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O jornalismo literário na plataforma digital: as grandes reportagens de Eliane Brum na internet 1 The literary journalism in the digital platform: the great stories of Eliane Brum on the Internet Amanda Farias Pisone 2 Nadia Couto 3 Resumo O presente artigo tem como objetivo geral analisar as características do jornalismo literário presentes nas grandes reportagens escritas pela jornalista Eliane Brum. São elas “Todo inocente é um fdp?” e “Um abraço em Bangladesh”, publicadas nos sites El País e Revista Época, respectivamente. Os objetivos específicos desta pesquisa são analisar as características e técnicas da grande reportagem na web; abordar o jornalismo literário; apresentar a estrela de sete pontas; explanar sobre uma das vertentes do jornalismo literário, o Novo Jornalismo; apontar as características do jornalismo digital e analisar as duas reportagens de Eliane Brum. Pode-se constatar que mesmo no meio digital, as reportagens da jornalista permanecem com as características do jornalismo literário. Palavras-chave: Jornalismo literário, Reportagem na web, Eliane Brum. Abstract This article has as main objective to analyze the characteristics of literary journalism present in great articles written by journalist Eliane Brum. They are " Todo inocente é um fdp?" And " Um abraço em Bangladesh ", published on the websites El País and Epoca magazine, respectively. The specific objectives of this research are to analyze the characteristics and techniques of big story on the web; approach the literary journalism; present the seven-pointed star; explain about one of the aspects of literary journalism, New Journalism; point out the characteristics of digital journalism and analyze both reports Eliane Brum. It can be seen that even in the digital environment, the journalist reports remain with the characteristics of literary journalism. Keywords: Literary journalism, Web reporting, ElianeBrum. 1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Jornalismo da Faculdade SATC, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. 2 Amanda Farias Pisone [email protected] 3 Nadia Couto - Faculdade Satc [email protected]

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O jornalismo literário na plataforma digital: as grandes reportagens de Eliane Brum na internet

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The literary journalism in the digital platform: the great stories of Eliane Brum on the Internet Amanda Farias Pisone

2

Nadia Couto3

Resumo O presente artigo tem como objetivo geral analisar as características do jornalismo literário

presentes nas grandes reportagens escritas pela jornalista Eliane Brum. São elas “Todo inocente

é um fdp?” e “Um abraço em Bangladesh”, publicadas nos sites El País e Revista Época,

respectivamente. Os objetivos específicos desta pesquisa são analisar as características e

técnicas da grande reportagem na web; abordar o jornalismo literário; apresentar a estrela de

sete pontas; explanar sobre uma das vertentes do jornalismo literário, o Novo Jornalismo;

apontar as características do jornalismo digital e analisar as duas reportagens de Eliane Brum.

Pode-se constatar que mesmo no meio digital, as reportagens da jornalista permanecem com as

características do jornalismo literário.

Palavras-chave: Jornalismo literário, Reportagem na web, Eliane Brum.

Abstract

This article has as main objective to analyze the characteristics of literary journalism present in

great articles written by journalist Eliane Brum. They are " Todo inocente é um fdp?" And " Um

abraço em Bangladesh ", published on the websites El País and Epoca magazine, respectively.

The specific objectives of this research are to analyze the characteristics and techniques of big

story on the web; approach the literary journalism; present the seven-pointed star; explain about

one of the aspects of literary journalism, New Journalism; point out the characteristics of digital

journalism and analyze both reports Eliane Brum. It can be seen that even in the digital

environment, the journalist reports remain with the characteristics of literary journalism.

Keywords: Literary journalism, Web reporting, ElianeBrum.

1Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Jornalismo da Faculdade

SATC, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. 2Amanda Farias Pisone – [email protected]

3Nadia Couto - Faculdade Satc – [email protected]

Introdução

O jornalismo literário, normalmente presente em jornais, revistas e livros, possui espaço

também na internet. Bastos (2005) caracteriza o jornalismo literário como uma das vertentes do

jornalismo. O autor afirma que esta vertente possui duas direções: jornalismo de literatura e um

cuidado quanto à apuração e também à linguagem.

Em contrapartida, Bastos (2005) acredita que é difícil imaginar o jornalismo literário

minucioso na superficialidade da internet, pois teria de se adaptar ao formato da rede, podendo

ser menos trabalhado do que se fosse em outros veículos, por exemplo, e perder suas

características.

De acordo com Pena (2013), o jornalista literário não deixa de utilizar em seus textos as

técnicas do jornalismo diário. Ele desenvolve as narrativas e técnicas e é capaz de constituir

novas estratégias profissionais.

O autor define o jornalismo literário como uma série de características, que juntas

formam o que ele denomina a estrela de sete pontas. São elas: potencializar os recursos

jornalísticos, ultrapassar os limites dos acontecimentos diários, proporcionar visões amplas da

realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide, evitar os

definidores primários e garantir perenidade e profundidade aos relatos.

Também conhecido como New Journalism, o Novo Jornalismo é uma das vertentes do

jornalismo literário, abordada neste artigo. Caracteriza-se pela reportagem aprofundada, de

forma elaborada e detalhada. Conforme Bulhões (2006), o Novo Jornalismo foi de encontro aos

limites convencionais do jornalismo, representando uma nova prática textual.

Wolfe (2005) afirma que o Novo Jornalismo foi rotulado como uma literatura de não-

ficção. Ele o descreve como um tipo de reportagem mais ambiciosa, intensa e detalhada, na qual

o repórter rompe os limites convencionais do jornalismo.

Desse modo, optou-se por pesquisar e abordar as questões que envolvem o jornalismo

literário e o Novo Jornalismo, presentes nas reportagens da jornalista Eliane Brum para o

público da internet. Por isso, neste artigo, apresenta-se como problema de pesquisa: quais as

características do jornalismo literário estão presentes nas reportagens da jornalista Eliane

Brum?

Tem-se como objetivo geral da pesquisa analisar as características do jornalismo

literário presentes nas grandes reportagens escritas pela jornalista Eliane Brum.

Seguindo com os objetivos específicos, são eles analisar as características e técnicas da

grande reportagem na web; abordar o jornalismo literário; apresentar a estrela de sete pontas, a

qual é um conjunto de características do jornalismo literário; explanar sobre uma das vertentes

do jornalismo literário, o Novo Jornalismo; apontar as características do jornalismo digital e

analisar duas reportagens da jornalista Eliane Brum, veiculadas nos sites El País e Revista

Época.

Este artigo se justifica por trazer uma pesquisa que é capaz de mostrar um novo olhar do

jornalismo, onde o repórter pode utilizar recursos literários independentemente se o veículo de

comunicação for impresso ou digital. A narrativa no jornalismo literário, como fica evidenciado

nas reportagens de Eliane Brum, é diferente da que a sociedade está acostumada a ler no meio

digital.

É importante ressaltar a forma pela qual esta vertente do jornalismo é apresentada ao

público da web, bem como apontar as principais características presentes no jornalismo literário,

com foco nas reportagens de Eliane Brum.

A importância de pesquisar sobre a forma como o jornalismo literário é explorado na

internet é de extrema relevância, pois apesar de a web ser um meio de comunicação que está

repleto de textos enxutos, visto que muitos que fazem parte do público da internet estão em

busca pela agilidade das informações, ainda assim o jornalismo literário se encontra presente

neste meio.

1. Fundamentação teórica

Neste capítulo são abordados o conceito de jornalismo literário, de modo a entender

suas principais características e a forma pela qual os textos literários são escritos, analisando

suas vertentes e o movimento conhecido como Novo Jornalismo.

1.1 Jornalismo literário

Bastos (2005) define jornalismo literário como uma das vertentes do jornalismo, a qual

segue duas direções diferentes. Primeiramente, refere-se ao jornalismo de literatura. Por outro

lado, o autor também define como um cuidado quanto à apuração e também à linguagem.

Segundo Pena (2013), atualmente é comum ver em alguns veículos de comunicação a

falta de credibilidade, espetacularização e o desejo por veicular as notícias que vendam mais.

Em contrapartida, o jornalismo literário vai de encontro à espetacularização dos fatos e em

noticiar somente o que irá vender mais.

O autor acredita que o jornalismo literário está ligado à linguagem musical de

transformação expressiva e informacional, tratando-se, portanto, de uma atitude narrativa capaz

de unir informação e entretenimento.

Pena (2013) apresenta a estrela de sete pontas como um conjunto de itens presente no

jornalismo literário, que faz com que a reportagem não seja breve e superficial, mas

aprofundada e de forma diferenciada, comparando-se com as do dia a dia que corriqueiramente

aparecem nos veículos de comunicação. O autor acrescenta que, enquanto as outras matérias

cotidianas entram no esquecimento no dia seguinte em que foram publicadas, por outro lado, no

jornalismo literário o objetivo é que permaneçam.

Segundo Pena (2013), a primeira ponta da estrela é potencializar os recursos do

jornalismo, que é quando o repórter desenvolve suas técnicas de narrativa, faz a apuração

rigorosamente, observa, aborda de acordo com os princípios éticos e utiliza uma linguagem

clara.

A segunda ponta seria ultrapassar os limites dos acontecimentos diários, indo além da

periodicidade e atualidade. Desse modo, Olinto (2008) explica que a busca pela facilidade no

jornalismo, utilizando sempre as mesmas palavras e lugares comuns, dá-se por conta da

necessidade que muitas vezes o veículo possui de abranger todos os assuntos. O fato de o jornal

ser matéria diária dá, a muitos, a falsa ideia de que essa rotina é jornalismo.

O autor salienta que o jornalista precisa encarar os desafios de ultrapassar aquilo que é

corriqueiro, enxergar por meio de diferentes olhares. De acordo com Olinto (2008, p. 75), “a

verdade, no entanto, é que o jornalismo como obra de arte é sempre um salto além da rotina. É

um trabalho de criação, com os mesmos sofrimentos dos da poesia e com a mesma possibilidade

de conquistar o patético, o trágico, o pungente, que os acontecimentos trazem consigo”.

A terceira característica da estrela de sete pontas é quando o repórter é capaz de

proporcionar, por meio de suas reportagens, uma visão mais ampla dos fatos, contextualizando

as informações.

A quarta ponta, de acordo com Pena (2013), é ter o compromisso com a sociedade,

exercendo, de fato, a cidadania. As matérias do repórter podem contribuir para com a

transformação dela. O quinto item da estrela trata-se de ir além do simples lide, não se limitando

apenas às perguntas quem, o que, como, quando, onde e por quê. É preciso utilizar no texto

técnicas literárias, de forma criativa.

A narrativa, segundo Sodré e Ferrari (1986), constitui-se por descrever a realidade

factual do dia a dia e pelo cotidiano trabalhado discursivamente. Bastos (2005) acredita que a

linguagem do jornalismo literário é capaz de se adaptar a outros tipos de linguagem.

Pena (2013) destaca que na sexta ponta é necessário criar alternativas para não ouvir

sempre as mesmas fontes, também conhecidas como as oficiais e primárias. É preciso ouvir

diferentes pontos de vista. E, portanto, a última ponta da estrela trata da perenidade, cuja

finalidade é de fazer com que a reportagem permaneça e não seja esquecida pelo leitor pouco

tempo após sua publicação.

Conforme Bastos (2005), o jornalismo literário possui grande relevância, pois é capaz

de contribuir de maneira significativa para com a visão crítica do leitor, além de acompanhar a

tendência literária tanto no país quanto no mundo. O repórter precisa ter uma observação

sensível dos fatos, escrevendo um texto com qualidade.

De acordo com a concepção de Olinto (2008), um dos pontos imprescindíveis em um

repórter é o seu íntimo contato com a realidade, transmitindo-a sob a perspectiva do que viu e

sentiu, como é evidente nos textos literários.

“No ponto intermediário do trabalho, o repórter precisa de já ter adquirido sua

linguagem. Não existe, no jornalismo concebido em termos mais avançados, o estilo de um

jornal. Existe, sim, o estilo de um jornalista”. (OLINTO, 2008, p. 28)

Segundo Sodré e Ferrari (1986), o jornalista precisa conquistar o leitor de forma

sedutora, na reportagem em que são narrados os acontecimentos da atualidade. A maneira de

escrever o texto é fundamental para chamar a atenção do público e o fazer se interessar pelo

assunto descrito.

Em se tratando da relação entre o jornalismo literário e a literatura, Bastos (2005)

afirma que eles não são sinônimos. O jornalismo possui o compromisso com uma suposta

verdade, por outro lado, a literatura não possui. Ele acrescenta que o repórter deve ter a

sensibilidade para capturar as emoções e os detalhes que estão ao seu redor.

A chance que o jornalismo poderia ter para se igualar, em qualidade

narrativa, à literatura, seria aperfeiçoando meios sem porém jamais perder

sua especificidade. Isto é, teria de sofisticar seu instrumental de

expressão, de um lado, e elevar seu potencial de captação do real, de

outro. (LIMA, 2008, p. 191)

Já de acordo com Bastos (2005), o jornalista literário é capaz de estabelecer uma ponte

entre o leitor e as editoras que lançam obras. Além disso, o repórter também é responsável pelo

segmento de crítica dos suplementos literários.

No próximo item serão apresentadas as vertentes que pertencem ao jornalismo literário,

dentre elas Novo Jornalismo, romance-reportagem, ficção jornalística, biografia e gonzo,

expondo as principais características de cada vertente.

1.1.1 Vertentes

O jornalismo literário obteve diversas adaptações, bem como vertentes, das quais

podem-se destacar: New Journalism, ou Novo Jornalismo, romance-reportagem, ficção

jornalística, biografia e gonzo. Mediante tais vertentes, a que será objeto de pesquisa deste

artigo é o Novo Jornalismo.

Segundo Pena (2013), no Brasil, o jornalismo literário é classificado de diferentes

maneiras. Para alguns autores, trata-se simplesmente do período da história do jornalismo em

que os escritores assumiram as funções de editores, articulistas, cronistas e autores de folhetins,

no século XIX.

Para outros, refere-se crítica de obras literárias veiculada em jornais. á ainda os que

identificam o conceito com o movimento conhecido como New Journalism, iniciado nas

redações americanas da década de 1960. E, também, os que incluem as biografias, os romances-

reportagem e a ficção jornalística.

Conforme Pena (2013), uma das vertentes é o romance-reportagem, o qual é baseado no

aprofundamento para abordar fatos reais, utilizando, é claro, recursos literários. Vale ressaltar,

segundo o autor, que o romance-reportagem, com base na realidade, não se preocupa somente

em transmitir a informação, mas também há a responsabilidade de explicar, orientar, bem como

opinar.

O romance-reportagem é um tipo de narrativa em que não se pode inventar, deve-se

relatar os fatos como são. “Ele se concentra nos fatos e na maneira literária de apresentá-los ao

leitor. Trata-se do cruzamento da narrativa romanesca com a narrativa jornalística. O que

significa manter o foco na realidade factual, apesar das estratégias ficcionais”. (PENA, 2013,

p.19).

A ficção jornalística, outra vertente do jornalismo literário, difere-se do romance-

reportagem, pois não possui compromisso com a realidade. Conforme Pena (2013), o repórter

conhece os limites da realidade, entretanto deixa de ter o compromisso de escrever o que é real,

para ter a liberdade de escrever ficção utilizando técnicas jornalísticas. Apenas parte dos fatos

reais para que assim a história seja escrita, onde a narrativa apresentada é inventada pelo autor.

Outra vertente é o gonzo, o qual Pena (2013) o define como uma versão radical do novo

jornalismo, que se popularizou por Hunter S. Thompson, repórter da revista Rolling Stone. No

jornalismo gonzo, o personagem é o próprio repórter da matéria, que se envolve profundamente

na sua elaboração.

A biografia, de acordo com a concepção de Pena (2013), abrange literatura, história e

jornalismo. O autor afirma que ela é uma narrativa sobre um personagem, que vem sendo

escrita, em sua maioria, por jornalistas.

O relato biográfico, na maioria das vezes, tenta ordenar os

acontecimentos de uma vida de forma cronológica, na ilusão de que eles

formem uma narrativa autônoma e estável, ou seja, uma história com

princípio, meio e fim, formando um conjunto coerente. (PENA, 2013, p.

72)

A seguir, será explanado sobre o Novo Jornalismo, uma das vertentes do jornalismo

literário, o qual é evidenciado por ser objeto de estudo desta pesquisa.

1.2 Novo Jornalismo

Neste capítulo são abordados os principais aspectos que envolvem o Novo Jornalismo, o

qual pertence a uma das vertentes do jornalismo literário, sob a concepção de determinados

autores.

Pena (2013, p.52) salienta que “o termo Novo Jornalismo apareceu pela primeira vez

em 1987, mas foi usado de forma jocosa para desqualificar o britânico WTStead, editor da

PallMallGazette”.

Conforme Bulhões (2006, p. 146), "o New Journalism agitou o epicentro do jornalismo

mundial e abalou estruturas fossilizadas da textualidade jornalística".

O autor aponta que o Novo Jornalismo foi de encontro aos limites convencionais

jornalísticos, quebrando paradigmas tanto da imprensa como também da literatura. Entretanto,

ele não pode ser considerado um movimento, visto que não realizou uma manifestação ou um

programa, por representantes, mas foi uma nova prática textual que passou a estar presente em

determinados veículos nos Estados Unidos.

Pena (2013) e Wolfe (2005) afirmam que houve uma insatisfação destes profissionais

da imprensa, na década de 60, nos Estados Unidos, em relação a ter que seguir as normas de

objetividade nas matérias jornalísticas, de maneira simples.

Eles estavam indo além dos limites convencionais do jornalismo, mas não

apenas em termos de técnica. O tipo de reportagem que faziam parecia

muito mais ambicioso também para eles. Era mais intenso, mais

detalhado e sem dúvida mais exigente em termos de tempo do que

qualquer coisa que repórteres de jornais ou revistas, inclusive repórteres

investigativos, estavam acostumados a fazer. (WOLFE, 2005, p. 37)

Por outro lado, Wolfe (2005) afirma que houveram profissionais em meados dos anos

60 que não aceitavam algo que representasse o novo para o jornalismo tradicional. O autor

explica que alguns jornalistas se incomodaram com o novo estilo jornalístico, no entanto isso

representou um incômodo ainda maior para os literários.

A oposição literária, porém, era mais complexa. Olhando em retrospecto,

dá para entender que o que aconteceu foi o seguinte: a súbita chegada

desse novo estilo de jornalismo, saído do nada, provocou pânico no status

da comunidade literária. (WOLFE, 2005, p. 43)

Conforme Lima (2008), o texto literário representou uma ruptura com o padrão dos

textos dos jornais e revistas, rompendo com a tradicionalidade do jornalismo brasileiro. O autor

afirma ainda que o Novo Jornalismo foi capaz de resgatar a tradição do jornalismo literário.

Os repórteres devem seguir o caminho inverso e serem mais subjetivos.

Não precisam ter a personalidade apagada e assumir a encarnação de um

chato de pensamento prosaico e escravo do manual de redação. O texto

deve ter valor estético, valendo-se sempre de técnicas literárias. (PENA,

2013, p.54)

Pena (2013) acrescenta que no Novo Jornalismo o repórter deve passar vários dias com

o entrevistado, além de escrever na matéria pontos de vista diferentes, sempre tendo o

compromisso com a realidade.

Wolfe (2005) também define o Novo Jornalismo como não-ficção, o qual permite ao

repórter utilizar diversos recursos literários.

Era a descoberta de que é possível na não-ficção, no jornalismo, usar

qualquer recurso literário, dos dialogismos tradicionais do ensaio ao fluxo

de consciência, e usar muitos tipos diferentes ao mesmo tempo, ou dentro

de um espaço relativamente curto... para excitar tanto intelectual quanto

emocionalmente o leitor. (WOLFE, 2005, p. 28)

O autor acrescenta que o novo estilo jornalístico surgiu para aspirar a algo mais do que

simplesmente reproduzir os romancistas. Mas era necessário que esse novo estilo fosse criado

por meio do jornalismo, em vez do romance, conto ou poesia.

No próximo capítulo serão apontados os principais aspectos relacionados ao meio

digital, desde a origem da internet até as características da reportagem na web.

1.3 Jornalismo digital

São abordadas, neste item, as questões relacionadas ao jornalismo digital, bem como as

características da web, visto que as grandes reportagens da jornalista Eliane Brum, as quais são

analisadas neste artigo, são publicadas na internet.

Inicialmente, é importante ressaltar brevemente como surgiu a internet. Segundo Ferrari

(2010), ela surgiu em 1969, quando o Departamento de Defesa norte-americano criou a Arpanet

– uma rede nacional de computadores, em um momento em que os Estados Unidos precisavam

de meios para saber se seriam atacados por outros países. Seu foco era o serviço de informação

militar.

Em 1986, a National Science Foundation (NSF – Fundação Nacional de

Ciência) fez uma significativa contribuição para a expansão da internet,

quando desenvolveu uma rede que conectava pesquisadores de todo o

país por meio de grandes centros de informática e computadores. Foi

chamada NSFNET. (FERRARI, 2010, p. 15)

Na internet, um dos recursos que pode ser destacado é a hipertextualidade, pela qual o

leitor pode decidir quais serão os percursos da leitura, com base nos seus interesses. Canavilhas

(2007) defende que o web jornalismo está relacionado aos processos de aperfeiçoamento ao

longo de sua disseminação.

Ferrari (2010) define a hipertextualidade como um bloco composto por diversas

informações digitais que estão interconectadas, onde o leitor pode realizar uma leitura não-

linear, além de poder optar por ler o que quiser. “Na internet não nos comportamos como se

estivéssemos lendo um livro, com começo, meio e fim. Saltamos de um lugar para outro – seja

na mesma página, em páginas diferentes, línguas distintas, países distantes etc.”. (FERRARI,

2010, p.44)

Em se tratando de hipermídia, além de proporcionar ao leitor que faça leitura daquilo

que desejar, ela faz junção da hipertextualidade com os recursos multimídia (sons, imagens e

vídeos).

“Na internet, há uma gama de recursos que podem ser utilizados através de programas

de computador que, pelo uso de cores e movimentos na tela, implicariam uma espécie de

‘fascínio visual’ no texto”. (BASTOS, 2005, p. 151)

O autor afirma que os recursos multimídia devem ser explorados pelo jornalismo

literário. As imagens e ilustrações são fundamentais, cujo objetivo é de mexer com o imaginário

do leitor, enriquecendo ainda mais a reportagem.

Tornando-se um escritor enquanto lê, todo leitor web consegue

reconfigurar a informação de acordo com suas preferências e hábitos de

leitura. Na internet é possível saber onde o leitor clica, algo impensável

na mídia impressa. Resta aprofundar esse tipo de análise para descobrir o

porquê de determinado clique. Como saber se foi a foto da coluna da

esquerda que chamou mais a atenção do leitor e por isso ele mudou de

link? (FERRARI, 2010, p. 45)

Nas reportagens escritas para a web, Canavilhas (2007) afirma que uma das principais

técnicas jornalísticas utilizadas é a tradicional pirâmide invertida (lide), a qual se baseia em

escrever a matéria enfatizando primeiramente os dados mais importantes. Deve conter o lide e

posteriormente os dados complementares da notícia.

Geralmente, nas matérias veiculadas em jornais impressos, por exemplo, de acordo com

Canavilhas (2007, p. 27), “o jornalista recorre a técnicas que procuram encontrar o equilíbrio

perfeito entre o que se pretende dizer e o espaço disponível para o fazer, pelo que o recurso à

pirâmide invertida faz todo o sentido”.

Em contrapartida, no jornalismo online não há limitações quanto ao espaço dedicado

para as reportagens. Ainda segundo o autor, podem-se fazer reduções dos textos por razões

estéticas, mas não pela questão do espaço. “Em lugar de uma notícia fechada entre as quatro

margens de uma página, o jornalista pode oferecer novos horizontes imediatos de leitura através

de ligações entre pequenos textos e outros elementos multimídia organizados em camadas de

informação”. (CANAVILHAS, 2007, p. 28)

Ferrari (2010) explica que os elementos que estão presentes no jornalismo online se

diferem dos que estão contidos nos jornais impressos, por exemplo, os quais possuem apenas

textos, fotos e gráficos. Já na internet pode haver vídeos, animações e áudios. As matérias na

internet possibilitam que o leitor faça parte da cobertura jornalística. Ele pode interagir e

contribuir por meio de comentários ou e-mail.

Os leitores da web, segundo a concepção de Ferrari (2010), comportam-se de maneira

semelhante, de um modo geral. Leem a manchete e aquilo que mais o chama a atenção na

página inicial. As informações são absorvidas de modo a não haver grande comprometimento

com a realidade. A autora acrescenta que a internet ainda está em desenvolvimento e é

considerada outra mídia além do rádio, jornal e televisão.

No capítulo seguinte serão apontados os procedimentos metodológiocos que foram

utilizados no decorrer da pesquisa, bem como sua classificação, os procedimentos técnicos e a

metodologia de análise dos dados.

2. Procedimentos metodológicos

Neste item são apresentados a classificação da pesquisa, os procedimentos técnicos e a

metodologia de análise dos dados para a elaboração deste artigo.

Foram realizados determinados procedimentos de metodologia para desenvolver esta

pesquisa, a fim de fundamentar a análise das reportagens de Eliane Brum, bem como do

jornalismo literário. Toda pesquisa parte do surgimento do problema. Segundo Marconi e

Lakatos (2004, p. 76), “toda investigação nasce de algum problema teórico/prático sentido. Este

dirá o que é relevante ou irrelevante observar, os dados que devem ser selecionados”.

Não existe uma norma que irá determinar a escolha de um determinado assunto ou

problema. De acordo com Martins (2008, p. 13), “um tema será importante quando, de alguma

forma, for ligado a uma questão que polariza e afeta um segmento substancial da sociedade”.

Do ponto de vista da natureza, esta pesquisa foi classificada como básica, pois foi capaz

de trazer conhecimentos novos que podem ser utilizados no avanço da ciência.

Do ponto de vista da forma da abordagem do problema, este estudo se dá como

qualitativo. De acordo com Malhotra (2006), é importante que seja realizada a pesquisa

qualitativa para definir o problema da pesquisa. “Algumas vezes, é preciso efetuar pesquisas

qualitativas para se compreender o problema e seus fatores subjacentes”. (MALHOTRA, 2006,

p. 5)

Já conforme Marconi e Lakatos (2004), o método qualitativo se difere do quantitativo

na análise e na coleta dos dados. “Na pesquisa qualitativa, primeiramente faz-se a coleta dos

dados a fim de poder elaborar a ‘teoria base’, ou seja, o conjunto de conceitos, princípios e

significados”. (MARCONI; LAKATOS, 2004, p. 272)

Em se tratando dos objetivos, a pesquisa se classifica como exploratória, pois ela

envolve levantamento bibliográfico e a análise das reportagens da jornalista Eliane Brum,

estimulando a compreensão do estudo de caso.

Em relação aos procedimentos técnicos, esta pesquisa é bibliográfica, visto que foi

elaborada com base em livros e, também, artigos retirados da internet. Conforme Oliveira

(1997), este tipo de pesquisa tem o objetivo de conhecer as formas de contribuição científica por

meio de qualquer assunto.

É também estudo de caso, pois foram estudadas as reportagens da jornalista Eliane

Brum. “O estudo de caso refere-se ao levantamento com mais profundidade de determinado

caso ou grupo humano sob todos os seus aspectos. Entretanto, é limitado, pois restringe ao caso

que estuda, ou seja, um único caso, não podendo ser generalizado”. (MARCONI; LAKATOS,

2004, p. 274)

Gil (1991) defende que o estudo de caso se dá pelo estudo aprofundado e exaustivo de

um ou de poucos objetos, permitindo um amplo e detalhado conhecimento.

A seguir, será apresentado o perfil de Eliane Brum, como também serão analisadas duas

reportagens da jornalista, relacionando-as com as características do jornalismo literário, bem

como com o Novo Jornalismo.

3. Análise e discussão dos resultados

É apresentado neste capítulo o perfil de Eliane Brum e são analisadas as características

do jornalismo literário encontradas nas reportagens “Todo inocente é um fdp?” e “Um abraço

em Bangladesh”, de autoria da jornalista, publicadas nos sites El País e Revista Época.

3.1 Perfil

De acordo com biografia descrita no próprio site de Eliane Brum4, natural de Ijuí, a

gaúcha iniciou a carreira jornalística em 1988, no Jornal Zero Hora, de Porto Alegre, quando

começou como estagiária. Permaneceu como repórter durante 11 anos, trabalhando nas editorias

de Geral e Polícia. No entanto, no ano 2000 deixou o jornal para seguir novos caminhos e

4 Disponível em: <http://elianebrum.com/biografia/>. Acesso em: 14 de outubro de 2016.

encarar mais um desafio em sua vida, passando a trabalhar na Revista Época, em São Paulo, por

dez anos, escrevendo reportagens especiais.

Após um período de dez anos, a jornalista saiu do veículo e migrou para um novo ramo

do jornalismo, apesar de não ter deixado completamente a Revista Época, escrevendo, portanto,

colunas semanais para o site da revista, no período de 2009 a 2013.

Ainda segundo o site de Eliane Brum, ela atua como freelancer desde 2010. Já em

outubro de 2013 passou a escrever artigos para os jornais El País e The Guardian. Também

documentarista, Eliane dirigiu os filmes Uma história severina, em 2005, e Gretchen filme

estrada, em 2010.

Conforme entrevista ao Portal Comunique-se5, realizada pela repórter Renata Cardarelli,

em 8 de março de 2013, Eliane Brum já recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira e é

considerada uma das jornalistas mais premiadas do país, devido ao seu trabalho jornalístico

reconhecido nacional e internacionalmente.

A escritora, repórter e documentarista já conquistou mais de 40 prêmios, dentre eles

Esso, Jabuti (prêmio de literatura por seus livros de romance-reportagem), Vladimir Herzog,

Ayrton Senna, Líbero Badaró, Sociedade Interamericana de Imprensa e Rei de Espanha. Eliane

também já recebeu o Troféu Especial de Imprensa ONU (Organização das Nações Unidas), pelo

que fez em prol da Justiça e Democracia. Também recebeu o prêmio Troféu Mulher Imprensa,

por três vezes.

Além disso, segundo entrevista ao Portal Comunique-se, Eliane conquistou o Prêmio

Cooperifa, o qual tem o objetivo de premiar pessoas que direta ou indiretamente ajudam a

promover, fortalecer e divulgar o projeto de criar uma nova periferia, sendo este um dos

movimentos culturais mais importantes da atualidade. A jornalista recebeu este prêmio três

vezes.

Eliane Brum sempre escreveu grandes reportagens e se destacou no jornalismo literário,

tanto no jornal impresso quanto na revista, e passou a escrever colunas para o público da

internet. No entanto, como será analisado posteriormente por meio de suas reportagens, não

mudou suas características e técnicas de reportagem, continuando a escrever sobre assuntos de

interesse à sociedade e, com o olhar apurado, enxergando por meio de diferentes ângulos.

Ela vai de encontro à grande parte dos textos jornalísticos escritos na internet, que

geralmente são enxutos, enquanto os seus são longos. Segundo ela (2013):

É um grande equívoco acreditar que a internet só foi feita para notícias

curtas. A suposição de que o leitor não gosta ou não tem tempo para ler

5 Disponível em:< http://portal.comunique-se.com.br/index.php/entrevistas-e-especiais/71194-eliane-

brum-o-bom-jornalismo-se-aplica-a-tudo-o-que-e-da-vida>. Acesso em: 14 de outubro de 2016.

textos longos é um outro equívoco que a internet ajudou a desfazer.

Grandes reportagens têm sido publicadas na internet.

A jornalista afirma que têm sido publicadas na web grandes reportagens, uma vez que

seus textos são longos e também possuem links, os quais permitem ao leitor navegar em outros

sites para se inteirar ainda mais sobre o assunto abordado.

De acordo com entrevista realizada pelo repórter Luiz Henrique Gurgel, em dezembro

de 2013, para o site Escrevendo o futuro6, Eliane ressalta que a principal característica que um

repórter deve ter é saber escutar. "Reportagem sempre começa pelo espanto, pela coragem de se

perder e de se movimentar pelas dúvidas. É um processo de ficar quebrando as tuas certezas, por

isso a posição do repórter é de imensa fragilidade". (BRUM, 2013, s/p)

A reportagem, segundo Eliane, continua muito viva e importante, apesar do crescimento

das redes sociais. Isso possibilitou que as pessoas tivessem ainda mais acesso à informação, por

isso a importância de se fazer reportagens bem elaboradas e aprofundadas, com textos de

qualidade.

Ainda conforme entrevista ao o repórter Gurgel, a jornalista acredita que o jornalismo

literário não transcreve apenas palavras nas reportagens, mas também é capaz de transmitir

sentimentos, silêncios e gestos, e a matéria do novo jornalismo é escrever sobre a realidade.

Vale lembrar que, conforme Pena (2013), o Novo Jornalismo possui compromisso com a

realidade, além de relatar na matéria pontos de vista diferentes.

Ao longo de sua carreira, escreveu seis livros: Coluna Prestes – o avesso da lenda; A

vida que ninguém vê; O olho da rua; Uma duas; A menina quebrada e Meus desacontecimentos.

Vale destacar também sua participação no livro Dignidade, que reuniu nove escritores de

diferentes países.

No próximo item serão analisadas as reportagens “Todo inocente é um fdp?”, veiculada

em 29 de fevereiro de 2016, para o site El País, e “Um abraço em Bangladesh”, publicada em 13

de maio de 2013, para o site Revista Época.

3.2 Reportagens

A partir de agora serão analisadas duas reportagens de Eliane Brum. Uma, intitulada

“Todo inocente é um fdp?”, publicada no site El País, e a outra, “Um abraço em Bangladesh”,

no site da Revista Época. Veiculadas em períodos distintos, a primeira em fevereiro deste ano e

a segunda em maio de 2013, ambas, entretanto, possuem as mesmas características literárias,

6 Disponível em: <https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/biblioteca/nossas-

publicacoes/revista/entrevistas/artigo/209/entrevista-eliane-brum>. Acesso em: 5 de outubro de 2016.

mais precisamente relacionadas à estrela de sete pontas e às características das abordagens

inerentes ao Novo Jornalismo. (PENA, 2013)

3.2.1 Todo inocente é um fdp?

Nos textos que escreve em sua coluna quinzenal no site El País, é possível atentar para

algumas características. Em sua maioria, as reportagens estão relacionadas a questões políticas,

econômicas e sociais. Eliane fala sobre assuntos que muitas vezes não são notados ou não têm

voz na sociedade.

Em um de seus textos, intitulado “Todo inocente é um fdp?”, a reportagem começa da

seguinte forma:

Lembro uma cena do primeiro filme da trilogia Matrix, ícone do final do

século 20. Os membros da resistência eram aqueles que, em algum

momento, enxergaram que a vida cotidiana era só uma trama, um

programa de computador, uma ilusão. A realidade era um deserto em que

os rebeldes lutavam contra “as máquinas” num mundo sem beleza ou

gosto. Fazia-se ali uma escolha: tomar a pílula azul ou a vermelha. Quem

escolhesse a vermelha, deixaria de acreditar no mundo como nos é dado

para ver e passaria a ser confrontado com a verdade da condição humana.

(BRUM, 2016, s/p)

Neste exemplo, Eliane utiliza a terceira característica da estrela de sete pontas, que,

segundo Pena (2013), é quando o repórter proporciona uma visão mais ampla dos fatos,

contextualizando as informações, como contextualizou com a trilogia Matrix do final do século

20, trazendo posteriormente para os dias de hoje.

Também se pode observar que neste trecho ela utiliza a quinta ponta da estrela, pois

conforme Pena (2013), trata-se de ir além do simples lide (quem, o que, como, onde, quando e

por quê). É preciso utilizar técnicas literárias, de forma criativa, como fez iniciando o texto

citando a trilogia Matrix e comparando à nossa realidade.

Ela faz ainda duras críticas ao fato de as pessoas se alimentarem de carne, sabendo que

muitos animais são sacrificados em holocaustos criados por elas mesmas, fazendo, ainda, uma

analogia à trilogia dos filmes Matrix. Ela afirma que as pessoas são nazistas de outras espécies e

que produzem holocaustos cotidianos.

Eliane ainda acrescenta que já não é mais possível que a sociedade não veja tudo isso,

desde o leite que é tirado da vaca até mesmo as carnes de hambúrguer de soja. Mas que nem

mesmo os veganos poderiam escapar da responsabilidade. Conforme escreve no trecho:

Mas como ignorar o desmatamento, a destruição de ecossistemas inteiros

e com eles toda a vida que lá havia? Como ignorar que a soja pode ter

sido plantada em terra indígena e que, enquanto ela vira mercadoria no

supermercado, jovens Guarani Kaiowá se enforcam porque já não sabem

como viver? Já não é possível fingir que não enxergamos isso. Assim,

nem os veganos mais radicais podem se salvar do pecado original.

(BRUM, 2016, s/p)

A jornalista faz uma análise muito profunda a respeito deste assunto, repleta de

reflexões, opinião e analogias. Aprofunda-se ainda mais, traçando um paralelo sobre a

globalização e a forma pela qual a sociedade está cada vez mais inserida nela. Segundo ela

(2016): “Olhamos para nossas roupas e horrorizados sabemos que em algum lugar da linha

globalizada de produção há nelas o sangue de crianças, homens e mulheres em regime de

trabalho análogo escravidão”.

Ao fazer tais análises e críticas na reportagem, é possível relacionar o texto à quarta

característica da estrela de sete pontas, pois de acordo com Pena (2013) há o compromisso com

a sociedade, sendo que as matérias podem contribuir para com a transformação dela.

Seguindo essa linha, Eliane faz reflexões sobre a indústria têxtil, onde paralelamente

muitos estão consumindo roupas que foram costuradas com carne humana e por pessoas que

estão sendo escravizadas em uma longa jornada de trabalho, como fala no trecho:

“E já não sabem como vesti-las. Nem sabem como dar brinquedos para seus filhos

porque sabem que os bonecos, os carrinhos, os castelos e os dinossauros contêm neles o sangue

das crianças sem infância, ou o de suas mães e pais”.

Segundo Olinto (2008), um dos pontos imprescindíveis em um repórter é o seu íntimo

contato com a realidade, quando a transmite sob a perspectiva daquilo que viu e sentiu, como é

evidente no texto de Eliane Brum.

É possível observar esta característica presente em um dos trechos em que ela relembra

uma reportagem que fez em um zoológico. Ao contrário do que poderia se esperar de uma

matéria típica, divertida, em um local como este, a jornalista acabou trazendo uma visão

diferente:

[...] só pude contar, entre outros horrores, que o babuíno chamado Beto

era mantido à custa de Valium, para evitar que arrancasse pedaços do

próprio corpo. Mesmo dopado jogava-se contra as grades, atirava fezes

nos visitantes e espancava a companheira. Pinky, a elefanta, vivia só.

Seus dois companheiros tinham morrido ao cair no fosso tentando escapar

do cativeiro. (BRUM, 2016, s/p)

Mediante este trecho, pode-se ressaltar que Eliane utiliza novamente a quarta

característica da estrela de sete pontas, ou seja, evidencia o compromisso com a cidadania.

Em suma, Eliane cita ao longo da reportagem diversos exemplos que caracterizam a

responsabilidade que nós temos ao tomar qualquer atitude, mesmo que pareça banal. Cada um

de nossos atos implica uma escolha ética ou política. Desde o que comemos até os transportes

que utilizamos, segundo ela, à custa da escravidão.

A vaca que quase não se move, cuja existência consiste numa longa série

de estupros por instrumentos que se enfiam pelo seu corpo para fecundá-

la com o sêmen de outro escravo. Então ela engravida e engravida e

engravida de bezerros que dela serão sequestrados para virar filés, para

que suas tetas sigam dando leite delas tirados por outras máquinas. E,

como sabemos disso, o leite que chega à nossa mesa já não pode mais ser

branco, mas vermelho do horror da vaca cujo corpo virou um objeto, a

vaca para quem cada dia é tortura, estupro e escravidão. (BRUM, 2016,

s/p)

Ela salienta no texto que já não é mais possível aderirmos às ilusões, fazendo um

questionamento ao leitor: “Quem é o inocente num mundo em que a inocência já não é

possível?”. Em seguida, indaga sobre o que nós seremos, subjetivamente, se estamos

condenados a enxergar a realidade diante de nós.

No exemplo, pode-se ressaltar uma das características presentes no Novo Jornalismo,

uma das vertentes do jornalismo literário. Segundo Pena (2013), no Novo Jornalismo o repórter

segue um caminho mais subjetivo, escrevendo um texto com valor estético e utilizando recursos

literários.

Wolfe (2005) afirma que no Novo Jornalismo o repórter pode utilizar qualquer recurso

literário, e é capaz de excitar tanto o intelectual quanto o emocional do leitor. É possível, então,

encontrar tais características citadas pelo autor no seguinte trecho de Eliane:

O tempo das ilusões acabou. Nenhum ato do nosso cotidiano é inocente.

Ao pedir um café e um pão com manteiga na padaria, nos implicamos

numa cadeia de horrores causados a animais e a humanos envolvidos na

produção. Cada ato banal implica uma escolha ética – e também uma

escolha política. (BRUM, 2016, s/p)

Quase no final do texto, Eliane menciona um fato que ocorreu dez dias antes de sua

reportagem ter sido publicada. O trecho a seguir pode ser relacionado à segunda característica

da estrela de sete pontas, que conforme Pena (2013) seria ultrapassar os limites dos

acontecimentos diários e ir além da periodicidade e atualidade:

Numa praia da Argentina, um golfinho foi carregado por turistas. Alguns

dizem que ainda estava vivo, outros que já estava morto. Vivo ou morto,

os turistas preocuparam-se apenas com tirar selfies para postar nas redes

sociais. O site de humor Sensacionalista postou: “Golfinho morre ao ser

retirado do mar para turistas fazerem selfie e Deus anuncia recall do ser

humano”. (BRUM, 2016, s/p)

Ela cita no texto o que ocorreu com o golfinho, o qual morreu ao ser retirado do mar por

turistas, e utiliza a imagem deste fato em sua reportagem, dando ênfase à crítica de que os seres

humanos devem se responsabilizar por viverem no senso comum:

Como ser ético num mundo sem ilusões, em que cada ato implica na

tortura e no sacrifício de um outro, humano e não humano? Se somos os

nazistas das outras espécies, quando não da mesma, aceitar que assim é

não seria se tornar um Eichmann, o nazista julgado em Jerusalém que

alegou apenas cumprir ordens, o homem tão banalmente ordinário que

inspirou a filósofa annah Arendt a criar o conceito da “banalidade do

mal”? Não seríamos, aos olhos do boi, todos Eichmann, justificando-nos

pelo senso comum de que assim é e se faz o que é preciso para

sobreviver? Se sim, o que implica viver assumidamente nesta pele?

(BRUM, 2016, s/p)

Um ponto a ser destacado é a presença de links ao longo do texto, que permitem ao

leitor acessar outras plataformas relacionadas ao assunto que está sendo abordado. Com isso, o

leitor pode se aprofundar ainda mais sobre a reportagem e, também, conhecer as fontes que

foram utilizadas para a elaboração do texto.

Conforme Canavilhas (2007), o web jornalismo está relacionado aos processos de

aperfeiçoamento ao longo de sua disseminação. Por meio da hipertextualidade, recurso evidente

nas reportagens de Eliane, devido aos links presentes no texto, o leitor pode decidir quais serão

os percursos da leitura, baseando-se nos seus interesses.

Ao longo desta reportagem, pode-se clicar em links que dão acesso a outras matérias

escritas pela jornalista e sites relacionados ao tema sobre o qual está falando. Eles aparecem em

grande parte dos parágrafos.

No próximo item, será analisada a reportagem “Um abraço em Bangladesh”, publicada

por Eliane Brum para o site Revista Época, em 2013, onde serão abordadas as características da

estrela de sete pontas e do Novo Jornalismo, presentes no texto.

3.2.2 Um abraço em Bangladesh

A reportagem intitulada “Um abraço em Bangladesh”, foi publicada no site da Revista

Época no período em que Eliane ainda trabalhava no veículo escrevendo sua coluna semanal.

Nela, Eliane Brum utiliza técnicas do jornalismo literário e detalha minuciosamente como

aconteceu o desabamento de um prédio onde funcionava uma fábrica têxtil.

Em se tratando de globalização, vale ressaltar o desabamento do prédio de uma indústria

têxtil em Bangladesh, em 2013, onde morreram cerca de 800 pessoas. Em meio a este fato, uma

fotografia foi capaz de chocar o mundo inteiro na época, em que um homem e uma mulher, em

meio aos escombros, morreram abraçados.

Ela narra, inclusive, o relato da fotógrafa que registrou a foto, Taslima Akhter. Mais do

que isso, Eliane faz o leitor refletir que esse casal, assim como a tragédia que aconteceu em

Bangladesh, está muito próximo de cada um de nós.

É possível que, no momento em que somos alcançados por esse abraço

final, alguns estejam vestindo uma roupa feita por este homem, esta

mulher ou por algum dos mais de mil mortos do desabamento, um

número que não para de crescer. Ou enfiados numa camiseta, num jeans,

num vestido, saia ou blusa feita por alguns dos milhões de bengaleses, a

maioria mulheres, que, neste exato instante, cortam e costuram, em

prédios insalubres, em jornadas extenuantes, em regime semelhante ao de

escravidão, as peças que serão vendidas pelas grandes marcas ocidentais,

em vitrines brilhantes e assépticas – as peças que serão compradas

também por nós. (BRUM, 2013, s/p)

Na reportagem, ela traça um paralelo sobre como nós também temos uma parcela de

culpa. Afirma que os responsáveis não são somente aqueles que os policiais prenderam, mas

todos os que estão envolvidos neste mundo globalizado. Em um trecho, ela diz:

O problema, no mundo globalizado, é que, se seguimos a cadeia de

produção e de responsabilidades, ela chega a nós. É indecente quando os

líderes das grandes grifes ocidentais se mostram escandalizados com a

tragédia, sugerindo que não sabiam que era assim que viviam os

trabalhadores na ponta do processo produtivo. (BRUM, 2013, s/p)

Uma das características do Novo Jornalismo, que pode ser encontrada nesta reportagem,

segundo Pena (2013), é em relação à subjetividade do repórter, como é evidente no trecho

citado acima. É importante ressaltar que Eliane faz isso quando se posiciona no texto.

“Os repórteres devem seguir o caminho inverso e serem mais subjetivos. Não precisam

ter a personalidade apagada e assumir a encarnação de um chato de pensamento prosaico e

escravo do manual de redação.” (PENA, 2013, p. 54)

O quinto item da estrela de sete pontas, conforme Pena (2013), ocorre quando o repórter

rompe os limites burocráticos do lide. Ele utiliza no texto técnicas literárias e de forma criativa.

Não se limita apenas às perguntas quem, o que, como, quando, onde e por quê. Esta

característica é encontrada ao longo da reportagem, que começa da seguinte forma:

Uma mulher chamada Taslima Akhter esgueirava-se pelos escombros da

fábrica de roupas que desabou em Bangladesh, em 24 de abril, quando os

viu. Como descrever o que ela, fotógrafa e ativista bengalesa, viu?

Taslima registrou, fez uma fotografia que girou o mundo nos últimos dias

e se tornou o símbolo do que não pode ser esquecido. E talvez o que se

possa dizer é que o que ela viu nos obriga a ver. Ver mesmo. (BRUM,

2013, s/p)

Eliane publicou a reportagem em 13 de maio de 2013, mas a tragédia que aconteceu na

fábrica na qual o casal foi fotografado ocorreu em 24 de abril. Isso evidencia que foi preciso

utilizar a segunda característica da estrela de sete pontas, que de acordo com Pena (2013) é

quando o repórter ultrapassa os limites dos acontecimentos diários e é capaz de ir além da

periodicidade e da atualidade.

No texto também há a presença da primeira ponta da estrela, que, segundo Pena (2013),

potencializa os recursos do jornalismo e o repórter desenvolve suas técnicas de narrativa e

observação, como se pode observar no trecho:

Só a poesia alcança a profundidade da vida impressa na morte. O abraço

final em uma fábrica de escravos de Bangladesh me lembrou do sertão

severino de João Cabral de Melo Neto. Tão longe, tão perto. As vidas

baratas são sempre as mesmas vidas, em qualquer geografia, em qualquer

tempo. Aquela fábrica sepultou-os em um útero-túmulo. E lá estão os

costureiros de nossas roupas vestidos em seu derradeiro traje de terra, o

único que lhes coube. (BRUM, 2013, s/p)

Ter o compromisso com a sociedade e contribuir para com a sua formação, conforme

Pena (2013), fazem parte da quarta característica da estrela de sete pontas. Eliane dialoga com o

leitor, fazendo-o refletir e ao mesmo tempo enxergar os fatos de diferentes maneiras, sob outra

visão. A quarta ponta da estrela é ainda encontrada em alguns trechos ao longo do texto, como

no exemplo:

O abraço final, documentado por Taslima Akhter, nos obriga a enxergar

para além dos corpos – e também para além do espetáculo. Não é matéria

o que está ali, é o que não está que nos alcança e arrebata antes que

possamos escapar. É vida que se imortaliza na morte. Como ela diz, quase

podemos escutar as vozes e ouvir os sonhos daqueles dois. Não sabemos

(pelo menos não ainda) quem são, mas sabemos que são. Que foram. Não

sabemos se eram amantes ou irmãos. Ou apenas colegas de trabalho,

companheiros de escravidão. (BRUM, 2013, s/p)

Em meio a tantas questões que ainda são silenciadas na sociedade, a jornalista

fundamenta que é preciso enxergar sob perspectivas diferentes: “Olhar para ver é uma escolha.

Sempre mais difícil, a única digna”. (BRUM, 2013)

Outro ponto a ser destacado em “Um abraço em Bangladesh” é a hipertextualidade, um

dos recursos utilizados na internet. Na reportagem, há diversos links, onde o leitor pode se

deslocar e ler informações que não estão descritas no texto, que estão em outros sites. Ferrari

(2010) define a hipertextualidade como uma espécie de conjunto de informações digitais que

estão interconectadas e que possibilitam ao leitor optar por ler o que quiser.

No capítulo a seguir, serão retomados os objetivos da pesquisa, discutidos e

relacionados à análise dos resultados.

4. Considerações finais

Este estudo teve como objetivo geral analisar as características do jornalismo literário

presentes nas grandes reportagens escritas pela jornalista Eliane Brum. No decorrer deste artigo,

foram apresentados os seguintes objetivos específicos: abordar as características e técnicas da

grande reportagem na web; enfocar o jornalismo literário; apresentar a estrela de sete pontas, a

qual é um conjunto de características do jornalismo literário (PENA, 2013); abordar o Novo

Jornalismo, bem como as características do jornalismo digital e duas reportagens da jornalista

Eliane Brum, veiculadas nos sites El País e Revista Época. São elas: "Todo inocente é um fdp?"

e "Um abraço em Bangladesh".

Diante de tais objetivos, constata-se que todos eles foram cumpridos ao longo desta

pesquisa. Foi possível confirmar nas reportagens de Eliane Brum as características do

jornalismo literário, presentes na estrela de sete pontas.

Além disso, as características do Novo Jornalismo ficaram evidentes nas duas

reportagens analisadas. Apesar de obter todos estes recursos literários, vale ressaltar que os

textos da jornalista possuem o objetivo de informar e mantêm o compromisso com a verdade e

com a sociedade.

Ao analisar as reportagens de Eliane, pode-se observar também que ela utiliza a

subjetividade, textos aprofundados, detalhados e que propõem ao leitor uma reflexão sobre o

tema abordado.

Portanto, o que difere o jornalismo literário e o Novo Jornalismo, presentes nas

reportagens de Eliane Brum, do tradicional, é a narrativa e a subjetividade aparnte do Novo

Jornalismo. Nesse sentido, nas reportagens da jornalista foram encontrados aspectos como:

proporcionar uma visão mais ampla dos fatos, contextualizando as informações; romper os

limites burocráticos do lide; subjetividade, quando se posiciona na reportagem; compromisso

com a sociedade, contribuindo para com a transformação dela; o rompimento dos limites dos

acontecimentos diários, indo além da periodicidade e atualidade e potencializar os recursos do

jornalismo, desenvolvendo suas técnicas de narrativa e observação.

Embora suas reportagens apresentem todas estas características, elas permanecem,

independentemente se são publicadas no meio impresso ou no digital. Nesta pesquisa, foram

analisadas as reportagens encontradas na web, e pode-se constatar que elas não perdem as

características literárias. E também mantêm o compromisso do jornalismo, que é o de levar

informação à sociedade.

Propõe-se, como sugestão de pesquisa para estudo futuro, a realização de um artigo

focado nos leitores da web. O objetivo seria verificar a percepção em relação ao texto, e se há

interesse em textos com características do jornalismo literário.

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