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TRABALHO TRABALHO TRABALHO TRABALHO TRABALHO TRABALHO TRABALHO TRABALHO TRABALHO TRABALHO A SAÚDE DÁ A SAÚDE DÁ O que revelam as O que revelam as O que revelam as O que revelam as O que revelam as pesquisas sobre a pesquisas sobre a pesquisas sobre a pesquisas sobre a pesquisas sobre a atividade remunerada e as atividade remunerada e as atividade remunerada e as atividade remunerada e as atividade remunerada e as práticas de gestão de RH práticas de gestão de RH práticas de gestão de RH práticas de gestão de RH práticas de gestão de RH O que revelam as O que revelam as O que revelam as O que revelam as O que revelam as pesquisas sobre a pesquisas sobre a pesquisas sobre a pesquisas sobre a pesquisas sobre a atividade remunerada e as atividade remunerada e as atividade remunerada e as atividade remunerada e as atividade remunerada e as práticas de gestão de RH práticas de gestão de RH práticas de gestão de RH práticas de gestão de RH práticas de gestão de RH Revista da Escola de Administração - UFRGS - ano 4 - n o 14 - Edição Verão 2006 Revista da Escola de Administração - UFRGS - ano 4 - n o 14 - Edição Verão 2006

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TRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHOTRABALHOA SAÚDE DÁ A SAÚDE DÁ

O que revelam asO que revelam asO que revelam asO que revelam asO que revelam aspesquisas sobre apesquisas sobre apesquisas sobre apesquisas sobre apesquisas sobre aatividade remunerada e asatividade remunerada e asatividade remunerada e asatividade remunerada e asatividade remunerada e aspráticas de gestão de RHpráticas de gestão de RHpráticas de gestão de RHpráticas de gestão de RHpráticas de gestão de RH

O que revelam asO que revelam asO que revelam asO que revelam asO que revelam aspesquisas sobre apesquisas sobre apesquisas sobre apesquisas sobre apesquisas sobre aatividade remunerada e asatividade remunerada e asatividade remunerada e asatividade remunerada e asatividade remunerada e aspráticas de gestão de RHpráticas de gestão de RHpráticas de gestão de RHpráticas de gestão de RHpráticas de gestão de RH

Revista da Escola de Administração - UFRGS - ano 4 - no 14 - Edição Verão 2006Revista da Escola de Administração - UFRGS - ano 4 - no 14 - Edição Verão 2006

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 20062

Mundo na EA ( 7 )Mais pesquisa EUA-EA

CAPA ( 8 )O trabalho no divã

Entrevista ( 16 )Estelle Morin:O perigo da satisfação

Editorial ( 3 )Esforço recompensado, por João Luiz Becker, Diretor da EA/UFRGS

Fatos & Ofícios ( 5 )Um degrau acima na carreira

ColunistasTRABALHO TTTTTeoria da Dor eoria da Dor eoria da Dor eoria da Dor eoria da Dor por Carmen Lígia Ioschins Grisci ( 18 )PESQUISA A circulação dos saberes sociaisA circulação dos saberes sociaisA circulação dos saberes sociaisA circulação dos saberes sociaisA circulação dos saberes sociais por Neusa R. Cavedon ( 19 )EMPREGO O Criteos e o GineitO Criteos e o GineitO Criteos e o GineitO Criteos e o GineitO Criteos e o Gineit por Valmíria Carolina Piccinini ( 20 )INTER-RELAÇÕES Confiança como indicadorConfiança como indicadorConfiança como indicadorConfiança como indicadorConfiança como indicador por Marina Nakaiama ( 21 )TRABALHADOR Vínculos entre justiça e saúdeVínculos entre justiça e saúdeVínculos entre justiça e saúdeVínculos entre justiça e saúdeVínculos entre justiça e saúde por Aida Maria Lovison( 22 )

NESTE NÚMERO

Mande sua sugestão, crít icaMande sua sugestão, crít icaMande sua sugestão, crít icaMande sua sugestão, crít icaMande sua sugestão, crít icae colaboração para Carta doe colaboração para Carta doe colaboração para Carta doe colaboração para Carta doe colaboração para Carta doLeitor pelo e-mailLeitor pelo e-mailLeitor pelo e-mailLeitor pelo e-mailLeitor pelo e-mail

[email protected] rgs [email protected] rgs [email protected] rgs [email protected] rgs [email protected] rgs .br

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 2006 3

ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO é umapublicação da Escola de Administração daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

Diretor :Diretor :Diretor :Diretor :Diretor :Prof. João Luiz BeckerVice-diretor:Vice-diretor:Vice-diretor:Vice-diretor:Vice-diretor:Prof. Paulo César Delayti Motta

Diretor do CEPDiretor do CEPDiretor do CEPDiretor do CEPDiretor do CEPA:A:A:A:A:Prof. Fernando Bins LuceVice-diretor:Vice-diretor:Vice-diretor:Vice-diretor:Vice-diretor:Prof. Luiz Carlos Ritter Lund

Coordenador do PPGA:Coordenador do PPGA:Coordenador do PPGA:Coordenador do PPGA:Coordenador do PPGA:Prof. Luis Felipe Machado NascimentoCoordenadora-substituta:Coordenadora-substituta:Coordenadora-substituta:Coordenadora-substituta:Coordenadora-substituta:Profa. Lilia Maria VargasCoordenação de ComunicaçãoCoordenação de ComunicaçãoCoordenação de ComunicaçãoCoordenação de ComunicaçãoCoordenação de ComunicaçãoSocial: Social: Social: Social: Social: Prof. Roberto Lamb eMárcia Barcelos Silva

Coordenação, produção e edição:Coordenação, produção e edição:Coordenação, produção e edição:Coordenação, produção e edição:Coordenação, produção e edição:Anamara BolssonReportagem:Reportagem:Reportagem:Reportagem:Reportagem:Leandro DemoriFotos:Fotos:Fotos:Fotos:Fotos:Gil GoschProjeto gráfico e diagramação:Projeto gráfico e diagramação:Projeto gráfico e diagramação:Projeto gráfico e diagramação:Projeto gráfico e diagramação:Luciano Seade

Capa:Capa:Capa:Capa:Capa: Luciano Seade sobrefotos de Gil Gosch

Impressão:Impressão:Impressão:Impressão:Impressão: Nova ProvaTTTTTiragem:iragem:iragem:iragem:iragem: 5.000 exemplares

Endereço:Endereço:Endereço:Endereço:Endereço:Rua Washington Luis, 855 - Porto Alegre- RS - Brasil - CEP 90010 - 460 Fone:Fone:Fone:Fone:Fone:(51) 3316.3536 Fax:Fax:Fax:Fax:Fax: (51) 3316.3991Homepage:Homepage:Homepage:Homepage:Homepage: www.ea.ufrgs.brE-mail:E-mail:E-mail:E-mail:E-mail: [email protected]

EsforçorecompensadoCaros leitores,

Trazer do Canadápara o Brasil um evento inter-nacional e reunir pesquisadores derenome mundial para debater as ques-tões que envolvem o trabalho humano naatualidade foi tarefa árdua e bem-sucedida.Coube ao Grupo Interdisciplinar de Estudos daInovação e do Trabalho (GINEIT) da Escola deAdministração da Ufrgs, coordenado pela professo-ra Valmíria Carolina Piccinini, organizar o Fórum doCentro de Pesquisa sobre Trabalho, Saúde e EficáciaOrganizacional (CRITEOS), realizado em dezembro de2005 em Porto Alegre. Deu trabalho!

O meio acadêmico brasileiro se mobilizou e foi fun-damental para a apresentação e a discussão de pesquisas tãoimportantes quanto surpreendentes. Embora ainda restri-to ao mundo da universidade e a uma parcela de gestoressintonizados com as mudanças no modo de trabalho e seusefeitos colaterais, positivos ou negativos, o tema do Fórum éassunto atualíssimo e inadiável nesta edição da revista Ad-ministração do Milênio.

O compromisso da Escola de Administração em man-ter-se como um fórum permanente de discussão e fontede pesquisa e conhecimento para os futuros administra-dores e atuais gestores e executivos é, portanto, mais umavez reafirmado com a realização do Fórum Criteos. Nestaedição, o leitor também encontrará a corajosa doutoraEstelle Morin, a canadense idealizadora do evento eque trabalha debruçada sobre o trabalho dos outros.Ela ensina. Aproveite!

Boa leitura!Prof. João Luiz Becker

Diretor da EA/UFRGS

editorialEDITORIAL

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 20064

FATOS E OFÍCIOS

Festa à beira do Guaíba

Confraternização de final de ano da EA

A tradicional festa de final de anodos professores e funcionários da Escolade Administração começou com umanoite de temperatura amena e a traves-sia de barco pelo Guaíba. O local do jan-tar, a ilha onde está localizada a sede doGrêmio Náutico União, foi o cenárioperfeito para a noite de confraterniza-ção que contou com um autêntico assa-do gaúcho. Cerca de 90 pessoas partici-param da festa, com trilha sonora do DJAndré, da G3 Sonorização, que emba-lou a animação e as danças de professo-res, técnicos e alunos. Convidados espe-ciais, professores de outras nacionalida-des que começavam a chegar a PortoAlegre para o Fórum Criteos participa-ram da confraternização, aprovando ocardápio e a animação da música.

Negócio fechadoLivro premiado

O livro Antropologia para Adminis-tradores, da professora da EA/UFRGS, Neusa Cavedon, lançadona Feira do Livro de 2003, venceuo prêmio Seleção Regional, doConselho Regional de Adminis-tração do Rio Grande do Sul(CRA/RS) e foi indicado para oprêmio Belmiro Siqueira, doConselho Federal de Administra-ção. A divulgação do prêmio e daindicação ocorreu em dezembrode 2005, no jornal Master - OJornal do Administrador. Editadapela UFRGS, a obra de 182páginas é dirigida a alunos degraduação e pós-graduação doscursos de Administração, profissi-onais das áreas de recursos huma-nos e estudiosos. O livro é encon-trado na Livraria da UFRGS porR$ 25 e na Livraria Cultura.

Enquanto a indústria de mobiliárioSCA desenvolvia um projeto paramobiliar a sala onde funciona a PSJunior, empresa administrada pelosestudantes de graduação da Escola deAdministração, os jovens empreende-dores elaboravam um planejamento demarketing para a SCA. Este foi oresultado de uma parceria bem-sucedida e que traz ganhos para ambosos participantes. A direção da PSJunior propôs à indústria umaconsultoria em troca de mobiliárionovo e adequado às funções da empre-sa jovem, localizada junto ao prédio daEA. Resultado: a SCA mobiliouinteiramente a sala em troca de umapesquisa de mercado. O ambienteorganizacional da sala foi personaliza-do para atender as atividades aliexercidas. A direção da EA apoiou ainiciativa e investiu em uma reformada sala, com a troca de piso, colocaçãode gesso e pintura de paredes.

ANTES

DEPOIS

05

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 2006 5

Um degrau acima na carreiraO Programa de Pós-Graduação da Escola de Ad-

ministração da UFRGS realizou em dezembro pas-sado a formatura de 185 alunos, dos quais 135 espe-cialistas em Marketing, Finanças, Gestão de Pessoase Gestão de Saúde, 31 mestres acadêmicos e 19 dou-tores. A solenidade, nos moldes tradicionais dascolações de grau, contou com um paraninfo escolhi-do por cada uma das turmas. O curso de Finançasescolheu o professor Oscar Claudino Galli, o de Ges-tão de Pessoas, Flávio Copelli, o de Marketing, LuizAntonio Slongo e as três turmas de Gestão Empre-sarial indicaram Antônio Carlos Maçada e CláudioSampaio. O Mestrado Acadêmico escolheu a profes-sora Elaine Di Diego Antunes e o Doutorado indi-cou Edi Madalena Fracasso, que falou em nome dosparaninfos. A solenidade foi presidida pelo diretorda EA, professor João Luiz Becker e pelo coordena-dor do PPGA, professor Luís Felipe Nascimento. PPGA/EA formou 185 especialistas, mestres e doutores em 2005

Nova safra deAdministradores

A Escola de Administração da UFRGSentregou à sociedade gaúcha 111 novosbacharéis em Administração. A formaturade 101 alunos - dez colaram grau emgabinete - se realizou em 14 de janeiro, noSalão de Atos da UFRGS. Os alunosescolheram como paraninfo o professorAntônio Carlos Maçada e homenagearamos professores Walter Meucci Nique,Paulo César Delayti Motta e CésarAugusto Tejera De Ré. O DestaqueAcadêmico, distinção conferida pelaComissão de Avaliação da EA ao alunocom melhor desempenho durante o curso,coube a Jonas Eicholz, que recebeu umtroféu do Conselho Regional de Adminis-tração (CRA/RS) e um diploma doSindicato dos Administradores. Duasláureas acadêmicas foram entregues aosalunos Jonas Eicholz e Rafael DornellesJapur, que obtiveram 75% de conceitos “A”durante o curso. Os formandos receberama carteira provisória do Conselho dosAdministradores.

Professores da EA em nova obra

Os professores da Escola de Administração da UFRGS, Roberto Ruas e PauloAntônio Zawislak participam do livro Novas Tramas Produtivas: uma discussãoteórico-metodológica organizado por Leda Gitahy e Marcia de Paula Leite. Naobra, recentemente lançada, os professores assinam o artigo “A externalizaçãoprodutiva no complexo calçadista do Rio Grande do Sul: impactos sobre oemprego e qualificação”.

Mestre pelo PPGA nomanche da EmbraerLuis Carlos Siqueira Aguiar, mestre em Administração pelo Programa dePós-Graduação da Escola de Administração da UFRGS, é o novo vice-presidente Executivo para o Mercado de Defesa e Governo da Embraer,desde dezembro de 2005. Aguiar ocupava anteriormente o cargo de Presi-dente do Conselho de Administração da empresa. Formado em CiênciasEconômicas pela Universidade Federal do Paraná, o executivo desenvolveusuas atividades profissionais no Banco do Brasil, em Nova York e, posterior-mente, na Diretoria Internacional do Banco, em São Paulo. Entre 2003 e2004 representou a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco doBrasil (PREVI) junto a conselhos de administração de várias empresas,inclusive a Embraer. De 2003 até o final de 2005, exerceu o cargo de Diretorde Investimentos da PREVI, sendo responsável pela política de investimen-tos de recursos de R$ 70 bilhões.

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 20066

EA NO MUNDOFATOS E OFÍCIOS

Reeleita chefia do DCA

Elaine Di Diego Antunes foi reempossada na chefia

O Diretor em exercício daEscola de Administração, Professor Paulo Cesar DelaytiMotta deu posse à chefia doDepartamento de CiênciasAdministrativas e aos mem-bros do Colegiado no dia cin-co de janeiro passado. Eleitaspor professores e alunos daEA, em dezembro de 2005,foram reconduzidas ao cargode Chefe e Chefe substitutoas professoras Elaine DiDiego Antunes e Maria Ceci Araújo Misoczky, respectivamente. Os membrostitulares do Colegiado, representantes dos professores, são: Gilberto de OliveiraKloeckner, Cristiane Pizzuti dos Santos, Luiz Antonio Slongo, César Tejera DeRé, Eduardo Ribas Santos, Aida Maria Lovison, Aristeu Jorge dos Santos e OscarClaudino Galli, e como suplente a professora Rosinha Machado Carrion. TâniaMarisa de Abreu Fraga foi eleita representante dos técnico-administrativos.

Assembléia Legislativa premia alunaFabiane da Costa e Silva, 24 anos, estudante do 8° semestre de Administra-ção, com ênfase em Administração Pública, da EA/ UFRGS, foi uma dasvencedoras do Concurso Perspectivas, patrocinado pela AssembléiaLegislativa do Rio Grande do Sul em comemoração aos seus 170 anos. Oprêmio foi a publicação da sua redação, intitulada Assembléia Legislativa- UmReflexo da Sociedade Gaúcha, no primeiro volume da Revista EstudosLegislativos. A aluna tomou conhecimento do projeto através de uma palestrana cadeira de Tópicos Especiais em Administração Pública, ministrada pelosprofessores Ivan Pinheiro e Aristeu Jorge dos Santos. A revista foi lançadadurante a Feira do Livro, realizada em novembro em Porto Alegre.

De olho no sucesso do Orkut

O artigo Comunidade Mediada pelaInternet: Encontro entre Tecnologia eBrasilidade de Carlo Bellini, doutoran-do do Programa de Pós-Graduação daEscola de Administração da UFRGS,e de Ana Beatriz Benites Manssour,mestre pelo PPGA/EA e professorada Universidade Metodista de SãoPaulo (Umesp) foi publicado noperiódico acadêmico Estudos de Jorna-lismo e Relações Públicas, daquelainstituição. O artigo analisa as razões

pelas quais o Orkut, inovadora Comu-nidade Mediada pela Internet (CMI),alcançou sucesso no Brasil. Os autoresusaram como apoio o modelo teóricopara o estudo de CMIs e seus websites, previamente publicado porBellini e Lilia Vargas, professora daEA, na publicação CyberPsychology &Behavior. De acordo com Bellini eManssour, características sociológicasdo brasileiro podem estar na raiz dosucesso do Orkut no país.

O exemplo da EATW

O professor Luis Roque Kleringparticipou em dezembro passado docongresso internacional ThePartnership In Global E-Learning,realizado na Fundação Getúlio Vargasde São Paulo, onde apresentou otrabalho “EATV: Trajetória de umaTV Universitária na Web”.

Convidado especial

O Núcleo de Aprendizagem Virutal(NAVI ), da Escola de Administração,esteve presente como convidadoespecial do 10° Ciclo Anual dePremiação de Inovações do Programade Gestão Pública e Cidadania, emnovembro de 2005, coordenado pelaFGV-SP e realizado no Rio. O eventoé integrado por várias instituições dopaís, inclusive pela EA/UFRGS,representado pelo professor LuisRoque Klering. Coube ao NAVI agravação e disponibilização dos vídeosna EATW.

Informs 2005O professor Denis Borenstein partici-pou do encontro anual do Institutefor Operations Research and theManagement Sciences (Informs),realizado em San Francisco, EUA. É omais importante congresso acadêmicoda área de pesquisa operacional, ereuniu mais de 7 mil pesquisadores domundo. Borenstein apresentou otrabalho ”Modelagem do problema deescalonamento de caminhões paracoleta de resíduos sólidos em PortoAlegre”. Também foram apresentadosdois trabalhos realizados em conjuntopor Jing-Quan Li com seusorientadores, os professores Borensteine Pitu Mirchandani, do Departamen-to de Sistemas e Engenharia Industrialda Universidade do Arizona.

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 2006 7

Professores norte-americanos doCollege of Charleston, da Carolina doSul, EUA, estiveram em visita à Escolade Administração, pelo convênio Ca-pes/Fipse, interessados em realizar pes-quisas conjuntas com pesquisadores eprofessores da EA. Rene DentisteMueller, PhD, Gia Quesada, PhD eMarsha Snyder, MSc, querem tam-

Mais pesquisa EUA-EA

MUNDO NA EA

bém ampliar o intercâmbio entre alu-nos dos cursos de pós-graduação daEA e da instituição americana. Osprofessores deram palestra para alunosda graduação, pós-graduação e profes-sores, apresentando a escola nos EUAe as áreas de interesse para pesquisa con-junta, como logística, marketing e de-senvolvimento sustentável.

Professores do College of Charlestonestiveram na EA para ampliar relações

Lá e cá

Jessica Hope Pohlen , 21 anos,aluna do 4° semestre daUniversity of North CarolinaWilmington, realiza intercâmbiona Escola de Administração daUFRGS desde agosto do anopassado por meio do intercâmbioCapes/Fipse para alunos degraduação. Ela permanecerá umano em Porto Alegre, onde jávive perfeitamente integrada eadaptada. Neste período deférias, ela aproveita para conheceroutros países da América do Sul.Enquanto Jessica descobre acultura do extremo sul do Brasil,alunos da graduação da EAembarcaram este mês para ointercâmbio nos Estados Unidos.Martina Biolo Magnus foiselecionada e cursará um ano noCollege of Charleston, daCarolina do Sul, e GabrielMarin Garcia dá continuidadeaos estudos na University ofNorth Carolina Wilmington.

Mestres europeus no PPGAA experiência de um dos mais renomadosmestres na Europa foi compartilhada naEscola de Administração em dezembropassado. O professor Jürgen Bloechrealizou os seminários “Ensino deLogística e Operações na Universidade deGöettingen” e “Jogos de Empresa aplica-dos à área de Logística e Operações” paraalunos e professores do Programa de Pós-Graduação da EA/UFRGS. Bloech éprofessor de logística e operações naUniversidade de Göettingen. Também oprofessor francês Yves Evrard, da HECParis, veio a Porto Alegre para ministrar adisciplina de Análise de Dados para oscursos de doutorado e mestrado acadêmi-co. Evrard também teve um encontro comalunos do mestrado profissional.

Professor Jürgen Bloech

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 20068

A saúde nas empresas é umdos temas mais debatidos da ges-

tão atual. Na maioria das grandescompanhias, os requisitos mínimos

estão superados – estruturas com den-tistas, médicos, psicólogos, programas de

prevenção de drogas e doenças sexualmen-te transmissíveis se tornaram quase obriga-

tórios. Há pesquisas de vanguarda, no entan-to, que mostram que ainda existem fronteiras

a serem superadas. Foi com o objetivo de divul-gar essas pesquisas que se realizou o FórumCriteos, entre 14 e 16 de dezembro de 2005, naUniversidade Federal do Rio Grande do Sul.

O Criteos - Centre de Recherche etD’intervention pour le Travail, L’efficacitéOrganisationnelle et la Santé (Centro de Pes-quisa sobre Trabalho, Saúde e EficáciaOrganizacional) nasceu no Canadá, idealizado efundado pela professora Estelle Morin, doutorapela Universidade de Montreal e professora daÉcole dês Hautes Études Commerciales (HECde Montreal). No ano passado, o evento come-çou a rodar o mundo como fórum de discussõesitinerante. A edição brasileira, organizada pelasequipes das professoras Valmíria Piccinini, daEscola de Administração da UFRGS (EA) eMaria José Tonelli, da Fundação Getúlio Vargasde São Paulo (FGV-SP), trouxe para o RioGrande do Sul um time de pesquisadores in-

ternacionais de peso. A lista de participantesincluiu países como Portugal, Inglaterra,

Espanha, Estados Unidos e o Brasil, comexpressivo número de pesquisas.

no divãO TRABALHO

CAPA

Pesquisadoresinternacionais noFórum Criteos,em Porto Alegre,demonstram que a saúdeno trabalho vai muito alémde consultas e remédios.

ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 20068

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 2006 9

NO FÓRUM,NO FÓRUM,NO FÓRUM,NO FÓRUM,NO FÓRUM,professores e

pesquisadoresapresentaram

estudos sobre otrabalho nas áreas

de medicina,psicologia,

administração,ciências sociais e

políticas

“São colegas do mundo acadêmico queaprofundam conhecimento em diversas áreas dotrabalho”, explica Valmíria Piccinini, coordena-dora do Grupo Interdisciplinar de Estudos daInovação e do Trabalho (GINEIT) na EA.

Segundo o que esses estudiosos apresenta-ram em Porto Alegre, - e não foi pequeno o nú-mero de trabalhos e artigos - questões atuais re-lativas à saúde no trabalho vão muito além dosconsultórios médicos. Munidos de pesquisas emáreas como medicina, psicologia, administração,ciências sociais e políticas, os professores englo-baram a saúde geral dos indivíduos (em casa, nasruas, com a família ou amigos, por exemplo) emostram como há correlações que interferem di-retamente nos negócios.

“Temos que entender o ser humano comoúnico”, argumenta Estelle Morin, uma das mai-ores autoridades mundiais no tema trabalho. Ecompleta: “não há como estar feliz e saudável emcasa e doente no trabalho. É tudo parte de ummesmo processo”.

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 200610

Como exemplo, Estelle Morin cita um estu-do feito nas companhias de seguros no Canadá,país com população de 30 milhões de pessoas,menos de um quinto da brasileira. Os resulta-dos mostram que essas empresas consumiram 20bilhões de dólares canadenses para compensarfaltas ao trabalho provocadas por transtornosmentais – sem contar as faltas por acidentes ouproblemas físicos de toda ordem. “Isso mostraque as empresas precisam refinar suas pesquisase conhecer a fundo seus colaboradores”, enfatiza.Para a pesquisadora, as empresas devem se preo-cupar com a felicidade geral de seus funcionári-os, e não se limitarem a saber se estão satisfeitoscom o trabalho.

PrivPrivPrivPrivPrivado e públicoado e públicoado e públicoado e públicoado e públicoQuestões como esta foram apresentadas a uma

platéia atenta, cerca de 150 professores, pesqui-sadores, estudantes, diretores e gerentes de im-portantes empresas, além de representantes desetores do funcionalismo público, em maior nú-mero do que dos setores privados. Embrapa, Con-selho Federal de Justiça, universidades e secreta-rias de governo são alguns exemplos, o que mos-tra que, cada vez mais, se abre uma nova consci-ência no país – a de que as esferas estatais preci-sam ser tão bem cuidadas quanto as organiza-ções privadas. Os motivos das preocupações deempresas públicas e privadas com tais questõessão éticos, humanísticos e, certamente, tambémfinanceiros.

Assim como é crescente a tendência de preo-

CAPA

10

Saúde humana trazlucro para a empresaEstelle Morin, doutora pela Universidade de Montreal, professorada HEC Montreal, idealizadora e fundadora do Criteos desenvol-ve seu raciocínio sobre o sentido do trabalho para o ser humano: “étão importante quanto o amor”. Durante suas pesquisas, observouque os administradores de hoje querem estudar liderança, comuni-cação, marketing..., mas esquecem de se debruçar sobre o trabalhoe sua significância para as pessoas.Em artigos recentes, Estelle argumenta que o trabalho precisa tertrês pilares fundamentais: autonomia, significado e feedback. Ouseja, o trabalhador precisa ter certa dose de decisões pessoais, saberqual o propósito daquilo que está fazendo e ter um retorno sobreo destino de seu trabalho. “Esse é o esquema ideal a ser atingido”,esclarece a pesquisadora.A supervalorização do dinheiro e a entrada de cabeça no mercadotêm prejudicado a saúde dos funcionários de todo o mundo,acredita a professora. “Muitas vezes as decisões são tomadassimplesmente pelo caixa da empresa, os empregados são esqueci-dos mesmo que essa decisão lhes custe o bem-estar”. Estelleacredita que as empresas deveriam pensar, antes de tudo, na saúdede seus colaboradores. Isso faria com que a produtividade e ocomprometimento com a empresa aumentassem sensivelmente,além de ser mais ético e humano. Suas pesquisas mostram que o risco de doença é maior em pessoascom baixa auto-estima e com funções ou em empresas degradan-tes. “No dia em que os dirigentes das empresas entenderem que asaúde humana é fundamental para a saúde financeira o número decrises diminuirá pela metade”.

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 2006 11

Respeito ao relógio biológicotraz produtividadeDesde 1997, a Dra. Diane Boivin integra o Hospital Douglas, emMontreal (Canadá), como Diretora do Centro de Estudos eTratamento dos Ritmos Circadianos. Tais ritmos são ditados peloshormônios e regulam naturalmente nossas horas de sono e vigília,conforme a luminosidade do planeta. A relação dos RitmosCircadianos é tão perfeita que ainda nos anos 60 um pesquisadorfrancês provou que seu ciclo de sono não se alterou, mesmo apósum mês confinado em uma caverna. As pesquisas de Diane e osestudos anteriores mostram que se nosso relógio biológico naturalfosse respeitado, as condições de vida seriam bem melhores. E aprodutividade, por conseqüência, aumentaria.A pesquisadora mostra que a costumeira moleza que sentimos apóso almoço é naturalmente explicável. “Nossa horas de pico de sonosão entre 4 e 6 da manhã e 13 e 15 da tarde”, revela. Uma sesta deaté 45 minutos após a refeição do meio-dia aumenta a disposiçãopara o trabalho pelo resto da tarde, garante.A relação entre o ser humano e a luz é tão importante que pode sercaptada, até mesmo, pela retina de pessoas completamente cegas.Quanto mais luz, menos melatonina, a substância hipnóticasecretada pelo cérebro que nos faz sentir sono. Diane comandouum estudo com dois grupos de enfermeiras em Montreal, um doturno diurno e outro do noturno. Após meses de estudos concluiuque o trabalho à noite reduz as horas de sono, de uma a três pordia. “Uma conta alta no final da semana”, explica. Quem trabalha ànoite, defende, deveria ter 60 horas de sono por semana, emcontrapartida às 36 horas de média de um trabalhador diurno.“Após 23 horas de vigília é como se tivéssemos 10% de álcool nosangue”.

cupações sócio-ambientais no mundocorporativo, há cada vez mais engajamento dasdiretorias em relação à saúde de seus colabora-dores, pois isso se reflete diretamente no caixadas empresas. Pesquisadores são enfáticos em afir-mar que bilhões de dólares vão para o lixo, todosos anos, devido a problemas de saúde. E não so-mente daqueles causados no ambiente de traba-lho, mas também dos acidentes externos e trans-tornos mentais que, muitas vezes, não têm liga-ção aparente com a ocupação do trabalhador.

Nesse espectro de preocupações entram áre-as de estudo que não eram cogitadas há umadécada atrás. A médica Diane Boivin, doutoraem psiquiatria pela McGill University (Cana-dá), por exemplo, falou sobre os RitmosCircadianos – nada mais que nossa ditadura na-tural de dias e noites, imposta pelos hormônios.Segundo pesquisas, o desrespeito aos ritmoshormonais do ser humano vem provocando des-gastes e perdas de produtividade imensuráveis.“Há jornadas de trabalho que caberiam muitomais aos ciclos de Marte”, brinca, sobre horáriosnoturnos ou de ciclos dia e noite (leia boxes).

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CAPA

Pesquisa verde-amarelaPesquisa verde-amarelaPesquisa verde-amarelaPesquisa verde-amarelaPesquisa verde-amarelaAlém das conferências principais, uma sé-

rie de debates paralelos e workshops ajudou adar mais amplitude ao encontro. “Tivemos maisde 80 trabalhos inscritos”, conta Maria JoséTonelli, coordenadora científica do evento, queselecionou 43 para serem apresentados. “Sãopessoas das mais diversas cidades do país quevieram aqui mostrar suas pesquisas e contri-buir com a comunidade acadêmica”.

Se os pesquisadores estrangeiros foram asestrelas das conferências centrais, o mesmo sepode dizer dos brasileiros nos workshops. Mes-tres e doutores de todo o país mostraram porque o Brasil é, hoje, um dos países-chave daspesquisas sobre relações de trabalho. “Foi difí-cil escolher os melhores, quase todos tinhamnível para serem apresentados”, conta Maria José.Para facilitar a participação, as mesas redondasforam divididas em áreas temáticas como Po-der nas Organizações, Educação, Trabalho eEmancipação Humana, Saúde Mental e No-vas Tecnologias.

Líder eficaz écolega de trabalhoAs pesquisas sobre liderança do doutor em psicologia Julian Barling,professor de comportamento organizacional da Queen´s University(Canadá), envolvem a saúde de forma consistente e surpreendente.Afinal, o tema liderança é extensamente debatido na atualidade, masquase nunca sob o enfoque do quanto um líder pode influenciar nasaúde de seus comandados.Conforme Barling, a vanguarda das pesquisas sobre o assunto indicaque a melhor maneira de dizer a alguém como fazer alguma coisaestá na Liderança Transformacional. Um líder transformacional tempaixão por um ideal, permite questionamentos, deixa que seusliderados pensem por si, pede desculpas. Em outras palavras, é, antesde tudo, um colega de trabalho que promove a auto-eficácia daequipe. “É justamente essa auto-eficácia que faz a equipe melhorar”.Estudo comandado por Barling em uma empresa de gás no Canadámostra que em seis semanas a Liderança Transformacional foi capazde mudar a cultura dos funcionários – com média de 11 anos decasa. “Quando os trabalhadores se afeiçoam ao líder fazem o máximopara não o decepcionar”, explica Barling. “Inclusive o trabalho bemfeito”.Não é questão de gostar do chefe, mas de confiar nele. A relação coma saúde dos funcionários também ficou clara: sentindo-se melhores esem as pressões de um chefão linha dura, os funcionários melhoraramnaturalmente suas condições de vida. O pesquisador diz que cerca deoito anos de uma liderança danosa são suficientes para causar umafalência cardíaca. “Liderança é uma questão de saúde pública”,afirma. “A maioria das empresas espera os funcionários ficaremdoentes, para depois tratá-los. A Liderança Transformacional saimais em conta”.

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Durante os dois dias dedicados aos workshops,os pesquisadores apresentaram resultados perti-nentes aos problemas do cotidiano. WagnerJunior Ladeira, Jaciane Cristina Costa e NewtonSpíndola Junior, da Escola de Administração daUFRGS, por exemplo, refletiram sobre adicotomia entre prazer e sofrimento em relaçõesde assédio moral nas organizações. Conforme oensaio, cerca de 8% dos europeus admitem terpassado por situações constrangedoras no localde trabalho. “O assunto envolve questões de saúdemental”, avalia Ladeira, que revela: de 3% a 4%do PIB de toda a Europa é gasto com proble-mas desta ordem.

Luis Felipe Nascimento, coordenador do Pro-grama de Pós-Graduação da Escola de Admi-nistração, acredita que o encontro serviu parainserir o Estado no centro das discussões sobre otrabalho. “O que foi debatido aqui insere nossarealidade regional no mundo”, acredita.

No balanço final, os organizadores abriram omicrofone para manifestações da platéia. Peloscomentários gerais, o Criteos surpreendeu. “Aconcepção de saúde no trabalho vai muito alémdo que imaginamos no dia-a-dia”, declarouMartha Bambini, supervisora de recursos hu-manos da Embrapa. O professor português JoséGonçalves das Neves, do Instituto Superior deCiências do Trabalho e da Empresa, e anfitriãodo Criteos 2006, que se realizará em Lisboa entre23 e 25 de novembro, antecipou os temas dedebate. “Vamos nos concentrar nos desafios daspesquisas sobre o trabalho e na saúde para o fu-turo”, afirmou. Uma das metas é aumentar ainternacionalização do evento e partilhar a di-versidade com culturas mais distantes, como asorientais. Como estímulo, citou o poetaconterrâneo Fernando Pessoa. “Deus quer, o ho-mem sonha e a obra nasce”.

Siga seu sonho ecomprometa-seAmy Wrzesniewski é psicóloga e professora da Stern School ofBussines da Universidade de Nova York. Nos últimos anos dedica-se a pesquisar como as pessoas encaram suas ocupações diárias. Oser humano pode enxergar seus afazeres por três ângulos, conformeela: como um simples ‘trabalho’, relacionado à aquisição de bensmateriais; como uma ‘carreira’, relacionada à ocupação qualificada;ou como um ‘chamado’, que em essência significa trabalhar para si epara a própria felicidade.A pesquisadora apresentou uma série de estudos com indivíduos eequipes e mostrou que os funcionários que seguem um chamadotêm melhores rendimentos profissionais e pessoais. “Pessoas ocu-pando a mesma posição têm pensamentos diferentes sobre otrabalho”, explica Amy.Um estudo feito com faxineiras de hospitais mostra isso claramente.A pesquisadora conta que o grupo identificado como trabalhadorasde carreira ou as que estavam simplesmente cumprindo seu traba-lho identificavam o serviço como “limpeza de quartos”. “As queestavam lá por uma razão especial, por um chamado, falavam sobrea mesma tarefa como ‘tomar conta da unidade’”.Outro estudo mostrou a relação entre equipes e os tipos de líder.Foram acompanhados 266 times de trabalho com idade média de32 anos, em diferentes áreas. Resultados mostram que nas equipescom tendência de carreira há menos comprometimento entre osparticipantes, os processos são mais pobres e a confiança no líder ébaixa. Nos grupos com orientação de chamado o cenário é oposto:Alta confiança no líder, processos mais criativos e comprometimen-to total com a equipe. “Siga seu sonho”, aconselha uma sorridenteAmy.

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Estelle Morin foi recebida em Porto Alegre como estrela maior do Criteos. Pudera:PhD em psicologia e professora titular da HEC (École dês Hautes ÉtudesCommerciales), afiliada à Universidade de Montreal, a canadense foi fundadora docentro de pesquisas ainda em 2002 – e uma das responsáveis por seu caráteritinerante. Sonhadora, abriu o Fórum dizendo que o encontro era a realização deum projeto de vida, crente de que trabalhar é tão importante quanto amar alguém.Autora de diversos livros e artigos, Estelle firma seu nome entre os principaispensadores da atualidade sobre o trabalho. “Precisamos formar uma rede mundialde estudos nessa área”, disse, na fala inicial do Criteos. A julgar pelos paísesparticipantes, essa rede já começou a ser montada. Portugal, Inglaterra, Espanha,Estados Unidos e o Brasil já são membros honorários. Estelle Morin concedeuesta entrevista exclusiva à Administração do Milênio. Confira a seguir.

Milênio - Em um de seus artigos há uma pes-quisa que afirma: mais de 80% das pessoas nãoparariam de trabalhar mesmo que ganhassemdinheiro suficiente para viver a vida toda. So-mos seres essencialmente trabalhadores?

O trabalho é o centro de desenvolvimento daidentidade da pessoa. É ele que dá sentido à vida.Quando você tem um trabalho, tem uma razãopara acordar de manhã, tem objetivos comunscom outras pessoas, se sente útil no planeta. Nósfizemos essa pergunta em países como Canadá,França e Bélgica e chegamos à conclusão de queo trabalho é o centro de equilíbrio das pessoas.Quando você não trabalha as coisas começam ase deteriorar. Lembro de um homem que medisse certa vez: “quando eu trabalhava, espereiaté seis meses por um feriado. Hoje, desempre-gado, os dias são todos iguais”. Em essência, oque este homem está dizendo é que o trabalhopreenche os vácuos da vida – não o deixa morrer.

ENTREVISTA

O PERIGO DA

satisfação

Afinal, nós existimos por que motivo? Quem seimporta com você? O seu trabalho pode respon-der a essas questões.

Milênio - Somos dependentes da rotina?Sim, mas não da rotina como concebemos,

de fazer sempre as mesmas coisas todos os dias eda forma rápida como estamos vivendo. A roti-na é importante para estruturar o tempo. De al-gum jeito, nós organizamos a maneira como que-remos viver a partir do tempo. Em gestão em-presarial, essa noção pode ser perigosa, pois seficamos cinco minutos sem nada para fazer te-mos a sensação de que estamos esquecendo dealgo importante. A rotina dos dias de hoje é “tra-balhar duro e rápido”. Portanto, é necessária, masdevemos estruturá-la de forma consciente. Omodo como se trabalha no mundo, hoje, não é arealidade natural, mas a realidade que nós cria-mos coletivamente.

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ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO - VERÃO 2006 15

“Em essência,o“Em essência,o“Em essência,o“Em essência,o“Em essência,otrabalho preenche ostrabalho preenche ostrabalho preenche ostrabalho preenche ostrabalho preenche osvácuos da vida - nãovácuos da vida - nãovácuos da vida - nãovácuos da vida - nãovácuos da vida - nãoa deixa morrer”a deixa morrer”a deixa morrer”a deixa morrer”a deixa morrer”

Milênio - Os departamentos de recursos hu-manos estão cumprindo o papel de colocar aspessoas certas nas funções certas?

Isso varia de país para país. No Canadá, porexemplo, há super oferta de trabalho. Nossa po-pulação está envelhecendo e o número de pesso-as aptas para o trabalho diminui. Nesse cenário,há trabalhos que precisam ser feitos, mesmo porquem não tenha vocação para tal. Você pega otrabalhador e o coloca em uma função. Dessaforma, algumas coisas faremos bem, pois somosseres de incrível capacidade para adaptação. En-tretanto, isso causará problemas. Você poderá serbom naquilo que faz sem vocação, mas jamaisserá excelente ou o melhor. É muito mais fácilalcançar a excelência em campos de interesse.

Milênio - É aí que entra a visão atual de saúdeno trabalho? Ou seja, não simplesmente o “es-tar doente”, da forma tradicional como conhe-

cemos, mas algo muito mais complexo...Exatamente. Fazendo algo que você não gosta

ou ocupando uma posição na qual você não seidentifica, por exemplo. Isso faz parte do queentendemos hoje por saúde no trabalho. De umaforma ou de outra, você está exposto ao risco emsituações como essa. Mesmo sendo um ser alta-mente adaptativo, seu lado emocional guardaresquícios das coisas que você realmente gostade fazer. O trabalho não deve ser instrumentode sobrevivência, apenas, mas de crescimentopessoal. Nós temos um destino, uma voz interi-or, e devemos ouvi-la antes de fazer escolhas.Quando fazemos isso, promovemos esse concei-to de saúde e, de certa forma, também promove-mos democracia – que é baseada em saúde e edu-cação. Se você está bem e sabe o que quer é ca-paz de fazer a democracia. Quando estamos do-entes ou não temos educação nossa participaçãona sociedade é nula.

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Assim, a democracia também enfraquece ouse anula, pois não podemos participar das deci-sões.

Milênio - Mas educação e saúde nem sempresão prioritárias em países como o Brasil...

Sei que a realidade do Brasil é diferente dado Canadá. Mas ela obrigatoriamente deve mu-dar, se os brasileiros quiserem um país justo edemocrático. Essas duas áreas são fundamentaise, por isso, difíceis de gerenciar. Educação e saú-de têm um custo político e financeiro muito alto,são processos de longo prazo. Sabe quanto domeu salário é retido na forma de imposto? 62%.Isso significa dizer que os que ganham mais de-vem financiar a saúde e educação dos que ga-nham menos. E acredite, funciona. O problemaé como fazer isso, em se tratando de administra-ção pública. Mesmo que 62% do meu saláriovire imposto eu não me zango, pois tenho médi-cos e professores altamente capacitados em meupaís e não preciso pagar nada a mais por isso.Para que você tenha uma idéia, temos mais de60 mil postos de trabalho abertos no Canadá.Para completar essas vagas estamos dando estu-do, até mesmo,para estrangeiros, pois temos con-dições, em nossa rede de escolas e universidades,de educar toda essa gente.

Milênio - Você diz em um artigo que o traba-lho precisa ter algum sentido, certa dose de au-tonomia e feedback. Como passar essa filoso-fia para trabalhos industriais, por exemplo, emque o trabalhador prega mil botões por dia,sempre no mesmo lugar e da mesma maneira?

É justamente aí que entra a educação.Quando temos um sistema desenvolvido, a ten-dência é que esse tipo de trabalho diminua sen-

sivelmente. É um desperdício usar o ser huma-no para tarefas como essa – devemos aproveitarmelhor nosso intelecto. Por outro lado, e infe-lizmente, durante meus anos de pesquisa sobreo trabalho constatei que há pessoas que gostamdesse tipo de ocupação. São tarefas simples,mecânicas, fáceis de executar. Há pouca respon-sabilidade sobre elas, são a mínima parte de umacadeia e você jamais leva preocupação para casa.Você não precisa pensar. Por isso, a tarefa deacabar com esse tipo de emprego, além da edu-cação, deve partir dos administradores das em-presas, que tem consciência sobre as capacida-des humanas.

Milênio - Essa visão vem ao encontro da falade um dos conferencistas do Criteos, sobreuma das profissões que mais cresce no Brasil,a de “papeleiro”...

O que é “papeleiro”?

Milênio - É a pessoa que recolhe papel eoutros materiais nas ruas, que puxa carros compeso excessivo pelas ruas.

“Parem de fazer“Parem de fazer“Parem de fazer“Parem de fazer“Parem de fazerpesquisa de satisfaçãopesquisa de satisfaçãopesquisa de satisfaçãopesquisa de satisfaçãopesquisa de satisfação

no trabalho. Poupemno trabalho. Poupemno trabalho. Poupemno trabalho. Poupemno trabalho. Poupemtempo e dinheiro”tempo e dinheiro”tempo e dinheiro”tempo e dinheiro”tempo e dinheiro”

ENTREVISTA

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No Canadá nós temos trabalhos como esses,que até poderíamos chamá-los de “papeleirosmodernos”. A diferença é que lá eles trabalhamcom carros motorizados e quase não têm conta-to com o material que recolhem. A tecnologia ea organização do trabalho lhes dão dignidade.Esse é um ponto fundamental da questão: nãohá como dar sentido a um trabalho como esse anão ser pela própria sobrevivência humana. Essetipo de ocupação precisa acabar. É claro que olixo da cidade precisa ser recolhido, mas temosque encontrar meios de fazer isso de uma formadigna. As companhias que fazem isso em meupaís são milionárias, ou seja, é um tipo de ocu-pação que dá lucros visíveis. O que devemos fa-zer, antes de tudo, é pensar a maneira de tratar aspessoas: queremos vê-las como seres humanosou como cavalos?

Milênio - Porque você defende que as em-presas não devem se preocupar com a “satisfa-ção” dos seus colaboradores?

Isso pode causar confusão, então deixe-meexplicar dessa forma. Há dois motivos. Primei-

ro: as empresas não devem buscar a satisfaçãodos funcionários porque quando estivermos “sa-tisfeitos” não teremos mais propósitos, perde-remos nossas metas. E só fazemos alguma coisapor que temos nossas necessidades, nossos mo-tivos. A satisfação traz esse perigo, o da acomo-dação. Se você estivesse satisfeito com minhasrespostas nossa entrevista já teria acabado. Noentanto, você não está, e por isso me questionahá mais de uma hora. O que você está queren-do dizer é “eu não estou satisfeito”, e assim meprovoca para que eu dê minhas melhores res-postas. Você está atuando como um adminis-trador, buscando em mim o meu melhor. Osegundo motivo é por que “satisfação” é umconceito vago, não diz nada. Digo isso aos em-presários há muitos anos: “parem de fazer pes-quisa sobre satisfação! Poupe tempo e dinhei-ro! Se quiserem saber o resultado eu digo pravocês: 70% dos seus funcionários estão satisfei-tos”. E dai? É um conceito vazio, não diz nada,só serve para acalmar as consciências. “Ah, elesestão satisfeitos, então nossa empresa é o máxi-mo”. Não é assim que funciona! As questõesimportantes estão mais no fundo, como empesquisas sobre educação e saúde corporal emental dos funcionários.

Milênio - Como as empresas podem passaressa cultura para seus colaboradores externos,fornecedores, terceirizados, em uma época deforte relação com empresas prestadoras de ser-viços?

Essa cultura começa pelo presidente da em-presa. Se ele não acreditar e praticar isso, não vaifuncionar. É preciso fazer um compromisso fir-me com a qualidade do trabalho e entender comoela interfere na vida das pessoas. Para isso, o diri-gente precisa experimentar a qualidade de vidapara si próprio, o que freqüentemente não acon-tece na maioria das organizações. A questão vaimuito além de trabalho, empresas e relações denegócios – é algo que envolve os próprios direitoshumanos. Precisamos pensar a vida de forma maisdigna, agradável. Esse é o ponto. O que vejo emmuitas organizações é que elas simplesmente com-pram um programa de qualidade no trabalho,compram um programa de saúde no trabalho,compram isso e compram aquilo. O problema éque essas coisas não estão à venda.

DIGN IDADEDIGN IDADEDIGN IDADEDIGN IDADEDIGN IDADEEstelle Morindefende que não hácomo dar sentido aum trabalho como odos papeleirosbrasileiros a nãoser pela própriasobrevivência

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Quando flexibilidade torna-se uma palavra de ordem, restaao trabalhador moldar-se às exigências sempre mutantes pre-sentes nos mais diversos setores, e conviver com as marcas indelé-veis que elas produzem no corpo e na mente em prol da manu-tenção de seu emprego, seu status e sua condição econômica. Issoocorre a partir do que se compreende como um movimento queem nada deseja lembrar controle e que, por isso mesmo, se tornaautocontrole intensificado e gera sofrimento psíquico.

A partir das pesquisas que desenvolvemos, e inspirada nofilósofo Gilles Deleuze, propomos o controle como rizomático,pois ele se instala, se rompe e se conecta com diversos centrospermanentemente móveis que se revelamcompostos pelo todo. Ora o controle estána tecnologia que o torna sutil e impes-soal, ora nas estatísticas que refletem tantoo resultado coletivo como individual apartir de ferramentas que os próprios tra-balhadores alimentam. Ora está na hie-rarquia que diz não mais reprimir, punirou impor, mas buscar a adesão voluntáriavia sedução, gratificação ou estímulo ao comprometimentoindividual, ora nos protocolos de avaliação de desempenhoinformatizados, que não são contestados por fazerem crerque sua transparência e objetividade portam confiabilidade esegurança. Ora está fora da empresa em função do imperati-vo à satisfação dos clientes, ora nas prescrições quanto à ele-gância na apresentação e condução dos corpos, através da ges-tão da imagem. Ora está nos colegas de trabalho que zelampor tudo na expectativa dos ganhos profissionais e financei-ros, ora no próprio sujeito que revela deixar de lado a vidapessoal e define sua disponibilidade total para o trabalho comoautodisciplina desenvolvida.

O controle rizomático é fundamental para que umamoldagem de si, que envolve o corpo e a mente, seja possível.Num cenário de controle emocional, o trabalhador demons-tra comportamentos concordantes com aspectos que, não raro,desencadeiam um embate dentro de si, como se ilustrará aseguir evidenciando algumas falas de trabalhadores.

“Teoria da dor”: controlerizomático e sofrimento psíquico

Em relação à mobilidade funcional e espacial tão em vogano quesito flexibilidade, por vezes o trabalhador não maisidentifica o que acontece por vontade própria ou por imposi-ção organizacional. Ao avaliar tudo em termos de desafiosque não ficaria bem titubear em aceitar, refere que “[veio]cumprir um desafio aqui. Não vim a contragosto, mas estavamuito bem lá. Mas vim por interesse da empresa, mas aceitei.Se fosse uma livre escolha teria continuado lá. A saída paraoutro local foi uma questão de posicionamento da empresa,mas também me interessava”.

A passagem do tempo “que cura tudo” é percebida comocada vez mais veloz. Isso equivale a dizerque sobre as situações originalmente ex-perimentadas como traumáticas pairauma demanda de que elas sejam mais ra-pidamente minimizadas e naturalizadas.Embora isso também diga respeito às per-das enfrentadas na vida no sentido indi-vidual, é em relação àquelas situações con-turbadas de mudança organizacional que

afetam o coletivo e que se sucedem em cada vez menos tem-po que essa demanda prevalece, para que os trabalhadorescontinuem, por assim dizer, a tocar o barco.

Ao contribuir para aplacar o sofrimento psíquico, aminimização e naturalização das situações que impõem so-frimento aos trabalhadores promove o consentimento fren-te às novas demandas organizacionais, e não o repensar cri-ativo da própria organização do trabalho. O trabalhador senteque diante de uma vivência embora traumática à época, serecupera de novo e encara como mais um fato da vida. Aoapontar a si mesmo como um sobrevivente, o trabalhadorbusca reconhecer que conseguiu permanecer inserido nomercado de trabalho em uma realidade que compreendecomo desfavorável. Para finalizar essa reflexão, ouçamos essafala cristalina: “Eu acho que nessa época a empresa sempreadotou a prática do ‘derruba e quem levantar segue’. Euacho que essas mudanças na empresa sempre foram na baseda teoria da dor”.

CARMEM LIGIA IOCHINS GRISCICARMEM LIGIA IOCHINS GRISCICARMEM LIGIA IOCHINS GRISCICARMEM LIGIA IOCHINS GRISCICARMEM LIGIA IOCHINS GRISCIProfessora do PPGA/EA/UFRGS

Doutora pela PUC/[email protected]

TRABALHO

“Resistir hoje é“Resistir hoje é“Resistir hoje é“Resistir hoje é“Resistir hoje épermanecer nopermanecer nopermanecer nopermanecer nopermanecer nomercado demercado demercado demercado demercado detrabalho”trabalho”trabalho”trabalho”trabalho”

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O artigo “O desafio de vencer a morte: as representaçõessociais dos médicos hematologistas e oncologistas”, elabora-do por Maria Tereza Flores Pereira, Neusa Rolita Cavedone Cláudio Mazzilli, apresentado no Fórum CRITEOS2005 faz parte de um conjunto de pesquisas realizadas desde2001 sobre as representações sociais no campo da gestãoem saúde. Orientadas pela Profa. Neusa Rolita Cavedon,estas pesquisas resultaram na publicação do livro, lançadona Feira do Livro de Porto Alegre, em novembro de 2005,intitulado Representações Sociais na Área de Gestão em Saúde:teoria e prática.

A relevância de tais estudos deve-se ao fato de que ossujeitos sociais produzem saberes ao produzirem representa-ções de si mesmos, sobre o mundo, sobre o “outro”. Podeparecer estranho, em plena era de enaltecimento do fazer ci-entífico, enfatizar o descortinamento de um tema que primapor desvendar os saberes sociais que se constróem no cotidi-ano vivenciado, locus de onde esses saberes emergem. Com-preender de que modo os saberes se transferem de uma esferasocial para outra, bem como de que maneira se comunicamcom outros saberes, constitui o desafio a que se propõe elucidaro estudioso das representações sociais.

Assim, a representação social vincula-se à ordem do sim-bólico, de modo que determinadas coisas (materiais eimateriais) vão ter significados diferentes dependendo dacultura do grupo social no qual ganham significação. A di-versidade traz a dificuldade de se conhecer e reconhecer ossaberes circulantes, acarretando, de certo modo, entraves nacomunicação, em razão de não se dominar as significaçõesque determinados grupos atribuem às coisas que compõemos seus universos simbólicos e com os quais muitas vezesinteragem.

Ao circular de um lugar social para outro, as represen-tações sociais se mesclam e podem nessas passagens ganharre-significações, alterando, assim, o sentido original oriundode um lugar específico. Essa pluralidade de representações

A circulação dos saberes sociais

está sempre se chocando e competindo e se transformandopor intermédio de suas interpenetrações.

A pesquisa que resultou no artigo apresentado no FórumCRITEOS foi realizada com médicos hematologistas-oncologistas que trabalham em um hospital universitáriopúblico brasileiro, mais especificamente no centro de trata-mento do câncer infantil.

Os resultados apontam para a noção prevalecente no con-texto atual de que a medicina pode e vem propiciando oprolongamento da vida, sendo difícil para o ser humano acei-tar a idéia de que determinadas doenças são incuráveis, comono caso de certos tipos de câncer.

Ora, se o desejo do homem moderno é exatamente afas-tar a doença e a morte do processo de vida, a obtenção dediagnósticos de doenças incuráveis, até o momento, por partedos médicos em relação aos seus pacientes, configura-se comouma mensagem simbólica de que o enigma precisa ser venci-do. Surge, então, a representação do desafio que encontra, noprogresso do conhecimento científico, a prática, ou seja, oprincipal meio de ação desses profissionais para a obtençãode crescimento nos índices de cura e, portanto, de fortaleci-mento dessa representação.

Perguntamos a uma médica se ela já havia ido ao enterrode algum paciente. O retorno a essa pergunta foi um par deolhos molhados e um não como resposta, acrescido da se-guinte fala: “Seria demais ver que tudo aquilo que tu fez, nãodeu certo”. A necessidade de esconder a morte, então, é geral.A criação da representação social do desafio, pelos médicoshematologistas e oncologistas, passa dessa maneira pela ne-cessidade de dar um novo significado à morte biológica deseus pacientes de forma a mascarar a presença da mesma emseu cotidiano de trabalho. Com base nas teorizações de Dejours,podemos afirmar que através dessa mutação um novo sentidoacaba sendo gerado em relação à organização do trabalho,proporcionando, então, um aumento na resistência do sujeitoao risco de desestabilização psíquica e somática.

NEUSA ROLITNEUSA ROLITNEUSA ROLITNEUSA ROLITNEUSA ROLITA CAA CAA CAA CAA CAVEDON VEDON VEDON VEDON VEDON (foto)( foto)( foto)( foto)( foto)Professora do PPGA/EA/UFRGS

Doutora pela UFRGS [email protected]

MARIA TEREZA FLORES PEREIRAMARIA TEREZA FLORES PEREIRAMARIA TEREZA FLORES PEREIRAMARIA TEREZA FLORES PEREIRAMARIA TEREZA FLORES PEREIRADoutoranda do PPGA/EA/UFRGS

[email protected]

PESQUISA

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O Fórum Criteos 2005, organizado pelo GrupoInterdisciplinar de Estudos da Inovação e do Trabalho(Gineit), da Escola de Administração da UFRGS, tratou deassuntos que refletem as preocupações das pessoas que delefazem parte.

Partiu-se da constatação do acentuado avanço tecnológicodas últimas décadas, da globalização e do conseqüente acirra-mento da concorrência, que se reflete numa alteração funda-mental nas relações de trabalho e na qualidade de vida dotrabalhador. A reestruturação produtiva ainda e sempre emcurso resulta, muitas vezes, num profundo processo deprecarização do trabalho e das condições de vida. A empresaflexível é entendida como o modelo mais adequado às condi-ções de instabilidade do mercado e de forte concorrência, aopermitir a combinação de diferentes regimes de empregodentro da mesma organização, visando a obtenção de flexibi-lidade funcional e quantitativa.

Nesta busca de compreender o fenômeno analisaram-sevários setores e sistemas de produção e embora as transfor-mações do mundo do trabalho sejam mais visíveis no âmbitodas organizações voltadas para a produção, atingem tambémos demais setores. Como um exemplo dos modelos que sur-gem ou ressurgem para poder enfrentar esta crise estão ascooperativas de trabalho que buscam oportunidades para osque nelas se inserem, e que foi objeto de estudo da autora ede seu grupo de pesquisa ao longo desses últimos seis anos.

No trabalho cooperado o sócio deveria ter assegurado asmesmas garantias que os trabalhadores formais, porém devi-do à falta de conhecimento ou boa vontade de seus dirigen-tes, na maioria das vezes isso não ocorre. Apesar da preocupa-ção com a comunidade, na operacionalização do trabalho, acooperativa oferece garantias limitadas e os associados nãodispõem dos direitos assegurados pela CLT, o que faz comque acabem por trabalhar coagidos pela necessidade e faltade outras opções no mercado de trabalho.

Quando organizadas dentro de um modelo de gestãodemocrática, algumas têm um importante papel social naregião onde atuam. Encontramos cooperativas em que no

O Criteos e o Gineit

seu quadro associativo encontram-se analfabetos, aidéticos,deficientes físicos, pessoas com pouca ou nenhuma qualifica-ção, entre outros, e que estavam condenadas a aumentar ascifras do desemprego na sociedade brasileira. Além disso,buscam oferecer repouso remunerado, assistência médica eodontológica, seguro de vida e funeral, entre outros. Porém,essas garantias ainda estão aquém daquelas oferecidas pelaCLT.

Constata-se que o trabalho oferecido pelas cooperativasestá no limite entre a inclusão social e a inclusão parcial, poisse por um lado é uma alternativa de ocupação e renda paraseus associados, em muitos casos, oferecem condições míni-mas de trabalho e remuneração que garante apenas a subsis-tência dos seus trabalhadores. No entanto, a maioria das coo-perativas ainda não consegue oferecer condições concretas paraa melhoria da qualidade de vida de seus associados, nem mes-mo rendimentos ou garantias mínimas (assistência médica)que permitam que seus trabalhadores tenham assegurado suasnecessidades básicas. Além disso, eles têm dificuldade em geriro próprio negócio.

Quanto às fragilidades de ordem administrativa, conside-ra-se que uma maior aproximação com as universidades e omovimento sindical auxiliaria sobremaneira, em termos deformação profissional e capacitação, para administrar com êxitoe de forma correta o empreendimento, incluindo-se a reali-zação de estágios supervisionados. A união da classe sindicalpoderá tornar forte o movimento dos trabalhadores, fortale-cendo seus interesses diante das decisões políticas e governa-mentais, assim como ocorre em países europeus em que ademocracia e o trabalhador andam de mãos dadas, em queeste trabalhador tem voz e vez dentro da sociedade. O movi-mento cooperativista no Brasil, inclusive no Rio Grande doSul, ainda tem um grande caminho a percorrer.

A questão da saúde física e mental dos que trabalhampermanece diante desse contexto de insegurança e incerteza.Os estudos apresentados no Criteos inserem-se numa linhade pesquisa desenvolvida há anos pelo Gineit em associaçãocom outros pesquisadores nacionais e estrangeiros.

VALMIRIA CAROLINA PICCININIVALMIRIA CAROLINA PICCININIVALMIRIA CAROLINA PICCININIVALMIRIA CAROLINA PICCININIVALMIRIA CAROLINA PICCININIProfessora doPPGA/EA/UFRGS

Doutora pela Universidade de Ciências Sociais de [email protected]

EMPREGO

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As equipes virtuais são grupos de pessoas que trabalhaminter-relacionadas embora exerçam suas atividades geografi-camente distantes. Elas retratam o atual momento, marcadopela adaptação da tecnologia disponível e dos conceitos daadministração às equipes dispersas. Estas equipes virtuais sãouma realidade nos dias atuais, uma vez que a velocidade pas-sou de vantagem competitiva para um pressupostoorganizacional. Quem trabalha com equipes reconhece que,para compensar o fato de trabalharem dispersos, é importan-te o estabelecimento de algumas regras para serem eficazes. Éessencial para o grupo ter o escopo do trabalho claramentedefinido, passando pela necessidade da visão, a missão e osobjetivos da equipe, compreendendo qual a contribuição quecada um pode dar ao trabalho final.

A confiança nas organizações é algo que opera simulta-neamente em diversos níveis entre a alta administração, líde-res, equipes de trabalho virtuais ou presenciais, colaborado-res, parcerias comerciais, etc. A confiança é tratada aqui comouma dimensão das inter-relações organizacionais de modogeral, porém pode se dizer que as inter-relações em equipesvirtuais são permeadas por peculiaridades tão inovadorasquanto a tecnologia que lhe dá esteio e que implica em pen-sar em suas especificidades.

O ambiente de relacionamento se dá a qualquer tempo,em qualquer lugar e entre pessoas que estejam em qualquerparte do globo terrestre, basta que tal “encontro” seja media-do pelos recursos tecnológicos necessários à promoção de umcontato virtual. Entretanto, tal funcionamento “sem frontei-ras”, evidenciado em termos de espaço (ambiente físico) etempo, exige alguns “limites”, referentes ao aspecto inter-relacional humano.

A confiança pode contribuir no desempenho das pessoasque integram equipes virtuais. Num primeiro entendimen-to, a confiança é uma característica pessoal, um atributo liga-do à educação recebida ao longo do desenvolvimento da pes-soa. Esse tipo de confiança demora em ser construída e exigecuidado para ser mantida. Aqui, estamos nos referindo ao

Confiança como indicador

ambiente organizacional, onde nem sempre é possível umperíodo longo de tempo para iniciar um projeto, consideran-do que há ainda as possibilidades de pessoas integrarem umaequipe em meio ao processo de trabalho já iniciado, além dapossibilidade de trabalhar com pessoas com as quais há im-possibilidade de conhecer pessoalmente ou haver poucas oca-siões para tal, como é o caso das equipes virtuais.

Numa inter-relação mediada de forma virtual, o controlesobre as ações de outrem é ainda mais difícil do que numarelação entre membros de equipes “reais”. A expectativa porreciprocidade é grande, e frustrações relativas a tal expectativasão passíveis de ocorrer. Repetidas frustrações podem fragilizaras inter-relações entre os integrantes das equipes, e levar a“entraves” no cumprimento de tarefas e das metas delineadaspara tal trabalho. Tais conseqüências se dão em função doreceio de enfrentar novas situações de fracasso. Diante disso, apromoção da confiança entre os membros de equipes virtuaisterá papel fundamental.

Inovações tecnológicas respaldam as interações entre equi-pes virtuais, agilizando ainda mais a comunicação no “mundodos negócios”; entretanto, a alta tecnologia não pode supri-mir a importância da interface humana nesse processo. As-sim, o estudo das inter-relações em tais equipes é mister – etambém promissor, dada a atualidade dessa forma de traba-lho. E, considerando-se a dimensão humana envolvida, o atri-buto confiança, no contexto de tais inter-relações, é fator re-levante.

É pertinente a aproximação do conceito de confiança paracontribuir na discussão acerca das inter-relações em equipesvirtuais de trabalho e acerca da probabilidade de afirmar o pa-pel da confiança como um significativo indicador de desempe-nho. Confiança implica disposição em diminuir avulnerabilidade nas equipes envolvidas, isto é, a confiança pro-move um melhor “poder de resistência” a possíveis frustrações,tomando como base expectativas positivas de uma equipe so-bre outra. Tais expectativas, finalmente, baseiam-se em experi-ências positivas passadas na interação entre os times.

MARINA NAKAIAMAMARINA NAKAIAMAMARINA NAKAIAMAMARINA NAKAIAMAMARINA NAKAIAMAProfessora do PPGA/EA/UFRGS

Doutora pela [email protected]

INTER-RELAÇÕES

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controladoria

O termo «saúde» [do lat. sanitas, sã, saudável], aparece em1.050 (Dicionário Le Petit Robert) significando bom [regu-lar, harmonioso] estado fisiológico de um ser vivo durante um pe-ríodo bastante longo [independentemente das anomalias outraumatismos que não afetam as funções vitais – um cego, umcocho, ...]. Em 1.200 focaliza equilíbrio e hamonia [da vidapsíquica: a saúde do espírito, da alma], passando, em 1953, asignificar estado fisiológico e psíquico dos membros de um gruposocial; estado de bem estar de uma sociedade, donde saúdepública [conhecimentos e técnicas próprias para prevenir as doen-ças, para preservar a saúde, para melhorar a vitalidade e alongevidade dos indivíduos por uma ação coletiva (medidas dehigiene e de salubridade, rastreamento e tratamento preventivodas doenças, medidas sociais próprias para assegurar o nível devida necessário)OMS, Ministério da Saúde, INSS, ...]. Portan-to, a saúde é um tema que não pode ser pensado intramurose, por subordinar a saúde corporal e mental à saúde do corposocial e político, enquadra a saúde no conceito de ordem so-cial justa.

Kliskberg (apud ETKIN, 1997, p.2) ao tratar da po-breza como realidade imoral é explícito: «quem é pobremorre antes. Minhas investigações provam que a pobrezamata. Não se trata de um comentário político ou social, masde um fato científico». Essa indissociabilidade obriga a pen-sar a saúde para além dos quadros profissionais, ou seja,considerando as múltiplas facetas da vida e sua organizaçãonum horizonte que integra a dimensão econômica, educa-cional e sanitária de uma comunidade num mesmo hori-zonte. O corpo-social, à semelhança do corpo físico, estásujeito à saúde e à doença: ele é saudável quando justo ebem ordenado e adoece nas situações injustas e desordenadas.Só recentemente os grupos e sindicatos da área tomaramconsciência deste ponto crucial: as lutas pela justiça econô-mica, educacional, agrária, habitacional e empregatícia sãoessenciais para a saúde de nossos corpos e mentes. Este es-forço encontra respaldo no princípio da

Vínculos entre justiça e saúde

eqüidade[proporcionalidade justa e suficiente de bens pri-mários [individuais] e bens públicos [coletivos] de Rawls[Teoria da Justiça,1975): Na sociedade democrática cujomodelo de justiça é a eqüidade, traduz a exigência de seequilibrar responsabilidades sociais e econômicas na estru-tura básica da sociedade, com melhores salários.

As situações em que os seres humanos se defrontam comtópicos relativos à própria atualização, adequadamente aten-didas, têm entretanto exigências sistêmicas diferentes daque-las que atendem aos contextos econômicos. Essa diferencia-ção foi lúcidamente apreendida por Arendt, diz GuerreiroRamos (1980, p. 136), como condição que habilita os indiví-duos a se avantajarem na consecução das diferentes obras desuas vidas: « Nenhuma atividade pode vir a ser excelente, se omundo não proporcionar um lugar adequado para o seu exer-cício». Há diferentes sistemas - diferentes categorias de tem-po e espaço vital, diferentes sistemas cognitivos e diferentescenários sociais - os quais, requerem, embora interrelacionados,enclaves distintos no contexto geral da tessitura da sociedade.

Assim, Guerreiro Ramos (1980) propõe um conjunto dediretrizes necessárias à reformulação da teoriaorganizacional capaz de dar conta da verdadeira existênciaindividual e social. Esta, « nunca é um fato, uma manifesta-ção externa evidente por si mesma. É alguma coisa interme-diária, uma tensão constante entre o potencial e o real ». Asolução dos desafios de uma sociedade, inclusive os da área dasaúde, depende portanto de uma visão justa do ser humanona sociedade e na repartição eqüitativa dos bens materiais,culturais e tecnocientíficos.

Mesmo entregue à responsabilidade de cada pessoa, a saúdeprivada não pode ser mantida sem o recurso ao corpo-socialque garante as condições legais e técnicas através de hospitais,medicamentos e legislação social (Pegoraro, 2003). Não setrata, pois, de negar a existência do mercado. O que não sepode aceitar é que todos os demais domínios da vida sejamregulados pelas “leis” do mercado.

AIDA MARIA LOVISONAIDA MARIA LOVISONAIDA MARIA LOVISONAIDA MARIA LOVISONAIDA MARIA LOVISONProfessora do PPGA/EA/UFRGS

Doutora pela Universidade Paris [email protected]

TRABALHADOR

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