o museu como pólo de atracçao turística

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77 Nº temático - Turismo e Patrimonio O museu como pólo de atracção turística 1 Alexandra Rodrigues Gonçalves Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo - Universidade do Algarve Resumo As funções tradicionais do património cultural estão a ser reinventadas e hoje os visitantes esperam experimentar o património. Por sua vez, os museus, não raramente promovem actividades turísticas que estão na base de economias locais e regionais. Na actualidade, os turistas representam uma parte importante das visitas aos museus, assumindo nalguns casos uma percentagem expressiva do seu público. No entanto, a relação entre os museus e o turismo possui pontos de conflito. A discussão sobre os museus, o turismo e o seu território parte de uma clarificação do conceito de museu actual e da emergência de novos paradigmas na sociedade, aos quais o museu do futuro não poderá ficar indiferente. Consciente dos desafios desta relação procura-se demonstrar com este trabalho que existem benefícios claros resultantes de uma aproximação entre estes campos. A partilha de conhecimento entre estes dois poderes – o turismo e os museus – será fundamental para o diálogo entre estas áreas. Alguns autores argumentam que existe em curso um processo global de homogeneização em face da estandardização de ofertas entre diferentes destinos turísticos, pelo que, se estabelece como essencial o estímulo à diversidade cultural, que as abordagens mais próximas do território e dos seus recursos tendem a evidenciar. O trabalho empírico desenvolve-se em torno dos 4 museus do Algarve que integram a Rede Portuguesa de Museus. Palavras-chave Gestão do património cultural, Turismo e território, Museus e experiência turística. Abstract Museums and patrimony are being reinvented and visitors expect to experiment the cultural heritage. Frequently, museums promote tourist activities that are central to local and regional economies development. Nowadays tourists are an important share of the total museum visitors, becoming in some cases a major percentage of its public. Nonetheless, the relationship between museums and tourists has some points of conflict. The discussion between museums, tourism and the territory departs from

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    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    N t e m t i c o - T u r i s m o e P a t r i m o n i o

    O museu como plo de atraco turstica1

    Alexandra Rodrigues Gonalves

    Escola Superior de Gesto, Hotelaria e Turismo - Universidade do Algarve

    Resumo

    As funes tradicionais do patrimnio cultural esto a ser reinventadas e hoje os visitantes esperam experimentar o patrimnio. Por sua vez, os museus, no raramente promovem actividades tursticas que esto na base de economias locais e regionais. Na actualidade, os turistas representam uma parte importante das visitas aos museus, assumindo nalguns casos uma percentagem expressiva do seu pblico. No entanto, a relao entre os museus e o turismo possui pontos de conflito.

    A discusso sobre os museus, o turismo e o seu territrio parte de uma clarificao do conceito de museu actual e da emergncia de novos paradigmas na sociedade, aos quais o museu do futuro no poder ficar indiferente. Consciente dos desafios desta relao procura-se demonstrar com este trabalho que existem benefcios claros resultantes de uma aproximao entre estes campos.

    A partilha de conhecimento entre estes dois poderes o turismo e os museus ser fundamental para o dilogo entre estas reas.

    Alguns autores argumentam que existe em curso um processo global de homogeneizao em face da estandardizao de ofertas entre diferentes destinos tursticos, pelo que, se estabelece como essencial o estmulo diversidade cultural, que as abordagens mais prximas do territrio e dos seus recursos tendem a evidenciar.

    O trabalho emprico desenvolve-se em torno dos 4 museus do Algarve que integram a Rede Portuguesa de Museus.

    Palavras-chave

    Gesto do patrimnio cultural, Turismo e territrio, Museus e experincia turstica.

    Abstract

    Museums and patrimony are being reinvented and visitors expect to experiment the cultural heritage. Frequently, museums promote tourist activities that are central to local and regional economies development. Nowadays tourists are an important share of the total museum visitors, becoming in some cases a major percentage of its public. Nonetheless, the relationship between museums and tourists has some points of conflict. The discussion between museums, tourism and the territory departs from

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    exedra n temtico - Turismo 2009

    the meaning of the present museum definition and of the emergence of new society paradigms to which the future museum cant stay indifferent. Aware of the challenges of this relationship this research tries to show that are mutual benefits arising from a closer relation between both domains.

    The share of knowledge between these two powers the tourism and the museums will be fundamental to the dialogue of these areas.

    Some authors defend that there is an ongoing process of cultural homogenisation due to the standardization of the offers between different tourist destinations. That is why it is essential to stimulate the cultural diversity that those strategies near to the territory and to its resources tend to better evidence.

    The empirical work is centred in the 4 museums of the Algarve that integrate the National Museum Network.

    Key-words

    Heritage management, Tourism and territory, Museums and the tourist experience

    Introduo2

    A cultura assume-se cada vez mais como uma forma de lazer, como uma opo de

    ocupao de tempos livres, disposio de uma sociedade mais instruda e com mais

    rendimento disponvel. Assiste-se a uma conscincia mais generalizada da importncia

    da cultura como factor de desenvolvimento das sociedades. Por outro lado, a viso de

    que a arte e a cultura se constituem como um domnio do bem-estar pblico tambm

    est ultrapassada.

    Regra geral, os profissionais do turismo no possuem um conhecimento aprofundado

    de gesto do patrimnio cultural e por sua vez, os responsveis pelo patrimnio cultural

    encontram em vrios documentos internacionais (Cartas, Declaraes, Convenes)

    algum suporte gesto sustentada destes locais, com benefcios para a cultura e o

    turismo. O turismo assume um papel associado transformao, ao desenvolvimento,

    ao marketing e orientao do produto, enquanto que a gesto do patrimnio cultural

    a proprietria dos bens, assumindo a responsabilidade de os gerir e de evitar os impactes

    negativos resultantes da sua visitao.

    Nos ltimos 20 anos, tem-se assistido a um aumento exponencial de projectos

    culturais, pela proliferao de festivais e encontros artsticos, mas tambm ao incio

    da construo de espaos qualificados para a aco cultural: bibliotecas, cine teatros,

    auditrios, anfiteatros, centros culturais, museus.

    A organizao institucional da cultura e do patrimnio difere de pas para pas e

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    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    tende a reflectir as diferentes tradies administrativas, bem como as realidades sociais

    e polticas.

    A cultura tem ganho uma dimenso estratgica e os museus, no raramente

    promovem actividades tursticas que esto na base de economias locais e regionais.

    A discusso sobre os museus, o turismo e o territrio parte de uma clarificao do

    conceito de museu actual e da emergncia de novos paradigmas na sociedade, aos quais

    o museu do futuro no pode ficar indiferente, sobretudo, como forma de potenciar a sua

    atraco junto do pblico turista, mas tambm se se pretende afirmar como equipamento

    de lazer. Consciente dos desafios desta relao procura-se demonstrar com este trabalho

    que resultam benefcios claros resultantes de uma aproximao entre estes campos.

    A partilha de conhecimento entre o turismo e os museus ser fundamental para

    o dilogo entre estas duas reas e o seu sucesso depender da discusso conjunta de

    formas de trabalho em equipa.

    Neste artigo, um dos assuntos discutidos a funo do museu. Outros aspectos

    incluem: o museu como produto turstico; a relao entre museus, territrio e experincia

    turstica; os museus, o turismo e a comunidade local; a gesto e o marketing dos museus;

    e as estratgias com vista ao desenvolvimento dos museus como atraces tursticas.

    Alguns autores argumentam que existe em curso um processo global de homogeneizao

    em face da estandardizao de ofertas entre diferentes destinos tursticos, pelo que, se

    estabelece como essencial o estmulo diversidade cultural, que as abordagens mais

    prximas do territrio e dos seus recursos tendem a evidenciar.

    O reconhecimento da importncia da sustentabilidade cultural j foi apreendido pelo

    turismo cultural e os agentes do turismo esto hoje conscientes que o futuro da indstria

    turstica depende da proteco dos recursos ambientais, patrimoniais e culturais de cada

    regio.

    A importncia de planear o turismo com base nos recursos culturais e naturais

    do territrio, as necessidades de cooperao entre os agentes dos vrios domnios,

    a emergncia de novos consumos tursticos e a inovao na gesto dos espaos

    museolgicos, so alguns dos tpicos mais relevantes a abordar. No final, desenvolve-se a

    anlise emprica aplicada ao territrio do Algarve, cujos resultados se espera contribuam

    para um alargamento da discusso ao nvel nacional.

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    exedra n temtico - Turismo 2009

    1. O problema de investigao e a metodologia

    Este trabalho centra-se numa avaliao do museu enquanto equipamento ao

    dispor do turista e representao da cultura e da identidade de um territrio, ou de

    uma comunidade. A discusso da temtica Museus, Turismo e Territrio emerge

    como problemtica de interesse relacionada com a investigao de Doutoramento

    em desenvolvimento com o tema: A cultura material, a musealizao e o turismo: a

    valorizao da experincia turstica nos museus nacionais., mas tambm de outros

    trabalhos de investigao desenvolvidos no mbito da temtica do turismo cultural.

    1.1 Objectivos e tcnicas de investigao

    No decurso da reviso de literatura efectuada, determinou-se como problema

    de investigao: Como podem os museus tornar-se atraces tursticas principais?.

    Outras questes emergiram da recolha de informao secundria e de outras leituras

    complementares, que contriburam para a definio dos seguintes objectivos principais:

    Caracterizar a actual relao entre os museus e o turismo.

    Determinar o actual modelo de gesto do museu.

    Analisar o potencial de utilizao dos museus como recursos tursticos.

    Apresentar e discutir propostas de desenvolvimento dos museus como plos de atraco

    turstica a partir de uma base territorial (Algarve).

    A recolha de informao secundria tambm se determinou essencial para a

    caracterizao do panorama museolgico actual em Portugal (estatsticas oficiais

    de visitantes, estudos de pblicos) e para a definio do estado da arte em relao

    aos estudos aplicados ao turismo cultural e, em particular, aos museus e turismo

    (documentao de organismos internacionais, estudos e investigao publicada a nvel

    internacional, documentao dos organismos nacionais, tais como da Rede Portuguesa

    de Museus e do Instituto dos Museus e da Conservao, estudos e trabalhos desenvolvidos

    no territrio nacional).

    Por sua vez, a informao primria que se apresenta resulta da combinao de vrias

    tcnicas de recolha e anlise de dados:

    1. Entrevista exploratria semi-estruturada para avaliar como perspectiva o/a responsvel pelo museu o relacionamento entre o museu e o turismo; tendo utilizado a anlise de contedo como tcnica para o tratamento da informao obtida;

    2. Questionrio tcnico desenvolvimento de uma ficha do museu que acrescenta ficha do museu da Rede Portuguesa de Museus, elementos identificados pela autora como essenciais para o turismo e o turista (enquanto pblico do museu).

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    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    3. Observao participante no sentido de avaliar algumas das questes referidas nas entrevistas e verificar constrangimentos e potencialidades resultantes do caso de cada museu em particular.

    4. Anlise textual a partir da recolha de casos de estudo, internacionais e nacionais.

    Acrescer que a anlise de contedo um dos mtodos de anlise utilizados em

    metodologias qualitativas e pressupe, no caso das entrevistas, a transformao dos

    registos orais em textos que se codificam, criando categorias a partir da leitura, que tm

    por base a relevncia da taxonomia na sua relao com o enquadramento emprico de

    onde emergem, o que envolve reflexo e o questionar das categorias e cdigos a partir do

    contexto real (Jennings, 2005).

    Optou-se por uma utilizao de metodologias diversas porque possibilita uma

    maior riqueza da informao recolhida e, em simultneo, uma confirmao (ou no)

    da investigao qualitativa baseada na entrevista semi-estruturada. Esta abordagem

    insere-se nas novas tendncias do paradigma do relativismo que defende que as tcnicas

    de investigao e de anlise de dados devem ser seleccionadas e combinadas em face

    dos objectivos da investigao. A entrevista semi-estruturada possibilita a manuteno

    de um tipo de conversao com um grau de profundidade relativa e menor grau de

    subjectividade que numa entrevista no estruturada (Jennings, 2005).

    No conjunto desenvolveram-se quatro entrevistas (Albufeira, Faro, Portimo e

    Tavira) junto dos responsveis dos museus do Algarve (integrados na Rede Portuguesa

    de Museus), entre Agosto e Outubro de 2007, tendo determinado sete pontos de reflexo,

    em torno das quais se desenvolveu a entrevista. Na anlise emprica do panorama

    museolgico regional e da sua relao com o turismo sero tambm utilizados alguns

    dos resultados do inqurito por questionrio administrado junto de 60 residentes de Faro

    entre Outubro e Novembro de 20063.

    O trabalho resulta de uma abordagem regional fragmentada (pois integra apenas

    os quatro museus do Algarve, da Rede Portuguesa de Museus) mas considera-se que as

    mesmas questes de investigao so facilmente transpostas para uma qualquer realidade

    geogrfica (quer outra regio, quer mbito nacional) porque os seus fundamentos tericos

    tm uma base internacional. Certamente outras tendncias podero ser identificadas se

    a investigao assumir um mbito mais alargado, enriquecendo os contributos para a

    definio de novos modelos de gesto e de planeamento dos museus.

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    exedra n temtico - Turismo 2009

    2. Enquadramento conceptual museus, turismo e territrio

    Conforme referido e sistematizado na Figura 1, a temtica apresenta dois tipos de

    inter relaes chave que se props analisar, que constituem: por um lado, a relao dos

    museus com o territrio e a comunidade que nele vive; e por outro lado, a relao entre

    museus e turismo. Identificam-se igualmente alguns pontos de contacto e de conflito,

    procurando apontar aces e estratgias de cooperao que esto a emergir nos domnios

    dos museus e do turismo.

    A actividade turstica utiliza a singularidade e as especificidades dos locais como

    foras principais de atraco dos destinos. O turismo por sua vez, tem-se relacionado

    com o patrimnio cultural concebendo uma grande variedade de produtos culturais,

    contudo, esta relao nem sempre tem sido equilibrada. Entre os benefcios mais

    destacados emergem os recursos econmicos e financeiros que o turismo pode gerar

    para a conservao e preservao do patrimnio cultural (McKercher e du Cross, 2002;

    Russo e Van der Borg, 2002).

    A sociedade actual enfrenta novos desafios que tm determinado o crescimento de

    uma viso sustentvel, assente na valorizao e preservao de recursos endgenos, que

    por sua vez, tem contribudo para que o patrimnio cultural assuma maior importncia

    enquanto factor de desenvolvimento local e regional (Gonalves, 2003; Herbert, 1995;

    Hernndez e Tresseras, 2001; Nuryanti, 1996).

    Turismo

    Territrio Museu

    Comunidade

    Turismo

    Territrio

    Turismo

    Territrio Museu

    Comunidade

    Figura n.1 Base conceptual Fonte: autora, 2007

    Contudo, a utilizao do patrimnio cultural pelo turismo revela-se ainda um assunto

    com alguma sensibilidade (Herbert, 1995). O patrimnio cultural pode ser concebido

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    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    como um recurso principal para a comunidade, o que exige uma utilizao equilibrada.

    Neste contexto, os museus so parte de uma unidade global e parceiros privilegiados,

    no dilogo entre passado e futuro, todavia, na actual sociedade do lazer, disputam o

    nosso tempo livre com um cada vez maior nmero de atraces.

    Existe uma extensa literatura disponvel associada s questes do patrimnio

    cultural e do turismo que se procuram sistematizar nos vrios quadros includos neste

    ponto. Destacam-se as diferenas de estrutura, objectivos, agentes envolvidos, utilizao

    dos bens e organismos que os representam (vide McKercher e du Cros, 2002 e 2006).

    Algumas interaces positivas tambm j foram apontadas:

    A cultura e o turismo comeam a definir objectivos econmicos em conjunto, como

    resultado dos benefcios mtuos j identificados.

    O processo de transformao dos recursos culturais em produtos tursticos pode

    constituir-se como um incentivo para revitalizar a identidade cultural da comunidade.

    O patrimnio cultural contribui para um ambiente favorvel para a incubao e

    desenvolvimento de projectos tursticos, que podem criar condies para a inovao e

    diversificao dos produtos tursticos e dos destinos, respondendo a novas necessidades

    do mercado turstico (Jansen-Verbeke e Lierois, 1999).

    O turismo com base no patrimnio cultural mais do que a observao da

    arquitectura, da histria ou da natureza. verdade que relativamente fcil promover

    o patrimnio cultural atravs de apresentaes descontextualizadas e sem significado

    (ou com adulterao desse significado) (Phelps, 1994) e caber sobretudo a cada local

    a responsabilidade de apresentar e interpretar o seu patrimnio, para o seu pblico,

    atravs dos seus artefactos.

    Ashworth relembra algumas especificidades que interessa considerar relativa

    natureza dos recursos culturais:

    1. A enorme heterogeneidade de produtos e servios culturais que se oferecem aos turistas.

    2. A natureza do conceito de cultura confere-lhe alguma ubiquidade, pois todos os locais tm uma histria e um passado. difcil definir estratgias assentes em recursos culturais e patrimoniais naqueles locais que no renam condies de verdadeira distino.

    3. Os produtos e servios culturais possuem uma grande variedade de utilizadores para alm dos turistas e servem uma grande variedade de funes para alm do turismo.

    4. O turismo utiliza com frequncia recursos culturais que no foram produzidos para o mercado turstico, e que so de propriedade e gesto de pessoas que so indiferentes, ou at hostis ao mercado turstico (Ashworth, 1995).

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    exedra n temtico - Turismo 2009

    expectvel que a integrao com sucesso do desenvolvimento turstico numa

    comunidade, d melhores resultados do que a imposio do turismo como modelo de

    desenvolvimento de forma no relacionada.

    Os residentes so parte do produto turstico e o facto de se apelar participao

    da comunidade local no projecto de desenvolvimento turstico contribui para uma

    reduo dos impactes negativos (Timothy e Boyd, 2003). O envolvimento dos residentes

    no planeamento d s comunidades a oportunidade de participar na forma como o seu

    patrimnio cultural protegido e mostrado aos turistas. O que por sua vez, pode contribuir

    para o aumento do orgulho e sentimento de pertena (McArthur e Hall, 1993).

    As comunidades receptoras tm reagido de forma diferente ao desenvolvimento do

    turismo, variando as suas respostas em funo do nvel de desenvolvimento do turismo,

    mas tambm conforme os interesses dos grupos (Costa e Ferrone, 1995). As comunidades

    raramente possuem uma viso uniforme do turismo, e as reaces podem ir do suporte

    entusistico ao seu desenvolvimento, como total oposio. Quanto maior envolvimento

    da comunidade for promovido no processo de planeamento e desenvolvimento do

    turismo, maiores garantias de aceitao, sucesso e sustentabilidade ter o projecto

    do seu desenvolvimento (Butler, 1999). De facto, o relacionamento que se estabelece

    entre as comunidades receptoras e o turista em regra superficial e breve, assentando

    maioritariamente em objectivos comerciais (Holloway, 1998).

    A investigao identificou outros efeitos positivos do turismo, tais como: as

    trocas culturais, a revitalizao de tradies locais, o aumento da qualidade de vida, a

    melhoria da imagem da comunidade, o aumento do sentimento de lugar. Como factores

    determinantes das percepes e das atitudes dos residentes em relao ao turismo, os

    autores apontam os factores econmicos e sociais, o tempo de residncia na rea e a

    dependncia econmica do turismo (Besculides et al., 2002).

    A concluso comum aos estudos em geral, consiste na necessidade de envolver

    as comunidades locais no processo de planeamento e desenvolvimento do turismo,

    pois apenas pela participao activa da comunidade local se poder conseguir que o

    patrimnio cultural produza benefcios econmicos e sociais reais (Besculides et al.,

    2002; Hampton, 2005).

    No entanto, os debates associados relao do turismo na gesto e planeamento

    do patrimnio cultural transcendem largamente a questo da participao activa das

    comunidades. No Quadro 1 procura-se sistematizar alguns desses tpicos de debate mais

    correntes sobre a gesto do patrimnio cultural e turismo.

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    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    Quadro n.1- Debates correntes na gesto do patrimnio cultural e turismo

    Debates correntes na gesto do patrimnio cultural

    Descrio

    Musificao-banalizao das cidades

    Patrimnio como mero cenrio preparado para consumo tursticoModelos estereotipados de renovao urbana- operaes de clonagem + monofuncionalizao de alguns sectores urbanos

    Contaminao arquitectnica

    Construo das infra-estruturas tursticas - integrao entre as infra-estruturas tursticas e a envolvente (em particular das caractersticas do meio natural)Urbanizao sem respeito pelas reas naturais ou histricas

    Competio pelo espao /desertificao do centro histrico/tercearizao e gentrificao

    Expulso dos antigos moradores + aumento acentuado dos preos dos terrenos e imobiliria Tercearizao da rea concentrao de actividade comercialGentrificao reconquista da rea por classes sociais mais elevadas

    Perda de autenticidade/Commodification

    Aculturao- comercializao da cultura; alteraes na cultura receptora e na identidade local pela assimilao da cultura do turistaInteresses econmicos manipulao de tradies e costumes para entretenimento

    Patrimnio e Identidade Segundo alguns autores descoberta de um patrimnio pode significar a morte de uma identidade, dado que, a patrimonializao representa a introduo de mutaes na identidade. Diz respeito ao medo de que a cultura local assimile as influncias da cultura dos turistas que mais preponderante sobre as tradies, valores e costumes nas chamadas sociedades tradicionais, mas tambm a necessidades decorrentes do desenvolvimento da actividade turstica, de fornecer aos turistas as comodidades a que esto habituados nos seus pases de origem e de instituies que tm a responsabilidade de fornecer as imagens e as narrativas associadas a esse patrimnio, no inclurem nas suas narrativas todo o patrimnio, sobretudo dos grupos tnicos minoritrios.

    Sustentabilidade do Turismo Cultural e capacidade de carga

    Super-povoamento de muitos locais histricos - deteriorao fsica (e.g. Veneza, Bruges, Florena)Maximizao da utilizao/congestionamento

    Fonte: Gonalves, 2003 (a partir de Barr, 1995; Bianchini e Parkinson, 1993; Bourdieu, 1979, Bourdieu e Darbel, 1991; Misiura, 2006; Peixoto, 2004; Prentice, 1993a e 1994; Richards e Bonink, 1995; Richards, 1996 ;Silberberg, 1995; Smith, 2003; Van der Borg e Costa, 1993).

    Na discusso sobre as divergncias e convergncias entre os agentes do turismo, os

    responsveis pelo patrimnio cultural e a comunidade local, a Comisso Australiana do

    Patrimnio Cultural reconhece que muitos locais patrimoniais so altamente valorizados

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    exedra n temtico - Turismo 2009

    pelas comunidades locais e regionais, que se constituram como as suas principais

    protectoras.

    As comunidades desejam desenvolver o turismo, mas tambm proteger a sua

    privacidade, e preocupam-se com os efeitos que o turismo pode trazer, pelo que apontam

    como fundamental que se: estabeleam as necessidades, os interesses e aspiraes da

    comunidade local na fase de pr-planeamento; tenham em considerao as sensibilidades

    culturais ou religiosas associadas ao uso e apresentao do local patrimonial; identifiquem

    e consultem os lderes da comunidade local; apresente a perspectiva da comunidade

    local; analisem formas da populao local ter um papel activo na gesto e operao da

    atraco turstica (os amigos do patrimnio; aces de voluntariado; story telling;

    visitas guiadas; entre outros); procurem maximizar os benefcios para a comunidade

    local e reduzir ou evitar os impactes negativos (AHC, 2004).

    Inskeep 4 (1994) apontava como formas de evitar os impactes negativos derivados

    do turismo e de potenciar o desenvolvimento do turismo cultural: proporcionar

    oportunidades para intercmbio cultural entre comunidade local e turistas (interaco);

    assegurar o acesso cultura por parte das comunidades locais; preservao dos estilos

    arquitectnicos locais; preservar a autenticidade das artes locais e dos festejos culturais;

    proteger e apoiar os mtodos de produo cultural locais; favorecer a criao de centros

    culturais locais integrando espaos de exposio e de espectculos; e quando necessrio,

    preveno das visitas a espaos religiosos e a cerimnias onde os impactes possam ser

    menos positivos1.

    Uma nova mentalidade tem vindo a emergir baseada no desenvolvimento e na

    implementao de estratgias de marketing que garantam padres de qualidade que

    no afectem os objectivos sociais do patrimnio cultural, ou que possibilitem que os

    lucros comprometam a sua existncia (Izquierdo e Samaniego, 2004). Mas outras vises

    subsistem como o caso de Desvalles que muito crtico aco do turismo associando-a

    mercantilizao dos museus, pois considera que se verifica um consumo excessivo

    dos bens das coleces, mas tambm dos bens patrimoniais que permanecem in situ e

    fala em massificao:

    () tem[-se] assistido aos bilies investidos para transformar estes locais culturais em supermercados do objecto patrimonial. Certamente que os nossos museus precisavam de rejuvenescimento; mas permitiu-se que os mercadores entrassem no templo. Conservaram o seu pblico fiel de intelectuais, de quadros e de classe mdia que visitam pelo menos uma exposio por ano () e a frequncia familiar aumentou ligeiramente passando de 19% a 25% no decorrer dos ltimos dez anos; no entanto, globalmente, em lugar de passar de um no-pblico a um pblico de proximidade, passou-se a um pblico de superfcie, ou

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    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    seja o dos turistas, os quais segundo o programa dos operadores fazem o Louvre numa hora visitando sobretudo a Samotrcia5 e a Monalisa e constituem 25% dos visitantes deste museu e mais de metade nos museus paisienses. (Desvalles, 2003: 54-55).

    No entanto, no decorrer do artigo o autor relembra que no s ao turismo deve ser

    apontado o perigo de comercializao, mas tambm ao mercado das artes e acusa o

    museu de utilizar uma linguagem inacessvel maioria das pessoas.

    Internacionalmente tem vindo a ser promovida alguma reflexo sobre o conceito

    de museu e a sua evoluo, e defende-se hoje que os museus combinem o seu objectivo

    social de instituies guardis de memrias, com responsabilidades na preservao

    de um patrimnio, na investigao e na educao com outro tipo de actividades de

    promoo desses objectivos, com a concepo e implementao de estratgias de

    marketing, que no comprometam a sua existncia (Kotler e Kotler, 1998; Izquierdo e

    Samaniego, 2004), e que gerem impactes econmicos positivos para as comunidades e

    para o prprio museu (McLean, 1997; Reussner, 2003).

    Para uma melhor compreenso do contexto cultural e da evoluo do museu atravs

    do tempo apresenta-se a definio de museu.

    2.1 A definio de museu

    O papel do museu na actual sociedade encontra-se em acesa discusso, reconhecendo-

    se de forma crescente que o conceito tradicional de exposio e de museu est em crise e

    declarando-se a necessidade do museu se tornar mais dinmico e competitivo, procurando

    uma ligao mais estreita e participada com a sociedade, utilizando um discurso mais

    comercial, mas sem que se distancie das misses de conservao e conhecimento da

    arte (Martos e Santos, 2004:86). Os museus so, ou deviam ser espelhos da sociedade,

    do seu desenvolvimento e da sua cultura, do passado e do presente. As alteraes

    resultantes da evoluo da sociedade determinaram que o conceito de museu tradicional

    se tornasse obsoleto (McLean, 1987).

    Nos anos 60 o museu era um templo de cultura e as suas paredes eram opacas.

    No sculo XX a cultura democratizou-se e o interesse pblico pelos museus cresceu

    e diversificou-se. Hoje, o museu um instrumento educacional capaz de promover o

    reconhecimento de novos patrimnios (ex. do patrimnio industrial, onde se insere o

    caso do novo Museu Municipal de Portimo).

    O conceito de museu do ICOM (International Council of Museums) tambm tem sido

    frequentemente redefinido e adaptado realidade: A museum is a non-profit making,

    permanent institution in the service of society and of its development, and open to the

  • 88

    exedra n temtico - Turismo 2009

    public, which acquires, conserves, researches, communicates and exhibits, for purposes

    of study, education and enjoyment, material evidence of people and their environment.

    (ICOM Statutes, 1989, article 2, paragraph I). Esta definio foi adoptada em Haia, na

    Holanda em 1989, tendo sido revista em 1995 e novamente em 2001. Como se pode

    verificar, as referncias aquisio e conservao permanecem prioritrias sobre as

    questes de educao e de entretenimento.

    As funes principais de qualquer museu so: identificar, recuperar e reunir grupos

    de objectos e de coleces; document-los; preserv-los; estud-los; apresentar ou

    expor esses objectos ao pblico em geral; e interpret-los ou explic-los (Hernndez e

    Tresseras, 2001). As primeiras funes so as mais tradicionais e historicamente as mais

    reconhecidas, constituindo-se as restantes como a que esto mais associadas ao pblico

    e s dimenses sociais da gesto do patrimnio cultural.

    A questo do uso social do patrimnio cultural ganhou maior relevncia a partir

    de 1920-30s, pela tomada de conscincia de que a perda de ligao com o contexto

    de produo e uso desse patrimnio significaria a perda do seu significado. Qualquer

    coleco ou museu s pode ser explicado atravs da sua histria (Hernndez and

    Tresseras, 2001). Foi neste perodo que os responsveis pelos museus se tornaram mais

    sensveis aos desejos e motivaes da procura e se demonstraram mais abertos a uma

    interaco entre proteco, difuso e estudo. Datam deste tempo as primeiras grandes

    exposies temporrias, as visitas escolares, e os primeiros departamentos pedaggicos, e

    educativos dos museus. So introduzidos novos sistemas de exposio e de apresentao

    das coleces e surgem os primeiros estudos de pblicos. Contudo, o perodo de Guerra

    instalou uma crise na museologia internacional e s em 1984 com a Declarao do

    Qubec se reafirmou a importncia da funo social do museu (ICOM, 1989).

    Outro conceito apresentado pela primeira vez no referido documento foi o da

    Museologia Activa que envolve o desenvolvimento das pessoas e das comunidades pela

    sua associao a projectos futuros dos museus, com o objectivo principal de contribuir

    para um sentimento de orgulho local e contribuir para a preveno da destruio das

    identidades culturais. nos anos 80 com a emergncia dos turismo de massas que os

    locais patrimoniais comeam a assumir o papel de atraces, sendo nos anos 90 que o

    edifcio do museu perde nfase e ganha maior relevncia a possibilidade de transferir

    temporariamente as exposies para fora dos museus (Boniface e Fowler, 1993; Garcia,

    2003; Hernndez e Tresseras, 2001; Misiura, 2006).

    Em Portugal, segundo o conceito de museu adoptado e introduzido na Lei-Quadro dos

    Museus Portugueses, um museu : uma instituio de carcter permanente, com ou sem

    personalidade jurdica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que

    lhe permite: a) Garantir um destino unitrio a um conjunto de bens culturais e valoriz-

  • 89

    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    los atravs da investigao, incorporao, inventrio, documentao, conservao,

    interpretao, exposio e divulgao com objectivos cientficos, educativos e ldicos; b)

    Facultar acesso regular ao pblico e fomentar a democratizao da cultura, a promoo

    da pessoa e o desenvolvimento da sociedade. (Lei n.47/2004 de 19 de Agosto).

    Este conceito aproxima-se da definio do ICOM e introduz, pela primeira vez, a

    necessidade de se possuir uma coleco visitvel, bem como um processo de credenciao

    dos museus, para que tenha lugar o reconhecimento oficial da qualidade tcnica desse

    museu (requisitos e processo encontram-se regulamentados pelo Despacho Normativo

    n.3/2006 do Ministrio da Cultura e foram publicados em Dirio da Repblica, I Srie-B,

    N 18 de 25 de Janeiro de 2006).

    2.2 A gesto e o marketing aplicado aos museus

    Regra geral, as definies de museu centram-se mais no lado da produo do que

    no da procura, demonstrando-se uma abordagem de consumo numa fase incipiente,

    associando-se a um entendimento de espao pblico (ou semi-pblico). Numa viso ps-

    moderna do papel do museu referida a importncia dos servios educativos e culturais,

    assim como, a importncia de incluir cinemas, teatros, bibliotecas especializadas,

    bons bares e restaurantes, novos espaos comuns, criando uma oferta diversificada e

    complementar, que possa dar origem a permanncias mais longas e agradveis naquele

    espao (Quadro 2).

    Quadro n. 2 Dimenses do museu em face do tipo de gesto/direco

    Product/service dimensions

    Emphasis of custodialmanagement

    Emphasis of marketingmanagement

    Education Value and importance inaesthetic termsMaintained, designed forpreservation of collections

    Relevance to visitorsCreate impact, differentiation,visitor-friendly environment

    Accessibility Standard opening hours, limited proximity of customers to some valuable collections

    Proactive staff-visitorinteractions and proximityencouraged

    Communication Predominantly passiveobservation encouragedStandardisedmessages/attention,impersonal approach, littleattempt to involve visitors

    Visitors participate inexperienceMore individualisedmessages/ attention. Personalapproach and emotionalinvolvement of visitors

    Fonte: Gilmore e Rentschler, 2002:757

  • 90

    exedra n temtico - Turismo 2009

    Alguns museus colocam a nfase da sua actuao nas actividades tradicionais de

    investigao e nas coleces. No recorrem por isso a consultores, no analisam o

    mercado, no fomentam as visitas ou as doaes/mecenato. Os museus mais modernos

    so geridos com um enfoque empresarial: centram-se na promoo de programas

    criativos, preocupam-se com gerar fundos atravs de exposies temporrias; donativos;

    festas; entre outras. Estes museus acentuaram nas suas polticas e na sua programao a

    participao do pblico. Para tornar o museu mais acessvel a uma audincia mais ampla

    e atrair em particular aqueles visitantes que no iriam ao museu tradicional, promovem

    um crescente nmero de eventos de grande alcance. Os museus esto a adoptar uma

    orientao para o mercado (Gilmore e Rentschler, 2002) e querem oferecer experincias

    excitantes (Kirshenblatt-Gimblett, 1998).

    De acordo com Izquierdo e Samaniego (2004) o xito do museu requer a utilizao de

    uma combinao de estilos apresentados no Quadro 2, colocando uma nfase crescente

    na abordagem empresarial. Todavia, o museu v a sua gesto restringida por um conjunto

    de factores de diferente natureza, onde se incluem questes financeiras, administrativas

    e legais, que por vezes, se tornam inibidoras da introduo de alguma flexibilidade

    (Martos e Santos, 2004). Inserem-se tambm no sector no lucrativo, o que dificulta

    uma atitude mais orientada para o mercado e desempenhos de qualidade.

    Weil aponta quatro factores principais para a avaliar qualidade da aco do museu:

    possuir uma misso claramente definida (que se perpetue, mas que seja exequvel); ter

    capacidade em termos de recursos (fiscais, fsicos e humanos); avaliar a eficcia global

    do museu (se o museu fez a diferena; se produziu impacto junto da audincia desejada);

    e medir a eficincia (a utilizao racional e equilibrada dos recursos) (Weil, 2002). O

    elemento relativo eficcia, o mais difcil de avaliar, porque nos sectores considerados

    no- lucrativos, o rendimento gerado ou a recuperao dos gastos no so os indicadores

    que se costuma considerar.

    Admite-se que no fcil introduzir e aplicar os conceitos e os modelos dos negcios

    lucrativos, no sector dos museus, e que podero resultar daqui alguns pontos de conflito

    com o turismo. Contudo, o museu que no futuro deseje desenvolver uma programao

    que obedea a padres de qualidade e ombrear com outras ofertas de lazer ter que

    promover uma anlise: do mercado; da concorrncia; do consumidor; e dos canais de

    distribuio (Weil, 2002).

    S ser possvel definir a estratgia se se conhecerem as audincias. Os museus

    possuem uma crescente diversidade de programao dirigida a diferentes audincias

    (Garcia, 2003; Kotler e Kotler, 1998). O marketing importante porque permite ao museu

  • 91

    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    confirmar a sua misso e dar uma resposta eficiente aos seus pblicos, na medida em

    que atravs das suas tcnicas so identificados: o perfil do visitante; o mercado em que

    o museus opera; o potencial de desenvolvimento dos principais segmentos do mercado e

    as estratgias com vista a aumentar a base dos consumidores, bem como de atraco de

    novas audincias.

    No caso Portugus, os museus tm uma capacidade de gesto reduzida salvo os casos

    em que se constituem como entidades privadas autnomas a sua estrutura orgnica

    difere pouco de regio para regio, e os seus meios humanos e os recursos econmicos

    so estabelecidos fundamentalmente em funo dos gastos com o pessoal, dos gastos

    correntes para o funcionamento dos servios, e do plano de actividades aprovados

    pela entidade que tem a tutela. Por exemplo, as receitas provenientes das entradas nos

    museus da administrao central, bem como das vendas nas suas lojas no revertem

    a favor do oramento do prprio museu, mas so reintegrados a nvel central. Uma

    capacidade de gesto to limitada dificulta a afirmao do museu enquanto instituio

    dinamizadora de uma aco cultural e social em torno do espao em que se desenvolve

    a sua actividade. Tambm se verifica uma grande diversidade de tipologias de museus

    e das suas tutelas que conduzem a formas e a situaes de gesto oramental muito

    dspares, no correspondendo em muitos casos a oramentos autnomos do museu, mas

    dependentes de entidades que lhes so exteriores (Serra, 2007).

    A maioria dos museus tambm no tem procurado integrar a sociedade civil no seu

    projecto e o tecido social tem em regra uma participao de espectador em face da aco

    promovida pelos museus.

    Verifica-se um crescimento das expectativas da parte dos visitantes e consumidores

    em relao ao facto da experincia no museu incluir mais diverso e envolvimento. Sabe-

    se que os mecanismos interactivos e a oferta de outros servios de lazer de qualidade

    como o merchandising, comrcio e restaurao, aumentam a notoriedade dos museus,

    bem como alargam o seu mercado de aco. Algumas organizaes tm apostado numa

    gesto do tipo best value, recrutando pessoal com as competncias necessrias para

    gerar novas fontes de financiamento e manter as qualidades competitivas (Lennon e

    Graham, 2001, do o exemplo do Museu de Cincia de Londres).

    A venda livre dos bens declarados de interesse cultural encontra-se fortemente

    restringida em muitos pases pela legislao nacional, pelo que, os museus possuem um

    nmero de peas elevado em reserva, que consideram sem grande valor, mas que por

    vezes, o seu emprstimo ou o seu intercmbio podem contribuir para a valorizao do

    esplio.

    Em regra, os museus em funo da sua insero territorial, possuem um maior

  • 92

    exedra n temtico - Turismo 2009

    nmero de peas de determinadas civilizaes que, podem no existir noutros pases ou

    noutros territrios e pelo intercmbio podem dar a conhecer em outros museus, outras

    culturas. No caso Europeu, Martos e Santos (2004) falam na partilha desse patrimnio

    como forma de contribuir para um maior conhecimento da histria europeia, propondo

    a criao de uma Rede de Museus de Civilizao Europeia no mbito da Comisso

    Europeia. Por outro lado, o emprstimo temporal destes objectos no expostos a outras

    instituies, permitiria a rentabilizao desse patrimnio, e at estar na base de novas

    aquisies, pelas receitas que da podem advir.

    Os museus actuais procuram uma renovao e adaptao ao visitante (Izquierdo

    e Samaniego, 2004). A monitorizao dos visitantes nos museus uma das medidas

    mais implementadas internacionalmente. Por exemplo, no Natural History Museum em

    Londres, que recebe cerca de 1,7 milhes de visitantes ao ano, promoveu um processo

    de reorganizao, criando equipas de especialistas dedicadas a estudar os percursos e a

    experincia do visitante. Conceberam ainda circuitos temticos e orientam as visitas para

    aqueles visitantes com tempo limitado (Garcia, 2003). Para estudar o perfil do visitante

    e do no visitante implementaram inquritos nos autocarros de Londres, entrevistas

    pessoais e questionrios aos visitantes dos museus. Outros autores propem a adopo

    do modelo de experincia interactiva (Interactive Experience Model) que pressupe

    cuidados acrescidos com elementos como o contexto fsico espaos para descansar/

    sentar; legendagem e percurso (itinerrio) (Falk e Dierking, 1992).

    Uma recomendao chave ser assim o desenvolvimento de estratgias de base

    territorial. Prope-se hoje uma alterao aos tradicionais discursos evolucionistas dos

    museus e defende-se a introduo de uma organizao museolgica orientada para

    correspondncias e relaes que possibilitem a abrangncia de uma multiplicidade de

    histrias, bem como, um maior leque de possveis interpretaes (Semedo, 2006).

    Esta quebra com a organizao clssica da exposio pode estar, no entanto, na base de

    alguma desorientao.

    O museu no deve ser um mero local onde esto depositados materiais que funciona

    como centro de investigao e apenas pode ser visitado por uma minoria, mas deve

    ser perspectivado como um ncleo de projeco cultural e social, com uma contnua

    e decisiva funo didctica, com uma aproximao viva cultura. (Martos e Santos,

    2004:80).

    Segundo Alice Semedo est-se a operar uma revoluo e renovao dos museus que

    coloca a nfase na promoo da experincia; [e] que revela novos horizontes ticos,

    epistemolgicos e estticos. A procura de relevncia fora dos seus contextos habituais

    sem qualquer dvida, um dos eixos desta metamorfose museolgica. (Semedo, 2006:6).

    As pessoas esperam hoje que a visita ao museu seja relaxante, divertida e que se traduza

  • 93

    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    num espao de sociabilizao, tal como em outros centros de lazer ou de educao. O

    museu emerge num leque alargado de opes de lazer, pelo que, tm que se modernizar

    para ir ao encontro de um mercado mais exigente e isso significa programas educativos

    diferenciados e com propostas adequadas aos seus pblicos mas tambm a necessidade

    de melhorar as infra-estruturas do museu. Mas ser que os responsveis pela gesto do

    museu so da mesma opinio?

    Um estudo desenvolvido junto dos directores dos museus norte americanos6

    demonstrava que as estratgias de marketing mais importantes que os directores

    desejavam desenvolver eram: novas exposies para promover a repetio de visitas;

    oferecer programas para diferentes visitantes; aumentar a reputao do museu pelo

    reforo da publicidade, relaes pblicas e patrocnio. As estratgias menos apontadas

    foram (ordem crescente de ponderao): estabelecimento de sucursais/seces noutros

    locais para chegar a outras audincias; e pagar a uma agncia de publicidade para

    fortalecer a identificao/imagem do museu. O planeamento das exposies tinha em

    conta sobretudo (ordem decrescente de importncia): as necessidades de diferentes

    grupos de visitantes; avaliar a orientao (ou no) da exposio para os visitantes;

    preparar actividades interactivas para ir ao encontro dos estilos de aprendizagem dos

    visitantes (Yeh e Lin, 2005). Verificou-se tambm que o peso das entradas de visitantes

    no oramento do museu j substancial (segunda fonte principal de rendimento), mas

    mais surpreendente foi que os directores dos museus evidenciaram que acreditam que os

    meios de comunicao tradicionais, como a rdio, a TV, os jornais e as revistas so mais

    eficientes, do que o e-mail ou a pgina on-line (Yeh e Lin, 2005).

    Gostava de destacar a relevncia dada pelos inquiridos necessidade de possuir

    actividades hands-on, do tipo atelis, e uma loja, como formas de possibilitar uma

    melhoria das experincias interactivas nos museus.

    Quanto ao catering ou incluso de servios de restaurao no museu, Falk e

    Dierking (1992) defendem que este servio pode contribuir para melhorar a experincia

    do visitante no museu e que at a preparao de pratos especiais que vo ao encontro

    da exposio em curso, pode ser uma das formas de passar a mensagem do museu.

    inegvel tambm o contributo que pode dar para o aumento das receitas do museu e, tal

    como Yeh e Lin (2005) afirmam, ningum conseguir desfrutar de uma visita ao museu

    se estiver com fome. Por sua vez, as sucursais so referidas por Kotler e Kotler (1998)

    como forma de projectar a imagem dos museus noutros locais, o que pode contribuir

    para a atraco de novos visitantes.

    Hein (1998) afirma que a aprendizagem se deve constituir como a funo principal

    dos museus, todavia, h que acompanhar os novos processos de aprendizagem e adapt-

    los aos estilos dos tempos modernos: Museums are extraordinary places where visitors

  • 94

    exedra n temtico - Turismo 2009

    have an incredible range of experiences (Hein, 1998:2). Yeh e Lin reconhecem que o

    museu apresenta vantagens associadas s formas de aprendizagem informais e afirmam

    Learning in museums give visitors a self-directed learning opportunity to construct

    personal learning atmosphere, scheduling, and content. (Yeh e Lin, 2005:281). Mas

    para que tal se verifique, ser necessrio que os museus acompanhem a sociedade e tal

    como afirmava um dos directores que se entrevistou: No concebo que em minha casa

    tenha por exemplo o acesso a determinadas tecnologias e que no museu no tenha os

    computadores, a informao via audiovisual, j h museus virtuais, j h museus com

    interpretao interactiva.7.

    No est em causa a discusso do museu como parque de atraces, mas a verdade

    que o museu um espao onde se contam histrias e hoje as pessoas esperam mais

    do que a simples venda de uma mercadoria (i.e. o bilhete de entrada numa exposio),

    procuram uma experincia (Quadro 3).

    Quadro n. 3 A experincia como conceito econmico

    Evoluo das abordagens econmicas at ao presente

    Commodities Goods Services Experiences

    Seller Market User Client Guest

    Buyer Characteristics Features Benefits Sensations

    Fonte: Pine e Gilmore, 1999:6

    Segundo Pine e Gilmore a experincia criada quando: a company intentionally

    uses services as the stage and goods as props, to engage individual customers in a way

    that creates a memorable event. (Pine e Gilmore, 1999:11).

    A experincia turstica por definio um processo subjectivo, da que segundo

    Ryan (1997) ser fundamental o contexto da experincia, assim como os antecedentes

    scio-culturais. A intangibilidade do produto turstico conduz a uma identificao da

    experincia turstica como uma matria de percepo (Fainstein e Gladstone, 1999).

    Os analistas culturais enfatizam os efeitos da indstria turstica sobre o espao e

    as referncias simblicas. A autenticidade quase sempre uma referncia obrigatria

    quando se discute a experincia turstica, considerada por inmeros autores como questo

    fundamental, numa anlise desenvolvida por Judy Cohen (2002) sobre os trabalhos de

    Dean MacCannell (1976), Daniel Boorstin (1987) e Umberto Eco (1983) a autora conclui

    que nem sempre o turista tem como objectivo a procura de uma experincia autntica e

    caracteriza o turista ps-moderno: () not so much a new type of animal, but rather a

  • 95

    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    decision-maker with a new array of options. (Cohen, 2002:34).

    Cohen argumenta que os turistas modernos no so diferentes daqueles de tempos

    passados e que desde longa data que o turista procura minimizar o desconforto e os

    riscos associados s viagens. Por sua vez, a encenao da autenticidade sobre a forma

    de cerimnias, actividades e eventos tem sido vastamente disseminada e hoje bastante

    comum, ainda que criticada por alguns. Por seu lado, Smith (2003) considera que mais

    importante do que discutir se a autenticidade real ou encenada, ser assegurar que as

    comunidades locais se sentem confortveis com o seu papel de actores e animadores do

    turista.

    Os recursos autnticos sero os locais, servios ou eventos que reflectem o patrimnio

    nacional, regional ou local. A autenticidade pode ser determinada com base em vrios

    critrios. O recurso pode at nem reter todas as caractersticas culturais relevantes, mas

    deve reter todas as que se relacionam com a sua identidade histrica ou a sua relao

    com a tradio cultural (Lord, 2002). Em suma, as experincias tursticas autnticas

    sero aquelas com significado.

    De acordo com McKercher e du Cros (2002) ser ainda fundamental que se

    identifiquem aqueles recursos que so realmente excepcionais e de valor nico, e que

    sero os responsveis por atrair as pessoas ao destino.

    Saliente-se uma vez mais, a importncia de consultar os vrios agentes dos dois

    sectores para assegurar que se evitam conflitos. Todas estas reflexes so relevantes para

    determinar o potencial de atraco do turismo por parte dos museus. Por outro lado,

    deve existir a conscincia que, regra geral, os museus possuem um grande potencial

    de atraco turstica, podendo constituir-se como contribuintes vlidos e parceiros

    principais do desenvolvimento do turismo cultural na teoria e na prtica (Benediktsson,

    2004).

    2.3 O museu como plo de atraco turstica

    Os grandes museus da Europa so um importante factor de mobilizao de pessoas,

    sobretudo atravs das suas grandes exposies. Estes museus esto extremamente

    interligados com a poltica da prpria cidade as decises sobre as grandes exposies

    na Holanda, por exemplo, no provm do director do museu ou de um grupo de

    conservadores, mas do departamento de marketing da cidade e da deciso colectiva de

    um grupo de gestores para tentar aumentar as visitas. Este fenmeno teve incio nos

    anos 90 na Holanda, com as exposies de Van Gogh, tendo sido seguido no Reino Unido

    e em Frana, e esteve na origem de centenas de milhares de visitas s cidades (Bellacasa,

    1999).

  • 96

    exedra n temtico - Turismo 2009

    Para conseguir concretizar este tipo de iniciativas tem que se adaptar as estruturas

    dos museus ao novo consumidor. Em Espanha procurou-se promover este tipo de

    iniciativas atravs do Ano de Goya e do Ano de Velsquez, mas sem o sucesso desejado,

    que se atribui ao descurar do aspecto da comercializao turstica. Numa referncia ao

    caso Espanhol, o autor conclui que os grandes museus ainda no perceberam que tm

    que possuir gestores e alterar a sua estrutura de gesto. Num grande nmero de museus

    os horrios no esto adaptados aos fluxos tursticos e encerram aos Domingos.

    Bellacasa (1999) reconhece que o visitante contemporneo necessita de: flexibilidade,

    informao em vrios idiomas, produtos comercializados pelo museu, realizar

    actividades volta das coleces. Em suma precisa de viver o museu, estabelec-lo

    como um marco da cidade e factor de desenvolvimento da mesma. Outros museus, como

    o Museu do Louvre ou o Museu Britnico j introduziram a possibilidade de alugar salas

    e outros espaos para jantares e para filmagens como forma de angariar mais recursos

    financeiros.

    No chega possuir um legado histrico relevante, necessrio que exista uma aco

    poltica para que o local possa atrair turistas e afirmar-se como destino de turismo

    cultural. Ser tambm fundamental envolver as populaes e conseguir a participao

    da administrao pblica nos diversos nveis.

    O territrio dinmico e por vezes converte-se em museu, por sua vez, o museu

    representa um espao territorial, de expresso da histria e arte de uma rea geogrfica.

    Existe uma dialctica entre ambos (Rocio, 2004). Os recursos patrimoniais possuem

    uma forte ligao com o territrio que emerge como o espao em que se desenvolveu a

    actividade humana ao longo dos tempos. A proteco e a dinamizao destes recursos

    tm conduzido procura de solues que possibilitem um desenvolvimento sustentado

    do potencial destes recursos, que tero estado na origem, em Espanha, dos parques

    culturais e dos parques arqueolgicos, por exemplo (Martos e Santos, 2004).

    Compreende-se hoje que necessrio associar os vestgios arqueolgicos e os

    monumentos aos seus territrios, e por isso verifica-se uma crescente musealizao in

    situ e ao proliferar dos centros de interpretao. Contudo, no s nestes casos isso deve

    acontecer. O museu pode encontrar a sua base territorial numa cidade e est-se perante

    um museu de cidade, ou pode assentar numa rea mais ampla, e a assume-se como a

    base da estratgia de actuao as vrias reas patrimoniais do patrimnio em que se

    insere. Veja-se o caso do Ecomuseu, conceito desenvolvido em Frana tem por base o

    interesse pela ecologia e etnologia (Martos e Santos, 2004)

    Tambm a necessidade de tornar os vestgios compreensveis conduziu a uma

    tendncia para no descontextualizar, na medida em que a sua manuteno no territrio

  • 97

    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    possibilita uma leitura do objecto no lugar de origem. Uma nova viso do territrio estar

    nos fundamentos de um novo conceito de museu, com base territorial e participao

    da comunidade.: ()los ecomuseos, los museus integrales y los museos institutos se

    apresentan como modelos ptimos para el desarrollo de estas polticas patrimoniales.

    (Martos e Santos, 2004:92).

    Quadro n. 4 - Rota Romana Andaluza

    Estudo de caso: Museu e Territrio Rota Romana Andaluza (Ruta Btica

    Romana)

    Projecto de turismo cultural que procura valorizar o legado romano em torno da Via

    Augusta no seu trajecto Andaluz.

    Foram os municpios que tiveram a iniciativa e que constituram a organizao de uma

    sociedade com os seguintes objectivos: colocar em valor este patrimnio; difundir esse

    patrimnio; conservar o mesmo.

    Integra patrimnio artstico, cultural, monumental, tradies e gastronomia em torno

    do legado romano da Via Augusta.

    parte do projecto europeu das vias romanas do Mediterrneo.

    Transversalmente cada municpio organiza exposies itinerantes, produz guias,

    vdeos promocionais e outros materiais como moedas, jogos, etc.

    Gerou emprego e dinamiza a economia assumindo a conservao do patrimnio em

    causa atravs de polticas integradas nos mbitos do: urbanismo, da economia, do

    meio ambiente, do turismo e da cultura.

    O projecto exigiu o compromisso de vrios nveis da administrao, da comunidade e

    da Confederao de Empresrios da Andaluzia, da Consejeria de Turismo da Junta da

    Andaluzia e o apoio da Consejeria da Cultura.

    Fonte: Rocio, 2004

    Este projecto vai ao encontro do conceito de museu integral (conceito introduzido

    pela UNESCO em 1972), um museu que desenvolve as suas funes tradicionais, mas

    integra o desenvolvimento de polticas patrimoniais sobre um territrio, integrando toda

    a populao desse territrio na sua actuao, constituindo-se como ncleo dinamizador

    del desarrollo cultural y tambin econmico de la zona (Martos e Santos, 2004:74).

    Um exemplo que os autores apontam o de Aragn em que foi introduzido o conceito

    de parque cultural que se assumem como instituies integradoras do patrimnio

    histrico daquele territrio (Martos e Santos, 2004).

    O total dos visitantes dos museus da Andaluzia em 2000 ascendeu a 1.222.283

    visitantes, a que se acrescem 2.234.054 de visitantes da Alhambra, que representa quase

  • 98

    exedra n temtico - Turismo 2009

    o dobro dos visitantes dos museus no seu conjunto. S para registo a Andaluzia em 2000

    recebeu 19.780.727 turistas (Martos e Santos, 2004), o que se significa que um nmero

    elevado de turistas no visita qualquer museu.

    Outro elemento interessante da regio de Andaluzia tem que ver com o facto da

    distribuio geogrfica dos museus se encontrar muito concentrada em torno das 8 capitais

    de provncia, que se constituem por sua vez, como aqueles locais de maior rentabilidade

    econmica e de maior fluxo turstico, pois so tambm as maiores aglomeraes urbanas

    (entre 20000 e 50000 habitantes). As zonas com mais de 2 museus ou at 5 museus so

    as que constituem territrios e cidades com patrimnio de maior importncia: Sevilha,

    Cdis, Mlaga, Granada, Crdoba, Huelva e Almeria encontram-se entre esses locais.

    Se se pretender fazer uma anlise paralela do caso do Algarve, verifica-se que os

    quatro museus estudados (que integram a Rede Portuguesa de Museus) situam-se todos

    nas cidades de maior dimenso populacional do Algarve, na faixa litoral e nas zonas

    de maior afluxo turstico da regio. Numa anlise de dimenso nacional em 2002, dos

    591 museus que integraram a Base de Dados do Observatrio das Actividades Culturais,

    apenas 6,9% se localizavam no Algarve (30,5% na zona de Lisboa e Vale do Tejo; 26,1%

    no Norte; 19,8% no Centro; e 9,8% no Alentejo) (Lima dos Santos e Bairro Oleiro,

    2005).

    Existe um nmero crescente de autores que defendem na sua investigao que

    os museus se constituem como elementos principais de atraco de turismo cultural,

    advindo da possibilidades de desenvolvimento econmico local e regional muito

    positivas (Prieto et al., 2002), o que tem contribudo para a disputa que se vive entre as

    cidades numa tentativa de conseguir possuir um museu emblemtico, com projecto de

    assinatura de um arquitecto de renome.8

    Um outro caso que merece referncia da Esccia, onde desde 1999 foi criado um

    Visitor Attractions Monitor (VAM) que recolhe e publica as estatsticas do sector das

    atraces tursticas integrando os museus (Lennon e Graham, 2001). A perspectiva do

    museu enquanto atraco turstica no ainda hoje pacfica e grande parte das galerias e

    museus do Reino Unido so propriedade do sector pblico, de associaes e de organismos

    sem fins lucrativos. J foram vrios os autores que referiram a funo comercial dos

    museus, no lazer e no turismo (Ambrose, 1994), outros afirmaram a necessidade de uma

    maior orientao para o mercado (Cossons, 1985), ou mesmo evidenciaram a necessidade

    de uma revisitao dos objectos, procurando criar uma ligao com o presente (Hall,

    1997) para se desenvolverem como locais competitivos (Lennon e Graham, 2001).

    Na Esccia, a atitude perante o turismo tem permanecido ao longo dos tempos

    quase imutvel apontando-se como o turismo como responsvel por tornar a histria

  • 99

    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    em mercadoria (Hewison, 1987), mas uma orientao comercial emergente na poltica

    pblica levou a que se introduzissem padres de excelncia nas organizaes de servios

    pblicos. Alguns dos indicadores introduzidos nesta avaliao qualitativa foram:

    padres de desempenho, informao e abertura; consulta e escolha; cortesia e ajuda;

    melhorias na qualidade do servio; melhorias planeadas e inovao; com a centralidade

    da avaliao colocada no cliente. As estatsticas j so utilizadas pelas atraces para

    medir o seu desempenho relativamente aos seus concorrentes e alguns dos indicadores

    incluem a monitorizao do nmero de visitantes, a sua permanncia mdia e a despesa

    por visitante (Lennon e Graham, 2001).

    Lennon e Graham (2001) apontam o desenvolvimento de novas estruturas, mais

    flexveis, tais como, o trabalho em rede, a colaborao ou a partilha de recursos como

    medidas capazes de contribuir para uma maior eficcia das polticas, que levaria a

    interpretaes mais coerentes do patrimnio cultural e a um maior estmulo procura.

    Apontam trs factores principais que tm dificultado uma maior orientao para o

    mercado dos museus: resistncias dos museus que aumentaram a sua dependncia do

    mecenato e tendem a aguardar um maior suporte das suas redes normais de financiamento

    (sector pblico, fundaes, voluntrios); ausncia por parte dos profissionais dos museus

    das competncias de gesto necessrias para lidar com as presses financeiras, legais e

    comerciais; as obrigaes ticas do sector dos museus levam a que considerem prioritrio

    a noo de servio pblico, pela proteco e preservao do seu legado para as geraes

    futuras.

    Esto assim identificados exemplos de esforos internacionais no sentido de tornar os

    museus espaos atractivos e atraces de lazer competitivas. Tal como afirma Silberberg

    (1995) a relao que se estabelece entre os museus e os locais histricos, e o turismo tem

    de deixar de centrar-se No que que podes fazer por mim? e reflectir uma abordagem

    do tipo O que posso fazer por ti?. Entre algumas das polticas e prticas que os museus

    podem adoptar Silberberg refere:

    Ajudar os hotis a definir packages de fim-de-semana para ultrapassar o problema

    frequente das quebras nas taxas de ocupao.

    Ajudar a definir programas complementares de lazer para os acompanhantes dos

    participantes em congressos e seminrios.

    O bilhete de ingresso pode ser considerado como passe alargado de um dia e incluir

    descontos noutras atraces, ou na restaurao local.

    Definio de horrios em coordenao com o comrcio local (Silberberg, 1995).

    A investigao do museu actual inclui novas dimenses nomeadamente a

    monitorizao do seu desempenho em termos de expectativas e nveis de satisfao do

    visitante com a experincia. Alguns pases j incluram na sua agenda poltica a melhoria

  • 100

    exedra n temtico - Turismo 2009

    da qualidade das atraces culturais e patrimoniais, desenvolvendo mecanismos de

    avaliao da qualidade. No caso Escocs, a estandardizao dos processos de avaliao

    da qualidade dos museus assegurado pelo MAS Registration Scheme (Museums

    Association), que resultou de uma iniciativa conjunta em 1998, da Museum and Gallery

    Commission (MGC) e do Museum Training Institute, (MTI) (Lennon e , 2001)9.

    Da reviso de literatura sobre a gesto do museu resultam algumas propostas que se

    sumariam como propostas para um novo modelo de gesto dos museus:

    1 - O museu deve constituir-se como instituio semi-pblica ou co-financiada, por fundaes

    pblicas, consrcios, empresas pblicas ou organismos autnomos.

    2 - Os recursos devem ser atribudos em funo de critrios objectivos, tais como: nmero

    de visitantes, qualidade da coleco, quantidade da coleco, superfcie expositiva, plano

    estratgico.

    3 - Os recursos externos devem basear-se em: entrada de visitantes, patrocnio, explorao

    de lojas.

    4 - Introduzir dias de livre acesso: limitados a dias especiais e determinados grupos.

    5 - Cooperao com outras instituies pblicas (desde a administrao central at aos

    municpios).

    6 - Concepo de sistema de museus bem vinculado rea geogrfica.

    7 - Evitar descontextualizao das coleces, pelo contrrio lig-las envolvente imediata.

    8 - A poltica relativa aos museus deve interligar-se com outras polticas meio ambiente,

    obras pblicas, educao e turismo como instrumento de desenvolvimento local (Martos

    e Santos, 2004; Serra, 2007).

    H que ter conscincia que o visitante-turista (potencial ou efectivo) tem diferentes

    tipos de necessidades de informao, que incluem a simples informao no local, mas

    tambm informao mais complexa sobre os significados histricos e culturais do local

    (interpretao) (Eagles et al., 2002).

    Os museus devem dar resposta s necessidades de informao dos turistas, e a

    informao mais elementar inclui: a lista e a descrio dos recursos patrimoniais e

    culturais existentes; a sinaltica direccional e referncias para chegar ao local; os

    horrios de funcionamento e o preo de ingresso; as diferentes actividades disponveis

    no equipamento, entre outras. O principal benefcio de fornecer um programa de

    interpretao reside na capacidade de construir audincias que compreendem e apreciam

    os recursos a ser visitados, o que tambm contribuir para uma reduo de impactes

    negativos e atrair maior suporte pblico para o local. Uma vez no museu, as necessidades

    de informao tornam-se mais complexas e o visitante querer obter informao mais

    detalhada e que possibilite estabelecer um dilogo entre passado, presente e futuro.

    Os museus e a museologia moderna tm que ser capazes de contribuir para um

  • 101

    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    dilogo interdisciplinar, em especial porque tm um importante contributo para dar no

    campo da conservao e desenvolvimento sustentado do turismo cultural.

    3. Anlise emprica dos resultados

    Uma breve contextualizao do panorama museolgico nacional dar lugar ao

    panorama do Algarve, procurando descrever e analisar criticamente os resultados, com

    base no enquadramento conceptual desenvolvido e das linhas orientadoras apontadas

    para o museu do futuro.

    3.1 O panorama museolgico nacional

    Em Portugal, foi com o trabalho conjunto do Observatrio das Actividades Culturais

    e do Instituto Portugus de Museus que se deu incio a um estudo objectivo e profundo

    do panorama museolgico portugus entre 2000 e 2003, recentemente publicado (Lima

    dos Santos e Oleiro, 2005) e que tem vindo a ser actualizado (Soares Neves e Alves dos

    Santos, 2006).

    Os primeiros passos no sentido de melhor se conhecer a realidade museolgica

    nacional datam de 1999 com o Inqurito aos Museus em Portugal desenvolvido pelo

    Observatrio das Actividades Culturais e pelo Instituto Portugus de Museus (Soares

    Neves e Alves dos Santos, 2001). data foram identificados 680 registos de museus

    (tendo sido excludos os ncleos dos museus polinucleados e os museus desactivados em

    projecto ou temporariamente fechados por obras). Desses 680 museus, foram recolhidas

    530 respostas vlidas, tendo-se includo entre os inquiridos: os Jardins Zoolgicos,

    Botnicos, Aqurios e Monumentos Musealizados (excluem-se os stios arqueolgicos e

    as Reservas e Parques Naturais).

    Em face dos dados disponveis e apresentados no Grfico 1, o nmero de museus

    a funcionar em 31 de Dezembro de 2005 era de 1.018, o que representa um acrscimo

    de 40% em relao a 1999. Foi nos museus com abertura espordica que se verificou

    maior crescimento. Salienta-se uma tendncia crescente para a apresentao de novos

    projectos de criao de museus, tendo sido identificados 326 em 2005 (o que representa

    153% de crescimento em relao aos nmeros de 2000), sendo a administrao local a

    grande responsvel por estes novos projectos, e pela declarao de intenes de criao

    de mais museus. Este movimento alargado a todo o pas, com menor incidncia no

    Alentejo.

  • 102

    exedra n temtico - Turismo 2009

    N de Museus (1993, 2000 e 2005)

    260

    728

    1018

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1993 2000 2005

    N de Museus

    Grfico n. 1 Evoluo do nmero de museus portuguesesFonte: Nabais, 1993; Soares Neves e Alves dos Santos, 2006

    Ainda que seja mais reduzido o nmero de museus em situao de fecho, os

    investigadores verificaram igualmente que entre 2000 e 2005 este nmero aumentou

    substancialmente, o que explicam com base em: problemas derivados do mau estado

    das infra-estruturas onde estavam implantadas, ao desaparecimento da prpria tutela

    e (e mais comummente) a processos de reorganizao do sector dos museus por parte

    das tutelas. (Soares Neves e Alves dos Santos, 2006:6). Tambm surgem algumas fuses

    em unidades museolgicas e alterao de funes de espaos at ento consagrados

    exposio de coleces, como resultado sobretudo de novas opes de gesto que visam

    racionalizar o funcionamento de algumas unidades mais deficitrias. (Soares Neves e

    Alves dos Santos, 2006:6).

    A administrao local as cmaras municipais -, mas tambm algumas empresas

    municipais (fenmeno emergente data de 2005), permanecem como a entidade

    que mais museus tutela.. No que se refere ao tipo de museu, predominam como mais

    representativos os museus de: Arte, Etnografia, Antropologia, Especializados e Mistos e

    Pluridisciplinares, verificando-se uma reduo mais significativa nos museus de Cincias

    Naturais e de Histria Natural. A maior concentrao geogrfica de museus permanece

    na regio de Lisboa e Vale do Tejo, mas com uma perda de peso relativamente ao conjunto

    do pas, devido sobretudo ao ganho de peso relativo da regio Norte. Em 2005 tem

    tambm lugar uma reduo no nmero de concelhos sem museu, sendo no continente,

    onde mais notrio o aumento de concelhos com pelo menos um museu (Soares Neves e

    Alves dos Santos, 2006). Em 2006, os museus do IPM (Instituto Portugus dos Museus)

  • 103

    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    atingiram mais de um milho de visitantes, o que j no se verificava desde 2002 (IPM,

    2006). Os meses de maior afluncia foram o ms de Maio (162 234 visitantes), pois tem

    lugar neste ms o Dia Internacional dos Museus e a Noite dos Museus, e o ms

    de Agosto (130.385 visitantes). Segundo a informao do IPM este aumento abrangeu

    museus de entrada gratuita e paga, bem como foi generalizado a todos os museus da

    RPM (Rede Portuguesa de Museus) (IPM, 2006).

    Quadro n. 5 Entidades proprietrias dos museus em Portugal

    Museus - Entidade Proprietria N %

    Instituto dos Museus e da Conservao (ex-IPM) 28 23,3

    Direco Regional da Cultura dos Aores 8 6,7

    Direco Regional dos Assuntos Culturais da Madeira 6 5,0

    Administrao Central 6 5,0

    Administrao Local 50 41,7

    Empresas Pblicas 2 1,7

    Privados Associaes Fundaes Igreja Catlica Misericrdias

    5942

    4,27,53,31,7

    Total 120 100

    Fonte: Rede Portuguesa de Museus, 2007 (http://www.rpmuseus-pt.org/Pt/html.index2.html)

    Por sua vez, as Estatsticas da Cultura, Desporto e Recreio 200510 publicadas pelo

    INE em 2006 evidenciam os seguintes resultados em relao aos museus em Portugal:

    Museus, por tipologia: 20% eram Museus de Arte, 18% Museus Mistos e Pluridisciplinares

    e 13% de Museus de Etnologia e Antropologia; com igual percentagem foram identificados

    os Museus de Histria e os Museus Especializados (9,5%), tendo sido a tipologia dos

    Museus de Territrio a apresentar menor expressividade no conjunto geral dos museus

    (2,5%).

    Os museus considerados registaram em 2005 um total de 9,7 milhes de visitantes, dos

    quais 1,8 milhes foram no mbito de grupos escolares (18%).

    Os museus mais visitados foram: Monumentos Musealizados (27%), com uma mdia

    de 190 mil visitantes, Jardins Zoolgicos, Botnicos e Aqurios (27%), Museus de Arte

    (15%).

    Nmero mdio anual de visitantes por museu: 34,1 mil pessoas.

  • 104

    exedra n temtico - Turismo 2009

    Acervo: total de 22,2 milhes de objectos, predominando os objectos de filatelia e

    fotografia (52%). Os bens arqueolgicos e os naturais no vivos representaram 18% e

    11%, respectivamente.

    Os museus com maior dimenso de acervo foram: Museus de Cincia e de Tcnica (33%

    dos objectos); Museus Especializados (21%) e Museus do Territrio (14%) (INE, 2006).

    Os vrios estudos consultados fazem referncia ao facto de um nmero cada vez

    maior de entidades museolgicas procederem ao registo do seu nmero de visitantes

    anuais, contudo, em face da disparidade do nmero de museus auscultados em cada

    investigao, difcil estabelecer uma evoluo das entradas de visitantes nos museus

    portugueses, apontando a anlise do Observatrio das Actividades Culturais e do

    Instituto Portugus de Museus publicada em 2005 para uma evoluo positiva entre

    2000 e 2002 (Grfico 2).

    Grfico n. 2 Evoluo dos visitantes nos museus portugueses

    11.829.47912.963.695 13.609.609

    1.860.679 2.187.027 2.239.439

    02.000.0004.000.0006.000.0008.000.000

    10.000.00012.000.00014.000.00016.000.000

    2000 2001 2002

    N de visitantes

    N de visitantes escolares

    Fonte: Lima dos Santos e Oleiro, 2005:61

    Segundo informao actual prestada pela Rede Portuguesa de Museus (RPM), na

    sua pgina da Internet, o nmero total de museus em Portugal aproxima-se dos 1000.

    No entanto, alguns destes museus correspondem a coleces visitveis, monumentos,

    stios ou at outras situaes, facto associado actual definio de Museu, conforme

    a Lei Quadro dos Museus Portugueses. Destes 1000 apenas 120 integravam a Rede

    Portuguesa dos Museus em Julho de 2007. Esta mesma Lei Quadro instituiu o processo

    de credenciao para o reconhecimento da qualidade tcnica do museu (Artigo 110),

    quanto adeso RPM voluntria e pressupe a resposta a um processo de candidatura,

    de acordo com o Despacho Normativo n.3/2006 de 25 de Janeiro.

  • 105

    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    Em 2007 foi criado o Conselho Nacional de Cultura (CNC) e constituda uma Seco

    de Museus e Conservao (SMC), rgo responsvel pela apreciao das candidaturas

    integrao na Rede Portuguesa de Museus. Por sua vez, da Ministra da Cultura a

    deciso de credenciao do museu, que tomada com base no relatrio tcnico elaborado

    pelo Instituto dos Museus e da Conservao (IMC) e mediante parecer da SMC do CNC.

    Hoje, com a fuso de servios esta credenciao foi transferida para uma diviso no seio

    do prprio IMC.

    Na pgina da Internet da Rede Portuguesa de Museus pode ler-se A Rede Portuguesa

    de Museus um sistema organizado, baseado na adeso voluntria, configurado de forma

    progressiva e que visa a descentralizao, a mediao, a qualificao e a cooperao

    entre museus. (http://www.rpmuseus-pt.org/Pt/html/index2.html, 2007). Esta rede

    pressupe uma dupla funcionalidade e constitui-se como: rede de informao possibilita

    disseminao de informao e estimula a comunicao; e, rede fsica permite a interconexo

    entre museus e a qualificao de equipamentos.

    No processo de candidatura RPM h um conjunto de documentao que os museus

    tm que entregar, contudo no existe referncia no processo necessidade de definio

    estratgica da sua aco junto da comunidade, assim como, se refere a necessidade de

    elaborar estudos de pblicos sem que defina periodicidade dessa auscultao ou os meios

    que a Rede coloca ao dispor para o efeito.

    A partir dos estudos referidos, bem como de outros trabalhos sobre as prticas de

    lazer e culturais dos portugueses, desenvolve-se a seguinte anlise dos principais factores

    positivos e negativos relativos aos museus portugueses:

  • 106

    exedra n temtico - Turismo 2009

    Quadro n. 6 Factores negativos e positivos da anlise dos museus portugueses

    Factores Negativos Factores Positivos

    Estudos sobre as prticas culturais dos portugueses demonstram que a visita a museus uma das prticas de lazer com menor frequncia. Elevado peso da tutela pblica: 60% dos museus pertencem administrao pblica e nestes 40% so da administrao local. Insuficincia de recursos informticos. Cerca de 52% dos museus nacionais no possuem servio educativo organizado (num total de 591 museus em 2002). Muitos no possuem servio de acolhimento ou at folheto desdobrvel.Aumento do nmero de museus fechados que se atribuem a: mau estado das infra-estruturas; desaparecimento da tutela; processos de reorganizao do sector dos museus por parte das tutelas (fuses de unidades museolgicas, alteraes das funes do espao at ento consagrado coleco, redistribuio dos acervos, entre outros).Alguma dificuldade em garantir de forma continuada os requisitos exigidos pelo processo de qualificao como museu, pela Lei Quadro dos Museus Portugueses. Enquadramento legal entrave inovao, sobretudo ao nvel das carreiras.Perda da especificidade das coleces pela integrao de acervos com dificuldades de definio do seu corpo predominante (derivado sobretudo do alargamento do conceito de patrimnio).

    Tendncia crescente para a apresentao de novos projectos de criao de museus. Criao da Rede Portuguesa de Museus/ Inqurito aos Museus/Base de dados dos Museus. Esforo de requalificao museolgica.Reduo do nmero de concelhos sem museu e esbatimento da predominncia geogrfica dos museus na Regio de Lisboa e Vale do Tejo. Exposies temporrias surgem como oportunidades de captao e alargamento de pblicos, e como instrumento de promoo. Crescente interesse pela museologia e museografia. Projectos de investigao que renem parcerias interessantes: OAC, INE, IPM. Novos eventos: Comemoraes do Dia Internacional dos Museus e Noite dos Museus tem vindo a funcionar com grande xito. Roteiro dos Museus (120 museus da RPM). Algumas oportunidades para o sector podem resultar da dinmica de crescimento dos museus. Nova Lei Quadro dos Museus e regime de credenciao pela Rede Portuguesa de Museus tornam mais rigorosas as condies de funcionamento e qualificao dos museus portugueses (existentes e novos).

    Fonte: Autora, 2007 (a partir de Fortuna, 1995; Garcia, 2003; Lima dos Santos e Oleiro, 2005; Novais, 1997; Soares Neves e Alves dos Santos, 2001 e 2006).

    O trabalho coordenado por M. de Lourdes Lima dos Santos e Manuel Bairro Oleiro

    (2005) apontam como uma concluso principal a situao precria dos servios educativos

    dos museus portugueses, na medida em que apenas 48% dos museus nacionais possuem

    servio educativo.

    A partir da anlise de vrios relatrios, estudos e trabalhos realizados torna-se

    evidente que existe a necessidade de uniformizao dos procedimentos metodolgicos

    para a recolha e anlise comparativa dos dados em relao a vrios aspectos dos museus,

    com especial destaque para os nmeros de visitantes e nmero de museus existentes.

  • 107

    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    3.2 O panorama museolgico regional

    Conforme referido, este ponto reflecte uma anlise dos quatro museus da RPM no

    Algarve situados em Albufeira, Faro, Portimo e Tavira (os dois primeiros so museus

    fundamentalmente arqueolgicos, o Museu de Portimo baseia-se num patrimnio

    industrial regional (a indstria conserveira) e pode-se classificar de sociedade, enquanto

    que o Museu de Tavira ainda est a definir o programa museolgico, mas integrar

    tambm vestgios arqueolgicos). Paralelamente, desenvolveram-se fichas tcnicas, com

    as caractersticas descritivas desses museus.

    Em trs dos quatro casos a resposta entrevista semi-estruturada foi fornecida pelo

    director/a do museu, tendo no caso do Museu Municipal de Albufeira sido respondida,

    por escrito, pela Vereadora da Cultura da Cmara Municipal de Albufeira. Numa anlise

    emprica dos elementos que se consideram essenciais para uma abordagem dos museus

    atractiva e orientada para os diferentes pblicos, gostava de salientar os seguintes

    aspectos dos museus do Algarve:

    1. Localizao Em muitos equipamentos a sua localizao um dos primeiros elementos a

    considerar no estudo de viabilidade do projecto. No caso dos museus esse elemento pode

    no se constituir como fundamental, na medida em que o que est l dentro determina-se

    como um elemento principal da sua atractividade. No entanto, existem algumas questes

    que se levantam. Em 3 dos 4 museus estudados teve lugar uma reabilitao de edifcios

    antigos, que no caso de Faro era um antigo Convento e no caso de Tavira era um Palcio

    (Albufeira, antigo edifcio civil e anteriores instalaes da Cmara), que no entanto,

    permanecem com problemas de temperatura, humidades, luminosidade, limitao de

    espao e condies de exposio, bem como de acessibilidade a pessoas idosas ou de

    pessoas com deficincia. O caso de Portimo excepcional, pois o edifcio era uma antiga

    fbrica conserveira de sardinha pertencente famlia Feu, que a autarquia adquiriu e

    atravs de uma candidatura ao Programa Operacional da Cultura tornou possvel uma

    renovao e readaptao total s suas novas funcionalidade de futuro Museu Municipal

    de Portimo (MMP). O MMP tem uma localizao privilegiada junto ao rio, mas no

    deixa de ter problemas de acessibilidade e estacionamento.

    2. Coleces O Museu Municipal de Albufeira (MMA) e o de Faro (MMF) apresentam como

    exposies de referncia as suas coleces permanentes de arqueologia, ainda que com

    enfoque sem perodos diferentes. No caso de Tavira o projecto ainda est em construo,

    ainda que tenha previsto integrar no seu plo principal uma coleco arqueolgica

    (perodo Fencio e Islmico) e se aponte para um modelo polinucleado de museu.

    3. Horrio Os museus municipais de Albufeira e de Faro encerram Segunda-Feira,

    o de Tavira encerra ao Domingo, e o de Portimo encontra-se ainda em adaptao e

    renovao, apontando como abertura ao pblico prevista para Abril de 2008. No MMF

    existe uma diferenciao de horrio entre Vero e Inverno, fechando mais tarde no

    perodo de Vero.

    4. Sites - Em todos os casos o museu disponibiliza a sua informao institucional atravs do

    site da autarquia, o que no se demonstra adequado a um pblico no residente, pois

  • 108

    exedra n temtico - Turismo 2009

    as pginas de Internet das autarquias encontram-se em Portugus e reflectem uma

    abordagem puramente descritiva, informativa e institucional. O grafismo, os contedos,

    a navegao em qualquer dos casos descurada e centrada numa funo informativa ao

    pblico portugus.

    5. Comunicao, Mediao e Interpretao Muito centrada nas folhas de sala, legendagem,

    brochuras e edio de catlogos em todos os casos. No caso do MMP est prevista a

    introduo de udio guias. Em Tavira tambm se espera poder integrar uma maior

    dimenso audiovisual e meios de interactividade. No caso de Faro, uma das exposies

    permanentes tem apenas uma folha de sala bilingue (Portugus/Ingls que tem que ser

    devolvida sada). Existe a possibilidade de visitas guiadas com reserva antecipada, mas

    mais vocacionada para grupos escolares. Em Tavira, a autarquia possui uma avena com

    uma guia que leva grupos de turistas a visitar o museu e faz com eles uma visita guiada

    ao espao.

    6. Poltica de preos O museu de Faro apresenta uma maior diferenciao de preos, com

    os tradicionais descontos para jovens e reformados, e gratuitidade para visitas escolares,

    mas com a inovao de aos Sbados a entrada ser gratuita para os muncipes. Em Tavira

    a entrada gratuita para os grupos escolares. Em Albufeira a entrada gratuita para todo

    o visitante.

    7. Sinaltica direccional m em todos os casos, sobretudo se pensarmos no turista

    estrangeiro, pois encontra-se em portugus apenas. No caso de Tavira dificultada pelo

    facto de aparecer o nome antigo do edifcio que Palcio Galeria sem a correspondncia

    a Museu da Cidade ou Museu Municipal de Tavira. Com a aproximao pedonal ao local

    tende a melhorar a sua sinalizao.

    8. Comunidade No caso de Faro11, o plano de actividades anual do museu engloba um

    Programa de Interveno Comunitria, com um nmero muito razovel de iniciativas

    que procuram atrair a comunidade a visitar e a participar no projecto do museu e possui

    um projecto de investigao intitulado: Identidade, espao e comunidade, associando

    dimenso cultural e social, a noo de espao fsico (de territrio). Tambm em Tavira

    est em desenvolvimento um programa especfico para levar os vizinhos do museu a

    visit-lo. O MMP tem em funcionamento um laboratrio de conservao e restauro que

    presta servios gratuitos comunidade.

    9. Modelo de Gesto no discurso patente entre os responsveis dos museus entrevistados

    parece emergir uma mudana de uma viso curatorial da gesto dos museus que se est

    a orientar para uma crescente aproximao dos seus mercados, ainda que a integrao

    da comunidade no projecto do museu seja nos quatro museus a preocupao principal, e

    o seu marketing se traduza fundamentalmente na sua funo de comunicao e relaes

    pblicas.

    Quase todos os museus possuem um Conselho Cientfico, ou pelo menos um conjunto

    de especialistas que contribuem para o projecto cientfico do museu (museolgico

    e museogrfico). No caso de Faro, existe uma grande proximidade das associaes

    do concelho nomeadamente daquelas representativas de pessoas com necessidades

    especiais, que procuram integrar no seu Programa Anual de Interveno Comunitria.

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    Alexandra Rodrigues Gonalves, Francisco Ramos & Carlos Costa O museu como plo de atraco turstica

    Em Portimo referida a possibilidade de criar o grupo dos Amigos do Museu e em

    Tavira, recusa-se a ideia da comunidade ter assento num rgo consultivo, por falta d

    conhecimento para avaliar as propostas cientficas a integrar no projecto do museu,

    referindo que essa participao poder acontecer noutro tipo de rgo a definir, mas

    tambm em seminrios, encontros ou outro tipo de actividades em que faa sentido a

    participao activa da comunidade. Em Albufeira a interaco com a comunidade faz-se

    junto dos seus pblicos escolares.

    3.3 Anlise crtica dos resultados da investigao

    Uma anlise particular dos resultados relativos aos museus RPM do Algarve, revelava

    que:

    1. Todos os museus possuem uma localizao privilegiada no casco antigo das respectivas

    cidades, o que resulta num contributo positivo para atraco histrica e cultural

    da zona, mas como negativo tem associadas as dificuldades de acessibilidade e de

    estacionamento.

    2. Existe uma cumplicidade crescente entre os museus do Algarve, sobretudo ao nvel das

    equipas de direco dos mesmos.

    3. Todos possue