o texto de genética do livro didático de ciências: uma análise retórica

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  • 8/14/2019 O texto de gentica do livro didtico de cincias: uma anlise retrica

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    Investigaes em Ensino de Cincias V10(2), pp. 255-278, 2005

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    O TEXTO DE GENTICA NO LIVRO DIDTICO DE CINCIAS: UMA ANLISERETRICA CRTICA

    Tatiana Galieta Nascimento1Isabel Martins 2

    Programa de Ps-graduao Tecnologia Educacional nas Cincias da SadeNcleo de Tecnologia Educacional para a SadeUniversidade Federal do Rio de Janeiro

    Resumo

    Neste artigo, discutimos o texto de gentica do livro didtico de cincia a partir de umquadro terico-metodolgico da anlise retrica crtica que privilegia aspectos de interaoentre o texto e seu contexto na construo de sentidos pelos sujeitos. Para tanto, utilizamoscategorias de anlise exigncias, autoria, audincia e ausncias que exploram as relaesconceituais entre leitores e autores e, entre estes e o conhecimento cientfico e seu ensino na

    escola. A partir de nossos resultados sugerimos reflexes que fundamentem o trabalho doprofessor com o livro didtico em sala de aula.Palavras-chave : livro didtico, anlise retrica, discurso, educao em cincias.

    Abstract

    This paper investigates the Genetics text in Brazilian school science textbooks from acritical rhetoric perspective, focussing on aspects related to the interaction between text andcontext in the process of meaning making. Categories of analysis used include exigence,authorship, audience and absences, and explore conceptual relationships between readers andauthors, and between these participantes and scientific knowledge taught in school.Implications and suggestions of possibilities for using textbooks in the classroom are alsopresented.Keywords: textbook, secondary school science, rhetorical analysis, discourse, scienceeducation.

    1. Contexto e Objetivo

    Apesar de sua indiscutvel importncia como elemento estruturante de aulas de

    cincias, o livro didtico no tem sido objeto de estudos mais sistemticos ou abrangentes porparte da comunidade de ensino de cincias. Os poucos estudos publicados em peridicos eanais de encontros da rea de educao em cincias concentram-se na anlise de contedos eabordagens, ou seja, abordam questes referentes acuidade conceitual e forma deapresentao dos contedos (CASSAB, 2003; FERREIRA e SELLES, 2003;FRACALANZA, 1993).

    Recentemente tem-se percebido uma ampliao do escopo de interesse sobre estesmateriais com a realizao de estudos que investigam o texto do ponto de vista dos estudos de

    1 CAPES/DS2 Apoio CNPq

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    linguagem e que permitem a discusso de temas tais como: prticas de leitura do texto (verbale imagtico) do livro didtico de cincias (MARTINS e GOUVA, 2003); leituras e critriospara escolha do livro por professores de cincias (CASSAB e MARTINS, 2003); influnciashistrico-culturais no texto do livro (SELLES e FERREIRA, 2004); anlises de imagens eilustraes (MARTINS et al., 2003; OTERO e GRECA, 2004); representaes do livropresentes nos iderios de professores e pesquisadores e nos currculos oficiais (MEGIDNETO e FRACALANZA, 2003); anlises dos gneros discursivos que compem o livrodidtico (BRAGA, 2003).

    Neste trabalho pretendemos contribuir para este debate por meio da apresentao ediscusso dos resultados de uma pesquisa (NASCIMENTO, 2003) que teve como objetivoaprofundar aspectos retricos subjacentes ao discurso cientfico escolar, materializado notexto do livro didtico. O presente estudo analisa o texto do livro didtico de cincias a partirdo quadro terico-metodolgico da retrica crtica (ou contempornea) que privilegiaaspectos de interao entre o texto e seu contexto e da construo de sentidos pelos sujeitos.

    Esta perspectiva permite integrar discusses que se referem a dimenses fundamentais dacomposio do texto a consideraes acerca das relaes conceituais entre leitores e autores e,entre estes e o conhecimento cientfico e seu ensino na escola.

    Por meio de nossas anlises pretendemos explorar diferentes possibilidades de leiturae novos lugares sociais para autores e leitores, esclarecendo e sugerindo reflexes quepotencialmente fundamentam o trabalho com o livro didtico em sala de aula. Para tanto,realizamos uma anlise retrica crtica do tpico Gentica em quatro colees de cincias parao ensino fundamental buscando explorar aspectos relacionados s exigncias (contextoshistrico-sociais que condicionam a produo do texto), autoria (lugares sociais que os

    autores assumem no texto), audincia (as imagens reais e implcitas de leitores) e sausncias (aquilo que est ausente ou silenciado pelo texto).

    2. Quadro terico-metodolgico

    2.1 Quadro terico de referncia

    2.1.1 A retrica crtica

    Os significados associados palavra retrica so mltiplos sendo que, na maioria dasvezes, ela encontra-se relacionada arte de se falar bem, ou capacidade de se persuadir uma

    dada audincia. Ao reconhecerem a diversidade de definies de retrica, Gill e Whedbee(1997) distinguem duas correntes: uma que engloba as concepes clssicas de retrica eoutra que est relacionada s vises contemporneas de retrica crtica. No caso da primeira,as concepes encontram-se relacionadas tradio retrica, que teve suas razes em Plato eAristteles, como tcnica de produo textual oral. Como a principal preocupao era acriao do discurso retrico efetivo, os escritores desenvolviam manuais, nos quais a retricaera abordada na perspectiva da composio e onde mtodos e tcnicas eram delineados.Muitos desses manuais de composio foram estruturados de acordo com os cnones romanosda retrica, desenvolvidos pelo filsofo e poltico Ccero: a inveno, a disposio, a locuo,memria e produo. Esses cnones correspondem aos estgios na produo do texto retrico

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    ficando restritos seleo, ordenao e estrutura dos argumentos, aos recursos mnemnicose apresentao (oral) do texto.

    Apesar das concepes contemporneas de retrica se apoiarem nas teorias ereferenciais de anlise clssicos, as anlises contemporneas buscam expandir os modelos

    clssicos tendo como objeto de estudo a produo do discurso retrico. Assim, embora asatividades do retrico crtico nos ltimos trinta anos tenham variado; o que elas apresentam decomum a explicao da dinmica de interao de um texto retrico com seu contexto, isto ,como um texto responde, refora ou altera os entendimentos de uma audincia ou de umtecido social da comunidade (GILL e WHEDBEE, 1997). Acompanhando a visocontempornea de que as estruturas lingsticas ou os sistemas de discurso organizam e dosentido experincia humana e considerando o papel de outros sistemas simblicos naconstruo de significaes, a variedade de textos susceptveis anlise retrica expande-sede forma a incluir tambm textos multimodais tais como filmes, pginas da Internet,propagandas etc. Alm disso, a concepo de audincia tambm passa a ser problematizada

    pelos retricos crticos devido revoluo dos meios de comunicao. Os computadores, porexemplo, permitem que a audincia desempenhe o papel de autor, participando da construodo texto por meio da montagem das narrativas e da determinao de quantidade deinformao disponibilizada na tela do computador.

    De acordo com Gill e Whedbee (1997), os objetivos especficos da retrica crticapodem ser classificados em duas grandes escolas que parecem operar simultaneamente. Naprimeira, a retrica crtica tem como objetivo aumentar o reconhecimento da importnciahistrica dos textos retricos: alguns crticos buscam esclarecer os efeitos polticos dediscursos orais e escritos, outros examinam a estrutura de textos cannicos, e outros buscam

    ainda recuperar textos retricos no apreciados do passado. A segunda escola tem comoobjetivo determinar como a retrica constri e reconstri eventos e fenmenos. Com isso,estruturas so identificadas, discutidas e em alguns casos desconstrudas para que sejadeterminado como elas operam para produzir entendimentos, sancionar modos particulares devises de mundo ou silenciar pessoas ou pontos de vista. As duas escolas tm como objetivocomum aumentar o conhecimento de como a retrica opera.

    2.1.2 A Retrica da Cincia e do Ensino de Cincias

    A Cincia foi (e ainda ) vista por grande parte da comunidade cientfica como sendouma forma de cultura que dispensa o emprego de tcnicas de persuaso e convencimento. A

    idia de que a divulgao de informaes cientficas no depende de mecanismos retricosmas sim da apresentao de evidncias experimentais irrefutveis resiste at os dias de hoje.No entanto, essa tradio anti-retrica da Cincia vem sendo discutida por alguns estudiosossintonizados com as teorias de Semitica Social e da Sociologia da Cincia (BAZERMAN,1988; MYERS, 1990; GROSS, 1996) em estudos que exploram os processos sociais deconstruo da autoridade do discurso cientfico e validao do conhecimento cientfico.

    Os estudos que reconhecem a dimenso retrica no discurso cientfico foram defundamental importncia para que questes relacionadas argumentao passassem a serexploradas tambm no contexto escolar, mais especificamente, no processo de ensino-

    aprendizagem de conhecimentos cientficos. No entanto, Martins (2000a) adverte que algunscuidados devem ser tomados ao realizarmos transposies envolvendo retrica da Cincia e

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    retrica do Ensino de Cincias, j que a natureza das relaes sociais numa sala de aula completamente diferente da natureza das relaes sociais numa instituio de pesquisacientfica, por exemplo.

    Nesse mesmo artigo, a autora identifica alguns estudos que discutem questes

    relacionadas retrica no Ensino de Cincias, tais como: anlises de concepes deexperimentao e demonstrao em atividades de laboratrio; os papis das metforas eanalogias na construo do vocabulrio cientfico e da argumentao dos cientistas, e asconseqncias desse fato para a sala de aula; exemplos de como as entidades cientficas soconstrudas no discurso da sala de aula; desenvolvimentos de esquemas de anlise queenfatizam o papel da interao verbal e instrumentos culturais no processo de construo designificaes; anlises de formas de explicao tipicamente encontradas em livros didticosde Cincias (MARTINS, 2000a). A seguir, comentamos trabalhos que representam algumasdessas tendncias.

    Ogborn e colaboradores (1996), num estudo sobre explicaes construdas pelosprofessores na sala de aula de Cincias, observaram que os mesmos no se restringem a fazerdemonstraes ou a oferecer relatos verbais, ou seja, a explicao apenas uma das muitasestratgias retricas utilizadas por professores de Cincias. Na verdade, os professoresproblematizam aspectos do contedo, recontextualizam explicaes atravs de metforas,analogias e narrativas, introduzem e re-elaboram entidades cientficas em seu discurso, tudoisso num esforo para que seus estudantes passem a ver o mundo de uma outra maneira. Osautores ressaltam a dimenso retrica do Ensino de Cincias ao reconhecerem que aaprendizagem de conceitos cientficos no pode mais ser concebida como convico racional,

    j que a persuaso e a argumentao so relevantes nesse processo.

    Dando continuidade a esta investigao Kress e colaboradores (2001) buscaramrelaes entre a semitica social e a retrica para dar conta dos processos de construo desentidos que tm como palco a sala de aula de Cincias. Com isso, os autores questionaram anoo predominante na maioria dos estudos sobre o Ensino de Cincias de que aaprendizagem de conceitos cientficos no requer a utilizao de recursos retricos ao mesmotempo que contestaram a idia de que os fatos falam por si mesmos e, que a natureza, e noos professores, que convence os estudantes das verdades cientficas. Neste tipo de viso, opapel dos professores na aprendizagem fica restrito tarefa de aproximar estudantes dosfenmenos naturais para que eles possam aprender. Ao se considerar que a retrica estpresente na sala de aula, a tarefa do professor deixa de ser apenas aquela de apresentao dos

    conhecimentos cientficos e passa a ser pensada como uma atividade retrica que objetivamodificar as concepes de mundo dos estudantes por meio de exposies coerentes eplausveis do mundo (visto pela lgica cientfica) a partir da combinao de uma variedade demeios comunicativos.

    Dentro da tendncia de estudos acerca de prticas argumentativas e suas implicaespara o Ensino de Cincias, destacamos os trabalhos de Candela (1998) e Mortimer (1998).Candela investigou o contexto argumentativo construdo e negociado em interaes entredocentes e estudantes, observando a forma como eles atribuam diferentes significados aoscontedos cientficos. A autora concluiu que, assim como os puros debates retricos, as aulas

    de Cincias devem fomentar a argumentao para encontrar as diversas facetas e contradiesem um problema, mesmo que no necessariamente chegando a um acordo. J Mortimer

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    (1998) buscou compreender a construo de sentidos em salas de aula de cincias comoresultado de interaes discursivas nas quais os estudantes recorrem a diferentes tipos dediscurso (autoritrio e persuasivo) na construo de seus argumentos. O autor reconhece naalternncia entre esses discursos um design retrico dos dilogos presentes na sala de aula.Finalmente, Martins e Villani (2000), analisam as explicaes oferecidas por grupos deestudantes do Ensino Mdio acerca da natureza da luz para pblicos-alvo distintos. A anlisefavorece aspectos da interao entre os estudantes e suas audincias e ressalta as escolhasfeitas pelos estudantes por diferentes possibilidades de organizao de argumentos e empregode recursos retricos. Os autores concluem que os estudantes demonstraram possuir senso deaudincia, sendo capazes de adaptar e moldar seu discurso de acordo com as percepesacerca dos interesses, necessidades e conhecimentos prvios desta audincia.

    No caso especfico do debate acerca dos mecanismos retricos presentes em livrosdidticos de Cincias, Martins (2000b) considera os elementos presentes no Ensino deCincias por meio de uma anlise dos recursos retricos encontrados no livro didtico. Antes

    de dar incio a esta anlise, a autora destaca que muitas mudanas, tanto na concepo quantona apresentao, ocorreram nos livros didticos de Cincias nos ltimos anos. Entre elas,destacam-se: uma dependncia crescente da comunicao visual, o estabelecimento derelaes entre o contedo cientfico e os contextos da vida cotidiana, organizaointerdisciplinar e referncia explcita s concepes espontneas dos estudantes. O exemplode anlise oferecido neste artigo relaciona as maneiras como professores e estudantes sorepresentados em livros brasileiros e ingleses com a construo da subjetividade dos mesmosnas salas de aula de Cincias. Tais representaes constituem uma funo retrica que serelaciona a uma estratgia de alterao da subjetividade e criao de um novo grupo deexpectativas e atitudes com respeito a um domnio do conhecimento. Com isso, diferentes

    padres de poder, autoridade e hierarquia so estabelecidos.

    Outro exemplo de estudo sobre a retrica no livro didtico de Cincias o de Pinto eMartins (2002). So analisados textos sobre o tema Evoluo Biolgica em trs livros deBiologia destinados ao Ensino Mdio, com base nos seguintes parmetros: fontes dasprincipais idias relacionadas no texto (relacionadas ao cnone inventio de Ccero); ordenaode argumentos (baseada no cnone dispositio); e utilizao de recursos retricos comometforas e narrativas. Em suas concluses, os autores utilizaram a anlise retrica como umaimportante ferramenta para a anlise dos argumentos presentes no livro didtico edemonstram relaes entre a estrutura narrativa e questes conceituais.

    2.2 Consideraes metodolgicas

    2.2.1 Os critrios para seleo dos livros a serem analisados

    A seleo dos livros didticos cujos textos constituem o corpus da pesquisa teve inciocom uma fase exploratria na qual foram observadas dez colees didticas de EnsinoFundamental com edies posteriores ao ano de 1997. Observamos que todas as coleestratavam de assuntos relacionados Gentica e, de forma mais ampla, Hereditariedade emcaptulos separados nos volumes destinados stima srie, os quais possuem como tema oestudo do corpo humano. Notamos que os captulos diferiam entre si de acordo com

    determinadas caractersticas que materializam o hibridismo do livro didtico de Cincias,entre elas:

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    ? as diferentes linguagens presentes no texto (verbal, imagtica, etc.);? estilo e formas de apresentao do contedo em questo (no corpo principal,

    leitura complementar, caixas de texto, glossrio e/ou questes);

    ? relaes com outros discursos, por exemplo, discurso pedaggico (por meio dereferncias a documentos de orientao curricular), discurso de divulgaocientfica (por meio da insero de artigos de revistas ou jornais), etc.

    Com base na presena ou ausncia dessas caractersticas pudemos identificar padresglobais de apresentao dos contedos. Buscando contemplar a heterogeneidade dos captulosexaminados, no que diz respeito s caractersticas mencionadas acima, foram selecionadosapenas quatro deles para constiturem o corpus de textos para a anlise (ver Tabela 1). importante ressaltar que nossa preocupao central era a constituio de um corpus querepresentasse a diversidade de textos sobre Gentica nos livros didticos e, por isso, nocondicionamos a escolha dos captulos aos resultados da avaliao feita pelo PNLD. Assim,

    dos quatro captulos selecionados, dois deles integram livros cujas colees foramrecomendadas na avaliao do Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD) de 2002(CRUZ, 1999; BARROS e PAULINO, 2001)3. Os outros dois, embora no tenham sidorecomendados4, integram colees didticas amplamente adotadas em escolas pblicasfederais e particulares do Rio de Janeiro (GEWANDSNAJDER, 2000; SILVA e FONTINHA,199-).

    Ttulo do Livro (L) 5 O Homem. Seucorpo. Sua histria.Sua tica. (L1)

    Cincias. Nossocorpo. (L2)

    Cincias e EducaoAmbiental. O corpohumano. (L3)

    Cincias. O corpohumano. (L4)

    Autor(es) Paulo Maurcio

    Silva e S. R.Fontinha

    Fernando

    Gewandsnajder

    Daniel Cruz Carlos Barros e

    Wilson RobertoPaulino

    EdioAno

    Editora

    2a edio

    s/d

    Editora Nacional

    1a edio

    2000

    Editora tica

    22a edio

    1999

    Editora tica

    64a edio

    2001

    Editora tica

    Unidade ou Parte docaptulo analisado

    Transmitindo ascaractersticas

    Sexo e reproduo A perpetuao daespcie

    A vida continua

    Ttulo do Captuloanalisado (C)

    Um pouco degentica humana(C1)

    As bases dahereditariedade(C2)

    Decifrando ocdigo da vida: a

    gentica

    (C3)

    Hereditariedade(C4)

    Tabela 1: dados dos livros selecionados para a anlise.

    2.2.2 Categorias para anlise

    A anlise dos textos que constituem nosso corpus considera sua dimenso retrica edestaca relaes entre a estrutura e organizao dos textos e suas condies de produo, com

    3 A coleo Cincias, de Carlos Barros e Wilson Roberto Paulino (Editora tica), foi a campe em distribuios escolas pblicas do municpio do RJ (de acordo com dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento daEducao em ), seguida pela coleo Cincias. Entendendo a natureza, de DanielCruz (Editora tica).4 De fato, no consta no Guia do Livro Didtico, tampouco nas pginas oficiais da Internet do MEC, a

    informao se essas duas colees foram reprovadas ou simplesmente no foram submetidas avaliao feitapelo PNLD de 2002.5 Os captulos analisados integram livros cujos exemplares destinam-se ao professor.

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    nfase nas imagens feitas sobre a audincia. De modo a contemplar esse pressuposto foramadaptadas algumas categorias inicialmente propostas por Gill e Whedbee (1997) (ver Tabela2). Tais categorias tiveram como papel direcionar e organizar um olhar para os textos demodo a dar sentido a sua materialidade, isto , significar as formas e expresses existentes nasua superfcie. Com isso, buscava-se uma melhor compreenso acerca das distintas formas deengajamento de diferentes sujeitos com o texto e as conseqentes diferentes possibilidades deentendimento.

    Categorias de anlisecrtica

    Descrio

    Exigncias

    Identificao dos eventos histricos e das questes sociais que influenciam oautor e tornam-se determinantes na seleo de aspectos composicionais dotexto retrico. O texto passa a ser compreendido na medida queidentificamos os eventos aos quais ele se dirige ou responde.

    Audincia real Busca identificar por meio de marcas textuais a audincia real atingida pelotexto.

    Audincia

    Audinciaimplcita

    Difere da audincia real por no ser declarada como sendo pblico-alvo doautor. A audincia implcita criada pelo autor com base na imagem que elepossui de sua audincia, existindo somente no mundo simblico do texto.Portanto, trata-se da identificao da imagem que o autor constri de suaaudincia.

    Credibilidade A credibilidade das informaes apresentadas no texto retrico pode estarbaseada em fatores distintos: na figura do autor; em resultados consolidadosdo campo de conhecimento (Cincia); em fontes conceituadas (jornal, livro,revista); na figura de cientistas e instituies de pesquisa e ensino.

    Autoria

    Persona retrica A persona retrica, diferente do verdadeiro autor, consiste numarepresentao de sua imagem que criada no mundo simblico do texto.Busca-se identificar a forma com que a figura do autor colocada ouausentada do texto.

    AusnciasBusca-se identificar o que est ausente ou o que silenciado pelo texto,discutindo-se as escolhas feitas pelo autor durante a elaborao do textoretrico.

    Tabela 2: Categorias de anlise retrica crtica (adaptado de GILL e WHEDBEE, 1997).

    3. Anlise

    3.1 Exigncias

    As exigncias esto diretamente relacionadas s condies de produo dos textos emquesto. Tais condies compreendem fundamentalmente os sujeitos e a situao que, numsentido estrito, remetem para as condies de enunciao e, num sentido amplo, incluem ocontexto scio-histrico, ideolgico (ORLANDI, 1999). Com isso, o contexto no qual o textoencontrava-se inserido durante sua produo estabelece, de forma direta ou indireta,determinadas caractersticas textuais. Buscamos, nessa categoria de anlise, identificarcontextos de exigncias amplos e restritos que constituram condies de produo dos textosem questo. Os primeiros dizem respeito a relaes conceituais entre os campos da Educaoe da Comunicao, em particular aquelas que analisam padres mais gerais de comunicao

    na sociedade e que exploram a contribuio das abordagens comunicativas para o ensino. Jos contextos restritos se referem a influncias do discurso contemporneo sobre o ensino de

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    cincias na escola, materializado nos documentos oficiais que renem recomendaes para odesenvolvimento de currculos e para a avaliao de materiais educativos.

    3.1.1 Contextos amplos de exigncia: Padres de comunicao na sociedade

    A comunicao cientfica em espaos escolares ou extra-escolares, no pode serentendida fora do contexto de uma discusso mais abrangente acerca da comunicao nasociedade. Um exemplo simples a constatao de que o livro didtico de cincias seguetendncias, cada vez mais generalizadas na sociedade contempornea, de utilizar umavariedade de recursos grficos na sua apresentao. As interaes entre os campos daEducao e da Comunicao vm tornando-se cada vez mais estreitas pois a cada invenotecnolgica, a sociedade atribui aos processos comunicacionais, desenvolvidos em torno da

    inveno, uma expectativa educacional (BRAGA e CALAZANS, 2001, p.10). Segundoestes autores, esses dois campos adentram-se mutuamente e desenvolvem forte relao de

    fluxo, gerando diferentes possibilidades de articulaes. Um dos possveis ngulos deinterface corresponde ao encontro entre o sistema escolar e a prpria sociedade decomunicao e relacionado necessidade educacional de formar e socializar os

    estudantes para esta (op. cit., p.59; grifo dos autores), no sentido de que a escola passa a sersolicitada a fornecer conhecimentos e competncias para que seus estudantes participemeficazmente na sociedade. Neste caso, a escola passa a assumir um papel decisivo na leituracrtica das informaes veiculadas pelos meios de comunicao e no desenvolvimento dacapacidade dos estudantes de trabalhar com a lgica das tecnologias miditicas.

    Dentro de uma segunda possibilidade de articulao, considera-se o fato de que os

    meios modernos passaram a abranger assuntos que no esto tradicionalmente presentes nolivro didtico mas que se apresentam como de grande apelo para estudantes. Assim, estestemas penetram nos processos escolares de forma assistemtica e por meio de discussessuperficiais, demandando outros tratamentos. A inclusividade e a penetrabilidade dosprocessos miditicos independe de decises da escola pois a sociedade impe sua presena;no entanto, o sistema educacional certamente atua nessa interface

    resistindo, criticando, revendo seus prprios conceitos e processos,desenvolvendo ajustes, elaborando novas perspectivas pedaggicas e

    interpretativas para resistir, absorver, ou enfrentar a situao (BRAGA eCALAZANS, 2001, p.61).

    A escola atualmente encontra-se num cenrio no qual seus principais sujeitos, osestudantes, tm contato com entidades, conceitos e processos cientficos em ambientes extra-escolares. Ou seja, a sala de aula de Cincias deixa de ser aquele local privilegiado onde osestudantes "aprendem" cincias e passa a dividir com a mdia o papel de divulgadora deconhecimentos cientficos e tecnolgicos; muito embora devamos reconhecer que cada umdesses espaos possui finalidades especficas j que a escola visa o ensino formal destesconhecimentos enquanto que os meios de comunicao no objetivam a aprendizagem deconceitos cientficos.

    Alm dessa questo da circulao de temas antes exclusivos de campos especficos eagora presentes na mdia, existe a questo da atualizao dos temas dentro do sistema

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    educacional e dos meios de comunicao, questo esta que se encontra mais relacionada aolivro didtico de Cincias. Esse outro espao de interface relaciona-se aos modosdiferenciados de disponibilizar atualizaes de conhecimentos, decorrentes de um rearranjodos conhecimentos sociais. A mdia disponibiliza de forma assistemtica, com muitaagilidade e rapidez, informaes sobre os diversos campos de atividade humana. J a escola,absorve conhecimentos de campos restritos de modo refletido e sistematizado, mas com uma

    certa lentido (BRAGA e CALAZANS, 2001, p.67). No caso especfico da Gentica,notamos o papel dos meios de comunicao na formao de opinies e atualizao dapopulao frente aos avanos cientficos e tecnolgicos na rea. Um marco nessa rea foi aclonagem da ovelha Dolly em 1997, que teve enorme repercusso na mdia. Desde entoreportagens de divulgao cientfica, relacionadas Biotecnologia so quase que diariamenteveiculadas em jornais impressos e televisivos, revistas, programas (cientficos ou no) dateleviso aberta e paga, notas em pginas da Internet, fazendo com que o cidado noespecialista esteja em contato com as atualidades do campo de conhecimento. Com isso, cria-se uma demanda no contexto escolar para que professores e os prprios materiais didticosestejam sempre atualizados. Por outro lado, caso a escola tente sintonizar com o ritmoacelerado dos meios de comunicao, ela arrisca-se a desenvolver um enfoque marcado pelomodismo e pela informao mais chamativa ou espetacular. Qual seria ento a sada para esseimpasse?

    Recentemente, temos observado nas salas de aula de Cincias a crescente tendncia dautilizao de textos de divulgao cientfica, desempenhando diferentes funes alm daatualizao de contedos (TERRAZAN, 2000; HALKIA, 2003; ROCHA, 2003; MARTINSet al, 2004). Uma vertente que se encontra relacionada nossa pesquisa, diz respeito insero de assuntos, que tipicamente encontrados na mdia, no livro didtico de Cincias.

    Apesar da estrutura do livro didtico ser em geral consolidada e pouco malevel, a maioriados autores encontrou num elemento composicional a soluo para esse problema: a inclusode caixas de texto e de imagens que circulam nos meios de comunicao.

    Nesse sentido, identificamos exemplos nos quais assuntos como testes de paternidade,o Projeto Genoma Humano e alimentos transgnicos foram inseridos a partir de textosadaptados em jornais e revistas de divulgao cientfica. Mais especificamente observamos,em trs dos quatro textos analisados, adaptaes de textos e reproduo de imagens oriundasde revistas, jornais e artigos de divulgao (focalizando a clonagem da ovelha Dolly e odesenvolvimento de plantas e animais transgnicos) e de comentrios sobre filmes (mais

    especificamente a utilizao de tcnicas de engenharia gentica no filme Parque dosdinossauros). No entanto, em apenas um dos textos analisados, estas referncias apareceramno corpo principal do texto. Esta escolha, se por um lado destaca a informao provenientedos textos miditicos do ponto de vista de diagramao, por outro no contribui para suaintegrao com os contedos curriculares relacionados e acaba por lhes conferir um papelacessrio.

    3.1.2 Contextos restritos: recomendaes para o Ensino de Cincias na Escola

    Todos os textos que compem nosso corpus de anlise so captulos de livros cujasedies so posteriores ao ano de 1999. Portanto, todos os textos foram produzidos aps aelaborao e divulgao de dois documentos oficiais do MEC que constituram marcos na

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    Educao brasileira: os PCN (publicados em 1998) e os cadernos de avaliao do PNLD(implementado em 1996).

    Os Parmetros Curriculares Nacionais

    O tema em questo nesta pesquisa, a Gentica, enquadrado pelos PCN no eixo Serhumano e Sade, o qual se encontra orientado por uma concepo de corpo humano comoum todo [...] que interage com o ambiente e que reflete a histria de vida do sujeito(BRASIL, 1998, p.45). Os PCN sugerem que esse eixo temtico seja trabalhado a cada ciclo,no ficando restrito a apenas um ano letivo conforme a diviso temtica feita na maioria dascolees de livros didticos de Cincias do Ensino Fundamental. Assim, contedosrelacionados reproduo e sexualidade devem ser explorados no 3o ciclo (5a e 6a sries),sendo retomados no 4o ciclo (7a e 8a sries) no contexto de uma discusso sobrehereditariedade.

    Os PCN sugerem ainda que, dentro de cada contedo, sejam contemplados aspectoscomo a interdisciplinaridade, o cotidiano do estudante e a construo da cidadania.

    O que observamos nos livros analisados um esforo, por parte dos autores, emincorporar esses aspectos, porm geralmente isso acontece pela insero de sees e caixas detexto que muitas vezes encontram-se desvinculadas do restante do captulo. No casoespecfico da Gentica, a interdisciplinaridade encontra-se contemplada, por exemplo, pelainsero de elementos de clculo de probabilidade de formao de determinados gentipos oupela discusso de tpicos como radioatividade e elementos qumicos no contexto dasexplicaes sobre agentes mutagnicos (por exemplo, caixa de texto em C3). J o cotidiano

    do estudante encontra-se representado por meio de exemplos de imagens familiares,caractersticas hereditrias facilmente visualizadas (como cor de olhos e tipo de lobo deorelha), e de metforas, cujos domnios conceituais encontram-se baseados em algorelacionado vida cotidiana do estudante (exemplo: ... os genes contm receitas ouinstrues para fabricar protenas, C2, p. 226).

    No caso do papel do Ensino de Cincias na formao de cidados, observamos que ostextos promovem a relao da aquisio de conhecimento cientfico com o posicionamento doestudante na sociedade, uma vez que os livros promovem questionamentos acerca dasaplicaes tecnolgicas dos conhecimentos cientficos (veja os exemplos a seguir).

    Alm de provocar uma revoluo na biologia, essas descobertas levantam umasrie de questes de ordem moral, social, econmica e poltica. importante quetodos ns estejamos bem informados sobre os avanos dessas tcnicas, para quenossa sociedade possa tomar decises a respeito de como o conhecimentocientfico deve ser utilizado (C2, p. 235).

    Notamos ainda que, na maioria dos livros didticos analisados, existe uma valorizaodas recomendaes dos PCN uma vez que observamos destaque das informaes sobre aadequao e conformidade dos livros aos parmetros. Tal fato constatado pela presena emsuas folhas de rosto e sumrios de frases como De acordo com os Parmetros Curriculares

    Nacionais (presente em C3), Reformulado de acordo com os PCN (C2) e Os contedosde Programas de Sade encontram-se distribudos ao longo dos captulos (C4). A presena

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    dessas frases nos livros didticos pode estar dirigida aos professores e s suas necessidades deelaborar atividades e conduzir o ensino de forma coerente com os PCN. Alm disso, ainsero de tais frases indica tentativas por parte das editoras das colees didticas emagregar valor ao produto; isso est relacionado ao interesse econmico das editoras emfazerem com que seus livros sejam escolhidos por professores das escolas pblicas querecebem livros comprados e distribudos pelo Governo Federal. O mesmo se aplica realidade das escolas particulares, nas quais os professores responsveis pela seleo eindicao dos livros didticos aos seus estudantes podem, neste processo, valorizar oatendimento s sugestes dos PCN.

    O Programa Nacional do Livro Didtico6

    O PNLD foi institudo em 1985 sob coordenao da Fundao de Assistncia aoEstudante (do Ministrio da Educao) tendo como objetivo central promover a aquisio e

    distribuio de livros s escolas pblicas brasileiras. Em 1995, aps uma reformulao daspolticas do programa, o PNLD assume a funo de avaliar os livros didticos de modo apromover uma melhoria na qualidade destes materiais. As avaliaes do programa tiveramincio com a anlise de livros destinados aos primeiro e segundo ciclos (1 a 4 sries) doensino fundamental no ano de 1997. A primeira avaliao de livros didticos destinados sdisciplinas bsicas de 5a a 8a srie do Ensino Fundamental (Histria, Cincias, Geografia,Lngua Portuguesa e Matemtica) aconteceu somente no ano de 1999. Nesta avaliao foramadotados os seguintes critrios eliminatrios comuns a todas as disciplinas: correo dosconceitos e informaes bsicas; correo e pertinncia metodolgicas; contribuio para aconstruo da cidadania. Existiam ainda critrios de classificao relacionados aos aspectos

    visuais (que continham observaes relativas disposio de texto e ilustraes, ao layoutdapgina, tipologia de letras e aos diferentes tipos de linguagens visuais) e ao livro comorientaes para o professor.

    Em 2002, nova edio do PNLD avaliou livros didticos de 5a a 8a srie das cincodisciplinas bsicas do Ensino Fundamental (BRASIL, 2002). Foram acrescentados quatrooutros critrios queles trs j determinados no PNLD anterior. So eles: inscrio de umanica verso ou variante de uma obra; ausncia de erros de impresso e de reviso; adequadareformulao pedaggica das obras excludas no PNLD/99; articulao pedaggica dosvolumes que integram uma coleo didtica.

    No caso especfico da rea de Cincias figuram entre os motivos para a eliminao deuma dada coleo: incorreo dos conceitos, informaes bsicas e terminologia cientfica;pertinncia e adequao metodolgicas; riscos construo da cidadania; riscos integridadefsica do estudante.

    O PNLD pode ser considerado um marco histrico na Educao brasileira pelo fato deinstncias oficiais terem reconhecido o papel do livro didtico no ensino e na prpriaatualizao do professor e a necessidade de se melhorar a qualidade desse materialpedaggico. Com base nas consideraes tecidas acima, destacamos a funo seletiva emtermos de contedo e metodologia do PNLD no contexto de produo do livro didtico de

    6 A maioria das informaes sobre o PNLD que constam nesta seo foi retirada da pgina do MEChttp://www.mec.gov.br. Acesso em outubro de 2003.

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    Cincias. Braga (2003) caracteriza a seleo de livros feita pelo PNLD como sendo umapoltica de censura positiva uma vez que soluciona certos problemas textuais eliminandoalguns erros de interpretao do conhecimento cientfico mas que, no entanto, "contribui paraa permanncia de um modelo de livro que no discute o carter provisrio da 'verdade'cientfica" (op. cit., p.67/68). A autora adverte ainda que esta mesma avaliao no contempla

    determinados parmetros que dizem respeito organizao de contedos e acaba por reforaraspectos indesejveis dos livros como a tradicional diviso temtica adotada na maioria dascolees didticas. Ao observarmos nosso corpus, notamos que todos os quatro livros tmcomo temtica central o Corpo Humano, apresentando nos demais volumes da coleo adistribuio tradicional de Ar, gua e solo (5a srie), Zoologia e Botnica (6a srie) eFsica e Qumica (8a srie). Em outras palavras, no encontramos nos livros analisadospropostas de organizao de contedo presentes nos PCN, por exemplo, por meio de temastransversais s reas de conhecimento e eixos temticos a serem abordados em todos os ciclosno tm tanta influncia nos livros didticos7.

    Por outro lado, notamos a influncia positiva da avaliao, sobretudo a ausncia deerros conceituais, de atividades que apresentam riscos aos estudantes e de preconceitos, esteltimo de fundamental importncia dentro de um tpico como a Gentica. Esta influnciatambm se faz notar pelo atendimento aos critrios especficos para avaliao dos livros darea de Cincias na prpria organizao do texto e seleo dos contedos. Destacamos entreeles a discusso de contedos ligada a contextos da realidade brasileira e a sugesto deleituras complementares.

    3.2 Audincia do texto

    ? Audincia realBuscamos, nessa categoria, analisar marcas discursivas especficas que nos permitem

    identificar a audincia real a qual os autores dos captulos analisados se dirigem. Nessapesquisa, consideramos que a audincia real dos textos constitui-se de leitores empricos, ouseja, leitores que tm contato direto com o texto. Dessa forma, entendemos que a prticasocial discursiva na qual circula o livro didtico de Cincias inclui determinados atores aosquais o livro didtico encontra-se endereado. Buscamos, ento, identificar os atores sociaisque tm maior possibilidade de interagirem empiricamente com o livro didtico, isto , osleitores preferenciais desse texto. Logo de incio, percebemos que no poderamos restringir aaudincia real dos textos analisados nesta pesquisa aos estudantes de Ensino Fundamental,

    pois estaramos delegando a segundo plano as ideologias e os interesses polticos eeconmicos que perpassam a produo e a prpria divulgao do livro. nesse sentido que aaudincia real dos textos encontra-se intimamente relacionada s exigncias que constituemcondies de produo dos livros analisados. Por conta do que foi discutido na seo anterior,identificamos trs atores sociais preferenciais que integram a audincia real dos captulosanalisados, so eles: os estudantes de Ensino Fundamental, os professores e os avaliadores doPNLD.

    7Estas consideraes dizem respeito avaliao realizada em 2002 na qual j aparecia uma referncia

    distribuio tradicional de contedos. Esta era encontrada no item Tipologia, mais especificamente na seoCaractersticas gerais da coleo da ficha de avaliao do PNLD (BRASIL, 2002). Este item encontra-sedestacado dos critrios eliminatrios e classificatrios da avaliao.

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    O livro didtico serve como material de apoio no processo de ensino-aprendizagemdos estudantes e, muitas vezes dirige-se diretamente a ele por meio de textos de apresentaopresentes nas primeiras pginas do livro.

    Caro aluno. Voc vem estudando Cincias desde os primeiros anos escolares.

    Com este livro voc vai avanar ainda mais nesse caminho (C3, texto deapresentao do autor).

    Da mesma forma, conclumos que os professores tambm constituem parte dessaaudincia uma vez que so eles os que analisam e escolhem os livros que sero adotados aolongo do ano letivo de acordo com o perfil de seu alunado. Notamos que a maioria dos livrosanalisados inclui um manual dedicado ao professor (veja o primeiro exemplo a seguir) e, porvezes, inclui um texto de apresentao em suas pginas iniciais ao professor (observe osegundo exemplo abaixo). Essas so algumas evidncias de que o autor tambm estrutura olivro didtico de acordo com as expectativas que ele acredita que os professores possuamenquanto audincia.

    Ns, professores, somos tambm estudantes, permanentemente aprendendo sobreas novas descobertas em cincias e sobre as novas maneiras de ensinar (C2, p.5 doManual do Professor).

    Ao Professor. Estamos lanando a 2a edio do nosso livro, que passou porcuidadoso processo de reviso, atualizao e aprofundamento, alm da incluso denovos contedos. Os novos exerccios incluem questes que exigem raciocniomais elaborado e conhecimentos mais consolidados. Esperamos ter atendido aosdesejos dos nossos colegas (C1, texto de apresentao dos autores).

    de certa forma esperado encontrar falas dirigidas aos professores nestas partes dolivro destinadas exclusivamente ao professor a qual o estudante no tem acesso. Apesar daexistncia deste espao, o autor tambm fala ao professor no texto principal (mesmo que nodiretamente) por meio da (de):

    i. seleo de tpicos e abordagens;ii. introduo de explicaes que vo ao encontro de necessidades de trabalhar os

    contedos em sala de aula;iii. respostas a perguntas freqentemente feitas pelos estudantes;iv. incluso de atividades dimensionadas ao tempo de aula, como por exemplo a

    presena de exerccios de fixao de contedo que incluem questes cujas respostasso facilmente localizadas no texto.

    Finalmente, tambm compem a audincia real dos livros didticos os avaliadores doPNLD. Antes mesmo de serem submetidos a esse programa, os autores tm conhecimento doscritrios eliminatrios e classificatrios pelos quais o livro ser avaliado para ter suaindicao assegurada pelo MEC e, conseqentemente, a possibilidade de ser reconhecidopelos professores como sendo um recurso didtico de qualidade garantida. De acordo com oque foi discutido na seo anterior, contedos so inseridos ou excludos, formas deapresentao das informaes so normatizadas, relaes com outras reas do conhecimento

    so propostas, etc. Esses e demais ajustes passam a ser feitos nos textos dos livros didticosde modo que as exigncias da avaliao do PNLD possam ser atendidas.

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    ? Audincia implcitaA audincia implcita pode ser entendida como a imagem de audincia que o autor cria

    apenas no mundo simblico do texto. Buscamos fundamentos no conceito de formaesimaginrias da Anlise de Discurso de escola francesa para melhor conceituar essa categoria.

    De acordo com Orlandi (1993), todo texto possui um leitor virtual inscrito nele, um leitor que constitudo no prprio ato da escrita. Essa imagem que o autor faz de seu leitor corresponde formao imaginria de um leitor virtual. O leitor virtual aquele que o autor imagina paraseu texto e para quem ele se dirige.

    Dessa forma observamos, nos captulos selecionados, marcas textuais que nospermitem identificar as representaes que os autores possuem de seus leitores, isto , aimagem que os autores tm de suas audincias.

    Os resultados referentes a presente categoria de anlise encontram-se organizados naforma de respostas a quatro perguntas principais:

    Quais habilidades de leitura os leitores devem possuir para que os contedos sejam

    compreendidos?

    As habilidades dizem respeito s especificidades dos textos relacionados ao discursocientfico, em particular, necessidade de lidar com abstraes, de relacionar nveismicroscpicos e macroscpicos na descrio e explicao de fenmenos. Alm disso,consideramos tambm caractersticas tpicas dos diferentes modos e as finalidades da leiturano espao escolar. Desta forma, identificamos trs habilidades de leituras que esto

    relacionadas capacidade do leitor e que podem ser entendidas como produtos desejveisdesenvolvidos a partir da interao do leitor com o texto didtico. So elas:

    a) realizar leituras intertextuais, como as notas explicativas de C2 e as refernciass imagens ou contedos apresentados em captulos anteriores:

    Esquema de fecundao de um vulo. No captulo 2 voc pode rever a foto de umvulo sendo fecundado (C4, p. 205, texto de legenda de figura).

    b) Interpretar e compreender imagens caractersticas do discurso cientfico (comopor exemplo um esquema que representa a clonagem do gene para insulina em

    bactrias, apresentado no C2).c) Compreender textos com alta densidade lxica (grande concentrao de termos

    lxicos numa mesma sentena) (HALLIDAY, 1993):

    Clulas presentes na derme (camada inferior da pele) produzem uma substnciade cor castanha, chamada melanina (C1, p. 56).

    As habilidades de leitura podem ser entendidas como sendo produtos desejveisdesenvolvidos a partir da interao do leitor com o texto didtico. Assim, a construo de uma

    audincia idealizada pelo autor tambm reflete aspectos retricos inerentes ao texto do livrodidtico (MARTINS, 2000a, b).

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    Quais elementos textuais constituiriam atrativos para o leitor?

    Ao fazermos esta pergunta estamos discutindo questes relacionadas manipulao deaspectos composicionais pelos autores no sentido de capturar a ateno e o interesse de seusleitores. Notamos que os elementos textuais dizem respeito, sobretudo, aos recursos visuais

    como a presena de cores nos ttulos de sees e subsees e nas imagens. Alm disso, apresena de determinados tipos de imagens (desenhos e fotos) presentes no cotidiano do leitorpode despertar a curiosidade e deter sua ateno, por exemplo, desenhos presentes emhistrias em quadrinhos ou que se parecem com adesivos de cadernos e agendas paraadolescentes (observados em C2 e C3).

    Quais informaes so interessantes/fundamentais para o leitor?

    Esta pergunta diz respeito seleo dos contedos e, no caso dos textos analisados, ssuposies feitas pelos autores acerca dos interesses e necessidades dos leitores porinformaes sobre Gentica. Dessa forma, vimos que as informaes presentes nos captulos

    encontram-se relacionadas:a) Ao contedo em Biologia, isto , informaes que dizem respeito ao repertrio

    fundamental de conhecimentos cientficos para um estudante que esteja aprendendoGentica nas aulas de Cincias do Ensino Fundamental. Neste caso, informaesrelacionadas, por exemplo, localizao do material gentico, aos tipos decromossomos e s notaes cientficas empregadas na Gentica so encontradas namaioria dos captulos analisados.

    b) promoo de discusses interdisciplinares, como por exemplo, aquelas quediscutem o efeito da radioatividade sobre a estrutura do material gentico.

    c)

    s aplicaes dos conhecimentos cientficos no que diz respeito a situaescotidianas. Neste caso, so discutidas questes como a relao da idade das mescom o aumento do nmero de bebs com Sndrome de Down e a possibilidade derealizao de terapias gnicas em pessoas que possuam alguma doena gentica.

    Observamos que o tipo de informao relacionado ao item (a) encontrado no corpodo texto principal, sendo apresentado num formato mais conservador (descritivo e conceitual)enquanto que as informaes relacionadas aos itens (b) e (c) so prioritariamentereconhecidas nas caixas de texto.

    Que impacto/repercusso as informaes oferecidas tero na vida do leitor?

    Ao propormos tal pergunta estamos tratando da relao entre a aquisio de conceitoscientficos e a formao do estudante. Alm do impacto das informaes na formao escolardo leitor que inclui o exerccio da cidadania este tem a possibilidade de aplicar osconhecimentos cientficos em sua vida cotidiana por meio de um entendimento ampliado desituaes do seu dia a dia. Assim, o leitor passa a compreender por que um albino tem pelemais clara, por que o filho de um casal com olhos castanhos pode nascer com olhos azuis,como descobrir se uma criana possui alguma doena gentica antes mesmo do seunascimento, etc.

    Alm disso, as informaes podem funcionar como alertas ou medidas preventivas

    para o leitor. Neste caso observamos informaes que discutem, por exemplo, os possveisproblemas no nascimento de uma criana que possua fator Rh diferente do fator de sua me

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    (veja o primeiro exemplo abaixo) e os cuidados a serem tomados ao se incluir na alimentaofrutas ou legumes modificados geneticamente (veja o segundo exemplo a seguir). A inclusode tais informaes no texto do livro didtico pode contribuir para o exerccio da cidadaniapor meio de crticas ticas e morais a situaes reais presentes no cotidiano de pessoascomuns.

    Observamos, assim, dentro desta categoria de anlise que os autores tm a imagem deum tipo de leitor que possui necessidades por adquirir informaes cientficas, provavelmentepelo fato dele encontrar-se inserido numa estrutura formal de ensino. Tais informaesencontram-se relacionadas ao contedo em Biologia (dizem respeito a um repertrio mnimode conhecimentos da rea da Gentica), promoo de discusses interdisciplinares e aaspectos relacionados s aplicaes dos conhecimentos cientficos e ao cotidiano. Avalorizao destas informaes reflete tanto o status de que goza o conhecimento cientficoem nossa sociedade quanto a necessidade de que o leitor compreenda e se posicione a favorou contra s aplicaes tecnolgicas que tais conhecimentos podem assumir em seu cotidiano.

    Alm disso, o leitor do texto de Gentica deve possuir determinadas habilidades deleitura que o permitam compreender esse texto. Tais habilidades encontram-se relacionadas compreenso de determinadas caractersticas textuais verbais ou imagticas. Em ambos oscasos, a presena das caractersticas demonstra a manuteno no texto do livro didtico deCincias de propriedades textuais especficas do discurso cientfico. Em outras palavras, aaudincia dos textos analisados deve compartilhar determinadas habilidades de leituraprprias ao discurso cientfico.

    3.3 Autoria

    ? CredibilidadeEssa categoria de anlise diz respeito credibilidade das informaes fornecidas pelo

    texto retrico, ou seja, buscamos identificar em quais fatores contextuais o autor se baseiapara elaborar um texto que tenha impacto e que seja ao mesmo tempo convincente para aaudincia. Identificamos aqueles fatores que consideramos que servem como base dacredibilidade das informaes e caracterizamos a seguir cada um deles por meio de exemplosdestacados dos captulos analisados.

    No primeiro deles a credibilidade da informao est associada autoridade do

    enunciador (autor). De acordo com Gill e Whedbee (1997, p. 165), a autoridade que oradorese escritores possuem devido ao seu status no governo ou na sociedade, aes anteriores, oureputao enquanto sbio cria expectativas e afeta a operacionalidade do texto. Aoobservarmos o livro didtico identificamos um elemento que sustenta a autoridade do autor:dados sobre sua formao, atuao e produo. Todos os quatro livros didticos analisadosapresentam em sua folha de rosto informaes sobre o(s) autor(es) nas quais os autoresidentificam-se como professores de escolas pblicas e particulares, bacharis, autores delivros didticos e paradidticos desde o Ensino Fundamental at o Superior, membros dergos do governo, mestres e doutores. Alm disso, todos os autores tm em comum aformao em licenciatura no curso de Biologia ou Histria Natural e a atuao em escolas

    pblicas e particulares. Notamos ainda que, para alguns autores, no basta que esses pontosestejam evidenciados pois alguns deles incluem informaes adicionais que envolvem

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    legitimao social(professor concursado ou professor-coordenador). Ao destacarem taisposies, os autores mostram-se audincia como pessoas que possuem experincia na rea,falam com conhecimento de causa e possuem embasamento terico, isto , pessoasqualificadas para desempenhar a tarefa de escrever livros didticos de Cincias.

    Todas essas informaes sobre os autores dos livros didticos ajudam a construir umaautoridade que confere credibilidade s informaes que so fornecidas por eles na partetextual e ps-textual (como no Manual do Professor, onde os autores comentam suasconcepes terico-metodolgicas acerca do Ensino de Cincias).

    O segundo fator que confere credibilidade s informaes apresentadas no texto estassociado ao prprio conhecimento cientfico. Devido ao status que o conhecimento cientficopossui em nossa sociedade, os livros didticos freqentemente destacam seu potencial nasoluo de problemas cotidianos e sua capacidade de generalizao (por meio da formulaode teorias e leis, e da caracterizao de mecanismos e processos). Por vezes, os autores doslivros didticos destacam contedos consolidados no campo de conhecimento e utilizamcomo recurso de visualizao a apresentao de imagens obtidas por meio de tcnicas bemestabelecidas e amplamente empregadas em laboratrios de citologia, como por exemplofotos de caritipos e de clulas durante o processo de diviso celular. Neste ltimo caso, oprocesso de diviso celular relacionado visualizao (evidncia emprica) doscromossomos e passa a ser representado por esquemas que mostram o posicionamento doscromossomos dentro das clulas. Em ambos os exemplos, o autor busca, atravs daapresentao de imagens cientficas a credibilidade para as informaes que ele estoferecendo.

    Alm disso, a credibilidade das informaes tambm pode estar baseada nas

    referncias feitas a cientistas e a instituies de pesquisa e ensino responsveis pela produodo conhecimento cientfico.

    Finalmente, notamos que as informaes podem ser retiradas de fontes como jornais,livros, revistas que possuem diferentes graus de circulao e de reconhecimento no grupo deleitores alvo.

    ? Persona retricaNa crtica literria comum a distino entre o autor de um trabalho literrio e um

    autor fictcio criado dentro desse trabalho. Gill e Whedbee (1997) comentam que, da mesmaforma, os analistas crticos distinguem com freqncia um orador (ou escritor) e a pessoacriada no texto retrico. Essa pessoa nada mais do que uma representao que o autor criade sua imagem que passa a existir apenas no mundo simblico do texto. A figura do autorpode encontrar-se representada no texto no apenas por aquilo que ele se declara ser(conforme foi discutido na categoria Credibilidade), mas tambm, por aquilo que seencontra implcito no texto, ou seja, pelas posies que o autor assume ou pelos momentosem que ele tem sua figura ausentada no texto.

    Observamos que, no texto principal dos captulos analisados por esta pesquisa, osautores no fazem referncias a experincias pessoais ou a sua atuao como professores oupesquisadores. No entanto, os autores por vezes assumem uma determinada posio socialsinalizada por frases na primeira pessoa do plural (exemplo: O conhecimento que

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    acumulamos ao longo do tempo sobre os genes nos deu uma ferramenta com aplicaesincrveis: a engenharia gentica, C2, p233) e se incluem no grupo dos pesquisadores ao seapresentarem como aqueles que detm a capacidade de aplicao de conhecimentosacumulados durante anos pela Cincia e de realizao de classificaes.

    Em alguns casos, o autor identifica o grupo social dos cientistas excluindo-se dele(exemplo: Trata-se de um recurso que facilita o trabalho de cientistas e estudantes, poisdispensa o uso de muitas palavras ou expresses, C3, p. 194), enquanto em outros o autorpode ainda juntar-se aos leitores, como observamos no exemplo abaixo, reproduzindo umaforma de interao tpica das salas de aula na qual o professor promove situaes que sugerema possibilidade de compartilhar etapas do processo de construo de sentidos com o estudante.No entanto, a diferena de posies entre eles clara, ou seja, o exemplo escolhido para queo estudante possa dar sentido e aplicar conhecimentos anteriormente explicados peloprofessor. No exemplo em questo, ainda includo um questionamento dirigido aosestudantes no sentido de verificar se houve o entendimento correto daquilo que foi explicado.

    Veremos apenas dois exemplos para voc ter uma idia de como isso pode serfeito. Vamos supor que um homem com dois genes para lobos soltos [...] case-secom uma mulher com dois genes para lobos presos [...]. Em outras palavras, tantoo homem quanto a mulher tm pares de genes iguais. Como poderia ser um filhodesse casal em relao ao lobo da orelha?8 (C2, p. 229).

    Finalmente, notamos que, na maioria das vezes, o autor encontra-se completamenteausente do texto. Tal excluso pode ser operacionalizada por meio da presena do pronomese assumindo a funo de indeterminador do sujeito (exemplo: diz-se que o gene paraolhos castanhos dominante, e o gene para olhos azuis recessivo9, C3, p.193) ou doemprego de frases cujos verbos encontram-se conjugados na voz passiva (exemplo: Ascaractersticas que se transmitem de pais para filhos so denominadas caractersticashereditrias..., C4, p. 207).

    O emprego de tais formas que so as mais freqentemente encontradas nos textosdos captulos analisados pela pesquisa tem como principal conseqncia uma viso deobjetividade do conhecimento. Com isso, so excludas quaisquer referncias aos atoressociais envolvidos na produo do conhecimento cientfico, apresentando os contedos demaneira objetiva.

    3.4 Ausncias

    Gill e Whedbee (1997) entendem que ao privilegiarmos determinados aspectos de umevento quando fazemos uso da linguagem estamos tambm negando ou silenciando outrosmuitos. Com base nesta considerao, buscamos identificar o que no dito nos captulosanalisados. Essa categoria de anlise est tambm relacionada a um conceito bastanteexplorado pela Anlise de Discurso francesa: o silncio. Orlandi (1995, p.23) afirma que a

    8 importante ressaltar que esta passagem do texto contm um erro conceitual uma vez que existe um gene (comdois alelos herdados do pai e da me) que determina o formato do lbulo das orelhas e no dois genes para cadapessoa.9

    Nesta passagem do texto de C3 observamos um erro conceitual frequentemente cometido nos captulos sobreGentica: a simplificao de caractersticas que so determinadas por vrios genes (herena multifatorial) paraum modelo de herena mendeliana simples, caso da caracterstica cor de olhos.

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    linguagem implica silncio e este, por sua vez, o no dito do interior da linguagem. Osilncio no o nada, no o vazio sem histria. silncio significante. Assim, numa tarefade anlise de textos, no apenas o conjunto de palavras enunciadas em uma sentena ocondicionante na atribuio dos sentidos que os sujeitos do discurso estabelecem, pois osilncio igualmente necessrio significao.

    Ao analisarmos os captulos selecionados, identificamos que as ausncias dizemrespeito a diferentes aspectos que compem o texto sobre Gentica do livro didtico deCincias. O primeiro deles est relacionado prpria seleo de contedos dos captulos, que necessariamente resultado de uma seleo feita a priori. Ao contemplarem contedos quevm sendo mantidos nos livros didticos h anos (como os processos de diviso celular, osdefeitos cromossomiais, etc.), os autores ausentam outras tantas questes, tais como: o riscode casamentos consangneos, a diviso da espcie humana em raas com base na seqnciado genoma, a interao entre genes, a possibilidade de genes afetarem mltiplos traos aomesmo tempo, a idia de que a evoluo das espcies encontra-se relacionada seleo de

    genes e o debate em torno de das heranas epigenticas. A ausncia de assuntos como estesnos remetem para uma discusso que envolve a questo do poder na seleo e manutenodos contedos no currculo de Cincias. Esta se encontra relacionada no apenas s disputasentre classes sociais pelo controle do que ensinado ou no nas aulas de Cincias (LOPES,1999), mas tambm a documentos que recomendam parte dos conhecimentos cientficos aserem tratados nestas aulas.

    O segundo aspecto diz respeito forma com que os contedos que esto presentes noscaptulos so abordados, ou seja, prpria metodologia adotada pelos autores dos livros aotratarem dos contedos referentes Gentica. Em nossa anlise composicional, pudemosconstatar que os captulos analisados abordam os contedos de forma similar: conceitos,

    mecanismos e processos cientficos so apresentados; em seguida estes so exemplificadosem contextos nos quais eles funcionam; finalmente, os autores confirmam a aprendizagemdo estudante por meio de exerccios que servem como reforo para a apreenso dasinformaes oferecidas ao longo do captulo. Alm disso, os contedos geralmente soapresentados de maneira objetiva excluindo os atores sociais responsveis pela produo doconhecimento cientfico e confundindo as afirmaes da cincia com descries exatas darealidade concreta (MEDEIROS e MEDEIROS, 2001).

    Este formato de apresentao silencia outras formas de abordagens como, porexemplo, aquelas nas quais aspectos da Histria e da Filosofia da Cincia desempenham umpapel central de eixos organizadores do currculo em contraposio quelas abordagens onde

    estes so apenas informao contextual na discusso de contedos cientficos, que soapresentados de forma desarticulada dos seus processos sociais de produo. Da mesmaforma, no se encontra presente, de modo sistemtico, aspectos que contemplem umaabordagem CTS (Cincia-Tecnologia-Sociedade) de educao em cincias em qualquer doslivros analisados; a nica iniciativa que podemos considerar como sendo um enxerto CTSseria a discusso em uma caixa de texto do efeito da radioatividade sobre o material gentico.

    Tal opo encontra-se relacionada s tendncias educacionais e s concepes deensino-aprendizagem de fato adotadas pelos autores dos livros. Estas, muitas vezes, no estoem sintonia com o que est declarado nos Manuais do Professor, especificamente na parte

    destinada aos pressupostos terico-metodolgicos do Ensino de Cincias, como ilustram aspassagens de textos abaixo:

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    Outros importantes aspectos do ensino fundamental de cincias de 5a a 8a srie:[...] apresentar os conceitos e as descobertas cientficas dentro de um contextohistrico, para que o aluno desmistifique a figura do cientista como algum quetudo sabe ou que descobre as coisas como num passe de mgica (Manual doProfessor, C3, p.III).

    Desse modo, o ensino de cincias dever se organizar de forma que o aluno possadesenvolver as seguintes capacidades: [...] relacionar descobertas e inveneshumanas com mudanas sociais, polticas, ambientais e vice-versa; [...] perceber aconstruo histrica do conhecimento cientfico (Manual do Professor, C4, p.II).

    Por isso, esta coleo pretende ajudar o estudante a: [...] compreender que oconhecimento cientfico construdo pela cooperao dos membros de toda umacomunidade de pesquisadores, onde idias so discutidas e criticadas, devendo-serespeitar os indivduos que as formularam, sem preconceitos ou discriminao dequalquer ordem (Manual do Professor, C2, p.8).

    Dessa forma, os discursos dos autores mantm-se atualizados, por meio daincorporao de discusses atuais promovidas por pesquisas em Educao em Cincias.Porm, esta apresentao contrasta com o texto principal que, de forma geral, preservaformatos e contedos tradicionais, entre eles contedos de Gentica clssica.

    4. Consideraes finais

    O presente estudo teve como objetivo analisar o texto de Gentica do livro didtico deCincias com base no referencial da anlise retrica de modo a ressaltar as relaes existentesentre texto, contextos, sujeitos e discursos. Para tanto, a discusso de aspectos relacionados sexigncias e ausncias, assim como autoria e audincia faz-se fundamental para uma melhorcompreenso do livro didtico enquanto texto que materializa o discurso cientfico escolar.

    Nosso estudo constata a heterogeneidade do texto do livro didtico de cincias,observando ainda que seu sentido construdo a partir das relaes que podem serestabelecidas com outros textos. Nossas consideraes sobre exigncias revelam que o livrodidtico se constitui e se relaciona com outros discursos alm do discurso da cincia dereferncia transposta para o contexto escolar. Entre eles, observamos que o discurso dosmeios comunicativos influencia, em ltima instncia, a insero de contedos que possuemforte apelo miditico. O discurso das polticas pedaggicas oficiais tambm um importante

    condicionante da produo desses textos uma vez que tanto os PCN quanto o PNLD mostram-se determinantes na seleo e apresentao dos contedos de Gentica.

    Outras marcas discursivas nos fornecem pistas da pluralidade da audincia desse textorefletindo as imagens dos autores com relao ao uso e a circulao de seus livros. Pudemosobservar a existncia de vrios leitores implcitos, o que demanda um esforo por parte dosautores em atender diferentes expectativas devido s diferentes possibilidades de engajamentoem diferentes sujeitos os quais construiro diferentes sentidos no processo de interao com otexto. Com isso, so ampliados e explicitados aspectos do ensino de Gentica na escolapassando a incluir aspectos relacionados ao contedo cientfico, a aspectos da natureza da

    cincia e aos aspectos da organizao do cotidiano escolar e do trabalho em sala de aula.

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    Da mesma forma que o mundo simblico do texto inclui imagens reais e virtuais deleitores, os autores apresentam-se direta e indiretamente audincia criando a figura de uma

    persona retrica exclusiva desse texto. Esse aspecto que diz respeito autoria revela que aleitura do livro de fato um dilogo entre pessoas e que a leitura est relacionada s diferentescompreenses e interpretaes que os sujeitos assumem na medida que interagem com o textoou, melhor ainda, com outros sujeitos (leitor virtual, autor, etc.) j que as relaes (sociais ehistricas) sempre se do entre homens (ORLANDI, 1993). Portanto, a partir daconsiderao de seu interlocutor que os autores incluem-se em diferentes grupos sociais ou,na maioria das vezes, ausentam-se do texto.

    Outras ausncias podem ser sentidas no texto, principalmente aquelas que dizemrespeito opo por determinados contedos que acabam por excluir outros. Com isso, deixa-se de abordar questes mais atuais da Gentica como, por exemplo, a polmica em torno doconceito de gene o que ressaltaria aspectos da natureza da cincia , alm de discussesacerca da Histria da Gentica de forma contextualizada e no apenas de carter ilustrativo.

    Notamos, ento, que tais ausncias se relacionam a graus de legitimidade ou adeso dedeterminados discursos na sociedade, sobretudo quando se considera sua relevncia para odiscurso cientfico escolar.

    Finalmente, gostaramos que os resultados e as discusses oriundas nesta pesquisa nose encerrassem aqui. Nossa principal idia ao prop-lo era contribuir para o trabalho docenteno sentido de que os professores exercitem um olhar crtico com relao ao livro didtico demodo a perceber a representao de diferentes discursos que certamente condicionam (demaneira intencional) a insero dos contedos e a adoo de determinadas abordagens. Almdisso, perceber as diferentes imagens de autores e estudantes que perpassam o texto e que

    esto na maioria das vezes associadas persuaso do professor responsvel pela escolha dascolees didticas. Esses aspectos contribuem para a reflexo de que o livro um texto queveicula interesses e ideologias e, em ltima instncia, para a desconstruo do uso mecnicodo livro didtico pelo professor em sala de aula.

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    Recebido em: 09.12.2004Aceito em: 09.09.2005