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O MAR ME CONTOU
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Gonzaga Filho
O MAR ME CONTOU
Primeira Edição
São Paulo
2015
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Gonzaga Filho 4
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NOTA DO AUTOR
Este livro foi escrito com base em fatos reais, histórias e estórias criadas pela minha
própria mente. As histórias reais foram ouvidas por mim durante vários anos vividos no mar,
histórias contadas pelos meus companheiros de bordo e que eu dei uma nova versão sem
que elas saíssem do seu verdadeiro contexto. As estórias criadas pela minha mente também não deixam de ter um muito de
veracidade, pois elas também acontecem em nosso dia a dia. Talvez não no seu ou no meu
cotidiano, mas com certeza elas existem no dia a dia de alguém. Agora, cabe a você leitor, tentar
descobrir o que é história ou estória... Cabe a você descobrir o que é o real ou a ficção.
Escrevo de forma abstrata, dando a oportunidade a cada um que venha a ler o que eu escrevo fazer a sua própria interpretação.
Foram muitos anos ouvindo histórias e estórias a bordo de vários navios e
rebocadores, cruzando mares e oceanos... Foram muitos anos da minha vida acumulando conhecimentos e que hoje, com todo prazer eu
tento reescrever essas histórias que O Mar Me
Contou.
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O MACHÃO
O domingo amanheceu ensolarado. Um dia bonito. Ótimo para se curtir uma praia,
bater uma bola com os amigos e depois tomar uma boa cerveja gelada jogando conversa fora,
falando de futebol, política e mulheres, que é o assunto predileto de todos os homens. Ataíde levantou cedo, fez a sua caminhada
matinal para manter a forma, como fazia todas as manhãs na Área de Lazer do Panatís.
Ao chegar de volta em sua casa, encontrou os amigos que o esperavam para ir jogar bola em São Gonçalo do Amarante.
---- Bom dia, rapaziada. Só um instante. Eu não vou demorar nem dez minutos e estarei
pronto. Agüenta aí! ----Vamos lá, Ataíde! Não demora não, que o Florisvaldo já ligou dizendo que o outro
time já está em São Gonçalo – falou Carlinhos Boca de Ouro.
---- Ok. Só um momento – responde o sorridente Ataíde entrando em casa, para se trocar.
Ataíde entra em casa e vai direto para o quarto pegar o uniforme do time e as chuteiras
novas que ele havia comprado no sábado, nas bancas do Camelódromo do Alecrim e que fazia questão de usá-las neste domingo
maravilhoso e de preferência fazendo gols.
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Ao mexer na porta do guarda-roupa; Eva, a sua esposa acordou e o encarou com raiva
nos olhos. Ataíde olha para a mulher e resmunga
algo. ---- O quê que você falou, Ataíde? Você me acorda e ainda vem com “babado”,
homem? Agora, eu quero que você chegue em casa tarde e com a cara cheia de cachaça. Você
prometeu me levar juntamente com as crianças para a praia em Ponta Negra, mas ao invés de sair com sua família, você prefere sair com os
seus amigos. Um bando de irresponsáveis que não sabem valorizar as suas esposas e seus
filhos. ---- Cala essa boca, desgraçada! Eu vou jogar e quando for umas dez horas eu estarei
em casa, para irmos para a praia com as crianças. Tenha calma e não venha encher a
minha cabeça com suas asneiras não e já estou indo. É possível, o dia bem não amanhece e você já vem com resenha, se liga, mulher.
Ataíde vai até o quartinho, um cômodo que ele havia construído no quintal de sua
casa, onde mora o seu irmão mais novo. ---- Como é que é, Atanael? Já “tás” pronto? A rapaziada já está esperando. Levanta
preguiçoso! Atanael abre a porta todo enrolado em um
lençol, com a cara amarfanhada, com os cabelos despenteados e com os olhos de quem vai morrer em quinze minutos.
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---- Pode ir com a turma, Íde. Eu não tenho condições de jogar hoje não. Passei a
noite inteira praticamente sem dormir, com febre alta e muita dor de cabeça. Vá lá com a
turma e se divirta por mim – diz Atanael, com cara de cachorro morto. ---- Ô rapaz! Olha, você tem que se cuidar,
procurar um médico e ver o que está acontecendo com você, pois essas suas crises
estão cada vez mais constantes. Você tem que ver um médico. Então, tá bom. Eu vou indo, descansa bastante. Tchau!
A turma de “boleiros” que esperavam
Ataíde, ao ver o mesmo saindo de casa, aplaudem ironicamente. ---- Porra, Ataíde. Nós já “tava” pensando
que você não vinha mais, ou que a mulher não tinha deixado você sair mais de casa e tinha
botado você pra dormir de novo – fala Orosimbo, o centroavante do Rompe Ferro Atlético Clube.
---- Cala essa boca, seu otário! Tu não sabes de nada. Eu sou macho, cara! Mulher
não manda em mim não. Se ela falar muita besteira, toma é porrada nos cornos pra aprender a respeitar homem. Mulher minha,
não tem o direito de falar merda comigo não. Eu dou de tudo, sou completo, dou casa,
comida, cama, mesa e banho. O que é que ela ainda tem pra reclamar?