o observar na visão de niklas luhmann

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Observação • como elemento construtor e regulador de sistemas por G. Stockinger

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Observação

• como elemento construtor e regulador de sistemas

• por G. Stockinger

Observar, denominar, distinguir• Observar: denominar um fénomeno e

distinguí-lo, assim, de outros fenômenos • Simultaneamente com a distinção se produz

uma denominação• Não há denominação sem uma distinção na

qual se baseia, e vice-versa• Observar, denominar e distinguir formam

um círculo regulador• Observar = forma de distinguir

A distinçâo tem dois lados

– Lado Y: a denominação („mulher“) – Lado X:discriminação („homem nâo!“) – Um dos lados é sempre excluido– A distinção usa „homens“ como objetos de

discriminação para a denominação de „mulheres“.

– Distinguir é cíclico: homens em distinção a mulheres, por sua vez em distinção a homens.

Observação: elemento regulador?

– Observação tem lugar em:– Sistemas técnicos (autômatos), Circulo regulador – biológicos (céluas, corpos), metabolismo

regulador– neuropsicológicos (cérebros, células), rede

neuronal reguladora– psíquicos (consciência), pensamento– sociais (comuncação), sentido regulador

Formas

Observação acontece– quando sistemas discriminam e reagem a suas

próprias discriminações („discernir“). – quando pensamentos fixam algo e o distinguem

de outro pensamento menos fixo („distinguir“)– Social: quando compreensão é produzida por

um ato de informação. („compreender“).

Selecionar

– Observar: tres níveis de selecionar– emoções seletivas: „o volume do ciúme“– percepção seletiva: „olhando só aquilo“– memória seletiva: „poxa, me esqueci!“

– Observadores escolhem interesses em certos aspectos, negligenciando outros.

– Esta escolha já é uma pré-seletiva

Observar: distorções

– Observadores fornecem descrições incompletas, distorcidas pelo observador:

– Ele troca facilmente as medidas do seu julgamento,– Sobrevaloriza primeiras impressões, – Completa lacunas, – Aplana contradições, – Cria ordem e sentido, onde antes nâo existia, – Tudo isso dependendo do seu estar (motivações).– A observação como método sabe disso (?).

Distingir é uma aventura

– Observadores denominam o mundo com distinções diferentes, dependendo do ponto de vista. Isso é certo. O certo é isso.

– Distinções não são observáveis no momento de sua aplicação. Elas sâo observadas só depois, atravês de outras distinções.

– Fazer distinções é sempre uma aventura: sâo feitas de forma ingênua, cega, ignorante. Só depois se sabe o grau de ingenuidade, cegueira e ignorância aplicadas.

O „ponto cego“ (blind spot)

– Cada observação tem seu “ponto cego" (blind spot): ela não pode ver a si própria. Ela é ingênua (genuina)

– Mas ela pode ser observada com outras observações, elas mesmas com pontos cegos

– O observador tem a sua visão de mundo graças à sua cegueira.

– "Não me tirem meu ponto cego, por favor!“– „O maior cego é aquele que nâo quer enxergar“

Observaçâo de segunda ordem

– Ao observar o observador, a distinção anterior - quem observa, quem é observado - entra em colapso, e com ele o observador de 1a. Ordem.

– Ela é distinta da observaçâo de primeira ordem: ela percebe a si própria como um primeira

– o distinguido reentra na distinção atual. re-entry– a „ingenuidade“ está rompida, mas nâo totalmente:

sempre há também a primeira enesima vez. („Hoje é a primeira vez que lhes vejo de 4a. vez“)

O medium “sentido“

• O observador utiliza para suas operações um medium (meio)que coloca um

• „espaço semântico“ criativo à disposição para suas operações de observação.

• Sistemas socias e sistemas de consciência usam para sua autopoises o meio "sentido“

• Eles têm acesso ao mundo apenas por esta via. („Se nâo tiver sentido, nâo interessa“)

Realidade construida em autopoiesis

• O observador opera no medium "sentido" que ele mesmo constroi. No decorrer desta construção ele mesmo de distingue dela.

• O sistema cria sua propria área de operação que ele denomina de „realidade“ (autopoiesis)

• Essa pode-lhe parecer completamente externa, denominando-a de „circunstâncias“

• A observação de 2a. Ordem revela esta construção de um „mundo próprio“

Autopoiese: aspectos I• 1. Nãda „existe“, tudo se move (reproduz).• 2. O processo de (re)produção ocorre num

medium (em sistemas sociais: sentido). • 3. Para um sistema se reproduzir, necessita

de estruturas ...• ...que fornecem possibilidades de conexão

(em sistemas de sentido: expectativas).

Autopoiese: aspectos II• 4. Operações conectam com operações. Surge

sistema que se delimita, nas suas operaçôes, do resto do mundo (se diferencia do seu ambiente).

• 5. Um sistema autopoiético é autônomo. • Ele trata sua experiência com lingagem

operativa própria. • O que vem de fora é transformado para ser

compatível como modus operandi do sistema. (p.e. imagens em palavras)

Autopoiesis e decisâo

– Por causa do seu fechamento operacional e operação autoreferencial, os sistemas agem em contato consigo próprio.

– Eles imaginam um exterior, ignorando que se trata de uma construção interna

– A complexidade força os sistemas a agirem seletivamente.

– Por isso tomam decisões em situações indefinidas.

Contato externo: acoplamento

• Ele ocorre em certos pontos onde o sistema é receptível para irritações

• Um sistema coloca a outro sua estrutura à disposiçâo, transformada em uma operação própria do sistema receptor.

• A autopoiese precisa da estimulação de fora, traduzida para um código próprio.

Acomplamento estrutural entre indivíduo e sociedade

• O sistema psícico põe à disposição do sistema social o seu conjunto de operações e seus resultados;

• O sistema social usa esta estrutura sem precisar reproduzir as operações de consciência, próprias ao sistema psíquico.

• E vice- versa: o enuncidado (ss) passa a ser o pensado (sp). Um círculo se move.

Consequências métodicas

• A compreensão clássica do método ...– ... pressupõe ordem externa ou mundo comum,

existente antes de qualquer percepção ou ação. – Assim, a „objetividade“ foi procurada a ser

ancorada nalguma instância externa, „destino“, „deusas/deuses“, ou em „terapia/consultoria“.

– A teoria sistêmica, a cibernética de 2a. ordem e o construtivismo, ao retirar estas âncoras externas, dispôe de âncoras internas.

Instância externa eliminada

– Na forma sistémica de validação não há mais uma instância externa, independente, e não há mais nenhum critério que distinga entre válido ou não, verdadeiros ou não, corretos ou nâo.

– Todos os critérios de verdadeiro ou correto ou válido são produzidos relativos ao sistema. Eles ficam dependentes de observação, e por isso ficam contingentes.

Diferença entre métodos pré-construtivistas e construtivistas– Na visão pré-construtivista o problema consistia

na descrição a mais exata possível da realidade. – A meta era levar a realidade e sua descrição a

uma relação de correspondência. – Para tal, a observação de 1a. ordem é suficiente. – Ela pensa encontrar o mundo imediatamente,

ignora portanto o esforço de construção do observador.

Construtivismo

– Métodos não construtivistas se esforçam por objetividade.

– Métodos construtivisatas colocam em jogo o observador de 2a. ordem. A ação metodológica ganha um dimensão reflexiva.

– O observador 2a. ordem vê como é que ele produz seu ponto de vista.

– Ele já não pode atribui-lo ao „mundo“, mas à sua própria escolha .

Da Intersubjetividade para a comunicação I

– Fechamento operacional impede intersubjetividade.

– Atores não dispõem de uma realidade comum e/ou objetiva para classificar seus contatos.

– Tal "realidade" tem de ser generada com sistemas de descrição próprios,...

– ... sem a garantia que funcionem também em outros sistemas de descrição.

Da intersubjetividade para a comunicação II

– Intersubjetividade pressupõe um pré-entendimento dos parceiros interagentes

– Comunicação revela as condições precárias deste entendimento (de coisas, processos, argumentos, comportamentos etc.), e as torna assim controláveis metodologicamente.

– A comunicação produz sua própria compreensão conectando-se a outras comunicações, no tempo e no espaço.

Autocontrole metodológico: produzir o externo internamente

– Comunicação revela o que intersubjetividade esconde: o controle metdológico começa com autocontrole:

– O ator/observador tenta "compreender" dados e sinais que o outro produz em palavras e atos.

– A interpretação de "irritações" externas se baseia nas suas operações internas

– Ele tem de produzir o externo internamente!

Observar cientificamente

– Nas ciências, a observação vale como um método empírico, ao lado do experimento.

– Há observação aberta e coberta, – participante e não participante, – sistemática e não sistemática, – em situações naturais e artificiais,– autoobservação e observação alheia.

O modelo „buraco-da-fechadura“

– O observador pensa operar fora da área observada por ele.

– Ele tenta observar os fenômenos diretamente e imediatamente.

– Ele se esforça de minimizar a sua influência em cima do fenômeno,

– Ele tenta limpar seu observar de influências "subjetivas", ganhando "objetividade".

O modelo participativo

– O observador é parte daquilo que ele observa.– Sua observação não é absoluta, mas relativa ao

seu ponto de vista (Einstein); – Suas observações influenciam o observado

(Heisenberg); – Suas observações criam o observado (Spencer

Brown); – O mundo não é descoberto pelo observador, mas

inventado.

Pesquisa empírica

• Compreensão observadora (do outro) significa para um observador sistémico ver como um outro sistema maneja a diferença entre sistema e ambiente. – Ele compreende um outro sistema a partir das

relações deste com o seu ambiente.– A observação se volta para o processo de

comunicação e para as estruturas que o orientam.

Questionamentos

– Como é que comunicação produz conexões?– Que é que comunicação faz com o tema?– Como comunicação produz causalidades?– Como comunicação produz problemas?– Como ela resolve problemas?– Como ela se relaciona com pessoas?– Como compreender comunicações à nível

supra-indivídual?