o que é comunicação - juan bordenave

Upload: adriano-lucio-defendi

Post on 19-Jul-2015

204 views

Category:

Documents


8 download

TRANSCRIPT

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    - J u a A - - E . Dfaz Bordenave() QUE E. IU t'J IC AC AO9

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    INDICE

    - Pr610go , .. . .. . . . . 7- 0meio ambiente social da cornunicacdo . .. 12- Do grunhido ao sate lite . . . . . . . . . . . . . . .. 23- 0 ato de comunicar 35- i: imposslvel nao comunicar . . . . . . . . . . .. 50- Que "significa" isto? : . . . . . . . . .. 62- Os dois gumes da linquaqern . . .. . .. . . . .. 76- 0 poder da comunlcacao e a comunlcacaodo poder.. .. .. .. . . . .. .. 92- Indlcaefes para leitura . . . . . . . . . . .. 102

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    PRDLOGO

    oportuno perguntar-se 0 que e a cornunicaeso,A razao da atualidade da questso nao e a cornu- nt'A mencionada, isto a , 0 enorme desenvolvi-

    dos meios tecnol6gicos de comunlcacso.r do e muito mais profunda. Consiste simples-em que, na decada de 70, fol descoberto 0""lmAlm social".decadas anteriores, particularmente as de50, preocuparam-se com 0 conhecimento6. vezes, com 0 melhoramento de tudo 0 queo homem. Desenvolveram-se bastante 0

    .1'I1.Ulm.~n1n econornico, 0 urbanismo, 0 combateulcao ambiental, a racionatizacao do trdnsito,-,., .....mas de comercializaeae em grande escala.fol s6 na decada de 70 que se comecou~-III"I"""er urna Importancia conereta ao fato demem ser ao mesmo tempo 0 produto e 0

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    4

    8 Juan E. Dtaz . Bordenave

    criador de sua sociedade e sua cultura. Tomou-seem conta que ele esta rodeado pelo meio ambientefisico mas, sobretudo, pelo meio ambiente social,composto por outras pessoas com quem elemante r n re l acde s de lnterdependencia.A primeira reacao ante a descoberta do homemsocial foi aplicar-Ihe os modelos mecanicistas epragmaticos emergentes das ciencias ffsicas enaturals, Acontece, porern, que estes modelosm10 conceituam adequadamente os mecanismose processes de interacao psfqurca e social pro-priamente humanos. Consequeotemente, rnetodose procedimentos de planejamento, orqanizacao,administraeso, capacltacao etc., aplicados com. a melhor boa vontade, tern produzido formasmanipulat6rias e desumanas de trabalhar comas pessoas.o caso da educac;:ao e ilustrativo. As escolas,assim como os carceres e outras instituiy5es socials,organizadas e manejadas segundo modelos espurios,nao respeitam as caracteristicas e necessidadesda vida individual e social. Currlculos alienadosda realidade (na remota escolinha rural os alunosestudam a geografia da Europa mas nao comoculdar das plantas); calendarios escolares defasadosdos ciefos e ritmos vitais (a epoca da safra coincidecom 0 pertodo letivo e muitas criancas faltama escola para ajudar seus pais); disciplinas estanquesque dividern em retalhos problemas que aparecemintegrados e globais na vida dlarla: carteiras escola-

    o qu e e Comunica fQO 9res dlstribufdas em militares fileiras poucopropfcias ao dialogo; estes sao alguns dos resulta-dos do planejamento educativo baseado emconceitos anecronicos do homem social.E a cornu nlcacso 7 Sera que 0 modo de nossasociedade usar sua comuntcacao "social" respondeas necessidades das pessoas reais? Os meios decornunicaceo ajudam na tomada de decisCiesimportantes 7 Oferecem op6rtunidades de expressaoa todos 05 setores da populacfo? Fornecemocasloes de dialogo e de encontra? Estimulamo crescimento da consciencia crrtica e da capaci-dade de participacao? Questionam os regimespolrticos e as estruturas sociais que nao respond emaos anseios de liberdade, convfvio, beleza, alernde nso satisfazer as necessidades basicas dapopulac;:ao?05 meios de comurucaeso, organizados e mane-jados segundo modelos toraneos verticais e uni la-terais, a nao ser raras excec;:6es,parecem procurarrnais 0 lucre, 0 prestigio, 0 poder e 0 domlniodo que a construcao de urna sociedade participa-tiva, igualitiiria e solidaria, onde as pessoasreatizem plenamente seu potencial humano.Existe, entao, uma defasagem entre a descobertado homem social e 0 conhecimento de comoorientar a vida social em fun(fao desse homem.Mesmo 0 conhecimento talvez nao seja sufi-clente.S6crates, 0 fil6sofo grego, foi sempre tachado

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    5

    to Juan E. Dtaz Bordenave

    de ingenuo porque afirmava que 0 conhecimentoda verdade leva a virtude. Basta que uma pessoaconheca 0 que e verdadeiro, dizia ele, para queela procure viver de acordo com a verdade.S6crates era mesmo ingenuo. Entretanto,ainda continua sendo necessario, embora naosufidente, conhecer as coisas para melhora- las,t claro que, alem de conhecs-las, outras. coisastern que 'vir - a valorizacso, a decisfo, a aeaocoletiva. Mas ainda e certo que 0 homem precisaprimeiro conhecer como sao as coisas para quese decida a malhora-las.Da( a utilidade e atualidade da colecao "Prirnei-ros Passes". Processos e questoes que antes eramdiscutidos s6 no interior de reduzidos ctrculos,favorecidos pelo acesso a instrucao intelectual,sao agora postos ao alcance de milhares de pessoasdeseiosas de .dar os primeiros passos na construcaode um espaco mais arnplo para sua inteligenciae sua atividade.Urn methor conhecimento da comunicacaopode contribuir para que rnuitas ' pessoas adotemuma posica-o rnais crttica e exigente em relaCcio aoque deveria ser a comunicacso na SUA sociedade.Alem _ dlsto, a _ cornpreensso do fascinanteprocesso da comunicacso pade induzir algunsa gozar mais das infinitas possibilidades, gratuitas

    e abertas, deste dam que temos de noscomunlcar-mos uns com os outros.Se este pequeno livro consegue acender alguns

    o que e Comunicadio 11

    pontinhos de luz na mente de alguns leitores, auaumentar pontinhos ja acesos que iluminemespacos cada vez maiores em suas vldas, osesforcosdo autor e da editora estarflo plenamente recorn-pensados.

    - . ... . . .

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    6

    o MEIO AMBIENTE SOCIALDA COMUNICA

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    7

    14 Juan E. Dfliz Bordenave

    pelos preeos sempre em aumento, barganhamcom insistencia. Velhos cavalheiros de bermudacarregam sacolas e olham as empregadinhasrebolantes. Senhoras de todas as idades, urnasde short, outras elegantes, algumas gravidas,manuseiam chuchus, cheiram peixes, escolhem(aranjas, comentam as precos com as demaisfreguesas. Inspetores da fiscalizacao passelarndevagar entre' as barracas com ares de irnportancia.Barulhentos carrinhos "made in favela", empurra-dos por repazclas, ttansportamas compras das"madames". Vizinhos do mesmo predio encon-tram-sa e batem urn papinho, interrompendo 0transito de pessoas e carrlnhos entre as barracas.Mendigos esperam conversando a fim da feirapara catar os ingredientes de seu alrnoco. Hora da novela no lar dos Azevedo .. Toda afamilia esta na sala, arnontoada em sofas, cadeirase almofadas. As empreqadas olham em p e desdea porta da eopa. Uma das fllhas tenta conversarcom a mae e e lnterrompida pelo "Shhhhll l"de todos os presentes, Chegam uns amigos eimediatameate 'sao silenciados e acomodados.Nos mementos criticos pede-sa escutar 0 veode uma mosca, tal e 0 sihlncio dos narcotizados.Nesta sala, no apartamento vizinho, em todos osapartamentos do predio, em todos as predlosda cidadee ern todas as cidades do p a r s , todoQ mundo esta preso aos infortunios da coitadaHelofsa, abandonada pelo merido par sua

    o qu e e Comunicilfiio I S

    melhor arniqa,Epis6dios como estes constituem 0 meioambiente social da eomunicacso.A c omunic ac sc e sta presente no estadio defutebol, na Camara dos Deputados, na feira livree na reuniio familiar.No estadio de futebol, a comunicac;:ao aparece

    nos 9ril0S da torcida, nas cores das bandeiras,nos numeros das camisetas dos jogadores, nosgestos, apitadas e eartfies do ju'iz e dos bandei-rinhas, no placar eletronico, nos alto-falantese radinhos de pilha, nas converses e, insultos dostercederes, em seus gritos de estrmulo, no trabalhodos r:epaneres, radiatistas, fot6grafos e ope r ador e sde TV. 0 pr6prio jogo ~ urn ato de comunlcaese.Diasantes ja tinha provocado duzias de mensagens8 durante dias a fio ele contlneara sendo objetode oornunicaeso nos botequins, nos escrlterlos,ns s tahricas, nos radios e jornais.Na camar:a dos Oeputados, a cornunicaeso e

    I essencia mesma de seu funcionamento. Tudonlla foi construido e orqanizado para fornecerurn ambiente adeguado a comunica9ao, desde aforma especial do grande recinto, passando pelap o s h ; ; a a da mesa e das cadeiras, a acesso aos micro-fones, a tabuleiro de comouto dos resultados dasv o t a ' f o e s , ate' a presenc;:a de taquigrafos e distri-buldares de discursos. Todo um complexo sistemad. norrnas e de c6digos disciplinama cornunlcacaoparlamentar para a cumprimento da func;:ao

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    8/

    16 J ua n, E . D ia z B ordena ve

    legislativa.A feira de bairro e um ambiente social naoestruturado de comunicacso. ja que sua fun~obasica e a cornercializaceo de produtos. Entretanto,esta fun~o nao poderia ser cumprida sem acomunlcacao: a exlbicao de produtos e seus orecos,a barganha pela qual vendedores e compradoreschegam a urn acordo, a pr6pria fixacao dos precose sua rnodificacao durante a feira, sao todos atosde comunicacso. Mas a feira naa e s6 urn mercadode produtos. E tarnoem urn lugar de encontro.Habitantes do mesmo predlo, que mal se cumpri-mentam nos elevadores, entretern-se em demoradasconversas no informal ambiente da feira de seubairro.Na hora da novela, as pessoas se "incomunicam"entre si para eomunicar-se com a fantasia. A TVja foi chamada de "magia a dcmicflio", por seupoder de transportar as pessoas a outros mundosoode a rotina e 0 cansaco cedern lugar a aventurae a ernocao. A familia reunida para ver a novelaconstitui urn dos rnicroambientes da cornunicacao,como 0 So tarnbern 0 papo no escrit6rio, afestinha "de aniversarlo, 0 casamento, 0 vel6rio eo piquenique, 0 rnutirao e a missa. Milhoes destesmicroambientes formam 0 rnacroambiente socialda comunicacso.Entao, a cornunlcacao nao existe por si mesma,como alga separado da vida da sociedade. Socie-dade e cornunicacao sao uma eoisa s6. Nao poderia

    o qu e e Comun i cacdo 17existir comunicacao sem sociedade, nem sociedadesem comunicacao. A cornunicacao nao pode sermelhor que sua sociedade nem esta melhor quesua comunlcacso .. Cada sociedade tern a comuni-cacao que merece. "Dize-me como e a tua comuni-ca~ao e te direi como e a tua sociedade."

    Cornunicacao e socializacaoLembre-se 0 leitor como se fez, gente: sua easel,

    seu bairro, sua escola. sua patota. A cornunicacdofoi 0 canal pelo qual os padr5es de vida de suacultura forarn-lhe transmitidos, pelo qual aprendeua ser "membro" de sua sociedade - de sua famnia,de seu grupo de amigos, de sua vizinhanca, desua naCao. Foi assim que adotou a sua "cultura",isto fi, os modes de pensamento e de aCao, suaserencas e valores,seus habltos e tabus. Isto naoocorreu por "instrucao", pelo menos antes de irpara a escola: ninguem Ihe ensinou propositada-mente como esta organizada a sociedade e 0 quepansa e sente a sua cultura. Isto aconteceu indire-tamente, pela experiencia acumulada de numerosospequenos eventos, insignificantes em si mesmos,.trav~s dos quais travou re laedes com diversaspessoas e aprendeu natural mente a orientar seucomportamento para 0 que "convinha". Tudolito foi possivel gracas a comunicaedo. Nao foram

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    9

    18 Juan E. D t az B ord en av e

    os professores na escola que Ihe ensinaram suacultura: foi a comunicacao diaria com pais, irrnaos.amigos, na casa, na rua, nas lojas, no 6nibus, nojogo, no botequim, na igreja, que Ihe transrnitirarn,menino, as qualidades essenciais da sociedadee a natureza do ser social.Contrariamente, entao, ao que alguns pensam,a cornunlcaceo e muito mais que os meios decomunicecso social. Estes meios sao tao poderosose importantes na nossa vida atual que as vezesesquecemos que representam apenas uma minimaparte de nossa comunicacao total.Alguem fez, uma vez, uma lista dos atos decomumcacao que um homem qualquer realizadesde que se levanta pela manha ate a hora dedeitar-se, no fim do dia. A quantidade de atos decomunlcacso e simplesmente irtacreditavel, desdeo "born-dis" a sua mulher, acompanhado ou naopar um bel]o, passando pela leitura do [ornal, adecodlficacao de numero e cores do 6nibus queo leva ao trabalho, 0 pagamento ao cobrador, aconverse com 0 companheiro de banco, oscumprimentos aos colegas no escrit6rio, 0 trabalhocom documentos, recibos, relat6rios, as -reun icese entrevistas, a visita ao banco e as conversas comseu chefe, os lrurrneros telefonemas, a papodurante 0 almoco, a escolha do prato no menu, aconversa com as fithos no jantar, a programinhade tel evi sao , 0 dialoqo amoroso com sua mutherantes de dormir, e 0 ato final de cornunlcacso

    o que e Comunica;iio 19num dia cheio dela: "boa-notre".A cornunicacao confunde-se, assim, com apr6pria vida. Temos tanta consciencia de queco_municamos como de que respiramos ou andamos.

    Somente percebemos a sua essencial lrnportanciaquando, por um acidente ou uma 'doenca, perde-mos a capacidade de nos comunicar. Pessoas queforam impedidas de se comunicarem durantelongos perfodos, enlouqueceram ou ficaramperto da loucura.A cornunlcacao e uma necessidade basica dapessoa humana, do homem social.

    Os meios em nossas vidasEstudos feitos durante greves de jornais demons-

    traram a intensidade dos sentimentos de privac;:aoe frustracao que se desenvolvem quando a Jeitoreshabituados Ihes falta a leitura diaria, Pesquisasjunto a telespectadores indicaram que a televissoem geral, e as telenovelas em particular, exercemuma serie de influencias sobre eles, algumas"positivas" e outras "negativas".Destas invastlqacdes, bern como da experienciade qualquer urn de n6s, depreende-se a ideia deQue os meios desempenham certas funf:oesImportantes na vida das pessoas.No caso do jornal, alern das funcoes de tipo

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    Juan E. D ta z Bor de na ve

    "rsclonal", como a provisao de informacdo (notf-eias, ananclos etc.), 0 jornal satisfaz necessidades"nao raclonais", como e fornecimento de contatossoelals e, indir:etamente, de prestigio social. Aestas func;:oes agrega-se uma de proporcionar"seguram;:a" ao s leitores num mundo sempreperturbado, e urna funcao "ritualista" ou quasecompulsive para as pessoas que h~em 0 jorna!sempre na mesma hora, no mesmo lugar e namesma sequencia.Outros meios, como 0 radio, rnostraram desem-penhar ainda.o papel de "companhia", particular-mente para pessoas solitsrias.Orad io e a TV, alern de d ifund irem not iias,diversao e publicidade,cumprem uma fun(faosocial de "escape", -oferecendo urna cornpensacaorelaxante para 0 crescente"stress" da vidamoderna. As revistas populates cumprem mais

    au menos a mesma funcso, especialmente as queeontem romances e fotonovelas.Para muitos lsitores e telespectadores, as meios

    respondem tambern a suas aspiracdes de mobili-dade social. Talvez por esta razao, os reeortesde revlstss que cobrem as paredes dOS faveladosrararnente contern cenas de pobreza e opressao esim de mansoes de luxo, pessoas bern vestidas,per.sonagensapa rentemente bem-suced ldos.comoastros de cinema, cantores e estrelas de futebol.Os criadores de telenovelas parecem ter chegadoa conelusao semelhante, dar por que os ambientes

    21

    em que ocorrem seus melodramas refletem gostosde classe media para cirna.As telenovelas, alias, s a o formas de cornunicacsocom urn complexo papel social. Para alguns, elas

    constituern oportunidades de catarse emocional,isto e , urna ocasiao para experimentar surpresas,al'egrias, sofrimentos e ate para dar vazao a senti-mentes agressivos. A identlficacfo do ouvintecom os personagens e suas aJegrias e sofrimentosparece produzir uma sensa,ao positiva, ja quesignifica compartilhar os pr6prios problemascom alguem mais importante. 0 sucesso obtidopelos personaqens parece cumprir a fum;:ao decompensar e aliviar care nclas e fracassos dosouvintes. Assim, uma muther cuja filha abandonouo lar para casar-se com urn homem que esta ausentetodas as noites, assiste a novelas que pin1amuma vida familiar feliz e uma e spo sa bem-sucedida.A s telenovelas sao tarnbem escutadas comofonte de orientac;:ao e conselho: "Se voce assiste anovelas e algo acontece em sua pr6pria vida -afirmam alguns telespectadores - voce sabe 0 quefazer porque ja viu algo sernelhante na novela."H e pessoas que resolvem fazer regime porquevlram urn personagem de novela fazendo regime.Outras aceitam a situac;:ao em que se encontratnl embrando que, numa certa novela, 0personagernf e z isto rne smo e se deu bern.Importantes como eles sao, e urn erro, porern,aonslde~ar os meios de cemuntcaeso social camo

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    11 Juan E. D({IZ Bordenave

    representando 0 maior vulto na comunicacaoglobal da sociedade. Urna maior proporcfio destaacontece na vida familiar e de relac;:ao diaria entreas pessoas, no trabalho, na recreacao, no eornercioe no esporte.A cornunlcaceo interpessoal, caracteristica dasociedade tradicional, que muitos pensavam queseria suplantada pel a cornunlcacao impessoaldos meios eletr6riicos, hole esta de novo emascenso, talvez como uma reaeeo contra a massi-fica'faoe 0 comercialismo dos meios de massa.Mas a razao mais provavel da revalorizaeao docot6quie, do encontro, do bate-papo, talvez sejaporque 0 homem-indivfduo esta encontrando suaidentidade verdadeira de homem-social. No seiodo associativismo em ascensao e da luta pelofartalecimento da "sociedade civil", a homemesta: reaprendendo a. comunicacao pessoa a pessoa,

    DO GRUNHIDO AO SATELITE

    Assim como cresce e se desenvolve urna grandearvore, a comunicacso evoluiu de urna pequenasemente ~ a associacao inicial entre urn signa e urnobjeto - para formar linguagens e inventar meiosque vencessem 0 tempo ea distancia, ramificando-Ie em sistemas e instituicoes ate cobrir a mundocom seus ramos. E nao contente em cobrir amundo, a grande arvore ja comec;:ou a lancerseus bratos a procura das estrelas.A comunieacso humana tern urn corneeo bastantenebuloso. Realmente nao sabemos como foi que

    01 homens primitivos ccrnecararn a se comunicarIntre si, se por gritos ou grunhidos, como fazemo. anirnais, ou se par gestos, ou ainda par combi-n~Oes de grito5, grunhidas e gest05.Durante bastante tempo discutiu-se a origemd. fala humana, Alguns afirmavam que os primei-

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    Juan E. Dfaz Bordenave

    ro s sons usados para criar uma linguagem eramlmltecdes dos sons da natureza: 0 cantar dopassaro, 0 latido do cachorro, a queda d'agua, atrovso. Outros afirmavam que os sons humanosvinham das exclarnacdes espontaneas como 0"ai" da pessoa ferida, 0 "ah" de edmiracao, 0"grrr" da furia,Nada impede que se pense tambem que 0

    homem primitivo usasse sons produzidos pelasmaos e os pes, e nao s6 peta boca. Poderia aindater .produzido sons par meio de objetos, comopedras au troncos ocos.Oualquer que seja 0 caso, 0 que a hist6riamostra e que os homens encontraram a forma

    de associar urn determinado som au gesto a urncerto objeto ou acao. Assirn nasceram 0 signa, istoe , qualquer coisa que faz referenda a outra coisaou rdlHa, e a significar;ao, que consiste no usasocial dos siqnos, A atribuit;io de signif;cados adeterminados signos e precisamente a base dacomuntcecso emgeral e da Unguagemem particular.Outra grande invem;:ao humana foi a gramatica,isto e , 0 conjunto de regras para relacionar assignos entre si. As regras de combinacso saonecessaries pela sequinte razao: se 0 homem possuium repett6rio de signos, teoricamente poderiaeornblna-los de infinitos modos. Se cada pessoacornbinasse seus 5i'gnos a seu modo, seria muitodif(cil cornunicar-se com as outros. Gracas agramatica, a significado ja nao depende sO dos

    o que. e Comunicariio 2Ssignos mas tarnbern da estrutura de sua apre-sentaeso. E par isto que nao e a mesma coisadizer: "Urn urso matou meu pal", que dizer:"Meu pai matou urn urso,"Oe posse de repett6rios de signos, e de regraspa ra co rnb ina- lo s , 0 hornem criou a linguagem.Eventualmente os homens aprenderam a distin-guir modes diversos de usar a linguagem: modo

    indicative, declarativo, interrogativo, imperativo,traduzindo as diferentes intencdes dos interlo-cutores.Compreendeu-se que, na linguagem, algumaspalavras tinham a funCao de indicar ac;ao, outrasde nomear coisas, outras de descrever qualidadesou estados das coisas etc. Evidentemente, quandocriaram a linguagem, os homens primitivos nao

    imagjnavam que estas func5es algum dia recebe-riam as names de verba, substantivo, adjetivo,adverbl io etc.

    Veneer 0 tempo e a distanciaParece haver poucas duvidas de que a primeira

    forma erganizada de cornunlcacso humana foi aIInguagem oral, quer acornpanhada ou nao pelaUnguagem gestual.A linguagem oral, entretanto, sofre de duasr i l l S llrnltacoes: a falta de perrnanencla e a falta

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    Juan E. Dtaz Bordenave 0 que e Comunicafiio

    de alcance. Daf 0 fato de que os homens tenhamapelado a modos de fixar seus signos e a modosde transmiti-Ios a aistsncie.Para fixar seus siqnos 0 homem utilizou primeiroo desenho e mais tarde a linguagem escrita.Desenhos primitivos, pintados per homens daera PaIeol (t iea (entre 35 000 e 15 000 anos antesda era crista), foram achados em cavernas comoas de Altamira, Espanha, e Dordogne, Franca.Ali se observam cenas de caca envolvendo animalse pessoas. Nao se sabe se 0 prop6sito destas figurasera magico, estetico ou simplesmente expressivoou comunicativo.Os eglpcios, cerca de 3000 anos antes de Cristo,representavam aspectos de sua cultura por meiode desenhos e gravuras colocados nas casas,edificios e cameras mortuaries.Para resolver 0 problema do alcance, 0 homeminicialmente apelou a signos sonoros e visuais, taiscomo 0 rants, 0 berrante, 0 gongo, os sinais defurnaca. Mas uma sotucao mais decisiva foi encon-trada com a invencao da escrita, l a pelo seculo IVantes de Cristo. As mensagens escritas, com efeito,podem sertransportadas a qualquer distancia,A linquaqem escrita evoluiu a partir dospictogra-mas, signos que guardam correspondencia diretaentre a imagem gratica (desenho) e 0 objeto repre-sentado. 0 desenho de urna mulher siqnificava issomesrno, mulher; 0 desenho de urn sol significava 0sol, e assim por diante. Os hieroqlifos do antigo

    27

    Egito sao um exemplo da escrita pictoqrafica.Chegou um momenta em que 0 homem sentiu-sedemasiadamente limitado pela necessidade de que acada signo correspondesse urn objeto. Passouentao a usar signos nao para representar objetos,mas para representar id,Has.Asslm, para ind(genasda America do Norte a figura de um passarovoando significava "pressa", e a paz era represen-tada por um cachirnbo. Os antiqos eg(pciosrepresentavam a alma por meio de um passarocom cabeca de homem. Este tipo de escrita recebeuo nome de ideognifica, e dela sao exemplos 0chines e 0 [apones.A escrita inicialmente seguia a mesma sequenciaque a I(ngua falada. Nos primeiros pictogramas eideogramas a sequencia dos siqnos reproduziaa cronologia dos eventos narrados. Se um cacadorjejuava, logo depois reunia suas armas e mais tardematava urn animal, estes eventos sucessivos seriamdesenhados em tal ordem.Um grau ainda maior de liberdade foi alcancadoquando os homens perceberam que as palavrasou os nomes de objetos compunham-se porunidades menores de som (fonernas), e que, porconseguinte, os siqnos podiam representar estasunidades de som e nao mais objetos ou ideias.Esta descoberta serviu de base para a escritachamada fonografica, onde os sipnos representamsons. as sons elementares sao combinados emsequencias de diversos comprimentos para represen-

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    21 Juan E. Dta Bordenave

    tar id6ias.o fato de os signos grMicos passarern a represen-tar unidades de sorn rnenores que as palavras deunascimento ao conceito de tetras, tais como A, B,C etc. C9m estas letras constitu (rarn-se os alfabetos,onde cada letra representa urn certo som.Isto era 0 que se necessitava para facilitar urnmaior alcance da Iinguagem escrita, pois qualquerpessoa podia aprender a combinar os sons sem serobrigado a conhecer as aqulvalencias dos signosgraticos com ideias e objetos determinados.o que faltava para conquistar a distencta era urnmeio de transportar signos rna is pratlco que aspedras e ospergaminhos de couro. O s chinesesparecem ter side os primeiros a inven~ar 0 p~pele tambern os tipos de imprensa rnoveis, Os tlPOSusados pelos 'chineses erarn feitos de barro cozido,de estanho, de madeira e de bronze.Apesar de existirem alfabetos, por muit~sseculos a cultura transmltiu-se oralrnente, por rneioda linguagem falada, e visualmente, por meiodas imagens. 0 uso de imagens para a difusaoda cultura - que muitos consideram um fenornenomodemo - e realmente muito antigo. Lembremo-nos, por exemplo,_ que durante a Idade Mediao povo nao tinha acesso a Iinguagem escrita (r~str.i-ta aos monges e as pessoas letradas), mas os vrtraisdas catedrais comunlcavam-lhe, atraves de colori-das imagens, toda a hist6ria sagrada sobre a qualfundarnentava-se sua fe religiosa e grande parte

    o que e Comunicadia 29de sua cultura.

    Os meios de comunicacaoParalelamente a evotucac da linguagem, desen-

    volveram-se tambem os meios de com un icac;:ao.Gutenberg inventou a tipografia, e 0 papelaperfeic;:oou-se fazendo-se mais resistente e maisleve, de modo que os livros, antes copiadoslaboriosamente a mao pelos monges amanuenses,puderam ser impressos repetidamente em muitosexemplares. A industria gratica associou-se alnvencoes da rnecanica. da qufrnica, da eletronicaetc., ate chegar hoje a s impressoras computadori-zadas, capazes de receber sinais transmitidos porsatelltes e imprimir edic;:oes inteiras de jornaisem varlos parses ao mesmo tempo.A invenc;:ao da fotografia teve urn impacto muitomais forte sobre 0 desenvolvimento da comunica-(:'0 visual do que normalmente se pensa. Elapossibilitou a ilustracao de livros, jornais erevistas; inspirou 0 cinema, primeiro mudo, maistarde sonoro; aliada a eletronica, culminou natr.nsmissao das imagens via televisso.o alcance da cornuntcacso foi assegurado demlneira definitiva pela invencao dos meios.I.rtlnicos que aproveitam diversos tipos de"das para transmitir signos: 0 telegrafo, 0 telefone,

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    30 Juan E. Dtae Bordenave

    o radio, a televlsso e, finalmente, 0 sate lite.o domfnio das ondas eletromaqneticas pelohomem reduziu 0 tamanho do mundo e 0 trans-formou nurna "aldeia global". Se alguns anosatras uma notfcia precisava 4 meses para chegarda Europa a America do Sui, hoje nao demoramais que segundos.A influencia social dos meios aumentou namedida de sua penetraeao e difusso. As tecnicasde irnpressao aperfeicoadas permitiram a usa devarlas cores, tiragens de mllhoes, formatos originaisem jornais, revistas, tivros, folhetos e cartazes,o radio estendeu a voz do homem atraves demontanhas e ciesertos, ate os lares rnais hurnildese isolados, 0 cinema, .ao incorporar 0 some a cor,ao ampliar a tela e empregar lentes especiais,oferece uma expressao cada dia mais fiel darealidade. A televlsao juntou 0 alcance geograficodo radio a s potencialidades visuals do cinema eseconverteu numa "magia a domicllia".A cienda e a tecnologia da cornunicacao produ-zem constantements inovac;:5es cada vez maissofisticadas. A vlnculacso dos meios de cornunica-I f S O cOrT'!~s de processamento de dados gerou urnanova ciencia: a informatica. A inven(('o dosmicrocomputadores promete colocar ao alcancede qualquer pessoa os recursos informativos decentenas de bancos de dados distribufdos emtodos os parses. A teleconferdncia, pela qualpessoas locallzadas em diferentes cidades podem

    o que e Comunicadio 31

    /

    /

    A comunicadio orientando os comportamentos:

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    31 Juan E. Dtas Bordenave

    conversar simultaneamente, vendo-se ~utuame~t~nas telas e trocando lnforrnacdes escntas ou grafl-cas, e apenas um dos numerosos ~ilagre: ~atelematica. 0 video-teipe e 0 video-disco sao J3realidades que s6 esperarn 0 barateamento ,~oscustos para se popularizarem. A camera fotog:af~cade revelac;:ao instantanea j a e utilizada por mil hoesde pessoas.

    A industria da comunicacaoOra, para explorar cornercialrnente as_capacidades

    tecnol6gicas dos meios de comun~cac;:~~, orgaOlz~-ramose empresas jornatisticas, editOrialS e t~ledl-fusoras. Para colher 0 material que elas necessrtarn,formaram-se agencias not ic i osas, como a Reuter,da Inglaterra, a France Press, da Franca, e a ~sso-elated Press e United Press, dos Estados Umdos.Para eonstruir a lnfra-estrutura fisica n~cessarlaa transrnlssso massiva de mensagens, cq~ram.se. ernpreses fabricantes de aparelhos emISS?~eS,transmissores e receptores, assun como de sateht_:se outros materiais. A industria da cornunicaceopassou a casa dos bilhoes, d~ d61ares e tran.snaclo-nallzou-se, instalando fabncas e conqUistandomercados em todos os continentes.Ao mesmo tempo que os engenheiros eletr6ni~osaperfeic;:oavam as eapacidades tecnicas dos rneros

    o que e ComunicQfiio 33de cornunicacso. conhecido como "hardware"au equipamento pesado, psic6Iogos,. socloloqos,politicoloqos e comunlcoloqos de todo 0 mundodesenvolveram a arte da elaboracso das mensagens,pesquisando as condlcdes 6timas de percepcao,decodificacso, interpretaeao e incorporacao deseus conteudos. rPela pratica profissional, pela pasquisa e pelacompeticso reclproca, melhoram-se constantemen-te a redac;:ao de notrcias e artlqos, a elaboracaode programas de radio e TV, a preparacfo dearnincios publicltarios e a producao de filmes ev rdeo-cassetes.Paralelamente, deu-se urn feoomeno interessante:8 utilizac;:ao dos meios de cornunicacao como partedo processo educativo formal e nao-formal. Nomundo inteiro a radio e a TV, e mais recentementeO S microcomputadores, passaram a formar parteda bagagem instrumental da chamada TecnologiaEducatiwa.Este processo de desenvolvimento de aparelhos("hardware") e das tecnicas de programac;:ao eproducao ("software") foi acompanhado de umtrernendo aumento de influencia e poder dacomunicac;:ao na sociedade. a impacto dos meiosas ideias, as emocoes, 0 cornportamentomlco e politico das pessoas, cresceu tantose converteu em fator fundamental de poderd. dominio em todos os campos da atividade

    na.

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    Juan E. Diaz Bordenave

    A chamada "industria cultural", isto 8, a explo-raltao comercial dos r~ursos da c?mun~ca~ao.tornou-se uma das mars atraentes mve rsoes decapital e, consequentemente, grandes c?rpo.rac;:oesmultinacionais passaram a ser proprietanas deredes de comunicaceo e de empresas que manufa-turam equipamentos para as mesmas.A cornunicaeao elevou-se ao nivel de um dosgrandes problemas polfticos do mundo, ate ~ r:,0ntode obrigar a UNESCO a criar urna Comissao deEstudo dos Problemas da Comun;ca~ao, com 16membros presidida por um exPremio Nobel da Paz,bem co~o a preocupar-se com 0 estabelecimentode uma Nova Ordem Mundial da Informa~iio.Dentro de cada naeao, 0 controle da comuni-caeao adquiriu suma irnportancia, visto que elapode estabilizar ou desestabilizar gove~nos. AUNESCO iniciou uma carnpanha mundial paraconseguir que cada pars tenha sua Potttics Nacionalde Comunic89iio, provocando com lsto 0 ant~go-nismo das associacdes internacionais de propriata-rlos de meios de cornunlcaeao social.Assim se desenvolveu a grande arvore da cornu-nicacao. Comecou com os grunh.idos e os ~esto_sdos poucos homens recem-emergldos da animali-dade original, evoluiu e se enriqueceu em seueonteudo e em seus meios, ganhando cada vezmaior permam1ncia e alcance,. aument~nd.o. suainfluencia nas pessoaS e, atraves delas, mCldmdona cultura, na economia e na polltica das nacoes.

    o ATO DE COMUNICAR 0 velho artesao de Petrolina mostra a seufilho como se faz uma carranca de barro. 0meninopega um pouco de barro e tenta fazer 0 mesmoque viu fazer. 0 menino pergunta, 0 velho respon-de. 0 velho corrige, aprova, mostra. Meses depoiso menino leva para a feira seus primeiros trabalho~de artesso. A peca vai cornecar no teatro lotado. 0 atormaquila-se no camarim. A cortina se levanta.Cena tras cena, os atares dialogam no palco, aplat~ia pendente de suas palavras. 0 ator diz asIInhas decoradas com tanta sinceridade e senti-m nto como se fossem pr6prias. 0 coraCao dot)blico se comove e algumas pessoas choramplatEHa.A PBCBtermina com 0 estrepitar doslauses.o famoso locutor de radio Ie no microfone

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    36 Juan E. Dtaz Bordenave

    as notrclas nacionais e internacionais. Concentra-setanto no roteiro escrito, para nao pular palavras,que nao lembra que, nesse momento, mais detres milh6es de pessoas 0 estso escutando. Asnoticias que divulga, porem, afetam as vidas demuitos ouvintes.o que ha de comum nestas tres situacoes:o artesao e seu filho, 0 ator e sua ptateia, 0 locutore seu publico?o que h a de comurn e que todas as tres saoATOS DE COMUNICACAO.o que e , entao, a cornunicacao?He! duas maneiras de definir 0 que e uma eoisa:enumerar as elementos de que esta compostaou indicar para que serve. Pode-se definir 0automovel, por exemplo, dizendo que e urn con"junto fermado POf motor, carrocarla e rodas.Mas seria ainda nielhor definl-Io como um vafculoautopropulsado que serve para transpertar pessoase eoisas de um lugar a outro.E para que serve. a eomunicacso?Serve para que as pessoas se relacionem entresi, transforrnando-se mutuamente e a realidadeque as rodeia.Sem a cornunicacao cada pessoa seria um mundofechado em si mesmo. Pela comunlcacso as pessoascompartilham experiencias, ideias e sentimentos.

    Ao se relacionarem como seres interdependentes,influenciam-se mutuamente e, juntas, modificama realidade onde estao inseridas.

    o que e Comunicafiio 37De que elementos consta a comunieac;:ao?Analisemos as tres situacdes de cornunicacan,aeima. 0 artesso ensina seu filho a fazer carrancasde cersmtca.

    Compartilha com ele conhecfmenms eexperiencia. Ambos usam palavras, gestos,objetos e movimentos como rnelo: para trocarsuas percepes e intenlj:oes. 0 barro da terrase transforma em uma nova rea Idade. Aomesmo tempo, 0 pai e 0 filho samodificam:0' velho torna-se, mais que pal, mestre; e 0filho converte-se em artesfo.

    0 ator e a plateia se comunicam: 0 atordiz suas palavras, faz seus gestos, caminha,pula, se ajoelha. -A plateia. embora nao falecom palavras, 0 faz com seu silencio suaslagrimas, seus aplausos. a ator e 0 publico setlia~sformam; 0 ator sente-se mais seguro,m81Sbern compreendido, ate mais querido. 0pllblico volta a rotina de sua propria vida comnovas percepc;:5es, novas perguntas, as vezesmais calmo, a s vezes mais angustiado. Arealidade social recebe 0 impacto do teatro:ela refletesobre si mesma at raves do drama eda eamedia representados no palco.

    0 locutor de radio sa comunica com 0 seupublico, Para manter a atenc;:ao de seusouvintes enquanto transmite os aconteci-mentos do dia, ele usa, alarn de suas palavras,

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    1

    38 Juan E. D ( az B or de na ve

    musrca e efeitos de sam. Urn cornplexomecanisme> tecnol6gico - a ernlssora - levasuas palavras ate rnilhdes de rece pto res , detal modo que as recebam simultanearnente.Embora os ouvintes mIo tenharn condicoespara dialogar com 0 locutor, como dialogamo artesso e seu tilho, tanto o locutor comoas ouvintes se transformam, mesmo queimperceptivel mente. E a realidade tambernse transforma par efeito da difusao dasnotfolas.Quais, entao, sao os elementos comuns aostres atos de cornunlcacao? Primeiramente, nos tres casos temos umarealidade na qual a cornunicacao se realiza.As pessoas nao se comunicam nurn vazio, masdentro de um ambiente, como parte de umasituacso, como momenta de uma historia.o artesso e seu filho conversam em Petrolina,no sartao pernambucano, nurn ambiente declasse pobre, de gente que vive do artesanatopor geracoes, dentro de uma comunidadeque tern uma historia, uma tradicao, umacultura e uma esperance. Tudo isto - apassado, a presente e 0 futuro ~ esta presenteno rnais simples ato de cornunicacao. Arealidade influi sobre 0 cornunicar e 0 cornu-nicar influi sabre a realidade . Em segundo lugar, nos tres casos ha pessoasque desejam partilhar algulTla coisa: conheci-

    I iII

    I !\.

    o que e Comwlicufiio 39mentas, emocdes, informacdss. Estes saoas interlocutores (os. que falam entre siloNum momenta dado cada interlocutor efonte de cornunicaeso e noutro e receptor.

    As coisas que se deseja compartilhar e outreelemento da comunlcacae. 'que chamaremosde mensagem, Inieialmente, as mensa gensvivem apenas na mente (ou no 'coracao) dosinterlocutores. Mas, durante a comunicaCao,elas aparecem de modo a que possam serouvidas, vistas e tocadas.

    0 quarto elemento viria entso a ser a formacomo a mensagem se apresenta: as palavras,os gestos, os olhares, os movimentos docorpo. As formas que representam as ideias eas ernocoes chamam-se signos. Signo e todoobjeto perceptivel que de alguma maneiraremete a outro objeto, toma 0 lugar de outracoisa, Se pudessernos influir diretamentenas mentes de outras pessoas nao precise-rrarnos de signos para transmitlr nossas ideiase emocdes, Mas nem sempre podemos. Daj'a necessidads de "significar" nosso mundointerior para poder cornpartllha-io com osdemais. Em geral, as signos formam con-Juntos organizados ehamados c6digas. AHngua po rt.uguesa , 0 c6digo Morse, as sinaisde transito, 0 sistema Braile para ceges, saoeoniuntos organizados de signos.

    0 quinto elemento da comunieacao seriam as

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    40 Juan E. Diar, Bordenave

    meios que os interlocutores utiliz~m paralevar. suas palavras ou seus geS10s as ou!raspessoas. 0 artesia usa a barre, su~s maos,sua voz, como meios para cornumcar seusconhecimentos ao filho; 0 ator usa sua voz, 0palco, as luzes da ribalta, a rnaquilaqem, amusica, as roupas especiais: 0 locutor empregasua voz, 0 roteiro, 0 disco, a fita gravada, a

    _ emissora de radio. em geral. .Resumindo, as elementos basicos da comum-c a c a o sao: . a real idade ou situar;:ao onde ela se realiza esabre a qual tern um efeito transformador; os interloeutares que dela participam; os conteados ou mensagens que etas cornpar-tilham; os signos que. elas utilizam para rePtesen~-los; os meios que empregam para transrnitl-los,E irnportante assinalar que a propria nature:aenearregou-se, durante 0 longo curso da evoluc;:a?de nossa especie, de nos preparar para a comu~I'

    cacao. Ela nos forneceu os 6rgaos- capazes de ~narsignos e tarnbem as 6r9aos que podem recebe-Iose lnterpreta-los. . .Assim a boca humana e capaz de produzirinfinitas ' combinacdes de sons, e 0 ouvid.o p~decaptar e distinguir milhares dessas combmac;:oe~.o rosto os olhos e as maos podem mover-se de milmaneira~ para criar 9estos expressivo~ .. E o~ olhospodem captar esses movimentos, dlstm9uI-los e

    o que e Comunicarao 41combine-los. E par tras de tudo isso ssta 0 eerebrohumano, computador de infinita sutileza, querecebe os sons, os movimentos e as luzes, combina-os e, apelando a mem6ria de milhoes de expe-riencias previas, interpreta 0que estes estrmutosrepresentam para a pessoa.De posse dos elementos da comunicacao, esta-mos em condiedes de analisar como funciona este

    complexo processo.

    As fases do processoIi te6rica e praticamente irnpossfvel dizer ondeeorneca e ondetermina 0processo da ccrnunicacso.Aazoes internas ou externas podem levar duaspessoas a se comunicarem. Embora a fase vis(vel

    da comunicacao possa ser iniciada por uma delas,sua decisio de comun icar pede ter side provocadapela outra, ou por uma terceira pessoa, presenteou ausente, au per rnottes causas coincidentes.Nao e possivel, assim, enumerar as fases de urnacomunicac;:ao como se fossem partes de umasequencia linear e ordenada. A cornunicaryao, defato, e urn processo multifacetleo que ocorreBO mesmo tempo em varios niveis - consciente,sl!Ibccmsciente,inconsciente ,como parteorganica do dinamico processo da pr6pria vida.Q\Jalquer tentativa de "dissecar" a processo

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    42 Juan E. Dfaz Bordenave

    vital da ccmunicacso e um exercicio pouco realista,embora possa ter utilidade didatica ou explicativa.Comtudo, pcdem ser mencionadas algumasfases que costumam participar do processo dacomunlcacao, As fases podem se dar em qualquerordem, ou simultaneamente, e podem ate entrarem conflito umas com as outras. Vejamos: A puJsar;50 vital: A dinarniea interna dequalquer pessoa esta sempre pulsando, terven-do, vibrando, como verdadeiro caldelrao vitalonde se encontram em ebulicao pensamentos,lembranCas,sentimentos, novas sensacoes epercepcees. desejos e necessidades. A pulsacdovital ocorre em todo 0 corpo, mas seu centroe 0 cerebro, a organismo humane cornpor-ta-se, entso, como urn sistema aberto emconstante interacao consigo mesmo e com 0meio ambiente. A .interar;50: A pulsaceo vital permanente nointerior da pessea consiste num precarioequilfbrio dinarnico que, para ser mantido,tern obrigatoriamente de se adaptar ao meioambiente f(sico e social que rodeia 0 orpanls-rna, quer se acornodando a ele, quer tentandotransforrna-lo. Em outras palavras, a pessoanecessita entrar em interacao com 0 meioambiente. Ora, uma das maneiras de interaqircom 0 meio ambiente e a cornun tcacso .A pessoa emite e recebe mensa gens por todosos canals dispon(veis: olhos, pele, maos,

    4 .3

    I(ngua, ouvido .. Entretanto. a pessoa naoemite tudo a que ela contern nem recebe tudoo que a ela vern do meio ambients. De modoque outra fase do processo e a selecao. A selet;8o: Oeste caldeirao onde fervem asexperiencias da pessoa, seus conheeimentos ecrencas, valores e atitudes, signos e capaci-dades, a pessoa seleciona alguns elementosgue deseja compartilhar com outras pessoas.As vezes esta sel~ao e provocada por esttrnu-I C ! J S que vern de fora, outras vezes pela decisaoda pr6pria pessoa de tornar consciente - pararetletir sobre eles - alguns elementos deseu recertorio. A percept;50: No caso de estfrnulos que vernde fora, 0 homem "sente" a' realidade que 0rodeia par meio de seus sentidos - vistaouvido, olfato, tato e paladar -, e assirnpercebe as palavras, gestos e outros signosque lhe sao apresentados.

    A decodificar;50: Percebidos os ~ignosl apessoa tern que determinar 0 que eles repre-sentam, a que c6digo pertencem. Como 0~mesao e seu filho pertencem ambos a mesmacultura - a nordestina -, os signos que elesusam tern 0 mesmo significado para os dois.De fato, eles usam 0 mesmo codigo: parafalar, usam 0 idioma portugues (com suasvariacoes regionais e locaisl: para gesticular,usam ns gestos que aprenderam de seus

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    Juan E. Dtaz Bordenave

    antepassados. Entae, tao logo 0 filho pereebeas palavras e os gestos de seu pal, ele osdecodifica, isto e , para cada signo, encontra,na sua memoria, urn objeto ou ideia cortes-pondente. A interpretar;iio: As vezes, entretanto, mesmoque 0 filho decodifique as palavras e osgestos do pai, nao entende claramente 0sentido ou 0 significado da mensagem. 0 queele entende e diferente do que pal pretendiaque entendesse. "Pal, nao estou entendendoo que a senhor quer que eu raca." Alem dadecodiflcacso, entao, vern outra fase, a delnterpretacso, que eonsiste em compreendernao apenas 0 que cada palavra signiflea, maso que a mensagem inteira pretende dizer.A Interpretacao el(ige que se coloque amensagem em um eontexto, que se a comparecom outros elementos do repert6rio e como conhecimento que se tern das intencdesdo interlocutor. Oualquar pessoa, por exem-plo, pode decodificar as palavras ser-ou-nao-ser-essa-e-a-questao: porem, quantas pessoasinterpretam 0 verdadeiro significado dafrase: "Ser ou nao ser, essa e a questso"? A tncorporecso: Se a mensagem e interpre-tada de uma maneira tal que a pessoa naose considera arneacada em seu sistema deideias, valores e sentimentos, a rnensaqern efacilmente incorparada ao repert6rio au

    o que e Comunica~iio 45acervo. A flexibilidade mental do receptor,sua mente aberta ou fechada, seu n(vel detensao ou ansiedads, sua seguranc;:aou auto-confianr;a etc., intervsrn na aceitac;ao ourejeic;:ao da mensagem. As vezes a incorpo-r:acao e s6 parcial e uma parte da mensageme rejeitada.

    A rea9ao: as resultados da tncorporacso damensagem na dinarnlea mental pr6pria doreceptor pod em ser claramente visfvels, comoquando a pessoa, considerando-se insultadapela mensagem, agride seu interlocutor.Mas, as vezes, a transforrnacso provocadapela mensagem e purarnente interna. Quandoo ator no teatro consegue emocionar suapiateia. poda aparecer externamente poucadernonstrac;:ao de que internamenteelaesteja comovida.

    As funcoes da comunicaeaoo sistema de signos que 0 homem criou para sua.comunicac;:ao nao e um conjunto mecanlco depeoas que se armam como urn quebra-cabecaslIguindo normas de engenharia da linguagem.cernunlcacao e urn produto funcional dantcessidade humana de expressao e relaciona-nto. Porcanseguinte, ela satisfaz uma serie de

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    46 Juan E . Diaz Bordenave

    func;:oes, entre as quais as que se seguem:- Fun~ao instrumental: satisfazer necessidadesmateriais ou espirituais da pessoa,Exemplos: "Eu quero isto", "Tenho fome","Estou caindo", "Precise um conselho seu"," Ajude-me a resolver este problema".

    - Funcao informativa: apresentar nova infor-macae.Exemplos: "Tenho algoparate dlzer", "Aten-cao! 0 Conselho de Sequranca da ONU votou10 contra 1 ... ".- Funcao requlatoria: controlar 0 compor-tamento de outros.Exernplos: "Faca como eu lhe digo", "Seraque tenho que repetir a mesma coisa paravoce urn milhao de vezes? Obedeca a lei",

    - Func;:ao interacional: relacianar-se coin outraspessoas,Exemplos: "Voce e eu vamos tornar contadisso tudo", "Eu arno voce",

    - FunCao de expressao pessoal: identificare expresser 0 "eu".Exemplos: "Sou contrario aos regimes dedireita", "Eu amo a liberdade mas tarnberndefendo a justica social".- FunCao hsurfstica au explicative: exploraro mundo dentro e fora da pessoa.Exemplos: "Pai, por que a lua rnuda detamanho? ", "Como e que a crianca aprsnde

    a falar?".- Funcao imaginativa: criar urn mundo pr6priode fantasia e beleza.Exemplos: "Vamos fazer de conta que ... ","Havia uma vez um rei ... ", "0 que eufaria se ganhasse na loteria esportiva 7"_

    o que e Comunicafao 47

    Dutra fum;:ao da cornunlcacdo e indlcar a qua Ii -dade de nossa participacao no ato de cornunicacdo:que papeis tomamos e impomos aos outros, quedesejos, sentimentos, atitudes, [ufzos e expecta-tivas trazemos ao ato de comunicar.

    .E a cornunicaeao deve fazer tudo isto ao mesmotempo, de maneira tal que 0 que se esta dizendoeclnetda com a forma com que se diz e com 0contexto social em que se fala. A comunlcaeaonio apresenta uma pilha de signos e sfrnbolos,senao urn "discurso", isto e, uma obra de sentido de coerencia que somente n6s, hornens, podemosconstruir.As qualidades (micas da corrumicaceo humana

    destacam-se quando a comparamos com a cornu-nlc8Qio animal. Porque os animais tambern pes-IUlm signos, 6rgaos emissores e 6rgaos receptores.M a s os sign os animais nao foram criados deIibe-tide e arbitrariamente como foram criados os

    humanos. Aqueles formam parte automatlcaequipamento genatieo da especie, Como tais,nao mudam nunca. 0 cachorro de Cle6patrao antigo Egito latia da mesma maneira e nas

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    48 Juan E. D t a z B or de na v e

    mesmas circunstancias em que late hoje 0 cachorrode Elizabeth Taylor em HOllywood. Tampoucoos animais inventam signos novos ou modificamo significado dos antigos.E que os signos dos animais parecem ser maissinais que signos: eles indicam reacdes a estfmulospresentes ou lembrados. Os animais se comunicamda mesma maneira instintiva com a qual cons-. troem seus ninhos, fogem dos perigos e copulampara reproduzlr sua especie,Daique .a comunicacao animal carece do poten-cial de beleza e de paixao que 0 homem colocaem suas mensagens. Beethoven, surdo, com-pondo sua Sonata Patetica para" expressar atormenta que rugia em sua alma desesperada,e urn fenorneno exclusivamente humano. Comoe unicamente humana a despedida do CoronelMoscard6 de seu filho refern, que seria fuziladose a pai nao entregasse 0 Alcazar de Toledo,durante a Guerra Civil Espanhola;

    "Candido Cabello, chefe da milicia em Toledo,telefonou ao Coronel Moscard6 dizendo-Iheque se nao entregasse 0 Alcazar dentro de dezminutos, ele, Cabello, matar-Ihe-ia 0 filho,Luis Moscard6, a quem havia capturado naquelamanhs, 'E para que veja que e verdade, elepr6prio vai falar-the', acrescentou CandidoCabello. Entao Luis Moscard6 disse ao telefonea palavra 'Papai'. 'Que se passa, meu filho 7',

    o que e ComunicafOo 49

    perguntou 0 Coronel. 'Nada', respondeu 0filho, 'Eles dizem que me matarao se a Alcazarnao se render'. 'Se for verdade', replicou 0.Coronel Moscardo, 'encomenda a tua alma aDeus, grita 'Viva Espanha' e morre como urnher6i. Adeus, meu filho, um derradeiro beijo.''Adeus, meu pai', respondeu Luis, 'urn beijobern grande'. Candido Cabello voltou ao tele-fane e a Coronel Moscard6 anunciou-Ihe quenao preclsava de prazo para decidir. '0 Alcazarjamais se rendera', deciarou antes de desligaro telefone. Luis Moscard6 foi morto a 23de agosto."(A Guerra Civil Espanhola, par Hugh Thomas,Editora Civilizacao Brasileira, 1964, p.244).

    . . .

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    E IMPOsSlvEL NAO COMUNICARE nacessario compreender .que a comunicacaonao inclui apenas as mensagens que as pessoastrocam'deliberadamente entre si. Alern das mensa-gens trocadas conscientemente, com efeito, mu~t~soutras sao trocadas sem querer, numa especrede paracomunicac;;ao ou paralinguagem.o tom das palavras faladas, os movimentos docorpo, a roupa que se veste, os olhares e a maneira

    de estreitar a mao do interlocutor, tudo ternalgum significado, tudo,

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    52 Juan E. Dfaz Bordenave

    palidez ou rubor etc., sao involuntarios e ateinconscientes. a telespectador, ern todo caso,recebe tantas mensagens sabre os mesmos candi-datos como sobre as assuntos debatidos.Isto nos leva a comentar 0 chamado "carisma"de certas pessoas, entendendo por tal os efeitosque elas produzem sobre 0 publico, sem queseja possivel especificar precisamente as quali-dades que provocam esses efeitos. Carlos Lacerda,Juscelino Kubitscheck, Jimio Quadros, exerciamcomplexas influenclas sobre as massas, sendodifCcii explica-las atraves da mera analise de suasqualidades.A mesma coisa acontece comas artistas popu-lares. Arthur da Tavola, por exemplo, percebeuo misterioso "carisma" comunicativo das grandescantoras e atrizes brasileiras e escreveu em 0Globo:"Gal transmite ao lado do 'texto', lsto e, do quefala e canta, uma serle de outras mensagens dealto poder comunicativo que se somam a suafigura de comunicacao, modelando-a. Quemecanismos secretos explicarao a rela~o daatriz EHz.abethSavalla com 0 povao? Ela e boaatriz e moca bonita, mas M centenas de outrasboas atrizes e rnocas bonitas que nao estabe-leeem os mesmos mecanismos secretos decomun icacso."

    o que e Comunicadio 53

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    Juan E. Dtaz Bordenave

    Arthur da Tavola comenta que esses mecanismosatuam em nfveis rnais fundos que os da percepcaoconsciente: "Eles excitam mecanismos guardadose desconhecidos, dif(ceis de definir. Estao noterrit6rio da empatia, urn lugar complexo, oculto,misterioso. "

    A cultura como comunicacaoSe tudo na vida pode ser decodificado comosigno - 0 penteado, a maneira de andar e desentar-se, 0 bairro em que se mora, a igreja quese frequenta -, entso a pr6pria cultura de umasociedade pode ser considerada como um vastosistema de c6digos de comunlcacso.Estes c6digos indicam os papeis apropriados eoportunos, 0 que e tabu e 0 que e sagrado.Exemplos de nossa cultura incluem os seguintes:- Quando urn homem e uma rnulher se casamcolocam aneis, se possfvel de ouro, em certosdedos da mao. 0 nome dos aneis e "alianca"pois eles comunicam aos demais que estaspessoas ja nao estao mais livres e sem com-promisso.- Na mesa onde a familia faz suas reteicoes, 0pai sempre ocupa a cabeceira. Seu lugar na'..,.mesa com~~!~ s~.a.p'osi~ao de autoridade.

    o que e Comunicadio 5 S

    - Enquanto os empregados sao obrigados achegar a seus lugares de trabalho as 8 h emponto, 0 chefe chega as 9 h ou 10 h damanha. Isto indica a todos a diferenc;:a dehierarquia.- No Natal, costuma-se dar' presentes aosparentes e amigos. 0 valor do presente, emgeral, comunica 0 grau de lrnportancia queo doador atribui ao presenteado.- Ate ha pouco tempo, os parentes costumavamvestir-se de preto quando morria urn membroda famrlia, e a cultura estipulava urn prazopara a viuva, os irmaos etc. manterem 0luto.- A maneira de manejar os talheres nas refeic;:oesnao a assunto de escolha individual; elacomunica imediatamente a classe sociala que pertence a pessea.- As empregadas domesticas sao obrigadas avestir uniformes para nao serem confundidascom os membros da farnrlia.- I: considerado de mau gosto chegar pontual-mente a uma recepcao, Os convidados pon-tua is correm 0 risco de encontrar os anfi-trioes ainda no banheiro ou terminandode se vestir.- Expressamos nossos sentimentos patri6ticospor meio de sfmbolos que incluem a bandeira,o hino naeional, os vultos hist6ricos, asefernerides ou datas significativas.

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    S6 Juan E. Dfaz Bordenave

    - As flores sao a base para diversas mensagenscodificadas: a rosa vermelha, a buque deorqufdeas, a coroa no funeral.

    Esta lista, lonqa porern incompleta, demonstraque a cultura funciona pela comurucacso. Seriairnpossfvel para uma pessoa viver no seio de umacultura sem aprender a usar seus c6digos de cornu-nicacao. E tarnbern seria irnpossfvel para elanao se comunicar.

    A cornunicacao transculturalo fate de que cada culture tenha seus pr6priosc6digos de cornunicacao torna bastante difrcila eornunicacao entre culturas diferentes. Naexperiencia de rnissionarios, exploradores, diplo-matas e tecnicos de organismos internacionais,existem numerosos exemplos de confusdes devidasa uma decodificacdo errada dos c6digos locals.

    Alguns exernplos:- Um rnissionerio que ensinou a rezar 0 "Eu,pecador" a criancas africanas, estranhou-sedas gargalhadas provocadas pelos qolpes nopeito que no Ocidente cat6lico acompanhamit parte que diz "rninha culpa, minha grandeculpa", Ocorre que em eertas culturas afrl-canas bater no peito signifiea "Eu estou

    o que e Comunicaeiio 57

    zombando de voce".- Um tecnico internacional chileno, visitandoo Brasil pela primeira vez, procurou urn copono banheiro do 'hotel e nao achou. 'Comoem espanhol a palavra para copo e "vaso", eletelefonou para a portaria dizendo: "Emmeu banhei ro noloha vaso." "Nao e possfvell ",responderam ria recepcso. "Tern de haverum vasa em seu, banheiro!! Sera que estaquebrado 7" "Nao - exclamou 0 chileno -aqui nao ha vaso e estou precisando escovaros dentes!"- Arrotar ruidosamente ap6s as refeil(oes econsiderado de pesslrna educacso nas culturasocidentais. Mas nas orienta is 0 h6spedeque nao arrota esta "significando" que naogostou das comidas que Ihe foram servidas,ou que elas nao foram suficientes para dsixa-10 satisfeito.- A distancia ffsica que se deve guardar entreas pessoas varia nas diferentes cultures,Algumas valorizam a proximidade, 0 contatofisico, abraco, 0beijo. Outras preferem queseja mantida uma prudente distancla entreas pessoas e decodificam a aproxirnacao"excessive" como mostra de vulgaridadee elasse baixa.

    - Querendo ser amavel com estudantes africa-nos recem-cheqados, 0 professor norte-americano falou para eles: "Aparecam alguma

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    2

    58 Juan E. D t az B or de na ve

    vez para jantar em minha casa." Na semanasequinte os africanos chegaram para jantar.Na sua cultura, urn convite e sernpre tornadoa serio, quando, na norte-americana, deveser codificado apenas como urna mostrade simpatia.- Na China, a cor que expressa luto e a corbranca, e nao a preta como na AmericaLatina. a significado da morte varia tarnbernsegundo as culturas. Na cultura ocidentala morte e a maximo inimigo que se deveevitar par todos as meios. No Japso, entreas pessoas religiosas, a morte pelo Imperadorou pela Patria era considerada a maior gloriaque urn homem poderia desejar.- Para indicar a altura de urna pessoa, de urnanimal ou de uma coisa, em Costa Rica eno Mexico, usam-se gestos feitos com a mao,diferentes para cada caso. No Brasil, a alturade pessoas, animais e coisas sem distln

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    60 Juan E. Dtaz Bordenave

    of en sa , mas eu queria te dizer ... "- "Ouero que voce preste muita atencso porquea que eu vou falar a muito serlo ... "- "Por favor, nao me interprete mal. Nao estouinsinuando que todos voces sejam ... ".:_ "Esqueca 0que falei, eu nao estava falandoa serio: ... "- "Veja bern, isto e apenas urna opiniao multo~I "pessoa , mas ...- "0 neg6cio eo seguinte .....

    Usamos tambern outros truques para rnetaco-rnunicar. A nossa maneira de olhar, ou deixar deolhar, a outra pessea traduz sentimentos desinceridade, 5uperioridade,complexQ de culpa,interesse em continuar a co nversa , curiosidade,desejosde uma boa "fofoca". ou suprema indi-feranca .. Metacomunica a nossa propria maneirade intervir no diiilogo: se monopolizo a conversaestou comunicando que naa concedo aos demaiso direito de participar igualmente na conversa;se interrompo constantemente meu interlocutor,estou Ihe indicando que au estou por demaisinteressado no que ele fala ou nao dou lrnportanciaa seus argumentos.A proximidade ou distencia des interlocutcresinflui sabre a interpretacao que eles darfio asrnensaqens , Quanta maior a proximidade, e maisprovavel que a interpretacao tenha que ser menosobjetlva e fria e mais subjetiva e pessoal , Outras

    o que e Comunicadio 61vezes, porern, a aproxirnacao excess-iva revela umaarneaca, vista que a violacso do espaeo pessoalde urn dos interlocutores pelo outro e claro ind (ciade que pade ocorrer uma aqressao flsica au pelomenes psicoloqica .

    . . ..... . .

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    QUE "SIGNIFICA" ISTO?

    As pessoas perguntam-se com frequencia:"Que significa isto 7", Com menor frequenciainterroga rn-se: "Que s19nifica sign ificar?"A cornunicacao, entretanto, seria impossivelsem a significaf;clo, isto e , a produeao social desentido.J a sabemos que signa e todo objeto percept (velque de alguma maneira remete a outro objeto.

    H a objetos que foram especificamente criadospara fazer pensar em outros objetos. Entre elesas sinais de transite, as notas musicais e aspalavras da lfnqua portuguesa.Outros objetos tern funcao de signo em virtudede seu uso na sociedade. 0 autornovel e um signade velocidade, como 0 camlnhao e de transporte;a rnaquina de costura e signo de costura e 0 giz esigna de aula.

    o que e Comu.nica~iio 63

    ~--= -

    a s stmbolos.

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    64 Juan E. Dta Bordenave

    Os chamados sfmbolos sao urn tipo especialde signos, ernbora, as vezes, sfrnbolo seja ern pre-gado como sinonirno de siqno. Os simbolos sao- segundo a Enclclopedia Delta Larousse -"objetosf(sicos a que se da signlfic.acao moralfundada em relaeao natural". Sao sfrnbolos abandeira e 0 hino nacional; a cruz; a pomba como ramo de olivelra; a mulher cega segurando umabalanca: as aliancas do casal.Outrosubgrupo dos signos sao os sinais, "lndi-cios que possibilitam conhecer, reconhecer,adivinhar au prever alguma coisa". Sao sinais asdiversos desenhos e letras utltizados para repre-sentar regras do transito. Existem os sinais orto-griificos, os sinais de pontuac;ao, as si na is d e alarm e ;as barcos, avioes, caminhoes, usam tuzes de "sina-lizacao" para evitar collsdes e outrosacidentes.Mas 0 homem descobre tambern sinais naturais

    no mundo que 0 rodeia.umapeqada hurnana numapraia esihal de que alguem passou por ali; a fugade animals sinaliza a imimincia de algum desastre;e para alguns a dor nos calos indica que val chaver.

    Como urn signa "significa"?E possivel que os primeiros signos criados pelohomem estivessem cada urn associado a urn deter-minado objeto. Talvez os sons "pe-dra" indicassem

    o que e Comunicllfiio 6S

    "esta pedra" e nao todas as pedras em geral.Mase proprio da mente humana a eapacidadede abstrafao,isto e , de identifiear 0 que hii decomum em rnuitos objetos semelhantes. Prova-velmente 0 homem primitivo passou a chamarde "pe-dra" todosos objetos que tivessem ascaracterfsticas de uma pedra, Nesse sentido, epossjve l que os bisontes e cervos desenhados na'caverna de Altamira pelo homem paleoliticorepresentassem n o l O urn determinado animalmas os bisontes e cervos em gera!. . . I

    Esta capacidade de abstraeao de qual idadescomuns e de colocar um nome a qualidade geraldeu origem ao conceito. 0 conceito viria entaoa ser a imagem formada na mente do homemapes perceber muitas coisas semelhantes entresi. Dai ..em diante, 0 assunto se slrnplificou para 0hornern porque, em lugar de ter que guardar em suamem6ria mil palavras para mil pedras diferentesag0ra tinha de .Iembrar apenas 0 conceito de pedrae seu signa correspondente: a palavra "pedra",A palavra veio a representar conceitos, naoapenas objetos. Veja-se 0 seguinte esquema:

    CONCEITO("Pedra)/~

    PALAVRA OBJETO(P-e-dr-a) /Pedra)

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    66 JUlin E. Dtaz Bordenave

    o mesmo esquema seria valido para signosdiferentes das palavras, como desenhos; figuras,gestos etc.Estes sao precisamente os elementos do signo,aquales cujas re lacde s Ihe permitem "significar",isto B , representar ideias.Primeiramente ternos 0 objeto representado,chamado objeto referente ou simp_lesmente 0 rete-rente, vista que 0 signo "faz refsrencia" a ele.Em segundo lugar temos o significado do signa,que vlria a ser a conceito ou a imagem tormadana mente aeerca do referents._ Em terceiro lugar temos 0 significante, queviria a ser a apresentacao ffsica do signo: as sons"pe-dra", a palavra escrita "p-e-d-r-a", 0 desenhode urna pedra ou sua fotoqrafia, estes sao diferentessignificantes que 0 signo pode adotar,Objeto referente, significado e significante saoentao os elementos cornponentes do signa, os queIhe dao capacidade de intervir no processo daeomunlcacso.Aqul vemos que 0 concerto de signo nao e taosimples, e envolve nao 56 coisas vislveis ou tanqr-veis mas tam bern relacdes abstratas.lsto e contra rio ao conceito comum de signa.

    E : freqiients pensar que a significado de umapalavra lou ge51o, ou figural e urna especie deatributo ou propriedade da palavra. Fala-se, nestesentldo, "esta palavra significa .. ,. ", ou "0 signi-ficado desta palavra e , . " " .

    67

    Todavia, 0 significado nao e uma prapriedadedo signa, mas um conjunto de relacoes das quaiso signa e a traducso externa,SIGNIFICADO

    /~~.. OBJETOSIGNIFICANTE . REFERENTEo significado tambern nao e a rela.;ao direta dosigna com algum objeto no rriundo f(sico, 0significado da palavra "pedra" nao e uma pedraparticular, mas e a relar;ao do signo com 0 conceitoau conjunto de conceltos que as pessoas tern sobreas pedras.Se se tivesse como significado apenas a relal;:aoentre 0 signa e um objeto real, nao pederfarnoster significado para eoisas que nunca existiramsenao em nossas mentes, tais como as sereias, asunic6rnios e os deuses do Olimpo. Alias, naoteriamos urn significado para Deus.Do modo que a significado dos si900S nao estanos pr6prios signos, nem nos objetos, mas nosconceitos ou imagens formados na mente daspessoas.

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    68 Juan E. D ia z B or de na ve

    Codigos analogicos ecodigos digitaisNa sua evolucso. a hurnanidade fol passando douso de signos parecidos com seus objetos refe-

    rentes - tels como os desenhos de animais, aspalavras imitativas dos sons da natureza, os gestosreprodutores de ac;oes natura is - ao emprego designos cada vez mais erbttrarlos, sem qualquersernelhanea com os objetos representados, eque, por conseguinte, somente funcionavam q~andoexistia urna espeeie qualquer de convencao ouacordo entre os interlocutores.Aqueles signos cujos significantes se parecemcom os objetos referentes receberam 0 nome designos analoglcos. Entre eles, as signos ic6nicos(de "ikone" = imagern, em grego) reproduzemmais fielmente as carac~eristicas do objetoreferente. Signos lconicos sao as fotografias, osdesenhos as esculturas, as pinturas realistas.Mas por extensao, tarnbern sao signos iconlcosas palavras onom{Jtopt!icas, isto e , as que imitamas sons naturals.No outro extrema, isto e , entre os signos quenao guardam ssmelhanea alguma com .. se~sreferentes, estao os signos chamados d,g,ta/s ..A palavra digital vern de dfgito, que sao os numer~sde 0 a 9. Os c6digos digitais, entretanto, naoempregam somente nurneros ou dfgitos mas

    6

    tambern letras.Entre os c6digos dtgitais, os mais utilizados sao0'5 c6digos binario$, aqueles que transmlteminformac;:ao pela alternancia de apenas dais estados.Exemplos: 0 tambor falante de algumas tribos doCongo emite dois tons, um por e1es chamado detom masculino e Dutro, de tom feminino. 0e6cfigo Morse combina de v~rias maneiras apenasdois 'signos: a ponto e a traeo. Os sematoros ousinais luminosos do transito opararn sabre a base deque certas luzes convencionais estao "Iigadas" ou"desligadas"; quer dizer, adotam dols estados pos-sfveis. As maquinas calculadoras e os computadoresfuncionam por meio de impulsos eletricos que"passam" ou "nao passam" I c6digo binario quepode ser utilizado para transmitir fentastlcas quanti-dades de informac;:ao a_velocidades alevadfssimas.Na cornuntcacso humana, empregam-se ambos ostiposde c6digos-anal6gicose digitais-de maneiracomplementar: enquanto os signos anal6gicos cornu-nieam de maneira vfvida e natural as emoc;5es

    (gestos, silencios, movimentos do corpo. exclama-c;:5es ete.), os c6digos digitais Uinguagem oral eescrita) fornecem informac;:5es precisas e detalhadas.

    Os tipos de significadoOs signos sao como as pesseas, tern significados

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    70 Juan E. Dtaz Bordenave

    diferentes segundo 0 contexto em que se encon-tram. Um homem e pai em sua casa, chefe noescrit6rio e goleiro no time de futebol do bairro.Uma mesma palavra, por exemplo, varia seusignificado segundo sua posic;:aona frase:"Joao e professor de educacao.""A educacso do professor e importante."A palavra educecio evidentemente nao possuio mesmo significado em ambas as sentences,Este e 0 chamado "significado gramatical",pois depende da rela((ao do signo com outrossignos ou elementos do discurso.Da mesma maneira, 0 significado de uma partede uma figura ou fotoqrafia nao e independente docontexto que a rodeia. Este seria 0 "significadocontextual" .Quando 0 significado depende somente darela((ao entre 0 signo e seu conceito referente,ternos .o "significado rsterencial". Estes significa-dos sao os que aparecem nos dicionarios.Para complicar urn pouco, vamos considerarurna outra dimensao dos significados, a dirnensaoracional-emocional.Tanto 0 significado referencial como 0 gramati.cal sao de tipo cognitivo, ja que se referem somenteaos aspectos intelectuais da razao humana. Masos signos tern tarnbem uma dirnensao nao-racional,visto que seu impacto na pessoa abrange tarnbernos sentimentos. 0 significado emotivo refere-seaos tipos e graus de reacao emocional as expressdes

    71

    da linguagem ou outros c6digos.Esta diferenea do cognitivo e do emotivo eimportante porque muitas vezes as pessoas reagememocionalmente nao a palavra em si ou a suaadequacso gramatical, mas a maneira de usar alinguagem ou as cireunstancias em que ela e usada.Os charnados palavroes, para citar urn caso, naoproduzem indignac;:ao por si mesmos, mas pelolugar e pela ocasiso, ou pelo tom de voz, em quesao pronunciados. A expressso "filho da mae"nem sernpre e insultante. A palavra "fogo" podeter urn significado cognitivo nurn discurso normal,mas adquire significado emotivo quando e gritadanum teatro lotado.Os papa-is sociais dos interlocutores influenciarntarnbsm 0 significado emotivo. De urn sacerdote,um professor, um juiz de direito, espera-se umdeterminado comportamento lingu(stico consi-rado apropriado a sua posicao, Quando ocorre urnmarcado desvio deste papel esperado no uscdo vocabulario, e provavel que resulte uma rea9aoemotiva, tal como surpresa, assombro ou rejei(fao.Todos estes exemplos confirmam 0fato de queos signos nao sao produto de relacoes r(gidas eestaticas: eles sao tao dinamicos como a pr6priasociedade.Alias, a flexibilidade dos signos nota-se demaneira ainda mais interessante na diferencaentre dois tipos de significados: 0 significadodenotativo eo conotativo.

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    72 Juan E. Dtaz Bordenave

    0 significado denotativo aparecequando umsigno indica diretamente urn objeto referenteou suas qualidades."Esse af e meu livro de Maternatica."Aqui, a palavra "Iivro" indica um livreconcreto, aquele que e meu, que esta sobrea mesa.Ao significado denotativo de "Iivro" estaoassociadas percepcdas de propriedades obser-vaveis e objetivas, como 0 formato, 0 tama-nho, a tipografia, as ilustracfies etc. . 0 significado conotativo inclui as inter-pretacoes subjetivas au pessoais que podemderivar-se do signo."Esse af e meu livro de Materncitica."Conotativamente falando, a palavra "Iivro"pode evocar uma serie de significados - tantocognitivos como emotivos -, tais como "estudo","prova", "ansiedade", "notas", "cola", "tedlo"."sana".Ve-se no exemplo que urn mesma signa podeter ao mesmo tempo significados denotativos econotativos. E evidente que os significados cono-tativos serao bastante diferentes para cada pessoa.o poder da conotacao

    E possrvel que a grande diferenc;:aentre a comu-

    o que e Comunicadia 73

    nicat;;ao humana e a animal consista em que ossignos animais sao todos denotativos; 0 que poderiahaver de conotativo neles seria apenas a lembranc;:adas expsriencias associadas aos signos. Se urn signoesteve associado com dor au castigo no passado, enatural que provoque no animal reacdes de alarme,fuga ou agressao. No animal, a conotacso consis-tiria num caso de condicionamento. ,No ser humano a conotacao e alga muito dife-rente. A capacidade de imagina(:ao da para aconoracao uma liberdade quase total. Partindode denotac;:5es bastante objetivas e concretas, aimagina~ao constr6i novas realidades. Uma gotade orvalho se converte em lagrimas, em purezaou em melancolia. Urn por-do-sol canota aserenidade, a saudade, a solidao. Veja-se no famosoPoema.20, de Pablo Neruda, como 0 poetaconsegue conotar rnelancolla. e saudades comexprsssoes aparentemente denotativas e simples:

    20Posso escrever os versos rnals tristes esta noite.Eserever, por exernpln: "A noite est:f estreladaII tiritarn, azuis, os astros, ao longe."o vento da noite gira no e e u IIcenta,POsso escrever os versos mais trines esta rioite.E ua amei, e ils veZa's ela tarnbern me amou.Em noites como esta eu a tive entre os meus braces.Beijei-a tantas vezes sob 0 CE!unfinito.

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    74 J ua n E. D ta z B orden ave

    Ela me amou. a s vezes eu tamb1!m a arnava.Como nifo ter amado os seus grandes olhos fixm.PO$SO escrever os versos mais t ristes esta noite:Pensar que nifo a tenho. Sent ir que a perd i.Ouvir a noite irnensa, mais irnensa slim ela,E 0verso caina alma como no paste 0orv31110.(Neruda), Amolagia Poe rica - Traducao de Eliane Zagury.Rio de Janeiro. Livraria Jose Olympia Editora, 1974)

    Nesta capacidadedos signos humanos de conotar,isto e , de ampliar e enriquecer 0 significado"referendal" dos siqnos, oriqinarn-se as criaeoesmais importantes da cultura, da filosofia e dareligiao.o significado conotativo introduz a liberdadena comunicacao humana. Enquanto 0 significadodenotativo orienta 0 homem na realidade, 0

    .- .. ~ 1

    -.~,~t r : 1 o - . ._ -

    DelWtao

    o que e Comunicaciio 75conotativo 0 faz transcender a realidade presentee construir uma nova. Os signos denotativos saoindispensaveis para a sobrevivencia no mundoconcreto, mas sem os conotativos 0 homem ficariapreso aos determinismos do real.No extremo oposto, 0 significado conotativopermite tamar dados .concretos da realidade atualou hist6rica e extrapola-los de tal maneira quetoda uma nova realidade de significados e cons-trurda,

    Conotafao. . .

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    OS DOIS GUMESDA LINGUAGEM

    Embora nao haja limites para os signos que 0homem pode utilizer para se comunicar, a maiorparte da cornunlcacao se realize par meio dalinguagem, falada au escrita,Ao mesmo tempo, a rnaior parte das confusoese incornunicacdes que ocorrem entre as pessoas,entre as grupos e entre as naeces tern como origema linguagem.A linguagem e uma faca de dois gumes. A maishumana das caracterfsticas, exprimindo a superio-ridade funcional do cerebro do homem sobre 0dos animals, cspaz de expressar seus sentimentosmais profundos e seus pensamentos mais cornple-xos, a Hnguagem pode levar os homens a comunhsono amor e na amizade, mas tarnbern pode serutili zado pa r a ocultar, enganar, sepa rar, do minar'

    o que e Comunico{:iio 77e destruir ..Nao e sem motive que, na Biblia. a linguagemaparece elevada a um n(vel quase sagrado, quandose chama 0 Filho de Deus de Verbo au PalavraEncarnada, como tarnbern se apresenta comocausa de confusao e divisao no epis6dio da Torrede Babel.Qual e , entao, a natureza da linguagem comomeio de cornunicacso? Qual e seu papel nasociedade?

    A natureza da linguagemEm Lingu rstica, aciencia que estuda a linguagem,e tradicional defini-Ia como um sistema de signos

    vocais arbitrarios usados para a cornunlcacsohumana.Em qualquer I(ngua humana, urn certo nurnerode sons, chamados sflabas, pode ser combinadodentro de urn conjunto de regras, gerando unidadessignificativas denominadas palavras. Outroconjunto de regras - a gramdtica au sintdtica -estabelece as maneiras pelas quais as palavraspodem ser combinadas para formar unidadessignificativas maiores, as frases ou sentences.A titulo ilustrativo, assilabas ti, ce, 10, sa, jo,0, de, a, fei, ta podem ser combinadas formandoas palavras: tIIO/O, cess, feita e outras, e estas

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    3

    78 Juan E. Dtaz Bordenave

    palavras podernser organizadas na frase:"ACASA E FEITA DETlJOLOS."A defini~o de linguagem diz que ela estaformada . por "signos vocais arbitrarios", e noexernplo acima pode-se notar que, de fato, nadaobriga uma soCiedade qualquer a escolher as sonsti, c a , - tos, as, e outros, dentre as infinitos sonsposslveis para 0 aparelho fonador do homem.Tarnbern nada obriga a combinar estes sons for-mando as palavras esse, tijotos e outras .. E, final-mente, nada obriga a organizar estas palavrasem determinada sequencia: "A casa e feita detiiotos", podendo combine-las de qualquer outraforma, tal como: "Feita a tijolos de casa e . "A total Uberdade dos homens paraescolheras siqnos e a-gramatica de suas I(nguas teve comonatural consequencia a existencia de rnilharesde idiomas e dialetos ao longo da hist6ria. Curio-samente, nao e muito ampla.a variedade de formasutilizadas pelas [(nguas para a organizaqao daspalavras no discurso, Geralmente se reconhecea existencia de tres tipos de fcrrnacao das palavras:o tipo isotante, exemplificado pelo chines; 0tipo aglutinante, ilustrado pelo turco e 0 tupi-guarani; e 0 tipo inf lexianante, do qual 0 latim eo alemso sao representantes.Muitas das I(nguas conhecidas, por outro lado,derivam de uma mesma I(ngua anterior, isto e , deum rnesmo "tronco IingU[stico". As I(hguassuropeias provem de tres grandes troncos: 0

    o que e Comunicarfio 79

    indo-qermsnico ou ariano [alernao, ingles, frances,italiano etc.): 0 ureto-eltsico (finlandes, hungaro,turco etc.): e 0 basco, este uIt imo compreendes6 uma Irngua, a basca..As Irnguas nao sao estaticas e se rnodificarncom 0 tempo, diferenciando-se ein talgrau nasdiversas regi5es de urn rnesmo pais que os "diale-tos" produzidos cheqarn a nao ser entendidospor pessoas que falam outros dialetos "irmaos".. Tanto a sobrevivsncia de uma IJngua cornosuasmodificacoes dependem de varlados fatores hist6-rices, geognHicos, culturais, tais como os reglo-nalismos; 0 isolamento de grupos humanos emlugares montanhosos, ilhas e florestas; os contatoscom outras I(nguas e culturas; as descobertastecnico-cierrtfficas que exigem novos nomespara novos objetos e processos; a criatividadeda juventude ("grrias") etc. Com bastante freqiien-cia, a lei do menor esforco tende a suprimir sonsdesnecessarios e facilitar sons de dificil prornmcia.No caso do idioma guarani, 0 casamento poli-garnica dos conquistadores . espanh6is - queeram poucos - com as filhas dos caciques, somadoao isolamento do Paraguai como pais rnediterraneo,fez com que, ate hoje, 80% da Po'puJacao fale 0idioma native, embora cada dia rnisturando-omais com 0 espanhol, que e a I(ngua "culta",Em contraste , outras Iinguas latino-americanasestao em franco processo de extincso, comoa I(ngua dos chibchas, antigamente dominante

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    4

    gO Juan E. Dfaz Bordenave

    na regiao de Cundinamarca, na Colombia.

    Linguagem e dasse socialEmbora nao tenha side ainda bemestudada abarreira que a linguagem representa par'! a mobi-

    lidade social numa estrutura de marcada est rat i-ficatyao de classes, diversos estudos tern rnostradoque existern difereneas lrnportantes entre a lingua-gem empregada pelas classes socials mais elevadase a utilizada pelas classes subalternas.Certos lingijistas denominam "c6digos e labo-rados" os vocabularies e habltos gramaticaisutilizados pelas classes altas, e "c6digos restritos"as empregados pelas classes populates.Algumas das difareneas entre ambos os tiposde c6digos podem se r analisadas sob diversospontes de vista, tais como: .Perspectiva: Enquanto as classes pcpulares temurn modo de comunicar baseado numa (micaperspectiva ou ponto de" vista, mais deserltivoque interpretativo, a classe media e alta olhamcoisas sob varies pontos de vista e cornparamdiversas lnterpreracoes alternativas.

    Organizacao do discurso: A mensagem e compost'!de segment os sem muita eonexso entre si nodiscurso das classes subalternas, enquanto as

    o qUfi ! e Comunica~ao 81classes mais elevadas entreqarn urna narracsounltaria, mesmo que complexa.

    Classificacao e relac;ao: A pessoas de n(vel socialbaixo custa se referir a categorias gerais depessoas e atos, pois elas nao costumarnfalar emtermas de "classes" oU"categorias", mas de"ind iviuos" . Pessoas de classes .rna is altaspossuem urna terminologia rica em conceitos,usarn frequ.entemente classlficacdes e tipologias,bern como as conex6es entre elas sao aparen-temente 16gicas.

    Abstracdes: As classes populares sao menossensfveis a informa(:ao abstrata e as questdesou assuntos pouco concretes, enquanto asclasses mats altas cornpreendern e usamgenera-lizaC;oes e pad roes abstratos. A jinguagem dooperario au camponese concreta e literal[d en otativ al: su a lin gu ag em fig urati va (m e tafo ras,alegorias etc.) inclui em geral animais e eoisas;tende a personificar assuntos lmpessoals.

    Uso do tempo: Na classe baixa e descontfnuo,dando-se enfase ao particular e etemero, enquan-to na classe alta tempo e continuo e se daenfase ao processo e ao desenvolvimento.E evidenteque estas eomparaedes sao rnuito

    relativas e Que existem indivfduos nas classespopulares capazes de maior abstraceo, cornple-xidade e precisao no usa da linguagem que alguns

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    4

    82 Juan E. Dtaz Bordenave

    membros das classes altas. Porern, 0 universocultural mais restrito das classes subalternas limitaa sua capacidade de expressar nocees analrticase abstracdes que transcendam 0 particular e 0especffico.Ora, como a sociedade atual e basicarnentecompetitiva e a habilldade de cornunieacao eurn recurso valorizado, e natural que pessoas quemio conseguem manejar proposicdes complexase. nocdes abrangentes, que nao articulam suaslntencdes claramente, fundamentando-as comargumentos bern formulados e estruturados, seencontrem em completa desvantagem ante pessoascom amplo vocabutario, perspectiva flexivel edomfnio seguro do pensamento abstrato.A posse, ent~o, de urn c6digo elaborado oude urn c6digo restrito tern i.nfluencia na rnobilidadesocial ou na perrnanencia do indivfduo em suaclasse original. Tomemos, como exemplo, criancasdas classes pobres que fracassam na escola. Aideologia dominante explica este fenbmeno atri-buindo a culpa as pr6prias criancas ou a seuspais, jamais a estrutura social injusta que colocalirnitacdes sobre 0 dominic da linguagem.Ora, a propria pobreza linglj (stica dificulta acompreensso de sua desvantagem por parte dasclasses subalternas. Se um estudante pobre tivesseem seu repert6rio conceitual-vocabular termos tais,como "classe social", "discriminacao". "c6digoslingij(sticos _elaborados ou restritos" e outros,

    o que e Comunicaoio 83

    poderia compreender melhor 0 que acontececom ele e seus companheiros. Mas como seuvocabulario e tlmitado, ele atribui seu fracassoa .razoes pessoais e familiares, e isto contribuipara que desenvolva uma imagem negativa de simesmo e deseu ambiente. Apobrezade seu.cediqo,neste sentido, nao 0 prepara para entender 0 c6digopol (tico da sociedade global e, por conseguinte, naoo mot iva para a superacao dos obstaculos queC ! estrutura social coloca em seu caminho.

    A manipulacao da linguagemNa set;:ao anterior vimos que a linguagem, queserve como instrumento integrador dentro deum mesmo grupo social, pode servir tarnberncomo diferenciador entre grupos que falam dife-rentes I(nguas ou a mesma Ifngua de uma maneiraelaborada ou restrita.Ao servir como auxiliar do pensamento e daconseiencia, a linguagem pode ser ainda instru-mento da rnantpulacao das pessoas. .A linguagem tern, por conseguinte, uma clara

    fum;O'o po/ftica.Historicamente, a manipulacao da linguagemtern side realizada de muitas maneiras:1. A imposiCao de uma nova linguagem em umacultura que possui sua pr6pria linguagem tern

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    4

    84 Juan E. D t az B or de na ve

    sido caracterfstica na conquista e colonizacaode Africa, America e Asia por parses.europeus.A Russia Sovietica obriga todas as republicasque compdern a URSS a ensinar russo nasescolas, mesmo permitindo a maoutencaode suas I(nguas natives. .2. A censura, quer oficial e expl fcita, querespontanea ou implfuita. aquela que oscidadaos mesmo se aplicam a si pr6prios pormedo, e frequente nos regimes ditatoriais,como meio de cooptaeso lingu(stica. Quandooautor deste livro foi convidado a fazeruma conferencia nurn pars de governo autori-tario indicou como tema de sua palestra:"0 'papel dos rneios de comunlcacao naconstrucao de uma sociedade dernocratica".Quando a instituicao patrocinadora publicouo anuncio do evento, 0 trtulo da palestraera 0 seguinte: "0 papel dos meios da cornu-nicalfao na sociedade moderna" ..3. A imposi'Yao de novos significados para aspalavras e urn recurso utilizado nos regimestotalitarios. Durante a vigencia do TerceiroReich na Alemanha naclonal-sociallsta, osdicionarlos e enciclooedias eram revisadospara eliminar certos termos, agregar outrose modlfiear 0 sentido de ainda outros. Vejam-se alguns exemplos da redefinic;:aode palavraspela comparacao de seu significado antes edurante 0Terceiro Reich:

    o que e Comunicaciia 8

    PBlallra AnfeJAbstammungsnacn.W811 Relac~onado com a

    c'ia\'iO c!

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    4

    86 Juan E. D ia z Bor de na v e

    exercito sovietlco - ou apenas de bolche-viques, bestas e animals.Mar~o 16, 1944 - 0 termo "catastrofe" ficaeliminado completamente da lingua germa-nica. Devera ser substitufdo pela expressao"grande emergencia", e "socorro de catas-. trofe" devera ser substitu fdo por "socorro debombardeio aereo".

    4. A publicidade comercial tem explorado enge-nhosamente a capacidade de as .palavrasconotarem significados gratificantes, na mani-pulacso de mensagens persuasivas. Algumastecnicas empregadas pela publicidade:- Generalidades brilhantes: uso de expres s f i e sambiguas e vagas, que insinuarn efeitos inveri-ficaveis mas atraentes, bern como de substan-tivos e adjetivos insinuando qualidadesdesejavels quer do produto quer da pessoa queo usa. Exemplos: "de_licadamente femini na","momentos inesqueciveis", "raro prazer","da mais vida". "elite". "status". "triunfa-dor", "sabe 0 que quer". "elegimcia"~ "dis-tincao".

    - Todos estao conosco: exoressdes gregarias in-dicando que 0 produto ou a causa reune osganhadores, os que "tiram vantagem" dascoisas. Exemplos: "De cada 10 estrelas decinema, 9 usam ... ", "Ganharemos de

    o que e Comunicadio 87

    maneira fraqorosal", "MM, 0 cigarro quemais se vende no mundo" "Todos usam X" ,"Nao fique sozinho ... ".Testemunho ou trensterdncie d e prestfgio: 0produto ou a causa e associado a figuras deprestigio e/ou estas dao urn testemunho deque favorecem OU usam 0 produto. Exemplos:"E u tome ** ". tome tarnbem voce" "0Partido de Abraham Lincoln", "Faea comoX ... use N".

    - Mostrar s6 0melhor: Destacar as qualidades esilenciar os defeitos e Iirnitacdes pr6prios,fazendo 0 oposto com 0 adversario.- E st or co -r ecompenss : Condicionar uma gratifi-ca~ao a aquis icao e uso do produto divulgado.Exemplos: "Se voce quer progredir, 0 cami-nho e . . . " , "Se voce e inteligente, en-tao ... ", "Caminho para 0 sucesso e ... " .- Palavrasde parses evencedos: No tempo emque a Franca exercia grande influencia naAmerica Latina, muitas palavras francesasforam adotadas porque davam stetus: Hoje,com a dorninacso dos Estados Unidos. saopalavras inglesas as que "vendem". Marcas decigarros, nomes de conjuntos musicals, nomesde locais comerciais, a maioria sao palavrasinglesas: "Charm", "Hollywood", "BeverlyHills". "The Fevers", "shopping center".

  • 5/16/2018 O que Comunica o - Juan Bordenave

    4

    88 Juan E. Dfaz Bordenave

    "minimum price system" etc.- R6tulos ou etiquetas: Com a finalidade dedesacreditar pessoas ou grupos, colocou-seneles r6tulos ou etiquetas verbais, tais como"fascista" "cornunista" "subversivo" "aqita-dor" etc. 'Isto e feito n~ propaganda 'pol(tica.Na publicidade 0 procedirnentore inverse:colocam-se r6tulos ou etiquetas positives queindividualizam 0produto. Exemplos: "Uder","carnpeao" I "A melhor" etc.

    5. Uma tecnica de manlpulacao da linguagemamplamente utilizada por governos e institui-!foes e 0 emprego de eufemismos, isto e ,expressoes que, sem alterar 0 significado,dissimulam melhor realidades desaqradaveisou dasfavoraveis, que poderiam ser conotadas.No Vietna, 0 genocidio em massa causado parurn axercito foi dilu (do em expressdes taiscomo "programa de paclficacao", "Zona defogo livre", "taxa de mortes" etc. Referindo-se aos paises ocidentais, a imprensa dos parsescapitalistas fala "mundo livre", enquanto osparses socialistas do Leste estao "atras daCortina de Ferro". A exploracfo dos parsespelas ernpresas multinacionais e sujeita aeufemismos tais como "cooperacao interna-cional" , "transferencia de tecnologia", "inter-dependencia", "liberdade de cornerclo" etc.

    o que e Comunica~iio 896. A lavagem cerebral viria a ser a maneira maisextremada de manipulac;:ao da linguagem._Atraves de urn cornplexo proeesso de ameac;:ase oferecimentos de recompensas e reducdo decastiqos, como tam bern de privac;:oes,acornpa-nhadas de doutrtnacdes repetidas. intense-mente, os significados que a vrtima atribuinormalmente as palavras sao substiturdos pornovos significados.' Como a estabilidadeemoeional da pessoa esta destrocada pelatortura psicol6giea, a aceitacao ate subcons-ciente dos novas significados vern a constituirurn alrvio, Numa situac;:ao assim, a pessoachega a acreditar como verdadeiras as frasesque foi obrigada a decorar e a expressarpub Iieamente.

    A reconstrucao da realidadeAs diversas formas de rnanipulacao da linguagemparecem indiear que existem duas realidadesbastante diferentes: a realidade objetiva e a reali-dade reconstrurda pelo discurso da cornunlcacso.A cornunicacao supostarnente mais objetiva,como a not (cia jo rna Irsrlca, nao e rnais que a"reconstrucao" da realidade pelo