o berro número 1

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“Abra seu olho agora, para não ter que abrir depois.” O O OBERRO BERRO BERRO BERRO BERRO ANO 1 - N°1- MENSAL - R$ 1,00 - NOVEMBRO/2008

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Page 1: O Berro número 1

“Abra seu olhoagora, para não terque abrir depois.”

OOOOOBERROBERROBERROBERROBERROANO 1 - N°1- MENSAL - R$ 1,00 - NOVEMBRO/2008

Page 2: O Berro número 1

EDITORIAL

CONTATOS

Pag.1 NOVEMBRO/2008 O BERRO

Depois de um mês, como prometido, estamos de volta com o n° 1 de OBerro. Sanados os defeitos gráficos do n° 0 e buscando maior divulgaçãopara que todos tenham acesso a esse fanzine, seguimos na luta por um mundomelhor. Agora com mais um companheiro fazendo parte de nossa equipe,podemos trazer mais um ponto de vista para esta publicação. FranciscoBragança, Jornalista e Cineasta, chegou trazendo dois textos sobreinteressantes fotos e fotógrafos. Enquanto isso, Alexandre Mendes pesquisasobre os nomes de ruas de Niterói, mostrando quem é quem, e volta aoassunto dos camelôs. Winter Bastos relembra a sexta-feira sangrenta, citaLima Barreto e analisa a política americana. Fabio da Silva Barbosa questionaa língua portuguesa entre outros esperneios. Divirtam-se.

From: [email protected] To: [email protected]

Subject: Breves informações

Date: Sat, 18 Oct 2008 20:44:37 -0200

Olá! Meu nome é Aline, gostaria de saber mais sobre e talvez participar DO “ BERRO “Achei interessante. Valeu!

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Poxa! Obrigada pela resposta rápida! Bom, posso falar um pouco sobre mim sim : eu tenho 22 anossou gaúcha, tô no Rio há 2 anos, sou estudante de Arquitetura & Urbanismo da UFF, mas não moroem NIterói. Fiquei sabendo do BERRO por uma indicação do Winter, mas não o conheço, nemninguém pessoalmente, apesar de já ter lido alguns recados nos blogs. Muito interessante participardas postagens sem algum comprometimento ou “rótulo” político. Isso é muito bom, até raro, naverdade, por isso que me chamou atenção. & quanto ao que vc perguntou de que forma poderia euparticipar...sinceramente eu não pretendia até , obrigada. Entretanto, posso mostrar alguns artigosque achei interessante, também coisas da Faculdade, já que alguns professores meus falam pra osalunos lerem sobre tudo o que rola na gestão dos territórios em geral, no interior, na urbe, osconflitos, os roubos das propriedades privadas, o porquÊ e de que forma ocorrem as EspeculaçõesImobiliárias... etc e etc . Já fiz uns trabalhos sobres esses assuntos, que talvez dê pra mostrar algo.É isso!

From: [email protected] To: [email protected]: RE: Breves informaçõesDate: Sun, 19 Oct 2008 21:53:08 -0200

Resposta:Muito obrigado pelo contato, Aline. As respostas já foram encaminhadas para seu e-mail,

como você já viu. Forte abraço. É sempre um prazer receber as suas correspondência e as de outros leitores.Os Editores

Page 3: O Berro número 1

POR: ALEXANDRE MENDESHá muito tempo, ouvimos a conversa fiadade que a Prefeitura irá construir umcamelódromo ao lado do TerminalRodoviário de Niterói. Eles afirmam que irãodesimpedir as calçadas e facilitar o tráfegode transeuntes. A idéia da construção docamelódromo provavelmente não incluíráas centenas de camelôs que ocupam as ruasda cidade, considerados “ilegais”. Otrabalho dessas pessoas é consideradoinformal, porque a Prefeitura de Niterói hámuito tempo nega a documentaçãoautorizando que essas pessoas trabalhemhonestamente (em hipótese algumaconcede as permissões). Eu fui às ruasperguntar aos camelôs considerados“ilegais” o que eles achavam da construçãodo camelódromo. A reação foi a esperada:nenhum deles havia ouvido falar sobre issorecentemente, e ninguém afirmou ter sidocadastrado para alguma coisa pela Prefeiturade Niterói.O que vai adiantar se a Prefeitura de Niteróipegar os camelôs já cadastrados, embarracas fixas, e os colocar no sonhadocamelódromo? Os que não são cadastradosvão continuar sendo perseguidos? Ovendedor ambulante é uma profissão tãoantiga quanto a prostituição. Além do mais,o ambulante deve ser considerado o reflexoda política injusta e parcial, onde a maioriado povo é legado à sua própria sorte. Todasas grandes cidades do mundo tem seucontigente informal. Caso o Estado queiracontinuar com a política hipócrita, suaobrigação é a de criar condições paraacomodar todos os trabalhadores informaisde seus domínios. “ILEGAL” é o Estadover um cidadão buscando formasalternativas de sobreviver (em meio aoexcesso de mão-de-obra, e pouco emprego)

Os excluídos da sociedade e proibi-lo de seu ato. Onde fica, então, aquela

conversa de Direitos Humanos?

DEPOIMENTOS:Francisco da Silva Machado,25 anos -Camelódromo? Essa estória é antiga! Trabalhoa 8 anos aqui e, ó, já tentei a permissão daPrefeitura: é meio difícil, hein!

Carlos Henrique da Cunha, 32 anos - Eu sóposso confiar em Deus, porque ser humanonenhum liga pra gente não! É o dia inteirocorrendo do “rapa”, e eu só quero defender oleite das crianças!

Marizete Alves Lima, 47 anos - Já perdi doistripés e mais de R$90,00 em mercadorias sóesse mês passado para a Guarda Municipal.Da última vez, meu filho foi defender ascoisas e quase apanhou!

Capa:“Esgoto despejado 24 horas por dia noquintal de dona Magali Silva no Morro Boa Vis-ta, Fonseca, Niterói, RJ”, 05/2008 - Foto reti-rada do projeto Comunidade Editoria. Idealiza-do e realizado por Fabio da Silva Barbosa e LuizHenrique Peixoto Caldas.Frase de: Winter Bastos. Dita em uma das mui-tas reuniões de pauta que ocorrem pelos bote-quins de Niterói.Apêndice do texto “EXCELENTISMO DEPROFISSIONAL, IMPOTÊNCIA DE SERHUMANO” de Francisco Bragança:

O BERRO (Informações adicionais)

Kevin Carter:“Um homem ajustando suas

lentes para tirar o melhor enquadramento dosofrimento dela, talvez também seja um

predador, outro urubu na cena.”

Parte da carta de despedida de Carter:“Eu estou depressivo…sem telefone…dinheiropara o aluguel…dinheiro para o sustento dascrianças…dinheiro para as dividas…dinheiro!Eu estou sendo perseguido pela viva memóriade matanças, cadáveres, cólera e dor…pelascrianças famintas ou feridas…pelos homensloucos com o dedo no gatilho, mesmo policiais,executivos assassinos…”

Pag.2NOVEMBRO/2008O BERRO

Page 4: O Berro número 1

Certas coisas não entram em minha rude cabeça.Por exemplo: Se o ch tem o mesmo som do x,qual a necessidade do ch? Questiono o ch porterem unido duas letras para fazer o som de umaque já existe. Eu sei que muitos irão falar sobrea origem da palavra e toda essa história, queembora seja muito interessante para estudiososdo assunto, não serve muito para os que usam alíngua em sua real finalidade, a comunicação.O fato é que sou um grande oxigenador. Sou afavor das mudanças. Mudar sempre. Só o queestá morto não precisa de oxigênio e mesmoassim muda. De um jeito ou de outro muda.Apodrece. Muda a forma, a consistência, ocheiro... É a mudança que resta aos que semantêm firmes às velhas normas: o apodreci-mento e o mofo.Cérebros engessados nãoproduzem, apenas repetem o que já foi dito,tocado e feito. .O falar serve como um meio de comunicaçãoassim como o escrever. Não é mais que isso. Éapenas uma forma de se comunicar. E a línguamuda como muda o povo que a usa. Ela tem deatender a necessidade do povo, ao em vez dopovo atender as suas necessidades. .Para não acharem, os simplistas, que apenasabolindo o ch se resolverá a questão, vou citartambém o caso do s. De uma forma geral, s fazsom de z e ss, som de ç. Preciso continuar oraciocínio? Preciso ainda falar que, na prática,essas regras têm exceção? Que, por vezes, o sfaz outro som? E de que serve isso? Isso ériqueza da língua? Preciso perguntar a utilidadede uma letra que faz som de outra? Preciso chegarao cúmulo de passar pelo h antes de uma palavracomo o nome Hugo? Há países em que isso fazuma grande diferença. Mas vamos falar de Brasil.Qual a diferença de Ugo e Hugo? A não ser o h,

é claro. E o g com som de j, ou vice versa?Poderia ficar o dia inteiro na frente do PCdesfiando as banalidades lingüísticas que nossão impostas, mas acho (ou axo, tanto faz) quejá consegui passar a idéia geral da coisa. A históriaou etimologia da palavra não é camisa de força

Língua rica ou confusa?POR: FABIO DA SILVA BARBOSA

para prender um povo a um sistema confuso designos que perde o foco de sua real função. Dizerque ia ser complicado mudar tudo agora seriauma grande besteira. Não seria dificuldadenenhuma uma pessoa, independente da idade,ser informada de que a partir de agora apenas ox fará som de x. Olha que coisa difícil de explicar.A internet trouxe mudanças muito maiscomplexas ao cotidiano da escrita, e todosabsorveram muito mais rápido do que essalinguagem empolada que nos empurram goela abaixo desde a alfabetização, sem conseguir nuncaque nós fiquemos confortáveis ao usá-la. Somossempre vítimas dela, que nos assalta comdúvidas criadas por suas regras arbitrárias.Engraçado que nunca vi aula de MSN paraensinar que vc significa você, ou qualquer outracoisa do tipo. A coisa flui naturalmente quando

é agradável ao usuário. Assim como o k, w e yforam retirados do nosso abecedário, a coisa temde continuar caminhando. O desengorduramentolígüistico tem de persistir. Nunca vai estar bomo suficiente ao ponto de não precisar mudarmais. A perfeição é utópica. .Ainda bem que existem as gírias para nos salvardessa estagnação que tanto agrada a algunssenhores do saber. A gíria é o enriquecimento dalíngua. Isso sim é riqueza. O povo criando etransformando o que é seu. Dia após dia. Palavrapor palavra. Mudando conceitos sem nenhumtipo de preparação ou aviso, nem por issodeixando de compreender o significado dapalavra assim que é dita. É por isso que o teóricofica tão aborrecido com essas mudanças. Porqueele fica de fora. Não é consultado. Quando sabe...Já foi. Aí só resta desfiar seu conhecimentoultrapassado, com cheiro azedo, tentando provarque tudo que escapa ao seu controle é blasfêmia.

VIVA AS TRANSGRESSÕES LIGÜISTICAS!

VIVA O VIVO!

VIVA A LITERATURA MARGINAL!

O BERRONOVEMBRO/2008 Pag.3

Page 5: O Berro número 1

Foto de Guinaldo Nicolaevsky,1979, em Belo Horizonte,Minas Gerais.

O ditador, a menina travessa eo fotógrafo

Por:Francisco BragançaFonte: Jornal O Tempo de Belo Horizonte.

O ano é o de 1979; a cidade é BeloHorizonte; o fotógrafo, GuinaldoNicolaevsky, e os personagens são:General João Figueiredo (últimogovernante da ditadura militar, períodode 1979 a 1985) e uma garotinhaanônima.Hoje em dia um grupo depessoas está mobilizadopara achá-la e relembraruma atitude infantil queresultou numa fotolendária para a história dofotojornalismo brasileiro.O Presidente JoãoFigueiredo estava nacapital de Minas Geraispara o lançamento doprimeiro carro a álcoolque circularia pelas ruas de BH. Umgrupo de crianças foi levado ao Palácioda Liberdade – sede do governomineiro - para que, em uma daquelasdemagogas estratégias de marketing,a autoridade em questão pudessecumprimentá-las. Como não existe enunca existirá ditadura que cerceie oespírito infantil, uma meninasimplesmente resolveu continuar debraços cruzados enquanto o Presidentedo Brasil lhe estendia a mão, e aindaesboçou um sorriso de quem sabia

que estava cometendo uma travessurahistórica.O fotógrafo Guinaldo Nicolaevsky, queestava de plantão no local, assim comoboa parte da imprensa nacional, nãohesitou em posicionar sua câmera edisparar um clique para imortalizar a

e enviou a foto para o Riode Janeiro. Para sua sur-presa os jornais cariocasnão publicaram a foto emais tarde foi ameaçadode demissão caso não en-tregasse o fotograma. Asaída era uma atitude co-mum, que alguns profi-ssionais tomavam a res -

cena. Depois correu pararedação do jornal,revelou

peito de material censurado: enviar parao exterior. Lá a foto teve grande des-taque.

Atualmente o blog Pictura Pixel(www.picturapixel.com/blog),dedicado ao universo da fotografia,lançou uma campanha para achar aprotagonista da história que deve seruma mulher na faixa dos 40 anos.Quem puder colaborar é só entrarem contato com o blog: [email protected](31) 2101-3924.

O BERRO NOVEMBRO/2008 Pag.4

Page 6: O Berro número 1

Ídolos de BarroPor: Alexandre Mendes

Vou desmitificar algumas das perso-nalidades bem vistas historicamente pelasociedade, pois estas tiveram seus nomespostos em praças, ruas e avenidas, semmerecer, como forma de homenagem.Repetimos, ao longo de nossas vidas, seusnomes quando nos dirigimos a tais lugares:nomes que deveriam cair no esquecimento,ou então serem identificados com pessoasda política atual, com o objetivo deesclarecer os caminhos da política brasileira,aonde ela pode vir a chegar nas mãos dospares. Ainda podemos dizer que esseshomenageados foram colaboradores dadesestabilização a longo prazo de nossodesenvolvimento econômico, lutaramdiretamente ou ideologicamente contra osmovimentos a favor da democracia eigualdade. Foram indivíduos que apoiarama monarquia escravocrata, ou a república“parcialista”, defendendo interessesburgueses.

Floriano Peixoto- O “consolidador daRepública” ou “Marechal de Ferro” foi umdos nossos primeiros ditadores daRepública. Com a Revolta da Armada, noRio de Janeiro (1893) e a RevoluçãoFederalista, no Rio Grande do Sul (1895), asTropas Florianistas foram instruídasmilitarmente ao fuzilamento de centenas depessoas consideradas “inimigas daRepública”. Quem tiver a oportunidade deler o livro “Triste Fim de PolicarpoQuaresma”, do grande escritor Lima Barreto(taí um bom nome para se homenagear),entenderá o clima da época.

Rodrigues Alves- Fez inicialmente o jogoduplo, pois foi presidente de província namonarquia, e depois foi ministro da fazenda

de Floriano Peixoto na república.Modernizou o centro do Rio de Janeiro,expulsando de forma violenta os moradorescarentes para os morros próximos oulugares longínquos. Foi o responsável, aolado de Oswaldo Cruz, pela Revolta daVacina, através da violenta imposição davacina da varíola à massa cariocadesfavorecida e sem esclarecimento.

Washington Luís- Não precisamos ir muitolonge com a definição desse elemento,apenas ressaltamos a sua ideologiaburguesa e indiferente aos interesses dopovo, quando lembramos a sua forma deencarar a questão social como um caso depolícia, isto é, qualquer greve trabalhistaestava sujeita à repressão policial, e à prisãosumária de seus participantes.

Estes homens citados anteriormente nãochegam à metade dos nomes que sãohomenageados de forma injusta. O fatoparece corriqueiro, mas devemos inovarnosso olhar sobre a história, a fim de definir,em nossa memória, os personagens dessadensa trama, que se chama política nacional.Isso contribuirá positivamente para aidentificação dos políticos, aonde elesquerem chegar com suas filosofias. Aspraças, ruas e avenidas não deveriam levaro nome de indivíduos que apoiaram (ouapoiam) a vontade do povo?

Em uma próximaoportunidade, estaremos

novamentedesmascarando os

“curingas” da política.

Pag.5 NOVEMBRO/2008 O BERRO

Page 7: O Berro número 1

Quando invadiu o Afeganistão em 2001, o presidente dos EUA afirmou estar numa guerra dobem contra o mal. Bush estava certo em qualificar o Talibã como um mal, mas o fato é que oEstado norte-americano encontra-se muito longe de ser algo minimamente bom.É terrível que tenham morrido cerca de cinco mil pessoas no ataque às Torres Gêmeas (WorldTrade Center) em 11 de setembro de 2001, mas é 20 vezes mais abominável que tenham morridomais de 100 mil civis japoneses no ataque nuclear estadunidense a Hiroshima e Nagasaki.Igualmente horrível foi a ofensiva que a força aérea americana batizou de “Grand finale”, em quemil aviões bombardearam alvos civis japoneses em 14 de agosto de 1945, mesmo depois darendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. Junto com as bombas que matavam a populaçãojaponesa (que nada tinha a ver com os atos de seu governo) eram jogados panfletos que diziam:“O Japão rendeu-se”. .Outra barbaridade foi o bombardeio a Tóquio em 10 de março de 1945. Primeiro lançaram óleoem forma de gel, depois, napalm. O napalm para bloquear o rio, a fim de que as pessoas nãopudessem chegar a ele. Quem tentou saltar na água simplesmente queimou até à morte, porqueela estava fervendo. Estima-se que os soldados americanos tenham matado, só dessa vez, de 80mil a 200 mil seres indefesos. .Porém não foi apenas o Japão a ser atacado pelos Estados Unidos. O governo americano jábombardeou Belgrado, Bagdá, Vietnã, Coréia do Norte, além de ter apoiado ditaduras sangrentasna África, América do Sul e Indonésia. Quando perguntada, lá pelo final do século 20, sobre o

meio milhão de crianças mortas em virtude da política externa americana, a então secretária de

Estado Madelleine Albright disse: “É um preço alto, mas estamos dispostos a pagá-lo”.São milhares e milhares de mortos a troco de quê? Os EUA dizem que fazem isso pela democracia,

e o Talibã afirma que o faz por Deus. Mas o fato é que ambos lutam por dinheiro e poder.Por que não se opta pela paz? Ora, porque a guerra é muito mais rentável para os governos,apesar de sempre terrível para a população. A guerra é um investimento financeiro em que só opovo sai perdendo. E este povo, em vez de agitar bandeiras em honra de seus opressores, deveriaatirá-las de vez ao fogo num repúdio total aos nacionalismos e às guerras. A conquista da pazpassa, necessariamente, por uma mudança nas estruturas de poder que acabe com toda e qualquer

forma de imperialismo cultural, econômico, político ou militar.

Atrocidades americanas não poupam ninguémPor: Winter Bastos

A CHAROLAPor: Alexandre Mendes

Odeio o pobre de espíritoaquele que despreza o raciocínio

se deixa levar pelo mito:abnegação do direito de pensar

nociva alimáriacervejinha e carnavalna terra dos índios

que foram roubadosdos negros, mulatos açoitados no arraial

Dia após dia

a morte a lhe espreitarnas filas do SUS, ou esquina qualquer

em mais uma chacinadeixa filhos e mulher

Desamparados no mundosangrando eles se vão

na charola malditaonde se encontram os passivos

se encontram os coniventesmerecedores do mundo em que vivem

alarido inerte_ não há vozes em oposiçãoidiotas, tirem a venda dos olhos!

não há esperança, com a procrastinação.

Pag.6NOVEMBRO/2008O BERRO

Page 8: O Berro número 1

40 anos da sexta-feirasangrenta

Por: Winter Bastos“A revolta é a nobreza do escravo”(F. Nietzsche) .“Não somos a inundação dabarbárie, somos o dilúvio dajustiça” .(Manuel Gonzales Prada)

Muita gente por aí diz que o brasileiro nãoé de nada, que o povo é pacato demais,aceita tudo feito cordeirinho. Será mesmo?Você, caro leitor, já ouviu falar na sexta-feirasangrenta? Pois foi um dia que entraria paraa história pela pela intensidade dasmanifestações de rua em 1968. Onde? Não,amigo, não foi em Paris. O maio de 68brasileiro caiu em junho e não foi só na sexta-feira 21. .O povo estava farto de assistir aosdesmandos da ditadura instituída pelogolpe militar de 1º de abril de 64, desmandosque incluíam censura, assassinato, prisãoarbitrária, tortura, agressão a estudantes,operários, atores etc. Durante um protestoestudantil em 21 de junho de 1968 no centroda cidade do Rio, o povo – não só osestudantes – resolveu revidar:simplesmente cansou de apanhar e decidiupartir para cima dos repressores.Apedrejaram o consulado dos EstadosUnidos, que dava apoio aos milicosbrasileiros. Populares lutaram contra apolícia com paus, pedras, e, também do altodos edifícios, jogando garrafas, cinzeiros,vasos com flores, tampas de latrina e atéuma máquina de escrever. Foram erguidasbarricadas em plena Avenida Rio Branco etambém pelas ruas México e Graça Aranha.

“O povo tomou partido”, escreveu JoséCarlos Rodrigues em matéria ao Jornal doBrasil na época. .Mesmo armados e com um efetivo bastantenumeroso, policiais da ditadura se borraram,apavorados. No livro “1968: O ano que nãoterminou” (Editora Nova Fronteira), ZuenirVentura escreveria: “Nessa tarde, ainfantaria da PM teve medo de entrar naAvenida Rio Branco. Os poucos que seaventuraram esconderam-se logo sob asmarquises. A única força a entrar foi acavalaria, mas os cavalarianos nãoesconderam o medo”. O exército cogitouaté pôr tanques de guerra em pleno centrodo Rio, dá para imaginar? .Esse não foi o único episódio de efetivaresistência popular à ditadura. Houvevários. Outros protestos contra o regimemilitar já haviam acontecido commanifestantes usando rojão, coquetelmolotov, virando carros oficiais eempurrando-os até o meio de grandesavenidas. .Em diversos períodos históricos, apopulação também já se insurgiu contra aopressão. Existiram levantes populares aolongo de toda a história do Brasil, desde ainvasão desse território pelos portuguesesem 1500, só que imprensa burguesa ehistoriografia oficial não dão destaque anada disso. A grande mídia quer vender aidéia de que aqui é terra do oba-oba, dabitolação. Querem que a gente aceite isso efique se entorpecendo com a alienantecultura de massa. Tem uma canção que diz:“Carnaval, futebol/ Não mata, não engordae não faz mal”. Será mesmo?

NOVEMBRO/2008 O BERRO Pag7

Page 9: O Berro número 1

EXCELENTISMO DEPROFISSIONAL,

IMPOTÊNCIA DE SERHUMANO

No instante há um urubu próximo esperandopara dar o bote e se alimentar da escassa carneda menina faminta. O fotojornalista faz seuenquadramento, ajusta a lente e dispara oobturador, registrando a cena. Logo em seguida,fustiga o animal e abandona o lugar.A foto é publicada no The New York Times, em26 de março de 1993, e gera inúmeras cartas eligações de populares se manifestando em relaçãoao paradeiro da criança (desconhecido) e aatitude do fotógrafo de sair do local apósconseguir a imagem. Em 1994, Kevin Carterfatura o Pulitizer Prize for Feature Photography,uma das premiações do mais importante prêmiode jornalismo mundial.Dois meses após a premiação, aos 33 anos, noauge de seu reconhecimento profissional,atormentado pelas imagens da guerra, pela culpagerada por críticas e por problemas pessoais,Carter dirige até perto de um rio, onde brincavana infância, coloca a extremidade de umamangueira no cano de descarga de sua picape e aoutra extremidade na cabine, e assim provocasua morte por asfixia pela inalação de monóxidode carbono.Depois de sua morte, alguns colegas de profissãovieram a público defender o fotógraforessaltando seu profissionalismo. Segundo elesos fotógrafos eram orientados a não tocar empessoas sob o risco de contagio de doenças. Em1996, a banda galesa Manis Street Preacheraslança a canção Kevin Carter, ironizando ocomportamento do fotojornalista, e sobre o tematemos também a ficção Amor Sem Fronteiras(de 2003) e o documentário A Morte de KevinCarter: O Desastre do Clube Bangue Bangue(de 2006).

rastejar até um campo de alimentação da ONU.

O Sudão é o maior país da África, comaproximadamente 2,5 milhões de km² deextensão e está localizado na regiãonordeste do continente. Seu território écortado pelo rio Nilo e seus afluentes, acapital Cartum é localizada às margens doNilo, e sua economia baseia-se naagricultura de subsistência que édesenvolvida segundo técnicas milenaresde irrigação e plantio, tendo o algodãocomo principal produto de exportação.Em 1956 o Sudão torna-se oficialmenteindependente livrando-se da dominação doEgito e Reino Unido que perdurava desde1899. A partir de então o país enfrentaconflitos políticos, religiosos e uma guerracivil que já matou cerca de 2 milhões depessoas. O conflito se dá entre os árabesmulçumanos do norte – grupo majoritário -e os negros do sul, em sua maioria cristãose animistas (adeptos de religiões tribais). Aguerra prejudica a agricultura e acarreta àpopulação muita fome.No ano de 1989, o general Omar Hassan al-Bashir assume o poder através de um golpede Estado e adota um discurso mais incisivocontra os rebeldes do sul. Na década de90, através de ofensivas do governo, há oisolamento de milhares de refugiados queculmina na morte de 600 mil pessoas porfalta de alimentação. Nesse período ofotógrafo sul-africano Kevin Carter, doclube do Bangue Bangue – grupo defotojornalistas que cobriam conflitos naÁfrica do Sul, chega ao Sudão com aintenção de documentar os movimentosrebeldes.Numa de suas expedições, Carter encontra umacriança subnutrida tentando com sacrifício

Por: Francisco Bragança

NOVEMBRO/2008O BERRO Pag8

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O escritor inimigo dosuxoricidas brasileiros.Por: Winter Bastos

O amor mata? Um sentimento que leva aoassassinato é, sem dúvida, algo maldito e se afastatotalmente da emoção que aprendemos a exaltarcomo bela e elevada. Porém, ao longo de séculos,a sociedade brasileira tem considerado oassassínio compatível com o amor, e até provade envolvimento verdadeiro e profundo: é aexacerbação da velha crença de que ciúme é

atestado de carinho. .O uxoricídio – assassinato da esposa pelomarido – era permitido pelas OrdenaçõesFilipinas que regeram os direitos civis no Brasilaté o século 19. Assim, no Livro V, TítuloXXXVIII, estava estabelecido que: “Achandoo homem casado sua mulher em adultério,licitamente poderá matar assim a ela, como aoadúltero”. O Código Criminal Brasileiro de 1830,nos artigos 251 e 252, amenizou esta punição,determinando que o homem ou a mulher quecometesse adultério seria punido com prisãotemporária. Na prática, quase sempre apenas amulher era enquadrada nesse tipo penal, pois oEstado possuía – igual a hoje – um caráter

fortemente patriarcal. .Este mesmo Estado tinha como ferrenhoadversário o escritor anarquista AfonsoHenriques de Lima Barreto (1881-1922), quecriticava com ardor o aparelho judicial brasileiro,por absolver continuamente uxoricidas quealegassem legítima defesa da honra ou “termatado por amor”. Contra este falso amor, LimaBarreto publicou, no Correio da Noite, “Não asmatem” em 27 de janeiro de 1915. Afirmava quea violência dos homens reside no fato de queeles se sentem donos das mulheres, portanto,não admitem ser preteridos. A este textoseguiram-se “Lavar a honra matando?” e “Os

matadores de mulheres”. .Em dois de março de 1919, ele publicou “Osuxoricidas e a sociedade brasileira”, o artigo maislongo e importante sobre o assunto. Nele, LimaBarreto afirmou que parece existir “uma tácitaautorização que a sociedade dá ao marido de

assassinar a esposa quando adúltera”. Condenoude forma veemente os advogados que, paradefenderem os uxoricidas, atacam a honra dasvítimas. Da mesma forma criticou oprocedimento dos promotores de justiça que selimitavam a tentar provar que as mulheresassassinadas tinham uma conduta sexualirrepreensível. .Para Lima, a mulher tem que ser livre. A condutasexual da esposa em hipótese nenhuma poderiaser justificativa para o assassinato. Contra oshomens possessivos, ele já havia escrito em1915: “Todos esses senhores parece que nãosabem o que é a vontade dos outros”. E bradava:“Deixem as mulheres amar à vontade. Não as

matem, pelo amor de Deus!” .O escritor também usou da ficção para combatero falso amor, como na narrativa Clara dos Anjos,corajosa acusação à sociedade brasileira, desdeos tempos de Lima uma sociedade racistaexcludente e machista.

O Grande Circo Eleitoral chegouTemos O Candidato X, engolidor de homens

O Candidato Y, O Rei das FraudesO Candidato Z, o que não ganha,

mas leva voto para o partidoAtrações invisíveis: só aparecem nessa época

Palhaços e Domadores inúmerosÉ o Grande Circo Eleitoral

A entrada é franca,mas o sofrimento eternoÉ um direito participar,

mas se você não comparecer,iremos pressioná-lo por isso

O circo chegouAnões e mulheres barbadas

O sensacional homem que cospe fogosó pode cuspir se for na direção certa

Não percamApresentação única

Isso se não houver segundo turnoVenham

Hipnotismo, Ilusionistas e a participação doGrande Mentiroso

Vamos votarAtrações nacionalmente importadas

Vocês não podem perder

O Circo Chegou.Por: Fabio da Silva Barbosa

NOVEMBRO/2008 O BERRO Pag9

Page 11: O Berro número 1

Fico pensando, atordoado, em como o sistemacriado pelos homens e que deveria servir a elemesmo, se tornou tão predatório que estácaçando seu próprio criador. O ser humano estásendo chacinado por sua própria sociedade; porsua própria máquina de matar. A situação estáinsustentável. Estamos à beira do invivível. Osistema atual virou um predador tão eficaz, quenão permite a mínima chance de vida.

Somos educados, a partir de nosso nascimento,a sermos perdedores implacáveis. Nos agrupam,rotulam, vendem.. Fumar e beber se torna o augeda rebeldia. A playboizada acende seu baseadoachando que está afrontando as regras. Mas naverdade, é isso que o sistema quer. É aí que elecomeça a matar. Ele tira as chances de suasobrevivência sob as regras criadas por seus paisou avós para garantir sua segurança. Umasegurança falsa e inviável. Que exige umaperfeição imprópria do homem. Você se tornaseu pior inimigo, assim como as regras criadaspelos antigos se tornaram inimigas deles. Ambossufocam sua essência de forma diferente.

Como se não fosse suficiente, o sistema deensino que deveria abrir nossa mente e nos levara lugares inexplorados, se mostra como algomassificante e sacal. Aqui no Brasil, porexemplo, podemos observar um fenômeno nomínimo insólito. O colégio público que deveriaatender satisfatoriamente a grande maioria dapopulação, pobre e desprovida de recursos,virou uma espécie de amostra grátis do queacontece nos particulares. As escolas públicassão providas de um ensino ralo e insuficiente.Depois, chegando à época da faculdade, essaspessoas não podem continuar no ensino público,pois a prova para uma universidade pública épara quem estudou em escola particular, que opobre não tem acesso. Ou seja, ele não temdinheiro para um ensino superior particular, nema preparação para um vestibular público. Precisocontinuar essa explanação? É difícil ver que étudo feito para impossibilitar a ascensão dos

Pag10O BERRO NOVEMBRO/2008

que estão em baixo? Que é muito mais fácil paraquem já está em cima subir ainda mais? DEPOISAINDA ME VEM COM ESSA ESTÓRINHADE COTAS COMO SE FOSSE SOLUÇÃO.BLA BLA BLA

A saúde pública está um caos. Se não tem planode saúde... Sem chance. E olha que na verdade oatendimento público não é gratuito, já quepagamos inúmeros impostos para termosgarantidos esses direitos.

Enquanto nosso massacre acontece diariamente,somos ludibriados com partidas de futebol, ondeos jogadores ganham fortunas. O professor, queé o responsável pelo conhecimento, é mais um aviver com dificuldade. A sobreviver na verdade.Realmente é de dar nojo esse animal que vivesatisfeito com a política de pão e circo aplicadaaté os dias atuais. Chafurdando nas própriasfeses. Política essa imposta por uma minoria acontar do antigo império romano.

Então essa minoria está bem? Na verdade não.O sistema não deixa brecha para felicidade.Esses estão com medo e acuados. Vivendo emum mundo ilusório, onde tudo é mentira. Setrancam na futilidade hipócrita da artificialidadeque só o dinheiro pode comprar. Fazem as taisleis que promovem a segurança, mas que sãodesprezadas por eles mesmo.

Não quero mais falar. Chega. Não vou corrigirnem reler esse texto. Ele vai como está. Sem serrepensado ou preso a qualquer norma préestabelecida. Vai como um grito de raiva. Comoa verdadeira revolta. Algo a mais que se dar porvencido e deixar uma carreira de pó, ou umapedra de crack roubar sua vontade de lutar.Chega de mentir para si mesmo. Chega de dar oque nossos assassinos querem.

CHEGA !!!

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