especificamente ou em geral, de acordo com o que seja requerido pela peça. Também pode receber a atmosfera em que se encontra ou receber coisas ou eventos. Em suma, recebe tudo o que gere uma impressão nele como personagem, conforme o significado do momento. (Chekhov, 2003, p. 22-23)
Dentro dessa perspectiva de irradiação, essa troca constante entre mim,
outros atores, e a atmosfera onde estamos inseridos, era fundamental estarmos
irradiando para que houvesse uma concentração mútua, desenvolvendo e
contribuindo para uma maior troca, agilidade e precisão entre os atores.
Um dos desafios que enfrentei foi justamente manter a qualidade física de
irradiação em todos os momentos de ensaios e apresentações, tendo em vista que a
minha personagem tinha momentos de muitos silêncios e gestos lentos e pequenos.
A professora Giselle Rodrigues sempre me questionava sobre como eu poderia
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irradiar estando simplesmente parada. E para isso, eu comecei a deixar as dúvidas
de lado, e finalmente pus em prática o que ouvi durante toda a graduação em Artes
Cênicas: “Não pense ou se julgue, faça”.
Essas dúvidas que surgiam nos momentos de ensaio, afirmaram ainda mais o
meu desejo de trabalhar com o uso da autobiografia. Como eu poderia irradiar com
tantos questionamentos sobre o que estávamos criando? Busquei utilizar uma frase
que escutei diversas vezes durante esse percurso “use isso a seu favor”. Então,
essas dúvidas me impulsionaram a expressar o que eu estava vivenciando e a
utilizar o que eu estava sentindo como material para cena. Muitos dos meus
pensamentos se tornaram frases da personagem. Foi neste momento que a
autobiografia realmente começou a fazer parte da construção da personagem
Virgínia.
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2 – AUTOBIOGRAFIA NO TEATRO
Na cena teatral contemporânea há uma forte presença do uso da
autobiografia, como, por exemplo, nos espetáculos: Festa de separação –
documentário cênico, que se trata do rompimento real entre a atriz Janaína Leite e
seu namorado Felipe Teixeira, em que cartas, vídeos e depoimentos de amigos
fazem parte da encenação e onde o público também compartilha suas experiências
reais.
Nos espetáculos da Cia Hiato de São Paulo há diversos trabalhos com
depoimentos pessoais dos atores-criadores e com pessoas reais de sua família. Um
dos nomes mais fortes quando se trata do uso da autobiografia no teatro é do artista
Spalding Gray4, que em seu percurso artístico teve obras permeadas pelo
depoimento pessoal e recriações a partir dessas experiências. Sobre as obras de
Spalding Gray, Patricila Leonardelli comenta “Gray experimentou as possibilidades
expressivas que a construção e combinação de diferentes personas e personagens
representando vozes distintas no desenvolver da ação podem revelar”
(LEONARDELLI, 2008, p. 219-220).
Essa forma de recriação das histórias pessoais que Spaldyn Gray utiliza, foi
uma forte inspiração para mim durante todo o processo de criação de Virgínia, pois o
meu interesse era justamente recriar e diluir o meu eu em outro eu-ficcional,
transformando o que era meu em algo coletivo. A intenção é que os depoimentos
pessoais não se refiram apenas ao ator, mas algo que o público possa se identificar
ou relacionar com sua realidade. Conforme Marcia Abujamra:
Não se trata mais de um personagem a ser interpretado por um ator, mas de um ator jogando com diferentes personagens a partir dele mesmo. Não mais a história (supostamente) conhecida e verdadeira a ser apresentada ao espectador, mas sim a história do tempo presente do performer em relação consigo mesmo, com suas criações e com seu público. (ABUJAMARA, 2013, p. 83)
4 Spaldyn Grey: escritor e ator americano que usou a autobiografia como elemento de criação.
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Em seu dicionário de teatro, Patrice Pavis relata três formas de autobiografia
cênica. Sobre a terceira forma, que seria o jogo com a identidade, Patrice Pavis
afirma que seria “a forma mais rica, principalmente nos Estados Unidos com
Spalding gray [...] A tentativa de diversos eus ficionais leva a pôr novamente em
questão a alternativa absoluta entre eu autêntico e eu representado “ (PAVIS, 2011,
p. 376)
Como comentado acima a “tentativa de diversos eus ficcionais” foi uma
maneira de criar e interpretar Virgínia, sendo Virgínia uma variedade de eus.
O grupo “Teatro da Vertigem” é outra forte referência acerca do uso de
depoimentos pessoais e nas diversas maneiras de trabalhar esses materiais. Em
seu artigo “Performance e teatro: poéticas e políticas da cena contemporânea”
Eleonora Fabião cita a importância que os artistas do “Teatro da Vertigem” dão ao
depoimento pessoal:
No artigo “O Que Fazemos na Sala de Ensaio”5 esses artistas destacam a importância do que chamam “depoimento pessoal”: “depoimento pessoal é sua colocação como ser humano, como cidadão e artista. […] É deixar que sua experiência vire arte, seja manipulada”, esclarece Mariana Lima. Como dizem, não estão interessados em “camuflar características,mas ampliá-las”. (FABIÃO, 2008, p.8)
Nesse sentido, o depoimento pessoal é visto não apenas como material
cênico mas também como autoconhecimento para o ator e uma forma de expressar
sua opinião a cerca do tema pesquisado ou sobre a época em que se vive.
5 “O Que Fazemos na Sala de Ensaio”. In: Trilogia Bíblica (São Paulo: Publifolha, 2002, p. 45)
17
2.1 – Vivências autobiográficas
Em 2012 tive meu primeiro contato com a performance por meio da disciplina
Interpretação IV, ministrada pelo professor Fernando Villar. O primeiro exercício
proposto por ele foi criar uma performance sobre nosso nome. Imediatamente senti
um grande bloqueio, pois a primeira coisa que me veio à mente foi que nunca tive
muita simpatia pelo meu nome e que talvez esse detalhe não fosse tão interessante
a ponto de eu compartilhar com meus colegas de classe ou com algum público.
Todavia, essa dificuldade foi justamente o ponto de partida para a criação da
performance, decidi falar sobre o bloqueio com meu próprio nome e várias foram as
pessoas que se identificaram. Esse detalhe me impulsionou a também querer falar
sobre mim, pois muitas vezes quando nos preparamos para uma personagem
tentamos nos esquecer e dar espaço a outra pessoa.
Outro momento que pude colocar em prática essa pesquisa foi durante a
disciplina Direção I onde eu entregava em forma de texto meus depoimentos
pessoais para que de forma livre os atores criassem. Era incrível como essas
vivências pessoais adquiriram tanta ressignificação durante o processo de
transformar esses textos em cenas. De forma que os atores também adquiriam
confiança para se expor e também compartilhar seus depoimentos pessoais.
Antônio Araújo afirma que o depoimento pessoal “vai estimular no ator um
estado de abertura e desprendimento, provocando o que poderíamos chamar de
desvelamento” (ARAÚJO, 2011, p. 110). Esse desvelamento, ou seja, essa abertura
que o ator vai adquirindo com o exercício de expor suas experiências vai abrindo
caminhos para uma maior entrega e confiança entre o grupo.
Sobre as várias facetas que o ator pode assumir em seu trabalho performativo
Patrícia Leonardelli comenta que é possível:
Criar vidas que não existem, construir existências paralelas, depoimentos pessoais fantásticos organizados e dispostos na forma de uma personagem tradicional, ou destroçar o ego e esquizofrenicamente reparti-lo em diversas personas com
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depoimentos distintos, pelos quais fala, por trás e junto, o artista-criador (LEONARDELLI, 2008, p. 6)
3- ESTUDO DE CASO: VIRGÍNIA MESQUITA DE FREITAS
Nome completo: Virgínia Mesquita de Freitas
Idade: 28 anos
Data de nascimento: 08/09/1986
Profissão: funcionária pública
Signo solar: Virgem, ascendente em capricórnio, lua em touro.
Número cabalístico: 14
Cor: magenta
Diagnóstico: Diagnosticada com distúrbio hipocondríaco maternal compulsivo, com
agravante de carência afetiva oblíqua6
A primeira característica que surgiu para a personagem foi à hipocondria. Isto
se deu a partir de um exercício que a professora Giselle Rodrigues nos propôs, onde
deveríamos criar uma cena sobre como havia sido nossa primeira semana de aula.
A proposição já me remetia a algo muito pessoal, então resolvi mostrar como havia
sido de fato aquela semana, uma semana permeada de remédios. Eu estava
doente.
Olhei para os remédios e comecei a pensar em como eu poderia transforma-
los em material cênico. Criei uma cena que consistia em colocar remédios em uma
caixa de comprimidos semanais e fazer diversos movimentos repetitivos de vício e
sintomas após o uso de medicamentos antidepressivos.
Este estímulo naturalmente conduziu meu corpo por diversos lugares. Passei
por todas as fases que eu realmente passava após tomar os remédios. A partir
desses primeiros movimentos a professora Giselle Rodrigues pediu para que eu os
explorasse para compor o corpo da personagem. Durante a experimentação foi
6 Dados da personagem feito com a colaboração da aluna Lorena Aloli.
19
inevitável não perceber a relação entre o que surgiu em cena e a hipocondria de
minha mãe. “A experiência que o narrador compartilha é sua própria experiência, a
experiência viva de seu tempo e de seus habitantes” (ABUJAMRA, 2002, p.75). Os
remédios tinham relação direta comigo, minha mãe hipocondríaca e o elevado
consumo de remédios antidepressivos, não só por ela, mas por inúmeras pessoas
ao meu redor. Segundo Renato Cohen, “o performer vai representar partes de si
mesmo e de sua visão de mundo” (COHEN, 2002, p. 106). Todos os trejeitos que fui
dando a Virgínia foram inspirados em minha mãe e em pessoas que são viciadas em
medicamentos.
3. 1 - E João, é um homem ou um brinquedo?
Foto 2. Virgínia e João (Foto de Murilo Abreu)
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Para suprir sua carência afetiva, Virgínia carregava consigo seu namorado
João. Era apenas um massageador de cabeça mas para ela era seu companheiro
portátil, que sempre a escutava.
Essa proposição surgiu intuitivamente após a constatação de que a carência
era um assunto muito recorrente em nossas experimentações. Então me questionei
sobre a carência: As pessoas buscam pelo seu grande amor. Virgínia disse a
Catarina em uma de suas sessões: - Eu estou tão bem, estou ótima. Arrumei um
namorado, o João. Ele e tão flexível, só ele consegue tocar certos pontos.
Ao passo em que Virginia dizia isso a sua terapeuta, a terapeuta que
frequento atualmente me confessava que tinha tudo. Ela tinha uma carreira,
apartamento, dinheiro e com isso se sentia bem resolvida. Mas confessava também
que queria ter alguém para quem ela pudesse se enfeitar. Nesse momento me
questionei sobre as fragilidades humanas, eu estava ali procurando ajuda e nem a
própria terapeuta pode se conter. Foi neste momento que Virginia decidiu perguntar
a Catarina, na última cena: - E você, como você se sente?
3.2 - Ou Eu ou Virgínia: Realidade x ficção
Será que eu estou racionalizando demais?
Quais teóricos falam para eu não racionalizar?
Devo ser a Mykaelle sendo a Virgínia ou devo ser eu mesma sendo ninguém?
Quem sou eu? Quem é Virgínia?
E se eu fosse a Virgínia eu seria eu mesma? E se eu fosse eu, eu seria a outra?
Posso ser a mulher olhando frangos no supermercado.
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Segundo Stanislavski, Um ator deve ser observador não só quando está em
cena, mas também na vida real. Deve concentrar-se, com todo o seu ser, em tudo o
que chame sua atenção (1997: 144). E foi a observação que também me inspirou
durante a criação da personagem Virgínia, pois eu observava desde a forma como
um pai gritava com a filha no restaurante até a maneira como a atendente do
supermercado se queixava, então, eu anotava algumas ações que eu achava
interessantes e depois experimentava no meu corpo. A forma como um pai gritava
com a filha no restaurante me inspirou a mostrar a mãe de Virgínia gritando com ela,
tentando ao máximo seguir o que eu havia observado.
Nesse sentido, percebo uma identificação com a Mímesis corpórea, um modo
particular do grupo LUME onde “é possibilitado ao ator a busca de uma organicidade
e de uma vida a partir de ações coletadas externamente, através da imitação de
ações físicas e vocais de pessoas encontradas no cotidiano”. (FERRACINI, p. 19)
Essas ações coletadas externamente e a observação atenta do mundo a
minha volta me deram múltiplas inspirações durante essa criação. Após essas
observações, havia uma experimentação física desses corpos, trejeitos, vozes,
imagens de fora para o meu próprio corpo.
3.4 – Cena: A terapia dos selfs
F
22
Foto 3. A terapia dos selfs (Foto de Murilo Abreu)
O que vocês não confessariam pra ninguém, nem pra vocês mesmos? Essa é
a pergunta lançada a todos os selfs durante uma sessão de hipnose com a
psicoterapeuta Catarina, primeira cena onde aparece Virgínia. Para responder a
essa pergunta, busquei como inspiração as experiências que tive com a minha
própria mãe, sua hipocondria e sua sugestão de que eu sempre deveria tomar algum
remédio para prevenir doenças ou alguma tristeza que por ventura surgisse.
Outro ponto, era sobre uma irmã que tive e que nasceu morta, chamada
Mariana. Como Virgínia eu contava que quando minha mãe estava bêbada ela me
chamava de Mariana. Minha mãe realmente era hipocondríaca e tinha alguns
problemas com o álcool, porém nunca me chamou de Mariana quando estava
bêbada. Sendo assim, houve uma mistura de real com ficcional, havendo uma
manipulação de minhas próprias histórias. Segundo Leonardo Ramos de Toledo, “A
inclusão de elementos ficcionais em uma autobiografia também poderia aparecer
como recurso para que o autor consiga distanciar-se de si” (2008, p. 70). Assim, é
possível criar novas possibilidades para as minhas próprias histórias. A respeito
dessa liberdade autobiográfica Peter Gay afirma:
Seguramente não tem importância se uma autobiografia publicada reproduz uma experiência passada ou se inventa, nega ou adorna os fatos. Muitas vezes não há como verificar os relatos autobiográficos; seus narradores são com frequência as únicas testemunhas do que contam. No entanto, mesmo quando a evidência interna ou os depoimentos contemporâneos identificam discrepâncias, essas inconsistências são mais instrutivas do que as confissões impassíveis. As fantasias também são realidades que devem ser interpretadas, e o mesmo se pode dizer dos silêncios, esses testemunhos mudos, mas expressivos, por vezes mais significativos do que as afirmativas mais veementes. Basta ler esses testemunhos na sua intimidade, cética, mas não cinicamente. (apud TOLEDO, 2008, p.30)
Em relação ao uso da autobiografia no teatro percebo que há uma liberdade
na forma e na maneira de experimentar e desenvolver esse material autoral. Os
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depoimentos pessoais geralmente contam o cotidiano e experiências dos artistas, o
que possibilita que o público também se identifique.
3.5 – Cena Enterro: Eu não quero ser uma defunta feia!
Foto 4. Enterro de Virgínia (Foto de Murilo Abreu)
A ideia dessa cena veio por uma proposição de Yasmin Barroso, atriz e
integrante deste processo, após realizarmos o exercício de criação colaborativa,
descrito no primeiro capitulo.O que é felicidade? Como eu imagino meu enterro? E o
carro-chefe para a criação dessa cena, foram esses questionamentos pessoais. Após
esses primeiros questionamentos que a palavra enterro me suscitou, propus para a
turma que todos estivessem presente no enterro de Virgínia, onde surgiriam figuras.
Essas figuras, dentro do nosso contexto criativo, não seriam as personagens fixas de
cada aluno, mas outra persona. Essa proposição de que todos pudessem estar
presentes foi uma forma de materializar e teatralizar todas as dúvidas e inseguranças
que eu tive durante todo o processo e na vida.
Essas figuras seriam as vozes que ficavam no meu ouvido julgando todos
os meus movimentos em cena. E se tratando de uma cena, onde Virgínia contaria
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para a psicoterapeuta sobre o sonho que teve com seu próprio enterro, também
propus um texto onde o contexto de Virgínia também estivesse inserido, essas
personas em seu enterro seriam colegas de seu trabalho ou de outros lugares do
seu dia-a-dia, mas também seriam seus medos mais íntimos. Mas no final da cena,
Virgínia foge e diz não se importar mais com essas pessoas, pois ela descobriu que
sempre foi muito feliz. E essa foi uma atitude que tomei perante a vida. Nesse
sentido, a atitude que tive em cena como Virgínia trouxe uma resolução para a
minha própria vida.
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CONSIDERAÇÕES À VIRGÍNIA
Virgínia é uma revelação, o Eu em sonho. Eu sou eu quando sonho. Na cena, eu sou
eu em sonho. Mykaelle acredita ser Virginia. Mas Mykaelle está ali com a sua mãe
hipocondríaca. Um si mesmo teatralizado e caricato. Eu sou eu, assim sendo outra. Eu sou
a outra e assim sou eu mesma sendo louca. A minha preferida é uma ferida chamada
Virginia. Quem tem medo de Virginia? Eu não. Eu manipulei o material pessoal ou copiei a
mim mesma? Prefiro ficar confusa para não sorrir ou sorrir com um sorriso amarelo de
Virgínia.
Foto 5. Virgínia fala com sua mãe (Foto de Murilo Abreu)
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A participação dentro desse processo de criação me enriqueceu em diversos
âmbitos. Tendo em vista nossa inexperiência com a dramaturgia autoral me sinto
feliz por ver concretizada uma ideia e por termos persistido até o fim em nossos
desejos. Essa atitude me ensinou a não desistir nos primeiros empecilhos, é preciso
acreditar e persistir quando verdadeiramente se quer algo.
Aproveito também para falar sobre como é árduo e pouco valorizado o trabalho
de todas as pessoas que se dedicam ao teatro, mas que é extremamente
gratificante fazer parte de um coletivo, percebendo o crescimento e aprendizados
que vão acontecendo na vida de todos os envolvidos.
O trabalho que pude realizar dentro desse processo, com o uso da
autobiografia, me suscitou a pesquisar cada vez mais essa forma de trabalhar os
materiais advindos da esfera pessoal e tendo consciência de que são muito amplas
as maneiras que diversos grupos se utilizam desse artifício. Não se deve esquecer
de si.
O teatro me conduziu por caminhos muito fortes de autoconhecimento,
contribuindo com lições sobre disciplina e me encorajando a não ter medo, me
dizendo que se é que existem erros, eles são possibilidades.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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