o grande triunfo
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Um estudo sobre a vitoriosa doutrina da expiação. Era realmente necessário Cristo morrer? O que sua morte significou? Qual o resultado dela? Por quem Cristo morreu? Ebook gratuito do blog Vida de Graça. www.vidadegraca.comTRANSCRIPT
Vida de Graça
O Grande Triunfo
A vitoriosa doutrina da expiação
E-book gratuito do blog Vida de Graça.
Material de livre publicação e impressão desde que não alterado e citada a fonte.
Autores: Pedro Pamplona e Matheus Fernandes
Criação e Edição: Pedro Pamplona
Revisão: Laryssa Nóbrega
www.vidadegraca.com Facebook/doutrinasdagraca
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Índice
Introdução: Deus Fez Tudo Isso.......................................................................................3 A Necessidade da Expiação [Pedro Pamplona]................................................................5
A Natureza da Expiação [Pedro Pamplona].....................................................................9
A Perfeição da Expiação [Matheus Fernandes]...............................................................13
A Extensão da Expiação [Pedro Pamplona]....................................................................16
Adendo: Então o que dizer sobre estes versículos? [Matheus Fernandes]......................20
A Beleza da Promessa de Romanos 8 [Pedro Pamplona]...............................................26
Bibliografia......................................................................................................................28
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Introdução
Deus Fez Tudo Isso
A sociedade local ficou perplexa quando Jesus encontrou aquele cego de nascença no
capítulo 9 do evangelho de João. A transformação foi tão grande que muitos queriam
saber o que realmente tinha acontecido. “Como foram abertos os seus olhos?”,
perguntaram. Houve incredulidade, dúvidas e ameaças. Quando o ex-cego falou sobre
Jesus, novamente questionaram: “O que ele lhe fez? Como lhe abriu os olhos?”. A
resposta mais conhecida daquele homem foi: “Não sei, só sei que eu era cego e agora
vejo”. Ele não disse apenas isso, mas infelizmente é com essa parte do relato que
ficamos. Muitos levantam a ideia de que, como o cego, não precisamos conhecer ou
responder sobre Jesus e sua obra. Infelizmente a bandeira antidoutrina é hasteada em
muitas igrejas.
Graças a Deus que a história não acaba assim. Jesus entra em cena de novo. E cada vez
que nosso Salvador entra em cena algo extraordinário acontece. Dessa vez ele decide
revelar-se ao homem como o “Filho do homem”. Jesus venceu o desprezo da sociedade
para levar revelação e salvação. Fé e adoração vieram logo depois, e é isso que acontece
à medida que conhecemos mais sobre Jesus e sua obra. Nenhum homem fica da mesma
maneira quando se encontra diante da perfeita pessoa e obra de Cristo. Experimente
isso!
Esse pequeno livro tem o objetivo de lhe ajudar a meditar especialmente na morte de
Jesus e o que ela representa para nós. Como Ele abriu nossos olhos? O que Ele fez?
Como fomos salvos? Nossa revelação está na Palavra de Deus e é de lá que nos
comprometemos em retirar as respostas. Nosso objetivo é apresentar a você um resumo
da doutrina da expiação. Não se assuste se você não entende muito sobre essa palavra,
vamos explicá- la melhor. Não temos a intenção de esgotar o assunto, mas lhe dar o
empurrãozinho para o mergulho nas profundezas do conhecimento de Cristo. Era
realmente necessário Cristo morrer? O que esse sacrifício significa? Qual o seu
resultado? Por quem Cristo morreu? Tentaremos expor as respostas em cada capítulo.
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Antes de partimos para o estudo propriamente dito é necessário fazer uma importante
observação: Deus fez tudo isso. Planejado desde a eternidade. Nada fugiu ao controle
soberano de Deus. Nada o pegou de surpresa. Não houve nenhum plano B ou atalho.
Quando perguntamos quem é o responsável pela morte de Jesus Cristo, a resposta final
é Deus, seu próprio Pai. Nisto Ele nos mostra seu imenso amor. O Evangelho é
justamente o controle de Deus em amor e justiça sobre todos os fatos da expiação de
Jesus, inclusive a cruz.
“Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram,
não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; Para fazerem
tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia
de fazer.” Atos 4:27-28
O acaso ou obra de homens não representaria o amor soberano e eletivo de Deus por seu
povo. Tudo estava nas suas mãos em favor de nós para a sua glória. Não esqueça de se
sentir amado em cada linha que você ler nesse livro. Não esqueça de agradecer por cada
aspecto dessa expiação. Não esqueça de adorá- lo com toda a sua vida depois de cada
leitura. Deus nos deu tudo. Deus nos deu a si mesmo.
Soli Deo Gloria Pedro Pamplona
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A Necessidade da Expiação
Quando os ovos de chocolate começam a encher os supermercados minha mente se
volta em especial para o Calvário. A semana santa nos lembra de tudo que acontece
antes, durante e depois da subida de Jesus naquele monte. O ápice da paixão de Cristo é,
sem dúvidas, a cruz. Ali estava o grande triunfo! E é para lá que meus olhos se voltam,
não para o coelho, mas para o cordeiro. O que o Rei dos reis estava fazendo ali? Não é
tão simples assim responder. A cruz revela uma doutrina difícil e gloriosa: a expiação.
Cristo pagou o preço pelos nossos pecados. Cristo cobriu os nossos pecados com seu
sangue. Ele nos expiou, e isso deve ser motivo de grande alegria, gratidão e temor.
Wayne Grudem define dessa maneira:
“A expiação é a obra que Cristo realizou em sua vida e morte para obter nossa
salvação”. (Grudem, 2007, pag 271) Mesmo que o ápice ou maior símbolo desta doutrina esteja na cruz, é importante
lembrar que a vida justa e sofrida de Jesus também contribui de forma indispensável
para nossa salvação. Falaremos mais disso no próximo artigo. Sendo assim, aquela
pergunta continua. O que o Rei dos reis estava fazendo ali? Ou melhor, não haveria
outra pessoa ou outro jeito para nossa salvação? Responderemos que não, mas antes
precisamos dar uma olhada em outros tipos de resposta.
A Expiação não era necessária
Alguns teólogos, principalmente na idade média, negaram a necessidade da expiação.
Para eles, a morte substitutiva de Cristo foi fruto de uma decisão arbitrária de Deus.
Para Duns Scotus, por exemplo, Deus poderia ter aceitado qualquer outro substituto ou
até ter redimido seu povo sem nenhuma obra de satisfação. Hugo Grócio, responsável
pela teoria governamental da expiação seguiu a mesma linha de pensamento, dizendo
que a cruz foi apenas uma demonstração moral do ódio que Deus tinha pelo pecado, o
que poderia ser feito de outra maneira. A teologia liberal moderna também defende esse
ponto de vista. Para os liberais, influenciados por Schleiemacher, a cruz não tinha um
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poder judicial, mas apenas moral, para influenciar o homem ao arrependimento e
salvação. Assim, negavam também a necessidade da expiação.
A Expiação era hipoteticamente necessária.
Grandes teólogos como Atanásio, Agostinho, Tomás de Aquino e até Lutero e Calvino
defenderam a posição de que, pelo decreto divino, a expiação se tornou necessária. Em
outras palavras, poderia haver outro modo, mas Deus soberanamente escolheu e
decretou que esse seria o único meio de salvação. Berkhof cita o grande reformador:
“Diz Calvino: Interessava-nos profundamente que aquele que havia de ser o nosso
mediador, fosse verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Se indagasse sobre a
necessidade, esta não era o que comumente se chama necessidade simples e absoluta,
mas, sim, a que fluiu do decreto divino, do qual dependia a salvação do homem. O que
era melhor para nós, nosso misericordioso Pai determinou.” (Berkhof, 2012, pag 339)
A expiação era absolutamente necessária.
Essa reposta foi dada por Irineu na igreja primitiva e por Anselmo na idade média. A
teologia reformada e suas confissões deram preferência a ideia de que não havia
nenhum outro jeito pelo qual Deus poderia perdoar os pecados dos seus eleitos. Aqui
John Murray faz uma observação importante. Ele adiciona o temo “consequente” para
explicar que a morte de Cristo se fez necessária pelo anterior decreto de salvação de
Deus. Ou seja, Deus não tem a necessidade absoluta de salvar qualquer homem que
seja, mas a morte de Cristo se tornou absolutamente necessária para a salvação que
Deus, eternamente, escolheu promover. Murray explica: “a palavra consequente aponta
para o fato de que a vontade ou decreto de Deus para alguns resulta de sua livre e
soberana graça. Salvar homens perdidos não era necessidade absoluta, mas bondade
soberana de Deus.” (Murray, 2010, pag 13)
Essa também é a nossa reposta: A morte de Cristo, sua expiação, foi absolutamente
necessária. Repudiamos totalmente a primeira resposta por ser uma interpretação liberal
e falaciosa que não entende a seriedade do pecado, o caráter de Deus e o poder
sobrenatural da cruz. Para as outras duas, nos apoiamos no decreto de Deus, pois,
existindo outra maneira ou não, o importante no final é que “Deus o ofereceu como
sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça.
Em sua tolerância, havia deixado impunes os pecados anteriormente cometidos.”
Romanos 3:25.
Então, por que era absolutamente necessária? Deus e seus atributos são perfeitos
Isso significa que todos os atributos de Deus são eternos, ou seja, nenhum prevalece
sobre o outros, mas todos existem em igualdade perfeita. Ao compararmos justiça e
amor veremos que nenhum pode “vencer” o outro. Nem entre misericórdia e santidade.
Ira e bondade. Nenhum pode ser violado para que o outro seja exaltaldo. Ele não pode
ser apenas justificador, mas também é justo (Rm 3:26). Isso significa que Deus não
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poderia salvar o homem sem uma punição para o pecado. O caráter perfeito de Deus
nunca o permitiu fazer vista grossa para o pecado humano. Exôdo 4:7 proclama a
misericórdia de Deus, mas afirma que ele “não deixa de punir o pecado”. O profeta
Naum grita a Israel no versículo 3 que “o SENHOR não deixará impune o culpado.”
Naum 1:3. Concluímos que Deus não poderia deixar de punir os pecados. Sua lei não
muda jamais! Isso nos leva a verdade de Hebreus 9:22 que nos assegura que “sem
derramamento de sangue não há perdão”.
O sangue de animais não tem poder pra salvar
Poderia Deus, então, salvar através dos sacrificios instituídos no antigo testamento? De
jeito nenhum. Nenhuma criatura finita e caída poderia nos salvar eternamente para a
santidade. Aquela prática judaica era apenas uma sombra daquilo que viria acontecer no
calvário. Os sacrificíos de expiação estavam preparando o povo para o grande sacrifício
da Cruz. Só tinham valor porque o grande triunfo já estava decretado desde a eternidade
para o seu povo escolhido. A Bíblia é bem clara quando diz “A Lei traz apenas uma
sombra dos benefícios que hão de vir, e não a realidade dos mesmos. Por isso ela
nunca consegue, mediante os mesmos sacrifícios repetidos ano após ano, aperfeiçoar
os que se aproximam para adorar. Se pudesse fazê-lo, não deixariam de ser oferecidos?
Pois os adoradores, tendo sido purificados uma vez por todas, não mais se sentiriam
culpados de seus pecados. Contudo, esses sacrifícios são uma recordação anual dos
pecados, pois é impossível que o sangue de touros e bodes tire pecados.” Hebreus 10:1-
4 As boas obras ou sofrimentos humanos não tem poder pra salvar
Assim como os animais, sendo criaturas finitas e caídas, nenhum homem, por mais que
sofra e faça as mais excelentes obras tem poder para salvar a si mesmo, quanto mais a
outros. Segundo Romanos 3 todos pecaram e estão numa situação que ninguém é capaz
de ser justo e de buscar a Deus. O apóstolo Paulo enfatiza que “ninguém será declarado
justo diante dele baseando-se na obediência à lei, pois é mediante a lei que nos
tornamos plenamente conscientes do pecado.” Romanos 3:20. Nos encontramos
incapazes de qualquer tipo de auto salvação. Além disso, nos encontramos incapazes de
qualquer cooperação com Deus para ajudá- lo a nos salvar. O pecado não é somente um
desvio moral, mas uma situação de condenação judicial irrevogável por meios terrenos.
Esse meio de salvação está totalmente descartado.
Só em Jesus tem poder pra salvar Só em Jesus encontramos a resposta completa para o dilema da salvação. Como um
Deus santo e justo salva homens pecadores e culpados? Através da vida perfeita, divina
e humana, da morte perfeita, divina e humana, e da ressurreição perfeita, divina e
humana da pessoa de Cristo. Aqui estamos afirmando as duas natureza de Cristo como
sendo a única possibilidade de salvação. Como um sacrifício pode nos expiar
eternamente? Somente se for feito por um ser eterno. Jesus. Como um sacrifício pode
nos representar perfeitamente? Somente se for feito por um homem completo. Jesus.
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Onde se manifestaria a ira e o juízo de Deus de forma plena pelo pecado? Nos
sofrimentos e morte de Jesus. Qual justiça e santidade seria nos dada para nos
representar diante de Deus? A justiça e santidade de Cristo. Que obra incomparável e
insubstituível! Por isso a Bíblia afirma: Pois há um só Deus e um só mediador entre
Deus e os homens: o homem Cristo Jesus” 1 Timóteo 2:5.
A oração de Jesus no Getsêmani nos revela essa necessidade da expiação. Em sua
grande angústia Cristo pediu para que o cálice da ira do Pai fosse afastado dele (Mt
26:39). Mas prevaleceu a vontade de Deus, como o próprio Jesus terminou sua oração.
Beber o cálice da ira de Deus é tarefa dura demais para ser feita diante de outra opção.
Não devemos imaginar que Deus escolheu derramar todo o seu furor contra o seu
próprio filho por capricho de ser a melhor opção dentro de possibilidade de outras. Foi
necessário Cristo sofrer como homem para se tornar sumo sacerdote e fazer propiciação
por nossos pecados (Hb 2:17).
Devemos nos alegrar e exaltar o nome de Deus pelo tamanho ato de amor por escolher
nos salvar mesmo pela única opção existente: a morte de cruz do seu filho unigênito.
Devemos nos alegar e exaltar o nome de Jesus pela sua coragem e altruísmo em aceitar
essa única opção e se entregar para pagar o preço no nosso lugar. Devemos nos alegrar e
exaltar o Espírito Santo que nos entregou e sustenta essa salvação em nós e por nós.
Glória seja ao Deus Trino por esse grande Triunfo!
“Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda
éramos pecadores.” Romanos 5:8
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A Natureza da Expiação
No calendário judaico a data mais solene do ano era o dia da Expiação – Yom Kipur.
Ninguém poderia trabalhar e o jejum era obrigatório. Tudo isso para um único propósito:
fazer a expiação. Naquele dia, somente o sumo sacerdote estava autorizado para
desempenhar seu papel ritualístico. Ali eram feitos sacrifícios pelo sumo sacerdote, pelo
santuário e pelo povo. Entre estes sacrifícios dois bodes eram apresentados diante do
Senhor. Um deles era morto e seu sangue derramado sobre o propiciatório, cobrindo a
arca com sangue. O outro bode era mantido vivo e todos os pecados do povo eram
confessados sob ele. Esse bode então era levado para fora da congregação para que
levasse embora os pecados do povo, completando o sacrifício expiatório. Se você não
sabe, é daqui que vem a expressão “bode expiatório”, que usamos para falar de alguém
que levou a culpa por outro(s).
Como vimos no capítulo passado, isso era apenas uma sombra do grande sacrifício
expiatório na Cruz. A lei judaica estava preparando o povo para o grande e verdadeiro
triunfo. Por isso, o Antigo Testamento é fundamentado para entendermos a natureza, ou
significado total da expiação. Em sua Teologia Sistemática Franklin Ferreira apresenta
três palavras hebraicas importantes que são traduzidas para expiação. São Elas:
• “Kãpar”- Berkhof argumentou que seu significado é cobrir, mas pode ter seu
original em resgatar e também perdoar.
• “Pãdâ” – A raiz dessa palavra nos leva a noção de comprar ou transferir a posse
de algo, de uma pessoa para a outra, uma vez que o preço foi pago.
• Gã’al – Essa palavra é usada para representar a redenção ou resgate feito por um
parente próximo, como no caso de Rute, que foi redimida por Boaz.
Essa análise dos termos originais do Antigo Testamento nos dá uma boa base do
significado da expiação. Poderíamos dizer que é a redenção promovida por Cristo ao
cobrir nossos pecados pelo preço que foi pago por ele mesmo na cruz. Quando falo “na
cruz” estou me referindo a todo o plano e obediência que levaram Cristo à cruz, que o
mantiveram lá e que o tiraram de lá. A obra da expiação estava sendo executada desde o
nascimento de Cristo até sua ressurreição. Podemos separar teologicamente essa
obediência de Cristo em todos tipos: passiva e ativa.
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Obediência Passiva Esse tipo de obediência diz respeito ao fato de Jesus ter sofrido a penalidade pelos nossos
pecados, tanto em sua vida como na sua morte. Aqui nosso Mestre estava sendo obediente
a todo o castigo que Deus colocou sobre seus ombros (Isaías 53). Não devemos pensar
que só o sofrimento da cruz contou, mas o de toda a sua vida. Wayne Grudem especifica
esses sofrimentos da seguinte forma: (1) Os sofrimentos e tentações da vida toda. (2) A
dor da cruz, se referindo a grande angústia pelo que o esperava. (3) A dor física e a morte,
do modo mais cruel conhecido. (4) A dor de suportar o pecado, em relação ao fardo
psicológico. (5) A dor do abandono pelo Pai, expressa pelo seu grito de angústia na cruz.
(6) A dor de suportar a ira de Deus, com certeza o pior dos sofrimentos de Cristo.
Não é a toa que Ele é chamado de “homem de dores” (Is 53:3). Elas não foram poucas.
Elas não foram amenas. Mas elas foram por nós. Todas essas dores tinham um objetivo
final e vitorioso: salvar seus eleitos. Mesmo sendo o Rei dos reis ele obedeceu a tudo
calado. Que amor tremendo. “Ele foi oprimido e afligido, contudo não abriu a sua boca;
como um cordeiro foi levado para o matadouro, e como uma ovelha que diante de seus
tosquiadores fica calada, Ele não abriu a sua boca.” Isaías 53:7
Obediência Ativa Essa obediência representa a justiça que Cristo conquistou para nós. Ele viveu a vida santa
e perfeita que nos é creditada diante de Deus. Nossa salvação não depende somente de
uma ficha limpa, mas de uma ficha preenchida de justiça e santidade. Wayne Grudem
define assim: “Cristo teve de viver em perfeita obediência a Deus a fim de obter a retidão
para nós. Ele teve de obedecer a lei por toda a vida a nosso favor, de modo que os méritos
positivos de sua obediência perfeita pudessem ser atribuídos a nós.” (Grudem, 2007, pag
273)
Por isso, mesmo com os pecados perdoados, não cremos na nossa obediência ou santidade
como boas obras aceitáveis diante de Deus. Nos apegamos ao que Cristo fez e somente
aos seus méritos perfeitos e eternos. A obediência passiva pode ser relacionada com a
palavra kãpar (cobrir/perdoar), já a obediência ativa com a palavra pãdâ (transferir). Se
juntarmos as duas temos a redenção de gã’al, ou seja, Cristo é um salvador completo!
“Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos
pecadores, assim também, por meio da obediência de um único homem muitos serão
feitos justos.” Romanos 5:19
Algumas ideias erradas a cerca dessa natureza. Antes de continuarmos precisamos negar algumas ideias erradas a respeito da natureza da
expiação. Estamos aqui defendendo uma posição da expiação como uma substituição
penal, mas existem outras teorias errôneas sobre a doutrina. Aqui apresentarei as
principais:
• A teoria do resgate pago a Satanás: Foi sustentando por Orígenes e outros
teólogos antigos, defendendo a tese de que Cristo pagou o preço do resgate a
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Satanás, para que esse libertasse as pessoas de seu reino. Não existe base Bíblica
para isso, além de ser uma forma de dualismo, heresia conhecida.
• Teorias morais: Reunirei num só ponto as teorias que tratam a cruz apenas como
um poder de influência moral. A teoria da influência moral, defendida por Pedro
Abelardo, sustentava que a cruz serviu apenas de demonstração do grande amor
de Deus, com o objetivo de nos motivar a amá- lo de volta e sermos gratos,
alcançando a salvação. A teoria do Exemplo, ensinada pelos socinianos é bem
parecida, com a diferença que essa nos ensina a como viver, em obediência e
santidade, com o exemplo de Cristo. Já a teoria Governamental de Hugo Grócio
e até mesmo do puritano Richard Baxter sustenta que a morte de Cristo não pagou
o nosso preço, mas só serviu de demonstração da justiça de Deus em relação ao
pecado, para mantê- lo como governador moral do universo. Devemos rejeitar
essas teorias por negarem o aspecto judicial da cruz.
• Teoria da morte espiritual: Essa nova teoria é vista no contexto neopentecostal
da teologia da prosperidade e defende que Jesus morreu espiritualmente e foi ao
inferno, onde sofreu durante três dias por nossos pecados. Isso coloca o ápice do
triunfo no sofrimento no inferno e não na cruz, e por isso devemos evitá- la, assim
como o resgate pago a satanás.
Poderíamos falar de algumas teorias liberais, mas isso demandaria um pouco mais de
linhas e estudo. O que importa é ficarmos com a teoria da satisfação penal que foi muito
bem proposta por Anselmo e complementada por Calvino:
“Portanto, nosso Senhor adiantou-se como verdadeiro homem, revestiu-se da pessoa de
Adão, assumiu- lhe o nome, para que, em obedecendo- lhe, fizesse as vezes do Pai, para
que apresentasse nossa carne como o preço de santificação ao justo juízo de Deus, e na
mesma carne pagasse completamente a pena que havíamos merecido. Uma vez que,
afinal, nem podia, como somente Deus, sentir a morte, nem como somente homem, podia
superá-la, associou a natureza humana com a divina, para que sujeitasse à morte a
fraqueza de uma, no afã de expiar pecados; e, sustentando luta com a morte pelo poder da
outra, nos adquirisse a vitória”. (Ferreira, 2007, pag 586)
Essa é a natureza da expiação: uma satisfação penal pela qual Deus perdoou a dívida pela
morte de Cristo e nos atribuiu a justiça pela vida de Cristo.
E para encerrarmos, precisamos ver quatro necessidades que são satisfeitas pela obra
expiatória de Jesus. Assim essa obra vitoriosa se resume:
1. Sacrifício: Cristo pagou o preço pelos nossos pecados com sua vida. “Mas agora
ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado
mediante o sacrifício de si mesmo” (Hb 9:26)
2. Propiciação: Pelo seu sacrifício Cristo removeu a Ira de Deus que era contra nós,
tornando Deus e seus eleitos propícios para um relacionamento salvador. “Nisto
consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas que ele nos amou
e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.” (1 Jo 4:10)
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3. Reconciliação: Após a propiciação, Cristo no uniu ou reconciliou com Deus para
o relacionamento salvador propriamente dito. O Deus-homem é o elo ente Deus e
o homem. “nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o
ministério da reconciliação” (2 Co 5:18)
4. Redenção: É o resgate de Deus para nos libertar da escravidão ao pecado e de
Satanás. A comparação com um resgate humano não é boa, já que o preço pago é
aceito por Deus, mesmo que ele não seja o apr isiona dor. “nos resgatou do domínio
das trevas e nos transportou para o Reino do seu filho amado” ( Cl1:13)
John Murray resume da seguinte maneira: “Assim como o sacrifício se direciona para a necessidade produzida por nossa culpa, a
propiciação à necessidade que se origina por causa da ira de Deus, a reconciliação à
necessidade originada em decorrência da nossa alienação de Deus, a redenção está
direcionada à escravidão que o pecado nos imputou.” (Murray, 2010, pag 38)
Diante de tamanha salvação, tão significativa obra expiatória e enorme triunfo, só
podemos cantar como aquele antigo hino:
“Nada nas mãos eu trago, somente na tua cruz me agarro (Nothing in my hand I br ing,
Simply to Thy cross I cling – Rock of Ages)
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A Perfeição da Expiação
O tema da expiação é glorioso. Se corretamente entendido, não só ampliará a cosmovisão
do cristão, como o fará render mais graças ao Santo Deus. Para entender melhor a
expiação e nos maravilhar com ela, devemos ir além do que entendemos por “preço pago”,
“dívida quitada”, sem obviamente sairmos do que a Bíblia ensina. Devemos, em oração,
pedir que nosso entendimento seja ampliado sobre esse ensino tão maravilhoso.
Infelizmente, não poderei sequer fazer jus ao tema, mas desejo e oro para que possa
despertar a você, leitor, a buscar entender mais da perfeição da expiação.
1. Foi intencional
A expiação não foi um plano B de Deus, mas foi seu desígnio (At 2:23). Deus não foi
pego de surpresa com o pecado do homem e teve de arranjar um meio para aplaca- lo. Mas
a intenção de Deus em entregar Jesus para morte, foi juntar para si um povo que
eternamente desfrutará de Sua glória. O plano da expiação de Deus foi revelar sua
perfeição ao juntar para si um povo para desfrutar de Si, não porque Ele fosse obrigado,
mas por sua misericórdia e conselho divino, Deus quis um povo para si. A expiação é
intencional, pois Deus teve a intenção de ajuntar um povo (Jo 6:37,44).
Os Cânones de Dort afirmam: “Deus quis que Cristo lhes desse fé, que ele mesmo lhes
conquistou com sua morte, juntamente com outros dons salvíficos do Espírito Santo. Deus
quis também que Cristo os purificasse de todos os pecados por meio do seu sangue, tanto
do pecado original como dos pecados atuais, que foram cometidos antes e depois de
receberem a fé. Que Cristo os guardasse fielmente até o fim e finalmente os fizesse
comparecer perante o próprio Pai em glória, sem mácula, sem ruga.”
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Traz a nova aliança
No relato da última ceia, Jesus declara que o seu sangue será derramado para trazer uma
nova aliança (Lc 22:20), e uma aliança melhor que a de outrora (Hb 7:22). A expiação é
perfeita, pois é aquilo que proporcionou a concretização de uma aliança superior, que
revela o quanto Deus ama o seu povo. Apesar da desobediência, apesar da dureza de
coração, Deus renova a Sua aliança tornando-a ainda melhor, mais gloriosa. Ele renova
no seu povo o seu coração, Ele imprime o desejo e a vontade de adorá-Lo e de se
comprazer na Sua presença. Ele nos torna Seu povo, e se faz nosso Deus (Jr 31:31-34,
32:39-41, Ex 11:19, 36:26-27).
Temos acesso às promessas de Deus
A perfeição da expiação nos dá a garantia do cumprimento das promessas de Deus. As
promessas com Abraão e Moisés foram feitas com sangue de animais, ainda assim eles
creram. Então, quando devemos ser mais gratos a Deus por nossas promessas terem sido
afirmadas com o derramar do sangue do Cordeiro Santo? As promessas de vida eterna,
de não sermos arrebatados de Sua mão, de sermos preservados até o fim, de termos
comunhão com Ele, de termos irmãos a quem podemos confiar, de recebermos um corpo
glorificado livre de toda imundícia do pecado...
Somos amados como Noiva
Cristo amou a Sua Noiva de forma especial, de forma a derramar seu sangue por ela (Ef
5:25-27). Jesus exorta os homens a amarem em especial UMA mulher, como Ele amou
em especial a SUA Igreja. A Igreja foi comprada com o seu sangue (At 20:28), Cristo não
deu seu sangue por um projeto de Igreja, ou pelo que viu o que seria a sua Igreja, mas Ele
tornou Sua Igreja, o povo que Ele comprou. Jesus amou Sua Igreja, derramando Seu
sangue por ela. Quão gratos devemos ser a Ele, não por algo especial em nós, mas porque
fomos tornados especiais para Cristo!
Somos apaziguados da ira de Deus
A expiação de Cristo é a resposta para “Como Deus pode ser justo ao perdoar o
pecador?” A expiação é a justiça de Deus revelada pelo sacrifício de Cristo (Rm 1:17),
pois não há justiça onde não há um preço pago por ela e não há perdão pelos pecados
onde não há derramamento de sangue (Hb 9:22). A paz foi feita através do sangue
derramado, portanto assim adquirido a reconciliação com Deus (Cl 1:20). A expiação de
Cristo efetivamente reconcilia o pecador com Deus. Ela efetiva a reconciliação, não
meramente a disponibilidade. Alguém tem que pagar, nós ou Jesus. Mas o imperfeito
não pode pagar o infinito preço pelo pecado, pois é o pecado que o torna imperfeito. É
necessário que o perfeito, que nunca experimentou pecado pague o preço, e se o perfeito
cumpre o pagamento, a expiação é eficaz, é definitiva, é perfeita.
2. Foi feita por Cristo
Deus determinou que o Servo Justo verá a sua posteridade e que a vontade do Senhor
prosperará em Suas mãos (Is 53:10). Jesus salvará seu povo dos pecados deles (Mt 1:21),
levando seus pecados (Is 53:12) e se alegrará com o fruto do seu trabalho que fez ao
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justificar muitos (Is 52:11). Para que sejamos redimidos de toda iniquidade e sejamos
purificados, para Ele mesmo, sendo um povo exclusivamente seu, com zelo por suas obras
(Tt 2:14).
Cristo é o Sumo Sacerdote Jesus é a representação exata do Ser de Deus (Hb 1:3), Ele é superior a todos os sumos
sacerdotes do AT, pois eles eram humanos e precisavam pagar por seus próprios pecados
antes de oferecer o sacrifico pelo pecado do povo. Cristo, porém, é um sacerdote superior,
e todo superior abençoa o inferior (Hb 7:7). Cristo é o que tem pleno poder para oferecer
o sacrifício e ser o sacrifício para pagar pelo pecado do seu povo. Jesus não é como os
outros sacerdotes, pois ele foi tentado em todas as coisas, porém não pecou. Cristo é o
único que pode se compadecer de nossas fraquezas, pois Ele sabe como elas são, sem
nunca ter caído nelas (Hb 4:15). A supremacia do sacerdócio de Cristo cumpre a exigência
expiatória do pecado. Exigência essa que é do próprio Deus, de forma tal que só alguém
perfeito como Deus poderia cumpri- la. A expiação é perfeita, pois é exigida e cumprida
pelo próprio Deus, o Deus que se encarnou e se fez nosso Sumo Sacerdote.
Cristo tem toda a autoridade
Jesus tem toda autoridade nos céus e na terra (Mt 28:18), nEle habita toda a plenitude (Cl
1:19) e Cristo tem a preeminência sobre tudo (Cl 1:18). Ele tem um nome mais excelente
que os anjos, e está assentado à destra de Deus (Hb 1:3-4). De que forma diferente Jesus
poderia oferecer uma expiação se não fosse ela perfeita, definitiva e eficaz?
3. Cristo é por nós
A declaração de Paulo em Romanos 8:32 é motivo de multiplicada alegria. Se o sangue
de Cristo foi derramado em nosso favor, o que temos a nos preocupar? Quem nos acusará
ou será contra nós? Quem intentará algo sobre nós? O que mais poderemos pedir?
John Owen escreveu:
“Se Cristo apenas tivesse obtido os benefícios e não pudesse dá-los, então sua morte
talvez não salvasse ninguém! [...] Se uma coisa é obtida para mim, certamente deve ser
minha por direito, e tudo o que for meu por direito, há de ser meu de fato. Portanto, a
salvação que Cristo obteve há de pertencer àqueles para os quais Ele a obteve. Se é dito
‘sim, mas é deles sob a condição de crerem’, eu repito novamente: ‘mas a fé também é
dada por Deus’.
“Rocha eterna, que feri ,
quero abrigar-me em ti .
Possa o sangue que vert eu
e a água que perdeu do
pecado me lavar, de sua
ira me poupar.”
- Augustus Topl ad y
16
A Extensão da Expiação
Ler e ouvir sobre a perfeição da expiação é um conforto eterno para o coração de qualquer
cristão. O resultado definitivo e vitorioso da obra de Jesus com certeza faz parte da
“plenitude de alegria” que há na sua presença e das “delícias perpétuas” que Ele guarda
em sua destra (Salmos 16:11). Crer que a cruz salva eficazmente aqueles por quem Cristo
morreu é honrar aquilo que Jesus tanto sofreu para conquistar. Não distante dessa beleza
e esperança uma dúvida inquietante surge na cabeça de muitos. E deveria surgir mesmo.
Se a cruz salva todos os que são alvos do seu poder, isso quer dizer duas coisas, ou Cristo
não morreu por todos ou todos serão salvos.
Não somos universalistas, muito menos Jesus. A segunda afirmativa é totalmente falsa. Nem todos os homens serão salvos. É até de
assustar que cristãos usem a Bíblia para extrair dela tal ensino. Se isso fosse verdade, o
que faríamos com as diversas advertências e ensinos do próprio Jesus sobre o inferno ou
condenação eterna? Admitiríamos que ele estava mentindo com uma boa intenção de
anunciar o evangelho através do medo? Trataríamos como um mito criado por Jesus?
Nenhuma dessas posições respeita a inerrância bíblica e cristológica. Poderíamos citar
inúmeras passagens e fatos para refutar essa teoria, mas estaríamos fugindo do assunto.
Um versículo basta para dizer que os seguidores de Cristo não estão autorizados a serem
universalistas:
“Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.”(Jesus em
Marcos 16:16)
A insuficiente cruz do arminianismo
Bem, existe uma opção intermediária. Chegamos a ela depois de negarmos a perfeição da
expiação e colocarmos sua eficácia final na decisão humana. O arminiano dirá que Cristo
morreu por todos, mas nem todos serão salvos. Concluem, então, que a cruz abriu o
caminho de salvação para todos os homens que desejarem ser salvos. Para eles, a
finalidade da obra de Cristo foi tornar a salvação possível, apenas isso. Em outras
palavras, o fato de Jesus morrer na cruz não salva ninguém até que alguém decida, por
17
sua própria e pecadora vontade, aceitar tal obra. Não sei para você, mais isso sim me
parece estranho de ler.
Aqui faremos uma distinção interessante. Mesmo preferindo o termo “definitiva” vou
usar, para fins explicativos, o termo clássico da doutrina calvinista da expiação. Entre os
cincos pontos do calvinismo temos a expiação limitada, sendo alvo de duras críticas por
parte dos arminianos. “Como eles são capazes de limitar a obra de Jesus?” é o que gritam
por ai sem pensar um pouco. A verdade é que ambos, de alguma forma limitam a
expiação. E aqui está a grande diferença: O calvinista limita quantitativamente, já o
arminiano, qualitativamente. O fator limitador para o calvinista é a vontade de Deus. Para
o arminiano, esse fator repousa sobre a vontade do homem. Sobre isso J. I. Packer
escreveu:
“Quando os arminianos meramente dizem: “Eu não poderia ter obtido minha salvação
sem o calvário”, os calvinistas asseveram: “Cristo obteve para mim a minha salvação no
calvário. Os primeiros fazem da cruz o sine qua non da salvação; os últimos veem a cruz
como a real causa eficiente da salvação, derivando cada benção espiritual, com inclusão
da própria fé, da grande transação efetuada entre Deus e o seu Filho, e cumprida na colina
do calvário.” (Packer, 2013, pag 23) O que Jesus disse?
Poderíamos citar muitos textos bíblicos que usam uma linguagem definitiva e outros
assegurando o poder definitivo da expiação, mas nos contentaremos com as palavras do
próprio Jesus. Que grande contentamento!
• Sobre o seu sangue: Ao sentar à mesa na última ceia com seus discípulos, Cristo
falou a respeito do sangue santo e eficiente que seria derramando:
“Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo
testamento no meu sangue, que é derramado por vós” (Lc 22:20). Em primeiro,
vemos que Jesus está se referindo aos seus discípulos quando usa “vós”. Mas sei
que esse argumento não é totalmente conclusivo. Em segundo lugar, percebemos
que Cristo promete uma nova aliança através de seu sangue. E que aliança é essa?
Está registrada em Ezequiel 36:26-27:
“E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei
da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei
dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os
meus juízos, e os observeis.”
Não encontramos apenas possibilidades nessa aliança de Deus. Estamos vendo
que Ele está fazendo tudo e garantindo os resultados. Ele não só abre o caminho,
mas nos faz andar por ele. A nova aliança não é construída em cima de
possibilidades, mas na certeza que Deus salvará e santificará um povo escolhido
para si através da obra de Cristo. Amém!
• Sobre sua morte: Ao chegar no fim dos seus sofrimentos, antes de entregar seu
espírito ao Pai, Cristo nos revelou a perfeição de sua obra. Ele disse “está
18
consumado” (Jo 19:30). Deveríamos pensar mais sobre isso. Bem mais. Ele não
disse “está preparado”, “está aberto” ou “agora é com vocês”. Estava encerrado!
A obra foi feita por completo e nenhum acréscimo seria mais necessário para
completá-la ou torná- la eficaz. A palavra grega para essa expressão é “tetelestai”,
que também significa “totalmente pago” ou “dívida quitada”. Essa expressão era
usada no primeiro século quando um criminoso seria liberto após ter cumprido
sua pena. O juiz então o libertava e escrevia “tetelestai” na sua ficha criminal,
digamos assim. Temos um belo exemplo de como a obra de Cristo se assemelha
a isso:
“Havendo riscado o escrito de dívida que era contra nós nas suas ordenanças, a
qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a
na cruz” (Cl 2:14)
Se o escrito de dívida foi riscado e pregado na cruz não temos mais o que
acrescentar a essa obra. Tudo já foi feito e pago por Jesus aos seus eleitos. Num
dos seus belíssimos argumentos a favor da expiação definitiva, John Owen usa o
significado do termo “redenção” para defender esse ponto:
“Ora, o propósito de um resgate é obter a libertação daqueles pelos quais o preço
é pago. É inconcebível que um resgate seja pago e a pessoa ainda continue
prisioneira. Por conseguinte, como pode ser argumentado que Cristo morreu por
todos os homens, quando nem todos os homens são salvos? Somente os que estão
realmente livres do pecado podem ser aqueles por quem Cristo morreu.
“Redenção” não pode ser “universal”, como “romano” não pode ser “católico”.
A redenção tem que ser particular, visto que somente alguns são redimidos.”
(Owen, 2011, pag 63)
Sobre seu alvo: Em algumas passagens Jesus se refere à quem sua expiação se
destina. Em João 10:11-5 temos um belíssimo ensino de Jesus sobre seu sacrifício
salvífico:
“Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. Mas o
mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, e
deixa as ovelhas, e foge; e o lobo as arrebata e dispersa as ovelhas. Ora, o
mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas. Eu sou o
bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.”
Ele cuida das ovelhas e as conhece. Além disso, por duas vezes Jesus diz que é
por elas, suas ovelhas, que ele entrega a vida. Há um rebanho escolhido,
conhecido e cuidado por Jesus, pelo qual ele foi à cruz. Em João 17:11, ao orar
diante da proximidade de sua morte, Jesus pede ao Pai “guarda em teu nome
aqueles que me deste”. Existem outros versículos bíblicos que reforçam essa ideia
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de que sua morte foi por um povo específico: João 11:52 (filhos de Deus);
Romanos 8:33 (seus escolhidos); Atos 20:28 (sua igreja) e outros.
Eu sei em quais versículos você está pensando Aquelas passagens que dizem que Cristo morreu por todos ou que Deus deseja a salvação
de todos (1 Tm 2:3-6) saltam na nossa mente sempre que nos deparamos com a doutrina
da expiação definitiva. E isso é bom. Sinal que estamos indo a Bíblia para julgar o ensino
que diz vir dela. Precisamos ter cuidado com esses versículos, pois os universalistas os
usam para defender que todos, sem exceção, serão salvos. Não vou fazer a defesa aqui
neste momento (ver o próximo capítulo), mas quero indicar homens bem mais capacitados
para isso.
Em primeiro lugar, precisamos ter a noção que a expressão “todos” ou “todo o mundo”
tem usos diferentes na Bíblia assim como também no nosso português e situação diária.
Um exemplo claro é o texto de Lucas 2:1-3, onde César Augusto decretou que todo o
mundo se alistasse. É claro que o imperador não está se referindo a cada pessoa sem
exceção do mundo. O pastor Steve Lawson escreve no capítulo 10 do seu livro
“Fundamentos da Graça” os diferentes usos que as expressões “mundo” e “todos” podem
ter. Em segundo lugar, precisamos discernir entre a vontade preceptiva e decretiva de
Deus. Em outras palavras, na vontade moral e no decreto divino. Deus pode desejar algo
e decretar outro, inclusive o pecado. John Piper escreve um pequeno livro sobre isso
chamado “Deus deseja que todos sejam salvos?”. Indico a leitura desses dois materiais
para um estudo mais aprofundado dessa defesa da expiação definitiva. Um livro que você
também precisa ler é “Por quem Cristo morreu?” de John Owen, já citado aqui.
Uma coisa é certa Se você está lendo sobre essa visão da expiação pela primeira vez ou ainda é relutante em
aceitá- la, tenha certeza de uma coisa: Cristo morreu conscientemente e objetivamente por
você. Ele tinha você em mente quando subiu ao monte do calvário. Seu apego a cruz e
sua redenção não são fruto de uma meia obra que foi validada por você, mas de uma obra
completa de um salvador completo que fez tudo para assegurar que todas as suas ovelhas
seriam libertas das trevas para o seu reino. O grande triunfo não falhará jamais. Não existe
nenhuma gota de derrota na cruz. Cristo venceu no lugar de todos pelos quais ele morreu.
Que possamos descansar nessa verdade e adorá- lo como lhe é devido. Amém!
20
Adendo: Então, o que dizer sobre estes versículos?
Viemos apresentando alguns argumentos a respeito da expiação limitada, ou definitiva.
Ela é necessária, pois Deus é perfeito em seus atributos. Sua natureza é substitutiva em
benefício dos eleitos. É perfeita, pois cumpre o seu propósito eficazmente. E é limitada
à Igreja, ao Povo de Deus, seus filhos, suas ovelhas. Ainda assim, alguns versículos
podem causar dúvidas, e confesso que eu mesmo lutei contra essa doutrina por algum
tempo por causa desses versículos. Podemos ainda ter concordado até aqui sobre a
Expiação Limitada, porém não estarmos aptos a defendê- la se argumentos baseados
nesses versículos, que aparentemente advogam uma expiação universal, forem
apresentados. Se cremos em uma doutrina, devemos estar aptos a defendê- la, caso
contrário, qual será a razão de nossa fé?
Sem mais delongas, analisarei aqui quatro passagens que podem causar dúvida. Minha
intenção não é exaurir todas, mas apresentar algumas que considerei principais.
Admitindo a consistência bíblica, sua inerrância e clareza, podemos avaliar novas
passagens individualmente e constatar a defesa da Expiação Limitada.
1. Cristo não deseja que todos sejam salvos?
Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações,
intercessões, e ações de graças, por todos os homens; Pelos reis, e por todos os
que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em
toda a piedade e honestidade; Porque isto é bom e agradável diante de Deus
nosso Salvador, Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao
conhecimento da verdade. (1 Timóteo 2:1-4)
Uma crítica levantada contra a Expiação Limitada é que “se Cristo morreu só pelos
eleitos, como pode ser a vontade de Deus que todos se salvem?” Porém, Paulo inicia
o capítulo chamando os crentes a orarem, intercederem e darem ações de graças por
todos homens (v.1), e explica que homens são esses; os reis e todos que estão em
eminência (v.2). Paulo motiva-nos a fazer isso, pois assim teremos uma vida
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sossegada e quieta, com piedade e honestidade. E diz o motivo de devermos orar por
eles, “porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que
todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade”. Ora, já foi
explicado que esse “todos os homens” não se refere a cada individuo do planeta,
mas sim a cada tipo de pessoa referente a sua posição de eminência. Deus não é só
dos pobres e necessitados, mas também dos empresários e homens de prestigio.
Deus não é só para o cidadão, mas para o deputado, presidente, governador. É da
vontade de Deus salvar do pobre ao rico, do subordinado ao chefe, do cidadão ao
presidente. Todo o tipo de pessoa.
A questão de explicação pode ser ainda dada se usarmos a outra carta de Paulo a
Timóteo:
E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com
todos, apto para ensinar, sofredor; Instruindo com mansidão os que resistem, a
ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade,
E tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade
dele estão presos. 2 Timóteo 2:24-26
Vemos que é Deus quem dá o arrependimento, mediante a pregação. Porém, nem
todos se arrependem, logo Deus não dá o arrependimento a essas pessoas. Ainda
poderíamos discutir aqui sobre a vontade de Deus, porém esse assunto estenderia o
artigo e perderíamos o enfoque proposto. Sigamos para o próximo versículo.
2. Deus não quer que todos se arrependam?
O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas
é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que
todos venham a arrepender-se. 2 Pedro 3:9
E então? Ele quer que todos se arrependam? Ao que respondo: “Sim!”. Porém,
quem são esses todos? Para isso, devemos saber para quem Pedro estava
escrevendo. Vejamos o versículo 1 desse capítulo.
Amados, escrevo-vos agora esta segunda carta, em ambas as quais desperto
com exortação o vosso ânimo sincero; 2 Pedro 3:1
Temos duas informações. A primeira é que Pedro se refere aos seus destinatários
como “amados” e diz que essa é a segunda carta que ele manda para eles. A segunda
carta de Pedro é para os mesmos da primeira, e quem são eles?
Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia,
Capadócia, Ásia e Bitínia; Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em
santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo:
Graça e paz vos sejam multiplicadas. 1 Pedro 1:1-2
22
Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé
igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo:
2 Pedro 1:1
O destinatário da segunda carta são os eleitos de Deus, eleitos segundo a presciência
não no sentido de previsão de fé, mas de que aqueles que Deus elegeu
incondicionalmente seriam de fato chamados. A carta se destina aos que alcançaram
a fé! Então, quem são todos senão todos os eleitos de Deus? Quem se arrependerá
senão todos aqueles por quem Cristo morreu e expiou seus pecados?
Ainda temos a informação que “Deus não retardada sua promessa”, porém todos
recebem as promessas de Deus? Quem as recebe senão seu povo? Quem as tem
senão aqueles por quem Cristo morreu? Se fosse todos que chegariam ao
arrependimento, a promessa não seria retardada para todos. Porém, nem todos
recebem promessas de Deus, nem mesmo a promessa de vida eterna. Daqui vemos
ainda uma promessa de sobremaneira reconfortante. Deus não quer que seus eleitos
se percam. O cuidado eterno, a impossibilidade de se perder a salvação, a eficácia da
salvação: a perseverança dos santos.
3. Deus não quis ajuntar seus filhos assim como a galinha ajunta os pintinhos?
Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são
enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os
seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram Mateus 23:37
A resposta a esse versículo é mais simples do que parece. Jesus, no começo do
capítulo, começa a falar sobre os fariseus e escribas, descrevendo a sua insensatez,
prepotência e justiça meramente externa. Jesus ainda profere a cascata de “ais”
contra eles. Os Ais significam o contrário de uma bem-aventurança, sendo essa uma
benção, os Ais são maldições. Quando Jesus diz então “Jerusalém, Jerusalém” ele
está se referindo às autoridades de Jerusalém, aqueles que são os mestres da Lei e
que se assentam na cadeira de Moisés (v.2), aqueles que fazem tudo para serem
vistos e aclamados (v.5), que gostam de serem chamados de rabi (v.8), que querem
ser chefes (v.10). Quando Jesus se refere aos filhos, ele está falando dos filhos de
Jerusalém, os seguidores dos que se diziam mestres, autoridades, rabis. “Seus
filhos”, portanto, é o povo “comum”, aqueles que eram influenciados pelas
autoridades da Lei. Chegamos a confundir o versículo, pois pensamos que OS
FILHOS não quiseram ser reunidos. Porém, a verdade é que Jerusalém, AS
AUTORIDADES, não quiseram que os pintinhos fossem ajuntados, e fizeram isso
matando profetas e apedrejando quem Deus enviava. Essa condenação então, é uma
advertência às autoridades de Jerusalém que se colocavam contra a obra de Deus de
salvar os seus tal qual a galinha ajunta os seus pintinhos. E quanta informação temos
aqui, Jesus tem filhos e quer ajuntá- los! Ele tem suas ovelhas!
4. Jesus não justificou a todos assim como o pecado entrou a todos por meio de Adão?
23
Consequentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação
de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação
que traz vida a todos os homens. Romanos 5:18
A confusão aqui pode beirar um universalismo (a doutrina que todos serão salvos).
Heresia braba! Podemos pensar: a condenação veio para todos os homens por meio
de Adão e todos são pecadores, logo a justificação é igualmente para todos os
homens. Mas se todos são são justificados, todos seriam salvos. Se condenasse
aqueles a quem justificou, Deus seria injusto. Poderemos incorrer no erro que a
condenação não veio para todos, ou seja, existem pessoas sem pecado. O que é um
absurdo! Saímos do absurdo do universalismo para o absurdo de existirem pessoas
sem pecado! Como resolver esse impasse? Advinha só! Isso mesmo, vamos analisar
o contexto.
Se pela transgressão de um só a morte reinou por meio dele, muito mais
aqueles que recebem de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da justiça
reinarão em vida por meio de um único homem, Jesus Cristo. Romanos 5:17
Temos aqui outro paralelo entre Adão e Jesus. Vemos que por meio de Adão reinou
a morte para todos, mas a graça de Cristo venceu a morte com o reinado de vida.
Sobre isso Calvino escreve:
“O significado da passagem como um todo é o seguinte: visto que Cristo suplantou a Adão, o pecado deste é absorvido pela justiça de Cristo. A maldição de Adão é
destruída pela graça de Cristo, e a vida que Cristo conquistou, tragou a morte que procedeu de Adão.”
Porém existem diferenças entre Adão e Cristo. Sofremos pelo pecado de Adão não
somente por imputação, como se estivéssemos sendo punidos pelos pecados de
outro, mas nós também somos culpados porque nós pecamos. Porém, somos justos
somente pela imputação da justiça de Cristo em nós. O dom da justiça não foi uma
qualidade que fomos dotados por Deus, não há justiça alguma em nós, mas uma
imputação por causa da graça de Deus. A segunda diferença, e é essa que vai
explicar melhor o verso seguinte, é que o benefício de Cristo não é concedido a
todos os homens da mesma forma que a condenação de Adão. Como pode? Ora, a
Bíblia nos diz que somos por natureza filhos da ira (Ef 2:1). E isso inclui toda a
humanidade, pois não pode haver alguém sem pecado, como já sabemos. Porém,
para participarmos da graça de Deus, temos que nascer de novo (Jo 3:7), e que todos
os que são filhos de Deus, não nasceram da vontade do homem, nem nasceram (para
Deus) de forma natural, mas da vontade de Deus (Jo 1: 12-13). Aqueles que
portanto estão sob a condenação são aqueles que por natureza são filhos de Adão,
mas aqueles que recebem a graça são aqueles que tiveram sua natureza mudada por
Deus, que nasceram de novo, são aqueles que foram regenerados pelo Espírito. Os
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grupos então, são distintos. Passemos agora para o versículo seguinte e o motivo de
desentendimento.
Paulo mostra que a consequência é que, por causa da natureza herdada pela
transgressão de Adão, todos os homens estão sob condenação, mas graças a natureza
nos dada por meio de Cristo, todos os que nasceram de novo são justificados. E a
justificação traz a vida. É valido lembrar que no verso 18, Paulo nos diz a respeito
do oferecimento dessa graça a todos os homens, não que se estenda a todos. Cristo
morreu pelo mundo sem distinção, porém essa graça salvadora não é recebida por
todos (v.17), porquanto se forsse recebida todos (individualmente) seriam
justificados.
Lembremos que Paulo começa o capítulo chamando aqueles que foram justificados
por Cristo e o capítulo quatro começa com uma pergunta sobre justificação,
terminando com a resposta que a justificação É a entrega pelos pecados. É o ato
definitivo de remoção do pecado. SE fosse possível não saber a cerca de nossa
justificação e perdão dos pecados, e de fato Cristo tivesse morrido por eles, ainda
assim seríamos salvos, pois não haveria mais culpa a ser imputada. Porém, bem
sabemos que a fé provém do ouvir da Palavra de Deus, de forma que Deus através
dos meios de graça não só salva, mas provê o meio. Por isso a fé é proveniente da
regeneração, porque o pecado da incredulidade foi pago por meio do sangue de
Cristo. É o sangue que Cristo que nos redime e remove a ofensa que nos
impossibilitava de conhecê- lO (Ef 1:7). Como já disse o pregador "A fé é um dom
tão gracioso que advém da própria cruz de Cristo". A redenção implica em
liberdade, aqueles que ainda estão presos, mesmo que não se percebam presos ou
apresentem obras semelhantes aos libertos, só são DE FATO livres se forem
redimidos. Visto que alguns morrem na escravidão dos seus pecados e sem a fé
salvadora, não foram redimidos, logo a redenção é particular e não universal.
O sangue é para eleitos. Se a expiação é universal, qualquer pessoa poderia
participar da Ceia! Pois, o sangue ali representado teria sido derramado por aquela
pessoa, mesmo ela não sendo crente. Porém, isso é tão absurdo que acredito que não
preciso me justificar. A Ceia é celebrada pelos crentes em memória do sacrifício de
Cristo, porque é o sangue que nos torna crentes. Irmãos, isso é motivo de
regozijarmos! Não é uma mera informação, mas pare e medite no que foi dito acima.
A Ceia é para o eleitos. Podemos celebrar a Cristo porque ele expiou em particular
nossos pecados. Podemos fazer a Ceia em memória dEle, porque Ele fez a expiação
objetivamente para nós, seus eleitos. Na passagem do anjo da morte sobre o Egito,
SOMENTE AQUELES que possuíam o sangue do cordeiro nos umbrais das portas
não tiveram seus filhos mortos. Se essa expiação não é limitada, não se sabe o que
ela é! Sim, a expiação é para justificação de todos aqueles que nasceram de novo,
aqueles que tiveram o reino de suas naturezas pecaminosas, sobrepujado pelo reino
instaurado pelo sangue de Jesus. Limpos de toda a condenação herdada por Adão, a
expiação deu-nos novas naturezas justificadas por Cristo, por meio do seu sangue.
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Posto os quatro argumentos, podemos ainda contra-argumentar juntamente com
John Owen: "Se Deus deseja a salvação de todos e a expiação é universal, porque
alguns perecem?”, aos que podem responder: “porque não creram”, e pergunto: "por
que não creram? A incredulidade não é um pecado? Se todos foram expiados dos
seus pecados, todos não estariam aptos a crer? Ou por que todos os homens são
punidos por causa dela?”, se ainda responderem que “Deus previu a fé dos que
creriam.”, então diremos: "se Deus previu que muitos não creriam, para que a
expiação seria universal? Se Deus previu a recusa e a expiação universal ainda
permite a incredulidade, porque Jesus morreria por aquela pessoa que morreria
incrédula?" Ainda, "se Deus previu que aquela pessoa negaria a Cristo, e ainda
assim Cristo morreu por aquela pessoa, e tal pessoa está condenada ao inferno,
temos um pagamento duplo de pecados, em Cristo e na pessoa. O que torna a
expiação universal em um martírio sem propósito e masoquista de Jesus?"
Necessária. Substitutiva. Perfeita. Limitada. Definitiva. Essa é a Expiação!
Coincidentemente, ou não, quando escrevia as últimas palavras desse texto ouvia a
música En Su Muerte Vivo Yo – Sovereign Grace Ministries que diz:
Foi com o seu sangue, sangue precioso Que essa nova vida Ele me deu
E com a Sua morte venceu a morte Agora eu vivo com Cristo
26
A Beleza da Promessa de Romanos 8
Meu texto preferido da Bíblia está em Romanos 8, do versículo 28 ao 39. São 12 versos
preciosos e poderosos que apresentam uma soteriologia gloriosa! Acredito que citar essa
passagem é a melhor forma para encerrar um estudo sobre a obra de Jesus. Esses
versículos nos levam ao que a expiação conquistou para nós. Me permitam mostrar porque
eu gosto tanto desse texto:
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam
a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes
conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de
que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a estes também
chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também
glorificou.” (Rm 8:28-30)
Comecei esse livro dizendo que Deus fez tudo e é soberano sobre a obra de Cristo. Aqui
estamos dizendo isso mais uma vez para encerrarmos. Não só isso, mas que Ele fez tudo
por nós e que fomos chamados segundo o seu propósito. Essa passagem tem um
destinatário específico: os eleitos de Deus. O que se segue está escrito somente para
aqueles que Deus iniciou e completará a obra. Da eleição até a glorificação. As promessas
e tudo o que está escrito a seguir estão baseados nesse decreto perfeito de Deus por nós.
“Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele
que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não
nos dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos
de Deus? É Deus quem os justifica. Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou
antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também
intercede por nós.” (Rm 8:31-34)
Se Deus fez tudo isso perfeitamente por nós, quem será capaz de fazer algo contra
tamanha obra de Deus? Realmente ninguém, pois a morte de Cristo é realmente poderosa,
garantindo para nós todas as coisas que foram prometidas por Deus nos versos anteriores.
Aqui temos uma garantia da perfeição da expiação. E quando Paulo aplica tudo isso a
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“nós”, seus eleitos, temos uma garantia da infalível extensão. Todos os benefícios estão
aplicados aos redimidos na cruz. Não há mais acusação e condenação!
Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição,
ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos
entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em
todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou
certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as
potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma
outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso
Senhor. (Rm 8:35-39)
No fim dessa declaração soteriológica de Deus, temos a certeza de que nada poderá nos
afastar do amor expresso por nós na cruz de Jesus. Deus planejou e Cristo agiu para
garantir de uma vez por todas a salvação do seu povo chamado. A expiação é imutável,
inquebrável e eterna. Jesus precisou morrer para nos salvar perfeitamente e para sempre.
É isso que a expiação significa. É esse Jesus que devemos adorar. É essa obra que
devemos anunciar ao mundo. Em todas essas coisas que aqui foram apresentadas somos
mais do que vencedores, não por nós, mas por aquele que nos amou. Essa é doutrina
vitoriosa da expiação. Esse é o grande triunfo!
Soli Deo Gloria
28
Bibliografia
Berkhof, L. (2012). Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã.
Ferreira, F. (2007). Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova.
Grudem, W. (2007). Manual de Doutrinas Cristãs. São Paulo: Editora Vida.
Murray, J. (2010). Redenção Consumada e Aplicada. São Paulo: Cultura Cristã.
Owen, J. (2011). Por quem Cristo morreu? São Paulo: Publicações Evangélicas
Selecionadas. Packer, J. I. (2013). O Antigo Evangelho. São Paulo: Editora Fiel.