o papel do capitalismo monopolista de estado no império americano

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  • 8/18/2019 O Papel Do Capitalismo Monopolista de Estado No Império Americano

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    O Papel do Capitalismo Monopolista

    de Estado no Império Americano por Joseph. R. Stromberg

    Em 1792, Thomas Paine soou uma nota de advertência sobre a economia do império:

    O menos lucrativo de todo comércio é aquele conectado com o domínio externo. Para uns poucos indivíduos, ele pode ser benéfico, meramente porque é comércio; mas para a nação é uma perda. O gasto de se manter o domínio mais do que 

    absorve o lucro de qualquer troca.1

     Tivessem os americanos consistentemente guardado o conselho de Paine, os Estados Unidos poderiam ter evitado muito do banho de sangue no exterior, assim como a burocratização doméstica, que acompanharam a criação do império americano.

    Mercantilismo e Laissez Faire Infelizmente, as ideias liberais clássicas nunca prevaleceram completamente em 

    nenhum lugar, incluindo a Inglaterra e os Estados Unidos. Grupos de interesses conscientes, de exportadores a fabricantes, missionário e militaristas utilizaram o poder do estado nacional sempre que possível para servir metas que incluíam glória, poder, terra e a absorção de mercados externos, julgados essenciais para a prosperidade nacional. Na prática, isto geralmente significou a prosperidade daqueles que faziam o julgamento, mesmo que invocassem a prosperidade da nação.

    Embora os radicais na coalizão revolucionária americana tenham sido brevemente predominantes (os Artigos da Confederação eram, afinal, o programa radical), uma coalização da alta classe de mercadores do Norte e fazendeiros do Sul, ruidosamente 

    proclamando uma "crise" que existia primariamente em suas carteiras, logo ganharam o dia para uma nova constituição e um estado central grandemente fortalecido. Desde a fundação deste novo estado em 1789, a nobreza desenvolveu ativamente uma forma americana de mercantilismo simbolizada pela cláusula de comércio da Constituição, um mercantilismo que adotava tarifas, um banco nacional e outras intervenções econômicas. Seu programa - embora não redutível às sobrevivências feudais que Joseph Schumpeter considerava a fonte do imperialismo - eram uma continuação consciente da perspectiva mercantilista 

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    britânica. James Madison, em particular, formou a justificativa lógica do estado 

    1 Thomas Paine, “The Rights of Man”, in   Selected Writings of Thomas Paine, ed. R.E. Roberts (New 

    York: Everybody’s Vacation Publishing Company, 1945), p. 328. 2 Joseph Schumpeter,   Imperialism, Social Classes: Two Essays (New York: Meridian Books, 1955), pp. 65, 91–97. 

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    conscientemente imperial americano, reafirmando o axioma expansionista básico do mercantilismo. Mesmo Thomas Jefferson, com suas tendências fisiocratas   laissez-faire, se tornou algo de um mercantilista quando no poder.

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      Apesar deste estatismo inicial, a "revolução" Jacksoniana produziu ganhos 

    significativos para o livre comércio - ainda mais do que o movimento Jeffersoniano havia - incluindo a destruição do segundo Banco dos Estados Unidos, e as decisões do Juiz Supremo Taney derrubando muitas formas de concessão de monopólio. O Jacksonianismo foi, nas palavras de Richard Hofstadter, "uma fase na expansão do capitalismo liberado"   . 

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    Mas, mesmo em uma era de relativo liberalismo, muitos interesses definiram   laissez faire como "ajuda sem responsabilidades". Assim, subsídios eram empreendidos em nome do laissez faire.

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     Os Jacksonianos radicais, como os Cobdenitas na Grã-Bretanha, foram incapazes 

    de varrer todos os privilégios existentes. O liberalismo do período foi ainda mais desfigurado pela escravidão - uma grande violação da teoria de direitos naturais - e pela guerra imperialista com o México, que foi pouco mais do que grilagem de terras sob o manto do "destino manifesto".

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    O Declínio (Imposto) do Laissez Faire O conflito seccional sobre o controle da área tomada do México foi um fator chave 

    no início da subsequente Guerra da Independência Sulista, a Guerra Civil. Este período, de 1861 a 1865, levou a um ressurgimento gigantesco do estatismo Hamiltoniano.

    Primeiro, ao negar aos estados o direito de secessão, Lincoln transformou totalmente a união federal, dando um golpe mortal na real descentralização e abolindo o contrapeso final no sistema de freios e contrapesos.

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     Segundo, o abrangente "poder de guerra" executivo de Lincoln - inventado a partir  

    do nada - abriu caminho para o Cesarismo presidencial do século XX. Similarmente, seu recrutamento estabeleceu um precedente para a militarização em tempos de guerra e, mais tarde, em tempos de paz. A liberdades civis, naturalmente, sofreram.

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    3 Sobre a “crise” percebida, vide Charles A. e Mary R. Beard, 

    The Rise of American Civilization (New York: Macmillan, 1930), pp. 302–7. Para uma visão calma do período, vide Merrill Jensen,   The Articles of Confederation   (Madison: University of Wisconsin Press, 1959). Sobre os   founding fathers, vide William Appleman Williams, “The Age of Mercantilism: 1740–1828”, in   The Contours of American History  (New York: New Viewpoints, 1973), esp. pp. 150–62 e 185–92. 4 Richard Hofstadter, The American Political Tradition (New York: Vintage Books, 1948), pp. 56–67. 5 Vide Williams, The Contours of American History , p. 212. 6 Sobre o liberalismo do século XIX em ambos os lados do Atlântico, vide Robert Kelley,

      The Transatlantic Persuasion: The Liberal–Democratic Mind in the Age of Gladstone (New York: Alfred A. Knopf, 1969); e Murray N. Rothbard, “Left and Right: The Prospects for Liberty”, in

      Egalitarianism as a Revolt Against Nature and Other Essays (Auburn, Ala.: Ludwig von Mises Institute, 2000), pp. 21–53. 7 Vide David Gordon, ed.,   Secession, State, and Liberty  (New Brunswick, N.J.: Transaction Publishers, 

    1998), para uma discussão sobre a teoria e história da secessão, sobre as visões de Lincoln sobre a questão antes de se tornar presidente e sobre tópicos relacionados. 8 Arthur A. Ekirch, Jr., The Decline of American Liberalism (New York: Atheneum, 1969), pp. 116–31. 

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     No que diz respeito à economia política, a centralização em tempos de guerra foi 

    igualmente prejudicial. Com o Sul livre-mercadista fora da união, a administração republicana de Lincoln assegurou a aprovação de uma "Lei do Banco Nacional, um imposto de renda sem precedentes e uma variedade de impostos especiais sobre o consumo", beirando "um imposto universal de vendas"   . A tarifa, cuja diminuição os nulificadores  9

    sulistas haviam forçado em 1830, foi aumentada a quase 50 por cento, com as taxas pós-guerra se elevando constantemente. As

     

    greenbacks do tempo da guerra estabeleceram um precedente para a futura inflação. Finalmente, a subjugação da Confederação e sua reintegração à união em termos nortistas tornaram o Sul um tipo de colônia interna permanente da Metrópole do Nordeste, assim como os negros permaneceram uma sub colônia dentro da região.

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      Além da proteção de fabricantes americanos, talvez os subsídios mais flagrantes 

    durantes e após a guerra consistia de fundos emprestados e terra dada às ferrovias pelo governo federal para encorajar o crescimento ferroviário. Entre 1862 e 1872, as ferrovias receberam do Congresso cerca de 100 milhões de acres de terra. Similarmente, a legislação federal cuidou para que grandes quantidades de terra "pública" no Sul - que poderia ter ido para escravos libertos e brancos pobres - acabassem principalmente nas mãos de madeireiros Ianques e outros interesses.

    11

     Tal era o famoso, mas parcialmente mítico,   laissez faire  que o historiador William 

     Appleman Williams, com uma divertida falta de ironia, vê como sintetizado no programa inflacionário-protecionista de uma ala dos Republicanos Radicais. Na verdade, a Era 

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    Dourada testemunhou um "grande churrasco", para usar a frase de Vernon Louis Parrington, enraizado no estatismo violento dos anos da guerra, cujos participantes defendiam a si mesmos com retórica Spenceriana enquanto agarravam com as duas mãos. 

    Novilhos para este churrasco foram fornecidos não só pelo governo federal, mas também 13

    pelos governos locais através de monopólios de franquia, etc.

    Raízes no Século XIX do Império AmericanoRegulamentação de ferrovias, reforma monetária e a busca por mercados externos 

    (especialmente para excedentes agrícolas) estavam entre as principais questões políticas 

    9 Ekirch, The Decline of American Liberalism, p. 129. 10 B.B. Kendrick, “The Colonial Status of the South”, in   The Pursuit of Southern History: Presidential  

     Addresses of the Southern Historical Association, 1935-1963, ed. George B. Tindall (Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1964), pp. 90–105; e C. Vann Woodward, “The Colonial Economy”, in 

     A History of the South,   vol. 9,  Origins of the New South (Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1951), pp. 291–320. 11 Ekirch,

      The Decline of American Liberalism, pp. 153–54; e Paul Wallace Gates, “Federal Land Policy in the South, 1866–1888”, Journal of Southern History  6, no. 3 (August 1940), pp. 303–30. 12 Williams, The Contours of American History , pp. 300–1. 13 Ekirch,   The Decline of American Liberalism, cap. 10, pp. 147–70. Para uma crítica individualista 

    radical do Spencerianismo, vide James J. Martin, 

    Men Against the State: The Expositors of  Individualist Anarchism in America, 1827–1908   (Colorado Springs, Colo.: Ralph Myles, 1970), pp. 239–41. 

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    de 1865 a 1896. Fazendeiros do Sul e do Oeste buscavam regulamentação - e, em última instância, sua ala radical buscava a nacionalização - das ferrovias para garantir sua operação "equitativa". Uma outra meta agrária era a cunhagem de prata para reverter a desmonetarização de 1873 e 1874 e para fornecer dinheiro "mais fácil" para fomentar o comércio com países com o padrão esterlino. Acima de tudo, muitos fazendeiros 

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    buscavam novos escoamentos para suas colheitas. A deflação de 1873 a 1879 lhes deu razões adicionais para olhar para o exterior.

    15

     De acordo com William Appleman Williams, uma "bonança de exportação" de 1877 a 

    1881, ocasionada por desastres naturais que afetaram a agricultura europeia, ressaltou as possibilidades que os mercados externos tinham para a prosperidade americana. O fim da bonança, quando os fazendeiros europeus se recuperaram, apenas reforçou a convicção crescente de que mercados de exportação maiores para os fazendeiros americanos eram tanto desejáveis quanto necessários. Falhando, a princípio, em obter assistência governamental para abrir tais mercados, os interesses agrários exerceram uma pressão substancial em favor da expansão.16

     Com o Pânico de 1893 e a subsequente crise econômica, muitos interesses 

    metropolitanos industriais chegaram à visão de que os mercados externos eram essenciais para sua prosperidade. O ponto da virada veio quando os Republicanos da metrópole, 

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    liderados pelo Governador de Ohio William McKinley, apresentaram um programa igualmente atraente para os interesses industriais e agrários. Isso preparou o terreno para a emergência de McKinley como líder de uma coalizão expansionista.

    Vários interesses e indústrias alegaram que a "superprodução" era o problema; McKinley e seus colegas generalizaram esta tese para a economia como um todo. Sua plataforma combinada de protecionismo e tratados de reciprocidade para abrir mercados externos se provaram atraentes e contribuíram para a vitória Republicana de 1896. De acordo com Williams, "De explicar [o Pânico] como uma consequência de teorias monetárias   perigosas ou antiquadas, [os americanos] vieram a explicá-la em termos de superprodução e falta de mercados"   .

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    14 William Appleman Williams, 

    The Roots of the Modern American Empire (New York: Random House, 1969), pp. 132–404. Para uma discussão das complexas questões monetárias, vide Irwin Unger,   The Greenback Era   (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1964). Na p. 127, Unger nota "uma conexão um tanto vaga entre princípios protecionistas e   soft money ". Sobre faccionalismo e metas político-econômicas específicas dentro da coalizão Republicana, vide Howard K. Beale, “The Tariff and Reconstruction”,

      American Historical Review  35, no. 2 (January 1930), pp. 276–94; e Stanely Coben, “Northeastern Business and Radical Reconstruction”,

      Mississippi Valley Historical Review  46, no. 1 (June 1959), pp. 67–90. Até o momento, não há nenhuma análise Austríaca completa deste período. 15 Para um relato sobre o Pânico de 1893, vide Robert C. Higgs,   Crisis and Leviathan: Critical Episodes in the Growth of American Government  (New York: Oxford University Press, 1987), pp. 77–105. 16 Williams, The Roots of the Modern American Empire, pp. 206–31. 17 Williams, The Contours of American History , pp. 363–64. 18

    William Appleman Williams, “The Acquitting Judge”, in 

    For A New America: Essays in History and  Politics from STUDIES ON THE LEFT, 1959–1967 , ed. David W. Eakins e James Weinstein (New York: Random House, 1970), p. 44. 

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    O consenso expansionista, do qual as políticas de McKinley eram a expressão madura, há muito vinha se desenvolvendo. Enraizado em uma necessidade sentida de dominar os mercados mundiais, as novas políticas evidenciaram uma concepção fundamentalmente   imperial  do papel mundial da América. Esta concepção foi reforçada por  uma interpretação "expansionista de fronteiras" da história, avançada por Frederick Jackson 

    Turner e Brooks Adams, que considerava a fronteira como sendo a fonte de republicanismo, individualismo e prosperidade da América.

    19

     Com o fechamento da fronteira continental, uma "nova fronteira" tinha que ser  

    encontrada se a América devesse permanecer livre e próspera. Adams e seus associados, incluindo Theodore Roosevelt, vieram a ver um império ultramarino como a fronteira substituta da América. À América Latina, a esfera de influência americana tradicional, 

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    deveriam ser adicionados os mercados da Ásia - sobretudo, da China - e do mundo. Consequentemente, os exportadores se agitaram por subsídios e por uma moderna marinha "de alto mar" (Oceano Pacífico).

    Dada a meta de abertura de mercados, os formuladores de políticas dos EUA buscavam criar condições políticas favoráveis ao comércio e investimento em todo país considerado um mercado potencial. Uma variedade de táticas, indo desde tratados de reciprocidade a intervenção armada, foram empregadas para eliminar as barreiras dos outros países ao comércio dos EUA. Esta estratégia não colonial de império, dependente 

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    do poder preponderante da América para conseguir "a supremacia sobre toda a região", foi notavelmente parecida com o "imperialismo de livre comércio" da Grã-Bretanha, como Gallagher e Robinson a veem.   Enquanto livre comércio, isso foi, claro, um tanto espúrio.

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    19 Vide Brooks Adams,   America’s Economic Supremacy   (New York: Harper & Brothers, 1947); e Frederick Jackson Turner,   The Frontier in American History   (New York: Henry Holt, 1920), uma compilação de ensaios publicados de 1893 a 1918. Para o papel de Adams e Turner na formulação do pano de fundo intelectual do imperialismo dos EUA, vide Walter LaFeber,   The New Empire  (Ithaca, N.Y.: Cornell University Press, 1963), pp. 63–72 e 80–95. Sobre Turner, vide também Lee Benson, Turner and Beard: American Historical Writing Reconsidered  (New York: The Free Press, 1960); Lloyd E. Ambrosius, “Turner’s Frontier Thesis and the Modern American Empire: A Review Essay”,

      Civil War  History  17, no. 4 (December 1971), pp. 332–39; e Wilbur R. Jacobs, “National Frontiers, Great World 

    Frontiers, and the Shadow of Frederick Jackson Turner”, 

    International History Review  7, no. 2 (May 1985), pp. 261–70. 20 Williams,   The Contours of American History , pp. 364–65; e LaFeber,   The New Empire, pp. 62–101. Vide também Thomas J. McCormick,   China Market: America’s Quest for Informal Empire, 1893–1901 (Chicago: Quadrangle, 1967); Lloyd C. Gardner,

      A Different Frontier: Selected Readings in the Foundations of American Economic Expansion (Chicago: Quadrangle, 1966); e William L. Lander, “A Critique of Imperialism”, in

      American Imperialism in 1898 , ed. Theodore P. Green (Boston: D.C. Heath, 1955), pp. 13–20, esp. 15–17. 21 Vide Gabriel Kolko,   The Roots of American Foreign Policy: An Analysis of Power and Purpose (Boston: Beacon Press, 1969); e Murray N. Rothbard,   Wall Street, Banks, and American Foreign Policy  (Burlingame, Calif.: Center for Libertarian Studies, 1995). 22 John Gallagher e Ronald Robinson, “The Imperialism of Free Trade”,   Economic History Review , 2nd 

    ser., 6, no. 1 (1953), pp. 1–15, frase citada na p. 3. Para uma resposta que enfatiza a diferença entre “imperialismo de livre comércio” e o livre comércio de verdade, vide Oliver MacDonagh, “The Anti Imperialism of Free Trade”, Economic History Review , 2nd ser., 14, no. 3 (1962), pp. 489–501. 

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     A revolta cubana contra a Espanha presenteou McKinley com a opção - e oportunidade - de ir para guerra para lançar o programa imperial. Além de proteger os 

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    investimentos e mercados americanos em Cuba, a administração desejava pacificar a ilha a fim de concentrar na meta mais ampla de penetrar os mercados asiáticos. A conjuntura de problema e oportunidade levou à guerra em 1898. Os EUA não apenas estabilizaram Cuba 

    como uma posse informal, mas também ganharam um ponto de apoio na Ásia ao tomar as Ilhas Filipinas da Espanha.

     A relutância de "nossos irmãos marronzinhos" em aceitar a suserania americana provocou nosso primeiro Vietnã, a Insurreição Filipina, cuja supressão foi vigorosamente oposta por anti-imperialistas tais como Edward Atkinson, magnata têxtil e liberal   laissez  faire.

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      Ao afirmar o direito dos americanos de comerciar como concorrentes iguais em   toda 

    a China, nas 

    Open Door Notes  de 1899 e 1900, os Estados Unidos buscaram impedir ou reverter a divisão da China (e do mundo) em esferas exclusivas de comércio por parte de outras potências imperiais menos sofisticadas. Quando potências rivais demarcaram 

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    impérios e quando fortes movimentos nacionais e nacional-comunistas surgiram em países subdesenvolvidos, o imperialismo de Portas Abertas envolveu a América em cada vez mais intervenções e grandes guerras. Desta forma, a efetivação do direito afirmado das empresas americanas de comerciar em todo lugar se tornou uma estratégia chave e tema consistente da política externa dos EUA no século XX.

    Fascismo Educado: Portas Fechadas em CasaOs desenvolvimentos sumarizados acima não foram consequências naturais ou 

    inevitáveis de uma sociedade de mercado. Antes, eles se encaixam no padrão do "capitalismo monopolista dependente de exportações", como analisado por Joseph Schumpeter, Ludwig von Mises e E. M. Winslow. Rapidamente, as tarifas dos EUA 

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    elevaram os preços americanos bem acima dos níveis do mercado mundial. Para que os fabricantes americanos alcançassem economias de escala, eles tinham que produzir bem mais de seus produtos do que poderia ser vendido nos EUA. Contudo, uma vez que estes produtores eram protegidos pela tarifa, eles vendiam seus produtos a preços mais altos do que era aceitável nos mercados mundiais. Em suma, eles tinham excedentes não vendidos. 

    23 Para mais sobre o imperialismo e a Guerra Hispano-Americana, vide Joseph Stromberg, “The Spanish–American War as a Trial Run, or Empire as its Own Justification”, in

      The Costs of War , 2nd ed., ed. John V. Denson (New Brunswick, N.J.: Transaction Publishers, 1999), pp. 169–202. 24 Sobre o movimento anti-imperialista, vide Wiliam F. Marina, “Opponents of Empire” (Ph.D. diss., University of Denver, 1968); e Robert L. Beisner,   Twelve Against Empire: The Anti-Imperialists, 1898–1900  (New York: MacGraw-Hill, 1968). 25 Sobre a guerra, as Portas Abertas e o império informal, vide William Appleman Williams,   The Tragedy  of American Diplomacy  (New York: Dell Publishing, 1972), pp. 18–57. Para maiores informações sobre a guerra, vide Williams, The Roots of Modern American Empire, pp. 408–28. 26 Schumpeter,   Imperialism, Social Classes: Two Essays, pp. 79–80; Ludwig von Mises, “Autarky and 

    its Consequences”, in 

    Money, Method, and the Market Process, ed. Richard M. Ebeling (Norwell, Mass.: Kluwer Academic Publishers, 1990), pp. 137–54; e E.M. Winslow,  The Pattern of Imperialism: A 

    Study in the Theories of Power  (New York: Columbia University Press, 1948). 

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    Isto, por sua vez, levou esses mesmos fabricantes que eram "protegidos" pela tarifa a clamar por mercados externos para seus excedentes não vendidos.

     Antes de perseguir esta linha de análise, outras tendências artificiais em direção ao monopólio merecem ser examinadas. Gabriel Kolko mostrou que, apesar do estatismo do 

    final do século XIX, uma vigorosa concorrência caracterizava a economia dos EUA na virada do século XX. No "merger movement " de 1897-1901, as Grandes Empresas falharam na tentativa de obter hegemonia sobre a economia. Derrotados pelo mercado, reformadores das Grandes Empresas recorreram ao "capitalismo político"   . Indústria por indústria, estes 

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    "liberais corporativos" buscaram legislação federal para bloquear a legislação populista nos estados e para "racionalizar", isto é, cartelizar seus setores da economia. A regulamentação de uma indústria era tipicamente iniciada por suas maiores firmas, que então controlavam o subsequente departamento regulador - em detrimento dos concorrentes e do público. Desta forma, "os grandes empacotadores eram calorosos amigos da regulamentação, especialmente quando ela afetava primariamente seus inúmeros pequenos concorrentes" e, portanto, defenderam o Meat Inspection Act de 1906. Similarmente, os bancos maiores "administravam sua própria regulamentação, sob a égide do governo federal" através do Federal Reserve System.

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     O Movimento Progressista foi a principal manifestação política dessa fase inicial de 

    estatismo corporativo. Concomitantemente com a reforma Progressista, os americanos começaram a ver a si mesmos como membros dos blocos de produtores, não como consumidores e, por volta de 1918, o sindicalismo (ou corporativismo) de um tipo havia se tornado a perspectiva dominante. A National Civic Federal, um grupo político liberal corporativo, desempenhou um papel central nesta transformação intelectual. A NCF enfatizava a cooperação com sindicatos não socialistas, favorecia legislação de bem-estar  social e se opunha a empresas "anarquistas" que levavam a concorrência a sério. Ph.Ds treinados na Alemanha que admiravam o "socialismo monárquico" Bismarckiano contribuíram igualmente para o triunfo da ideologia liberal-corporativa.

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     Não muito surpreendentemente, dada a unidade interna da "estabilização" em casa 

    e no exterior, muitos liberais corporativos eram expansionistas e vice-versa. Como J. W. Burgess escreveu em 1915,

    Os Jingos e os Reformadores Sociais haviam se juntado; e formado um partido político que ameaçava capturar o Governo e usá-lo para seu programa de 

    27 Gabriel Kolko,  The Triumph of Conservatism (Chicago: Quadrangle, 1967), p. 3. Para uma discussão 

    empírica da falha do  merger movement , vide Arthur Stone Dewing,   The Financial Policy of  

    Corporations (New York: Ronald Press, 1934), pp. 738–75. Dewing vê duas ondas de   mergers no final do século XIX: 1888–1893 e 1897–1903. Os anos que faltam correspondem ao Pânico de 1893 e a subsequente depressão. 28 Kolko, The Triumph of Conservatism, pp. 107 e 251. 29 James Weinstein,   The Corporate Ideal in the Liberal State, 1900–1918  (Boston: Beacon Press, 1968). Sobre a influência intelectual alemã, vide G. William Domhoff,   The Higher Circles (New York: Vintage Books, 1971), pp. 158–59. Para mais sobre o corporativismo liberal, vide os ensaios de William 

     Appleman Williams, Martin J. Sklar, James Weinstein, e Ronald Radosh em 

    For A New America, pp. 37–193; e Ronald Radosh e Murray N. Rothbard, ed.,  A New History of Leviathan: Essays on the Rise 

    of the American Corporate State (New York: Dutton, 1972). 

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    paternalismo Cesarista, um perigo que agora parece ter sido evitado apenas pelos outros partidos terem adotado seu programa em um grau e forma um tanto mais brandos.

    30

      A combinação do bem-estar paternalista com a diplomacia das canhoneiras simbolizada por  

    Teddy Roosevelt fornece um paralelo revelador com o "imperialismo social" britânico.  31

    Igualmente importante para a tendência de longo prazo foi o "coletivismo de guerra" de 1917-18, quando as Grandes Empresas, os sindicatos trabalhistas e o governo alegremente fixaram preços e quotas para toda a economia através do War Industries Board. Nos anos posteriores, muitos liberais corporativos se agitaram para que um Peace Industries Board planejasse a economia nos moldes corporativistas.

    32

     Supostamente o último obstinado do   laissez faire, Herbert Hoover foi um grande 

    arquiteto do corporativismo dos tempos de paz. Como Secretário do Comércio na década de 1920, ele encorajou as associações comerciais (cartéis incipientes) e sindicatos. Como Presidente, ele foi pioneiro das medidas do "New Deal", retomadas por FDR, medidas que tiveram o efeito inesperado de prolongar a Grande Depressão - ela mesma um resultado da política monetária federal.

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     Na eleição de 1932, importantes liberais das Grandes Empresas mudaram seu apoio 

    para Franklin Roosevelt quando Hoover se recusou a adotar uma forma completamente fascista de corporativismo. Em contraste, os defensores do New Deal fizeram passar o National Recovery Act (NRA), que abertamente sancionava e legalizava a cartelização, e o 

     Agricultural Adjustment Act, que cartelizava o setor agrícola. O Wagner Act de 1935 34

    integrava os sindicatos no nascente sistema corporativo. Embora a Suprema Corte tenha 35

    derrubado o abertamente fascista NRA, os defensores do New Deal apertaram os grilhões do estatismo corporativista sobre a sociedade americana, impondo "reformas" menos sistemáticas de cartelização setor a setor, através de cotas e "cartéis virtuais".

    36

    30 John W. Burgess,  The Reconciliation of Government and Liberty  (New York: Charles Scribner’s 

    Sons, 1915), p. 380. 31 Sobre a Inglaterra, vide Bernard Semmel,

      Imperialism and Social Reform (Garden City: Doubleday, 1968); cf. sobre a America, Ekirch, “The Progressives as Nationalists”,   The Decline of American Liberalism, cap. 11, pp. 171–94. 32 Vide o pioneiro ensaio de Murray N. Rothbard, “War Collectivism in World War I”, in   New History of  

    Leviathan, pp. 66–110. Também Weinstein, “War as Fulfillment”, in 

    Corporate Ideal , cap. 8, pp. 214–54; e Ferdinand Lundberg, America’s Sixty Families (New York: Halcyon House, 1939), pp. 133–48. 33 Vide Murray N. Rothbard, “The Hoover Myth”, in

      For A New America, pp. 162–79; também Murray N. Rothbard, “Herbert Hoover and the Myth of Laissez Faire”, in

      A New History of Leviathan, pp. 111–45. Sobre as causas monetárias da Grande Depressão, vide Murray N. Rothbard,

      America’s Great  Depression  (Los Angeles: Nash Publishing, 1972), esp. pp. 16–21. Para um tratamento semi-austríaco de um jornalista da Old Right, vide John T. Flynn,   Country Squire in the White House (New York: Doubleday, Doran, 1940), pp. 47–53; vide também Garet Garrett,   A Bubble That Broke The World  (Boston: Little, Brown, 1932). 34 Rothbard, “The Hoover Myth,” pp. 176–79. Sobre o caráter reacionário e fascista do NRA, vide, Flynn, Country Squire in the White House, pp. 73–86. 35 Williams,

      The Contours of American History , p. 445. Sobre o apoio empresarial à barganha coletiva, 

    vide Domhoff, The Higher Circles, pp. 218–49. 36 Sobre a noção de cartéis virtuais, vide Murray N. Rothbard,   Power and Market  (Menlo Park, Calif.: Institute for Humane Studies, 1970), p. 31. 

    8

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     Mas as panaceias do New Deal não curaram a economia em crise dos EUA. O 

    desemprego estava, na verdade, mais alto sob a segunda administração do New Deal do que quando os defensores do New Deal chegaram ao poder em 1933. A assistência governamental aos exportadores veio a parecer um remédio provável.

    Havia precedente para esta linha de ataque. Já sob Woodrow Wilson,

    Verbas de impostos recolhidas de cidadãos individuais passaram a ser utilizadas para fornecer a corporações privadas empréstimos e outros subsídios para a expansão no exterior, para criar o poder de proteger essas atividades e até mesmo para criar fundos de reserva com quais produzir garantias em dinheiro em caso de perdas.

    37

     O Presidente Wilson apoio o Webb-Pomerene Act de 1918, "que permitia cartéis no comércio exterior"   . Não é de se admirar que depois de 1937, quando o fracasso de suas 38

    curas para a depressão se tornou dolorosamente claro, os defensores do New Deal tenham se voltado com instinto certeiro para a expansão no exterior como a solução para seus problemas. No final da década de 1930, isso significava se deparar com outros estados expansionistas. De acordo com Williams, o envolvimento dos EUA na Segunda Guerra Mundial resultou de "uma decisão, em 1938, de eliminar a penetração econômica do Eixo no hemisfério [Ocidental]"   .

    39

     Murray Rothbard questiona:

    Em que medida a vontade americana de guerra contra a Alemanha foi o resulta de raiva e conflito contra o fato de que, no mundo de nacionalismo econômico e monetário dos anos 1930, os alemães, sob a orientação do Dr. Hjalmar Schact, seguiram seu caminho, com sucesso, por sua própria conta, totalmente fora do controle anglo-americano ou dos confinamentos do que restou das queridas Portas 

     Abertas americanas?40

     O Secretário de Estado dos EUA Cordell Hull acreditava que a Alemanha "estava 

    distendendo cada tendão para minar as relações comerciais dos Estados Unidos com a 

     América Latina". Os acordos de escambo governo a governo alemães com os estados balcânicos por mercadorias em grandes lotes contornavam a tentativa britânica de controle desses mercados por meios monetários e apenas uma considerável pressão dos EUA impediu um acordo de escambo similar entre a Alemanha e o Brasil. No final das contas, 

    37 Williams, The Tragedy of American Diplomacy , p. 76. 38 Martin J. Sklar, “Woodrow Wilson and the Political Economy of Modern United States Liberalism”, in For A New America, p. 80. 39 Williams, The Contours of American History , pp. 449, 452–62. 40

    Murray N. Rothbard, “The New Deal and the International Monetary System”, in 

    Watershed of Empire: Essays on New Deal Foreign Policy , ed. James J. Martin (Colorado Springs, Colo.: Ralph Myles, 1976), pp. 43–47, citação da p. 43. 

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    como o Secretário Hull notou, quando a guerra veio, o "alinhamento político seg[iu] o alinhamento econômico"   .

    41

     Mais tarde, quando a Segunda Guerra Mundial se transmutou na Guerra Fria, "a 

    defesa do Mundo Livre contra o Comunismo" se tornou o slogan mais potente a velar as 

    atividades imperiais dos EUA e a justificar a intervenção das Portas Abertas em todo lugar. Isso realmente coincidia com a realidade, porque o triunfo do nacionalismo revolucionário, normalmente sob a liderança comunista, poderia, de fato, excluir as empresas americanas de certos mercados. O estado militar permanente criado após a Segunda Guerra Mundial forneceu subsídios adicionais para as corporações favorecidas, por meio de contratos de defesa e de pesquisa, ao passo que novos produtos, desenvolvidos com fundos militares de pesquisa e desenvolvimento, forneciam uma saída para o capital sem ameaçar a estrutura cartelizada da economia.

    42

     Finalmente, a ajuda internacional se desenvolveu após a Segunda Guerra Mundial 

    primariamente como um subsídio para os exportadores dos EUA, com os pagadores de impostos americanos fornecendo empréstimos a países que eram obrigados a gastar o dinheiro em bens americanos. Assim, apesar da antipatia americana oficial ao socialismo, os Estados Unidos se tornaram "o principal comerciante estatal do mundo... Os programas de subsídio à exportação agrícola americanos oficiais envolviam anualmente US$3 bilhões em 1957 e 1967, com somas que se aproximavam desta quantia nos anos intermediários"   . 

    43

    Tudo isso enquanto o estado americano mantinha guarda para restringir a entrada de bens estrangeiros que pudessem prejudicar os produtores domésticos.

    Imperialismo: O Estágio Superior do Estatismo?Incursões neomercantilistas em uma economia outrora em grande parte   laissez faire 

    fomentaram cartéis e preços acima do livre mercado. O clamor de "superprodução" foi levantado para justificar uma política externa agressiva de exportação. Mas a tese superprodutivista era, na realidade, uma racionalização do erro empresarial, um argumento ad hoc   para concessões de privilégio ou uma explicação honesta, mas errônea, de tendências reais em setores e mercados particulares (não uma "superprodução geral") que tinha alguma relação com intervenções estatais anteriores. Essas tendências foram o 

    44

    produto do protecionismo, de subsídios e da reforma regulatória cartelizada a.

    Francis B. Thurber, Presidente da United States Exporte Association, explicou a razão fundamental para um império informal de Portas Abertas em 1899: "Devemos ter um lugar para despejar nosso excedente que, de outra forma, deprimirá os preços 

    41 Cordell Hull,   Memoirs  (New York: Macmillan, 1948), vol. 1, p. 81. Para mais sobre este importante assunto, vide Lloyd C. Gardner,   Economic Aspects of New Deal Diplomacy  (Madison: University of  Wisconsin Press, 1964), esp. pp. 85–108. 42 Vide Charles E. Nathanson, “The Militarization of the American Economy”, in

      Corporations and the Cold War , ed. David Horowitz (New York: Monthly Review Press, 1969), pp. 205–35. 43

     Kolko, The Roots of American Foreign Policy , p. 68. 44 Sobre a superprodução como uma racionalização, vide Ludwig von Mises,   Planning for Freedom (South Holland, Ind.: Libertarian Press, 1962), pp. 64–67. 

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    constantemente e compelirá o fechamento de nossas usinas... e transformando nossos lucros em perdas"   . O liberal inglês John A. Hobson respondeu às perguntas cruciais - 

    45

    quem somos "nós" e de quem são os lucros? - como se segue:

     A raiz econômica primária do Imperialismo é o desejo dos fortes interesses industriais e financeiros organizados de assegurar e desenvolver,

     

    às custas do público e através da força pública, mercados privados para seus bens excedentes e seu capital excedente. Guerra, militarismo e uma "política externa espirituosa" são os meios necessários para este fim.

    46

     Infelizmente, Hobson e seus seguidores (notavelmente, Charles Austin Beard) 

    buscaram explicar tais "excedentes" com base em uma teoria de "superprodução/subconsumo". Comentando sobre a teoria similar de Keynes, E. M. Winslow escreveu que Keynes deveria ter concentrado em "barreiras tão óbvias ao investimento quanto monopólios e tarifas", em vez de se preocupar com "subconsumo". 

    47

    Excedentes em mercados ou setores específicos e oportunidades decrescentes de investimento doméstico não podem ser colocadas à porta da demanda agregada ou de outras retificações Keynesianas, mas devem - na medida em que existem - ser traçadas ao monopólio estatal doméstico. O próprio Hobson, ao discutir as fontes do monopólio, desnudou o papel central do estado, citando tarifas, patentes, concessões, licenças e subsídios ferroviários como principais exemplos. Tivesse ele ficado com a análise crítica 

    48

    do monopólio, ele poderia ter chegado a uma análise semi-Schumpeteriana ou mesmo austríaca; em vez disso, ele tratou grandes agregados como co-determinantes. Assim, Hobson corretamente entendeu o imperialismo como um esforço por parte de uma aliança predatória entre estado e empresas para absorver novos mercados, mas falhou em explicar  qual problema econômico subjacente (se qualquer) que estes atores enfrentavam.

    Joseph Schumpeter, baseando-se em teses avançadas pelo autor Austro-Marxista Rudolf Hilferding, analisou o fenômeno do "monopólio de exportação" e argumentou que seu caráter era atávico e pré-capitalista. Por trás das barreiras tarifárias de uma nação, a cartelização prosseguiu a passos largos. As tarifas tornaram possível preços domésticos que estavam bem acima dos de livre mercado. Ao mesmo tempo, as tarifas criaram excessos artificiais, uma vez que as quantidades plenas produzidas não podiam ser  vendidas aos preços protegidos. Ainda assim, a fim de realizar os custos unitários mais 

    baixos, as quantias plenas tinham que ser produzidas. Como Andrew Carnegie colocou, "A condição da manufatura barata é 

    operar a pleno". O dilema resultante - a "superprodução" específica, setorial, relativa ao que podia ser vendido no mercado doméstico a preços aumentados pela tarifa - foi resolvido vendendo ou "despejando" a produção excessiva no exterior "a um preço mais baixo, às vezes... abaixo do custo"   .

    49

    45 Citado em Williams, The Roots of the Modern American Empire  , p. 439. 46 John A. Hobson,

      Imperialism: A Study   (Ann Arbor: University of Michigan Press, 1965), p. 106, ênfase adicionada. Cf. suas observações sobre o imperialismo dos EUA em

      The Evolution of Modern Capitalism (London: George Allen and Unwin, 1926), pp. 262–63. 47 Winslow,   The Pattern of Imperialism, p. 109. Para uma refutação da superprodução e subconsumo, 

    vide Rothbard, America’s Great Depression, pp. 55–58. 48 Hobson, The Evolution of Modern Capitalism, pp. 192–201. 49 Citado em Williams, The Contours of American History  , pp. 326–27. 

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     Na visão de Schumpeter, quando os cartéis existentes "impedem, com sucesso, a 

    fundação de novas empresas", o investimento externo é absolutamente necessário. Uma vez que monopolistas ávidos por exportações de diferentes estados colidem, "a ideia de força militar se sugere" tanto "para derrubar as barreiras alfandegárias estrangeiras" quanto para "assegurar controle sobre mercados nos quais até agora tinha-se que competir com o inimigo". O império resultante, formal ou informal, explora as nações ao fazer seus membros pagarem os custos do império em cima de preços domésticos mais altos. Ainda assim, uma firma que não pudesse sobreviver na ausência do império tinha sido "expandida além dos limites economicamente justificáveis" e deveria se permitir que falisse. Não havia nada inevitável sobre o imperialismo uma vez que, em verdade, o surgimento de trustes e cartéis... não pode nunca ser explicado pelo automatismo do sistema competitivo". Toda a síndrome surgiu da interferência estatal.

    50

     Podemos concordar que o monopólio de exportação e o imperialismo não, de fato, 

    fenômenos parcialmente pré-capitalistas: eles estão intimamente conectados com instituições e ideias associadas ao feudalismo e ao mercantilismo, por exemplo, tarifas, domínio eminente, patentes, impostos sobre propriedade (uma única renda feudal) e - para ser meticuloso - o aparato estatal em si. Mas argumentar, como Schumpeter parece fazer, que as políticas neomercantilistas e imperialistas empreendidas sob as condições capitalistas modernas são essencialmente pré- ou anticapitalistas é substituir o capitalismo histórico por um livre mercado ideal (ao qual todos nós poderíamos aspirar). Se todas essas medidas eram literalmente atavismos pré-capitalistas, seria difícil entender como, nas palavras de Murray Greene,

    O capitalismo americano, que se desenvolveu desimpedido do poder monárquico, e o capitalismo alemão, onde o elemento monárquico foi um fato, eram ambos caracterizados por fortes tendências em direção ao protecionismo e ao monopólio.

    51

     Desta forma, Schumpeter enfraqueceu e obscureceu sua análise tanto com um uso ahistórico de conceitos quanto com uma anglofilia desarrazoada.

    Mises discute o monopólio de exportação como se segue:

    Se a indústria concerne às exportações uma parte de seus produtos, ela está em uma posição especial. Ela não é livre para elevar os preços das mercadorias exportadas. Mas o protecionismo fornece uma outra saída. Os produtores domésticos formam um cartel, cobram preços de monopólio no mercado doméstico e compensam as perdas incorridas ao vender no exterior a preços baixos com uma parte do lucro monopolista. Isto foi especialmente o caso com a Alemanha.... Seu 

    50 Schumpeter,  Imperialism, pp. 79–90. Vide também Rudolf Hilferding,   Finance Capital: A Study of the 

    Latest Phase of Capitalist Development   (London: Routledge & Kegan Paul, 1981), pp. 288–336; Ludwig von Mises,

      Human Action (Chicago: Henry Regnery Company, 1966), pp. 365–68; e Ludwig von Mises, Omnipotent Government   (New Haven, Conn.: Yale University Press, 1944), pp. 66–72. 51

    Murray Greene, “Schumpeter’s Imperialism: a Critical Note”, in 

    The New Imperialism, ed. Harrison M. Wright (Boston: D.C. Heath, 1961), p. 64. Cf. as observações de F.A. Hayek sobre a Alemanha Imperial e os Estados Unidos em The Road to Serfdom (Chicago: University of Chicago Press, 1965), p. 46. 

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    muito admirado e glorificado sistema de 

     Arbeiterschutz   [proteção do trabalhador], segurança social e barganha coletiva, só pôde funcionar porque as indústrias alemãs, abrigada por proteção total, construiu cartéis e vendeu no mercado mundial de forma muito mais barata do que em casa... Cartel e monopólio eram complementos necessários do intervencionismo alemão.

    52

     Mises então generaliza sua análise para mais nações:

    Que governos e parlamentos favorecem preços de monopólio é claramente evidenciado por suas ações em relação a esquemas monopolistas internacionais. Se as tarifas protecionistas resultam na formação de cartéis nacionais em vários países, a cartelização internacional pode, em muitos casos, ser alcançada por acordos mútuos entre os cartéis nacionais. Tais acordos são, muitas vezes, muito bem servidos por uma outra atividade pró monopólio dos governos, as patentes e outros privilégios concedidos a novas invenções. Contudo, onde os obstáculos técnicos impedem a construção de um cartel nacional - como é quase sempre o caso com a produção agrícola - nenhum desses acordos internacionais pode ser construído. Então os governos interferem novamente. A história entre as duas guerras mundiais é um registro aberto da intervenção estatal para fomentar a restrição e o monopólio através de convenções internacionais. Havia esquemas para restrições de cooperativas de trigo, borracha, latão e açúcar, e assim por diante. Claro, a maioria deles logo colapsou. Mas este fracasso foi antes um resultado da ineficiência governamental do que a preferência governamental por negócios competitivos.

    53

     Sobre o relacionamento entre cartéis no setor de exportações, por um lado, e as 

    tarifas, por outro, o economista inglês Lionel Robbins tinha isto a dizer:

    Não obstante, se nos oferecessem a escolha entre um mundo parcelado em áreas nacionais de vendas por acordos internacionais de cartéis, sem nenhuma tarifa, e um mundo dividido em mercados nacionais por alta proteção, é provável que devêssemos escolher o primeiro. Já vimos que a escolha não é oferecida. Na vida real, se não nos discursos de delegados a conferências econômicas mundiais, os cartéis dependem das tarifas. Ainda assim, se nos oferecessem a escolha, os cartéis morreriam toda vez. Mas por que? Não porque exista qualquer diferença analítica 

    importante entre um mercado protegido por obrigações e um mercado protegido por  acordos. Mas simplesmente porque, na ausência de tarifas, poderíamos estar bem certos de que os acordos de cotas de vendas desmoronariam. As tarifas tendem a ficar. Monopólios tendem a quebrar. Mais cedo ou mais tarde, os produtores com 

    52 Mises, “Autarky and its Consequences”, p. 147. Para mais sobre o padrão da Alemanha Imperial, vide Mises,

      Omnipotent Government , pp. 74–78, esp. p. 77, onde ele conclui que "[o] que o trabalhador  ganhava da legislação trabalhista e dos salários sindicais era absorvido pelos preços mais altos. O governo e os líderes sindicais se vangloriavam do aparente sucesso de suas políticas: os trabalhadores 

    recebiam salários nominais mais altos. Mas os salários reais não subiam mais do que a produtividade marginal do trabalho". 53 Mises, “Autarky and its Consequences”, p. 148. 

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    baixos custos achariam a situação intolerável e o trabalho do mundo viria a ser mais racionalmente dividido.

    54

      As tarifas, em outras palavras, são executáveis pelos estados, como lei. A menos 

    que suportados pela força, os cartéis gozam de uma vida imperturbável apenas por um curto tempo. Novas intervenções são necessárias. Segue-se, então, que apenas os estados mais poderosos poderiam sustentar tais políticas. Como veremos, o estado mais poderoso no sistema mundial poderia mesmo confeccionar uma nova estrutura para o "capitalismo" estatal imperial que colocasse relativamente pouca confiança nas tarifas como tais. Mas isso é se antecipar à história.

    Enquanto uma questão prática, as intervenções estatais recentes nos EUA não foram incompatíveis com o "capitalismo" entendido simplesmente como uma economia baseada em produção por lucro, mecanismos de preços, trabalho livre e contabilidade racional. Algumas características do estatismo podem, de fato, ser resquícios pré-capitalistas, mas outras são novas e, assim, "pós-capitalistas", relativas ao capitalismo dos EUA no século XIX.

    55

      Antes de considerar os motivos e fontes últimas do império, devemos tocar mais 

    uma vez no tópico do monopólio. Talvez a maior parte da literatura sobre este assunto - liberal e Marxista igualmente - se assenta no pressuposto não comprovado de uma tendência inerente em direção ao monopólio, endógena à economia de mercado. Há toda razão para rejeitar esta noção. Schumpeter escreveu que "o capitalismo leva a produção em larga escala, mas, com poucas exceções, a produção em larga escala

     

    não leva ao tipo de concentração ilimitada que não deixaria nada além de uma ou apenas algumas firmas em cada indústria". O surgimento dos cartéis foi "um fenômeno bastante diferente da tendência à produção em larga escala com a qual ele é frequentemente confundido"   . Mises 

    56

    comentou, "O lugar importante que os cartéis ocupam em nosso tempo é um resultado das políticas intervencionistas adotadas pelos governos de todos os países"   . Murray Rothbard 

    57

    argumentou poderosamente que o monopólio (em qualquer sentido significativo)   não pode surgir no livre mercado, e que é mais consistente com a lógica econômica definir o monopólio como uma concessão exclusiva, por parte do estado, a alguma pessoa, firma, ou grupo empresarial, reservando a produção de um certo bem, direta ou indiretamente. Ele adiciona que toda regulamentação governamental desencoraja a inovação, produz 

    ineficiência e promove cartéis. Rothbard inclui tarifas, cotas, licenças, patentes, domínio eminente, concessões, leis de imigração e códigos de segurança nesta acusação.58

    54 Lionel Robbins, Economic Planning and International Order   (London: Macmillan, 1937), p. 116. 55 Esta definição mínima de capitalismo repousa nos critérios Weberianos; cf. Max Weber,   From Max  Weber: Essays in Sociology , ed. e trad. Hans H. Gerth e C. Wright Mills (New York: Oxford University Press, 1958), pp. 67–68. Mises, em   Human Action, p. 718, comenta que "[o] sistema de intervencionismo... é ainda uma economia de mercado". Para o termo "pós-capitalista", vide Peter F. Drucker, Post-Capitalist Society  (New York: Harper-Collins, 1993). 56 Schumpeter, Imperialism, p. 88. 57 Mises, Human Action, p. 366. 58 Sobre a impossibilide do monopólio em um mercado desobstruído, vide Murray N. Rothbard, 

    “Monopoly and Competition”, in 

    Man, Economy, and State  (Auburn, Ala.: Ludwig von Mises Institute, 1993), cap. 10, pp. 560–660; Mises,   Human Action, pp. 386–87; e Rothbard,   Power and Market . Para uma tipologia de intervenções, vide Rothbard, Power and Market  , pp. 9–61. 

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     Vimos que a aprovação, pouco a pouco, da legislação cartelizante produziu, em 

    tempo, um corporativismo americano, embora um "corporativismo pluralista" em relação àquele de nações corporativistas tais como a Suécia, os Países Baixos ou a Áustria. Que a Interstate Commerce Commission (ICC) fomentou a cartelização dos serviços transporte, por exemplo, agora é amplamente compreendido. Os motivos dos atores parecem  59

    razoavelmente transparentes. A ICC como tal se foi, mas sua obra sobrevive.

    Jane Jacobs escreve que "[o] conflito econômico primário... é entre pessoas cujos interesses estão em atividades econômicas já bem estabelecidas e aquelas cujos interesses estão na emergência de novas atividades econômicas". Grandes interesses, ela observa, "têm que ganhar", porque "os governos vêm a derivar seu poder" deles. O resultado é a "estagnação" econômica, em benefício dos poderosos. Schumpeter, 

    60

    similarmente, observou que, "colocando em termos da interpretação econômica da história", o imperialismo surge "das relações de produção   passadas, em vez das presentes". F. A. Hayek também escreve que "[m]ais do que por qualquer outra coisa, a ordem de mercado tem sido distorcida por esforços para proteger grupos de um declínio de sua posição anterior". E Oskar Lange, paladino do socialismo de mercado, coloca a questão desta maneira: "[N]o atual capitalismo, a manutenção do valor do investimento particular se tornou, de fato, a preocupação principal. Conformemente, o intervencionismo e o restricionismo são as políticas econômicas dominantes". Interessantemente, Lange adiciona, em uma nota de rodapé, que "A proteção dos privilégios monopolistas e de investimentos particulares é também a principal causa das rivalidades imperialistas das Grandes Potências".

    61

     E. M. Winslow, um estudioso meticuloso do imperialismo, escreveu que as empresas 

    e o trabalho buscam privilégios monopolistas em parte para se protegerem contra os perigos dos ciclos comerciais recorrentes. Compreendendo a conexão entre depressão econômica e expansão creditícia, Winslow, de maneira quase austríaca, recomendou o "controle social dos aspectos monetários do processo econômico" como a solução. Certamente, os ganhos para o estatismo proporcionados pela depressão de 1929 demonstram que um desejo de estabilidade poderia explicar parte do impulso em direção ao corporativismo. Mesmo aqui, o estado carrega a responsabilidade primária, uma vez que a 

    59 Sobre a ICC, vide Robert Fellmeth, 

    The Interstate Commerce Omission   (New York: Grossman Publishers, 1970); e Yale Brozen, “Is Government the Source of Monopoly?”,

      Intercollegiate Review  5, no. 2 (Winter 1968–69), pp. 67–78. A maioria dos cientistas políticos que teorizam o corporativismo contemporâneo tende a encontrá-lo na Europa, América Latina, Egito, Turquia e em outros lugares e negar a relevância do conceito para os Estados Unidos. Uma excessão notável é Howard J. Wiarda, “Creeping Corporatism in the United States”, cap. 6 in   Corporatism and Comparative Politics: The Other Great “Ism”  (London: M.E. Sharpe, 1997), pp. 128–51. Para uma comparação do corporativismo dos EUA com da Alemanha na década de 1930, vide John A. Garraty, “The New Deal, National Socialism, and the Great Depression”,

      American Historical Review   78, no. 4 (October 1973), pp. 907–44. 60 Jane Jacobs, The Economy of Cities (New York: Random House, 1969), pp. 244–48 e 217–29. 61 Schumpeter,   Imperialism, p. 65; F.A. Hayek,   Studies in Philosophy, Politics, and Economics  (New 

    York: Simon and Schuster, 1967), p. 173; e Oskar Lange, “The Economist’s Case for Socialism”, in Essential Works of Socialism, ed. Irving Howe (New Haven, Conn.: Yale University Press, 1976), p. 711. 

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    expansão creditícia patrocinada pelo estado está no coração do ciclo econômico. Paradoxalmente, o sistema bancário realmente   laissez faire, sem reservas fracionárias, forneceria o "controle social" que Winslow sentiu que era necessário.

    62

      Ainda assim, os remédios antidepressão só explicam uma porção das medidas 

    intervencionistas. Em 1943, Robert A. Brady escreveu que um movimento em direção ao neomercantilismo, começando com a tarifa de Bismarck em 1879, havia sido a principal corrente nas nações industrializadas. Em cada país, o lobby das associações comerciais e dos grupos de pressão havia produzido "um sistema generalizado de ajuda estatal", que adotou a proteção contra a concorrência estrangeira, contra a concorrência doméstica e contra se tornar extra marginal, isto é, falir (desta forma sendo protegido através do uso de fundos dos pagadores de impostos para resgatar firmas falidas e para financiar obras públicas e armamentos). No final desta estrada estava o corporativismo, que já havia chegado na forma fascista na Itália, na Alemanha e no Japão. Os Estados Unidos estavam indo pelo mesmo caminho.

    63

     Brady estava certo, pois os mercantilistas modernos da América usam as tarifas 

    (disfarçadas, hoje em dia, na medida em que elas sequer existem), cotas, subsídios e a "reforma" regulatória para fomentar a "estabilidade" e reduzir o "desperdício" (isto é, reduzir  a concorrência e as perdas para as firmas dentro do círculo encantado). Oskar Lange observa que:

    Com o intervencionismo e o restricionismo, o melhor empresário é aquele que sabe melhor como influenciar, em seu interesse, as decisões dos órgãos do estado (em relação a tarifas, subsídios ou encomendas governamentais, cotas de importação vantajosas, etc.) ... O que anteriormente era considerado como um traço especial da indústria de munições se torna, no capitalismo intervencionista, a regra geral.

    64

      Alguns argumentaram que, sob tal estatismo corporativo centralizado, a inovação e 

    o financiamento de novos empreendimentos podem ser tão desencorajados que, como Jacobs coloca, "não há nenhum lugar para se exportar a embaraçosa superfluidade de capital, exceto para o exterior"   . A estrutura da economia limita o investimento doméstico, 

    65

    62 Winslow,   Pattern of Imperialism, p. 193. Sobre ciclos comerciais, vide Rothbard,   America’s Great  Depression, pp. 16–21; e Rothbard,   Man, Economy, and State, pp. 850–77. Sobre o sistema bancário 

    laissez-faire, vide Murray N. Rothbard, 

    What Has Government Done to Our Money?   (Auburn, Ala.: Ludwig von Mises Institute, 1990). 63 Robert A. Brady,

      Business as a System of Power  (New York: Columbia University Press, 1943), pp. 239–58. O clássico livro de Brady é um estudo pioneiro do corporativismo. Uma literatura crescente sobre o corporativismo se espalha através das fronteiras de diversas disciplinas, mas pode não haver, no momento, uma síntese satisfatória. Para uma amostra, vide John P. Diggins, “Flirtation with Fascism: 

     American Pragmatic Liberals and Mussolini’s Italy”,   American Historical Review  71, no. 2 (January 1966), pp. 487–506; Philipe C. Schmitter, “Still the Century of Corporatism?”, in   The New Corporatism: Social–Political Structures in the Iberian World , ed. Frederick Pike e Thomas Stritcher (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1974), pp. 85–131; J.T. Winkler, “Corporatism”,

      Archives Européenes de Sociologie 17 (1976), pp. 100–36; Thomas J. McCormick, “Drift or Mastery? A Corporatist Synthesis for American Diplomatic History”,   Reviews in American History  10, no. 4 (December 1982), pp. 318–30; 

    e Michael J. Hogan, “Corporatism”, Journal of American History  77, no. 1 (June 1990), pp. 153–60. 64 Lange, “The Economist’s Case for Socialism”, p. 342. 65 Jacobs, The Economy of Cities, p. 229. 

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    promovendo, assim, a exportação agressiva de capital. Simultaneamente, os preços monopolistas fomentam "excedentes" artificiais de bens específicos. Conforme a economia americana se tornou sistematicamente corporativista, um senso de crise e estagnação, assim como um desejo de racionalizar e aperfeiçoar ainda mais o sistema, fortaleceu a mão daqueles que desejavam universalizar a nova economia política através de um império mundial.

    Imperialismo nos EUA: História e TeoriaLudwig von Mises e Murray Rothbard colocaram grande ênfase no caráter  

    cumulativo do processo estatista. O fracasso de uma intervenção econômica tipicamente coloca em existência novas medidas para "consertar" os resultados da intervenção inicial. 

     Ao longo do tempo, cada vez mais homens influentes no governo e nos negócios vieram a ver o asseguramento de mercados externos como o melhor conserto de todos.

    66

     O economista de livre mercado Wilhelm Röpke respondeu a tais ideias 

    expansionistas de fronteiras como se segue:

     A ideia de que o capitalismo só é possível contanto que sua esfera geográfica de influência possa ser regularmente expandida é inteiramente infundada. O fato decisivo para o sucesso do capitalismo não é o número de quilômetros quarados que ele cobre, mas a quantia de poder de compra que, novamente, é determinado pela quantidade de produção e por uma troca harmoniosa dos bens produzidos com base na divisão do trabalho.

    67

     Tal construção da questão não encontrou grande favorecimento entre aqueles 

    atores históricos na política e nos negócios que construíram o império americano. Eles, contudo, de fato venderam o imperialismo, sob nomes enganosos, como um programa "com espírito público" para curar os problemas que eram alegadamente endógenos à economia de mercado. Uma vez que seu programa de corporativismo doméstico e império de Portas 

     Abertas no exterior se elevou ao nível de uma visão de mundo ou   ideologia, ele se tornou tão generalizado que passou despercebido por muitos comentadores. Foi necessário o gênio de William Appleman Williams para compreender o imperialismo de Portas Abertas como tanto uma tentativa de resolver problemas econômicos percebidos como também uma 

    ideologia acabada.

    Rothbard, um outro grande estudioso do imperialismo dos EUA, viu que a teoria Leninista do imperialismo havia sido desenvolvida:

    66 Vide, p. ex., Henry Wallace,   New Frontiers (New York: Reynal and Hitchcock, 1934). Wallace via as exportações como um importante remédio para o "problema agrícola" americano. Contudo, havia uma cisão nas fileiras dos corporativistas da era da Depressão. Alguns, temendo que a busca política de mercados estrangeiros levasse a guerras desnecessárias, defendiam, em vez disso, uma autarquia e controles econômicos aumentados no país. Para esta visão, vide Charles A. Beard e George H.E. Smith,   The Open Door at Home: A Trial Philosophy of National Interest  (New York: Macmillan, 1934); 

    Lawrence Dennis, 

    Is Capitalism Doomed? (New York: Harper & Brothers, 1932); e Lawrence Dennis, The Coming American Fascism (New York: Harper & Brothers, 1936). 67 Wilhelm Röpke, International Order and Economic Integration   (Dordrecht: D. Reidel, 1959), p. 85. 

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     não por Lenin, mas pelos defensores do imperialismo, centrados em torno de amigos orientados a Morgan e conselheiros especialistas de Theodore Roosevelt, tais como Henry Adams, Brooks Adams, Almirante Alfred T. Mahan e o Senador por  Massachusetts Henry Cabor Lodge.

    68

      Ao socializar os custos de encontrar, abrir e assegurar mercados externos através de uma política externa ativa, o governo dos EUA garantiria prosperidade, faria todos os barcos flutuarem e - apenas incidentalmente - beneficiaria pessoalmente alguns dos defensores da chamada "grande política". Por exemplo, Rothbard também lança luz sobre como certos defensores do banco central lucraram pessoalmente ao impor o sistema "dólar-ouro" dos EUA a sua única colônia formal, as Ilhas Filipinas, substituindo o existente e funcional padrão prata, com o qual os filipinos haviam estado bastante felizes.

    69

     Esse uso precoce da unidade monetária como uma ferramenta de controle imperial 

    e lucro corporativo 

    extra mercado foi uma prévia das fases posteriores do projeto global da elite dos EUA. Na crise da Grande Depressão, todas as principais potências abandonaram o padrão semi-ouro do entre guerras em favor do dinheiro fiduciário, adotando simultaneamente o programa Keynesiano de manipulação monetária. Como Rothbard apontou, a ira dos líderes dos EUA pelo contorno bem-sucedido da Alemanha ao redor do controle dos EUA e da Grã-Bretanha sobre os mecanismos monetários mundiais através de acordos de escambo estado a estado com os países dos Balcãs ajudou a colocar os Estados Unidos e a Alemanha no caminho da guerra.

    70

     Com a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, planejadores do governo e 

    das empresas elaboraram a lógica da dominação dos EUA sobre o mundo e começaram a planejar seus detalhes. Eles viram, como Williams escreve, que um:

    sistema Keynesiano não precisa literalmente estar confinado a uma nação, mas quando é estendido, isso tem que ser feito   como um sistema.... Pois, por sua própria dependência de vários controles para estabilizar o ciclo econômico, a abordagem Keynesiana não pode, por definição, sequer ser tentada fora dos limites de tal autoridade central.

    71

    68 Murray N. Rothbard, “The Origins of the Federal Reserve”, 

    Quarterly Journal of Austrian Economics 2, no. 3 (Fall 1999), pp. 19–20. Este pode ser o ensaio mais importante que Rothbard já escreveu sobre a interação entre estado, empresas e império. 69 Rothbard, “The Origins of the Federal Reserve”, pp. 25–35. Rothbard especula que a pressão dos EUA sobre o México em favor do sistema dólar-ouro foi um fator em detonar a revolução mexicana de 1911 a 1927. Um ponto similar poderia ser feito em relação à Revolução Chinesa (1912-1949). Os entendimentos de Rothbard sobre o lado monetários do imperialismo podem ser a chave para muitas conexões mal-entendidas na história do século XX. 70 Rothbard, “The New Deal and the International Monetary System”, pp. 43–47. 71 William Appleman Williams, “The Large Corporation and American Foreign Policy”, in

      Corporations and the Cold War , ed. David Horowitz (New York: Monthly Review Press, 1969), pp. 88–89, ênfase adicionada. Sobre o planejamento dos tempos de guerra para a reconstrução neomercantilista pós 

    guerra, vide David W. Eakins, “Business Planners and America’s Postwar Expansion”, in 

    Corporations and the Cold War , pp. 143–71; James J. Martin, “On the ‘Defense’ Origins of the New Imperialism”, Revisionist Viewpoints   (Colorado Springs, Colo.: Ralph Myles, 1971), cap. 1, pp. 1–27; e Noam 

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      A derrota final de seus inimigos dos tempos de guerra deixou os líderes dos EUA no 

    auge de seu poder, prontos para implementar suas metas político-econômicas através da pressão, da força militar e da manipulação Keynesiana tornada possível pelo controle dos EUA sobre o padrão (papel) monetário mundial. Apenas a Rússia Soviética ficava no caminho. O resultado, claro, foi o nada edificante triunfo do estatismo dentro dos EUA, acompanhado do imperialismo dos EUA no mundo exterior - a Guerra Fria - acabando com o colapso Soviético e a proclamação dos líderes dos EUA de ainda mais missões mundiais que exigiam sua continuada dominância global. Um aspecto importante, embora negligenciado, do sistema de alianças da Guerra Fria é a maneira em que ele permitiu que os EUA "contivessem" não apenas a Rússia Soviética e a China, mas, de igual importância, dois significantes concorrentes econômicos, a Alemanha e o Japão.

    72

      A Segunda Guerra Mundial resolveu o debate entre, por um lado, proponentes do 

    império de Portas Abertas com altas tarifas e, por outro, proponentes do império com comércio administrado. Este desenvolvimento tende a minar a tese de 73

    Hilferding-Schumpeter em relação ao "monopólio de exportações". Esta tese pode ter tido uma certa plausibilidade em sua era, mas para períodos posteriores, seria necessário consideráveis modificações ou mesmo desistência. Uma das poucas compreensões vivas nos escritos de Lenin, Hilferding e Burkharin é sua ênfase na centralidade dos banqueiros e financistas no processo imperial. Este era um desenvolvimento relativamente recente em 

    74

    sua época, mas o ensaio de Rothbard sobre a criação do Federal Reserve System sugere a importância crucial deste particular "posto de comando" do estado e do poder imperial. Em todo caso, um império fundado com altas tarifas continua sendo um império mesmo com tarifas menores ou disfarçadas até, ou a menos que, os atores históricos se retirem do negócio imperial completamente.

    Hans-Hermann Hoppe demonstrou que foram os estados "liberais" - a Grã-Bretanha do século XIX e os EUA do século XX - que se elevaram à dominação global. Suas políticas internas originais levaram a uma produtividade econômica inigualável, a partir da qual os atores estatais podiam extrair, mesmo a taxas moderadas de tributação, receitas além da capacidade de seus rivais menos economicamente liberais. Isto lhes permitiu criar forças militares superiores com as quais construir seus impérios, mesmo enquanto suas instituições domésticas se ossificaram e suas taxas tributárias lentamente se elevaram. 

    Chomsky, “Intervention in Vietnam and Central America: Parallels and Difference”,  Monthly Review  37, 

    no. 4 (September 1985), esp. pp. 1–6. 72 Sobre a "dupla contenção" dos EUA de inimigos e aliados, vide Christopher Layne e Benjamin Schwarz, “American Hegemony: Without An Enemy”, Foreign Policy  92 (Fall 1993), pp. 5–23. 73 Wallace, em   New Frontiers, foi um dos proponentes de se abandonar as tarifas. Seu livro é um relato involuntariamente revelador de tentativas   ad hoc  de desafiar as leis econômicas, uma após a outra, em uma tentativa vã de assegurar "preços justos" para fazendeiros cartelizados. É também uma ilustração perfeita da noção de Mises de uma dinâmica intervencionista. Em nossa época, os esquemas de harmonização da União Europeia e o projeto dos EUA de administrar a chamada "globalização" equivalem a um programa agrícola do New Deal para todas as indústrias, em todo lugar. O resultado pode ser antecipado. 74

    Hilferding, 

    Finance Capital ; Nikolai Bukharin, 

    Imperialism and World Economy  (New York: Monthly Review Press, 1973); e V.I. Lenin, “Imperialism: The Highest Stage of Capitalism”, in   Lenin: Selected  Works (New York: International Publishers, 1971), pp. 169–263. 

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     Ambas as potências, em última instância, fundamentaram seus projetos imperiais no poder  militar e no controle monetário. A prolongada conexão, no século XIX, entre o ouro e a libra esterlina britânica estabeleceu um limite sobre o que a Grã-Bretanha poderia gastar para estender o controle político no exterior. A liderança dos EUA no século XX, tendo instituído um sistema fiduciário puro de dinheiro de papel - algo que Hilferding nunca imaginou ser  possível - tem ainda mais liberdade de ação. É, nas palavras de Hoppe, "um falsificador  autônomo de última instância para todo o sistema bancário internacional".

    Hoppe argumenta ainda que

    o ciclo típico do Terceiro Mundo de opressão governamental impiedosa, movimentos revolucionários, guerra civil, supressão renovada e prolongada dependência econômica e pobreza em massa é, em grande medida, causada e mantida pelo sistema monetário internacional dominado pelos EUA.

    75

     O crescimento paralelo da intervenção doméstica (corporativismo) e intervenção no 

    exterior (império) exibe uma unidade lógica. O estado nacional é o termo médio. Muito frequentemente, o mesmo pessoal no governo e nas empresas está envolvido em ambas as formas de intervenção. Finalmente, há uma continuidade ideológica, que chamemos a ideologia de "corporativismo liberal", "liberalismo de grupos de interesse" ou "sindicalismo corporativo".

     A questão de se existe uma correspondência um a um, indústria a indústria entre os dois tipos de intervenção que está enraizada em alguma “necessidade econômica" real ou sentida, como alguns autores citados aqui aparentemente mantêm, é mais problemática. Uma cartelização doméstica que aumenta preços leva, tipicamente, a uma "super-produção" e, consequentemente, a demandas por mercados externos? Isto pode ser  resolvido apenas através de pesquisa empírica detalhada, mas um caso examinado por  Forrest McDonald vai bastante ao ponto. Ele nota que os programas agrícolas do New Deal cartelizavam a produção de algodão através de restrições sobre a área cultivada e de pagamentos de paridade, estabelecendo o preço doméstico substancialmente acima dos níveis do mercado mundial. A seguir, os corretores americanos internacionais de algodão exigiram, e conseguiram, subsídios para tornar suas exportações competitivas. Por volta da era Kennedy, os produtores têxteis americanos reclamaram que, já que eles tinham que 

    pagar os preços domésticos protegidos pelo algodão, eles não podiam competir com os fabricantes têxteis japoneses que podiam comprar algodão ao preço do mercado mundial. Kennedy requisitou e recebeu do Congresso autoridade especial para ajustar as tarifas têxteis para resolver   este   problema; ele também impôs quotas. Finalmente, em vez de revogar tais intervenções existentes e suas contrapartes em outras indústrias (e por outras razões), Nixon desvalorizou o dólar, tornando as exportações mais baratas e as 

    75 Hans-Hermann Hoppe, “Banking, Nation States, and International Politics: A Sociological Reconstruction of the Present Economic Order”,

      Review of Austrian Economics 4 (1990), pp. 55–87, citações das pp. 83–84. Similarmente, John A. Hall,   Powers and Liberties (New York: Viking Penguin, 

    1985), p. 255; e David P. Calleo, 

    Beyond American Hegemony: The Future of the Western Alliance (New York: Basic Books, 1987), pp. 138–42, chamam atenção para a capacidade dos líderes dos EUA de exportar a inflação para o mundo. 

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    importações mais caras. Pouco depois - o futuro sendo incerto - os Estados Unidos experimentaram uma "escassez" de algodão, e a administração colocou restrições de exportação sobre o algodão para aumentar a oferta doméstica.

    76

     Três compreensões emergem deste exemplo. Primeiro, por volta da era Kennedy, 

    sob o chamado "livre comércio" dos EUA, tarifas (não importa o quão baixas as taxas) e cotas continuavam a ser ferramentas úteis para lidar com os   resultados da cartelização doméstica. Por volta dos anos 1960, as tarifas podem não ter mais fomentado significantemente a criação de cartéis. Em vez disso, o poder discricionário presidencial sobre o comércio exterior podia ser usado para tentar gerir problemas resultantes de cartéis trazidos à existência por outros mecanismos políticos. O padrão sobre o qual Schumpeter  escreveu não mais se mantinha, mas o corporativismo e o império, em si mesmos, permaneciam. Segundo, o exemplo lança luz sobre uma dinâmica interna por meio da qual uma intervenção evoca uma outra e então ainda outras, mesmo até a intervenção externa de algum tipo. As leis econômicas não são revogadas com impunidade. Terceiro, o 

    77

    controle do sistema monetário mundial recompensa aqueles que o possuem.

    Howard J. Wiarda acredita que foi precisamente durante a Guerra Fria que o "corporativismo rastejante" dos EUA se transformou em "corporativismo galopante". Eisenhower, ele acredita, foi um líder corporativista moderado consciente, sob cuja liderança as coalizões empresariais começaram, na prática, a

     

    se fundir  com as burocracias que supostamente as regulavam. Ele nota que o processo se acelerou sob Lyndon Johnson, perdeu impulso sob o "neoliberal" Reagan (embora aqui Wiarda esteja certamente enganado), e mostrou sinais de se recuperar novamente, com novos grupos de interesse, sob Bill Clinton.

    78

     Isto sugere que o império, chamado à existência em 1898 para "resolver" problemas 

    econômicos domésticos percebidos, tinha, por volta das últimas décadas do século XX, se tornado um dos principais baluartes da cartelização e do corporativismo domésticos. Isto quase reverte a ordem causal que alguns avançaram para períodos anteriores, mas deixa o expandido estado dos EUA no centro do palco de qualquer forma. Isto sugere que não podemos postular qualquer teoria de estágios que sucedem uns aos outros em uma ordem invariante. O império - repousando sobre um esmagador poder militar e financeiro 

    79

    incorporado em grandes burocracias e corporações aliadas - eventualmente se torna sua 

    76 Forrest McDonald, The Phaeton Ride (Garden City: Doubleday, 1974), pp. 147–49. 77 Vide Ludwig von Mises, “Middle-of-the-Road Policy Leads to Socialism”, in   Planning for Freedom, cap. 2, pp. 18–35. Para tentivas de se teorizar o impulso interno do estatismo, incluindo esforços para resolver suas "contradições" internas, por exemplo, problemas estruturais, vide Winslow,   Pattern of  Imperialism, pp. 202–4; Walter E. Grinder e John Hagel III, “Toward a Theory of State Capitalism: Ultimate Decision-Making and Class Structure”,   Journal of Libertarian Studies 1, no. 1 (Winter 1977), pp. 59–79; e Sanford Ikeda,   Dynamics of the Mixed Economy: Toward a Theory of Interventionism (New York: Routledge, 1997). 78 Wiarda, Corporatism and Comparative Politics  , pp. 128–51. 79 Murray N. Rothbard fez um ponto similar sobre um argumento por John Hagel III, “From Laissez-Faire to Zwangwirtschaft: The Dynamics of Interventionism” (Symposium on Austrian Economics, University of  

    Hartford, June 22-28, 1975): "Minha crítica básica é que o pessimismo de Hagel deriva de uma análise linear que ignora os processos dialéticos da história”. Vide Rothbard, “Mr. Hagel on Interventionism”, in Rothbard Papers, Memos, 1975, p. 6A; vide também p. 8A. 

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    própria causa, por assim dizer, e dita a seus antigos fundadores e aliados. Voltando-se para dentro, dependente de mudanças de humor, o estado imperial trata seus antigos "cidadãos" como trata seus clientes, lacaios e inimigos no exterior    , enquanto retém seu poder de 

    80

    manter os últimos na linha.

    Eu não tentarei provar aqui que as políticas imperiais são destrutivas para a maioria dos membros da sociedade e que são talvez, em última análise, contraprodutivas mesmo para aqueles que as empreendem. Tampouco tentarei buscar determinar se riqueza, poder, ideologia ou desejo por fama é o motivo mais importante para os atores imperiais. Eu imaginaria, em suma, que alguma combinação destes motivos se aplica. Alguns líderes desejam dinheiro, outros "deixar um legado". Que muitos procuram o império demonstra que eles desejam pelo menos alguns dos ganhos do império; é sua preferência demonstrada.

    Robert Zevin sugere que as metas econômicas de interesses particulares, um zelo reformista presente na América desde a Era progressista e o interesse institucional de burocracias estatais, especialmente as forças armadas, tomados em conjunto, fornecem uma gama suficiente de explicações para o curso do império americano. Isto faz um paralelo exato com a divisão de John A. Hall do poder em econômico, ideológico e político-militar. Dada a vacuidade da noção de "poder econômico" como ele normalmente aparece na literatura das ciências sociais, poderia ser melhor pensar sobre estas categorias como áreas de contenção e fontes da motivação dos atores. O ponto maior ainda 

    81

    permanece.

    ConclusãoO império, então, é o estado em larga escala, o estado

     

    in extenso. O Imperialismo é o resultado de uma interação entre o aparato estatal permanente e indivíduos ou grupos de interesse empenhados em explorar as sociedades produtivas. A tendência nos círculos econômicos neoclássicos a teorizar os estados meramente como um outro tipo de "firma" produziu algumas compreensões, mas ao preço de nos cegar ao simples fato do poder  estatal. O que é necessário é uma análise do poder estatal enquanto uma força autônoma na história, uma noção à qual Hilferding se voltou em seu último e inacabado ensaio. Uma 

    82

    80 Sobre o estado gerencial e sua necessidade sentida de reconstruir a sociedade e o povo americano, vide Paul Edward Gottfried,   After Liberalism: Mass Democracy in the Managerial State (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1999). Em contraste Alfredo G.A. Valladão argumenta, em   The Twenty-First Century Will Be American   (London: Verso, 1996), que o "livre comércio" global e a democracia universal, que o estado imperial dos EUA imporá forçosamente, serão maravilhosos para o mundo, mesmo se isso destruir o sistema político americano original e o povo americano realmente existente. 81 Robert Zevin, “An Interpretation of American Imperialism”,

      Journal of Economic History  32 (1972), pp. 316–60; e John A. Hall,

      Powers and Liberties. Para um crítica das noções sociológicas convencionais de "poder econômico", vide Kenneth H. Mackintosh, “Exchange versus Power: Toward a Praxeological Reconstruction of Sociology”,   Quarterly Journal of Austrian Economics  2, no. 1 (Spring 1999), pp. 

    67–77. 82 Rudolf Hilferding, “Das Historische Problem”,   Zeitschrift für Politik , n.s., 1, no. 4 (December 1954), pp. 293–324. Vide também Rothbard,   Egalitarianism as a Revolt Against Nature and Other Essays, cap. 3, 

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    lógica de expansão política pode ser ensaiada, fundamentada nos incentivos presentes e nas metas mantidas dos atores políticos, como Guido Hülsmann argumentou recentemente. Fatores militares e fiscais avultam grandemente em tais análises.

    83

     Wilhelm Röpke discernia que o império não tem nada em comum com o 

    "capitalismo", entendido como um sistema de mercados livres:

    É, portanto, frequentemente possível provar que, em casos individuais, os fatores "econômicos desempenham uma parte em uma política externa agressiva, quando grupos de pressão privados entendem como fazer uso de seu governo nacional para seus próprios propósitos, ou os verdadeiros interesses econômicos da nação como um todo são falsamente descritos. É demonstrado muitas e muitas vezes, contudo, quão pouco estes exemplos contribuem para provar que o sistema econômico predominante, por necessidade e em virtude de sua estrutura intrínseca, resulta em uma política externa agressiva. É verdade que, em tais casos, a cadeia de causa e efeito contém elos econômicos, mas ela acaba, finalmente, no campo que, em oposição à interpretação materialista da história, todas as decisões ocorrem: o campo de política, poder, ideologia, psicologia, sociologia, emocionalismo.

    84

     Desta forma, embora tanto Austríacos-libertários quanto Marxistas tenham 

    trabalhado para elucidar a evidência empírica do relacionamento entre o governo, as forças econômicas e o império americano, na análise final, o Austríaco-libertário necessariamente se separa do Marxista.   Como Röpke torna explícito:

    85

      A ideia de que o sistema econômico que repousa sobre a função reguladora do mercado e na separação da soberania política da atividade econômica é aquele que compulsoriamente leva nações para a guerra, deve ser completamente rejeitada.

    86

    Bibliografia Adams, Brooks. America’s Economic Supremacy . New York: Harper & Brothers, 1947. Ambrosius, Lloyd E. “Turner’s Frontier Thesis and the Modern American Empire: A Review Essay”. Civil War History  17, no. 4 (December 1971).

    “Anatomy of the State”, pp. 55-88; e Margaret Levi, “The Predatory Theory of Rule”,  Politics and Society  

    10, no. 4 (1981), pp. 431–65. 83 Jörg Guido Hülsmann, “Political Unification: A Generalized Progression Theorem”,   Journal of  Libertarian Studies 13, no. 1 (Summer 1997), pp. 81–96. O estudo das dimensões político-militares do império poderia bem começar com Denson,   The Costs of War ; Bruce Porter,   War and the Rise of the State: The Military Foundations of Modern Politics (New York: Free Press, 1994); e Martin van Creveld, The Rise and Decline of the State  (Cambridge: Cambridge University Press, 1999). 84 Röpke, International Order and Economic Integration  , pp. 87–88. 85 Sobre as contribuições do Marxistas, vide Hans-Hermann Hoppe, “Marxist and Austrian Class 

     Analysis”, Journal of Libertarian Studies 9, no. 2 (Fall 1990), pp. 79–93. 86 Röpke,   International Order and Economic Integration, p. 88. David Landes faz o mesmo ponto: "A 

    exploração imperialista... implica em restrição não-mercadista". Vide “The Nature of Economic Imperialism”, in   Economic Imperialism, ed. Kenneth E. Boulding e Tapan Mukerjee (Ann Arbor: University of Michigan Press, 1972), p. 128. 

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    Beale, Howard K. “The Tariff and Reconstruction”. 

     American Historical Review  35, no. 2 (January 1930).Beard, Charles A. e Mary R. Beard.

      The Rise of American Civilization. New York: Macmillan, 1930.Beard, Charles A. e George H.E. Smith.   The Open Door at Home: A Trial Philosophy of  National Interest . New York: Macmillan, 1934.Beisner, Robert L.   Twelve Against Empire: The Anti-Imperialists, 1898–1900 . New York: MacGraw-Hill, 1968.Benson, Lee.   Turner and Beard: American Historical Writing Reconsidered . New York: Free Press, 1960.Brady, Robert A.

     

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