o que é codependência
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livroO que é codependência?TRANSCRIPT
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Instituto IndependaCapivari SP Brasil
+55 19 2146-1672
www.independa.com.br
1 Edio Maio de 2015
ISBN 978-85-69203-01-8
editor: Cristian Fernandes
Reviso: Izabel Braghero
Projeto grfico: Andr Stenico
2015 Romina Miranda
permitida a reproduo parcial ou total, apenas
para uso no-comercial, desde que citada a fonte,
sendo vedada a criao de obras derivadas.
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O que cOdependncia?
Termo recente na rea da terapia, ainda com
conceitos difusos e em construo, por vezes
conhecido como transtorno, por outras como
doena, no utilizado cientificamente, mas
totalmente popularizado, a codependncia no
passa despercebida.
Com caractersticas que fazem com que muitas
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pessoas encontrem identificao e, muitas
vezes, explicao para seus comportamentos,
a cada dia ela avana para outras esferas,
que at h pouco contemplavam apenas as
comunidades teraputicas para tratamento de
dependentes qumicos e os grupos de apoio para
seus familiares.
Mas afinal, O que cOdependncia?
Como j mencionei, o conceito est em
construo e, por isso, um privilgio para
ns podermos participar deste momento,
reunindo opinies de autores, estudiosos e,
principalmente, participando do dia a dia de
pessoas que, supostamente, seriam portadoras
do transtorno da codependncia ou teriam
traos codependentes.
Porm, antes de entrarmos na construo do
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conceito, elencando o que sabemos que a
codependncia, importante dizermos o que ela
no .
Infelizmente, no dia a dia, notamos que
muitas pessoas ao se reconhecerem como
codependentes, seja num grupo de apoio ou
num processo teraputico, passam a vestir a
codependncia como uma segunda pele. Adotam
o termo como um sobrenome, usam o conceito
como um legado ou at como um destino fatal
ao qual esto fadadas at o fim de suas vidas. A frase habitual : ..., afinal sou codependente!
A est! A codependncia uma srie de coisas
que ainda vamos juntos analisar ao longo deste
livro, mas, ELA NO UM DIAGNSTICO
FATAL. Ela no algo que limita o ser a uma srie
de comportamentos rgidos e imutveis ou a
um destino predeterminado. Portanto, qualquer
pessoa que reconhea em si as caractersticas
da codependncia possui, na mesma proporo
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deste reconhecimento, a possibilidade de mutao
desta condio emocional em que se encontra
a de codependente seja j pelo motivo que
tenha chegado at a. Aceitar-se como vtima no
condio absoluta, mas apenas uma fase do
transtorno, a primeira, aquela que chamamos
de negao.
E por falar em negao, a est uma boa
maneira de comearmos a traar o conceito de
codependncia, atravs de suas caractersticas.
E uma das principais a negao. Quando um
familiar de dependente qumico conclui que o
seu ente querido faz uso abusivo de drogas (de
acordo com o Lenad Famlia 20131 isto ocorre aps cerca de 5 anos da experimentao), ele
venceu, na realidade, um longo processo de
negao da doena de seu familiar. Este tempo
todo que ele levou para descobrir, na verdade
1 I Levantamento Nacional com Familiares de Dependentes Qumicos, realizado pela Unifesp/Uniad/Inpad. Disponvel em: http://inpad.org.br/_lenad-familia/ Acesso em: 28 abr. 2015.
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ele levou para aceitar, porque sempre houve
indcios, mas a negao era utilizada para defend-
lo da dor de encarar que o seu familiar estava
fazendo uso de drogas e mais: o que fazer com
isto? Ento, negando, o familiar mantm tudo da
mesma forma, doentia sim, mas da forma que
ele conhece, que ele sabe lidar, sem crises, sem
grandes tomadas de atitude para as quais ele
ainda no est preparado.
Agora, imaginem que aps aceitar que este
familiar faz uso de drogas e vencer mais uma
barreira para procurar ajuda, esta pessoa ainda
confrontada com a ideia de que ela parte
do problema, ela retroalimenta esta relao
disfuncional em que se instalou o abuso de drogas
ou a dependncia qumica. Ela vai aceitar isto
assim, fcil? Claro que no! Quantos familiares ns
ouvimos dizer: O problema ele, no eu. Ou
ainda: Quem precisa se tratar ele, no eu, por
isso no vou a grupo nenhum.
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J foi difcil entender e aceitar o uso ou a
dependncia de drogas por parte do ente querido.
Aceitando esta situao seria preciso fazer alguma
coisa por ele. Agora, aceitando que faz parte do
processo, e que tambm est impactado pela
doena, far com que tenha tambm que fazer
algo por si, mudar comportamentos, cuidar
de si, rever conceitos, histrias, partir para o
autoconhecimento e a mudana. Quem est
disposto a isto quando se encontra no olho do
furaco? Provavelmente aquele familiar que j
sofreu perdas demais em funo do uso do ente
querido. Aquele que sabe que do jeito que est
no d para ficar e que se entrega para toda a
possibilidade de mudana para sair desta situao.
Mas, para aquele que ainda no foi
suficientemente impactado (de acordo com seus
limites internos), ter que aceitar que de alguma
forma corresponsvel por esta situao leva
tempo e, em alguns casos, no chega nunca a
acontecer. Infelizmente, nestas situaes extremas,
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o dependente qumico, quando em recuperao,
tem como principal fator de risco, voltar para esta
famlia adoecida, que no aceita a realidade e no
muda comportamentos em prol da sade e bem-
estar do sistema familiar.
Antes de continuarmos a traar as caractersticas
da codependncia, vamos voltar um pouco
na histria para entendermos o aspecto que
abordamos neste livro.
Em meados da dcada de 1940, nos Estados
Unidos, as esposas de Bill e Bob, os fundadores
de Alcolicos Annimos, ao perceberem
que tambm compartilhavam dos mesmos
comportamentos e que conseguiam melhor-
los quando compartilhavam suas experincias,
fundaram o Al-Anon, grupo para familiares e
amigos de alcolicos. Foi nesta ocasio que surgiu
o termo codependncia, usado para caracterizar
estas esposas.
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Na dcada de 1970, nas Comunidades
Teraputicas de Minessota, tambm nos Estados
Unidos, o termo volta a aparecer para designar os
familiares dos dependentes qumicos internados
nestes locais. Na dcada de 1980, o termo surge
na rea da terapia, mas ganha um espectro bem
mais amplo, no mais se relacionando somente
aos familiares de dependentes qumicos, mas
s pessoas que por qualquer outro motivo
viveram situaes estressantes na famlia de
origem que as levaram a assumir precocemente
responsabilidades inadequadas para a idade e
contexto cultural.
As possibilidades de vivenciar situaes
opressoras, em ambientes hostis e lares
disfuncionais no se limitam ento s situaes
em que exista a dependncia de lcool ou outras
drogas, mas de uma srie de outras situaes em
que o indivduo fique exposto por um determinado
perodo a uma intensa dor. Seriam estas pessoas
as codependentes. Porm, neste livro, nosso
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objeto de estudo so os familiares de usurios e
dependentes de substncias psicoativas. Por isso,
vamos restringir a codependncia, neste texto, a
este grupo de pessoas e suas vivncias.
Voltando s caractersticas da codependncia,
uma das mais determinantes, o controle. Em 1981, a educadora e terapeuta familiar Sharon
Wegscheider-Cruse introduziu o conceito de
codependncia como uma obsesso familiar sobre
o comportamento e bem-estar do dependente, em
que o eixo da organizao familiar passa a ser o
controle do consumo alcolico.
Aps a aceitao, sem ainda saber como lidar com
a situao de forma adequada, a famlia acredita
que deve controlar, que poder mudar a situao
desta forma. Cada vez mais sem controle da
situao, a famlia mantm a iluso do controle
sobre o uso e fica obcecada pelo comportamento
de seu familiar. Que horas chegou, como chegou,
com quem falou, se usou, o que usou, quanto
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usou? Comea a ditar regras disfuncionais e, na
maioria das vezes, no as sustenta.
Importante ressaltar que medida que o familiar
fica obcecado em controlar o comportamento do
outro, ele se afasta cada vez mais de si mesmo,
deixando de lado o controle de sua prpria vida,
perdendo aspectos de sua identidade, ficando
cada vez mais mergulhado num universo fora de
si, rejeitando tudo aquilo que seu, que precisaria
ser visto, cuidado, amado. Ele se autoabandona.
Um paralelo importante a traar ao longo
desta leitura o espelho que veremos refletir
algumas caractersticas do dependente e do
codependente. At aqui vimos que o dependente
nega a sua doena enquanto que o codependente
nega a sua condio emocional, sua parcela de
responsabilidade na problemtica da famlia.
Vimos tambm que o dependente mantm a
iluso do controle sobre a droga, achando que
pode parar de usar quando quiser, enquanto
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que seu familiar acha que pode controlar o seu
ente querido, o seu uso e o seu comportamento.
Ambos mantm um comportamento obsessivo
com seu objeto em questo: a droga, no caso do
dependente, e o dependente, no caso da famlia.
Outro sentimento presente no cotidiano de
um codependente, de uma forma bastante
exacerbada, a culpa. Para o familiar do dependente qumico muito difcil distinguir culpa
e responsabilidade. Os pais, ao descobrirem que
o filho faz uso de drogas, automaticamente se
perguntam: Onde foi que eu errei?. Os cnjuges,
por sua vez, buscam erros em todas as situaes,
anulando-se, colocando-se muitas vezes em
situaes opressoras, limitantes, humilhantes,
para no se sentirem como o objeto causador do
uso do parceiro. Porm, ao depararem-se com a
frase: Eu bebo porque voc faz isso!, pronto! J
assumem para si toda a culpa pelo uso do outro. A questo que ningum, nem pais, nem
parceiros, amigos, irmos tm culpa alguma pela
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escolha do outro em usar a droga. Por mais que
os pais tenham falhado na educao, no erraram
porque queriam errar, mas por no saberem fazer
da forma correta ou por inmeras outras razes
que em nada tem a ver com a culpa, mas sim, e
to somente, com a responsabilidade.
A diferena entre a culpa e a responsabilidade
que a culpa paralisa e a responsabilidade mobiliza.
Se formos culpados, vamos ficar remoendo a
situao, as mgoas, os erros, estaremos voltados
para o passado. Nossos conceitos sobre ns
mesmos sero cada vez mais negativos, nossa
autoestima ficar cada vez pior e nos revestiremos
do problema como se ns fssemos o erro. Se
nos percebemos responsveis, lamentaremos,
mas estaremos prontos para sermos tambm
responsveis pela mudana e poderemos, ento,
avanar em sua direo, afinal, perceberemos
que cometemos um erro em determinado
momento, em determinada circunstncia, mas
que agora temos a escolha de fazer diferente e
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esta responsabilidade nossa, e somente nossa. A
responsabilidade positiva e molda o futuro.
Porm, falando em responsabilidades, muito,
mas muito importante, que o familiar entenda que
a responsabilidade precisa ser equilibrada, dividida
entre todos os membros da famlia, inclusive e
sobretudo, com o dependente qumico.
Uma das outras caractersticas marcantes da
famlia codependente privar o dependente
qumico de suas responsabilidades e das consequncias de seus atos. Esposas tomam
para si as despesas do lar, o cuidado com os
filhos, com a casa, a preocupao em manter a
relao e a famlia unida. Muitas vezes, mentem
para os chefes de seus maridos, justificando
suas ausncias no trabalho por motivos diversos,
quando estes estavam, na verdade, na ressaca do
dia anterior.
Pais pagam todas as despesas para filhos que no
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estudam e nem trabalham, mas utilizam seu tempo
livre para fazer uso de drogas. Quando situaes
complicadas ocorrem como resultado do uso, os pais
arcam com os danos, com os resultados, evitando
que os filhos passem pela experincia dolorosa da
consequncia de uma ao irresponsvel. E, quando
fazem o menor esforo por algo, so recompensados
com honrarias, as quais no valorizam em nada
e logo as descartaro, muitas vezes, trocando-as
por drogas.
Exemplos? O filho pego com drogas e deve
ser levado Justia Teraputica para participar
de grupos de apoio e/ou prestarem servios
comunitrios. Os pais chegam antes, e querem
pagar para que o filho no passe pelo processo de
ser penalizado pelo ato cometido.
Outro exemplo: o filho passa alguns meses numa
comunidade teraputica para se tratar. Ao sair, os
pais querem recompens-lo pelo esforo de ter
passado pelo processo teraputico. O filho pede
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um carro, uma moto. Os pais o presenteiam.
Logo o bem se tornar moeda de troca para o uso
de drogas.
Isso quer dizer que os pais no devero nunca
mais presentear seus filhos ou recompens-los
positivamente por comportamentos adequados?
No. Porm, as famlias codependentes
normalmente esto com estes parmetros
comprometidos, querem compensar demais o
que, na verdade, no mais do que obrigao.
Afinal, se voc passar um perodo no hospital para
tratar sua diabetes dever ganhar um carro como
recompensa? Ou ainda ter que voltar para casa e
se adequar a uma nova dieta, a um novo estilo de
vida se quiser manter-se saudvel e no retornar
novamente ao hospital? E no a dependncia
qumica uma doena crnica, assim como
a diabetes?
Eis a, mais uma questo: a grande dificuldade da
famlia em entender que dependncia qumica
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uma doena, reconhecida pela Organizao
Mundial da Sade, e como tal, precisa de
tratamento, que inclui todo o sistema familiar
impactado por ela.
Estes comportamentos, aliados falta de limites,
dificuldade em dizer no, necessidade de
agradar sempre, de ser aceito pelo outro, fazem
com que o familiar mantenha um padro de
atitudes facilitadoras para com o uso de drogas
de seu ente querido. Na maioria das vezes, sem
saber ou sem perceber, por meio destas atitudes
equivocadas, ao invs de proporcionar uma crise,
uma ruptura para que surja a possibilidade de
mudana, o familiar continua mantendo as coisas
funcionando da mesma forma e o seu ente usurio
vai s caminhando, cada vez mais, em direo s
situaes extremas de uso e abuso de drogas.
E por falar em dificuldade em dizer no... como difcil isto para um familiar de dependente qumico. Aquilo que para quem
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est fora da situao parece to simples, para
ele tarefa homrica. Por qu? Normalmente,
o lar que propiciou o desenvolvimento da
dependncia qumica j trazia esta falta de
regras, disciplinas, limites. Seja por qual for o
motivo, havia a dificuldade em falar no. Ou,
no outro extremo da situao, os lares que
falavam muitos nos no davam espao
para que eles fossem entendidos, permeando
os ambientes com autoritarismo, hostilidade,
frieza, onde as crianas no podiam manifestar
seus sentimentos.
De uma forma ou de outra, o problema estava na
comunicao. E este um grande problema nas famlias que abrigam a dependncia e a
codependncia: os problemas na comunicao.
Falta de assertividade, dificuldade em dizer no,
brigas constantes, segredos de famlia, duplas
mensagens, falta de comunicao honesta,
dificuldade em expressar sentimentos e em
discutir problemas.
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[ o q
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A necessidade de agradar, muito presente no perfil codependente, parece estar
atrelada forma que o indivduo encontra de
sentir-se til, j que no se sente amado. Em
virtude das vivncias opressoras de longa data,
muitas vezes desde a infncia, esta pessoa
entendeu que os sentimentos no tinham valor,
que no deveriam ser expressos, se sentiu
abandonado, inferior, rejeitado, insignificante
e passou a ter vergonha de suas necessidades
e carncias. Com a autoestima bastante
comprometida, passou a achar que no seria
merecedor de amor, mas que poderia agradar
aos outros sendo til e necessrio. Surge assim a
necessidade de ser necessrio, que motiva tantos
codependentes a lutas infindveis pela vida dos
outros para que suas vidas paream ter sentido.
Quantos, infelizmente, no se sentem vazios e
perdidos quando seus entes queridos entram em
recuperao, por no mais terem aquele problema
para cuidar, aquela necessidade na vida de outrem?
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Neste momento teriam ento que olhar para si
mesmos, cuidar de si mesmos, deixar de serem
necessrios para os outros. Como o caminho
doloroso, muitos preferem no percorr-lo. neste
momento que muitas esposas de dependentes
em recuperao que no buscaram tratamento
para si mesmas no conseguem conviver com o
marido saudvel, desfazem o casamento e iniciam
um novo relacionamento com outro dependente
qumico. Voc j ouviu alguma histria assim?
Quanto aos limites, outro foco de ateno para o tema, estes normalmente esto
disfuncionais sob todos os aspectos. As
famlias de dependentes, provavelmente, nunca
souberam impor limites, portanto continuam a
no saber durante o uso, o tratamento e, se no
forem tratadas, continuaro assim por toda a
vida. Aceitam situaes que para a maioria das
pessoas seriam absurdas, humilhantes, extremas,
inaceitveis. Porm, assim como no sabem impor
limites, tambm no os respeitam. Invadem a vida
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do outro, sua privacidade, sempre mostrando o
desejo de cuidar e ajudar.
Outra caracterstica importante do codependente
que muito se assemelha do dependente
relembrando o espelho que travamos no incio
deste livro a autopiedade. Sempre que nos recusamos a assumir a responsabilidade por
ns mesmos, ns assumimos o papel de vtimas.
bastante comum as esposas de dependentes
qumicos vestirem este papel para si e para os
outros, afinal, ele o carrasco que usa drogas
e ela a boa moa, que ajuda, apoia, trabalha,
cuida da casa e dos filhos. Como ela aguenta?
Porm, quando lembramos que no sistema
familiar existe uma retroalimentao e que o
comportamento de um afeta o do outro, e que h
responsabilidade de ambas as partes, no existem
vtimas, nem culpados, mas pessoas responsveis
pelas situaes em que se encontram e capazes
de mud-las. Como durante muito tempo as
famlias convivem com a culpa e no com a
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responsabilidade, elas tendem a se sentir vtimas e
no donas de suas prprias vidas.
No livro Codependncia nunca mais, Melody Beattie aponta o Tringulo do Drama criado por
Steven Karpman para demonstrar como funciona
este processo tambm na vida do codependente
que transita entre os papis de vtima, salvador
e perseguidor, as trs pontas do tringulo, em
questo de segundos, sem perceber.
O salvador o tomador de conta, que tudo
resolve, que tudo conserta, que ajuda a todos,
que no deixa que a vtima faa o que pode fazer
por si mesma. Mas, rapidamente passa a ser
perseguidor quando a vtima no lhe grata pela
ajuda oferecida, por no ter sado tudo como ele
queria, por ter feito mais do que devia, ento fica
raivoso. Quando pensa que todos os esforos
foram em vo, ressente-se e volta ao papel
principal: a vtima. Nada d certo para ele, nada
funciona como deveria funcionar, ele uma vtima.
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[ o q
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Para iniciar um processo de mudana, assumindo
a responsabilidade por seu comportamento,
o codependente precisa libertar-se da trama
limitante dos papis deste tringulo.
Alm das caractersticas marcantes, que acabam
por modelar o modelo de comportamento do
codependente, existem os sentimentos presentes
em seu cotidiano, com os quais todos os que
sofrem com a dependncia qumica de um ente
querido convivem.
Estes sentimentos no esto somente descritos
nos livros ou artigos dos estudiosos internacionais,
mas so dados de pesquisa cientfica nacional,
a primeira realizada com 500 familiares de
dependentes qumicos dos grupos de Amor-
Exigente na cidade de So Paulo, pela Unifesp/
Uniad em 2009.
Na ocasio, os familiares citaram que os
sentimentos presentes em seu dia a dia eram:
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[ o q
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vergonha, tristeza, impotncia, dor, solido,
angstia, desespero, pena, decepo, medo,
culpa, da qual j falamos, e raiva.
Comeando pela raiva. Quanta raiva possuem os codependentes! Raiva do outro, raiva de si,
raiva do mundo. Raiva pela tristeza, pela dor, pelo
medo, pela culpa. Raiva por tentar salvar e no
conseguir, por no ter controle sobre o outro, raiva
por ter raiva, por no saber lidar com a raiva, que
vai virar ressentimento. Tanta carga emocional mal
canalizada, por vezes no podendo ser expressa
ou sentida, por outras, estupidamente lanada
pessoa errada, quase sempre causa estrago ao seu
redor. Como uma bomba-relgio, o codependente
vive prestes a explodir... ou a implodir, o que pode
se tornar uma doena fsica ou psquica.
J o medo, grande medo! Como ele se engrandece na vida dos codependentes. Medos
reais se misturam aos imaginrios. Medo de agir,
de criar caso, de gerar crise, de ter que tomar
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[ o q
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atitude. Medo da separao, medo da intimidade,
da tristeza e da felicidade. Medo que se torna
angstia e que alimenta a ansiedade, dia a dia,
roubando a serenidade de uma vida tranquila.
a vergonha, por sua vez, companhia constante, principalmente no incio. Caminha com
a negao e mesmo quando vem a aceitao,
a famlia ainda passa anos sem procurar ajuda
porque tem vergonha de falar do assunto. Na
comunidade, na igreja, na famlia, na escola,
s vezes, at dentro da prpria casa, o segredo
impera. O codependente se sente solitrio nesta
histria, acha que s ele vivencia tamanha dor, tem
vergonha de falar do problema, pois acha que a
culpa (que ele j sente!) recair sobre ele, mais uma
vez! Infelizmente, este sentimento responsvel
por mais um tempo no processo de busca por
ajuda. Enquanto a doena progride, a famlia est
mergulhada na vergonha e com ela, na solido, afinal, constrangida, ela no busca apoio, se sente
a nica com tamanho problema no mundo.
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[ o q
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Aliadas aos sentimentos descritos esto a tristeza, a dor, a decepo e a impotncia. Quantas emoes negativas, que drenam a energia e minam as possibilidades
de viver com qualidade, fazem parte do cotidiano
destas famlias. Sentimentos que se no
transformados, certamente daro espao para
o surgimento de doenas emocionais, o que
desorganizar ainda mais o sistema familiar,
diminuindo as chances de melhora dos outros
membros da famlia. Ou seja, a doena de um cria
a doena no outro.
Como parar este ciclo?
Agora, de acordo com as caractersticas
que pudemos analisar, com os sentimentos
que sabemos fazer parte da vida de um
codependente, de como ele impactado pela
doena de seu familiar, podemos, finalmente,
introduzir alguns conceitos j publicados na
literatura nacional e internacional. Assim, creio
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[ o q
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que aps a construo acima, temos mais
condies de entender o que codependncia
dentro do conceito apresentado por cada autor.
No livro Codependncia nunca mais, Melody Beattie, afirma que um indivduo codependente
algum que permite que o comportamento de
outra pessoa o afete, e sente-se obcecado por
controlar o comportamento do outro. Neste
conceito, podemos encontrar a questo da
circularidade, ou seja, de como o comportamento
de uma pessoa afeta o de outra dentro do sistema
familiar e de como isso impactante na famlia
que sofre com a dependncia qumica. Tambm
encontramos o aspecto do comportamento
obsessivo e do controle.
Os assistentes sociais, especialistas em
dependncia qumica em Minessota, Ronald e Pat
Potter, concluem que as famlias de dependentes
qumicos podem ser modelos para obter
informaes sobre a codependncia, contudo
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[ o q
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outras circunstncias familiares poderiam produzir
padres similares, particularmente famlias com
problemas crnicos negados, como incesto e
doenas mentais e sociais.
Judith L. Fischer, PhD, e Lynda Spann, MS, ambas
pesquisadoras da Texas Tech University, nos
Estados Unidos, definem codependncia como padro disfuncional de se relacionar com os
outros com um foco extremo fora de si mesmo,
a falta de expresso aberta de sentimentos, e as
tentativas de obter um senso de propsito por
meio de relaes com os outros.
Para a irmandade Codependentes Annimos,
baseada no programa de 12 Passos de Alcolicos
Annimos, codependncia a inabilidade de
manter e nutrir relacionamentos saudveis com os
outros e consigo mesmo.
Maria Aparecida Junqueira Zampieri, no livro
Codependncia o transtorno e a interveno em
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#32
[ o q
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rede diz que a codependncia tem sido definida mais frequentemente como uma condio
emocional, psicolgica e comportamental, como
um padro relacional. A autora apresenta critrios
diagnsticos para a classificao da codependncia
como um transtorno de personalidade, e vem
realizando estudos para classific-la como doena.
Para Lygia Vampr Humberg, psicanalista, mestra
em cincias, a codependncia deve ser encarada
como uma doena crnica assim como
diabetes e hipertenso, portanto exige contnua
vigilncia. A possibilidade de desenvolvimento da
dependncia da pessoa, revelando-se na relao
com um outro que tenha uma possibilidade
complementar, posto que uma dependncia do
vnculo dos dois, destaca a autora em sua tese
de mestrado.
Nesta ideia, assim como na dos demais autores, o
conceito de codependncia est ampliado, no se
limitando aos familiares de dependentes qumicos,
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[ o q
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porm, mais especificamente na tese de Humberg,
fica mais prximo o conceito da dependncia
afetiva com o de codependncia, j que ela aponta
como fator principal a dependncia do vnculo,
que necessita de um outro complementar.
Diante da inviabilidade diagnstica dos conceitos
de codependncia, o que podemos, com exatido,
pontuar que estamos diante de uma condio
emocional em que se destacam as relaes
que variam em graus de disfuno e os
comportamentos que so afetados por outros e
afetam aos outros, se tornando estereotipados e
tambm disfuncionais.
Se estamos falando em condio emocional,
sabemos que podemos modific-la, transform-
la. Afinal, no um diagnstico, como falamos
l no incio, uma condio. Podemos e temos
dentro de ns todas as ferramentas para sair desta
condio, porm, para encontrar tais ferramentas,
precisamos conhecer o caminho, ou seja, nos
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[ o q
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conhecer. Traamos ento, a primeira meta:
autoconhecimento, que traz consigo aceitao
da situao, de si, dos seus erros, acertos,
condio. Percorrendo este caminho, comeamos
a conhec-lo e poderemos ento encontrar as
tais ferramentas que nos ajudaro no processo
de mudana.
Importante lembrar, porm, que para iniciar
esta jornada de autoconhecimento preciso
se desligar do outro emocionalmente para
cuidar de si. Como poderemos cuidar de ns,
nos conhecermos, gastar nosso tempo e energia
conosco, se estamos obcecados em controlar o
comportamento do outro? Tambm importante
libertar-se da negao e aceitar nossa condio
emocional, sem culpas, sem mgoas, mas com
o olhar no futuro, na possibilidade de ser e
fazer diferente.
Neste caminho, precisaremos perder a vergonha,
entender que no estamos sozinhos, que existem
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#35
[ o q
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milhares de pessoas no mundo que sofrem esta
mesma dor que ns. E quando abrirmos mo da
culpa, de toda e qualquer culpa, e abraarmos a
responsabilidade por nossas escolhas, por nossas
vidas, teremos encontrado a caixa de ferramentas
que nos permitir, pouco a pouco, arrancar as
ervas daninhas de nosso jardim o medo, a
raiva, a dor, o desespero, a angstia, a pena, a
impotncia, a decepo e plantar as sementes
das flores que queremos ver desabrochar em
nossas vidas: respeito, amor-prprio, autoestima,
paz, harmonia, limites, assertividade, unio,
esperana, aceitao, desapego, alegria,
serenidade, amor.
E, assim, plantaremos todas as outras flores
e frutos que desejarmos ter no jardim de
nossa existncia, e faremos de nossas mazelas
emocionais o adubo para a resilincia necessria
na construo de uma vida saudvel, equilibrada e feliz.
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#36
[ o q
ue codepen
dncia ]
a autOra
Jornalista, escritora, terapeuta familiar e
pesquisadora em famlias de dependentes
qumicos. Atuou como diretora de redao da
Revista Annimos, assessora de comunicao da FEAE (Federao de Amor-Exigente),
apresentadora do programa Amor-Exigente na Rede Vida e do programa Uma S Palavra na
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#37
[ o q
ue codepen
dncia ]
TV Aparecida e Net Cidade e colunista da Jovem
Pan na campanha Pela Vida, Contra as Drogas.
Foi idealizadora, coordenadora e docente do curso de Orientao e Aconselhamento de
Familiares da Febract (Federao Brasileira de
Comunidades Teraputicas), pesquisadora da
Uniad-Unifesp-Inpad no Levantamento Nacional
de Familiares de Dependentes Qumicos, realizado
em 2013 sob a coordenao do dr. Ronaldo
Laranjeira, palestrante da primeira edio do
CONDEQ (Congresso de Dependncia Qumica)
e escritora da biografia de Padre Haroldo Rahm, SJ
(Uma s palavra - Ed. Loyola).
Atualmente coordenadora do Programa
Recomeo Famlia do Governo do Estado
de So Paulo e coordenadora do curso de
Aconselhamento e Intervenes Familiares em
Dependncia Qumica do Instituto Independa.
Mais informaes: www.codependencia.com.br
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#38
[ o q
ue codepen
dncia ]
[O QUE CODEPENDNCIA]
Este livro de Romina Miranda objetiva ampliar o conhecimento sobre o tema, alm de conscientizar e mobilizar para uma mudana de valores e atitudes todos aqueles que desejam conhecer melhor a
codependncia e a dependncia qumica.
Esta a primeira edio. Para ter acesso edio atualizada, entre agora em
www.oqueecodependencia.com.br
O Instituto Independa acredita que o conhecimento pode efetivamente transformar vidas, e est empenhado em apresentar o melhor contedo e tcnicas inovadoras, eficazes e eficientes, incentivando as pessoas a despertarem para uma nova conscincia, superando seus desafios e
encontrando seus caminhos de liberdade e felicidade.
Acompanhe o melhor contedo sobre dependncia qumica:
www.paraentender.com.br