o associativismo no barreiro

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OBJECTIVA MAGAZINE DIGITAL BARREIRO Nº5 OUTUBRO 2011 WWW.BARREIROWEB.COM O Associativismo no Barreiro

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O Associativismo no Barreiro, foi este o tema escolhido. O Barreiro, sendo como é uma terra com fortes tradições nesta área do associativismo, mesmo com todas as actuais adversidades não pode caminhar para o abismo. É necessário que todos os cidadãos e o poder local, em conjunto voltem a prestar a atenção ao movimento associativo.

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Page 1: O Associativismo no Barreiro

OBJECTIVAMAGAZINE DIGITAL

BARREIRO Nº5 OUTUBRO 2011

WWW.BARREIROWEB.COM

O Associativismo no Barreiro

Page 2: O Associativismo no Barreiro

OBJECTIVARevista digital de opinião

e História Local

Edição digital com publicação bimestral de distribuição

gratuita e subscrição

Ediçãowww.barreiroweb.com

BARREIRO

Nº5Outubro 2011

Editor José Encarnação

Redacção:

Carlos Alberto (Carló)Armando Teixeira

Nuno SoaresDulce Reis

Manuela FonsecaDourado MendesJosé Encarnação

Montagem eFotografias

José Encarnação

Contactos:[email protected]

Nº5

OUTUBRO 2011

O Associativismo no Barreiro

Nota do editor

José Encarnação.... 3

Associativismo e a sua longa história na ordem social dos povos

Carlos Alberto (Carló) .... 4

Os Novos Desafios do Associativismo

Nuno Soares.... 8

A Escola Associativa

Armando Teixeira.... 9

Associativismo: do (Meu) Passado ao (Nosso) Futuro (Notas de um Percurso de Vida)

Manuela Fonseca.... 12

Associativismo no Barreiro

Dulce Reis .... 16

As Colectividades A Política e a Crise

Dourado Mendes.... 19

Sociedades Recreativas

José Agusto Pimenta .... 20

Temas

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NOTA DO EDITOR

O Associativismo no Barreiro, foi este o tema escolhido em conver-sa com um amigo à mesa de uma esplanada, num sábado de verão. Amigo ligado ao movimento asso-ciativo e que rapidamente se pre-dispôs a contribuir para a edição ligada a este tema. Escolhido o tema, foi lançado o desafio aos regulares colabora-dores que participam, desde a primeira hora, nesta aventura de cidadania plena, que, em tempo de crise, também se tem vindo a revelar escassa a participação dos cidadãos na vida da nossa terra. Apesar de tudo, mais uma vez, estes colaboradores, deram a sua contribuição desinteressada.Nos tempos que correm, o mo-vimento associativo no Barreiro, não está de grande saúde. As di-ficuldades são muitas: poucos só-cios, pouca participação, grandes dificuldades na promoção e divul-gação das iniciativas, problemas de gestão e económicos, falta de democracia interna, associações “

fechadas” que não se abrem à co-munidade e aos sócios, etc…etc…Num período de recessão econó-mica (e não só), poucas são as as-sociações do Barreiro que de uma forma coerente e regular, contri-buem para a melhoria da vida dos cidadãos e dos seus sócios reali-zando actividades culturais e de índole desportiva.É claro que nem tudo é mau. Exis-tem vários exemplos de sucesso e de muita imaginação para criar e desenvolver actividades a custo zero.O Barreiro, sendo como é uma ter-ra com fortes tradições nesta área do associativismo, mesmo com todas as actuais adversidades não pode caminhar para o abismo. É necessário que todos os cidadãos e o poder local, em conjunto vol-tem a prestar a atenção ao movi-mento associativo.Incentivar as associações com aju-das concretas, mais importantes do que os subsídios para “almoços de aniversário”, nomeadamente, ajudando na formação de dirigen-tes, na área de gestão de sócios, na área das finanças, na área cria-

tiva, na elaboração de projectos, na divulgação das suas iniciati-vas, na criação de um portal das colectividades, no fornecimento de programas informático para gestão de sócios, incrementando a entreajuda entre as várias asso-ciações, partilhando meios e von-tades. Enfim incentivando a parti-cipação e cidadania de uma forma activa. São pequenos passos que podem até não significar qualquer aumento de custos para o poder local.Nas actuas circunstancias da vida, o Barreiro, na área do Movimento Associativo, tem condições exce-lentes, dada a sua tradição nesta área, onde o Associativismo faz parte da cultura dos Barreiren-ses, da sua forma de estar na vida, radicando no princípio de que a união entre cidadãos, é o caminho para resolver os problemas. Haja vontade e determinação e algum incentivo activo para juntar e di-namizar vontades adormecidas.

José Encarnação

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Calos Alberto (Carló)

Associativismo E

A sua longa história na ordem social dos povos

A história do associativismo e o seu longo percurso na ordem social em Portugal em geral e no Barreiro em particular destaca-se quando se havia iniciado o século XIX, se bem que já na idade média as confrarias se afirmavam associações.Em Portugal o associativismo ante-cipou-se à estrutura governamen-tal com a sua Histórica aparição no século XIX, prosseguido o exemplo da luta popular nas repúblicas dos países mais avançados, Inglaterra e França, nascendo em Lisboa a pri-meira Associação, Sociedade dos Artistas de Lisboa, fundada nos va-lores da independência e autono-mia, democracia, cidadania de for-ma voluntária, ou seja formada por indivíduos livres em estreita parida-de social e reforço da Comunidade envolvida.

O movimento popular tomou volu-me e ganhou prestígio com a matriz solidária, tornando o homem mais social, desenvolvendo actividades desportivas e culturais de impor-tância crescente para a pessoa humana como ser gregário, permi-tindo o incremento associativo e a intervenção comunitária de rele-vância civilizacional.Movimento superior e explícito que procurara na conjugação popu-lacional reforçar a estrutura social sujeita a tenazes económicas que oprimiam os povos.A revolução industrial alterou o quadro da vida em Sociedade, apro-ximando a massa operária que se reforça no Movimento Associativo onde o primado eram as vertentes fraternidade, solidariedade que de-ram vida às sociedades mutualistas

e às associações de instrução e re-creio com o objectivo de equilibrar e suavizar os obstáculos das classes laborais sem qualquer segurança social, qualquer rede de instrução, actividade desportiva ou cultural públicas. Estes princípios conti-nham veia política que se opusera aos poderes de Estado anti-social com a força da solidariedade em debates clandestinos, politizando a massa associativa.As angústias do trabalho ou da falta dele perturba as sociedades a todos os níveis da escala social, ausentan-do a racionalidade e o equilíbrio no seio associativo.Na Europa os povos procuraram a estabilidade social, reforçando a força colectiva das sociedades de recreio. Em Portugal a primeira As-sociação de cultura e recreio terá

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sido à Associação de Operários de Lisboa em 1838. E a primeira asso-ciação desportiva, a Real Associa-ção Naval de Lisboa em 1811 e o futebol amador iniciou-se em Por-tugal em 1875.O final do século XIX foi fértil no aparecimento de associações das classes laboriosas, sindicais, de comércio e indústria e também política/partidária onde se desta-ca o Partido Comunista Português. Seguiu-se um extravasar do colec-tivismo e da forte expansão do mo-vimento associativo pelo país fora. Com o advento da República irrom-pem as sociedades de instrução e recreio, modo de colmatar as insu-ficiências do Estado com rede públi-ca débil. Neste estilhaçar de tempo e mundo actual que lugar ocupa a solidariedade? O meio associativo poderá de novo fazer o equilíbrio nas actividades desportivas que a alta competição transformara as populações em meros consumido-res, simples espectadores, arreda-dos do seu protagonismo. Nesta época de transformações es-truturais aceleradas, reviravoltas económicas, sociais e culturais, o Barreiro, o país e de alguma manei-

ra, mercê da globalização, o mundo inteiro, atravessam, fruto de pre-potências de Estados e terrorismo económico à escala global, falsos trilhos sociais com resultados fi-nanceiros desastrosos para os po-vos. O movimento associativo, ge-nuína forma democrática de gerir a relação humana sem outra ambi-ção que não seja a paridade social, potencial dos povos unidos por di-reitos comuns, poderá de novo ser uma das vias de oposição aos pode-res anti-democráticos. Não se descobriu até hoje me-lhor lugar onde se conjuguem, de-senvolvimento cultural e relações pessoais profícuas, sem efeitos corrosivos, do que nas associa-ções culturais e desportivas, cujos objectivos estão na génese do ser humano, estendendo-se por toda a sociedade através das colectivida-des de bairro, opondo-se em tem-po real a esquemas que atropelam os valores gerais das sociedades em particular do associativismo.O movimento associativo do Barrei-ro não é diferente dos restantes no país, embora a presente caracterís-tica, força plural e democrática, não ser a actividade humana de outrora com a tradicional força associativa

que o Barreiro demonstrou possuir, dando vida a grupos de teatro, can-to, desporto, pintura, música, poe-sia, leitura, debates e muitas outras actividades artísticas.O associativismo envolve-se em to-das as vertentes da existência dos homens e das mulheres, numa per-feita associação humana, opondo-se aos ditames de Estado é a respos-ta à turba que pretende enjaular as populações no esquema capitalista em linha global. Voltar a dar vida a grupos de teatro, corais, bibliote-cas, grupos desportivos, musicais, debates de intervenção social e política, revigorará por certo o aca-brunhado Associativismo actual.Com a Revolução de Abril, numa primeira fase o movimento asso-ciativo sofreu desvios de quadros na expansão colectiva pelos imen-sos afazeres políticos e sociais que absorveram muita da população que assegurava o Movimento Asso-ciativo, um baluarte da resistência no período ditatorial da socieda-de portuguesa, forte aliado para a democracia, mas sofreu desgaste e no final do século viu forças an-ti-democráticas tomarem posição no desmantelar do associativismo, sofrendo oscilações que o afasta-ram do interesse dos jovens. Como os seus valores não se alteraram a atracção pelo movimento associa-tivo terá de partir de pressupostos que interessem aos mais novos, so-licitações culturais, desportivas e de lazer que se afirmem em resultados convincentes na fraternidade, sem objectivos lucrativos e realizado vo-luntariamente.Reina grande indefinição quanto ao que deve ser o papel do movi-mento associativo. As realidades sociais, políticas culturais motivam a fórmula dos tempos áureos do associativismo. Mas precisa de ga-nhar os jovens para um projecto renovado.A fixação da juventude nas colec-

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tividades tem de ser hoje de outro formato social, diminuindo a coura-ça que os reveste, procurando vias imaturas de arredada solidarieda-de.É imprescindível encontrar novos caminhos para atrair os mais novos, ajudando-os a vencer o presente e o futuro que é deles. Passará por ganhar a solidariedade destroça-da e reforçar o poder social com a blindagem associativa para edificar a mudança de vida nas sociedades.O movimento associativo atraves-sa, perante a concorrência dos ne-gócios desportivos e interesses po-líticos, imensas dificuldadesNo mundo actual, na essência, nada tem vida sem a concórdia eco-nómica. A desastrada aplicação do dinheiro por governos neoliberais e a acumulação indevida perturbam

a conjuntura social global, tornan-do o planeta um lugar inseguro, lúgubre de viver para milhões de seres humanos, enquanto uns na-babos não aprenderam outra coisa se não descapitalizar tudo que lhe não pertença. Aceleradas desigual-dades sociais, assimetrias económi-cas perturbam a prática desportiva, cultural e de lazer, crescendo um mercado financeiro onde a prima-zia é o lucro. O Associativismo pe-rante este assalto financeiro perde momentaneamente terreno com as roturas na ligação às comunidades. A resposta na era actual necessita de encontrar o futuro na tradição/inovação/unificação espaços ne-cessários para rejuvenescimento da vida comunitária associativa. Estamos perante o paradoxo da uma sociedade baseada no traba-

lho que produz bens essenciais num mercado de emprego que ameaça extinguir-se. Mas, chegará o tempo da recuperação. Pois nada impede que o associativismo ganhe asas de novo, como outrora quando fora a raiz social nas lutas dos povos que surpreenderam por todo universo, o mundo político com diagnósticos liberalizantes, defendendo-se com os antivírus associativos no comba-te à doença epidémica da estrutura social que prolifera no mundo.

Calos Alberto (Carló)

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NUNO SOARES

OS NOVOS DESAFIOS DO ASSOCIATIVISMO

Conhecer o passado para agir no presente com os olhos no futuro!

Uma definição de Associação poderá ser:“União duradoura e organizada de pessoas que se pro-põem conjugar esforços para prossecução em comum de determinados fins” que não se traduzam em bene-fícios económicos para os seus associados e que não prejudiquem os direitos de outrem.Muitos podem ser os fins das associações.Embora discutível, as associações também podem de-signar um princípio ou doutrina económica.Embora igualmente discutível, surgem associações de índole económica na Grécia Antiga (Antiguidade Clás-sica). Em Roma, menos discutível, conhecem-se associações,

sobretudo de índole comercial.Na Idade Média surgem as Corporações estruturadas sobre a vida económica, logo após as invasões, per-sistindo até muito tarde. Lousse diz que a sociedade em finais do século XVIII se encontra organizada como uma cadeia de corporações.Já no século XVIII, a Revolução Francesa vem ferir vio-lentamente as associações corporativas, cuja agonia se prolonga pelo século XIX, extinguindo-se paralelamen-te as associações profissionais, pelo que os trabalha-dores se vêm desprotegidos e isolados.Contra este isolacionismo surgem as correntes sindicais e socialistas. Os operários que se associam, afirmam-se pela própria força de grupo, melhores defensores dos seus direitos, ou, opondo-se às conceções econó-micas liberais, mais fortes para exigir uma maior justi-ça social. Tomas Morus, com a Utopia, vem influenciar

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estas correntes.Nesta trajetória, ao longo dos sécu-los, as associações constituem-se como grupos de pessoas organi-zadas num primeiro plano para a prossecução de interesses de or-dem profissional e económica, so-cial e mesmo religiosa.Surge o cooperativismo em Ingla-terra, espalhando-se energicamen-te por todo o mundo e legando à História da Humanidade um patri-mónio social e cultural riquíssimo.A monarquia assumiu um papel de repúdio pelas associações, defen-dendo que seriam perigosas para a liberdade dos indivíduos. Sur-gem no entanto, Associações Co-merciais, de Lisboa e do Porto, em 1834, ano da abolição das associa-ções corporativas.Poderemos refletir que aliado ao fenómeno de aparecimento ou au-mento de repressão na sociedade, os homens souberam fazer ressur-gir as suas associações e, unindo-se, defender os seus interesses, tendo por base e por vontade pró-pria (inscrição facultativa) o auxílio recíproco.Assim foi no Barreiro, “do trato

profissional e pessoal, quotidiano, entre os associativistas nasce uma família una, coesa e consciente dos lidimos direitos laborais e sociais.Embora de ideias díspares, de que as associações são o catalizador, nasce um Barreiro novo, uma nova mentalidade barreirense, a menta-lidade do saber fazer bem as coisas de interesse comunitário, sem espe-culação, ou seja a cultura presente que também é preciso preservar.O Barreiro caracterizou-se enquan-to terra de fraternidade e do asso-ciativismo tradicional (J.C.Proença).Foi assim que se criaram laços de solidariedade, fraternidade e de-mocracia, associados e dignificados pelos valores da liberdade, igualda-de, responsabilidade e autonomia.Hoje o Associativismo guarda um Passado valioso e enfrenta um Presente assinalado por ventos de mudança. As associações de hoje, têm o dever e a necessidade de preservar o seu património, que foi e é trabalho de tantos, desbravar um caminho novo e enfrentar com êxito os desafios de uma cidadania participativa de um mundo fasci-nantemente interativo.

As associações e os indivíduos que as formam são agentes promotores de uma melhor vivência democrá-tica, participativa, e geradora de bens sociais e culturais, na comuni-dade em que estão inseridos.“A vida associativa é, na verdade, um pilar da democratização cultu-ral, um terreno muito específico onde se desenvolvem valores de sociabilização e atitudes criativas que contribuem para a “caracteri-zação” da realidade de vida da Co-munidade.O movimento associativo tem de ser capaz, dentro de si mesmo, com as suas próprias forças encontrar os rumos de adaptação ás mudanças e ao fluir da história” (A.S.P. em, Fa-zer Associativismo).Cada associativista, cada dirigente associativo, deve interiorizar que depende de si, do seu empenho e exemplo, a força do associativismo e que, do trabalho conjunto, de-pende essa mesma força geradora de novos empreendimentos.Terá igualmente que ter a capacida-de de gerar na sociedade reacções positivas às causas que o associati-vismo defende. Terá que estimular a

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participação cívica, muitas vezes em contacto direto com outros agentes que não conhece, com vista a fa-vorecer objetivos comuns. Esta é a luta, uma luta que visa impulsionar o mundo em que vivemos, mesmo o mundo de cada indivíduo, trans-formando-nos também, nas nossas ideias, pensamentos e causas que defendemos.As associações debatem-se com inúmeros problemas, alguns resul-tantes do próprio associativista (es-tes deverão deixar fora das associa-ções as suas próprias fragilidades), ou do Meio. São no entanto crucial o empenho e a participação cons-ciente e responsável das pessoas.Por outro lado, o conceito de cida-dania ajuda à mobilização de uma participação alargada dos cidadãos na gestão e desenvolvimento da sua cidade, possibilitando a criação de alternativas.Esta poderá ser considerada outra “função” do dirigente associativo atual, cativar o cidadão para a cida-

dania participada.Os acontecimentos no Mundo sucedem-se num ritmo surpreen-dente e as associações poderão as-sumir um papel importante na sua divulgação e reflexão junto da Co-munidade. Esse papel ativo poderá funcionar como transformador da própria realidade.Hoje, alem da vontade de cada um, as associações contam com uma importante ajuda: as novas tecno-logias.A Informática/Internet proporciona de uma maneira rápida, acessível e eficiente, a divulgação da informa-ção e permite uma coordenação de atividades ou estratégias. O Mundo tem vindo a assistir a fenómenos or-ganizados por grupos de indivíduos ou Comunidades que em momen-tos sociais críticos apelam à mobi-lização coletiva. Assim, a Internet (emails, facebook, twiter, etc.), deve permitir o contato constante entre as várias associações, a divul-gação das suas atividades, a divul-

gação dos princípios que defendem e das causas que as sustentam.Para se atuar assertivamente, é fundamental as associações e os seus dirigentes compreenderem as transformações e as necessidades das novas sociedades. Assim, a par da formação dos di-rigentes associativos (observemos um bom exemplo levado a efeito pela Associação de Colectividades e Associações do Concelho do Bar-reiro no passado dia , nos Celtas, uma ação subordinada ao tema “A Fiscalidade nas Colectividades”), a Informatica/Internet deve ser en-tendida no presente como uma fer-ramenta das Associações.Deste modo, o futuro das Associa-ções passa pela inovação, criativi-dade, precisão, clareza, mas sobre-tudo e sempre pela motivação dos seus dirigentes. Manuel da Fonseca disse: “as coi-sas belas só pertencem a quem as ama”.

Nuno Soares

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Armando de Sousa Teixeira

A ESCOLA ASSOCIATIVA

- Senhor António, boa tarde! - Boa tarde, rapaz! - Não viu por aqui o “Kilas” ou o “Fininho”? - Ná, ainda não apareceram! Quem esteve cá foi o “Gago”, mas já há um bom bocado. -Tá bem! Vou esperar, obrigado.A esquina era o ponto de encontro por excelência, lugar privilegiado de convívio, de conversa e de com-binações da malta, onde todos iam parar sem aviso prévio. Na posição de “cegonha”, pé en-costado à pedra polida pela usura de tantas solas de sapatos de vá-rias gerações, a espera normalmen-te era curta, dava para fazer e des-fazer, trocando a perna de apoio, aí umas três vezes. Já lá vinha o “Pa-puço”. - O que estás a fazer aí à esqui-

na?… - Estou a segurar o prédio, não vês! - Ontem fomos a Lisboa para com-prar roupa à maneira, nos “Porfí-rios”!… - Se podes é assim mesmo, à moda! O que cumpriste compraste ? - Oh! Oh! Oh! Estão a falar dos “Porfírios”? O “Coniça” deu uma “granda” barraca! Queria gamar umas peúgas e tirou um número de criança! Ah! Ah! Ah! - o “Fini-nho” fazia uma entrada tiunfal. Ao sair de casa mesmo em frente, per-cebera logo a conversa . - Não foi nada , pá! Vai à merda! O rapaz voltou logo atrás e atirou-as para o monte! - A melhor foi a do “Pitchirilo”. Quando ia a descer para a cave, há um grande espelho na parede, foi

contra ele e pediu desculpa à própria imagem. Oh! Oh! Oh! - Tás a gozar mas também não compraste nada! - É tudo uma cambada de tesos! Ninguém tem cheta no bolso mas vão para Lisboa fazer figura! - acres-centava o “Caldeirada”, entretanto chegado e já metido na conversa, no tom sarcástico característico. Afinal ninguém comprara nada, a indigência monetária era gene-ralizada, as famílias operárias da vila velha, trabalhando na CUF, no Caminho de Ferro, ou ainda na pes-ca tradicional, viviam com grandes dificuldades. O orçamento insufi-ciente para as necessidades bási-cas, não dava para aqueles “luxos”. Desfazia-se a frustração inicial do “Professor”, que mesmo a estudar

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(o único!) com uma bolsa de estu-do, também não podia chegar às “modas”.

* - Já estamos quatro, bora jogar às cartas para a Sociedade!? - Bora! Vem aí o “Kilas” também! - Não posso ir!… Não sou sócio - constrangia-se o “Céguinho” - Não faz mal, vais “c’agente “! Todos possuíam uma certa vivên-cia associativa pela frequência qua-se diária das colectividades do bair-ro. O contínuo alto e mal encarado fez uma inspecção visual rigorosa à entrada e atirou arrogante : - Onde é que vão? - Vamos jogar às cartas! Não se pode?…- o “Fininho” tinha um ódio de estimação pela criatura embir-renta que tinha fama de bufo. - Só na saleta lá do fundo! - Então é nesta sala abafada que jogam às cartas? Cheira a mofo! - reparava o “Professor”, pela pri-meira vez naqueles propósitos. - Estes “velhos” tão sempre a cor-rer connosco! Só querem a sala grande para eles! Para compensar o castigo do iso-lamento, o grupo já ampliado, fazia uma algazarra enorme para desper-tar naturalmente a atenção contra-riada.

Não tardou a aparecer um direc-tor com ar oficial, muito zangado : - Vamos fechar a saleta, acabaram as cartas! - “Tamém”, têm a mania que são donos disto tudo!… O meu pai paga a quota todos os meses! - Identifique estes senhores! - a ordem era para o contínuo-bufo - pau mandado, neste caso com sa-tisfação : - Há dois que não são sócios! - afi-nal a criatura mal encarada estava atenta ao negócio. - Quem não é sócio não pode en-trar na colectividade! - Mas os rapazes estão connos-co! Até iam meter a proposta para sócios!…- o “Kilas”, normalmente muito calmo, estava a perder o sé-rio. - São as normas da colectividade! - Assim não vão conseguir cativar os jovens, que serão os dirigentes associativos do futuro! - Quem é o senhor para me dar lições? - Nada, nada! Estava só a pensar em voz alta, Boa noite! - Malta, bora! Vai um, vão todos! Metam esta merda no c…! Depois venham cá pedir para ir represen-tar a colectividade! O “Fininho” referia-se à recente

delegação que participara, equipa-da à maneira com as cores da So-ciedade, na inauguração do Estádio Alfredo da Silva, no dia 30 de Junho de 1965, com a presença do pre-sidente da República, o almirante corta-fitas, Américo Tomás. Sem actividade desportiva signi-ficativa, a colectividade do bairro arrebanhara uma série de miúdos para preencherem a sua delegação, com bandeira e tudo. Era caracte-rístico dos tempos que se viviam de política de fachada, de pompa oficial orquestrada para mostrar o “apoio popular” ao regime. O facto é que o estádio estava cheio, e quase todas ( houve hon-rosas excepções!) as colectividades do concelho lá estavam. Como no caso vertente, a maioria com dele-gações forjadas, fingindo uma acti-vidade inexistente. Actividade real, com a participação de muitos daqueles jovens “expul-sos” do jogo das cartas, em cargos de coordenação, aconteceu alguns meses depois, na participação nos Jogos Juvenis do Barreiro. Mas por outra colectividade do bairro, mais modesta e simpática, o Casalense!

Armando Teixeira

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Manuela Fonseca

Associativismo: do (Meu) Passado ao (Nosso) Futuro

(Notas de um Percurso de Vida)

Era pequena: ia com os meus pais, sócios da Coopera-tiva Popular Barreirense, às compras, entre as quais os produtos alimentares tinham a primazia.Aquela forma de agregação que a Cooperativa propor-cionava juntava as pessoas, em tempos em que o re-gime totalitário não o desejava, e permitia-lhes trocas, fugazes, de ideias e um consumo menos dispendioso. Diligente, o principal funcionário, o Senhor Hercula-no, atendia os cooperantes e apontava, sabiamente, as despesas na caderneta que cada família tinha, uti-lizada – se o tempo não me atraiçoa a visualização de momentos que vivi – para uma eventual forma de pa-gamento.(Não vou perguntar nada acerca do livrinho à amiga de infância, Isabel Caeiro, então vizinha da instituição e filha de membros da mesma, porque aqui registo, sim-plesmente, a recordação de uma associação que evo-luiu para ser, hoje, um dos marcos culturais da Cidade e das suas vivências democráticas.)Lembro-me da venda do azeite, a acção que mais me maravilhava – o líquido extraído do recipiente coloca-do sobre o balcão, através de uma medidora que fazia a contagem do volume que pretendíamos e que tinha, acoplados, uma manivela e um êmbolo que, ligados a depósito invisível, punham, na garrafa que levávamos, a quantidade pretendida, fruto da tracção de Hercula-no ou do seu ajudante, o Jacinto.(Como tudo era difícil então!) Havia os tecidos que a minha mãe comprava para os transformar, com as sobrinhas, em bonita roupa, ta-lhada pelas mãos habilidosas da irmã, a Tia “Bá” – sau-dosa Bárbara Horta que, na década de sessenta, che-gou a leccionar um curso de corte, no Ginásio-Sede do Barreirense, Clube que me habituei a amar com(o) a maior parte da família. De entre os parentes que, sob o ponto de vista despor-tivo, eram do Luso Futebol Clube, evoco, com saudade e respeito, o primo Francisco Horta Raposo, que, Direc-tor do Jornal da agremiação, chegou a ter, atentos lei-tores do periódico, membros da nojenta “comissão de

censura” (com minúsculas iniciais, sim, e tenho pena de não poder escrevê-la com tinta invisível). Com a cultura de coragem, sabedoria e silêncio que o Alentejo de origem lhe ensinara, fez daquele órgão, com outros companheiros, em exemplar trabalho de grupo, uma forma de resistência, espelho de um co-lectivo (indomável, trabalhador e erudito) chamado Barreiro.(Francisco Horta Raposo está, justamente, na nossa to-ponímia.)O mesmo Luso Futebol Clube onde víamos e ouvíamos, entre outros mestres de Arte(s) e Amor à Liberdade, Zeca Afonso, o crítico de cinema Vieira Marques. As palavras, esclarecidas, continuam em todos os que tivemos o privilégio de, ávidos, escutá-los, em apren-dizagem que nos moldou. (Por coincidência, o segundo era irmão da minha pro-fessora de Filosofia do Liceu Nacional de Setúbal, a Dr.ª Zita, que, com distinção, paciência e elevada capacida-de comunicacional, nos ensinava a reflectir, falar, en-tender o outro, escrever com método e parcimónia.Fora a senhora empurrada de um estabelecimento con-génere por não aceder à “cunha” que um funcionário “metera” para a filha, aluna pouco diligente, transitar na disciplina que ministrava. Zita Vieira Marques, exemplo de dignidade cujo cami-nho, em boa hora, cruzei.).O Luso Futebol Clube de cultura e inovação foi o lo-cal de reencontro com o jovem Carlos Humberto de Carvalho – rapaz sossegado e trabalhador a quem dera lições – e onde, na noite de um dia trágico, conheci a sua namorada, Lurdes, companheira de uma vida de fraternidade.(Carlos Humberto, nada me incomodam, a propósito do que acabo de expressar, leituras que – faço, apenas, uma inferência, talvez despropositada – sugiram o cul-to da tua personalidade, acção que não se coadunaria nem com a simplicidade que te norteia nem com o es-pírito libertário com que devo ter nascido.)

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Isso aconteceu horas depois do assassínio de José António Ribeiro dos Santos, numa importante reu-nião estudantil na qual a Lurdes, aluna do Instituto Comercial de Lisboa, participava.Cobarde e barbaramente terminada a vida do rapaz com armas de fogo da DGS, designação e máscara última da PIDE que, com o advento do caetanismo, tinha, apenas, mascarado o nome e mantido a es-trutura repressiva.Eram os mesmos os actos, abomináveis, que, com capa remendada, continuavam a exercer: não con-tentes com a brutalidade da interrupção do con-clave estudantil, nesse dia da primeira metade de Outubro de 1972, dispararam sobre aquele aluno do Instituto Superior de Ciências Económicas e Fi-nanceiras, indefeso, como os outros, e roubaram-lhe, bandidos, o mais precioso bem, a vida.(Ribeiro dos Santos, nome perpetuado, justa-mente, em artéria de Lisboa, um dos símbolos e visionários do Movimento Associativo Estudantil Português da minha geração, odiado de morte – expressão literal, infelizmente – pelos fascistas.José António, valor e motor dos tempos, duros, que anunciavam a Liberdade, tão dolorosamente conquistada, continua entre nós.)O Grupo Desportivo da CUF, que deu campeões mundiais de Hóquei em Patins a Portugal e ao Bar-reiro, também meu “adversário”, várias vezes me emocionou, ali, em Santa Bárbara, com jogadas e golos maravilhosos. (A propósito da modalidade: uma maioria de juízes internacionais, incompetentes, tem colaborado, há vários anos, em arredar as Selecções Nacionais Portuguesas de vitórias e das próprias finais, como acaba, mais uma vez, de acontecer.Confesso que já não tenho paciência para ver tan-tos “roubos de catedral”, em expressão querida de José Maria Pedroto, aplicada a outros actos des-portivos.)Na CUF, era atleta de basquetebol a minha prima Maria José Horta, amiga e colega de sempre, que quase me punha fora de mim quando ganhava ao Barreirense!Revejo como a “Zé”, duplamente parente muito querida – os casamentos de dois casais de irmãos, na aldeia da Corte do Pinto, às portas da Mina de S. Domingos, são parte da nossa origem –, se em-penhava no jogo, na honra das cores defendidas, na distante década de sessenta. Tivera a possibilidade, que ainda hoje invejo, de praticar desporto federado, para além da partici-pação no marco histórico que os Jogos Juvenis do

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ro, do UTIBTeatro, do TESFAL) pertencem ao elevado patamar dessas mostras.(Sou casada com o Manuel Alpalhão Costa que imolou parte da vida no TEB e agora, a idade jovem há muito ultrapassada, dá um pouco, o que pode, até atrás do palco, à ArteViva.Não, não foi por acaso que o associativismo nos jun-tou.) “Os Franceses”, a Sociedade Democrática União Bar-reirense, foi o local onde, muito jovem, o pai tinha aprendido a tocar o precioso bandolim (que tantas coisas boas me faz ouvir e rever). Dançava, divertido, com a minha mãe, nos sempre ani-mados bailes.Pouco dotada para a actividade que tanto apreciavam, eu ficava na cadeira, bem-disposta, quase tonta com o seu rodopio. Olhavam-nos e sorriam para o engraçado casal: ele, grande e cheio, e a mãe muito pequena.Nessa Sociedade, felizmente actual e pujante (Deus, como teria ocorrido o triste incêndio e fim do “22”?), os meus dois rapazes experimentaram-lhe a vertente pedagógica e o mais velho continua seu associado, na manutenção de herança familiar.Fui, durante algum tempo, membro do Cine Clube do Barreiro, onde cresci no amor ao cinema, já inculcado pelo meu pai, ali bem perto, no Cinema Teatro Repú-blica, hoje mais um orgulho ferroviário feito pó, onde também tive aulas de Dactilografia, pacientemente da-das por Dona Susete, Mendes por casamento.No velho Largo do Casal, conheci a heróica Helena Rita, entregue ao Cine Clube, ilustre cinéfila da então vila, outra vítima do fascismo a quem também presto homenagem. (Como pode haver gente – neste ou em qualquer ou-tro país – que elogia ditaduras?)“A vida Associativa começa, na verdade, numa união de vontades – vontades que se assumem com uma visão que somos e queremos, uma proposta de vida; que se processa numa missão que procura dar respos-ta organizada aos objectivos que se pretendem alcan-çar de forma partilhada, sejam culturais, recreativos, desportivos, económicos, sociais, ambientais, etc.” – escreve um dos meus irmãos espirituais, Sousa Pereira (1), agraciado, muito justamente, com o galardão Bar-reiro Reconhecido na área do Associativismo. Pensava neste excerto, há poucas semanas, enquanto via a RTPN, agora RTP Informação, em programa de-dicado ao Turismo: no cimo dos Andes, a cooperação tem contribuído para o povo índio da região aumentar as vendas do vestuário, natural e excelente, que pro-duz.

Barreiro constituíram.(Vingava-me dela, na praia, quando inventávamos pro-vas de natação para ambas e eu tentava ganhar-lhe.Passou perto de mim num destes dias: desfruta, agora, com a calma, comedimento e concentração de sem-pre, da actividade de avó.)Havia duas sociedades de cultura e recreio, O Clube 22 de Novembro e “Os Franceses”, que frequentava com os progenitores: na primeira, encontrei-me, mais tarde, amante de Artes de Palco, com excelentes in-terpretações do Teatro de Ensaio do Barreiro, como “A Forja” de Alves Redol, produção artística inesque-cível – quase parafraseio o Engenheiro António Redol, filho do grande escritor, após se ter deslumbrado com a obra-prima do TEB. Adoradora (adjectivo que peço emprestado à Isabel Caeiro, uma das militantes da Sociedade de Instrução e Recreio Barreirense, “Os Penicheiros”) da manifesta-ção cultural que, com a Literatura, mais me diz, fui ar-rebatada pela majestade de Shakespeare, no “Old Vic”, bem como por representações efectuadas em várias cidades da “Aldeia Global”. E, por tê-las sentido tão perto, ouso proferir: “A For-ja” e outros trabalhos (do próprio Teatro de Ensaio do Barreiro, da ArteViva, Companhia de Teatro do Barrei-

"AForja": máscara da Morte, utilizada por Raquel Maria e Manuel Alpalhão Costa

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Barreiro, Cidade que me orgulha, ainda, com a verten-te de Desporto Adaptado e de instituições que tam-bém dão excelente contributo para que as pessoas ul-trapassem limitações e barreiras. (Alguém, muito querido e chegado, teve apoio da “Nós” de que continuo sócia.E, embora fuja, eu própria, da AMPM – Associação de Mulheres com Patologia Mamária –, ainda sob o trau-ma de uma recidiva com que me confronto, que abo-mino e à qual tento não dar tréguas, não deixo de ter a quotização em dia e de, quando necessário, fazer as actas de Assembleias-Gerais, importantes nas infor-mações e decisões, findas as quais, simpáticos lanches são convívio para esquecer “coisas”. AMPM, dedicada na ajuda de quem passa pela difi-culdade de encarar, mulher ou homem, o cancro da mama; organização cada vez mais visível pelas Mar-chas que, anualmente, por esta altura, organiza, com muito suor e êxito, contra tal inimigo.)Barreiro, “terra de artistas e desportistas”, como al-guém, há mais de duas décadas, bem o classificou, na nossa Escola Secundária de Santo André.Barreiro, Cidade que um dia, será “Capital Nacional do

Xadrez”, tal o que tem feito pela modalidade?Isso é desejo de todos nós, interpretado por Sousa Pe-reira (ainda ele): “Um dia, de facto, gostava de ver esta matéria debati-da com técnicos, professores, atletas, pais, dirigentes associativos, autarcas e envolver empresas. Foi isto que senti ao assistir à inauguração da Acade-mia de Xadrez…uma porta aberta ao futuro, ali bem perto do Tejo, um lugar que nos leva a sonhar e a pen-sar o Barreiro voltado para o mundo.” (2)

Manuela Fonseca

ReferênciasAntónio Sousa Pereira(1)“Fazer Associativismo”. Lavradio, ed. Jornal “Ros-tos”, Col. Con-textos, 2003, 117 pp., p.88.(2) «Inferências – Diz que é uma espécie de BLOGUE DE NOTAS do Barreiro – Barreiro pode ser reconhecido como a ‘Capital do Xadrez de Portugal’»

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Dulce Reis

ASSOCIATIVISMO NO BARREIRO

O Associativismo assume no Barreiro uma importância fundamental na organização das populações.Desde cedo, os Barreirenses desenvolveram o gosto pelas colectividades como forma de colmatarem as fa-lhas na educação, cultura e lazer que o poder negava ao Povo nos idos séculos XIX e XX.Existem no Concelho várias colectividades centenárias e cada uma delas prestou um serviço importante nas suas áreas específicas, como é o caso do desporto, da música, do teatro e até do cinema, obras assistenciais, profissionais, de defesa do ambiente, de defesa dos di-reitos dos animais, etc…etc…Após o 25 de Abril de 1974, em pleno período da Revo-lução, foram criadas imensas associações, sobretudo ligadas ao desporto e à cultura. Inclusive, no seio dos Sindicatos, nos departamentos de juventude, foram organizados movimentos que criaram grupos de teatro, como foi o caso do Grupo de Teatro dos Trabalhadores do Comércio e Metalúr-gicos.As Comissões de Moradores que desempenharam um papel relevante na defesa dos interesses dos morado-res, logo a seguir ao 25 de Abril, foram-se mantendo em funções, encontrando-se actualmente com uma actividade muito reduzida ou nula.Já na década de 80, as associações que foram nascen-do, apresentavam uma tendência para a defesa de grandes causas, como por exemplo, a defesa do am-biente e a defesa dos consumidores.As Cooperativas, que sendo uma forma de Associati-vismo bastante antiga na Sociedade Portuguesa, ainda hoje mantém actividades, sobretudo ligadas à cultu-ra, atendendo a que as suas origens se foram, com o tempo, apagando como é o caso da “Cooperativa dos Corticeiros” e a “Cooperativa dos Ferroviários”. Com a extinção (ou quase) destas classes profissionais no Barreiro, houve que proceder a uma mudança e adequação aos tempos modernos, o que estas entida-des lograram conseguir.O Barreiro foi e continua a ser, pródigo em organiza-

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ção da Sociedade Civil em todas as áreas da vida das populações.Existem vários Grupos de Teatro, que, em regra se constituem em Associação de matriz cultural. Existem várias associações desportivas que incentivam e incre-mentam a prática do desporto amador e algumas, pro-fissional.O Movimento Associativo encontra-se em fase de cria-ção de uma Associação de Colectividades do Concelho do Barreiro, que se considera ser um instrumento ne-cessário para estabelecer formas de organização, ten-tando responder às exigências da época em que o País vive hoje. Foram preocupações sentidas quanto à necessidade de melhoria da organização interna, elevação do ní-vel cultural das acções, o rejuvenescimento do Asso-ciativismo, entre outras, que levaram à criação de um Grupo de Trabalho, integrado por várias Associações do Concelho, para desenvolver e executar esta ideia da criação da Associação de Colectividades do Concelho

do Barreiro.Caso venha a concretizar-se, poderemos estar perante um poderoso meio para revitalizar o Movimento Asso-ciativo do Concelho, dotando-o de meios necessários para, cumprindo a tradição centenária, continuarem a desenvolver trabalho junto da Sociedade Civil, concre-tizando o conceito constitucional de democracia par-ticipativa.Sem sombra de dúvida, que um dos capitais mais im-portantes deste Concelho é a sua história que se faz também, com a história das Associações e Colectivida-des, e que lhe atribui uma riqueza de valores e princí-pios que importa não deixar cair na esteira do tempo, preservando, apoiando, intervindo, participando, pois só da diversidade das ideias e do pensamento, pode construir-se, em torno de um objectivo comum, uma cidade participativa, fortalecendo a Democracia que Abril nos trouxe.

Dulce Reis

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Dourado Mendes

AS COLECTIVIDADESA Política e a Crise

As coletividades de cultura, recreio e desporto são as-sociações democráticas constituídas por cidadãos dos mais diversos quadrantes políticos e religiosos. Esta di-versidade política e religiosa faz das colectividades es-paços de democracia que constituem uma das maiores riquezas do Associativismo.Nos tempos da Ditadura, era obrigatório constar dos estatutos das colectividades que estas eram alheias a quaisquer atividades políticas ou religiosas. Claro que esta norma estatutária, por si só, nunca impediu que as colectividades fossem privilegiados pontos de en-contro da oposição.Se antes do 25 de Abril as colectividades eram referên-cias da Democracia, agora, não há motivos para que o não sejam. A política nas colectividades tem sido tema para inú-meros debates.Não oferece dúvidas de que as colectividades, dado o seu carácter unitário e a sua independência, não po-dem, por sua iniciativa, promover actividades partidá-rias, mas, por outro lado, podem ceder as suas insta-lações aos partidos para estes realizarem actividades pontuais.Com o rodar dos anos, foi surgindo um vasto consenso, quer de responsáveis políticos, quer de associativistas, de que as colectividades devem ficar-se pelas ações político-associativas, isto é, ações que visam dar res-posta às legítimas aspirações no acesso à cultura ao desporto e à participação social das populações. Presentemente, vivemos mais uma crise que é assun-to constante dos órgãos de comunicação social e de todas as conversas, mas que as colectividades, por ra-zões que não se entende, têm ficado à margem como se o assunto não lhes dissesse respeito. Até aquelas vocacionadas para as actividades culturais não se têm interessado em organizar eventos que trouxessem aos seus associados e à comunidade, em geral, conheci-mentos que seriam do interesse de todos.Perante a crise que vivemos, as coletividades deveriam promover debates, conferências, exposições e outros

meios de comunicação que proporcionassem, aos as-sociados e à comunidade envolvente, conhecimentos sobre o que é, como funciona e a quem serve o FMI, como saem os dinheiros para os offshores, o que são os mercados e quem lucra com eles, o que são as agên-cias de rating e quem essa gente, sem rosto, que tem poder para estrangular países inteiros e tantos outros temas que podem ser tratados no âmbito do associati-vismo. Perante a situação de incerteza que vivemos e que se vai prolongar, repetimos que é difícil perceber como tem sido possível a indiferença das coletivida-des, em face dos actuais problemas sociais da nossa sociedade. Neste tempo de crise em que o desânimo, as priva-ções, as preocupações do presente e, também, do futuro atingem a esmagadora maioria das famílias, as coletividades de cultura e recreio devem assumir a sua intervenção social e, com os meios ao seu dispor, pro-mover o necessário esclarecimento junto da comuni-dade.Sem abdicar do carácter unitário e da independência do movimento associativo.

Dourado Mendes

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Foi no ano de 1848, que pela pri-meira vez no Barreiro se organizou uma sociedade philarmonica, sen-do seu presidente António Maria Bandeira, e director da banda o Sr. Luiz dos Santos Sénior; em conse-quência de rivalidades que se de-senvolveram entre os associados, no ano de 1870 dissolveu-se esta philarmonica e de cada um dos gru-pos dissidentes brotou uma nova sociedade.Apezar de já decorridos bastantes anos, ainda não se extinguiu o de-samor com que reciprocamente se memoseam.Um dos grupos, em número de trin-ta e quatro, no dia 4 d'agosto d'esse anno, sob a presidência do honra-do velho, há pouco fallecido n'esta villa, o Dr. Miguel José António Cân-dido dos Santos, fundou a «Socie-dade Marcial Capricho Barreiren-se» mais conhecida pela sociedade dos franceses.Três dias depois, o outro grupo com trinta sócios, sob a prezidência de Kaphael Idezio Sebastião Maria Pi-menta, instituía a Sociedade Phi-larmonica barreirense, conhecida pela dos penicheiros. Esta ultima sociedade teve por só-cio o Sr. Conde de Peniche, actual marquez d'Angeja, e como sobre este titular e seus partidários re-cahisse um certo ridículo prove-niente da sua mallograda conspi-ração, o grupo opposto appelidou esta sociedade de penicheiros.Por essa occasião, pouco mais ou

menos, estava no maior auge a guerra franco-prussiana de que re-sultou ficar a França vencida; isso originou que por sua vez os peni-cheiros alcunhassem de franceses os seus contrários.Consequência d'esta divergência d'opiniões e da exaltação dos seus partidários, sucedem como em to-das as povoações onde há duas philarmonicas, começar a lavrar a intriga, a inveja e as malquerenças de parte a parte, sem que nenhum dos grupos se distinguisse pela sua prudência ou menor exaltação, de que resultou um constante foco de indisposições em que toda a povoa-ção se acha continuamente envolvi-da, com o que muito perde, e o que ninguém lucra, a não ser um pouco de infatuação para qualquer dos partidários mais acérrimos quando, por acaso se julgam vencedores em qualquer d`essas tricas mesquinhas de política local.Nenhuma d'estas sociedades pos-sue estatutos legalmente approva-dos, e um bom serviço prestaria a esta villa quem, dissolvendo am-bas, com os elementos mais esco-lhidos de uma e outra formasse um só clube, onde reunidos todos, Pe-nicheiros e Franceses, Intimamente ligados e procurando alliar o útil com o agradável; isto é, proporcio-nando a todos os barreirenses algu-mas horas de distracção, tivessem por scopo principal, senão único, o bem-estar e os melhoramentos d´esta povoação, que de bastantes

ainda carece.Poucas povoações, no nosso paiz, haverá que tenham tantos e tão fortes elementos para progredir:— a sua proximidade da capital, a excellente posição topographica em que está edificada, a magnifica praia que possue, e o ser estação terminal do caminho de ferro do sul e sueste, são vantagens todas muito recommendaveis, verdadei-ramente excepcionais, e que, bem dirigidas, podiam, em poucos an-nos, transformar o Barreiro n'uma pequena cidade.Desgraçadamente, porém, na nos-sa terra em pouco mais se pensa do que em musicas, e quasí afouta-mente se pode dizer que os melho-ramentos, de que ella hoje está de posse, mais são devidos á força do destino do que ao labutar dos seus conterrâneos. Tanto uma como outra sociedade funccionam em bons edifícios, ade-quados ao fim a que se destinam, com bilhares, pequeno buftetes e magnificas salas para reuniões.A Sociedade Philarmonica Barrei-rense possui um pequeno theatro de salla, onde já se têm dado gran-de número de récitas. Annexa á outra sociedade ha, do mesmo modo, um theatro, magni-fico; foi fundado por 17 indivíduos d´esta villa, reunidos pela primeira vez, para esse fim, no dia 25 de Fe-vereiro de 1880, installando-se logo n´esta assembléa duas comissões, uma para tratar de finanças outra

José Augusto Pimenta

SOCIEDADES RECREATIVAS

Texto original do livro de:José Augusto Pimenta

Memoria Historica Descriptiva A Villa do Barreiro

Ano de 1886

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de trabalhos practeos, sendo ainda presidente tanto de uma como d'outra o dr. Miguel José António Cân-dido dos Santos, medico do partido municipal d´esta villa, homem de caracter são e coração bondoso, e d'uma austeridade de costumes irreprehensivel.O idificio d'este theatro foi feito exclusivamente para fim sob a direcção condutor das obras publicas o Sr. Iphigenio António de Mattos; possue um espaçoso pal-co com dois alçapões, plateia e duas ordens de gale-rias, tendo lugares para centenas de espectadores. O terreno, paredes e madeiramento são propriedade do sr. Joaquim do Rosário Costa, e o restante foi tudo feito com madeira offerecida pelo illustre deputado por este circulo, o abastado proprietário a quem o Alente-jo tanto deve, o sr. José Maria dos Santos; pelo traba-lho gratuito de alguns dos artistas de que se compõe

esta sociedade, e pelo producto d'um certo numero de pequenas acções, emittidas sem direito a dividendo, subscriptas por muitos indivíduos, tanto d´esta villa como de fora.Este theatro foi inaugurado no dia 12 de junho de 1881, com o notável drama o Santo Antonio, admiravelmente desempenhado por curiosos quasi todos d´esta villa. D´então para cá teem-se ali realisado algumas recitas de verdadeiro euthusiasmo, especialmente levadas a effeito pelos banhistas, e por differentes vezes aquelle palco tem sido pisado por notabilidades como Taborda e António Pedro.Tanto uma como outra sociedade por varias vezes teem tido ensaiadores dramáticos permanentemente e ambas as bandas possuem excellentes professores.

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Construção da sede do “Luso” “Os Penicheiros”

“Os Franceses”

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