o islamismo

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O Islamismo O Islamismo “A expansão do Islão e as relações dos muçulmanos com outros povos do planeta, ao longo de catorze séculos, constituem um dos grandes acontecimentos da história universal. O modelo de existência proposto pelo Islão, é um dos caminhosprincipais que a humanidade seguiu para viver a sua existência. São fatos que, por si sós, deveriam exigir a nossa atenção”. In. Robinson Francis e Peter Brown. O Mundo islamita. Edições del Prado. pág 12. península arábica era no início da Idade Média, uma região relativamente isolada do restante do Oriente. Região desértica, com 2,6 milhões de quilômetros qua- drados, permaneceu a salvo dos conquistadores romanos, graças, exatamente, à sua situação geográfica — isolada ao norte pelo mar Mediterrâneo, ao sul, pelo oceano Índico e a oeste, pelo mar Vermelho. Nas regiões à beira-mar, no sul (onde hoje ficam os dois Iêmen), vicejaram algumas civilizações. O mais conhecido dos reinos foi o de Sabá; escavações recentes mostram vestígios de palácios monumentais e estátuas na cidade de Marib — capital do reino. No resto da península, viviam os sarracenos — beduínos nômades, de origem semítica, com a pele branca, mas tostada do sol. Sua forma de orga- nização social se baseava nas tribos, onde conviviam os clãs. Aldeias com casas de barro se erguiam em torno dos oásis, separados entre si por longas distâncias. Em princípio, não havia propriedade individual: os rebanhos e as raras pastagens eram coletivas. Mas isso não impedia que alguns clãs fossem mais ricos que outros, em função das pilhagens — uma prática comum — ou de operações comerciais. No início do século VI, os bizantinos e os persas começaram a disputar a rota da seda, que passava pelo corredor que ligava a Síria à Palestina. A península Arábica tornou-se por isso um caminho mais seguro para o comércio. A cidade mais importante da região era Meca. Não apenas era um posto de abastecimento de água para as caravanas, co- mo estava situada nu- ma encruzilhada de caminhos que levavam ao Egito, à Síria e à Mesopotâmia. Não muito longe, também, ficava o porto de Daje- dda, no mar Vermelho. Mas não era só isso que fazia Meca impor- tante. No século V, os coraixitas — uma das grandes tribos da parte norte da península Arábica, dominaram a cidade. Daí em diante Meca se tornou um grande centro de pere-grinação religiosa: ali estava a Caaba (cubo), um edifício retangular, de pedra, com 15 me-tros de altura. No início do século VII, quando Maomé vivia em Meca como comerciante, a cidade era pequena, mas apinhada, com cerca de 3 mil habitantes, a maioria vivendo num conjunto de casas de teto plano, feitas de pedra e tijolos de barro. “Ó VOS QUE CREDES! TEMEI A DEUS! MEDITE CADA ALMA NO QUE FEZ PELA MANHÃ! TEMEI A DEUS! DEUSESTÁ BEM INFOR- MADO DO QUE FAZEIS. ALCORÃO Texto da Revista Superinteressante

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Page 1: O Islamismo

O IslamismoO Islamismo

“A expansão do Islão e as relações dos muçulmanos com outros povos do planeta, aolongo de catorze séculos, constituem um dos grandes acontecimentos da história universal. O

modelo de existência proposto pelo Islão, é um dos caminhosprincipais que a humanidadeseguiu para viver a sua existência. São fatos que, por si sós, deveriam exigir a nossa atenção”.

In. Robinson Francis e Peter Brown. O Mundo islamita. Edições del Prado. pág 12.

península arábica era noinício da Idade Média, uma regiãorelativamente isolada do restantedo Oriente. Região desértica, com2,6 milhões de quilômetros qua-drados, permaneceu a salvo dos

conquistadores romanos, graças, exatamente, à suasituação geográfica — isolada ao norte pelo marMediterrâneo, ao sul, pelo oceano Índico e a oeste,pelo mar Vermelho. Nas regiões à beira-mar, no sul(onde hoje ficam os dois Iêmen), vicejaram algumascivilizações. O mais conhecido dos reinos foi o de Sabá;escavações recentes mostram vestígios de paláciosmonumentais e estátuas na cidade de Marib — capitaldo reino.

No restoda península, viviamos sarracenos —beduínos nômades,de origem semítica,com a pele branca,mas tostada do sol.Sua forma de orga-nização social sebaseava nas tribos,onde conviviam osclãs. Aldeias comcasas de barro seerguiam em torno

dos oásis, separados entre si por longas distâncias. Emprincípio, não havia propriedade individual: os rebanhose as raras pastagens eram coletivas. Mas isso nãoimpedia que alguns clãs fossem mais ricos que outros,em função das pilhagens — uma prática comum — oude operações comerciais. No início do século VI, osbizantinos e os persas começaram a disputar a rota daseda, que passava pelo corredor que ligava a Síria àPalestina. A península Arábica tornou-se por isso umcaminho mais seguro para o comércio.

A cidademais importante daregião era Meca. Nãoapenas era um posto deabastecimento de águapara as caravanas, co-mo estava situada nu-ma encruzilhada decaminhos que levavamao Egito, à Síria e àMesopotâmia. Nãomuito longe, também,ficava o porto de Daje-dda, no mar Vermelho.Mas não era só issoque fazia Meca impor-tante. No século V, oscoraixitas — uma dasgrandes tribos da partenorte da penínsulaArábica, dominaram acidade.

Daí em dianteMeca se tornou um grande centro de pere-grinaçãoreligiosa: ali estava a Caaba (cubo), um edifícioretangular, de pedra, com 15 me-tros de altura.

No início doséculo VII, quandoMaomé vivia emMeca comocomerciante, acidade erapequena, masapinhada, comcerca de 3 milhabitantes, amaioria vivendonum conjunto decasas de tetoplano, feitas depedra e tijolos debarro.

“Ó VOS QUE CREDES! TEMEI A DEUS!MEDITE CADA ALMA NO QUE FEZ PELAMANHÃ!TEMEI A DEUS! DEUSESTÁ BEM INFOR-MADO DO QUE FAZEIS.

ALCORÃO

Texto da Revista Superinteressante

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Num dos ângulos, a famosa Pedra Negra,segundo a tradição árabe trazida pelo anjo Gabriel —provavelmente um me-teorito. Mas, além das divindadesárabes, ha-via na Caaba outros ídolos, de diferentestribos e religiões. Quando Maomé nasceu — não sesabe bem se em 569 ou 570 ou 571 —, Meca deixarade ser um mero posto de passagem para se transformarnum próspero centro comercial. O certo é que o meninonasceu órfão de pai.

Três dias depois do casamento, o pai deMaomé partira em viagem de negócios e morrera emMedina, então chamada Yatreb. Dois meses depois desua morte, a viúva, dava à luz Mohammed (o Louvado),um nome incomum, na época.

Como era tradição, o menino foi criado poruma ama e cresceu guardando rebanhos nas regiõesmontanhosas. Quando tinha sete anos, a mãe morreu eo avô paterno, o adotou. Mas a perda das pessoas maispróximas parece ter sido uma constante na vida domenino. Dois anos depois, o avô também morreu e ele

passou aos cuidados dotio, um experiente con-dutor de caravanas.

Aos 12 anos, omenino fez sua primeiraviagem ao lado do tio.Foi até Bosra, na Síria —e, segundo os relatos,nessa viagem os doisencontraram um monge,de nome Bahira, quepredisse a missão pro-fética de Maomé. “Voltacom teu sobrinho parateu país e protege-o dosjudeus”, teria dito Bahiraao tio de Maomé. “Seeles chegarem a vê-lo edele souberem o que eu

sei, tentarão prejudicá-lo”. Os judeus estavam fixadosem vá-rias colônias da península, com sua religião antigae monoteísta.

Indiferente à profecia, o rapaz continuou suavida e, aos 20 anos, passou a trabalhar para uma viúvarica de Meca, Kadidja. Ela era, certamente, uma mulherfora do comum. Ao contrário do costume árabe, quecondenava as viúvas a se colocar sob a tutela de umparente homem e a viver de luto, ela continuou à frentedos negócios do marido, aumentando o patrimônioherdado. Mas tudo indica que, embora rica, ela nãopertencia a um clã que tivesse boa posição na tribodos coraixitas.

Já Maomé, embora pobre, era trabalhadorrespeitado e saído de um clã da tribo dominante emMeca. Numa mistura de amor e cálculo, os dois secasaram. Maomé tinha 25 anos e Kadidja, 40. Apesarda diferença de idade, o casamento foi feliz — tantoque Maomé, enquanto Kadidja viveu, só teve a elacomo mulher, embora a tradição árabe permitisse queele tivesse tantas mulheres quantas pudesse sustentar.

NO INÍCIO ELE PENSOU QUEESTAVA ENLOUQUECENDO

Com o casamento, Maomé passou a desfrutaruma situação econômica invejável. Podia viajar à frentedas caravanas da mulher, conhecendo terras, pessoase novos costumes. “Foi certamente nessas viagens queele teve despertado o interesse religioso”, interpretaRogério Ribas, professor de História Medieval doOriente, da Universidade Federal Fluminense. “Émesmo possível que ele fosse um membro de um grupocontrário à idolatria que existia em Meca”.

O Tempo da História

476

ARÁBIA

ROMA

. Deserto e Oásis

. Economia agro-pastoril

. Atividade comercial - beduínos

. Religião politeísta

610

Religião

. Revelada

. Monoteísta

. Espiritual

MAOMÉ - O Profeta de Alá

622

. Fuga de Meca para Medina

. Início do calendário islâmico

Hégira

630

Retornode Maomé a Meca

. Unificaçãopolítica e religiosa

A Caaba emMeca, na épocade Maomé

NÃO SEJAIS COMO OS QUE, TENDOESQUECIDO A DEUS,

ESTE OS ESQUECEU A ELES MESMOS:ESTES SÃO OS PERVERSOS.

ALCORÃO

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Além disso, con-ta o professor, “a idéia deum deus único não eranovidade na região, ondeexistiam comunidades dejudeus e de cristãos”.

Maomé beirava os40 anos quando, durante oRamadã, o mês de pere-grinação a Meca e à Caaba,subiu com a família ao MonteHirã, para o retiro tradicional.Conta-se que, certa noite, eledormia numa gruta quandouma figura misteriosa, se-gurando um rolo de panocoberto de sinais, ordenou:“Lê!” “Não sei ler”, res-pondeu Maomé. “Lê”, repe-tiu duas vezes a figura, en-quanto quase sufocavaMaomé, enrolando o pano emtorno de seu pescoço.

O homem, queera analfabeto, leu. Aoacordar, saiu da gruta e, noalto, viu um anjo que lhedizia: “Maomé, és o men-sageiro de Alá e eu souGabriel”. Apavorado,pensando estar possuídopor um djin — um espírito, para os árabes —, correuaté onde estava Kadidja, em busca de socorro. Ela oconsolou e desde o começo acreditou na missão domarido.

Mas, para Maomé, a convicção não veio tãofácil. Após a primeira revelação, viriam outras. Elepressentia a chegada dos êxtases porque era assaltadopor fortes suores e zumbido nos ouvidos. Muitas vezes,chegava a desmaiar. No início, Maomé pensou queestava enlouquecendo e a idéia do suicídio passou,diversas vezes, por sua cabeça. Mas, aos poucos,convenceu-se de que era um profeta.

Nos três anos que se seguiram à primeirarevelação, a missão ficou reservada à mulher, ao filhoadotivo e aos parentes mais próximos. Até que o anjodeu-lhe ordem de pregar aos árabes. E o principal temada pregação era, exatamente, a existência de um sódeus, Alá.

Na fase final, Maomé não se consideravafundador de uma nova religião. Menos ainda tinhaintenção de criar a partir dela um Estado árabe. Nessaépoca, ele achava que era apenas uma pessoa querecebera a missão e mesmo não tendo muitosseguidores, atraiu a oposição dos governantes de Meca.“Não só Maomé atacava as crenças tradicionais comoameaçava os lucros que a cidade tirava da peregrinaçãoanual feita à Caaba”, explica o professor Rogério Ribas.Enquanto o tio viveu, Maomé foi protegido da oposiçãodos coraixitas.

Mas, em 619,com a sua morte, elecomeçou a correr riscos.É que o sucessor do tio

na liderança do clã foi AbuLahab — um de-claradoadversário do profeta.

EM MEDINA,ALIOU RELIGIÃOE POLÍTICA

As ameaças obri-garam Maomé a procuraroutra cidade onde morar erecebeu um convite formalde mercadores de Medinapara se instalar ali, cerca de300 quilômetros ao nortede Meca. Maomé seguiu

para lá no ano de622, com cerca detrezentos adeptos.Essa migração (hijra,em árabe, ou Hégira)de Meca para Medi-na marca uma viradade Maomé e umarevolução no Islã. Adata foi adotada,

corretamente, como o ponto de partida de calendáriomuçul-mano. Do simples cidadão que era em Meca,Maomé tornou-se, em Medina, o chefe supremo dacomunidade. Foi a partir, daí também, que mudou oteor das revelações. Enquanto esteve em Meca, Maomépregou a existência de um só Deus e a ele submissãototal (Islã em árabe). Em Medina, as revelaçõesassumiram caráter mais objetivo, com normas deorganização social e política. Foram, concretamente, asregras básicas para a formação de um Estadomuçulmano (o termo muçulmano vem do árabe muslim,que significa submisso).

“A ida para Medina deu condições para que aspropostas de Maomé deixassem de ter um caráter apenasreligioso e passassem a ter um caráter político”, ensinao professor Ribas. “Maomé queria formar uma sociedadepoderosa, que lhe permitisse expandir a ‘revelação’. Osjudeus de Medina perceberam o projeto político deMaomé e o que era uma questão religiosa passou a seruma luta de poder”.

O profeta terminou massacrando os judeus einiciou também o Jihad, a guerra santa de conquista deMeca, considerada a cidade sagrada do Islã. Ascaravanas que saíam ou se dirigiam a Meca eramassaltadas em nome de Alá. A lei do profeta, nessescasos, era simples e clara: quatro quintos do butim iampara a comunidade (a imam) e outro quinto, para oprofeta — que mais tarde será o Estado.

Glória ao meus Deus,o Omnipotente

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Após vários anos de lutas, na primavera de628 Maomé sentiu-se suficientemente forte paraatacar Meca. No caminho, porém, ele percebeu quea tentativa não daria certo e transformou a incursãonuma peregrinação pacífica. Mas o coraixitas,temerosos, terminaram assinando um armistício dedez anos. O acordo, porém, não foi respeitado peloprofeta. Em 630, ele marchou sobre Meca com 10mil homens e tomou a cidade sem enfrentarresistência. Maomé concedeu anistia a todos osinimigos, destruiu os ídolos da Caaba, respeitando aPedra Negra. Em seguida, proclamou Meca cidadesanta do Islã. Estavam firmemente assentadas as basesdo novo Estado teocrático.

Nessa época, Maomé tinha 60 anos e viveriaapenas mais dois. A essa altura, ele tinha grande harém— iniciado depois da morte da mulher Kadidja.Segundo Aisha, sua mulher preferida, filha do amigoe sucessor Abu-Bekr, Maomé sempre dizia que havia

três delícias no mundo: asbelas mulheres, os bonsperfumes e, naturalmente, aspreces.

Além das váriasmulheres, o profeta não tinhaluxos. Não admitia bebidasalcoólicas — proibidas aosmuçulmanos — não comiacarne de porco e se alimentavaquase sempre de mel, leite,pão e tâmaras.

SOB O GOVERNO DO CORÃO

O Islamismo é uma religião revelada e seus seguidores proclamam sua obediência a um único Deus. A frase ‘Não há outroDeus além de Alá e Maomé é o seu profeta” é a base de tudo. As revelações de Maomé são chamadas em árabe quran, ou seja,declamação, recitação. Daí o nome Corão ou Alcorão (Al Quran), o livro sagrado dos muçulmanos. Nele estão as regras quegovernam a vida de 840 milhões de pessoas em todo o mundo. O Corão é dividido em 114 suras, ou capítulos, de tamanhos variados.Cada sura, por sua vez, se subdivide em versículos, num total de 6.211. Mas ao contrário dos outros livros sagrados − como a Bíbliados cristãos ou a Torá dos judeus − o Corão não dispõe de nenhuma ordem, sequer cronológica. Sucessivas revelações, emcircunstâncias e tempos diversos, formam um conjunto fragmentado. Mas esse desordenadamento não impede que o livro seja afonte primária e fundamental de todas as atividades do cotidiano dos muçulmanos.

Desde pequena, a criança muçulmana começa a decorar o Corão. No dia-a-dia, o livro é recitado na porta das mesquitase nas cinco orações diárias. É no Corão que os seguidores de Maomé vão buscar conselhos para as mais elementares questões comoa maneira de se vestir ou de receber um convidado em casa. Além do Corão, existem duas outras fontes de “revelação” feitas porAlá: a sunna, ou tradição, que é o relato da vida, da palavra e das ações de Maomé, e os hadits, a narração oral ou escrita, dos feitose ditos do profeta e que confirmam a sunna. Ao contrário de outras religiões que impõem uma série de obrigações aos seguidores,o Islã exige o cumprimento de apenas seis preceitos, que são conhecidos como “os pilares do Islã”: crer em um único Deus, Alá; orarcinco vezes ao dia, com a cabeça voltada em direção a Meca; praticar a caridade; jejuar no Ramadã; orar em comum ao meio-diada sexta-feira e fazer a peregrinação à cidade santa ao menos uma vez na vida.

Em casa, era um marido exemplar: dividiaescrupulosamente as noites entre as mulheres, faziacompras nos mercados, varria o chão e, muitas vezes,era flagrado remendando suas roupas, na entrada dacasa. Em fins de maio de 632, ficou doente. Tinhafebre e constantes dores de cabeça.

Durante quinze dias, não saiu da cama. Em4 de junho, mesmo doente, levantou-se e foi àmesquita orar. Quando chegou, a oração do alvorecerjá havia começado. O celebrante (iman) era seu sogro,Abu-Bekr. Ao perceber a presença de Maomé, elerecuou para que o profeta assumisse o seu posto. MasMaomé suavemente empurrou-o à frente, mandandoque continuasse a celebração. Era a designação dosucessor. De volta a casa, Maomé entrou em agonia ea sete de junho morreu no colo de Aisha. O jovemórfão havia deixado uma vasta obra — não apenasuma nova religião, como também um livro derevelações que se transformou no guia do com-portamento de milhões de pessoas. Mais ainda:

Maomé haviacriado umavasta comu-nidade e umEstado árabe.

Após a morte de Maomé, os califas que ganharam o controle domundo muçulmano, empunharam a espada do Islamismo contra osinfiéis, do rio Indo ao estreito de Gibraltar. O principal trunfo quelevaram para a guerra eram os nômades montados, que adaptarama tática de ataques-relâmpagos do deserto para as grandescampanhas

“Um homem sem irmão é comoa mão esquerda sem a direita”. Alcorão

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Para você saber mais

Para aqueles que abordam ahistória islâmica com preconceitos

modernos, a maior surpresa éconstatar que desde a época de

Maomé até pelo menos 1500,aproximadamente, a cultura e asociedade islâmicas foram em

extremo cosmopolitas e dinâmicas.O próprio Maomé não era um árabe

do deserto, e sim um citadino ecomerciante, imbuído de ideais

avançados. Mais tarde, a culturaislâmica tornou-se altamente

cosmopolita por diversas razões:herdou a sofisticação de Bizâncio eda Pérsia; permaneceu centralizada

nas encruzilhadas do comércio alonga distância entre o ExtremoOriente e o Ocidente; e porque apróspera vida urbana na maioriados territórios muçulmanos con-

trabalançava a agricultura. Devidoà importância do comércio, havia

grande mobilidadegeográfica. Ademais,os ensinamentos de

Maomé estimulavam amobilidade social, pois

o Corão pregava aigualdade de todos os

muçulmanos.O resultado

disso foi que na cortede Bagdá, e depoisnas cortes dos esta-

dos muçulmanosdescentralizados,

tinham oportunidades todasas pessoas talentosas. Comoa alfabetização era extraor-dinariamente disseminada -

uma estimativa aproximada para oano 1000 é de que 20 % de todosos homens muçulmanos sabiamler - muitos podiam subir social-

mente através da educação.Raramente os cargos eram vistos

como hereditários e “homensnovos” podiam ascender ao topoda hierarquia mediante esforço e

capacidade. Além disso, osmuçulmanos mostravam notável

“Labbaika! Labbaika!”gritam os peregrinos quando ao

longe vislumbram a Caaba, osantuário central da grande mesquitade Meca. “Aqui estou eu (Deus), aquiestou eu (Deus) presente diante de

vós”. É o momento principal de umavida muçumlmana, o culminar deanos vividos na observância do

caminho do senhor, o momento emque se coroa essa longa jornada.

tolerância para comoutras religiões.

Como já dissemosera raro

procuraremconversões

forçadas, e emgeral permitiamespaço dentro de seus próprios

estados para judeus e cristãos, queconsideravam como “gente dolivro”, porque a Bíblia era vista

como precursora do Corão. Dentrodessa atitude de tolerância, um

dos primeiros califas empregou umcristão como seu principal secre-tário, os omíadas protegeram umcristão que escrevia poesia em

árabe e a Esparilia moura assistiuao maior florescimento da culturajudaica entre a antiguidade e os

tempos modernos. O principal frutodesse florescimento judaico foi a

obra de Moisés Maimónides(1135-1204), um profundo pensadorreligioso, às vezes cognominado “osegundo Moisés”, e que escrevia

tanto em hebraico corno em árabe.In. Burns, Edward McNall.

História da Civilização Ocidental.Editora Globo. Pág. 221.

O caráter da cultura e da sociedade islâmicas

MAPA. EXPANSÃO ISLÂMICA

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