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    OO MMeellhhoorr ddee AA.. WW.. TToozzeerr

    Digitalizado por Neuza

    Enviado por id Revisado e formatado por amigo annimo

    www.semeadoresdapalavra.net

  • [2]

    Nossos e-books so disponibilizados gratuitamente, com a

    nica finalidade de oferecer leitura edificante a todos aqueles

    que no tem condies econmicas para comprar.

    Se voc financeiramente privilegiado, ento utilize nosso acervo apenas para avaliao, e, se gostar, abenoe autores,

    editoras e livrarias, adquirindo os livros.

    SEMEADORES DA PALAVRA e-books evanglicos

    Sumrio Introduo ................................................................................................................................................................ 3

    # Excertos Extrados de Procura de Deus........................................................................................................ 4 1. Seguindo a Deus de Perto ............................................................................................................................... 5 2. A Voz do Verbo .............................................................................................................................................. 8 3. Mansido e Descanso ................................................................................................................................... 14

    # Excertos Extrados de O Poder de Deus ......................................................................................................... 17 4. Nascido Depois da Meia-Noite ..................................................................................................................... 17 5. Ertico Versus Espiritual .............................................................................................................................. 18 6. Para Estarmos Certos, Temos de Pensar Certo ............................................................................................. 20 7. A F se Arrisca a Falhar ............................................................................................................................... 21 8. O Valor de uma Imaginao Santificada ...................................................................................................... 23 9. Proximidade E Semelhana .......................................................................................................................... 24 10. Por Que Somos Indiferentes Quanto ao Retorno de Cristo ...................................................................... 25

    # Excertos Extrados de Deus Fala com o Homem que Mostra Interesse ......................................................... 27 11. Deus Fala com o Homem Que Mostra Interesse ...................................................................................... 27 12. A Posio Vital da Igreja .......................................................................................................................... 28 13. Organizao: Necessria e Perigosa ......................................................................................................... 29 14. As Divises nem Sempre So Ms ........................................................................................................... 31 15. A Responsabilidade da Liderana ............................................................................................................ 32 16. A Orao de um Profeta Menor................................................................................................................ 34 17. Precisa-se: Coragem com Moderao ...................................................................................................... 35 18. Este Mundo: Parque de Diverses ou Campo de Batalha? ....................................................................... 37 19. A Autoridade Decrescente de Cristo nas Igrejas ...................................................................................... 38

    # Excertos Extrados de Esse Cristo Incrvel ................................................................................................... 42 20. Esse Cristo Incrvel ................................................................................................................................. 42 21. O Que Significa Aceitar Cristo ................................................................................................................ 43 22. A Insuficincia do "Cristianismo Instantneo" ......................................................................................... 45 23. No Existe Substituto para a Teologia............................................................................................................ 46 24. A Importncia da Auto-Anlise................................................................................................................ 47 25. Sinais do Homem Espiritual ..................................................................................................................... 49

    # Excertos Extrados de A Raiz dos Justos ........................................................................................................ 50 26. A Raiz dos Justos ..................................................................................................................................... 50 27. E Fcil Viver com Deus ........................................................................................................................... 51 28. Quanto a Receber Admoestao ............................................................................................................... 52 29. O Grande Deus Entretenimento................................................................................................................ 53 30. Bblia Ensinada ou Esprito Ensinado? .................................................................................................... 55 31. A Cruz E uma Coisa Radical .................................................................................................................... 56

    # Excertos Extrados de De Deus e o Homem ................................................................................................... 57 32. O Relatrio do Observador ....................................................................................................................... 57 33. Exposio Requer Aplicao .................................................................................................................... 58 34. Cuidado com a Mentalidade de Carto de Fichrio .................................................................................. 59 35. O Uso e Abuso do Bom Humor ............................................................................................................... 61 36. Cultivemos a Simplicidade e a Solido .................................................................................................... 62 37. O Mundo Bblico E o Mundo Real........................................................................................................... 63 38. Louvor em Trs Dimenses ..................................................................................................................... 64

    # Excertos Extrados de O Homem: a Habitao de Deus ................................................................................ 65 39. O Homem: a Habitao de Deus .............................................................................................................. 65

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    40. Por Que Alguns Acham a Bblia Difcil ................................................................................................... 66 41. A F: uma Doutrina Incompreendida ....................................................................................................... 68 42. A Verdadeira Religio no se Baseia em Sentimentos mas na Vontade .................................................. 69 43. A Velha e a Nova Cruz............................................................................................................................. 71 44. Deus Deve Ser Amado por Ele Mesmo .................................................................................................... 72 45. Como Provar os Espritos ......................................................................................................................... 74 46. Algumas Idias sobre os Livros e a Leitura ............................................................................................. 80 47. Os Santos Devem Andar a Ss ................................................................................................................. 81

    # Excerto Extrado de Como Encher-se com o Esprito Santo .......................................................................... 83 48. Como Encher-se com o Esprito Santo ..................................................................................................... 83

    # Excerto Extrado de A Adorao: Jia Ausente na Igreja Evanglica ........................................................... 87 49. A Adorao: Ocupao Normal dos Seres Morais ................................................................................... 87

    # Excerto Extrado de Quem Colocou Jesus na Cruz? ...................................................................................... 89 50. Cristo, Voc se Considera Muito Inferior? ............................................................................................. 89

    # Excerto Extrado de Caminhos para o Poder ................................................................................................. 95 51. Os Milagres Seguem o Arado .................................................................................................................. 95

    # Excerto Extrado de Deixe Ir o Meu Povo ...................................................................................................... 97 52. O Sistema Jaffray ..................................................................................................................................... 97

    Introduo "Penso que minha filosofia esta: Tudo est errado at que Deus endireite as coisas." Esta declarao do Dr. A. W. Tozer resume perfeitamente a sua crena e o que ele

    tentou fazer durante seus anos de ministrio. Todo o foco de sua pregao e tudo aquilo que escreveu concentrava-se em Deus. No tinha tempo para mascates religiosos que inventavam novos meios de promover suas vendas e elevar suas estatsticas, Da mesma forma que Thoreau, autor por ele muito admirado, Tozer marchava ao som de um tambor diferente; e por esta razo, no geral achava-se fora de compasso com muitos dos parti-cipantes na parada religiosa.

    Mas o que nos fazia am-lo e admir-lo era justamente esta excentricidade evanglica. Ele no temia dizer-nos o que estava errado, nem vacilava em mostrar-nos como Deus poderia endireitar as coisas. Se um sermo pode ser comparado luz, A. W. Tozer lanava ento um raio laser do plpito, um raio que penetrava o seu corao, queimava a sua conscincia, expunha o pecado e fazia voc gritar: "Que devo fazer para ser salvo?" A resposta vinha sempre igual: renda-se a Cristo; conhea pessoalmente a Deus; cresa para assemelhar-se a Ele.

    Aiden Wilson Tozer nasceu em Newburg (ento conhecido como La Jose), Pensilvnia, a 21 de abril de 1897. Em 1912 a famlia mudou-se da fazenda de Akron, Ohio; e em 1915 ele converteu-se a Cristo, entrando imediatamente numa vida de grande intensidade devocional e testemunho pessoal. Em 1919 comeou a pastorear a igreja da Aliana em Nutter Fort, em West Virgnia. Tambm serviu em igrejas nas cidades de Morgsntown, West Virginia; Toledo, Ohio; Indianapolis, Indiana; e em 1928 iniciou seu trabalho na igreja da Aliana em Chicago (Southside Alliance Church). Ali serviu at novembro de 1959, quando tornou-se pastor da igreja Avenue Road em Toronto. Um repentino ataque cardaco a 12 de maio de 1963 ps fim a esse ministrio e Tozer foi introduzido na glria.

    Estou certo de que Tozer alcanou mais pessoas atravs de seus escritos do que de sua pregao. Grande parte do que escreveu foi refletido na pregao de pastores que alimentavam a alma dos seus fiis com as palavras dele. Em maio de 1950, Tozer foi nomeado redator da revista "The Alliance Weekly", agora The Alliance Witness, talvez a nica revista religiosa comprada principalmente pelos seus editoriais. Ouvi certa vez o Dr. Tozer, numa conferncia na Associao da Imprensa Evanglica, criticando os editores que praticavam o que ele chamava de "jornalismo de supermercado duas colunas de anncios e um corredor de material de leitura". Ele era um escritor exigente e to rigoroso

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    consigo mesmo quanto com os demais. O que toma conta de ns e no nos deixa escapar mais nos trabalhos de Tozer? Ele

    no teve o privilgio de cursar uma universidade nem um seminrio, ou sequer uma escola bblica; todavia, deixou-nos uma estante de livros que ser consultada at a volta do Senhor por aqueles que buscam crescer em espiritualidade.

    A. W. Tozer escrevia com convico. Ele no tinha interesse em agradar os superficiais cristos atenienses que estavam em busca de novidades. Tozer voltou a cavar os velhos poos e nos chamou de volta aos velhos caminhos, acreditando ardentemente nas verdades por ele ensinadas e pondo-as em prtica. Certa vez disse a um amigo meu: "Consegui a antipatia de todos em toda plataforma a que subi neste pas durante a realizao de uma Conferncia Bblica!" O povo no corre para ouvir algum cujas convices tragam constrangimento.

    Tozer era um mstico um mstico evanglico numa era pragmtica e materialista. Ele contnua a chamar-nos para observar aquele mundo da realidade espiritual que fica alm do mundo fsico que tanto nos seduz. Ele nos pede para agradar a Deus e ignorar a multido, para adorar a Deus a fim de nos assemelharmos a Ele. Quo desesperadamente precisamos hoje dessa mensagem!

    A. W. Tozer tinha o dom de tomar uma verdade espiritual e coloc-la sob a luz, a fim de que, como um diamante, cada faceta fosse vista e admirada. Ele no se perdia nos pntanos homilticos; o vento do Esprito soprava e ossos mortos ganhavam vida. Seus ensaios so como delicados camafeus, cujo valor no determinado pelo seu tamanho. Sua pregao caracterizava-se por uma intensidade espiritual que penetrava o corao, ajudando-o a ver Deus. Feliz o cristo que pode dispor de um livro de Tozer quando sua alma est sedenta e ele sente que Deus se distanciou.

    Isto leva quela que julgo ser a maior contribuio que A. W. Tozer faz em seus escritos: ele o estimula tanto com relao verdade, que voc se esquece de Tozer e procura a sua Bblia. Ele mesmo repetiu muitas vezes que o melhor livro aquele que faz voc desejar p-lo de lado e pensar por si mesmo. raro eu ler Tozer sem procurar meu caderno de notas e escrever nele alguma coisa que mais tarde possa ser transformada numa mensagem. Tozer como um prisma que recolhe a luz e depois revela a sua beleza.

    Selecionar o "melhor de A. W. Tozer" uma tarefa impossvel. Melhor para quem? Para que necessidades? Como pastor, eu escolheria cinquenta ensaios que iriam desafiar e abenoar o corao de meus irmos no ministrio, mas Tozer lido por muitos que no exercem essa funo. Por ser escritor, eu poderia escolher captulos dos seus livros que revelam sua habilidade com as palavras; mas a maioria dos leitores no escreve livros. Aqueles dentre ns que apreciamos os escritos de Tozer certamente temos os nossos favoritos, mas tenho certeza de que no haveria dois que concordassem.

    Dos livros de Tozer publicados pela Christian Publications de Harrisburg, Pensilvnia, fiz selees com base no tema e seu desenvolvimento. O Dr. Tozer dizia com freqncia as mesmas coisas de modos diversos, e tentei escolher os temas principais em sua melhor expresso. Se um de seus ensaios favoritos estiver faltando, talvez voc seja compensado lendo um outro que tenha perdido ou esquecido.

    Se este livro for a sua primeira introduo a A. W. Tozer, permita-me ento sugerir a melhor maneira de ler seus ensaios. Voc deve l-los lentamente e com reflexo, meditando enquanto l. medida que l, oua o que Tozer chamava de "a outra Voz" falando a verdade atravs dessas breves mensagens. Se certa verdade se puser a queimar em seu corao, coloque o livro de lado e deixe que Deus o oriente. Aguarde em silncio diante dEle e bem fundo em seu corao Deus lhe falar.

    # Excertos Extrados de Procura de Deus

  • [5]

    1. Seguindo a Deus de Perto A minha alma apega-se a ti: a tua destra me ampara (Sl 63:8.). O evangelho nos ensina a doutrina da graa preveniente, que significa simplesmente

    que, antes de um homem poder buscar a Deus, Deus tem que busc-lo primeiro. Para que o pecador tenha uma idia correta a respeito de Deus, deve receber antes um

    toque esclarecedor em seu ntimo; que, mesmo que seja imperfeito, no deixa de ser verdadeiro, e o que desperta nele essa fome espiritual que o leva orao e busca.

    Procuramos a Deus porque, e somente porque, Ele primeiramente colocou em ns o anseio que nos lana nessa busca. Ningum pode vir a mim, disse o Senhor Jesus, se o Pai que me enviou no o trouxer (Jo 6:44), e justamente atravs desse trazer preveniente, que Deus tira de ns todo vestgio de mrito pelo ato de nos achegarmos a Ele. O impulso de buscar a Deus origina-se em Deus, mas a realizao do impulso depende de O seguirmos de todo o corao. E durante todo o tempo em que O buscamos, j estamos em Sua mo: ... o Senhor o segura pela mo (Sl 37:24.).

    Nesse amparo divino e no ato humano de apegar-se no h contradio. Tudo provm de Deus, pois, segundo afirma Von Hgel, Deus sempre a causa primeira. Na prtica, entretanto (isto , quando a operao prvia de Deus se combina com uma reao positiva do homem), cabe ao homem a iniciativa de buscar a Deus. De nossa parte deve haver uma participao positiva, para que essa atrao divina possa produzir resultados em termos de uma experincia pessoal com Deus. Isso transparece na calorosa linguagem que expressa o sentimento pessoal do salmista no Salmo 42: Como suspira a cora pelas correntes das guas, assim, por ti, Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando irei e me verei perante a face de Deus? E um apelo que parte do mais profundo da alma, e qualquer corao anelante pode muito bem entend-lo.

    A doutrina da justificao pela f uma verdade bblica, e uma bno que nos liberta do legalismo estril e de um intil esforo prprio em nosso tempo tem-se degenerado bastante, e muitos lhe do uma interpretao que acaba se constituindo um obstculo para que o homem chegue a um conhecimento verdadeiro de Deus. O milagre do novo nascimento est sendo entendido como um processo mecnico e sem vida. Parece que o exerccio da f j no abala a estrutura moral do homem, nem modifica a sua velha natureza. como se ele pudesse aceitar a Cristo sem que, em seu corao, surgisse um genuno amor pelo Salvador. Contudo, o homem que no tem fome nem sede de Deus pode estar salvo? No entanto, exatamente nesse sentido que ele orientado: conformar-se com uma transformao apenas superficial.

    Os cientistas modernos perderam Deus de vista, em meio s maravilhas da criao; ns, os crentes, corremos o perigo de perdermos Deus de vista em meio s maravilhas da Sua Palavra. Andamos quase inteiramente esquecidos de que Deus uma pessoa, e que, por isso, devemos cultivar nossa comunho com Ele como cultivamos nosso companheirismo com qualquer outra pessoa. parte inerente de nossa personalidade conhecer outras personalidades, mas ningum pode chegar a um conhecimento pleno de outrem atravs de um encontro apenas. Somente aps uma prolongada e afetuosa convivncia que dois seres podem avaliar mutuamente sua capacidade total.

    Todo contato social entre os seres humanos consiste de um reconhecimento de uma personalidade para com outra, e varia desde um esbarro casual entre dois homens, at a comunho mais ntima de que capaz a alma humana. O sentimento religioso consiste, em sua essncia, numa reao favorvel das personalidades criadas, para com a Personalidade Criadora, Deus. E a vida eterna esta: que te conheam a ti, o nico Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste".

    Deus uma pessoa, e nas profundezas de Sua poderosa natureza Ele pensa, deseja, tem gozo, sente, ama, quer e sofre, como qualquer outra pessoa. Em seu relacionamento conosco, Ele se mantm fiel a esse padro de comportamento da personalidade. Ele se comunica conosco por meio de nossa mente, vontade e emoes.

    O cerne da mensagem do Novo Testamento a comunho entre Deus e a alma remida,

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    manifestada em um livre e constante intercmbio de amor e pensamento. Esse intercmbio, entre Deus e a alma, pode ser constatado pela percepo consciente

    do crente. uma experincia pessoal, isto , no vem atravs da igreja, como Corpo, mas precisa ser vivida, por cada membro. Depois, em conseqncia dele, todo o Corpo ser abenoado. E uma experincia consciente: isto , no se situa no campo do subconsciente, nem ocorre sem a participao da alma (como, por exemplo, segundo alguns imaginam, se d com o batismo infantil), mas perfeitamente perceptvel, de modo que o homem pode conhecer essa experincia, assim como pode conhecer qualquer outro fato experimental.

    Ns somos em miniatura, (excetuando os nossos pecados) aquilo que Deus em forma infinita. Tendo sido feitos a Sua imagem, temos dentro de ns a capacidade de conhec-lO. Enquanto em pecado, falta-nos to-somente o poder. Mas, a partir do momento em que o Esprito nos revivifica, dando-nos uma vida regenerada, todo o nosso ser passa a gozar de afinidade com Deus, mostrando-se exultante e grato. Isso este nascer do Esprito sem o qual no podemos ver o reino de Deus. Entretanto, isso no o fim, mas apenas o comeo, pois a partir da que o nosso corao inicia o glorioso caminho da busca, que consiste em penetrar nas infinitas riquezas de Deus. Posso dizer que comeamos neste ponto, mas digo tambm que homem nenhum j chegou ao final dessa explorao, pois os mistrios da Trindade so to grandes e insondveis que no tm limite nem fim.

    Encontrar-se com o Senhor, e mesmo assim continuar a busc-lO, o paradoxo da alma que ama a Deus. um sentimento desconhecido daqueles que se satisfazem com pouco, mas comprovado na experincia de alguns filhos de Deus que tm o corao abrasado. Se examinarmos a vida de grandes homens e mulheres de Deus, do passado, logo sentiremos o calor com que buscavam ao Senhor. Choravam por Ele, oravam, lutavam e buscavam-nO dia e noite, a tempo e fora do tempo, e, ao encontr-lO, a comunho parecia mais doce, aps a longa busca. Moiss usou o fato de que conhecia a Deus como argumento para conhec-lO ainda melhor. Agora, pois, se achei graa aos teus olhos, rogo-te que me faas saber neste momento o Teu caminho, para que eu Te conhea, e ache graa aos Teus olhos (Ex 33:13). E, partindo da, fez um pedido ainda mais ousado: Rogo-te que me mostres a tua glria (Ex 33:18). Deus ficou verdadeiramente alegre com essa demonstrao de ardor e, no dia seguinte, chamou Moiss ao monte, e ali, em solene cortejo, fez toda a Sua glria passar diante dele.

    A vida de Davi foi uma contnua nsia espiritual. Em todos os seus salmos ecoa o clamor de uma alma anelante, seguido pelo brado de regozijo daquele que atendido. Paulo confessou que a mola-mestra de sua vida era o seu intenso desejo de conhecer a Cristo mais e mais. Para O conhecer (Fp 3:10), era o objetivo de seu viver, e para alcanar isso, sacrificou todas as outras coisas. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual perdi todas as cousas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo (Fp 3:8).

    Muitos hinos evanglicos revelam este anelo da alma por Deus, embora a pessoa que canta, j saiba que o encontrou. H apenas uma gerao, nossos antepassados cantavam o hino que dizia: Verei e seguirei o Seu caminho; hoje no o ouvimos mais entre os cristos. uma tragdia que, nesta poca de trevas, deixemos s para os pastores e lderes a busca de uma comunho mais ntima com Deus. Agora, tudo se resume num ato inicial de aceitar a Cristo (a propsito, esta palavra no encontrada na Bblia), e da por diante no se espera que o convertido almeje qualquer outra revelao de Deus para a sua alma. Estamos sendo confundidos por uma lgica espria que argumenta que, se j encontramos o Senhor, no temos mais necessidade de busc-lO. Esse conceito nos apresentado como sendo o mais ortodoxo, e muitos no aceitariam a hiptese de que um crente instrudo na Palavra pudesse crer de outra forma. Assim sendo, todas as palavras de testemunho da Igreja que significam adorao, busca e louvor, so friamente postas de lado. A doutrina que fala de uma experincia do corao, aceita pelo grande contingente dos santos que possuam o bom perfume de Cristo, hoje substituda por uma interpretao superficial

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    das Escrituras, que sem dvida soaria como muito estranha para Agostinho, Rutherford ou Brainerd.

    Em meio a toda essa frieza existem ainda alguns alegro-me em reconhecer que jamais se contentaro com essa lgica superficial. Talvez at reconheam a fora do argumento, mas depois saem em lgrimas procura de algum lugar isolado, a fim de orarem: Deus, mostra-me a tua glria. Querem provar, ver com os olhos do ntimo, quo maravilhoso Deus .

    meu propsito instilar nos leitores um anseio mais profundo pela presena de Deus. justamente a ausncia desse anseio que nos tem conduzido a esse baixo nvel espiritual que presenciamos em nossos dias. Uma vida crist estagnada e infrutfera resultado da ausncia de uma sede maior de comunho com Deus. A complacncia inimigo mortal do crescimento cristo. Se no existir um desejo profundo de comunho, no haver manifestao de Cristo para o Seu povo. Ele espera que o procuremos. Infelizmente, no caso de muitos crentes, em vo que essa espera se prolonga.

    Cada poca tem suas prprias caractersticas. Neste exato instante encontramo-nos em um perodo de grande complexidade religiosa. A simplicidade existente em Cristo raramente se acha entre ns. Em lugar disso, vem-se apenas programas, mtodos, organizaes e um mundo de atividades animadas, que ocupam tempo e ateno, mas que jamais podem satisfazer fome da alma. A superficialidade de nossas experincias ntimas, a forma vazia de nossa adorao, e aquela servil imitao do mundo, que caracterizam nossos mtodos promocionais, tudo testifica que ns, em nossos dias, conhecemos a Deus apenas imperfeitamente, e que raramente experimentamos a Sua paz.

    Se desejamos encontrar a Deus em meio a todas as exteriorizaes religiosas, primeiramente temos que resolver busc-Lo, e da por diante prosseguir no caminho da simplicidade. Agora, como sempre o fez, Deus revela-Se aos pequeninos e se oculta daqueles que so sbios e prudentes aos seus prprios olhos. mister que simplifiquemos nossa maneira de nos aproximar dEle. Urge que fiquemos to-somente com o que essencial (e felizmente, bem poucas coisas so essenciais). Devemos deixar de lado todo esforo para impression-lO e ir a Deus com a singeleza de corao da criana. Se agirmos dessa forma, Deus nos responder sem demora.

    No importa o que a Igreja e as outras religies digam. Na realidade, o que precisamos de Deus mesmo. O hbito condenvel de buscar a Deus e que nos impede de encontrar ao Senhor na plenitude de Sua revelao. no conectivo e que reside toda a nossa dificuldade. Se omitssemos esse e, em breve acharamos o Senhor e nEle encontraramos aquilo por que intimamente sempre anelamos.

    No precisamos temer que, se visarmos to-somente a comunho com Deus, estejamos limitando nossa vida ou inibindo os impulsos naturais do corao. O oposto que verdade. Convm-nos perfeitamente fazer de Deus o nosso tudo, concentrando-nos nEle, e sacrificando tudo por causa dEle.

    O autor do estranho e antigo clssico ingls, The Cloud of Unknowing (A nuvem do desconhecimento), d-nos instrues de como conseguir isso. Diz ele: Eleve seu corao a Deus num impulso de amor; busque a Ele, e no Suas bnos. Da por diante, rejeite qualquer pensamento que no esteja relacionado com Deus. E assim no faa nada com sua prpria capacidade, nem segundo a sua vontade, mas somente de acordo com Deus. Para Deus, esse o mais agradvel exerccio espiritual.

    Em outro trecho, o mesmo autor recomenda que, em nossas oraes, nos despojemos de todo o empecilho, at mesmo de nosso conhecimento teolgico. Pois lhe basta a inteno de dirigir-se a Deus, sem qualquer outro motivo alm da pessoa dEle. No obstante, sob todos os seus pensamentos, aparece o alicerce firme da verdade neotestamentria, porquanto explica o autor que, ao referir-se a ele, tem em vista Deus que o criou, resgatou, e que, em Sua graa, o chamou para aquilo que voc agora . Este autor defende vigorosamente a simplicidade total: Se desejamos ver a religio crist resumida em uma nica palavra, para assim compreendermos melhor o seu alcance, ento tomemos uma palavra de uma slaba ou duas. Quanto mais curta a palavra, melhor ser,

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    pois uma palavra menor est mais de acordo com a simplicidade que caracteriza toda a operao do Esprito. Tal palavra deve ser ou Deus ou Amor.

    Quando o Senhor dividiu a terra de Cana entre as tribos de Israel, a de Levi no recebeu partilha alguma. Deus disse-lhe simplesmente: Eu sou a tua poro e a tua herana no meio dos filhos de Israel (Nm 18:20), e com essas palavras tornou-a mais rica que todas as suas tribos irms, mais rica que todos os reis e rajs que j viveram neste mundo. E em tudo isto transparece um princpio espiritual, um princpio que continua em vigor para todo sacerdote do Deus Altssimo.

    O homem, cujo tesouro o Senhor, tem todas as coisas concentradas nEle. Outros tesouros comuns talvez lhe sejam negados, mas mesmo que lhe seja permitido desfrutar deles, o usufruto de tais coisas ser to diludo que nunca necessrio sua felicidade. E se lhe acontecer de v-los desaparecer, um por um, provavelmente no experimentar sensao de perda, pois conta com a fonte, com a origem de todas as coisas, em Deus, em quem encontra toda satisfao, todo prazer e todo deleite. No se importa com a perda, j que, em realidade nada perdeu, e possui tudo em uma pessoa Deus de maneira pura, legtima e eterna.

    Deus, tenho provado da Tua bondade, e se ela me satisfaz, tambm aumenta minha sede de experimentar ainda mais. Estou perfeitamente consciente de que necessito de mais graa. Envergonho-me de no possuir uma fome maior. Deus, Deus trino, quero buscar-Te mais; quero buscar apenas a Ti; tenho sede de tornar-me mais sedento ainda. Mostra-me a Tua glria, rogo-Te, para que assim possa conhecer-Te verdadeiramente. Por Tua misericrdia, comea em meu ntimo uma nova operao de amor. Diz minha alma: Levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem (Ct 2:10). E d-me graa para que me levante e te siga, saindo deste vale escuro onde estou vagueando h tanto tempo. Em nome de Jesus. Amm.

    2. A Voz do Verbo No princpio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (Jo 1:1.)

    Qualquer homem de inteligncia mdia, ainda que no instrudo das verdades do cristianismo, chegando a ler esse texto, certamente concluir que Joo tencionava ensinar que falar faz parte da natureza de Deus, ou seja, Ele deseja comunicar seus pensamentos aos outros seres inteligentes. E teria plena razo. A palavra (verbo) o meio atravs do qual os pensamentos so expressos pelo que tambm a aplicao do termo "Verbo" ao Filho eterno de Deus leva-nos a crer que a auto-expresso faz parte inerente da divindade, e que Deus est sempre procurando falar de Si mesmo s Suas criaturas. E a Bblia inteira apia essa idia. Deus continua falando. No somente falou, mas continua falando. Por fora de Sua prpria natureza, Ele se comunica continuamente. Enche o mundo com Sua voz.

    Uma das grandes realidades que temos de levar em conta, e com a qual nos vemos a braos, a voz de Deus neste mundo. A hiptese mais simples sobre a formao do universo, e a mais certa, essa: "Ele falou, e tudo se fez." A razo de ser da lei natural no outra seno a voz de Deus, imanente em Sua criao. E essa palavra de Deus, que trouxe existncia todos os mundos criados, no pode ter sido a Bblia, porquanto esta no fora escrita nem impressa ainda, mas a expresso da vontade de Deus, manifesta na estrutura de todas as coisas. Essa palavra que vem de Deus o sopro divino que enche o mundo de potencialidade vital. A voz de Deus a mais poderosa fora que h na natureza, e, na realidade, a nica fora que atua na natureza, onde reside toda a energia pelo simples fato de que a palavra de poder foi proferida.

    A Bblia a Palavra escrita de Deus; e, por haver sido escrita, est confinada e limitada

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    pelas necessidades da tinta, do papel e do couro. A voz de Deus, entretanto, viva e livre como o prprio Deus. "As palavras que eu vos tenho dito, so esprito e so vida." (Jo 6:36.) A vida est encerrada nas palavras proferidas por Deus. A Palavra de Deus, na Bblia, s tem poder porque corresponde perfeitamente palavra de Deus no universo. a voz presente no mundo que d Palavra escrita todo o seu poder. De outro modo, estaria para sempre adormecida, aprisionada entre as pginas de um livro.

    Temos uma viso muito pequena e primitiva das coisas, quando pensamos em Deus, no ato da criao, a entrar em contato fsico com essas coisas, a modelar, adaptar, e fabricar, como se fosse um carpinteiro. A Bblia ensina uma coisa totalmente diversa: "Os cus por sua palavra se fizeram, e pelo sopro de sua boca o exrcito deles. . . Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a a existir" (Sl 33:6, 3). "Pela f entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visvel veio a existir das cousas que no aparecem." (Hb 11:3.) Uma vez mais, convm que nos lembremos de que Deus se refere aqui, no Sua Palavra escrita, Bblia, mas antes, voz da Sua palavra. Isto se refere voz que enche antes o mundo, aquela voz que antecede a Bblia em sculos e sculos; aquela voz que no silenciou mais desde o incio da criao, mas que continua a soar, e alcana todos os recantos desse imenso universo.

    A Palavra de Deus viva e poderosa. No princpio Ele falou ao nada, e o nada se tornou em alguma coisa. O caos a ouviu e se fez ordem, as trevas a ouviram, e se transformaram em luz. "E disse Deus. . . e assim se fez." Essas sentenas gmeas, como se fossem causa e efeito, ocorrem em todo o relato da criao, no livro de Gnesis. O disse explica o assim se fez. O assim se fez o disse, poso em forma de presente contnuo.

    Deus est aqui, e est sempre falando. Essas verdades so o pano de fundo de todas as demais verdades bblicas; sem elas estas ltimas no poderiam ser revelaes de forma alguma. Deus no escreveu um livro para envi-lo atravs de mensageiros e ser lido distncia, por mentes desassistidas. Ele "falou" um livro e vive em Suas palavras proferidas, constantemente afirmando as Suas palavras e outorgando-lhes o poder que elas tm, pelo que tambm persistem atravs de todos os sculos. Deus soprou sobre o barro, e este se transformou em homem; Ele sopra sobre os homens, e estes se tornam barro. "Porque tu s p e ao p tornars" (Gn 3:19) foi a palavra proferida quando da queda, mediante a qual decretou a morte fsica de todo homem, e no foi necessrio dizer mais nenhuma palavra. O triste curso da humanidade, em toda a face da terra, desde o nascimento at sepultura, prova de que Sua palavra original foi o bastante.

    Ainda no demos ateno suficiente quela profunda declarao que lemos no Evangelho de Joo: "A verdadeira luz que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem" (Jo 1:9). Pode-se mudar vontade a pontuao, que a verdade inteira continua ali encerrada: a Palavra de Deus afeta o corao de todos os homens, porque luz para a alma. A luz brilha no corao de todos os homens e a palavra ali ressoa, e no h como escapar dela. Isso seria uma decorrncia lgica do fato de Deus estar vivo e atuante neste mundo. E Joo afirma que isto realmente acontece. At mesmo aqueles que nunca ouviram da Bblia, j ouviram a pregao da verdade com clareza suficiente para que no tenham mais desculpas. "Estes mostram a norma da lei, gravada nos seus coraes, testemunhando-lhes tambm a conscincia, e os seus pensamentos mutuamente acusando-se ou defendendo-se." (Rm 2:15.) "Porque os atributos invisveis de Deus, assim o seu eterno poder como tambm a sua prpria divindade, claramente se reconhecem, desde o princpio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens so por isso indesculpveis." (Rm 1:20.)

    Essa voz universal de Deus era chamada de sabedoria, pelos antigos hebreus, e dizia-se que estava em toda a parte investigando e perscrutando toda a face da terra, buscando alguma reao favorvel da parte dos filhos dos homens. O oitavo captulo do livro de Provrbios comea com as palavras: "No clama porventura a sabedoria, e o entendimento no faz ouvir a sua voz?" O escritor sagrado, em seguida, pinta a sabedoria como uma bela mulher, postada "no cume das alturas, junto ao caminho, nas encruzilhadas das veredas". E faz ouvir a sua voz em todos os lugares, de tal maneira que ningum pode deixar de ouvi-

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    la. "A vs outros, homens, clamo; e a minha voz se dirige aos filhos dos homens." Ento conclama os simples e os nscios para que lhe dem ouvidos. O que a sabedoria de Deus requer a reao espiritual favorvel da parte dos homens, uma resposta que ela sempre tem buscado, mas que raramente tem conseguido. A tragdia que nosso bem-estar eterno depende de ouvirmos, mas ns temos feito ouvidos moucos.

    Essa voz universal sempre soou, e perturbou os homens, mesmo quando no eram capazes de compreender a origem de seus temores. Quem sabe se essa voz, derramando-se gota a gota no corao dos homens, no a causa oculta da conscincia perturbada e do anseio pela imortalidade, confessados por milhes de pessoas, desde o incio da Histria? No h o que temer. Essa voz um fato. E qualquer um pode observar como a humanidade tem reagido em face dela.

    Quando do cu Deus falou ao Senhor Jesus, muitos homens que ouviram a voz explicaram-na como sendo fenmenos naturais. Diziam ter ouvido um trovo. Esse hbito de apelar s leis naturais para explicar a voz de Deus a prpria raiz da cincia moderna. Nesse universo que vive e respira, h algo misterioso, por demais maravilhoso, por demais tremendo para que qualquer mente o compreenda. O crente no exige explicaes, mas dobra os joelhos e adora, sussurrando: "Deus meu". O homem mundano tambm se inclina, mas no para adorar. Inclina-se para examinar, para pesquisar, para descobrir a causa e o funcionamento das coisas. O que ocorre que estamos vivendo na era secular. Estamos acostumados a pensar como cientistas e no como adoradores. Sentimo-nos mais inclinados a pensar do que a adorar. "Foi apenas um trovo!" exclamamos ns, e continuamos levando uma vida mundana. Contudo, a voz divina continua ecoando, chamando. A ordem e a vida do mundo dependem totalmente dessa voz, mas os homens esto por demais atarefados ou so teimosos demais para dar-lhe qualquer ateno.

    Cada um de ns j experimentou sensaes impossveis de serem explicadas: um sbito senso de solido, ou um sentimento de admirao e espanto em face da vastido universal. Ou, como que recebendo um raio de luz de um outro sol, tivemos uma revelao momentnea de que pertencemos a um outro mundo, e que nossa origem se explica em Deus. O que ento sentimos, ouvimos ou vimos, talvez tenha sido contrrio a tudo quanto nos tem sido ensinado nas escolas, ou esteja em total conflito com nossas crenas e conceitos. Naquele momento, em que as nuvens se dissiparam e tivemos aquela revelao pessoal, fomos forados a afastar as dvidas costumeiras. Por mais que queiramos explicar essas coisas, penso que no estaremos sendo sinceros, enquanto no admitirmos pelo menos a possibilidade de que tais experincias venham da presena de Deus no mundo, bem como, de Seus persistentes esforos para comunicar-Se com a humanidade. No ponhamos de lado essa hiptese, por julg-la falsa.

    Eu, particularmente, creio (e no me ressentirei se ningum concordar comigo) que tudo quanto de bom e de belo o homem tem produzido neste planeta resultado de sua resposta imperfeita e imaculada pelo pecado, voz criadora que ecoa por toda a Terra. Como explicar os filsofos moralistas que tiveram elevados sonhos de virtude; os pensadores religiosos, com suas especulaes acerca de Deus e da imortalidade; os poetas e os artistas, que da matria criaram beleza pura e duradoura? No basta dizer simplesmente: "Ele foi um gnio". Pois, que um gnio? No seria possvel que um gnio fosse um homem que, "importunado" por essa voz, esfora-se e luta freneticamente para atingir um objetivo que ele apenas vagamente entende? O fato de que, na lida diria, os homens tenham perdido Deus de vista, que at mesmo tenham falado ou escrito contra Deus, no destri a idia que eu procuro demonstrar. A revelao redentora de Deus, nas Sagradas Escrituras, necessria para a f salvadora e para a paz com Deus. Para que esta inconsciente aspirao pela imortalidade leve o homem a uma comunho satisfatria com Deus, necessrio que ele confie no Salvador ressurreto. Para mim, essa uma explicao plausvel para tudo que excelente fora de Cristo.

    A voz de Deus amiga. Ningum precisa tem-la, a menos que j tenha resolvido resistir a ela. O sangue de Jesus Cristo cobriu no apenas a raa humana mas tambm toda a criao. "E que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse

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    consigo mesmo todas as cousas, quer sobre a terra, quer nos cus." (Cl 1:20.) Ns podemos falar, com toda segurana, de um cu que nos propcio. Tanto os cus como a terra esto cheios da boa-vontade daquele que veio manifestar-se na sara ardente. O sangue santo de Cristo, na expiao, garante isso para sempre.

    Quem quiser aplicar os ouvidos, ouvir a todos dos cus. Estamos numa poca em que os homens decididamente no aceitam exortaes de bom grado, porquanto ouvir no faz parte do conceito popular da religio. E nisto, estamos fazendo exatamente o contrrio do que devemos. As igrejas, de um modo geral, aceitam a grande heresia de que fazer barulho, ser grande e ativa torna-as mais preciosas para Deus. Mas no devemos desanimar, pois a um povo atingido pela tormenta do ltimo e maior de todos os conflitos que Deus diz: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus." (Sl 46:10.) E ele ainda diz o mesmo hoje, como se quisesse informar-nos de que nossa fora e segurana dependem no tanto de nossa agitao. mas de nosso silncio e serenidade.

    Precisamos estar quietos para esperar em Deus. Seria melhor se pudssemos ficar a ss, com a Bblia aberta nossa frente. Se quisermos, podemos nos chegar a Deus e comear a ouvi-lO falar ao nosso prprio corao. Penso que para a mdia das pessoas a manifestao dessa voz ser mais ou menos assim: primeiramente, ouve-se um rudo como de uma presena a andar pelo jardim. Em seguida ouve-se uma voz, mais inteligvel, mas ainda no muito distinta. Depois disto, vem um instante feliz em que o Esprito Santo comea a iluminar as Sagradas Escrituras, e aquilo que at ali fora apenas um rudo, ou quando muito uma voz, agora se torna em palavra calorosa, ntima e clara como a palavra de um amigo muito caro. Depois que vm a vida e a luz, e, melhor de tudo, a capacidade de ver, de descansar em Jesus Cristo e de aceit-lo como Salvador e Senhor.

    A Bblia jamais ser um livro vivo para ns enquanto no ficarmos convencidos de que Deus est articulado com seu prprio universo. A transio de um mundo morto e impessoal para uma Bblia dogmtica difcil para a maioria das pessoas. Talvez admitam que devem aceitar a Bblia como a Palavra de Deus, e talvez at tentem pensar nela como tal; mas depois descobriro ser impossvel crer que as palavras, escritas nas pginas da Bblia, se aplicam sua vida. Um homem pode dizer com os lbios: "Estas palavras foram dirigidas a mim", e, contudo, em seu corao sentir que no sabe o que elas dizem. , nesse caso, vtima de um raciocnio errado pensa que Deus permanece mudo em tudo o mais, e se manifesta apenas em seu livro.

    Acredito que grande parte de nossa incredulidade se deve a um conceito errneo a respeito das Escrituras. Deus est silencioso e, subitamente, comea a falar em um livro. Terminado o livro, cai no silncio outra vez, e para sempre. Por isso, muitos lem a Bblia como se fora o registro do que Deus disse quando estava com vontade de falar. Se pensarmos desta forma, como poderemos confiar plenamente? O fato, contudo, que Deus no est calado, e nunca esteve. Falar faz parte da natureza de Deus. A segunda pessoa da Trindade chamada de Verbo (Palavra). A Bblia o resultado inevitvel da contnua manifestao de Deus. a revelao infalvel de Sua mente, a ns dirigida, expressa em termos humanos, para que possamos compreend-la.

    Penso que um novo mundo surgir entre as nebulosidades religiosas, quando nos aproximarmos da Bblia munidos da idia de que se trata no somente de um livro que foi falado numa certa poca, mas que ainda continua falando. Os profetas sempre afirmavam:

    esta a substncia moral que se compe o chamado mundo civilizado. Todo o ambiente est contaminado; ns o respiramos a cada momento e bebemos dele juntamente com o leite materno. A cultura e a educao refinam apenas superficialmente essas qualidades negativas, mas deixam-nas basicamente intactas. Todo um mundo literrio foi criado para defender a tese de que esta a nica maneira normal de se viver. E isso se torna ainda mais estranho quando percebemos que so justamente esses os males que tanto amarguram a existncia de todos ns. Todas as nossas preocupaes e muitas de nossas mazelas fsicas originam-se diretamente dos nossos pecados. O orgulho, a arrogncia, o ressentimento, os maus pensamentos, a malcia, a cobia essas so as

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    fontes de todas as enfermidades que afligem a nossa carne. Em um mundo como este, as palavras de Jesus soam de um modo maravilhoso e

    totalmente novo, como uma visitao do alto. Foi bom que Ele tivesse dito aquelas palavras, porque ningum poderia t-lo feito to bem quanto Ele, e ns deveramos dar ouvidos Sua voz. Suas palavras so a essncia da verdade. Ele no estava apenas exprimindo Sua opinio; Jesus jamais apresentou opinies Ele nunca fazia conjecturas; pelo contrrio Ele sabia e sabe todas as coisas. Suas palavras no foram, como as de Salomo, a smula de uma profunda sabedoria ou o resultado de uma cuidadosa obser-vao. Ele falava na plenitude da Sua divindade, e Suas palavras so a prpria verdade. Ele era o nico que poderia ter dito "bem-aventurados", com a mais completa autoridade, pois Ele o bendito de Deus que veio a este mundo a fim de conferir bnos humanidade. Suas palavras foram apoiadas por feitos mais poderosos do que os de qualquer outra pessoa da Terra. Obedec-las prova de grande sabedoria.

    Como geralmente acontecia, Jesus empregou o vocbulo "mansos" numa frase curta e resumida, e s algum tempo depois foi que passou a explic-lo. No mesmo Evangelho de Mateus, Ele nos fala novamente nessa palavra e aplica-a nossa vida. "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vs o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de corao; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo suave e o meu fardo leve." (Mt 11:28-30.) Aqui vemos dois conceitos opostos: fardo e descanso. Este fardo no pesava somente sobre aqueles que ali se achavam, mas sobre toda a raa humana. No se trata de opresso poltica, nem de pobreza. nem de trabalho rduo. um problema bem mais complexo do que isso. Os ricos e os pobres o sentem da mesma forma, porque um estado do qual nem riquezas nem lazeres podem nos libertar.

    O fardo que pesa sobre a humanidade grande e esmagador. O termo empregado pelo Senhor Jesus indica que um peso que levamos conosco, ou uma fadiga que chega exausto. O descanso simplesmente o alvio que sentimos quando essa carga nos tirada dos ombros. No se trata de algo que fazemos, mas de algo que nos proporcionado, quando deixamos de fazer outra coisa. A Sua prpria mansido esse o nosso descanso.

    Faamos um exame desse fardo. Ele se localiza em nosso ntimo. Chega primeiramente ao corao e mente, e atinge o nosso corpo de dentro para fora. Primeiramente h o fardo do orgulho. Nosso esforo para resguardar o amor-prprio realmente exaustivo. Se procurarmos examinar nossa vida, verificaremos que muitas das nossas aflies tm origem no fato de algum ter falado de modo depreciativo a nosso respeito. Enquanto o homem se considerar um pequeno deus, o qual deve tributar sua lealdade, haver sempre aqueles que se deleitaro cm afrontar seu dolo. Como, ento, esperamos ter paz interior? O veemente esforo que o corao envida para defender-se contra as injrias, para proteger a sua honra sensvel, contra toda opinio desfavorvel da parte de amigos e adversrios jamais permitir que sua mente goze paz. Se persistirmos nessa luta, com o passar dos anos, o fardo se tornar simplesmente intolervel. No entanto, os homens continuam levando essa carga pela vida afora, desafiando cada palavra proferida contra eles, ressentindo-se contra toda crtica, magoando-se profundamente com a mais leve indiferena, revolvendo-se insones cm seus leitos, se outros forem preferidos em lugar deles.

    Todavia ningum obrigado a carregar um fardo pesado como esse. Jesus nos convida a descansar nEle. e a mansido o mtodo aplicado. O homem manso no se importa se algum for maior do que ele, porque h muito compreendeu que as coisas que o mundo aprecia no so importantes para ele, e no vale a pena lutar por elas. Pelo contrrio, desenvolve para consigo mesmo um interessante senso de humor e passa a dizer: "Ah, ento voc foi esquecido, hein? Passaram voc para trs, no ? Disseram at que voc um traste sem importncia? E agora voc est ressentido porque os outros esto dizendo exatamente aquilo que voc mesmo tem dito sobre si? Ainda ontem voc disse a Deus que no representa nada, que apenas um verme que vem do p. Onde est a coerncia? Vamos, humilhe-se, deixe de preocupar-se com o que os homens pensam."

  • [13]

    O homem manso no covarde nem vive atormentado por reconhecer sua prpria inferioridade. Pelo contrrio, seu esprito valente como um leo e forte como um Sanso; porm, deixou de iludir a si prprio. Reconheceu que correta a avaliao que Deus faz de sua prpria vida. Compreende que fraco e necessitado tal como Deus afirmou que ele ; mas, paradoxalmente, ao mesmo tempo sabe que, aos olhos de Deus, mais importante que os prprios anjos. Nada representa em si mesmo, mas em Deus, tudo. Esse o seu lema. Sabe perfeitamente bem que o mundo jamais o ver como Deus o v, e por isso deixou h muito de importar-se com os conceitos dos homens. Sente-se plenamente satisfeito em deixar que Deus restabelea os seus valores. Aguarda pacientemente o dia em que todas as coisas, sero julgadas, e o seu verdadeiro valor ser reconhecido por todos. S ento que os justos resplandecero no reino de seu Pai. Ele est disposto a esperar esse dia.

    Nesse nterim, ter encontrado descanso para sua alma. Se andar em mansido, ele ficar satisfeito em permitir que Deus o defenda. | no precisa lutar para defender o seu "eu", porque encontrou a paz que a mansido proporciona.

    Outrossim, ficar livre do fardo do fingimento. Quando digo fingimento no me refiro hipocrisia, mas o desejo muito comum no homem de mostrar ao mundo o seu lado melhor, ocultando sua verdadeira pobreza e misria internas. Pois o pecado tem usado conosco de muitas artimanhas traioeiras, e uma delas foi incutir em ns um falso sentimento de vergonha. Dificilmente encontramos algum que queira ser exatamente o que , sem tentar forjar uma aparncia exterior para o mundo. O temor de ser descoberto corri o corao humano. O homem de cultura sente-se perseguido pelo receio de algum dia aparecer um homem mais culto do que ele. O erudito teme encontrar outro mais erudito do que ele. O rico vive preocupado, sempre com receio de que suas roupas, seu automvel ou sua casa algum dia paream baratos em comparao com as posses de outro homem mais rico do que ele. Os motivos que impulsionam a chamada "alta sociedade" no so mais nobres do que esses, e as classes mais pobres, em seu prprio nvel, tambm, no so muito melhores em suas atitudes.

    Ningum deve menosprezar essas verdades. Esse fardo real, e, pouco a pouco, ele mata as vtimas dessa maneira de viver nociva e antinatural. Esta mentalidade adquirida atravs dos anos faz com que a mansido autntica nos parea irreal como um sonho, e distante como as estrelas. justamente s vtimas dessa enfermidade corrosiva que o Senhor Jesus diz: "Deveis tornar-vos como criancinhas." Isso porque as criancinhas no fazem comparaes dessa natureza, mas alegram-se naturalmente com aquilo que possuem, sem se incomodar com o que as outras crianas possam ter. Somente quando se tornam maiores, e o pecado comea a afetar seus coraes, que aparecem o cime e a inveja. Da por diante so incapazes de desfrutar do que possuem, se algum tiver algo maior ou melhor. E desde essa tenra idade o fardo passa a pesar sobre suas almas, e nunca mais as deixa, at que o Senhor Jesus lhes d a libertao.

    Outro pecado que representa uma carga pesada para o homem a artificialidade. Estou certo de que a maioria das pessoas vive com um receio ntimo de que algum dia acabaro se descuidando e, talvez, um amigo ou inimigo consiga ver o interior de suas almas vazias e pobres. Dessa forma, elas vivem numa constante tenso. As pessoas mais inteligentes vivem preocupadas e alertas, com medo de serem levadas a dizer algo que parea vulgar ou estpido. As viajadas receiam encontrar algum Marco Polo que lhe fale de algum lugar remoto, onde jamais estiveram.

    Essa condio antinatural faz parte de nossa triste herana de pecado; em nossos dias, entretanto, o problema agravado pelo nosso modo de viver. A propaganda baseia-se quase inteiramente nesse hbito de preocupar-se com a aparncia externa. Oferecem-se "cursos" sobre este ou aquele campo do saber humano, os quais apelam claramente para o desejo que a vtima tem de se sobressair. Vendem-se livros, inventam-se vestes e cosmticos, brincando continuamente com esse desejo que o homem tem de parecer o que no . A artificialidade uma maldio que desaparece no momento em que nos ajoelhamos aos ps do Senhor Jesus e nos rendemos Sua mansido. Da para a frente no

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    nos incomodaremos com o que as pessoas pensam a nosso respeito, contanto que Deus nos esteja aprovando. Ento o que somos ser tudo; e o que parecemos ser descer na escala de valores das coisas que nos interessam. Afastado o pecado, nada temos de que nos possamos envergonhar. Somente o nosso desejo de prestgio que nos faz querer parecer aos outros aquilo que no somos.

    O mundo inteiro est a ponto de sucumbir sob esse fardo tremendo de orgulho e dissimulao. Ningum pode ser liberto dessa carga a no ser atravs da mansido de Cristo. Uma racionalizao inteligente pode ajudar, mas muito pouco, pois esse hbito to forte, que, se o abafarmos aqui, ele surgir mais adiante. Jesus diz a todos: "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. "O descanso oferecido por ele o descanso da mansido, aquele alvio bendito que sentimos quando admitimos o que realmente somos, e deixamos de lado todo o fingimento. preciso bastante coragem a princpio, mas a graa necessria nos ser dada, pois veremos que estamos partilhando esse outro jugo com o Filho de Deus. Ele mesmo o chama de "meu jugo", e leva-o ombro a ombro conosco.

    Senhor, torna meu corao como o de uma criana. Livra-me do impulso de competir com os outros, buscando posio mais elevada entre os homens. Desejo ser simples e ingnuo como uma criana. Livra-me das atitudes fingidas e da dissimulao. Perdoa-me por haver pensado tanto em mim. Ajuda-me a esquecer a mim mesmo e a encontrar minha verdadeira paz na Tua contemplao. A fim de que possas responder a esta orao, eu me humilho perante Ti. Coloca sobre mim Teu fardo suave do autodesprendimento, para que eu possa encontrar descanso. Amm.

    3. Mansido e Descanso Para fornecer um quadro fiel da raa humana a algum que a desconhecesse, bastaria

    que tomssemos as bem-aventuranas e invertssemos o seu sentido. Para fornecer um quadro fiel da raa humana a algum que a desconhecesse, bastaria

    que tomssemos as bem-aventuranas e invertssemos o seu sentido. Ento poderamos dizer: "Eis aqui a raa humana." Pois a verdade que as caractersticas que distinguem a vida e a conduta dos homens so justamente o oposto das virtudes enumeradas nas bem-aventuranas.

    Neste mundo dos homens no vemos nada que se aproxime pelo menos um pouco das virtudes que Jesus mencionou logo no incio de Seu famoso Sermo do Monte. No lugar da humildade de esprito, encontramos o orgulho em seu mais alto grau; em lugar de pranteadores, encontramos somente os que buscam, os prazeres; em vez de mansido, por toda a parte nos cerca a arrogncia, ao contrrio de fome e sede de justia, s se ouve os homens exclamando: "Estou rico de bens, e de nada tenho necessidade"; em vez de misericrdia, contemplamos a crueldade; ao invs de pureza de corao, abundam os pensamentos corruptos; em vez de pacificadores, os homens so irascveis e rancorosos; em lugar de regozijo em face das injrias, vemos os homens revidando afronta com todas as armas ao seu alcance.

    esta a substncia moral que se compe o chamado mundo civilizado. Todo o ambiente est contaminado; ns o respiramos a cada momento e bebemos dele juntamente com o leite materno. A cultura e a educao refinam apenas superficialmente essas qualidades negativas, mas deixam-nas basicamente intactas. Todo um munido literrio foi criado para defender a tese de que esta a nica maneira normal de se viver. E isso se torna ainda mais estranho quando percebemos que so justamente esses os males que tanto amarguram a existncia de todos ns. Todas as nossas preocupaes e muitas de nossas mazelas fsicas originam-se diretamente dos nossos pecados. O orgulho, a arrogncia, o ressentimento, os maus pensa-mentos, a malcia, a cobia essas so as fontes de todas as enfermidades que afligem a nossa carne.

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    Em um mundo como este, as palavras de Jesus soam de um modo maravilhoso e totalmente novo, como uma visitao do alto. Foi bom que Ele tivesse dito aquelas palavras, porque ningum poderia t-lo feito to bem quanto Ele, e ns deveramos dar ouvidos Sua voz. Suas palavras so a essncia da verdade. Ele no estava apenas exprimindo Sua opinio; Jesus jamais apresentou opinies. Ele nunca fazia conjecturas; pelo contrrio Ele sabia e sabe todas as coisas. Suas palavras no foram, como as de Salomo, a smula de uma profunda sabedoria ou o resultado de uma cuidadosa observao. Ele falava na plenitude da Sua divindade, e Suas palavras so a prpria verdade. Ele era o nico que poderia ter dito "bem-aventurados", com a mais completa autoridade, pois Ele o bendito de Deus que veio a este mundo a fim de conferir bnos humanidade. Suas palavras foram apoiadas por feitos mais poderosos do que os de qualquer outra pessoa da Terra. Obedec-las prova de grande sabedoria. Como geralmente acontecia, Jesus empregou o vocbulo "mansos" numa frase curta e resumida, e s algum tempo depois foi que passou a explic-lo. No mesmo Evangelho de Mateus, Ele nos fala novamente nessa palavra e aplica-a nossa vida. "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vs o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de corao; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo suave e o meu fardo leve." (Mt 11:28-30.) Aqui vemos dois conceitos opostos: fardo e descanso. Este fardo no pesava somente sobre aqueles que ali se achavam, mas sobre toda a raa humana. No se trata de opresso poltica, nem de pobreza, nem de trabalho rduo. um problema bem mais complexo do que isso. Os ricos e os pobres o sentem da mesma forma, porque um estado do qual nem riquezas nem lazeres podem nos libertar.

    O fardo que pesa sobre a humanidade grande e esmagador. O termo empregado pelo Senhor Jesus indica que um peso que levamos conosco, ou uma fadiga que chega exausto. O descanso 6 simplesmente o alvio que sentimos quando essa carga nos tirada dos ombros. No se trata de algo que fazemos, mas de algo que nos proporcionado, quando deixamos de fazer outra coisa. A Sua prpria mansido esse o nosso descanso. Faamos um exame desse fardo. Ele se localiza em nosso ntimo. Chega primeiramente ao corao e mente, e atinge o nosso corpo de dentro para fora. (Primeiramente h o fardo do orgulho) Nosso esforo para resguardar o amor-prprio realmente exaustivo. Se procurarmos examinar nossa vida, verificaremos que muitas das nossas aflies tm origem no fato de algum ter falado de modo depreciativo a nosso respeito. Enquanto o homem se considerar um pequeno deus, o qual deve tributar sua lealdade, haver sempre aqueles que se deleitaro em afrontar seu dolo. Como, ento, esperamos ter paz interior? O veemente esforo que o corao envida para defender-se contra as injrias, para proteger a sua honra sensvel, contra toda opinio desfavorvel da parte de amigos e adversrios jamais permitir que sua mente goze paz. Se persistirmos nessa luta, com o passar dos anos, o fardo se tornar simplesmente intolervel. No entanto, os homens continuam levando essa carga pela vida afora, desafiando cada palavra proferida contra eles, ressentindo-se contra toda crtica, magoando-se profundamente com a mais leve indiferena, revolvendo-se insones em seus leitos, se outros forem preferidos em lugar deles.

    Todavia ningum obrigado a carregar um fardo pesado como esse. Jesus nos convida a descansar nEle, e a mansido o mtodo aplicado. O homem manso no se importa se algum for maior do que ele, porque h muito compreendeu que as coisas que o mundo aprecia no so importantes para ele, e no vale a pena lutar por elas. Pelo contrrio, desenvolve para consigo mesmo um interessante senso de humor e passa a dizer: "Ah, ento voc foi esquecido, hein? Passaram voc para trs, no ? Disseram at que voc um traste sem importncia? E agora voc est ressentido porque os outros esto dizendo exatamente aquilo que voc mesmo tem dito sobre si? Ainda ontem voc disse a Deus que no representa nada, que apenas um verme que vem do p. Onde est a coerncia? Vamos, humilhe-se, deixe de preocupar-se com o que os homens pensam."

    O homem manso no covarde nem vive atormentado por reconhecer sua prpria

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    inferioridade. Pelo contrrio, seu esprito valente como um leo e forte como um Sanso; porm, deixou de iludir a si prprio. Reconheceu que correta a avaliao que Deus faz de sua prpria vida. Compreende que fraco e necessitado tal como Deus afirmou que ele ; mas, paradoxalmente, ao mesmo tempo sabe que, aos olhos de Deus, mais importante que os prprios anjos. Nada representa em si mesmo, mas em Deus, tudo. Esse o seu lema. Sabe perfeitamente bem que o mundo jamais o ver como Deus o v, e por isso deixou h muito de importar-se com os conceitos dos homens. Sente-se plenamente satisfeito em deixar que Deus restabelea os seus valores. Aguarda pacientemente o dia em que todas as coisas sero julgadas, e o seu verdadeiro valor ser reconhecido por todos. S ento que os justos resplandecero no reino de seu Pai. Ele est disposto a esperar esse dia.

    Nesse nterim, ter encontrado descanso para sua alma. Se andar em mansido, ele ficar satisfeito em permitir que Deus o defenda. J no precisa lutar para defender o seu "eu", porque encontrou a paz que a mansido proporciona.

    Outrossim, ficar livre do fardo do fingimento. Quando digo fingimento no me refiro hipocrisia, mas o desejo muito comum no homem de mostrar ao mundo o seu lado melhor, ocultando sua verdadeira pobreza e misria internas. Pois o pecado tem usado conosco de muitas artimanhas traioeiras, e uma delas foi incutir em ns um falso sentimento de vergonha. Dificilmente encontramos algum que queira ser exatamente o que , sem tentar forjar uma aparncia exterior para o mundo. O temor de ser descoberto corri o corao humano. O homem de cultura sente-se perseguido pelo receio de algum dia aparecer um homem mais culto do que ele. O erudito teme encontrar outro mais erudito do que ele. O rico vive preocupado, sempre com receio de que suas roupas, seu automvel ou sua casa algum dia paream baratos em comparao com as posses de outro homem mais rico do que ele. Os motivos que impulsionam a chamada "alta sociedade" no so mais nobres do que esses, e as classes mais pobres, em seu prprio nvel, tambm, no so muito melhores em suas atitudes.

    Ningum deve menosprezar essas verdades. Esse fardo real, e, pouco a pouco, ele mata as vtimas dessa maneira de viver nociva e antinatural. Esta mentalidade adquirida atravs dos anos faz com que a mansido autntica nos parea irreal como um sonho, e distante como as estrelas. justamente s vtimas dessa enfermidade corrosiva que o Senhor Jesus diz: "Deveis tornar-vos como criancinhas." Isso porque as criancinhas no fazem comparaes dessa natureza, mas alegram-se naturalmente com aquilo que possuem, sem se incomodar com o que as outras crianas possam ter. Somente quando se tornam maiores, e o pecado comea a afetar seus coraes, que aparecem o cime e a inveja. Da por diante so incapazes de desfrutar do que possuem, se algum tiver algo maior ou melhor. E desde essa tenra idade o fardo passa a pesar sobre suas almas, e nunca mais as deixa, at que o Senhor Jesus lhes d a libertao.

    Outro pecado que representa uma carga pesada para o homem a artificialidade. Estou certo de que a maioria das pessoas vive com um receio intimo de que algum dia acabaro se descuidando e, talvez, um amigo ou inimigo consiga ver o interior de suas almas vazias e pobres. Dessa forma, elas vivem numa constante tenso. As pessoas mais inteligentes vivem preocupadas e alertas, com medo de serem levadas a dizer algo que parea vulgar ou estpido. As viajadas receiam encontrar algum Marco Polo que lhe fale de algum lugar remoto, onde jamais estiveram.

    Essa condio antinatural faz parte de nossa triste herana de pecado; em nossos dias, entretanto, o problema agravado pelo nosso modo de viver. A propaganda baseia-se quase inteiramente nesse hbito de preocupar-se com a aparncia externa. Oferecem-se "cursos" sobre este ou aquele campo do saber humano, os quais apelam claramente para o desejo que a vtima tem de se sobressair. Vendem-se livros, inventam-se vestes e cosmticos, brincando continuamente com esse desejo que o homem tem de parecer o que no . A artificialidade uma maldio que desaparece no momento em que nos ajoelhamos aos ps do Senhor Jesus e nos rendemos Sua mansido. Da para a frente no nos incomodaremos com o que as pessoas pensam a nosso respeito, contanto que Deus

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    nos esteja aprovando. Ento o que somos ser tudo; e o que parecemos ser descer na escala de valores das coisas que nos interessam. Afastado o pecado, nada temos de que nos possamos envergonhar. Somente o nosso desejo de prestgio que nos faz querer parecer aos outros aquilo que no somos.

    O mundo inteiro est a ponto de sucumbir sob esse fardo tremendo de orgulho e dissimulao. Ningum pode ser liberto dessa carga a no ser atravs da mansido de Cristo. Uma racionalizao inteligente pode ajudar, mas muito pouco, pois esse hbito to forte, que, se o abafarmos aqui, ele surgir mais adiante. Jesus diz a todos: "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, Q eu vos aliviarei. "O descanso oferecido por ele o descanso da mansido, aquele alvio bendito que sentimos quando admitimos o que realmente somos, e deixamos de lado todo o fingimento. preciso bastante coragem a princpio, mas a graa necessria nos ser dada, pois veremos que estamos partilhando esse outro jugo com o Filho de Deus. Ele mesmo o chama de "meu jugo", e leva-o ombro a ombro conosco.

    Senhor, toma meu corao como o de uma criana. Livra-me do impulso de competir com os outros, buscando posio mais elevada entre os homens. Desejo ser simples e ingnuo como uma criana. Livra-me das atitudes fingidas e da dissimulao. Perdoa-me por haver pensado tanto em mim. Ajuda-me a esquecer a mim mesmo e a encontrar minha verdadeira paz na Tua contemplao. A fim de que possas responder a esta orao, eu me humilho perante Ti. Coloca sobre mim Teu fardo suave do autodesprendimento, para que eu possa encontrar descanso. Amm

    # Excertos Extrados de O Poder de Deus

    4. Nascido Depois da Meia-Noite Entre cristos afeitos a avivamentos tenho ouvido este ditado: "Os avivamentos

    nascem depois da meia-noite". um provrbio que, embora no inteiramente verdadeiro, se tomado ao p da letra,

    aponta para algo bem verdadeiro. Se entendemos que esse ditado significa que Deus no ouve a nossa orao por

    avivamento, se for feita durante o dia, evidentemente no verdadeiro. Se entendemos que significa que a orao que fazemos quando estamos cansados e exaustos tem maior poder do que a que fazemos quando estamos descansados e com vigor renovado, outra vez no verdadeiro. Certamente Deus teria de ser muito austero para exigir que transformemos a nossa orao em penitncia, ou para gostar de ver-nos impondo-nos punio a ns mesmos pela intercesso. Traos destas noes ascticas ainda se encontram entre alguns cristos evanglicos, e, conquanto esses irmos sejam reco-mendados por seu zelo, no devem ser desculpados por atribuir inconscientemente a Deus algum vestgio de sadismo indigno at dos seres humanos decados.

    Contudo, h considervel verdade na idia de que os avivamentos nascem depois da meia-noite, pois os avivamentos (ou quaisquer outros dons e graas espirituais) s vm para os que os desejam com angustiosa intensidade. Pode-se dizer sem reserva que todo homem to santo e to cheio de Esprito como o deseja. Ele no pode estar to cheio como gostaria, mas com toda a certeza est to cheio como deseja estar.

    Nosso Senhor colocou isto fora de discusso quando disse: "Bem aventurados os que tm fome e sede de justia, porque sero fartos". Fome e sede so sensaes fsicas que, em seus estgios agudos, podem tornar-se verdadeira dor. A experincia de incontveis pessoas que procuravam a Deus que, quando os seus desejos se tornaram dolorosos, foram satisfeitos repentina e maravilhosamente. O problema no consiste em persuadir Deus a que nos encha do Esprito, mas em desejar a Deus o suficiente para permitir-Lhe

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    que o faa. O cristo comum to frio e se mostra to contente com a sua pobre condio, que no h nele nenhum vcuo de desejo no qual o bendito Esprito possa derramar-se em satisfatria plenitude.

    Ocasionalmente aparece no cenrio religioso algum cujos anelos espirituais insatisfeitos vo ganhando tanto volume e importncia em sua vida, que expulsam todos os outros interesses. Tal pessoa se recusa a contentar-se com as oraes seguras e convencionais dos enregelados irmos que "dirigem em orao" semana aps semana e ano aps ano nas assemblias locais. Suas aspiraes a levam longe e muitas vezes o tornam incmodo. Seus irmos em Cristo, perplexos, sacodem a cabea e olham uns para os outros com ar de entendidos, mas, como o cego que clamou por sua vista e foi repreendido pelos discpulos, "ele, porm, cada vez gritava mais".

    E se no tiver ainda satisfeito as condies, ou se houver alguma coisa impedindo a resposta sua orao, poder prosseguir orando at as horas tardias da noite. No a hora da noite, mas o estado do seu corao que decide o tempo da sua visitao. Para este irmo bem pode acontecer que o avivamento venha depois da meia-noite.

    Todavia, muito importante que ns compreendamos que as longas viglias em orao, ou mesmo o forte clamor e as lgrimas, no so em si mesmos atos meritrios. Toda bno flui da bondade de Deus como de uma fonte. Ainda aquelas recompensas das boas obras sobre as quais certos mestres falam to servilmente, sempre em contraste agudo com os benefcios recebidos somente pela graa, no fundo so to certamente de graa como o prprio perdo do pecado. O mais santo apstolo no pode ter a pretenso de ser mais que um servo intil. Os prprios anjos subsistem graas pura bondade de Deus. Nenhuma criatura pode "ganhar" nada, no sentido comum da palavra (de trabalhar para ganhar ou de receber por merecimento ou de adquirir pagando). Todas as coisas pertencem bondade soberana de Deus e por ela nos so dadas.

    A senhora Juliana resumiu lindamente isso quando escreveu: "Honra mais a Deus, e O agrada muito mais, que oremos fielmente a Ele por Sua bondade e nos apeguemos a Ele por Sua graa, e com verdadeiro entendimento, permanecendo firmes por amor, do que se empregssemos todos os recursos que o corao possa imaginar. Pois se usssemos todos os recursos, seria muito pouco, e no honraria plenamente a Deus. Mas em Sua bondade, a ao mais que completa, faltando exatamente n a d a . . . Pois a bondade de Deus a orao mais elevada, e desce s partes mais fundas da nossa necessidade".

    Apesar de toda a boa vontade de Deus para conosco, Ele no pode atender aos desejos do nosso corao enquanto os nossos desejos no forem reduzidos a um s. Quando tivermos dominado as nossas ambies; quando tivermos esmagado o leo e a vbora da carne, e calcado o drago do amor prprio sob os nossos ps, e nos considerarmos verdadeiramente mortos para o pecado, ento, e s ento, Deus poder elevar-nos novidade de vida e encher-nos do Seu bendito Esprito Santo.

    fcil aprender a doutrina do avivamento pessoal e da vida vitoriosa; coisa completamente diversa tomar a nossa cruz e afadigar-nos na escalada do sombrio e spero morro da renncia. Aqui muitos so chamados, poucos escolhidos. Para cada um que de fato passa para a Terra Prometida, muitos ficam por um tempo, olhando ansiosamente atravs do rio e depois retornam tristemente segurana relativa das vastides arenosas da vida antiga.

    No, no h mrito nas oraes feitas a desoras, mas requer disposio mental sria e corao determinado deixar o comum pelo incomum no modo de orar. A maioria dos cristos nunca o faz. E mais que possvel que as poucas almas que se empenham na busca da experincia incomum cheguem l depois da meia-noite.

    5. Ertico Versus Espiritual O perodo em que vivemos bem pode passar histria como a Era Ertica. O amor

    sexual foi elevado posio de culto. Eros tem mais cultuadores entre os homens

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    civilizados de hoje do que qualquer outro deus. Para milhes o ertico suplantou completamente o espiritual.

    No difcil verificar como o mundo chegou a este estado. Entre os favores que contriburam para isso esto o fongrafo e o rdio, que podem difundir canes de amor de costa a costa sem problema de dias ou de ocasies; o cinema e a televiso, que possi-bilitam a toda a populao focalizar mulheres sensuais e jovens amorosos ferrados em apaixonado abrao (e isto nas salas de estar de lares "cristos" e diante dos olhos de crianas inocentes!); jornada de trabalho mais curta e uma multiplicidade de artefatos mecnicos com o resultante aumento do lazer para toda gente. Acrescentem-se a isso tudo as dezenas de campanhas publicitrias astutamente idealizadas, que fazem do sexo a isca no muito secretamente escondida para atrair compradores de quase todos os produtos imaginveis; os corruptos colunistas que consagraram a vida tarefa de publicar fofas e sorrateiras nulidades com rostos de anjos e com moral de gatas da rua; romancistas sem conscincia, que conquistam fama duvidosa e se enriquecem graas ao trabalho inglrio de dragar podrides literrias das imundas fossas das suas almas para dar entretenimento s massas. Estas coisas nos dizem algo sobre a maneira pela qual Eros conseguiu seu triunfo sobre o mundo civilizado.

    Pois bem, se esse deus nos deixasse a ns, cristos, em paz, eu por mim deixaria em paz o seu culto. Toda a sua esponjosa e ftida sujeira afundar um dia sob o seu prprio peso e ser excelente combustvel para as chamas do inferno, justa recompensa recebida, e que nos enche de compaixo por aqueles que so arrastados em sua ruinosa voragem. Lgrimas e silncio talvez fossem melhores do que palavras, se as coisas fossem ligeiramente diversas do que so. Mas o culto de Eros est afetando gravemente a igreja. A religio pura de Cristo que flui como rio cristalino do corao de Deus est sendo poluda pelas guas impuras que escorrem de trs dos altares da abominao que aparecem sobre todo monte alto e sob toda rvore verde, de Nova Iorque a Los Angeles.

    Sente-se a influncia do esprito ertico em toda parte quase, nos arraiais evanglicos. Grande parte dos cnticos de certos tipos de reunies tm em si maior poro de romance do que do Esprito Santo.. Tanto as palavras como a msica se destinam a provocar o libidinoso. Cristo cortejado com uma familiaridade que revela total ignorncia de quem Ele . No a reverente intimidade do santo em adorao, mas a impudente familiaridade do amante carnal.

    A fico religiosa tambm faz uso do sexo para dar interesse leitura pblica, a fina desculpa sendo que, se o romance e a religio forem entretecidos compondo uma histria, a pessoa comum que no leria um livro puramente religioso ler a histria, e assim se defrontar com o Evangelho. Deixando de lado o fato de que, na maioria, os romancistas religiosos modernos so amadores de talento caseiro, sendo raros os capazes de escrever uma nica linha de boa literatura, todo o conceito subjacente ao romance religioso errneo. Os impulsos libidinosos e os suaves e profundos movimentos do Esprito so dia-metralmente opostos uns aos outros. A noo de que Eros pode ser induzido a servir de assistente do Senhor da glria ultrajante. A pelcula "crist" que procura atrair espectadores retratando cenas de amor carnal em sua propaganda completamente infiel religio de Cristo. S quem for espiritualmente cego se deixar levar por isso.

    A moda atual de usar beleza fsica e personalidades brilhantes na promoo religiosa outra manifestao da influncia do esprito romntico na igreja. O balanceio rtmico, o sorriso plstico, e a voz muito, mas muito alegre mesmo, denunciam a frivolidade religiosa mundana. O executante aprendeu a sua tcnica da tela da TV, mas no a apreendeu suficientemente bem para ter sucesso no campo profissional. Da, ele traz a sua produo inepta para o lugar santo e a mascateia, oferecendo-a aos cristos doentios e inferiores que andam procura de alguma coisa que os divirta enquanto ficarem dentro dos limites dos costumes scio-religiosos vigentes.

    Se meu linguajar parece severo, bom lembrar que no o dirijo a nenhuma pessoa individualmente. Para com o mundo perdido dos homens, s tenho uma grande compaixo e o desejo de que todos venham a arrepender-se. Pelos cristos cuja liderana vigorosa

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    mas equivocada tem procurado atrair a igreja moderna do altar de |eov para os altares do erro, sinto genuno amor e simpatia. Quero ser o ltimo a ofend-los e o primeiro a perdo-los, lembrando-me dos meus pecados passados e da minha necessidade de misericrdia, bem como da minha fraqueza pessoal e da minha tendncia natural para o pecado e o erro. A jumenta de Balao foi usada por Deus para repreender um profeta. Da parece que Deus no exige perfeio no instrumento que Ele emprega para advertir e exortar o Seu povo.

    Quando as ovelhas de Deus esto em perigo, o pastor no deve contemplar as estrelas e meditar sobre temas "inspiradores". obrigado a agarrar sua arma e a correr em defesa delas. Quando as circunstncias o exigirem, o amor poder usar a espada, embora por sua natureza deva, em vez disso, ligar o corao quebrantado e atender os feridos. tempo de o profeta e o vidente se fazerem ouvir e sentir outra vez. Nas ltimas trs dcadas a timidez disfarada de humildade tem ficado encolhida no seu canto enquanto a qualidade do cristianismo evanglico vem piorando ano aps ano. At quando. Senhor, at quando?

    6. Para Estarmos Certos, Temos de Pensar Certo O que pensamos quando estamos com liberdade para pensar sobre o que queremos

    ser isso que somos ou logo seremos. A Bblia tem muita coisa para dizer acerca dos nossos pensamentos; o evangelismo

    atual no tem praticamente nada para dizer sobre eles. A razo por que a Bblia fala tanto deles que os nossos pensamentos so vitalmente importantes para ns; a razo por que o evangelismo fala to pouco que estamos reagindo exageradamente contra as seitas do "pensamento", como as do Novo Testamento, da Unidade, da Cincia Crist, e outras semelhantes. Estas seitas fazem os nossos pensamentos ficarem muito perto de tudo, e nos opomos fazendo-os ficar muito perto de nada. Ambas as posies so erradas.

    Os nossos pensamentos voluntrios no s revelam o que somos; predizem o que seremos. A no ser aquela conduta que brota dos nossos instintos naturais bsicos, todo o nosso comportamento precedido pelos nossos pensamentos e deles se origina. A vontade pode vir a ser serva dos pensamentos, e, em elevado grau, mesmo as nossas emoes seguem o nosso pensar. "Quanto mais penso nisso. mais louco fico", como o homem comum o coloca, e ao faz-lo, no somente relata com preciso os seus processos mentais, mas tambm paga inconsciente tributo ao poder do pensamento, O pensamento instiga o sentimento, e o sentimento dispara a ao. Assim fomos feitos, e bem que podemos aceit-lo.

    Os Salmos e os Profetas contm numerosas referncias ao poder que o reto pensamento tem de inspirar sentimento religioso e de incitar a conduta certa. "Considero os meus caminhos, e volto os meus passos para os teus testemunhos". "Enquanto eu meditava ateou-se o fogo: ento disse eu com a prpria lngua. . ." Vezes sem conta os escritores do Velho Testamento nos exortam aquietar-nos e a pensar em coisas elevadas e santas como fator preliminar para a correo da vida ou uma boa ao ou um feito corajoso.

    O Velho Testamento no est sozinho em seu respeito pelo poder do pensamento humano, poder outorgado por Deus. Cristo ensinou que os homens se corrompem por seus maus pensamentos, e chegou ao ponto de igualar o pensamento ao ato: "Qualquer que olhar para uma mulher com inteno impura, no corao j adulterou com ela". Paulo recitou uma lista de fulgentes virtudes, e ordenou: "Seja isso o que ocupe o vosso pensamento".

    Estas citaes so apenas quatro das centenas que poderiam fazer-se das Escrituras. Pensar em Deus e em coisas santas cria uma atmosfera moral favorvel ao crescimento da f, bem como do amor, da humildade e da reverncia. Pelo pensamento no podemos rege-nerar os nossos coraes, nem eliminar os nossos pecados, nem mudar as manchas do leopardo. Tampouco podemos com o pensamento acrescentar um cvado nossa estatura,

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    ou tornar o mal bem, ou as trevas luz. Ensinar isso representar falsamente uma verdade bblica e us-la para a nossa prpria runa. Mas, pelo pensamento inspirado pelo Esprito, podemos ajudar a fazer de nossas mentes santurios purificados em que Deus ter prazer em habitar.

    Referi-me num pargrafo anterior aos "nossos pensamentos voluntrios", e usei as palavras de propsito. Em nosso jornadear atravs deste mundo mau e hostil, ser-nos-o impostos muitos pensamentos de que no gostamos e pelos quais no temos simpatia moral. As necessidades da vida podem compelir-nos por dias e anos a abrigar pensamentos em nenhum sentido edificantes. O conhecimento comum do que fazem os nossos semelhantes produz pensamentos repugnantes nossa alma crist. Estes necessariamente nos afetam, mas pouco. No somos responsveis por eles, e eles passam por nossas mentes como um pssaro cruzando os ares, sem deixar rastro. No tm efeito duradouro em ns porque no so propriamente nossos. So intrusos mal recebidos pelos quais no temos amor e dos quais nos livramos to depressa quanto possvel.

    Quem quiser verificar sua verdadeira condio espiritual pode faz-lo notando quais foram os seus pensamentos nas ltimas horas ou dias. Em que pensou quando estava livre para pensar no que lhe agradasse? Para o qu se voltou o ntimo do seu corao quando estava livre para voltar-se para onde quisesse? Quando o pssaro do pensamento foi posto em liberdade, voou para longe como o corvo, para pousar sobre as carcaas flutuantes ou, como a pomba, circulou e voltou para a arca de Deus? fcil realizar esse teste, e, se formos sinceros conosco mesmos, poderemos descobrir no s o que somos, mas tambm o que vamos ser. Logo seremos a suma dos nossos pensamentos voluntrios.

    Conquanto os nossos pensamentos instiguem os nossos sentimentos, e assim influenciem fortemente as nossas vontades, contudo certo que a vontade pode e deve ser senhora dos nossos pensamentos. Toda pessoa normal pode determinar aquilo em que vai pensar. Naturalmente, a pessoa aflita ou tentada pode achar um tanto difcil controlar os seus pensamentos, e mesmo enquanto se concentra num objeto digno, pensamentos insensatos e fugidios podem fazer travessuras sobre a sua mente, como vivos relmpagos numa noite de vero. Tendem estes a ser mais molestos do que perniciosos e, no final das contas, no fazem muita diferena, sejam isto ou aquilo.

    O melhor meio de controlar os nossos pensamentos oferecer a mente a Deus em completa submisso. O Esprito Santo a aceitar e assumir o controle dela imediatamente. Depois ser relativamente fcil pensar em coisas espirituais, especialmente se treinarmos o nosso pensamento mediante longos perodos de orao diria. Praticar longamente a arte da orao mental (isto , falar com Deus interiormente, enquanto trabalhamos ou viajamos) ajudar a formar o hbito do pensamento santo.

    7. A F se Arrisca a Falhar Neste mundo os homens so julgados pela habilidade com que fazem as coisas. So avaliados de acordo com a distncia que cobriram na escalada do monte da

    realizao. No sop jaz o fracasso total; no topo o sucesso completo; e entre esses dois extremos a maioria dos homens civilizados sua e labuta, da juventude velhice.

    Alguns desistem e escorregam para o sop, e se tornam ocupantes da Fileira do Raspa-Cho. Ali, perdida a ambio e rota a vontade, subsistem graas a emprstimos, at a natureza executar-lhes a hipoteca e a morte os levar.

    No alto esto os poucos que, por uma combinao de talento, rduo trabalho e boa sorte, conseguem chegar ao pico, e ao luxo, fama e poder que ali se encontram.

    Mas nisso tudo no h felicidade. O esforo para ter sucesso exerce muita presso sobre os nervos. A excessiva preocupao com a luta pela conquista aperta a mente, endurece o corao e veda mil vises fulgurantes que poderiam ser desfrutadas se to-somente houvesse vagar para not-las.

    O homem que chega ao pinculo raramente feliz por muito tempo. Logo devorado

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    por temores de que pode escorregar uma estaca abaixo e ser forado a dar seu lugar a outro. Acham-se exemplos disto no modo febril como o astro da TV observa a classificao do seu valor, e como o poltico examina a sua correspondncia.

    Faa-se saber a um magistrado eleito que um levantamento de dados mostra que ele dois por cento menos popular em agosto do que fora em maro, e ele comea a suar como um homem a caminho da priso. O jogador de bola vive por suas mdias de rendimento no campo, o homem de negcio por seu grfico ascendente, e o concertista pelo medidor dos seus aplausos. No incomum suceder que o lutador desafiante no ringue chore abertamente por no conseguir nocautear o campeo. Ser o segundo colocado o deixa completamente desconsolado; tem de ser o primeiro para ser feliz.

    Esta mania pelo sucesso a preservao de uma coisa boa. O desejo de cumprir o propsito para o qual fomos criados , por certo dom de Deus, mas o pecado retorceu este impulso e fez dele uma cobia egosta pelo primeiro lugar e pelas honras das altas posies. O mundo inteiro dos homens e arrastado por esta cobia como por um demnio, e no h escape.

    Quando vamos a Cristo entramos num mundo diferente. O Novo Testamento nos apresenta uma filosofia espiritual infinitamente mais elevada do que a que motiva o mundo, e inteiramente contrria a ela. Conforme o ensino de Cristo, os humildes de esprito so bem-aventurados; os mansos herdam a terra; os primeiros so os ltimos, e os ltimos so os primeiros; o maior homem aquele que serve melhor os outros; o que perde tudo o nico que por fim possuir tudo; o homem do mundo coroado de xito ver os tesouros que acumulou serem varridos pela tempestade do juzo; o mendigo juste vai para o seio de Abrao, e o rico arde nas chamas do inferno.

    Nosso Senhor morreu em aparente fracasso, desacreditado pelos lderes da religio estabelecida, rejeitado pela sociedade e abandonado pelos Seus amigos. O homem que O mandou para a cruz foi o estadista de sucesso cuja mo o ambicioso mercenrio poltico beijara. Coube ressurreio demonstrar quo gloriosamente Cristo havia triunfado e quo tragicamente o governador tinha fracassado.

    Contudo, a impresso que se tem hoje que a igreja no aprendeu nada. Continuamos vendo como os homens vem e julgando maneira do julgamento humano. Quanto trabalho religioso leito com o ativismo do pastor tem por motivao o desejo carnal de fazer e bem! Quantas horas de orao so gastas pedindo-se a Deus que abenoe projetos arquitetados para a glorificao de pequeninos homens