o tao da paz - diane dreher

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Page 1: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Durante os muitos séculos de civilização, toda uma História correu paralela àquela narrada nos livros. Por não pertencer aos sistemas políticos e religiosos estabelecidos, essa História era mantida através de manuscritos e — principalmente — através da tradição orai. Mas ela existia, e seus personagens e heróis eram homens que buscavam respostas para as mesmas questões que os filósofos, cientistas e pensadores procuravam. Só que esta procura era feita de maneira muito pouco ortodoxa, pois envolvia coisas como Fé, Espírito, e processos mágicos. Por causa do seu isolamento, e por causa das respostas que desnorteavam mais que orientavam, essa História passou a ter uma lógica própria, diferente daquela a que estamos acostumados, e foi sendo cada vez menos aceita pela sociedade.Mas essa História persistiu e conseguiu chegar até aos dias de hoje, como se sua mensagem fosse destinada para o homem do final do século XX. De repente todos aqueles processos e descobertas passaram a ser aceitos. O pensamento de nossa civilização, esgotada com seus próprios processos, enfim, faz justiça aqueles homens e mulheres que — caminhando na obscuridade, lutando contra a sociedade estabelecida, enfrentando os preconceitos e a intolerância, aceitando o martírio — não deixaram que todo um processo de conhecimento se perdesse na noite dos tempos.A Série SOMMA, que a Editora Campus agora leva ao público, quer mostrar um pouco dessa História, e alguns dos resultados conseguidos.

Paulo Coelho

o o

TAO

TAO

DA PAZ

DA PAZ

SÉRIE SOMMA

DIANE DREHER

www.therebels.bizwww.therebels.com.br

Page 2: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Para todos os que buscam novos modelos de paze percorrem esse caminho com emoção.

DIANE DREHER

Guia para a pazinterior e exterior

TraduçãoSonia Coutinho

Page 3: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Do original:The Tao of Peace

Copyright© 1990 by Diane DreherPortuguesa translation right with Sandra Dijkstra Literary Agency

© 1991 Editora Campus Ltda.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 5988 de 14/12/73.Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito daeditora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem

os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos,gravação ou quaisquer outros.

CapaOtavio Studart

Copy-deskFlavia Vasconcelos

ComposiçãoDeskSysRevisão

Katia Regina AlvesIsabel Cristina Rodrigues

Marcelo Balbio

Projeto GráficoEditora Campus Ltda.

Qualidade internacional a serviço do autor e do leitor nacional.Rua Barão de Itapagipe, 55 Rio Comprido

Telefone: (021) 293 6443 Telex: (021) 32606 EDCP BRFAX (021) 293 5683

20261 Rio de Janeiro RJ BrasilEndereço Telegráfico: CAMPUSRIO

ISBN 85-7001-677-8(Edição original: ISBN 1-55611-151-7, by Donald I. Fine. Inc, NY,N.Y.,USA)

Ficha CatalográficaCIP-Brasil. Catalogação-na-fonte.

Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

Dreher, DianeD823t O tao da paz: guia para a paz interior e exterior / Diane Dreher;

tradução de Sonia Coutinho. — Rio de Janeiro: Campus, 1991.

(Série Somma)Tradução de: The tao of peace.Bibliografia.ISBN 85-7001-677-8

1. Tao 2. Taoísmo. 3. Paz.I. Título. II. Série.

91-0208 CDD —299.51417873181.09514

CDU —299.513

91 92 93 94 95 5 4 3 2 1

AGRADECIMENTOS

OTao ensina uma visão de vida como processo e este livro,sem dúvida, inclui-se neste caso. Durante os últimos vinteanos, muitos pacifistas partilharam comigo sua sabedoria e

seu exemplo pessoal. Você encontrará seus nomes através de todasestas páginas e nas notas do final. Sou especialmente grata a LinusPauling, Francês Moore Lappé, Norman Cousins, Mitch Saunders,Gertaide Welch e Gay Swenson pelas explicações e entrevistas,durante as etapas iniciais do livro.

Gostaria de agradecer a minha agente, Sandy Dijkstra, e a LaurieFox, da Agência Literária Sandra Dijkstra, por seu equilíbrio taoístade profissionalismo com criatividade e apoio pessoal. Sou grata aBrad Bunnin por sua valiosa consultoria legal e a minha editora, SusanSchwartz, por acompanhar o livro até ficar pronto. Mike Yamashitafez a bela caligrafia e Miranda Gan, Richard Henry Gan, Paul Fong eHenry Chen ofereceram-se para dar indicações sobre os caractereschineses. Gwilym Stover e Genevieve Farrow leram e criticaram osprimeiros esboços do trabalho e Cory Wade emprestou seu ouvidode poeta à versão final.

A todas essas pessoas e a meus amigos e colegas no caminhoda paz sou profundamente agradecida.

Os muitos grupos a favor da paz e do meio ambiente, quecontatei durante o curso de minhas pesquisas, reforçaram minha

Page 4: O Tao Da Paz - Diane Dreher

crença no surgimento do novos modelos de harmonia e cooperação.No espírito da parceria, alguns dos procedimentos para a venda destelivro ajudarão a apoiar o trabalho que está sendo realizado a favor dapaz pessoal e do planeta.

INTRODUÇÃO

Por que os antigos apreciavam o Tao?Porque através dele

Podemos encontrar um mundo de paz,Esquecendo um outro, de ansiedades,

E assim possuir o maior tesouro do mundo.(TAO 62)1

Há séculos, os inquietos vêm encontrando a paz interiorseguindo o Tao Te ching. Mais traduzido do que qualqueroutro livro, com exceção da Bíblia, a obra de Lao Tsé, com

suas cinco mil palavras, tem ajudado as pessoas a viver nestes temposturbulentos, revelando a fonte profunda da paz íntima.

Lao Tsé escreveu o Tao há cerca de vinte e cinco séculos comoum guia para líderes. Na China antiga, a boa liderança significavaviver bem, procurar o equilíbrio pessoal e a integração com os ciclosda natureza. Os ensinamentos de Lao Tsé assumem hoje umaimportância especial, quando procuramos não apenas a paz deespírito, mas também a paz em nosso mundo. Buscando novosmodelos da harmonia em tudo, desde a saúde holística, a psicologiae a física, até a ecologia e a ação social, as pessoas estão redescobrin-do a sabedoria do Tao Te Ching.

A paz, como percebeu Lao Tsé, é uma questão interior. Sóquando encontramos paz dentro de nós mesmos podemos ver commaior clareza, agir com mais eficácia, cooperando com as energiasque existem dentro e fora de nós, na construção de um mundo maispacífico. O Tao ensina que nossas ações têm conseqüências de longoalcance e enfatiza a importância do equilíbrio e da relação íntimaentre nós e nosso meio ambiente. Observando além das mutáveismarés das circunstâncias, reconhecemos os modelos de fluxo e

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refluxo subjacentes à natureza inteira. O Tao ensina paciência,precisão e senso de oportunidade. Distanciando-nos dos problemas,descobrimos soluções. Aprendemos a parar de resistir e a fluir com osmodelos naturais, trazendo maior alegria e harmonia para nossas vidas.

O Tao conduz para fora, promovendo a ação bem-sucedida,isto porque, primeiro, conduz para dentro. Se procurarmos ver o queexiste por trás do ruído e da agitação de nossas vidas, reconhece-remos nossos ritmos interiores, que fazem parte dos abrangentesritmos da natureza. Quando atendemos a esses ritmos, trazemos maispaz para nós mesmos e para nosso mundo.

O título do Tao Te Ching enfatiza a relação vital entre pazinterior e exterior. Ching significa simplesmente livro sagrado. MasTao quer dizer "O caminho", ao mesmo tempo trajetória e princípiode ordem. Tradutores explicaram a palavra como o princípio únicoque fundamenta toda a criação, as leis da natureza, a verdade e a fonteda vida inteira. O caracter chinês que corresponde a Tao* combinauma cabeça, que representa a sabedoria, com o símbolo que repre-senta a caminhada. Uma tradução literal seria mais ou menos a demarcha pelo caminho da sabedoria, combinando teoria e práxis.

A palavra Te significa virtude ou caráter. Seu símbolo chinêscombina os signos correspondentes a "ir", "diretamente" e "coração".Transcendendo o conflito interior, Te significa viver autenticamente,de acordo com nosso verdadeiro caráter. Com a sabedoria do Te,combinamos intuição e compaixão; nossas ações são coerentes comnossos sentimentos mais profundos. O Tao Te Ching é o caminho quesai diretamente do coração.

Lao Tsé escreveu que "a paz é o ponto para onde leva o caminhodo qual ninguém pode desviar- se".² Esta nova discussão do clássicodo Lao Tsé descreve o Tao como o caminho para a paz interior eexterior. Partindo de muitos trechos do Tao Te Ching, o livro apresen-ta as lições do Tao em ordem temática, começando com a paz deespírito, depois estendendo-se para fora, para o mundo a nossa volta.

A primeira parte introduz os princípios taoístas do equilíbriodinâmico, do crescimento cíclico, da unidade e da ação harmoniosa.A segunda parte mostra como a cooperação com esses princípios trazmais paz para nossas vidas. A terceira parte e a quarta descrevem osprincípios que operam na natureza e em todas as nossas relações. Aquinta parte demonstra como podemos usar as lições do Tao paraconstruir um mundo mais pacífico.

* Para diferenciar entre Tao, o título abreviado do Tao Te Ching, e Tao, o conceito,passei a grifar apenas o primeiro a partir deste ponto.

Aparentemente, o livro segue uma progressão linear, relacionandoos princípios taoístas o indivíduo, a natureza e, depois, com a soluçãode problemas e a política. Pois o Tao ensina que a paz surge deindivíduos iluminados. E nos tornamos iluminados ao seguir os modelosda natureza. Transcendendo a organização linear, o Tao Te Chingdescreve a vida como um processo unificado. Um tradutor atual chamousua organização de "holográfica",³ cada capítulo refletindo a grandesabedoria do conjunto. Neste livro, também, cada capítulo faz eco àmensagem principal do Tao: nossa participação numa unidade abran-gente, um processo muito mais amplo do que nós mesmos. Isto constitui,ao mesmo tempo, a jornada e o destino final, a chave para o Tao da Paz.

As lições do Tao são explicadas através de analogias modernase exemplos tirados da vida real, muitos deles de minha própria vidae de meu trabalho. Avaliações e exercícios pessoais ajudarão o leitora aplicar essas lições a sua própria vida.

O Tao é um caminho para a vida inteira, e eu também estouapenas começando. Quanto mais trabalho com seus princípios, maispercebo seu poder de liberar novas fontes de alegria e criatividade,novas soluções para todos nós.

Sugiro que você leia este livro devagar, um capítulo de cada vez,aplicando as lições a sua vida, com a prática dos exercícios pessoais. Dêa si mesmo tempo suficiente para trabalhar com cada um deles.

O Tao é um caminho de meditação e cooperação. Você podequerer trabalhar em alguns dos exercícios junto com um amigo ouamiga, ou membro de sua família, reforçando o que aprende epartilhando o caminho do Tao.

Cada capítulo começa com uma citação do Tao Te Ching, quevocê pode usar como tema para meditação. Como essa mensagem serelaciona com você?

E cada capítulo se encerra com uma afirmação que enfatiza suaunião pessoal com os ensinamentos básicos do Tao. Este pode serum instrumento poderoso para a transformação de sua consciência epara trazer uma paz maior para sua vida. Repita as afirmações em vozalta para si mesmo(a), pela manhã. Ou copie tudo e reveja o queescreveu durante o dia inteiro.

O Tao ensina que a vida inteira é um processo. Nós e nossomundo estamos nos desenvolvendo continuamente. Enquantoseguimos nosso caminho para o futuro, podemos sair do tumulto edo desequilíbrio e restabelecer nossa união com a natureza e com opróximo. O Tao nos oferece novas fontes de poder e inspiração, umavisão da paz para transformar a nós mesmos e ao nosso mundo.

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NOTAS

1. Minha própria versão do Tao Te Ching, Capítulo 62. A não ser que hajaindicações diferentes, todas as citações do Tao no texto são minha versãoe serão citadas por capítulo, para facilitar as comparações com outrastraduções.

2. Lao Tzu: The Way of Life, trad. de R.B. Blakney (Nova York, NewAmerican Library, ©1955), capítulo 8, p. 60. Usado com permissão doeditor.

3. R.L. Wing, introdução do tradutor e The Tao of Power. A Translation ofthe Tao Te Ching by Lao Tzu (Garden City, Nova York: Doubleday, 1986),p. 16.

Ilustração da Parte 1. Te, virtude ou caráter, combinando os caracterescorrespondentes a "ir", "diretamente" e "coração-mente". Uma pessoacom Te vive sábia, e autenticamente, expressando o poder do Tao.

PARTE 1O CAMINHO: ANTES E AGORA 1

Capítulo 1O Início da Jornada 3

Capítulo 2Tao e Te 13

Capítulo 3Princípios do Tao 27

Capítulo 4O Caminho da Transformação 41

PARTE 2O CAMINHO INTERIOR 51

Capítulo 5O Caminho Começa em Sua Própria Porta 53

Capítulo 6Como Enfrentar Seus Medos 63

Capítulo 7Como Eliminar a Tensão 75

SUMÁRIO

Page 7: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Capítulo 8A Busca da simplicidade 87

Capítulo 9A Descoberta de Seu Centro 101

Capítulo 10A Explosão de Suas Dualidades: Yin e Yang 113

Capítulo 11Como Criar uma Alegria Maior na Vida 125

PARTE 3O CAMINHO DA NATUREZA 133

Capítulo 12Harmonia Natural 135

Capítulo 13Ciclos Naturais 149

Capítulo 14A Fórmula Taoísta para Solucionar Problemas 165

Capítulo 15A Importância da Regulagem do Tempo 183

Capítulo 16Como Transcender os Ciclos Hostis 191

Capítulo 17A Liderança com o Tao 203

PARTE 4O CAMINHO DA VIDA 215

Capítulo 18Como Manter a Unidade 217

Capítulo 19O Caminho do Amor 227

Capítulo 20Ação Harmoniosa: Wu Wei 241

PARTE 5O CAMINHO DA PAZ 251

Capítulo 21Resolução de Conflitos 253

Capítulo 22Como Construir a Cooperação 271

Capítulo 23O Tao da Comunidade 287

Capítulo 24A Criação da Política Taoísta 303

Epílogo 319

Page 8: O Tao Da Paz - Diane Dreher

O CAMINHO:ANTES E AGORA

PARTE1

Page 9: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Como você começou sua busca de paz? Comecei a minha como ativismo político, na década de 60. Meus amigos de univer-sidade e eu fizemos manifestações e protestos, trabalhamos em

prol da mudança social. Durante algum tempo, senti que os protestosme davam poder. Quando nos víamos no noticiário da televisão,sentíamos que nossa presença transformava as coisas. Nosso país atéacabou se retirando do Vietnã. Mas, em meados dos anos setenta, amaioria de nós estava exausta e desiludida. Colocando todas asnossas esperanças em alguma causa distante, havíamos ignoradonossas necessidades pessoais. Muitos de nós até se indagavam quemverdadeiramente eram.

Mergulhamos então no movimento em torno das poten-cialidades humanas, buscando alívio em grupos de encontro, banhosquentes, trabalho com o corpo e num colorido desfile de gurus. OMaharishi, Maharaji, Bhagwan e Wemer Erhard, todos eles vendiamum tipo diferente de paz interior. Esquecendo o conflito ao meuredor, eu ia dos grupos de Gestalt para os gurus ou para as terapiasfísicas. Depois de centenas de aulas, seminários e leitura de guias,tornei-me, massagista diplomada, ensinando ioga num centro desaúde holística no norte da Califórnia. Meus amigos e eu tentávamoscom o maior empenho ser pacíficos. Mas faltava alguma coisa. Oconflito permanecia.

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Uma árvore cuja copa você não pode alcançarcresce de uma pequena semente.

Uma construção de mais de nove andares dealtura começa com um punhado de terra.

Uma viagem de mil milhas se inicia com um únicopasso.

(TAO 64)

CAPITULO 1

O INÍCIO DA

JORNADA

Page 10: O Tao Da Paz - Diane Dreher

A maioria das pessoas ainda está em guerra consigo mesma eumas com as outras. Vivemos estes tempos competitivos, de confron-tos e crescentes frustrações, cheios de medo de não sermos "suficien-temente capazes". Em casa e no trabalho, nossas vidas são muitoestressantes. Nossa economia é perturbada, nosso futuro incerto e oíndice de divórcio jamais foi tão elevado. Empenhados numa lutaentre nossos ideais e a sombria necessidade, lutamos com acontradição entre o que somos e o que "deveríamos ser". Vivemos nopaís mais rico do mundo, mas somos cronicamente inseguros edefensivos. Todos os dias, desabam em cima de nós novas crises econflitos, transmitidos pelos programas noticiosos da televisão e dorádio.

Minha procura pessoal de um caminho levou-me ao Tao TeChing, que oferece uma visão simples, porém abrangente, da pazpessoal e do planeta. No Tao, a paz interior e a exterior estãointrinsecamente relacionadas, como estamos relacionados com tudo,em nosso mundo.

Em vez de esperar que o guru ou líder político certo nos tragaa resposta, o Tao nos pede para assumirmos a responsabilidade pornossas vidas, seguindo seu caminho de ação e contemplação. Atravésde uma mudança de atitude, podemos começar agora mesmo aexperimentar uma paz maior. Observando os modelos mais amplos,podemos tomar medidas eficazes, substituindo a competição pelacooperação, harmonizando-nos com os princípios naturais que são abase de toda a existência, desde a mínima célula ao mais vastoorganismo social.

AUTO-AVALIAÇÃO

Vamos começar por identificar todas as áreas possíveis denossas vidas nas quais não estamos em paz. Será que alguma dessasdeclarações nos soa familiar?

Não estou em paz com meu corpo. Ele entra em colapso, ficarígido de tanta tensão, mantém-se acordado de noite, dói, manca,sofre acidentes, apresenta falsos tumores, come em excesso, é loucopor drogas ou álcool, sente-se desajeitado, gordo, magro, velho,fraco, impotente.

Não estou em paz com minha carreira. Está cheia de estresse,tensão desapontamento, problemas, pessoas irritantes, prazosimpossíveis de cumprir. Sinto-me nervoso(a), inseguro(a), zan-

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gado(a), aprisionado(a), oprimido(a), num beco sem saída, teme-roso(a), infeliz.

Não estou em paz nos meus relacionamentos. Sinto-me zan-gado(a), ressentido(a), ciumento(a), temeroso(a), ansioso(a), in-seguro(a), entediado(a), num beco sem saída, limitado(a),manipulado(a), incompreendido(a), incapaz de me comunicarhonestamente com as pessoas de quem gosto.

Não estou em paz com minha família. Sinto-me culpado(a),zangado(a), entediado(a), inquieto(a), exausto(a), num beco semsaída, boicotado(a), manipulado(a), sobrecarregado(a) deobrigações. Não consigo ser eu mesmo(a), quando estou com eles.

Não estou em paz com minhas finanças. Sinto-me pobre,ansioso(a), ressentido(a), limitado(a), esmagado(a) por contas eobrigações. Nunca há o suficiente para fazer o que eu quero. Temonão ter o bastante, ou me sinto culpado(a) pelo que tenho.

Não estou em paz comigo mesmo(a). Sinto-me frustrado(a),culpado(a), confuso(a). Minha vida está cheia de conflitos. Nuncafaço o que quero. Tenho medo de tentar. Adio tudo. Passo a vidaagradecendo aos outros. Nunca realizo nada. Muitas vezes, sinto-medeprimido(a). Minha vida está compulsivamente cheia de trabalho,alimentação, compras, bebida ou drogas. Não sou suficientementecapaz.

Não estou em paz com meu mundo. Sinto-me nervoso(a),ansioso(a), culpado(a), deprimido(a), quando penso no futuro. Te-nho medo de criminosos, fascistas ou comunistas. Tenho pesadeloscom a guerra. Tenho medo do amanhã, porque nos matamos com apoluição. Não há nada que eu possa fazer. Escondo-me por trás docinismo ou da apatia. Sinto-me impotente para mudar meu mundoou minha vida.

COMO SE TORNAR UMA PESSOA TAO

Qualquer que seja o conflito existente em nossas vidas, oprimeiro passo no caminho da paz é mudar nossas atitudes. Segundoo Tao, o que importa não é a situação, mas a maneira como apercebemos.

Uma pessoa Tao é alguém que reconhece os modelos danatureza e trabalha com eles. Seja qual for nossa formação religiosaou origem nacional, nós nos tornamos pessoas Tao quando apren-demos a pensar em termos de totalidade, vendo nosso papel naunidade de vida, respeitando os ciclos naturais dentro e fora de nós.

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Page 11: O Tao Da Paz - Diane Dreher

As pessoas Tao solucionam naturalmente os problemas. En-quanto outras, muitas vezes, temem o conflito e a mudança, umapessoa Tao percebe que o conflito é natural, que a vida cons-tantemente desenvolve-se através de ciclos de mudança. As pessoasnão-Tao percebem o mundo através de um dualismo redutivo, queas leva a se agarrarem ao status quo. As pessoas Tao percebem que avida tem muitas opções. De forma criativa e habilidosa, fluem com amudança, enxergando soluções além dos problemas. Integrados aoTao, promovem uma paz maior em seu mundo.

O USO DO TAO PARA SOLUCIONAR CONFLITOS

Quando não estamos integrados ao Tao, muitas vezes nostornamos defensivos, transformando problemas em jogos de culpa.

Trabalhei durante um ano, durante meu período na univer-sidade, como recepcionista de um consultório médico. Um dia, como escritório cheio de pacientes, havia operários colocando tapetes nassalas de exame.

O telefone tocava sem parar, pacientes entravam e saíam e, derepente, senti um cheiro de fumaça. Os operários, ao saírem para oalmoço, deixaram o ferro quente ligado, queimando as tábuas doassoalho. Corri para a sala, puxei a tomada, coloquei o ferro em pé evoltei para minha escrivaninha.

Então, a agitação começou. O médico sentiu o cheiro de fumaçae começou e gritar com as enfermeiras, que gritavam, por sua vez,com os atendentes do consultório. Fiquei observando seus rostos seavermelharem, as vozes se tomarem estridentes e defensivas. "Dequem foi a culpa?", berravam. "Quem deveria ter ido inspecionar assalas de exame?"

Fiquei pensando, sozinha, que diferença faz saber de quem é aculpa? A questão é solucionar o problema.

O Tao ensina que:

"Pessoas sábias procuram soluções;Os ignorantes só fazem atribuir culpas."

(TAO 79)

Em um grande número de conflitos, tanto interpessoais comointernacionais, as pessoas ficam tão ocupadas, atirando a culpa nosoutros e defendendo seus egos, que se esquecem de solucionar oproblema — às vezes tão simples como puxar uma tomada.

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A RESPIRAÇÃO COM O TAO

Ficamos todos unidos ao Tao, experimentando uma profundasensação de paz, na meditação, na comunhão com a natureza ou comalguém que amamos. Quando foi a última vez em que você teve umaexperiência desse tipo?

Quando nos vemos diante de um conflito, podemos alcançar apaz interior lembrando esse sentimento e nos concentrando em nossarespiração.

• Relaxe, inspire profundamente e diga a si mesmo(a), ao inspirar:"Estou inspirando o Tao." Respire com esse sentido de paz e união.Deixe que isso flua pelo seu corpo.

• Expire qualquer emoção negativa: medo, confusão, insegurança,tudo o que estiver perturbando você.

• Quando se sentir relaxado(a), afirme: "Estou unido(a) ao Tao."• Em seguida, examine o conflito. O que criaria maior harmonia? O

que faria, nessas circunstâncias, uma pessoa Tao?• Visualize a si mesmo(a) como essa pessoa, fazendo tudo o que for

preciso fazer. Consiga uma visão clara do processo e sinta-se empaz com o resultado. Afirme para si mesmo(a), outra vez: "Estouunido(a) ao Tao."

• Agora, aplique sua visão e aja, com base na infinita fonte de pazinterior.

PARA EVITAR O FALSO DILEMA

Há séculos, os taoístas vêem a vida como a síntese criadora deduas forças opostas, o yin e o yang. No Tao, toda a existência é criadapor essa oposição dinâmica:

"A vida inteira corporifica yinE abraça yang,Alcançando sua harmoniaAtravés da união dos dois."

(TAO 42)

Quando reconhecemos esse princípio, evitamos cair no falsodilema, que limita nossas escolhas e uma alternativa em termos deou/ou: certo ou errado, nós ou eles, ganhar ou perder, tudo ou nada.

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Page 12: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Mas, muito freqüentemente, nossa visão se torna estreita emfunção do dualismo tão disseminado na cultura ocidental. Comnossas opções limitadas pelo reducionismo linear, percebemos arealidade como dois pontos opostos numa linha. Incapazes de en-contrar uma síntese, ou de considerar outras alternativas, as pessoasnão-Tao ficam presas na armadilha do falso dilema — ou/ou.

Quando ingressei na universidade, meu namorado me fez umaproposta de casamento que continha o falso dilema. Ele estavapróximo de sua formatura, preocupado com a carreira. "Se você meama", disse, "vai sair da universidade e trabalhar, para eu poder meformar".

Como podia ele me pedir uma coisa dessas, fiquei imaginando.Claro que eu o amava, mas também queria me formar. Será que euprecisava escolher entre o amor e minha vocação?

Discutimos. Amor, disse ele, significava pensar no futuro dele,em nosso futuro juntos. Ele queria ser professor universitário. "Vocêestá sendo egoísta", disse.

Recusei-me a sair da universidade e fiquei zangada com ele porme pedir isso. Como podia desconsiderar meus ideais? Eu queriacontribuir com alguma coisa para o mundo.

Com os corações partidos, consideramos um ao outro muitoegoístas e rompemos. Em nossa imaturidade, fechamos os olhos paraas opções um do outro. Ele podia ter trabalhado durante um ano eeconomizado seu dinheiro. Podíamos ter ido juntos para a univer-sidade, trabalhando meio expediente conseguindo bolsas de estudo.

Aconteceu que ambos terminamos nossos doutorados e nostornamos professores universitários. Algumas vezes, vejo o nomedele no boletim dos graduados. Mas há muito tempo nossas vidastomaram rumos diferentes, porque o falso dilema nos cegou.

EXERCÍCIO PESSOAL

Quando você se descobrir lutando com um doloroso conflitointerno, recue. Não se deixe apanhar pelo falso dilema.

• Olhe além do conflito. Pergunte a si mesmo(a): "O que eu real-mente gostaria de fazer?" Então, pense em todas as maneiraspossíveis de chegar lá.

• Debata o assunto com um amigo, que escreverá todas as suasrespostas sem comentários. Mais tarde, você poderá decidir o quevai funcionar em seu caso.

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• Ou pegue um pedaço de papel e escreva seu objetivo e todas asopções possíveis — por mais chocantes que sejam. Libere-se paraver as infinitas possibilidades diante de você.

• Depois, reveja suas respostas, aceitando algumas possibilidades,descartando outras. Faça um plano de ação.

Sempre que se encontrar diante de um falso dilema, olhe alémdele. Há sempre mais do que duas alternativas. Arranque as vendasimpostas pelo hábito para revelar a sabedoria criadora do Tao.

A FORÇA DO BAMBU

O Tao nos orienta com lições tiradas da natureza. Duranteséculos, os calígrafos chineses pintaram o bambu como exercícioespiritual. O bambu é gracioso, erecto e forte. Vazio por dentro,receptivo e humilde, curva-se com o vento, mas não se quebra.

Flexíveis, habilidosas, abertas e novas possibilidades, as pes-soas do Tao são fortes em qualquer situação. Evitando o orgulho e arigidez, ajustam-se às mudanças da vida, harmonizando a elas seuspróprios padrões de crescimento. As pessoas não-Tao só fazemresistir. O Tao nos diz:

"Ao nascerem, todas as pessoas são brandas e dóceis.Ao morrerem, são duras e rígidas.Todas as plantas novas são macias e flexíveis.Ao morrerem, são quebradiças e secas.Quando estamos duros e rígidos,Associamo-nos com a morte.Quando estamos macios e flexíveis,Afirmamos uma vida maior."

(TAO 76)

A experiência mais arrasadora que muitas pessoas enfrentam éa de serem demitidas ou dispensadas. Uma pessoa não-Tao muitasvezes é destruída, fica incapaz de seguir em frente, superar a vergo-nha e a confusão. Muitas já caíram em séria depressão, chegandomesmo a cometer suicídio.

O homem ou mulher do Tao vê a crise como uma oportunidade.Como o bambu, as pessoas Tao curvam-se e crescem, ajustando-seaos ventos da mudança. Olham para dentro de si mesmas, fazem uminventário de suas vidas e estabelecem novos objetivos.

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Page 13: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Em 1986, dispensaram um grupo de mulheres quando aBendel's, loja de novidades de Nova York, foi comprada por umagrande cadeia. O pessoal da Bendel's sentia orgulho de seu trabalho,de sua reputação de criatividade e habilidade. Algumas pessoashaviam trabalhado ali durante 30 anos e, para elas, a Bendel's tornara-se outra família.

A perda de tudo isso foi um choque profundo, mas dentro depoucos meses, aquelas mulheres começaram novas aventuras. Ascompradoras Joy DaRos e Yelena Dieterichs abriram butiques desucesso, a editora de catálogo, Pat Tennant, tornou-se diretora dosCatálogos Monarch, a diretora de propaganda Jean Rosenberg, abriutrês lojas de design e a presidente da Bendel's, Geraldine Stutz,tornou-se editora e presidente da Panache Press, uma divisão daRandom Mouse. Em vez de sucumbir ao desespero, essas mulheresfizeram uma avaliação de suas vidas, estabeleceram novos objetivose seguiram seus sonhos.

PERGUNTA TAO

Será que a crise em sua vida, na verdade, não é uma chance deavançar mais e concretizar algum sonho não realizado? Fique algumtempo sozinho. Examine-se internamente e saberá.

Existe um velho ditado que afirma: "Quando uma porta sefecha, outra se abre." As pessoas Tao reconhecem essa porta porqueestão abertas a novas possibilidades.

As oportunidades muitas vezes aparecem quando seguimosnossa curiosidade natural. Quando eu era estudante na UCLA, noteique haviam inaugurado um novo restaurante, próximo de onde eumorava. "Restaurante e Casa de Gumbo do Coronel Beuregard, deNova Orleans." Intrigada, atravessei a rua e dei uma espiada lá dentro,pela janela. O proprietário me deu uma olhada e perguntou se euqueria um emprego. Eu não queria, era assistente de pesquisa naUCLA. Mas, para satisfazer minha curiosidade, preenchi sua ficha eprometi que voltaria para experimentar a comida.

Semanas depois, o orçamento da UCLA sofreu um corte e todosos assistentes de pesquisa foram repentinamente demitidos. Minhaamiga Janette e eu estávamos sentadas em meu apartamento, pen-sando no que fazer, quando o telefone tocou. Era o proprietário doCoronel Beuregard's, perguntando quando eu gostaria de começar atrabalhar. Dois dias depois eu era a caixa, adorando um emprego queme dava a renda necessária, um jantar típico cinco noites por semana,

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e uma agradável diversão, para contrabalançar meus estudos. Aten-dendo minha curiosidade, eu aproveitara uma nova oportunidade,exatamente na hora certa.

O Tao nos encoraja a sermos espontâneos, a seguirmos nossasinclinações naturais, a continuarmos a aprender e observar os mode-los mutáveis que existem dentro e em torno de nós. Lembrem-se,nada no universo permanece imutável. Somos almas em desenvol-vimento.

Afirmação

Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa.Vejo os modelos mais amplos que existem dentro de mim e

ao meu redor.Estou aberto(a) para novas descobertas.Afirmo a força do bambu.Sou uma alma em desenvolvimento.Estou unido(a) ao Tao.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Estou em harmonia com a natureza e com todos os demais

em meu mundo.Agora aceito uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTA

1. Algumas das idéias nesta auto-avaliação basearam-se no livro de LouiseL. Hay You Can Heal Your Life (Santa Mônica, Califórnia: Hay House,©1984), PP. 19-20. Usado com permissão do editor. Este livro é uma fonteexcelente para a construção da auto-aceitação.

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Siga o TaoE viva em harmonia.

Cultive o caráter (Te)E desenvolva seu mais elevado potencial.

Te e TaoSão o caminho da vida.

Se abandonar qualquer um dos doisO Tao o abandonará.

(TAO 23)

Ávida é dinâmica. Como um rio, ela flui constantemente, suascorrentes formando novos modelos a partir dos elementos eminteração. Seguir o Tao é fluir como um rio, reconhecer nosso

papel num universo em contínua evolução. Com nossas correntezaspessoais — nossas ações e atitudes — contribuímos para oprocesso mais amplo. Esta é, talvez, a lição mais essencial do Tao: ade que temos o poder de mudar as coisas — em nossas vidas e emnosso mundo.

Existe um antigo ditado metafísico: "O exterior corresponde aointerior". Renovamos nossa vidas externas com a transformação inte-rior, com o desenvolvimento de um Te ou um caráter maisaperfeiçoado.

Em chinês, Te significa poder pessoal, capacidade de ver clara-mente, de agir decisivamente, de estar no lugar certo na hora certa.Os antigos chineses chamavam as sementes de Te, porque elas têmo poder de brotar e gerar vida nova.1

O QUE É UMA PESSOA TAO?

Quando liberamos nossas potencialidades e fluímos com anatureza, tornamo-nos pessoas do Tao. Centralizadas, criadoras edinâmicas, as pessoas do Tao são os homens e mulheres auto-

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CAPÍTULO 2

TAO E TE

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realizadores estudados pelo psicólogo Abraham Maslow. Como mon-ges e místicos, escutam a voz interior e seguem o chamado de suasalmas,2 demonstrando que elevações o espírito humano podealcançar.

As pessoas do Tao são flexíveis, espontâneas e otimistas. Têmum ativo senso de humor, um profundo amor pela vida. Sustentadaspor sua fé em algo mais amplo do que elas mesmas, vão longe notrabalho criador e em serviços humanitários.

Tornamo-nos homens e mulheres do Tao quando ousamosviver autenticamente e preencher nosso potencial maior. Comofazemos isso? Com o desenvolvimento do Te.

TE SIGNIFICA VISÃO CIARA

As pessoas Tao enxergam a si mesmas e ao seu mundo comclareza e sem ilusões. Te quer dizer buscar a verdade em todas asexperiências, reconhecendo os modelos da natureza e os nossospróprios. A busca da verdade nos libera da pretensão:

"Aqueles que sabem que não sabemGanham sabedoria.Aqueles que fingem saberContinuam, ignorantes.

Aqueles que reconhecem sua fraquezaTornam-se fortes.Aqueles que ostentam seu poderIrão perdê-lo.

Sabedoria e poder,Acima de tudo, são guiados pela verdade.Porque a verdade é o caminho do Tao."

(TAO 71)

Muitas pessoas acham sinal de fraqueza admitir que não sabemalguma coisa. O Tao diz que é sinal de força, uma oportunidade paraaprendei".

Quando Al estudava na Rutgers, os outros universitários es-tavam sempre perguntando se ele tinha lido este ou aquele livroerudito. Na hora do almoço, durante o café, começavam as perguntasconstrangedoras: "Já viu o novo livro de Stanley Fish? O que você

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acha da teoria dos gêneros de Northrop Frey? Já viu o novo livro sobredesconstrução?"

Com o rosto vermelho de vergonha, Al ficava ali sentado, numsilêncio constrangido, olhando fixamente sua xícara de café. Nãoapenas não lera os livros, mas também os autores eram completa-mente desconhecidos por ele.

Criado como garoto de fazenda, em Iowa, Al era o único dafamília que tinha entrado para a universidade. Tirara notas decentes,sim, e freqüentara a Escola Estadual de Iowa, onde conseguira umabolsa para estudar na Rutgers. Mas, com seus jeans desbotados,camisas quadriculadas e conhecimento limitado, ele ainda tinha umcheirinho de fazenda.

Seus colegas pareciam muito mais sofisticados. Usavam paletósde tweed, liam o Times Literary Supplement e discutiam os críticoscomo se fossem seus amigos íntimos.

Numa outra vez em que lhe fizeram essas perguntas, Al saiucaminhando sozinho, a refletir sobre o problema. Não estudarafilosofia oriental, mas sua proximidade com a natureza dera-lhe ahonestidade fundamental do Te.

Te significa preferir a verdade ao próprio ego. Al percebeu queas perguntas eram um teste de verdade. Poderia mentir para protegerseu ego, ou aceitar cada pergunta como uma oportunidade paraaprender.

Al escolheu a verdade. Já sem constrangimento, respondia:"Não, eu não li esse livro. Será que você podia me explicar maisalguma coisa a respeito dele? "E, então, decidia se iria estudá-lo porconta própria.

Quando se formou, Al começou a ensinar Inglês na univer-sidade. Suas melhores qualidades continuam sendo sua honestidade,seu entusiasmo e sua capacidade de aprender. Seu exemplo encorajaoutros e, com isso, ele se transformou num professor destacado.

EXERCÍCIO PESSOAL

Da próxima vez em que se deparar com uma área de ignorânciaem sua vida, pense no que acontecerá se admitir que não sabe e pedirmais informações. A honestidade não apenas nos dá a oportunidadede aprender, mas também afasta a tensão do egoísmo defensivo,impede o conflito interior e nos traz a paz de espírito.

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Lembre-se "Aqueles que sabem que não sabem ganhamsabedoria". Os homens e mulheres do Tao buscam a verdade, acimade qualquer outra coisa. Não têm tempo para fingimento.

TE SIGNIFICA AUTO-ACEITAÇÃO

As pessoas Tao aceitam-se como são. Não desperdiçam suaenergia com autocríticas.

Na natureza, tudo é valioso, tudo tem seu lugar. Apenas os sereshumanos sofrem de auto-estima baixa. Uma rosa, uma margarida,uma andorinha, um esquilo — tudo manifesta suas potencialidadesde maneira diferente, porém bela. Cada forma tem sua própriaexpressão, cada flor seu perfume, cada pássaro sua canção.

Martha trabalha até a exaustão porque não aprendeu a seaceitar. Morena atraente, ela começou recentemente sua carreira desocióloga, tendo feito o doutorado depois que os filhos cresceram.

Implacavelmente autocrítica, Martha passa o dia inteiro en-contrando-se com clientes, alunos e colegas, enquanto consomegarrafões de Coca-Cola para se manter alerta. Depois, trabalha atétarde da noite, preparando relatórios, lendo ensaios, escrevendopalestras e artigos sobre temas de sua área.

A agenda de Martha é sobrecarregada de compromissos. Elararamente vê a família e há anos não tira férias. Quando tem algunsdias de folga, cai de cansada. Dormiu durante todo o feriado do Diade Ação de Graças, sob o efeito de medicamentos, e passou a maiorparte do Natal de cama, com dor nas costas.

Qualquer colega de Martha dirá que seus cursos são excelentes,seu trabalho de primeira linha, mas ela vive com constante medo dascríticas, esquecendo-se muitas vezes de suas próprias capacidades.Embora preferisse trabalhar com pessoas, ofereceu-se para fazer umacomplexa análise estatística, porque parecia mais profissional. Agora,está presa a um trabalho que detesta.

A compulsividade de Martha a impede, na verdade, de alcançaro sucesso que busca. Ela não só assume projetos que não lhe convém,mas também reduz sua criatividade, sobrecarregando-se decompromissos.

Caso se aceitasse mais, Martha poderia ser mais saudável e termais sucesso. Como pessoa Tao, ela respeitaria seus própriosmodelos permitindo que seus verdadeiros talentos se expressassem.

Submeter-se a provas compulsivas só faz atravancar a vida dapessoa. Com a auto-aceitação, vem a paz.

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"A pessoa Tao conhece a si mesmaE não faz nenhuma exibição,Aceita a si mesmaE não é arrogante."

(TAO 72)

A auto-aceitação traz humildade. A palavra chinesa para humil-dade, hsu, também significa vazio ou abertura. As pessoas Tao seexpressam abertamente, sem fingimento ou pose. Como são con-centradas, nem as críticas nem a lisonja as perturba. O julgamento dosoutros não nos preocupa, quando sabemos quem somos.

PERGUNTA TAO

Muitas vezes, sentimo-nos inferiores porque nos ajustamos aalgum estereótipo. Te significa sermos mais nós próprios, e não umaimitação de alguma pessoa.

Indague a si mesmo: o que me toma diferente das outraspessoas que conheço? Qual é minha contribuição especial para estavida?

• Você é mais feliz dando uma tranqüila caminhada, sozinho(a), oujuntando-se a um grupo barulhento?

• Você é uma pessoa que gosta de gente ou é mais contemplativo(a)?• Expressa-se com lápis, tintas ou linhas coloridas?• É uma pessoa prática, orgulhosa dos consertos que fez em casa e

de seus projetos de construção?• É músico(a)? Matemático(a)? Bom (boa) nos números e nas

finanças?

Cada um de nós tem algum talento, que nos torna únicos. Qualé o seu? Identifique e alimente essa sua parte, realizando hoje umaatividade especial.

TE SIGNIFICA DISTANCIAMENTO

As pessoas Tao são distanciadas e não gostam de julgar osoutros. Agem com clareza e precisão, porque não perdem tempocriticando o próximo.

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"A pessoa Tao, distanciada e sábia,Abraça tudo como Tao."

(TAO 49)

Minha amiga Genevieve Farrow é superiora de uma ordemreligiosa e conselheira metafísica. Gen tem mais de 70 anos, masparece muito mais jovem. Anos de leituras religiosas e meditaçãotrouxeram-lhe serenidade e distanciamento.

Ela cresceu na área rural de Minnesota, onde seus antepassadossuecos estabeleceram-se no século passado. Aos doze anos, quandoseu pai morreu e sua mãe sofria de uma doença cardíaca, Gen passoua cuidar da casa. A doença e a pobreza fizeram com que se voltassepara as questões espirituais. Aprendeu a se distanciar, a ver a si mesmacomo parte de uma totalidade mais ampla.

Distanciamento não significa dar as costas ao mundo. Pelocontrário. Significa transcender o ego, interessar-se pelas coisas, masnão se deixar apanhar pela agitação cotidiana. Observando opanorama mutável da vida com paciência, aceitação e bom humor,Gen jamais critica os outros. Aceita-os como são, dizendo, simples-mente: "Estamos todos aqui para aprender".

Muitas vezes, seu amoroso distanciamento proporciona exata-mente o apoio de que as pessoas precisam para serem capazes decuidar de suas vidas.

Certo dia de outono, Gen caminhava pela rua, quando um rapazmaltrapilho pediu-lhe um cigarro. Enquanto outras pessoas teriamsimplesmente passado adiante, Gen parou e respondeu: "Não, nuncaaprendi a fumar". Depois olhou-o atentamente, com seus olhos azuischeios de compaixão.

Com a barba por fazer, sujo, sem dúvida ele vivia na ma já háalgum tempo. Estava encurvado, e seu poncho verde surrado nãodava para protegê-lo do frio. Nos pés, usava sapatos tipo clássico,marrons, sem cordões nem meias. Mas era jovem e forte.

— Por que você não arranja um emprego e compra seuspróprios cigarros? — perguntou ela.

Ele tornou a olhá-la, surpreso por alguém lhe dirigir a palavra,e depois começou a contar sua história.

— Bem, é que eu fiquei deprimido porque minha namoradame abandonou e, desde então, estava vagando sem rumo.

Sua voz foi ficando mais fraca. Olhando para Gen, sentiu umclique na cabeça.

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— Minha mãe mora perto daqui — disse. — Mas não queroincomodá-la.

— Nenhuma mãe é incomodada pelo próprio filho — disse Gen.O rapaz fez um sinal afirmativo com a cabeça. Talvez ela tivesse

razão.— Eu podia conseguir um emprego. Trabalhei como pintor de

paredes — disse ele e, devagar, afastou-se.Parou, voltou-se e perguntou:— Quem é a senhora?— Meu nome é Gen Farrow — respondeu ela.— Meu nome é Victor — disse ele. Fez uma pausa por um

momento, depois abraçou-a, repentinamente. — A senhora émaravilhosa — disse. — Muitíssimo obrigado. Acho que vou paraa casa de minha mãe tomar um banho.

Depois, saiu caminhando, com o corpo mais erecto e uma novadeterminação em sua maneira de andar.

Gen dera-lhe apenas alguns poucos momentos de atenção. Semmedo, sem culpa, sua preocupação e respeito por aquele rapazperdido despertava nele algo profundo.3

Te é essa mistura de compaixão e distanciamento. Damos apoioemocional, mas respeitamos os direitos que os outros têm de en-contrar seu próprio caminho. Nosso distanciamento livra-nos domedo, capacitando-nos a participar da grande harmonia.

TE SIGNIFICA FAZER, EM VEZ DE APENAS TENTAR

Lao-Tsé nos ensina:

"As pessoas Tao jamais tentam. Fazem."

(TAO 48)4

As pessoas Tao jamais tentam. Não perdem tempo preocupan-do-se ou se esforçando. Elas ousam, assumem riscos. Vivem comcompromissos. O terapeuta familiar Tom Suzuki ensina a seus clien-tes o caminho do Tao. Numa sessão de aconselhamento de grupo,uma mulher prometeu-lhe que tentaria comunicar-se de forma maishonesta com seu filho.

— Tentar? — disse Suzuki, com uma voz baixa, rouca.Ele fez uma pausa, ergueu-se de sua cadeira e ficou em pé

imóvel, diante de nós, com sua constituição compacta repentina-

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mente cheia de poder. Parecia, de alguma forma, séculos mais velho,venerável, inescrutável, um mestre do Tao.

Caminhando vagarosamente até o centro da sala, deixou cairsua caneta no chão. Abaixou-se repetidas vezes, tentando pegá-la.

— Estou tentando, estou tentando — disse. Mas a canetacontinuava no chão.

Depois, endireitou-se e disse, secamente:— Não tente. Faça — e agarrou a caneta.A lição era clara: tentar é apenas um esforço pela metade. O

esforço sem a intenção não pode ter sucesso.— As pessoas Tao jamais tentam. Fazem.As pessoas não-Tao contêm-se, não se esforçam plenamente,

porque têm medo da mudança, medo de cometer erros.As pessoas Tao se arriscam. Aprendem fazendo. Te significa

viver com compromissos, percebendo que a vida é contínuamudança, que até os fracassos nos levam para mais perto da verdade.

No século passado, Henry David Thoreau mudou-se para umapequena cabana, junto ao lago Walden, e explicou: "Fui para afloresta porque queria viver com vagar, ficar apenas diante dos fatosessenciais da vida, ver se podia aprender o que ela me ensinava, paranão descobrir, quando fosse morrer, que eu não vivera.

Te significa ousar viver com vagar. As pessoas Tao não têmtempo nenhum para tentativas a contragosto.

PERGUNTA TAO

Existe alguma área de sua vida na qual você anda se refreando,"tentando", em vez de fazer?

• Caso afirmativo, pergunte a si mesmo o que aconteceria se você,realmente, se comprometesse.

• Você teve medo do fracasso... ou do sucesso?• O que aconteceria, se você falhasse?• Que mudanças o sucesso traria para sua vida?• Pergunte a si mesmo se quer, realmente, continuar com essa

atividade até o fim.• Se assim for, pare de tentar. Faça.

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TE SIGNIFICA PENSAR COM INDEPENDÊNCIA

Te significa viver com a coragem de nossas convicções,transcendendo as normas sociais. As pessoas Tao não têm medo depensar por si mesmas.

Na antiga China, havia dois grandes mestres, Lao-Tsé eConfúcio. Confúcio era a favor de complicados rituais de etiquetasdever social. Ensinou a piedade filial, a reverência diante dos an-cestrais e regras convencionais para os negócios, a política e osrelacionamentos.

Lao Tsé era contrário a regras rígidas e cortesia forçada, defen-dendo, em vez disso, o caminho do coração. Seguir o Tao significaviver compassivamente, intuitivamente, fluindo com o momentopresente. O caminho de Confúcio modela as pessoas segundo asconvenções sociais; o caminho de Lao Tsé nos libera para sermosmais autenticamente nós mesmos.

Uma velha história conta que, certa vez, Confúcio visitou LaoTsé e ficou confuso quanto à fonte de seu poder. Não era racionalnem previsível. Confúcio entendia o poder nas asas dos pássaros, nasbarbatanas dos peixes, nas pernas dos animais, que podem servencidos com setas, redes e armadilhas. Mas, disse ele, "Quem sabecomo os dragões transpõem o vento e as nuvens, e chegam até o céu?Hoje, vi Lao Tsé, e ele é um dragão."6

Te é o caminho do dragão, no qual se deixam para trás velhascrenças, convenções e preconceitos.

Atualmente, o caminho de Confúcio é forte. Pressões de todosos lados empurram-nos para que nos acomodemos; para queagrademos a nossos pais, família e amigos; ou para que capitule-mos diante de alguma instituição. Te significa jamais nos perder-mos num grupo, num emprego, num relacionamento. Fazer isso éperder o Tao.

OS MEIOS PARA EXPANDIR NOSSO EU

As pessoas Tao não se subordinam a um grupo ou instituição.Expandem-se para fora, a fim de abranger a vida inteira. Transcen-dendo o ego, experimentam um parentesco espiritual com a vidainteira deste planeta. Lamentam quando alguém é prejudicado,alegram-se com o bem dos outros. Realizam sem maior esforçotrabalho humanitário.

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"Através da dedicação,Realizam-se plenamente."

(TAO 7)

Alguns empenham suas vidas na prestação de bons serviços,como fez Albert Schweitzer em sua clínica em Lambaréné. Outroscoordenam serviços através de suas atividades profissionais. Nor-man Cousins, editor da Saturday Review, conseguiu cirurgiasplásticas para as jovens japonesas feridas na explosão atômica emHiroxima. Trabalhando junto a centenas de leitores interessados,levou as jovens de Hiroxima para a América, conseguindo alojamen-to, adoções e financiamentos.

Hoje, essas mulheres levam vidas normais e produtivas. Depoisda cirurgia, receberam tratamento de reabilitação e treinamento einiciaram novas carreiras. Na maioria, casaram-se e têm filhos. Semas operações, seriam párias pelo resto da vida. Durante o tratamento,fizeram amizade com muitos americanos, outrora seus inimigos. Ochoque que um homem teve com a tragédia de Hiroxima ajudou aaliviar um pouco a discórdia entre nossas nações.

TE SIGNIFICA FÉ NA VIDA

As pessoas Tao têm uma reverência pela vida, uma fé noprocesso mais amplo. Esta fé as sustenta, afirmando o poder de suasações.

Se Norman Cousins não tivesse fé durante o projeto deHiroxima, as jovens não teriam tido a chance de uma vida melhor. SeAlbert Schweitzer duvidasse de si mesmo, teria permanecido nasegurança de seu lar na Alsácia, sem jamais se aventurar pela Áfricapara cumprir seu destino.

Sustentadas por sua fé, as pessoas Tao não temem a mudança,tampouco se rendem à adversidade. Os complexos problemas denosso tempo induzem-nos ao pessimismo, mas o pessimismo traz aparalisia moral. Portanto, não nos serve. Norman Cousins disse, certavez: "O pessimismo é uma perda de tempo". Temos de acreditar quesomos capazes de mudar as coisas. Agindo com essa crença, tornamo-nos pessoas do Tao.

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TE SIGNIFICA VIVER AQUI E AGORA

As pessoas Tao não se assustam com fantasmas do passado ouespectros do futuro. Aceitam a dádiva de cada dia e aproveitam-nada melhor forma possível.

"A pessoa TaoVive plenamente a cada momento."

(TAO 14)

Nossa plena atenção é o ponto de poder do taoísta. Quandoestamos inteiramente presentes, geramos uma tremenda energia.Porém, como é raro dar nossa inteira atenção a qualquer coisa! Amaioria das pessoas passa seus dias em monólogos interiores cheiosde preocupações, faz planos para o futuro, entrega-se à autocrítica.Mesmo enquanto escutamos o que os outros dizem, estamos ensaian-do nossas respostas, recuando mentalmente para o passado ou nospreocupando com o dia de amanhã.

EXERCÍCIO PESSOAL

Podemos desenvolver o Te praticando uma maior presença.Tenha como objetivo, hoje, dar plena atenção a alguma coisa durantepelo menos meia hora, seja um contato com um amigo, uma cami-nhada ou a execução de alguma tarefa doméstica.

• Quando estiver com um amigo, ouça realmente. Ligue-se naspalavras da outra pessoa, em sua linguagem corporal, no tom desua voz. Esteja presente para captar as energias que fluem entrevocês.

• Se estiver caminhando, olhe as árvores, o céu, as casas ao seu redor.Repare nas cores, nas texturas, no perfume das árvores e das folhas.E as pessoas que você vê? Os olhares de vocês se encontram? Quesons você ouve? Às vezes, uma simples caminhada pode ser tãopoderosa quanto uma prece.

• Se estiver em casa, aja com mais calma. Enquanto estiver fazen-do a limpeza, observe os desenhos da vida na velha mobília decarvalho, a beleza de um piso de madeira-de-lei. Enquantoestiver fazendo uma salada, reconheça os desenhos da cadaverdura. Como pequenos sóis, as cenouras têm raios que partem

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de seu centro. Os tomates vermelhos e os pimentões verdes estãocheios de sementes de vida.

Quando você está plenamente presente, plenamente alerta,pode aproveitar ao máximo cada momento. O Tao é aqui e agora.

TE SIGNIFICA ABRAÇAR ALEGREMENTE A VIDA

As pessoas Tao têm mais energia porque saúdam a vida comentusiasmo. As emoções positivas — amor, alegria, humor—nos dãoenergia e ativam nossos sistemas de imunidade. A depressão apenasnos esvazia.

Muitas pessoas escondem-se por trás da autodefesa, com medode amar, de estender os braços para abraçar a vida. Porém, o trabalhode Gerald Jampolsky com doentes crônicos do Centro de Cura atravésdas Atitudes mostrou que o amor elimina a dor e, muitas vezes, operamilagres.

Jampolsky conta o caso de uma jovem chamada Colleen, queera cega do ponto de vista legal, pois sofria desde o nascimento defibroplasia retrolental, um tipo de cegueira doloroso e progressivo.Infeliz e ressentida, ela ingressou num grupo de cura através de novasatitudes, no Centro.

Lá, aprendeu a liberar seu ressentimento e crenças limitativas,passando a expressar mais amor pelo próximo. A dor acabou, àmedida que ela passou a se sentir mais em paz consigo mesma e comseu mundo. Depois, lenta, miraculosamente, sua visão voltou. Seuoculista diz que jamais viu tal recuperação em ninguém com essaenfermidade.

Colleen agora tem uma nova vida, cheia de felicidade. Traba-lhando na área da saúde holística, ela ajuda outros a perceberem opoder curativo do amor.

O TAO DO RISO

Já nos tempos de Aristóteles, as pessoas no mundo ocidentalperceberam que o riso libera a tensão. Pode até curar doenças"incuráveis", como demonstrou Norman Cousins, em Anatomy of anIllness (Anatomia de uma doença). Muitos sabem como ela ativou asenergias curadoras de seu corpo, assistindo a comédias antigas no

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hospital, tomando vitamina C, comendo alimentos saudáveis e afir-mando emoções positivas.

Seu exemplo deu esperança a milhões de pessoas e ele trocouo mundo das edições pela profissão médica. Agora, é professor naescola de medicina de UCLA, onde partilha seu bom humor e abor-dagem positiva com alunos, pacientes e colegas.

Como Norman Cousins, as pessoas Tao conservam seu sensode humor mesmo quando estão comprometidas com questões dejustiça social. Será que isso é uma contradição? Não, é o caminho doTao. As pessoas Tao jamais se angustiam com problemas, massaúdam a vida com coragem, alegria e bom humor. O riso traz maisdistanciamento ajuda-nos a ver as ironias da vida e a reconhecer atotalidade que nos ultrapassa.

Para as pessoas não-Tao, a vida é uma luta constante, porqueelas se levam demasiado a sério. As pessoas Tao podem rir de simesmas. O Tao em si puxa a risada, porque desafia as convenções.Como nos diz Lao Tsé:

"Quando uma pessoa convencional ouve falar do Tao,Explode em sonoras gargalhadas.Se não houvesse gargalhadas,Não seria o Tao."

(TAO 41)

PERGUNTA TAO

Há quanto tempo você ri mesmo de alguma coisa? Hoje, exa-mine as pequenas ironias da vida e se divirta com elas. Comece a viverde forma mais espontânea. Faça alguma coisa apenas por divertimen-to. Veja um filme engraçado, tire uma folga para se divertir. E lembre-se de partilhar sua alegria com os outros. Entregue-se ao entusiasmo,aos cumprimentos, às surpresas. Dê a todos um impulso de energia,sendo mais entusiasta você mesmo(a).

Afirmação

Sei agora que minha vida é pacífica e harmoniosa.Manifesto um maior Te em minha vida.Vivo com alegria e empenho.Aceito a mim mesmo(a) e aos outros.

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Expresso a mim mesmo(a) franca e honestamente.Entrego-me ao serviço humanitário.Não tento; faço.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. R.L. Wing, The Tao of Power: A Translation of the Tao Te Ching by LaoTzu (Garden City, Nova York: Doubleday, 1986), p. 9.

2. Em Ordinaty Peopleas Monks and Mystics (Mahwah, Nova Jersey PaulistPress, 1986), Marsha Sinetar descreve homens e mulheres modernos queescolheram vidas de contemplação, simplicidade e serviço comparan-

do-os com os tradicionais monges e místicos.3. Uma versão anterior dessa história apareceu em "A Strange Encounter", de

Genevieve Farrow, em Science of Mind Magazine, maio de 1989, pp. 3-5.Usado com permissão da autora e do editor.Assinaturas: 15 dólares por ano (12 exemplares), com Science of MindPublications, 3251 W. 6th St., P.O. Box 75127, Los Angeles CA 90075.

4. Minha versão inspirou-se em parte na tradução de R.B. Blakney, em LaoTzu: The Way of Life (Nova York: New American Library, ©1955), p. 101:"But when you try and try, /The world is then beyond de winning." ["Mas,quando você tenta e torna a tentar, / O mundo fica, então, além davitória."] Usado com permissão do editor.

5. Henry David Thoreau, The Variorum Walden. Ed. Walter Harding (NovaYork: Waslhington Square, 1962), p. 67.

6. Witter Bynner, introdução do tradutor, The Way of Life According to LaoTzu (Nova York: Putnam, 1944; reeditado em 1972), pp. 12-13.

7. Norman Cousins, Human Options (South Yarmouth, Massachusetts:john Curley and Associates, 1981), p. 66

8. Gerald G. Jampolsky, M.D., Teach Only Love: The Seven Principies ofAttitudinalHealing (Nova York: Bantam, ©1983), pp. 56-59. Usado compermissão do editor.

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A maior sabedoriaÉ seguir o Tao.

O Tao é misterioso, insondável,Porém dentro dele está tudo aquilo que vive;

Insondável, misterioso,Porém dentro dele está a essência;

Nebuloso, intangível,Porém dentro dele estão os princípios vitais,

Princípios da verdadeQue guiam toda a criação,

As lições da vidaInerentes ao Tao.

(TAO 21)

Quando reconhecemos a maneira de ser da vida e fluímos comele, tornamo-nos pessoas Tao. Porém, muitas vezes, essamaneira de ser não é o que esperamos. O Tao nos diz que:

"O caminho para a luz maior atravessa a escuridão.Seguir em frente dá a impressão de recuar.O caminho plano parece acidentado e escarpado,O poder maior, um vale de fácil acesso."

(TAO 41)

Nem tudo é o que parece. No início o Tao dá a impressão derenúncia. Para encontrar a paz, temos de abandonar nossos objetivose valores? Na verdade, não. O Tao não nos pede para negar o quesomos, mas sim para viver de forma mais criativa. O que parecerendição, na verdade, produz um maior sucesso na vida.

As pessoas Tao têm sucesso porque estão em paz consigomesmas. Livres do conflito interior, têm mais energia do que asoutras. Nós também podemos alcançar isso, aceitando o mistériodo Tao e vivendo de acordo com seus quatro grandes princípios,

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PRINCÍPIOS DO TAO

CAPÍTULO 3

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a saber, a unidade, o equilíbrio dinâmico, o crescimento cíclico ea ação harmoniosa.

A ACEITAÇÃO DO MISTÉRIO

Seguir o Tao requer uma mudança fundamental na forma comoenfrentamos a vida. Devemos parar de analisar, parar de tentarentender racionalmente o Tao.

Como nos diz Lao Tsé:

"O Tao que foi catalogado não é o Caminho eterno.Uma palavra que podemos definir não é a Palavra eterna.Wu, a eternidade, existia antes do céu e da terra.Nós a conhecemos como yu, a fonte de dez mil coisas."

(TAO 1)

O Tao não pode ser reduzido a nomes e fórmulas. É wu ming,sem um nome, porque é a fonte de toda a existência. Em seu infinitopotencial criativo, o Tao é wu, eterno não-ser. Em sua existênciacriada, é yu, eterno ser. Mudando e se desenvolvendo eternamente,não é um nem outro: sempre ambos.

Como o Tao, não podemos ser reduzidos a categorias. Cada umde nós existe em nosso atual estado de vida e em nosso potencialinfinito. Somos tanto o que somos quanto o que poderíamos ser. Nistoestá contida a força do wu: nossa ilimitada capacidade para o cres-cimento e a mudança. Saber que, a qualquer momento, podemoscomeçar um novo ciclo de criação, podemos recorrer ao poder dowu em nossas vidas.

Frank cresceu durante a década de 20 numa pequena fazendado Kentucky. Filho único, ele era calado e sério, um garoto magricelae louro, com um sorriso ansioso. Seus pais eram filhos de imigrantesalemães; o pai era jardineiro, a mãe, uma católica praticante quefalava de santos e ia à igreja duas vezes por dia. Os tempos eramdifíceis, eles tinham pouco dinheiro e o jantar era, geralmente, café,kraut e batatas.

Filho da Depressão, com dois serviços de entrega de jornais euma porção de biscates, Frank tinha pouco tempo para brincar. Umavez, economizou seu dinheiro para comprar uma luva de beisebol,mas sua mãe lhe disse que aquilo era tolice e fez com que adevolvesse. Aos 14 anos, planejaram sua vida. Deveria trabalhar

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enquanto cursasse a universidade católica e ordenar-se padre,como sua mãe desejava.

Nas longas tardes na escola, ela tentava concentrar-se, mas foificando cada vez mais inquieto. Olhando pela janela, ansiava poralguma coisa que não fosse a pequena sala de aula, as normas rígidas.Remexia-se na cadeira, com cãibras nas pernas, por causa das longashoras que passava à escrivaninha de madeira e ferro forjado. Obser-vando-o, com seu longo traje negro, a freira o repreendia e ele ficavaimaginando: "Será que devanear é mesmo um pecado?"

Certo dia, enquanto trabalhava no campo, Frank viu um pe-queno avião voando lá no alto. Elevando-se acima das copas dasárvores, livre e desimpedido, o avião parecia acenar, enquanto viravaas asas e descia em círculos.

Frank deixou cair sua pá e começou a correr. Ouvira dizer queos pilotos davam aos garotos uma moeda de 25 centavos para cuidardo avião. Uma moeda de 25 centavos era muito dinheiro durante aDepressão. Mas ele não estava pensando em centavos enquantocorria pela poeirenta estrada rural. Não estava realmente pensandoem nada.

Sem fôlego, chegou à pequena pista de pouso, a cerca de quatroquilômetros de distância. O biplano amarelo vivo acabara de pousar.Com o motor ainda rugindo, seu aspecto era tudo aquilo que faltavaa Frank. Poderoso e livre, podia cavalgar o vento, elevando-se bemalto, acima das casas estreitas com vigamento de madeira e do soloescuro do Kentucky.

Frank estava frente a frente com wu. O potencial ilimitado quehavia guardado dentro dele. Sentiu que tinha de voar.

É claro que seus pais não entenderam. Seu pai estava satisfeitoem trabalhar a terra, e a visão que sua mãe tinha do céu era bemdiferente.

"Que maluquice é essa de máquinas voadoras?", perguntou ela."Se Deus quisesse que os homens voassem, teria dado asas a eles".

A discussão continuou. Mas Frank continuou indo ao aeroportopara lavar os aviões e abastecê-los, qualquer coisa que lhe permitissefazer pequenos vôos. Elevando-se acima da terra, no grande desco-nhecido, descobriu um mundo de possibilidades.

Quando a discórdia em casa tornou-se insuportável, ele semudou para o sótão do Serviço de Vôo de Louisville, onde foi adotadopor atores ambulantes e pilotos da Primeira Guerra Mundial.

Os dias eram longos. Ele ainda tinha suas entregas de jornais,em seguida a escola, depois a volta para o aeroporto, a fim de fazer

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serviços extras e aprender o máximo que pudesse. Depois do pôr-de-sol, comia sua principal refeição do dia — uma tigela de sopa defeijão, com o maior número de bolachas grátis que conseguia arranjarna lanchonete do aeroporto, enquanto conversava com os pilotos.Com 16 anos, conseguiu seu brevê de piloto e apareceu numa matériado Louisville Courier-Journalovi, que o destacava como o mais jovempiloto do Kentucky.

Frank tornou-se instrutor de vôo e coronel da Força Aérea,pilotando tudo, de biplanos a hidroplanos, jatos e helicópteros desocorro, e deu a volta ao mundo várias vezes. Aos 72 anos, continuainstrutor de vôo ativo, ainda cavalgando os ventos e mostrando ocaminho a outros. Admiro-o por seu espírito livre e generoso, e sintoorgulho por ele ser meu pai.

A vida de Frank Dreher demonstra que não precisamos ficarlimitados ao que existe ou já existiu. Descobrindo o poder do wu,recorrendo a nosso potencial ilimitado, também podemos cavalgaros ventos de possibilidade maiores.

EXERCÍCIO PESSOAL

• Existe uma área de wu em sua vida que lhe acena, desafiando-o ase empenhar e desenvolver-se mais?

• Para que direção conduz? Feche os olhos e visualize o que seriaseguir esse caminho. Você fica entusiasmado com a perspectiva?

• Caso afirmativo, pergunte a si mesmo: "Qual é o primeiro passoque preciso dar para chegar lá?" Faça uma lista desses passos eassuma o compromisso de dar o primeiro. Comece agora a liberaro poder do wu em sua vida.

COMO DESCOBRIR O WU NA INTUIÇÃO

Estudos recentes do cérebro humano apontaram para uma áreasignificativa de wu em nossa cultura. Os dois hemisférios cerebraisdesempenham diferentes funções. O esquerdo controla o discurso, aanálise, o pensamento lógico. O direito apreende simbólica e in-tuitivamente, percebendo o todo, em vez de partes isoladas.

Durante séculos, a civilização ocidental enfatizou o pensamen-to da parte esquerda do cérebro, e passamos a desenvolver nossacapacidade para a ciência e tecnologia, enquanto praticamenterejeitávamos nossa capacidade intuitiva. Para a maioria de nós, a parte

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direita do cérebro continua wu, uma fronteira de potencialidadesescondidas. Explorar essa fronteira nos leva para mais perto do Tao.

Lao Tsé nos diz: "uma palavra que podemos definir não é aPalavra eterna"(Tao 1). O Tao não pode ser definido, apreendido ouarticulado pelo raciocínio da parte esquerda do cérebro. Mas isto nãosignifica que não possa ser conhecido. Conhecemos intuitivamenteo Tao, transcendendo os modelos de pensamento racional.

O PRINCIPIO DA UNIDADE

"A pessoa Tao aceita o UmE vive em paz segundo seus modelos."

(TAO 22)1

Segundo a psiquiatra Jean Shinoda Bolen, "quase todo mundoa certa altura da vida já teve uma experiência Tao", um relâmpago daintuição que nos leva para além de nós mesmos.2 Nesses momentosde inspiração, transcendemos nosso isolamento, alcançando a uniãocom a vida em seu conjunto. Os poetas há séculos vêm escrevendosobre essa experiência.

Podemos encontrar nossa visão unificadora na natureza, noamor, na religião, na meditação, ou até na crise, mas em todas essasocasiões estamos unidos com o Tao. Quando nossa percepção não élógica, mas intuitiva, experimentamos um elo comum com toda acriação. Quando voltamos à consciência normal, lampejos dessavisão continuam conosco e nos servem de guia.

UNIÃO COMA NATUREZA

Alcançamos a união com o Tao quando estudamos a naturezae olhamos para dentro de nós mesmos. Estas duas práticas estãointrinsecamente ligadas, porque nosso mundo interior reflete omundo em torno de nós. Estamos unidos à natureza. Suas leis sãonossas leis.

O caracter chinês que corresponde a natureza, ou céu éigual ao que representa o homem apenas com duas linhas amais. No pensamento chinês, fazemos parte da natureza, estamosintimamente relacionados com o céu, lá no alto de nossas cabeças, ecom a terra, sob nossos pés. Ignorar esse elo, ou violar a natureza, éfazer mal a nós mesmos.

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A civilização ocidental há muito ignora nossa união com anatureza, por causa de uma divisão da consciência ocorrida no fimdo século XVII. A poderosa lógica de René Descartes e o métodocientífico de Sir Francis Bacon levaram a um tremendo progressotecnológico. Mas eles também nos deixaram com um perigoso dualis-mo, que nos separa da natureza e também uns dos outros. Duranteséculos, separam nossas mentes de nossos corpos, os pensamentosdos sentimentos, a civilização da natureza, nós mesmos dos outros,transformando tudo em polaridades isoladas e em competição.

A física moderna leva-nos de volta para o Tao, descrevendo ouniverso como um todo integrado que transcende a polarização. Osblocos básicos de construção da existência não são partículas in-finitesimais de matérias, como antigamente se pensava, mas proba-bilidades, modelos dinâmicos de energia, nem partículas nem ondas,mas algo intermediário.³ O conceito de "ordem implícita", de DavidBohm, descreve o universo como um holograma, no qual cada partereflete e contém, o todo. A teoria da Matriz-S, proposta por GeoffreyChew, descreve o universo como uma "teia dinâmica de eventosinter-relacionados".

O mundo é uma Gestalt, com o todo infinitamente maior do quea soma de suas partes. Não mais satisfeita em entender a naturezaatravés da análise de partes isoladas, a ciência tornou-se cada vez maisinteressada nas relações entre essas partes.

Focalizando modelos de energia interdependentes, a novafísica oferece uma lição para as ações recíprocas dos seres humanos.Cada um de nós é mais do que nossos limites determinados pelo ego.Sabemos disso no momento em que entramos numa sala e sentimossuas sutis vibrações. Respiramos o mesmo ar, partilhamos a mesmaenergia com os outros que estão a nossa volta. A energia deles e suasatitudes, inevitavelmente, tocam as nossas. A vida não acontece emisolamento. Somos todos um, no Tao.

PERGUNTA TAO

Quando foi a última vez em que você experimentou as energiasque existem além das fronteiras de seu ego? Qual foi a sensação quevocê teve ao entrar num escritório ou numa festa e se encontrar commuita gente desconhecida? Houve calor pessoal? Ansiedade? Hos-tilidade? Podemos sentir essas coisas, e realmente sentimos, o tempointeiro.

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Notei esses padrões quando entrei num spa local, paratratamento de saúde. Dos dois spas existentes em meu bairro, oprimeiro transmitia uma sensação agradável, animada, positiva. Em-bora o equipamento fosse velho e as paredes precisassem de umacamada de tinta, as energias eram muito positivas.

O outro lugar tinha um aspecto melhor, mas não dava boaimpressão. Luxuosamente aparelhado, cheio de aparelhos de cromoreluzente, clientes atraentes e um pessoal de vendas dinâmico, asensação que dava era de perturbação e desconforto. Tive vontadede sair, logo ao chegar. Sentindo que algo estava errado, fui para ooutro spa.

Um mês depois de minha visita, os proprietários do segundospa declararam falência e saíram do negócio, deixando centenas declientes sem qualquer compensação pelo título de "sócios vitalícios"que haviam comprado. Ainda gosto de ir para o spa que escolhi, eeste, recentemente, adquiriu mais equipamento e ganhou uma novae colorida camada de tinta.

LEMBRETE TAO

Torne-se mais consciente da atmosfera a sua volta. Reco-nhecendo os modelos sutis, intangíveis, você pode tomar decisõesmais sábias em sua vida.

O PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO DINÂMICO

"Ter e não ter motivam um ao outro.Dificuldade e facilidade se equilibram.O longo e o curto se completam.O alto e o baixo dependem um do outro.Altura de som e o tom juntos, compõem a harmonia.O começo e o fim se sucedem."

(TAO 2)

O Tao ensina que a vida se compõe de opostos complemen-tares: yin e yang. Yang é ativo, dinâmico, afirmativo; yin é tranqüilo,complacente, receptivo. Na natureza, yin e yang combinam-se emmodelos com altos e baixos, montanhas e vales, turbulência etranqüilidade.

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Os lagos formados pela maré nas costas do pacífico são umexemplo perfeito. Quando as forças de yin e yang estão emequilíbrio, cada pequeno lago torna-se um minúsculo mundo comvida própria. Passei horas observando esses microcosmos de vidamarinha, olhando os sargaços balançarem-se suavemente de um ladopara outro, as anêmonas cor-de-rosa abrindo-se como flores viçosas.Caranguejos eremitas correm de um lado para outro e cardumes depequenos peixes passam velozmente, cintilantes com a luz do sol datarde.

Todos os dias, a maré avança com novas fontes de água enutrientes, proporcionando as forças ativas do yang. O recinto yin,formado pelos arrecifes, protege o pequeno mundo das ondas quese quebram.

O equilíbrio é vital. Os lagos demasiados distantes das águasagitadas tornam-se estagnados, excessivamente yin. Próximosdemais do yang da turbulenta arrebentação, outros lagos têm apenasareia e água, são agitados demais para conservar a vida.

A natureza se renova através do equilíbrio dessas formas,porém, com muita freqüência, a sociedade moderna nos leva àexaustão, com atividade yang contínua. e frenética. Enquanto lutamospara adquirir mais, nosso comportamento agitado exclui a sabedoriado yin. Todos necessitamos de períodos de tranqüila reflexão,

Um excesso de estase e, como os distantes lagos da maré,experimentamos a estagnação. Nossas vidas se tornam monótonas esem graça. Sem o ativo yang que representa um compromisso comuma carreira, a vida fica demasiado yin para muitas pessoas aposen-tadas. Elas precisam encontrar novos interesses, novos desafios.Alguns conseguem isso iniciando outras atividades profissionais ouempenhando-se em trabalhos voluntários. Uma amiga minha afastou-se recentemente de seu emprego de secretária, a fim de trabalhar emtempo integral pela paz.

Antigamente, homens e mulheres eram divididos em papéisestereotipados. Os homens deviam ser yang : fortes, ativos, agres-sivos; as mulheres eram yin: passivas, complacentes, acalentadoras.Mas nem todo mundo seguiu a tradição. Há vinte e cinco séculos, oTao condenava a rigidez dos papéis, declarando que não se trata decoisa natural nem saudável. Lao Tsé deve ter provocado algumasreações de reprovação, em seu tempo, ao dizer aos líderes masculinosque assumissem o yin, o vale, o caminho tradicional das mulheres.Mas ele sabia que o Tao transcende os extremos, afirmando asabedoria da totalidade.

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Ganhamos maior sabedoria e vigor integrando ambas as forçasem nossas vidas. Se formos yang demais — ativos, sem papas nalíngua, perseguindo objetivos — podemos tornar-nos impacientes epouco concentrados. Ocupados demais em fazer, cometemos erros,porque não escutamos durante o tempo necessário.

Se formos sempre yin — escutando, esperando, acalentando,colocando as necessidades dos outros antes das nossas próprias —tornamo-nos tímidos, passivos e fracos.

A pessoa Tao sabe quando deve falar, quando deve escutar, agirou esperar. Equilibrando as forças interiores e exteriores, os homense mulheres Tao são fortes e flexíveis, corajosos e sábios.

EXERCÍCIO PESSOAL

Reserve alguns minutos, agora, para entrar em contato com osopostos complementares de sua vida.

• O quê, para você, é yang ativo?• O que é yin tranqüilo?• Se você passa seus dias trabalhando ao lado de uma porção de

gente, em meio a muito barulho, como é que você se recobra?Como alimenta as tranqüilas correntezas do yin?

• Se seus dias decorrem tranqüilamente, o que você pode fazer paracolocar mais yang em sua vida?

Quando dedicamos algum tempo para viver mais consciente-mente, não reagimos de forma negligente ao nosso meio ambiente.Nossos dias são cheios de escolhas ativas, equilibrando as correntezasdo yin e do yang numa harmonia maior.

O PRINCÍPIO DO CRESCIMENTO CÍCLICO

"O movimento do Tao é de retorno,Em ciclos infindos.Submete-se e sai vitorioso,Cria as dez mil coisas,O ser do não-ser."

(TAO 40)

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Fazemos parte de um modelo universal de crescimento que serenova em ciclos. Movendo-se do dia para a noite, da primavera parao inverno, o yang ativo é inevitavelmente seguido pelo adormecidoyin, que gera novo yang.

A mesa de carvalho, as paredes ao seu redor, o teto acima desua cabeça podem parecer sólidos, mas são, na verdade, formadospor bilhões de minúsculas partículas que rodopiam em círculos deincessante energia, minúsculos universos independentes queevoluem continuamente. Da mesma forma, cada célula em nossocorpo muda sem cessar. Não somos as pessoas que já fomos. Todoano, grande parte do tecido de nosso corpo se renova através damudança metabólica. A dança da vida prossegue dentro de nós e anossa volta. Nada no universo permanece imóvel.

A sabedoria do Tao é reconhecer esses ciclos e harmonizar-se comeles. Freqüentemente, em nossa impaciência, ignoramos essa lição.

Mexer com plantas serve como um lembrete para respeitar essesciclos. Um ano, distraída com uma sucessão de hóspedes até o fimdo verão, negligenciei minhas plantas. Em setembro, fui comprarsementes e fazer canteiros convencida de que a longa temporada decrescimento na Califórnia me daria tempo para uma boa colheita.

O vendedor de sementes japonês sacudiu a cabeça. "É tardedemais para vagem e abóbora", disse. "Agora é plantar hortaliças deinverno — brócolis e cebola".

Mas eu queria abóboras amarelas e vagens verdes. Os dias aindaestavam quentes, então ignorei o conselho e plantei algumas se-mentes que germinavam rapidamente. Quando as plantas nasceram,ri com meus botões e fiquei à espera de uma boa colheita.

Dois meses depois, aprendi mais uma vez a respeito dos ciclos.As abóboras e vagens cresceram um pouquinho e depois morreram,atacadas por pragas e bolor. Precisavam dos longos dias de verão parafrutificar bem.

O Tao nos ensina a dominar nossa impaciência, a trabalhar comos ciclos. Nossos projetos, como as sementes que plantamos, têmdiferentes estações. Alguns crescem, rapidamente. Outros demorammais para germinar, e mais ainda para dar frutos. Nem toda aimpaciência do mundo modificará o processo.

Nossas vidas também têm seus ciclos. Algumas pessoas são derápida florescência, chegam ao ponto culminante ainda na escolasecundária e no começo dos vinte anos. Crescendo como pés demilho nos dias quentes de verão, chegam ao momento da ceifa numacurta temporada.

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Outros crescem mais devagar. Observando os pés de milhosubirem acima deles, muitas vezes desanimam, imaginando se co-lherão algo de valor. John Milton, poeta inglês do século XVII,escreveu um soneto manifestando seu desespero com o pouco querealizara até a idade de 23 anos. Mas aos 50 publicou Paradise Lost[Paraíso perdido], o maior poema épico em língua inglesa.

Enquanto um pé de milho é ceifado numa curta estação, umcarvalho leva anos para amadurecer. Mas, depois, eleva-se acima domilharal, com os galhos estendendo-se para o céu e dando frutos pormuitas estações.

Pés de milho, carvalhos, vagens ou brócolis: tudo o que vivetem seu ciclo, seu objetivo, faz parte do Tao.

PERGUNTA TAO

Pare um momento para pensar nos ciclos de sua vida. Examineos modelos mais amplos.

• Quais são os ciclos curtos?• Quais são os mais longos?• Que áreas você precisa cultivar mais ativamente?• Onde você precisa ser mais paciente e respeitar o processo?

O PRINCÍPIO DA AÇÃO HARMONIOSA

O Tao nos ensina a cooperar com os modelos naturais em nossomundo. Este é o princípio da ação harmoniosa, ou wu wei: quandonos misturamos com as energias em torno de nós sem impor nossavontade às outras formas de vida.

Um bom jardineiro poda uma árvore cuidadosamente, para queo efeito seja natural. Quando caminha pelo bosque, uma pessoa Taonão deixa nenhum rastro e, principalmente, nenhum detrito. Cami-nhando de leve sobre a terra, os homens e mulheres do Tao vivemem harmonia com seu meio ambiente. Respeitando a natureza, nãoperturbam nem poluem.

Respeitando suas próprias naturezas, as pessoas Tao não lutamcontra seus padrões pessoais. Suas atividades e carreiras expressamharmoniosamente o que eles são. Viver o Tao é como trabalhar commadeira. Não se deve ir contra os veios.

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Laura aprendeu essa lição quando começou sua carreira deartista comercial. Durante anos, sonhara mudar-se para San Franciscocom seu noivo. Ele seria jornalista e ela, artista, e viveriam numaágua-furtada com vista para a baía.

Finalmente, surgiu a oportunidade. Don conseguiu umemprego no Chronicle de San Francisco. Depois de anos de aulas dearte na escola noturna, Laura deixou seu emprego de secretária emLos Angeles para ir em busca do sucesso.

Ela tinha talento e formação para ser uma boa ilustradoracomercial. Mostrando seu portfolio, conseguiu alguns empregos.Então, não pôde entender por que logo ficou profundamentedeprimida.

Todo dia, andava de robe de um lado para outro do apartamen-to, tentando animar-se, mas trabalhar em casa a deixava encurralada.Então, vestia-se e saía, carregando o portfolio de um diretor de artepara outro, mas isto não fazia com que se sentisse nem um poucomelhor.

Ela amava Don, amava San Francisco e achou que amariadesenhar. Mas estava infeliz. Queria ir para casa.

A questão não era o dinheiro. Laura tinha suas economias e Donganhava bem. Mas sentia-se tão desenraizada e solitária que nãoconseguia trabalhar.

Laura pensava com nostalgia no emprego que abandonara.Claro que era tedioso, mas sentia falta de seus amigos e dos pequenosrituais, as pausas para tomar café, as brincadeiras, os almoços. Tor-nando-se artista freelancer, Laura ia contra sua natureza. Extrovertida,com uma forte necessidade de estabilidade, correra atrás de um sonhoromântico, que não combinava com seu temperamento.

Finalmente, tornou-se artista gráfica numa grande firma decomputadores, onde conseguiu as amizades e as estabilidades de queprecisa. Agora, senta-se feliz diante da prancheta e desenha o diainteiro, cercada por um alvoroço de pessoas e atividade.

EXERCÍCIO PESSOAL

Viver o Tao significa tornar-se mais consciente de nossospróprios padrões e harmonizar-nos com eles.

Lembre a si mesmo desses modelos, enquanto observa como ébonita a madeira natural. Com seus nós, redemoinhos e minúsculaslinhas, cada pedaço é tão diferente do outro quanto uma impressãodigital. Talvez seja uma impressão digital: a do Tao.

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• Descubra um canto sossegado onde possa ficar sozinho e observaros veios de uma mesa de madeira, uma escrivaninha ou qualqueroutro móvel.

• Relaxe seu corpo, liberando a tensão do dia com três respiraçõeslentas e profundas.

• Depois, corra os dedos sobre a madeira. Siga seus veios e linhas davida. Tome consciência dos modelos de energia que a percorrem.

• Saiba que você tem seus próprios padrões, enquanto o Tao fluiatravés de sua vida.

• Dê uma olhada na ponta de seus dedos, percebendo os veios, osmodelos de energia que existem neles.

• Feche os olhos, concentre-se em sua respiração e sinta a energiado Tao fluindo através de seu corpo.

• Saiba que você é uma expressão única do Tao. Seus padrões nãose parecem com nenhum outro.

• Pergunte a si mesmo o que pode fazer, agora, para atender a seuspadrões pessoais e viver mais harmoniosamente.

Seguindo o Tao e vivendo segundo seus princípios, você setornará cada vez mais consciente das energias que existem dentro eem torno de si. Sua vida será mais natural, harmoniosa e pacífica.

Afirmação

Sei que minha vida é pacífica e harmoniosa.Siga o Tao.Estou unido a tudo o que existe.Equilibro as forças do yin e do yang.Fluo com os ciclos da vida.Aceito as energias que existem dentro e em torno de mim.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todas as outras pessoas

em meu mundo.Recebo agora uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Minha versão foi inspirada pela tradução de Tolbert McCarroll, The Tao:The Sacred Way(Nova York: Crossroad, ©1982), p. 47: "Therefore the

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True Person embraces the One / And becomes a model for all." ("Assime pessoa autêntica abraça o Uno e se torna um modelo para todos".)Usado com permissão do autor.

2. Jean Shinoda Bolen, The Tao of Psychology: Synchronicity and the Self(San Francisco: Harper and Row, 1979), pp. 95-96.

3. Para encontrar a melhor exposição sobre física e filosofia oriental, verFritjof Capra, The Tao of Physics: An Exploration of the Parallelo BetweenModem Physics and Easlern Mysticism, 2a edição (Boulder, Colorado:Shambhala, 1983). Excelentes exposições em torno do dualismo car-tesiano nas pp. 22-24 e das partículas-ondas e probabilidades na p. 81.

4. Fritjof Capra, The Turning Point: Science, Society and the Rising Culture(Nova York: Simon and Schuster, 1982). Exposição sobre a ordemimplícita e a teoria da matriz-S nas pp. 92-93, 95-96.

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CAPÍTULO 4

O CAMINHO DA

TRANSFORMAÇÃO

Seguir o Tao com sabedoria etranqüilidade

Traz ordem para o mundo.(TAO 45)¹

Ocaminho da transformação começa internamente. Renovan-do a nós mesmos, com a meditação diária, descobrimos umafonte profunda de paz interior que cria uma paz maior em

torno de nós.

A LEI DE CAUSA E EFEITO

Nossos mundos interior e exterior estão intrinsecamenterelacionados. Como explica o Tao :

"Aqueles que se concentram no TaoEstarão unidos com o Tao.Aqueles que estudam seu poderSerão poderosos.Aqueles que se concentram no fracassoCertamente fracassarão."

(TAO 23)

Colhemos aquilo que cultivamos em nossas vidas. Como se-mentes, nossos pensamentos se enraizam em nossa experiência.Quando nos concentramos no poder do Tao, tornamo-nospoderosos. Quando nos concentramos no fracasso, fracassamos. Até

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nossos pensamentos não expressos afetam nosso trabalho, nossosrelacionamentos, nossas vidas diárias.

Em minha infância, freqüentemente passávamos as férias commembros mais afastados da família. Todo ano, minhas tias, tios e avósrevezavam-se no preparo das ceias de Natal.

O Natal em casa da minha avó era um banquete inesquecível.Com os olhos brilhando, ela corria para nos receber, usando umavental florido. O perfume dos temperos enchia o ar e seu amor davaum sabor especial a todos os pratos, desde o peru assado, com molhoe recheio de broa de milho, ao cintilante condimento de uva-do-monte e à picante torta de abóbora-moranga.

Mas, numa das casas, o peru estava sempre seco, o molho e asobremesa insossos, sem graça. Por quê? Aquele casal usava asmesmas receitas da família, mas alguma coisa ficava faltando. Anosantes, o casamento deles perdera a vida. Suas refeições refletiam otédio dos dois — como, sem dúvida, as de minha avó refletiam seutremendo amor pela vida.

Nossas atitudes são poderosas e afetam continuamente nossomeio ambiente. Quando mudamos nossa atitude, mudamos nossomundo. Por quê? Pelo fato de, no Tao, todos sermos um. Como dizmeu amigo Joe Grassi, o mundo não é algo impessoal, que fica "láfora",2 mas está tão próximo de nós quanto nossa respiração, tãoimediato quanto nosso próximo pensamento.

A VIA DO CORAÇÃO

Podemos transformai" nosso mundo transformando nossaatitude. Isto não pode ser feito meramente lendo ou pensando arespeito da paz. Viver o Tao é mais do que um exercício intelectual.É a vida do coração.

O caracter chinês hsin significa, ao mesmo tempo, mente ecoração, a fonte de todos os pensamentos, sensações e motivações.Quando se segue o Tao, não há nenhuma divisão interna, nenhumaluta angustiante entre cabeça e coração. Encontramos a harmoniavivendo entusiasticamente.

A VOLTA A NOSSAS RAÍZES

O Tao nos diz:

"Deixe que suas raízes mergulhem profundamenteNa fonte.

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Com sua atitude, construa um firme alicerceDa paz no Tao."

(TAO 59)

Muitos conflitos ocorrem quando não estamos vivendo comprofundidade suficiente. Quando corremos freneticamente de umcompromisso para outro, perdemos o contato com o Tao.

Eu costumava ter conflitos entre meu trabalho e meusrelacionamentos. Ao longo dos anos, as pessoas e situaçõesmudavam, mas o doloroso modelo permanecia. Na véspera de umexame, meu namorado na faculdade gritava, zangado: "Você prefereestudar a ficar comigo!" Anos depois, quando eu tinha provas paracorrigir, outros homens se queixavam. "Você se preocupa mais comseus alunos do que comigo". Dividida entre dois pólos em conflito,a cabeça e o coração, eu jamais estava em paz comigo mesma.

EM BUSCA DA UNIDADE

Só transcendendo as polaridades, com uma visão mais amplada totalidade, obtemos a paz. Chame-se a essa visão de Vida, Deus,Existência ou Tao. Tem muitos nomes. Emerson a chamava de Almatotal. Além das diferenças superficiais, está o Um, que inclui todosnós. Homens e mulheres do Tao experimentam essa união através doexercício espiritual regular.

Todo dia satisfazemos nossas necessidades físicas, comendo edormindo a intervalos regulares. As pessoas do Tao também deixamum tempo para a renovação espiritual. Se negligenciamos nossoscorpos, eles entram num processo de desequilíbrio e colapso. Senegligenciamos nossas necessidades espirituais, tornamo-nosemocionalmente desequilibrados e nosso mundo se divide emcontínuos conflitos.

Os momentos de reflexão permitem que nossas raízes mergu-lhem profundamente na fonte, bebendo do infinito poder e dasabedoria do Tao.

A PAZ COMEÇA NO ÍNTIMO

Reservar um tempo para meditar pode parecer privilégio, quan-do vivemos num mundo de crise e conflitos. Mas é uma das coisasmais responsáveis que podemos fazer.

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Quando estamos confusos e sem concentração, projetamos osconflitos interiores para o mundo ao nosso redor. Quando estamosem paz com nós mesmos, podemos ver com mais clareza, agir commais eficácia. Estudos mostraram que os participantes do movimentopara desenvolver as potencialidades humanas são mais responsáveis,socialmente, do que a maioria da população³. Sua busca de saúde eharmonia estende-se naturalmente de si mesmos para os outros.

A serenidade que alcançam, com satisfação de suas neces-sidades espirituais, ajuda as pessoas Tao a manter suas vidas emordem. Sem o constante desgaste causado pelas crises ou traumasespirituais, têm mais tempo para si mesmos e para as coisas em queacreditam. Equilibrados, responsáveis, em paz consigo mesmas, elasirradiam paz para todos aqueles que encontram.

A DEFINIÇÃO DA PAZ PARA NÓS MESMOS

A meditação regular não só restabelece nossa harmonia interiore nossa energia vital, como nos proporciona uma verdadeiraexperiência da paz que buscamos.

O Tao descreve a paz como aquele espaço interior, tãofreqüentemente ignorado na pressa da vida moderna, sem o qual nãoexiste ordem e nada, afinal, tem significado.

"Trinta raios tem o cubo da roda;É o orifício central que a torna útil.Modele argila e faça um vaso;É o espaço interior que o torna útil.Abra portas e janelas para um aposento;São as aberturas que o tornam útil."

(TAO II)4

Cultivando esse espaço interior, tornamo-nos mais equi-librados, mais harmoniosos, mais úteis: pessoas do Tao.

Não importa quem somos, podemos encontrar a paz nomomento presente, dentro do padrão atual de nossas vidas. Nãoprecisamos retirar-nos para um mosteiro. O espaço interior está aqui,tão próximo de nós quanto nossa respiração, tão íntimo quantonossos pensamentos. Dentro de nosso cotidiano, como dentro damoldura de uma janela, da argila de um vaso, está nosso potencialpara criar a paz. Encontramos a paz cultivando o espaço interior.

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A LIÇÃO DA TARTARUGA

Existe um antigo ditado chinês: "A tartaruga sabe produzirenergia, por isso pode sobreviver um século sem comida".5

Os antigos taoístas reverenciavam as tartarugas porque elassabem quando se retirar para dentro de si mesmas, quando res-tabelecer sua energia. Assim, vivem até uma idade avançada. Oscascos das tartarugas — segundo se acredita, dotados de misteriosospoderes — eram usados para a adivinhação, tendo inspirado osdesenhos dos hexagramas do I Ching. Podemos cultivar a paz interiorseguindo a lição da tartaruga, reservando períodos diários paraisolamento, a fim de alimentar a poderosa energia do Tao.

EM BUSCA DO SILÊNCIO

As pessoas Tao buscam períodos de silêncio. Gandhi mantinha-se em silêncio durante um dia, uma vez por semana. Não importavao que acontecesse, ou quem fosse visitá-lo, ele passava aquele diatranqüilamente, só se comunicando com os outros através da escrita.A maior parte de nós é incapaz de manter um dia inteiro de silêncio,mas podemos marcar períodos regulares de meditação.

A cada tipo de temperamento corresponde uma forma demeditação. Algumas são complicadas, outras, simples e informais. Naalfagenética, as pessoas escolhem um número e vão fazendo devagaruma contagem decrescente, enquanto o relaxamento vem aospoucos. O biofeedback acompanha os processos do corpo através demáquinas. Na meditação transcendental, as pessoas centralizam aatenção num mantra pessoal. A psicossíntese usa imagens visuais edevaneios dirigidos. O guia espiritual Exmath Easwaren pede àspessoas que meditem sobre a oração de São Francisco. A escritora econselheira Louise Hay simplesmente fica sentada em silêncio, es-vaziando a mente, e pergunta: "O que é que preciso saber?"

A respiração lenta e consciente centraliza nossa energia; pala-vras e imagens preparam o caminho. A mente acalma-se e canaliza-separa um nível bem mais profundo do que o ruído e a agitaçãosuperficiais. Depois da meditação, saímos renovados e reanimados,com a tensão eliminada, corações e mentes em paz. Estamos unidoscom o Tao.

Pode-se começar a meditar reservando-se para isso apenasquinze minutos por dia e, depois, estendendo esse tempo paraatender às necessidades de cada um. Muitas pessoas têm a meditação

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como sua primeira atividade matinal, outras a praticam no fim do dia.O ideal seria começar e terminar cada dia com meditação, mas oimportante é meditar regularmente.

EXERCÍCIO PESSOAL: MEDITAÇÃO TAOÍSTA

• Descubra um lugar tranqüilo, onde você não vá ser perturbado(a)Desligue o telefone, afrouxe o cinto, afaste todas as influências quepossam distraí-lo(a).

• Depois, sente-se no chão, ou numa cadeira de espaldar reto,mantendo a coluna ereta. Algumas pessoas gostam de deitar-se decostas. Se fizer isso, tente não dormir.

• Feche os olhos e entre em sintonia com seu corpo. Sinta o peso desuas pernas na superfície embaixo de você, a pressão sutil que seucorpo exerce ao tocar de leve o mundo ao seu redor.

• Respire devagar e profundamente, inspirando para dentro do ab-dome, o centro de seu ser. A cada respiração entre em sintonia como poder do chi, a energia vital que flui através de seu corpo.

• Concentre-se na energia que existe nos dedos do pé e, aos poucos,acompanhe essa energia pelas pernas acima, até o abdome e ocoração. Depois, sinta como ela sai fluindo pelos braços e pontasdos dedos, das mãos, liberando toda a tensão neles existentes.

• Respiração centralizada: Agora expire os conflitos, as preocupações,a dor, tudo aquilo que não o(a) deixa viver em paz. Sinta que tudo issosai de seu corpo a cada respiração. Libere isso. Deixe ir embora.

• Alternadamente, expire os conflitos e inspire paz, sentindo a novaenergia que vem calorosa, revitalizadora, renovando-o(a).

• Continue com essa respiração centralizada, até sentir-se profunda-mente relaxado(a).

• A cada respiração, sinta mais intensamente a saudável energia chifluindo através de seu corpo, formigando nos dedos dos pés e dasmãos. Profundamente relaxado(a), diga a si mesmo(a): "Estou emunião com o Tao".

• Se pensamentos dispersivos cruzarem sua mente, afaste-os comtranqüilidade e afirme: "Estou em união com o Tao".

• Se descobrir que está ficando sonolento(a), tente sentar-se, em vez deficar deitado(a), lembrando-se de manter a coluna vertebral ereta.

• Quando estiver preparado para parar, afirme, uma última vez:"Estou em união com o Tao". Aos poucos, abra os olhos, estiqueos músculos e saia da meditação reanimado(a), concentrado(a), esereno(a).

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COMO ESVAZIAR O CORAÇÃO

Esvaziar o coração é uma importante prática taoísta, necessáriapara liberar tudo o que impede a paz interior. É preciso expirar todosos conflitos e tensões e depois afirmar: "Estou em união com o Tao".É impossível estar em paz com nós mesmos e, enquanto isso, emconflito com as outras pessoas. Liberando queixas e sentimentosnegativos, recuperamos nossa própria paz de espírito.

MOMENTOS DE PAZ INTERIOR

Esvaziar o coração e meditar regularmente aumentará sua forçainterior. Você se descobrirá mais equilibrado(a), mais em paz consigomesmo(a) e com seu mundo.

Você perceberá melhor as energias dentro e em torno de si.Como passa a senti-las com mais intensidade, às vezes as energiasnegativas dos outros podem desequilibrá-lo.

Quando um colega de trabalho irritado despeja sua impaciênciaem cima de você, não há condições para sair às pressas e meditardurante meia hora. Mas você pode praticar uma das pausas curtas depaz interior mencionadas a seguir.

LIBERAÇÃO DE ENERGIA

Para reconquistar sua paz de espírito, você pode fazer oseguinte em qualquer lugar, a qualquer hora:

• Devagar, inspire, respirando profundamente, para dentro do ab-dome.

• Expire completamente, liberando toda a dolorosa energia negativa.Diga a si mesmo: "Esta não é minha energia". E deixe que saia devocê.

• Depois, diga a si mesmo(a) "Estou em paz. Estou em união com oTao."

LIMPEZA DA AURA

A medicina chinesa dá grande importância à prevenção, eprocura renovar as energias do corpo para afastar as doenças em

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potencial. Há séculos, os curandeiros vêm usando a acupuntura eervas medicinais para estimular os meridianos de energia vital.

As energias negativas dos outros podem poluir a aura ou ocampo energético de seu corpo. Quando sua energia é grande, a auraforma um forte escudo protetor, mas a energia negativa podedesgastá-lo, enfraquecendo seu sistema de imunidade.

Quando você for atacado(a) por uma explosão de energianegativa, peça licença por um minuto. Vá sozinho(a) para algum lugar(um depósito ou banheiro servirão).

Esfregue as mãos uma na outra, rapidamente. Depois, erga-as,formando um arco sobre a cabeça e, em seguida, faça-as descer peloslados do corpo, enquanto visualiza a si mesmo cercado por umabranca luz curativa. Diga a você próprio(a): "Estou em união com oTao".

Anos atrás, quando eu trabalhava num escritório cheio deconflitos entre as pessoas, freqüentemente saía de minha mesa e ialavar as mãos. Na verdade, estava limpando minha aura para mantermeu equilíbrio pessoal.

ESCREVA UM DIÁRIO DA PAZ

Outra prática útil é escrever um diário da paz. Comece agora eregistre tudo o que surge em sua jornada interior.

• Pergunte a si mesmo(a): "Onde, em minha vida, experimento amaior paz?" Escreva a resposta.

• Agora, pergunte: "Que área de minha vida preciso trabalhar?"• Escreva sobre sua forma de enfrentar antigamente, os conflitos

nessa área.• Agora, pergunte a si mesmo(a): "Como uma pessoa Tao enfrentaria

esse conflito? Escreva a resposta da maneira mais detalhada pos-sível.

• Feche então os olhos e visualize a si mesmo(a) fazendo exatamenteo que escreveu.

Use seu diário, nos dias seguintes, para registrar seus progres-sos, bem como as lições em que está trabalhando. À medida que vocêfor seguindo o Tao, sua paz interior aumentará e o diário se tornaráum registro valioso de seu crescimento espiritual.

O Tao ensina que somos responsáveis pela paz em nossas vidas.Cabe a nós manter nossas energias em equilíbrio.

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Quando fazemos isso, não apenas nós mesmos experimen-tamos uma paz maior, como também nos tornamos fonte de paz paraos outros. O efeito de uma alma harmoniosa é irresistível.

"Cultivado em sua almaO Tao traz paz para sua vida.Cultivado em sua casa,Traz paz para aqueles a quem você ama.Espalhando-se entre os amigos e vizinhos,Traz paz para sua comunidade."

(TAO 54)

Afirmação

Agora sei que minha vida é cheia de paz e harmonia.Reconheço o poder de meus pensamentos.Uso esse poder com sabedoria.Reanimo-me com a meditação.Descubro a fonte da paz interior.Manifesto minha paz aos outros.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em

meu mundo.Agora recebo maior paz em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Minha versão do Tao, Capítulo 45, inspirada na tradução de R.L. Wingde The Tao of Power (Nova York: Doubleday, ©1986), p. 45: "Clareza eimobilidade/Trazem ordem para o mundo". Usado com permissão doeditor.

2. Joseph A. Grassi, Changing the World Within: The Dynamics of Personaland Spiritual Growth (Nova York: Paulist Press, 1986), p. 38.

3. Mark Satin, New Age Politics: Healing Self and Society (Nova York: Dell,1979), p. 189.

4. Tradução do Tao, Capítulo 11, de Lao Tzu: Tao Te Ching, trad. de Gia-FuFeng e Jane English (Nova York: Alfred A. Knopf, Inc., ©1972), p. 11.Usado com permissão do editor.

5. Lio I-Ming, Awakening to the Tao, trad. de Thomas Cleary (Boston:Shambhala, 1988), p. 12.

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6. Louise L. Hay, You Can Hell Your Life (Santa Monica, Califórnia: HayHouse, 1987), p. 95.

7. Henri Maspero, Taoism and Chinese Religion, trad. de Frank A. Kierman,Jr. (Amherst: Univ. of Massachusetts Press, 1981), p. 439.

8. Para maiores detalhes sobre pausas de paz interior e exercícios diários,ler, de Bob e Judy Cranmer, The Thirty Day Peace Diet (Cupertino,Califórnia, Right Brain Unlimited, 1988), disponível por 9.95 dólares, emais 2 dólares para encomenda postal; pedidos a Right Brain Unlimited,P.O. Box 160484, Cupertino CA 95016-0484.

Ilustração da Parte 2: hsin. O caracter que representa o coração-mente,centro de todos os sentimentos e motivações.

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PARTE2

O CAMINHOINTERIOR

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CAPITULO 5

O CAMINHO COMEÇA EM SUA

PRÓPRIA PORTAConheça o Tao

Sem passar da soleira de sua casa.Veja o rosto dele

Refletido na janela.Procurá-lo fora

É deixá-lo para trás.

(TAO 47)

Ocaminho da paz começa com a auto-aceitação. Procurar a pazdo lado de fora é deixá-la para trás.Por causa do princípio taoísta da unidade, quando aceitamos

a nós mesmos, aceitamos aos outros, naturalmente. Sem auto-aceitação, as pessoas vêem a vida como uma luta constante, brigandoconsigo mesmas e com os outros, em casa, no trabalho, nosrelacionamentos. Sofrendo tremendos altos e baixos emocionais,esforçam-se para ganhar aprovação, mas nunca é o bastante, porque,bem lá no fundo, está escondido um incômodo senso de desajuste.Essas pessoas podem, com facilidade, perder o equilíbrio. Quandoestão trabalhando para causas políticas, muitas vezes caem no fanatis-mo, dominadas por ilusões de poder e pela empáfia.1

Pondo em ordem nosso mundo interior, conquistamos uma pazmaior. O caracter chinês hsien, que significa paz ou tranqüilidade, éformado por duas partes: uma porta fechada e a lua.2 Neste capítulo,fechamos a porta para os acontecimentos externos, a fim de aumentara luz interior da auto-aceitação.

O TAO DA AUTO-ACEITAÇÃO

O Tao nos diz que:

"A pessoa Tao conhece a si mesmaE não se exibe de forma nenhuma.

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Aceita a si mesma,E não é arrogante."

(TAO 72)

As pessoas Tao não têm nenhuma necessidade de se esconderatrás do artifício e da ostentação. Vivendo a simples verdade de quemsão, colocam-se além da inveja, da competição e do exibicionismoartificial.

AUTO-AVALIAÇÃO

Até que ponto você aceita a si mesmo(a)? Será que algumadessas declarações lhe soa familiar?

• Um colega de trabalho passa caminhando e me ignora. O que estáerrado comigo?

• Um novo homem ou mulher em minha vida marca um encontro enão aparece. Sinto-me magoado(a) e rejeitado(a).

• A pessoa que eu amo está deprimida ou zangada. O que fiz deerrado?

• Meu relacionamento termina e me sinto um fracasso.• Tenho medo de pedir um aumento.• Não preencho minha cota de vendas. Não consigo promoção, ou

recebo uma avaliação ruim. Não sou suficientemente capaz.• Tenho medo de fazer alguma coisa nova, porque sei que fracas-

sarei.• Tenho medo de pedir ajuda aos outros.• Sempre que cometo um erro — queimo o jantar, derramo o café

ou quebro alguma coisa — sinto-me um(a) idiota.• Quando olho para o espelho, tudo o que vejo são meus defeitos.• Quando as pessoas me olham fixamente, sei que vêem algo errado

em mim.• Quando alguém gosta de mim, acho que ou eu o (a) enganei ou

essa pessoa é idiota.• Outra pessoa consegue uma promoção, um aumento, um carro

novo e eu fico imaginando o que há de errado comigo.• Minha partida de tênis ou golfe termina e me sinto um fracasso.• Não importa meu peso, sinto-me gordo(a) e feio(a).• Preciso trabalhar realmente duro para me sentir legal em relação a

mim mesmo(a).

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A conclusão, em todos esses exemplos, é: "Não sou legal. Nãosou suficientemente bom(boa). As pessoas com auto-estima baixaculpam logo a si mesmas, quando algo sai errado, porque se sentemmuito inadequadas.

Betty era uma jovem secretária, ansiosa para agradar a seu novopatrão. Ela trabalhava duro, datilografando, arquivando, organizandoum dilúvio de papéis e, em geral, recebendo sua ríspida aprovação.Mas, um dia, o Sr. Tolliver chegou num terrível estado de espírito.Ignorando o animado "Bom dia" da moça, olhou-a furioso e foicaminhando sem dar uma só palavra.

Betty ficou arrasada. O que fizera de errado? Ela passou a manhãinteira preocupada com a possibilidade de ser demitida e acabou comuma dor de cabeça, resultante da tensão, e com o estômago enjoado.

Na verdade, o aborrecimento de seu patrão não tinha nada,absolutamente, a ver com ela. Ele estava aborrecido porque foramultado por excesso de velocidade, quando ia para o trabalho.

A reação de Betty não é assim tão incomum. Quantas vezes nãonos culpamos, quando as coisas dão errado? Mas, com saudávelauto-estima, percebemos a nós mesmos como pessoas que merecemser amadas, pessoas capazes, e passamos a ver os acontecimentosexternos com mais objetividade. As reações negativas dos outros, emgeral, nada têm a ver conosco, absolutamente.

A POLÍTICA DA AUTO-ESTIMA

O parlamentar californiano John Vasconcellos trabalhoudurante anos para promover uma maior auto-estima. Seus esforçosrefletem esta verdade essencial do Tao: nosso mundo externo refletenosso mundo interno. As condições que estão em torno de nósrefletem a maneira como nos sentimos em relação a nós mesmos.

Veterano de longa data do movimento em prol das poten-cialidades humanas, John foi chamado de "o legislador de coraçãomole". Alto, com cabelos escuros e cacheados e grandes olhosespirituais, ele é um homem que transmite um profundo calor pes-soal. Como presidente de poderosa Comissão de Finanças da As-sembléia da Califórnia, seus dias são repletos de atividades. Mas eleama falar sobre idéias. Ouve atentamente, a cabeça virada para umlado, muitas vezes fazendo anotações para si mesmo em pedacinhosde papel.

Ele foi responsável por leis referentes a saúde mental,prevenção da violência, pesquisa sobre a Aids e negociação de paz

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internacional, bem como pela Comissão Estadual sobre Auto-Estima.No Dia das Nações Unidas, 1988, Vasconcellos disse, num auditóriode universidade, que "O futuro do mundo está em termos bastanteauto-estima para aceitar outras pessoas diferentes de nós".

Estudante com excelentes notas na escola secundária e tambémna universidade, John diz que sofria de auto-estima baixa e, cons-tantemente, lutava para se afirmar. No início dos anos 60, ele des-cobriu a psicologia humanista de Carl Rogers, que seguia o Tao,defendendo uma visão da vida como processo. Desde então, suabusca da plenitude afetou seu auto-conceito, sua política e tudo o queele faz.

Só depende de nós, diz ele, "aprender a usar nosso poder paraa vida, em vez de usá-lo para a morte, a renovar nossa fé em nósmesmos, e a viver cada dia, cada momento, de uma forma que possarealmente conduzir a um mundo de paz".

O TAO POR TRÁS DAS APARÊNCIAS

"A pessoa TaoJamais se esforça para parecer grandeE é assim que se alcança a verdadeira grandeza."

(TAO 34)

As tentações do ego são grandes, quando sofremos de auto-es-tima baixa. Quantas pessoas se escondem atrás da pretensão, dasposes, das muralhas de artifícios? As pessoas Tao ousam ser francas.São quem são, de forma dinâmica e espontânea, e estendem a mãoaos outros para criar uma compreensão maior.

Minha professora na escola governamental, a Srta. Sirabian,ensinou-me essa lição do Tao. Ao contrário de outros professores, elajamais falou com arrogância aos alunos. Foi a primeira pessoa adultaque conheci a me tratar como igual.

Seu curso exige um bocado de trabalho, mas era sempre en-tusiasmante. Cabelos escuros, baixinha, ela caminhava de um ladopara outro, desafiando-nos a lidar com conceitos difíceis, perguntan-do-nos o que achávamos de política, poder, acontecimentos mun-diais. Ou então ficava sentada à mesa, escutando pensativamente,partilhando aquilo em que ela acreditava.

Tendo pais imigrantes, armênicos, ela levava muito a sério suacidadania americana. Numa democracia, não é apenas nosso direito,

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mas nosso dever participar, dizia-nos, acrescentando: "Jamais perdiuma eleição em minha vida".

Com sua franqueza a integridade, a Srta. Sirabian mexia comaquela sala cheia de adolescentes indisciplinados, tornando-nosconscientes de nosso destino e dever como cidadãos. Levava a sérionossas idéias, nossas vidas e nosso futuro coletivo e, por causa disso,nós também levávamos. Tantos anos depois, lembro-me de tudoaquilo cheia de gratidão, percebendo o quanto seu exemplo sig-nificou para mim. Porque ela vivia a democracia que ensinava,tratando a todos com igual respeito e nos ensinando que somosresponsáveis pelo mundo que criamos.

ALÉM DAS MURALHAS

Não podemos ser francos com os outros a menos que, primeiro,aceitemos a nós mesmos. Uma auto-estima baixa constrói muralhasde auto defesa, afastando-nos da paz que buscamos.

Carole Price, ministra da Ciência Religiosa em San José,Califórnia, acredita que "a paz pode ser conscientemente alcançada",quando derrubamos essas muralhas. Pessoas inseguras escondem-seatrás de sorrisos artificiais e poses confiantes, com medo de relaxar ese revelar, mas isto apenas aumenta sua insegurança. "Achamos queconstruímos muralhas para nos manter em paz", diz Carole, "e écompletamente ao contrário". É um ciclo que perpetua a si mesmo.Quanto mais nos escondemos, mais temerosos ficamos.

A saída está na auto-aceitação. A pessoa Tao "conhece a simesma e não faz nenhuma exibição" {Tao 2). Quando paramos denos esconder, as muralhas vão desaparecendo aos poucos.

NOSSO MONÓLOGO INTERIOR

Leva tempo para se construir a auto-aceitação. Primeiro,notamos um monólogo de autocrítica. Transmitido em nossas mentescomo um programa radiofônico, traz de volta erros passados, diz-nosque não somos "suficientemente capazes" e nos atemoriza compreocupações com o futuro.

O monólogo repete todas as críticas que ouvimos de pais eprofessores: "Você fez errado de novo", "Você é uma menina má (oumenino mau)", "Você é preguiçoso(a)", "Você nunca vai valer alguma

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coisa". Enfraquece nossa auto-estima, fazendo com que nos sintamosincompetentes, fracos e desamparados.

Podemos desligar o monólogo com afirmações, ou prestandomais atenção ao que estamos fazendo.

EXERCÍCIOS PESSOAIS

Da próxima vez em que escutar o monólogo, repita essaafirmação:

"Amo a mim mesmo(a)Aceito a mim mesmo(a).Estou em união com o Tao."

Você também pode interromper o monólogo dando plenaatenção a alguma coisa. Eu vou esquiar, uma atividade que exige talequilíbrio e precisão que me esqueço de pensar. Lá nas encostas,cercada por um panorama mágico de pinheiros cobertos de neve emuitas milhas de luminoso céu azul, qualquer sentido do ego éeliminado. Dançando com o vento, num balé silencioso, entro emplena união com os esquis enquanto me movimento em ritmo sutil,com a neve reluzente em torno de mim. Não há lugar para autocríticasnuma comunhão que inclui corpo e alma.

Não é preciso esquiar para descobrir essa comunhão. Ela épossível com qualquer coisa que se goste realmente de fazer: tocarsua música favorita, pintar, correr, caminhar pela praia, fazer jar-dinagem, meditar. Decida agora fazer regularmente alguma coisa deque você goste, pois trata-se de um importante exercício espiritual.

A PROFECIA QUE CUMPRE A SI MESMA

Anos atrás, autoridades disseram a um grupo de professorescalifornianos que alguns de seus alunos dariam um salto em seucrescimento intelectual. Lá pelo fim do ano, o desempenhoacadêmico desses estudantes havia melhorado de forma impres-sionante. Depois, anunciou-se que seus nomes haviam sido esco-lhidos ao acaso. Como os professores esperavam mais deles, osalunos também esperavam mais de si mesmos e seu desempenhocorrespondeu às expectativas. Criamos aquilo em que acreditamos.Este é o poder da profecia que provoca seu próprio cumprimento.

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EXERCÍCIO PESSOAL

Como nossas expectativas afetam nossas experiências,precisamos ter cuidado com o que dizemos a nós mesmos. JackCanfield, Presidente de Seminários de Auto-Estima, pede às pessoaspara praticarem (um) exercício simples em frente ao espelho.

• Vá até o espelho, olhe-se diretamente nos olhos e diga a sipróprio(a) algumas coisas a seu respeito que você gostaria quefossem verdadeiras.

• Se parecer estranho, é que você não está acostumado(a) a daraprovação a si mesmo.

• Durante a semana seguinte, vá até o espelho no fim do dia e digaa si mesmo(a) todas as coisas que lhe agradam a seu respeito: "Estourealmente orgulhoso(a) de você, por fazer exercícios esta manhã,por comer um desjejum saudável, por dar uma caminhada durantea hora do almoço, por sair de um mau estado de espírito com asafirmações do Tao, por tomar uma decisão difícil, por ser hones-to(a) com um amigo", e assim por diante.

• Depois, chame a si mesmo(a) pelo nome e diga: "Eu realmente o(a) amo."

A auto-aprovação contida neste exercício reforçará sua auto-es-tima, se ele for praticado regularmente, e aumentará sua paz interior.

O TAO DA FRANQUEZA

Mitch Saunders, conselheiro matrimonial e familiar em SantaClara, Califórnia, considera as relações honestas uma grande maneirade desenvolver a auto-aceitação. Quanto mais partilhamos nossossentimentos com os outros e descobrimos que eles ainda nos aceitam,mais aumenta nossa auto-aceitação. Cada momento de franquezadesgasta nossas muralhas de defesa.

Mitch compara essa procura com os satyagraha de Gandhi.Pessoal e politicamente, a força da verdade corresponde a umagrande investida e abre caminho para novas possibilidades. Mesmoquando as pessoas discordam em relação a certas questões, a inves-tida constrói pontes e todos se beneficiam com isso.

Os chineses têm uma palavra para isso: tzu jan, que significaexpressar-se naturalmente, sem inibições. As pessoas Tao são tão

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espontâneas quanto a própria natureza. Desafie você próprio(a),todos os dias, a ser mais aberto(a), mais natural.

EXERCÍCIO PESSOAL

• Em vez de dizer coisas apenas para agradar às pessoas ou de seesconder por trás de desculpas, comece a dizer o que realmentesente.

• Não use a honestidade como escusa para culpar ou atacar os outros.Em vez de dizer: "Você me deixa zangado(a)", diga "Fico zan-gado(a) quando..." Se a outra pessoa gostar de você, isto fará umaimensa diferença.

• Quando as outras pessoas são mais honestas com você, lembre-sede ouvir com cuidado, respeitando seus sentimentos.

O medo constrói muralhas, mas a verdade constrói pontes. OTao é o caminho da verdade. Com maior honestidade, podemosconstruir pontes de paz e entendimento para nós mesmos e nossomundo.

Afirmação

Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa.Amo a mim mesmo(a).Aceito a mim mesmo(a).Estou em união com o Tao.Sou franco(a) e honesto(a).Nada tenho a esconder.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harnonizo-me com a natureza e com todas as outras pessoas

de meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Satin, New Age Politics, p. 1892. Chang Chung-Yuan, Creativity and Taoism (Nova York: Harper, 1963),

p. 231.

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3. Meus agradecimentos à Rev. Carole Price, da Primeira Igreja da CiênciaReligiosa, 1195 Clark St., San José,. CA, pelas entrevistas e discussõessobre paz interior, de 1986 a 1989.

4. Gerald Kushel, Centering: Six Steps Toward Inner Liberation (NovaYork: Times Books, 1979), p. 56.

5. Da apresentação de Jack Canfield no seminário Fuul Esteem Ahead, em1º de outubro de 1988, San José, Califórnia. Usado com permissão. Paranovos exercícios de auto-estima, com guia de currículo e fitas cominstruções, entrarem contato com Self-Esteem Seminars, 17156 PalisadesCircle, Pacific Palisades CA 90272, tel. (213) 454-1665.

6. Informações de Mitchell Saunders, M.A., aqui e em outras partesextraídas de entrevistas, durante 1987 e 1988, usadas com permissão.Saunders é diretor da organização Programs for California Leadership,2700 Augustine Dr., Santa Clara, CA 95054.

7. R.B. Blakney, introdução do tradutor a Lao Tzu: The Way of Life, p. 47.

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CAPÍTULO 6

COMO ENFRENTAR

SEUS MEDOS

Medir o sucessoPalas palavras dos outros

Cria ansiedade.O que você desejaE o que você teme

Estão dentro de você mesmo (a).

(TAO 13)

OTao nos ensina a tomar conta de nossas vidas, a enfrentarnossos medos e aprender com eles.O medo é um valioso sinal de alerta, nossa reação natural ao perigo.

Numa reação automática de ataque ou fuga, nossos músculos se retesam,as batidas cardíacas se aceleram, os sistemas digestivo e imunológicoparam temporariamente de funcionar e nossos corpos produzemadrenalina e corticosteróides para enfrentar a ameaça percebida.

Mas, no mundo moderno, muitos problemas não podem serremediados com o ataque ou com a fuga. Sem nenhuma saída, nossoscorpos permanecem estressados e gastamos bilhões de dólares porano para aliviar a tensão, músculos rígidos, indigestão, dores decabeça e insônia.¹

Estudos mostraram que os americanos que assistem comregularidade ao noticiário da televisão desenvolvem uma visão exa-gerada da criminalidade local. Bombardeados com imagens violen-tas, vivem com um medo crônico de ataque, enquanto telespectadoresmenos assíduos têm uma perspectiva mais realista.

Harry e Mildred, um casal de aposentados, vivem num bairrorico da periferia, com guarda e portão de segurança. Os gramadosespaçosos são bem tratados, há um Cadillac e um Mercedes novos nagaragem e ali, praticamente, não se ouve falar em crime.

Mas esse casal vive com um medo crônico. Sentem falta de

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programas governamentais para ajudar os sem-teto, porque con-sideram os pobres uma perigosa ameaça a sua segurança. Sequerconfiam em seus vizinhos. A casa deles é uma fortaleza, com umsofisticado sistema de alarme e dois cadeados com cavilhas mortasna porta da frente. Depois do jantar e de três horas de noticiário natelevisão, aventuram-se para o lado de fora, a fim de levar o dober-man para dar a volta no quarteirão, cada um deles segurando umbastão de beisebol "para o caso de haver problemas".

O medo crônico abala nossa saúde e nossa visão do mundo.Impelidos pelo medo, agimos precipitadamente, agravando nossosproblemas. Enquanto a ansiedade aumenta, sentimo-nos cada vezmais desamparados, ansiosos e defensivos. Parecemos vítimas de umuniverso hostil, sob constante ameaça de calamidade. Projetandonossos medos sobre os demais, nós os vemos como inimigos.

Um passo importante para levar uma vida mais pacífica éenfrentar nossos medos, descobrir se o perigo é real ou imaginário etomar as medidas adequadas.

As pessoas Tao permanecem concentradas mesmo em meio aoperigo. As pessoas não-Tao deixam que suas emoções disparemcomo uma manada de carneiros assustados. Entram em pânico. Comolhares alucinados, frenéticos, muitas vezes saem correndo nadireção errada, machucando-se, e aos outros, em sua pressa de fugir.

PARA EVITAR O PÂNICO

Em The Healing Heart (O coração saudável), Norman Cousinschama o pânico de "inimigo máximo" e explica como o estressepsicológico intenso pode causar danos ao coração, abalar o sistemaimunológico e até causar a morte súbita. "Nada", enfatiza ele, "é maisessencial para o tratamento das doenças sérias do que liberar opaciente do pânico e dos pressentimentos".2

QUANDO SE ASSUME A RESPONSABILIDADE

Podemos evitar o pânico com sabedoria e previsão. Na aviação,uma das primeiras coisas que os novos pilotos aprendem é o pré-vôo,a inspeção cuidadosa do avião antes de cada viagem aérea.

Ao ensinar a previsão, o instrutor de vôo diz aos estudantes quese preparem para uma aterrissagem forçada, procurem um campo oupastagem, no caso de perderem um motor. Meu pai surpreende seusalunos puxando para trás, de repente, o manete de gasolina, cortando

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drasticamente a energia e perguntando: "O que você vai fazer agora?"Os alunos têm de mostrar que podem enfrentar uma emergênciaantes que ele os deixe voar sozinhos.

Prevendo as possíveis emergências, um bom piloto estápreparando. Ele não entra em pânico, porque sabe o que fazer. Areação correta torna-se uma segunda natureza.

O mesmo acontece com as pessoas Tao. Sabem o que fazer,porque estudam a natureza. Entendendo os princípios do Tao, fazemescolhas melhores. Como um mestre das artes marciais, elas vêem acrise do momento em termos dos padrões mais amplos.

A IDENTIFICAÇÃO DO PERIGO

Algumas pessoas acham que, se simplesmente ignorarem operigo, ele desaparecerá. Isto é uma rejeição, ou seja, uma reação tolaa qualquer problema. Porque o ciclo continua. Problemas não resol-vidos não desaparecem: pioram.

Isto é verdade tanto para nossos problemas pessoais quantopara os planetários. Não podemos nos dar ao luxo de nos debilitarcom a rejeição, ou de abrir a porta para o desespero. As pessoas Taoenfrentam seus medos e reagem ativamente, respondendo até mesmoàs grises globais com ação positiva.

Em Despair and Personal Power in the Nuclear Age (Desesperoe poder pessoal na era nuclear), Joanna Rogers Macy encoraja aspessoas a enfrentar seus medos em relação ao planeta, acabando coma apatia condicionada.3 Só enfrentando nossos medos recapturamosa energia emocional que eles absorvem, a energia que, de outraforma, nos aprisiona. Num capítulo mais adiante, aprenderemos acanalizar essa energia para a ação positiva, tornando-nos maispoderosos, com um compromisso maior com nosso futuro.

Sejam nossas ações pessoais ou políticas, assumir a respon-sabilidade significa reagir com sabedoria às condições existentes emtorno de nós, tendo conhecimento de quando e como agir. Fazemosisso seguindo o Tao, estudando a maneira como as coisas funcioname agindo em harmonia com elas.

PARA AFASTAR AS SOMBRAS

Existe uma velha história contada por Chuang Tsé sobre umhomem que tinha tanto medo de sua sombra e do ruído de seus passosque corria deles.

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Mas, quanto mais corria, mais rápido soavam os passos atrásdele, mais velozmente sua sombra o seguia. Ele entrou em pânico epassou a correr cada vez mais depressa até, finalmente, morrer deexaustão.

Não percebeu que, se parasse simplesmente de correr, o queele temia pararia de persegui-lo. Descansar à sombra de uma árvorefaria com que a sombra desaparecesse e o ruído de passos cessasse.

Se pararmos de correr de nossos temores interiores, elestambém cessarão de nos atormentar. Dotados de maior compreensãodas coisas e de autoconhecimento, as sombras não mais nosatemorizarão.

AUTO-AVALIAÇÃO: DO QUE TENHO MEDO?

Os medos interiores o(a) perturbam? Será que alguma dessasdeclarações lhe soa familiar?

• Não gosto de minha casa/trabalho/relacionamento, mas tenhomedo de mudar.

• Tenho medo de me arriscar.• Existe algo que eu realmente gostaria de fazer, mas tenho medo de

falhar.• Tenho medo de que, se realmente desejar muito alguma coisa (ou

uma pessoa), eu vá perdê-la.• Gostaria de ter mais sucesso mas não mereço.• Tenho medo de que, se mudar como me agradaria, as pessoas não

gostem mais de mim.• Gostaria de ter mais êxito em minha vida, mas temo não saber lidar

com ele.

MEDO DO DESCONHECIDO

Muitas pessoas continuam em empregos que são becos sem saída,ou em relacionamentos infelizes, porque têm medo da mudança. Porpior que seja sua situação, pelo menos sabem o que esperar. O desco-nhecido, cheio de promessas, está também cheio de ameaças.

Minha amiga Beverly está num emprego de secretária, semnenhuma perspectiva, há mais de cinco anos. Ela é inteligente,criativa e atraente, mas trabalha aquém de suas potencialidades, numemprego que oferece apenas um pagamento semanal.

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O trabalho é monótono, o salário medíocre, não há nenhumapossibilidade de avanço e o patrão é insuportável. Mas ela continuaali, ano após ano, com medo de mudar um modelo familiar.

Beverly tem medo do grande desconhecido, sem perceber que,por mais que se agarre ao que é familiar, a única coisa constante navida é a mudança.

O TAO É DINÂMICO

Seguindo o Tao, aos poucos superamos nosso medo demudança. O fato de percebermos que nosso mundo está cons-tantemente evoluindo em ciclos ajuda-nos a transcender qualquerfixação rígida ao status quo. Pairando sobre o panorama das formasmutáveis, o Tao, em si, é eterno. Lao Tsé diz:

"O Tao é misterioso, insondávelMas dentro dele estão todas as coisas vivas;Insondável, misterioso,Mas dentro dele está a essência,Nebuloso, intangível,Mas dentro dele estão os princípios vitais,Princípios da verdadeQue guiam toda a criação."

(TAO 21)

O Tao descreve a vida como um processo em marcha. Esta é averdade de nossa natureza, a essência do Tao.

Muitas pessoas temem o fracasso. As pessoas Tao sabem quemesmo os erros lhes trazem maior sabedoria. O teólogo Joseph Grassidiz a seus alunos: "Estejam preparados para se arriscar e aprendercom os erros. As pessoas 'com experiência' são aquelas queaprenderam a lucrar com seus erros".5

Algumas pessoas temem o sucesso, com medo de que ele deixesuas vidas fora de controle. Roger teme as pressões maiores que umapromoção acarretaria, então fica no mesmo emprego previsível. Suamulher, Doris, contêm-se, com medo de perdê-lo se ele conseguirmais do que tem.

Muitos filhos dos anos 60 têm medo de perder o equilíbrio casoobtenham sucesso demais. Uma noite, meu vizinho, Dave, ex-membro do Corpo da Paz, vendeu seu velho furgão azul e veiodirigindo um Toyota de volta para nosso prédio.

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Preocupado com a possibilidade de "estar se vendendo aosistema", ele bateu à minha porta, carregando um engradado com seiscervejas. Conversamos até tarde da noite.

Ele tinha o furgão há quase quinze anos. Enfeitado com ban-deiras e signos da paz, o carro tornara-se parte de sua identidade.Mas, agora, enguiçava, constantemente. Mesmo assim, Dave se per-guntava se não estaria amolecendo, se entregando. Seria correto eleter um carro novo, quando o meio ambiente estava poluído e pessoasviviam na miséria?

As perguntas de Dave eram boas. Quando fazemos grandesmudanças, precisamos checar nosso equilíbrio, para nos certificar-mos de que as mudanças não traem nossos valores.

Dave tentava viver de forma simples, ecológica. Porém, o velhofurgão, aos poucos, tornara-se um grande poluidor, desperdiçandogasolina e arrotando fumaça negra. Seu novo carro, movido a energia,na verdade é bem melhor para o meio ambiente.

O carro simplificaria a vida de Dave, levando-o para o trabalho epara o centro de reciclagem sem aqueles problemas desagradáveis. Elepercebeu que não se entregara, pelo contrário, fizera uma mudançasensata.

PERGUNTA TAO

Vivendo o Tao, aprendemos a ver nossas decisões em termos dospadrões mais amplos. Quando estiver pensando em alguma coisa nova,pare e pergunte a si mesmo: "Será que essa escolha se harmoniza commeus valores? Será que traz maior paz para minha vida e para o planeta?"

EXERCÍCIO PESSOAL: EXPLORANDO AS CONSEQÜÊNCIAS

Freqüentemente, temos medo de mudar por causa das conse-qüências desconhecidas. Ficamos imaginando: "E se eu tentar e não gostar?E se eu falhar? E se meus amigos não gostarem de mim?" Podemos lidarcom esses medos antecipadamente, explorando as conseqüências.

Da próxima vez em que enfrentar um novo desafio, tente esteexercício simples:

• Vá para um lugar tranqüilo, onde não o perturbem, e dê-se temposuficiente (pelo menos vinte minutos) para relaxar, mergulhar emsi mesmo e visualizar-se fazendo a coisa que teme.

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• Atinja um visão tão clara quanto possível. O que você está fazendo?Que tal seu aspecto? Como se sente?

• Agora, pergunte a si mesmo(a) sobre as conseqüências. "Qual apior coisa que pode acontecer, se eu fizer isso?"

• Você consegue lidar com isso?• Pergunte: "O que é ainda pior do que isso? E se tudo der errado?"• Você consegue lidar com isso?• Pergunte: "O que é ainda pior do que isso? A pior coisa que posso

imaginar?"• Você ainda consegue lidar com isso?

Examinar as conseqüências ajuda a afastar nosso medo dodesconhecido. Na maioria, nossos medos interiores são sombras quese desfazem à luz de uma maior percepção.

Mas alguns medos são reais. À medida que mudam nossas vidas,ganhamos algumas coisas e perdemos outras. Talvez algumas pes-soas se ressintam de nosso novo estilo de vida e nos abandonem. Masencontraremos novos amigos, para nos amar e apoiar, enquantocontinuamos a evoluir através de nossas escolhas.

ALÉM DOS SEGUIDORES E LIDERES

Ao afirmar uma unidade que a tudo inclui, o Tao transcende ahierarquia, a frenética luta dos seguidores e líderes.

Um número excessivo de pessoas empenha-se em competir,consumir, colecionar coisas, numa pressa de ser maior e melhor. Masisto revela apenas o vazio interior, uma falta de paz íntima.

O pensamento hierárquico floresce na insegurança. Algumashierarquias, claro, designam níveis de competência, como em nossosistema escolar—série K-l2. Mas os americanos apaixonaram-se pelahierarquia, exagerando sua importância e impondo valores hierár-quicos a nossos empregos, nossas posses, até mesmo a nossa vidasocial. Será que realmente acreditamos que algumas pessoas sãomelhores do que as outras?

No Oriente, com sua ênfase no processo — o caminho, emvez do ponto de chegada — há apenas dois escalões no caratê:aluno e mestre, faixa branca e preta. Ao contrário de nossosequivalentes orientais, os centros de caratê americanos anunciamum arco-íris de faixas diferentes: amarela, verde, azul, roxa, verme-lha e marrom. Constantemente, medimo-nos através da competi-ção com outros.

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Page 43: O Tao Da Paz - Diane Dreher

As hierarquias têm exatamente esse efeito. Há sempre alguémpara invejar e alguém para desprezar, enquanto batalhamos parachegar mais alto e fazer mais. As hierarquias reforçam a competição,não a cooperação.

EXERCÍCIO PESSOAL

Usando a imaginação, visualize a sociedade como uma enormeescada, com as pessoas subindo diferentes degraus em sua busca deprogresso.

Há um sujeito no topo, alto e poderoso, em seu assento depoder. Abaixo dele, estão os de escalão superior, seguidos pelosmédios-superiores, os médios, médios-baixos e daí até os maisbaixos.

• Agora, pergunte a si mesmo(a): qual é a posição mais segura nessaescada?

• No topo? Não, essa pobre criatura está desgastada com a subida eteme os que estão abaixo e ameaçam sua posição. Os que estãoabaixo invejam esse poder e temem os que, por sua vez, lhes sãoinferiores. Alguns dos médios olham para o alto, cheios dereverência, temem a autoridade que faz deles perpétuas crianças.Outras, mais abaixo, vivem em constante medo de não conseguirsatisfazer as necessidades de sobrevivência.

• Agora, pegue um pedaço de papel e desenhe uma escada com suaprópria hierarquia — no trabalho, na escola ou na comunidade.Entre todas as pessoas que você conhece, quem está no topo? nomeio? embaixo?

• Onde está você? Como é que essa escada faz você se sentir?• Pergunte a si mesmo(a): "Que critérios limitados usei para construir

essa escada?"• Feche os olhos mais uma vez e relaxe. Substituindo a competição

pela compaixão, veja todos vocês dando-se as mãos. Sinta amor eaceitação moverem-se através do círculo.

• Inspire profundamente e solte a respiração. Se ainda sente algumahostilidade por alguém no círculo, solte-a com outra respiraçãoprofunda.

• Reconheça que, sob as diferenças, todos fazemos parte do círculoda vida, todos estamos unidos no Tao.

• Como você se sente, agora?

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Viver o Tao muda nossa visão das relações sociais. O pen-samento hierárquico não pode conduzir à paz. Talvez seja por issoque os membros da Sociedade de Amigos (Quakers) não usam títulos,colocam o respeito por nossa humanidade comum além dadeferência diante das diferenças sociais.

Enquanto buscamos viver mais pacificamente, vamos ver comque freqüência deixamos a hierarquia afetar nossos relacionamentos.Será que tivemos medo de outras pessoas porque pareciam "acima"ou "abaixo" de nós?

Com que freqüência nos julgamos por exterioridades, marcan-do pontos para nos sentirmos "OK"? Os pontos podem ser qualquercoisa, desde as notas da escola à renda, produção, bens de consumo,conquistas sexuais, até nosso peso —• tudo o que pudermos medir.

O Tao nos lembra que:

"Em pé nas pontas dos pés, não temos firmeza.Esticando-nos demais, perdemos o equilíbrio.Exibindo-nos, escondemos nossa luz.Competindo com os outros, perdemos nosso caminho."

(TAO 24)

Devemos deixar de lado a competição para seguir o caminhodo Tao, que transcende nossa capacidade de medir.

A CONSTRUÇÃO DA PAZ, COM COMPAIXÃO

O pensamento competitivo deixa as pessoas na defensiva.Como explica Gerald Jampolsky em Love Is Letting Go of Fear (Amaré livrar-se do medo), freqüentemente atacamos os outros porquesentimos — por causa de nossos medos — que eles estão nosatacando. Ele nos desafia a substituir os "pensamentos de ataque" pelacompaixão. Em vez de ver os que nos atacam como inimigos, vê-loscomo pessoas assustadas e miseráveis. Reconhecendo seu pedido deajuda, podemos romper o ciclo destrutivo do medo e ataque.

Todo professor sabe que, por trás do aluno indisciplinado oudo valentão da turma, existe uma pessoa assustada, infeliz. Anos atrás,dois rapazes interrompiam constantemente um de meus cursos comcomentários sarcásticos. Sendo professora nova, sentia-me atacada eme colocava na defensiva.

Então, percebi que eles estavam exigindo atenção. Comecei apedir sua cooperação, incluindo-os em discussões, ouvindo suas

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opiniões. A atitude deles mudou. Ativos e ansiosos para aprender,tornaram-se dois de meus melhores alunos.

O Tao diz que, quando estamos em paz com nós mesmos, nãosomos vulneráveis aos ataques dos outros:

"A pessoa TaoÉ pura como uma criança.Na pureza existe uma forçaQue afasta todo o perigo.Se você não temer os outros,Eles não o temerão."

(TAO 55)

Quando estamos em união com o Tao, nossa consciência sutil-mente transforma pessoas e situações, substituindo a discórdia pelaunião, o medo pela compaixão.

CONFIANÇA NO PROCESSO

O Tao nos diz:

"A pessoa mais sábiaConfia no processo,Sem procurar controlar;Toma tudo como se apresenta,Não vive para realizar ou possuir,Mas simplesmente para serTudo o que ele ou ela podem serEm harmonia com o Tao."

(TAO 2)

Quando seguimos o Tao, uma lição aparece sucessivas vezes:confie no processo. Não podemos mudar os ciclos da vida parasatisfazer a nós mesmos, mas podemos aprender a fluir com eles.

Para entrar em harmonia com o Tao é preciso confiança. ArleneWiltberger, conselheira matrimonial e familiar em San Mateo, naCalifórnia, vê nossas vidas como "uma dança entre confiança e medo"."Quando nosso nível de confiança é mais elevado do que nosso nívelde medo, temos paz", ela explica. Mas "quando nosso desejo de controlarnos domina, então somos vítimas de nossos medos".

Para ficar em paz, no curso de qualquer coisa em que estejamosempenhados, devemos liberar nossa necessidade de controlar o

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resultado. Só podemos fazer o melhor de que somos capazes e depoisconfiar nos ciclos evolutivos do Tao.

Gay Swenson, diretor do Instituto Carl Rogers para a Paz, dizter experimentado essa lição em 1988, quando estava organizandouma conferência de paz para a América Central, na Costa Rica.Fortemente comprometida com o sucesso de seu projeto, ela estavamuito preocupada, com medo de um fracasso. Imaginava: "E se aspessoas mais importantes não vierem?" "E se não funcionar?"

Gay reconheceu que "recobrar minha paz implica enfrentarmeus temores". Perguntou a si mesma: "Qual é a pior coisa quepoderia acontecer?" Nesse caso, era um laboratório sem a presençados principais líderes, mas talvez isto também pudesse ser umaexperiência frutífera.

O fato de enfrentar seus temores levou-a a "uma verdadeirasensação de alívio e liberação". Percebendo que não podia controlaro resultado, preferiu confiar no processo e abriu-se para novasdescobertas. Do ponto de vista individual e coletivo, a reunião foiuma experiência valiosa para a promoção da paz.7

Despreocupar-nos com os resultados afasta nosso medo dofracasso, pois sucesso e fracasso são dicotomias que surgem quandotentamos controlar as coisas. O Tao transcende dicotomias. Confian-do no processo, desenvolvemo-nos além das velhas definições, aber-tos a novas descobertas, unidos ao Tao.

Afirmação

Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa.Confio no processo.Olho para os ciclos mais amplos.Encaro meus medos e aprendo com eles.Reajo com sabedoria e compaixão.Ajo positivamente.Respeito a mim mesmo e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais, em

meu mundo.Recebo agora uma paz maior em minha vida.E assim seja.

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Page 45: O Tao Da Paz - Diane Dreher

NOTAS

1. Uma parte do material deste capítulo apareceu anteriormente em "StressManagement for a Healthier World", de Diane Dreher, em Quality Living,abril de 1989, pp. 17-18. Revista dedicada a ajudar as pessoas a desen-volver uma paz maior em suas vidas, Quality Living pode ser obtidaatravés de assinatura, a 20 dólares por ano (quatro exemplares); pedidospara Box One, Valle Crucis NC 28691.

2. Norman Cousins, Tlie Healing Heart: Antídotos to Panic and Helplessness(Nova York: Norton, 1983), p. 168.

3. Joanna Rogers Macy, Despair and Personal Power in the Nuclear AgeFiladélfia: New Society Publishers, 1983), passim,

4. Thomas Merton, The Way of Chuang Tzu (Nova York: New Directions,1965), p. 155.

5. Grassi, Changing the World Within, p. 40.6. Gerald G. Jampolsky, Loving Is Letting Go of Fear (Berkeley: Celestial

Arts, ©1979), pp. 34, 85. Usado com permissão do autor e do editor.7. Meus agradecimentos a Arlene Wiltberger, M.A., e Gay Leah Swenson,

Ph.D., por uma entrevista em San Carlos, Califórnia, em 2 de outubro de1988. Arlene é conselheira matrimonial e familiar, com prática particular(501 First Avenue, San Mateo, CA 94401). Gay é Diretora do Carl RogersInstitute por Peace no Center for the Studies of the Person ,1125 Torrey PinesRoad, La Jolla CA 92037, tel. (619) 459- 3861.Posteriormente, ela me disse que o seminário em questão foi um encontromuito bem-sucedido de cinqüenta líderes políticos e leigos de onze países,incluindo o Presidente Oscar Arias, da Costa Rica, ganhador do PrêmioNobel da Paz, em 1987.

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CAPÍTULO 7

COMO ELIMINAR

A TENSÃO

Ao nascerem, todas as pessoas são brandas e dóceis.Ao morrerem, são duras e rígidas.

Todas as plantas novas são macias e flexíveis.Ao morrerem, são quebradiças e secas.

Quando estamos duros e rígidos,Associamo-nos com a morte.

Quando estamos macios e flexíveis,Afirmamos uma vida maior.

(TAO 76)

Seguir o TAO significa manter nossas mentes abertas, nossoscorpos relaxados, liberando as tensões da vida moderna atravésde exercícios regulares. A ioga taoísta, a respiração e o t'ai chi

ajudam a regular o fluxo de chi, e energia do Tao que circula atravésde nossos corpos e de toda a criação.

Segundo a medicina chinesa, o chi se movimenta em cicloscontínuos, de nossas cabeças para nossos pés, alimentando todos osórgãos vitais. Quando essa energia é bloqueada — pelo estresse,emoções negativas, alimentação inadequada, falta de sono ou exer-cício insuficiente — adoecemos.

Os tradicionais curandeiros chineses empregam a acupunturapara estimular pontos ao longo dos meridianos. Eliminando os blo-queios e restabelecendo o fluxo, devolvem a seus pacientes umestado de equilíbrio dinâmico. Muitas vezes, as pessoas consultamum curandeiro antes de adoecerem, reconhecendo que, quando seuchi está enfraquecido, têm resistência mais baixa às doenças. Nóstambém podemos praticar a medicina preventiva, tornando-nos maisconscientes de nossas energias, fortalecendo nosso chi com exer-cícios regulares e usando as técnicas descritas neste capítulo sempreque nos sentirmos cansados ou tensos.

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Page 46: O Tao Da Paz - Diane Dreher

A tensão e o cansaço são demasiado comuns no mundo atual.O escritor e o curandeiro holístico Michael Reed Gach relaciona oenfraquecimento de nossa vitalidade com três características da vidamoderna:

(1) Respiração superficial e dias passados em ambientesfechados, respirando ar viciado, o que resulta numa oxigenaçãoinadequada para nossos corpos. Todos nós necessitamos respirarmais profundamente e passar mais tempo do lado de fora ao ar livre.

(2) Tensão crônica, que bloqueia a circulação do chi. Dedicartempo para alongamento e movimentação é vital para as pessoas quepassam o dia inteiro sentadas, ou num emprego estressante, queexige muito delas.

(3) Falta de exercício, que torna mais lenta a circulação dosangue. Isto priva nossas células de oxigênio suficiente, permite queas toxinas se acumulem e faz com que nos sintamos lerdos.

As pessoas perturbadas pelo cansaço crônico dirão que estãocansadas demais para fazer exercício. Porém, liberando a tensão, oexercício faz nossa energia crescer e aumentar nosso vigor. A maioriadas pessoas se sente mais vigorosa, depois de uma hora de exercíciosintensos.

TENSÃO E EMOÇÕES

Emoções negativas produzem tensão. Alimentar mágoas,medo, raiva, frustração ou ressentimento pode causar dor muscularcrônica. Ombros tensos e rígidos são o resultado da ansiedade,resistência à mudança ou sensação de estar sobrecarregado. Dor nomeio das costas indica culpa, dor na parte inferior das costas, medoou problemas financeiros. A tensão se acumula no abdome quandotemos medo de ser nós mesmos e nos quadris, quando somossexualmente inibidos ou tememos o futuro. Dor no pescoço indicafrustrações ou resistência a pessoas ou a problemas.

A depressão relaciona-se com a respiração superficial econtraída. Uma respiração lenta e profunda, durante cinco minutos,muitas vezes pode tirar uma pessoa da depressão. "Parece simples",diz Michael Reed Gach, "mas exige profunda concentração". Porém,ele diz que esse exercício simples "mudará completamente a maneiracomo a pessoa se sente em relação a si mesma".

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IOGA TAOÍSTA

O Tao nos pede:

"Você consegue atravessar sua vidaFirmemente ligado ao Tao?Liberando sua tensão,Enquanto se concentra em sua respiração,Você consegue relaxar como uma criança?Consegue limpar sua visãoE abrir-se para a vida?"

(TAO 10)

Esse trecho é a descrição que Lao Tsé fez da ioga taoísta, outso-wang, uma prática que restabelece nossa harmonia íntima e aunião com o Tao. Há séculos, os taoístas exercitam-se para mantersuas mentes e corpos flexíveis.

RESPIRAÇÃO TAOÍSTA

A ioga taoísta começa com a respiração. Para os chineses, aprópria vida começa com nossa primeira respiração, quando a alma,ou shen, entra no corpo. Inspirar é yin, a absorção de novas energiase sua circulação pelo corpo, passando pelo coração e os pulmões aténossos órgãos vitais. Expirar é yang, quando a respiração eleva-se doabdome e passa pelo coração e pelos pulmões, saindo para a atmos-fera. Essa alternância de yin e yang continua até nossa últimarespiração, quando shen é liberado pela morte.

A atmosfera, o ar em si, cada respiração e a energia nele contida,tudo isto é conhecido como chi. No século II a.C, o mestre taoístaTung Chung-Shu explicou que o "espaço entre céu e terra" estavacheio de chi, e nele estávamos imersos, "como peixe na água."6

Enquanto inspiramos e expiramos, o que é interior circula emtorno de nós; e o que está em torno flui outra vez para dentro de nós.Assim, a energia de nossos pensamentos e sentimentos flui cons-tantemente para a atmosfera, afetando nosso mundo sem cessar.

Nossos edifícios ficam carregados de chi positivo ou negativo,refletindo as energias das pessoas que lá se encontram. Áreas cheiasde chi positivo tornam-se lugares maravilhosos para recarregar.Koichi Tohei, mestre de Aikido, diz a seus alunos para irem até o salão

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de treinamento quando se sentirem deprimidos, porque assim asvibrações acumuladas irão ajudá-los a restabelecer suas energias.*

Quando estão irritadas ou deprimidas, as pessoas podem res-tabelecer seu chi, tornando-o positivo com alguns exercícios, assimliberando a tensão e abrindo-se para uma vibrante energia nova.7

PERGUNTA TAO

Onde você pode restabelecer suas energias com chi positivo?Num centro esportivo ou num de artes marciais? Num parque localou numa capela tranqüila? Num lugar especial em sua casa ou nojardim?

Identifique pelo menos um lugar onde você pode recarregarsuas energias vitais. Lembre-se de ir lá freqüentemente.

EXERCÍCIO PESSOAL: RESPIRAÇÃO CHI

Nossos corpos têm uma sabedoria natural para se res-tabelecerem. Muitas pessoas só respiram profundamente quandobocejam, reflexo natural que libera o ar viciado e causa a absorçãode mais oxigênio8. Podemos cooperar com a sabedoria natural denosso corpo praticando a respiração chi sempre que nos sentimoscansados ou tensos.

• Sente-se ou fique de pé com a coluna ereta, inspirando lenta eprofundamente pelo nariz, absorvendo o ar em profundidade noabdome, não no peito. Afrouxe o cinto e ponha a mão em cima doestômago, para sentir o ar mover-se para baixo e penetrar nessaárea.

• Visualize a radiante energia chi, como uma forte luz douradacercando-o e fluindo com cada respiração.

• Sinta a cálida energia chi fluindo para baixo, para seu abdome eatravés do seu corpo.

• Prenda a respiração e conte devagar até três (avançando até dezsegundos, se quiser).

* É claro que, quando se está doente deve-se buscar atendimento médico qualificado.A ioga taoísta não é aceita pela medicina ocidental como meio de diagnóstico outratamento, mas pode ser de grande auxílio nos cuidados médicos. É preciso,porém, fazer um exame físico antes de adotar qualquer programa de exercícios.

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• Agora, lentamente, expire pela boca, sentindo qualquer tensãodissolver-se, no fluxo cálido e dourado de energia.

• Repita isso três vezes e você se sentirá profundamente relaxado(a)e revigorado(a).

RÁPIDA PAUSA CHI

Os exercícios respiratórios são maravilhosos porque é possívelrealizá-los a qualquer hora, em qualquer lugar. Durante um diaocupado, muitas vezes faço esta pausa chi:

• Inspire profundamente e retenha o fôlego por alguns instantes.• Expire devagar, dizendo para si mesmo(a): "Expiro a Tensão".• Inspire devagar, dizendo para si mesmo(a): "Inspiro a Paz".

IOGA

A ioga taoísta funciona suave e tranqüilamente, aumentando ofluxo de chi dentro de nós. Algumas posições ativam os pontos deacupressão com o peso de nossos corpos. Essas simples posições irãoajudá-lo a liberar o estresse e sentir mais paz:

POSIÇÃO DE ORAÇÃO

A posição de oração abre o chakra do coração, aumentandonossa paz interior.

• Sentado(a) numa cadeira, com a coluna ereta e os pés firmes nochão, junte as palmas das mãos, dobre-as como numa oração epressione-as contra o peito, na altura do esterno, no centro doarcabouço de suas costelas, perto do coração.

• Fechando os olhos, inspire profundamente, concentrando-se nesseponto. Sinta que está sendo invadido por uma nova energia.

• À medida que expirar, sinta que a energia circula através de suamente e de seu corpo.

• Continue a respirar lenta e profundamente por um minuto.• A postura de oração ativa o vaso da concepção 17, um ponto de

acupressão que une todos os meridianos do yin, acalmando osistema nervoso e renovando nossa energia.

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O Tao nos diz:

"Torça-se e fique direito.Curve-se e torne-se ereto.Esvazie-se e seja pleno.Gaste energia para se renovar."

(TAO 22)

Muitos exercícios de ioga, ou asanas, funcionam em oposição,contraindo e relaxando músculos para liberar a tensão, curvando acoluna vertebral para mantê-la reta. Essas duas asanas massageiama coluna e as costas, acalmam o sistema nervoso e estimulam o fluxode chi.

TRÊS FORMAS DE ALONGAMENTO

• Fique deitado de costas numa esteira própria para fazer exercíciosou num tapete macio. Relaxe os músculos e sinta sua colunaendireitar-se.

• Com os ombros ainda tocando no chão, eleve as mãos em direçãoao teto, mantendo os braços retos. Inspire e expire lenta e profun-damente. Depois, devagar, abaixe os braços até os lados do corpo.

• Mantendo os braços retos, erga-os devagar outra vez e estenda-osacima da cabeça, deixando que repousem no chão, se possível.Inspire outra vez, profundamente, e solte a respiração. Depois,devagar, abaixe outra vez os braços até os lados do corpo.

• Com os braços dos lados do corpo, inspire lenta e profundamente,fazendo uma pressão leve da parte inferior das costas contra o chão.Mantenha as costas nessa posição, depois solte a respiração e fiqueà vontade.

• Termine deitado de costas, com as pernas retas e os braços doslados do corpo, respirando lenta e profundamente por um minuto,enquanto sente que seus músculos se relaxam e as energiasmovimentam-se pelo corpo.

BALANÇO

• Sente-se numa esteira própria para exercícios ou num tapete macio,de modo que suas costas não batam no chão duro. Fique num lugaronde haja espaço suficiente para se movimentar.

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• Dobre os joelhos, prendendo as mãos uma na outra debaixo deles,e puxe-os para cima, em sua direção.

• Curve a cabeça levemente para trás. Mantendo a coluna ar-redondada, balance-se para trás e para a frente, como se estivessenuma cadeira de balanço.

• Balance-se de quatro a seis vezes e, depois, alongue-se no chão erelaxe, respirando profundamente.

O professor de ioga Indra Devi recomenda essa posição paraaliviar a insônia. Anos atrás, um de seus alunos, um oficial do exércitobritânico que tinha problemas para dormir, disse-lhe que, depois deuma semana de balanço, jogara fora os soníferos e passara a dormirtranqüilamente a noite inteira.

Quando ensinava ioga, eu encerrava cada exercício com umrápido período de relaxamento, o complemento yin para o movimen-to yang. Aprendemos com o Tao que nossas energias beneficiam-secom períodos de contração e relaxamento.

Se você gostar desses exercícios simples, pode querer entrarpara uma aula de ioga, a fim de aprender asanas mais avançadas. Aprática regular da ioga proporciona paz interior e crescimentoespiritual, bem como a liberação da tensão, o controle do peso e oaumento de vitalidade.

Uma de minhas posições favoritas, a posição de ombros, es-timula a circulação, regula as glândulas e os órgãos internos e res-tabelece a energia vital. Os iogues dizem que quinze minutos naposição de ombros eqüivalem a mais ou menos duas horas de sono.

Alguns anos atrás, dois amigos se valeram bastante dessaposição. Bill e Allan, pilotos comerciais foram contratados para levarum atarefado advogado até Bakersfield, para uma audiência notribunal, depois a Los Ageles e, finalmente, de volta a San José,naquela mesma noite.

Decolaram de San José com o passageiro de manhã cedo, naterça-feira, e levaram-no até Bakersfield, onde esperaram três horas,enquanto ele concluía suas tarefas no tribunal. Como tinha um longodia pela frente, praticaram ioga para recarregar a energia.

A imagem daqueles dois rapazes fazendo posições de ombrono gramado da biblioteca de Bakersfield deve ter surpreendido ostranseuntes. Mas, depois da ioga e de um leve almoço, eles sesentiram repousados e prontos para partir. Tinham energia suficientepara voar até Los Angeles para o próximo compromisso e, depois,

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para fazer todo o caminho de volta a San José, chegando em casa àsquatro da madrugada.

Para pessoas Tao, uma das lições mais decisivas é lidar comnossas próprias energias. A antiga prática da ioga pode ser umaafirmação útil para qualquer pessoa que esteja procurando levar umavida equilibrada.

T'AI CHI

T'ai chi, outro antigo sistema de exercício, usa posições emovimentos alternados para harmonizar nossas energias.

Há um antigo ditado chinês que fala em ficar "em pé como umpinheiro", equiparando a estabilidade emocional a um profundoenraizamento no chão. Uma das primeiras lições do t'ai chi é ameditação em pé, que restabelece nossa força com a energia nutritivada terra.

MEDITAÇÃO EM PÉ

• Fique em pé, com os pés cerca de trinta centímetros separados umdo outro, mantendo a coluna ereta. Chegando os quadris para afrente, dobre ligeiramente os joelhos.

• Estenda as mãos à sua frente, com os cotovelos dobrados, leve-mente acima do nível da cintura.

• Agora, inspire profundamente em seu hara, que é o ponto de podersituado a cerca de cinco centímetros abaixo do seu umbigo. Sintaa energia da terra elevar-se a seus pés.

• Expire, sentindo a energia fluir através de suas mãos. Você podeter uma sensação de formigamento.

Esse exercício estimula o fluxo do chi, fortalece os músculosdas coxas e "aterrissa" nossas energias, religando-nos com a terra. Éuma maneira maravilhosa de ganhar forças, quando nos sentimosdispersos.

Janet DeVore, curandeira holística que mora no monte daCalifórnia, ensinou-me essa posição tempos atrás. Como fortalecemuito, ela recomenda que seja empregada em todas as oportunidadespossíveis, praticando-se uma versão modificada (sem estender osbraços) quando estivermos escovando os dentes pela manhã ouesperando numa fila de banco.1 Seguindo o conselho de Janet,

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descobri que a prática secreta da posição t'ai chi transformou muitaslongas esperas em oportunidades para renovação.

MOVIMENTO TAOÍSTA

Os movimentos do t'ai chi semelhantes à dança, equilibramnosso corpo, por alternarem os impulsos do yin e yang, contração eexpansão, esquerda e direita. Espontânea, fluida, graciosa como ovento, a essência do t'ai chi pode ser modificada para se adaptar anossa vida moderna.

DANÇA

Al Chung-liang Huang, autor de Embrace Tiger, Return toMontain (Abrace o tigre, volte para a montanha) diz que, quando sesente deprimido, recupera sua energia dançando. "Quando danço eme movimento", diz, "tudo parece entrar nos eixos."

O movimento libera a tensão e elimina bloqueios, equilibranaturalmente nosso corpo, nossas emoções. Dançando, tornamo-nosfluidos, espontâneos, unidos ao Tao. Da próxima vez em que se sentircansado, ou tenso, ponha alguma música para tocar e comece a dançar.

CAMINHADA

Um velho ditado chinês compara a caminhada ao fluir do vento."Caminhar como o vento"1 significa movimentar-se de leve, comfacilidade, naturalmente, mudando nosso peso da esquerda para adireita e equilibrando nossas polaridades.

Quando estamos cansados ou estressados, podemos res-tabelecer nosso equilíbrio simplesmente dando uma caminhada.Sendo exercício bipolar, a caminhada usa ambos os lados do corpo.Estimulando as partes esquerda e direita do cérebro, traz-nos maiorequilíbrio. Melhorando a circulação e fortalecendo as energias chi,estimula nossos próprios ritmos interiores. Sintonizamos com nossapulsação, nossa respiração, as sensações de nosso corpo, e alcan-çamos um sentido mais profundo de sermos nós mesmos.

O Tao nos ensina a atender aos ritmos dentro de nós e à nossavolta. Mas, com muita freqüência, somos pressionados pelo mundoexterior e perdemos contato com nossa própria música interior. Umabarreira de ruído, telefonemas, prazos e exigências dos outros nos

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interrompe constantemente, tirando-nos de sincronia. O exercíciotaoísta pode restabelecer nossa harmonia interior, fazendo com queos ritmos de nossas vidas voltem a padrões mais pacíficos.

Afirmação

Sei que minha vida é pacífica e harmoniosa.Consciente de minhas energias, lembro-me de alimentá-las e

de restabelecê-las.Liberando toda a tensão, relaxo e entro numa consciência

mais profunda.Sigo minha própria música interior.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Citações e informações de Michael Reed Gach, aqui e em outras partes,do livro de Michael Reed Gach e Carolyn Marco, Acu-Yoga: Self-HelpTechniques to Relieve Tension (Tóquio: Japan Publications, 1981),maravilhoso recurso para equilibrar energias. Informações sobre tensãoe cansaço na p. 160. Usado com permissão.

2. Gach, Acu-Yoga, p. 169; Hay, You Can Heal Your Life. pp. 154,158,168,176,184.

3. Gach, Acu-Yoga, p. 154. Usado com permissão.4. Holmes Welch, Taoism: The Parting of the Way (n.c: Beacon Press,

1965), p. 71.5. Maspero, Taoism and Chinese Religion, pp. 47-48, 326.6. Maspero, Taoism and Chinese Religion, pp. 71-72.7. Koichi Tohei, Ki in Daily Life (Tóquio: Ki No Kenkyukai, 1978),

pp. 25-26.8. Gach, Acu-Yoga, p.1619. Por essa posição tranqüila e renovadora, agradeço a Michael Reed Gach.

Usada com permissão, tirada de Acu-Yoga, p. 87. Para maioresinformações sobre os guias de Gach, seminários sobre acupressão outreinamentos, contatar o Acupressure Institute, 1533 Shattuck Ave.,Berkeley CA 94709, tel. (415) 854-1059.

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10. Indra Devi, Yoga for Amertcans (Englewood Cliffs, Nova Jersey, Pren-tice-Hall, 1959; Nova York: Signet, 1968), pp. 41-42. Sou grata a IndraDevi por me ter apresentado esse exercício, anos atrás.

11. Gach, Acu-Yoga, p. 223.12. DaLui, Taoist Health ExerciseBook(NovaYork:QuickFox, 1974), p. 37.13. a palavra chinesa para esse centro de poder é tant'ien. Usei o termo

japonês do aikido em todo o livro, porque é mais simples e mais fácilde lembrar.

14. A meditação em pé, aqui e em outras partes do livro, é usada compermissão de Janet Y. DeVore, R.N., curandeira holística e médica, queensina acupressão, cura com ervas, harmonização, toque de tambores,uso de escudos e meditação no Earth Woman Medicine Shield Center,1032 Lovell Aven., Campbell CA 95008. Minha gratidão a Janet por terpartilhado sua sabedoria sobre a arte da cura, combinando as tradiçõesdo Oriente e do Ocidente.

15. Al Chuang-liang Huang, Embrace Tiger, Return to Mountain: The Es-sence of T'ai Chi (Moab, Utah: Real People Press, 1973, p. 177.

16. Da Lui, Taoist Health Exercise Book, p. 37.

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CAPÍTULO 8

A BUSCA DA

SIMPLICIDADE

Seja fiel a estes princípios:Procure a simplicidade,

Capte o essencial,Supere o egoísmo

E os desejos perdulários.

(TAO 19)

Asimplicidade limpa nossa visão, livra-nos dos falsos valores,traz maior beleza para nossas vidas.A palavra chinesa para simplicidade é su que significa seda

crua: natural, pura, sem enfeites.1 Há muito tempo, a arte chinesa vemafirmando a beleza da simplicidade.

Anos atrás, passei muitas horas solitárias tentando alcançar ainefável simplicidade da pintura chinesa. Praticar as pinceladasdemanda paciência. Feitas com um único movimento fluido, aspinceladas são wu wei: não podem ser forçadas. O pintor precisaalcançar uma harmonia interior antes de tentar retratá-la sem possuí-la.

As obras dos mestres são modelos de graça espontânea: umramo de flores de cerejeira, koinum pequeno lago, um simples caniçode bambu. Não há pinceladas extras, nenhum enfeite. Tudo é sereno,contra um pano de fundo simples. A seda natural ou o papel de palhade arroz, em si, tornam-se parte do quadro. A arte chinesa ensina aimportância do espaço vazio, da abertura, da sabedoria do Tao.

Estudante de filosofia oriental, Henry David Thoreau elogiavaa abertura dos devaneios silenciosos, a alegria da contemplação. Seusdias no lago Walden eram longos e sem pressa. "Gosto de dar a minhavida uma margem ampla", dizia ele.

Quanta margem deixamos para nossas vidas? Não estarão nos-sos lares, nossos armários, nossas agendas, impossivelmente lotados?

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"Nossa vida é desperdiçada com detalhes", escreveu Thoreau,aconselhando seus leitores a "simplificar, simplificar." Este capítuloajudará a tirar o entulho e a confusão de nossas vidas.

COMO ENCONTRAR A SIMPLICIDADENUM MUNDO MUTÁVEI

Alvin Toffler cunhou a expressão "choque do futuro", paradescrever nossa desorientação quando experimentamos um excessode mudanças com demasiada freqüência. Segundo Toffler, as rápidasmudanças, nas últimas décadas, desgastaram nosso senso desegurança. Tornamo-nos uma "sociedade descartável". As em-balagens de fast food, as sacolas de supermercado, garrafas, latas,guardanapos de papel, invólucros plásticos, roupa de última moda,lâminas que se gastam logo, câmeras, até mesmo os relacionamentos,são rapidamente jogados fora, quando sua utilidade acaba.3

Esse modelo tem causado desequilíbrio não apenas pessoal,mas também planetário, efetando adversamente nossa economia. Aobsolescência planejada perturbou nossa balança comercial, porquemuitos produtos americanos não são confiáveis, ou não têm conserto.Isto provocou o rápido acúmulo de lixo, desequilibrando nossaecologia e envenenando o planeta.

A busca de simplicidade, num mundo de impermanência é umgrande desafio. Mas uma desescalada, assim como uma maiorconsciência de forma como usamos as coisas, cria uma paz maior,tanto do ponto de vista individual quanto do coletivo.

EM BUSCA DE SOLUÇÕES SIMPLES

Seguindo o Tao, percebemos que até nossas mínimas ações têmconseqüências, contribuindo para o desenvolvimento dos ciclos emtorno de nós. Um exemplo é o familiar copo de plástico. O uso dessescopos no trabalho torna cada um de nós responsável por cinco copospor semana, vinte por mês e, dentro de um ano, 260 adendosnão-biodegradáveis à montanha de lixo existente neste planeta.

Se levarmos nosso próprio copo para o trabalho e encorajarmosos outros a fazer o mesmo, estaremos economizando dinheiro, crian-do uma atmosfera mais familiar e ajudando a reduzir o desperdícioirracional e a poluição em torno de nós.

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Recusar-nos a usar os copos de plástico, pedir sacolas eprodutos biodegradáveis no supermercado, evitar os restaurantesque servem fast food, com suas embalagens descartáveis, e desescalarnossas necessidades — tudo isso são ações simples, mas comconseqüências a longo prazo.

A CRIAÇÃO DE MODELOS DE ESTABILIDADE

Simplificar nossas vidas também significa conservar o que nospertence. As pessoas Tao reservam tempo, todos os dias, para rituaispessoais de estabilidade. Alguns começam o dia com meditação ouexercícios. Outros dão uma caminhada diária ao meio-dia ou reser-vam tempo para descontrair, depois do trabalho.

Meu parceiro de casamento, Gwilym, começa cada dia comcaratê shoto-kan e uma corrida de três quilômetros. Enquanto aindaestá escuro do lado de fora, ele pratica seus exercícios de aquecimen-to de caratê. Depois, corre pelo bairro quando está amanhecendo,observando o céu mutável e despertando a vida em torno dele. Ospardais cantam na copa das árvores e os atarefados esquilos dançampelos galhos, lá em cima. Cercado por esse programa inspirador,ele faz suas afirmações, reconhecendo sua parte na comunidademais ampla. Seu ritual matinal combina exercício aeróbico comrenovação espiritual.

Eu começo meu dia de maneira completamente diferente: con-centrando-me com leitura tranqüila e meditação. Enquanto o ama-nhecer, aos poucos, filtra-se pela janela, olho minha agenda para verque padrões o novo dia oferece, concluindo com afirmações deharmonia para o dia que começa.

Algumas vezes, quando tínhamos hóspedes, eu deixava decumprir meu ritual matinal para ir tomar o café da manhã com eles.Mas, então, eu encarava o dia sem concentração, tomava decisõestolas e reagia aos acontecimentos, em vez de responder de formacentralizada.

Uma vida equilibrada exige disciplina. Só nós podemos vivernossas vidas da maneira que escolhermos. Agora, não importa o queos outros pensem, reservo meu tempo para esse encontro comigomesma, todas as manhãs. Quando minhas energias estão centra-lizadas, o resto do dia corre mais suavemente para todos.

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PERGUNTA TAO

Qual é seu modelo pessoal de estabilidade? Você tem um ritual paracomeçar o dia, reserva tempo para concentrar-se ou descontrair à noite?

Se não, escolha um ritual de renovação pessoal que funcionepara você — meditação, exercício, afirmação — e decida cumpri-lotodos os dias à mesma hora. Então, não importa o que o universooferecer, você terá um modelo duradouro para sua vida.

PARA SIMPLIFICARA SOBRECARGA SENSORIAL

O Tao nos diz:

"As cinco cores podem cegar nossos olhos,Os cinco sons ensurdecem nossos ouvidos.Os cinco gostos exaurem nosso apetite.A busca de satisfação dos desejos pode enlouquecer-nos.Portanto, a pessoa TaoBusca a sabedoria interior,Abra mão dos excessos,Afirme a verdade."

(TAO 12)

A vida moderna ataca nossos sentidos com ruído, cor e apelosincessantes ao apetite. É fácil perder nosso equilíbrio. Como disse LaoTsé: "A busca de satisfação dos desejos pode enlouquecer". Pesquisasmostraram que a sobrecarga sensorial produz sintomas muitoparecidos com os da esquizofrenia. Grande número de pessoas saicorrendo numa dúzia de direções ao mesmo tempo. Comem, vestem-se, trabalham e se divertem sem nenhuma orientação. Perdendo avisão do conjunto, sucumbem a fragmentação, à doença, à exaustão.

EXERCÍCIO PESSOAL

Podemos reduzir a sobrecarga sensorial da seguinte maneira:

• Buscando períodos de silêncio, todos os dias. Desligue o rádio e atelevisão, feche a porta, desligue o telefone. Sinta a saudávelsensação do silêncio.

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• Passando algum tempo sozinho todos os dias, caminhando, lendoou trabalhando, escutando os próprios pensamentos.

• Passando algum tempo no mundo natural: trabalhando no jardim,caminhando no parque. Limpe seus sentidos com os sons e ima-gens naturais. Escute os pássaros cantarem, o roçar das folhas. Sintao perfume das flores. Descanse os olhos no verde macio das coisasque crescem e no marrom fértil da terra.

PARA SABER O QUE É BASTANTE

O Tao nos diz:

"Grandes problemas ocorremQuando não se sabe o que é o bastante.Grandes conflitos surgem quando se quer demais.Quando sabemos o que é o bastante,Haverá sempre o bastante."

(TAO 46)5

Há vinte e cinco séculos, Lao Tsé percebeu os perigos do excesso,tanto em termos individuais quanto coletivos. Para os indivíduos, oexcesso causa sobrecarga sensorial, desequilíbrio, doença. Coletiva-mente, o excesso de consumo por parte de alguns causa deficiênciaspara outros perpetuando os ciclos de pobreza, injustiça e gueixa. Oextremo yang leva ao yin, o excesso à deficiência. "Grandes conflitossurgem quando se quer demais".

O caracter chinês que corresponde à sabedoria hui, consistenuma vassoura suspensa sobre a mente-coração. Para os chineses,a sabedoria, literalmente, significa varrer qualquer entulho. Podemosfazer isso de quatro maneiras diferentes: simplificando nossas posses,nosso conhecimento, nossa comunicação e nosso uso do tempo.

PARA SIMPLIFICAR NOSSAS POSSES

Nossa sociedade parece encorajar o entulho. Muitos de meusvizinhos precisam deixar os carros do lado de fora, porque suasgaragens estão cheias de coisas de que já se esqueceram há muitotempo.

Livrar-se das coisas que não usamos mais ajuda-nos a descobriro que temos. Também nos fortalece emocionalmente. Abrir mão dosvelhos pertences ajuda-nos a nos libertar do passado. Antigas

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queixas, culpas, ressentimentos e pesares desaparecem, capacitando-nos a viver mais plenamente o presente.

EXERCÍCIO PESSOAL

Você pode trazer uma ordem maior para a sua vida examinandoseus armários, gavetas e garagem e dando tudo que não precisa.

• Escolha uma área de cada vez e examine-a sistematicamente,jogando fora tudo aquilo que você não usa mais. Provavelmente,você descobrirá coisas que não sabia que tinha.

• Coloque as peças que vai dar bem arrumadas numa caixa e leve-aspara sua instituição de caridade favorita. Reciclar aquilo de quevocê não precisa mais coloca maior número de coisas em circulaçãoe reduz o desperdício no planeta. Todos se beneficiam com isso.

• Resolva limpar uma área por mês, livrando-se de velhos pertences,criando uma ordem maior e fazendo com que nova energia circuleem sua vida.

A POLÍTICA DA SIMPLICIDADE

Muitas pessoas, erroneamente, associam simplicidade compobreza, mas existe uma diferença fundamental. A simplicidade éuma questão de escolha, e pobreza não. Simplificando, afirmamosmaior poder sobre nossas vidas: escolhendo a saúde, a ordem e abeleza; descartando o entulho e a confusão.

Como tudo está relacionado no Tao, os efeitos políticos de umavida mais simples são de longo alcance. "Quando sabemos que obastante é o bastante, haverá sempre o bastante" {Tao 46). Quantomais pessoas escolherem um estilo de vida mais simples, maisequilíbrio e justiça existirão no mundo.

Na década de 50, uma mulher que chamava a si mesma de PeacePilgrim (Peregrina da Paz), começou a caminhar pela América numaperegrinação em prol da paz. Reduzindo seus pertences às roupasque levava às costas e algumas poucas peças nos bolsos, ela escolheuviver no que chamava de "nível da necessidade", alegrando-se coma liberdade que descobriu.

Determinando seu próprio "nível de necessidade", muitospacificadores de hoje cortam o excesso, considerando-o uma carga,além de ser pouco saudável e injusto e passam a viver com

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simplicidade, para afirmar seu crescimento espiritual ou asolidariedade aos pobres. Muitos partilham sua riqueza com osfamintos e desabrigados. Viver com simplicidade liberta e dápoder, como explicou Peace Pilgrim: "Uma simplificação persis-tente cria um bem-estar interior e exterior que dá harmonia à vidada pessoa."

Há muitas vantagens numa vida mais simples. Leva-nos maisperto da natureza, encoraja-nos a partilhar, reduz a poluição,economiza dinheiro, preserva o meio ambiente, diminui a atenção,promove melhores condições para a saúde e alimenta-nos espiritual-mente.8 A simplificação consciente de nossas vidas ajuda-nos a veralém dos valores materialistas de nossa sociedade e a perceber asabedoria duradoura do Tao.

Uma vida mais simples melhora nossa saúde mental, de acordocom Mitch Saunders, conselheiro matrimonial e familiar. Restabelecenossa inteireza liberando-nos da ética compulsiva do trabalho, "amaneira como nossa cultura está estruturada, valorizando as coisas,não as pessoas".

"A paz", explica Mitch, "consiste em ficar próximo do que énatural e simples", voltando à sabedoria das sociedades primitivas,que estão mais perto da terra. Gandhi também reconheceu isto. Amoderna sociedade industrializada pode, com facilidade, rompernosso equilíbrio.

A BUSCA DE SEGURANÇA ALÉM DE NOSSAS ILUSÕES

Colecionar coisas obsessivamente tornou-se uma muletaemocional para muitas pessoas, uma ilusão de segurança num mundoinseguro. Quando a mãe de Denise morreu, no ano passado, minhaamiga levou meses para separar seus pertences.

Os armários da cozinha estavam entulhados de enlatados,antigos, cobertos de poeira; os armários de roupa branca estavamcheios de lençóis e toalhas novos, guardados "para hóspedes". Oitodúzias de rolos de papel higiênico estavam estocados em armáriosem toda a casa, cinco conjuntos de travessas empilhadas no guarda-louças. Bugigangas enchiam três prateleiras e cobriam todos ostampos das mesas. Os armários estavam entulhados de roupas quenão eram usadas há anos.

O Tao nos ensina que não podemos encontrar segurança forade nós mesmos e, sem dúvida, não a encontraremos por trás de

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muralhas de entulho. Nós a descobrimos quando nos examinamosinteriormente, seguindo o Tao e vivendo com integridade.

PARA SIMPLIFICAR NOSSOS CONHECIMENTOS

O Tao nos diz:

"Quando buscamos conhecimentos,Adquirimos muita coisa.Quando buscamos o TaoDescartamos muita coisa."

(TAO 48)

O Tao ensina a liberalidade e a liberação da tirania do costumee da autoridade. Muita coisa que, no mundo, passa por co-nhecimento, na verdade não passa de entulho intelectual que nosimpede de pensar por nós mesmos. O conhecimento que en-contramos na sala de aula, nos livros, nos jornais ou na televisão éprincipalmente a experiência e a opinião de outras pessoas. Umaparte desse conhecimento pode ser verdadeira, mas desistimos denossa independência intelectual se o aceitamos como coisa es-tabelecida. O Tao diz para não deixarmos ninguém mais pensar por nós.

As pessoas do Tao estudam a vida. Escutam os outros e pesamsuas opiniões. Mas tomam suas próprias decisões, seguem suaorientação interior e os ciclos do Tao.

A obediência cega à autoridade não só viola nossa integridade,como também perpetua a violência. Num memorável experimentopsicológico, o Dr. Stanley Milgram pediu a alguns voluntários pagospara administrarem choques elétricos em seu laboratório. Ao lado dosvoluntários, ordenou-lhes que aumentassem a dosagem, enquanto asvítimas (na verdade, atores pagos), gritavam e se contorciam de dor.Mais de 60% dos voluntários obedeceram.

Como comprovam esse experimento e os muitos crimes deguerra, ao longo de toda a história, muitas pessoas obedecem a umafigura de autoridade, mesmo quando isto significa fazer mal aosoutros. Podemos superar essa violência irracional permanecendoconcentrados, olhando além da autoridade e seguindo nossaconsciência e os princípios do Tao.

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PARA SIMPLIFICAR NOSSA COMUNICAÇÃO

O Tao diz:

"Muita conversa traz apenas exaustão.Permaneça fiel a seu centro."

(TAO 5)

O ruído da vida moderna torna difícil ouvir a nós mesmosenquanto pensamos. Os rádios zumbem dentro de nossas casas,automóveis e trabalho, seguem-nos para dentro do supermercado enos conduzem rastejando pelas passagens entre fileiras de cadeiras.A televisão invade nossas salas de estar, trazendo a vida de outraspessoas, palavras e imagens artificiais, deixando pouco espaço paranossos próprios pensamentos.

Muitas pessoas escondem-se atrás do ruído, sem querer enfren-tar a si mesmas. Phil, recentemente, afastou-se de uma movimentadacarreira em merchandising. Viúvo, com dois filhos adultos, ele morasozinho num modesto apartamento do Brooklyn. É tempo de exa-minar sua vida e procurar um novo rumo, mas isto é a última coisaque ele quer fazer, então enche seus dias com ruído.

Tem um aparelho de TV em cada cômodo de seu apartamento,inclusive no banheiro. Novelas, shows de perguntas e respostas eanúncios são mostrados o dia inteiro. Quando aparecem visitas, elastêm de gritar para serem ouvidas por cima do ruído. Phil ouve livrosgravados, quando está de carro para manter a mente ocupada. Asnoites, passa assistindo a filmes no VCR, depois pega no sono en-quanto escuta todos os programas noturnos de debates. Quando seufilho Peter o visitou, no mês passado, ficou exausto com todo aquelebarulho.

EXERCÍCIO PESSOAL: PARA EVITAR A TAGARELICE

A volta ao centro pessoal de cada um exige disciplina. Aspessoas do Tao buscam períodos diários de silêncio e renovação paranão se esquecerem de quem são.

Como é fácil ligar o rádio, quando estou em casa sozinha. Écompanhia fácil, mas a que preço? Ouvir tagarelice corta a disposiçãopara meditar, escrever para um amigo, trabalhar criativamente oucuidar de meus próprios pensamentos. O silêncio devolve-nos a nósmesmos e aos ritmos naturais do Tao.

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Page 56: O Tao Da Paz - Diane Dreher

• Da próxima vez em que ligar automaticamente o rádio ou atelevisão, pergunte a si mesmo(a) o motivo.

• Se preferir ver ou escutar, deixe ligado. Caso contrário, desligue.• Transforme os períodos de silêncio numa parte importante de seu

dia. Você pode perder algumas notícias locais, novelas ouprogramas de auditório, mas terá melhores relações com um velhoamigo: você mesmo(a).

O Tao nos diz:

"A natureza não desperdiça palavras.Tampouco as pessoas do Tao."

(TAO 23)

Quantos de nós não "desperdiçamos palavras" a cada dia, comfofocas sem sentido, conversa à-toa ou o vício do telefone? Quandoeu era mais jovem, passava a maior parte das noites ao telefone.Espichada no chão, conversava durante horas. Minhas amigas e euusávamos umas às outras como terapeutas, analisando os homens emnossas vidas, manifestando nossas frustrações, massageando nossosegos e aliviando nossa solidão — tudo pelo telefone. Depois de doisou três telefonemas, com alguns estudos encaixados nos intervalos,outra noite havia passado.

Durante todo o período do secundário e da universidade, estefoi um modelo habitual: longas conversas até tarde da noite, poucosono. Mas, de alguma forma, eu conseguia fazer as coisas. Duranteanos, a maioria de nós chorou, xingou, riu e viveu uma boa parte denossas vidas pelo telefone.

Só uma mulher que conheci não fazia esse jogo. Pat nos diziaquando estava ocupada, quando podia nos encontrar para almoçarou tomar chá. Os telefonemas com ela duravam uma média de nomáximo, cinco minutos. Concentrada e disciplinada, ela estavaescrevendo um romance e vendendo contos, enquanto nósdesperdiçávamos energia pelas linhas telefônicas.

EXERCÍCIO PESSOAL

Para simplificar suas conversas nesta semana, pergunte a simesmo(a):

• Estou me comunicando honestamente? Falo sério, quando digoalguma coisa? Minha intenção é partilhar, em vez de expandir meu ego?

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• Escuto o que os outros dizem, percebendo a linguagem de seucorpo, bem como a de suas palavras?

• Evito o discurso inútil — tagarelice, fofocas, o vício do telefone?• Respeito a importância do silêncio em minha vida e nas interações

com os outros? Posso estar presente com alguém sem falar inces-

santemente?

PARA SIMPLIFICAR NOSSO TEMPO

O Tao diz:

"Feche sua boca,Tranque suas portas,E viva próximo do Tao.Abra sua boca,Passe o dia inteiro ocupado,E viva na confusão."

(TAO 52)

Perdemos nosso centro quando somos apanhados por umasucessão de atividades mundanas, mal sobrando tempo pararecuperar o fôlego. Simplificar nosso tempo significa assumir aresponsabilidade, colocar-nos de volta aos eixos.

Quando fazemos coisas em excesso, nossos corpos, de algumaforma, revelam-se e simplificam as coisas à força. Uma vez, quandoeu estava exausta devido a um implacável acúmulo de aulas, confe-rências, oficinas e prazos, perdi a voz durante três dias, o que meforçou a cancelar todos os meus compromissos e ficar em casa.

De alguma forma, tudo continuou, mesmo sem mim, e aprendiuma lição valiosa. Agora, sempre que programo as coisas, tento não deixarque os compromissos se acumulem dessa forma. Olhando os modelosmais amplos de minha vida, deixo mais margem para mim mesma.

Muitas vezes, nossas agendas entram em choque com nossosritmos interiores. Sentimo-nos estressados porque estamos fora desincronia. Da próxima vez em que se sentir estressado, dê umacaminhada sozinho. Redescubra seu próprio ritmo. Depois, perguntea si mesmo como poderá harmonizar-se melhor com ele.

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EXERCÍCIO PESSOAL COMO PASSO MEU TEMPO?

Os psicólogos sabem que a melhor maneira de mudar umpadrão estressante é, primeiro, ter consciência dele. Nesta semana,verifique a maneira como você está usando seu tempo. Pergunte a simesmo(a) quanto tempo você gasta todos os dias para:

• Comer• Dormir• Fazer exercício• Trabalho significativo• Crescimento espiritual• Atividades renovadoras (divertimento, leitura)• Gozar a companhia de amigos• Manutenção de rotina• Serviço social• Outros

Examine os modelos que surgem. Seus dias são equilibrados? Vocêdeixa tempo suficiente para fazer exercícios, renovação e espiritualidade,ou está preso demais ao trabalho e a atividades de manutenção?

Cuidadosamente, examine a última categoria: outros. O quemais você anda fazendo? Há algumas coisas aqui que você podedelegar, eliminar ou então simplificar?

Há alguma coisa faltando em sua vida? Você pode deixar espaçopara isso reduzindo seu envolvimento em outras áreas?

Pense em si mesmo(a) como um(a) arquiteto(a) projetandouma bela estrutura viva. Que mudanças o(a) ajudariam a levar umavida mais equilibrada? Projete um novo modelo incorporando essasmudanças e comece a vivê-lo.

PERGUNTAS TAO

Sempre que estiver considerando a possibilidade de assumir umnovo compromisso, você pode manter-se nos eixos perguntando a sipróprio(a):

• É necessário?• É saudável?• Trará mais paz para a minha vida ou para o planeta?

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Caso não se encaixe nesses critérios então não faça. Viver o Taosignifica assumir responsabilidade pessoal pela estrutura de nos-sas vidas.

Afirmação

Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa.Simplifico minha vida.Abro mão de posses desnecessárias.Sigo minha orientação interior e a sabedoria do Tao.Uso meu tempo sabiamenteRespeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em

meu mundo.Agora recebo maior paz em minha vidaE assim seja.

NOTAS

1. ArthurWhaley, The Wayand Its Power: A Study of the Tao Te Ching andIts Place in Chinese Tíioiight (Londres: Allen & Unwin, 1956), p. 167.

2. Citações de Thoreau, extraídas de The Variorum Walden, pp. 68,83.3. Alvin Toffler, Future Shock (Nova York: Random House, 1970), pp. 4,

52-53.4. Toffler, Future Shock, pp. 308, 314-15.5. Minha versão aqui é parecida com a tradução de R.L. Wing em The Tao

of Power (Nova York: Doubleday, ©1986), Capítulo 46, p. 46: "Thereforeknow that enough is enough. There will always be enough". ("Portantosaiba que o bastante é o bastante. Sempre haverá o bastante".) Usadocom permissão do editor.

6. Benjamin Hoff, notas do tradutor, The Way to Life: At the Heart of theTao Te Ching (Nova York: Westherhill, 1981), p. 73.

7. Peace Pilgrim: Her Life and Work in Her Own Words, compilado poralguns de seus amigos (Santa Fé: Ocean Tree, 1983), p. 51. Para obterum exemplar deste livro, ou maiores informações sobre Peace Pilgrim,contatar Friends of Peace Pilgrim, 43480 Cedar Avenue, Hemet CA92344, tel. (714) 927-7678.

8. Um sumário de idéias, extraídas de 99 Ways to a Simpler Lifestyle doCenter for Science in the Public Interest (Garden City: AnchorDoubleday, 1976), pp. xi-xii!

9. Kushel, Centering, p. 30-31.

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CAPÍTULO 9

A DESCOBERTA

DE SEU CENTRO

Fique quietoE descubra seu centro de paz.

Em toda a naturezaAs dez mil coisas movimentam-se,Mas cada uma volta à sua fonte.

Voltar ao centro é paz.Descubra o Tao voltando à fonte.

(TAO 16)

Enquanto a vida moderna enfatiza a superfície das coisas, o Taoensina que, sem o centro, a superfície nada significa. Não énossa aparência, não é o que fazemos, mas o que somos, que

dá a tudo significado e objetivo.O oceano é um símbolo maravilhoso do Tao: imenso, fluido,

constantemente em movimento. Sob sua turbulenta superfície estãoas tranqüilas profundezas. Sob a superfície inquieta de nossas vidashá uma profunda fonte de paz, poder e inspiração.

Podemos encontrar esse centro profundo através da reflexãoou da meditação. Distanciando-nos de particularidades, vemos osmodelos em desenvolvimento.

As pessoas não-Tao identificam-se com exterioridades. Des-centralizadas não sabem quem são. Quando seus apoios externosmudam ou entram em conflito, perdem facilmente o equilíbrio.

QUEM SOU EU?

Emily era o protótipo de uma pessoa descentralizada. Sua vidaera estruturada pelo esforço para agradar aos outros: seus pais,amigos, patrão e o homem que ela amava.

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Loura clara, com vinte e poucos anos, ela estava toda encolhidana cadeira à minha frente, o corpo esguio sacudido pelos soluços.Esforçava-se tanto, disse, mas enfrentava um conflito após o outro.Agora o problema era o Natal. O namorado queria esquiar, os paisqueriam que ela ficasse em casa e o patrão pedira-lhe para trabalharhoras extras.

"O que você quer fazer?", perguntei.Ela ficou me olhando com os olhos arregalados. "Não sei", disse,

com voz de choro. "Não sei o que acho... de nada".Anos agradando os outros haviam causado, apatia emocional.

Até seus movimentos eram rígidos, quase mecânicos. Fora de contatocom seu centro ia satisfazendo as necessidades de outras pessoas, atéque as solicitações se impunham umas às outras e o conflito se transfor-mava em crise. Os "você deve" em oposição a estavam dilacerando.

Calmamente, examinamos seus compromissos, separando asescolhas positivas da culpa e da obrigação. Centralizada em seuspróprios sentimentos, a vida de Emily tornou-se mais harmoniosa.

EXERCÍCIO PESSOAL

Se, tentando agradar aos outros você ficar preso(a) emcompromissos conflitantes, volte ao centro, eliminando as palavras"deve" e "não pode" de seu vocabulário. Elas só fazem reforçar a culpae o desamparo. Em vez de "devo", diga "prefiro". Em vez de "nãoposso", diga "não quero".

Que tal? Quando você afirma seu direito de escolher, torna-semais consciente de seu centro, de seu poder pessoal.

NÃO SOMOS OS PAPÉIS QUE DESEMPENHAMOS

O Tao ensina que a vida inteira é dinâmica. A natureza e osindivíduos estão desenvolvendo-se constantemente. Shakespeareescreveu que "o mundo inteiro é um palco", em que cada um de nósdesempenha muitos papéis. Jamais confunda seu centro com ospapéis que você desempenha.

O Tao não pode ser reduzido a uma simples definição. Tam-pouco nós. Os papéis são rígidos e sem vida. O Tao cresce e mudapara sempre.

Será que você se tornou superidentifiçado com algum dospapéis de sua vida? Leia a auto-avaliação a seguir e verifique.

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AUTO-AVALIAÇÃO

I MEU EMPREGO

1. Quando me apresento, sinto orgulho de dizer o que faço, ouconstrangimento de admitir isso?

2. Acho difícil me descontrair nas férias?3. Quando me saio bem no trabalho, fico em êxtase?4. Quando me saio mal no trabalho, sinto-me um fracasso completo?5. Trabalho é minha prioridade número um?6. Sinto-me mais eu mesmo(a) no trabalho?

II MINHA FAMÍLIA

1. Quando faço planos, penso em primeiro lugar em minha família?2. Sinto que minhas próprias necessidades são egoístas?3. Faço as coisas porque meus pais/filhos/parentes acham que

"devo"?4. Minha agenda está cheia de obrigações de família?5. Não tenho tempo para meus próprios interesses?6. Preocupo-me muito com os membros da minha família?

III MEU COMPANHEIRO(A)

1. Quando faço planos, penso primeiro em meu companheiro (a)?2. Tenho medo de ser honesto com ele(a)?3. Faço coisas de que não gosto para agradar meu companheiro(a)?4. Reajo aos estados de espírito de meu (minha) companheiro(a) com

altos e baixos emocionais?5. Deixo de lado meus amigos e outros interesses por causa de meu

(minha) companheiro(a)?6. Sinto ciúmes com facilidade? Preocupo-me com meu (minha)

companheiro(a) ou lenho medo de perdê-lo(la)?

IV MEU CORPO

1. Sinto-me constrangido em grandes grupos? Sinto que todos estãoolhando para mim?

2. Estou insatisfeito(a) com meu corpo?3. Quando vejo alguém que me faz lembrar de mim mesmo(a)

quando era mais jovem, fico deprimido(a) ou tenho inveja?4. Sinto que preciso ser forte/bonito(a)/simpático(a)/magro(a) para

ser aceitável?5. Tenho medo de envelhecer?

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Page 60: O Tao Da Paz - Diane Dreher

6. Passo muito tempo fazendo dietas ou exercícios compulsivos, oucuidando da aparência?

Se você responder sim a três ou mais perguntas em cadacategoria, volte atrás e examine as implicações. Se alguma parte desua vida tornou-se fonte de ansiedade, culpa ou variações radicais deestados de espírito, você está com superidentificação.

A superidentificação fragmenta seu sentido do eu. Na próximaparte deste livro, veremos como as pessoas que se superidentificamperdem seu centro. Podemos romper com esse doloroso modelopercebendo que ultrapassamos sempre os papéis que desempe-nhamos.

MEU EMPREGO NÃO É MEU CENTRO

Durante os últimos vinte anos, Jim tem andado à procura dacarreira ideal. Sujeito de aspecto agradável, com cabelos cor de areiae olhos azuis intensos, ele foi cadete da polícia, assistente social,instrutor bilíngüe, fotógrafo e estudante de Direito.

Lança-se em todos os campos com entrega total. Era o primeirode sua turma na polícia, até que sua paixão por uma assistente socialimpeliu-o a mudar de carreira. Para se tornar melhor assistente social,aprendeu espanhol, e não só passou a dominar o idioma, comotambém o ensinava em suas horas livres. Quando estava no México,para fazer um curso intensivo da língua, interessou-se por fotografia,então deixou seus outros empregos, investiu num equipamentofotográfico e mudou-se para uma água-furtada em San Francisco.Depois de dois anos como fotógrafo comercial, decidiu tornar-seadvogado.

Inteligente e decidido, Jim obtém sucesso em todos osempreendimentos, até que, de repente, perde o interesse. Quando seesgota o entusiasmo inicial, decide que aquela carreira não é a certapara ele e abandona-a. Seu centro, sua identidade, sempre fica defora. A meta fugidia acena, pouco além de seu alcance, prometendo,daquela vez, dar um significado à sua vida.

Jim continua procurando a carreira de seus sonhos. Outrosagarram-se ao emprego por segurança. De qualquer forma, fazem desuas carreiras seu centro. Há vinte anos, em Seattle, vários enge-nheiros aeroespaciais suicidaram-se. Por quê? Haviam sido dispen-sados. Sem seus empregos, sentiram-se inúteis, incapazes deenfrentar a vida.

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Crise de identidade semelhante muitas vezes aflige as pessoasaposentadas. Sem seus empregos, ficam imaginando quem são.Sucumbindo ao desespero, muitas jamais chegam a viver até des-cobrir.

A identificação com nossas carreiras é fortemente encorajadaem nossa sociedade. Quando nos apresentamos, em geral definimosquem somos como o que fazemos: "Meu nome é Jim Pierce. Souestudante de Direito".

O Tao nos ensina a ver além das categorias. Quem somosultrapassa sempre o que fazemos.

AFIRMAÇÃO

Se você se identifica em excesso com seu emprego, restabeleçaseu equilíbrio lembrando a si mesmo, várias vezes por dia:

"Tenho um emprego, mas não sou meu emprego. Estou emunião com o Tao."1

MINHA FAMÍLIA NÃO É MEU CENTRO

Tradicionalmente, os empregos para os homens e osrelacionamentos para as mulheres têm sido fontes importantes desuperidentificação. Enquanto os homens vêm construindo suas iden-tidades em torno de carreira, as mulheres constroem as suas em tornodo lar e da família.

Durante vinte e oito anos, Beth mergulhou em seu papel demulher de médico. Encontrou Don na universidade e trabalhou comosecretária, enquanto ele lutava para se formar em medicina. Quandoele pendurou na porta a placa de médico, ela, satisfeita, deixou otrabalho para cuidar dos filhos, entrar no clube de jardinagem e setornar membro ativo da comunidade.

No verão passado, quando o último filho do casal foi para auniversidade e Don pediu o divórcio, Beth entrou em estado dechoque. De repente, não havia marido, não havia filhos, não haviacentro algum para sua vida.

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Page 61: O Tao Da Paz - Diane Dreher

AFIRMAÇÃO

Nossas famílias são fontes de amor e apoio mas a superiden-tificação com elas é pouco saudável. As pessoas mudam. Os filhos setornam adultos. Pessoas amadas podem partir. Caso você sofra desuperidentificação, lembre a si próprio(a):

"Tenho uma família, mas não sou minha família.Amo minha família porque amo minha vida.Estou em união com o Tao."

MEU RELACIONAMENTO NÃO É MEU CENTRO

Os tempos mudaram, mas muitas mulheres ainda constroemsuas vidas em torno dos homens que amam, ou perdem tempoesperando perdê-lo ou esperando pelo homem perfeito.

Há mais de dois anos, Lois vem tentando comprar uma casa.Para uma mulher solteira, profissional, de trinta e cinco ano, isto fazsentido, do ponto de vista financeiro. Mas um problema após o outroimpedem-na de fazer isso. Seu corretor é incompetente, diz ela, e seuatual relacionamento é um sujeito vacilante.

Lois supervisiona um departamento de crédito para vendas avarejo em uma grande empresa. Seu salário é alto, ela economizou paradar a entrada, mas, mesmo assim, não consegue comprar uma casa.

Fazendo terapia, ela descobriu que uma casa era parte de suavisão de casamento. Deixava de comprá-la porque estava faltando ohomem certo. Para Lois, comprar uma casa sem um homem sig-nificava desistir de seu sonho de casamento.

Lois precisa descobrir seu próprio centro. Ela não pode con-tinuar a adiar sua vida a espera de que o relacionamento certo vátornar todos os seus sonhos realidade.

Muitas mulheres desistem de seus centros em favor do homemque amam. Não consigo lembrar-me de todas as identidades queChrista assumiu, cada uma reflexo de sua relação do momento.Quando ela estava saindo com um aficionado das corridas deautomóveis, entrou em meu escritório lendo Road and Track. Seucaso com um escritor de livros de mistérios fez com que ela mudasseo guarda-roupa, passando a usar capas e golas rulê — seu materialde leitura era então Ellery Queen e Dashiel Hammett. Atualmente,namora um empresário de grupos de dança — e estuda balé e seveste com uma colorida coleção de malhas e meias.

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O que transforma uma mulher inteligente numa camaleoa as-sim? O tempo todo, ela mantém seu centro fora de si mesma, nas mãosdo homem que ama. Ao abrir mão de si mesma, Christa torna-secompulsivamente ligada ao namorado, criando problemas, grudan-do-se a ele e enlouquecendo-o. Quando ele se afasta, sufocado comsuas exigências, ela fica arrasada. Quem poderá ser, sem ele?

AFIRMAÇÃO

Mais uma vez, o Tao nos devolve ao centro. Nossos relaciona-mentos tornam-se mais saudáveis, quando paramos de nos identificarcom eles. Quando você se descobrir excessivamente identificado(a)com uma pessoa importante em sua vida, repita essa afirmação muitasvezes por dia:

"Tenho um relacionamento, mas não sou meu relacionamento.Amo (seu parceiro) porque amo a mim mesma.Estou em união com o Tao."

MEU CORPO NÃO É MEU CENTRO

Muitas pessoas identificam-se com seus corpos. Lutando paraalcançar padrões artificiais de perfeição, não são jamais suficiente-mente altas, suficientemente fortes, suficientemente magras.

O Tao ensina que nada na vida permanece imóvel. Mesmoquando alcançamos os ideais de nossa sociedade, estamos sempremudando. A identificação com uma imagem corporal impede-nos decrescer. Em grande número, jovens atletas ficam deprimidos nameia-idade, quando sentem que estão perdendo seus poderes. Mu-lheres adoradas quando jovens e bonitas podem achar a transição dameia-idade cheia de dor e perda.

AFIRMAÇÃO

Se você tem andado excessivamente preocupado com suaimagem física, repita essa afirmação:

"Tenho um corpo, mas não sou meu corpo. Estou em uniãocom o Tao."

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Page 62: O Tao Da Paz - Diane Dreher

NÃO SOU MINHA CAUSA

Muitas pessoas que trabalham pela justiça social sofrem umgrande desgaste pelo fato de que por mais que trabalhem, por maisque se sacrifiquem, o problema continua. Os Defensores da paz,como os conselheiros, enfermeiras e professores, podem perder anoção de seu centro, quando se identificam excessivamente com umacausa.

Os problemas da fome, pobreza, injustiça, perigo nuclear emeio ambiente são tão esmagadores que é fácil nos perdermos neles.Mas, ao nos perdermos, não podemos agir. Ficamos paralisados pelodesespero.

Recentemente, dois estudantes universitários vieram meprocurar depois de terem assistido a um filme sobre a AméricaCentral. "Sinto-me péssima", disse uma moça. "Há tanta pobreza. Oproblema é enorme. Não há nada que eu possa fazer".

Mas há. Cada um de nós pode fazer alguma coisa, mesmo nãopodendo, isolados, solucionar o problema. Nós três decidimos coletarroupas para as vítimas do furacão na Nicarágua. Em vez de nosrendermos ao desespero, agimos e afirmamos nossa esperança nummundo melhor.

Como pacifistas, podemos ser mais eficientes se permanecer-mos centralizados, recusando-nos a nos render à culpa ou aodesespero.

Por mais importante que seja a causa, ela não é nosso centro.Devemos nos lembrar de equilibrar a preocupação com nossosvizinhos e nosso planeta com a renovação pessoal.

AFIRMAÇÃO

Se você andou identificando-se excessivamente com sua causa,lembre a si mesmo:

"Tenho uma causa, mas não sou minha causa. Estou em uniãocom o Tao."

CENTRALIZAÇÃO

Distanciando-nos das extremidades, afirmando nosso centroficamos em união com o Tao. Distanciamento não significa que nãopossamos apreciar nosso trabalho, nossas famílias, nossos

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relacionamentos, nem nos comprometer com uma causa — apenasnão nos identificamos com isso.

Distanciamento não significa desistência, e sim abertura para oTao, a fonte da vida. Porque nosso centro é nossa fonte de paz, nossoelo com o infinito, o tesouro que carregamos junto de nossoscorações.

Lao Tsé diz:

"Rejeitando as aparênciasA pessoa Tao usa roupas simples,Vive fiel ao centro,Usa jade junto do coração."

(TAO 70)

Centralizada, a pessoa Tao olha além das exterioridades, jamaisostentando realizações ou posses. Podemos apreciar as bênçãos denossas vidas, mas não podemos possuí-las. São parte do movimentofluido do Tao, parte do processo que flui como um rio, em torno eatravés de nós. Quando sabemos disto, encontramos nosso centro eestamos em união com o Tao.

Lao Tsé nos diz:

"A pessoa Tao abraça o UnoE vive em paz segundo seu modelo.Não se prenda a seu ego

e encontrará sua alma.Evite atos arrogantes

e seu trabalho durará.Se você não competir,

ninguém neste mundo competirá com você.Siga a antiga sabedoria:'Ceda e Vença'.A verdadeira paz é alcançadaQuando a pessoa se centralizaE se mistura com a vida."2

(TAO 22)

Afirmação

Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosaEstou centralizado(a), pleno(a) e completo(a).

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Page 63: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Tenho um emprego, mas não sou meu emprego.Tenho uma família, mas não sou minha família.Tenho relacionamentos, mas não sou meus relacionamentos.Tenho um corpo, mas não sou meu corpo.Tenho uma causa, mas não sou minha causa.Estou em união com o Tao.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Variações desse processo de desidentificação são amplamente usadasno aconselhamento. Para maiores informações e discussões, ver: Rober-to Assagioli, The Act of Will (Nova. York: Viking, 1973), pp. 214-217.

2. Minha versão inspirou-se na bela tradução do írmão Tolbert MacCarroll,The Tao: The Sacred Way (Nova York: Crossroad, ©1982), p. 47. Usadocom permissão do autor."Therefore the True Person embrace the One

and becomes a model for all.Do not look only at yourself,

and you will see much.Do not justify yourself,

and you will be distinguished.Do not brag,

and you will have merit.Do not be prideful,

and your work will endure.It is because you do not strive

that no one under heaven can strive with you.The saying of the Old Ones, "Yield and Overcome",

is not an empty phrase.True wholeness is achieved

by blending with life."

"Assim a Pessoa Autêntica abraça o Unoe se torna um modelo para todos.

Não olhe apenas para si mesmo(a).e verá muita coisa.

Não se justifiquee será distinguido(a).

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Não se vangloriee terá mérito.

Não seja orgulhoso(a)e seu trabalho durará.

É pelo fato de você não lutarque ninguém sob o céu pode lutar com você.

O ditado dos Antigos, "Ceda e Vença",não é uma frase vazia.

A verdadeira plenitude á alcançadamisturando-se com a vida."

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Page 64: O Tao Da Paz - Diane Dreher

CAPÍTULO 10

A EXPLORAÇÃO DE SUAS

DUALIDADES YIN E YANG

O Tao é o Uno.Do Uno vem o yin e yang;

Desses dois, a energia criadora;Da energia, dez mil coisas,

As formas de toda a criação.A vida inteira incorpora yin

E abraça yang,Através de sua união

Alcançando a harmonia.(TAO 42)

O Tao ensina que a vida é dinâmica com seus modelos mutáveisque abrangem yin e yang, as polaridades encontradas emtoda a natureza. Nós a conhecemos como dia e noite, calor

e frio, macho e fêmea, ação e repouso.Mas a mente ocidental, muito freqüentemente, coloca dilemas,

forçando-nos a escolher um extremo e não outro: dia ou noite, machoou fêmea, ação ou repouso. Com nossa preferência pelo yang em vezdo yin, a cultura americana equipara a vida bem-sucedida com o dia("dormir cedo e acordar cedo"), com o estereótipo masculino, com aética de trabalho puritana.

Na sabedoria do Tao, um extremo completa o outro. Ação erepouso parecem contrários, mas a ação sábia inclui o repouso, areflexão e a orientação interior, evitando os extremos da compul-sividade (yang excessivo) ou da passividade (yin excessivo). Emnossas vidas e em nosso mundo, o equilíbrio dinâmico dessas forçastraz harmonia.

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Page 65: O Tao Da Paz - Diane Dreher

A COMPREENSÃO DO YIN E DO YANG

Yin e yang são as duas polaridades da vida. Aparecem sob asseguintes formas:

yin yangescuridão luzlua solnoite diainverno verãoterra céuvale montanhaágua pedraaberto fechadomacio durodeficiência excessointerior exteriorcontração expansãopassivo agressivocontemplativo ativofeminino masculinoalimentar realizarsentir pensarescutar falarintuição razãoinconsciente conscienterepouso açãosaber fazer

A oposição dinâmica do yin e do yang é central para a filosofiaoriental. O I Ching, antigo livro de sabedoria e adivinhação, é com-posto de linhas sólidas (yang), que se combinam com linhas inter-rompidas (yin) para produzir os sessenta e quatro hexagramas queretratam toda a experiência humana. O filósofo chinês Chu Hsi, doséculo XII, explicou que "a fase de repouso é o yin, a fase de atividade,o yang, e essa perpétua alteração de yin e yang, por sua vez, produzos cinco elementos... Dos cinco elementos nascem o céu e a terra edeles, toda a criação."

O Tao ensina que "a vida inteira incorpora yin e abraça yang ".(TAO 42). Toda a existência surge da síntese dessas forças. Enquanto

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yin contrasta com yang e o abraça ao mesmo tempo, a interação dosdois produz uma nova criação.

Esse paradigma dinâmico de yin e yang parece com a dialéticahegeliana da tese/antítese/síntese, segundo a qual um conceito (tese)inevitavelmente gera seu oposto (antítese), e a interação de ambosproduz um novo conceito (síntese). A semelhança não é nenhumacidente, porque Hegel também estudou o Tao, tendo dado aulassobre taoísmo em Heidelberg, no início de sua carreira.2

O EQUILÍBRIO DO YIN E DO YANG

Tanto o ativo yang como o contemplativo yin são essenciaispara a vida inteligente. Todos precisamos de momentos de silenciosareflexão, do contrário nossas ações não teriam nenhuma direção,nenhum significado. Inversamente, sem ação nossos pensamentosnão podem tomar forma.

Algumas vezes, as pessoas ficam presas num extremo ou nooutro tornando-se demasiado yin ou demasiado yang. Sunny e Samcresceram juntos nos anos sessenta, adotando modelos opostos parasuas vidas.

Sunny abraçou o idealismo dos anos sessenta. Participou demanifestações e trabalhou em campanhas políticas, acreditando quepodia transformar as coisas. Depois da universidade, ingressou noCorpo da Paz e, em seguida, tornou-se jornalista, especializando-seem questões de justiça social.

Sunny trabalha longas horas no jornal, dá aulas de produção detextos na universidade, dá conselhos a mulheres readmitidas, trabalhacomo voluntária no abrigo local e pertence a uma dúzia deorganizações da comunidade. São todas boas causas e Sunny,simplesmente, não consegue dizer não. Sua vida pessoal é quaseinexistente — está ocupada demais ajudando os outros e há sempremuita coisa para fazer.

Correndo de um compromisso para outro, ela é como umcometa, perpetuamente em movimento, com os cachos louro-avermelhados sempre despenteados, as roupas amassadas, asrefeições feitas às pressas. Quase nunca está em casa. O ritmo de suavida vai do movimentado ao frenético, excessivamente yang, ponti-lhado por breves períodos de yin involuntário, quando entra emcolapso por exaustão.

Seu irmão Sam não só carece do impulso da irmã como tambémparece perfeitamente feliz sem fazer nada. Os anos sessenta levaram-

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no às drogas, ao cinismo e à passividade. Saiu da escola depois do"verão do amor" em San Francisco e passou a trabalhar em empregossucessivos. Mas prefere viver do fundo de garantia.

Sempre que tem alguns dólares, Sam começa a discutir com opatrão, é demitido e volta para o desemprego, a fim de aproveitar suaversão de boa vida. Depois de dormir até o meio-dia, passa o diafumando maconha e assistindo à TV.

Sam fica deitado no sofá durante horas, lendo, devaneando oucochilando. Sendo o tipo mais caseiro do mundo, vagueia peloapartamento brincando com o gato do rapaz com quem divide oapartamento ou observando os garotos do vizinho. Por volta da horado jantar, dá uma caminhada até o supermercado da esquina, a fimde arranjar alguma coisa para comer. Gosta de cozinhar para seusamigos, sendo especialista em preparar comidas ao molho de curry.

Sam pensa em abrir um restaurante, mas é tão chato trabalhar.Então volta para o aparelho de TV e assiste a outra reapresentação de"Leave It to Beaver", até que suas finanças vão chegando ao vermelhoe ele é forçado a arranjar outro emprego.

Sunny jamais se senta e Sam raramente se move, a não ser quetenha necessidade. Os pais deles preocupam-se pelo fato de ela seruma viciada em trabalho, ocupada demais para arranjar um marido,enquanto o filho parece que nunca consegue segurar um emprego.Se Sunny fosse a passiva, que não sai de casa, e Sam o trabalhadorcompulsivo, algumas pessoas os considerariam normais, porém,mesmo assim, eles ainda seriam radicais. A vida saudável, integrada,combina tanto a contemplação corno a ação, yin e yang.

Nossa sociedade também precisa de um equilíbrio melhor.Como Sunny, muitas pessoas no mundo ocidental correm sem pararde um lado para outro à caça de seus sonhos de uma vida melhor,sem tempo para refletir, para perguntar para onde eles — e todosnós — nos encaminhamos.

Duane Elgin escreve em Voluntary Simplicity (Simplicidadevoluntária): "Nossa crise civilizacional surgiu em grande parte daimensa disparidade que existe entre nossas 'faculdades interiores'relativamente subdesenvolvidas e as tecnologias externas extrema-mente poderosas que hoje estão à nossa disposição."3 "Como édentro, assim é fora." O desequilíbrio do mundo resulta dodesequilíbrio pessoal. O Tao nos ensina a levar uma vida mais calma,a olhar para dentro de nós mesmos e a fazer escolhas mais sábias.

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PARA RESTABELECER NOSSO EQUILÍBRIO

Sem equilíbrio, vamos para um extremo, como Sunny ou Sam,ou experimentamos uma alternância de altos e baixos.

Quase todos conhecem alguém como Terry. Ela passa de umadieta para outra, com o peso variando de 50 a 80 quilos. Seu armárioestá cheio de roupas tamanho 40, e mais alguns cáftãs grandes comotendas, para usar quando nada mais serve.

A pobre Terry é obcecada, ao mesmo tempo, por comida e pordietas, passando constantemente de um extremo ao outro. Entre umnamorado e outro, come para se consolar, concedendo-se a comidaconfortadora que aprendeu a amar quando era criança: frango frito,batatas fritas, presunto frito com cereais, empadões fritos, sorvete,biscoitos doces e queijada.

Depois, quando nenhuma de suas roupas serve, lança-se numadieta radical, passando a viver de aipo, caldo, suco e salada. Quandose livra dos quilos indesejáveis, o ciclo recomeça, mais uma vez.

Ao longo dos anos, Terry já perdeu e ganhou centenas dequilos. Os extremos yang e yin de indulgência e privação são ter-rivelmente duros para seu corpo, primeiro invadindo seu sistema comgorduras e colesterol, depois privando-se de nutrientes especiais.Uma dieta nutritiva e exercícios regulares ajudariam a harmonizar suavida e também seu peso com o equilíbrio correto do yin e do yang.

Para restabelecer equilíbrio, precisamos recuar, dedicar algumtempo para nos centralizar e orientar. Do contrário, como Terry,estaremos apenas ziguezagueando loucamente entre dois extremos.Quando reconhecemos os modelos excessivos em nossas vidas,podemos tomar alguma providência.

EXERCÍCIO PESSOAL

Você está experimentando variações violentas em alguma partede sua vida: no peso, nos relacionamentos, na saúde, nas finanças ouna carreira? Caso afirmativo, dedique alguns minutos para avaliar suasorientações.

• Saia sozinho e relaxe, com algumas respirações lentas e profundas.• Agora, faça a si mesmo uma pergunta de cada vez. Depois de cada

uma, feche os olhos e espere pela resposta.

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Page 67: O Tao Da Paz - Diane Dreher

• Onde, em minha vida, está o ponto de excesso, de expansão, oativo yang? Onde é, que me descubro fazendo algo além damedida?

• Onde está o ponto de deficiência, contração, o passivo yin? Onde,em minha vida, nunca tive o bastante? Onde me sinto diminuídoou privado?

• Como o yin e o yang se relacionam em minha vida? Existe algummodelo causai entre os dois extremos?

• O que posso fazer para trazer mais equilíbrio para minha vida?

Escreva suas descobertas em seu diário. Depois, reveja tudo nodia seguinte e comece a criar um novo modelo mais equilibrado.

O objetivo, claro, não é eliminar os altos e baixos. Isto seriaimpossível. Na vida, haverá sempre contrastes: vales e montanhas,yin e yang. Mas, quando estamos centralizados, nossas emoçõesfluem em ondas suaves. Não mergulham mais de altos cumes aprofundos abismos.

À medida que nos tornamos mais conscientes dos modelosnaturais em nossas vidas, aprendemos a fluir com eles. Todos nós nossentimos, às vezes, expansivos, vibrantes, ativos — yang — e, ou-tras vezes, quietos, tranqüilos, reflexivos — yin. A pessoa Taoatende a esses ritmos interiores, aprecia as diferenças.

A HARMONIA COM O MUNDO A NOSSA VOLTA

Algumas vezes, precisamos modificar nossos ritmos para nosharmonizar com as pessoas e situações ao nosso redor. Uma maneirade fazer isso é com música.

Durante séculos, as pessoas perceberam que certos padrões desom nos motivam, enquanto outros acalmam e aliviam nosso espírito.O psiquiatra Roberto Assagioli prescrevia diferentes músicas paraseus pacientes: marchas para acelerar as energias das pessoasdeprimidas, valsas para acalmar os superansiosos.

Acho que as marchas são revigorantes e dão energia, cons-tituem o perfeito impulso para mim, quando tenho um novo projetoou vou enfrentar um desafio. Para me acalmar e relaxar, ouço Bach,Vivaldi, ou música New Age, para meditar. Os ritmos medidos, contra-pontos e tons suaves misturam os acontecimentos do dia, compondomodelos harmoniosos.

Outra maneira de alcançar o equilíbrio é com a cor. Osdecoradores criam ambientes repousantes com tons suaves de azul e

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verde, ou elevam nossas energias com cálidos amarelos, laranjas evermelhos. Quando se vestem, pela manhã, muitas pessoas, incons-cientemente, escolhem cores que se harmonizam com seus estadosde espírito.

Estudiosos de filosofia oriental dizem que somos cada um denós um arco-íris ambulante. Nossos sete chakras, os centros deenergia que atravessam nossos corpos, vão dos apaixonados centrosinferiores do vermelho e do laranja ao plexo solar amarelo, ao verdechakra do coração, até os tons tranqüilos do azul (chakra dopescoço), anil (o terceiro olho) e violeta (a coroa chakra, no alto dacabeça).

Usar as cores correspondentes estimula os chakras. Vermelhoe laranja, as cores dos chakras inferiores, ativam nossas tendênciasyang, tornando-nos mais enérgicos, afirmativos e fisicamente ativos.Uso vermelho quando quero aumentar minha energia.

O amarelo estimula o intelecto e ativa seu poder pessoal. É,muitas vezes, usado em bibliotecas e áreas de estudo. O verde, a corda natureza, tem um profundo efeito calmante. Muitos decoradoresequilibram escritórios movimentados usando o verde suavizante dasplantas tropicais.

O azul claro ou o violeta ativam nossas tendências con-templativas, yin, estimulando a espiritualidade, a criatividade, aserenidade. Minha igreja, recentemente, redecorou seu santuário comtons de um azul suave, criando uma atmosfera pacífica e meditativa.

PERGUNTA TAO

Quando você for se vestir amanhã, pense nas cores que vai usar.Você quer ficar em harmonia com os seus sentimentos ou modificá-los levemente, complementando yin e yang ? A escolha é sua, maslembre-se de que tudo, em nosso mundo, transmite vibrações sutis.É nossa missão misturá-las em modelos harmoniosos.

PARA TRANSCEDER OS PAPÉIS SEXUAIS

O Tao nos diz:

"Desenvolva seu poder masculinoMas seja gentil e acalentador(a).Torne-se aberto(a) como um vale

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Page 68: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Para que o rio da virtudeCorra através de você,Devolvendo-o(a) à fonte."

(TAO 28)

Embora as culturas tradicionais tenham consolidado noshomens o comportamento yang, ativo, agressivo, e, nas mulheres, oyin submisso, cada um de nós tem ambas as tendências. O psicanalis-ta Carl Jung percebeu que, sob a imagem masculina consciente decada homem, há a anima, seu potencial feminino inconsciente. Damesma maneira, dentro de cada mulher está o animus, suastendências masculinas irrealizadas. Segundo Jung, até nos recon-ciliarmos com nosso contrário inconsciente, a vida é uma contínuabusca de plenitude.5

Os contrários se atraem. Em nossa juventude, projetamos aanima ou o animus na pessoa que amamos, procurando um "com-panheiro espiritual", que corporifica nosso potencial irrealizado.Rapazes atléticos, musculosos, sentem-se muitas vezes atraídos pormoças miúdas, "femininas". Mulheres emotivas ficam fascinadas porhomens fortes e silenciosos porque são tão diferentes delas.

À medida que amadurecemos, procuramos esse oposto dentrode nós mesmos, num processo que Jung chamou de individuação.Homens saudáveis tornam-se mais conscientes de seus sentimentos,aprendendo a ouvir e acalentar os outros. Mulheres adultas aprendema competência e a afirmação. Ao descobrir esse potencial incons-ciente, equilibramos yin e yang, tornando-nos mais plenos, maiscompletos, mais em paz conosco.

Antigamente, muitas culturas confinavam homens e mulheresa rígidos papéis sexuais, designando os homens como agressivos eas mulheres como acalentadoras. A sabedoria do Tao conduz alémdas definições estreitas. Homens e mulheres do Tao são tão gentis efortes, pacientes e afirmativos, dando vazão a suas próprias energiase reagindo apropriadamente às situações em torno deles.

Anos atrás, ter uma carreira era considerado "pouco feminino"para as mulheres americanas. Esperava-se que encontrassem suarealização cuidando do marido e dos filhos. Esperava-se que oshomens trabalhassem duro e fossem "bons provedores", mas rara-mente vendo suas famílias. Era uma vida desequilibrada paratodos.

Quando eu estava na universidade, durante os anos setenta,sentia pena das donas-de-casa, considerando-as múmias de uma era

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morta. Depois de ler FeminineMystique(A mística feminina), de BettyFriedan, minhas amigas e eu erguemos o estandarte do feminismo.Ingressamos num grupo formado para despertar consciências e tí-nhamos encontros nas casas umas das outras, para nos liberar dosgrilhões sexistas. Porém algumas de nós foram longe demais. Umadeclarou que todos os homens eram inimigos. Algumas desistiram deusar maquilagem e jóias, porque "nos transformavam em objetossexuais". Muitas vezes abraçaram um feminismo que transformava asmulheres em criaturas tão agressivas e competitivas quanto oshomens tradicionais, pregando uma total dedicação a suas carreiras.

Eu me sentia culpada porque tinha amigos homens, usavamaquilagem e gostava de fazer coisas "femininas", como tricotar ebordar. Agora percebo que meus projetos de costura yin servirampara equilibrar o yang competitivo da universidade, mas, naqueletempo, eu mantinha em segredo meus hobbies "divergentes".

Décadas mais tarde, o movimento feminista reconheceu quecada mulher deve procurar seu próprio equilíbrio entre ativa e pas-siva, yang e yin. Os homens também estão rejeitando os papéissexuais rígidos, capacitando-se para serem acalentadores, sensíveis efortes. Os casais podem encontrar o seu próprio equilíbrio, delegandoatividades de acordo com escolhas pessoais, e não com estereótipossexuais.

Em meu casamento, ambos cozinhamos, fazemos compra desupermercado e cuidamos da casa. Algumas vezes, um de nós temmais tempo do que o outro para fazer as tarefas diárias, mas tudo seequilibra, no fim. Valorizo minha liberdade para me expressar demuitas maneiras, seja fazendo jardinagem, cozinhando ou limpandoum piso de madeira-de-lei. Mas também valorizo a parceria comGwilym, suas habilidades e as deliciosas refeições que ele faz paranós.

PARA ABRAÇARA SOMBRA

O Tao nos ensina a ver além das polaridades, comentando que:

"Quando as pessoas chamam uma coisa de bela,Vêem outra coisa como feia.Chamando uma coisa de boa,Seu contrário se torna mau.Porém, ter e não ter produzem um ao outro.Difícil e fácil se equilibram.

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Page 69: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Longo e curto se completam.Alto e baixo dependem um do outro.Altura e tom formam juntos a harmonia.Começo e fim se sucedem."

(TAO 2)

Com essa lição tornamo-nos mais tolerantes, menos prontos acondenar alguém diferente de nós mesmos. Porque os contrários, yine yang, são parte de um modelo em constante evolução. É toliceimpor nossa moral sobre essas diferenças, vendo um extremo comobom e seu contrário como mau, porque, em outros tempos, em outrasculturas, as pessoas os viram exatamente como o inverso.

As pessoas Tao podem aceitar tendências contrárias no mundoporque reconhecem os contrários dentro de si mesmas. Carl Jungpercebeu que cada pessoa tem um eu consciente e um lado escuro,os sentimentos e desejos não expressos, chamados "sombra."Mostramos ao mundo nosso eu consciente {yang), mas sob ele jaz asombra inconsciente {yin), nossos medos, fraquezas e desejos escon-didos — tudo o que não aceitamos em nós mesmos. Um homemque se orgulha da racionalidade e da ordem permitirá suas tendênciasapaixonadas, sensuais e impulsivas, que se tornam parte de sua"sombra". Ele criticará qualquer pessoa que tenha sentimentosapaixonados, simultaneamente desagregado e atraído por aquilo quereprimiu em si mesmo.

Até aceitarmos as partes não expressas de nós mesmos, somosvulneráveis perante alguém que as expresse. Nossos inimigos enossos amores são projeções de nosso lado sombra.

Francine aceitou finalmente sua sombra. Durante toda a suavida, Frankie, como seus amigos a chamam, foi positiva, competentee bem-sucedida, a pessoa que tinha as boas idéias, a energia, amotivação. Foi presidente do conselho de estudantes na escolasecundária, oradora da turma na universidade e tornou-se uma des-tacada advogada trabalhista. Morena atraente, Frankie obteve sucessoem quase tudo — menos no amor.

Por que, meu Deus, perguntavam-se os amigos, ela se envolviacom uma tal sucessão de fracassados? Jerry era um músico de rocktemperamental; Fred, um empreiteiro sem trabalho; Jim, um aspirantea romancista. Nenhum deles conseguia dar conta de suas vidas, entãoiam, um atrás do outro, morar com ela. Frankie os encorajava,sustentava, pagava suas contas e os amava, até que eles esgotavamtodos os seus recursos.

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Por que ela se sentia atraída por homens fracos, quando nãopodia suportar fraqueza em si mesma e nas outras mulheres? Ardentefeminista, odiava a fraqueza feminina, porque detestava ser fraca elaprópria, cedendo a seu lado sombra.

Desamparados, fracos e necessitados, os namorados de Frankieeram o oposto de seu eu competente, dinâmico. Eles também eramreflexos de sua sombra, mas, sendo homens, atraíam-na. Durantetoda a sua vida, ela fora incapaz de pedir ajuda, teimosamentefazendo tudo por si mesma. Então, ser ajudada, acalentada e cuidadapermanecia yin, algo escondido em seu inconsciente. Até aceitar suasombra, ela permaneceu vulnerável aos homens fracos e neces-sitados.

Felizmente, Frankie entrou para uma nova igreja, que davaaulas de desenvolvimento pessoal. Lá, aprendeu a relaxar, abrir mãodas defesas e aceitar a si mesma sem ter sempre de ser competente econtrolada. À medida que se tornou emocionalmente mais saudável,passou a atrair relacionamentos mais saudáveis. Agora está casadacom Will, um arquiteto bem-sucedido, gozando uma vida mais felize mais equilibrada.

EXERCÍCIO PESSOAL: ABRAÇAR A SOMBRA

Todos temos nossas sombras, partes de nós mesmos que per-manecem inconscientes. Este exercício, irá ajudá-lo(a) a começar areconhecer as suas.

• Saia sozinho(a) para um lugar onde vá ser perturbado(a) e fiqueem pé, com os joelhos dobrados, os braços do lado do corpo,respirando para dentro de seu hara, o ponto de poder logo abaixodo umbigo.

• Sinta a energia fluindo através de seu corpo e saindo pelas pontasdos dedos. Experimente você mesmo(a) como um centro de poder.

• Agora, feche os olhos e visualize alguém de quem você não gosta,em pé a sua frente. Quem é essa pessoa? O que você sente comrelação a ele/ela?

• Pergunte a si mesmo(a): "Do que não gosto nessa pessoa?" Entreem contato com essa mensagem. Essa característica é parte de seulado sombra, algo que você não pode aceitar em si mesmo(a).

• Diga a essa pessoa: "Libero você. Estou em união com o Tao"Quando fizer isso, inspire profundamente e expire.

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Page 70: O Tao Da Paz - Diane Dreher

• Olhe para dentro de si mesmo(a), em busca de alguma fraquezacorrespondente, e diga: "Aceito a mim mesmo(a). Perdôo a mimmesmo(a). Estou em união com o Tao". Torne a inspirar profunda-mente e solte a respiração.

• Sinta energias renovadas fluindo em você. Depois, volte para suasatividades normais, mais em paz consigo mesmo(a) e com aspolaridades que tem dentro de si.

À medida que você for seguindo o Tao, julgará menos a simesmo(a) e aos outros, será mais paciente, perdoará com maisfacilidade. Mais consciente dos modelos, misturará os vários níveis deyin e yang em novas harmonias, criando uma paz maior em sua vida.

Afirmação

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa.Tenho consciência dos modelos dentro e em torno de mim.Equilibro o yin e o yang em minha vida.Respeito a mim mesmo (a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Maspero, Taoism and Chinese Religion, p. 732. Chang Chung-yuan, Creativity and Taoism, p. 43. Elgi, Voluntary Simplicity, p. 1584. Assagioli, The Act of Will, p. 206. Para exercícios de maior integração,

ver também: Assagioli, Psychosynthesis (Nova York: Viking, 1971).5. Para uma discussão detalhada da anima e do animus, ver: Carl Jung,

"Marriage as a Psychological Relationschip", em The Development ofPersonality, trad. de R.F.C. Hull, Collected Works 17 (Nova York: Pan-theonBocks, 1954), p. 198.

6. Para uma discussão da sombra, ver: Carl Jung, Man and His Symbols(Garden City: Doubleday, 1979), p. 168-76.

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CAPÍTULO 11

COMO CRIAR UMA ALEGRIA

MAIOR NA VIDA

Guarde o Tao dentro de vocêE a alegria certamente virá.

(Tao 35)

Seguindo o Tao, ficamos cheios de um profundo senso de alegria.Observamos os modelos mutáveis do yin e do yang em tornode nós com distanciamento e paz de espírito.Alcançamos a alegria do Tao voltando a nossa natureza original,

afirmando p'u, que significa literalmente "o cepo não cinzelado",madeira natural sem entalhes nem embelezamentos. Os quealcançam op'u não são presunçosos; portanto, não temem o desmas-caramento nem o ridículo. Sabendo quem são, a lisonja ou a críticanão os afetam. Ligados ao Tao interior, transcendem as armadilhasdo ego. Apreciam o drama da vida sem ser apanhados nele.

Seguir o Tao muitas vezes significa viver em ritmo mais lento,perguntando se o que estamos fazendo tem sentido. Com pressaexcessiva, perdemos nosso equilíbrio e a vida se torna uma manchanebulosa. Acalmando-nos, podemos reconhecer os ritmos da vida evoltar para a harmonia.

Muito freqüentemente, as pessoas colocam sua felicidade forade si mesmas, o que conduz a um interminável esforço, à competiçãoe à infelicidade. Inquietos e insatisfeitos, estão sempre procurandoalgo mais.

Filho único de pais alcoólatras, Dennis cresceu sentindo sempreque havia feito algo errado. Hoje, possui sua própria companhiaimobiliária. Homem de boa aparência, alto, com trinta e poucos anos,

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Page 71: O Tao Da Paz - Diane Dreher

ele parece uma imagem do sucesso. Ganha mais de 700 mil dólarespor ano, tem um Porsche negro 928 personalizado e é dono de umabela casa em Miami. Porém, ainda sofre de auto-estima baixa.

Cobrando constantemente a perfeição de si mesmo, Dennistrabalha 16 horas por dia, seis ou sete dias por semana. Dois casamen-tos fracassaram, porque ele não consegue relaxar por tempo sufi-ciente para manter um relacionamento. Sua luxuosa casa tem umavista deslumbrante para o mar e uma coleção de arte de um milhãode dólares, mas ele quase nunca fica lá.

Dennis é viciado em ganhar dinheiro. Passa a maior parte dotempo no carro, falando no telefone sem fio, correndo de umcompromisso para outro, fechando negócios cada vez mais vultosose melhores. Ganha uma fortuna com comissões, usa ternos impor-tados, sapatos Gucci e um relógio Rolex de ouro, não conseguecolecionar exterioridades suficientes para preencher o vazio interior.

O Tao alerta contra a caça às ilusões. O tipo errado de sucessopode inchar nosso ego e deixar nossas almas à míngua. Um excessode interesse pelo mundo exterior pode fazer-nos perder o equilíbrio.Lao Tsé diz:

"Grande sucesso, como a desgraça,Pode trazer grandes problemas.O sucesso que promove o egoPode desencaminhá-lo."

(TAO 13)

O Tao nos adverte repetidamente para não construirmos nossasvidas sobre ilusões, o "sucesso que promove o ego", mas paraolharmos dentro de nós mesmos e seguirmos nossos próprios ritmos.Neste capítulo, veremos como o equilíbrio entre objetivos, distan-ciamento, ordem, aventura e bom-humor pode encher nossas vidascom a alegria do Tao.

A ALEGRIA DO OBJETIVO

Muitas pessoas presas em rotinas sem significado ou trabalhosque detestam ficam fisicamente doentes. Para ser saudáveis, todosnós precisamos de um senso de objetivo.

Molly, uma mulher com quarenta e poucos anos, detestavatanto seu trabalho que tinha uma doença após a outra. Deprimida eexausta, procurou ajuda psiquiátrica. O médico disse que Molly se

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ajustaria ao trabalho, então ela voltou, adoeceu de novo e ficou aindamais deprimida.

Finalmente, Molly queixou-se a Peace Pilgrim, a mulher quecaminhou através da América, de 1953 a 1981, numa peregrinaçãopela paz. Verdadeira mística, Peace sabia que descobrimos nossoobjetivos examinando-nos interiormente. "O que você realmentegosta de fazer?", perguntou ela. Molly gostava de nadar, tocar pianoe trabalhar com plantas, mas como poderia ganhar a vida comqualquer uma dessas coisas?

Não tocava piano suficientemente bem para dar concertos ouensinar. Nadava o bastante para ficar à tona, mas quase apenas isso."Ora, que tal as plantas?", perguntou Peace Pilgrim, com uma idéia ailuminar seus olhos azuis e cintilantes.

Então Molly conseguiu um emprego numa floricultura, queadorou. Mas não era tudo, porque as pessoas precisam de mais doque apenas um meio de vida. Nadar tornou-se o exercício regular deMolly e tocar piano, seu caminho para servir. Passou a tocar antigasmúsicas de sucesso para os velhinhos de um abrigo local.

Fazendo o que amava e partilhando isso com os outros, Mollytornou-se saudável, feliz e forte. Casou-se cerca de um ano depoismas continuou vivendo em seu modelo harmonioso.

A ALEGRIA DO DISTANCIAMENTO

O Tao nos diz:

"A pessoa Tao, distanciada e sábia,Abraça tudo como Tao."

(TAO 49)

Viver no Tao é combinar o senso de objetivo com distanciamen-to. As pessoas Tao expressam o que os chineses chamam de pu shih,aceitando tudo o que vem no ritmo da vida. "O homem sábio", comojá foi dito, "faz o que tem de fazer para tudo e todos, mas permaneceindependente de qualquer coisa."

Meu amigo Lyle Farrow pratica esse princípio do Tao. Jantandojuntos, certa noite, Gwilym e eu ficamos surpresos ao ouvi-lo dizer:"Não existe nada que eu não goste de fazer".

Lyle é um bem-sucedido corretor de imóveis, aos setenta epoucos anos. Em boa forma, cheio de energia, bem-humorado, comum brilho de animação nos olhos, Lyle está envolvido com um amplo

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leque de atividades que aprecia. Numa idade em que muita gentemora em abrigos para idosos, ele joga golfe três vezes por semana,encontra-se com clientes e faz serviço de manutenção em suaspropriedades.

Mas seu comentário ainda me fez recuar: "Quer dizer que vocêgosta de tudo o que faz, até mesmo de passar a tarde inteira, comoontem, consertando o encanamento", perguntei, sem acreditar.

"Gosto", respondeu com um sorriso. "Passei a fazer questão degostar de tudo o que tem de ser feito. Ontem, trabalhei como bom-beiro. Hoje, joguei golfe — e gostei das duas coisas."

Lyle começou a trabalhar cedo, ajudando a dirigir o cinema deseus pais em Little Falls, Minnesota, e descobriu que "havia semprealguma coisa interessante para fazer". A humildade faz parte de seudistanciamento. Ao longo dos anos, trabalhou com empreiteiros,bombeiros e eletricistas, fazendo ele próprio grande parte das tarefas."Nunca senti que era melhor do que qualquer pessoa que eu con-tratava", disse-nos. E tomou a repetir: "Nunca senti que havia algumacoisa que eu não gostasse de fazer".

Durante dias, refleti sobre os comentários de Lyle, percebendoque sua atitude não apenas é o segredo de seu sucesso, mas tambéma explicação para sua constante boa saúde. Porque ele jamais fez nadacom ressentimento, e o ressentimento envenena nossas mentes ecorpos.

As pessoas como Lyle dão plena finalidade a suas vidas, evitan-do os conflitos interiores. Abraçam tudo o que fazem com interessee entusiasmo, a alegria do Tao.

A ALEGRIA DA ORDEM

Uma vida alegre é fluida, mas bem ordenada. A paz de espíritonão acontece, simplesmente. Exige disciplina.

Há uma velha história sobre um homem que se aproximou deBuda, perguntando o segredo da felicidade.

— Você comeu seu desjejum? — perguntou Buda.— Sim, mestre — respondeu o rapaz, imaginando se a resposta

podia ser assim tão simples.— Você lavou sua tigela — continuou o Buda.— Sim, mestre — respondeu outra vez o rapaz.— Você fez um serviço bem feito? •— perguntou o Buda.Então o homem percebeu que a resposta estava no momento

presente. A felicidade vem de cuidar bem de qualquer coisa que se

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esteja fazendo, consciente de que, nas mínimas ações, afirmamosnossas crenças.

Como a história budista, a autodisciplina taoísta significa en-contrar valor no cotidiano. Significa mover-se harmoniosamente sen-tar-se ereto(a) escutar atentamente, falar com honestidade e estarpresente em tudo o que fazemos. Vivendo o Tao, respeitamos nossasações, nossas palavras, nossos pensamentos, a vida interior e exterior.Pois tudo isso é Tao.

Viver com harmonia exige esforço. É fácil cair em modelospreguiçosos de pensamento, sucumbindo à raiva, ao ressentimento,à autopiedade ou a outras emoções negativas que nos arrastam,levando-nos para ciclos destrutivos.

AFIRMAÇÃO

Para construir a alegria do Tao, precisamos substituir os pen-samentos negativos por afirmações positivas. Tente o seguinte,sempre que se descobrir deslizando para o negativismo:

• Inspire profundamente e solte a respiração.• Agora torne a inspirar, para restabelecer suas energias, e depois

afirme, ao expirar: "Preferi a paz. Estou em união com o Tao".

Essa disciplina mental é especialmente importante para as pes-soas empenhadas na justiça social. Tanta coisa no mundo precisa sermudada que podemos ficar facilmente arrasados, deprimidos, exaustos.Mas, então, não seremos úteis a ninguém. Em capítulos posteriores,aplicaremos os princípios do Tao aos problemas sociais, poluição epolíticos, mas não podemos mudar os ciclos em torno de nós atémudarmos nossos ciclos interiores, passando do negativo para opositivo, abrindo nossas mentes a novas possibilidades.

A ALEGRIA DA A VENTURA

O caminho do Tao combina disciplina e aventura. Uma pessoaque serve como exemplo disso é Robert William Smith, Ph.D., ex-treinador profissional de futebol, agora professor de Filosofia emMesa College, em Arizona.

Homem alto e vigoroso, com cinqüenta e poucos anos, Robertviaja muito, explorando o mundo, escrevendo livros sobre filosofia

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Page 73: O Tao Da Paz - Diane Dreher

oriental e vivendo com um gesto que torna cada dia uma aventura.Em sua vida e em seu trabalho, ele combina a disciplina do

treinamento, a sabedoria do Oriente e seu próprio entusiasmo inten-so. Começa cada curso pedindo aos alunos para "dar uma respostapositiva" à vida, o que significa "aprender a passar seus dias damaneira adequada".

"Levantem-se cedo", diz-lhes, e "saúdem o dia" com uma bênção,uma canção, um cântico, uma prece. Tome cada dia um dia seu.

Somos, cada um de nós, formados por espíritos, mente e corpo,explica ele, e todos esses elementos precisam de estímulo diário. Parao corpo, estímulo significa exercício: "dê duro durante uma boa hora",diz, "seja qual for o esporte que você pratique". Ele gosta de correr.Para a mente, Robert recomenda "devaneios criativos", a fim deestimular a imaginação. Para o espírito, aconselha, que se cultivemos pensamentos poderosos, que se leiam obras inspiradoras e que secuide do que se está fazendo. "O segredo, neste caso", diz ele, "estáem dar continuidade". A maioria das pessoas começa os projetos comboas intenções, mas os que conseguem bons resultados em qualquercampo são os que dão continuidade às coisas.''

EXERCÍCIO PESSOAL

Robert Smith vê cada dia como um desafio para atingir a perfeição,praticar aquilo em que ele acredita. Reserve alguns minutos, agora, pararesponder a estas perguntas sobre sua própria vida:

• Encontrar um desafio significativo torna qualquer vida uma aven-tura. Qual é o seu?

• Você consegue ver cada dia como uma oportunidade de praticaraquilo em que acredita?

• Você pode fazer alguma coisa a cada dia para renovar seu sensode desafio?

• Você poderia se beneficiar de uma disciplina mais consciente, aoseguir seus objetivos?

• Onde, na vida, você poderia aperfeiçoar sua capacidade de darcontinuidade?

• Feche os olhos e veja a si mesmo (a) fazendo essas coisas, vivendocom maior alegria, energia e aventura. Como se sente?

• Quando preferir, abra os olhos, mas mantenha a sensação comvocê. À medida que seguir o Tao você realizará mais esse potencial.

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A ALEGRIA DO HUMOR

As pessoas riem das ironias da vida, encontrando alegria nohumor, até quando riem de si mesmas. O Tao nos lembra que:

"Quando uma pessoa convencional ouve falar do Tao,Explode em sonoras gargalhadas.Se não houvesse gargalhadas, não seria o Tao."

(TAO 41)

Com muita freqüência, esquecemo-nos de rir, levando nósmesmos e a vida demasiado a sério. Uma amiga minha costumavabrincar: "Não leve a vida a sério demais. Você nunca sairá delaviva".

Com a risada vem a percepção de que todas as coisas vêm parapassar, de que a vida se desenvolve através de ciclos de mudança.Podemos apreciar esses ciclos ou resistir a eles. Mas a resistência nostraz dor. Não é o caminho do Tao.

Você já notou como se sente muito melhor depois de uma boarisada? A risada estimula a produção de endorfinas, os anestésicosnaturais do corpo. Também melhora a respiração, ativa nosso sistemade imunidade, relaxa nossos músculos e alivia o estresse.

Podíamos todos levar uma vida mais saudável, mais feliz, desen-volvendo um espírito de brincadeira. O que você faz como brin-cadeira? Uma de minhas coisas favoritas é alimentar os esquilos numparque próximo de minha casa. Com sua energia sem limites emovimentos graciosos, eles parecem a personificação da alegria,pulando pelo chão, caminhando pelos fios de telefone comoacrobatas e saltando de árvore em árvore.

Gwilym e eu damos caminhadas regulares até uma "casta-nheira" especial, e enfiamos amendoins ou nozes nos sulcos entre osramos mais baixos. Depois, observamos quando os esquilos vêmreclamar seu banquete. Eles ainda são bastante selvagens, de modoque não chegamos muito perto.

Um dia, recentemente, eu estava em pé junto da árvore, comuma bolsa cheia de castanhas, quando um esquilo brincalhão veio dolado contrário e ficou ali, me olhando com seus grandes olhoscastanhos, retorcendo o nariz e dando chicotadas com a longa caudacerrada. Depois subiu às pressas por um galho e ficou espiandodesconfiado, enquanto eu distribuía as castanhas. Os esquilos mederam mais do que eu a eles: risadas, surpresas e uma oportunidadede observar de perto algumas das maravilhas da natureza.

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A alegria do Tao é composta de muitas coisas, mas, principal-mente, de uma percepção de que fazemos parte de algo maior do quenós mesmos, um modelo de infinita beleza que flui dentro de nós ea nossa volta. Sentimos essa alegria revelada na natureza, em nósmesmos e mutuamente, quando experimentamos a unidade do Tao.

Afirmação

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa.Sinto a alegria do Tao em minha vida.Vivo com objetivo e distanciamento, disciplina e senso de

aventura, risada e brincadeira.Estou em união com tudo o que existe.Respeito a mim mesmo (a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Lin Yutang, comentário ao Tao Te Ching, em The Wisdom of China andíndia (Nova York: Modem Library, 1942), p. 590.

2. A história é de Peace Pilgrim: Her Life and Work in Her Own Words,1925, Santa Fé, Ocean Tree Books, P-D- Box 1295, Santa Fé NM 87504,©1982), p. 61-62, Usado com permissão do editor e do Friends of PeacePilgrim, 43480 Cedar Avenue, Hemet CA 92344. O nome "Molly" éacréscimo meu.

3. Citação e descrição do pu shih extraída do comentário de R.B. Blakneyem Lao Tzu: Tzu: The Way of Life (Nova York: New American Library,©1955), p. 400. Usado com permissão do editor.

4. Para uma descrição mais completa da autodisciplina taoísta, ver: Hua-Ching Ni, Tao: The Subtle Universal Law and the Integral Way of Life(Los Angeles: College of Tao and Traditional Chinese Healing, 1979).

5. Robert William Smith, Ph.D., "The Distinction Between Life as a Problemor a Mystery", sumário de curso. Usado com permissão do autor.

Ilustração da Parte 3. O caracter chinês que corresponde a água,simbolizando o poder e a flexibilidade do Tao e o ciclo da água quesustenta toda a vida do planeta.

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PARTE

3

O CAMINHODA NATUREZA

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CAPÍTULO 12

HARMONIA

NATURAL

Quando você sentir a natureza comoparte de si mesmo(a),Agirá com harmonia.

Quando você sentir a si mesmo(a) comoparte da natureza,

Viverá com harmonia.(TAO 13)

As pessoas Tao permanecem próximas da natureza. Reco-nhecendo a unidade das "dez mil coisas", sabem que:

"O Tao dá vida ao mundo,Modelando todas as coisasNas formas em que se manifestam.

As dez mil coisasSeguem seus princípios,E o Tao as sustenta,Proporcionando alimento e abrigo,Apoiando seu crescimentoAtravés dos ciclos da vida.

Seguir o TaoÉ atender a seus princípios,Perceber:Que vivemos na naturezaMas jamais podemos possuí-la;Podemos guiar e servirMas jamais controlar.Esta é a mais elevada sabedoria."

(TAO 51)

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Page 76: O Tao Da Paz - Diane Dreher

A unidade do indivíduo com a natureza é ponto central dafilosofia taoísta. Como aprendemos no Capítulo 3, o caracter chinêsque corresponde a natureza inclui o caracter que representa umapessoa com os braços abertos, significando "grande", tendo ao ladooutra linha horizontal, que retrata o céu sobre nossas cabeças. Assim,tornaremo-nos grandes reconhecendo nossa parte na harmonia danatureza.

Os antigos chineses viam cada pessoa como um microcosmo,um mundo em miniatura. Em descrições complicadas, equiparavamnossas cabeças com o céu, nossos pés com a terra, nossas veias comos rios, nossos muitos ossos com os 365 dias do ano, nossas emoçõesmutáveis com o clima mutável.2 Para eles, as doenças nos sereshumanos, bem como as desordens no mundo, eram causadas pelodesequilíbrio.

Visão semelhante prevalecia outrora no Ocidente. Da IdadeMédia à Renascença, os europeus viam a si mesmos como microcos-mos, pequenas versões do mundo em torno deles, acreditando queuma grande cadeia do ser ligava toda a vida. No século XIII, SãoFrancisco de Assis celebrou a relação da criação em seu "Cântico doSol", celebrando o "Irmão Sol", a "Irmã Lua", a "Irmã água" e "nossaIrmã, a Mãe Terra, que nos sustenta e governa".³

Durante a Renascença inteira, as pessoas meditavam sobre anatureza e aplicavam suas lições à vida de cada um. Thomas Traherneafirmou, em seu Centuries of Meditations (Séculos de meditações):"Você jamais gozará o mundo apropriadamente antes de descobrircomo (um grão de) areia exibe a sabedoria e o poder de Deus:.. .antesque o próprio mar flua em suas veias, antes de você estar vestido como céu e coroado com as estrelas." As pessoas viam a si mesmas comoparte de um modelo mais amplo. John Donne escreveu: "Nenhumhomem é uma ilha, inteiramente isolada; cada homem é um pedaçodo continente, uma parte do todo. Se um torrão for arrastado pelomar, a Europa é o mínimo, como se fosse um promontório, como sefosse a casa de teu amigo ou a tua própria: a morte de qualquerhomem me diminui, porque estou envolvido com a humanidade e,portanto, nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram; elesdobram por ti".5

Até o final do século XII, as pessoas no Ocidente conheciamuma sensibilidade unificada, percebendo corpo e alma, razão epaixão, a natureza e o indivíduo como parte de um todo mais amplo.Esta visão unificada perdeu-se quando as revoluções científica eindustrial desenvolveram um novo paradigma mecanicista. Deus

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tornou-se o Divino relojoeiro, que deixou o mundo funcionar por simesmo. As fábricas reduziram os indivíduos a partes especializadas,engrenagens de uma máquina. O sentido da vida como umatotalidade consciente e orgânica foi substituído pelo ritmo frenéticoe pela fragmentação da vida moderna. As pessoas começaram a medirseu valor em termos de produtividade — rendimento — como setodos tivéssemos virado máquinas.

O mundo ocidental está agora à beira de um novo paradigma,e a ciência novamente indica o caminho, desta vez afirmando umavisão mais holística. Com a física, aprendemos que o mundo écomposto de modelos de energia dinâmica. Os psicólogos desenvol-vimentais descrevem a vida como um processo de contínuo cres-cimento e Carl Jung acreditava que somos todos parte de uminconsciente coletivo. O círculo se recompõe outra vez quandonovamente percebemos que ninguém é uma ilha. Todos estamosintrinsecamente ligados na teia dinâmica da vida.

Uma visão de unidade orienta o ativismo ecológico do Green-peace. Arriscando-se a ferimentos e morte, esses bravos homens emulheres fazem-se ao mar em pequenos barcos, colocando seuscorpos entre as baleias em perigo e seus atacantes, enfrentando combravura o gelo do noite para salvar focas recém-nascidas do massacreanual. Como explica a filosofia do Greenpeace:

"A ecologia nos ensina que a humanidade não é o centro da vida noplaneta. A ecologia nos ensinou que a terra inteira é parte de nosso'corpo' e que devemos aprender a respeitá-la, como respeitamos a nósmesmos. Os mesmos sentimentos que temos para com nós mesmos,devemos tê-los por todas as formas de vida — as baleias, as focas, asflorestas, os mares. A tremenda beleza do pensamento ecológico é queele nos mostra o caminho de volta para uma compreensão eapreciação da própria vida — uma compreensão e apreciação que éimperativa daquele próprio caminho de vida."

AS LIÇÕES DA NATUREZA

As pessoas não-Tao vêem o mundo como uma reunião departes desconexas. As pessoas Tao vêem a unidade subjacente.Meditando sobre seus ciclos mutáveis, aprendem o equilíbrio pessoale planetário.

Ficando próximos da natureza, eliminamos nossas ilusões deisolamento, o ego excessivamente desenvolvido que os taoístaschamam de ying (literalmente, "estar cheio de si mesmo")7 e os

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cristãos chamam de pecado do orgulho. A natureza nos torna humil-des, fazendo-nos ver que somos apenas uma parte do todo infita-mente mais amplo. Com os ciclos da natureza, em sua lenta evolução,aprendemos a paciência e o distanciamento.

Tornamo-nos mais pacientes quando nos ajustamos àsmudanças de clima, ao contrário de Hal, que perde a cabeça quandouma repentina tempestade cancela seu jogo de golfe. Pisando durode um lado para outro, mal-humorado, com o rosto vermelho, eleenfia seus tacos na mala do carro, amaldiçoando o "mau tempo". Maso Tao ensina que o tempo não é "bom" nem "mau". Simplesmente é.A chuva que perturba os planos de Hal é bem recebida pelos fazen-deiros a poucos quilômetros de distância.

Como um monge taoísta, o escritor do século XIX Henry DavidThoreau buscava as lições da natureza. Num dia chuvoso, ele apren-deu a paciência, vendo o modelo mais amplo, além do ego: "A suavechuva que molha meus feijões e me mantém em casa hoje não éenfadonha nem melancólica, mas sim boa para mim também. Emborame impeça de trabalhar neles com a enxada, vale muito mais do queesse trabalho. Mesmo que continue por tanto tempo a ponto de fazeras sementes apodrecerem no solo e destruir as batatas, nas terras maisbaixas, ainda será boa para a pastagem no planalto e, sendo boa paraa pastagem, será boa para mim."

Vivendo próximo da natureza, reconheceu sua união com oprocesso da vida. Levando-nos além de nossa visão limitada e linearda vida, a natureza celebra o crescimento e a perpétua renovação.

Como Thoreau, os homens e as mulheres do Tao encontrambeleza em todos os climas e estações. Eles aprendem que é loucuraagarrar-se a um momento ou a uma posse. Pois os objetos tambémpassam, de diferentes formas. Dias, momentos, são passos dados nocaminho, e o modelo desenvolve-se com a contínua mudança, crian-do a maravilha das dez mil coisas.

PAZ E HARMONIA COM AS LEIS NA TURAIS

O Tao nos diz:

"Viver em harmonia é seguir o Tao.Seguir o Tao é iluminação.O esforço excessivoConduz à exaustão.A luta competitiva

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É contrária ao Tao.Tudo o que violar o TaoNão durará."

(TAO 55)

As pessoas do Tao harmonizam-se com as leis naturais, seguin-do os princípios subjacentes que sustentam a vida. As leis físicas sãofacilmente observadas: a lei da gravidade, por exemplo. Solte umobjeto e ele cairá na terra. Seguindo seus próprios modelos de causae efeito, os princípios taoístas do equilíbrio dinâmico, da união e docrescimento cíclico aplicam-se aos indivíduos, à natureza e àssociedades. Quando seguimos o Tao, temos harmonia; quando traba-lhamos contra ele, temos problemas.

Sempre que enfrentamos um problema, podemos ter certeza deque a ordem do Tao foi violada. A escritora Dorothy L. Sayersconsiderou a guerra "um julgamento que atinge as sociedades quan-do vivem baseadas em idéias demasiado conflitantes com as leis quegovernam o universo."

As guerras e perturbações sociais são sintomas de umasociedade desequilibrada, doenças causadas por uma ordem socialpouco saudável. Seguindo os princípios do Tao, podemos criar umavida mais saudável e mais pacífica para nós mesmos e nosso mundo.

Aprenderemos a respeito da ação política taoísta na parte final.Mas, primeiro, vamos considerar como o Tao funciona na natureza.Este capítulo explica dois princípios taoístas: equilíbrio e unidadedinâmicos. O próximo capítulo gira em torno do princípio do cres-cimento cíclico. Criamos ação harmoniosa cooperando com essesprincípios.

O PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO DINÂMICO

Os taoístas há muito equiparam paz com equilíbrio. O hexagramaque corresponde a paz, no I Ching, é composto de três linhas horizontaisdivididas no centro, acima de três linhas inteiras horizontais, o yin daterra equilibrado pelo yang do céu.1 A paz resulta do equilíbriodinâmico dos contrários, dentro e em tomo de nós.

Seguindo esse princípio, os taoístas ensinam moderação, per-cebendo que um extremo, invariavelmente, leva a outro. Chuang Tsésabia que "toda ascensão e declínio são inter-relacionados. Quandoalguma coisa chega a um limite muda sua direção; quando o fim éalcançado, inicia-se o começo."11 Os gregos também descobriram

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Page 78: O Tao Da Paz - Diane Dreher

este princípio, chamando-o de Média de Ouro Aristotélica, oequilíbrio entre excesso e deficiência.

Excesso de qualquer tipo traz o desequilíbrio e o desastre. Oeconomista E.F. Schumacher criticou o mundo ocidental por seuextremo materialismo: "uma vida dedicada fundamentalmente àperseguição de finalidades materiais, negligenciando-se o espiritual.Uma vida assim, necessariamente, coloca um homem contra o outroe uma nação contra a outra."¹² O desequilíbrio provoca a desordempessoal e política.

Vinte e cinco séculos antes, Lao Tsé ensinou a mesma lição:

"Quando as pessoas não seguem o Tao,Seus cavalos são arreados para a guerra,Suas energias são usadas para a destruição,E muitos ficam famintos.Grandes problemas ocorremQuando não se sabe o que é o bastante.Grandes conflitos surgem quando se quer demais.Quando sabemos o que é o bastante,Haverá sempre o bastante."

(TAO 46)13

O PRINCÍPIO DA UNIDADE

Para que haja paz, as sociedades e indivíduos devem entendera inter-relação de microcosmo e macrocosmo, reconhecendo suaunidade com a natureza e um com o outro. Conscientes dessaunidade subjacente, as pessoas Tao respeitam a natureza e as outraspessoas, sem explorar seus vizinhos ou o meio ambiente. Elas vêemnosso ecossistema como um todo integrado, percebendo quequalquer ação tem efeitos de longo alcance.

Muitos erros são cometidos quando as pessoas ignoram essalição. Na década de 50, a Organização Mundial de Saúde tentoueliminar a malária ao norte de Bornéus usando o pesticida dieldrinpara matar os mosquitos portadores da doença. Inicialmente, oprojeto pareceu um grande sucesso. Não apenas os mosquitos e amalária desapareceram, como também os moradores da vila não erammais incomodados por moscas nem baratas. Mas, depois, os telhadosdas casas começaram a cair, e eles enfrentaram o risco de umaepidemia de tifo.

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Como foi que isso aconteceu? Primeiro, centenas de lagartosmorreram por comer os insetos envenenados. Depois, os gatos locaisas vilas, carregando pulgas infestadas de tifo em seus corpos. Parapiorar as coisas, os telhados de palha das casas dos aldeõesdesabaram. Por quê? O dieldrin mata as abelhas e outros insetos que,comumente, comem os gafanhotos — e estes se alimentam dostelhados de folhas. O Tao ensina que tudo na vida está interligado,uma lição que os funcionários da organização Mundial de Saúde tiveramde aprender no Bornéus. Depois de afastar a ameaça de tifo, elescomeçaram a considerar as implicações mais amplas de suas ações.

Outro exemplo mais global de nossas inter-relações é o efeitoestufa, causado pela quantidade crescente de dióxido de carbono naatmosfera. Este excesso está elevando a temperatura da Terra,ameaçando transformar terras agrícolas em deseitos, queimar asflorestas dos climas temperados e inundar áreas costeiras, à medidaque o gelo polar se derrete e os níveis do mar se elevam.

Até este século, a natureza mantinha um equilíbrio de oxigênioe dióxido de carbono, porque os seres humanos e os animais inalamoxigênio e exalam dióxido de carbono, enquanto as plantas fazemexatamente o contrário. Os taoístas chamariam a isso de perfeitoequilíbrio do yin e do yang.

O efeito estufa decorre do enorme uso, por parte das sociedadesindustrializadas, de combustíveis fósseis e clorofluorocarbonos, mastambém de algo que, inicialmente, parece completamente desvin-culado — o aumento de consumo de hambúrgueres nos restaurantesde fast-food.

Para produzir mais carne a baixo preço, os empresários naAmérica Central e América do Sul andaram devastando florestasúmidas, transformando-as em pastagens para gado destinado aoabate. Só na Costa Rica, entre 50.600 e 70.800 hectares de floresta sãodestruídos anualmente.15 Tal ação é desaconselhável, tanto do pontode vista local quanto global. Como o fino solo tropical carece dehúmus, ele se desgasta com a erosão em poucos anos, deixando aregião erma e mais pobre do que antes

Do ponto de vista global, os efeitos são agourentos. Com suavegetação luxuriante, as florestas pluviais sempre serviram como os"pulmões" do planeta, transformando imensas quantidades dedióxido de carbono em oxigênio e purificando a atmosfera. Agora,enquanto produzimos dióxido de carbono, ao mesmo temposabotamos esse processo natural de equilíbrio, destruindo as florestaspluviais.

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Se essa tendência continuar, o acúmulo de dióxido de carbonocausará um aquecimento global maciço, com horrendos efeitos nosEstados Unidos. O meio-oeste americano se tornaria um desertoesturricado e árido, e o Canadá e a União Soviética, passando a terclimas mais quentes, tomariam nosso lugar como o grande produtormundial de alimentos. Cidades costeiras, de Nova York a Miami, deNova Orleans a San Diego e Seattle, seriam inundadas com o aumentoda temperatura da terra, o que derreteria as calotas de gelo polares eelevaria o nível do mar em todo o planeta.

Mais uma vez, a lição é clara. Como somos parte de um todomais amplo, a ação imprevidente pode causar desequilíbrio emgrande escala. Devemos lembrar-nos de procurar os modelos maisamplos, a fim de permanecer em equilíbrio, porque

"Tudo o que viola o TaoNão durará."

(TAO 55)

HARMONIA COM NOSSOS VIZINHOS

O naturalista americano John Muir foi uma pessoa Tao, nosentido mais elevado. Perambulando pelas montanhas do Oeste, eleconcluiu que "Poluição, sujeira, imundície são palavras que jamaisteriam sido criadas, se o homem vivesse em conformidade com anatureza". As pessoas não-Tao são, muitas vezes, imprevidentes.Poluem e destroem a vida, porque não vêem os modelos maisamplos.

Pacific Grove, uma linda cidade costeira ao norte da Califórnia,é conhecida por suas borboletas do gênero Danausplexippus. Todosos anos, essas borboletas voltam para Pacific Grove, e assim tor-naram-se o símbolo da cidade. Suas fotos aparecem em letreiros derua, mapas e material promocional.

Mas, ultimamente, houve uma diminuição radical das bor-boletas. Por quê? O maior desenvolvimento local causou a destruiçãodos arbustos e flores que são seu habitat natural. A populaçãohumana em expansão expulsou essas criaturas naturais de seus lares.

Todos os anos as pessoas vêm a Pacific Grove para ver asborboletas. Se o desenvolvimento sem freios continuar, a cidadeperderá seu caráter especial, tornando-se apenas outra reunião deruas, casas, shopping centers e restaurantes de fast-food. As únicasborboletas serão as dos cartões postais e souvenirs de plásticos.

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Quantas vezes fazemos isso, inadvertidamente, com nossosvizinhos não-humanos? Enquanto os fomentadores do desenvol-vimento substituem a paisagem natural por grama artificial e con-creto, algo precioso se perde. Destruindo nossos habitais naturais,ameaçamos os elos vitais na cadeia da vida e roubamos sua belezade nós mesmos.

EXERCÍCIO PESSOAL

Até que ponto você conhece a paisagem natural de sua área?Respondendo este questionário e contando os pontos, vocêdescobrirá.

1. Que árvores crescem em sua área local? Dê o nome, ou descrevacinco delas.

2. Que flores selvagens crescem em sua área? Dê o nome de cinco.3. Dê o nome de cinco plantas comestíveis nativas de sua região.4. Nomeie cinco frutas e verduras cultivadas localmente.5. Que pássaros são nativos de sua região? Designe cinco ou mais.6. Que pássaros migram e quais os que permanecem durante o ano

inteiro?7. Que outros vizinhos não-humanos são nativos de sua área? Designe

cinco (ou mais, se possível).8. O que aconteceu com seu meio ambiente local, nos últimos cinqüenta

anos?9. Há algum pássaro, ou animais, em perigo de extinção?

10. Caso afirmativo, qual a razão?

Se você fez 9 ou 10 pontos, tem uma percepção excelente deseu meio ambiente. Se sua marcação foi de 7 ou 8, você é maisperceptivo do que a maioria das pessoas.

Se fez menos de 5 pontos, você, como a maioria dos ameri-canos, está fora de contato com seu meio ambiente. Muitos de nóssequer sabemos os nomes das plantas em nosso quintal, quanto maisas plantas e animais nativos em torno de nós.

Mas podemos aprender. Comece respondendo a essas questõesdando uma caminhada pelo bairro e observando o que o(a) cerca,conversando com moradores de longa data, lendo livros de histórianatural na biblioteca local. Você desenvolverá uma compreensãomais profunda de seu habitat e aprenderá a respeito das ameaças aseu meio ambiente. Com essa percepção, vem a possibilidade de

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Page 80: O Tao Da Paz - Diane Dreher

soluções, porque, quanto mais sabemos a respeito de nossosproblemas, mais rapidamente podemos começar a solucioná-los.

SUPERAÇÃO DO DUALISMO

O número crescente de espécies em perigo no planeta é umtestemunho triste do atual nível de ignorância, falta de bondade e derespeito dos seres humanos pelas outras vidas que partilham nossoinundo.

O Tao nos diz:

"Aqueles que dominam a naturezaE busca possuí-laJamais conseguirão,Porque a natureza é um sistema vivo, tão sagradoQue, quem o usar de forma profana,Certamente o perderá;E perder a naturezaÉ perder a nós mesmos."

(TAO 29)

O Tao ensina uma visão de unidade que transcende o dualismo,afirmando a necessidade de cooperação. Percebemos que "a naturezaé um sistema vivo", que abusando dela nós destruímos a fonte denossa própria vida, porque "perder a natureza é perder a nós mes-mos".

Nosso velho paradigma mecanicista, com seu conceito entra-nhado de dualismo e separação, fez com que as pessoas passassema ver o mundo como uma reunião de objetos para explorar. Tal visãonão é apenas inexata, mas também destrutiva, tornando nossorelacionamento com a natureza e o resto do mundo uma luta pelodomínio. Nossos problemas ecológicos deveriam ensinar-nos que,inevitavelmente, destruímos aquilo que dominamos.

O Tao nos leva além do dualismo antropocêntrico, daequivocada ilusão de separação entre as pessoas e entre estas e omeio ambiente. O ecologista Robert Aitkin Roshi considera que essamaneira limitada de ver é a responsável pelo racismo, sexismo,nacionalismo e outras formas de alienação e exploração.18 Afirmandonossa unidade, a sabedoria holística do Tao transcende o dualismo ea violência que ele provoca.

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EXERCÍCIO PESSOAL

Podemos experimentar a unidade do Tao dando uma cami-nhada lenta e meditativa, em meio à natureza. Para fazer justiça a esseexercício, reserve bastante tempo para explorar uma paisagemnatural próxima, sozinho(a) e sem pressa.

• Use roupas e sapatos confortáveis, sem carregar mais do que vocêprecisa. Deixe longe de você seu calendário, bolsa, pasta, e tudo oque implicam. Você pode querer levar uma pequena mochila comágua e um sanduíche, mas o importante é viajar sem nenhumacarga.

• Vá calmamente, concentrando-se no ritmo de sua respiração.• Permaneça no presente. Não deixe sua mente divagar.• Sintonize-se com seus sentidos. Sinta a terra sob seus pés e diga

para si mesmo(a); "Estou em união com a terra".• Sinta o calor do sol em sua pele e diga para si mesmo(a): "Estou em

união com o sol".• Enquanto o vento acaricia seu corpo, diga para si mesmo(a): "Estou

em união com o vento".• Observe atentamente as plantas em torno de você, notando as

variedades e todas as tonalidades locais de verde. Afirme sua Uniãocom as plantas.

• Ouça o farfalhar das folhas das árvores, acima de sua cabeça.Afirme: "Estou em união com as árvores".

• Sinta o perfume das árvores e das flores. Afirme sua união.• Ouça a melodia de um riacho ou lago. Afirme: "Estou em união

com a água".• Veja e ouça os pássaros e outras criaturas em torno de você. Ao

notar cada uma delas, afirme sua união.• Sinta como os ritmos de seu corpo entram em interação com os

ritmos naturais ao seu redor.• Quando estiver pronto(a), volte devagar pelo caminho por onde

veio, conservando esse senso de harmonia natural quando reentrarno mundo mecanizado. Porque, sob todo o alvoroço e ruído, existea duradoura unidade do Tao.

Se você gostou desse exercício, pode querer tentar umavariação. Seguindo as mesmas diretrizes gerais, partilhe uma cami-nhada silenciosa com alguém que você ame. Decida olhar, ouvir esentir, mas não falar. Enquanto estiver caminhando, vocês podem

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Page 81: O Tao Da Paz - Diane Dreher

apontar as maravilhas naturais um para o outro, partilhando umacomunhão com a natureza.

UNIÃO COMA NATUREZA

O reconhecimento de nossa união com a natureza amplia nossavisão e nos dá um senso mais profundo de nós mesmos. O ativistaecológico John Seed explica como seu trabalho tirou-o de uma visãoindividualista, levando-o para a união com todo o processo da vida." 'Estou protegendo a floresta pluvial', passa a ser, 'sou parte dafloresta pluvial, protegendo a mim mesmo. Sou aquela parte dafloresta pluvial que recentemente evoluiu para o pensamento'. Quealívio, então! Encerram-se milhares de anos de separação imaginária,e começamos a lembrar nossa verdadeira natureza". "A mudança",diz ele, "é de ordem espiritual".

Estudar a natureza é seguir o Tao; seguir o Tao é conhecer a nósmesmos. No final de sua vida, John Muir descreveu seu trabalhodizendo: "Saí apenas para dar uma caminhada e, finalmente, decidificar até o entardecer, porque, saindo, como descobri, eu estava naverdade entrando."20 Sair para a natureza é mergulhar em nós mes-mos, alcançando muito além da frágil superfície da vida, para entrarem união com a natureza, em união com o Tao.

Há muitas maneiras de estudar a natureza, desde acampar epegar carona até trabalhar em seu jardim. Este capítulo pode apenasdar um impulso inicial em você. A natureza, para os taoístas, é umsistema vivo. Deve ser experimentada. A melhor maneira de fazerisso é guardar este livro e sair, dar uma caminhada, alimentar ospássaros ou cuidar de uma árvore. Aproxime-se das coisas vivas, emcrescimento, respire profundamente e participe da harmonia in-finita do Tao.

Afirmação

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa.A cada dia aprendo mais sobre a vida em torno de mim.Estou em união com a natureza.Atendo a seus princípios.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em

meu mundo.

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Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. R.L. Wing, The Tao of Power, comentário ao Tao, Capítulo 73, p. 73-2. A teoria taoísta das correspondências, discutida na obra de Maspero,

Taoism and Chinese Religion, pp. 339-40; Chang Chung-yuan,"Creativity and Taoism", p. 138.

3. A visão ecológica de São Francisco é descrita na obra de Bill Devall eGeorge Sessions, Deep Ecology: Living as if Nature Mattered (Salt LakeCity: Gibbs M. Smith, 1985), p. 92.

4. Thomas Traherne, Centuries of Meditations, em Seventeenth-CenturyProse and Poetry, 2a edição. Ed. Alexander Witherspoon e Frank J.Warnke (Nova York: Harcourt, Brace, Jovanovich, 1982), p. 696.

5. John Donne, Devotions Upon Emergent Occasions (Ann Arbor: Univer-sity. of Michigan Press, 1959), pp. 108-9.

6. A Filosofia do Greenpeace, usada com permissão do Greenpeace EUAe Canadá. Para maiores informações sobre o Greenpeace, contá-los em1436 U. Street NW, Washington DC 20009, tel. (202) 462-1177, ou 578Bloor St. West Toronto, Ontario Canadá MÓE lkl, tel. (416) 538-6470.

7. Discussão do Ying, de Lin Yutang, org. Tlie Wisdom, of China and índia,p. 587.

8. Thoreau, The Variorum Walden, pp. 98-99-9. Dorothy L. Sayers, Creed or ChaoS (New York: Harcourt Brace, 1949),

p. 47.10. Ver, por exemplo, R.G.H. Siu, TlieMan of Many Qualities: A Legacy of

the I Ching (Cambridge: Massachusetts Institute of Technology, 1968),p.7.

11. Chuang-Tsé 7:4 em The Wisdom of Laotse, trad. de Lin Yutang (NovaYork: Modern Library, 1976), p. 148.

12. E.F. Schumacher, Small is Beautiful: Economics as if People Mattered(Nova York: Harper & Row, 1973), pp. 38-39.

13. Minha versão é próxima da tradução de R.L. Wing em The Tao of Power(Nova York: Doubleday, ©1986), Capítulo 46, p. 46:"Portanto saiba que o bastante é o bastante. Sempre haverá o bastante".Usado com permissão do editor.

14. História de Bornéus, recolhida da obra de G. Tyler Miller, Jr., Living inthe Environment, 2a ed. (Belmont: Wadsworth, ©1979), p. 92. Usadocom permissão do editor.

15. John Seymour e Herbert Girardet, Blueprint for a Green Planet (NovaYork: Prentice Hall, 1987), p. 73. Para mais informações sobre florestaspluviais, contatar a Rainforest Action Network, 301 Broadway, Suite A,

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San Francisco CA 94133 ou Enviromental Defense Fund, 257 Park Ave.South, New York NY 10010.

16. John Muir, John of the Mountains: The Unpublished Journals of JohnMuir, org. Linnie Marsh Wolfe (Boston: Houghton Mifflin, ©1938, deWanda Muir Hanna. Copyright ©renovado em 1966 por John Muir Hannae Ralph Eugene Wolfe), p. 222. Esta citação e a seguinte republicadascom permissão de Houghton Mifflin Company.

17. Algumas idéias neste questionário basearam-se em "Where You At? ABioregional Test", de Jim Dodge, Leonard Charles, Lynn Milliman eVictoria Stockley, publicado em CoevolutionQuaterlyrí2 32, inverno de1981, p. 1. Usado com permissão de Jim Dodge e do editor, agora WholeEarth Review. Assinaturas a 20 dólares por ano (4 exemplares) comWhole Earh Review, 27 Gate 5 Road, Sausalito CA 94965. Para maioresinformações sobre espécies ameaçadas de extinção, contatarThe NatureConservancy, 1815 North Lynn Street, Arlington, VA 22209 ou The WorldWildlife Fund, 1250 Twenty-Fourth Street NW, Washington DC 20037.

18. Ver: Robert Aitkin Roshi, "Gandhi, Dogen, and Deep Ecology",publicado inicialmente em Tlie Mind of Clover, ©1984, da North PointPress, Berkeley, republicado no Appendix C, em Devall Sessions, p. 233.

19. John Seed, "Anthropocentrism", Appendix E, em Devall e Sessions, DeepEcology (Layton, Utah: Gibbs Smith, 1985), p. 243. Republicado compermissão de John Seed e do editor. O livro de John Seed, ThinkingLikea Mountain, pode ser pedido à New Society Publishers, P.O. Box 582,Santa Cruz CA 95061-0582.

20. Muir, John of the Mountains, p. 439. Usado com permissão.

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CAPÍTULO 13

CICLOS NATURAIS

O movimento do Tao é de retornoEm ciclos infindáveis.

Cedendo, vence,Criando as dez mil coisas,

O ser do não-ser.(TAO 40)

OTao flui dentro e em torno de nós em ciclos de energiaconhecidos como chi, dando vida às "dez mil coisas", wanwu, o símbolo chinês correspondente a toda a criação.

As pessoas Tao trabalham com esses ciclos. As pessoas não-Taotrabalham contra eles. Impelidos pela ignorância, pelo ego ou peloapetite desenfreado, perturbam o equilíbrio da natureza.

Como aprendemos nos capítulos anteriores, a energia chi cir-cula em ciclos contínuos através de nossos corpos. Na meditaçãotaoísta, focalizamos nossa respiração em ciclos de yin e yang, ajudan-do o chia circular e a nos renovar. Os antigos taoístas ensinavam quea própria terra respira, em padrões alternados de yin e yang. Amaneira como as plantas e os animais trocam oxigênio e dióxido decarbono em nossa atmosfera corresponde a esse ensinamento taoísta.

A pintura chinesa retrata o movimento do chi através de toda anatureza. Os taoístas acreditam que a energia yang do céu encontra-se com a energia yin da terra em pontos conhecidos como "as veiasdo dragão". Há séculos os artistas chineses retratam essas energias.Com grandes curvas majestosas, torrentes de chi fluem através dapaisagem, ligando nuvens e montanhas, terra e céu.1

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Page 83: O Tao Da Paz - Diane Dreher

CICLOS DE ENERGIA

O Tao ensina uma visão da vida como processo, movendo-seconstantemente, mudando e crescendo, enquanto as energias chicirculam através de toda a existência:

"Algo infinito,Mais antigo do que o céu e a terra,Silencioso, solitário e vasto;Eterno, imutável,Porém em perpétua evolução,Através de todas as dez mil coisas.Sem saber seu nome, chamo-o de Tao.Sendo um mistério além das palavras,Chamo-o de grande."

(TAO 25)

As energias evolutivas do Tao foram comparadas com a teoriaquântica na física. Os modelos de energia subatômica — os equivalen-tes científicos do chi — são as forças criativas sob toda a existência.Essa energia não é exatamente uma partícula, uma forma sólida eprevisível da matéria. Não é exatamente uma onda, uma ação ou umprocesso, mas uma combinação dos dois. Como o Tao, a energiaessencial da existência é, ao mesmo tempo, princípio e processo,movendo-se em ciclos conhecidos como ondas de probabilidade.2

Essa visão dinâmica da existência é intrínseca à cultura chinesae a outras igualmente antigas. Em chinês e galês, o antigo idioma dosceltas, as palavras são simultaneamente verbos e substantivos: exis-tência e processo combinados num conceito. Tais idiomas transmitemum senso de que "objetos são também acontecimentos",3 de que avida é formada por modelos dinâmicos.

O RITMO CÍCLICO DA NATUREZA

Os modelos cíclicos acontecem em toda a natureza, do universoinfinitesimal do átomo até o universo infinitamente mais amplo acimade nossas cabeças. Em nosso sistema solar, os planetas traçam noespaço ciclos em expansão. Na imensidade cósmica do tempo, asestrelas atravessam seus próprios ciclos de vida. Nascem, crescem embrilho e, depois, lentamente, morrem, após trazerem luz para nossouniverso durante milênios.

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Nada no universo fica imóvel. O Tao explica:

"Através de toda a naturezaAs dez mil coisas se movimentam,Mas cada uma volta a sua fonte."

(TAO 16)

Experimentamos esses modelos cíclicos aproximando-nos danatureza, observando um pomar florescer durante a primavera, darfrutos no verão. No outono, vemos as folhas das árvores caírem no chão.Desintegrando-se lentamente para se transformar em húmus, elas enri-quecem o solo, trazendo nova energia para a árvore na primavera.

Até o clima frio do inverno faz parte desse modelo. O "fatorfrio", prolongado período de temperaturas abaixo dos 7°C, é es-sencial para que essas árvores floresçam e dêem frutos. As árvoresfrutíferas precisam passar tempo suficiente num estado de letargia(yin) para brotar com nova vida (yang). Reconciliando os opostosnuma harmonia infindável, as estações mudam e o ciclo começaoutra vez.

O calendário chinês retrata as alternâncias cíclicas de yin eyang, inverno e primavera, morte e renascimento. No solstício deinverno, o apogeu do yin, o ativo yang fica em repouso. O mundo éfrio e escuro. Os animais hibernam, as árvores estão nuas, os camposficam soterrados por cobertores de neve. Porém, com esse eclipse doyang, vem seu inevitável renascimento. A seiva se eleva, aparecempequenos brotos. Yang aos poucos acorda para a primavera. Nosolstício de verão, yang começa outro declínio, enquanto as estaçõesse movem para uma nova fase de yin. Com essas alternâncias, flui oritmo da natureza, combinando polaridades, criando vida, com adinâmica dos contrários.

OS CICLOS E NÓS

Como as estações, passamos por ciclos. O Tao nos ensina a ficarquietos e a observar os modelos em evolução:

"A pessoa sábia segue a terra;A terra segue o céu;O céu segue o Tao;E o Tao segue sua própria natureza."

(TAO 25)

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Observando os ciclos da natureza, conhecemos a nós mesmos;observando nossos ciclos, conhecemos a natureza. Seguindo osciclos, estamos em união com o Tao.

Os ciclos naturais do sol e da lua figuraram* com destaque nasmais antigas religiões do mundo. Durante séculos, os chineses hon-raram os ciclos lunares com comemorações de ano novo e da lua,com bolinhos especiais ("Moon cakes", bolos da lua) e fogos deartifício. Os antigos egípcios comemoravam os ciclos das estações eseus reflexos no Nilo com o mito de Ísis e Osíris. Na Europa, os druidasobservavam solstícios e equinócios, registrando os modelos mutáveisda luz no céu. Com velas e fogueiras, iluminavam a escuridão doinverno e comemoravam a volta da vida, na primavera.

Podemos ganhar uma consciência maior de nossos cicloscotidianos ao reconhecer os modelos de yin e yang. Os psicólogosdizem que todos nós temos períodos de apogeu durante o dia,quando nossa energia flui com mais força. Esse é nosso período devigor, yang. Durante nosso período de retardamento, passamos poruma diminuição de energia. O ciclo muda para yin. Sentimo-noscansados e recuados. As coisas se tornam mais lentas.

EXERCÍCIO PESSOAL

• Reserve alguns momentos, agora, para identificar seu próprio ciclodiário. Quando é seu apogeu? Você é uma pessoa matinal, vesper-tina ou noturna?

• A que horas do dia suas energias diminuem?• Você pode cartografar seu ciclo diário? Onde estão o yin e o yang

para você?

Ter consciência de nossos ciclos diários pode nos ajudar a vivermais criativamente. Meu amigo Bill, físico pesquisador, planeja seudia em torno de seu ciclo de energia. Ele faz pesquisas de manhã,durante seu período de apogeu, e reserva o trabalho de rotina, comoabrir a correspondência, para seu período mais lento, às 15 horas.

Mais sutil, porém igualmente poderoso, é o ciclo lunar. As luascrescente e minguante influenciam as marés, o ciclo menstrual dasmulheres, as emoções humanas e as energias físicas. Há séculos, alua cheia é equiparada com inquietação, impulsividade, dandoorigem à palavra "lunático" (do latim "luna", ou lua). Os policiaissabem que os crimes passionais acontecem com mais freqüênciadurante a lua cheia do que qualquer outro período.

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Há séculos, os lavradores plantam sementes segundo os ciclosda lua, registrando suas mudanças em almanaques. Alguns cul-tivadores orgânicos que conheço recomendam que se plantem se-mentes de verdura dois dias antes da lua nova e sementes de floresdois dias antes da lua cheia, período que também é o melhor paraos enxertos.

EXERCÍCIO PESSOAL

Até que ponto você tem consciência dos ciclos naturais emtorno de si? Leia este questionário, faça sua própria marcação depontos e verifique.

• Quando é o próximo solstício? E o equinócio?• Em que fase está a lua agora?• Por que mudanças passam as plantas de sua área, durante as

diferentes estações do ano?• Alguns tipos de pássaros em sua área migram? Caso afirmativo,

quando?• Alguns animais de sua área hibernam? Caso afirmativo, quais, e por

quanto tempo?• De onde vem sua água?• Para onde vai sua água, quando sai de sua casa?• Para onde vai seu lixo?

Quantas respostas você sabe? O que isso lhe diz a respeito deseu conhecimento dos ciclos naturais?

TRABALHO CÍCLICO

Durante séculos, monges taoístas e budistas encararam o traba-lho cíclico — jardinagem, cozinha, limpeza da casa — como exer-cício espiritual. Em nosso cotidiano, também podemos participar dosciclos de renovação fazendo alguma coisa cíclica. Podemos:

• Plantar num jardim — ou em algum trecho do telhado, ou numpátio, se não tivermos um quintal.

• Plantar uma árvore e cuidar dela.• Reciclar nossas latas, garrafas, jornais — devolvendo-os à fonte,

para que sejam renovados repetidas vezes.

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• Fazer um montão, ou caixa, de adubo composto — reciclandorestos de cozinha, para que se transformem em nutrientes naturaispara o solo.

Cada uma dessas práticas afirma nossa participação nummodelo muito mais amplo do que nós mesmos. Cada uma beneficiafisicamente o planeta, enquanto renova nossa visão do processo davida.

Uma prática budista é plantar uma árvore a intervalos de algunsanos e tratar delas cuidadosamente. Isto combina renovação pessoalcom verdadeiro pragmatismo porque, como aprendemos no capítuloanterior, as árvores são de importância vital para preservar a ecologiado planeta. Sem árvores, o mundo, como o conhecemos, deixaria deexistir.7

No ano passado, meus amigos Eric e Brendan me deram deaniversário um bordo japonês. Naquela noite, quando cheguei emcasa para jantar, fiquei surpresa ao descobrir uma árvore pequena egraciosa num vaso na varanda de frente de minha casa, com as folhasverdes bailando sob a suave chuva da primavera.

Agora, já conheço a árvore há quase um ano, transplantei-a,podei-a, molhei-a, e alimentei-a. Vi suas folhas caírem e censureia mim mesma por tê-la negligenciado durante um período de calor,no verão passado. No último outono, vi que suas folhas se tor-naram vermelhas e fiquei preocupada quando ela permaneceu emletargia durante todo o inverno. Será que a molhara o suficiente?Ainda estaria viva? Nesta primavera, durante um período deracionamento de água, passei a molhar a árvore com um balde deágua de chuveiro, mais consciente da necessidade de conservar epartilhar.

Agora estamos em março e a arvorezinha brotou, numaprofusão de delicadas folhas verdes e algumas minúsculas floresvermelhas, enchendo-me de alegria e de uma percepção mais profun-da dos ciclos que modelam nossas vidas.

O CICLO DA ÁGUA

O Tao nos diz:

"As melhores pessoas são como a água.Beneficiam todas as coisasE não competem com elas.

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Estabelecem-se em lugares baixos,Em união com a natureza, em união com o Tao."

(TAO 8)

Na arte e na filosofia chinesas, a água é símbolo do Tao. É fluida,nutriente, atende a todos, mas possui grande força, é capaz de cortaras pedras mais duras.

A água, como o Tao, "movimenta-se retornando/Em ciclosinfindáveis". (Tao 40) A água que existia há um milhão de anos aindaestá aqui hoje, sem aumentar nem diminuir. Sempre temos a mesmaquantidade de água na terra.

A água se movimenta num infindável ciclo hidrológico,começando com a evaporação do mar, que compreende 97% dofornecimento mundial. O calor do sol transforma essa água em vapor,que se eleva para a atmosfera, formando nuvens, as quais, por suavez, voltam à terra sob forma de chuva ou neve, mais uma vezengrossando nossos abastecimentos de água fresca.

A precipitação é absorvida pelo solo ou corre para lagos e rios,que a levam de volta para o oceano, onde todo o ciclo recomeça. Asplantas, animais e seres humanos interceptam a água em seu ciclo,usam-na, excretam-na, depois passam-na adiante, muitas vezespoluindo-a nesse processo.

À medida que os anos se passam, interferimos cada vez mais nociclo natural, desviando água de seus canais originais, tirando grandesquantidades do solo e contaminando-a com esgotos e produtosquímicos.

Nosso abastecimento de água fresca — apenas 3% da água daterra — vem de rios e lagos, ou da água do solo, que é naturalmentepurificada ao se filtrar através de muitas camadas de sedimento atéchegar aos lagos subterrâneos das profundezas, conhecidos comoaquifers. Cavamos poços para tirar essa água potável pura. Mas, commuita freqüência, abusamos de nosso fornecimento de água violandoos princípios do Tao. Ignorando o ciclo, usando água como produto,não como processo, poluindo-a e desperdiçando-a.

QUANDO IGNORAMOS O CICLO

A maioria dos países ocidentais tem usado seu abastecimentolimitado de água fresca com pouca compreensão ou respeito pelociclo natural. Sempre que aumenta a poluição de uma cidade, osdepartamentos de água cavam mais poços, esvaziando os aquifers

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locais, ou constroem imponentes aquedutos, importando água delagos ou rios, distantes, causando prejuízos incalculáveis aos habitaisnaturais.

Os aquifers no mundo inteiro estão sendo esgotados por exces-so de consumo. O Aquifer Ogllala, no meio-oeste americano, temmilhares de anos, vem dos tempos do pleistoceno. Se continuaremos atuais índices de consumo, estará seco dentro de quarenta anos, elevará milhares de anos para se encher outra vez.8 O esvaziamentodo aquifer alterará radicalmente a vida em toda a extensão doKansas, Nebraska, Iowa e outros estados do meio-oeste, causandonão apenas graves secas, mas um aluimento maciço.

O aluimento, ou seja, o afundamento da terra depois daremoção da água do solo, já está disseminado na Califórnia. A cidadede Alviso, perto da extremidade sul da Baía de San Francisco, afundoutrês metros, colocando toda a área abaixo do nível do mar, e sujeitan-do-a a repetidas enchentes. O vale central da Califórnia afundou aindamais dramaticamente — até cerca de 30 metros, em algumas áreas.

Quando a água do solo e da superfície é insuficiente, muitascidades importam água através de grandes aquedutos. Os projetospara fornecimento da água urbana modificaram a paisagem natural,inundando a terra com reservatórios artificiais, secando rios e lagos.

Lago Mono, um lago salgado com um milhão de anos de idade,no nordeste da Califórnia, está sendo esvaziado para fornecer água aLos Angeles. Estendendo-se por mais de 158 quilômetros quadrados,o lago é um refúgio de pássaros, cheio de camarões. Todo ano, 50.000gaivotas da Califórnia, 85% da população do estado, criam seusfillhotes em suas ilhas vulcânicas. Mais de um milhão de outrospássaros param ali durante suas migrações anuais.

A medida que o nível da água cai e a salinidade aumenta, o LagoMono vai, aos poucos morrendo. Os rios que o enchem foram desviados600 quilômetros para o sul, através do Aqueduto de Los Angeles, e embreve o lago estará demasiado salgado para conservar a vida.

Em 1978 e 1989, a água, baixando, expôs uma estreita faixa de terraligando as linhas à terra firme. Coiotes e outros predadores atacaram emataram os pássaros e filhotes em seus ninhos. O nível da água continuaa cair, deixando uma faixa de poeira branca em torno do lago, agoracom um quilômetro e meio de largura. Quando agitada pelos fortesventos da área, essa camada alcalina mata a vegetação local, e poderátornar-se um risco para a saúde dos moradores das proximidades.

Os cidadãos locais desenvolveram um movimento espontâneopara salvar o Lago Mono, apoiados por outros indivíduos interessados

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em todo o estado e em toda a nação. Enfrentando os poderososinteresses de uma imensa empresa de serviços públicos, eles estãoperguntando por que o lago e sua vida selvagem deverão sersacrificados em nome de um maior desenvolvimento e para encheras piscinas de seus vizinhos esbanjadores do sul.

A história do Lago Mono e o problema do alimento ilustramdramaticamente o princípio taoísta da unidade. Como aprendemosno último capítulo, o Tao ensina que:

"A natureza é um sistema vivo, tão sagradoQue, quem o usar de forma profana,Certamente o perderá;E perder a naturezaÉ perder a nós mesmos."

(TAO 29)

POLUIÇÃO

A natureza é uma teia interligada, um complexo sistema in-tegrado. Quando mexemos numa parte, causamos inevitáveisrepercussões. Todo ano, os países desenvolvidos enchem rios e lagoscom produtos químicos da indústria, derivados do petróleo, solven-tes, sal da estrada, lixo, detergentes domésticos, pesticidas e detritosorgânicos. Alguns quilômetros adiante, no rio, a água é bombeada,tratada com cloro e outros produtos químicos, e depois mandada devolta, através dos canos, como água potável.

Por uma espécie de carma aquático, o que enviamos nos édevolvido, ameaçando nossa saúde. Fertilizantes químicos contendonitratos (transformados pelo corpo humano em nitrossaminas, quecausam câncer de estômago) muitas vezes filtram-se em nossa águade beber. Hormônios e anticoncepcionais excretados na urina jáforam parar nos rios urbanos e podem resultar num decréscimo dafertilidade da população. Os produtos químicos industriais con-taminam a água do solo em muitas áreas, com chumbo, mercúrio,cádmio, arsênio, dioxina e outros venenos, colocando a vida em risco,por repetidas vezes.

Esse aumento da população da água está ameaçando nossasaúde e destruindo outras formas de vida. Nos últimos anos, peixese mamíferos marinhos têm morrido de doenças misteriosas, com seussistemas de imunidade enfraquecidos pelas águas poluídas.

Até nossas mal-orientadas tentativas de permanecer limpos

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podem prejudicar o meio ambiente. Os fosfatos contidos na maioriados detergentes correm para as vias aquáticas, encorajando o maciçocrescimento de algas, que tornam a água verde e limosa e esgotamseu oxigênio, de forma que os peixes morrem sufocados.

EXERCÍCIO PESSOAL: PARA REDUZIR A POLUIÇÃO DA ÁGUA

Como participantes conscientes do ciclo da água, podemosajudar a reduzir a poluição tomando medidas positivas nas seguintesáreas:

• Evite ou reduza seus fosfatos. Use sabão ou detergentes biode-gradáveis, que não contenham fosfatos. Estão à venda em algumaslojas especializadas em comida natural e são usados há anos naSuíça. Até encontrar alternativas, pelo menos reduza a quantidade.Meia xícara de sabão em pó ainda basta para lavar suas roupas.

• Não use em excesso substâncias para branquear e tirar manchas.Algumas lojas de alimentos naturais e catálogos para encomendaspelo correio vendem produtos de limpeza biodegradáveis. Procurepor eles e, até encontrá-los, use menos do tipo comercial.

• Não use produto para purificar a água no banheiro. Eles simples-mente poluem a água com substâncias químicas e perfumes ar-tificiais.

• Não use produtos químicos no jardim. Os fertilizantes artificiais,como os fosfatos, causam o crescimento desenfreado das algas ecolocam nitratos na água. Os pesticidas entram na cadeia da água,prejudicando muitas outras formas de vida. Faça jardinagemorgânica, fertilizando a terra com adubos compostos e usandocontroles naturais para as pragas. Você aprenderá como fazer issolendo o próximo capítulo.

• Não atire óleos, tintas e produtos químicos pelo escoadouro. Óleode motor, ácido de bateria, cera para polimento de automóveis,terebentina, tinta — tudo isto precisa ser jogado fora comsegurança. Algumas cidades têm um depósito de lixo especial pararestos deste tipo. Telefone para a companhia de lixo local e peçaconselhos.

• Troque idéias com outras pessoas. A água que usamos pertence atodos nós, a nossos descendentes e às muitas formas de vida nesteplaneta. Quanto mais pessoas a usarem com sabedoria, maissaudável será nosso futuro coletivo.

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Todo dia, a maioria das pessoas não-Tao abusam do ciclo daágua, desperdiçando-a. Na natureza, nada é desperdiçado. Tudo éusado, reciclado, devolvido à fonte. Os povos nativos que vivempróximos da terra sempre respeitaram seus ciclos, cooperando coma natureza. Quando deixam para trás suas raízes, os povos in-dustrializados substituem a cooperação pela conquista.

Na América do Norte, os índios das planícies faziam uma oraçãoantes de matar um búfalo e, depois, usavam todas as partes do animal:a carne para a alimentação, o couro para roupas e abrigos, os ossospara instrumentos e objetos decorativos. Quando a rodovia transcon-tinental estendeu-se em direção ao Oeste, outros americanoscomeçaram a abater os búfalos a tiros, como esporte. Disparandofuzis pelas janelas, mataram centenas de búfalos, enquanto o trempassava velozmente, deixando seus corpos a apodrecer na poeira.Como o búfalo, a nação índia desapareceu na esteira da expansãopara o Oeste, e jamais cuidamos de aprender sua sabedoria.

Na América, essa atitude de conquista e exploração aindadistorce nosso relacionamento com a natureza. Achamos que ela nãoprecisa de cuidados e tiramos-lhe tudo em grande quantidades,desperdiçando recursos com irresponsável descontrole. Em 1975cada pessoa nos Estados Unidos usava 1595 galões de água por dia:para uso pessoal, para cultivo agrícola e para sustentar negócios,usinas elétricas e manufaturas. Se a atual tendência continuar enfren-taremos racionamentos gerais de água nos Estados Unidos, por voltado ano 2000.12

Mas o desperdício ainda continua. Sem levar em conta os ciclosnaturais, os americanos agem como se existisse um ilimitado abas-tecimento de água todas as vezes em que abrem a torneira. E nossatecnologia encoraja esse desperdício. Um quarto de toda a águadoméstica desce diretamente pela privada, poluindo de cinco a setegalões de água pura, a cada descarga. Para sustentar nossa típicadieta de carne e batata, a empresa agrícola usa enormes quantidadesde água a cada ano: 2.500 galões para produzir meio quilo de carne.Meio quilo de arroz precisa de apenas 500, um copo de leite, 100,meio quilo de farinha de trigo, 75, uma espiga de milho, 80, um ovo,apenas 40. Comer menos carne e mais carboidratos complexos nãoapenas reduziria nosso uso de água, mas baixaria nosso colesterol,trazendo maior saúde para nós mesmos e para nosso planeta.

Mudanças nos negócios e na tecnologia reduziriam odesperdício de água e causariam um corte significativo na poluição.Inventores suecos desenvolveram um tipo de privada que aduba,

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devolvendo ao solo os detritos orgânicos sem poluir o abastecimentode água. Os estudiosos John Seymour e Herbert Girardet recomen-dam um sistema de água dual nas casas, com um conjunto de canostrazendo água fresca, destinada ao consumo e à limpeza, e outrospara a descarga da privada, lavagem do carro, irrigação da grama e,ainda, para finalidades industriais. Mas até nossa sociedade realizarmudanças em ampla escala, podemos, cada um de nós, começar aconservar voluntariamente nossa água.

Uma seca recente na área onde moro tornou imperativa aconservação da água. A maioria de meus amigos atendeu aoracionamento de água, mas algumas pessoas ainda ignoram osregulamentos. Para salvar seus gramados bem-tratados, irrigamexcessivamente, deixando centenas de galões de água escorrerempela rua.

Juntamente com muitos vizinhos, no verão passado, Gwilym eeu começamos a conservação voluntária, instalando cabeças dechuveiro que economizam água, colocando garrafas nos tanques daprivada para reduzir o desperdício e checando nossas torneiras paraevitar qualquer vazamento. Este ano, temos uma coleção de baldespela casa toda — um para cada chuveiro, pia, e outro para a pia dacozinha. Apanhamos essa "água cinzenta" e a levamos para fora, afim de molhar nosso jardim. Os gramados — jamais gostamos muitodeles — não molhamos, absolutamente. Planejamos substituí-los porpaisagem comestível, plantas nativas e alecrim, que resiste à seca.

Embora muitas pessoas se queixem das restrições causadas pelafalta de água, talvez elas sejam, na verdade, um grande bem, tornandoas pessoas mais conscientes do meio ambiente e do uso que fazemda água. Talvez passemos todos a considerar a natureza de formamenos despreocupada, percebendo com maior clareza nosso lugarno ciclo mais amplo.

EXERCÍCIO PESSOAL

Mesmo se não houver nenhuma seca em sua área, você podeconservar a água usando-a mais conscientemente. A conservaçãopessoal faz diferença. Você pode começar pelo seguinte:

• Fechando a torneira quando estiver escovando os dentes, barbean-do-se ou lavando a louça.

• Só usando as máquinas de lavar pratos e de lavar roupas quandoestiverem inteiramente cheias.

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• Consertando logo todos os vazamentos.• Colocando um recipiente plástico cheio de cascalho, ou uma sacola

plástica cheia de água, no tanque de sua privada, para reduzir odesperdício. Se todas as privadas da América tivessem isso,poderíamos economizar 60 milhões de galões por dia.

• Instalando cabeças de chuveiro que economizam água.• Não usando a lixeira, que gasta água em grande quantidade. Em

vez disso, transforme em adubo os restos de sua cozinha.• Tomando banhos de chuveiro mais curtos.• Lavando seu carro com um balde, usando a mangueira por pouco

tempo e, em seguida, fechando a água.

Você também pode chamar o departamento de água local edescobrir de onde vem sua água. Fiz isso e eles me enviaram algumasinformações sobre o sistema de água da área onde moro.

O Tao nos encoraja a aprender cada vez mais sobre a natureza,procurando os modelos mais amplos e nos tornando mais conscientesdos ciclos em nossas vidas. Porque, quanto mais entendemos, maissomos capazes de nos harmonizar com eles.

Respeitando nosso ciclo de água, cuidando de uma árvore ouplantando um jardim, sintonizamo-nos pessoalmente com asabedoria do Tao. Familiarizados com o ciclo das estações, apren-demos que a primavera inevitavelmente se segue ao inverno e que,com cada declínio, vem uma renovação correspondente. Estaprincípio do Tao traz sabedoria, paciência e esperança duradouras.

Como a vida inteira é dinâmica, percebemos a futilidade de nosprendermos em excesso a qualquer objeto ou experiência. Sabemosque todo organismo, toda situação, até o pior dos problemas, tem seupróprio ciclo de nascimento, crescimento e declínio. Aprendemos aimportância da regulagem do tempo. Observando os ciclos em tornode nós, descobrimos quando combinar nossas energias com as dosoutros. Será que a estação está madura para a mudança? Estudem oTao e saberão.

Afirmação

Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa.Estou mais consciente dos ciclos dentro e em torno de mim.Observo as modificações no sol, na lua, na água e na terra, e

coopero com elas.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.

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Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais emminha vida.

Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Para uma explicação sobre as veias do dragão, ver: John Blofeld, Taoism:The Road to Immortality (Boulder: Shambhala, 1978), p. 7.

2. Para a melhor explicação sobre física quântica e taoísmo, ver: Capra, TheTao of Physics.

3. Allan Watts, The Way of Zen (Nova York, Pantheon, 1957), p. 54. Explicação do "fator frio" na p. 141 e algumas excelentes idéias sobre

paisagem comestível no livro de Robert Kourik, Designingand Maintain-ing Your Edible Landscape (Santa Rosa: Metamorphic Press, 1986).

5. Algumas idéias deste questionário basearam-se em "Where You At? ABioregional Test", de Jim Dodge, Leonard Charles, Lynn Milliman eVictoria Stockley, publicado originalmente em Coevolution Quarterly nº32, inverno de 1981, p. 1. Usado com permissão de Jim Dodge e doeditor, agora Whole Earth Review.

6. Para obter uma brochura e informações sobre centros locais dereciclagem, escrever para o Environmental Defense Fund, Recycling,257 Park Avenue, Nova York NY 10010.

7. Para uma explicação sobre "Economia Budista" e reverência pelasárvores, ver: Schumacher, Small is Beautiful, pp. 53-62.

8. Pelas informações complementares sobre o ciclo das águas, sou grata ameu amigo James Degnan, escritor especializado em meio ambiente.Informações sobre o Aquifer O gallala, de John Seymour e HerbertGirardet, Blueprint for a Green Planet (Nova York: Prentice Hall, 1987),p. 22. Este livro é uma excelente fonte de referência para se viver emharmonia com o meio ambiente.

9. Informações usadas com permissão da comissão do lago Mono, P.O.Box 29, Lee Vining CA 93541. Também quero agradecer a minha alunaFarah Chichester, cujo relatório oral e tese ainda não publicada, "A Belae a Fera do Lago Mono", Universidade de Santa Clara, março de 1989,ajudou-me a enxergar o problema com maior clareza.

10. Informações sobre a poluição da água, de Seymour e Girardet, Blueprint,pp. 24, 34-36.

11. Muitas dessas recomendações são de Seymour e Girardet, em Blueprintfora Green Planet (Nova York: Prentice Hall, ©1987), p. 33. Usadas compermissão da editora. Para excelentes informações sobre sabões, deter-gentes e outros produtos domésticos não tóxicos, ver: Debra Lynn Dadd,Nontoxic and Natural (Los Angeles: Jeremy Tarcher, 1984).

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12. Miller, Living in the Environment, p. 345.13. Seymour and Girardet, Blueprint, p. 26.14. Miller, Living in the Environment, p. 346.15. Seymour and Girardet, Blueprint, pp. 24-25.16. Muitas dessas recomendações são encontradas na obra de Miller, Living

in the Environment, p. 353. Para maiores informações sobre conservaçãode água e energia, contatar o Rocky Mountain Institute, 1739 SnowmassCreek Road, Snowmass CO 81654.

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CAPÍTULO 14

A FÓRMULA TAOÍSTA PARA

SOLUCIONAR PROBLEMAS

As pessoas sábias procuram soluções;Os ignorantes apenas atribuem culpas.

(TAO 79)

Estudando a natureza, aprendemos os princípios do Tao.Cooperando com esses princípios, podemos solucionarproblemas de forma mais eficiente. O primeiro passo na

fórmula taoísta para solucionar problemas é ver nosso lugar nomodelo mais amplo. Respondendo com humildade e distanciamento,as pessoas Tao não deixam que as exigências do ego estreitem suasperspectivas e as conduzam para a ação tola.

Por toda parte, em torno de nós, vemos pessoas reagindo dentrode um espaço do ego: culpando os outros, tendo acessos de raiva,fazendo exigência ou buscando vingança — tudo, menos solucio-nando o problema. Em março de 1989, um grupo de californianos donorte, irados, processaram o serviço de água de Marin County porimpor um racionamento obrigatório de 35% e restrições a novosempreendimentos. Chamando a si mesmos de "Cidadãos Contra oRacionamento Irracional", acusaram o departamento de água de usaruma cláusula de emergência para impor o racionamento, quando nãohavia nenhuma emergência "verdadeira" — um terremoto ou represarompida — apenas falta de água. Usando detalhes técnicos comoargumentação, resistiram ao problema, mas não o solucionaram.Aconteça o que acontecer no tribunal, isso não vai mudar a crescentefalta de água em alguns pontos do país.

Em nossa sociedade litigiosa, muitas pessoas acreditam que a

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melhor maneira de solucionar um problema é processar alguém.Porém, isto apenas sobrecarrega os tribunais já apinhados e faz odinheiro mudar de mãos, grande parte dele seguindo para o bolsodos advogados — mas o problema original, com freqüência, per-manece sem solução.

As pessoas Tao olham para os modelos mais amplos, enxergan-do além do dualismo artificial que coloca tudo em termos de "nóscontra eles". Dos tribunais ao combate, um número excessivo depessoas neste mundo desperdiça suas energias atribuindo culpas,perpetuando conflitos e fazendo inimigos, em vez de resolverproblemas.

A miopia — vista curta — intelectual é uma maldição daexistência moderna. Não apenas o dualismo nos distrai, comotambém sucumbimos à superespecialização. Concentrando nossoconhecimento numa área, ignoramos o quadro completo.

A maneira taoísta de solucionar problemas implica em pensarholisticamente, trabalhando com os modelos mais amplos en-contrados na natureza. O conhecimento especializado não podesolucionar nossos complexos problemas globais. Especialistasacadêmicos aconselharam presidentes durante anos. Mas, em 1979,muitos líderes acadêmicos disseram ao Washington Post que nãosabiam como solucionar os problemas globais. Na Universidade deNova York, um professor especializado em vida urbana afastou-se deseu cargo porque não tinha "mais nada a dizer".

O Tao nos ensina a examinar os ciclos naturais. Problemassurgem quando procuramos soluções a curto prazo, ignorando essesciclos. Em março de 1989, espalhou-se o pânico entre consumidoresnorte-americanos, quando o Conselho de Defesa dos RecursosNaturais anunciou o perigo carcinogênico do alar, produto químicoborrifado em maçãs vermelhas cultivadas para fins comerciais, demodo a aumentar a duração e melhorar o aspecto das frutas, quandoembaladas. O relatório do conselho deu lugar a protestos de cidadãospreocupados, à proibição das maçãs nos refeitórios escolares e a umaaudiência no Senado em torno da segurança de nossa alimentação.

O pânico do alar acabou e a companhia envolvida parou deproduzi-lo. Mas a lição permaneceu. Até há pouco tempo, osprodutores comerciais estavam tão preocupados em melhorar aaparência da fruta e aumentar sua duração após a colheita queignoraram as implicações mais amplas de suas ações. Este exemploe outros semelhantes demonstram os princípios taoístas da unidadee do crescimento cíclico. Pois os produtos químicos agrícolas tornam-

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se uma parte irrevogável do ciclo alimentar, afetando não apenas oproduto tratado, mas todos os que o comem. Enquanto o ciclocontinua, esses produtos químicos entram em nosso solo e nosabastecimentos de água e podem envenenar também a terra. O Taonos ensina a ser mais cuidadosos em nossas escolhas.

TRABALHO COM OS CICLOS

As pessoas Tao reconhecem as conseqüências de suas ações.Como veremos neste capítulo, a maneira taoísta de solucionarproblemas trabalha com os ciclos, impedindo que os problemascheguem a ocorrer e resolvendo os problemas atuais através dacooperação com a natureza. Pensando cíclica e globalmente, enquan-to agimos no quadro local, podemos trazer maior harmonia paranosso mundo.

SABEDORIA DA PREVENÇÃO

O Tao nos diz:

"Enfrente a dificuldadeEnquanto ainda é fácil.Resolva os grandes problemasEnquanto ainda são pequenos.Evitar os grandes problemasTomando pequenas medidasÉ mais fácil do que solucioná-los.Por isso, a pessoa TaoÉ previdente e vive com sabedoria,Realizando grandes coisasAtravés de pequenas ações."

(TAO 63)

Praticamos a sabedoria da prevenção quando consideramosnossas ações dentro de um quadro mais amplo, tendo em vista osciclos. Comendo mais alimentos integrais, podemos ajudar a prevenira doença, bem como a fome e a poluição no planeta. Como isto épossível? Vamos considerar os ciclos envolvidos.

Para começar com nosso próprio ciclo de vida, uma dieta maissimples de cereais, verduras, frutas frescas e legumes é muito maissaudável do que a pesada carga de carnes, gordura, açúcar e comidas

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processadas consumidas pelos americanos médios. Essa dieta poucosaudável levou a um aumento da obesidade e às "doenças daafluência" — problemas cardíacos e câncer — entre a população emgeral.3 Podemos melhorar nossa saúde reduzindo ou eliminando acarne, obtendo proteínas através da combinação de carboidratoscomplexos, cereais e legumes. Em 1988, The American Journal ofClinicai Nutrition informou que uma dieta vegetariana reduz gran-demente o risco da obesidade, doenças do coração, pressãosangüínea alta, câncer do pulmão, diabetes que começam na idadeadulta, pedras na vesícula e problemas digestivos.

Como toda a vida é inter-relacionada, nossas escolhas diáriasafetam nossos vizinhos no planeta. Se um número maior de pessoasreduzisse o consumo de carne e de produtos animais, haveria comidamais do que suficiente para todos. Foi a conclusão surpreendente aque chegou Frances Moore Lappé, há quase vinte anos, em seu livroDiet for a Small Planet (Dieta para um planeta pequeno). Comer osanimais que consomem toneladas de cereal e proteína de soja reduzimensamente o volume de alimento disponível.

A dieta tradicional americana perpetua os ciclos de escassez.Metade de nossos hectares cultivados é utilizada para alimentarrebanhos: são necessários pelo menos três quilos e meio de ração decereais e soja para produzir meio quilo de carne. Uma dieta pesadade carne também gasta água. A comida de um dia para o americanomédio requer 4.200 galões de água por dia, 80% dos quais vão paraa produção de carne (2.500 galões para cada meio quilo de carne).

Lappé diz que "uma dieta baseada em carne de gado alimentadocom cereais é como dirigir um automóvel que vaza gasolina", umdesperdício de recursos e uma carga intolerável para o meio am-biente.5 A criação de bovinos, suínos, ovinos e similares, tendo porbase a alimentação dos animais com rações comerciais em largaescala, produz toneladas de excrementos que poluem o abastecimen-to de água. Para manter os animais saudáveis em condições desuperlotação, os criadores os enchem de produtos químicos ehormônios, que são então passados para as pessoas que comem acarne.

Sem os aditivos artificiais, as comidas integrais não sobrecarregamnosso organismo. Como produzem menos lixo, também não sobrecar-regam o meio ambiente. Ao contrário de seus equivalentes processados,os alimentos integrais, como laranjas e batatas, não precisam de em-balagens sofisticadas. Cereais e legumes podem ser vendidos em gran-des quantidades, sem embalagens que representem desperdício.

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O processamento comercial cria montanhas de detritos a cadaano, em termos de embalagens descartáveis, grande parte das quaisnão é sequer biodegradável. Com o aumento do processamento, ovalor nutritivo da comida diminui. Transportar alimentos das fazen-das para as indústrias de processamento, e daí para as lojas, é tarefaque resulta na poluição do ar e exige o consumo de imensas quan-tidades de petróleo. Comidas demasiado processadas são poucosaudáveis para nossos corpos e para nosso meio ambiente.

EXERCÍCIO PESSOAL: COMO FAZER

ESCOLHAS MAIS ACERTADAS

Podemos fazer escolhas mais acertadas cooperando com osciclos naturais para evitar a doença, a fome e a poluição. Aqui estãoalgumas diretrizes úteis para comprar comida:

• Diminua ou corte o uso da carne. Coma mais cereais integrais elegumes, comprando em grandes quantidades, quando possível.Livros como Diet for a Small Planet, Laurel's Kitchen e ThePritikinDiet oferecem conselhos úteis e receitas.

• Compre produtos frescos. É muitos mais nutritivo do que compraras versões processadas, que contêm sal, açúcar e aditivos químicos.

• Evite as frutas superembaladas e as verduras desnecessariamenteembrulhadas com camadas de plástico. Alguns estudos revelamque os plásticos soltam resíduos pouco saudáveis. Talvez nãosejam saudáveis para nós e, sem dúvida, poluem o planeta

• Compre frutas e verduras locais, sempre que possível. Elimine odesperdício e a poluição envolvidos no transporte de alimentos deoutras áreas. Descubra que alimentos são produzidos em sua áreae compre-os em sua estação própria, vivendo em harmonia com osciclos naturais.

• Compre produtos orgânicos, quando for possível, reduzindo apoluição planetária e ambiental resultante do emprego de fer-tilizantes químicos e pesticidas. Se sua loja não tem produtosorgânicos, peça-os. Quanto maior a demanda de frutas e verdurasorgânicas, maior o fornecimento, e teremos todos uma vida maissaudável.

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CULTIVO PRÓPRIO

Outra maneira de reduzir a poluição é cultivar seus própriosprodutos. Um jardim nos dá alimentos frescos, que amadureceramnaturalmente, enquanto nos leva de volta ao contato com o solo ecom os ciclos naturais.

Com o uso, apenas, de adubo composto e fertilizantes naturais,a jardinagem orgânica não polui nem exaure o solo, e sim, naverdade, melhora-o. As plantas que crescem organicamente são maissaudáveis e menos suscetíveis a pragas e doenças. Os agricultoresorgânicos acreditam firmemente na prevenção: plantações as-sociadas, rotação de colheitas e inibidores naturais, como alho ecebolas, para repelir pulgões. Quando os problemas acabam acon-tecendo, recorrem a pesticidas naturais, como água com sabão,matando as pragas sem envenenar o jardim. O livro de John Jeavons,How to Grow More Vegetables (Como cultivar mais verduras), é umguia excelente para o cultivo orgânico.7

Embora você talvez não possa "viver da terra" numa cidade ounum subúrbio, ficará surpreso de ver quanto pode cultivar numpequeno espaço. Os chineses cultivaram manual e organicamentedurante séculos, usando apenas fertilizantes produzidos na fazenda.Conseguiram alimentar até duas vezes mais pessoas, por hectare, doque se obtém com os métodos modernos. John Jeavons diz que ocultivo intensivo biodinâmico, com pequenos canteiros elevados,produz pelo menos quatro vezes mais verduras por hectare do que aagricultura química mecanizada. Além disso, esta forma de cultivo émais respeitosa para com o meio ambiente, não acarreta poluição eusa apenas metade da água e 1% da energia consumida com o cultivocomercial.

Algumas pessoas passaram a se dedicar com paixão ao cultivoorgânico. Richard Stevens, professor da Universidade do Colorado, emDenver, cultiva todas as verduras que consome em seu próprio quintal,que tem cerca de 2.000 metros quadrados. A cada outono, ele e suafamília enlatam, cada um, vinte quilos de ervilha, feijão, abóbora e milho,guardando no porão cenoura, cebola e outras colheitas de raízes. O quenão guardam para o inverno, vendem numa feira, nas proximidades.

Enquanto a maioria de seus colegas está fazendo pesquisasacadêmicas na biblioteca, Stevens usa seu jardim como laboratóriopara ver quantos alimentos as pessoas podem cultivar em seusquintais. O professor sorri e diz: "A idéia é mostrar às pessoas dacidade que elas podem cultivar comestíveis, em vez de maconha".

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O jardim fornece mais do que comida. Quando sai da sala deaula e entra em seu laboratório natural, o professor Stevens tem umaforte sensação de paz. "Há uma atmosfera criada pelas plantas e pelosolo", admite. "Quando caminho por ali, minhas preocupaçõesdesaparecem."9

Depois de passar o dia de ontem escavando meu própriojardinzinho para o plantio da primavera, entendi o que ele quer dizer.Meus músculos estavam doendo pela manhã, mas acordei cheio deexpectativa. Corri para a janela e olhei para fora, para o solo recém-lavrado, com as pequenas plantas verdes colocadas em desenhoscuidadosos. Nas próximas semanas, ficarei observando para ver osbrotos, a evidência física do poder da natureza — bem no meuquintal.

Mesmo que você more num apartamento ou condomínio, aindapode cultivar verduras e ervas frescas em recipientes no pátio ou notelhado. Tomate, alface, pimentão e morango crescem bem em vasosou caixas próprias para plantio. Pergunte na sementeira local queplantas crescem melhor em sua área.

Minha prima Norma tem sempre alguma coisa comestível cres-cendo em seu quintal. Num ano, era pepino, no outro, uma variedadede ervas. Há alguns anos, ela e seus colegas iniciaram uma hortacoletiva no próprio local de trabalho, passando a cultivar verduras noterreno atrás do prédio do escritório. Com um pouco de habilidade,você também pode descobrir o espaço adequado onde seu jardimpoderá ser cultivado.

O cultivo orgânico leva-nos de volta aos ciclos da natureza.Aprendemos a trabalhar com as estações, a terra, o ar, a luz do soloe a água — todos os alimentos que sustentam a vida. Cooperandocom a natureza, estamos em união com o Tao, evitando problemasem nossas vidas e em nosso mundo ao harmonizar-nos com os ciclosnaturais.

OS CICLOS AJUDAM A SOLUCIONAR PROBLEMAS

Os taoístas contam com os ciclos naturais não apenas para evitarproblemas, mas para solucioná-los. Um excelente exemplo disto é areciclagem, solução natural para o crescente desperdício e es-gotamento do planeta. O Tao nos diz:

"A pessoa Tao ajuda as outrasPara que ninguém se perca

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Page 94: O Tao Da Paz - Diane Dreher

E usa as coisas com sabedoriaPara que nada se desperdice."

(TAO 27)

O jardineiro chinês "usa as coisas com sabedoria". Em 1970,quando Peter Chan e sua família mudaram-se para seu novo lar emOregon, o quintal estava cheio de barro duro e grandes pedras, osuficiente para fazer qualquer outro homem erguer as mãos para océu, horrorizado. Peter viu o quintal não apenas como problemas,mas também como uma oportunidade. Hoje, seus jardins ganharamprêmios e já apareceram na Sunsel Magazine Better Homes andGardens e na televisão. O solo de barro foi enriquecido com adubocomposto e as outrora incômodas pedras agora formam caminhosbem arrumados entre os canteiros elevados de sua horta.

"Nada é desperdiçado". Tão entranhado é este princípio entreos chineses que eles têm dificuldade em entender o que queremosdizer quando falamos de lixo. Para eles, "os subprodutos de algumacoisa são potencialmente bons materiais para outra coisa." Nafilosofia chinesa, tudo faz parte de um processo em andamento. Reco-nhecer este processo e cooperar com ele é estar em união com o Tao.

Mas o esgotamento e o desperdício são por demais comuns nomundo ocidental. Os países industrializados — um quarto dapopulação mundial — usam 80% dos recursos da terra. Nossanecessidade de carne a baixo preço, madeira-de-lei e papel estádestruindo as florestas pluviais do mundo ao índice alarmante de 38hectares por minuto, agravando o efeito estufa. Para produzir nossodilúvio diário de meios de comunicação impressos—jornais, revistas,catálogos — matamos milhares de árvores. Uma tiragem do SundayNew York Times usa 75.000 árvores.

Também empilhamos montanhas de lixo. Nos países in-dustrializados, cada pessoa joga fora até cerca de 80 quilos por mêsde papel, vidro, metal, plástico e detritos da cozinha. Nos EstadosUnidos, isso corresponde a uma média pessoal de mais de 900 quilospor ano, sendo que os moradores das cidades produzem mais de umatonelada de lixo cada um.

Como nossos locais de depósito não podem conter todo esselixo, firmas especializadas em detritos estão procurando novos ter-renos para servir de locais de depósito, transferindo o problema paraoutros pontos, em vez de resolvê-lo. As barcaças de lixo estão criandomal-estar e mau cheiro no panorama internacional, já que os EstadosUnidos tentam descarregar seu lixo no Terceiro Mundo. Em 1988, a

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Filadélfia embarcou 14.000 toneladas de lixo tóxico, que foi transpor-tado através do Caribe, rejeitado sucessivamente por Guiné-Bissau,Honduras, Bahamas, Bermudas e República Dominicana, sendo acarga afinal atirada, subrepticiamente numa praia do Haiti, queprotestou sem sucesso.

Segundo o princípio taoísta da unidade, todas as ações têmconseqüências e repercussões inevitáveis. A maneira irresponsávelcomo os Estados Unidos se livram de seu lixo não apenas contribuipara a poluição do planeta, como poderá conduzir a novos ciclos dehostilidade nas relações internacionais.

Os Estados Unidos, como outros países industrializados, criamum tremendo desperdício com o excesso de embalagens. Apenasuma geração atrás, as pessoas compravam comida em grandes quan-tidades nas lojas locais, levavam para casa açúcar, chá, arroz, farinhade trigo e outros grãos e farináceos em bolsa de algodão que podiamser novamente utilizadas, e guardavam tudo em latas de cozinha.Minha mãe e minha avó tinham conjuntos de latas, coisa que rara-mente vejo nas cozinhas modernas. Passamos a ser uma sociedadedescartável que cria pilhas maciças de papel, cartolina e plástico todasas vezes que vamos ao supermercado. Pelo menos um décimo daconta média da mercearia é gasto com embalagens.

Algumas embalagens não são sequer biodegradáveis. Essesinvólucros, sacolas e garrafas de plásticos que usamos todos os diassão feitos de produtos petroquímicos não-renováveis e não sequebram naturalmente. A terra já entulhada com lixo plástico quepolui o planeta e causa danos à vida selvagem. Focas e peixes sãoferidos, muitas vezes estrangulados, por redes, envoltórios eengradados de refrigerantes — tudo isso de plástico.

No supermercado perguntam se queremos nossas verdurasembrulhadas em "papel ou plásticos". Eu costumava ficar imaginandoque escolha responsável poderíamos fazer: papel destrói as árvores,enquanto o plástico polui o planeta. Posteriormente, passei a evitaresse dilema levando minhas próprias sacolas de lona, quando vou aosupermercado.

Outro dia, perguntei a uma amiga que trabalhava numa loja deproduto naturais se eles podiam fazer alguma coisa para reduzir odesperdício com embalagens e a poluição. "Usamos tanto plástico",concordou, sacudindo tristemente a cabeça, "e não sei se o plásticoé seguro, em qualquer modalidade, do ponto de vista ambiental, sejabiodegradável ou não". Duas semanas depois, a loja anunciou umanova orientação: descontos para os clientes que devolvessem as suas

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sacolas para serem utilizadas, ou que levassem as suas próprias.Na semana seguinte, uma balconista de uma mercearia local

notou minhas sacolas. "Que grande idéia! Precisamos fabricar maisdesse tipo", disse ela, oferecendo-se para dizer ao gerente da loja quedeveriam oferecer sacolas de lona de baixo custo, com o logotipo daloja, como alternativa ecológica.

Levar sacolas de lona quando vou fazer compras é uma medidade pequena monta, na verdade, mas é uma ação direta que possoempreendei" para ajudar a reduzir o desperdício e a poluição. Edescobri que a maioria das pessoas que conheço se importa ver-dadeiramente com o meio ambiente. Apenas precisam de umaexpressão tangível para esse cuidado.

Se um número suficiente de nós prestar atenção nos ciclos maisamplos, poderemos encontrar novas soluções para nossos problemasglobais. Enquanto isso, podemos ajudar não usando tantas bolsas desupermercados, preferindo produtos em vidros em vez de plásticose pedindo às lojas locais alternativas biodegradáveis.

PARA TRANSFORMAR PROBLEMAS EM RECURSOS

Muitas vezes, aquilo que parece um problema pode ser umrecurso, quando encarado sob outra perspectiva. Alguns anos atrás,um cientista da 3M Corporation aperfeiçoou uma nova cola, que nãoparecia absolutamente promissora. Tinha capacidade adesiva muitolimitada, só se grudando às coisas temporariamente. Porém, hoje,essa cola tornou-se quase indispensável nos escritórios do país in-teiro, porque é usada para fazer os blocos de notas adesivosremovíveis.

A reciclagem transforma nosso crescente problema dedesperdício em recurso, criando novas fontes de materiais de vidro,metal e papel. O vidro pode ser reciclado de duas maneiras. Asgarrafas que devem ser devolvidas têm um curto ciclo de uso,devolução, novo uso. O vidro que não se destina à devolução,reciclado (derretido e transformado em novos recipientes de vidro),é novamente utilizado. As latas podem ser usadas, recicladas (der-retidas e transformadas em novas latas), e novamente utilizadas, e opapel pode ser usado, reciclado (desentintado, imerso numa soluçãoquímica e transformado em novo papel) e também, mais uma vez,posto em uso.

Durante anos, separei todas as minhas garrafas, latas e jornaise levei-as para o centro local de reciclagem na mala de meu carro. No

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ano passado, minha cidade iniciou a reciclagem no meio-fio, colocan-do três caixas de plásticos muito coloridas e uma série de instruçõesem cada casa da área. Que possibilidades de reciclagem existem emsua comunidade? Chame sua companhia de lixo local e descubra.

ADUBO COMPOSTO

Para quem tem jardim, o lixo de cozinha pode ser transformadoem adubo natural, devolvido ao sol e usado para cultivar novosprodutos alimentícios ou plantas. A grama aparada, as folhas caídase outros detritos de jardim também podem entrar no montão deadubo. Depois de alguns meses, os materiais decompõem-se numfértil húmus escuro, perfeito para os enxertos e para adicionarnutrientes ao solo.

Chocada com as barcaças de lixo que os Estados Unidos es-tavam enviando para o Caribe no ano passado, decidi assumir maiorresponsabilidade pelo lixo de minha casa. Como já praticávamos areciclagem individual, o que restava de lixo fácil de reciclar eram assobras da cozinha e do quintal, que abrangem de 20 a 30% de nossolixo. Então, investi numa caixa para adubo composto que, segundoos fabricantes, rapidamente decomporia os detritos da cozinha e dojardim, permanecendo, enquanto isso, livre de cheiro. Com algumreceio, fui de carro até Palo Alto para pegá-la, imaginando se eu nãoestaria louca de pagar 100 dólares por uma caixa de adubo. Masdescobri que, realmente, ela evitava o mau cheiro e era eficaz. Depoisde alguns meses, a grama aparada e os restos de cozinha transfor-mam-se em húmus escuro e farelento com aspecto (e cheiro) de soloem vaso. Meu jardim está mais viçoso do que nunca, dando-se muitobem com sua dieta de nutrientes naturais que, se não tivessem essedestino, iriam acabar no depósito de lixo municipal.

Claro, você não precisa comprar um recipiente para adubocomposto. Muitas pessoas os constroem elas mesmas, de madeira outela de arame para galinheiros. Outras pessoas preferem os anti-quados montões de adubo composto. Let It Rot (Deixe apodrecer),de Stu Campbell, é um guia útil para fazer o próprio adubo.

O PRINCIPIO DO RETORNO

Muitas comunidades têm seus próprios projetos em torno daadubagem natural, reunindo detritos de cozinha e quintal em

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recipientes especiais e transformando tudo em fertilizante orgânico.Os Estados de Nova York e Nova Jersey iniciaram recentementeprogramas de transformação de folhas em adubo e também em palha.A adubagem composta tornou-se um projeto em larga escala emmuitos países europeus. A França tem cem fábricas de adubo com-posto, enquanto a Suécia transforma em adubo composto, anual-mente um quarto de seu lixo sólido.17

Seja em pequena ou grande escala, o adubo composto cooperacom os ciclos naturais. Stu Campbell considera que este é um dosmeios de devolvermos algo à terra, depois de termos tirado tudo deladurante tanto tempo. O Tao "movimenta-se através do retorno, emciclos infindáveis" (Tao 40). Com a preparação do adubo compostoe a reciclagem, participamos desses ciclos, tornando-nos mais cons-cientemente unidos ao Tao.

CICLOS E SOLUÇÕES

O Tao ensina que tudo parte de um processo mais amplo. Ossubprodutos de uma coisa são valiosos componentes de outra. Afórmula taoísta para solucionar problemas nos torna mais cons-cientes do processo, envolvendo-nos mais ativamente nassoluções. Prestando atenção aos ciclos, descobrimos novas pos-sibilidades criativas.

Um grande problema com que se defrontam lavradores, emtodo o planeta, é a exaustão do solo. Todo ano, eles adicionam maisfertilizantes químicos, que lentamente se filtram no abastecimento deágua e vão para o mar, deixando o solo esgotado. Como explicaramos estudiosos John Seymour e Herbert Girardet, "o metabolismo denossa espécie é, no momento, linear", quando "deveria ser cíclico".Mineramos fosfatos no norte da África para adubar uma colheita.Quando o alimento é consumido, os refugos são carregados para omar e perdidos. Antes dos sistemas modernos de esgoto, o lixoorgânico era transformado em adubo composto e depois devolvidoao solo, para renovar o ciclo agrícola.

Pensando ciclicamente, engenheiros suecos vêm separando aágua do esgoto de outras águas sujas. Enviam a água cinzenta parausinas de purificação e transformam em adubo composto a água deesgoto, tratam-na e devolvem-na à terra. Isto vem sendo feito desde1959. Na China, cada cidadezinha tem sua própria instalação paratratamento da água de esgoto, que produz fertilizantes e também gásmetano, usado para iluminar e aquecer a cidade.20

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O povo sueco, como o chinês, sempre viveu próximo danatureza. Aos domingos famílias inteiras caminham juntas pelosbosques, apontando ervas e flores nativas. Talvez por isso os suecossejam tão bons no pensamento cíclico, tentando igualar os ciclosnaturais. Um de meus exemplos favoritos disso é o sistemapneumático de canalização, usado nas cidades suecas desde 1969para aproveitar o lixo doméstico. Tubos pneumáticos, instalados emcada unidade de um prédio de apartamentos, carregam o lixo até oporão, onde ele é separado em vidro e metal reciclável, sendo o lixoremanescente queimado num incinerador. O calor da incineraçãoeleva-se, através de outro conjunto de canos, para aquecer o prédio.Assim, cada apartamento é um pequeno sistema fechado, com seupróprio fornecimento de calor gerado pelo lixo doméstico. Em vezde problema, o lixo na Suécia tornou-se uma solução: parte de umciclo em andamento e fonte de energia radiante.

PENSAMENTO GLOBAL, AÇÃO LOCAL

Como os habilidosos suecos, podemos trabalhar em buscade soluções locais para os problemas intimamente relacionados deaumento de lixo e decréscimo de recursos naturais. Pensandoglobalmente, vemos como nossas ações se ajustam ao quadroplanetário. Agindo localmente, ajudamos a restabelecera ordem eo equilíbrio no planeta. Aqui estão algumas coisas que você podefazer:

• Separar e reciclar seu lixo. Peça à companhia de lixo da área ondevocê mora para iniciar um sistema de reciclagem no meio-fio, seainda não fizeram isso.

• Inicie uma pilha, ou recipiente com adubo composto, para reciclaro lixo da cozinha e do jardim, se você não tem um quintal. Ou entãopeça à limpeza pública para começar um projeto local de adubocomposto.

• Evite os produtos superembalados e peça às firmas para usaremmenos embalagem, especialmente os restaurantes de fast food, queempregam toneladas de papel, cartolina e plástico.

• Evite as embalagens plásticas. Escolha produtos em recipientes devidro ou metal, sempre que possível.

• Peça às lojas para usarem embalagens biodegradáveis.• Reduza o lixo e desperte consciências levando suas próprias

sacolas de compras.

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• Use garrafas que podem ser devolvidas sempre que possível — edevolva-as.

• Descubra que firmas são grandes poluidoras e peça que mudemseu sistema de trabalho, boicotando-as sempre que possível.

• Escreva a líderes políticos, manifestando seus pontos de vista erecomendando uma maneira mais responsável de lidar com o lixo.

• Ingresse num grupo de ação ecológica local.• Quando tiver estabelecido ciclos mais positivos em casa, parta para

o local de trabalho. O empregado mediano de escritório joga foramais de um quilo e meio de papel por dia, o que representa cercade 450 quilos por ano. Reciclar o papel do escritório e usar papelreciclado ajuda a salvar árvores, energia e água, reduzindo, aomesmo tempo, o volume de lixo e a poluição química, especial-mente de dióxido sulfúrico, que produz chuva ácida.

Na maneira taoísta de solucionar problemas, o recurso maisimportante é sua consciência, sua percepção dos ciclos naturais.Participando ativamente desses ciclos, você terá novas idéias, farádescobertas próprias. Com essa percepção, vem a responsabilidadede tomar medidas e partilhar suas preocupações com outras pessoas.Encoraje as pessoas em torno de você a apresentarem soluções maissaudáveis para problemas coletivos.

Nossa consciência faz realmente diferença. Durante o ano de1989, Berkeley e Santa Cruz, na Califórnia, proibiram as embalagensplásticas, exigindo que as firmas e escritórios governamentais locaisusassem alternativas biodegradáveis. Em West Milford, em NovaJersey, um grupo de estudantes da escola secundária convenceu suaescola a oferecer bandejas de almoço de papelão, como alternativapara as bandejas de plástico descartáveis. Proclamando "ponha seudinheiro onde está a sua boca", os estudantes escolheram as bandejasde papelão, embora custem cinco centavos a mais. Na primavera de1989, esses adolescentes disseram, num encontro sobre o meio am-biente promovido pelas Nações Unidas, em Nova York, o que es-tavam fazendo para alcançar um mundo mais saudável.

A preocupação do público com os pesticidas perigosos levouos produtores de alface em Salinas, na Califórnia, a usar uma formamais segura de controle das pragas. Com uma nova invenção,chamada aspirador-de-salada, eles literalmente aspiram os piolhos daalface. Mais econômica do que os pesticidas, essa invenção, atual-mente, poupa o dinheiro da firma. Tempos depois, encontrei alfaceque havia sido submetida àquele processo nos supermercados locais.

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Muitas vezes, é mais barata do que a variedade borrifada comagrotóxicos e, sem dúvida, mais saudável, tanto para as pessoas comopara o planeta.

Essas são apenas algumas poucas mudanças positivas quedecorrem de nossa crescente preocupação com a saúde pessoal e doplaneta. O que está acontecendo em sua área? O que você pode fazerpara apoiar mudanças positivas perto de sua casa?

Nossa vida diária, nossas escolhas diárias, podem fazer umatremenda diferença. Seguindo o Tao, podemos, "com pequenasações, realizar grandes coisas" (Tao 63). Vivendo em harmonia comos ciclos naturais, podemos liberar novas torrentes de criatividadepara curar a nós mesmos e ao nosso mundo.

Afirmação

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa.Reconheço os ciclos naturais e trabalho com eles.Pratico a sabedoria da prevenção.Quando me vejo diante de problemas, olho para os ciclos

mais amplos e coopero com o Tao.Penso globalmente, ajo localmente.Respeito a mim mesmo e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Capra, The Turning Point, p. 25.2. A pesquisa sobre o alar e outros aditivos químicos foi obtida de um press

release de 1989 sobre a daminozida, emitido pelo Departamento deProteção Ambiental e pelo Conselho de Defesa dos Recursos Naturaisem 27 de fevereiro de 1989. O panfleto e os resultados de estudos maisrecentes podem ser obtidos no Conselho de Defesa dos RecursosNaturais — Natural Resources Defense Council, 90 New Montgomery,San Francisco CA 94105, tel. (415) 777-0220.

3- Seymour e Girardet, Bluepnint, p. 70.4. Informações de Stephanie Turner, em "Orientação para um estilo de vida

vegetariano" (Entrevista com Frances Moore Lappé), Chronicle de SanFrancisco, 15 de março de 1989, Seção Alimentar, p. 3.

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5. Citação de Lappé e estatísticas nos parágrafos anteriores extraídas deTurner, Orientação, citado na nota 4. Por informações complementaressobre a fome mundial, sou grata a Frances Moore Lappé, que me deuuma entrevista (telefônica) em 1987. Para uma discussão completa darelação entre dieta e fome mundial, ver, de Frances Moore Lappé, Dietfor a Small Planet: Tenth Anniversary Edition (Nova York: Bellentine,1982), ou contatar Food First, do Instituto de Política para Alimentaçãoe Desenvolvimento — Institute for Food and Development Policy, 145Ninth Street, San Francisco CA 94103, tel. (415) 863-8555.

6. Ver Dadd, Non toxic and Natural, p. 112, 241-42.7. De John Jeavons, How to GrowMore Vegetables Than You EverTíioiight

Possible on LessLand Than You Can ImagineiPalo Alto: Ecology Action,1974) pode der encontrado na Ecology Action/Common Ground, 2225El Camino Real, Paio Alto CA 94306.

8. Informações sobre agricultura chinesa de Ecolohy Action CommonGround Newsletter, de fevereiro de 1976; outros dados do livro deJeavons, em Peter Chan, Better Vegetable Gardens the Chinese Way ePeter Chan'sMagical Landscape (Pownal, Vermant: Comunications,1985 e 1988) que são guias excelentes para os métodos chineses decultivo.

9. Informações sobre Richard Stevens de Patti Thorn, "Professor grows hisgroceries instead of grass", Rocky Mountain News, 18 de maio de 1988,p. 52; republicado em The Orange County Register, 3 de dezembro de1988, Seção Doméstica, F3.

10. Chan, Magical Landscape, pp. 6, 86-87.11. Stu Campbell, Let ik Rot: The Home Gardener's Guide to Composting

(Pownal, Vermant: Storey Communications, 1975), p. 13.12. Miller, Living in the Environment, p. 1.13. Informações de Earth Care Papel Company, Recycled Paper Catalogue,

outubro de 1988 — setembro de 1989. p. 11. Esta empresa (P.O. Box3335, Madison, WI 53704) fabrica artigos de papelaria, papel comercial,cartões e embalagens para presentes de papel reciclado todos muitobonitos, e enumera informações sobre poluição e reciclagem em seuscatálogos.

14. Seymour e Girardet, Blueprint, p. 75, 77-79.15. Earth Care, Recycled Paper Catalogue, p. 15.16. Seymour e Girardet, Blueprint, p. 85.17. Earth Care, Recycled Paper Catalogue, p. 7.18. Campbell, Let it Rot, p. 19.19. Seymour e Girardt, Bleuprint, p. 29.20. Seymour e Girardt, Blueprint, p. 30.21. Miller, Living in the Environment, p. E120.22. Algumas idéias de Seymour e Girardt, Blueprint, pp. 80,92, e Mary Trahan,

"Recycling at the Office" Windstear Journal, verão de 1989, p.26-28.

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Assinaturas a 18 dólares por ano (4 exemplares) ou incluídas nacondição de sócio anual, com a Windstar Foundation, 2317 SnowmassCreek Road, Snowmass CO 81654, tel. (303) 927-4777. Mais de 900.000toneladas de papel de escritório recuperável são jogadas em depósitosde lixo nos Estados Unidos anualmente. O Paper Stock Institute ofAmerica (330 Madison Avenue, Nova York NY 10017) forneceráinformações sobre os serviços de reciclagem de pape! jogado fora emsua área.

23- Detalhes tirados da matéria "Students give environmental lesson atU.N.", do serviço telegráfico da AP, reproduzida no Mercuryàe San Joséem 2 de maio de 1989, p. 11A.

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CAPÍTULO 15

A IMPORTÂNCIA DA

REGULAGEM DO TEMPO

A pessoa TaoVive plenamente em todos os momentos.

(TAO 14)

Durante séculos, os taoístas vêm modelando suas vidas segun-do os ciclos da natureza. A palavra chinesa tzu jan significanão apenas as ciências naturais, mas viver em harmonia com

a natureza.Seguindo a natureza, as pessoas Tao aprendem a lição vital da

regulagem de tempo. Gozam todas as estações de suas vidas,praticam a sabedoria dos começos e dos fins e evitam problemasfazendo escolhas cuidadosas. Reconhecendo os ciclos dentro de si eao seu redor, elas sabem qual é a melhor ação em cada etapa.

AS ESTAÇÕES DE NOSSAS VIDAS

Todos nós atravessamos ciclos de crescimento: física,emocional, espiritualmente. Os psicólogos Carl Jung e Erik Eriksondescreveram as etapas da vida humana, uma abordagempopularizada por Gail Sheehy em Passages (Passagens). Para ospsicólogos desenvolvimentais, cada estação da vida tem sua próprialição, ou "crise". Na infância, aprendemos a confiar em nós mesmose nos outros, desenvolvendo a competência física e intelectual. Aadolescência traz a busca de identidade pessoal e intimidade. Naidade adulta, aprendemos lições de responsabilidade, integridade eespiritualidade.

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As pessoas Tao aceitam cada estação da vida e as oportunidadesque ela oferece. Não lutam contra os ciclos, resistindo ou olhandopara trás. Mas a forte ênfase de nossa cultura na juventude muitasvezes obscurece nossa percepção da idade adulta, fazendo com quemuitas pessoas percam o equilíbrio.

A ACEITAÇÃO DE NOSSAS ESTAÇÕES MUTÁVEIS:IDADE ADULTA E MATURIDADE ESPIRITUAL

Nosso ciclo físico continua e as estações mudam, da juventudepara a maturidade. Sem crescimento espiritual, a vida adulta torna-sesuperficial e sem significado. Devemos continuar a desenvolver nos-sas mentes e almas. As grandes tradições religiosas do Oriente e doOcidente reconhecem isto há muito tempo. O cristianismo traz asconversões de São Paulo e Santo Agostinho, na metade de suas vidas.O hinduísmo também reconhece o divisor de águas da meia-idade.No início da idade adulta, a maioria dos hindus se torna chefe defamília, passando a ter compromissos não apenas familiares, mastambém comunitários. Porém, mais tarde, muitos se tornam san-nyasin, renunciando a suas responsabilidades mundanas. Retirando-se para o campo, dedicam seu tempo à tranqüila contemplação, aoserviço e ao crescimento espiritual. Combinando espiritualidade comserviço político, Mahatma Gandhi seguiu seu caminho.

Como seus colegas hindus, os mestres taoístas buscam o cami-nho da maturidade espiritual. Combinando força com compaixão,dedicam suas vidas à contemplação e ao serviço.2

O INÍCIO DE UM NOVO CICLO:A RENOVAÇÃO PELO ISOIAMENTO

Minha amiga Gertaide Welch escolheu esse caminho. Natradição das donas-de-casa, ela foi a típica mulher americana —esposa, mãe, avó, ativa em sua igreja e em sua comunidade. Duranteanos, trabalhou como secretária, primeiro na Escola Estadual de SanJosé, depois, na Universidade de Santa Clara. Mas, em 1984, afastou-se de seu emprego para trabalhar em tempo integral a favor da paz.

Afável e graciosa, Gertaide irradia um calor pessoal que derrubatodas as barreiras. Com seu pronto sorriso, imediatamente deixa aspessoas à vontade. No curso dos anos, trabalhou em acampamentosde imigrantes e abrigos para os sem-teto, participou de manifestações

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de protesto, organizou cursos e seminários para sua igreja e viajoupor conta própria para União Soviética, Oriente Médio e AméricaCentral, impelida por uma visão de paz e justiça.

Viveu com os camponeses nicaragüenses, falou num programade debates na TV, partilhou seus pontos de vista com políticos epessoas nas ruas. Militante da paz aonde quer que vá, elatranqüilamente dá o testemunho de suas crenças, estendendo osbraços para os vizinhos, os desabrigados e os oprimidos. "Acreditoque a paz é um estilo de vida", diz. "É preciso vivê-la em sua casa, emsua comunidade e em seu mundo".

Aposentada, está satisfeita com o tempo extra que tem paratrabalhar pela paz. Líder de longa data em sua igreja, na Liga Inter-nacional das Mulheres pela Paz e Liberdade, na Associação daReconciliação e no Centro pela Paz local, ela combina o trabalho nasorganizações com serviço e contemplação. Trabalha como voluntáriauma noite por semana num abrigo para os sem-teto e passa algumtempo, todos os dias, rezando pela paz, pela boa orientação doslíderes mundiais, pela saúde e pelo entendimento.

Existe um antigo adágio chinês: "Água que corre não deteriora."Em nossa sociedade, muitas pessoas ficam estagnadas, quando atin-gem a meia-idade. O desafio acabou. Entediadas e insatisfeitas,enchem o vazio de suas vidas com estimulantes artificiais ou bens deconsumo.

As pessoas Tao sabem que a vida evolui em ciclos e que, semrenovação, vem a estagnação e o declínio. Apenas quando enfren-tamos novos desafios, iniciamos um novo ciclo, somos revitalizados.Depois de criar sua família e ganhar a vida, Gertaide Welch agoratrabalha para construir um poderoso legado de paz e justiça, afirman-do um novo ciclo de esperança para todos nós no planeta.

O RESPEITO AOS CICLOS

Seguir o Tao ajuda-nos a trabalhar com os ciclos da vida, nãocontra eles. Isto significa atender não apenas às estações da vida, masa nossos próprios ciclos de energia, para evitar os impulsos violentos,a compulsão, a exaustão de tanto "esforço". Algumas vezes, istosignifica um recuo e uma avaliação do que está acontecendo, enquan-to centralizamos a atenção em nossas energias e também no processomais amplo.

Na universidade, eu só conseguia estudar até um certo ponto,quando então começava a render menos. A partir daí, cometia

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erros, ou tinha de ler uma página repetidas vezes para entendê-la. Mesmo sem ter terminado meu trabalho, aprendi que eramelhor respeitar minhas energias, não lutar contra elas. Naverdade, demorava menos terminar uma tarefa, se eu parassequando estava cansada, e depois a concluísse, já com a menterecuperada.

EXERCÍCIO PESSOAL

• Da próxima vez em que chegar ao ponto em que começa a rendermenos, não lute contra os ciclos.

• Faça uma pausa. Descanse, dê uma caminhada ou faça algumacoisa diferente, por alguns minutos. Depois, volte para seu projetocom nova energia e concentração.

COMEÇAR E TERMINAR

Conscientes dos ciclos da vida, percebemos que, para cadaprojeto, para cada processo, há um começo e um fim. O Tao nosensina a tomar um cuidado especial nesses tempos de mudança:

"Se conhecermos a sabedoria do inícioE do fim,Jamais falharemos."

(TAO 64)

A SABEDORIA DO INÍCIO

Existe uma sabedoria especial para começar alguma coisa.Devemos ter fé em nós mesmos e no processo. De outra maneira,adiaremos tudo. Com medo do fracasso, deixaremos as coisas paradepois, não começaremos realmente.

Escrever uma dissertação a longo prazo faz muitos estudantesentrarem num parafuso de insegurança. Vão adiando tudo até oúltimo minuto e acabam apresentando um trabalho inconsistenteapós terem se esforçado freneticamente — isto, até conseguirem sairdesse modelo destrutivo.

Muitas pessoas ficam intimidadas com projetos a longo prazo,esmagadas pela idéia de todo esse trabalho. Porém, se dividirmos o

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trabalho em unidades fáceis de lidar, podemos dar conta de tudo.Escrever uma tese de doutorado de 300 páginas também me deixouarrasada, um dia. Mas, então, fiz um rascunho e me convenci de queera capaz de escrevê-la — um capítulo de cada vez.

Seguindo o Tao, desenvolvemos fé no processo. Não desis-timos, quando não podemos ver resultados imediatos.

Meu vizinho Jack é um engenheiro bem-sucedido, entrando nacasa dos trinta anos. Ele corre pelo bairro todos os dias, depois dotrabalho, e participa de maratonas locais. Um dia, soube que eleperdera mais de 70 quilos. Ele me mostrou uma calça e um cinto queguardava dos velhos tempos. Eram enormes.

A mudança era incrível. "Como você conseguiu isso?", perguntei.Obeso desde a infância, Jack enfrentou seu problema — con-

sultou um médico, mudou de dieta e se habituou a correr. Mas osresultados não aconteceram da noite para o dia.

"Um dia de cada vez", ele disse.Sarah é conselheira em minha igreja. Há dez anos, sua vida era

prejudicada pelo alcoolismo. Ela perdeu o emprego, o marido e orespeito por si mesma, antes de chegar ao fundo do poço. Hoje,ninguém advinharia que ela, um dia, chegou a esse ponto.

Como Sarah conseguiu? Ela sorriu e disse: "Foi preciso coragem,orações e viver um dia de cada vez".

Empenhados defensores da paz, como minha amiga Gertrude,também vivem um dia de cada vez. Trabalhando como voluntáriosem abrigos locais, dando aulas, escrevendo cartas, distribuindopetições ou participando de ação política, eles agem para acabar coma pobreza, a injustiça e o desequilíbrio em nosso mundo. Em vez dese preocuparem sozinhos com os problemas do planeta até ficaremdesesperados, eles agem de forma positiva.

O Tao nos lembra que:

"A jornada de mil milhas começa com um único passo."

(TAO 64)

Precisamos dar esse passo, depois outro, mas lembrando-nosde ser pacientes com nós mesmos. Porque nossos objetivos sãoalcançados com um passo de cada vez. Como na natureza, tudotem seu ciclo de crescimento próprio. Nossas sementes brotarãoquando estiverem preparadas para isto. Não podemos apressar oprocesso. Mesmo não vendo qualquer resultado, não devemossucumbir à insegurança.

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O Tao também nos diz:

"Tenha cuidado com os compromissos.Não comece alguma coisaQue pode não querer terminar."

(TAO 63)

Quantos de nós enchemos nossas vidas de tensões e conflitos,dizendo sim a um número excessivo de pessoas, a demasiadosprojetos? Uma lição importante na regulagem do tempo é saberquando dizer sim e quando dizer não.

Não seja reativo, fazendo qualquer coisa que as outras pessoaspedem sem considerar seus próprios ciclos. Reserve tempo para olharpara dentro de si mesmo(a) antes de responder. O Tao diz:

"A pessoa sábia escolhe o que é realE olha sob a superfície,Escolhe a fruta e não a flor,Não reagindo, mas respondendoEm harmonia com o Tao."

(TAO 38)

PERGUNTAS TAO

Se você tem dificuldade para dizer não, como acontece com muitaspessoas, faça a si mesmo(a) estas perguntas, antes de assumir outrocompromisso:

• É necessário?• Trará um bem maior para minha vida ou para o planeta?• Deixará de acontecer sem minha participação?• Quero realmente fazer isso?• Tenho tempo?

Se forem afirmativas suas respostas a pelo menos três destasperguntas, incluindo a última, então você está assumindo umcompromisso significativo. Caso contrário, por que fazer isso?

A SABEDORIA DOS TÉRMINOS

Existe uma sabedoria especial para terminar alguma coisa.Muita gente estraga um projeto, quando já está quase pronto, porque

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ficam impacientes. Vêem o fim à vista e se perturbam. Com a pressade terminar, cometem erros.

A vida oferece muitas oportunidades para aprender essas lições.Trabalhando em meu quintal na semana passada, percebi mais uma vezo preço da impaciência. As longas e emaranhadas trepadeiras deabóbora estavam tomando conta de meu jardim e eu ouvira dizer que,arrancando-se algumas flores, os frutos são melhores, então saí para fazeralgumas podas. Estava quase terminando, quando fiz um movimentoem falso e cortei a melhor trepadeira com um escorregão da faca. Olheipara a trepadeira cortada e para as abóboras que jamais amadureceriam,percebendo quantos danos são causados num instante de impaciência.

Adoro terminar projetos. Sempre consegui. Completar qualquercoisa me deixa exultante. Mas, com muita freqüência, fui empurrada porminha paixão pela conclusão, tornando-me descuidada perto do fim.

Seguir o Tao nos ensina paciência. Sem ela, nossa teimosiasubjugará o processo e cometeremos erros. Estou aprendendo a memanter calma e a concentrar minha atenção, para que minha paixãopelos términos não prejudique minha regulagem de tempo.

REGULAR O TEMPO SIGNIFICA PREVENIR

Trabalhando com os ciclos naturais, as pessoas Tao praticam aprevenção em suas vidas, pois entram em ação antes que as coisassaiam de controle. Aprendem essa lição estudando a natureza.

Stella, uma bem-sucedida artista gráfica, leva uma vida cheia deconflitos e perturbações, porque não aprendeu essa lição do Tao.

À primeira vista, ela dá a impressão de ser a pessoa maisarrumada do mundo. Seu cabelo é bem penteado e suas roupas sãosempre elegantes. Mas, sob esse verniz impecável, ela passa porsucessivas crises. Quando vai para casa, à noite, verifica as luzes, paraver se a eletricidade ainda está funcionando, levanta o receptor, parase certificar de que o telefone não foi cortado. Por quê? O motivo éque, apesar de todo o seu jeito profissional, ela não consegue pagarsuas contas a tempo. Ganha dinheiro mais do que suficiente, mas seesquece dos compromissos, e sua caixa de correspondência fica cheiade notas vencidas. Ele atribui tudo a seu temperamento artístico.

Durante todo o ciclo de nossas vidas, devemos lidar com osacontecimentos antes que eles cheguem à etapa da crise, como nosensina o Tao. Desta maneira, muitos problemas são evitados emnossos relacionamentos e em nosso meio ambiente, e muita violênciapode ser impedida em nosso mundo.

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Os princípios do Tao funcionam em todos os níveis, do pessoalao planetário. Como vimos nos últimos dois capítulos, nossosproblemas ambientais são resultado direto do descuido e da máadministração. Como Stella, não temos cuidado de nossas respon-sabilidades domésticas — em nível mundial. E, a menos que façamosisso, nossa energia e nossa água, um dia, serão cortadas.

O Tao nos lembra:

"Enfrente a dificuldadeEnquanto ainda é fácil.Resolva os grandes problemasEnquanto ainda são pequenos."

(TAO 63)

Viver o Tao significa atender aos ciclos, dentro e em torno denós, cooperando com eles nas muitas escolhas que fazemos a cadadia. Porque, escolhendo com sabedoria, aperfeiçoamos nossaregulagem do tempo, trazendo maior harmonia para nossas vidas.

Afirmação

Agora sei que muita vida é pacífica e harmoniosa.Há bastante tempo para tudo o que preciso.Vivo no presente, aceitando as estações mutáveis da vida.Pratico a sabedoria dos inícios e dos términos.Evito os problemas trabalhando com os ciclos.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Informações de R.L. Wing, The Tao of Power, comentário ao Tao,Capítulo 17, p. 17.

2. Para maiores informações sobre os mestres taoístas, ver Waley, The Wayand Its Power, p. l6l .

3. Hua-ching Ni, Tao: The Subtle Universal Law, p. 31.

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CAPÍTULO 16

COMO TRANSCENDER

os CICLOS HOSTIS

Uma planta que se enraízaprofundamente na terraNão pode ser arrancada.

Prenda-se firmemente ao TaoE nada o(a) derrotará.

(TAO 54)

Nossos pensamentos, nossas atitudes, nossas emoções, tudosão formas de energia, constantemente influenciando omundo a nossa volta. Os médicos não se consideram mais

observadores distanciados. Sabem que sua própria presença influen-cia as propriedades das partículas/ondas que estudam. Nossasatitudes afetam os ciclos dentro e em torno de nós. Sabendo disso, aspessoas Tao vivem de forma consciente e respeitosa, por perceberemque exercem uma poderosa influência sobre seu mundo.

COMO SE ESGOTA A ENERGIA

Além de influenciar as pessoas a nossa volta, somos continua-mente afetados pelas ações e atitudes dos outros. Passar tempo comoutras pessoas significa respirar o mesmo ar, partilhar o mesmo campode energia. Algumas interações dão energia. Outras nos esgotam.

Você conhece alguém que o arraste para baixo? Se está sempreexausto, depois de passarem algum tempo juntos, essa pessoa é umaesvaziadora de energia. Desequilibradas, descentralizadas, fora decontato com a fonte do chi em suas vidas, essas pessoas subsistemcom transfusões de energia das outras.

As pessoas que roubam energia estão constantemente claman-do por ajuda. Sempre que alguma coisa dá errado, correm para um

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amigo forte que as socorre, agindo de forma tão desamparada que osoutros se sentem culpados de dizer não. Grudando-se como sarnas,essas pessoas tornam-se cada vez mais exigentes e dependentes.

Na universidade, conheci Michael, o rapaz moreno e pensativoque escolhi para amar. Talvez fosse meu desejo tornar as coisasmelhores, aperfeiçoar o mundo. Afinal, era a década de 60, fomosuma geração idealista. Decidida a torná-lo feliz, a me tornar um "raiode sol" em sua vida, cuidei de suas doenças, ouvi suas tiradas sobreinjustiça social, ajudei a solucionar seus problemas, consertei suasroupas e levei-lhe sacolas de verduras, quando ele ficava sem di-nheiro. Os estados de espírito negativos de Michael deixavam-meexausta. Dormia muito pouco, tentando acompanhá-lo, enquantotambém cumpria as obrigações de meu emprego e fazia os trabalhosda universidade, mas achava que aquilo valia a pena para torná-lofeliz.

Porém, apesar de meus esforços, Michael só fez piorar, pas-sando a ter ciúme de meus amigos, de meus estudos, de meus pais,de qualquer coisa que me afastasse dele. Queixava-se cons-tantemente, chamava-me a todas as horas, insultava meus pais eprovocou uma briga com meu amigo Peter. Suas exigências aumen-taram até que, finalmente, rompemos.

Mais tarde, percebi que eu o atraíra porque era insegura. Eu"precisava que precisassem de mim" para reforçar minhaautovalorização. As pessoas com auto-estima baixa muitas vezes sãoapanhadas pelas energias negativas de outras. Sua insegurança econfusão tornam-nas vulneráveis a manipuladores.

EXERCÍCIO PESSOAL

Você tem algum ponto de esgotamento de energia em sua vida?Estar com uma pessoa em particular deixa-o(a) exausto(a)? Se é assim,você precisa centralizar-se.

• Antes de ver novamente essa pessoa, saia sozinho(a) e faça oexercício de centralização deste capítulo.

• Quando sentir que está sendo esgotado(a), ponha sua mão sobreseu hara, seu centro de poder logo abaixo do umbigo.

• Diga para si mesmo(a) (sobre a negatividade de outra pessoa): "Estanão é minha energia. Estou em união com o Tao".

• Depois de ver essa pessoa, faça um exercício de centralização,limpe sua aura ou lave suas mãos.

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• Pergunte a si mesmo(a) por que atraiu essa relação pouco saudável.O que existe em você que criou esse modelo?

• Tome medidas para mudar o modelo iniciando um ciclo maispositivo. Este capítulo irá mostrar-lhe como.

O CAMINHO PARA A TRANSCENDÊNCIA

Podemos transcender ciclos hostis em nossas vidas, nosrelacionamentos, na saúde, na carreira e nas finanças. Também podemosajudar a superar os ciclos hostis na sociedade. Sejam esses ciclos grandesou pequenos, pessoais ou planetários, o caminho para transcendê-los éa mesma combinação de princípios taoístas: 1) Centralização, 2)resistência passiva e 3) empreender ação positiva.

CENTRALIZAÇÃO

Quando enfrentar outro ciclo hostil, reserve, antes de maisnada, alguns minutos para centralizar-se. Centralizados(as) na forçado Tao, não somos arrancados de nosso equilíbrio pelas energiasdistorcidas e negativas de outras pessoas. Não reagimos por culpa,medo ou raiva, mas orientados por uma fonte profunda de sabedoria.

O Tao diz:

"Manter seu centro é resistir."

(TAO 33)

Os estudantes de artes marciais praticam esse poder decentralização. Concentrando-se no hara, um mestre de aikido gerauma força incrível. Ele não pode ser tirado do lugar, mesmo quandopuxado por vários indivíduos com o dobro de seu tamanho.Centralizado, ele resiste.

O aikido ensina que uma pessoa sábia estende os braços commovimentos fluidos, integrando energias aparentemente hostis numtodo mais amplo. Usando a própria força e campo de ação de umagressor, um mestre de aikido arrasta-o para um padrão circular noqual a energia agressiva é neutralizada e o adversário fica ileso.

Os mestres do aikido resolvem os conflitos externamente por-que, primeiro, fazem isso em seu interior. Enfatizando a importânciada centralização, acreditam que somos apanhados em ciclos hostisquando estamos presos à superfície da vida. Distraídos pelos deta-lhes, deixamos de ver os ciclos mais amplos.

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Muito freqüentemente, os problemas nos fazem perder oequilíbrio porque a vida moderna fragmenta nossa consciência. Comnossas mentes sobrecarregadas, nossos corpos rígidos de estresse,experimentamos a vida apenas do pescoço para cima. Separados denós mesmos, não podemos agir com sabedoria.

EXERCÍCIO PESSOAL CENTRALIZAÇÃO

Há quanto tempo você não sente que está com os pés firme-mente plantados no chão? Os mestres de aikido ensinam a seus alunosa "manter o ponto um", permanecendo centralizados. Reconquis-tamos nosso centro com a meditação em pé:

• Fique em pé, com os pés cerca de trinta centímetros separados umdo outro, mantendo a coluna ereta. Curve ligeiramente os joelhos.

• Estenda as mãos em frente do corpo, com os cotovelos dobrados,ligeiramente acima do nível da cintura.

• Agora, inspire profundamente para dentro de seu hara, o ponto depoder cerca de cinco centímetros abaixo do umbigo. Sinta a energiaelevar-se de seus pés, enquanto estão firmemente plantados nochão.

• Expire, sentindo a energia sair fluindo através de suas mãos.• Agora, volte para o que você estava fazendo, centralizado e for-

talecido pela energia do Tao.

Da próxima vez em que se sentir apanhado num ciclo hostil,faça a meditação em pé e lembre-se dessa lição de Lao Tsé:

"Uma planta que se enraíze profundamente na terraNão pode ser arrancada.Prenda-se firmemente ao TaoE nada o(a) derrotará."

(TAO 54)

RESISTÊNCIA PASSIVA

Centralizadas, as pessoas Tao não se tornam hostis, temerosasou zangadas, quando se defrontam com acontecimentos negativos.Sabem que uma resposta irada só criará outro ciclo de violência, cominevitáveis represálias e mais agressão. Sucumbir ao medo ou à culpa

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só faz tornar mais poderosos os manipuladores, que nos arrastampara a negatividade.

Aquilo que repartimos volta inevitavelmente para nós. Os ciclosde Tao são como a lei budista do karma. Toda ação produz umareação correspondente. A violência gera mais violência, enegatividade gera mais negatividade. Os budistas acreditam que umapessoa repete suas lições cármicas até, finalmente, aprender comelas, um processo que pode demorar por centenas de encarnações.Transcendem os frustrantes ciclos do karma através do nirvana,unidade mística com a vida.

O Tao ensina que as conseqüências de nossas reações ocorremneste período da vida. Estamos sujeitos a ciclos repetidos, muitas vezesviciosos, até os transcendermos com a sabedoria do Tao.

Se reagirmos violentamente a uma pessoa violenta, criamos maisviolência, iniciando outro ciclo negativo. Isto se aplica aos indivíduos eàs nações. Nossas reações agressivas nos tornam sujeitos a novas agres-sões. E, se não ultrapassarmos esse modelo violento, ele acabará por nosdestruir.

A alternativa do Tao para os contínuos ciclos hostis é o princípiode resistência passiva ou wu wei. A resistência passiva neutraliza osciclos negativos. Em vez de reagir emocionalmente ao torvelinho emtorno de nós, no início, não devemos fazer nada, diz Lao Tsé, apenasrecuar e observar os ciclos. Quando nossos corações-mentes nãoestiverem mais perturbados pelas emoções negativas, podemos agircom sabedoria, suprimindo a negatividade com a sabedoria do Tao.

Podemos praticar a resistência passiva todos os dias: no traba-lho, em casa, até dirigindo nossos automóveis. Presas em seus ciclosestressantes, muitas pessoas manifestam sua frustração atrás dovolante. Um amigo meu, que tem um Porsche, acaba sendo continua-mente desafiado por motoristas agressivos. Outro dia, enquanto eleentrava na autopista, um caminhão amassado deu-lhe uma cortadana rampa, depois reduziu a velocidade, desafiando-o para um "pega".Em vez de entrar em outro perigoso ciclo de "guerras automo-bilísticas", meu amigo praticou resistência passiva, deixando o outromotorista ir embora. Ele não precisa provar sua masculinidade todasas vezes em que um carro lhe dá uma cortada.

EXERCÍCIO PESSOAL-. RESISTÊNCIA PASSIVA

Podemos praticar a resistência passiva seguindo estasorientações:

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• Da próxima vez em que alguém se mostrar hostil com você, outentar manipulá-lo através do medo ou da culpa, não reajaemocionalmente, o que intensificaria o ciclo negativo. Inspireprofundamente e se centralize.

• Isto não significa sujeitar-se a injúrias ou abusos. Se necessário,coloque-se à parte, aja evasivamente. O importante é não reagir emexcesso nem retribuir o ataque.

• Num espaço centralizado, escute e observe. O que está acontecen-do com essa pessoa? O que ele ou ela realmente quer? O que vocêestá sentindo? Pense nos ciclos mais amplos.

• Quando estiver preparado, responda. Use sua intuição e aja a partirdo centro. Inspirando-se na infinita sabedoria do Tao, você saberáo que fazer.

A resistência passiva ajuda-nos a mudar do negativo para opositivo. Quando ninguém reage em excesso, o ciclo hostil é desmon-tado. A raiva da outra pessoa consome a si mesma, e um novo modelo,mais pacífico, pode ser articulado.

AÇÃO POSITIVA

O passo final para transcender os ciclos hostis é a ação positiva.Não precisa sequer ser voltada para a direção de uma solução doproblema. O importante é afirmar sua fé na vida e colocar emmovimento novas e saudáveis energias.

Marsha Sinetar escreve em Elegant Choices, Healing Choices(Escolhas elegantes, escolhas saudáveis) que nos tornamos maissaudáveis quando fazemos escolhas positivas, trazendo beleza,ordem, bondade e alegria para nossas vidas. Como professora naescola elementar de uma cidade do interior, ele levava para a classeflores recém-colhidas, obras de arte e música clássica, despertandoum novo ciclo de auto-estima entre seus alunos. Eles mantinham suascarteiras e a sala de aula mais arrumadas e prestavam mais atençãoàs aulas. As pequenas afirmações de beleza de Marsha iniciaram umciclo novo e mais positivo para todos.

PERGUNTA TAO

Quando foi a última vez que você fez alguma coisa positiva parasi mesmo — uma afirmação de consideração que tem para consigomesmo (a)? Não precisa ser algo caro ou extravagante. Um veterano

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que conheço sofria de uma séria depressão e da síndrome do estressepós-Vietnã, até que iniciou um novo ciclo saudável. Como parte desua terapia, disseram-lhe para desenvolver um ato ritual de cuidar desi mesmo. Ele escolheu comer uma salada todos os dias, comomaneira de dizer: "Sou OK. Mereço uma vida saudável e feliz". Agora,onde quer que esteja, tem uma salada, mesmo que consista apenasde uma folha de alface do lado de seu prato, e tornou-se muito maissaudável, emocional e fisicamente.

ATOS POSITIVOS YIN E YANG

Os taoístas têm uma tradição de ação positiva espontânea,pregando as boas ações como meio de desenvolvimento espiritual.O mestre Hua-ching Ni descreve dois tipos de boas ações: as açõesyang, que todos notam, e as ações yin, mais sutis, que passamdespercebidas. As ações yang realçam nossa reputação e sustentamnosso ego, mas as ações yin, praticadas simplesmente pela alegria deafirmar o bem, fortalecem nosso espírito. Uma maneira de encerrarum ciclo de tédio é fazer alguma coisa inesperada, talvez até mesmoanônima, simplesmente por divertimento. Já coloquei moedas emmedidores de estacionamento com o tempo esgotado, consertei livrosda biblioteca pública, enviei bilhetes de encorajamento paraautoridades e pratiquei outros pequenos atos yin, para os quais nãorecebi nenhuma resposta — no entanto, a alegria espontânea dessesatos melhorou meu estado de espírito em muitas ocasiões.

AÇÃO TAOÍSTA: RESPONDENDO COM VISÃO CIARA

Quando seguimos a fórmula taoísta — centralizar-nos, praticara resistência passiva e adotar medidas positivas — respondemos aosciclos hostis com maior sabedoria e clareza. Então, nossas mentes setornam como um espelho. Com a mente clara, centralizados,podemos agir com sucesso em todas as situações.

Quando nossa visão é clara, as respostas corretas estão ao nossoalcance, sempre que precisamos delas. Agimos harmonicamente,afirmando o bem do todo, seguindo a intuitiva sabedoria do Tao. Oschineses chamam essa sabedoria de hui? Está sempre conosco, masnas profundezas de nosso íntimo, muitas vezes obscurecida pelaperturbada superfície da vida. Quando clareamos nossa visão, dandoos três passos indicados neste capítulo, recuperamos a inerente

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sabedoria interior e nos tornamos recebedores da luz celestial,transcendendo os ciclos hostis com a duradoura sabedoria do Tao.

TRANSCENDENDO POR CONTAPRÓPRIA OS CICLOS HOSTIS

Sempre que as circunstâncias o(a) arrastarem para um ciclonegativo, você pode recuperar-se com a centralização, a pratica daresistência passiva e partindo para a ação positiva.

Marsha Sinetar me contou o caso de um homem que foi lhepedir conselhos após ter perdido o emprego, quando a firma ondetrabalhava passou a ser controlada por outra. Deixando de ser, comode hábito, confiante e enérgico, ele se tornou descentralizado, caindonuma depressão reativa. Resistindo a essa mudança, sentiu-seemocionalmente esgotado, exausto demais para fazer qualquer coisa.Com as roupas amassadas, maltratado, admitiu que até sua casa estavanuma confusão completa. Não tinha energia suficiente para fazer acama, pendurar as roupas ou lavar a louça.

Consciente de que uma ação positiva o faria recuperar a auto-es-tima, Sinetar pediu-lhe que fosse para casa, tirasse os lençóis da cama,lavasse-os e, em seguida, fizesse a cama cuidadosamente. Ele devia,então, limpar toda a cozinha, a começar pelos pratos empilhados na pia.No dia seguinte deveria usar seu terno favorito, dedicando tempo extrapara barbear-se, tomar um banho de chuveiro e vestir-se, de modo a sairde casa com aspecto confiante e bem-sucedido. Ela lhe disse para manteresse modelo de ordem até o próximo encontro. Na semana seguinte, elevoltou, sentindo-se mais ele próprio outra vez. O ciclo negativo forainterrompido. livre da depressão, ele encontrou um novo emprego.8

Um sábio amigo me disse uma vez: "A ordem é a primeira leido universo." O Tao nos ensina a respeitar a ordem natural dentro eem torno de nós. Quando nos descobrimos cercados de confusão,precisamos recuar, olhar para dentro de nós mesmos e trabalhar emnossa consciência.

Podemos iniciar um ciclo mais positivo afirmando maior ordeme beleza em nossas vidas. Colocar seus negócios em ordem tem umainfluência sutil, saudável. A paz e a tranqüilidade de um cômodosimples e bem arrumado, com o sol brilhando nas janelas, restabeleceminha alma, quando estou exausta com o mundo barulhento lá defora. Uma hora silenciosa, trabalhando no jardim, arrancando as ervasdaninhas, escorando os pés de ervilha, ou até aparando a grama, podeser uma afirmação e um exercício espiritual.

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PERGUNTA TAO

Existe alguma coisa que você pode fazer para afirmar maiorordem e beleza em sua vida? Pode ser tão simples como fazer suacama todas as manhãs, um ritual pessoal que adotei anos atrás,quando trabalhava para encerrar velhos ciclos de insegurança. Minhacama sem fazer, entulhada de roupas que eu acabara de usar, confir-mava minha vida confusa, sem rumo. Agora, simplesmente, entrar emmeu quarto e ver a cama feita, com seus lençóis brancos e lisos e oacolchoado cor de marfim, é uma afirmação de beleza e ordem.

PARA SUPERAR OS CICLOS HOSTISE SEGUIR PARA OUTROS

Algumas vezes, as medidas que tomamos para tornar nossasvidas mais saudáveis também trazem saúde para outras pessoas.Depois de um acidente de automóvel, em 1983, que matou suamulher e o deixou paralítico, Richard Woolstrum tomou medidaspositivas. Com o dinheiro do seguro recebido pelo acidente, comprouum hotel de três andares em sua cidade natal, Lodi, na Califórnia, eabriu um alojamento para pessoas de baixa renda e sem lar. Tambémcomprou 16 hectares de terras não cultivadas, nas proximidades deAmador County, com o objetivo de transformá-lo num refúgio para avida selvagem.

"Todos me disseram que eu devia pegar o dinheiro e ir embora,levar uma boa vida em alguma outra parte, divertir-me. Mas eu nãoqueria sair daqui", disse ele. Então_ficou em Lodi, ajudou os outros aconstruir uma nova vida para si mesmo. Sua vizinha, Joani, que oajudou durante sua recuperação, tornou-se sua segunda mulher,partilhando seu compromisso para com a justiça social. Estendendoos braços para dar e tomando medidas positivas diante da adver-sidade, Richard Woolstrum começou um ciclo novo e criativo para simesmo e sua comunidade.

PARA TRANSCENDER OS CICLOSHOSTIS NA SOCIEDADE

Todos os dias pessoas famintas perambulam pelas mas dosEstados Unidos, remexendo em latas de lixo à cata de migalhas,fazendo filas diante de abrigos apinhados e locais de distribuição desopa gratuita. De alguma forma, os ciclos de fornecimento no país

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mais rico do mundo estão deixando de lado centenas de milhares depessoas, que caminham pelas ruas de nossas cidades sofrendo denegligência, subnutrição e desespero.

Conheço um homem que tomou medidas positivas — é FrankOlson, co-proprietário do Ernesto's, um elegante restaurantemexicano em Los Gatos, na Califórnia. Quando visitei o restaurantena semana passada, Frank me contou como começou a alimentar osdesabrigados. Homem enérgico, chegando aos cinqüenta anos, comolhos azuis brilhantes, cabelo grisalho e bigode, Frank explicou quesua família sempre havia enfatizado a necessidade de as pessoas seinteressarem em cuidar umas das outras. Ele ouvira noticiários arespeito das pessoas famintas e sem teto em nossa área, e ficouimaginando o que podia fazer para ajudar.

No dia de Natal, no ano de 1987, Frank foi até o Arsenal daGuarda Nacional, abrigo temporário dos sem-teto, para ver o quepoderia fazer. O lugar estava cheio de pessoas famintas. Até 200pessoas por noite, durante os meses de inverno, apinhavam-se alidentro. Frank trouxe alguma comida do restaurante e uma centenade notas de um dólar, para que Papai Noel as distribuísse às crianças.Deste então, passou a ajudar.

Frank faz entregas diárias de comida para o Arsenal entre quatroe cinco horas da tarde, quando há menos clientes nos restaurantes. Enão são migalhas ou restos, mas o mesmo tipo de comida de que seusclientes gostam: enchiladas frescas, carne cozida com tomates etemperos, feijões verdes com ervas, arroz espanhol, salada verdefresca — uma refeição bem equilibrada.

"É muito difícil para qualquer pessoa fazer alguma coisa, ganharforças para ir a uma entrevista com empregador, tendo o estômagovazio", disse ele. "Como essa pessoa pode sentir-se bem consigomesma?" Então, serve-lhes deliciosas refeições quentes e umagenerosa dose de esperança.

Recentemente, os esforços de Frank chegaram aos jornais e muitosclientes passaram a contribuir para pagar as refeições. Ele entrou emcontato com outros restaurantes e quer organizar uma rede de pessoasdo ramo alimentício, que se disponham a ajudar os famintos.

Frank disse: "Sempre acreditei que é muito melhor fazer algumacoisa por conta própria, ir até lá e cumprir a tarefa. Quando a gente dáo próprio tempo, está dando de si, e é muito mais significativo do que,simplesmente, preencher um cheque". Frank é um homem muitoocupado, trabalha muito em seu negócio, convive com a família efreqüenta o Lions Club local, que mantém muitas atividades de serviço

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para a comunidade. Mas reservou tempo para levar as refeiçõesquentes para seus vizinhos desabrigados, iniciando um novo ciclo decuidados, envolvimento e esperança.11

Lao Tsé nos diz que:

"A pessoa Tao ajuda os outrosEntão ninguém se perde.E usa as coisas sabiamenteEntão nada é desperdiçado."

(TAO 27)

Como nação, ignoramos por muito tempo esta lição do Tao.Desperdiçamos nossos recursos, desperdiçamos nosso tempo edesperdiçamos mais comida do que qualquer outro país. Comoresultado, criamos ciclos negativos de poluição, frustração, pobrezae desespero. Há mais pessoas famintas e desabrigadas agora do queem qualquer outro período da história de nossa nação. Se maispessoas tivessem a visão e dedicação de Richard Woolstrum e FrankOlson, poderíamos vencer esses ciclos hostis e começar um novociclo de esperança para todos.

Afirmação

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa.Reconheço os ciclos de energia em meu mundo.Afirmo a ordem do Tao em minha vida.Venço os ciclos hostis dentro e em torno de min.Centralizo-me, pratico a resistência passiva e tomo medidas

positivas.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Hamionizo-me com a natureza e com todos os demais em meu

mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Para novas discussões sobre as relações entre observador e observadoem física, ver: Capra, The Tao of Physics, p. 141 e R.G.H. Siu, The Tao ofScience: An Essay on Western Knowledge and Easlern Wisdom(Cambridge: M.I.T. Press, 1957), pp. 76-77.

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2. A.Westbrook e O. Ratti, Aikido and the Dynamic Sphere (Rutlancl,Vermont: Charles E. Tuttle, 1970), p. 70.

3. Westbrook e Ratti, Aikido, p. 24.4. Elegant Choices, Healing Choices: Finding Grace and Wholeness in

Eveiything We Choose (Mahwah, Nova Jersey: Paulist Press, ©1988 daDra. Marsha Sinetar), p. 2-3, 22. Usado com permissão do editor.

5. Hua-ching Ni, Tao: The Subtle Universal Law, p. 128.6. Ver: The WritingsofChuang-Tzu, em Legge, Tlie Texts of Taoism, p. 314.7. Para uma discussão do huie da luz celestial, ver: Maspero, Taoism and

Chinese Religion, p. 284.8. Detalhes de Elegant Choices, Healing Choices (Mahwah, Nova Jersey:

Paulist Press, ©1988 da Dra. Marscha Sinetar), pp. 13-15. Usado compermissão do editor.

9. Minha amiga, a Rev. Genevieve Farrow, afirma este princípio de ordemem seus conselhos, aulas e seminários.

10. Detalhes de "From a tragedy comes a hotel to help the poor, homeless",Mercuryáe San José, 11 de novembro de 1988, p. 9B.

11. Meus agradecimentos a Frank Olson, co-proprietário do ErnestoVs, emLos Gatos, Califórnia por este exemplo e pela entrevista em abril de 1989.

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CAPÍTULO 17

A LIDERANÇA

COM o TAO

As melhores pessoas são como a água.Beneficiam-se com todas as coisas,

E não competem com elas.Estabelecem-se nas terras baixas,

Unidas com a natureza, unidas com o Tao.(TAO 8)

Ocaracter chinês correspondente a líder sábio é composto detrês símbolos. A parte inferior significa "dirigente", uma pes-soa situada entre os planos do céu e da terra. Acima disso, os

símbolos para "ouvido" e "boca" indicam não só que o líder atingiuo equilíbrio pessoal, mas também que ele escuta, assimila tudo, antesde falar.1

As pessoas Tao evoluem naturalmente para se transformar emlíderes responsáveis. Tornando-se mais pacíficos em seu íntimo,reconhecem as possibilidades de uma paz maior no mundo. O mestreLiu I-ming, do século XVIII, escreveu que, durante gerações detaoístas, o equilíbrio pessoal e a responsabilidade pessoal foramsinônimos: "O Grande Caminho não é transmitido às pessoas semconsciência social".2

Com muita freqüência, o materialismo e o ego fragmentamnosso mundo em facções opostas, fazendo-nos perder a visão dotodo. Equilibradas, as pessoas Tao transcendem as demandas do ego.Vêem além dos valores materialistas que aprisionam tantas pessoasem ciclos de competição e escassez.

Ch'iang, o termo chinês para um ego teimoso, também significaorgulhoso, voluntarioso, inflexível, rígido. Ser teimoso e inflexível écarecer da sabedoria fluida do Tao. As pessoas Tao praticam hsu, ouhumildade, que também significa liberalidade ou vazio.3 Tirando seus

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egos do caminho, elas podem tomar medidas apropriadas e mudarde rumo, quando necessário. Humildes e flexíveis, estão sempreprontas para perguntar a si mesmas: "E se eu estiver errado(a)?"

PARA SUPERAR OS ANTIGOS ESTEREÓTIPOS:A LIDERANÇA COM O TAO

Lao Tsé rejeitou os líderes que governam pela força,intimidação ou culto à personalidade, reduzindo as outras pessoasa "seguidores". Reconhecendo a destruição causada por egos com-bativos, o perigo da devoção cega a líderes carismáticos, ele nospede para descartar nossos antigos estereótipos, afirmando, emvez disso, uma sabedoria além da competição, uma liderança feitade cuidados e humildade.

O líder Tao não é uma superestrela, que hipnotiza os outroscom a força da retórica ou feitos espalhafatosos. Enquanto pessoasde menor importância anseiam pelo poder e pelo domínio, os líderesTao rejeitam as hierarquias competitivas considerando-as pouconaturais. Constroem redes percebendo que são todos parte da teiainterligada da vida. Como veremos neste capítulo, as pessoas Taolideram com uma nova combinação de talentos: cooperação,percepção dos ciclos, coragem e simplificação. Afirmando o que LaoTsé chamava "o espírito do vale", elas se inspiram na infinitasabedoria e no poder do Tao.

A LIDERANÇA ATRAVÉS DA COOPERAÇÃO

Os líderes progressistas, em qualquer campo, jamais se escon-dem atrás do elitismo e das hierarquias. Lideram através dacooperação. Vivendo o Tao, trabalham com os outros.

"A pessoa mais sábiaConfia no processo,Sem procurar controlar nada;Aceita tudo como se apresenta,Não vive para realizar ou possuir,Mas simplesmente para serTudo o que pode serEm harmonia com o Tao."

(TAO 2)

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Eleanor Roosevelt exemplifica a liderança através dacooperação. Como primeira dama dos Estados Unidos viajou portodo o país e, depois pelo mundo, tomando-se a grande auxiliar deseu marido. Caminhou através dos milharais do Nebraska e dasfavelas urbanas, visitando operários bóias-frias na Califórnia,desempregados em Detroit, mineiros na Virgínia Ocidental e criançasnegras no Alabama, sempre com os olhos brilhando de bondade epreocupação.

Durante toda a Depressão, manteve o marido informado dosproblemas das pessoas. Armando redes de amizade e cooperação,ela descobriu pessoas talentosas convidou-as a ir à Casa Branca, a fimde trabalhar com o Presidente. Durante a Segunda Guerra Mundial,seus esforços abarcaram o globo. Visitou soldados e chefes de Estado,levando sua mensagem de conforto e compreensão a todo um mundodilacerado pela guerra.

Em 1945, depois da morte de Franklin Roosevelt, o PresidenteTruman deu-lhe o cargo de delegada das Nações Unidas. Primeiro elahesitou, duvidando de sua qualificação para o posto. Mas suacompetência, seu calor pessoal e espírito de cooperação logo eviden-ciaram que ela era a pessoa indicada. Durante um debate com AndreiVishinsky, da União Soviética, Eleanor Roosevelt dirigiu-se à As-sembléia Geral, defendendo os direitos das pessoas desalojadas. AAssembléia votou a favor dos direitos dos refugiados, mas, duranteanos, Vishinsky protestou. Porém, em 1954, o Embaixador e a Sra.Vishinsky compareceram à festa dos 70 anos de Eleanor Roosevelt,confirmando sua habilidade em sustentar opiniões fortementediferentes em política sem animosidade pessoal.

Em 1946, ela se tornou presidente da Comissão dos DireitosHumanos das Nações Unidas. Seu incansável trabalho e espírito decooperação resultaram na Declaração Universal dos DireitosHumanos, aprovada em 1948 depois de longos debates, pela As-sembléia Geral. Em 1952, sem ser indicada para o cargo pelo Presi-dente Eisenhower, ela começou a trabalhar como voluntária dasNações Unidas. Quando Eleanor Roosevelt voltou a ser delegada dasNações Unidas, em 1961, por indicação do Presidente Kennedy, todaa Assembléia recebeu-a de pé. Nenhum outro delegado foihomenageado dessa maneira, uma demonstração de cooperação emescala global.

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A OBSERVAÇÃO DOS CICLOS: OLHAR E ESCUTAR

Os líderes Tao passam seu tempo observando e escutando. Paraver com clareza, devemos olhar além de nós mesmos. Para escutar,precisamos primeiro ficar quietos.

Em sua quietude, as pessoas Tao aprendem a sabedoria danatureza, percebendo que:

"Quando nos sentimos parte da natureza,Vivemos em harmonia."

(TAO 13)

Os ciclos da natureza ocorrem dentro e em torno de nós. Agircom sabedoria é harmonizar-se com esses ciclos. Este é a base paratoda harmonia, pessoal ou planetária. As pessoas sábias não ignoramque os princípios do Tao prevalecem na ecologia, na sociedade e nosindivíduos.

A descrição que Bill Devall e George Sessions fazem daconsciência ecológica também se aplica à liderança Tao. Consiste emperceber que "tudo está ligado", tratando-se também de "um processode aprender a apreciar o silêncio e a solidão e a redescobrir comoescutar. É aprender como ser mais receptivo, confiante, ter umapercepção holística", cooperativa e não exploradora.3

Os líderes Tao ouvem os adversários e também seus amigos.Conscientes das energias positivas e negativas, yin e yang, aprendemde ambos. Voltando-se para dentro, escutam também a si mesmos,confiando em sua intuição, em sua orientação interior.

Dag Hammarskjóld, ex-Secretário Geral das Nações Unidas,praticava essa lição do Tao. Pensativo, contemplativo, intensamentevoltado para sua vida pessoal, em meio a uma vida pública ocupada,ele sabia como era importante ouvir. Como escreveu em seu diárioíntimo, Markings (Notas): "Quanto mais atentamente escutarmosnossa voz interior, melhor ouviremos o que soa do lado de fora".

Pelo fato de escutarem, os líderes Tao podem entender esolucionar problemas complexos. Sua observação paciente trazmaior penetração e empatia. Os colegas de Hammarskjóld comen-tavam todos sua paciência excepcional ao escutar as pessoas, e eleescreveu que "a abertura para a vida concede uma penetração velozcomo o relâmpago na situação de vida de outras pessoas".

Em tempos de crise, Hammarskjöld trabalhava de dezoito avinte horas por dia, durante semanas a fio, mantendo sua serenidade.Como Secretário Geral, durante os anos tensos da Guerra Fria,

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solucionou muitas crises internacionais, ganhando o respeito doslíderes, tanto nos Estados Unidos como na União Soviética.

Como homem intensamente espiritual, Hammarskjöld escreveusobre o "cepo não lapidado", praticando a sabedoria do distan-ciamento. "Permaneça no centro, que é seu e também de toda ahumanidade", disse ele. Pelos objetivos que ele dá a sua vida, faça omáximo que, a cada momento, lhe for possível. Também haja sempensar nas conseqüências e sem buscar nada para si mesmo."8

Cidadão dedicado e funcionário público do mundo, ele afirmou, emsua vida, a visão mais ampla, a disciplina pessoal e a força íntima doTao.

A LIDERANÇA CORAJOSA

O Tao nos diz:

"Um homem com coragem exterior ousa morrer.Um homem com coragem interior ousa viver."

(TAO 73) 9

Um homem que exemplificou a coragem do Tao foi RaoulWallenberg, jovem diplomata sueco que sozinho, salvou as vidas de100.000 pessoas, durante a Segunda Guerra Mundial.

Numa noite escura em Budapeste, em outubro de 1944, um tremestava sendo carregado com judeus húngaros destinados às câmarasde gás. De repente, um rapaz alto subiu para o telhado do trem,distribuindo documentos suecos para as pessoas desesperadas —seus passaportes para a vida e para a liberdade.

Diariamente, Wallenberg arriscou sua vida para salvar pessoascondenadas pelos nazistas, interceptando as brutais marchas para amorte, tomando judeus sob sua proteção, levando-os para casasseguras e enfrentando a ira de Adolf Eichmann, que publicamente,jurou matá-lo. Nascido de uma próspera família de banqueirossuecos, ele deixou uma vida de facilidades para seguir o impulso deseu coração, fazendo tudo o que podia para impedir as atrocidades.Parecia estar em toda a parte, enfrentando os nazistas nas ruas,aparecendo quando chegavam à noite para levar as pessoas.

Wallenberg não tinha nenhuma proteção além de sua imu-nidade diplomática, nenhuma equipe ou apoio oficial de seu gover-no. Confiou em sua inteligência, habilidade, capacidade denegociação. E ainda assim realizou milagres com seus documentos

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forjados, sua coragem e força de vontade. Socorria os judeushúngaros como um anjo da noite, autorizado por sua consciência.

Em janeiro de 1945, quando os russos entraram em Budapeste,descobriram esse solitário diplomata sueco, que ficara para trás durantea libertação aliada, decidido a proteger seu povo. Incapazes de entendero que estivera fazendo — por que um capitalista cristão sueco estariasalvando judeus? — detiveram-no, convencidos de que era um espião.

O governo sueco pediu sua libertação em 1945, e, novamente,em 1946. Sua família ficou preocupada. Informaram-lhes que logo eleseria libertado, que morrera no cativeiro, que estava vivo e logo seriasolto. Mas Wallenberg jamais voltou. Informações de outrosprisioneiros russos deram conta de que um homem sueco,homenageado pelos que o conheciam, ainda estava vivo em algumaprisão distante, no Gulag. Foi visto em 1959,1963 e até em 1975. Maso governo russo permaneceu silencioso.

Ficamos com a lembrança de sua coragem diante da adver-sidade, a gratidão de centenas de milhares de pessoas que ele salvoue o mistério da vida de Raoul Wallenberg. Tendo libertado tantasoutras pessoas, foi depois cruel e ironicamente, apanhado na rede deintrigas de uma guerra fria. Mas seu exemplo brilha, como a luz deuma estrela distante, contra a escuridão. Um santo leigo, com aCoragem interior" do Tao, ele ousou salvar as vidas de outras pessoase afirmar, pagando um grande preço pessoal, o mundo mais humano,justo e harmonioso para o qual podemos esperar um dia evoluir.

O LÍDER COMO FACILITADOR

Os líderes, tranqüilamente dão poderes a outros. Lao Tsé nos diz:

"Quando as pessoas Tao lideram e o trabalho é realizado,As pessoas dizem: 'Fizemos isso nós mesmos'."

(TAO 17)

Buscando inspiração nessa citação do Tao, o psicólogo CarlRogers carregava-a em sua carteira como um lembrete diário. Em suaterapia centralizada na pessoa e na negociação da paz, ele viu seupróprio papel na tradição taoísta do líder como facilitador.

Criando uma atmosfera de confiança e cooperação, afirmandoa visão mais ampla, esses líderes trabalham em equipe para alcançaro bem geral. Ajudam os outros a crescer como indivíduos, a setornarem mais confiantes, competentes e bem-sucedidos. Trata-se de

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um processo contínuo de engajamento pessoal, jamais de umaquestão de ego, comportamento espalhafatoso ou fama pessoal.

Os líderes Tao não são bem-sucedidos para si mesmos. Seupoder não é pessoal, mas interpessoal. Esse tipo de líder é bem-sucedido quando o grupo trabalha junto, quando seus membrossobressaem.

James Treybig, fundador da Tandem Computers, segue essecaminho porque também dá bons resultados nos negócios. Desdeseu início, em 1974, a Tandem floresceu, tendo uma visão da equipeque estimula o moral, e criatividade e a produtividade dosfuncionários.

Lemos em Megatrends (Grandes tendências) que, na empresatradicional autoritária, com uma cúpula de poder e subordinados, osempregados americanos "geralmente desistem dos direitos mais fun-damentais ao livre discurso e ao processo justo... em seu dia-a-dia detrabalho"10. Isto não acontece na Tandem, que promove uma atmos-fera igualitária, de abertura e confiança. Foram-se os antigos escalõeshierárquicos e seus símbolos: sala de almoço, toaletes para executivose muralhas de intimidação. Na Tandem todos chamam Treybig peloprimeiro nome, "Jimmy", e sabem que sua porta está aberta. Ele temum escritório que não é maior do que o de nenhum gerente. Quandoconvidados visitam a Tandem, recebe-os na sala de reuniões. ATandem enfatiza a abertura e a comunicação. A tecnologia eletrônicamais avançada — correspondência por computador, uma rede detelevisão — e freqüentes boletins da empresa informam aosempregados o que está acontecendo. Um Fórum de criatividaderecompensa as pessoas pelas novas idéias. Através de opções porações, os empregados tornam-se co-proprietários da empresa, man-tendo-se informados sobre a situação financeira da Tandem atravésde teleconferências quinzenais. Esta participação encoraja a lealdade,a maior produtividade e maior atenção para a solução de problemas.

Muitas decisões da Tandem são tomadas por consenso. Opessoal da maioria dos departamentos reúne-se com freqüência e,muitas vezes, um departamento inteiro entrevista os candidatos aempregos para ver se entram em bom entendimento com a equipe."Encontros de pauta" são mantidos regularmente, para que osempregados discutam as novas providências.

Essa visão de equipe é equilibrada, com respeito pela in-dividualidade. Os empregados podem escolher horas de trabalhoflexíveis. Os funcionários da Tandem tendem a trabalhar com muitoempenho, assim a empresa lhes dá seis semanas de férias pagas, a

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cada quatro anos, para renovação e crescimento pessoal. Durante osúltimos anos, os empregados da Tandem fizeram de tudo nas férias:reformar a casa, visitar os parentes, estudar música, aprender umidioma estrangeiro ou praticar alpinismo no Himalaia. Um homemfez um curso de culinária para gourmets no Cordon Bleu, em Londres.Outro passou o tempo em casa, com seu filho recém-nascido.

Uma vida equilibrada é outro princípio importante da Tandem.Os empregados têm um seguro de saúde abrangente, incluindoatendimento de dentistas e oculistas. Assistem a seminários grátis, aomeio-dia, sobre questões de saúde, como estresse, colesterol, dieta eAIDS. A Tandem também oferece uma piscina da companhia, salasde levantamento de pesos, quadras de tênis e instalações paraginástica, em muitos locais.

A Tandem alimenta de muitas formas o espírito de comunidadee comunicação entre os empregados, desde um encontro paraalcançar um consenso até "festas de pipoca" semanais. Toda sexta-feira, às quatro da tarde, as pessoas se reúnem para comer pipoca,batata frita e beber cerveja e refrigerantes, partilhando idéias e cons-truindo melhores relações de trabalho. E essas diretrizes trazem suasrecompensas. A Tandem tem um dos índices mais baixos derotatividade de pessoal e constrói os computadores mais confiáveisda indústria.

Reconhecendo seu papel na comunidade humana mais ampla,a Tandem oferece "férias de serviço" especiais. Os empregadospodem passar algum tempo fora, com despesas pagas para si mesmose suas esposas, a fim de realizar projetos humanitários. Alguns traba-lharam como voluntários em abrigos locais; outros foram para a Áfricaensinar novos métodos agrícolas ou construir escolas em Appalachia.Dessa maneira a Tandem apoia o trabalho a favor da Justiça Social,como parte integral da vida.

Facilitando o trabalho de equipe, a iniciativa pessoal, oequilíbrio e a responsabilidade social, Jimmy Treybig aplica valorescooperativos ao local de trabalho, ajudando as pessoas a levar vidasmais saudáveis e criativas, enquanto constroem uma empresa bem-sucedida, que continua a obter excelentes resultados.

A LIDERANÇA TAO

Você não precisa ser executivo de empresa, diplomata ou figurapolítica para liderar com o Tao. Você pode ajudar a construir ummundo mais pacífico praticando os princípios do Tao em sua vida e

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em seu trabalho. Muitos outros já fizeram isto. No início da décadade 1980, o Instituto de Pesquisa Stanford descobriu que mais de 15milhões de americanos adultos estavam preferindo vidas com maiorsimplicidade, cooperação, percepção ecológica e crescimento pes-soal. O número aumenta constantemente, causando uma mudançaem nossa maneira de viver e criando ciclos mais pacíficos em nossasociedade.

PERGUNTA TAO

Quando assumimos papéis de liderança em nossa casa e notrabalho — como pais, professores, conselheiros, ministros, geren-tes, líderes de negócios e da comunidade — precisamos perguntara nós mesmos: como posso ajudar a criar uma atmosfera de maiorconfiança e compromisso? Como posso ajudar os outros a dar omelhor de si? Trabalhar com os ciclos? Criar uma harmonia maior?

Podemos aprender ouvindo e observando, prestando atençãoaos ciclos do Tao. Também podemos aprender com os outros. Todosconhecemos pessoas que são exemplos desse tipo de liderança.

EXERCÍCIO PESSOAL

• Saia sozinho(a) por alguns minutos, relaxe, feche os olhos e inspireprofundamente.

• Agora, pense em alguém que lhe tenha ensinado a liderança como Tao. Veja essa pessoa com os olhos de sua mente.

• Como é que essa pessoa lidera com o Tao? O que ele ou ela faz?Concentre sua atenção nos detalhes. Veja-os tão nitidamente quan-to possível.

• O que você pode aprender com isso?• Como você poderia aplicar essa lição a sua vida?• Veja a si mesmo(a) fazendo isso. Como seria? Sente? Experimente

tudo em sua imaginação, tão nitidamente quanto possível. O quevocê faria e diria?

• Aceite a lição com gratidão. Diga para si mesmo(a): "Obrigado. Eulidero com o Tao."

• Abra os olhos, espreguice-se e volte a suas atividades, consciente deque você é um líder, criando novos ciclos positivos em seu mundo.

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Liderar com o Tao é um contínuo desafio. Como criar harmoniacom as experiências conflitantes em torno de nós? Como afirmar tantoo espaço interior como o exterior?

A resposta está em nosso uso consciente e criativo da energia.Conscientes dos ciclos da natureza, desenvolvemos nossa visão.Aprendemos quando devemos agir, quando devemos nos distanciar,tudo isto a partir da visão do lugar que ocupamos no quadro maisamplo.

Enfrentando um mundo de conflito e confusão, devemos noslembrar de permanecer centralizados, de manter nosso equilíbriointerno. Centralizados, resistimos. Como um mestre aikido, canaliza-mos um tremendo poder. Sem equilíbrio, nosso entusiasmo podefacilmente tornar-se mal orientado, prejudicando nossa saúde ou nosarrastando para o fanatismo.

Não devemos nunca deixar uma causa, uma organização, umacarreira ou um relacionamento eclipsar nossas vidas a ponto deesquecermos quem somos. Devemos fluir com as correntes que estãoem movimento em nosso mundo, porém, sem jamais submergir nelas.

Tanto quanto possível devemos lembrar-nos de considerar osmodelos mais amplos, para equilibrar nossas necessidades com as doplaneta, sem praticar nenhuma violência a nós mesmos ou aos outros.Respeitando o processo da vida, cuidadosos com a nossa regulagemde tempo, lideramos com o Tao, criando novas possibilidades paranosso mundo.

Afirmação

Sei agora que minha vida é tranqüila e harmoniosa.Lidero com o Tao.Escuto cuidadosamente, consciente dos cilos dentro e em

torno de mim.Coopero com eles.Ajo com coragem e confiança.Trabalho com minha equipe pelo bem do conjunto.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

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NOTAS

1. Huang, Embrace Tiger, Return do Mountain, pp. 141.2. Lui I-Ming, Awakening to the Tao, pp. 70, 81.3. Yutang, The Wisdom of China and índia, pp. 591, 622.4. Ver Siu, The Man of Many Qualities, p. 68.5. Bill Devall e George Sessions, Deep Ecology, p. 8.6. Dag Hammarskjóld, Markings, trad. de Leif Sjoberg e W.H. Auden (Nova

York: Alfred A. Knopf, Inc.; Londres: Faber and Faber Ltd., ©1965), p.13. Esta citação e as que se seguem foram usadas com permissão doseditores.

7. Hammarskjóld. Markings, p. 13.8. Hammarskjóld, Markings, p. 157.9. Witter Bynner, trad. de The Way of Life According to Lao Tzu (Nova York:

Putnam, 1972), p. 101. ©1944 de Dorothy Chauvenet e Paul Morgan;Copright renovado em 1972. Republicado com permissão de Harper &Row Publishers, Inc.

10. John Naisbitt, Megatrends. Ten New Directions Transforming OurLives(Nova York: Warner, 1982), p. 181.

11. Pelas informações sobre Jimmy Treybig e a Tandem Computers, sougrata a Jeri Flynn, Gerente, Relações Públicas da área Financeira, Tan-dem Computers, Cupertino, Califórnia.

12. Fritjof Capra e Charlene Spretnak, Green Politics (Nova York: Dutton,1984), p. 195.

Ilustração da Parte 4. O caracter chinês correspondente a tz'u, oucompaixão, a empatia do Tao que abrange a vida.

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O CAMINHODA VIDA

PARTE

4

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CAPÍTULO 18

COMO MANTER A

UNIDADE

A pessoa Tao abraça a unidadeE vive em paz segundo seu modelo.

(Tao 22)1

O Tao nos ensina a abraçar a unidade, a perceber que, por trásde toda a mudança aparente, a vida é essencialmente una.Meditando regularmente, observando a natureza e ouvindo

sua voz interior, a pessoa Tao volta para essa unidade que a tudoimpregna. Os chineses chamam a esta prática de shou-yi, ou"manutenção da unidade", que é o tema de toda a arte taoísta e a liçãodeste capítulo/.

O RECONHECIMENTO DO UNO

As modernas descobertas da física, psicologia e ecologiareforçam a lição do Tao em torno da unidade. A física redefiniu nossavisão do universo. Não mais o vemos como uma coleção de partesisoladas, mas como um todo unificado. A vida inteira é interligadapelos modelos dinâmicos de energia.

A psicologia junguiana reflete essa visão de unidade, afirmandoque, no nível inconsciente, todos participamos de uma percepçãounificada, o inconsciente coletivo, que contém símbolos e sabedoriacomuns a toda a humanidade. Carl Jung ensinou seus seguidores adesenvolver a intuição como um meio para alcançar essa sabedoriacoletiva. Os analistas junguianos vêem a sincronicidade — aquelascoincidências, aparentemente inexplicáveis, que ligam nossas vidas

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— como uma nova evidência desse inconsciente coletivo3. As pessoasse encontram inesperadamente, depois percebem que têm muita coisaem comum. Duas pessoas dizem a mesma coisa, ao mesmo tempo. Antesde você pegar o telefone e ligar para um amigo, este lhe telefona. Paraos junguianos, essa sincronicidade mostra que fazemos parte de algumacoisa mais ampla do que nós mesmos.

Nossos atuais problemas ecológicos — poluição, chuva ácida eo esgotamento da camada de ozônio — lembram-nos, diariamente,que não somos entidades isoladas, e sim parte de uma complexa redede vida. Qualquer ação descuidada — um vazamento de óleo, aliberação de produtos químicos tóxicos — produz reações danosas,com repercussões de alcance mais longo na cadeia da vida. Durante asúltimas décadas, ignoramos nossa união com a natureza. Violandodespreocupadamente o meio ambiente, colocamos em risco a nósmesmos e nosso futuro.

Nossos próprios erros nos colocam diante da unidade que ig-noramos. A poluição industrial e a chuva ácida ultrapassam as fronteirasnacionais, afirmando a nossa unidade subjacente. O Efeito Estufa ameaçaperturbar o clima do mundo inteiro, porque estamos cobrindo a terra deconcreto, dirigindo automóveis que vomitam quantidades maciças dedióxido de carbono e destruindo as florestas tropicais, tudo isto com umarapidez alarmante. Os fatos cada vez mais concretos tornam impossívelnegar que nós e outras formas de vida somos parte de um corpo coletivoconhecido como planeta Terra.

Este capítulo irá ajudá-lo(a) a recuperar a unidade do Tao. Vocêpraticará shou-yi (manutenção da unidade) numa meditação dirigida.Aprenderá como evitar a fragmentação, essas distrações que nos impedemde ver o todo, e descobrirá como a unidade com o Tao ajuda a fazermudanças positivas no mundo.

O senso de unidade com toda a criação pode ser mais bem atingidaatravés da meditação ou da contemplação, que despeita nossos poderesde intuição. Nosso intelecto analisa e separa a realidade em categoriaslógicas, mas o Tao transcende a razão. Como a água, contém tremendaforça. Alimenta, mas não pode ser capturado. Porém, pode ser experimen-tado através da faculdade de intuição da metade direita de nosso cérebro.

EXERCÍCIO PESSOAL: MEDITAÇÃO DIRIGIDA

• Vá para um lugar tranqüilo, onde não o(a) perturbem. Relaxe, afrouxesuas roupas, chute para longe os sapatos e sente-se, ou então deite-seconfortavelmente no chão.

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• Suavemente, massageie qualquer parte de seu corpo que estiver tensa,depois relaxe, feche os olhos e respire lenta e profundamente.

• Imagine a si mesmo(a) em pé junto ao mar, olhando as ondasfluírem devagar, aproximando-se da praia e recuando. Em seusmodelos alternados de yin e yang, a maré segue os inevitáveisritmos da natureza.

• Sinta o cheiro da maresia e a brisa suave que vem da água. O borrifodelicado toca seu rosto, unindo-o com o oceano, deixando-o emunião com a natureza, em união com o Tao.

• Olhe em direção ao horizonte. Veja a larga extensão do oceano, asua frente, estendendo-se tão longe quanto o olho alcança, maisresistente e poderoso do que os séculos da humanidade quepercorreu suas praias e cavalgou suas ondas. Este é o poderduradouro do Tao: fluido, nutriente, a fonte de toda a vida.

• Ouça as ondas que se quebram, os gritos distantes das gaivotasvoando em círculos lá no alto, criaturas da terra, do mar e do céu.Sinta seu espírito fluir com as ondas e elevar-se com as gaivotas,sabendo que você está em união com o vento e com as ondas, emunião com o Tao.

• Colocando a mão no pulso, sinta sua própria pulsação que sealterna, em harmonia com os ritmos do Tao, os ritmos do mar. Sãosuas correntezas, sua força vital, partilhando a mesma salinidade,em união com o mar.

• Saiba que, para onde quer que você vá, o que quer que você faça,estará em união com o oceano e com tudo o que ele toca: os riosque fluem das montanhas para o mar, a vida dentro e em tornodele, os pássaros marinhos, os peixes e o coral, os minúsculoscrustáceos, as gigantescas baleias e as pessoas que estão em suaspraias distantes.

• Sinta a si mesmo em união com o oceano, enquanto ele abraça esteplaneta, estendendo-se pelo Atlântico afora, com a Europa e aÁfrica do outro lado, chegando ao noite pelo Ártico e ao sul atravésdo Estreito de Magalhães, até o Pacífico. Então as águas fluem parabaixo, até a Antártica, e novamente para o Atlântico, unindo todaa vida num abraço azul envolvendo o pequeno planeta azuladoque chamamos de lar. Saiba que está em união com o planeta, emunião com o Tao.

• Quando estiver pronto(a), abra os olhos devagar e se espreguice,sentindo-se relaxado(a), em paz, cheio(a) de nova energia einspiração.

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Seja meditando sobre o oceano, na imaginação, ou completando-o,na experiência real, unimo-nos com o infinito poder e a presença doTao. Em união com o Tao, vivemos a partir de nosso centro maisprofundo, nossas ações guiadas por duradoura sabedoria e poder.

MISTICISMO PRÁTICO: AÇÃO POSITIVA

Os taoístas são conhecidos por seu misticismo prático, pelaforma como unem espiritualidade e ação social. Enquanto os místicoscristãos ou maometanos buscam a união com Deus, os taoístasbuscam a união com Deus na natureza. Estar em união com anatureza significa agir na natureza, harmonizando-se com os ciclosnaturais do mundo. Seguir o Tao leva as pessoas, naturalmente, dacontemplação para a ação.

O naturalista americano John Muir escreveu que, "na maioria,as pessoas passam pelo mundo, sem penetrar realmente nele — nãotêm nenhuma solidariedade para oferecer, nem capacidade derelacionamento —, não se misturam, estão separadas e rigidamentesozinhas, como esculturas de pedra polida, tocando-se, masseparadas".5

O senso de isolamento do próprio Muir levou-o a escrever TheMountains of California (As Montanhas da Califórnia), a fundar oClub Sierra, a fazer a campanha no Congresso pela preservação denossas regiões naturais e a criar o Parque Nacional Yosemite. Sendouma pessoa Tao, profundamente enraizada na natureza, o senso deunidade de Muir levou-o à ação positiva.

Seguindo o Tao, desenvolvemos uma paz interior maior epromovemos a paz em torno de nós, porque sabemos que os indivíduos,a sociedade e a natureza estão todos unidos. Como os mestres budistas,ou Bodhisattvas, as pessoas Tao não podem encontrar a verdadeira pazsozinhas, porque nada vive separado. Como Gandhi, uma pessoa Taosabe que o esforço exterior só é bem-sucedido quando flui de umaprofunda consciência íntima, que a paz íntima é incompleta sem a açãocorrespondente pela paz em nosso mundo.

O ecologista Tom Moss também agiu de forma positiva. A partirde seus estudos na costa norte do Pacífico, percebeu que os pássarosnativos e a vida selvagem estavam desaparecendo, porque perdiamseu habitat natural. Em janeiro de 1988, ele começou sua campanhaindividual para restabelecer a ecologia nativa da área, substituindo apeça que faltava no desenho ao recompor a paisagem natural doParque Estacionai de Asilomar.

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Durante anos, as dunas que dão para o Pacífico azul haviam sidoinvadidas pelo capim e pelas ervas-do-gelo, plantadas por pessoasbem-intencionadas para evitar a erosão. Essas plantas foram expulsandoo capim e as flores selvagens locais, privando os pássaros e os insetosde seu habitat. Removendo o capim invasor e a erva-do-gelo, Tomcomeçou a plantar sementes em sua estufa e mudas de vegetação nativanas dunas — a verde e emplumada artemísia, a cauda-de-largatonativa, com suas flores cor de laranja vivo, pequenas verbenas da areia,com suas folhas em forma de espadas e as amarelas margaridas sel-vagens, uma espécie ameaçada de extinção e protegida pela lei. Cobriuas plantinhas com tela de arame para protegê-las, marcando-as com fitascoloridas e observando-as atentamente para ver se pegavam. Cons-truindo novos caminhos para os visitantes do parque, afixou letreiros:"Área frágil. Fique nas tábuas". Montou uma exposição para explicar oque estava fazendo e plantou mais mudas, milhares delas por ano.

Agora, as dunas estão voltando à vida, uma paisagem de suavestons pastéis ao longo das praias do Pacífico. Várias tonalidades de verdeacrescentam tons sutis à areia dourado-pálido: o verde e o azul daartemísia, o verde suave da verbena, a folhagem verde vivo das papoulasda Califórnia, tonalidades sutis de verde e castanho amarelado, acen-tuadas por minúsculas flores laranja e amarelo. Pássaros volteiam o céue borboletas imensas voam por entre as flores. O cenário inteiro é deplenitude e paz.

Com seus letreiros e exposições, Tom se dá aos demais, em seuhabitat costeiro. Muitas pessoas tornaram-se mais conscientes da frágilbeleza do meio ambiente, mais conscientes da sua união com a natureza.Em minha última viagem a Asilomar, encontrei uma mulher local quetrabalhava como voluntária na estufa. "Você tem que fazer alguma coisapara ajudar a preservar o meio ambiente", disse ela, explicando que vêa natureza como uma extensão de si mesma. "É uma contribuiçãoduradoura que estará aqui por muito mais tempo do que eu".

AFIRMAÇÃO DA UNIDADE DE NOSSO MUNDO

O projeto de restauração da duna é apenas um exemplo decomo nossa visão de totalidade conduz a uma ação positiva. Háoutros exemplos em sua comunidade e novas oportunidades em suaprópria vida. Como você pode, ativamente, "manter a unidade" emsua experiência? Descubra, neste exercício.

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Page 119: O Tao Da Paz - Diane Dreher

EXERCÍCIO PESSOAL

• Descubra um espaço tranqüilo, feche os olhos, relaxe e respire trêsvezes, profundamente.

• Agora, pergunte a si mesmo(a): "Como posso manter melhor aunidade em minha vida? Existe alguma coisa que eu possa fazerpara afirmar maior saúde e totalidade em meu mundo?" Enquantovocê faz a si mesmo as perguntas a seguir, uma oportunidade deação se apresentará.

• Em meu meio-ambiente. o que posso fazer para promover maiorunidade? Como posso cooperar com as plantas e animais nativosna minha área? Do que eles precisam, realmente neste momento?Como posso ajudar?

• Em meu trabalho: o que posso fazer para promover maior unidade?Qual a minha visão da totalidade? Será que deixei de lado alguma coisa,ou alguém? Como posso promover maior cooperação e entendimento?Será que posso comunicar-me mais claramente? Partilhar minhas idéiascom alguém? Incluir uma nova pessoa num projeto?

• Em meus relacionamentos: o que posso fazer para promover maiorunidade? com meus amigos? minha família? minha comunidade? meusvizinhos no planeta? Posso comunicar-me mais claramente? Partilharmais meu tempo e energias? Dedicar mais tempo à renovação pessoal?Expandir meu círculo para incluir outras pessoas?

• Quando descobrir sua oportunidade para uma ação positiva, vizualizevocê mesmo(a) fazendo o que escolher fazer. Vizualize a ação com-pletada. Sinta as saudáveis energias e experimente uma visão maiorda unidade.

• Agora, abra os olhos e empenhe-se nessa ação pessoal. Saiba que,enquanto você age, libera novas energias saudáveis no mundo e setorna, de forma mais forte e consciente, uma pessoa Tao.

PARA EVITAR A FRAGMENTAÇÃO

O Tao nos diz:

"Todas as coisas voltam para o TaoEnquanto os rios correm para o mar."

(TAO 32)

Somos todos parte da unidade, mas algumas vezes, distraímo-nos com detalhes. Apanhados num dos rios, perdemos nossa visão

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do oceano. Na vida moderna, isto pode acontecer com muitafreqüência.

Um risco é uma superespecialização. Buckminster Fuller, certavez, fez uma descoberta notável, enquanto assistia a uma conferênciada Associação Americana para o Progresso da Ciência. Lendo oprograma, notou que havia dois ensaios em campos completamentediferentes, cada qual discutindo o fenômeno da extinção. Sem saberdo trabalho um do outro, um biólogo estudara a extinção entreespécies e um antropólogo estudara a extinção das tribos indígenas.Ambos haviam chegado à mesma conclusão: a causa era asuperespecialização, que limita nossas opções e enfraquece nossacapacidade de responder aos desafios.

Como podemos evitar a superespecialização? Esforçando-nospara permanecer equilibrados. Devemos resistir às pressões culturaisque nos reduziam a um papel ocupacional ou social. Para afirmarnossa totalidade, precisamos reservar tempo para meditação, exer-cícios, passatempos criativos, e lembrar-nos também de seguir nossospróprios ritmos.

Outro risco para a "manutenção da unidade" é uma preo-cupação limitada com nosso grupo ou problema local, com exclusãode todo o resto. Um exemplo disto aconteceu nas cidades-estadositalianas. Florença, Gênova, e Veneza tomaram-se centros mundiaisde comércio e inauguraram o florescimento da Renascença. Entretan-to, quando a Inglaterra, a Espanha e a França tornaram-se naçõesunificadas, a força da Itália tornou-se sua maior fraqueza, retardandoo nacionalismo italiano por séculos. Tão fortes eram suas partes quea Itália não conseguiu unificar-se como país durante séculos. Aindahoje, o regionalismo e o partidarismo dominam a política italiana.

Política e pessoalmente, alguns indivíduos identificaram-se detal forma com um grupo que deixam de ver o conjunto mais amplo.O compromisso emocional para com um relacionamento, a família,a igreja ou a carreira é admirável, mas não quando bloqueia nossavisão da comunidade em conjunto.

Por demasiado tempo, o extremo nacionalismo impediu-nos dedesenvolver uma visão global. Podemos não concordar com os outrosgovernos. Podemos nem mesmo gostar um do outro. Mas nãopodemos fugir do fato de que somos todos vizinhos, neste planeta.Bebemos a mesma água e respiramos o mesmo ar que as outras vidasque habitam o planeta Terra. Se não chegarmos a perceber isso,estaremos repudiando a unidade, negando o Tao.

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VIVENDO A UNIDADE

A lição de unidade do Tao, nos leva a buscar a paz, não nafragmentação ou no isolamento narcisístico do mundo, mas numaentusiástica participação nele. Como disse Mark Satin, em New AgePolitics (Política da nova era). "A cura do ego de cada um conduz quaseinevitavelmente a um sentido de unidade com outros seres e a um desejode curar a sociedade". Seguindo o Tao, nossa procura de equilíbrio etotalidade estende-se para fora, guiando todas as nossas ações.

Curar o planeta, através de um reconhecimento da unidade, éa missão de John Randolf Price, homem de negócios do Texas e autorde The Planetary Comission (A comissão planetária). Em 1984, Pricedecidiu que, se um número suficiente de pessoas se reunissem parameditar, podiam "mudar a consciência coletiva da humanidade".Elaborou um plano — ao meio-dia, hora de Greenwich, em 31 dedezembro de 1986, as pessoas do mundo inteiro meditariam, embusca da paz-.

Num movimento popular com a força de um maremoto, Pricee sua mulher, Jan, difundiram a mensagem, falando em igrejas. Nãohavia nenhum levantamento de fundos nem publicidade oficial, masos jornais publicaram uma matéria a respeito, em dezembro de 1986,e mais de 500 milhões de pessoas, em 77 países, aderiram ao planode Price e se reuniram para meditar, a fim de ajudar a curar o planeta.

Desde então, o mundo testemunhou um crescente desejo depaz, aberturas na cooperação internacional e melhoria nas relaçõesentre Estados Unidos e União Soviética. Coincidências? Price nãopensa assim. "Quando tantos milhões de pessoas se reúnem, de umasó vez, com um sentido de paz e um ideal espiritual em seuscorações", disse ele, "deve haver conseqüências".

As Meditações para Curar o Mundo são agora realizadas anual-mente, ao meio-dia, hora de Greenwich, em31 de dezembro, e o objetivode Price é atingir dois bilhões de pessoas, espalhando a mensagem dapaz através de um crescente reconhecimento de nossa unidade.9

Como John Randolph Price, podemos alcançar surpreendentesresultados inspirando-nos na unidade do Tao. Em nossas vidas, emmomentos de meditação, reconhecimento ou ação consciente, tor-namo-nos parte dessa poderosa unidade.

Observando, sob o fluxo e refluxo da vida cotidiana, o oceanoda unidade que flui dentro e em torno de nós, também podemoscomeçar a curar nosso mundo. Assim como uma semente brota dominúsculo embrião que há em seu centro, também a paz projeta-se

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para fora, a partir de nosso ser mais interior. Vivendo a unidade doTao, cada um a sua própria maneira, podemos agir com sabedoria egraça, trazendo maior harmonia para o planeta.

Afirmação

Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa.Mantenho a unidade em minha vida.Estou em união com toda a vida neste planeta.Evito a fragmentação e confirmo a unidade através da ação

positiva.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Minha versão inspirou-se na tradução de Tolbert McCarroll, em The Tao-.The Sacred Way (Nova York: Crossroad, ©1982), p. 47: "Therefore theTrue Person embraces the One/And becomes a model for all" ("Assim aPessoa Autêntica abraça o Uno /E se torna um modelo para todos").Usado com permissão do autor.

2. Maspero, Taoism and Chinese Religion, p. 365.3. Para uma explicação da sincronicidade, ver: Bolen: The Tao of Psychol-

ogy, p. 36.4. Para uma boa explicação sobre os fundamentos da religião taoísta, ver:

H.G. Creell, Chinese Thoughtfrom ConfuciustoMao Tsé Tung. (Chicago:University of Chicago Press, 1953), p. 101.

5. Muir, John of the Mountains (Boston: Houghton Mifflin, ©1938 de Wanda MuirHanna, Copyright ©renovado em 1966 por John Muir Hanna e Ralph EugeneWolfe.), p. 320. Republicado com permissão de Houghton Mifflin Company.

6. Para uma explicação sobre o taoísmo e o movimento da paz, ver: HerrymonMaurer, The Way of the Ways (Nova York: Schocken, 1985), p. 6.

7. Matéria sobre Buckminster Fuller, de Amy Edmondson, "Peace 2010",no WindstarJournal, inverno de 1986, p. 24.

8. Satin, New Age Politics, p. 24.9. Detalhes e citação usados com permissão, de "Two Billion People for

Peace: An Interview with John Randolph Price", de John S. Niendorff©Science of Mind Magazine, agosto de 1989, pp. 18-29. Assinaturas daScience of Mind custam 15 dólares por ano (12 exemplares), com aScience of Mind Publications, 3251 W. 6th St., P. O. Box 75127, LosAngeles CA 90075.

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CAPÍTULO 19

O CAMINHO

DO AMOR

Trago três tesourosJunto de meu coração.

O primeiro é o amor;O segundo, a simplicidade;

O terceiro é a superação da vaidade.(TAO 67)

OTao é o Caminho do Amor, uma via de compaixão que noscapacita e enxergar além da discórdia aparente, penetrandona unidade subjacente a toda criação. A compaixão por nós

mesmos ou pelos outros derruba as ilusões da separação, trazendomaior harmonia para nosso mundo. Podemos entender melhor oCaminho do Amor referindo-nos aos caracteres chineses utilizadospara retratá-lo.

A expressão chinesa para compaixão, tz'u, combina dois carac-teres. Hsin significa tanto coração como mente, a fonte de todos ospensamentos, sentimentos e motivação. O caracter tzu (vegetaçãoabundante), colocado acima de hsin, indica um coração aberto ecompassivo. A compaixão taoísta une o indivíduo a toda a criação.7

Como não existe nenhuma divisão interior, em chinês, entre mente ecoração, com a compaixão não existe nenhuma divisão externa entrenós mesmos e nosso mundo. O Caminho do Amor vence a apatia, omedo, a posição defensiva e a agressão.

Este capítulo explicará as propriedades unificadoras do amor,sua capacidade de transcender o ego. E nos mostrará como seguiresse caminho: 1) amando a nós mesmos, 2) evitando as críticasdivisórias, 3) transcendendo o hábito da raiva e 4) estendendo osbraços para o mundo no serviço amoroso.

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O PODER UNIFICADOR DO AMOR

O poder do amor une os seres humanos há séculos. O amorinspirou obras-primas da poesia, da música e das artes visuais, porém,ainda ultrapassa nossa capacidade de explicá-lo. Tão misteriosoquanto o próprio Tao, o amor é mais do que a soma de suas partes,unindo as nossas almas de forma inefável e inesquecível, parasempre. Leva-nos além de nossos limites pessoais, expande o alcanceda consciência individual. Iluminando um mundo solitário e confusocom a luz de uma nova percepção, o amor nos leva, num saltoquântico, para um mundo além do ego, para uma nova forma deconhecimento.

Platão descreveu o amor como a união de duas almas com aprópria divindade, o amor de Dante por Beatriz conduziu-o para osportões do paraíso, onde ele cantou "o amor que move o sol e asoutras estrelas". O antigo taoísta Chuang-Tsé ensinou que, através doamor, experimentamos as conexões inerentes entre nós mesmos e osoutros, vendo toda a criação como uma coisa única.

AMOR, UM PROCESSO ATIVO

Todos querem amor. Segundo os psicólogos, todos nós preci-samos de amor. Abraham Maslow colocou a necessidade de amoracima de nossa necessidade de ar, água, alimento e abrigo. Mas, paramuitas pessoas, a busca do amor é frustrante e mal dirigida, ErichFromm explicou que "a maioria das pessoas vê o problema do amor,fundamentalmente, como o de ser amado, em vez de amar". Pas-samos nosso tempo tentando nos fazer "amoráveis", com as roupas,cosméticos e conversas certos, e depois esperamos que a pessoa certaapareça e nos ame.3

Nossa frustração vem da definição de amor como produto, nãocomo processo, fazendo-nos esperar satisfação, em vez de nos dar-mos ativamente. O amor requer que façamos algo: estender osbraços, agir, falar, nos entregar. Desta forma, tornamo-nos ativasexpressões do amor.

Loura, alta, atraente, com seus trinta e poucos anos, Phyllis estavaansiosa e insegura de si mesma, buscando amor e realização. Depois demais uma relação abusiva, ela entrou para uma terapia de grupo.

Na primeira sessão, ficou encolhida na cadeira. Olhos baixos, avoz trêmula, perguntou: — O que posso fazer para encontrar ohomem certo?

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Mas, em vez de responder a sua pergunta, o terapeuta pergun-tou: — O que você realmente gosta de fazer?

— O quê? — disse ela, com os olhos arregalados e incrédula.— O que gosto de fazer?... Cozinhar. Adoro cozinhar.

— Ora, então matricule-se num curso de alta culinária —disse o terapeuta.

— Aulas de culinária: Será que posso encontrar um homem naaula de culinária? disse ela, sacudindo a cabeça, incrédula.

A questão era parar de viver à espera de um homem, comoalguma princesa de conto de fadas, e tocar a vida para diante.Seguindo seus próprios interesses, ela podia se tornar a pessoa quepretendia ser.

A última vez que vi Phyllis foi em uma festa de despedida, poucoantes de viajar. Radiante e segura de si mesma, parecia outra mulher.Desaparecera a pessoa hesitante e carente que eu conhecera. A novaPhyllis estava cercada de amigos — do trabalho, do prédio ondemorava e do curso de culinária, que organizara aquela comidinhafestiva. Estava toda feliz, fazendo planos para começar uma nova vidano Colorado, convidando a todos para visitá-la, quando estivesseinstalada.

Durante os últimos oito meses, Phyllis melhorou suashabilidades culinárias, encontrou novos amigos, conseguiu umagrande promoção no trabalho e criou uma vida alegre — porqueparou de esperar de ser amada e começou a amar sua própria vida.Em seu próximo relacionamento, ela não se apoiará em algumhomem só por solidão, mas se disporá a partilhar com alguém apessoa dinâmica e amorosa que ela é.

O CAMINHO ALÉM DO EGO

Manifestar amor nos tira de nossos egos limitados. Pairamosacima da nossa individualidade amarrada à terra, percebendo nossopapel no modelo mais amplo. Como uma visão aérea de nossa cidadefavorita, o amor nos eleva até descobrirmos uma simetria maravi-lhosa. Novos modelos de harmonia surgem, enquanto vemos comoa vida toda está ligada.

O Caminho do Amor não é o da possessividade egoísta, quese mascara como amor em tantos relacionamentos. Tz'u se expres-sa através da partilha alegre, sem nenhum pensamento deretribuição. Transcendendo nossos egos limitados, ele nos une aobem comum.

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Para os taoístas, tz'u é a expressão natural de uma alma equi-librada. Se nossas energias são harmoniosas, estendemos natural-mente os braços com benevolência, em direção a toda a criação,gerando harmoniosos ciclos novos.

Estudioso de longa data do taoísmo, Carl Jung reconheceu opoder do amor para ampliar nossa consciência, levando-nos a "umareunião com as leis da vida".5 Sua descrição da maturidadepsicológica (individuação) combina com as descrições taoístas,segundo as quais nosso eu se expande para incluir o mundo ao redor,toda a aparente discórdia e dualidade resolvendo-se numa maiorharmonia.

O amor afasta as sombras do conflito. As ilusões dualistas do"eu" e do "outro" desfazem-se à luz da nova percepção. Como o Taonos diz:

"A terra é eternaPorque não vive para o eu apenasMas existe como uma unidade com vida.As pessoas do Tao transcendem o euAtravés da amorosa compaixãoE descobrem a si mesmasNum sentido mais elevado.Através da dedicaçãoAlcançam a realização."

(TAO 7)

O Caminho do Amor nos une com o Tao. Esses momentos deunião nos quais estendemos os braços amorosamente, no ato deconhecer ou de servir, trazem-nos a mais pura alegria que podemossentir. Todos já somos abençoados com tais momentos, mas eles, emgeral, acontecem inesperadamente, arrastando-nos para uma rápida,porém bela, comunhão. Como pessoas Tao, podemos expandir essavisão para abranger tudo o que fazemos.

O CAMINHO DA AUTO-ACEITAÇÃO

Enquanto o ego constrói muralhas, o amor constrói pontes,levando-nos além da posição defensiva até alcançarmos a confiança,a plenitude e a paz. O Tao nos diz que:

"As pessoas Tao conhecem a si mesmasE não fazem nenhuma exibição,

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Aceitam a si mesmasE não são arrogantes."

(TAO 72)

Alimentar culpa e insegurança só faz perpetuar o conflito. Aauto-aceitação traz maior paz para nós mesmos e para o nosso mundo.

Tina Clare, que dá aulas de meditação e crescimento pessoal nonorte da Califórnia, vê a auto-aceitação como o primeiro passo parao caminho espiritual. Uma tarde, falei com ela em seu centro demeditação, abrigado sob um copado carvalho, em Los Altos Hills."Construímos o centro honrando o espaço dessa árvore de 150 anosde idade", disse-me. A árvore, acrescentou, é uma maravilhosaprofessora, com suas lições de perseverança e renovação cíclica.

Construído com vigas de madeira, painéis de cedro e vidro ocentro de Tina, chamado de Centro da Luz, fica no alto de um morroaberto para as árvores e para o céu. Seu espaço circular é mobiliadocom simplicidade, nas cores areia, rosa e bege, realçadas por algumasconchas do mar.

O dia estava tempestuoso; o estresse de dois empregos e amudança de estação me provocara uma sinusite, mas, quando entreiali, minha cabeça repentinamente clareou. Será que anos demeditação haviam refinado as energias naquele lugar, criando umespaço curativo?

"Tento criar um espaço onde as pessoas possam, muito natural-mente, deixar cair suas máscaras e partilhar o que vem do coração",disse-me Tina, com um sorriso. Ela começa suas sessões de aconse-lhamento particular, aulas e debates estabelecendo um lugar seguroonde as pessoas se sintam à vontade.

Honrando a pessoa e o processo, ela ajuda a alimentar aauto-aceitação. Escuta pensativa, com seus olhos azuis brilhandocomo as jóias de turquesa e prata que usa, lembranças de suas viagensao Peru. Escutando atentamente, faz com que as pessoas aprendama escutar a si mesmas.

Depois de estudar religiões nativas americanas e orientaisdurante mais de vinte anos, ela vê convergências das principaiscorrentes espirituais em algumas verdades simples: a unidade da vida,o dever de honrar a nós mesmos e uns aos outros, a harmonia com anatureza e a aceitação de nossa própria autoridade interior. Usandoa meditação dirigida, música suave, carrilhões tibetanos e imagensnaturais, ela ajuda as pessoas a redescobrir seu espaço interior,tornando-se conscientes de seu objetivo.

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Tina vê uma ligação direta entre o espaço interior e exterior."Não podemos alimentar os outros mais do que fomos alimentados,então nossa primeira responsabilidade é nutrir a nós mesmos", ex-plicou. Escutando a nós mesmos, aprendemos quando devemosestender os braços em novas direções, quando devemos nos afastarde situações que nos esgotam ou, ainda, quando o mais indicado é,nos interiorizar em busca de renovação pessoal.

EXERCÍCIO PESSOAL

O que você precisa agora, a esta altura do caminho? Escutandoa si mesmo(a), certamente saberá. Delicie-se com essa suavemeditação da concha, inspirada por Tina Clare:

• Saia sozinho(a) para um lugar tranqüilo, onde não vá ser pertur-bado(a). Se possível, dê uma caminhada, sente-se debaixo de umaárvore e recupere o contato com a natureza.

• Relaxe, fique confortavelmente sentado(a), afrouxe o cinto e tire ossapatos. Remexa os dedos dos pés, alongue-se e distenda o corpo.

• Agora feche os olhos e respire lenta e profundamente, concentran-do a atenção no ritmo de sua respiração. A cada respiração,desprenda-se do mundo exterior, tornando-se cada vez maisrelaxado(a).

• Enquanto escuta seus ritmos interiores, sinta a si mesmo(a) cer-cado(a) pelos ruídos calmantes do oceano. Agora, veja a si mesmo (a)caminhando ao longo da praia. Sinta a areia molhada sob seus pése a suave brisa do oceano acariciando seu corpo. Sinta o cheirofresco do ar salgado.

• Ao caminhar pela praia, você vê uma bela concha diante de si.Abaixando-se, observe a concha, correndo a mão por sua superfíciecurva.

• Sob seu olhar, a concha começa a aumentar de tamanho. Aospoucos, fica do mesmo tamanho que você, até maior, suficiente-mente grande para você entrar nela.

• Urna luz suave sai de dentro da concha, convidando você paraentrar. Lentamente, aos poucos, caminhe para dentro da concha,descendo pelo saguão curvo, penetrando no espaço profundo ecurativo que existe lá dentro.

• Cercado(a) pelas energias suaves e calmantes, desprenda-se detudo do passado que você deseja deixar para trás. Inspire profun-damente. Solte a respiração. Acabou.

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• Agora, faça a si mesmo(a) uma pergunta: "O que resolverá meuatual problema?" "Que direção devo tomar?" Ou, simplesmente: "Oque preciso saber?" Relaxe e saiba que a resposta virá — talvezagora, talvez mais tarde, enquanto você estiver entregue a suasoutras atividades. Torne a inspirar profundamente e solte arespiração.

• Quando estiver preparado(a), você pode sair desse espaço curativo,sair outra vez pelo vestíbulo curvo, para o fresco ar salgado.

• De novo em pé na praia, observe a concha voltar pouco a poucoao tamanho original.

• Enquanto você volta a sua consciência normal, saiba que levaconsigo essas energias curativas. Abra os olhos aos poucos, estican-do-se, voltando para suas outras atividades, profundamente reno-vado(a) e consciente da verdade interior de quem você é.

Tina Clare trabalha com meditações suaves, harmoniasnaturais, movimentos. Não acredita em grupos de encontro agres-sivos. "A natureza jamais força o crescimento", diz, "mas permite queele aconteça". Cada um de nós desdobra-se a partir de nosso própriocentro de auto-aceitação, de acordo com nossos próprios ritmos.Quando fazemos uma pergunta na meditação, a resposta vem emseu próprio tempo.

ALÉM DOS JULGAMENTOS

O reconhecimento de nossos ritmos interiores é uma parteimportante da auto-aceitação e uma lição fundamental do Tao. Damesma forma que cada planta tem seus próprios ciclos, o mesmoacontece conosco. Julgar a nós mesmos, comparando-nos com ou-tros, não é natural nem justo. Os narcisos florescem no início daprimavera, enquanto os crisântemos enfeitam os jardins no outono.Uma flor selvagem floresce por apenas uma estação, um carvalhopode viver por centenas de anos, e as seqüelas gigantes da Califórniaresistem há séculos. Como as árvores e as flores, cada um de nós temseus próprios ritmos, seu próprio tempo de fruição. Quem vai dizerqual é o modelo certo para nós? Só nós mesmos podemos saber.

Praticamos tz'u, ou a compaixão amorosa, quando paramos dejulgar a nós mesmos e aos outros. Porque, se somos todos seresúnicos, com modelos de vida individuais, como podemos julgar umao outro? O Tao nos pede apenas para seguirmos nosso própriocaminho com entusiasmo.

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No mundo ocidental, nosso hábito de analisar e julgar conduziua uma era de maravilhas tecnológicas, mas também nos alienou denós mesmos e um do outro. Concentrando a atenção nas diferenças,e não nas semelhanças, criamos muralhas de separação entre osindivíduos, grupos e nações.

Muito freqüentemente, o espírito crítico bloqueia a compaixão,separando-nos em facções polarizadas. O Dr. Gerald Jampolsky dizque até a crítica construtiva é, muitas vezes, um ataque velado, umatentativa de provar que estamos certos, porque alguma outra pessoaestá errada. O Tao nos diz, simplesmente:

"Uma boa pessoa não discute.Quem assim faz não está em união com o Tao."

(TAO 81)

Uma atitude crítica não ajuda a nós mesmos nem aos outros. Osargumentos ou pregações raramente mudam as outras pessoas. Atémesmo quando nossas opiniões são justificadas, criticar os outros, emgeral, torna-os desconfiados e defensivos. E afasta nossa atenção denossas próprias vidas, que nós podemos mudar.

Preste atenção a seus pensamentos e conversas. As críticas eargumentações hipócritas apenas massageiam o ego, perpetuando aseparação, aumentando o conflito pessoal e planetário. O Tao nos diz:

"Embora algumas pessoas pareçam más,não as rejeite."

(TAO 62)

O Tao aconselha a tolerância, não por fraqueza, mas comoforma de preservar nosso poder. A condenação nos fragmenta comogrupos e indivíduos. Escolhendo a separação, perdemos nossa uniãocom o Tao; com a tolerância, nós a reconquistamos. Lao Tsé nos diz:

"Seguir o Tao traz compaixão.Compaixão traz tolerância.Tolerância traz força.Força significa harmonia com a natureza;Harmonia com a natureza significa união com o Tao.Unido com o Tao, você tem poder

E sua vida estará livre do mal."

(TAO 16)

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PERGUNTA TAO

Enquanto procuramos viver mais pacificamente, é bom pergun-tarmos a nós mesmos: Será que isto (pensamento, ação) produz maiorseparação ou maior paz? Vamos desenvolver o poder curativo do tz'ufocalizando o crescente potencial para o bem em nós mesmos e nos outros.

ALÉM DA RAIVA

Quando seguimos o Tao, reconhecemos o poder destrutivo daraiva. Expressa externamente, ela enche nosso mundo, há séculos,de conflitos violentos, crimes de paixão e todas as formas desofrimento. Reprimida e mantida dentro de nós, abala nossa saúde,envenenando nossas mentes e corpos.

Uma de nossas lições mais importantes é como tratar a raivacom sabedoria. Até fazermos isso, continuaremos a perpetrarviolências contra nós mesmos e contra os outros.

O Tao ensina que tudo na vida é feito de energia. A raiva é umaenergia muito poderosa. Não podemos ignorá-la porque, em últimainstância, ela acaba por se expressar, prejudicando a nós mesmos eaos outros. Peace Pilgrim, a mulher que caminhou mais de 40.000quilômetros numa manifestação em favor da paz, ensinou as pessoasa transformar a energia de sua raiva em ação construtiva, canalizan-do-a para exercícios aeróbicos ou usando-a para completar umatarefa necessária.

Atacado pela síndrome do estresse pós-Vietnã e pela dor de umdivórcio, Steve precisava fazer alguma coisa para liberar sua violentaraiva. Sempre que sua ex-mulher lhe telefonava aos gritos com umaqueixa, ficava histérica ou ameaçava levar os filhos de volta para aItália, Steve saía correndo pela ma, o mais rápido que podia. As cenasvoavam em torno dele, como um borrão, enquanto percorria os doisquilômetros entre sua casa e o jardim de rosas municipal. Muitasvezes, atirava-se na grama para recuperar o fôlego. Depois, exausto,mas já nos eixos, caminhava de um lado para outro e sentia o perfumedas rosas antes de voltar para casa e enfrentar o problema. Liberarassim sua raiva, fazia com que Steve expelisse suas violentas emoçõese clareasse a mente, além de lhe proporcionar um saudável exercícioaeróbico.

Da próxima vez em que se sentir zangado, pegue essa poderosaenergia e a transforme. Dirija-a para trabalho ou exercício úteis: corrapelo quarteirão, arranque ervas daninhas do quintal, saia para uma

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caminhada rápida a fim de clarear a mente — use seu corpo paraexpressar energia. Não vomite sua raiva em palavras e ações violen-tas, não dirija descuidadamente nem parta para atos de retaliação evingança. Libere essa poderosa energia numa direção construtiva,depois volte para um espaço de amor, a fim de lidar com o problema.

Nossa raiva é real. Não podemos negá-la. Mas também nãodevemos permitir que nos domine, ou nos vitime, perpetuando ummundo hostil. Aprender a canalizar a energia da raiva contribuiinfinitamente para a harmonia em torno de nós e constitui um passodecisivo a caminho da paz.

VIVER NO PRESENTE

O poder do amor traz a nossas vidas uma proximidade radical.Sem nenhum tempo para fixações no passado ou preocupações como futuro, estamos completamente aqui, em união com o momento,sem separação no tempo ou no espaço.

Quando nossos relacionamentos pessoais deslizam do mágicopara o mundano, tornam-se fortemente carregados de acréscimosdo passado e exigências do futuro. Olhamos para a pessoa amada epensamos: "Você não fez...", "Você não devia ter feito", "Vocêdevia". Todas essas queixas e exigências silenciosas cimentam-senuma muralha entre as duas almas, tornando mais difícil o encontrono amor e na confiança.

Talvez seja por isso que novos relacionamentos, novasamizades, trazem tanta euforia. Então não temos nenhuma história,nenhuma expectativa capaz de nos arrastar para baixo. Podemosexpressar-nos livremente, partilhando nosso potencial mais elevado.Será que não poderemos trazer essa vibração para todos os nossosrelacionamentos, deixando de lado o passado, recusando-nos aalimentar velhas queixas?

EXERCÍCIO PESSOAL

Existe alguém em sua vida por quem você sinta ressentimentos,por antigos males causados e desapontamentos? Este exercícioremoverá queixas contra qualquer pessoa, viva ou morta.

• Descubra um espaço tranqüilo onde você não seja perturbado(a).Relaxe, libere qualquer tensão em seu corpo e fique sentado(a)confortavelmente, com a coluna ereta.

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• Feche os olhos e visualize aquela pessoa sentada a sua frente.Inspire profundamente e solte a respiração.

• Agora diga alto, três vezes: "Perdôo você e perdôo a mimmesmo(a)".

• Torne a inspirar profundamente, solte a respiração e sinta qualquertensão remanescente deixar seu corpo.

• Agora abra os olhos. Renovado(a) e reanimado(a), volte para suasatividades habituais.

Repita este exercício sempre que pensar nessa pessoa até suasemoções estarem limpas e seu coração em paz.

Viver no presente nos libera da prisão das antigas mágoas eressentimentos. Imagine como seus relacionamentos seriam maislivres, se você vivesse mais plenamente no presente. Imagine comoas nações deste mundo se relacionariam, caso se livrassem dosséculos de conflitos, preconceitos e suspeitas que as dividem. Con-centrando a atenção no momento presente, poderiam trabalhar juntaspara solucionar nossos problemas globais da fome e da poluição.Eliminando a atribuição de culpas e as posições rígidas, poderiamdispor-se à ação construtiva, construindo pontes de paz, em vez demuralhas de hostilidade.

O CAMINHO DO SERVIÇO AMOROSO

Assim como as águas de uma pura fonte da montanha lenta-mente limpam um lago estagnado, podemos com a circulação deenergias amorosas, curar aos poucos, nosso mundo. Tina Clare nospede para ampliarmos nossa definição de serviço. Nem sempresignifica trabalho árduo ou auto-sacrifício. Um simples elogio podemudar as energias a nossa volta. Uma palavra amável pode iniciar umnovo ciclo positivo, influenciando dúzias de outras interações.

As pessoas Tao, como Tina, estão conscientes da energia emtorno delas. Sabem quando fazer um cumprimento, quando manifes-tar gratidão, quando permanecer em silêncio. Quando ela sai pelomundo, todos os dias, pergunta qual a contribuição que podeoferecer.

Recentemente, dois folhetos seus estavam sendo preparadosnuma movimentada casa impressora. Com o telefone tocando, duasmáquinas despejando cópias e os clientes pedindo para ser aten-didos, uma funcionária apoquentada tentava fazer tudo. Quando Tinaentrou, olhou cheia de compaixão para a moça atrás do balcão e

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disse: "É bom respirar". A mulher devolveu o olhar de Tina, respiroufundo, sorriu e disse: "Obrigada". Foi apenas isso.

Decidida a aplicar esta lição, ontem eu me vi avançando a custoatravés do trânsito de San José na hora do rush, às cinco da tarde,com uma tarefa a cumprir antes de voltar para casa. Quando entreina loja de iogurtes congelados a fim de comprar um litro para Gwilym,notei, com horror, que a loja estava cheia, com mais de uma dúzia depré-adolescentes vestidos com camisas verde vivo, todos enfileiradospara comprar copinhos de iogurte congelado. Parentes e treinadoresestavam por perto, tentando organizar as coisas. Percebendo que eupodia, por um lado, sucumbir à impaciência ou, por outro, apreciaro espetáculo, optei pela segunda alternativa. Conversei com umagarota sobre os sabores e, depois, virei-me para os adultos, quepareciam cansados e arrasados. — Que time é esse? — perguntei.

— Somos o time de vôlei da Escola Price — respondeu umadas treinadoras, com óbvio orgulho.

— Que maravilha para os jovens fazer parte de uma equipe —falei. As duas mães sorriram e, de repente, não pareciam tão cansadas.

Existe uma vantagem oculta em servir, descobri. É tão bom quedá energia tanto a quem oferece quanto a quem recebe. Na verdade,não tenho plena certeza de quem foi o verdadeiro recebedor, emminha experiência tz'u. Todos parecíamos felizes e mais cheios deenergia. Depois, outro cliente entrou e perguntou se eu fazia parteda equipe. Eu disse que não. Mas, talvez, em outro sentido, eu faça.Porque, como diz o Tao, somos todos um só.

Afirmação

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa.Vivo com compaixão.Amo e alimento a mim mesmo(a).Não critico a mim mesmo(a) nem aos outros.Canalizo minha raiva para escoadouros construtivos.Vivo no presente, libero o passado.Estendo os braços para servir amorosamente.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em

meu mundo.Agora recebo uma paz em minha vida.E assim seja.

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NOTAS

1. Informações sobre t'zu e taoísmo, de Hoff, em The Way to Life, p. 77.2. Para a explicação do Chuang-Tsé, ver: Livro XXV, The Texts of Taoism,

de Legge, p. 555-3. Erich Fromm, The Art of Loving (Nova York, Harper & Row, 1956), p. 1.4. Ver Hua-ching Ni, Tao: Tlie Subtle Universal Law, p. 126.5. Carl Jung, comentário, The Secret of the Golden Flower: A Chinese Book

of Life, trad. de Richard Wilhelm (Londres: Kegan Paul, 1945), p. 96.6. Informações extraídas de uma entrevista com Tina Clare, no Center of

Light, Los Altos Hills, Califórnia em maio de 1989. Meditação adaptadacom permissão do audioteipe gravado com ela, Silence in the Heart:Meditations for Inner Growth and Relaxation (Los Altos Hills: ClarityProductions, ©1989)- Para maiores informações sobre fitas ou aulas,escrever para a Clarity Productions, The Center of Light, 12620 La CrestaDrive, Los Altos Hills CA 94022.

7. Gerard G. Jampolsky, Love is Letting Go of Fear (Berke\ey. Celestial Arts,©1979), p. 34. Usado com permissão do autor e do editor.

8. Peace Pilgrim: Her Life and Work in Her Own Words (Santa Fé: OceanTree Books, P.O. Box 1295, Santa Fé NM 87504 e Friends of PeacePilgrim, 43480 Cedar Avenue, Hemet CA 92344. Sou grata a Peace Pilgrimpor me introduzir nessa poderosa lição sobre a recanalização da energiada raiva.

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O caminho para a luz maior atravessa a escuridão.Seguir em frente dá a impressão de recuar.

O caminho plano parece acidentado e escarpado,O poder mais elevado, um vale de fácil acesso.

(TAO 41)

O Tao está cheio de paradoxos. Muitas vezes é irracional,ilógico: "Seguir em frente dá a impressão de recuar... O podermais elevado, um vale de fácil acesso". Isto se torna mais

evidente no conceito de wu wei.Wu wei significa ação harmoniosa, mas, muitas vezes, parece

inação, porque não é o que esperávamos. Em vez do caminhodominador e impositivo do ego, wu wei é uma ação da consciênciaem união com o Tao. Algumas vezes, significa esperar pelo momentocerto, outras vezes, agir de forma espontânea e intuitiva. ComoThomas Merton explicou, wu wei "não é uma manipulação violentada realidade exterior e o 'ataque' ao mundo exterior, dobrando-o à(nossa) vontade de conquista", mas ação "em harmonia com o poderoculto que impele este planeta e o cosmos".1 Wu wei transcede osmodelos imaturos do egoísmo caprichoso que, com tanta freqüênciadivide nosso mundo e viola a ordem natural. Seguindo wu wei,cooperamos com a natureza para restabelecer a harmonia.

Este capítulo nos dará uma compreensão mais profunda de wuwei, com a descrição de seus três atributos: 1) ação harmoniosa, 2)atitude não violenta e 3) atenção ao processo.

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CAPÍTULO 20

AÇÃO HARMONIOSA:

Wu WEI

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AÇÃO HARMONIOSA

Wu wei flui naturalmente da visão holística do Tao. Quandovemos a nós mesmos como parte de um todo mais amplo,cooperamos com os ritmos da vida. Para os taoístas, esta cooperaçãoera o estado original do mundo. Chuang-Tsé nos diz:

"Na era da perfeita virtude, os homens viviam em comum como ospássaros e os animais e estavam em termos de igualdade com todas ascriaturas, como se formassem uma família".

Com tal visão, empenhamo-nos naturalmente em proteger avida neste planeta. Entrar em ação conduz, por sua vez, a umreconhecimento mais profundo de nossa unidade com a vida,ampliando a nossa visão, coragem e engajamento.

Em suas missões de resgate de baleias, os membros do Green-peace experimentaram comunhões misteriosas e quase místicas.Robert Hunter descreve um incidente desse tipo. Colocando-se naágua entre as baleias e seus atacantes, os membros do Greenpeacetinham acabado de salvar cinco baleias da ação de um baleeiro russo.Na manhã seguinte, um dos membros comemorou o fato cantandouma canção no tombadilho. A música fluiu, pelos alto-falantes, porsobre as ondas agitadas.

De repente, cinco baleias apareceram no horizonte e seaproximaram do barco do Greenpeace. Chegaram mais peito, saltan-do para a superfície soltando repuxos, movimentando-se no ritmo damúsica. Rodearam o barco por quase uma hora. Depois seguiramadiante, pararam e ergueram suas grandes cabeças na superfície, comos olhos enormes no nível do barco, enquanto ele passava.

A tripulação ficou silenciosa no tombadilho. "Foi como se asbaleias nos saudassem", disse Robert Hunter. "As baleias nossaudaram. Foi uma ação consciente e deliberada da parte delas".

Depois, as baleias mergulharam e desapareceram no mar, emer-gindo outra vez, bem distantes, no horizonte. Enquanto a tripulaçãoobservava, choveu um pouco e um arco-íris apareceu por cima dasbaleias.3

Uma surpreendente sincronicidade de arco-íris, música e baleiasafirmou algo que a lógica não pode explicar. Por que as baleiasaproximaram-se tanto de um barco tão parecido com os temidosbaleeiros? Era como se conhecessem aqueles que as ajudaram — e lhesagradecessem —••, como se o trabalho do Greenpeace fosse abençoadopelas baleias, pelo arco-íris e pela unidade da vida.

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As antigas religiões sempre ensinaram a reverência pela vida eo respeito pelos ciclos naturais: fluxo e refluxo da maré, inverno eprimavera,yin e yang, que fazem parte de toda a existência. Os cultosegípcios do mistério equiparavam os ciclos da vida com o mito de ísise Osíris e as variações anuais do Nilo. Os druidas celebravam amudança das estações acendendo fogueiras na escuridão do invernoe afirmando a volta da primavera com os fogos de Beltame. Osamericanos nativos tinham celebrações rituais das estações e con-sideravam os campos de caça sagrados, fazendo orações antes de tirarqualquer vida animal.

O Velho Testamento recomenda aos judeus e cristãos que sejambons guardiães da natureza, que cuidem do Jardim do Éden, nossolar terrestre, e o protejam, (Gênesis 2:15). Os budistas ensinam areverência pela vida e pelos sistemas naturais. Se afirmamos o queE.F. Schumacher chamou de "economia budista", encararemos anatureza com sabedoria e cuidado, evitando submetê-la a uma ir-responsável exploração. O que agora é prática comum — a poluiçãoirracional e o uso excessivo dos recursos não-renováveis — seriaencarado como "ato(s) de violência". Praticaríamos wu wei —resistência passiva e respeito pela natureza — em todos os aspectosde nossas vidas.

Os hindus defendem também a resistência pacífica, sustentan-do o princípio do ahimsa, que inspirou Mahatma Gandhi. Ahimsasignifica viver intensamente de forma a não danificar outras formasde vida: indivíduos, animais e meio ambiente. Gandhi era umvegetariano estrito e vivia o mais simplesmente possível, praticandosuas crenças nos mais mínimos rituais de vida diária.

Wu wei nos ensina a trabalhar com as leis naturais e não contraelas. Os taoístas vêem a natureza como um sistema equilibrado, queperpetua a si mesmo. Quando acontecem catástrofes, acreditam queé porque as pessoas perturbaram esse equilíbrio.5

Recentemente, os cientistas reconheceram essa lição do Tao noscampos da energia e da ecologia. A Primeira Lei da Termodinâmicanos diz que "a energia não é nem criada nem destruída. Meramentemuda de uma forma para outra". Com esta visão reconhecemos aloucura de desperdiçar valiosas fontes de energia. Reciclando,cooperando com os ciclos da natureza, podemos usar repetidas vezesos produtos do vidro, do estanho e do papel, sem exaurir nem poluirnosso meio ambiente.

Num ecossistema equilibrado, as plantas e os animais vivemjuntos com aquilo que Fritjof Capra chamou de "uma combinação de

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competição e mútua dependência".7 Os predadores mantêm as outrasespécies sob controle, conservando o equilíbrio. Quando qualquerespécie excede seus limites, sobrevêm a fome e a destruição. Cadasistema tem seus limites ou "capacidade de transporte".8 Uma área daterra pode sustentar apenas uma certa quantidade de vida. Númeroexcessivo de uma determinada espécie causa o colapso de todo osistema.

Esta lição é clara para qualquer pessoa que já tenha criadopeixes tropicais. Um tanque de peixes é um pequeno ecossistema,onde o equilíbrio é decisivo. Quando montei meu aquário pelaprimeira vez, não conseguia entender porque os peixes morriam. Aágua estava clara, os peixes pareciam saudáveis e, sem dúvida, lhesdávamos comida suficiente. Mas, como o tanque era novo, a águaestava demasiado limpa. Um tanque "maduro", aos poucos, desen-volve bactérias benéficas suficientes para diluir os detritos dos peixes.O nosso não tinha. E também havia a comida. Sem comida suficiente,os peixes morrerão. Mas comida em excesso cai no fundo e polui otanque.

Quando já havíamos absorvido a questão das bactérias e dacomida, e nosso tanque estava estabilizado, compramos mais peixes.Errado, outra vez. Uma comunidade harmoniosa requer o númerocerto de peixes. A capacidade de carga de qualquer tanque é de 2,5cm de peixes por galão de água: no nosso caso, oito peixes pequenosera o máximo. Excedendo-se este número vem o desequilíbrio, apoluição e a doença. Nosso equívoco final foi juntar o tipo errado depeixes. Alguns peixes simplesmente não são bons vizinhos. Nossosdois anjos-do-mar brancos eram lindos, mas eram muito malvados,atacando e matando os pacíficos peixinhos antilhanos. Finalmente,nós os tiramos do tanque e os levamos de volta para a lojaespecializada.

Nosso tanque estava agora estabilizado: peixes antilhanos decaudas vermelhas e neons com listras azuis e vermelhas nadam deum lado para outro, formando desenhos coloridos, enquanto doisbagrinhos brancos comem os detritos do fundo do tanque. Um bagreestava apático e solitário, então conseguimos outro para lhe fazercompanhia. Agora todos parecem felizes, mas equilibrar todo ossistemas não foi fácil.

Depois de minha experiência com o aquário comecei a imaginarqual a capacidade de carga de minha comunidade. Todos os dias, aoque parece, mais casas e prédios de escritórios são construídos,mais espaço aberto desaparece, mais pessoas mudam-se para cá.

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()s construtores estão atarefados fazendo transações, os negócios seexpandem rapidamente, mas será que alguém já parou para considerarquantos residentes esta área pode conter, antes que nós, também,comecemos a nos destruir mutuamente, poluindo nosso tanque?

Em escala global, todos nós precisamos respeitar nosso frágilecossistema, reconhecer a capacidade de carga limitada da Terrae trabalhar em favor de um controle responsável da população. Apopulação mundial mais do que duplicou durante meu tempo devida, aumentando de 2,5 bilhões em 1951 para 5 bilhões em 1987e, se continuar a tendência atual, chegará a 8,4 bilhões por voltade 2025. Sem dúvida, nosso direito à vida neste planeta só duraráenquanto praticarmos a sabedoria do wu wei, respeitando outrasformas de vida e reconhecendo nosso lugar na complexa teia davida.

ATITUDE NÃO VIOLENTA

Há muito tempo a água é um símbolo para a ação do wu wei.Flui naturalmente, adapta-se a seu ambiente, porém, possui umatremenda força. Como o Tao explica:

"Nada na terraÉ mais suave e complacente do que a água,Porém, nada é mais forte.Quando ela se defronta com uma muralha de pedraA suavidade supera a dureza;O poder da água prevalece."

(TAO 78)

Você já viu o Grand Canyon, talhado pelo rio Colorado atravésde quilômetros de pedra sólida? E as cavernas carlsbad, ou as Caver-nas Mammoth, com suas surpreendentes estalagmites e estalactites,criada à medida que a água depositava minérios, gota por gota, aolongo dos séculos? Esses são monumentos da natureza ao poder e àpersistência da água.

Como a água, a atitude de resistência passiva, do wu wei é asuavidade que vence a dureza da pedra. A força do amor e dacompaixão pode ultrapassar incríveis obstáculos.

Você já desarmou alguém com um inesperado ato de compai-xão? Com a idade de 16 anos, Gary começou a namorar Maureen, queera dois anos mais velha. Ele sabia que ela se encontrava com Hank,

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um jovem Fuzileiro Naval que estava fora, em missão, mas não sabiaque estavam noivos.

Quando Hank voltou para casa e soube que sua noiva estavanamorando outra pessoa, ficou furioso. Foi atrás de Gary, planejandoarrebentá-lo de pancadas. Quando o encontrou, berrou: "Você sabequem eu sou? Sou Hank Stevens!"

Hank, sem dúvida parecia perturbado com alguma coisa, pen-sou Gary, então estendeu a mão e apertou a dele. "Prazer em co-nhecê-lo", disse. "Já ouvi falar tanto a seu respeito".

Hank ficou ali, estupefato. Todo o ódio desapareceu. Devagar,deu a volta e se afastou.

No ano seguinte, Hank casou-se com Maureen. Gary entroupara a universidade e, mais tarde, tornou-se um bem-sucedidodiplomata, aplicando o poder do wu wei aos confrontos políticos.

Analisaremos o uso político do wu wei no capítulo seguinte,mas, primeiro, vamos descobrir como funciona em nível pessoal.

Wu wei transcende o ego. Consciente dos ciclos naturais, umapessoa Tao não força sua vontade sobre os acontecimentos; empatizae coopera, trabalhando com os ciclos naturais. A empatia de Garycom Hank rompeu as muralhas da raiva e da trapaça, defendendo-o,ao desarmar seu adversário.

Usando wu wei, um mestre aikido responde às energias de seuadversário, neutralizando-as com um espontâneo bloqueio ou virada.Como os mestres das artes marciais, as pessoas Tao respondemsabiamente às energias a sua volta. Não se opõem intencionalmentea elas, mas buscam suas possibilidades mais amplas.

O PODER DA CONFIANÇA

O Tao diz:

"Se você não confia em outras pessoas,Os outros jamais confiarão em você."

(TAO 17)

Como a água talha as pedras mais duras, a confiança acaba coma rigidez das defesas, construindo uma abertura maior entre aspessoas. Construindo vales pacíficos nos corações dos homens e dasmulheres, a confiança os une num vínculo de paz.

A pessoa Tao afirma esse poder da confiança, algumas vezesnas circunstâncias mais hostis. Porque o Tao nos diz:

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"Seja bom com quem é bomE também com quem não é.Porque a bondade aumenta a bondade.Tenha fé nos que são fiéisE nos que não são.Porque a fé traz uma fé maior;E a bondade e a fé constroem a paz."

(TAO 49)

Anos atrás, a fé de Sally nas pessoas ficou muito abalada. Depois dese divorciar de um alcoólatra, ela se mudou para Seattle, a fim de iniciaruma nova vida. Mas os credores de Henry a seguiram, apresentando-lhesas dívidas que ele contraíra antes do divórcio. Então, por mais de um ano,um terço do salário de Sally foi usado para pagar as contas dele.

Finalmente, a dívida foi paga mas Sally continuou zangada eressentida. Atirou-se ao trabalho como conselheira universitária, ten-tando esquecer a dor. Fazendo amizade com um grupo agradável deestudantes, começou a reconquistar sua fé nos outros, mas, umanoite, essa fé foi testada.

Um jovem estudante de arte chamado Pete fez uma baderna,num ato de rebeldia contra seus problemas em casa e o estresse naescola. Quando ele foi preso como bêbado e desordeiro, seus amigosforam procurar Sally. Sendo apenas estudantes universitários, elesnão podiam levantar o dinheiro da fiança. Será que ela podia fazeralguma coisa para ajudar?

Sally era a única com um emprego de tempo integral. Asautoridades disseram que, se ela garantisse o bom comportamentode Pete, sob pena de ter de abrir mão de seu salário, eles o deixariamsair da prisão. A soma era aterrorizante: 2.000 dólares. Sufocando asdívidas, ela assinou os documentos e Pete foi liberado. Tranqüila-mente, Sally lhe disse: "Estou depositando minha confiança em você.Sei que você pode ajeitar sua vida".

Dessa vez, sua fé não foi mal depositada. Pete não bebeu mais,trabalhou duro e produziu algumas belas obras de arte. Dois anosdepois, formou-se na universidade e iniciou uma carreira promissora.Na formatura, Sally sentiu uma sensação de leveza, seu ressentimentofoi substituído pela fé nos outros e pela fé no lado positivo da vida.

Não apenas a confiança, mas a sinceridade, são essenciais parawu wei. A ação não violenta só funciona quando somos sinceros,quando nossas ações vêm do coração. Ela só neutraliza a agressãoquando agimos de modo consistente com nossos sentimentos. Como

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explica um estudante de longa data do Tao, a pessoa Tao "sabe queaté ser não-agressivo pode ser uma agressão, se a não-agressividadeda pessoa faz os outros se sentirem inferiores".1

A maneira certa de pensar e sentir é essencial, porque wu weifunciona como as energias subliminares dentro e em torno de nós.Embora mal perceptível, uma nota de insinceridade e condes-cendência é captada por nosso inconsciente. Uma tentativa semmuito entusiasmo de empregar wu wei torna-se um gesto vazio, quenão funciona. Ate pode aumentar os ciclos de hostilidade.

Por que as efusivas tentativas de amizade de Mildred sempresoam falsas? Ela dá presentes aos colegas de trabalho, faz-lhes longoselogios mas muitos deles sentem que não podem confiar nela. "O queela quer agora?", ficam imaginando, quando a vêem aproximar-se,pelo corredor. Embora as palavras de Mildred sejam sempre gentis,sua secretária ressente-se de seu tom condescendente. Por trás detodos os gestos amigáveis, as pessoas sentem que ela não está sendohonesta.

Aprendi através de anos de aconselhamento, ensino e soluçãode problemas, que minhas ações só funcionam quando acreditonelas. Se não posso fazer alguma coisa de boa fé, é melhor que nãofaça de forma alguma. Esta lição é essencial, na prática do wu wei.

ATENÇÃO AO PROCESSO

O aspecto final do wu wei é a atenção ao processo. Guiadas poruma visão do conjunto, as pessoas Tao não agem apenas por simesmas, porque enxergam além da ilusão da separação. Yu wei, ouseja, a ação caprichosa e egocêntrica, naturalmente cede lugar ao wuwei quando reconhecemos nosso papel no todo mais amplo.

O Tao nos diz:

"A pessoa mais sábiaConfia no processoSem buscar controlar."

(TAO 2)

Considerando nossa parte no processo mais amplo, agimos deforma natural e espontânea, seguindo o caminho do tzu-jan, que, emchinês, significa tanto "natureza" como "agir naturalmente". As pes-soas Tao seguem sua intuição. Unidas com a natureza, unidas com oTao, agem naturalmente da maneira certa, na hora certa.

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Confiando no processo, as pessoas Tao também praticam asabedoria da regulagem do tempo. Sabem quando agir para impedirou neutralizar ciclos negativos. O Tao nos diz:

"A paz é mantida com a sabedoria do Tao,Problemas são evitados antes de surgirem.Pois o que é rígido se quebra facilmente;O que é pequeno se dispersa com facilidade.As pessoas Tao lidam com os problemas antes que eles surjam.Afirmando a ordem, evitam a confusão."

(TAO 64)

A sabedoria do Tao, como a do Eclesiastes, afirma que existe"um tempo para todos os objetivos sob o céu". Seguir o Tao éreconhecer os ciclos e harmonizar-se com eles.

As pessoas não-Tao, como Esther, estão sempre esmagadaspelas crises. Os prazos lhe vão sendo subrepticiamente impostos notrabalho, e ela corre de um lado para outro, sem fôlego, tentandojogar suas tarefas para cima dos colegas. Como, na última hora, elaesqueceu de planejar uma reunião de diretoria, os gráficos e relatóriosforam atirados sem cerimônia em cima dos funcionários de doisdepartamentos, prejudicando seus horários de trabalho e seu humor.Sempre que alguém vê Esther na lanchonete, dá meia-volta e seafasta, com medo de que ela tente lhe empurrar um trabalho.

Embora sempre pareça terrivelmente ocupada, Esther não temmais trabalho do que os outros gerentes. Mas é tão desorganizada quenão consegue veros ciclos, as ondas de acontecimento em torno dela.A vida, para ela, é uma luta constante. Em vez de cavalgar as ondas,como uma pessoa Tao, é atirada de um lado para outro em sua esteira.

A mudança da luta para a serenidade é tão próxima quanto umamudança de atitude, um movimento no sentido da sabedoria do wuwei. Reconhecendo nossa união com o Tao, agindo em harmonia comos ciclos mutáveis, podemos também trazer maior paz para nossomundo.

Afirmação

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa.Afirmo a sabedoria do wu weiPratico a ação harmoniosa, a atitude não violenta e presto

atenção ao processo.

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Tomo cuidado com minha regulagem de tempo.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com os demais em meu

mundo.Agora recebo uma paz em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Merton, The Way of Chuang Tzu, p. 43.2. Chuang Tzu, em Legge, The Texts of Taoism, p. 326.3. Detalhes do incidente e citação de Robert Hunter, em Warriors of the

Rainbow: A Chronicle of the Greenpeace Movement (Nova York: Holt,Rinehart & Winston, ©1979). p. 339-40. Usado com permissão do autor.

4. Schumacher, Small is Beautiful, p. 60.5. Para novas explicações, ver: Maspero, Taoism and Chinese Religion, p.

227.6. Para a fonte desta citação e uma excelente explicação sobre energia e

ecologia, ver: Miller, Living in the environment, p. 39.7. Capra, The Turning Point, p. 279.8. Para maiores informações sobre capacidade de carga, ver: William

Catton Jr., "Overshoot: The Ecological Basis of Revolutionary Change(Urbana: University of Illinois Press, 1980).

9. Para uma discussão sobre o controle e a paz da população mundial, verRobert Muller, "Global Cooperation", Windstarfoumal, verão de 1989,p. 15.

10. Welch, Taoism, p. 33- Ilustração da Parte 5. Caracteres chineses cor-respondentes a muita paz e segurança, o resultado de viver o Tao.

Ilustração da Parte 5. O Tao, o caminho da vida, paz e iluminação.

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PARTE

5

O CAMINHODA PAZ

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CAPÍTULO 21

RESOLUÇÃO DE

CONFLITOS

Pratique wu weiTrabalhe sem disputas.

Aprecio os sabores suaves e sutis.Observe as ações,

Grandes e pequenas.E sempre

Enfrente o conflitoCom compaixão.

(TAO 63)

Durante séculos, a resposta mais comum ao conflito foi aviolência: emocional, física, interpessoal e internacional, cul-minando com o assassinato ritualizado que chamamos de

guerra. Muitas pessoas equiparam conflito com guerra e buscam apaz planejando a "perfeita" sociedade, que venha reprimir nossaindividualidade na tentativa de eliminar o conflito de nossas vidas.Mas o Tao ensina que a paz não pode ser encontrada em idéiasutópicas que violam nossa natureza. Quanto mais negarmos oureprimirmos o conflito, mais lutaremos com nossas sombras, mais nosdesviaremos do Tao.

Não é o conflito em si, mas a maneira como respondemos aele, que produz a violência. O Tao ensina que os valores conflitantes,os interesses em conflito, são inevitáveis, intrínsecos à vida. Aspolaridades do yin e do yang estão presentes em toda parte. Aoposição não é algo para ser temido. Yin e yang, originalmente,significavam os lados ensolarado e sombrio de uma montanha,polaridades contrastantes combinadas na totalidade da vida. O Taodiz que:

"Comprido e curto se completam.Alto e baixo dependem um do outro.

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Page 135: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Tom e timbre compõem juntos a harmonia.Começo e fim se sucedem."

(TAO 2)

Quando visto nesse contexto, o conflito é normal: entre pes-soas, entre grupos, até mesmo entre indivíduos. Cada um de nós temnecessidades e desejos conflitantes. Experimentamos o conflito entreo desejo e a consciência •— ou, como explica Freud, entre id esuperego — e a realidade, muitas vezes, entra em conflito comnossas expectativas.

Enfrentar o conflito é a maneira de aprender. Segundo ospsicólogos desenvolvimentistas, é a base de todo o pensamento, daforma de solucionar os problemas, da criatividade e do desenvol-vimento pessoal. Através da dissonância cognitiva — quando arealidade externa choca-se com o nosso sistema de crenças — ga-nhamos novas idéias e descobrimos coisas novas.

As velhas crenças são sempre desafiadas por novas descobertas.Quando isto acontece em nível de sociedade, temos uma mudançade paradigma. No Renascimento, quando Galileu desafiou a velhavisão geocêntrica da Terra como o centro do universo, a humanidadeocidental descobriu aos poucos um sistema solar que mudou parasempre nossa visão do cosmos e de nós mesmos. Através do conflito,muitas vezes aprendemos a ver mais claramente.

PARA EVITAR O DUALISMO

O Tao ensina que o conflito faz parte dos ciclos evolutivos davida. Mas, quando polarizamos a oposição em termos de "nós contraeles", vendo a nós mesmos como "bons" e a nossos adversários como"maus", caímos na falácia lógica do falso dilema, perdendo atotalidade do Tao.

Quando somos apanhados no dualismo, invariavelmente o con-flito se transforma em combate. Temerosos e defensivos, projetamosnossas sombras negativas sobre nosso adversário, a quem vemos comoa causa de todos os nossos problemas. Definimos a solução dos conflitoscomo uma questão de "ganhar" ou "perder", derrotar nosso adversárioou ser derrotados. Todas as outras opções se desvanecem e, em vez deusar nossas energias para solucionar o problema, voltamos furiososcontra quem percebemos como "inimigo".

O dualismo afetou nosso sistema de justiça, pois remonta ao"julgamento por combate" medieval, que resolvia os conflitos através

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de uma luta de vida ou morte entre adversários. O choque daspolaridades em competição resiste no sistema adversário de justiça,que joga autor contra réu. Questões complexas são reduzidas a falsosdilemas, com decisões de "inocente" para uma das partes e "culpado"para a outra. Em vez de sangue, este combate atualizado provoca,anualmente, o derramamento de bilhões de dólares, na maioria dasvezes nos bolsos dos advogados em disputa.

O velho dualismo cresce na disputa e na acusação. Comoexplica Chuang-Tsé:

"Admitindo que você e eu discutamos.Se você levar a melhor, e não eu,Estará você necessariamente certo e eu errado?Ou, se eu levar a melhor e não você,Estarei necessariamente certo e você errado?Ou estaremos ambos em parte certos e em parte errados?Ou estaremos ambos inteiramente certos e inteiramente

errados?Como você e eu não podemos saber,Vivemos todos na escuridão."²

A solução dos conflitos através do combate deixa-nos tateandona escuridão. Não é o caminho do Tao.

EXERCÍCIO PESSOAL: COMO ACABAR COM O JOGO DE CULPA

Da próxima vez em que você se descobrir culpando alguém, em vez detentar solucionar um problema, pare e pergunte a si mesmo(a): "Esta éminha sombra?"Tudo aquilo que você teme nos outros, ou que lhe desagrada neles, emúltima instância volta a apontar para você mesmo(a). Dedique tempo parase centralizar, examinar seus pensamentos e sentimentos. O que vocêrealmente teme, ou o que lhe desagrada? Trabalhe para melhorar essestraços em si mesmo(a) e se tomará mais centralizado, menos crítico, capazde enfrentar os conflitos com sabedoria e distanciamento.

À medida que as pessoas percebem que os combates não podemsolucionar os problemas, buscam alternativas mais saudáveis. Algunsadvogados com visão avançada estão usando a arbitragem e a mediaçãopara resolver as disputas legais. As empresas e universidades progres-sistas passaram a adotar o conceito sueco de ombudsman, um indivíduocontratado para resolver os conflitos internos.

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COMO PARAR DE FAZER INIMIGOS

A antiga percepção do conflito como combate apenas tornanossa visão mais estreita, limita nossas escolhas, puxa-nos paraintermináveis lutas entre polaridades em competição. O Tao nos di2:

"Não existe maior desastreDo que fazer inimigos,Pois assim você perde seu tesouro,Sua paz.Quando surge o conflito,Sempre prevalece a compaixão."

(TAO 69)

Fazer inimigos causa a perda de nosso poder, impede-nos deassumir a responsabilidade por nossas vidas. Em vez de solucionaros conflitos, concentramos nossa atenção no medo, na raiva e nasinvectivas contra supostos "inimigos".

Fazer inimigos acontece em todos os níveis, do interpessoal aointernacional. Ainda na semana passada, minha amiga Penny envol-veu-se num conflito com um criador de cães, em torno do contratode compra de seu collie, North Star. Ele comprara seu cãozinho cercade seis meses antes e ainda não recebera o contrato de Zack Edwards,que cria collies em sua fazenda no Colorado. Quando o contratofinalmente chegou, declarava que Edwards reservava-se o direito deusar o cão de Penny como reprodutor.

Penny sentiu-se traída e violentada, com medo de que, aqualquer momento, Zack chegasse de caminhão e levasse seu cachor-ro. Quando viu que não conseguia localizá-lo pelo telefone, chamoutodos os criadores de cães da cidade. Uma mulher lhe disse que eramelhor ela chamar um advogado; outra, que, se ela não assinasse ocontrato, Zack poderia lhe tomar o cachorro.

Finalmente, Penny me chamou. Será que eu não conhecia umbom advogado. Já telefonara para dois, que lhe disseram que haviamotivos para um processo. Ela poderia processar o criador por quebrade contrato verbal. Mas Penny não queria ir para a justiça. Só queriaseu cachorro.

— Você tem mesmo certeza de que Zack Edwards quer essacláusula no contrato? — perguntei. — Você já falou com ele?

— Não — respondeu. •— Ele deveria ter me ligado de volta,mas não ligou ainda.

— Ora, antes de começar a processá-lo, você realmente devia

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investigar bem os fatos. Antes de serem assinados, os contratos sãodocumentos negociáveis. Você precisa conversar — falei.

— E tente não vê-lo como inimigo. Esse caso todo pode ser ummal entendido.

E não houve dúvidas: dois dias depois, Zack telefonou e sedesculpou. Enviara-lhe um contrato errado, que se destinava apenasaos outros criadores. Disse a Penny para eliminar a cláusula quecausara o problema. O cão era dela.

Como Penny aprendeu, solucionar os problemas, muitas vezes,significa olhar além de nossos medos, em busca dos fatos. Dedicaralgum tempo para descobrir a verdade impede que muitos conflitosse transformem em combates.

Nossa resposta aos conflitos determina a forma de nosso futuro.Se definirmos conflito como combate, produziremos violência. Sereagirmos com medo, paralisaremos a nós mesmos ou nos reco-lheremos na rigidez e na posição defensiva. Nosso desafio é ver oconflito sem estreitar nossa visão, permanecer flexíveis, abertos amuitas opções. O Tao nos lembra que:

"Todas as plantas novas são macias e flexíveis.Ao morrerem, são quebradiças e secas.Quando estamos duros e rígidos,Associamo-nos com a morte.Quando estamos macios e flexíveis,Afirmamos uma vida maior."

(TAO 76)

Como podemos responder ao conflito da mesma forma que opróprio Tao, combinando todos os elementos em modelos criativosde renovação? É o que investigamos neste capítulo, aprendendo aomesmo tempo a: 1) afirmar o Te, 2) procurar maior clareza e 3) praticara política da resistência passiva.

AFIRMAÇÃO DO TE

Centralizados e unidos ao Tao, respondemos com sabedoria edistanciamento. Como já aprendemos, Te é o poder do Tao, asabedoria que ultrapassa o ego e nos guia para a ação correta.Quando agimos com Te, permanecemos calmos e concentrados.Trabalhamos com os ciclos da vida, em vez de trabalhar contra elas,e enxergamos além dos modelos do medo, da confusão, além das

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posições defensivas e das agressões. Mas, para afirmar Te, devemosdistanciar-nos do conflito por um tempo suficientemente longo paranos centralizar, voltando à infinita sabedoria do Tao.3

EXERCÍCIO PESSOAL: CENTRALIZAÇÃO

Da próxima vez em que for apanhado(a) num conflito, faça esteexercício de centralização:

• Saia sozinho(a) por alguns minutos. Distanciando-se do conflitopor um tempo suficientemente longo para voltar a concentrar suasenergias.

• Fique em pé, com os joelhos ligeiramente dobrados e os braçosrelaxados, estendidos a sua frente, no nível da cintura.

• Concentrando a atenção em seu hara, cinco centímetros abaixo doumbigo, inspire profundamente.

• Agora, solte a respiração, liberando toda a tensão e ansiedade.• Inspire mais urna vez, concentrando-se no hara, inspirando aos

poucos novas energias.• Agora, solte a respiração, sentindo-se centralizado(a), relaxado(a),

em paz.

Depois de um curto espaço de tempo, você será capaz de secentralizar apenas concentrando-se no hara, enquanto inspiraprofundamente. De forma rápida e sem esforço, você pode secentralizar em qualquer situação.

PARA ALCANÇAR A CLAREZA

Com o Te vem a clareza, a capacidade de ver além dos problemase divisar soluções. Quando estamos centralizados, nossos medos nãoampliam mais nossos problemas, fazendo com que vejamos as outraspessoas como inimigos. Penny alcançou a clareza conversando comigo.Eu, muitas vezes alcancei-a fazendo o exercício respiratório, conversandocom uma pessoa centralizada, meditando, escrevendo meu diário outrabalhando no jardim — qualquer coisa que me tire do conflito imediatoe me traga de volta para o centro, de volta para o Tao. Com a clareza,enxergamos novas possibilidades, novas soluções.

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A POLÍTICA DE RESISTÊNCIA PASSIVA

Do ponto de vista pessoal ou político, o Tao ensina o caminhoda não-violência, a solução dos conflitos através da resistência pas-siva. Uma pessoa Tao sabe que a ação agressiva só faz perpetuar aviolência em nosso mundo:

"O líder sábioNão escolhe a agressãoPara conquistar pela forçaPois isto só traz resistência.Ele sabe que, onde marcham os exércitos,Crescem espinhos e sarçasE anos de carência se seguirão.

O líder sábio páraAo alcançar seu objetivo,Sem se vangloriar da conquistaNem jactar-se da vitória.Trabalha com os ciclos naturaisE não usa a violência.

Agressão resulta na perda de forçaE viola o Tao.Tudo o que viola o TaoNão resistirá."

(TAO 30)

O líder Tao neutraliza os ciclos negativos praticando apolítica do wu wei. Ao longo dos anos, sempre houve muitos atrilhar esse caminho, de Thoreau a Gandhi e a Martin Luther King,afirmando a unidade e a compaixão. Suas ações incluem-se emduas categorias: 1) testemunhar a favor da verdade e 2) adotar aresistência passiva.

O TESTEMUNHO A FAVOR DA VERDADE

Testemunhar é uma afirmação do princípio taoísta da unidade.Os Quakers, que têm uma longa tradição de testemunho, acreditamque, ao reconhecermos uma injustiça em nosso mundo, este co-nhecimento se toma parte de nós. Não podemos mais virar as costase permanecer na ignorância.

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O testemunho assume muitas formas. Pode significar participar demanifestações ou escrever cartas para apoiar sua causa. Durante asdécadas de 1970 e 1980, um número crescente de grupos ecológicosprestou testemunho em favor da preservação de nosso meio ambiente.As pessoas fizeram manifestações contra armas nucleares, amarraram-seem árvores para impedir a destruição das florestas, fizeram circularabaixo-assinados e realizaram campanhas enviando cartas.Organizações como o Greenpeace dramatizaram o suplício das baleias,das focas e de outros animais em perigo de extinção.

O objetivo dessas ações é despertar consciências, promovermaior clareza. Testemunhar é o primeiro passo para a solução dequalquer grande problema, porque precisamos entender primeiro, esó depois agir eficazmente.

À medida que os meios de comunicação de massa transformam oplaneta numa aldeia global, testemunhar torna-se uma força de mudançapoderosa. Jornais, rádios e televisão ligam-nos a todos numa redeplanetária, uma teia de consciência interligada. Um acontecimento dooutro lado do planeta é regularmente transmitido para bilhões de salasde estar, tornando a unidade da vida uma experiência cotidiana.

O Greenpeace usa o poder dos meios de comunicação demassa, acreditando que a "consciência, em si, é a cura. Se umaconsciência maciça se desenvolvesse em torno do problema dasfocas, o problema seria resolvido". O membro fundador, RobertHunter, disse que "se fossem necessários loucas proezas para atrair ofoco das câmaras, que, depois, é dirigido para milhões e milhões decérebros, então loucas proezas era o que faríamos. Porque, nomomento em que fosse atraída a atenção das câmeras dos meios decomunicação de massa, percepções novas e vitais passariam para asmentes de pessoas que queremos alcançar no mundo inteiro. Osmeios de comunicação de massa são um caminho para fazer com quemilhões de pessoas prestem testemunho de uma só vez."

A Anistia Internacional presta testemunho no mundo inteiro emrelação ao problema dos prisioneiros políticos. A cada dois meses, a Anistiaenvia uma lista de prisioneiros por questões de consciência a seusmembros, que escrevem cartas para líderes políticos dos países envolvidos.Ao longo dos anos, centenas de pessoas presas por suas crenças religiosasou políticas foram liberadas. Suas condições melhoraram depois que asautoridades receberam as cartas, pois elas perceberam que, no mundointeiro, havia pessoas atentas a suas atitudes.5

Na América, os Quakers realizam uma ativa campanha de enviode cartas para promover uma política mais humana. Conscientes de

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que as autoridades eleitas devem ser responsáveis perante oseleitores, os Quakers apelam não apenas para a consciência, mastambém para o pragmatismo político. Recomendam o desenvol-vimento de relacionamentos a longo prazo com os representanteseleitos e o envio de agradecimentos por votos importantes.

Minha amiga Barbara leva muito a sério seu testemunho. Ela semantém atualizada em torno de questões importantes e escreve cartas— às vezes, até seis por dia — para autoridades do governo. Comum sorriso, diz que "ser uma Quaker é uma verdadeira respon-sabilidade". Costumo encontrar bilhetes seus em minha caixa decorrespondência, quando vai ocorrer uma votação importante. Al-gumas vezes, ela deixa informações sobre boicotes dos consumidoresou sobre o trabalho em favor da justiça social.

O testemunho de Barbara produz resultados. Recentemente, elamobilizou todos os seus amigos para telefonarem ao deputado es-tadual Chuck Quackenbush, que deu o importante voto decisivo paraa proibição dos fuzis semi-automáticos na Califórnia. Mas igualmenteimportante é o poder do exemplo pessoal. Por causa de Barbara,agora tenho uma assinatura do Friends Washington Newsletter, o queme faz permanecer informada e escrever cartas sobre questões im-portantes. Por causa de Barbara, um outro colega interessou-se pelaspessoas sem teto, e vários estudantes estão agora trabalhando emabrigos locais e serviços de distribuição de sopa gratuita. Com suadisposição amistosa e seu espírito generoso, Barbara tornou-se aconsciência de nosso departamento, gentilmente ajudando todos nósa nos tornarmos mais responsáveis do ponto de vista social, maispreocupados com o mundo em que vivemos.

EXERCÍCIO PESSOAL: ESCREVER CARTAS POLÍTICAS

Escrever para autoridades do governo é uma maneira simples detestemunhar por uma causa na qual você acredita. Estas dicas vão animá-lo(a):

• Escolha uma ou duas questões. Estude-as em profundidade edescubra como os parlamentares que você elegeu se posicionamdiante delas.

• Desenvolva um plano de ação. diga aos amigos o que você estáfazendo e encoraje-os a se unirem a você.

• Escreva cartas curtas, oportunas, aos parlamentares que você ajudoua eleger, concentrando-se num assunto de cada vez. Lembre-se: cartaspessoais têm impacto muito maior do que cartas-padrão.

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• Acompanhe os votos de seus parlamentares e agradeça-lhes portomarem medidas positivas, ou continue a registrar sua preocupação.

• Encontre-se com os parlamentares de sua escolha quando es-tiverem em seu distrito. Leve junto outras pessoas interessadas paradiscutir a questão em que você está envolvido(a), preparando-seantecipadamente para o encontro.

• Continue a aprender e a se comunicar. Sua voz pode realmenteajudar a mudar as coisas.

AÇÃO NÃO VIOLENTA

Ao longo dos anos, pessoas corajosas têm praticado a ação nãoviolenta, usando a compaixão e o interesse pela verdade paraneutralizar os ciclos de agressão e injustiça social.

A ação política não violenta assume muitas formas: desde ossuaves protestos simbólicos, vigílias e manifestações pacíficas, até aação direta, como boicotes, greves e campanhas de não-cooperaçãoque imobilizam a oposição. Um exemplo radical destas últimas é adesobediência civil: violar deliberadamente uma lei injusta, paraafirmar um princípio moral mais elevado.

Os que praticam a desobediência civil já foram detidos e presos,mas seu exemplo tocou a consciência das nações. Henry DavidThoreau escreveu: "Sob um governo que prende qualquer um injus-tamente, o verdadeiro lugar para qualquer homem justo é tambémnuma prisão.' Thoreau foi preso, durante um curto período, por serecusar a pagar impostos que apoiavam a escravidão e a GuerraMexicana. Martin Luther King, Jr. escreveu na prisão de Birminghamque "temos não só uma responsabilidade legal, como também moral,de obedecer às leis justas. Inversamente, temos uma responsabilidademoral de desobedecer às leis injustas", chamando a lei injusta de"ausência de lei". Numa afirmação de unidade, ele disse que "ainjustiça, seja onde for, é uma ameaça para a justiça em toda parte.Somos apanhados numa rede inescapável de reciprocidade, amar-rados numa roupa única do destino. Tudo o que afeta diretamente apessoa afeta tudo, indiretamente".8

Protestando contra as leis injustas, afirmando a unidade de toda aexperiência humana, aqueles que praticam a política do wu wei demons-tram três importantes lições do Tao: 1) clareza, 2) compaixão e 3) umavisão da unidade. Os resultados de suas ações afirmam o poder daliderança moral.

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PARA PROMOVERA CLAREZA

Antes de entrar em ação, os líderes morais, como King e Gandhi,pediam a seus seguidores para investigar os fatos, negociar com osadversários e ficar preparados para agir no espírito da não violência.

Reconhecemos aqui os passos da clareza e da centralização,discutidos anteriormente. Porque a pessoa precisa saber da verdadee estar em paz, interiormente, para praticar a política do wu wei. Kinge seus adeptos realizavam mesas de debates sobre a não violência,passando por "um processo de autopurificação". Perguntavam unsaos outros: "Você é capaz de suportar golpes sem retaliação?" "Vocêé capaz de suportar o suplício da prisão?"9 Gandhi ensinou as pessoasa praticar ahimsa, ou a compaixão amorosa, e a tratar os adversárioscom respeito e interesse, olhando além da causa que os dividia, paraque pudessem ver a humanidade comum a ambos.

Gandhi e King também falaram ao público em geral sobre seusobjetivos e o motivo de estarem praticando a ação não violenta.Assim, incluíram os espectadores interessados como testemunhas desua causa, aumentando a pressão sobre as autoridades para quemudassem a situação.

PARA AFIRMAR A COMPAIXÃO

Superficialmente, a política do wu wei assemelha-se a muitasgreves e operações-tartaruga no trabalho, bem como às manifes-tações não violentas e aos protestos. Mas existe uma diferença es-sencial: a atitude dos participantes. Muitos participaram das passeatase defenderam seus direitos com raiva no coração, amargos, acusandohipocritamente seus adversários. Isto não é wu wei, e sim fazerinimigos, mantendo o dualismo de "nós contra eles". Essa relaçãoagressiva só pode vencer batalhas temporárias: não pode conduzir àpaz. Pois o Tao nos diz:

"As pessoas do TaoAgem com compaixãoE não brigam."

(TAO 81)

Afirmando a compaixão, Gandhi tratou todos os seres humanoscom igual respeito, incluindo militares e autoridades governamentaisque se opunham a ele. Condenava a não-cooperação, quando era

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usada como expressão de sentimentos antibritânicos, acreditandoque, "para uma pessoa não violenta, o mundo inteiro é uma únicafamília. Essa pessoa, com isso, não temerá ninguém, tampouco osoutros a temerão".10 Praticando essa filosofia, Gandhi espantoumuitos de seus seguidores ao convidar adversários ingleses para ochá, ultrapassando as diferenças políticas em encontros em nívelpessoal com eles. O que alguns irados nacionalistas indianos en-caravam como uma "entrega" era apenas um outro passo na políticado wu wei ou, em termos de Gandhi, satyagraha, a "força da ver-dade", que conduziu à vitória final sobre a opressão britânica.

O ex-Secretário das Nações Unidas, Dag Hammarskjöld, reco-nhecia o poder da compaixão na solução de disputas. "Você só podeesperar encontrar uma solução duradoura para um conflito", disse,"se tiver aprendido a ver o outro objetivamente, mas, ao mesmotempo, se experimentar suas dificuldades subjetivamente".

Clareza e compaixão resolvem as disputas em nível maiselevado, criando uma nova compreensão entre adversários, queconstrói os alicerces de uma paz duradoura. A política do wu weitransforma o conflito, que passa de combate a oportunidade decooperação, rompendo-se assim os ciclos de violência para se cons-truir um novo modelo de harmonia. Como percebeu Thomas Merton,"A única libertação verdadeira é aquela que liberta tanto o opressorquanto o oprimido" do que ele chamou de "tirânico automatismo doprocesso violento".12

Com o conhecimento de que o Tao trabalha em ciclos deenergia, passamos a encarar a política do wu wei não como fraquezaem face da adversidade, mas como uma tentativa de transformar aprópria dinâmica da adversidade numa nova síntese, um novo ciclode paz. Com uma mensagem muito parecida à da caritas cristã, queguiou Martin Luther King, o Tao ensina seus seguidores:

"Seja bom com aqueles que são bonsE com aqueles que não são.Porque a bondade aumenta a bondade.Tenha fé nos que são fiéisE nos que não são.Porque a fé traz uma fé maiorE a bondade e a fé constroem a paz."

(TAO 49)

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PARA AFIRMAR A UNIDADE

Afirmando o princípio da unidade, a política do wu wei trans-forma o relacionamento entre adversários, ao transformar suaspercepções. Para citar dois modernos teóricos políticos, o conflitopassa a ser não mais um assunto de disputa, mas "um problema comque eles se defrontam em comum". Tornam-se "não contendores,mas parceiros, e sua unidade em relação a isto constitui a possívelbase para transcender o conflito".13 Livres da tirania do ódio e domedo, as pessoas podem trabalhar para resolver o problema, afirman-do um novo senso de cooperação.

Para realizar essa unidade, as pessoas vêm se dispondo a enfrentaro perigo, a brutalidade, até mesmo a morte. A campanha do wu wei játeve suas baixas. Defensores dos Direitos Civis já foram brutalmenteespancados na América do Sul; os adeptos de Gandhi foram chutados,espancados, até mesmo mortos a bala por seus opressores. Praticar wuwei requer a coragem de qualquer soldado e até mais, porque não sedeve lutar nem mesmo correr diante do perigo, e sim resistir corajosa-mente, com compaixão, pelo bem comum.

Na política do wu wei, o caminho e o ponto de chegada são amesma coisa. Um relacionamento com verdade e compaixão é ameta, e verdade e compaixão são também o único meio para chegara essa meta. As pessoas Tao vivem esse relacionamento a cada passodo caminho, enfrentando a violência, e até mesmo a morte, comoparte de um processo de mudança pelo qual sacrificariam até mesmosuas vidas. A violência usada contra eles opera daquela maneira queGene Sharp chamou de "jiujitsu político". A opressão violenta abalao apoio do opressor, em última instância levando os ciclos deviolência a um término.14

O PODER DO WU WEI

O Tao nos diz que:

"Ao nos depararmos com uma muralha de pedra,A suavidade vence a rigidez;O poder da água prevalece."

(TAO 78)

Aqueles que praticam a política do wu wei inspiram-se neste poderparadoxal: cedendo, vencem grandes obstáculos. Gandhi levou a Índia

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à independência sem a tecnologia moderna, sem armas nem apoioeconômico. Nessa campanha do satyagraha, ele mobilizou os únicosrecursos de que dispunha: um país com 300 milhões de pessoas, comfortes valores espirituais. Lenta, pacientemente, a satyagrahis de Gandhitocou os corações de seus opressores britânicos, até que eles se retiraram,libertando a Índia e a si mesmos da contínua injustiça.

Durante a campanha pelos Direitos Civis na América, as pessoasaprenderam que a segregação era errada, uma contradição de suaprópria democracia. Com as passeatas e protestos que infatizavam ainjustiça, as leis começaram a mudar, liberando as almas de muitosnegros, e brancos também, dos grilhões do medo e da discriminação.

Alguns céticos argumentam que se a não violência só podeprevalecer em exemplos selecionados, que ela não tem poder nenhumcontra a desumanidade de um Hitler. Entretanto, a história prova que estãoerrados, considerando-se as sucessivas campanhas de wu wei praticadascontra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Os dinamarqueses protestaram contra a ocupação nazista deseu país, em 1940, com a não-cooperação social, política eeconômica, resistindo a tentativas de incorporá-los à Nova Ordem deHitler. Empenharam-se em operações-tartaruga no trabalho,boicotaram os concertos alemães em favor de festas da comunidade,em que se cantava a música dinamarquesa tradicional. Quando osnazistas ordenaram que os judeus dinamarqueses usassem a estrelade David, um grande número de outros dinamarqueses, a começarpelo próprio rei, apareceram usando a estrela. Recusaram-se a exe-cutar as ordens nazistas para que fossem tomadas medidas repres-sivas contra os judeus, ajudando mais de sete mil deles a fugir para aSuécia; e, em agosto de 1943, entraram em greve contra o governo

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de ocupação.A não-cooperação com as ordens dos nazistas ocorreu até

mesmo entre as fileiras alemãs. Na França ocupada, um jovem guardanazista deixou um funcionário de socorros (um Quaker americano)atravessar um posto de controle na fronteira sem apresentar salvo-conduto. Anos antes, no fim da Primeira Guerra Mundial, Quakersamericanos tinham enviado alimentos para sua família, e o jovemalemão sentia um contínuo elo de boa vontade para com essaspessoas, agora supostamente os "inimigos" do Reich.

A não-cooperação com os alemães operou em escala ainda maisampla na Noruega, que, no fim da Primeira Guerra Mundial, abrigaracentenas de crianças alemãs para salvá-las da fome. O Reich de Hitlerenviou dois navios de guerra, com jovens soldados nazistas que266

haviam vivido entre os noruegueses, para invadir o antigo paíshospedeiro. Mas os laços de compaixão foram mais fortes do que opoder da guerra e do Alto Comando Alemão. Os jovens soldadosvoltaram para seus navios, recusando-se a lutar contra o povo daNoruega, que os tratara como membros de suas famílias. Isto exigiugrande coragem, pois os soldados podiam ter sido fuzilados pordesobedecer às ordens. Mas o Alto Comando respeitou seus desejose embarcou-os para outros compromissos.16

Repetidamente, vemos como a compaixão vence os ciclos deviolência. Enquanto as reações violentas só produzem mais violência,a política wu wei cria um novo ciclo de paz e compreensão. Pessoale politicamente, o Tao nos diz para construirmos a paz resolvendosabiamente o conflito, pois:

"Quando o conflito é resolvidoE ficam ressentimentos,Certamente outros conflitosVirão.As pessoas Tao negociam sabiamenteE trabalham pela concórdia.As pessoas sábias buscam soluções;Os ignorantes apenas atribuem culpas.O Tao favorece para sempreOs compassivos e os sábios."

(TAO 79)

Afirmação

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa.Resolvo os conflitos com compaixão.Centralizo-me.Busco a clareza.Afirmo a unidade e trabalho com os modelos mais amplos.Ajo de forma não violenta, tratando a todos com amor e respeito.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

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Page 142: O Tao Da Paz - Diane Dreher

NOTAS

1. Para uma discussão desse processo, ver: Leroy H. Pelton, The Psychologyof Nonviolence (Nova York: Pergamon, 1974), pp. 191 ss.

2. Chuang-Tsé em Yutang, The Wisdom of Laotse, pp. 54.3. Para uma explicação do uso do Te na solução de conflitos, ver The Taoist

I Ching, trad. de Thomas Cleary (Boston, Shambhala, 1986), p. 219.4. Hunter, Warriors of the Rainbow (Nova York: Holt, Rinehart & Winston,

©1979), pp. 252-53. Usado com permissão do autor.5. Para maiores informações sobre a Anistia Internacional, entrar em con-

tato com o escritório nacional, 322 Eighth Avenue, Nova York NY 10001tel. (212) 804-8400.

6. As sugestões sobre maneiras de prestar testemunho baseiam-se emconselhos de Society of Friends. Para maiores informações, entrar emcontato com o Friends Comittee on National Legislation, 245 Second St.NE Washington DC 20002, tel (202) 547- 6000.

7. Thoreau, Walden and Civil Disobedience, ed. Sherman Paul (Boston:Houghton Mifflin, 1960), p. 245.

8. Extraído de "Letter from a Birmingham Jail", de Martin Luther King, Jr.Copyright© 1964 de Martin Luther King, Jr. Estas citações e a que se segueforam usadas com permissão de Joan Daves.

9. King, "Letter from a Birmingham Jail". Usado com permissão (ver acima).10. Mohandas K. Gandhi, em Gandhi on Non-Violence-.Sélected Texts from

Mohandas K. GandhVs Non-Violence in Peace and War, org. ThomasMerton (Nova York: New Directions, 1965), p. 67. Para explicação sobreas táticas de Gandhi, ver: Timmon Milne Wallis, Satyagraha: TheGandhian Approach to Nonviolent Social Change (Northhampton, Mas-sachusetts: Pittenbruach Press, 1985), pp. 29-33.

11. Hammarskjóld, Markings (Nova York: Alfred A. Knopf, Inc.; Londres:Faber and Faber Ltd., ©1965), p. 114. Usado com permissão dos editores.

12. Merton, "Introduction", Gandhi on Nonviolence, p. 14.13. Anders Boserup e Andrew Mack, War Without Weapons: Nonviolence

in National Defense (Nova York: Schocken, 1974), p. 14.14. Gene Sharp, "Investigating New Options in Conflict and Defense" em A

Peace Reader: Essential Readings on War, Justice, Non-violence andWorld Order", org. Joseph Fahey e Richard Armstrong (Nova York:Paulist Press, 1987), p. 115.

15. Informações sobre a resistência dinamarquesa extraídas de uma entrevistacom William J. Stover, Ph.D., ex-diplomata e professor americano derelações internacionais, e do ensaio de Chirstopher Kruegler e PatríciaParkman, "Identifying Alternatives to Political Violence: An EducationalImperative", em A Peace Reader, p. 253, de Fahey e Armstrong.

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16. Relato da resistência pacífica entre as fileiras alemãs extraído do livro deHaridas T. Muzumdar, "Gandhi's Nonviolence", originalmentepublicado no Priendsjournal, republicado em A Peace Reader, de Faheye Armstrong, pp. 217, 218. Usado com permissão do Friends Journal.Assinaturas a 18 dólares por ano (12 exemplares), sendo o endereço decontato 1501 Cherry Street, Philadelphia PA 19102-1497, tel. (215) 241-7280.

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CAPITULO 22

COMO CONSTRUIR A

COOPERAÇÃO

Coopere e não haverá males,Apenas felicidade, ordem e paz.

(TAO 35) .

Acooperação constitui o próprio alicerce da vida, tal como aconhecemos: criando toda a matéria das ondas de energiasubatômica, combinando os milhões de células que compõem

nossos corpos, dando formas a toda a natureza, arte e sociedadehumana.

Lao Tsé ensina que a compreensão é natural na vida. O medo e aagressão surgem quando as pessoas se esquecem da unidade do Tao. Apesquisa de Riane Eisler fornece provas arqueológicas para o paradigmacooperativo de Lao Tsé. Em seu livro The Chalice and the BladeiO cálicee a espada) ela refuta a alegação de que os seres humanos são natural-mente agressivos. Acompanhando nossa história, num recuo de cincomil anos, até um tempo em que não havia guerras, Eisler descreveflorescentes sociedades nas quais imperava a parceria e o poder erapercebido não como a capacidade de destruir, mas de alimentar esustentar a vida. A arte do período minóico antigo e da antiga Europaenfatizou a cooperação de homens e mulheres e uma profundareverência pelos ciclos da natureza, revelando valores muito diferentesdaqueles últimos impostos pelas hordas de guerreiros que assolaramtoda a Europa. Esses invasores trouxeram seus deuses da guerra paraum povo outrora pacífico, juntamente com a violência, a ordem patriar-cal, a opressão das mulheres e uma visão competitiva do mundo.1

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Muitas sociedades, do Oriente e do Ocidente, dão conta de uma"era do ouro" mística, de cooperação pacífica, soterrada profunda-mente das névoas do tempo. Este paradigma cooperativo permaneceencravado em nossa memória cultural, reconhecido mesmo hoje porlíderes políticos. Quando Anthony Donovan entrevistou diplomatasnas Nações Unidas, em 1983, a maioria deles definiu a paz comocooperação.

A paz ocorre quando" a cooperação vence o conflito", segundocientistas políticos. Num processo conhecido como funcionalismo,duas ou mais partes cooperam quando um bem comum transcendeseus interesses em competição. Um exemplo disto é o MercadoComum Europeu. Depois de séculos de guerra, os países da EuropaOcidental estão aprendendo a cooperar economicamente, forjandoo modelo para uma Europa unida através dos laços do comérciointernacional.

Psicólogos desenvolvimentistas vêem a cooperação como umimportante indicador da condição adulta. Os indivíduos passam dadependência infantil para a independência da adolescência, eacabam chegando a um reconhecimento de nossa inter-relação. Emnível internacional, muitos países ficaram presos na adolescência.Porém, como provam os atuais problemas ecológicos, respiramos omesmo ar, bebemos a mesma água, partilhamos o mesmo sol e amesma chuva. O Tao nos lembra que:

"A terra e o céu cooperamE cai a suave chuvaSobre todos nós, igualmente,Não em obediência às leis dos homens,Mas à harmonia natural."

(TAO 32)

O que nos impede de ver essa harmonia, de reconhecer nossainterdependência? O medo. Sempre que sentimos que nossasegurança está ameaçada, tornamo-nos defensivos, hostis e agres-sivos. Isto é verdade tanto para os indivíduos como para as nações.Para cooperar, devemos vencer nossos medos, construindo aconfiança, desenvolvendo uma compreensão mais profunda de nósmesmos e um do outro. Este capítulo mostra como podemos fazeristo: 1) identificando objetivos comuns, 2) comunicando-nos maiseficazmente e 3) vendo nós mesmos como parte da natureza, afir-mando o princípio taoísta da unidade através da ação políticacooperativa.

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OBJETIVOS COMUNS

Os objetivos comuns são os grandes unificadores. Uma crisepode fazer aparecer o melhor que há nos seres humanos, quandotrabalhamos para o bem comum. Durante o terremoto na Cidade doMéxico, em 1985, equipes de socorro do mundo inteiro foram ajudaras vítimas enterradas vivas nos destroços. Depois do acidente nuclearde 1986, em Chernobyl, especialistas médicos americanos e russostrabalharam juntos para ajudar as centenas de pessoas atingidas pelaradiação mortal. Os desastres foram enormes, mais a resposta foi umesperançoso sinal de nossa capacidade de cooperação.

Porém, com freqüência, um objetivo comum não é suficientepara sustentar a cooperação. Laurel Robertson, autora de Laurel'sKitchen (A cozinha de Laurel) conta que trabalhou num jornal quefazia oposição à guerra do Vietnã, em 1967, mais o projeto fracassouporque as pessoas não se entenderam. "Foi arrasador", disse ela, eperguntou: "Se uma grande causa não pode unir as pessoas, o quepoderá ?" Ela encontrou sua resposta na meditação, percebendo quea paz deve ser um esforço equilibrado de mãos e coração, atitudecorreta e trabalho ativo.4 O Tao afirma a importância dessa atitude:

"As pessoas do TaoAgem com compaixãoE não entram em disputa."

TAO (81)

COMUNICAÇÃO TAOÍSTA

Podemos desenvolver uma compaixão maior através da comu-nicação honesta. Reservando tempo para nos centralizar, podemosescutar atentamente os outros. A palavra chinesa para uma pessoasábia, sheng jen, significa literalmente "aquele que escuta". Osmediadores internacionais Arnold Gerstein e James Reagan enfatizama importância da escuta em seu livro Win-Win. (Vencer, vencer). Apacifista Joanna Rogers Macy considerou a escuta "o instrumentomais poderoso para alcançar a paz e realizar qualquer outro tipo detrabalho a favor da mudança social".5

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QUANDO ESCUTAMOS A NÓS MESMOS

Para nos comunicarmos claramente com as outras pessoas,devemos escutar atentamente a nós mesmos, reconhecendo nossaspróprias atitudes e emoções. Os perigos da repressão e das projeçõesda sombra foram explicados em capítulos anteriores. Se não en-tendermos nossos sentimentos, complicaremos as comunicaçõescom agendas escondidas e ressentimentos intensos.

Os sentimentos transmitem mensagens importantes que ig-noramos, para risco nosso. Não é fácil respeitar nossos sentimentosnuma sociedade que os encara como admissão de fraqueza valorizan-do uma racionalidade fria. Porém, entra em contato com o que oschineses chamam hsin, nosso coração-mente, é um passo importantepara a comunicação honesta.

EXERCÍCIO PESSOAL

Por mais ocupados que estejamos, todos nós precisamos detempo para escutarmos a nós mesmos, todos os dias. Algumas pes-soas fazem isto logo ao acordar; outras preferem o fim do dia.Algumas reservam tempo livre para escutar sempre que se sentemfora de seu equilíbrio. Aqui estão algumas maneiras de permanecerem contato com você mesmo(a).

• Escreva um diário, registrando nele seus objetivos, seus pensamentose sentimentos, a cada dia.

• Escreva seus sonhos, quando acordar. Você vê algum modelo que serepete? O que dizem a seu respeito?

• Passe alguns momentos em meditação diária. Pergunte a si mesmo (a):"O que estou sentindo? Estou aqui para aprender o quê?"

• Dê caminhadas ou corra regularmente. Escute seu mantram. o somde sua respiração, a sensação de seus batimentos cardíacos. Note ospensamentos que lhe vêm à mente.

• Quando estiver ansioso(a) ou perturbado(a), passe alguns minutossozinho(a). Pergunte: "O que estou sentindo agora?" e fique, simples-mente, à escuta.

A COMUNICAÇÃO HONESTA

Quanto mais ouvimos a nós mesmos, em um nível mais profundo,mais abertos podemos ser para com os outros. O psicólogo humanista

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Carl Rogers enfatizou a importância da abertura para a manutenção dosrelacionamentos. Todos nós já sentimos a necessidade de pequenasmentiras e álibis gentis, quando a verdade não parecia lá muito perfeita,mas, com freqüência, esses logros criam novos problemas.

Você consegue se lembrar da última vez em que foi apanhado(a) numa rede de complicações resultantes de uma única mentira?Como se sentiu? O psicólogo clínico Lewis Andrews diz que a mentiraabala nossa integridade, nosso senso do eu. Até mesmo mentirasbem-intencionadas podem nos tirar de nosso equilíbrio. O Tao ensinauma reverência pela verdade. A desonestidade nos separa de nósmesmos e um do outro, violando o princípio da unidade.

Não podemos cooperar quando não entendemos um ao outro.Para indivíduos e grupos, reter informações ou suprir sentimentosnegativos garante uma trégua temporária, ao custo da verdadeiracompreensão. Não é assim que podemos construir uma paz duradoura.

Durante as décadas de 1970 e 1980, muitas pessoas foram parao outro extremo, atacando as outros com brutal negatividade, sob odisfarce de "partilhar" e "ser francas" com elas. Essa honestidadebrutal não é o caminho do Tao. Nosso desafio é combinar aberturacom compaixão em todas as nossas interações.

ESCUTANDO OS OUTROS

O Tao ensina não apenas o discurso verdadeiro, mais a escutacuidadosa, dizendo-nos ainda, que devemos ter cuidado com aretórica vazia, porque:

"A verdade não é dita por palavras espalhafatosas.Palavras espalhafatosas não são verdadeiras."

(TAO 81)

A busca da verdade, quando nosso mundo nos cerca comcortinas de fumaça de palavras e imagens, não é fácil. As pessoas Taoobservam, escutam, olham além das palavras, a fim de captar alinguagem não verbal das ações e dos gestos.

Carl Rogers viu o papel do terapeuta como o de um ouvinte.Para indivíduos, grupos e nações ele acreditava que a escuta ativa ea comunicação franca podiam construir uma atmosfera de confiançae compreensão. Nos últimos anos de sua vida Rogers fundou oInstituto Carl Rogers para a Paz, em La Jolla, Califórnia. Lá, organizouturmas de debates e ensinou comunicação interpessoal. Junto com

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sua dedicada equipe, ele viajou pelo inundo inteiro, encontrando-secom grupos hostis da América Central, Europa e Oriente Médio,ajudando-os a alcançar maior compreensão e cooperação, a construira paz praticando os princípios do Tao.7

EXERCÍCIO PESSOAL: A ESCUTA ATIVA

A escuta ativa nos torna melhores defensores da paz em nossasvidas pessoais e públicas. Mas exige prática. Qualquer dia desses,sente-se ao lado de um amigo ou membro da família e escute,seguindo estas orientações:

• Sente-se diante da pessoa sem quaisquer barreiras externas (mesasou escrivaninhas) entre vocês.

• Relaxe, centralize-se e olhe bem nos olhos da pessoa.• Faça uma pergunta inicial: "Então, o que tem acontecido com você,

ultimamente ?" "Como andam as coisas ?"• Ouça atentamente. Não deixe sua mente divagar. Não fale sobre

você mesmo (a).• Olhe para a outra pessoa. Centralize sua atenção no que ela está

comunicando com palavras, gestos, linguagem corporal, tom devoz. Que emoções você está captando ? A pessoa está nervosaexcitada, feliz, relaxada, hostil?

• Sem parecer mecânico, faça eco ao que ouve, dizendo coisas como:"Parece que você está entusiasmado(a) com seu novo emprego".Ou:"Esse novo compromisso realmente deixou-o(a) preocupa-do(a)". Se as emoções que você ouve entram em conflito com aspalavras, faça eco aos sentimentos: "Você parece ansioso(a)","frustrado (a)", "tenso (a)" ou o que você escutar.

• Depois, escute mais uma vez. Se tiver entendido claramente, apessoa concordará com você e continuará. Caso contrário elaesclarecerá a mensagem. De uma forma ou de outra, você podeconfirmar sua compreensão.

• Resista à tentação de falar, partilhar histórias com a outra pessoa.Lembre-se, seu papel é escutar.

• Continue escutando, observando a linguagem corporal, e respondaquando for apropriado.

• Quando o processo parecer completo — quando a pessoa tiveralcançado uma nova visão e estiver decidida a tomar alguma medida,ou se mostrar agradecida a você por sua preocupação — conclua suaescuta. Você pode querer encerrar a sessão com um abraço.

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Sua escuta atenta criará um laço mais forte entre você e seu amigo (a).A comunicação autêntica constrói a confiança, que alimenta a

cooperação. Quanto mais aprendemos a confiar um no outro, menossucumbimos ao medo e à agressão. O antropólogo David Barash obser-vou que "tanto os animais humanos quanto os não-humanos tendem areservar suas agressões mais ferozes para os estranhos".8 Quanto maisconhecemos uns aos outros, menor é a probabilidade de guerra.

Pessoas em todo o planeta começaram a reconhecer aimportância da comunicação, construindo novas pontes decompreensão através da democracia e do intercâmbio cultural exer-cidos entre cidadãos. A professora de escola secundária BarbaraWarner viajou para a União Soviética, em 1983, numa visita or-ganizada pelo Conselho Nacional das Igrejas Presbiterianas. A missãodeles, diz, "era investigar, de uma perspectiva da fé, como podemosincentivar o espírito comunitário entre as duas nações". GertaideWelch, militante de longa data em prol da paz, visitou a Nicarágua,bem como a União Soviética. Ela enfatiza "nossa responsabilidade deconstruir pontes entre os povos, para dar um rosto às pessoas quenosso governo chama de "o inimigo".

A professora de ciência política Jane Curry organizou umintercâmbio educacional, em 1989, entre a Universidade de SantaClara, na Califórnia, e universidades da Polônia e da União Soviética.No mesmo ano, uma escola elementar em Los Gatos, na Califórnia,trocou desenhos e votos de um futuro feliz com colegiais da Lituânia.Em fotos e cartas, as crianças manifestaram seu desejo de paz, suapreocupação com o meio ambiente. Se tivéssemos paz, disse umadelas, de 12 anos, "talvez não tivéssemos tantos problemas com apoluição ambiental".

A estudante e bailarina Linda Filley, de 21 anos, viajou com umgrupo de dança pela Polônia e União Soviética, em 1988. Ela ajudoua unir nossos países, comunicando-se na linguagem universal damúsica e da dança. Com os olhos azuis brilhando, Linda fala do amorque sentiu refletir de volta para ela, no palco, e também dos amigosque fez nos dois países.9

À medida que aprendemos mais uns sobre os outros, reco-nhecendo os laços que nos unem, vamos seguindo o Tao da paz.Como nos lembra Lao Tsé:

"A pessoa Tao abraça a unidade

E vive em paz segundo seu modelo."

(TAO 22)

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A CONSTRUÇÃO DO CONSENSO

A tomada de decisões através do consenso constrói a paz,trabalhando com as energias do grupo, permitindo que aflorem osmodelos naturais da ordem. O consenso é um exemplo dinâmicode cooperação entre iguais. Como a escuta ativa de Carl Rogers,baseia-se numa forte fé no processo. A pessoa Tao escutarespeitosamente, percebendo que nenhuma pessoa tem todas asrespostas, que a verdade surge do próprio processo.

O consenso evita as soluções estreitas impostas por per-sonalidades fortes ou por decisão majoritária. Respeita as objeçõesda minoria e investiga as questões que elas levantam. As diferençasde opinião — os conflitos — são encarados como informaçõesvaliosas para o grupo. Numa atmosfera não combativa, os membrostrabalham juntos, em vez de defender seus egos. Cuidadosamente,examinam suas próprias atitudes, escutam os demais e permanecemabertos à mudança.

O consenso é apoiado por:

1. objetivos e finalidades partilhados;2. ausência de pressões externas e agendas;3. partilha democrática de poder;4. uma atmosfera segura, de confiança;5. tempo suficiente para as pessoas se comunicarem e chegarem a

um acordo;6. percepção de nossos próprios sentimentos e os dos outros;7. comunicação honesta e simplificação rogeriana;8. compromisso com o processo e com o bem maior do grupo.

O consenso exige tempo: tempo para escutar, tempo paraexplicar, tempo para aprender. Os membros do grupo vêem seuspróprios sentimentos e idéias como parte de um processo maisamplo e confiam nesse processo, até mesmo quando os desacor-dos os impedem de chegar a soluções rápidas. Uma voz dissidente,numa votação majoritária, seria rapidamente dominada; uma vozdissidente num grupo de consenso é ouvida com respeito. O Taonos diz:

"Cuide dos detalhesE desenvolva maior penetração.Ceder em coisas pequenasPode fortalecê-lo (a).Cuide da luz

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Interna e externa,Evitando os infortúniosCom a busca da verdade."

(TAO 52)

O consenso conduz à clareza de visão e às soluções quenenhum de nós pode alcançar sozinho. Comecei a usar o consensopor desespero, quando designada para fazer algo que eu jamaisfizera. Alguns anos atrás, dirigi um seminário, durante o verão, deprofessores de inglês em escolas secundárias. O assunto — crise deadolescência na literatura e na vida — me entusiasmou. Mas eu sótinha um conhecimento de leiga sobre os problemas da adolescência,e jamais ensinara em escola secundária. Então reuni um grupo deamigos: uma conselheira e ex-professora de escola secundária, profes-sores de literatura e teatro e um especialista em formação de professores.Em nossos encontros anteriores ao seminário, foi empregado o con-senso, combinando visões diferentes num plano coerente.

Quando os vinte professores de escolas secundárias chegarampara a mesa-redonda, nosso consenso ampliou-se. Esses empe-nhados professores tornaram-se fontes valiosas, enriquecendo nos-sos debates com seus conhecimentos práticos e seus conselhos.Numa atmosfera de crescente entusiasmo, trocamos idéias. Um fortesenso de comunidade desenvolveu-se, à medida que todoscomeçaram a trazer livros, fitas e materiais escolares para mostrar aosoutros. Fizemos bolos de café e bolinhos de milho para servir duranteos animados intervalos, quando discutíamos tudo, desde o planejamentode seminários até estratégias de ensino e objetivos pessoais.

O resultado foi um encontro descrito pelo avaliador oficialcomo um modelo cooperativo para seminários de formação deprofessores. A ativa participação dos professores não apenas trans-formou o plano oficial num encontro bem-sucedido, mais criou umaduradoura rede colegial. Anos mais tarde ainda estávamos em con-tato, trocando cartas, telefonando-nos, trocando informações unscom os outros e — acima de tudo — amizade e apoio.

O consenso cria laços duradouros. Sendo a democracia emação, desafia as pessoas a se envolverem, em vez de dependerem de"especialistas" e "autoridades" para tomar decisões em seu lugar.Desde as comunidades Nova Era até os grupos políticos progressistas,o consenso é um novo modelo para a tomada de decisões e para aação política que parte de bases populares. Peter Cardy, co-fundadorda Comunidade Findhorn, no norte da Escócia, diz que o grupo toma

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por consenso todas as decisões importantes. Bob Pickford, daFederação das Cooperativas do Rio Ohio, alogia o consenso, dizendoque isto sedimenta a unidade.¹² O consenso usa a sabedoria coletivae o processo de grupo para a apresentação de novas soluções, unindoas pessoas num elo comum, como fomentadoras da paz esolucionadoras de problemas.

A COOPERAÇÃO COMA NATUREZA

Como a cooperação mútua, e cooperação com a natureza éessencial para uma paz duradoura. Esta visão inspira muitos poetasmodernos. Gary Snyder, estudioso de longa data da filosofia oriental, diz" para vivermos com leveza na terra, permanecermos conscientes e vivos,livres de egoísmo", e assim perceberemos que toda a vida é interdepen-dente. Cory Wade escreve sobre o suplício dos animais, advertindo-nospara respeitar as outras vidas que partilham nosso mundo. "

Há muito tempo, a atitude dos países industrializados para coma natureza vem sendo de domínio e destruição — de nosso habitat,de nossos vizinhos não-humanos e em última instância de nós mes-mos. É hora de respeitarmos as leis naturais dentro e em torno de nós,os princípios duradouros do Tao.

A antiga sabedoria de todas as culturas afirma nossa unidadecom a natureza. Porém, com freqüência, nossa tecnologia obscureceessa verdade essencial. As palavras do Chefe Seattle, em 1854, fazemeco tanto à sabedoria de Lao Tsé quanto à crescente consciênciaecológica de hoje:

" Isto sabemos. A terra não pertence ao homem; o homem pertenceà terra. Isto sabemos. Todas as coisas são ligadas, como sangue queune uma família. Todas as coisas são ligadas.

Tudo o que acontece com a terra acontece com os filhos da terra.O homem não teceu a teia da vida; ele é, simplesmente, um fio seu.Qualquer coisa que faça com a teia, faz consigo mesmo."

A percepção de que tudo o que fazemos com a teia da vidafazemos com nós mesmos cresceu no fim da década de 1980, àmedida que um clamor público contra os perigos dos pesticidasquímicos conduzia a uma crescente demanda por uma produçãosegura, orgânica. Em 1989, os certificados para a lavoura orgânicadobraram de número na Califórnia, e programas parecidos espa-lharam-se por toda a Europa, Peru, México, Canadá, Japão e Austrália.

Antes do advento de fertilizantes e pesticidas sintéticos, toda a

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agricultura era orgânica, trabalhando em harmonia com a terra. Levoudécadas para percebermos que os venenos que espalhamos emnossas plantas entram nas frutas e verduras que comemos. A antigasabedoria, redescoberta, ensina: o que distribuímos volta para nós;toda a vida é ligada, está unida no Tao.

A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA COOPERATIVA

O Tao nos pede para ampliarmos nossa definição habitual depolítica, à medida que vemos as implicações de todas as ações, grandese pequenas em relação, com o todo.

Uma manhã, acordei com um som agourento, enquanto serraszumbidoras destruíam incansavelmente três árvores da minha vizinha.Correndo para a rua, vi uma árvore bela e doce que produz borrachasob o ataque dos implacáveis ceifeiros do departamento de obraspúblicas, enquanto outra jazia morta e desmembrada no chão, nasproximidades. A venerável cerejeira do vizinho também estava marcadapara a destruição. O trabalho era oficial, aprovado por licenças, porquetrês raízes haviam arrebentado a calçada. Tristemente, pensei em meusanos na Alemanha, onde as árvores são encaradas como tesourospúblicos, mais importantes do que camadas de concreto. Lá, umproprietário de casa tem de conseguir a aprovação do governo paraabater uma árvore, mesmo em seu próprio quintal.

Quem pode dizer que danos foram causados a nosso sistemanaquele dia, que habitais foram destruídos, que perturbações ocor-reram no frágil equilíbrio de oxigênio e dióxido de carbono existentesno ar que respiramos ? Jurei combater novas remoções de árvores emmeu bairro e plantar mais árvores em meu quintal, para ajudar arestabelecer o equilíbrio. Até agora, um minúsculo pessegueiro estáem minha varanda, esperando para ser transplantado. Mas demoraráanos, talvez o período de uma vida, até o prejuízo ser compensado.Quão rápida, quão inconscientemente, vamos destruindo nossohabitat.

Nos últimos anos formaram-se alguns grupos empenhados emreverter essa tendência destrutiva, trazendo o princípio da unidade ea política do wu wei para nossas cidades, com "programas de cidadesverdes". A Fundação Planet Drum, em San Francisco, realizaseminários bio-regionais para ensinar às pessoas a ecologia nativa desua região e os trabalhos para restabelecer o equilíbrio da vida emnossas cidades. Entre algumas de suas idéias estão: a purificação doar da cidade, plantando-se mais árvores, arbustos e hortas da comu-

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nidade; a criação de melhores sistemas de trânsito público; o aumentode nosso uso de energia solar; o início de programas de reciclagemem larga escala; a criação de uma comissão especial de planejamentopara considerar os efeitos de todas as decisões futuras sobre oecossistema.15

O Partido Verde Alemão pratica a política ecológica em escalaglobal. Em março de 1983, vinte e sete membros foram eleitos para oBundestag, o Parlamento da Alemanha Ocidental. Eles entraram norecinto carregando um grande globo e o ramo de uma árvore queestava morrendo em conseqüência da poluição na Floresta Negra.

Proclamando "Não somos nem de esquerda nem de direita;somos de frente", os Verdes não apenas influenciaram a políticaalemã, mais prenderam a imaginação do inundo. Apelam para nossacrescente percepção de que a vida inteira está intrinsecamenterelacionada. Como explica Petra Kelly: "O conteúdo espiritual dapolítica dos Verdes... significa o entendimento de como tudo estáligado e o entendimento de sua relação com o planeta Terra na vidacotidiana".1 Isto reflete muito intimamente, a pragmática espirituali-dade do Tao.

Linus Pauling e Norman Cousins consideraram uma maiorcooperação e percepção ecológica como caminhos para a paz. Paul-ing propõe que "os grandes problemas do mundo sejam solucionadosda maneira como os outros problemas são solucionados", através dapesquisa. Ele insiste para que os povos entrem em cooperação naspesquisas para a paz, "lutando de todas as maneiras possíveis paradescobrir quais são os fatos, para aprender cada vez mais sobre a naturezado mundo e para usar todas as informações que podem ser obtidas noesforço para descobrir a solução".17

Norman Cousins vê a paz e a ecologia como coisas "intimamenterelacionadas", porque, na política da paz saímos da destruição para acriatividade, "protege (ndo) as condições que sustentam a vida". Ele encaranossos problemas ecológicos como uma oportunidade para a cooperaçãointernacional, um caminho para a paz mundial. Se, simplesmente, pudés-semos redefinir nossos conceitos de segurança, escreveu, profeticamente,em 1987, se os Estados Unidos e a União Soviética pudessem" desviar seuolhar um do outro e passar a ver a necessidade de tornar o planeta seguroe adequado para a habitação humana, talvez promovessem sua própriasegurança, enquanto avançassem para a segurança comum".18

Enquanto escrevo este livro, a atenção já se desviou. A guerra friaterminou. Pela primeira vez em minha vida, talvez a primeira vez nesteséculo, vejo os americanos tendo uma oportunidade vital de abraçar um

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novo paradigma de cooperação, de perceber que todos somos vizinhosneste planeta. "Qualquer coisa pode acontecer agora", disse-me, outro dia,um amigo antigamente cínico. "Nunca houve um período como este".

Esta percepção cresce à medida que um número maior de pessoasimagina: "O que acontecera agora ?" Podemos recuar para o velho paradig-ma e posturas defensivas ou avançar para a cooperação. Podemos pararde usar nossa tecnologia para destruir a vida e traçar um novo caminho,fornecendo alimentos, abrigo, ar limpo e água para todos, preferindo viverem paz com nossos vizinhos e com o planeta que chamamos de lar.

AFIRMAÇÃO

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa.Sinto minha união com a vida inteira neste planeta.Comunico-me com clareza, ouço com atenção e respeito os

pontos de vista dos outros.Coopero mais a cada dia, vivendo a sabedoria do Tao.Respeito a mim mesmo (a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Ver o excelente livro de Raine Eisler, The Chalice and the Blade: OurHistory, Our Future (San Francisco: Harper & Row, 1987). Maioresinformações, seminários e guias de estudos podem ser encontrados noCenter for Partnership Studies, P.O. Box 51936, Pacific Grove CA 93950.

2. Anthony Donovan, World Peace: A Work Based on Interviews withForeign Diplomais (Nova York: Anthony J. Donovan, 1986).

3. Informações de William James Stover, Ph. D., cientista político e ex-oficial do Ministério de Relações Exteriores, e John Spanier, GamesNations Play, 6a ed. (Washington, DC: CQ Press, 1987), pp. 634-72.

4. Citação de "A Split at the Razor's Edge", de John Hubner, revista West,Mercury News de San José, 30 de abril de 1989, p. 17.

5. Explicação do shengjen no livro de Blackney, Lao Tzu: The Way of Life,p. 41. Citação de Despair and Personal Power, de Macy, p. 45. Para umaexplicação sobre escuta e solução de conflitos, ver: Arnold Gerstein eJames Reagan, Win-Win: Approaches to Conflit Resolution (Salt LakeCity: Gibbs M. Smith, 1986).

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6. Lewis M. Andrews, Ph.D., To Thine Own Self Be True (Nova York:Doubleday, 1987), pp. 3-5, 91-92.

7. Para uma explicação da comunicação rogeriana, ver: Carl R. Rogers,Becoming Partners: Marriage and Its Alternatives (Nova York:DelacortePress, 1972). Maiores informações sobre comunicação rogeriana numtrabalho sobre a paz internacional que existe no Carl Rogers Institute forPeace, Center for Studies of The Person, 1125 Torrey Pines Road, La JollaCA 92037, tel. (619) 459-3861.

8. DavidP. Barash, Sociobiology and Behavior, 2a ed. (Nova York: Elsevier,1982), p. 437.

9. De entrevistas com Barbara Warner, Santa Clara, Califórnia, dezembrode 1987, e Gertrude Welch, San José, Califórnia, abril de 1987;"US-SovietStudent Exchange Employs Art for Peace's Sake", Mercury News de SanJosé, 10 de maio de 1989, Extra 3, p. 9; debate com Jane Curry, Ph.D., eLinda Filley na Universidade de Santa Clara, maio de 1989.

10. Minha versão inspirou-se na tradução de Tolbert McCarroll, The Tao: TheSacred Way (Nova York: Crossroad, ©1982), p. 47: "Therefore the truePerson embraces the One/And becomes a model for all"("Assim a PessoaAutêntica abraça o Uno/E se torna um modelo para todos". Usado compermissão do autor.

11. Baseado em idéias extraídas de Building United Judgment: A Handbookfor Consensus Decision Making (Madison: Center for Conflict Resolution,1981), pp. 8-9. Para este e outros materiais sobre consenso e resoluçãode conflitos, contatar o Center for Conflict Resolution, 731 State Street,Madison WI 53703, tel. (608) 255-0479

12. De uma discussão sobre consenso e cooperativas, no livro de WilliamValentine e Frances Moore Lappé, What Can We Do? (San Francisco:Instituto for Food and Development Policy, 1980), p. 14.

13. Citação do livro de Gary Snyder, Turttle Island (Nova York: NewDirections, 1974), p. 99. O livro de Cory Wade, July in Geórgia, pode serencomendado com Wisbeck, England: Red Candle Press, 1990.

14. A mensagem do Chefe Seattle, ao Presidente Pierce, 1854, no livro deFahey e Armstrong, A Peace Reader, p. 195.

15. Para maiores detalhes sobre "programas das cidades verdades", ver AGreen City Program, de Peter Berg, Beiyl Magilavy e Seth Zuckerman(San Francisco: Planet Drum Books, 1989) que pode ser pedido à PlanetDrum Foundation, Box 31251, San Francisco CA 94131. Os San FranciscoFriends of the Urban Forest (512 2nd Street, 4th floor, San Francisco CA94107, tel. (415) 543-5000), fornecerão informações sobre a importânciadas árvores no equilíbrio de nosso ecossistema, e o(a) ajudarão a formargrupos de ação verde em sua área.

16. Citação de Petra Kelly e informação a respeito do Partido Verde extraídasdo livro de Capra e Spretnak, Green Politics, p. 55.

17. Informação extraída de uma entrevista telefônica com Linus Pauling, em

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dezembro de 1986, e de seu livro no More War!, edição de 25°aniversário (Nova York: Dodd, Mead, 1983), p- 193.

18. Informação extraída de entrevista com Norman Cousins na UCLA, emjulho de 1988, e de seu livro The Pathology of Power (Nova. York: Norton,1987), p. 193. Cousins é presidente da World Federalist Association, quetrabalha para a paz mundial através da lei mundial. Para maioresinformações, escrever para a W.F.A, P.O. Box 15250, Washington DC20003.

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CAPÍTULO 23

O TAO DA

COMUNIDADE

A pessoa Tao vive em paz:Estendendo os braços

Numa comunidade do coração,Encarando tudo o que viveComo uma única família.

(TAO 49)'

Estendendo os braços numa "comunidade do coração", afir-mamos um novo paradigma de cooperação. Começando emnível local, estendendo-se para o nível global, nossas relações

reforçam toda a nossa visão de mundo. Se são hostis e competitivas,percebemos o mundo como um local perigoso, passando a reagir deforma defensiva, perpetuando os ciclos de violência. Mas, se viver-mos numa comunidade interdependente, cheia de zelo, então nossavisão de mundo e, conseqüentemente, o mundo que criamos, serãopacíficos. Como aprenderemos neste capítulo, nossa comunidadelocal é tanto o meio como o fim: um símbolo vivo da meta quebuscamos.

Numa única geração, o aumento da mobilidade e as novastecnologias abalaram o espírito de comunidade na América. Osnegócios menores, existentes no passado, não exigiam que osempregados se deslocassem. A maioria das pessoas crescia, en-contrava emprego e se casava na mesma cidade. Antes do adventodo automóvel, os empregados não fragmentavam suas vidas moran-do e trabalhando a quilômetros de distância. As famílias viviam maispróximas, na mesma cidade, freqüentemente sob o mesmo teto.

Em décadas anteriores, as famílias sentavam-se na varanda dafrente, em noites de verão, para conversar com os vizinhos. Agora,

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sentam-se diante do aparelho de TV. Na verdade, a maioria dosamericanos "conhece" os tipos de programas de televisão mais doque seus próprios vizinhos. Como resultado, muitas vezes nos sen-timos alienados, impotentes e deprimidos. Agarrando-nos à famílianuclear, talvez em excesso, esquecemo-nos de que somos parte deuma família humana mais ampla.

Os últimos cinqüenta anos testemunharam um deslocamentopopulacional maciço das cidades pequenas para extensões subur-banas cujo único ponto de encontro é o shopping Center maispróximo. Todos os dias, milhões de pessoas passeiam ansiosas pelosshoppíngs, em busca de algo que não pode ser comprado, a comu-nidade que deixaram atrás de si.

O Centro para Solução de Conflitos de Wisconsin culpa peladesintegração da comunidade os valores comerciais dos EstadosUnidos, que jogam as pessoas umas contra as outras, numa corridafrenética para produzir e adquirir mais.2 Para muitos, a vida pareceum jogo solitário de sobrevivência, num mundo darwiniano brutal.Com sua forte ênfase no individualismo, a sociedade americana ficoupresa na adolescência, quando a principal tarefa da vida é afirmarnossa independência. Muitos americanos sofrem de solidão efrustração crônicas, incapazes de realizar seu destino como sereshumanos.

A vida sem comunidade é infeliz e pouco saudável. Aspesquisas mostraram que constante interação com estranhos, nascidades apinhadas, torna as pessoas mentalmente doentes. Umrecente estudo indica que 82% das pessoas em Manhattan estãosofrendo de neuroses ou psicoses. O Serviço de Saúde Públicanorte-americano informa que, nas áreas urbanas, os problemas decoronárias são 42% mais elevados.³

Este capítulo nos ajudará a reconquistar nosso senso vital decomunidade, 1) reconhecendo nossa interdependência, 2) for-talecendo nossa comunidade local, 3) aprendendo sobreorganizações e habitações coletivas, 4) apoiando nosso habitatnatural e 5) voltando-nos para a comunidade humana mais ampla.

O RECONHECIMENTO DE NOSSA INTERDEPENDÊNCIA

O primeiro passo para reconquistar nosso senso de comu-nidade é reconhecer nosso papel no todo mais amplo. Desde ostempos da colonização, os americanos alimentaram o mito da auto-suficiência, mas, na verdade, não chegamos a ser auto-suficientes.288

Estamos indissoluvelmente ligados uns aos outros por centenas deinterações.

"Olhe ao seu redor", peço às pessoas, em meus cursos eseminários. "Quantas pessoas tocaram sua vida, hoje?" A comida quecomemos, as roupas que usamos, os sapatos em nossos pés unem-nosnum laço de interdependência com a natureza e com pessoas quetalvez nunca vamos encontrar. Participamos não apenas da frágil teiada vida, mas de uma vasta rede de artífices, lavradores, inventores,artistas, engenheiros, operários de construção, escritores, operáriosde fábricas, caminhoneiros e comerciantes. A lista é interminável.Nenhuma pessoa, nenhum país do mundo é independente. Estamostodos ligados, numa troca contínua de energias. Nossa interdepen-dência é um fato. Reconhecer este fato e fortalecer esses laços podepromover uma paz maior para todos.

A CONSTRUÇÃO DE NOSSA COMUNIDADE LOCAL

As comunidades vêm sob diferentes formas e tamanhos, tãoradicais quanto o último coletivo Nova Era, tão tradicionais quanto aAmérica das pequenas cidades, com seus piqueniques de Quatro deJulho, feiras distritais e reuniões de munícipes. A comunidade começaem nosso bairro, seja numa vila, cidade ou subúrbio. É uma famíliaampliada de pessoas em quem você pode confiar, pessoas que vocêcumprimenta com um sorriso, vizinhos que estendem uma mãoamiga, mostrando que a vida pode ser amistosa, acalentadora e boa.

Laurel's Kitchen, um livro de culinária de comida natural, for-nece esta receita para um mundo mais saudável: "Vamos supor quedevêssemos nos empenhar em construir um bairro para viver: umaespécie de vila, onde as vidas se sobrepõem e se misturam, de umamaneira rica e produtiva. Que maior desafio poderia haver para nossacriatividade? A solidão aparece sempre que vivemos para nós mes-mos, e nos deixa imediatamente quando começamos a trabalhar pelobem-estar dos outros, a partir daqueles que estão imediatamente emtorno de nós."

Meu próprio bairro, a quatro quilômetros de distância do centrode Campbell, na Califórnia, me proporciona um senso de comu-nidade acolhedor, depois de uma infância nômade como dependentede militar. Meus vizinhos e eu trocamos flores e verduras de nossosjardins e molhamos as plantas uns dos outros, quando alguém estáfora. As pessoas na loja de alimentos naturais próxima, na bibliotecae na papelaria sabem meu nome, e o mecânico de meu automóvel

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tornou-se amigo da família. Trocamos não apenas mercadorias eserviços, mas boa vontade, tecendo os fios de nossas vidas individuaispara compor um tecido de cuidados e apoio mútuos.

Uma comunidade local cria um mundo mais saudável, tanto doponto de vista individual quanto ecológico. As pessoas dão caronaumas às outras e se emprestam instrumentos de jardinagem, trocandoverduras cultivadas no quintal ou iniciando hortas comuns. Começaum sistema informal de permuta. Um vizinho faz pequenos consertosem automóveis, em troca de refeições festivas. Outro troca cortes decabelo por tarefas domésticas. Uma mulher aposentada, no fim darua, negocia pão feito em casa por serviço no quintal. Algumasfamílias passam adiante as roupas, bicicletas e brinquedos que seusfilhos não usam mais.

Algumas pessoas encontram sua comunidade básica em casa,outras, no trabalho. Batendo um papo todos os dias enquanto tomamum cafezinho, almoçando ou comendo um sanduíche juntas, aspessoas trocam idéias e falam de preocupações comuns. Na Univer-sidade onde ensino, alguns amigos, para trabalhar, rodamdiariamente cerca de 120 quilômetros para o sul, de San Francisco,ou Berkeley; outras dirigem 60 quilômetros, saindo de Palo Alto; eum amigo roda 180 quilômetros para o Norte, saindo de Pacific Grove.O resto vive em algum ponto intermediário. Embora nos vejamosprincipalmente no trabalho, temos uma "comunidade interurbana"que se estende através de muitos quilômetros e usa o telefone parase manter em contato.

Onde quer que você a encontre, sua comunidade básica é umgrupo de pessoas que cuidam umas das outras, uma rede de amor eapoio que torna o mundo um lugar amigável.

EXERCÍCIO PESSOAL

Reserve algum tempo, nesta semana, para avaliar sua própriacomunidade. Escreva as respostas a estas perguntas:

1. Fora de seus relacionamentos básicos, onde você tem a sensaçãode pertencer a um todo mais amplo: em seu bairro ? no trabalho ?na igreja ? num grupo comunitário ? em alguma outra parte ?

2. Que sentimentos positivos sua comunidade lhe traz ?3. O que você pode fazer para fortalecer sua atual comunidade ou,

caso você tenha mudado de residência, ou perdido o contato comela, o que pode fazer para construir uma ?

4. Dê um passo para isto, nesta semana. Pode ser tão simples quanto

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se apresentar a um vizinho ou telefonar para um velho amigo. Osrelacionamentos são coisas vivas, que crescem. Faça alguma coisapara alimentar os seus toda semana.

5. Finalmente, considere sua comunidade natural — as plantas ea vida selvagem nativas que partilham seu habitat. O que vocêsabe a respeito delas ? Descubra que plantas, pássaros e animaissão nativos de sua área. Reconheça seu papel na rede de vida aoseu redor.

A DESCOBERTA DE NOVOS TIPOS DE COMUNIDADES

Indivíduos esperançosos têm vivido há séculos em comu-nidades criadas intencionalmente. De São Francisco de Assis e ascomunidades religiosas da Idade Média às povoações Puritanas eQuaker no Novo Mundo, de Oneida e a Fazenda Brook ao maisrecente coletivo político ou Nova Era, todas essas comunidadesrefletem a tentativa das pessoas para estruturar suas vidas de acordocom suas crenças.

A Comunidade Findhorn, no norte da Escócia, foi estabelecidacom base no simples princípio: "Ame o lugar onde você está, ame aspessoas com quem está e ame o que você faz". Fundada por Peter eEileen Caddy, em 1962, desenvolveu-se numa vila global de mais de225 moradores, de mais de vinte e cinco países diferentes. A cada ano,mais milhares de pessoas visitam seus maravilhosos jardins e o centrode conferências Nova Era.

Amor em Findhorn significa cuidados e compromissos, e foi oque permitiu a criação dos jardins, com a transformação de um velhodepósito de lixo, localizado num antigo campo para motoristas detrailers, numa edênica profusão de verduras, frutas, ervas e flores.Centenas de espécies crescem, anualmente em solo composto fun-damentalmente de areia e cascalho. Os moradores de Findhornacham que até a maquinaria trabalha melhor, quando cuidada comamor. Os canos, fogões e boilers são todos limpos e pintados regular-mente e até recebem nomes. Em Findhorn, o respeito pelo indivíduoé equilibrado por uma visão cooperativa mais ampla, na qual todoscombinam seus talentos para o bem do conjunto, vivendo em har-monia com a natureza e um com o outro.

O Centro de Vida de Filadélfia, uma comunidade políticaprogressista na Filadélfia Oeste, foi formado em 1971 por pessoas queacreditavam que "qualquer um que esteja seriamente empenhado emmudar nossa sociedade doente deve considerar mudanças em seuestilo de vida pessoal e em suas relações interpessoais". De um grupo

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de 35 pessoas, o Centro cresceu para mais de 125, vivendo emdezessete lares, ligadas por um compromisso comum com a mudançasocial não violenta.

A maioria dos membros trabalha apenas meio expediente emempregos fora de casa, e todos vivem com simplicidade, de modo ahaver tempo para o trabalho político. Dirigem suas casas por consen-so, partilham as responsabilidades e se esforçam para vencer osexismo. Todos se revezam, preparando as refeições, fazendo alimpeza e cuidando da manutenção da casa. Homens e mulheresfazem pão, cuidam das crianças, fazem serviços de carpintaria e dehidráulica. O Centro tem sua própria cooperativa alimentar, jardinscomunitários e grupos de ação política, bem como uma editora, aNew Society Publishers, que publica livros sobre não-violência,comunicação e mudança social.

A cada ano, ativistas de todo o país e também de várias partes domundo, vão até o centro para assistir os seminários sobre resolução deconflitos, habilidades estratégicas, discursos na rua, dinâmica de grupo,não-violência e ação direta. O grupo tem ramificações em todo o territóriodos Estados Unidos e participa de uma rede internacional da paz.

Convencido de que o sistema tradicional de habitação nos isolauns dos outros, um grupo da Dinamarca fundou Trudeslund, um projetode moradias coletivas com trinta e três unidades, perto de Copenhague.Cada família tem uma residência particular, mais partilha uma cozinha eum salão de refeições comum, bem como área de recreação para ascrianças, oficinas, instalações de lavanderia e quartos de hóspedes.Embora os moradores tenham suas próprias cozinhas os jantarescoletivos tornaram-se parte importante da vida comunitária.

As mulheres casadas norte-americanas descobrem que, muitasvezes, enfrentam uma dupla jornada de trabalho. Depois de um diafrenético no escritório, enfrentam um programa exaustivo que incluipreparação de jantar, cuidados com as crianças e tarefas domésticas.Os pesquisadores Kathryn McCamant e Charles Durrett apresentamum contraste animador ao descreverem uma comunidade dehabitações coletivas: "Anne está feliz, porque o dia de trabalhoterminou. Chegando a sua garagem, ela começa a se descontrair,afinal... Sua filha grita: "Oi, mamãe!" ao passar por ela correndo comtrês outras crianças. Em vez de tentar freneticamente preparar àspresas um jantar nutritivo, Anne agora pode relaxar, passar algumtempo com seus filhos, e depois, comer com a família na casa comum.Caminhando pela casa comum ao se dirigir para seu lar, ela vaiparando e batendo papo com as cozinheiras da noite, duas de suas

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vizinhas, que estão atarefadas preparando o jantar—frango grelhadocom molho de cogumelos — na cozinha. Várias crianças estãopondo as mesas. Lá fora, no pátio, algumas vizinhas dividem um bulede chá sob o sol do fim de tarde. Anne acena e continua a descer aaldeia em direção a sua própria casa", onde poderá relaxar com seumarido antes do jantar.7

O ritmo é descontraído, as pessoas prestam atenção umas àsoutras e tomam conta das crianças, quando elas chegam da escola.Jovens mães e pais jamais se sentem sobrecarregados, os velhosnunca ficam isolados: fazem parte de uma comunidade integrada,zelosa. Já em 1988 havia vinte e sete dessas comunidades, chamadasbofoellesskaber ("comunidades vivas") na Dinamarca. A idéia espa-lhou-se pela Holanda, Suécia, França, Noruega e Alemanha.

Nos Estados Unidos, a habitação partilhada tornou-se umasolução para muitas mães solteiras, que passam a viver juntas paradividir o aluguel e, depois, descobrem as vantagens da comunidade— cuidado com as crianças e tarefas domésticas partilhadas, compa-nherismo e apoio — e se tornam uma família ampliada.

O APOIO E SUA COMUNIDADE NATURAL

Lao Tsé nos diz: "Harmonia com a natureza significa união como Tao." (Tao 16). As pessoas Tao cooperam com a comunidadenatural em torno delas, respeitando as outras vidas que partilham seumundo.

Para apoiar a população de vida selvagem local, o fazendeiroDayton Hyde, do Oregon, fez um quarto de suas terras voltar a serpântano. Hoje, os pássaros, peixes e pequenos mamíferos nativosestão florescendo. Sua terra é lar de coelhos, de uma manada decervos, até mesmo Coiotes. O Tao ensina que, sempre que damos,recebemos de volta. No caso de Hyde, a água adicional produziu odobro do capim para seu gado, e os incômodos gafanhotos forampraticamente eliminados pela abundante população de pássaros.Mais a maior alegria de todas, diz ele, é partilhar a beleza da vidanatural em torno dele. Ele iniciou um movimento nacional,"Operação Stronghold", para ajudar a criar em todo o país refúgiosparecidos de vida selvagem.

Não somos nunca demasiados jovens para começar a cooperarcom a natureza. Um grupo de crianças, no noroeste de Montana,formou um clube, o "Crianças pela vida selvagem". Acreditando queas pessoas e os animais deveriam viver juntos e em paz, os membros

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PERGUNTA TAO

Pergunte a si mesmo(a): "O que posso fazer para estender osbraços para a comunidade mais ampla ? Existe uma causa com a qualvocê esteja comprometido(a), algum projeto de serviço local ao qualvocê pudesse ser útil ? Suas energias e idéias podem mudar as coisas— em sua vida e em seu mundo.

ESTENDENDO OS BRAÇOS PARA APOIAR SUACOMUNIDADE GLOBAL

Na última década, as pessoas no mundo inteiro buscaram obem-estar de todo o globo, afirmando nossa reunião em vigílias pela pazinternacional, em movimentos populares, desde o Band Aid àConvergência Harmônica, e em esforços recentes para salvar as florestastropicais. As fronteiras artificiais entre nós se dissolvem à medida quepercebemos que somos vizinhos no mesmo pequeno planeta.

Hoje, nossos problemas mais complexos envolvem o planetainteiro. Fome, pobreza e poluição afetam a todos nós e exigem nossasenergias combinadas para sua solução. As pessoas Tao desenvolvemuma visão holística que ultrapassa as antigas fronteiras do passado,conduzindo a novas descobertas, novas soluções.

Como desenvolvemos essa visão? Christer Jonsson, professorde relações internacionais da Universidade de Lund, na Suécia dizque a melhor maneira é através da experiência intercultural.

Quando Chris tinha 18 anos, passou um ano no Texas,através de um programa de intercâmbio estudantil. Ele e seu"irmão americano", Mike, formaram um conjunto musicalchamado "Os Cosmopolitas". Chris tocava piano, Mike, bateria eoutro amigo, Gordon, tocava baixo. Juntos, criaram harmonia eampliaram seu senso de identidade. Mais tarde, Mike visitou aSuécia, estudou na Alemanha e casou-se com uma alemã. Gordonestudou na Suécia e viajou por toda a Europa. Chris tornou-seespecialista em relações internacionais, ensinando e dando asses-soria no mundo inteiro. O contato precoce com outra cultura tomouesses três rapazes cidadãos do mundo.

Chris acredita nos intercâmbios educacionais e culturais, espe-cialmente para jovens. Sua família hospedou estudantes holandeses,através de um intercâmbio, em sua casa em Lund. Sua filha Lenapassou seis semanas no México numa Vila de Verão Internacional daUNESCO, quando tinha 11 anos, e ainda hoje tem contato com amigos

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que conheceu lá. Recentemente, Lena e seu irmão, Linus, passaramseis meses com os pais na Califórnia, enquanto Chris ensinava naUniversidade de Stanford.

Diplomacia entre cidadãos, intercâmbios profissionais eeducacionais constroem pontes de amizade e compreensão entreculturas, ajudando-nos a "pensar globalmente" e a reconhecer nossopapel na comunidade mundial. Todos os anos, a Fundação Windstar,no Colorado, acolhe cidadãos interessados e peritos internacionaispara explorar questões globais em seu simpósio "Escolhas para ofuturo". Algumas pessoas trocam informações sobre suas habilidades,numa base profissional. O Dr. Max Ibsen, pediatra do norte daCalifórnia, passa várias semanas, todos os anos, tratando de criançasno Brasil, Honduras, Colômbia e Equador. Depois de servir no NavioEsperança e de manter clínicas nas florestas da América do Sul, eleagora é voluntário do Interplast, um grupo de médicos que realizacirurgia corretiva em crianças do Terceiro Mundo. Como pediatra, eleajuda a preparar as crianças para a cirurgia e supervisiona suarecuperação. Mostrou-me algumas fotos desses jovens pacientes,com os olhos brilhando de compaixão, enquanto dizia que sua maiorrecompensa era ver uma criança sorrir.

Muitas pessoas que conheço passaram suas férias realizandomissões diplomáticas, como cidadãos, visitando outros países e cons-truindo pontes de entendimento. Quando o Dr. Ibsen e sua famíliavisitaram a União Soviética, na década de 1960, ele conheceu umpediatra russo num elevador e os dois, desde então, se correspondem.Jeff Arnett, que ensina inglês na Universidade de Santa Clara, passouum mês na Nicarágua e em El Salvador, numa visita combinada pelaorganização Testemunha da Paz. Desde que voltou para casa, ele temfeito sessões de. exibição de slides em torno do que aprendeu. Oprofessor da escola secundária Bill Sullivan trabalhou nos campos derefugiados do Camboja e numa cooperativa agrícola na Nicarágua.Membro atuante da Anistia Internacional, ele trabalha pela justiçasocial escrevendo cartas durante o ano escolar e oferecendo-se paratrabalhar como voluntário durante as férias.11

Uma experiência internacional modifica para sempre nossaconsciência, tornando-nos mais abertos, menos críticos. Jamais tor-namos a cair na estreiteza mental ou na xenofobia, acreditando quenosso caminho é o único. A pessoa se torna mais tolerante e maisinovadora, capaz de ver novas soluções para problemas já antigos.Líderes como Willy Brandt, Bruno Kreiske e Olaf Palme tiveram todosexperiências internacionais precoces. Quando jovem, Brandt viveu

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na Noruega, depois da Primeira Guerra Mundial; Kreiske passouvários anos na Suécia; e Palme viajou, em sua juventude, por toda aAmérica do Norte.

EXERCÍCIO PESSOAL: PENSAR GLOBALMENTE

Mesmo se você não puder viajar muito nem morar em outropaís, ainda assim pode desenvolver sua perspectiva global, segundoalgumas destas sugestões.

• Tome-se anfitrião(ã) de pessoas que participam de intercâmbioseducacionais ou culturais neste país. Convide um estudante quevem através de um programa de intercâmbio para ficar em sua casa,ou escolha visitantes em intercâmbios culturais de curta duração.

• Se você não está preparado(a) para um intercâmbio de longaduração, convide um estudante estrangeiro para fazer uma refeiçãoem sua casa. Telefone para o clube internacional dos estudantes dauniversidade local de modo a obter uma referência e aproveite umanoitada de intercâmbio cultural.

• Participe de um programa de cidades-irmãs. Será que sua cidadenão tem uma irmã em alguma outra parte do planeta? Telefone paraa Câmara de Comércio local e descubra.

• Matricule-se, num curso de língua estrangeira, numa escola públicalocal. Aprender outra língua ensina novos conceitos, novasmaneiras de perceber as coisas.

• Compareça a feiras e atividades culturais internacionais em suaárea. Procure informações em seu jornal local.

• Procure livros ou vídeos, na biblioteca local, sobre um país de estejainteressado(a). Aprenda sua história e seus costumes.

• Como a grande imprensa, em geral, informa-nos muito pouco sobreas pessoas de outros países, procure alternativas. Leia a ChristianScience Monitore a World Press Review. Consulte a seção de notíciasinternacionais do Times de Londres ou do Manchester Guardian, nabiblioteca. Descubra uma boa estação de rádio pública ou escute oServiço Mundial da BBC num rádio de ondas curtas.

Educar-nos a respeito de outros países é uma parte vital doprocesso para nos tornarmos cidadãos do mundo. À medida queexpandimos nosso senso de comunidade, vemos nosso mundo e seusproblemas sob uma luz diferente.

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Desde os tempos de Lao Tsé, até o mundo complexo e interdepen-dente de hoje, seguir o Tao significa desenvolver um senso de comu-nidade com nossos vizinhos próximos e distantes. O Tao sustenta estavisão no modelo de um "pequeno país", onde as necessidades e recursossão equilibrados e a vida se passa numa escola humana:

"Procure o país pequenoCom uma pequena população,Onde as pessoas são vizinhasE a vida é equilibrada:Nada desperdiçado,Nada perdido.Lá as pessoas amam a vidaE não vagueiam para muito longeSaqueando a terraCom máquinas destruidoras.Com suas armas de guerraJamais usadas ou exibidas,O povo vive com simplicidade,Aprecia a alimentação integralE roupas confortáveis,A beleza da natureza,Os prazeres do lar;Deliciam-se com os rituais da vidaE com o trabalho significativo.Outro país talvez esteja tão próximoQue as pessoas podem ouvirOs sons da vidaDe um vale distante,Inventando juntosA música da paz."

(TAO 80)

É uma transição natural, a visão do pequeno país de Lao Tsépara a de nosso próprio pequeno planeta. O senso comunitáriocomeça em nível local colocando-nos em contato com nós mesmose com nossos vizinhos próximos e distantes, unindo-nos numa rede,em permanente expansão, que rodeia o globo.

Separadas, porém suficientemente próximas para partilhar osrituais diários da vida, as pessoas escutam "os sons da vida de um valedistante", sentindo-se intimamente em casa com seu mundo e unscom os outros. Este é o Tao da paz.

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Afirmação

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa.Vejo a mim mesmo(a) como parte de uma comunidade viva.Afirmo esta união diariamente, através da cooperação, da

compaixão e do serviço.Penso globalmente, ajo em termos locais, estendendo os

braços para minha comunidade, próxima e distante.Respeito á mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em

meu mundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Citação de abertura do Tao, capítulo 49, baseada em The Wisdom ofLaotse, traduzido e organizado por Lin Yutang. Copyright© 1948 deRandom House, Inc.: "The people of the World are brought into acommunity of heart,/ And the Sage regards them all as his children ("Aspessoas do mundo são trazidas para comunidade do coração/E o sábioas considera todas seus filhos"), p. 231. Republicado com permissão doeditor.

2. Building UnitedJudgment, p. 15.3. Pesquisa realizada por Anne e Paul Ehrlich em Satin, New Age Politics,

p. 38. Para uma exposição de psicologia da comunidade, ver: M. ScottPeck, The Dijferent Drum: Community-Making and Peace (Nova York:Simon and Schuster, 1987).

4. A citação e as informações no parágrafo seguinte são de LaurelRobertson, Carol Flinders e Bronwen Godfrey, LaureVs Kitchen: AHandbook for Vegetarian Coohery (Petaluma: Nilgiri Press, © 1976),p.6l. Usado com permissão do editor. Esse livro foi substituído por TheNew Laurel's Kitchen (1986), publicado por Ten Speed Press, Box 7123,Berkeley, CA 94707.

5. Informações do seminário de Peter Caddy's em São José, Califórnia,setembro de 1986, e Eileen Caddy, Foundations of Findhorn, org. RoyMcVicar (Forres, Scotland: Findhorn, 1978). Para maiores informações,escrever para Findhorn, The Park, Forres, IV36 OTZ, Scotland.

6. Informações sobre o Philadelphia Life Center obtidas com SuzanneGowan et al., Moving Toward a New Society (Filadélfia: New SocietyPublishers, © 1976), p. 284-96. Usado com permissão do editor. O livropode ser encomendado à New Society Publishers, P.O Box 582, SantaCruz CA 95061, tel. (408) 458-1191.

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7. Citação e informações sobre as comunidades de habitação coletivadinamarquesas extraídas de Co-housing: A Contemporary Approach toHousing Ourselves (Berkeley: Ten Speed Press, © 1988 Kathryn Mc-Camant e Charles Durrett), usado com permissão do editor. O livro podeser encomendado à Ten Speed Press, Box 7123, Berkeley CA 92707, tel.1-800-841-2665-

8. Informações do Champions of Wildlife, vídeo produzido pela NationalWildlife Federation. Para obter o vídeo e material correspondente,escrever para National Wildlife Federation, 1400 l6th St. NW,Washington DC 20036-2266 ou telefonar para 1-800-432-6564.

9. Informações extraídas do folheto Invite Wildlife to Your Backyard, daNational Wildlife Federation, endereço citado acima.

10. Macy, Despair and Personal Power, p.54. A cada ano, pescadores deatum para comercialização matam mais de 100.000 golfinhos em suasredes. Para ajudar a salvar os golfinhos em risco, contatar o Earth IslandInstitute, 300 Broadway, nu 28 San Francisco CA 94113, tel. (415) 788-3666.

11. Informações sobre "Choices for the Future" com a Windstar Foundation,2317 Snowmass Creek Road, Snowmass CO 81654-9198, tel. (303) 927-4777. Meus agradecimentos a Max Ibsen, M.D., Jeff Arnett e WilliamSullivan pelas conversas e entrevistas e, 1988-89. Para maioresinformações sobre a diplomacia de cidadão, contatar o Institute forSoviet American Relations, 1608 New Hampshire Ave. NW, WashingtonDC 20009 ou Witness for Peace, P.O. Box 33273, Farragut Station,Washington, DC 20033.

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CAPÍTULO 24

A CRIAÇÃO DA POLÍTICA

TAOÍSTA

Siga o Tao,Cultive seus caminhos,E se descubra em paz.

Cultivando em sua alma,O Tao traz paz para sua vida.

Cultivado em sua casa,Traz paz para aqueles a quem você ama.

Espalhando-se entre amigos e vizinhos,Traz paz para sua comunidade.

Espalhando-se entre comunidades,Traz paz para sua nação.

Espalhando-se pelas nações,O Tao leva a paz ao mundo inteiro.

Como sei disso ?Porque ele começa com você e comigo.

(TAO 54)

Apolítica é tradicionalmente definida como "quem consegue oquê, quando, como", ou seja, é o meio pelo qual a sociedadedistribui recursos e valores . Esse meio pode assumir muitas

formas. A maior parte do poder político, no passado, era hierárquico,com a maioria dominada pelos monarquistas, oligarquias ouditaduras. Mais recentemente, as democracias entraram em cena,envolvendo a participação dos cidadãos na escolha de seus líderes.As decisões em torno das diretrizes, porém, permaneceram nas mãosde um grupo seleto. O Tao sustenta um paradigma político maiscooperativo, que funciona com os ciclos da natureza, beneficiando-sedas contribuições de todos os seus membros.

Substituindo a hierarquia pelos ciclos cooperativos, o Tao nospede para assumirmos nós mesmos a liderança. A criação de políticataoísta "começa com você e comigo". Se desejamos um mundo maispacífico e cooperativo, devemos viver mais pacificamente, nós mes-

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mos. Então, como os círculos de um seixo lançado num lago, nossasações ampliarão, trazendo uma paz maior para nosso mundo.

Criar uma política significa vencer o entorpecimento psíquicoe o cinismo, que prevalecem tanto em nossa sociedade. Fazendo isto:1) reivindicando nosso poder pessoal, 2) liderando a partir dosmovimentos populares, 3) praticando uma política holística e 4)vivendo o processo em todos os dias de nossas vidas.

A REIVINDICAÇÃO DE NOSSO PODER PESSOAL

O Tao nos lembra que:

"Aqueles que concentram sua atenção no TaoEstarão em união com o Tao.Aqueles que estudam seu poderSerão poderosos."

(TAO 23)

Estudamos os ciclos do Tao em nossas vidas, na natureza e nasociedade. Todos os níveis, do pessoal ao planetário, refletem estaverdade fundamental: a vida é dinâmica e inter-relacionada. Nistoreside nosso poder de mudar as coisas, pois participamos da contínuacriação do mundo.

Reivindicar nosso poder significa acreditar em nós mesmos eem nossas próprias possibilidades. Dag Hammarskjóld disse: "Nãotenha medo de si próprio. Viva plenamente sua individualidade —mas para o bem dos outros. Não copie os outros com o objetivo decomprar amizade, nem faça da convenção sua lei." Renunciamos aoTao quando imitamos os outros.

Quando nos rendemos às circunstâncias externas, tambémdesgastamos nosso poder. Perdendo seu centro, muitas pessoastornam-se consumidores compulsivos. Em vez de buscara realização,entulham-se de coisas, gerando um volume de lixo, todos os meses,superior ao peso de seu corpo. A proliferação de lixo em nossomundo reflete um alto grau de insegurança de nosso povo.

Vendo a nós mesmos como parte da unidade do Tao, reco-nhecendo que todas as nossas ações têm conseqüências, reivindicamosnosso poder. Afirmando seu poder, a classe de formandos de 1987, daUniversidade Estadual de Humboldt, no norte de Califórnia, assinou umdocumento comprometendo-se a examinar as implicações sociais eambientais de qualquer emprego para o qual se candidatassem.

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Ao contrário de Confúcio, que sustentava a tradição, Lao Tséapela para indivíduos progressistas, que pensam por si mesmos,afastam-se das convenções e buscam a verdade mais elevada. Elesabia que novas soluções raramente vêm de velhos líderes,entrincheirados no status quo. Freqüentemente, elas vêm de pessoascomuns, que acreditam em seu poder de transportar as coisas.

Na zona rural do Kentucky, Becky Simpson lutou contraempresas de mineração de carvão por escavação de superfície paraacabar com a erosão e as inundações, trazendo esperança para suapequena comunidade de índios Apalaches.

"Já vi muito sofrimento humano em minha vida", diz ela. "E detestoisso. Há coisas melhores no mundo para as pessoas". Com uma educaçãode terceiro ano, seis filhos para criar e um marido cego em decorrênciade uma enfermidade, ela começou seu trabalho em 1977. Organizandoos vizinhos, processou as empresas de mineração, pedindo que reparas-sem os danos ao meio ambiente — e ganhou. Depois, em 1982, criou oCentro de Sobrevivência Cranks Creek, que fornece a milhares depessoas, a cada ano, alimentos, roupas, ensino e orientação vocacional.Fazendo o curso de alfabetização do centro para melhorar sua escrita,ela pressionou autoridades na capital do estado para obter um finan-ciamento do governo. Todo dia, essa pequenina mulher de jeans ecamisa quadriculada trabalha no centro, distribuindo cestas de alimen-tos, roupas e esperança de uma vida melhor.

Em dezembro de 1982, o convidado de um programa de debatesno rádio, Eddie Schwartz, fica furioso ao saber que a administração dacidade de Chicago ia cortar os financiamentos destinados a alimentar ossem-teto, enquanto gastava 100 mil dólares com os fogos de artifício paraa véspera de Ano Novo e com as luzes acesas nas pontes da cidade. Eletransmitiu sua raiva pelo rádio, convidando os ouvintes a levaremalimentos para a estação, a fim de compensar os cortes do governo. Semsaber se alguém iria aparecer, ele passou a noite inteira na frente daestação, falando pelo radio através de um microfone — e reuniu cercade 20 mil quilos de alimentos.

"É um acontecimento bem popular, uma coisa realmente dasclasses mais baixas", diz ele. Trata-se de povo ajudando povo. Agora,numa noite qualquer de dezembro, uma fila de automóveis, cami-nhonetas e ônibus dirige-se para Dearborn, Street, no Loop, algumasvezes chegando a se estender por vinte quarteirões da cidade, paradoar comida. Num evento que se tornou anual, elogiado pelasadministrações da cidade, a comida obtida por Eddie ajuda mais de800.000 pessoas famintas por ano, durante as férias de inverno.5

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Indivíduos empenhados estão mudando as coisas, em todo oplaneta. Em julho de 1988, quando o botânico Paul Cox chegou parafazer pesquisas na vila de Falealupo, na Samoa Ocidental, ficouespantado de descobrir madeireiros abatendo a floresta. Sabendo queos aldeões haviam resistido aos madeireiros durante gerações, per-guntou porquê. Tristemente, os chefes disseram que sua escola localhavia sido condenada pelo governo samoano e que eles foramforçados a escolher entre sua floresta e a educação de seus filhos.

Para pagar o débito de 55 mil dólares para a construção de umanova escola, os chefes desesperados, haviam assinado um acordocom a companhia madeireira, que podia cortar as árvores até a somaestar completamente paga. Depois choraram, quando viram suasárvores abatidas.

Cook entrou imediatamente em ação, enviando seu própriocheque de 500 dólares para o Banco de Samoa, a fim de cobrir a contadaquele mês e prometendo pagar durante os próximos seis meses.Calculando que a salvação de um hectare de floresta custaria 1 dólare 83 centavos ele disse: "Que incrível legado podemos deixar para omundo com uma quantia tão pequena".

Depois de entrar em contato com amigos e grupos conservacionis-tas, presenteou os chefes com um cheque de 45 mil dólares, o saldo dahipoteca, salvando assim 12.000 hectares daquela rara floresta pluvialpaleotropical. Por suas ações, Cox foi transformado em "grande chefe"honorário pelos Falealupoanos e homenageado pelo rei da Suécia, elepróprio um doador, que convidou Cox para visitar seu país.

Como demonstram esses exemplos, podemos iniciar novosciclos positivos reconhecendo nosso poder de mudar as coisas eentrando em ação.

EXERCÍCIO PESSOAL

Reserve alguns minutos, agora, para desenvolver sua visão deum mundo de paz e comprometa-se a dar o primeiro passo.

• Encontre um recanto tranqüilo onde não vá ser perturbado (a).Sente-se confortável mente e diga a seu corpo para relaxar, livran-do-se da tensão do dia.

• Feche os olhos e respire três vezes, profundamente, soltando quaisquerpensamentos que o (a) distraiam. E, a cada respiração, relaxe mais.

• Agora, pergunte a si mesmo(a): "Qual é minha visão de mundo empaz ? Qual é seu aspecto ? Qual a sensação que causa ?"

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• Pense no que você andou fazendo ultimamente. Pergunte a simesmo(a): "Em minha vida diária, venho criando um mundo depaz ?" E que tal suas interações com as pessoas, em sua vida ? Forampacíficas ? harmoniosas ? ansiosas ? defensivas ?

• Pense, por um momento, numa interação pacífica e lembre-se doque você fez, qual era a sensação de paz.

• Depois, pense numa interação negativa. O que você poderia ter feitopara torná-la mais pacífica ? Veja a si próprio(a) fazendo isso, agora.

• Sinta a paz dentro e em torno de você. Afirme para si mesmo(a):"Sou um poderoso centro de paz".

• Pergunte a si mesmo(a) o que pode fazer a fim de estender essapaz para uma esfera mais ampla. Veja a si mesmo(a) fazendo isso.

• Sentindo-se intensamente tranqüilo, volte a inspirar profunda-mente e, em seguida, sinta-se reanimado(a), centralizado(a),renovado(a), pronto(a) para agir de acordo com sua visão.

• Escreva todas as novas descobertas que você fez durante esseprocesso e comprometa-se com seu próprio plano, para criar ummundo mais pacífico.

Seguindo o Tao, sabemos que, ao transformai" a nós mesmos,transformamos nosso mundo. Partindo do nosso centro de poder,podemos criar novas soluções, novas possibilidades.

A LIDERANÇA DE BASE

A visão de poder pessoal de Lao Tsé corresponde a uma novaorientação de liderança, que se firma à medida que nos aproximamosdo ano 2.000. Por toda a América, Europa e Ásia, as pessoas estãoperdendo a fé na política tradicional. Cansados de esperar por líderespara solucionar seus problemas, assumem a liderança elas próprias.Desde a política Verde, na Europa, até a preocupação local comdetritos tóxicos, lixo e poluição dos reservatórios naturais de água nosEstados Unidos, a liderança popular trabalha para promover a justiçasocial e preservar o meio ambiente.

Desde 1980, partidos Verdes foram sendo organizados emdezesseis países da Europa, afetando as diretrizes políticas do Mer-cado Comum Europeu. Defensores do meio ambiente surgiram noBrasil, Argentina, Índia, Malásia, Tailândia, Indonésia, Quênia,México, Equador e em outros países em desenvolvimento.

O surgimento de uma democracia popular e a queda dasestruturas centralizadas é descrita por John Naisbitt como uma das

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"megatrends' (grandes tendências) de nossa era. Ralph Nader con-sidera-a uma maneira de vencer o cinismo, a apatia e sentimentos deimpotência. Enquanto a magnitude dos problemas globais podeparalisar nossa vontade, tomar medidas locais dá resultado e res-tabelece nossa fé. Aqui vão alguns exemplos.

Na década de 1980, uma rede de grupos de mulheres e as-sociações de bairro de um distrito pobre de Lima, no Peru, plantarammeio milhão de árvores e treinaram centenas de pessoas locais parafazer serviços de saúde. Construíram 26 escolas, 150 centros deatendimento diário e 300 cozinhas comunitárias. O analfabetismo, lá,caiu para 3%, um dos percentuais mais baixos da América Latina, e amortalidade infantil está 40% abaixo da média nacional. A açãopolítica de base construiu uma forte comunidade local e uma vidamais saudável, numa área que antigamente era de extrema pobreza.

Com freqüência, um movimento pequeno se esconde à medidaque as pessoas ganham um senso maior de poder e possibilidade. Em1965, um grupo de donas-de-casa do distrito de Setagaya, em Tóquio,formou uma cooperativa de compradores, que se transformou numSeikatsu (clube de consumidores) com 1.000 membros. Comprandodiretamente dos produtores, os membros recebiam descontos emprodutos de fábricas e laticínios. Hoje, Seikatsu tem 170.000 membrose tornou-se uma força ativa na luta pela segurança dos alimentos epela mudança política progressista.

Na década de 1970, o clube começou a comprar arroz e verdurasorgânicas, pois seus membros estavam preocupados com a presençade produtos químicos perigosos em seus alimentos. A maiorconsciência ambiental estimulou uma proibição, defendida pelogrupo, de detergentes sintéticos. Como os membros do governo osignoravam, os membros do Seikatsu candidataram-se a cargospúblicos, em 1979, com o lema: "Reforma política a partir da cozinha".Hoje, 33 membros ocupam cadeiras nas assembléias locais, traba-lhando por questões ligadas a saúde e segurança, proteção ambiental,paz, direitos das mulheres, cooperação e maior participação doscidadãos.10

Até agora, na maioria, os líderes políticos do mundo inteiro têmsido oficiais militares ou advogados, versados na guerra ou no sistemade justiça do adversário. À medida que cresce a liderança de base,podemos esperar novas soluções, novas possibilidades para ummundo mais saudável. Cidadãos mais interessados envolvem-seativamente e vão trazendo visões de muitas esferas de ação — em suacondição de professores, artistas, conselheiros, operários de

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construção, engenheiros, pais, funcionários de saúde, comerciantes, cozi-nheiros, gerentes, músicos e lavradores, só para citar algumas das esferas.

Se nossa velha liderança nos decepcionou, a proliferação demovimentos de base sustenta a promessa de cooperação: a de que,juntos, podemos criar novas harmonias e construir um mundo maispacífico.

À medida que assumimos a liderança em nossas próprias vidas,em nossas próprias comunidades, também nos tomamos pessoas Tao:

"Com pequenas açõesRealizando grandes coisa".

(TAO 63)

EXERCÍCIO PESSOAL PÔR EM PRÁTICA

1. Comprometa-se com um objetivo. Pode ser global ou local. Algunsexemplos: eliminar a fome, proporcionar uma água segura ouhabitações acessíveis, preservar as florestas pluviais, proteger asespécies ameaçadas de extinção.

2. Concentre-se em seu objetivo. Escreva sobre as circunstâncias emque cuidará dele com freqüência. Medite a respeito. Visualize osresultados que gostaria de ver.

3. Procure recursos. O bibliotecário que lhe dá indicações podeajudá-lo (a) a descobrir organizações com um interesse comum.Entre em contato com elas em busca de idéias e informações.

4. Fale a seus amigos de seu objetivo. Alguns oferecerão apoio.Troque idéias com eles. Pergunte se têm recursos para partilhar.

5. Observe sua rede crescer, enquanto se interligam diferentes vidase talentos. Ouça. Reconheça que todos têm alguma contribuiçãovaliosa para dar.

6. Encontre-se com os adeptos e estabeleça um plano de ação.Estabeleça objetivos a curto prazo e uma agenda, determinandoquem fará o quê. Mantenha encontros regulares para verificar osresultados.

7. Comunique-se com freqüência. Use notas, telefonemas, atémesmo um boletim, para manter todos informados e envolvidos.As redes, como coisas vivas, precisam ser alimentadas.

8. Não discuta em torno de diferenças. Esteja aberto (a) a novasidéias, novas possibilidades, e observe as coisas crescerem.

A PRÁTICA DE UMA POLÍTICA HOLÍSTICA

O Tao nos ensina a pensar holisticamente, lembrando-nos deque somos parte de um todo muito mais amplo. A solução dos

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complexos problemas atuais exige uma visão da totalidade. Masalgumas pessoas não conseguem enxergar tão longe. Olhando a suavolta, você descobrirá algumas pessoas que pensam holisticamente,enquanto outras estão presas à antiga visão fragmentada, semconsciência das conseqüências de suas ações.

Quando USA Today perguntou a um grupo de americanosescolhidos ao acaso se estavam dispostos a pagar para ter um ar maislimpo, muitas respostas revelaram uma visão limitada. Marie, umasecretária aposentada de Nova Jersey, disse que seus impostos já eramatos demais e que os caminhões e ônibus que causam a poluiçãodeviam pagar a conta. Bob, produtor de vídeo na Flórida, disse queo ar local é ótimo e "quando não é você quem cria o problema, nãodeve ter de pagar a conta."12

Pessoas como Bob e Marie talvez não percebam, mas realmentecontribuem para o problema. Todos nós poluímos o ar, quandocompramos alimentos e bens de consumo transportados, quandousamos objetos de plástico, dirigimos automóveis, enviamos ourecebemos correspondência, lemos livros, revistas ou jornais. A listaprossegue. Qualquer coisa demasiadamente processada ou transpor-tada por uma longa distância causa prejuízos ao meio ambiente.

Percebendo que a produção e a distribuição de seus livrosexaure o meio ambiente, a Editora New Society estabeleceu um"imposto verde", pedindo aos clientes para compensarem os custosambientais. Metade do dinheiro vai para o restabelecimento ambien-tal local e a outra metade, para a educação ambiental. Outrasempresas socialmente responsáveis acrescentaram recentemente o"imposto verde" a seus planos de negócios.13

Tendo uma visão da totalidade, as pessoas Tao agem com wuwei, cooperando com o mundo natural em torno delas. Algumasvezes, suas ações parecem um pouco excêntricas aos pensadoresconvencionais, porém, como nos lembra Lao Tsé:

"Quando uma pessoa convencional ouve falar do TaoExplode em sonoras gargalhadas.Se não houvesse gargalhadas,Não seria o Tao."

(TAO 41)

Um desses intercâmbios aconteceu quando o Presidente Carterchamou E.F. Schumacher para a Casa Branca, em 1977, a fim desolucionar os problemas da crescente inflação e do desemprego."Acho que você deveria plantar mais árvores", disse ele ao presidente.

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Considerada num quadro de totalidade, a resposta deSchumacher foi mais do que uma questão de riso. As árvores enri-quecem a sociedade de muitas maneiras, não apenas criandoempregos a curto prazo, enquanto são plantadas e cuidadas, mastambém gerando energia, que pode ser usada para combustível oumateriais de construção. As árvores dão sombra e abrigo, purificamo meio ambiente, fornecem-nos oxigênio, enriquecem o solo e criamum habitat para plantas e animais.

Vendo o quadro mais amplo, as pessoas Tao praticam a soluçãoholística de problemas, tomando medidas com conseqüências positivasem muitos níveis. Na zona rural de Minnesota, um veterano do Vietnãchamado Jeff Steiner está plantando uma árvore para cada pessoa mortaou desaparecida no Vietnã, criando assim uma floresta como seu própriomemorial. Com milhares de pequenos pinheiros, ele afirma a vida,recuperando-se de sua própria perda e contribuindo para a ecologia asua volta. Sua ação é boa para si próprio e boa para o planeta.

Outro exemplo de política holística, um projeto das NaçõesUnidas no Quênia, emprega mulheres locais em trabalhos de reflores-tamento, pagando-lhes em milho e óleo de cozinha. Antes do projeto,a área sofria de seca e erosão do solo por causa do excesso de usocom pastagens. Agora, as mulheres estão plantando árvores de cres-cimento rápido, resistentes às secas, além de sorgo, contornando oterreno, para ajudar a captar a água das chuvas. O projeto oferececontribuições positivas em muitos níveis: alívio da fome, recuperaçãodo meio ambiente, oportunidade igual para as mulheres e treinamen-to para uma vida melhor. É bom para as pessoas e para o meioambiente, promovendo o equilíbrio e a justiça social.1

Numa abordagem holística da questão habitacional, os cons-trutores do Vale Santa Clara, na Califórnia, estão combinando novascasas com árvores frutíferas, num projeto inovador chamado Lee'sOrchard (Pomar do Lee). Conhecida como "O Vale das Delícias doCoração", a área, antigamente, era cheia de pomares, mas, nos últimosanos, o meio ambiente foi atacado com camadas de concreto e novosprédios para sustentar a florescente indústria dos computadores.

De propriedade de uma cooperativa e dirigido por um ad-ministrador contratado, o pomar ajudará a restabelecer a proximidadedos moradores com a natureza, à medida que eles forem observandoa mudança das árvores com a passagem das estações. O complexotambém incluirá uma piscina da comunidade e um prédio de lazer.Constituindo um projeto holístico para a moradia dos anos 90, opomar incrementará as relações comunitárias, purificará o ar,

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produzirá frutas locais para a área e proporcionará uma sensação depaz às pessoas.17

Incorporando uma visão cooperativa para o problema dahabitação no mundo, o Habitat for Humanity (Habitat para a Huma-nidade) mobiliza voluntários e futuros moradores, bem comooperários, que literalmente colocam sua fé para trabalhar, a fim deconstruir "uma morada decente, numa comunidade decente, para osfilhos de Deus necessitados".

Proporcionando casas para pessoas de baixa renda em toda aAmérica do Norte, África e América Central, o Habitat constrói ouremodela casas em parceria com as famílias locais e as vende aopreço de custo. Financiamento, compra de material e trabalhovoluntário constituem doações de igrejas, grupos comunitários eindivíduos interessados.

Mais do que habitação, o Habitat oferece: cooperação, serviçosignificativo, dignidade para os pobres e esperança num mundo maiscompassivo. Em 1965, o fundador do Habitat, o advogado eempresário milionário Millard Fuller, abriu mão de sua prática efortuna pessoal para seguir os impulsos de sua alma. Mudando-separa a vila de Koinonia, na Geórgia, redescobriu sua fé cristã e,depois, lançou um projeto de habitações no Zaire. Lá, Fuller e suafamília tornaram-se mais unidos, enquanto ajudavam as pessoas nãoapenas a construir casas, mas a restabelecer sua fé. Repetidas vezes,pessoas e materiais apareceram exatamente na hora certa, como aresposta para as orações da família. O livro de Fuller, Love in theMortar Joints (Amor nos encaixes de argamassa) descreve muitosepisódios desse tipo, bem como o apoio de voluntários cujo amor,diz ele, tornou-se parte de cada edifício.

O ex-Presidente Jimmy Carter tem sua própria visão total da paz.Depois de uma tentativa mal sucedida de se eleger para um segundoperíodo de governo, em 1980, ele voltou para casa, na Geórgia, a fim dedecidir o que fazer. Um projeto que escolheu foi o Habitat para aHumanidade. Durante os últimos anos, ele e Rosalynn martelaram pregos,colocaram pisos, espalharam areia, pintaram e ergueram as paredes denovos lares, trabalhando lado a lado com os futuros moradores.

Enquanto outros presidentes anteriores contentaram-se emrepousar sobre os louros, Carter continua comprometido em ajudaraos outros através de trabalho ativo, tangível. "Para mim, esta é umadas maneiras quase perfeitas de por em ação minhas crençasreligiosas", explica. E acha que o Habitat é o tipo de programa "quepode derrubar barreiras e curar o ódio".19

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Carter demonstrou a mesma abordagem ampla ao criar suabiblioteca presidencial. Em vez de um depósito para papéis oficiais,Carter desejava um centro educacional vital, onde as pessoas pudes-sem estudar novos enfoques em torno de saúde, negociações e pazmundial. O Centro Carter oferece seminários sobre negociação emediação, refletindo a crença de Carter nestes princípios como omeio para alcançar uma paz maior, tanto em termos coletivos quantoindividuais.

Em recente entrevista coletiva à imprensa, perguntei-lhe o queos cidadãos podem fazer para criar um mundo mais pacífico. Elesorriu, olhando diretamente para mim, com aqueles seus olhos azuisclaros. "Há princípios na busca da paz — negociação, mediação,arbitragem — que se aplicam a todas as pessoas, até mesmo à vidaprivada de uma família. Os mesmos princípios se aplicam à soluçãode disputas internacionais", disse ele, numa referência a livros recen-tes sobre o assunto.20 Encorajou os cidadãos a aprenderem essesprincípios e insistiu para que os governos também os utilizassem.

Carter disse que gostaria de ver a América confiar mais nanegociação e na diplomacia, tomando-se "uma campeã da paz", em vezde acreditar na "beligerância ou na injeção de soldados americanos emlocais de perturbação no mundo inteiro". "É muito difícil manter a paz;é muito fácil guerrear", disse ele, com ar pensativo.

Fomentando a guerra, recaímos nos velhos hábitos dualistas,perpetuando os ciclos de postura defensiva, de agressão e violência.Vendo os problemas amplamente, praticando a cooperação, abrimosos braços em novas direções, explorando o desconhecido potencialwu do Tao e dando o que os cristãos chamam de "um salto de fé".

Seguir a intangível sabedoria do espírito não é fácil, num mundoque nos condiciona a aceitar apenas realidades materiais. Mas, comodiz Carter, há princípios que se aplicam igualmente a indivíduos enações, princípios estudados em nosso tempo pelo Centro Carter eregistrados, centenas de anos atrás por Lao Tsé:

"Princípios da verdadeQue guiam toda a criação,As lições da vidaInerentes ao Tao."

(TAO 21)

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VIVER O PROCESSO

O Tao pede que tenhamos a coragem de viver esses princípios.Esta é a mensagem final de Lao Tsé. Neste período decisivo detransição, quando o velho paradigma está sendo abandonado,podemos criar um novo ciclo de paz vivendo o Tao: em casa, notrabalho, na natureza e no silêncio de nossos próprios corações.

Será que podemos seguir o Tao? Só nós podemos saber. Osprincípios estão aí, mas o caminho de cada um de nós é desco-nhecido, não há mapas para encontrá-lo. As possibilidades sãomuitas; a escolha é nossa. Como disse Dag Hammarskjóld, "A vida sóexige de você a força que você possui. Apenas um feito é possível —não ter saído correndo".

Se você for chamado a viver o Tao da Paz, reconhecerá o sentimen-to que Hammarskjóld registrou em seu diário, Markings (Notas):

"Assim foi.

Estou sendo impelido adiantePara uma terra desconhecida.O desfiladeiro torna-se mais íngreme,O ar mais frio e cortante.Meu destino desconhecido, como se vento fosse,Agita as cordasDa expectativa.

Volta a pergunta:Será que, algum dia, lá chegarei ?Lá, onde a vida entoaUma nota pura e claraNo silêncio."21

Seguir o Tao nos conduz para território desconhecido, a áreado wu. É um caminho menos percorrido, menos seguro, mas muitís-simo necessário. Jamais estivemos lá. Poucos, neste mundo, já es-tiveram lá algum dia. Porém, nosso mundo perturbado espera, a metadistante nos chama, o caminho está bem próximo.

Como aprendemos nestas páginas, o caminho é o processo. Enós somos o processo. O processo é o Tao.

Lao Tsé nos diz:

"Perseverar no caminho é força.Manter seu centro é resistir."

(TAO 33)

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Perseverar, lembra-nos o Tao, ser forte e complacente como aa água. Permanecer aberto(a) e centralizado(a), flexível como obambu. Praticar a compaixão. Respeitar os ciclos dentro e em tornode você. Buscar a harmonia com a natureza e com todos os outrosem seu mundo. Então, sem dúvida, a paz encherá sua vida e seu fluxocurará este planeta:

"Espalhando-se pelas nações,O Tao leva a paz ao mundo inteiro.Como sei disso?Porque ele começa com você e comigo."

(TAO 54)

Afirmação

Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa.Centralizado(a) e poderoso(a), vivo minhas crenças.Lidero a partir da base, trabalhando para o bem de todos.Tenho uma visão da totalidade, ajo cooperativamente,

pratico a política taoísta.Lembro-me sempre de que a vida é um processo.Respeito a mim mesmo(a) e ao processo.Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em

meu inundo.Agora recebo uma paz maior em minha vida.E assim seja.

NOTAS

1. Citação de Harold D. Lasswell, em Politics: Who Gets Wliat, Wlien, How(Magnolia, Massachusetts: Smith, 1936), Esta referência e outros conse-lhos políticos de William James Stover, Ph.D., de San José, Califórnia.

2. Hammarskjöld, Markings (Nova York, Alfred A. Knopf, Inc.; Londres:Faber and Faber Ltd., ©1965), p. 53. Esta e outras citações, neste capítulo,foram usadas com permissão do editor.

3. Andrea Choen-Kiener faz essa reivindicação em "Smaller and Simpler IsSáfer, Saner", escrito para o Courantàe Hartford, impresso no MercuryNews de San José, em 5 de maio de 1989, p. 7P.

4. Para imformações a respeito da associação estudantil (p. 88) e outrasmaneiras de levar uma vida mais equilibrada, ver: Bill Devall, Simple inMeans, Rich in Ends {Sah Lake City: Gibbs Smith, 1988).

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5. Histórias sobre Becky Simpson e Eddie Schwartz extraídas de "You JustHave to Try", Copyright ©1989 de Michael Rian, publicado inicialmenteem Parade Magazine, 28 de maio de 1989, pp. 40-43- Republicado compermissão da editora, do autor e dos agentes do autor, Agência LiteráriaScott Meredith, Inc.

6. Informações e citações extraídas de "How One Rainforest Was Saved",de Nancy Perkins, em Greenpeace, maio/junho de 1989, p. 16. Usadocom permissão de Greenpeace. A revista (4 exemplares) está disponívela 20 dólares por ano, ou doação superior, para Greenpeace, 1436 U.Street NW, Washington DC 20009.

7. Para maiores informações sobre movimentos populares no mundointeiro, ver: Alan B. Durning, "Grassroots Groups Are Our Best Hope forGlobal Prosperity and Ecology", originalmente publicado em TheProgressive, abril de 1989, republicado em UtneReader, julho/agosto de1989, pp. 40-48.

8. Ver Naisbitt, Magatrends, pp. 97, 129, e uma entrevista de 1982 comRalph Nader, citada por Macy em Despair and Personal Power, p. 131.

9. O projeto Lima é descrito extensamente na obra de Durning, "GrassrootsGroups", p. 42.

10. Informações sobre o Seikatsu extraídas de David Morris, em "PoliticalReform from the Kitchen", Building Economic Alternativos, revista dosmembros da CO-OP America, verão de 1989, pp-3. Usado com permis-são da CO-OP America, que oferece aos membros produtos ambiental-mente seguros, vindos de indústrias caseiras e cooperativas do TerceiroMundo. Para maiores informações, escrever para CO-OP America, 2100M Street NW, NQ 310, Washington DC 20063.

11. Algumas idéias neste exercício foram inspiradas por sugestões do livrode Arnold Gerstein e James Reagan, Win-Win: Approaches to ConflictResolution (Salt Lake City: Gibbs Smith, 1986), p. 99.

12. Levantamento de "Voices: Are You Willing to Pay Higher Prices for CleanAir?", em USA Today, 13 de julho de 1989, terça-feira, p. 10A.

13. Para maiores informações sobre o imposto verde, contatar a New SocietyPublishers: 4527 Springfield Avenue, Philadelphia PA 19143, ou o FingerLakes Green Fund, P.O. Box 6578, Ithaca, NY 14851, tel. (607) 387-3424.

14. A história a respeito de Shumacher foi tirada do livro de Byron Kennard,Nothing Can Be Done, Everything Is Possible (Andover, MassachusettsBrick House Publishing, 1982), p. 145-

15. Informações sobre Jeff Steiner, obtidas de CBS Evening News, maio de1989.

16. Informações sobre o projeto de reflorestamento extraídas de BarbaraHowell, "Seedlings of Survival", de Christianity and Crisis, 16 desetembro de 1985, p. 349. Usado com permissão da editora. Assinaturasa 24 dólares por ano (19 exemplares), podendo ser feitas com "Chris-tianity and Crisis, 537 W. 121 Street, Nova York NY 10027.

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17. Informações sobre o chamado Pomar de Lee extraídas de "Back toBasics: Homes Within an Orchard", de Alan Hess, Mercury News de SanJosé, 7 de maio de 1989, p. IP.

18. Informações sobre o Habitat for Humanity extraídas de "Sharing theVision" e Love in the Mortar Joints, de Millard Fuller e Diane Scott(Piscataway, Nova Jersey: New Century Publishers, ©1980), usadas compermissão do editor. O livro pode ser encomendado à New CenturyPublishers, 220 Old New Brunswick Road, Piscataway NJ 08854, ou aoHabitat Church Streets, Americus GA 31709-3498, tel. (912) 924-6935.Para as sucursais locais do Habitat e projetos em sua área, consultar ocatálogo telefônico local.

19. Citação de "Carter Finds Fulfillment in Providing the Poor Modest,Low-cost Homes", de Sunny Merick, org., The Los Altos Town Crier, abrilde 1989. Meus agradecimentos a Sunny Merick por partilhar suas idéiassobre cooperação e paz.

20. Alguns livros úteis sobre o assunto: Gerstein e Reagan, Win-Win, citadoanteriormente, e Roger Fisher e William Ury, Getting to Yes: NegotiatingWithout Giving Up (Nova York: Penguin, 1983). As citações de Cartersão de uma entrevista coletiva à imprensa no De Anza College, Cuper-tino, Califórnia, em 6 de maio, de 1988. Para maiores informações sobreo Carter Center e seus programas, escrever para Office of Public Infor-mation, The Carter Center, One Copenhill, Atlanta GA 30307, outelefonar para (404) 331-0296.

21. Hammarskjóld, Markings, pp. 8, 5. Usado com permissão.

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A autora e o editor são sinceramente gratos pela permissão para usarseleções e informações das seguintes obras: Jack Canfield, exercício doespelho mostrado no workshop Full Esteem Ahead [Em busca da plenaestima] em San José, Califórnia, outubro de 1988. Usado com permissão deSelf Esteem Seminars.

Tina Clare, Silence in the Heart: Meditations for Inner Growth andRelaxation. Los Altos Hills: Copyright © 1989. Usado com permissão de TinaClare.

Jim Dodge, Leonard Charles, Lynn Milliman e Victoria Stockley,"Where You At? A Bioregional Test", publicado pela primeira vez emCoevolution Quarterly, na32, inverno de 1981. Usado com permissão dos autorese do editor, atualmente Whole Earth Review.

Genevieve Farrow, "A Strange Encounter", Originalmente publicadoem Science of Mind Magazine, maio de 1988. pp. 3-5. Usado com permissãoda autora.

Millard Fuller e Diane Scott, Love in the Mortar Joints, Piscataway, NovaJersey: New Century Publishers, © 1980. Usado com permissão do editor.

Suzzane Gowan et ai. Moving Toward a New Society. Filadélfia: NewSociety Publishers, Copyright© 1976. Usado com permissão do editor.

The Greenpeace Philosophy. Usado com permissão do Greenpeace,Estados Unidos e Canadá.

Dag Hammarskjöld, Markings, tradução inglesa de Leif Sjoberg e W.H.Auden, Nova York: Alfred A. Knopf, Inc.; Londres: Faber and Faber Ltd.Copyright 1965. Usado com permissão dos editores.

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APÊNDICE

Page 167: O Tao Da Paz - Diane Dreher

Louise L. Hay, You Can Heal Your Life. Santa Monica: Hay House,Copyright© 1984. Usado com permissão do editor.

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Informações sobre o Lago Mono usadas com permissão do Comitê doLago Mono, Lee Vining, Califórnia.

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Reeditado com permissão do editor, do autor e dos agentes do autor, ScottMeredith Literary Agency, Inc.

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The Tao: The Sacred Way, tradução para o inglês de Tolbert Mc Carroll.Nova York: Crossroad, Copyright© 1982. Usado com permissão do autor.

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The Wisdom of Laotse, tradução para o inglês e organização de LinYutang. Copyright© 1948 de Random House, Inc. Reeditado com permissãodo editor.

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Marsha Sinetar, Elegant Choices, Healing Choices: Finding Grace andWholeness in Everythind We Choose. Mahwah, Nova Jersey: Paulist Press,Copyright© 1988 de Dr. Marcha Sinetar. Usado com permissão do editor.

Robert William Smith, "The Distinction Between Life as a Problem ora Mistery", roteiro de curso de filosofia. Usado com permissão do autor.