o impossível pode acontecer

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1 | Mayara Vellardi Pinheiro O impossível pode acontecer Mayara Vellardi Pinheiro

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Esse é o meu primeiro livro, eu o escrevi em 2010. (Infantojuvenil) Os jovens não conhecem o poder, a força, o brilho e a beleza que possuem. Geralmente quando as pessoas envelhecem, costumam analisar seus passados e percebem oportunidades desperdiçadas, atitudes impensadas e caminhos mau escolhidos. Não se pode exigir que uma pessoa amadureça como outras, cada um tem seu tempo e deve passar por situações diferentes para conseguir enxergar o que muitas vezes parece óbvio. Esse livro trata alguns temas comuns no cotidiano dos jovens. Todos têm sonhos, mas por muitas vezes se desviam do caminho e pre cisam de lições de vida para voltarem às suas missões. Muitas vezes o que parece não ter volta é o que faz as pessoas renascerem. E quem ajuda todo mundo e parece forte, inabalável, percebe que é tão frágil como qualquer outra pessoa e que também precisa de auxílio. As pessoas não precisam de poderes extraordinários para serem super-heróis, pequenas atitudes e gestos no cotidiano podem mudar situações, salvar vidas e ajudar os outros a resolverem seus problemas. Patrícia estuda e pratica esportes é uma boa amiga e filha, tem uma vida social como qualquer adolescente da sua idade. Mas a menina guarda um segredo: ela sonha em ser uma super-heroína, mas sabe que isso não é possível. Até que um dia, a menina percebe que o que ela tanto queria começa a acontecer e alguns poderes se tornam reais. Será que isso tudo é real? Ela consegue mudar o mundo e lutar contra as injustiças? Seus poderes são usados para o bem do próximo?

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Page 1: O impossível pode acontecer

1 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

O impossível pode acontecer

Mayara Vellardi Pinhe iro

Page 2: O impossível pode acontecer

2 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Índice:

Prefácio 03

Em Especial 06

Capítulo 1 – Não passava de um sonho... 08

Capítulo 2 – Como tudo aconteceu? 63

Capítulo 3 – Aprendendo a voar 79

Capítulo 4 – Realidade X Sonho 98

Capítulo 5 – Será que é real? 111

Capítulo 6 – Descobrindo um mundo novo 131

Capítulo 7 – Controlando os sentimentos 153

Capítulo 8 – Tudo em seu lugar 172

A Autora 188

Page 3: O impossível pode acontecer

3 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Prefác io :

Os jovens não conhecem o pode r , a

fo rça , o b r i lho e a be leza que possuem.

Gera lmente quando as pessoas

enve lhecem, cos tumam ana l i sa r seus

passados e percebem opor tun idades

despe rd içadas, a t i tudes impensadas e

caminhos mau esco lh idos .

Não se pode ex ig i r que uma pessoa

amadureça como ou t ras , cada um tem

seu tempo e deve passa r por s i tuações

d i f e ren tes pa ra consegu i r enxe rga r o

que mu i tas vezes pa rece óbv io .

Esse l i v ro t ra ta a lguns temas

comuns no co t id iano dos jovens. Todos

Page 4: O impossível pode acontecer

4 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

têm sonhos , mas por mu i tas vezes se

desv iam do cam inho e p re c isam de

l i ções de v ida pa ra vo l ta rem às suas

m issões .

Mu i tas vezes o que pa rece não te r

vo l ta é o que faz as pessoas

renasce rem. E quem a juda todo mundo e

pa rece fo r te , inaba láve l , pe rcebe que é

tão f rág i l como qua lque r ou t ra pessoa e

que também p rec isa de aux í l io .

As pessoas não p rec isam de

pode res ex t rao rd iná r ios pa ra serem

supe r -he ró is , pequenas a t i tudes e

ges tos no co t id iano podem mudar

s i tuaçõe s, sa lvar v idas e a juda r os

ou t ros a reso lverem seus p rob lemas .

Pa t r íc ia es tuda e p ra t i ca espo r tes é

uma boa am iga e f i lha , t em uma v ida

Page 5: O impossível pode acontecer

5 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

soc ia l como qua lque r ado lescen te da

sua idade .

Mas a men ina gua rda um segredo :

e la sonha em se r uma supe r -hero ína ,

mas sabe que i sso não é poss íve l .

A té que um d ia , a men ina pe rcebe

que o que e la tan to que r ia começa a

acon tece r e a lguns pode res se to rnam

rea is .

Se rá que i sso tudo é rea l? E la

consegue mudar o mundo e lu ta r con t ra

as in jus t i ças? Seus pode res são usados

pa ra o bem do p róx imo?

Page 6: O impossível pode acontecer

6 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Em Espec ial:

A f é é a base de tudo , sem e la

posso d ize r que não cons igo chega r a

l uga r a lgum, po r isso , agradeço

p r ime i ramen te a Deus, Jesus , V i rgem

Mar ia e aos meus in te rcesso res , po is

sem E les m inha v ida nada se r ia , eu

s imp lesmente não ex is t i r ia .

Quero agradece r ao meu mar ido

W i lson pe lo apo io e compreensão e à

m inha amada f i lha Yasm im, po is sem

e les a v ida ser ia ma is d i f íc i l .

Também agradeço a os meus

am igos que sempre es tão ao meu lado

quando p rec iso e que com o passa r dos

Page 7: O impossível pode acontecer

7 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

anos se to rna ram impor tan tes em minha

v ida .

Agradeço a todos os meus

fami l ia res , p róx imos, d i s tan tes , ado t i vos ,

b io lóg icos , con t ra ídos pe lo casamento ,

mas p r inc ipa lmente aos meus fa lec idos

pa is O lga e José que me cr ia ram com

mu i to amor e me de ram grandes

opo r tun idades .

É impor tan te agradece r também

aos desconhec idos que po r s imp les

passagens em m inha v ida me fazem

enxe rga r que nada é co inc idênc ia , mas

s im p rov idênc ia e que quando queremos

mu i to uma co isa , o Un ive rso consp i ra a

nosso favor !

Lembrando que esse l i v ro é

ded icado também a todos os le i t o res e a

Page 8: O impossível pode acontecer

8 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

todas as pessoas que de uma mane i ra

ou ou t ra a juda ram a escreve r a h i s tó r ia

da m inha v ida a té o p resen te momento !

Page 9: O impossível pode acontecer

9 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Capítulo 1 – Não passava de um

sonho. . .

Pat r íc ia é uma men ina de 14 anos ,

como qua lque r ou t ra ga ro ta de sua

idade . P ra t i ca espo r tes , es tuda ,

f requenta fes ta s , tem boas re lações

fami l ia res e a lém de boa f i lha é uma

am iga sem igua l .

Mar ia A l i ce , sua i rmã ma is nova a

adm i ra mu i to , inc lus ive chega a se r

pa rec ida com e la f i s icamen te , cabe los

ru i vos e longos, aba ixo do ombro , o lhos

ve rdes pene t ran tes , sa rdas na pe le do

ros to e sor r isos i n igua láve is . A d i fe rença

de idade en t re as duas é pequena, L i l i ,

Page 10: O impossível pode acontecer

10 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

como é ca r inhosamente chamada po r

Pa ty, tem 12 anos.

Pa t r íc ia cos tuma d ize r que sua v ida

é como um l i v ro abe r to , em que todos

podem a judar a esc rever . Po rém a jovem

sonhadora guarda em seu c o ração um

segredo , o qua l a l imenta sua a lma de

espe rança por um mundo me lhor e ma is

jus to .

Seu sonho é to rna r -se uma super -

he ro ína , e la ass is te f i lmes, guarda

pôs te res de he ró is em seu quar to , f az

desenhos e c r ia h is tó r ias em seu d iá r io

sec re to , que e la g ua rda em um fundo

fa l so emba ixo da ú l t ima gave ta do seu

gua rda - roupa .

E la sabe que nada d isso ex is te ,

mas tem espe ranças de que um d ia a lgo

Page 11: O impossível pode acontecer

11 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

d i fe ren te possa acon tece r e e la espera

ans iosamen te po r i sso , mas a men ina

não con ta nada a n inguém, po is tem

medo de ser r id i cu la r i zada .

Sua ro t ina é mu i to d i ve r t ida . Essa

semana é seu an ive rsá r io e sua mãe,

i rmã e me lho r am iga , es tão p repa rando

uma inc r íve l f es ta su r p resa para

comemora r seus 15 anos .

- T ia Lau ra , es tou te rm inando de

faze r os conv i tes no compu tado r , se rá

que você pode v i r da r uma o lhada pa ra

ve r se f i ca ram bons?

- Tudo bem C la ra ! A Pa ty tem mu i ta

sor te em te r uma am iga como você !

- Nossa , os conv i tes f i ca ram l indos !

Você pode mandar impr im i r na grá f ica

Page 12: O impossível pode acontecer

12 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

per to da sua casa? Depo is eu vou lá

pa ra paga r e re t i ra r , ok?

- Tudo bem t ia , en tão eu vou

nessa , senão a Pa ty va i chega r a í e eu

nem se i que descu lpa vou usa r !

Nesse me io tempo chega L i l i :

- O i mãe, encont re i a C la ra na

esqu ina , e la tava com a a r te dos

conv i tes sa lva em um pend r i ve , e la d isse

que va i mandar impr im i r , né?

- S im f i l ha é mesmo. E você ,

consegu iu encomendar o bo lo e os

doc inhos com a Dona Neyde?

- Consegu i mãe. Tudo va i f i ca r

l i ndo do je i to que a Pa ty gos ta . A Dona

Neyde fa lou p ra você passar l á p ra ve r o

tema que esco lh i .

Page 13: O impossível pode acontecer

13 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Laura é uma mu lhe r de te rminada e

amorosa , f az tudo pe la fe l i c idade de

suas f i lhas , uma mãe e esposa

ded icada . Ru iva dos o lhos ve rdes ,

quando sa i com as f i l has , cos tum am

pe rgun ta r se e la é i rmã ma is ve lha das

men inas .

C la ra , me lho r amiga de Pat r íc ia , é

uma men ina s imp les , cabe los p re tos

longos, de es ta tu ra ba ixa e ac ima do

peso , f i ca com as bochechas

ave rme lhadas quando es tá ne rvosa .

Dona Neyde é v i z inha de Lau ra , as

duas são am igas há mu i tos anos . Neyde

fo i abandonada pe lo mar ido e para c r ia r

seu ún ico f i lho com de f ic iênc ia mú l t ip la ,

f ís ica não -senso r ia l e menta l , f az bo los ,

doces e sa lgados po r encomenda, po is

Page 14: O impossível pode acontecer

14 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

não pode t raba lha r f o ra , a f ina l deve

cu idar de seu f i lho Es tevão .

Pa t r íc ia es tá na esco la , es tudando

pa ra uma impor tan te p rova :

- Pa ty, que d ia é ho je?

- Ho je é d ia 10 de março de 2015,

J .C. .

- Va leu Paty ! Por que temos que

f i ca r a té ma is ta rde essa semana? Eu

es tudava soz inho em casa e tava mu i to

bom. Isso é um saco .

- Esse sábado temos aque le p rovão

com 50 ques tões e se não fo rmos bem,

podemos nos p re jud ica r mu i to nas no tas

do f ina l do b imest re .

Page 15: O impossível pode acontecer

15 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Ode io te r que da r o b raço a

to rce r , mas você es tá ce r ta como

sempre .

João Car los ou J .C . , ape l ido c r iado

po r Pa t r íc ia , é lo i ro , tem o lhos ve rdes ,

tem es ta tu ra med iana , é um men ino

mu i to bon i to , mas que não gos ta m u i to

de es tuda r e tem man ia de de ixar tudo

pa ra a ú l t ima ho ra .

O s ina l ba te e Pa t r íc ia co r re pe las

ruas pa ra chega r logo em casa , a f ina l

e la a inda tem que a lmoça r an tes de i r

pa ra o t re ino de fu tebo l . A men ina cor re

d is t ra ída e t romba com o men ino de

seus sonhos quase na esqu ina de sua

casa .

- O i , descu lpe . . . eu es tava a t rasada

e d i s t ra ída .

Page 16: O impossível pode acontecer

16 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Tudo bem, você se machucou?

- Não fo i nada ! E você , es tá bem?

- Es tou bem, mas só ace i to suas

descu lpas se você ace i ta r t omar um

sorve te com igo .

A men ina é mu i to responsáve l ,

mesmo que e la que i ra ace i ta r o conv i te

do men ino que e la tan to adm i ra , sabe

que não deve fa l ta r aos seus

comprom issos e sabe também, que sua

mãe a espera pa ra o a lmoço, po r tan to :

- Ago ra eu es tou indo a lmoça r e

depo is vou para o t re ino d e fu tebo l l á no

C lube A t lé t i co . Pode r ia se r ma is ta rde , o

que acha?

Page 17: O impossível pode acontecer

17 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Pode se r , eu faço na tação no

c lube , podemos nos encon t ra r lá , depo is

do seu t re ino . . .

- Fechado ! Às c inco ho ras em

f ren te à quadra de fu tsa l . Só ma is uma

co isa , qua l é seu nome?

- Meu nome é R ica rdo e o seu?

- Meu nome é Pat r íc ia , mas pode

me chamar de Paty .

Pa t r íc ia fo i pa ra casa a lmoça r e

t roca r de roupa. A inda emoc ionada com

o oco r r ido , reso lveu con ta r à m ãe e à

i rmã o que hav ia acon tec ido .

- Vocês nem imag inam o que

acon teceu ! Sabe aque le men ino que eu

ve jo no c lube de vez em quando, que eu

acho l indo? Aque le que é moreno , tem

Page 18: O impossível pode acontecer

18 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

cabe los p re tos , a l to e fo r te , ah e le é

tudo de bom e o nome de le é R ica rdo !

- Como você descob r iu o nome

de le? – pe rgun tam as duas in t r i gadas.

- Eu v inha co r rendo da es co la e

tope i com e le aqu i na esqu ina de casa .

E le fa lou que faz na tação lá no c lube ,

vamos nos encont ra r ma is ta rde , depo is

do meu t re ino .

- Boa so r te Pa ty , depo is eu quero

conhecer esse R icardo , he in? – f a la L i l i .

- F i lha , só toma cu idado , você sabe

como as co isas es tão ho je em d ia .

- Va leu gen te ! Obr igada pe la fo rça !

A men ina fo i pa ra o t re ino e

con fo rme o comb inado , lá es tava

Page 19: O impossível pode acontecer

19 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Rica rdo a esperando . Os do is f o ram

tomar o tão esperado sorve te , enquanto

L i l i , Laura e C la ra p lane javam a fes ta

surp resa .

O que Pat r íc ia não imag inava é que

R ica rdo já a obse rvava há tempos . E le

es tava fasc inado com sua be leza e

encantado com seu je i to doce e

de te rm inado .

- En tão , onde você es tuda?

- Es tudo no Cen t ro Educac iona l

P icasso , onde o ens ino é uma a r te . –

comenta Pa ty com a r de g raça .

- Você gos ta tan to do co lég io que

fa la a té o s logan?

- Esse não é o s logan do co lég io ,

f u i eu que inven te i essa f rase .

Page 20: O impossível pode acontecer

20 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Po r que você não ap resen ta essa

f rase ao d i re to r? Pode se r que e le gos te

e quem sabe você pode se des taca r !

- Boa ide ia , vou faze r isso mesmo!

E você , onde es tuda?

- Es tudo no Co lég io In te ração .

Es tou no te rce i ro ano do méd io .

- Eu es tou no p r ime i ro ano , não

ve jo a ho ra de me fo rmar . Que cu rso

você que r f aze r na facu ldade?

- Amo an ima is , penso em ser

ve te r iná r io . E você ?

- Gosto mu i to de a juda r as

pessoas, não supo r to in jus t i ças , pense i

em faze r D i re i to , mas como as le is não

func ionam mu i to bem nesse pa ís , f i ca r ia

mu i to revo l tada e me sen t i r ia impoten te ,

Page 21: O impossível pode acontecer

21 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

en tão penso em fazer Med ic ina , acho

que vou a juda r ma is pessoas des sa

fo rma.

A conversa fo i agradáve l e du rou

um longo per íodo de tempo. E le fez

questão de acompanhar a moça a té em

casa e pe rcebeu que e la mor a p róx imo

ao p réd io que e le v i ve . Os do is t rocaram

e -ma i l e te le fone e p romete ram

conve rsa r ma is vezes . A desped ida fo i

um suave be i jo no ros to , en t re os láb ios

e a bochecha.

Pa t r íc ia chegou a sua casa e seu

pa i a chamou pa ra uma conve rsa .

- O i f i lha , como fo i o t re ino ho je? –

pe rgun ta Maur íc io .

- O i pa i , f o i lega l , me d ive r t i

bas tan te , depo is sa í com um amigo pa ra

Page 22: O impossível pode acontecer

22 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

tomar so rve te , espe ro que não tenha

f i cado p reocupado.

- Sua mãe comen tou com igo , eu

não f i que i p reocupado po rque con f io em

você .

- Obr igada !

- Bem, na ve rdade , o que que ro

fa la r é sob re ou t ro assun to .

A jovem a r rega la os o lhos e pensa :

“Se rá que f i z a lgo e r rado? Se rá que e le

va i me de ixa r de cas t igo bem na semana

do meu an ive rsá r io? ”

- F i lha , eu e sua mãe te amamos

mu i to e que remos o seu bem, se i que

essa semana você comple ta 15 anos e

eu gos ta r ia de pode r te o fe recer uma

l i nda fes ta , mas com a v iagem no f im do

Page 23: O impossível pode acontecer

23 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

ano à Bah ia , f i ca um pouco comp l icado ,

acho que você en tende. . .

- S im, eu en tendo e f i co mu i to fe l i z

po r me p ropo rc iona r uma v iagem tão

inesquec íve l ! Tenho ce r teza de que vou

amar !

Maur íc io tem o lhos co r de me l e

cabe lo cas tanho c la ro , é a l to e poss u i

um fo r te po r te f ís i co , também é um pa i

mu i to amoroso e pensa mu i to em suas

duas f i lhas , e le é um mar ido exce len te ,

essa é uma famí l i a em que todos se

re lac ionam mu i to bem.

A conve rsa te rm ina e Pa t r íc ia va i

ao qua r to esc reve r no seu d iá r io

sec re to :

“Essa é a semana do meu

an iversá r io de 15 anos. . .

Page 24: O impossível pode acontecer

24 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

. . .ho je é segunda - fe i ra e posso

d ize r que m inha semana já começou

mu i to bem e com mu i tas emoções, o que

será que va i acon tece r a té sábado?

Pena que não vou te r f es ta esse

f im de semana , mas tudo bem, a f ina l vou

ganhar uma v iagem no f ina l do ano para

compensa r . Eu vou p ra Bah ia ! Quero que

meus 15 anos se jam inesquec íve is !

Es tou mu i to fe l i z po rque o men ino

que eu tan to que r ia conhece r um d ia ,

sa iu com igo ho je , na desped ida quase

me be i jou na boca . Isso é tão l ega l . . . e o

me lho r , meus pa is e m inha i rmã sabem e

me dão o ma io r apo io , sempre vou

con f ia r na m inha famí l ia . . .

Pensando na s i tuação de ou t ras

am igas m inhas , eu sou uma so r tuda po r

Page 25: O impossível pode acontecer

25 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

te r uma famí l ia tão compreens iva . Se

fossem os pa is da Marc inha , por

exemplo , se e les soubessem que e la ia

te r um encont ro com um men ino , e les a

p ro ib i r iam de sa i r , f a r iam um ve rdade i ro

escânda lo . Po r i sso que e la ap ron ta

tan to e escond ido . Se eu pudesse ao

menos most ra r pa ra pa is e f i lhos que a

am izade é o que rea lmente reso lve e

não cas t igos , tapas e b r igas , com

cer teza as co isas se r iam bem me lho res .

Mas mudando de assun to , que r ia

tan to te r uma fes ta surp resa . . . ia ser

dema is , mas nem s ina l de nada, mas não

posso rec lamar , a f ina l meus pa is são

dema is !

Ago ra vou escrever ma is um

cap í tu lo da Super teen :

Page 26: O impossível pode acontecer

26 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

A ado lescen te p rev ia que a lgo

inc r íve l ia acon tecer na semana de seu

an iversá r io , mas não sab ia exa tamen te o

que . E la t inha in tu ições de que te r ia uma

fes ta su rp resa e de que seu d i re to r f a r ia

um concu rso para a esco lha de um

s logan pa ra a esco la e ad iv inha quem

ganhava o concu rso , a Supe r teen é

c la ro ! E ma is , e la descob r ia que

R ica rdo , seu amado , também e ra he ró i e

que lu tava con t ra a in jus t i ça aos

an ima is , seu nome era Supe rp e t . . . ”

E la fecha o d iá r io e va i dorm i r ,

a f ina l mu i tas surp resas a espe ram no

d ia segu in te .

Quando a ga ro ta chega à esco la no

d ia segu in te , vê que há uma roda de

a lunos em vo l t a de um ca r taz . E la se

ap rox ima e lê :

Page 27: O impossível pode acontecer

27 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

“Concu rso : Quem c r ia o me lho r

s logan? Ma is in fo rmações na

sec re ta r ia . ”

A men ina f i ca eu fó r ica , e la j á tem

tudo p ron to , i sso é pe r fe i to . En tão e la

va i à secre ta r ia e insc reve sua f rase . A

apu ração deve acon tece r na sexta - fe i ra .

- Pa t r íc ia , você fo i a déc ima a luna

a faze r a insc r i ção , mu i tas pessoas

a inda v i rão , mas se i que você é mu i to

ta len tosa e tem gr andes chances. – f a la

Cáss ia .

- Cáss ia , você é tão lega l comigo .

Quem dera se todos os func ioná r ios do

co lég io fossem ass im.

- E les podem não se rem ass im

mu i tas vezes , mas de uma co isa você

pode te r ce r teza , você é mu i to que r ida

Page 28: O impossível pode acontecer

28 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

aqu i e todos sempre es tão t e e log iando

ou comen tando a lgo pos i t i vo ao seu

respe i to .

- Ob r igada , f i co mu i to fe l i z ! Eu

gos to mu i to de es tuda r aqu i , quando eu

me fo rmar , sen t i re i mu i tas saudades.

Cáss ia é func ioná r ia da sec re tá r ia ,

uma pessoa ca t i van te e que ado ra serv i r

as pessoas, com seus cabe los cur tos e

enca raco lados e sua l inda pe le negra ,

encanta os a lunos com sua be leza e seu

je i to agradáve l .

O d ia passa a jovem conve rsa

com seus am igos . Marc inha a chama

pa ra uma conve rsa a sós .

- Amiga p rec iso mu i to da sua

a juda . Não se i o que faze r , meus pa is

me pega ram fumando na rua e t i ra ram

Page 29: O impossível pode acontecer

29 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

meu ce lu la r e m inha mesada e a inda m e

p ro ib i ram de sa i r du ran te esse mês , o

p io r é que eu tenho um encon t ro com o

Marqu inhos ma is ta rde , es tou tão t r i s te .

- A me lhor co isa que ap rend i é

fa la r a ve rdade , doa a quem doe r . Por

que você não con ta aos seus pa is que

es tá com o Marqu inhos? Poxa , já f az

t rês meses que vocês es tão namorando .

- Eu se i , mas e les não i r iam

compreende r , a ú l t ima vez que e les me

v i ram com um men ino eu f i que i de

cas t igo , sem pode r sa i r de casa po r uns

do is meses. O p io r é que ago ra es tou

com mu i ta von tade de fumar , es tou

ne rvosa e não tenho d inhe i ro p ra

compra r c iga r ro .

Page 30: O impossível pode acontecer

30 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Eu não posso te a juda r . Po r ma is

que sua s i t uação es tá compl icada , eu

a inda a aconse lho a conve rsa r com seus

pa is se r iamente , ab r i r seu co ração , f a la r

que se e les con f ia rem em você , sempre

será s ince ra com e les .

- Vou fa la r a ve rdade , vou en f ren tá -

los , mas se e les con t inua rem a faze r o

que fazem comigo , uma hora vou acaba r

fug indo de casa .

- Não tome a t i tudes p rec ip i t adas ,

qua lque r co isa me av ise .

O d ia segue t ranqu i lo , sem mui tas

nov idades , depo is da esco la Pa t r íc ia va i

ao cu rso de Ing lês , enquan to os

de ta lhes de sua fes ta são p rogramados.

Page 31: O impossível pode acontecer

31 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

À no i te , a ado lescen te va i à casa

de Dona Neyde ve r se e la p rec isa de

a juda , como cos tuma faze r toda semana.

- O i Es tevão ! Como você es tá l indo

ho je !

O rapaz f i ca fe l i z em vê - la e sor r i ,

f azendo ges tos de que re r ab raçá - la .

Es tevão tem 18 anos, mas dev ido às

suas compl icações , se compor ta como

um men ino de 5 anos .

- Dona Neyde , rezo pa ra que

Estevão f i que be m logo .

- Obr igada f i lha , você e sua famí l ia

são mu i to impor tan tes pa ra m im. Sabe,

ho je leve i meu men ino no Cent ro de

Reab i l i tação pa ra faze r f i s io te rap ia e a

dou to ra me fa lou que logo e le

Page 32: O impossível pode acontecer

32 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

consegu i rá fa l a r e ap rende r a le r e

esc rever .

- Que bom! F ico mu i to fe l i z e que ro

que sa iba que pode con ta r com igo pa ra

o que p rec isa r .

- Ago ra que você já tem idade para

sabe r , vou te con ta r . Po r vezes é

compl icado c r ia r o Es tevão sem a

p resença de um mar ido , mas vou

con fessa r a lgo , dou g raças a Deus po r

e le te r i do embora quando Estevão e ra

pequeno, na ve rdade , e le fo i o ma io r

cu lpado pe la doença do meu f i lho .

- Po r quê?

- Porque eu descob r i que e le me

t ransmi t iu S í f i l i s du ran te a ges tação ,

mas os s in tomas demora ram pa ra

apa rece r e o Es t evão fo i con taminado,

Page 33: O impossível pode acontecer

33 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

mas os s in tomas demoraram a apa recer

e quando fo i f e i to o t ra tamen to já e ra

ta rde , e le teve ou t ras comp l icações e

f i cou ass im , uma c r iança espec ia l .

Quando descob r i o que acon teceu e le

t inha p ra t icamente do is anos, o méd ico

con f i rmou a doença e ex ig i exp l i cações

do meu mar ido , e le assumiu que t inha

t ido casos com ou t ras mu lhe res , d isse

que não f i ca r ia com uma mu lher

c iumen ta e com uma c r iança

p rob lemát ica e fo i embora .

- Não se i o que te d i ze r , mas

ga ran to que Deus é jus to e que n ing uém

passa pe lo que não agu enta . Se vocês

es tão passando po r essas t r ibu lações, é

po rque são capazes de superar tudo . O

que é para acon tece r sempre acon tece ,

de uma fo rma ou de ou t ra , quem sabe

seu ex- -mar ido não t inha que passar

Page 34: O impossível pode acontecer

34 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

pe la sua v ida não pa ra des graçá - la e

abandonar você e seu f i lho , mas pa ra te

de ixar um l indo p resen te espec ia l que

p rova a cada d ia que você é tão espec ia l

quan to seu f i lho e um exemplo de

mu lhe r !

- Que l indas pa lavras ! – f a la Neyde

com lágr imas nos o lhos .

A men ina a juda a senho ra com os

doces e comenta :

- Que fes ta l i nda você es tá

p repa rando ! Essa pessoa é sor tuda ,

he in? Você coz inha mu i to bem!

- Ob r igada f i lha , essa fes ta é pa ra

uma men ina pa ren te de um am igo de um

p r imo de uma f is io te rapeuta lá do C .R. .

Page 35: O impossível pode acontecer

35 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Lega l ! Se p rec isar de m i m é só

me chamar , vou indo porque amanhã

cedo tenho au la !

A jovem sonhadora esc reve em seu

d iá r io :

“Hoje é d ia : 11 /03 , te rça - fe i ra !

Fa l ta menos de uma semana pa ra o meu

n ive r !

Ah , se eu pudesse a judar a

amen izar o so f r imen to das pessoas. . .

. . .esco lhas in f e l i zes podem dest ru i r

uma v ida . Uma a t i tude impensada do ex -

mar ido da Dona Neyde causou uma

doença g rave para o men ino e a inda

como se isso não bas tasse , e le fo i

embora e os abandonou. Po r que as

pessoas t raem? Não se r ia ma is fác i l

f a la r que não gos tam mai s umas das

Page 36: O impossível pode acontecer

36 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

ou t ras? O mundo se r ia um lugar bem

me lho r sem ment i ras . Fa la r a verdade

pode se r mu i to compl icado , mas o

so f r imen to causado é menor do que a

descober ta de uma ment i ra , a inda ma is

em uma s i tuação como a da Dona

Neyde. . . ”

A men ina va i à esco la e p e rcebe

que sua am iga Marc inha fa l tou , en tão

dec ide l i ga r pa ra a amiga pa ra sabe r o

que acon teceu . Ass im que as au las

te rm inam a men ina te le fona , mas a mãe

da am iga não a de ixa a tende r ao

te le fonema:

- O i Pa t r íc ia , descu lpe , mas a

Marc inha es tá de cas t igo e não pode

fa la r ao te le fone e se es tá p reocupada

po rque e la fa l tou ho je é porque eu e o

Page 37: O impossível pode acontecer

37 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

pa i de la es tamos pensando na

poss ib i l idade de mudá - la de esco la .

- Mas t ia C láud ia , o que

acon teceu? Posso a juda r? Descu lpe

m inha in t romissão , é que gos to mu i to de

sua f i lha e se eu pude r aconse lhá - la ou

mesmo conve rsa r com a senho ra . . .

- Na ve rdade gos ta r ia que não se

in t rometesse , mu i to ob r igada .

C láud ia des l iga o te le fone e ca i em

um cho ro compu ls i vo , e la se sen te ma l

de te r t ra tado Pat r íc ia daque la fo rma, na

ve rdade e la e seu mar ido não sabem

como educa r a f i lha , po is seu ou t ro f i lho

mor reu de ove rdose há t rês anos e e les

se cu lpavam mu i to po r isso . A lém d isso ,

esse e ra um assunto não comen tado po r

e les , ou se ja , nenhum amigo de

Page 38: O impossível pode acontecer

38 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Marc inha sab ia desses fa tos . A

ado lescen te f i ca mu i to cha teada po r não

consegu i r a juda r , mas e la não va i

des is t i r tão fác i l , a f ina l e les p rec isam de

a juda .

O d ia passa , a ga ro ta va i pa ra seu

t re ino de fu tebo l e encont ra com Rica rdo

no c lube :

- De que s igno você é?

- Sou de sag i tá r io , f aço an i ve rsá r io

d ia 15 de novembro . E você?

- Faço an ive rsá r io no d ia 15 de

março , sou de pe ixes .

- En tão você faz an ive rsá r io esse

sábado, he in?

Page 39: O impossível pode acontecer

39 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- S im, faço 15 anos, mas não vou

te r f es ta po rque no f im do ano meus pa is

vão me da r uma v iagem à Bah ia .

- Que lega l ! Se sábado você não

fo r f aze r nada, pode r íamos comb inar

a lgo , o que você acha?

- Pode se r , me l i ga p ra

combinarmos.

À no i te , Pa t r íc ia conve rsa com sua

i rmã :

- L i l i , R ica rdo pergun tou quando é

meu an ive rsá r io , eu fa le i que é esse

sábado e e le que r sa i r co m igo , não é

lega l?

- É s im, você va i sa i r com e le

du ran te o d ia? Para onde vocês vão? Eu

Page 40: O impossível pode acontecer

40 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

tava pensando em faze rmos a lgo jun tas

no sábado à no i te .

- Pode ser , vou fa la r com e le p ra

ve r se fazemos a lgo du ran te o d ia e à

no i te f i co com vocês .

Enquanto Pa ty do rme, L i l i pega o

te le fone de R icardo para conv idá - lo para

a fes ta , po rém como já é ta rde da no i te ,

de ixa pa ra fazê - lo no d ia segu in te .

Ma is um d ia começa e a jovem

reso lve que depo is da esco la va i à casa

de Marc inha .

- O i t ia C láud ia , v im fazer uma

v i s i ta e sabe r se es tá tudo bem.

- O i Pa ty , descu lpa po r on tem no

te le fone , se i que fu i g rosse i ra , gos ta r ia

de conve rsa r com você .

Page 41: O impossível pode acontecer

41 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Tudo bem, eu es tou aqu i para

ouv i - la !

- Vamos tomar um ca fé e te exp l ico

o que es tá acon tecendo.

- An tes de ma is nada , gos ta r ia de

fa la r que não es tou aqu i para fazer

f o foca ou ten ta r me in t rome ter no

cas t igo da Marc inha , eu só que r ia

conve rsa r , po rque se i que m inha am iga

es tá mu i to t r i s te .

- Nós t ínhamos ou t ro f i lho , e ra o

i rmão ma is ve lho d e Márc ia , seu nome

e ra Gabr ie l . E le mor reu de overdose

quando t i nha 17 anos. Nessa época ,

Marc inha t inha do is anos, e la ma l se

lembra do oco r r ido e somos g ra tos a

Deus por i sso . Morávamos em ou t ro

ba i r ro , um pouco d is tan te daqu i , e ass im

Page 42: O impossível pode acontecer

42 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

que e le morreu , reso lvemos mudar pa ra

cá , po rque não ague ntávamos f i ca r na

casa em que c r iamos nosso f i lho . Por

i sso , temos tan ta d i f i cu ldade em c r ia r

nossa Marc inha , não que remos que e la

tenha o mesmo f im t rág ico de Gabr ie l ,

você en tende?

- E la sabe de tudo i sso?

- Na ve rdade escondemos tudo o

que lembra nosso f i lho e ev i tamos ao

máx imo fa la r desse assun to , e la nunca

quest ionou nada , c re io que e la sa iba

pouco . Amamos mu i to nossa f i l ha e

temos consc iênc ia de que p rec isamos do

aux í l i o de um pro f i ss iona l , um ps icó logo

ta l vez .

- T ia , gos to mu i to de você e da

Marc inha e uma t ia m inha é ps icó loga ,

Page 43: O impossível pode acontecer

43 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

acho que e la pode te a juda r bas tan te ,

não só com o t rauma pe lo qua l vocês

passa ram, mas também a en tende r a

Marc inha e consegu i r educá - la .

Após ouv i r a conve rsa en t re

C láud ia e Pa t r íc ia , Márc ia sa i de seu

qua r to cho rando e ab raça a mãe e a

am iga .

- Amo vocês! Pa ty , ob r igada po r te r

a judado minha famí l ia .

- Mãe, você é mu i to espec ia l , te

amo mu i to , eu não sab ia o quanto você e

meu pa i so f re ram, que r ia te r conhec ido

me lho r meu i rmão, mas se i que de onde

e le es tá o lha po r nós e tenho ce r teza de

que e le es tá mu i to bem ago ra .

Page 44: O impossível pode acontecer

44 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- F i lha , ago ra voc ê en tende po r que

nos p reocupamos tan to com você e te

p ro ib imos de fazer tudo .

- Mas mãe, essa não é a so lução .

Ve ja a famí l ia da Paty , e les são am igos

e têm con f iança uns nos ou t ros . Fa la p ra

e la am iga . . .

- T ia , eu con to tudo para meus

pa is , se e les acham que es tou fazendo

a lgo e r rado , e les me exp l i cam o po rquê

e me aconse lham, en tão en tendo e

obedeço . Temos uma re lação de

am izade. Conto aos meus pa is quando

vou sa i r com um men ino , sempre f a lo

aonde vou , não p rec iso men t i r .

- Vamos começar a conve rsa r ma is

com a Marc inha e também vamos da r um

vo to de con f iança . . .

Page 45: O impossível pode acontecer

45 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Obr igada mãe, você não va i se

a r repende r !

Pa t r íc ia se despede , va i para sua

casa e con ta o ocor r ido pa ra sua mãe e

i rmã .

- Depo is de tudo i sso , vou f i ca r

aqu i com vocês!

As duas p reocupadas com a

chegada de Cla ra e com os a faze res da

fes ta , lembram que a men ina tem au la

de Ing lês .

- É mesmo, eu t inha me esquec ido .

Mas an tes quero l i ga r pa ra a C la ra .

- F i lha , l i ga p ra e la à no i te , senão

você va i se a t rasa r pa ra o cu rso .

Page 46: O impossível pode acontecer

46 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Enquanto a men ina va i pa ra o

curso , L i l i l i ga para R ica rdo :

- O i R ica rdo , tudo bem?

- Quem es tá fa lando?

- Meu nome é Mar ia A l ice , sou i rmã

da Paty .

- O i , p raze r ! Acon teceu a lgo com

e la?

- Não se p reocupe. . . es tou l i gando

po rque sábado é an iversá r io de la e

vamos faze r uma fes ta su rp resa e

que remos te conv ida r .

- C la ro , vou s im. Que ho ras va i

se r?

Page 47: O impossível pode acontecer

47 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Se rá às o i to ho ras da no i te no

sa lão do p réd io M i rabe l , em uma rua

pa ra le la a essa .

- Que co inc idênc ia , eu moro nesse

p réd io !

- Poxa , podemos combinar a lgo

pa ra você d is t ra í - l a , o que acha?

- Goste i , pode se r , sa io com e la

du ran te o d ia e quando fo r o ho rá r io fa lo

que m inha mãe que r conhecê - la e a levo

no sa lão do p réd io .

- Lega l ! Combinado !

L i l i reso lve l i ga r para a cas a de

Marc inha e a conv ida pa ra a fes ta e

C láud ia pe rm i te que a men ina vá .

Page 48: O impossível pode acontecer

48 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Clara , L i l i e Lau ra vão ao sa lão

ve r i f i ca r mesas, cade i ras , en fe i tes , tudo !

Quando a no i te chega todos es tão

exaus tos , po r i sso do rmem cedo e ma is

um d ia te rm ina .

“Ho je é sex ta - f e i ra , se rá que vou

vence r o concu rso? Será que as

p rev isões da Supe r teen vão com eçar a

dar ce r to? ” – pensa a jovem.

Ao té rm ino das au las , o d i re to r

S i l ve i ra , um homem de me ia idade ,

cabe los g r i sa lhos , um pouco ac ima do

peso e mu i to s impá t i co , reúne os a lunos

no aud i tó r io do co lég io pa ra anunc ia r o

vencedor :

- Boa ta rde a todos , gos ta r ia de

agradece r a p resença e a pa r t i c ipação

dos in te ressados em c r ia r um s logan

Page 49: O impossível pode acontecer

49 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

para o nosso Cent ro Educac iona l , como

eu a inda não hav ia d i vu lgado o p rêmio

que se rá en t regue ao ve ncedo r , vou

mos t ra r ago ra .

O d i re to r most ra uma p ropaganda

an t iga do co lég io e a lguns car tazes

an t igos também.

- O p rem iado ganhará 50% de

descon to no res tan te das mensa l idades

desse ano e pa r t ic ipa rá das

p ropagandas do Cent ro Educac iona l

P icasso . O s logan vencedor é : Es tude no

Cent ro Educac iona l P icasso , onde o

ens ino é uma a r te ! A a luna que c r iou o

s logan fo i : Pa t r íc ia Mendonça .

Pa t r íc ia sobe ao pa lco pa ra

agradece r :

Page 50: O impossível pode acontecer

50 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Gos ta r ia de agradece r ao co lég io ,

que ro d i ze r , ao Cent ro Educac iona l

P icasso pe la opo r t un idade. D i re to r ,

es tou mu i to fe l i z pe la esco lha do meu

s logan e com cer teza meus pa is f i ca ram

mu i to con ten tes e o rgu lhosos . É um

p rêm io mu i to bom e esse concurso é

uma mane i ra de va lo r i za r os a lunos .

Pa rabéns a todos que pa r t i c ipa ram! Só

gos ta r ia de agrad ece r a Deus, po rque

sem E le não sou n inguém. Obr igada!

O d i re to r en t rega as au to r i zações à

men ina e pede pa ra que e la venha

p repa rada no d ia segu in te após a p rova

pa ra g ravar o comerc ia l e t i ra r a lgumas

fo tos .

A men ina va i encon t ra r a i rmã que

a espe ra o rgu lhosa :

Page 51: O impossível pode acontecer

51 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Você va i embora ago ra L i l i?

- Vou s im, podemos i r j un tas para

casa?

- C la ro , vamos con ta r p ra mamãe!

As duas chegam em casa e con tam

a boa nova , todos f i cam mu i to fe l i zes .

- Ho je vou a té a casa do J .C .

a judá - lo a es tuda r para a p rova de

amanhã , a C la ra va i ma is ta rde , po rque

an tes va i sa i r com a mãe de la .

- Tudo bem f i lha , es tude bas tan te

pa ra i r bem na p rova de amanhã.

A men ina passa o d ia na casa de

J .C. , C la ra apa rece somente no f im da

ta rde , a f ina l a judou L i l i , Laura e Dona

Neyde na o rgan ização da fes ta .

Page 52: O impossível pode acontecer

52 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

À no i te , Maur íc io compra p izza

pa ra comemora r a v i tó r ia da f i lha .

Após a comemoração Pat r íc ia va i

ao qua r to para esc rever em seu d iá r io

sec re to .

“Es tou mu i to fe l i z , amanhã é meu

an iversá r io e ho je ganhe i o concurso .

Uma v isão da Supe r tee n já acon teceu ,

bem que pod iam acontece r as ou t ras

duas! ”

O d ia tão esperado chega e a

men ina va i à esco la pa ra fazer a p rova .

Depo is que te rm ina a p rova o

d i re to r a chama pa ra uma conve rsa :

- Pa ty , se rá que você es tá p ron ta

pa ra g rava r e fo togra fa r ho je? Você

Page 53: O impossível pode acontecer

53 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

t rouxe a au to r ização ass inada pe los

seus pa is?

- S im, t rouxe ! P rec iso me

a r rumar . . .

- Não se p reocupe , temos uma

maqu iado ra e uma cabe le i re i ra !

Depo is de g rava r o comerc ia l , e la

agradece o d i re to r e sa i ap ressada pa ra

encont ra r R ica rdo no c lube .

- O i Pa ty , você es tá l inda !

- Ob r igada , é que ganhe i o

concu rso lá do co lég io , g rave i a

p ropaganda e t i re i umas fo tos e para

i sso , cabe le i re i ra e maqu iadora me

a r rumaram.

Page 54: O impossível pode acontecer

54 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Você es tá ma is l i nda do que já é ,

mas você não p rec isa de maqu iagem

pa ra f i ca r l inda .

- Ob r igada ! Agora são se is ho ras , é

me lho r eu i r embora daqu i a pouco ,

po rque meus pa is devem compra r umas

es f ihas pa ra comermos jun tos .

- Vou ao banhe i ro e já vo l t o .

R ica rdo f i ca p reocupado e l i ga pa ra

L i l i :

- L i l i , a Pa ty que r i r embora porque

d isse que vocês devem compra r umas

es f ihas pa ra comemora r o an ive rsár io

de la , o que faço?

- Não se p reocupe , vou l i ga r pa ra

e la e inven ta r uma descu lpa , pode

de ixar .

Page 55: O impossível pode acontecer

55 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Ele vo l ta na tu ra lmente e sen ta ao

lado de Pa t r íc ia . O te le fone toca e e la

a tende:

- O i L i l i , que ho ra s é p ra eu i r p ra

casa?

- Pa ty , eu , o papa i e a mamãe

vamos sa i r pa ra compra r um bo lo e uns

sa lgad inhos , po rque a vovó , o vovô e os

t ios v i rão aqu i em casa lá p ras nove e

me ia , porque e les tem ou t ro

comprom isso an tes , en tão ap rove i ta e

f i ca com o Rica rdo ma is um pouco .

- Tudo bem, você me convenceu !

- E a í? Já ro lou be i jo?

- Já ! Depo is te con to !

- A té ma is ta rde !

Page 56: O impossível pode acontecer

56 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- A té !

Os do is f i cam no c lube a té às se te

e me ia , en tão e le a conv ida para

conhecer sua mãe:

- Pa ty, m inha mãe que r mu i to te

conhecer . Eu d isse a e la que ho je é seu

an iversá r io e e la fez um bo lo pa ra você ,

vamos lá no meu p réd io?

- Vamos , mas eu tenho que es ta r

na m inha casa às nove e me ia , ok? A í

você va i comigo e conhece m inha

famí l ia !

- Tudo bem! Mas an tes que ro te dar

um p resen te !

En tão R ica rdo t i ra um pequeno

embru lho de seu bo lso e en t re ga à

Pa t r íc ia .

Page 57: O impossível pode acontecer

57 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- A i que l indo R i . . . é uma

pu lse i r inha com p ingen te de c ruc i f i xo ,

ado ro c ruc i f i xos !

- Pense i mu i to an tes de te en t regar

i sso e ache i que e ra um bom p resen te

po rque você sempre es ta rá p ro teg ida !

Quer namora r com igo?

“Eu só posso es ta r sonhando,

i nac red i táve l ! Esse an ive rsár io es tá

sendo o me lho r que eu já t i ve ! ” – pensa

a jovem.

- Acho que eu vou pensa r um pouco

an tes de ace i ta r seu ped ido de namoro . . .

– responde pensa t i va .

- Tudo bem, eu espe ro . . . – f a la

R ica rdo t r i s te .

- P ron to , já pense i ! Eu ace i to !

Page 58: O impossível pode acontecer

58 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Os do is se be i jam e vão ao p réd io ,

a f ina l já são o i to ho ras . No cam inho, um

ga to es tá ten tando mata r um pássa ro ,

R ica rdo não pe rm i te , e le b r iga com o

ga to e embru lha o pássa ro fe r ido em sua

b lusa de f r io e o leva pa ra ver o que

pode se r f e i to .

“Ele é quase um Super pe t , es tá

tudo tão pe r fe i to , só fa l tava a f es ta

surp resa pa ra as p rev isões da Supe r teen

se conc re t i za rem. . . ”

Os do is chegam ao p réd io por

vo l ta de o i to e me ia , todos já es tão no

sa lão espe rando ans iosamen te .

- Vamos dar uma passada em um

luga r aqu i no p réd io an tes de sub i rmos .

- Ok!

Page 59: O impossível pode acontecer

59 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Quando chegam ao sa lão ,

encont ram uma l inda fa i xa na po r ta com

os esc r i tos :

“Pa ty nós te amamos ! Fe l i z

An iversá r io e que Deus rea l i ze seus

sonhos ! ”

Todos ab raçam Paty , a men ina f i ca

mu i to emoc ionada e começa a cho ra r .

Es tão p resen tes todos seus am igos do

co lég io , os am igos de c lube , os am igos

do p réd io e da v i z inhança , os fam i l i a res ,

en f im uma grande fes ta !

L i l i en t rega um l i ndo ves t ido nas

mãos de Pa ty pa ra que e la f ique à

von tade na fes ta , po is todos es tão

usando t ra jes soc ia is .

Page 60: O impossível pode acontecer

60 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Ob r igada , é l i ndo , é verde ,

m inha co r p re fe r ida ! De quem fo i essa

ide ia?

- Fo i m inha , da mamãe e do papa i ,

ah , a C la ra também a judou bas tan te .

Depo is de ves t ida , a an ive rsa r ian te

va i ao pa lco , pega o m ic ro fone e começa

a faze r um agradec imen to :

- Gos ta r ia de agradecer

p r ime i ramen te a Deus , porque sem E le

eu não es ta r ia aqu i e nem vocês!

Também gosta r ia de agradece r a todos

os p resen tes que es tão fazendo com que

essa no i te se ja tão espec ia l . E quero

agradece r mu i to , mas mu i to mesmo aos

meus pa is e à m inha i rmã, po rque se i

que f i ze ram tudo isso pa ra m inha

fe l i c idade e que ro d i ze r que amo mu i to

Page 61: O impossível pode acontecer

61 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

vocês! Essa é a me lho r f amí l i a do

mundo ! Ah , também quero agradecer

uma pessoa mu i to espec ia l , que eu

f i que i sabendo que a judou a o rgan izar

essa fes ta l inda , m inha am iga C la ra !

A fes ta é um sucesso , todos se

d ive r tem mui to , en tão chega o momento

da va lsa e a moça dança com seu pa i e

depo is com R ica rdo . Logo após chega o

momento de can ta r pa rabéns e cor ta r o

bo lo .

“Agora é a ho ra de faze r o ped ido ,

se i que es tou g rand inha pa ra ped i r

ce r tas co isas , mas um ped ido é sempre

um ped ido e eu tenho tudo o que p rec iso

em minha v ida , en tão eu que ro te r os

pode res da Supe r teen , ou me lho r , eu

que ro me t rans fo rmar na Supe r teen e

Page 62: O impossível pode acontecer

62 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

quer ia mu i to que o R icardo fosse o

Superpe t . ”

A fes ta te rm ina e Pa t r íc ia f i ca com

R ica rdo , e la reso lve a judá - lo a cu ida r do

passa r inho . E les co locam reméd io na

asa fe r ida do an ima l e depo is o so l tam.

E le a leva pa ra casa e a no i te

te rm ina como um sonho , mas o que e la

não imag ina é que seus sonhos es tão

p róx imos de to rnarem -se rea is .

An tes de do rmi r e la esc reve em seu

d iá r io :

“Co inc idênc ia ou não a Supe r teen ,

ad iv inhou o que ia acon tece r , se rá que

as co isas es tão mudando? Se rá que a lgo

va i acon tece r? Qua l é a fo rça de um

ped ido de an ive rsá r io? ”

Page 63: O impossível pode acontecer

63 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Capítulo 2 – Como tudo

aconteceu?

No d ia segu in te à fes ta , Pa t r íc ia

va i com R ica rdo ao shopp ing . Os do is se

d i ve r tem bas tan te , tomam so rve te , vão

ao c inema , tudo é mu i to d i ve r t ido .

A lgo es t ranho acon tece , a moça vê

um c la rão mu i to fo r te e no caminho de

vo l ta pa ra casa , começa a te r v i sões

sob re o fu tu ro .

E la vê um ga ro to a t ravessando a

rua e sendo a t rope lado , en tão co r re e o

sa lva , an tes que isso oco r ra .

E la não en tende como i sso

acon tece , sen te -se pe rd ida , pensa que

Page 64: O impossível pode acontecer

64 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

rea lmente seu sonho pode se to rna r

rea l idade .

A men ina es tá exausta pa ra

conve rsa r ou faze r ou t ra co isa , en tão

chega a sua casa e do rme tan to que

aco rda a t rasada pa ra o co lég io .

Na esco la recebe a no ta de sua

p rova fe i ta no sá bado e f i ca mu i to

sa t is fe i ta .

- T i re i nove e me io ! Poxa que lega l !

Va leu a pena te r es tudado! E você J .C.?

- Des ta vez me sa í me lho r , mas

também você f i cou no meu pé a semana

toda ! T i re i o i to ! Ob r igada!

“Eu gos to mu i to de a juda r as

pessoas, ta l vez essa se ja a m inha

m issão . . . espero que eu cons iga

Page 65: O impossível pode acontecer

65 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

cont inua r tendo v i sões e que eu

rea lmente cons iga ser a Supe r teen . ” –

pensa .

Ma is uma v isão acon tece , Pa t r íc ia

vê uma men ina de sua c lasse co lando e

sendo pega pe lo p ro fessor de Geogra f ia .

- La ís , gos ta r ia de fa la r com você .

- C la ro Pa ty , pode fa la r .

- Você es tá pensando em co la r na

p rova de Geogra f ia de amanhã?

- C la ro que não , po r que eu fa r ia

i sso? Tenho o d ia todo pa ra es tudar

ho je .

- Só te peço para que f i que a ten ta ,

não faça nada, po rque você pode se

p re jud ica r .

Page 66: O impossível pode acontecer

66 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Você es tá me ameaçando? Eu já

fa le i que não vou co la r .

- Descu lpe , é que pense i que você

es tava com d i f i cu ldades e ia me o ferecer

pa ra es tuda r com você .

- Ob r igada , se eu p rec isa r de

a juda , te f a lo .

O d ia passa , La ís tem p rob lemas

com sua famí l ia e não tem tempo para

es tuda r , à no i te , exausta , do rme em

c ima dos l i v ros . Pe la manhã, reso lve

faze r uma co la e leva r no bo lso , mas só

pa ra caso de emergênc ia .

La ís é uma ga ro ta consc ien te e que

não cos tuma tomar a t i tudes que

cons ide ra serem e r radas . Com seus

cabe los cas tanhos na a l tu ra do ombro e

suaves cachos nas pon tas , sua pe le

Page 67: O impossível pode acontecer

67 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

rosada e seus o lhos cas tanhos c la ros , a

men ina t ransm i te segu rança e

seren idade.

Du ran te a p rova a men ina pensa

em usa r a co la , mas lembra do que a

co lega d i sse e não o faz, m as quando

en t rega a p rova ao p ro fesso r , a co la ca í

de seu bo lso , en tão e le a pega e

g rampe ia na p rova .

Do lado de fo ra da sa la La ís

p rocura a am iga pa ra uma conve rsa :

- Não t i ve tempo pa ra es tuda r ,

en tão f i z uma co la , mas lembre i do que

você me d isse e não use i .

- F i co con ten te , mas a inda es tou

com um mau p ressen t imento .

Page 68: O impossível pode acontecer

68 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- E ra isso que eu que r ia te

pe rgun ta r , não cos tumo co la r em provas

e eu p re tend ia es tudar o d ia todo , como

você soube?

- Às vezes tenho p ressen t imentos ,

é como se fossem v isões , eu só que r i a

te a juda r .

- Es t ranho , se a co la que eu f i z

es tá no meu bo lso , não co r ro ma is

pe r igo , en tão você não tem mais mot i vo

pa ra f i ca r p reocupada .

Quando La ís co loca a mão no

bo lso , pe rcebe que não há nada.

- Pa ty , ju ro po r Deus, essa co la

es tava aqu i no meu b o lso , se rá que e la

ca iu? Se rá que o p ro fessor v iu?

Page 69: O impossível pode acontecer

69 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Esse é meu medo, você é

inocen te e va i paga r po r um e r ro que

pensou em comete r , mas não cometeu .

O s ina l ba te e o p ro fesso r Jú l io , um

homem bondoso e pac ien te , a l to , com

cabe los dou rados e o lhos esve rdea dos e

b r i lhan tes , chama a men ina pa ra uma

conve rsa , e la con ta tudo o que

acon teceu , o p ro fesso r f i ca d esconf iado

e chama Pa t r íc ia pa ra esc la rece r a lguns

fa tos , en tão a men ina con ta o que

acon teceu e e le reso lve ve r i f i ca r a

d i f e rença en t re as in fo rmações en t re a

co la e a p rova e percebe que não

ex is tem in fo rmações sob re os mesmos

assun tos , po r tan to a co la não

in f luenc ia r ia em nada nas respostas de

La ís . O p ro fessor chama as duas

men inas novamente pa ra uma conve rsa :

Page 70: O impossível pode acontecer

70 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Bem, pe lo que pude percebe r não

há in fo rmação na co la que se ja ao

menos pa rec ida com o con teúdo da

p rova , po r i sso , vou re leva r seu caso ,

mas que isso f i que somente en t re nós .

Também gosta r ia de fa la r que só f i z

i sso , po rque se i que vocês são duas

men inas es tud iosas e es fo rçadas e

nunca soube de nenhum des l ize de

vocês . Po rém, você La ís , teve a

in tenção de faze r a lgo e r rado , en tão vou

faze r a lgumas pergun tas sob re a p rova ,

como uma chamada o ra l , ass im você

p rova pa ra m im que rea lmente não

co lou .

- C la ro p ro fesso r , mu i to obr igada ,

f i co mu i to fe l i z com seu vo to de

con f iança .

Page 71: O impossível pode acontecer

71 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Só gos ta r ia de sana r uma dúv ida ,

Pa ty, f az tempo que você tem essas

v i sões? I sso não é nenhuma br incade i ra ,

ce r to?

- Na ve rdade i sso tudo a inda é

novo pa ra m im, mas ass im que eu

soube r o que es tá acon tecendo te

exp l i co me lho r !

O assun to é ence r rado e Pa t r íc ia

sen te a sensação de deve r cumpr ido . O

d ia passa sem maio res comp l icações .

No d ia segu in te a jovem tem uma

nova v i são , des ta vez é re lac ionada à

sua v ida . E la vê um ca r ro a a t rope lando

e e la to rcendo o pé e f i cando a lguns

d ias de cama.

E la va i à esco la p reocupada, mas

nada acon tece , na vo l ta e la p res ta mu i ta

Page 72: O impossível pode acontecer

72 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

atenção ao t râns i to e quando vê o ca r ro

v indo em sua d i reção , começa a cor re r ,

mas pe rde o equ i l íb r io e acaba sendo

a t rope lada .

Pa t r íc ia f i ca com a perna

engessada e ganha a lguns d ias de

repouso . Nesse tempo e la pensa :

“Po r que eu não consegu i me

l i v ra r? Eu sab ia , eu v i o ca r ro e a inda

cor r i . . . eu t inha que ca i r e to rce r o pé?

Não en tendo . . . ”

A men ina f i ca f rus t rada e ado rmece

se quest ionando o po rquê aqu i lo

acon teceu c om e la , para quê se rv i u essa

v i são se e la não pôde ev i ta r?

Em seu sonho apa rece uma mu lher

que esc la rece mu i tos fa tos a e la .

Page 73: O impossível pode acontecer

73 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

“ - O i Pa ty , sou você no fu tu ro ,

venho pa ra te a juda r , p rec isamos

esc la recer d i ve rsos fa tos em sua v ida .

Mas tem mui tas co isas que v ocê não

es tá p repa rada pa ra en f ren ta r , por i sso ,

vamos aos poucos .

- Que lega l pode r fa la r com igo ma is

ve lha ! Eu que r ia sabe r o po rquê não

consegu i ev i ta r esse meu ac iden te?

- Na ve rdade , você te rá a lgumas

v i sões sob re o seu fu tu ro , mas sa iba que

não pode rá mudá - las . Como você fo i

abençoada com esse dom, não pode rá

usu f ru i r pa ra seu p róp r io bem.

- Mas e quando, mesmo que de

b r incade i ra , p rev i que ganhar ia o

concu rso e te r ia uma fes ta su rp resa?

Page 74: O impossível pode acontecer

74 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Na verdade, você a inda não

es tava com o dom, aqu i lo f o i

co inc idênc ia , mas mesmo se você

soubesse , aqu i lo acon tece r ia e nada

você pode r ia fazer pa ra mod i f i ca r .

- De ixa eu ve r se eu en tend i , toda

vez que eu t i ve r uma v i são ao meu

respe i to , não pode re i f aze r nada para

mudar , po rque não consegu i re i mudar ,

mas mesmo ass im te re i a opo r tun idade

de ve r meu des t ino? É isso?

- Exa to , mas nem sempre você

sabe rá o que acon tece com você , isso

p rovave lmente só acon tecerá quando fo r

pe rm i t ido po r uma Fo rça Ma io r .

- Ob r igada pe las d icas e conse lhos .

Você sempre va i apa rece r pa ra m im ?

Page 75: O impossível pode acontecer

75 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Apenas quando fo r necessá r io , na

ve rdade apa rec i ago ra porque você

p rec isa de uma jus t i f i ca t i va .

- Por f a la r em jus t i f i ca t i va , como eu

consegu i esse dom?

- Você fez um ped ido de

an iversá r io e essa Força Ma io r permi t iu

que fosse rea l izado . I sso fo i f e i to

a t ravés do so f r imen to seu e de pessoas

p róx imas a você .

- Po r quê?

- No momento cer to você va i sabe r ,

po r enquanto é só i sso , tenho que i r , a té

um d ia ! E como p rova de que isso fo i

rea l , de ixa re i um lenço b ranco de ce t im

em c ima de sua côm oda .

Page 76: O impossível pode acontecer

76 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

A jovem aco rda com o co ração

ace le rado , tan tas dúv idas surgem em

sua men te nesse momento . Se rá que

aqu i lo f o i rea l? Se rá que fo i um sonho?

Como sabe r?

De repente , e la se lembra do

lenço b ranco , se rá que e le es tá na

cômoda? Esse é um bom modo de saber

se aqu i lo f o i rea l . A men ina levan ta com

d i f i cu ldade e vê o lenço .

“Aqu i lo f o i rea l , imp ress ionante !

Prec iso con ta r a m inha i rmã o que es tá

acontecendo . ” – pensa .

- L i l i , p rec iso fa la r com você !

- Você es tá p rec isando de a lguma

co isa? Você es tá bem?

Page 77: O impossível pode acontecer

77 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- S im es tou ó t ima, que ro te con ta r

a lgo .

En tão as duas conve rsam por

a lgumas ho ras e L i l i ac red i ta em sua

i rmã , apesa r de pa rece rem fa tos

fan tás t i cos e inacred i táve is .

Os d ias passam e a men ina não

tem nenhuma v isão , e la f i ca em casa de

repouso po r causa da to rção de se u pé .

Mas es tud iosa como é , acompanha todas

as l i ções que suas am igas , C la ra e

Márc ia , t razem toda ta rde .

Quando vo l ta à ro t ina , va i à esco la

e tem uma su rp resa agradáve l . O banne r

e ca r taz com suas fo tos es tão expostos

e o d i re to r S i l ve i ra a chama pa ra a ss is t i r

a p ropaganda .

Page 78: O impossível pode acontecer

78 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- F i cou l inda ! Gos te i mu i to de fazer

essa p ropaganda !

- Você é fo togên ica e mu i to

s impá t i ca ! O mér i to é todo seu ! – f a la

S i l ve i ra .

- Ob r igada ! Es tou mu i to con ten te

em represen ta r o co lég io , ou me lho r , o

Cent ro Educac iona l ! – so r r i .

Depo is da au la , Pa ty vê uma

senho ra sendo assa l tada e e la não

pensa duas vezes an tes de reag i r . A

men ina su rp reende o ladrão , t i ra sua

a rma e a queb ra , devo lve a bo lsa da

senho ra e dá uma su r ra no band ido , e le

assus tado , f oge .

Pa t r íc ia f i ca um tan to as sus tada

com suas novas hab i l idades e pensa em

começar a t re iná - las .

Page 79: O impossível pode acontecer

79 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Capítulo 3 – Aprendendo a voar

Pat r íc ia pe rcebe que seus re f lexos

me lho ra ram, seu cond ic ionamen to f ís ico

mudou , e la sen te -se renovada.

No c lube , depo is dos t re inos de

fu tebo l , e la com eça a descob r i r seus

pode res e t re iná - los . E la pe rcebe que

pode lev i ta r e i sso a de ixa mu i to

sa t is fe i ta .

En tão Rica rdo a p rocura e os do is

começam a conve rsar , e la fa la que a lgo

es t ranho es tá acon tecendo e con ta

sob re suas v i sões e seus pode res .

Page 80: O impossível pode acontecer

80 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

E le f i ca admi rado e con ta que

também es tá passando po r a lgumas

t rans fo rmações :

- L inda , que ro te con ta r a lgo que

também es tou passando . Toda vez que

ve jo um an ima l fe r ido e f i co com dó , eu

cons igo cu rá - lo , não é dema is? E se

ve jo a lguém ma l t ra tando um an ima l ,

ganho uma inc r íve l f o rça . Es tou com a

v i são aguçada à no i te , como a de uma

coru ja , cons igo voa r como uma águ ia ,

sa l ta r como um ga to e morde r como um

cacho r ro .

- Es tou mu i to fe l i z po r você , jun tos

podemos nos to rna r supe r -he ró is pa ra

de fende r causas que ach amos jus tas .

- Eu conco rdo com você e acho que

devemos faze r isso mesmo. Não se i

Page 81: O impossível pode acontecer

81 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

exatamente como, nem por que es tamos

passando por tudo isso , mas é

marav i lhoso .

- Engraçado, tudo i sso pa rece

co isa de f i lme, mas es tá rea lmente

acon tecendo , na ve rdade, eu t enho uma

exp l i cação pa ra isso .

- Sér io? Você sabe o porquê

es tamos passando por i sso?

- Faço uma grande ide ia , sem

con ta r que ce r tos acon tec imentos

pa recem co inc idênc ia , mas não são . No

d ia do meu an iversá r io f i z um ped ido na

ho ra de assop rar as ve las e cor ta r o

bo lo , ped i para que nós nos to rnássemos

a Supe r teen e o Superp e t , mas eu não

imaginava exa tamente qua is se r iam os

pode res , f i z o ped ido como uma

Page 82: O impossível pode acontecer

82 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

br incade i ra , não imag inava que fosse se

to rna r rea l .

- Ob r igado por me inc lu i r no seu

dese jo . I sso rea lmente s ign i f i ca a lgo

pa ra m im.

- Você não es tá cha teado?

- C la ro que não , es tá sendo

fan tás t i co .

Os do is passam mu i to tempo

conve rsando e fazendo p lanos . Pa ty

reso lve con ta r a R ica rdo o sonho que

teve e sob re o lenço b ranco de ce t im.

E le a de ixa em casa e os do is se

despedem com um be i jo . Nesse momento

os do is chegam a f lu tua r .

Page 83: O impossível pode acontecer

83 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

O tempo passa e os do is começam

a pensa r em um un i fo rme. E les sempre

espe ram ano i tece r pa ra t re ina rem seus

pode res .

- R i , como podemos faze r um

un i fo rme? Onde vamos nos t roca r?

- Podemos anda r com e le emba ixo

da roupa e quando en t ra rmos em ação,

co locamos uma másca ra , n inguém nos

reconhecerá pa ra segurança de nossos

am igos e fami l i a res .

- Pode ser , vamos ve r a ag i l idade

com que t rocamos de roupa , podemos

anda r com uma p equena moch i la nas

cos tas , pa ra guarda r nossas roupas e

a lgumas co isas .

Os do is desenham as roupas e

pedem à mãe de R ica rdo que

Page 84: O impossível pode acontecer

84 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

confecc ione os un i fo rmes , po rque e la é

cos tu re i ra .

Ânge la , mãe de R ica rdo , é uma

mu lhe r ba ta lhado ra e que ama mu i to seu

f i lho , seus cabe los cu r tos , t i ng idos em

um tom achoco la tado , d is fa rçam sua

idade .

- T ia Ânge la , esse é o un i f o rme que

desenhamos, é co lado no co rpo para

fac i l i ta r a t roca de roupa e também as

nossas ações.

- Esco lh i a roupa do Supe rpe t

ve rde , po rque é a co r do cu rso de

Ve te r iná r ia .

- Eu qu is a roupa da Supe r teen

l i lás po rque ache i bon i ta mesmo! – so r r i .

Page 85: O impossível pode acontecer

85 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Fa re i ass im que poss íve l , vocês

f i ca rão l indos , mas devem tomar

cu idado , lembrem-se de que isso não é

b r incade i ra .

- S im mãe , pode te r ce r teza de que

nos lembra remos d isso .

- Pode de ixa r t ia , tomaremos

cu idado.

Em duas semanas os un i fo rmes

f i cam p ron tos e os do is con t inuam

t re inando suas hab i l idades .

Pa t r íc ia con t inua tendo v i sões e

soco r rendo pessoas . A men ina va i à

esco la , ao Ing lês , aos t re inos de fu tebo l ,

l eva uma v ida no rma l .

Pe lo ba i r ro , as pessoas a

reconhecem po r causa da p ropaganda

Page 86: O impossível pode acontecer

86 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

que e la fez. Sua v ida não pode r ia es ta r

me lho r .

E la e R ica rdo já es tão jun tos há um

tempo e e les reso lvem perde r a

v i rg indade jun tos .

- Pa ty , não quero te p ress i ona r ,

mas você sabe da m inha von tade .

- Eu se i R i , eu também tenho

von tade de t ransa r com você , mas tenho

medo. . .

- Eu também sou v i rgem e nunca

t i ve n inguém, ta lvez suas p reocupações

se jam as mesmas que as m inhas . . .

- Pode se r , tenho medo da do r e

dos meus pa is descob r i rem, apesa r da

m inha mãe se r mu i to amiga m inha , não

Page 87: O impossível pode acontecer

87 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

me s in to bem em con ta r m inha in tenções

p ra e la .

- Não vou te fo rça r a nada, vamos

com ca lma, aos dom ingos, m inha mãe

va i à casa da m inha vó , podemos i r p ra

m inha casa , o que acha?

- Ta lvez possamos , mas an tes

que ro i r no g ineco log is ta com a m inha

mãe, só ass im vou me sen t i r segu ra de

me en t rega r a você .

- Se i sso va i te t ranqu i l i za r , tudo

bem, faça como acha r me lho r .

Pa t r íc ia conve rsa com sua mãe:

- Mãe, eu que r ia fa la r com você um

assun to mu i to sé r io .

- É sob re o seu namoro?

Page 88: O impossível pode acontecer

88 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- S im, eu e o R i achamos que es tá

na ho ra de te rmos nossa p r ime i ra vez . . .

- F i lha , vou te fa la r que eu sempre

me p repa re i po rque sab ia que esse d ia

ia chega r , vou ser s ince ra , pa ra m im não

é fác i l , mas vou te da r o a po io que

p rec isa . Vamos marca r uma consu l ta

com o g ineco log is ta pa ra que você

comece a tomar um an t iconcepc iona l e

possa t i ra r todas as suas dúv idas sob re

o assun to . Eu posso te aconse lha r , mas

se i que se qu iser f aze r a lgo , va i f azer ,

me consu l tando ou não , po rque são seus

sen t imentos , é seu co rpo e você sabe o

quan to i sso tem va lo r p ra você e quanto

o R ica rdo é espec ia l em sua v ida . Só te

peço que use cam is inha , po rque p io r do

que uma grav idez são as DST e i sso

acho que você já es tudou bas tan te na

esco la e também a in te rne t es tá a í ,

Page 89: O impossível pode acontecer

89 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

ex is tem s i tes con f iáve is em que você

pode faze r pesqu isas e sabe r ma is sobre

essas doenças. Acho que já f a le i

dema is , eu te amo e vou apo ia r sua

dec isão . Só ma is uma co isa , f i lha mu i to

ob r igada po r con f ia r em mim, f i co

hon rada em faze r par te da sua v ida !

As duas cho ram e se ab raçam, a

ga ro ta f i ca ma is con f ian te e tem ce r teza

de sua dec isão .

“M inha mãe me deu apo io . . . e la

poder ia te r f e i to como a ma io r ia das

mães. . . f a lado com meu pa i , p ro ib ido

meu namoro , me de ixar de cas t igo , se i -

l á , es tou mu i to fe l i z po r te r uma mãe tão

amiga e compreens iva . ”

A men ina va i ao méd ico com a mãe,

f az os exames necessá r ios , começa a

Page 90: O impossível pode acontecer

90 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

tomar o reméd io e se p repa ra pa ra o

g rande d ia .

O tão espe rado domingo chega,

Pa t r íc ia va i à casa de R ica rdo e e le a

espe ra com o a lmoço p ron to :

- Ho je tem lasanha e fu i eu que f i z !

- Nossa , mas esse meu

namorad inho l indo já es tá p ron to p ra

casa r !

- Só se fo r com você !

Os do is se be i jam e conve rsam

an tes de segu i rem pa ra a p róx ima e tapa :

- Se i que você fo i ao méd ico e

conve rsou com sua mãe, mas tem

cer teza de que é isso que você que r?

Você es tá p repa rada?

Page 91: O impossível pode acontecer

91 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- S im, eu pense i bas tan te e

chegue i à conc lusão de que esse é o

momento de eu me en t rega r e que você

é uma pessoa mu i to espec ia l .

- Eu espe re i uma pessoa como

você , já t i ve ou t ras namoradas, mas não

me sen t i seguro e con f ian te pa ra segu i r

ad ian te , você en tende , né?

- C la ro que s im! Isso é no rma l !

- Na ve rdade, os men inos da m inha

idade f i cam fa lando bes te i ras , e les dão

a en tende r que men inos v i rgens ou são

gays ou f rouxos . Mas eu não me

enve rgonho d isso , pe lo con t rá r io , eu me

o rgu lho !

- Eu também tenho o rgu lho de

você , porque não se de ixou leva r por

essa soc iedade mach is ta e não tem

Page 92: O impossível pode acontecer

92 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

ve rgonha de assum ir seus sen t imentos e

suas von tades. Se todas as pessoas

pensassem como você as co isas

pode r iam es ta r bem me lho res .

Os do is namoram bastan te e e les

t ransam pe la p r ime i ra vez. En tão tomam

banho jun tos e quando es tão a lmoçando,

Ânge la chega em casa .

- O i mãe , chegou ma is cedo ho je .

- S im, sua vó es tava cansada ,

espe ro não te r a t rap a lhado nada . – so r r i .

- Não a t rapa lhou nada , mãe!

Os do is te rm ina m o a lmoço e saem

pa ra passea r , quando a ga ro ta tem uma

v isão de um jovem es tup rando uma

men ina em um beco p róx imo ao p réd io

de R icardo .

Page 93: O impossível pode acontecer

93 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Vamos R i , não podemos de ixa r

i sso acon tece r .

- Acabamos de passa r po r uma

expe r iênc ia tão lega l e vemos esses

cava los b ru tos , fo rçando uma men ina a

faze r sexo .

Os do is chegam a tempo e

conseguem imped i r o rapaz . E les

p rendem o garo to em um poste e l i gam

pa ra a po l íc ia . A jovem pe rcebe que a

men ina é sua co lega de sa la e conve rsa

com e la :

- É r ika , como isso fo i acon tecer?

É r ika , uma l inda men ina o r ien ta l ,

a inda t remendo do sus to , com as roupas

rasgadas e com a lguns co r tes na ba r r iga

e no pescoço conve rsa com Pa t r íc ia :

Page 94: O impossível pode acontecer

94 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Você é a Supe r teen?

- Como você sabe?

- Po rque você tem pode res e age

como e la , mas es tá ves t ida norma l .

- Eu f i que i tão p reocupada em te

soco r re r que esquec i de me t rocar , mas

i sso não vem ao caso , daqu i a pouco a

po l íc ia es ta rá aqu i e você te rá que da r

seu depo imento e fazer exame d e corpo

de de l i t o .

- Não que r ia que meus pa is

soubessem, mas como tenho 16 anos,

vão chamá - los .

- Mas i sso acon teceu con t ra a sua

von tade e nós chegamos a tempo pa ra

imped i r , f i ca ca lma.

Page 95: O impossível pode acontecer

95 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Na ve rdade, e le é meu

namorado . . .

- Seus pa is sabem d isso?

- S im, e le f requenta m inha casa há

do is meses.

- Mas po r que e le fez i sso com

você?

- E le quer ia que eu t ransasse com

e le , mas sou v i rgem e tenho medo.

- E le fa lou que não ia espe rar ma is

e que ia sa i r com ou t ra .

- Eu f i que i a r rasada e d isse que

ace i ta r ia . Fomos a um mote l aqu i pe r to ,

use i um RG fa l so pa ra en t ra r , mas

quando o c l ima esquent ou , eu o d is t ra í e

consegu i f ug i r , eu ganhe i um pouco de

Page 96: O impossível pode acontecer

96 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

tempo , po rque e le teve que pa ra r p ra

paga r , mas eu fu i a t rope lada por um

c ic l i s ta e e le me a lcançou, e le gr i tava

que e ra pa ra que eu me aca lmasse que

e le só que r ia conve rsa r , en tão espe re i e

acred i te i na pa lavra de le , mas eu

deve r ia te r f ug ido , e le t i rou um can ive te

do bo lso e começou a me agred i r e me

fo rça r a faze r o que eu não quer ia , a inda

bem que vocês chega ram.

- I sso é mu i to sér io , temos que

tomar uma a t i tude .

- Eu se i , vou conve rsa r com a

m inha mãe , acho que e la va i me a judar

bas tan te .

- Pode te r ce r teza de que e la va i te

a juda r .

Page 97: O impossível pode acontecer

97 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Os pa is da men ina chegam ,

Pa t r íc ia e R ica rdo vão embora . Logo

depo is a po l íc ia chega e todos vão para

a de legac ia .

Ao se de i ta r , Pa t r íc ia tem uma nova

v i são . E la vê R icardo com uma moça que

e la não consegue v isua l i za r o ros to

sa indo do shopp ing e os do is sendo

a t rope lados po r um caminhão

desgovernado, en tão se desespe ra , l i ga

pa ra R icardo e con ta o que acon teceu .

Page 98: O impossível pode acontecer

98 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Capítulo 4 – Real idade X Sonho

Pat r íc ia ab re os o lhos com

d i f i cu ldade e pensa es ta r sonhando. E la

o lha ao seu redo r e vê apa re lhos de

hosp i ta l l i gados e não en tende o que

es tá acon tecendo.

- Mãe ! Co r re ! E la abr iu os o lhos ! –

se emoc iona L i l i .

- F i lha , eu sab ia que você ia

res is t i r , te amo mu i to ! Ob r igada Deus !

Eu reze i tan to pa ra você me lho ra r , f i z

p romessa , f i z novena . . .

- O que es tá acon tecendo? Po r que

eu es tou aqu i?

- Você não se lembra do ac iden te?

Page 99: O impossível pode acontecer

99 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Não.

- No d ia segu in te da sua fes ta ,

você es tava sa indo do shopp ing com o

R ica rdo e um cam inhão desgovernado

a t rope lou vocês .

- Meu Deus , es tou v i va ! Há quantos

d ias es tou aqu i no hosp i ta l? E o

R ica rdo? E le es tá bem?

- E le es tá em coma, ass im como

você es tava . Faz o i to meses que vocês

es tão aqu i .

A mãe emoc ionada va i a té o

cor redor pa ra con ta r a no t íc ia à Ânge la .

- M inha f i lha aco rdou !

- O meu men ino também!

Page 100: O impossível pode acontecer

100 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- I sso é um m i lagre ! – as duas

g r i tam e comemoram.

- Prec isamos fa la r com o dou to r

Ja ime . Sabe r se não ex is tem ma is

r i scos , como se rá a recuperação , se e les

te rão seque las . . . – se p reocupa Lau ra .

- Vamos a té o pos to de

en fe rmagem!

As duas espe ram pe la chegada do

dou to r para uma ava l iação de seus f i l hos

e pa ra sana r suas dúv idas e

p reocupações .

Ja ime é um méd ico de mu i ta fé , um

homem bondoso e mu i to cha rmoso, tem

cerca de 40 anos , cabe los suavemente

g r i sa lhos , o lhos ve rdes e es ta tu ra a l ta .

E le exam ina os do is j ovens e percebe

que es tão bem.

Page 101: O impossível pode acontecer

101 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- U t i l i zamos uma esca la pa ra med i r

o quão é g rave o es tado do pac ien te e o

coma, chama-se Esca la de G lasgow,

seus f i lhos es tavam com t rês de

pon tuação, isso rep resen ta o coma

p ro fundo, um es tado vegeta t i vo , com

grandes chances de não recuperação e

poss íve l ób i to . É inc r íve l a recupe ração

dos do is , sa i r de um coma e ab r i r os

o lhos , como se despe r tassem de um

sono p ro fundo. Se i que um méd ico não

cos tuma fa la r em Deus, mas cons iderem

que isso fo i um mi lagre . P rec isamos

reava l ia r os danos neuro lóg icos que os

do is t i ve ram pa ra ve r i f i ca r qua is serão

as seque las .

As mães se abraçam e con t inua m

espe rançosas:

Page 102: O impossível pode acontecer

102 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Ânge la , eu tenho espe ranças de

que os do is possam anda r e rea l i za r

todas suas a t i v idades como sempre

f i ze ram.

- Eu tenho a lgumas p reocupações,

l embra quando f ize ram a lguns exames e

fa la ram que e les t inham s ido acomet idos

po r danos neu ro lóg icos i r reve rs íve is?

- S im, eu me lembro , mas tenho

mu i ta fé em Deus e pa ra e le nada é

imposs íve l . Se E le pe rmi t iu que nossos

f i lhos vo l tassem à v ida , e le pode

pe rm i t i r qu e os danos desapa reçam,

pa ra a med ic ina é imposs íve l a to ta l

recupe ração , mas para D eus não .

- Já faz tan to tempo. . . o i to meses

que es tamos aqu i , naque le d ia so f remos

Page 103: O impossível pode acontecer

103 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

tan to . . . chega ram a cons ide rar o caso

de les como mor te ce reb ra l . . .

- É mesmo, já es tavam a té

pe rgun tando sob re doação de ó rgãos. . .

- Ho je é d ia 14 de novembro ,

amanhã é an i ve rsá r io de 18 anos do meu

f i lho , temos bons mot i vos pa ra

comemora r !

- Você pe rcebeu a co inc idênc ia?

E les so f re ram o ac iden te um d ia depo is

do an ive rsá r io da Pa ty e aco rda ram um

d ia an tes do an ive rsár io do R i .

As duas agua rdam ans iosas para

pode rem f ica r c om os f i l hos que passam

po r uma ba te r ia de exames.

- Mãe, l i gue i pa ra o pa i e e le es tá

v indo para o hosp i ta l . E le d isse que não

Page 104: O impossível pode acontecer

104 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

vê a ho ra de ve r os o lhos ve rdes da Paty

abe r tos !

- Você tem s ido uma f i lha

espe tacu la r ! Obr igada pe lo apo io que

es tá dando pa ra m im e pa ra seu pa i !

Os f i lhos re to rnam dos exames e as

mães vão pa ra seus respect i vos qua r tos .

No quar to de Paty , a famí l ia se

reúne em uma fes ta pa r t icu la r .

- A té que en f im posso ouv i r sua

voz , ve r seus l i ndos o lhos aber tos . . .

f i lha , chegue i a pensa r que nunca ma is

i sso acon tece r ia . . . mas , toda vez que eu

t inha esses pensamentos , sua mãe me

an imava e d i z ia que Deus faz co isas

imposs íve is ! – f a la Maur íc io .

Page 105: O impossível pode acontecer

105 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Pa i , não se i como tudo isso fo i

poss íve l , c re io que rea lmen te fo i Deus,

po rque eu es tava tão longe , ma l pod ia

sen t i r , imaginar ou lembra r de a lg o

sob re o ac iden te . – so r r i .

- A inda bem que você es tava longe ,

Deus te poupou de todo esse so f r imento ,

imagina se você es t i vesse consc ien te ,

sen t indo tudo i sso . . . – comen ta L i l i .

- Ass im que vocês do is vo l ta re m

pa ra casa , vamos fazer uma grande

fes ta ! – so r r i Lau ra .

- E o R i? Como e le es tá?

- Do mesmo je i to que você , se

recupe rando. Amanhã vou fa la r com o

d r . Ja ime pa ra ver quando vocês podem

se encont ra r !

Page 106: O impossível pode acontecer

106 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Pat r íc ia con ta tudo o que passou

du ran te o coma, quando pensou es ta r

v i vendo uma rea l idade .

No qua r to de R ica rdo , mãe e f i lho

conve rsam bastan te :

- Mãe, que r d i ze r que du ran te todo

esse tempo eu es tava sonhando? Nada

do que eu passe i f o i rea l?

- S im, meu f i lho . Vocês es tão

in te rnados aqu i no hosp i ta l desde o d ia

segu in te do an iversá r io da Pa ty.

- Passe i po r momentos inc r íve is ,

mesmo que em sonho. . . v ou te con ta r

tudo , mas an tes que ro sabe r da Pa ty,

como e la es tá? Quando pode re i vê - la?

Page 107: O impossível pode acontecer

107 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- A Pa ty es tá se recupe rando tão

bem quanto você , logo poderão se

encont ra r !

En tão R ica rdo con ta tudo o que

sonhou pa ra sua mãe . Co inc idênc ia ou

não , R ica rdo e Pa t r íc ia t i ve ram os

mesmos sonhos . Todos dormem

a l i v iados e ans iosos pe lo d ia segu in te .

Logo cedo, d r . Ja ime passa pa ra

conve rsa r com as mães ans iosas .

- Vamos faze r o s ú l t imos tes tes

pa ra complementa r os exames de on tem

e ass im que eu t ive r os resu l tados posso

a f i rmar a lgo ma is conc re to pa ra vocês .

Depo is da rea l i zação de ma is

a lguns tes tes , d r . Ja ime reúne as duas

mães e dá exce len tes no t íc ias :

Page 108: O impossível pode acontecer

108 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Seus f i l hos es tão se recuperando

da mesma fo rma. E les não pe rde ram

nenhum mov imento , já es tão

consegu indo comer , mesmo que aos

poucos , pap inhas de f ru tas , re t i ramos as

sondas e es tão consegu indo u r inar ,

conve rsam bem, es tão com um bom n íve l

de consc iênc ia e as f i s io te rapeu tas

es tão nesse momen to com e les , f azendo

exe rc íc ios pa ra que vo l tem a anda r o

ma is b reve poss íve l . Vamos d izer que

seus f i lhos renasceram, não se i exp l i ca r

o que acon teceu , mas parec ia a lgo

i r reve rs íve l , pa r te do ce rebe lo fo i

a fe tada e mu i tos neu rôn ios mor re ram.

Mas pe los exames que rea l i zamos, o

cerebe lo es tá no rma l , re fe i to , e os

neu rôn ios também, é como se nada

t i vesse acon tec ido . I sso é inexp l icáve l ,

nunca houve um caso ass im.

Page 109: O impossível pode acontecer

109 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- I sso fo i um mi lagre dou to r . Deus

faz co isas que parecem imposs íve is para

os homens, mas pa ra E le não são . –

so r r i Ânge la .

Os jovens se recupe ram d ia após

d ia com as sessões de f i s io te rap ia .

Passado quase um mês do desper ta r , os

do is já conseguem anda r e conseguem

f ina lmente conve rsar .

- Ho je o méd ico va i f a la r quando

te remos a l ta ! Es tou mu i to ans iosa !

- Acho que vamos f ica r aqu i po r no

máx imo, ma is uma semana!

- Eu es tava com mui tas saudades

de você . . . nesse tempo que f i que i em

coma, t i ve mu i tos sonhos com você . . .

Page 110: O impossível pode acontecer

110 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Po r inc r íve l que pa reça , eu

também sonhe i mu i to com você , mas

sabe o que me de ixa ma is in t r i gado?

- O quê?

- Pa rec ia mu i to rea l , mas rea l

dema is , você en tende , né?

- S im, pa ra m im fo i t ão rea l que

chegue i a acordar com o sus to que leve i

quando te con te i da m inha v i são sob re o

ac iden te .

- Mas eu aco rde i com o sus to de

você me con tando. . .

En tão os do is conve rsam e

pe rcebem que seus sonhos fo ram mu i to

pa rec idos . Co inc idênc ia? P rov idênc ia?

Page 111: O impossível pode acontecer

111 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Capítulo 5 – Será que é real?

- Ho je é o g rande d ia ! Es tá p ron ta

f i lha?

- Com toda ce r teza pa i ! Não ve jo a

ho ra de vo l ta r pa ra casa !

- Vamos vo l ta r jun to com o R i e

com a mãe de le , vou dar uma ca rona a

e les , o que acha?

- Vou ado ra r , cada minu to que

passo ao lado de le me de ixa bas tan te

con ten te !

- Desse je i to vou f i ca r com c iúmes

de le .

Page 112: O impossível pode acontecer

112 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Pa ra pa i , você sabe que é o

p r ime i ro da m inha l i s ta , t e amo mu i to !

E les vo l tam pa ra casa e ganham

uma be la surp resa p repa rada po r

pa ren tes e am igos , no sa lão do p réd io

de R icardo .

O jovem casa l come ça a chora r e

se ab raça , nesse momento os do is têm a

sensação de que tudo o que sonharam

não fo i apenas um de l í r io , que pa r te

daqu i lo inexp l i cave lmente acon teceu .

Todos os conv idados os ab raçam e

comemoram po r sua recupe ração e

re to rno . A fes ta du ra a lgumas ho ras e os

do is se re to rnam às suas casas po rque

p rec isam descansa r .

No d ia segu in te , o casa l de

namorados se reencont ra .

Page 113: O impossível pode acontecer

113 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- R i , não cons igo pa ra r de pensar

naque le d ia em que nos en t regamos um

ao ou t ro .

- Eu também. Sabe? Quer ia mu i to

que tudo aqu i lo t i vesse acon tec ido de

ve rdade.

- Mas a inda pode acon tece r , an tes

só p rec isamos nos recuperar to ta lmente .

- Quando você reso lve r con ta r para

sua mãe e i r ao g ineco log is ta , me av isa ,

tá?

Os do is dão boas r i sadas e passam

o res tan te do d ia ass is t indo f i lme na

casa de Pa t r íc ia .

As fes tas de f im de ano se

ap rox imam e as famí l ias têm mu i to que

comemora r .

Page 114: O impossível pode acontecer

114 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Mãe, posso conv ida r o R i e a mãe

de le pa ra passarem o Nata l aqu i em

casa?

- Na ve rdade , eu já me an tec ipe i e

conv ide i os do is . . .

- Ob r igada mãe! Você é demais . O

que e la d isse?

- No in íc io f i cou um pouco

re lu tan te , mas d isse que a vó do R icardo

ia passa r as fes ta s na casa de la . En tão

eu d isse pa ra que e la t rouxesse a mãe

pa ra cá também e e la ace i tou !

- Vou l i ga r pa ra o R i !

A men ina pega o te le fone na mão e

quando e la pensa em d isca r , o mesmo

toca .

Page 115: O impossível pode acontecer

115 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- A lô !

- O i Pa ty !

- O i R i , eu tava pensando em l i gar

pa ra você ago ra .

- Que te lepa t ia , he in?

- Te lepa t ia de do is super -heró is !

- Fa le i com minha mãe sob re o

Nata l e . . .

- Eu também! A fes ta é depo is de

amanhã e tô mu i to fe l i z porque vocês

vão passa r aqu i na m inha casa , tô a té

pensando em que roupa vou usar !

- É sob re i sso que eu que ro fa la r

com você . Vem aqu i na m inha casa ,

tenho uma su rp resa p ra você !

Page 116: O impossível pode acontecer

116 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Só se fo r ago ra ! Tô indo !

Pa t r íc ia va i ap ressada à casa de

R ica rdo para ve r qua l é a su rp resa .

- M inha mãe fez um ves t ido pa ra

você usar no Nata l . E e le é da sua co r

p re fe r ida .

- Ve rde ! E le é s imp lesmen te ma - ra -

v i - l ho -so ! Obr igada t ia , você é uma

exce len te cos tu re i ra !

- F i z uma b lusa para o R i

combinando com seu ves t ido ! Quer ve r?

- Quero s im! R i , p rova a b lusa que

sua mãe fez p ra eu ve r como f ica em

você !

Page 117: O impossível pode acontecer

117 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Rica rdo co loca a b lusa e f i ca mu i to

bem ne le . O d ia te rm ina e a ga ro ta vo l ta

pa ra sua casa mu i to fe l i z .

Chega a no i te de Nata l , todos

es tão reun idos e depo is da o ração de

agradec imento a Jesus , R icardo pede a

pa lavra :

- Gosta r ia de ap rove i ta r a ocas ião

e d i ze r a lgumas pa lavras . P r ime i ramente

agradece r a Deus e Jesus po r te rem

poupado nossas v idas . Quero também

d ize r que sou uma pessoa mu i to fe l i z e

rea l i zada po r te r conhec ido a Pa ty e

vocês também e se i que é no momento

da d i f i cu ldade que conhecemos quem

são as pessoas que es tão ao nosso lado

e pude pe rcebe r que todos aqu i

p resen tes são mu i to impor tan tes em

m inha v ida . Por i sso , gos ta r ia de

Page 118: O impossível pode acontecer

118 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

of i c ia l i za r nosso namoro . Mas an tes

que ro de ixa r c la ro , que não impor ta o

quan to tempo conhecemos uma pessoa,

mas a in tens idade do que sen t imos por

e la .

R ica rdo t i ra uma ca ix inha com duas

a l ianças do bo lso e most ra a todos .

- São l indas ! Eu vou aprove i ta r a

ocas ião e fa la r a lgumas co isas também.

Fu i pega de su rp resa e não tenho nada

ensa iado , mas vou fa la r com o coração .

Eu se i que podemos passa r uma v ida

in te i ra com uma pessoa e não a

conhecermos ve rdade i ramente , para m im

não impo r ta quan to tempo es tamos

jun tos e se f i camos em coma po r tan tos

meses, po rque todos os d ias R icardo

es tava em meus sonhos. E nada é po r

acaso , se o motor i s ta do caminhão

Page 119: O impossível pode acontecer

119 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

estava bêbado, pe rdeu o con t ro le , nos

a t rope lou , mor reu e nós sob rev ivemos , é

po rque i sso t inha que acon tecer .

Os do is se be i jam e t rocam

a l ianças . É um momento mu i to

românt ico . Todos f i cam emoc ionados .

- Pa ty , como você sabe que o

moto r is ta es tava bêbado e que e le

mor reu? N inguém comentou i sso com

nenhum de vocês pa ra poupá - los . –

ques t iona L i l i .

- Não tenho ide ia de como eu se i

d isso , mas é uma ce r teza tão g rande . É

como se eu v i sse a cena po r um ou t ro

ângu lo . . .

- É como se você não fosse voc ê

mesma?

Page 120: O impossível pode acontecer

120 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- É ma is ou menos i sso . Aqu i lo que

comente i a vocês sob re m inhas v i sões

quando eu es tava em coma a inda pa rece

mu i to rea l .

Todos f i cam preocupados, mas

p re fe rem não comen tar ma is nada.

No d ia segu in te todos se reúnem

novamente para o a lmoço . P a t r í c ia tem

uma v isão , e la vê sua mãe de r rubando

uma t ravessa de v id ro em L i l i e a men ina

com um cor te no b raço .

E la co r re pa ra a coz inha e t i ra L i l i

de pe r to da sua mãe e imed ia tamen te a

t ravessa ca i e n inguém se machuca .

As duas f i cam assus tadas e

en tendem que Pat r íc ia rea lmente tem

pode res .

Page 121: O impossível pode acontecer

121 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Mais ta rde , Maur íc io chama

Pa t r íc ia para uma conversa .

- F i lha , eu te p romet i uma v iagem à

Bah ia no f ina l desse ano como p resen te

do seu an iversár io de 15 anos,

i n fe l i zmen te as co isas mudaram, você

so f reu aque le ac iden t e , f i cou meses no

hosp i ta l e . . .

- Pa i , eu se i que ago ra não é o

momento de pensa r nessa v iagem. Quem

sabe eu não de ixe para conhecer a

Bah ia quando me fo rmar no te rce i ro

ano?

- Você é uma f i lha mu i to

compreens iva e marav i lhosa . Te amo!

- Eu é que não tenho pa lavras p ra

agradece r a Deus po r t e r um pa i tão bom

e tão am igo .

Page 122: O impossível pode acontecer

122 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Na semana en t re o Nata l e o Ano

Novo , a men ina recebe uma l i gação de

É r ika .

- O i Pa ty , como você es tá? F ique i

p reocupada com você . In fe l i zmen te não

deu p ra eu i r na fes ta que f i ze ram pa ra

vocês . . .

- Ob r igada po r te r me l i gado ! Que

pena que você não pôde v i r , a f es ta

es tava l i nda .

- Eu que ro te con ta r uma co isa que

acon teceu comigo .

- Pode fa la r , es tou te ouv indo .

- Eu t i ve um sonho com você ,

quando es tava in te rnada e você e ra uma

supe r -he ro ína e me sa lvava do meu

p róp r io namorado. Vou con fessar que

Page 123: O impossível pode acontecer

123 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

aco rde i bas tan te assus tada , mas não

leve i mu i to a sé r io o sonho.

- Acon teceu a lguma co isa? Você

es tá bem?

- Ago ra es tou bem, mas fo i mu i to

es t ranho. E le que r ia que eu pe rdesse a

v i rg indade com e le , mas eu não me

sen t ia p repa rada , a í e le d i sse que ia sa i r

com ou t ras men inas , en tão me

desespere i e d i sse que t ransa r ia com

e le . Marcamos de i r num desses moté is

ba ra tos e eu a té a r rume i um RG fa lso ,

mas tudo es tava tão idên t ico ao sonho

que des is t i de en t ra r com e le no mote l ,

en tão passamos po r um beco idên t i co ao

do sonho e quando e le co locou a mão no

bo lso , pense i que e le ia t i ra r um

can ive te pa ra me a tacar , en tão v i uma

v ia tu ra de po l íc ia passando e co r r i , e le

Page 124: O impossível pode acontecer

124 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

f ing iu que não me conhec ia , po r pouco

e le não me pegou . No d ia segu in te

te rm ine i o namoro com e le e do is d ias

depo is e le já es tava com ou t ra men ina .

Eu se i que isso tudo parece loucu ra ,

mas qu is te l i ga r e agradece r , po rque de

cer to modo sa lvou m inha v ida , mesmo

que em sonho.

- Não se i te exp l i ca r , mas eu t i ve

um sonho igua l ao seu , se de a lgum je i to

te a jude i , f i co mu i to fe l i z .

Pa t r íc ia des l iga o te le fone e va i a

seu qua r to para pensa r sob re tudo o que

acon teceu e es tá acon tecendo em sua

v ida .

“Ser uma supe r -he ro ína e ra tudo o

que eu quer ia , m as eu nunca pense i que

i sso pudesse se to rna r rea l . Se rá que fo i

Page 125: O impossível pode acontecer

125 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

meu ped ido de an ive rsá r io que mudou as

co isas? Po r que en t ramos em coma um

d ia depo is do meu an ive rsár io e

aco rdamos um d ia an tes do an iversá r io

do R i? Como t i vemos pa r te d o ce rebe lo

e neu rôn ios bas tan te a fe tados e

vo l tamos como se nada t i vesse

acon tec ido? P rocu ro exp l icações pa ra o

i nexp l i cáve l . . . ”

Pa t r íc ia cho ra e acaba pegando no

sono.

Quando aco rda , a lgumas ho ras

depo is , va i à cômoda pa ra se pen tear e

vê um lenço b ranco de ce t im idên t i co ao

de seu sonho de quando es tava em

coma. A men ina f i ca con fusa e acha

me lho r con f i rmar de onde ve io o lenço .

Page 126: O impossível pode acontecer

126 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Mãe , você v iu um lenço b ranco de

ce t im em c ima da m inha cômoda?

- Não percebe i , po r quê?

- Nunca t i ve um lenço de ce t im e

que eu sa iba nem voc ê e nem a L i l i não

têm também.

- Po r que você es tá pe rgun tando

i sso? Você achou um lenço na sua

cômoda?

Pa t r íc ia con ta a sua mãe sob re o

sonho e sob re a l i gação de É r ika . A mãe

f i ca bas tan te surp resa .

- Não se i o que es tá acon tecendo,

mas pa rece se r a lgo bom e ta l vez se ja o

que a judou a te sa lva r . I sso pa rece um

dom.

Page 127: O impossível pode acontecer

127 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Passe i m inha v ida in te i ra

sonhando em ser a Supe r teen e no d ia

do meu an ive rsár io ped i pa ra que eu e o

R i nos to rnássemos supe r -heró is , mas

não pense i que isso fosse acon tecer de

ve rdade.

- M inha mãe sempre me fa lava ,

cu idado com o que você dese ja , po rque

pode se to rna r rea l idade . Pe lo je i to e la

es tava ce r ta . Mas não se assus te , te r

um dom é a lgo bom e se Deus permi t iu

que i sso acon tecesse em sua v ida é

po rque você é capaz de l ida r com i sso

tudo .

A conve rsa te rm ina e a men ina

começa a combina r onde se rá a fes ta de

Ano Novo com R ica rdo . Quando de

repen te , tem uma nova v i são .

Page 128: O impossível pode acontecer

128 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- R i , não podemos passa r o Ano

Novo no C lube At lé t i co .

- Po r quê? Ia ser tão lega l . . .

- Eu t i ve uma v i são de um a r ras tão ,

a lguns lad rões ten tavam rouba r a bo lsa

da m inha mãe, meu pa i reag ia e tomava

um t i ro .

- Depo is de tudo i sso que es tá

acon tecendo , rea lmente é me lho r

ouv i rmos o que você fa la . Vamos na sua

casa fa la r com seus pa is .

Os do is conve rsam com os pa is da

men ina e os convencem a des is t i r do

Ano Novo no c lube .

F ina lmen te chega a no i te de Ano

Novo e todos es tão reun idos na casa de

R ica rdo , quando ass is tem no no t i c iá r io

Page 129: O impossível pode acontecer

129 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

da TV que acon teceu um ar ras tão e duas

pessoas fo ram a t ing idas po r ba las

pe rd idas . Imed ia tamen te todos

agradecem Pat r íc ia pe lo a le r ta , mas e la

não f ica fe l i z .

- Eu se i que meu pa i poder ia te r

s ido a t ing ido e g raças a m inha v i s ão e le

es tá sa lvo . Mas a inda não es tou fe l i z

po rque a lguém recebeu esse t i ro e eu

não pude imped i r .

- Não podemos imped i r o que é

pa ra acon tece r . Se Deus pe rm i t iu que

você t i vesse esse dom e que

consegu isse imped i r a sucessão de

a lgumas co isas , é po rque e las não

deve r iam ocor re r , você en tende? – f a la

Ânge la .

Page 130: O impossível pode acontecer

130 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- S im, eu en tendo, mas não ace i to .

É mu i to d i f íc i l quando podemos te r

v i sões sob re o fu tu ro e não consegu imos

sa lva r o mundo. . . ou pe lo menos a v ida

de uma ún ica pessoa. . .

Todos ab raçam Pat r íc ia e rezam um

Pa i Nosso ped indo p ro teção pa ra todos

que es tavam no a r ras t ão e ped indo para

que 2016 se ja um ano de mu i tas a legr ias

pa ra todos .

Page 131: O impossível pode acontecer

131 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Capítulo 6 – Descobr indo um

mundo novo

As fé r ias te rm inam e chega o

momento de Pat r íc ia vo l ta r às au las .

Dev ido ao ac iden te o d i re to r do co lég io

concede bo lsa de 100% pa ra a men ina

cursa r novamente o p r ime i ro ano do

Ens ino Méd io .

- O i Pa ty! F ico fe l i z que es tá de

vo l ta ! F i zemos uma pequena

con f ra te rn ização pa ra recebê - la , vamos

ao pá t io ! – f a la S i l ve i ra .

Lá es tão todos seus p ro fessores ,

am igos e func ioná r ios . Há um a fa i xa

Page 132: O impossível pode acontecer

132 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

dese jando boas v indas , bo lo , sa lgados e

suco .

- Ho je como é o p r ime i ro d ia de

au la do ano , vamos dar boas v indas à

Pa ty e comemorarmos po r ma is um ano

le t i vo ! – so r r i S i l ve i ra .

O d ia é mu i to agradáve l . Depo is do

co lég io , a men ina va i ao t re ino de

fu tebo l . Todos a recebem com mu i to

car inho .

No d ia segu in te a men ina va i ao

Ing lês e também recebe mensagens de

car inho e incen t i vo .

A semana passa e Pa t r íc ia sen te -

se uma men ina rea lmente espec ia l .

- R i , como fo i sua semana no

co lég io? Na na tação?

Page 133: O impossível pode acontecer

133 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Fo i t udo bem, todos fo ram mu i to

lega is com igo , mas me sen t i soz inho ,

po rque toda m inha tu rma se fo rmou, na

ve rdade, eu não es tou l i gando po rque

vou fazer o te rce i ro ano de novo , po rque

eu pode r ia es ta r mor to ou com seque las

g raves , só es tou um pouco t r i s te po rque

a ga le ra que andava comigo e que eu

gos tava não es tá ma is lá . . .

- Eu se i , o pessoa l lá da m inha sa la

também não é o mesmo , e ra p ra eu es ta r

no segundo ano , mas es tou mu i to fe l i z

po r es ta r v i va e po r te r t ido essa

opo r tun idade.

- Es tou sen t indo como se aque les

pode res fossem ve rdade i ros , vamos

t re ina r?

Page 134: O impossível pode acontecer

134 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Vamos , c la ro ! Pod emos começar

ho je mesmo no c lube . I gua l ao que

faz íamos nos sonhos.

En tão o jovem casa l começa os

t re inos , Pa t r íc ia consegue voa r , p rever

acon tec imentos , te r ag i l idade , en f im,

todos os pode res da mesma fo rma que

t inha imag inado e sonhado, mas Ricardo

sen te que a lgo o b loque ia e não

consegue se so l ta r , po r tan to não

desenvo lve nenhum dos poderes que

hav ia imaginado.

O rapaz f i ca cha teado, mas não

des is te . Pa t r íc ia o incen t i va semana

após semana e ass im passam a lguns

meses. En tão R ica rdo p re fe re se a fas ta r

da moça.

Page 135: O impossível pode acontecer

135 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Pa ty , eu te amo mu i to , mas você

merece uma pessoa me lho r . Eu não

posso ma is f i ca r com você . Não tenho

pode res , não sou aque le Supe r pe t que

você idea l i zou , descu lpa se te

decepc ione i .

- Mas você não me decepc ionou em

momento a lgum. Eu te amo mu i to e você

não p rec isa te r pode r a lgum p ra namorar

comigo .

- Po r f avor , ten ta en tende r . Me dá

esse tempo.

Pa t r íc ia va i pa ra sua casa pensar

em tudo o que es tá acon tecendo.

“Não cons igo en tende r como tan to

amor acaba ass im. Se rá que e le tem

ou t ra pessoa e não que r me fa la r? Acho

que não . Se rá que e le es tá com inve ja

Page 136: O impossível pode acontecer

136 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

dos meus pode res? E le não parece ser

ass im. O que es tá acon tecendo? Será

que e le fo i to ta lmen te s ince ro? Se rá que

e le se sen te incapaz ou insegu ro? Eu

p rec iso da r um je i to de a judá - l o . ”

Pa t r íc ia ten ta usa r seus sen t idos

pa ra descob r i r a lgo , mas lembra que a

mu lhe r em seus sonhos lhe d i sse que

e la não pode r ia usar sua v i são pa ra sua

p róp r ia v ida .

Semana após semana a men ina

ten ta esquece r o namorado, se ded ica

aos es tudos , aos t re inos e pe rcebe que

seus pode res es tão acabando, mas e la

não l i ga .

- Pa ty , eu se i que você sen te mu i ta

fa l t a do R i , mas de um tempo pa ra cá

você só es tuda e t re ina , não sa i com

Page 137: O impossível pode acontecer

137 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

seus amigos , não f requenta fes tas , eu e

seu pa i es tamos p reocupados com você .

- Eu se i mãe, eu vo u mudar . Tem

uma fes ta de uma amiga na sex ta à

no i te , é uma ba lada em um ba rz inho um

pouco depo is do C lube A t lé t ico , a í eu já

ap rove i to pa ra comemora r meu

an iversá r io de 16 anos que é essa

semana.

- Se você qu iser , seu pa i te leva e

depo is va i busca r . A não se r que pegue

carona com a lguém.

- Vou ve r com m inhas amigas e te

fa lo , ok?

Pa t r íc ia reso lve sa i r um pouco pa ra

esquecer suas v i sões , o R ica rdo , os

es tudos e os t re inos , e la dese ja te r uma

sensação de l ibe rdade .

Page 138: O impossível pode acontecer

138 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Chega o d ia da fes ta e a men ina

pega ca rona com os am igos . Be to é um

men ino acos tumado a ganha r tudo de

fo rma mu i to fác i l , e le va i d i r ig indo ,

a f ina l tem 18 anos e já t i rou ca r ta .

- O i ga t inha ! Ho je você va i me dar

a tenção , né? – f a la Be to .

- Mas eu sempre conve rso com

você . – re t ruca a moça .

- Você tá en tendendo que t ipo de

a tenção que eu tô querendo, né?

- Na ve rdade, p re f i ro não en tende r .

- Eu acho que não mereço esse

t ra tamento . Tô sendo bacana e você vem

com um monte de pedras na mão.

- Descu lpa m inha es tup idez .

Page 139: O impossível pode acontecer

139 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Desde que você te rm inou aque le

namoro não pa ro de pensa r em você .

Quero que você sa iba que sou o p r ime i ro

da f i la , ga t inha .

- Meu co ração não es tá abe r to p ra

novas emoções ago ra .

- O co ração de le tá abe r to , né?

- Como você pode d izer i sso? Você

nem tem como sabe r .

- Esqueceu que eu moro pe r to da

sua casa e do p réd io de le?

- Out ro d ia o v i dando o ma io r

amasso em ou t ra m ina .

- Onde?

- Na esqu ina do p réd io . Já e ra mó

ta rde .

Page 140: O impossível pode acontecer

140 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Tudo bem, mas se você acha que

va i me convencer a f i ca r com você só

po r causa d isso , tá mu i to enganado.

- Vamos bebe r uma cap i r i nha? Eu

pago .

- Não, ob r igada . Eu não bebo.

- Por que não? É tão bom p ra se

so l ta r . A í você esquece do que esse

t rouxa fez p ra você .

- Eu não se i qua l se rá m inha

reação se eu bebe r , me lho r não a r r i sca r .

- Gat inha , pode de ixa r que eu cu ido

de você .

- Vou ao banhe i ro , já vo l to .

Pa t r íc ia pede conse lhos a uma de

suas co legas. Tham i res é uma men ina

Page 141: O impossível pode acontecer

141 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

cons ide rada f ác i l pe los co legas, e la

gos ta de sa i r com o men ino que es t i ve r

d ispon íve l em qua lque r momento , com

suas unhas pos t i ças , cabe lo s lo i ros e

a l isados a té a c in tu ra e roupas

deco tadas, chama a a tenção de todos

po r onde passa .

- Thami , o que eu faço?

- Você que r sabe r o que eu fa r ia ou

o que você deve faze r? Na boa amiga , o

Be to é um ga to , tem 18 anos, já tem

car ro , é moreno de o lho s azu is , ma lha ,

tem um co rpo sarado , e le pode não ser

mu i to in te l i gen te , já bombou a lgumas

vezes , mas va le a pena inves t i r , pe lo

menos uma vez, nem que se ja só por

uma no i te . Esquece o R icardo , e le nunca

ma is te l i gou .

Page 142: O impossível pode acontecer

142 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Você es tá cer ta , eu vou enche r a

cara e vou f i ca r com e le .

- É ass im que se fa la ! Uhu!

Mesmo com o coração amargurado ,

Pa t r íc ia toma dec isões que podem

p re jud icá - la .

- E a í , Be to?

- Vo l tou an imad inha do banhe i ro ,

he in? A Thami tava te dando umas

au l inhas?

- Eu t i ve uma conve rs inha com e l a

e reso lv i ace i ta r a sua ca ip i r inha .

- Só a ca ip i r inha? Eu também que ro

te da r um be i j inho .

Pa t r íc ia começa a bebe r e f i ca r

com Beto . A ga ro ta f i ca mu i to bêbada e

Page 143: O impossível pode acontecer

143 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

va i pa ra um luga r ma is rese rvado com o

men ino . Quando e la percebe, es tá com

sua sa ia levan ta da , com sua b lusa

abe r ta e ma is um pouco es ta rá pe rdendo

sua v i rg indade com e le . E le t i ra uma

camis inha do bo lso e quando e la vê , f a la

que va i ao banhe i ro e foge da ba lada .

E la chora mu i to e pe rcebe a

bes te i ra que es tava fazendo. Pa t r íc ia

pensa em l i ga r p a ra R icardo , mas são

duas ho ras da manhã e e la já não fa la

com e le há meses.

Sen t indo -se ton ta po r causa da

beb ida , a men ina sen ta em uma p raça

p róx ima ao c lube e começa a cho rar

compu ls i vamen te .

Um rapaz sen ta ao seu lado e a

ab raça , e la toma um grande s us to e

Page 144: O impossível pode acontecer

144 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

quando va i se esqu iva r percebe que é

R ica rdo .

- O i Pa ty .

- Eu tava pensando em você agora .

- Como você me encont rou aqu i?

- Co inc idênc ia ou não , eu sen t i um

ape r to mu i to fo r te no meu coração e

reso lv i sa i r p ra da r uma vo l ta , uns

am igos meus me cham aram p ra i r no

mesmo ba rz inho que você es tava .

- Você me v iu lá?

- S im.

- Eu não que r ia . . . descu lpa . . . nem

se i o que te d ize r , es tou com mu i ta

ve rgonha.

Page 145: O impossível pode acontecer

145 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Eu v i que você bebeu dema is e

que o Be to se aprove i tou de você , en tão

vocês sum i ram e depo is de um t empo v i

você co r rendo, indo embora que nem

uma louca .

- É , eu perceb i que te amo mu i to e

que não quero f i ca r com n inguém. Na

ve rdade, eu nem ia f i ca r com e le .

- Você não me deve sa t i s fação , não

es tamos jun tos . E a cu lpa fo i toda

m inha , eu não deve r ia te r t e

abandonado, f u i um babaca .

- É ve rdade que você es tava

be i jando uma men ina ou t ro d ia per to do

c lube?

- Se eu te con ta r , você ac red i ta em

m im?

Page 146: O impossível pode acontecer

146 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- C la ro , nunca men t imos um para o

ou t ro .

- Eu es tava mu i to t r i s te e con fuso e

aque la men ina es tava dando em c ima de

m im desde que te rm inamos. E um d ia , eu

reso lv i da r uma chance p ra e la , mas

depo is chegue i em casa e me sen t i

mu i to ma l , pense i em te l i ga r , mas ache i

que não dev ia e no d ia segu in te eu fa le i

p ra e la que a inda te amava mu i to e não

t inha te esquec ido .

- E e la? Como f i cou?

- Do is d ias depo is es tava be i jando

ou t ro men ino .

Os do is de ram mu i tas r isadas , se

ab raça ram, se be i ja ram e reso lve ram

rea ta r o namoro .

Page 147: O impossível pode acontecer

147 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Vamos pa ra m inha casa?

- Não posso , como vou exp l ica r à

m inha mãe e à sua mãe?

- Se fo r por causa d a m inha mãe,

e la es tá namorando com o d r . Ja ime e

e la não vo l ta ho je .

- Uau! Desde quando os do is es tão

jun tos?

- Nossas mães p ra t i camente

mora ram no hosp i ta l enquanto

es távamos em coma e nesse tempo os

do is se in te ressa ram e começaram a sa i r

de vez em quando pa ra a lmoça r e o

res to você já pode imag ina r .

- Que lega l ! Mesmo ass im es tou

p reocupada . Como l i ga r p ra m inha mãe

uma hora dessas , e la deve tá dorm indo .

Page 148: O impossível pode acontecer

148 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

O ce lu la r de Pat r íc ia toca .

- O i f i l ha , você va i vo l ta r de carona

com seus am igos?

- O i mãe , a inda bem que você

l i gou . Eu es tou com o R i .

- Vocês se encont ra ram na ba lada?

F ize ram as pazes?

- S im, mas é uma longa h is tó r ia .

Posso do rmi r na casa de le?

- Não se i se é uma boa ide ia . . . seu

pa i es tá do rmindo . . .

- Por f avo r , p rometo que te con to

tudo amanhã !

- Tudo bem, mas de ixa eu fa la r com

o R ica rdo .

Page 149: O impossível pode acontecer

149 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- O i t ia , tá tudo bem, eu cu ido da

Pa ty ho je !

- Amanhã eu espe ro vocês aqu i em

casa p ro a lmoço .

Os do is dec idem que chega o

momento que e les tan to espe ram há

tempos. R ica rdo t i ra a roupa de Pat r íc ia

l en tamen te , os do is se be i jam

apa ixonadamen te , e les co locam a

camis inha e se en t regam um ao ou t ro .

Os do is pe rdem a v i rg indade , é um

momento mu i to espec ia l .

No d ia segu in te , o casa l va i

a lmoça r na casa de Pat r íc ia . Todos

es tão con ten tes po rque os do is rea ta ram

o namoro .

Após o a lmoço Pat r íc ia reso lve

conve rsa r com a mãe e com a i rmã e

Page 150: O impossível pode acontecer

150 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

conta r o que acon teceu na no i te

an te r io r .

- P rec iso con ta r uma co isas p ra

vocês .

- Fa la Pa ty, tô cur iosa ! – f a la L i l i .

- Pode fa la r f i lha .

- Eu não se i como d ize r i sso , mas é

que eu e o R ica rdo nos amamos mu i to e

nós nunca f i zemos nada com n inguém,

vocês en tendem, né? E a í , on tem

acontece ram vá r ias co isas no ba rz inho e

eu f i que i mu i to ma l , en tão encont re i o

R i , f i zemos as pazes e ro lou a nossa

p r ime i ra vez . . .

- Parabéns Paty ! Como f o i? Doeu?

Vocês usa ram cam is inha , né? – L i l i f i ca

bas tan te cur iosa .

Page 151: O impossível pode acontecer

151 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- F i lha , an tes de ma is nada , f i co

con ten te por te r compar t i lhado esse

momento tão ín t imo conosco e que ro

d i ze r que por ma is que eu ache que você

a inda é mu i to jovem pa ra isso , vamos

marca r um g ineco log is ta e você va i se

cu idar , ve r se pode tomar

an t i concepc iona l e sempre usar

camis inha , po rque não devemos ev i ta r

somente a g rav idez , mas também as

DST, ou doenças sexua lmente

t ransmiss íve is .

- Apesa r da ma io r ia das men inas

da m inha idade já t e rem pe rd ido a

v i rg indade , eu não me sen t ia

p ress ionada a faze r i sso , eu se i que sou

mu i to nova e que ro d i ze r que fomos

consc ien tes , nos p ro tegemos e que

que remos f ica r no ivos no ano que vem

Page 152: O impossível pode acontecer

152 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

para ass im que en t ra rmos na facu ldade

nos casa rmos.

- Vocês a inda são novos para

pensa r em tudo i sso , vamos de ixa r o

tempo passa r e ve r o que acon tece . Só

ma is uma co isa , eu não quero sabe r que

vocês t ransaram na rua , ou no ca r ro , ou

em qua lque r ou t ro luga r po r a í per igoso

e tem mais , você é menor de idade e

não quero sabe r de você usando RG

fa l so p ra en t ra r em mote l , es tamos

en tend idas?

- C la ro mãe , se eu pensasse em

faze r todas essas co isas e r radas, não

t inha nem te con tado nada.

- Que ro se r responsáve l i gua l a

você ! – f a la L i l i .

Page 153: O impossível pode acontecer

153 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Capítulo 7 – Controlando os

sent imentos

O ano passa t ranqu i lo , a v ida de

Pa t r íc ia é es tuda r , t re ina r , cu r t i r o

namoro , os amigos e a famí l ia . A men ina

con t inua tendo v i sões e a judando as

pessoas.

R ica rdo te rm ina o co lég io , começa

a te r pode res e f i ca mu i to sa t is fe i to ,

j un tos os do is t raba lh am em p ro l de

a juda r as pessoas que es tão passando

po r d i f i cu ldades.

O te le fone de Pat r íc ia toca , é sua

am iga Thami res .

Page 154: O impossível pode acontecer

154 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- Pa ty , que r ia mu i to fa la r com você .

Es tou mu i to t r i s te e ma l , você pode v i r

aqu i na m inha casa?

- C la ro que s im, há meses não te

ve jo . . . acon teceu a lguma co isa?

- S im, po r f avo r , vem logo , a í eu te

exp l i co .

Pa t r íc ia chega à casa de Thami res

e as duas começam a conve rsa r .

- Am iga , sabe aque le d ia da

ba lada?

- S im, o que acon teceu?

- Você fo i embora cor rendo e eu já

es tava mu i to bêbad a e o Be to também,

en tão eu t ranse i com e le no ca r ro , mas

sem cam is inha .

Page 155: O impossível pode acontecer

155 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Eu engrav ide i naque le d ia , eu

tava sem tomar reméd io , ten tamos fazer

co i to , mas pe lo je i to não deu ce r to .

Quando eu descob r i a g rav idez , ten te i

abo r ta r , mas não consegu i e f i que i m u i to

doen te , a í m inha mãe descobr iu e f i cou

mu i to b rava com igo . Nós b r igamos mu i to

po rque e la nunca qu is sabe r de m im, fu i

c r iada pe la m inha vó que já morreu e

depo is d i sso f i que i la rgada e e la ve io

que re r me dar l i ção de mora l? F ique i

cha teada, m as v i que não ia ad ian ta r e

que eu p rec isava de a lguém pra me

a juda r , reso lv i p rocurar o Be to p ra

conve rsa r e e le d isse que o f i lho não e ra

de le e quase me ba teu , en tão fu i na

casa de le e fa le i com os pa is de le . . .

- E a í , o que e les f i ze ram?

Page 156: O impossível pode acontecer

156 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- E les me expu lsaram de lá , me

chamaram de vagabunda e d i sseram pra

nunca ma is eu apa rece r lá . Conte i tudo

p ra m inha mãe , p r ime i ro e la me d isse

que e ra bem fe i to , depo is acho que e la

f i cou com dó de m im e fa lou que ia lá

f a la r com o Beto e com os pa is de le ,

mas eu não de ixe i , re so lv i que eu ia

c r ia r essa c r iança soz inha .

- E sua mãe , o que fa lou da sua

dec isão?

- E la me deu apo io e me d isse que

passou po r uma s i tuação mu i to parec ida

na ado lescênc ia e que minha vó me

c r iou p ra e la t raba lha r e es tuda r , mas

e la d i sse que sen t ia mu i t o por não te r

s ido uma boa mãe e que e la ia me

a juda r e ia da r mu i to car inho p ra m im e

p ro meu f i lho . F i zemos as pazes e ago ra

Page 157: O impossível pode acontecer

157 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

está tudo bem. Vem aqu i no qua r to ve r

meu p r ínc ipe .

- Nossa ! Como e le é l indo ! Com

quan to tempo e le tá? Qua l é o nome

de le?

- Po r causa da m inha ten ta t i va de

abo r to e le pod ia f i ca r com seque las

mu i to sé r ias , mas eu e m inha mãe

f i zemos uma p romessa p ra Nossa

Senhora das Dores e e le nasceu

p rematu ro , mas mu i to saudáve l e se

recupe rou mu i to bem. En tão co loque i o

nome de le de José Mar ia de Jesus

Campos . E le f i cou no hosp i ta l po r um

mês depo is do nasc imento e eu f i que i ao

lado de le o tempo todo . Faz um mês que

es tamos em casa .

Page 158: O impossível pode acontecer

158 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- A inda bem que Deus perm i t iu que

você não consegu isse fazer o abo r to e

que seu f i l ho não f i casse com seque las .

- Eu se i , eu f i z i sso num momento

de desespe ro . Abo r to é o mesmo que

assass ina to .

- Na ve rdade o abo r to é p io r do que

um assass ina to , po rque você tá t i rando

a v ida de pessoas inocen tes .

- E quando a pessoa so f re um

es tup ro?

- Se Deus pe rm i t iu que aque la

c r iança se a lo jasse no ú te ro daque la

mu lhe r ou men ina que so f reu o es tup ro ,

é porque E le t inha um p ropós i to , nada

acon tece por acaso , as pessoas

envo lv idas sempre têm a lgo a aprende r

com o que acon tece .

Page 159: O impossível pode acontecer

159 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Eu mesma sou um exemplo

d isso . . . e se eu consegu iss e te r

abo r tado? Cont inua r ia uma men ina

inconsequente e uma ho ra eu ia acabar

me dando mu i to ma l e ia es t raga r m inha

v ida p ra sempre , meu f i lho me sa lvou e

eu ten te i ma tá - lo . . .

- Não se s in ta cu lpada , Deus te deu

uma segunda chance e você a aga r rou !

- Ob r igada pe las be las pa lavras

am iga !

- E como você va i f aze r com seus

es tudos?

- Nesse ano de 2017 eu faço 18

anos, en tão vou fazer um sup le t i vo e

quando meu pequeno pude r i r p ra

esco l inha , vou vo l ta r a t raba lha r e vou

Page 160: O impossível pode acontecer

160 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

f aze r f acu ldade de pedagog ia , pe rceb i

que amo c r ianças !

- F i co mu i to fe l i z po r você te r

encont rado seu caminho. Deus sabe o

que faz e se E le pe rmi t iu que você

passasse po r tudo i sso , sab ia que e ra

p ra sua v ida tomar um rumo, po rque do

je i to que você es tava v i vendo e ra

compl icado e as co isas po de r iam te r

s ido p io res .

- Eu se i e no fundo , eu tenho um

pouco de inve ja de você . Uma men ina

tão responsáve l que faz tudo tão

cer t i nho , você va i te r mu i to sucesso !

- Ob r igada ! Mas eu também t i ve

uma v ida que me a judou a se r ass im.

Meus pa is sempre jun tos , sendo meus

am igos , m inha i rmã, uma men ina mu i to

Page 161: O impossível pode acontecer

161 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

boa , meus amigos sempre ao meu lado ,

o namorado dos meus sonhos, a

opo r tun idade de faze r espo r tes e

es tuda r ou t ras l ínguas.

- A v ida pode te r te a judado, mas

você também tem mér i to n isso . Conheço

men inas que têm v idas igua is a sua e

que não dão va lo r .

O te le fone t oca e Thami res a tende

t ranqu i lamente .

- Pode r ia fa la r com a Thami res

Campos?

- É e la , quem gosta r ia?

- É a mãe do Beto .

- Não tenho nada p ra fa la r com a

senho ra .

Page 162: O impossível pode acontecer

162 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Quando a men ina ia des l iga r

Pa t r íc ia tem uma v isão .

- Tham i , não des l iga acon teceu

a lgo sé r io .

A men ina f i ca assus tada e reso lve

não con t ra r ia r a am iga .

- Tudo bem, pode fa la r .

- Te imp lo ro , me pe rdoa , meu f i lho

es tá mor rendo e o ú l t imo ped ido de le é

conhecer o f i lho e eu também quer ia ver

meu ne to .

- Seu ne to? Pense i que você t inha

expu lsado e le da sua v ida . A l iás , acho

que e le não é f i lho do Beto , não é

mesmo?

Page 163: O impossível pode acontecer

163 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Descu lpa , eu aprend i mu i to com a

v ida . Mu i tas co isas acon tece ram nesse

me io tempo e eu quer ia mu i to pode r te

con ta r . Posso i r na sua casa te buscar?

- Pode v i r p ra conve rsa rmos, mas

não ga ran to que vou v is i ta r o Be to .

- Pa ty, f i ca com igo , p rec iso de

a lguém p ra me dar apo io ago ra .

Pa t r íc ia conco rda e as duas

espe ram ans iosas a mãe de Beto . En tão

a campa inha toca e as duas toma m um

sus to .

- E la chegou, ago ra não tem mais

vo l ta .

- Ca lma am iga , es tou com você . E la

ve io em paz.

Page 164: O impossível pode acontecer

164 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

- O i dona Rena ta .

- Não p rec isa me chamar ass im. . .

- En t ra , po r f avo r . Ah , essa é m inha

am iga Paty .

- O i Pa ty , o Be to já f a lou de você lá

em casa .

- Mesmo? O que e le d i sse?

- Na época e le d i sse que você e ra

uma men ina mu i to ca re ta , mas lega l .

- Poxa ! – so r r i Pa ty .

- Renata , o que acon teceu com o

Be to?

- Vou d i re to ao pon to . Uma no i te na

ba lada , meu f i lho m is tu rou á lcoo l e

d rogas e depo is pegou o ca r ro p ra v o l ta r

Page 165: O impossível pode acontecer

165 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

pra casa . E le ba teu o ca r ro e ma tou um

senho r de idade que ca m inhava com seu

cacho r ro . E ra um dom ingo , se te horas

da manhã , eu receb i o te le fonema do

hosp i ta l e e le es tava em coma. F ique i

a r rasada não só pe lo meu f i lho , mas

pe la v ida que e le t i rou . O senho r de

idade não t i nha pa ren tes nem am igos , o

cacho r r inho sob rev iveu e eu o pegue i

pa ra m im. En f im, agora meu f i lho es tá

en t re a v ida e a mor te e pode se r que

não vo l te ma is do coma e se vo l ta r pode

ser que f i que parap lég ico . Eu rezo todos

os d ias . Es tou mu i to a r repend ida do que

f i z com você e se i que eu e meu mar ido

fomos péss imos pa is , pensávamos que o

d inhe i ro reso lv ia tudo e fechávamos os

o lhos f ing indo que os p rob lemas não

ex is t iam e nos convenc íamos que nosso

Page 166: O impossível pode acontecer

166 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

f i lho e ra marav i lhoso e não faz ia nada

e r rado .

- Eu en tendo e espe ro que o Be to

se recupe re , vou ao hosp i ta l com o José

p ra v i s i tá - lo , mas acho que não vão

de ixar o bebê en t ra r .

- Eu já conve rse i com os méd icos e

en fe rme i ras e e les de ram pe rmissão ,

vamos tomar os dev idos cu idados para

que o meu ne to não f i que doen te . Tenho

uma p roposta p ra te faze r , que ro mu i to

reg is t ra r seu f i lho como meu ne to e te

dou tudo o que p rec isa r p ra cu ida r de le .

- Não ace i to . Não que ro que você

faça i sso po r cu lpa e eu tenho o rgu lho

p róp r io , t ome i m inha dec isão de c r ia r

meu f i lho soz inha e m inha mãe me a juda

mu i to .

Page 167: O impossível pode acontecer

167 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Pense no me lho r p ro seu f i lho ,

podemos o fe rece r es tudos e mu i to ma is .

- Eu ace i to que e le chame vocês de

vó e vô e que conheça o pa i , mas no

reg is t ro , pe lo menos po r enquanto ,

p re f i ro que f i que ass im, qu ando e le

es t i ve r ma io r , e le mesmo esco lhe .

- Fechado!

- Pa ty, vamos ao hosp i ta l com a

gen te? Por favor .

A men ina concorda e todos vão

v i s i ta r Be to . No cam inho Pa t r íc ia f i ca

pensa t i va .

“Renata é uma mu lhe r tão bon i ta

quan to seu f i lho , tão che ia de s i que

mesmo passando po r tudo isso a inda

mos t ra con f iança e o ma is impor tan te ,

Page 168: O impossível pode acontecer

168 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

assum iu seus e r ros , ap rendeu e es tá

fazendo o poss íve l pa ra repa rá - l os . ”

Thami res en t ra com José no qua r to

e f i ca mu i to t r i s te pe lo es tado de Beto .

- Be to , eu não se i se você pode me

ouv i r , apesa r de que fa lam que as

pessoas em coma ouvem o que d izemos,

en tão lá va i , eu te amei mu i to , mas

depo is de tudo o que acon teceu f i que i

com mu i ta ra i va de você e de sua

famí l ia . Ago ra ve jo você ass im na cama

e penso que tudo pode r ia te r s ido

d i f e ren te , pode r íamos te r en f ren tado

essa ba r ra jun tos e . . . mas você não qu is

esse f i lho , não me qu is ma is e quando

a inda ex is t ia uma chance de você

re faze r sua v ida e mudar suas esco lhas ,

se d rogou e fez bes te i ra , a lém de ma tar

uma pessoa , matou a s i mesmo. . . mas

Page 169: O impossível pode acontecer

169 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

eu não es tou aqu i p ra te dar l i ção de

mora l , acho que não sou a me lhor

pessoa p ra isso e a v ida j á se

enca r regou de te ens ina r , não se i se

você va i sob rev ive r ou f i ca r com

seque las , mas an tes de qua lque r co isa ,

que ro te most ra r seu f i lho , e le es tá aqu i

no meu co lo , o nome de le é José Mar ia

de Jesus Campos.

O rapaz ab re os o lhos , so r r i e f a la

com d i f i cu ldade .

- Mu i to obr igada ! Fa la p ro meu f i lho

que eu o amo mu i to .

- Você va i f i ca r bom e va i poder

d i ze r i sso p ra e le .

- Meu tempo es tá acabando , eu se i ,

po r f avo r , me pe rdoa po r tudo o que eu

te f i z passar e fa la p ros meus pa is que

Page 170: O impossível pode acontecer

170 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

eu os amo mu i to e p ra e les não se

sen t i rem cu lpados po r nada, que eu fu i o

to ta l cu lpado e que t i ve chances de leva r

uma boa v ida , mas só f i z bes te i ra e po r

f avo r , de ixa meus pa i s te a judarem com

o José .

- Vou fa la r p ra e les , que Deus e

Jesus te abençoem mu i to .

O rapaz susp i ra a l i v iado e mor re .

Thami res e Rena ta se ab raçam

emoc ionadas e cho ram mu i to . As duas

se unem em um momento de do r mu i to

g rande . Pa t r íc ia se despede e va i

embo ra .

No jan ta r Pa t r íc ia con ta o que

acon teceu pa ra sua famí l ia e para

R ica rdo , todos se compadecem da

Page 171: O impossível pode acontecer

171 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

s i tuação de Thamires e da famí l i a de

Be to .

- É R i , mesmo tendo pode res não

consegu imos sa lva r as v idas dessas

pessoas.

- Não se cu lpe . Ex is tem co isas que

devem acon tece r , pensa só , po r causa

dessa t ragéd ia , as famí l ias se un i ram e

o pequeno José te rá uma v ida me lho r e

a Thami se end i re i tou e fez as pazes

com a mãe, tudo tem seu lado bom

também.

- Pensando ass im nosso ac iden te

também teve seu lado bom, un iu nossas

famí l ias , sua mãe es tá namorando com o

d r . Ja ime e nós temos pode res !

Page 172: O impossível pode acontecer

172 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Capítulo 8 – Tudo em seu lugar

O t empo passa ráp ido e R icardo

es tá em seu segundo ano de cu rs inho .

Pa t r íc ia es tá te rm inando o te rce i ro ano e

ence r rando seu p r ime i ro ano de

curs inho .

- Pa ty , você es tá p reparada p ro

ves t ibu la r?

- Acho que s im, tô bas tan te

con f ian te , f o i uma ba r ra fazer curs inho

jun to com o ú l t imo ano do co leg ia l ,

tomara que compense.

- Eu , um ve te r iná r io de sucesso e

você , a méd ica ma is l inda que ex is te !

Page 173: O impossível pode acontecer

173 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

Maur íc io conve rsa com Pa t r íc ia

sob re a v iagem à Bah ia .

- F i lha , você va i se fo rmar e eu

es tou mu i to o rgu lhoso , se i que agora

es tá p reocupada com o ves t ibu la r e que

não poderá v ia ja r p ra Bah ia , en tão

depo is que essa fase passar podemos

conve rsa r me lho r sob re iss o .

- Pa i , você é dema is !

Pa t r íc ia e R icardo es tudam mui to e

p res tam ves t ibu la r . E les passam pe la

p r ime i ra fase que acon tece em novembro

e pe la segunda que acon tece em jane i ro .

Pa t r íc ia passa na p r ime i ra chamada e

R ica rdo na segunda .

Pa ra comemora r , R ica rd o faz um

jan ta r em sua casa e conv ida a famí l ia

Page 174: O impossível pode acontecer

174 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

de Pat r íc ia . Quando todos es tão

reun idos R ica rdo pede a pa lavra .

- Ho je , 5 de março de 2019,

es tamos jun tos há quase qua t ro anos .

Nos conhecemos quando é ramos

bas tan te jovens . Todos esse tempo fo i

mu i to espec ia l p ra m im e é po r i sso que

eu que ro faze r um ped ido , Pa ty, que r

casa r comigo?

Todos se su rp reendem e a men ina

g r i ta :

- S im!

As famí l ias f i cam fe l i zes e

começam a p lane ja r a ce r imôn ia .

- Quando vocês vão marca r a da ta?

– ques t iona Ânge la .

Page 175: O impossível pode acontecer

175 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

- Es tamos queren do casa r no f ina l

desse ano , pa ra pode rmos te r tempo pra

p lane ja r a fes ta e ve r uma casa .

- A fes ta e a lua de me l j á es tão

ga ran t idas pe lo pa i da no iva ! – so r r i

Maur íc io .

- Boa ide ia pa i ! Va i se r pe r fe i to !

M inha lua de me l na Bah ia !

- Que sonho! Pa rabéns , vocês

merecem! – susp i ra L i l i .

- Ad iv inha quem va i se r a madr inha

ma is l inda do mundo? Você , m inha

man inha !

- Ju ra? Não ve jo a hora !

- F i lho , eu es tava espe rando o

momento ce r to para fa la r , mas eu e o d r .

Page 176: O impossível pode acontecer

176 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

Ja ime vamos nos casa r a té o me io do

ano .

- Que bom! Parabéns! – todos

fa lam ao mesmo tempo.

- R ica rdo , eu e sua mãe já

espe ramos mu i to tempo. Na verdade

nunca é ta rde dema is p ra se encont ra r o

amor e ser f e l i z ! Que ro que sa iba que

gos to mu i to de vocês e que se i o quanto

é d i f íc i l es tudar Med ic ina e Ve te r iná r ia ,

po r i sso , pense i em a judar vocês de

cer ta fo rma. Eu es tava espe rando vocês

recebe rem a aprovação e como isso já

acon teceu , posso da r a boa no t íc ia . Eu

tenho uma casa p róx ima à USP, e la

es tava a lugada a té o mês passado e eu

não renove i o con t ra to es pe rando po r

vocês . Vocês podem mora r l á pe lo tempo

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177 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

que qu iserem, o que acham? – exp l ica

Ja ime .

- I sso é pe r fe i to ! – so r r i Lau ra .

- Podemos a té casa r nas fé r ias de

ju lho ! – f a lam Pa t r íc ia e R ica rdo .

Todos conco rdam com a ide ia e

começam a combina r os p rep a ra tó r ios do

casamen to e da lua de me l .

- P rec isamos ve r as mob í l ias . – se

p reocupa Pat r íc ia .

- Não p rec isam se p reocupa r . A

casa já es tá mob i l iada . E ra onde m inha

mãe morava e quando a lugue i já f o i com

a mob í l ia , agora que desa lugou a

mob í l ia con t inua . – so r r i Ja ime.

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178 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

O casa l a r ruma a casa às p ressas e

faz a mudança , po rque as au las já es tão

começando.

Os jovens es t ranham a ro t ina no

começo, a r rumar e fax ina r a casa , l avar

e passa r roupas , f aze r com ida , uma v ida

independente e l i v re , mas com ma is

responsab i l idade .

- R i , es tou f i cando mu i to cansada,

mas es tá va lendo a pena.

- É lega l pode r te r um can t inho

nosso , do rmimos e acordamos a ho ra

que qu ise rmos, f azemos tudo do nosso

je i to .

- Nossos pa is es tão bancando tudo

po r enquan to po rque não dá p ra

t raba lha rmos a inda , mas ass im que de r

é me lho r começarmos .

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- As á reas que esco lhemos são

d i f í ce is , mas uma hora as co isas

me lho ram.

Nos f ins de semana, Pa t r íc ia e

R ica rdo vão en t rega r os conv i tes aos

am igos e fami l i a res , e les não se

esquecem de n inguém.

- Fa l ta um mês e me io pa ra o

casamen to e eu a inda não me dec id i

quan to ao ves t ido , es tou f i cando louca .

- Ca lma f i lha , você consegue.

- Mas mãe, a té você e a L i l i e as

ou t ras conv idadas, todo mundo

p ra t i camente já t em suas roupas

esco lh idas e eu es tou mu i to indec i sa .

- Ho je você va i consegu i r , vamos

encont ra r um pe r fe i to . – so r r i L i l i .

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- Agora você es tá tendo v i sões?

- Não, sua bob inha , isso é só uma

dedução !

As t rês dão boas r i sadas e vão à

p rocura do ves t ido pe r fe i to . Depo is de

ho ras e ho ras e de anda r de lo ja em

lo ja , Pa t r íc ia encon t ra o ves t ido de seus

sonhos .

O mês passa rap idamente e chega

o d ia tão espe rado por todos . O

casamen to é l indo , a ig re ja f i ca rep le ta

de am igos e fami l ia res , todos se

emoc ionam. Na fes ta , todos se d ive r tem

mu i to .

No d ia segu in te o casa l v ia ja a

Sa lvado r , tudo cor re bem . A v iagem es tá

p rogramada para c inco d ias . No qua r to

d ia , Pa t r íc ia tem uma v isão , e la vê uma

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i n fes tação de esco rp iões no ho te l .

Desespe rada av isa o ge ren te e os

func ioná r ios , mas e les não lhe dão

ouv idos , po is suas ju s t i f i ca t i vas são que

i sso a fas ta r ia os c l ien tes e como e la

pode r ia te r ce r teza .

A men ina f i ca a f l i ta , não sabe o

que fazer . En tão chama a v ig i l ânc ia

san i tá r ia , mas n inguém toma

p rov idênc ias , po rque o fa to a inda não fo i

consumado e como e la sab ia que i sso

acon tece r ia .

Em ma is uma ten ta t i va , Pa t r íc ia

av isa aos c l ien tes , mas e les também não

a ouvem, po is f a lam que e la es tava

a t rapa lhando as fé r ias de les e

tumu l tuando o amb ien te .

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182 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

No d ia segu in te da v isão , e les

es tão se a r rumando pa ra i r embora para

pega r o voo para São Pau lo quando

começam a apa recer mu i tos esco rp iões .

Todos g r i tam e f i cam

desesperados , um senho r de idade e

uma cr iança vão pa ra o hosp i ta l em

es tado grave .

Há g rande r isco de mor te , e les

devem faze r a lgo . O geren te do ho te l os

p rocura .

- Eu nã o qu is acred i ta r em vocês e

ago ra acon teceu . O que eu faço?

- Eu posso da r um je i to n i sso . –

f a la R icardo .

- Como você va i f aze r i sso? É

mu i to per igoso . – se p reocupa Pat r íc ia .

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- Você teve a lguma v isão que eu

vou ser p icado?

- Não.

- En tão tá t ranqu i lo !

O rapaz va i a té o saguão do ho te l ,

pega um m ic ro fone e começa a faze r um

ba ru lho es t ranho com os láb ios , mu i tos

esco rp iões vêm em sua d i reção , t odos

f i cam impress ionados.

Pa t r íc ia pega uma ca ixa g rande de

p lás t i co a co loca ao lado de Ricardo .

E le , po r sua ve z , con t inua fazendo o

ba ru lho a té que todos os escorp iões

es te jam em f ren te à ca ixa , e les f i cam

h ipno t i zados.

Pa t r íc ia pe rcebe que é o momento

de jogar a ca ixa em c ima dos b ichos .

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Eles chamam a v ig i lânc ia san i tá r ia

e o con t ro le de pes tes . E les reco lhem os

an ima is e ma is n inguém se fe re .

Pa t r íc ia tem a v i são de onde tan tos

esco rp iões v ie ram. É uma ob ra i lega l da

p re fe i t u ra que es tá sendo fe i ta p róx ima

ao ho te l . E la pede pa ra a v ig i l ânc ia i r

a té o loca l e e les con f i rmam sua

suspe i ta . Todos agradecem o casa l .

Os do is vão embora fe l i zes por

te rem a judado.

- A inda bem que deu tempo de

pega rmos o av ião !

- É mesmo. R i , como você

consegu iu faze r aqu i lo? Fo i

impress ionante .

- Esqueceu que eu sou o Supe rpe t?

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- É mesmo. Podemos não usar

un i fo rmes, mas não de ixam os de sa lvar

v idas e a juda r pessoas!

Os do is chegam em casa e reúnem -

se com seus fami l ia res . E les con tam a

aven tu ra com os esco rp iões a todos .

- L i l i , tenho a lgo que é mu i to

impor tan te p ra m im e que ro que f i que

com você . – d i z Pa t r íc ia .

- O que é?

- Meu d iá r io ! Lá es tá esc r i to mu i to

sob re m inha v ida , mas tem a lgo que é

ma is impor tan te a inda que e ra meu

sonho de se r a Supe r teen .

- Pa ty, que r ia se r i gua l a vocês . . .

- I gua l como?

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- Te r poderes , pode r a juda r as

pessoas, se r uma supe r -he ro ína .

- Todos podem se r he ró is . As

pessoas não p rec isam de supe rpode res

pa ra faze r co isas em favo r ao p róx imo. É

c la ro que fac i l i ta nós te rmos esses

pode res , podendo enxe rga r ma is longe ,

tendo v isões , f l u tuando ou fazendo

comun icação com an ima is , mas ex is tem

pessoas que são mu i to espec ia is e

a judam mu i to e não p rec isam de

supe rpode res . – fa la Pa t r íc ia .

- Vou da r a lguns exemplos , ex is tem

pessoas que reco lhem doações e

d is t r ibuem pa ra pessoas ca ren tes ,

a lguns vão aos loca is onde ocor rem

ac iden tes pa ra soco r re r v í t imas e da r

apo io à s pessoas , ou t ros a r r iscam suas

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v idas pa ra sa lva r pessoas, por exemp lo ,

os bombe i ros . – f a la R ica rdo .

- E ou t ros , a lém do dom e do bom

coração , são méd icos e ve te r iná r ios . –

so r r i L i l i .

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188 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

A Autora:

Meu nome é Maya ra Ve l la rd i

P inhe i ro , nasc i e m 04 /09 /1985, em São

Pau lo . Sou fo rmada em jo rna l i smo pe la

Un ive rs idade São Jud as Tadeu desde

dezembro de 2006 e pós g raduada em

Técn icas da Es t ru tu ra Gramat ica l e

Tex tua l da L íngua Por tuguesa .

Amo meu t raba lho . Esc reve r um

l i v ro sempre fo i um sonho , come ce i a me

apa ixona r pe la a r te da esc r i ta e compor

poemas e pensamentos quando t inha

nove anos.

Quando eu es tava cursando

co leg ia l técn ico em Pato log ia C l ín ica em

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189 | M a y a r a V e l l a r d i P i n h e i r o

2002 , uma p ro fesso ra de H is tó r ia me

deu mu i to apo io pa ra en t ra r em um

concu rso de poes ia sob re a Revo lução

Cons t i tuc iona l is ta de 1932, que a

Assoc iação Comerc ia l de São Pau lo

p romoveu pa ra todo Estado de São

Pau lo . E pa ra m inha su rp resa ganhe i em

p r ime i ro lugar na m inha ca tego r ia !

I sso fo i um grande impu lso para

mod i f i ca r a lgumas de c isões e mudar da

á rea da saúde pa ra a á rea da

comun icação, en tão reso lv i cu rsar

Jorna l i smo .

Após en f ren ta r mu i tas d i f i cu ldades

e des i lusões na á rea , dec id i apos ta r na

á rea da saúde novamente , cu rse i quase

um ano de Farmác ia e B ioqu ím ica ,

con fesso que gos te i bas tan te e q ue

consegu i boas no tas e empregos e

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190 | O i m p o s s í v e l p o d e a c o n t e c e r

estág ios com mu i ta fac i l idade , mas

pe rceb i que não e ra o que eu que r ia

pa ra m inha v ida , en tão comece i a pós

g raduação e consegu i emprego na á rea

da comun icação .

Mas a inda não es tava sa t i s fe i ta ,

f a l t ava a lgo , en tão no te i que eu

p rec isava escreve r e aqu i es tou ,

l ançando meu pr ime i ro l i v ro .

A lém d isso , eu sempre gos te i mu i to

da á rea a r t ís t ica , se r ba i la r ina , can to ra

e a t r i z de uma vez só , um grande sonho.

Uma a r t is ta comp le ta ! Mas a v ida nos

mos t ra d i f e ren tes caminhos e aqu i

es tou , j o rna l i s ta e escr i t o ra , m is tu rando

sonhos e rea l idade pa ra o le i to r se

d i ve r t i r e en tender um pouco ma is sobre

uns cer tos po rquês da v ida .