newsletter be linked (pt)

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be-link d business & community intelligence & Business Community A revista das relações ONG n Empresas édité par E D I T O D esde o Forum Social Mundial que transcorreu na sua cidade histórica de Porto Alegre no final do mês de janeiro, o essencial dos debates situou-se em volta da questão da participação das organizações da sociedade civil na Cúpula do Rio em ju- nho. Decididas a serem vistas, escutadas e entendidas, elas mostraram que a Cúpula dos povos, reunião dos participantes da sociedade civil à margem da reunião institucional, poderá permitir-lhes passar suas mensagens. Paralelamente, não existe hoje nenhuma grande empresa que não pense em estar presente na confererência da ONU, sem portanto saber como par- ticipar. O que ainda acontece é que elas pensam nessa participação como um simples ato de presença obrigatória, servindo assim para serem recon- hecidas como fazendo parte do conjunto de atores interessados em fazer progredir o mundo no sentido de um desenvolvimento sustentável. A questão levantada então é dupla. A razão de lá estar e a contribuição que elas podem levar. Vinte anos após a 1 a cumbre no Rio e 10 anos após Johanesburgo, a so- ciedade civil organizada e o setor privado colocam em andamento recursos e uma energia importante para existir e pesar, mais e melhor, nos debates e junto à opinião pública. Mesas redondas, reuniões multi-participativas ou fechadas, foruns, manifestações durante os « sandwichs days », « side events »... Nunca uma reunião desse tipo terá provocado, em escala inter- nacional, uma tal implicação de participantes. No entanto, o forte e marcado interesse para encontros, antes reservados aos diplomatas e altos funcionários, está longe de ser um simples ato de comunicação. É um sinal palpável de concientização, por parte das organi- zações, da função pedagógica desses « momentums », às vezes decepcio- nantes, que representam os grandes encontros internacionais. Se eles não liberam necessariamente os resultados esperados, eles permitem a multipli- cação de contactos entre os atores privados, públicos, associativos, mídias e cidadãos. Eles facilitam, desse modo, as interações positivas e as contra- ditórias, sendo estas últimas essenciais para a melhoria da compreensão dos desafios, das culturas e das posições de uns e outros. Vá então ao Forum, seja curioso de descobrir o outro e divida : eis, sem dúvida, uma maneira útil e agradável de ver sua participação na Cúpula. Jérôme Auriac Diretor Geral de Be-linked Business & Community Intelligence As ONGS do mundo inteiro a caminho do RIO+20 A missão de Be-linked é integrar as relações com a sociedade civil no centro da estratégia de empresa, para criar, pela inovação, valor econômico, societal e ambiental durável. BRIEF A M É R I C A D O N O R T E Março de 2012 #15 Notícias dos 5 continentes 2-5 Sumário Caderno especial Antes da crise, mais de 15 % da população dos EUA já vivia sob o índice de pobreza, este número aumentando para 25 % se considerarmos as famílias negras e hispânicas. Se as empresas norte-americanas são, manifestadamente, as que criam riquezas, o desenvolvimento das mobilizações de estruturas comunitárias organizadas, de ONGS, de ambientalistas, e principalmente dos cidadãos « lambda », continua o questionamento sobre a redistribuição, a transparência e o respeito com o planeta, hoje de maneira bem mais frontal e sempre mais mobilizadora. Pulse 6 Uma mobilização que dura Operação Hope 8 Do you speak Finanças ? Wages 10 Alvoroço cooperativo International Business Leaders Forum & The Partnering Initiative 12 Commissário em.parcerias Sociedade civil e setor privado em andamento em direção do RIO+20 14 PROJETOS&PARCERIAS Parcerias para a bio-diversidade 11 FOCO SETORIAL 14 Charity business

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a primeira revista profissional (16 páginas) que lhes dá as chaves para entender os desafios da relação entre as empresas e as o terceiro setor – atualidade, análise, pesquisa, decifragem – sob um ângulo transversal e internacional.

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be-link dbusiness & community intelligence

&Business CommunityA revista das relações ONG n  Empresas

édité par

Edito

Desde o Forum Social Mundial que transcorreu na sua cidade histórica de Porto Alegre no final do mês de janeiro, o essencial dos debates situou-se em volta da questão da participação das organizações da sociedade civil na Cúpula do Rio em ju-

nho. Decididas a serem vistas, escutadas e entendidas, elas mostraram que a Cúpula dos povos, reunião dos participantes da sociedade civil à margem da reunião institucional, poderá permitir-lhes passar suas mensagens.

Paralelamente, não existe hoje nenhuma grande empresa que não pense em estar presente na confererência da ONU, sem portanto saber como par-ticipar. O que ainda acontece é que elas pensam nessa participação como um simples ato de presença obrigatória, servindo assim para serem recon-hecidas como fazendo parte do conjunto de atores interessados em fazer progredir o mundo no sentido de um desenvolvimento sustentável.

A questão levantada então é dupla. A razão de lá estar e a contribuição que elas podem levar.

Vinte anos após a 1a cumbre no Rio e 10 anos após Johanesburgo, a so-ciedade civil organizada e o setor privado colocam em andamento recursos e uma energia importante para existir e pesar, mais e melhor, nos debates e junto à opinião pública. Mesas redondas, reuniões multi-participativas ou fechadas, foruns, manifestações durante os « sandwichs days », « side events »... Nunca uma reunião desse tipo terá provocado, em escala inter-nacional, uma tal implicação de participantes.

No entanto, o forte e marcado interesse para encontros, antes reservados aos diplomatas e altos funcionários, está longe de ser um simples ato de comunicação. É um sinal palpável de concientização, por parte das organi-zações, da função pedagógica desses « momentums », às vezes decepcio-nantes, que representam os grandes encontros internacionais. Se eles não liberam necessariamente os resultados esperados, eles permitem a multipli-cação de contactos entre os atores privados, públicos, associativos, mídias e cidadãos. Eles facilitam, desse modo, as interações positivas e as contra-ditórias, sendo estas últimas essenciais para a melhoria da compreensão dos desafios, das culturas e das posições de uns e outros.

Vá então ao Forum, seja curioso de descobrir o outro e divida : eis, sem dúvida, uma maneira útil e agradável de ver sua participação na Cúpula.

Jérôme Auriac Diretor Geral de Be-linked

Business & Community Intelligence

As ONGS do mundo inteiro a caminho do RIO+20

A missão de Be-linked é integrar as relações com a sociedade civil no centro da estratégia de empresa, para criar, pela inovação, valor econômico, societal e ambiental durável.

BRIEF

AmériCA

DO

nOrTE

Março de 2012

#15Notícias dos 5 continentes 2-5

S u m á r i o

Caderno especial

Antes da crise,

mais de 15 % da

população dos

EUA já vivia sob o

índice de pobreza,

este número aumentando

para 25 % se considerarmos as famílias

negras e hispânicas.

Se as empresas norte-americanas são,

manifestadamente, as que criam riquezas,

o desenvolvimento das mobilizações de

estruturas comunitárias organizadas, de

ONGS, de ambientalistas, e principalmente

dos cidadãos « lambda », continua o

questionamento sobre a redistribuição,

a transparência e o respeito com o planeta,

hoje de maneira bem mais frontal e sempre

mais mobilizadora.

Pulse 6 Uma mobilização que dura

Operação Hope 8 Do you speak Finanças ?

Wages 10 Alvoroço cooperativo

International Business Leaders Forum

& The Partnering Initiative 12 Commissário em.parcerias

Sociedade civil e setor privado em andamento

em direção do RIO+20 14

PROJETOS&PARCERIAS

Parcerias para a bio-diversidade 11

FOCO SETORIAL 14 Charity business

2 B&Cbrief | n° 12 | juillet 2011

5notícias dos continentes

Costa do Marfim

Fair Labor Association www.fairlabor.orgNestlé www.nestle.ch

Malawi

SolarAid Solar-aid.orgMicroloan Foundationwww.microloanfoundation.org.uk

Haïti

Via Campesina www.viacampesina.orgGates Foundation www.gatesfoundation.orgMonsanto www.monsanto.com

Redação : Anne-Julie Beuscart, Sarah Ertel, Marie Antonelle Joubert, Marine Lafon, Krisztina Tora, Juliette Van Wassenhove

2 B&Cbrief | n° 15 | março 2012

Cacau e Direitos Humanos

A sequência

Energia Solar para o desenvolvimento

OGm e generosidde

Á F R I C A

Nestlé / Associação Fair Labor | No último mês de dezembro,o conjunto de ONGS internacionais levadas pela Declaração de Ber-na, denunciava as duvidosas práticas da filial Chocolate na África do Oeste. Como resposta, Nestlé, cujo Plano Cacau era particu-larmente visado na campanha das ONGS, acaba de iniciar uma colaboração com a Fair Labor Association (FLA), criticada atual-mente pela sua falta de independência em relação às multinacio-nais (ver a notícia sobre a APPLE). Esta última estará na Costa do Marfim, para examinar a rede de abastecimento da multinacional agroalimentar e verificar, entre outras, que esta rede não emprega crianças. Os especialistas vão fazer propostas para implementar soluções operacionais e sustentáveis se os resultados da auditoria se revelarem negativos. Nestlé, que escolheu a organização «pelo seu conhecimento do terreno», dará os primeiros resultados públi-cos durante a primavera de 2012.

Solar Aid/Microloan Foundation | No Malawi, onde somen-te 8% da população possui luz elétrica, as iniciativas tais quais a de Solar Aid proporcionam soluções concretas. Esta ONG forma pessoas portadoras do virus VIH/SIDA a tornarem-se « empreen-dedores solares », fabricando e comercializando paineis solares. Além disso, SolarAid apoia, em parceria com a Fundação Micro-Loan, empresas dirigidas por mulheres. O objetivo é ajudá-las a complementar suas rendas (oriundas, por exemplo, de um pequeno comércio ou restaurante) com ganhos realizados com o aluguel ou a venda de produtos de « packs solares » (compreendendo um pe-queno painel solar, uma lâmpada LED, uma bateria e um carregador de celular); uma atividade que já produz renda no final de apenas alguns meses. Para isto, as mulheres recebem uma formação em marketing, contabilidade ou manutenção de produtos do «pack». Atualmente mais de 5 800 pequenos paineis solares foram vendi-dos, e 9 mulheres tornaram-se «empreendedoras solares».

AMÉRICAS

Fondação Gates/Monsanto/Via Campesina | Dois anos após o seísmo, 500 000 haitianos continuam sem residência e vivem em acampamentos informais; a cólera já matou milhares de pessoas. Quanto ao fundo humanitário de 2,4 bilhões de dólares destinados à reconstrução do Haiti, somente 1,4 % do montante foi entregue à organizações governamentais e não-governamentais haitianas. É neste quadro dramático que a Fundação Bill e Melinda Gates ofereceu sementes OGM ao Haiti, sendo que a estratégia de de-senvolvimento agrícola da Fundação, é de implantar organismos geneticamente modificados, que devem permitir obter melhores rendimentos e evitar consequências desastrosas causadas por doenças e pelas secas. A ONG Via Campesina denuncia esta par-ceria, argumentando que as OGMS tornam os camponeses de-

B&Cbrief | n° 12 | juillet 2011 3

][

Argentina

FOVISEEwww.fovisee.com

Cambodge

Asia Floor Wage Cam twitter.com/afwcamThe Clean Cloth Campaign www.cleanclothes.org

China

Human Rights Watch www.hrw.org

O sol no alojamento social

inquérito aberto

Condições de trabalho na Chinafrica

Esta rúbrica é destinada a ilustrar a atualidade das relações ONGnEmpresas através de experiências, de iniciativas renovantes, mas também de conflitos ou de divergências que encontramos no mundo.

3

pendentes, desde um próximo semeio, da empresa líder do setor: Monsanto. Este «dom amargo» concerne iguamente os países da África onde a Fundação age de maneira ativa.

FOVISEE/EDENOR/ Embaixada da Alemanha | A ONG FO-VISEE (Forum do alojamento social e da economia de energia) e a empresa EDENOR, número um da distribuição de energia na Argentina, formaram uma parceria para construir o primeiro bairro popular alimentado em energia solar na Argentina. Este projeto permite reduzir em 50 % a fatura de energia das famílias e de comprovar que o alojamento social pode rimar com economia de energia e redução do impacto sobre o meio-ambiental. Hoje 33 casas estão equipadas de paineis solares. Estas duas em-presas esperam poder equipar 100 residências suplementares e procuram outros associados para continuar a boa execução desse projeto.

ÁSIA

International Asia Floor Wage Alliance/H&M/GAP | No Cam-bodge, as associações e sindicatos que defendem os direitos dos trabalhadores da indústria do téxtil realizaram um Tribunal do Povo do dia 5 ao dia 8 de fevereiro de 2012 em sequência a uma série de indisposições coletivas ligadas às condições precárias de traballho. Este Tribunal tinha por missão uma sindicância a respei-to das remunerações e da maneira de tratar os assalariados das usinas do Cambodge, que fornecem marcas de roupas ociden-tais. As empresas H&M e Gap foram severamente criticadas por terem anunciado que elas não assistiriam à sessão do Tribunal. Outras multinacionais como Puma e Adidas deveriam estar pre-sentes para fornecer informações, face aos juízes especialistas em direitos humanos.

Empresas chinesas de minérios/ Human Rights Watch | En-quanto que as empresas chinesas implantadas na África são re-gularmente objeto de denúncia, a ONG de defesa dos direitos hu-manos Human Rights Watch publicou recentemente um relatório a respeito dos trabalhadores zambianosdas companhias de extração do cobre, mantidas e geradas pela China. Intitulado «Vocês serão demitidos se recusarem: violação das leis do trabalho nas minas de cobre do Estado chinês na Zâmbia», o documento relata um certo número de práticas, que vão ao encontro da regulamentação do trabalho nacional. As condições de higiene e de segurança de-ploráveis, o número de horas de trabalho assim como uma admi-nistração violenta são denunciadas pela ONG, que entrevistou mais de 170 pessoas, dos quais 95 menores, trabalhando para quatro empresas de minérios na Zâmbia. A China, que investiu mais de 700 milhões de euros na Zâmbia em 2010 e possui atualmente mais de trezentas empresas no país, estima que este relatório em nada reflete a realidade.

4 B&Cbrief | n° 12 | juillet 2011

5noticíasdos continentes

Queixa contra X

Higiene e dignidade

Papai noel é um lixo

França

Greenpeace www.greenpeace.org

França

Croix Rouge www.croix-rouge.fr

Espanha

EMT www.emtpalma.es

4 B&Cbrief | n° 15 | março 2012

EUROPA

Areva/Greenpeace | No número precedente, evocávamos a condenação de EDF por espionagem à Greenpeace. É tal-vez a vez de Areva de ir perante a justiça por fatos estran-hamente similares. A ONG meio-ambiental depôs queixa contra X após as revelações feitas pelo Jornal de Domingo do dia 1° de janeiro passado, a propósito de um documento «estritamente confidencial» oriundo de Alp Services, gabi-nete de inteligência econômica suiço, que visava Greenpea-ce, mas igualmente as ONGS Transparency International e Worldwatch. O gabinete suiço teria assim proposto à Areva «uma vigilância preventiva, com infiltração» destes três or-ganismos, proposta que o grupo francês especialista do nu-clear assegura não ter dado seguimento.

SCA Hygiene Products France/Croix Rouge francesa | A filial francesa do grupo internacional SCA, fabricante de pro-dutos de higiene pessoal, assinou uma longa parceria com a Cruz Vermelha para melhorar o acesso à higiene das pessoas em situação precária e para promover o lugar que deve ocu-par a higiene na saúde, junto aos jovens e pessoas idosas. A parceria comporta quatro componentes complementares : o primeiro consiste na distribuição de 40 000 kits de higiene para pessoas em situação precária ; os dois fascículos cen-trais, destinados aos dois públicos–cibla prioritários, deverão permitir, de uma parte, de desenvolver um projeto educativo de conhecimentos de higiene para os jovens nas escolas e, de outra parte, ajudar as pessoas idosas a continuarem autôno-mos e conservar a auto-estima, principalmente no que diz res-peito à incontinência. Enfim, os assalariados de SCA France mobiliza-se-ão junto à Cruz Vermelha na totalidade das ações da parceria.

EMT | No início de dezembro, os empregados de EMT (Em-presa Municipal de Transporte) de Palma decidiram dar seu «presente de Natal», prêmio dado pelo empregador, num va-lor total de 26 000 euros, a uma associação insular, par que ele fosse distribuído sob forma de alimentos, nos restauran-tes sociais por ocasião da festa de Natal. Na véspera desta festa e nesses tempos de crise, a direção da EMT anunciou uma redução de 75 % do presente de Natal enquanto que a convenção coletiva da empresa não autoriza tal redução. O comitê de empresa da EMT exprimiu sua indignação, face à «indelicadeza da empresa decidindo economizar o dinheiro dos assalariados, ou melhor, economizar o dinheiro prome-tido aos mais necessitados».

Conflito

Campanha

Colaboração

Patrocínio/filantropia

Iniciativa Governamental

As ligações hipertextos completas são

acessíveis na versão numérica de B&Cbrief

(formato pdf).

B&Cbrief | n° 12 | juillet 2011 5

M U N D O

Apple/LetGive/ONG I A empresa LetGive, cuja missão é facilitar os donativos de particulares destinados às ONGS, encontrou uma ideia simples e original para drenar mais donativos, desenvolven-do uma aplicação chamada Snooze e comercializada pela em-presa Apple, que vai desculpabilizar aqueles que dormem. Cada vez que um utilizador do Iphone atrasar o uso de seu despertador em cinco minutos, vinte e cinco centavos de dólares serão auto-maticamente deslocados para uma conta virtual. Duas vezes por mês, o utilizador da aplicação será convidado a escolher, numa lista de associações, aquela para a qual ele deseja dar o total ou uma parte da soma acumulada.

Coalizão internacional ao acesso à terra (ILC) I A denúncia de aquisição massiva de terras nos países em desenvolvimento tornou-se uma prioridade na agenda da sociedade civil interna-cional à partir das crises alimentares de 2008. O primeiro estudo importante sobre este problema, publicado em dezembro, mostra a extensão do mesmo, com transições que tratam de mais de 2 milhões de kilômetros quadrados, ou seja um área maior que a do México, entre 2000 e 2010. Os resultados relativizam a posição dos investidores estrangeiros face ao lucro das elites nacionais entre os compradores, assim como o peso dos cultivos alimentares nas ter-ras adqueridas (58% são destinadas aos biocarburantes). Sem sur-presa, o estudo assinala o preço elevado pago pelas comunidades rurais pobres, com direitos fundiários precários cuja subsistência depende do acesso à terra, desprotegidas ou mal recompensadas pelos governos locais.

PAM/Glencore I No momento da sua fusão com Xstrata, o gi-gante Glencore tem ainda contas a acertar com a sociedade civil: já questionado pela Sherpa, Déclaration de Berne, Mining Watch e pelo Entraide missionnaire face à OCDE, pelos desa-catos sociais e meio-ambientais do seu setor de minérios na Zâmbia ocorridos neste verão; o grupo trader de matérias pri-mas acaba de ser acusado pela sua colaboração com o Progra-ma Alimentar Mundial (PAM). Segundo The Guardian, «Glencore International compra matérias primas agrícolas em grandes quantidades aos fazendeiros e as revende, realizando fortes lu-cros» ao PAM, enquanto que os princípios morais desta agên-cia recomendam um abastecimento direto junto aos pequenos agricultores. Estas transações representariam um ganho de 60 milhões de euros para o grupo na Suiça, que tira assim proveito das especulações sobre matérias primas. Segundo a Declara-ção de Berna, ONG especialista dos grupos multinacionais nos setores de energia e minérios, o grupo Glencore « começa do zero « no que se refere ao respeito às normas sociais e meio-ambientais,enquanto que Xstrata «não é o pior aluno».... Como consequência, as organizações da sociedade civil expressam uma grande preocupação quanto às praticas do futuro grupo Glencore-Xstrata.

Let Givewww.letgive.comAppleitunes.apple.com

CIRAD www.cirad.frLand Coalition www.landcoalition.org

Durma! é dado

Land-grabbing : impactos junto

aos pobres

Especulações sobre uma

fusão

5

The Guardianwww.guardian.co.ukDéclaration de Bernewww.evb.ch

6 B&Cbrief | n° 15 | março 2012

INTERVIEWS 6 à 14

Uma mobilização que dura 6

Do you speak Finanças ? 8

Alvoroço cooperativo 10

Comissários em parceria 12

Sociedades civis 14

FOCO SETORIAL : Charity business 14

PROJETOS&PARCERIAS

Parcerias para a biodiversidade 9

PARA SE SITUAR Números chaves 8 -9 Para avançar no caderno especial América do Norte 10

ESTADOS-UNIDOS/MUNDO - pulseUma mobilização que dura

Em que consiste seu programa PULSE ? Becki Brumbach Lynch (BBL) : É um conceito criado pelo nosso PDG Andrew Witty em 2008 e lançado em abril 2009. A ideia é simples: oferecer um mecenas de competências às organizações com fins não lucrativos, enviando-lhes nos-sos empregados para trabalhar para as mesmas, em tempo integral, por um período de três à seis meses. O programa tem três objetivos : ganhar a confiança das comunidades e de nossos assalariados, favorecer um conceito de trabalho positivo junto à GSK e nossos parceiros associativos, e de-senvolver as competências de nossos empregados e seu leadership.

Com que ONGS você trabalha? BBL : Trabalhamos com diferentes tipos de estruturas: ONGS globais, regionais ou locais, para as quais adota-mos sete critérios de seleção. Nossos parceiros devem ter, entre outros requisitos, uma missão no campo de saúde, agir nas comunidades particularmente vulne-ráveis, ser inovadores e saber demonstrar o impacto po-sitivo que eles tem sobre seus beneficiários.

E como vocês colaboram juntos?BBL : Elaboramos com as ONGS com as quais trabalha-mos uma descrição do cargo que responde exatamente às suas necessidades e fazemos em seguida a correspondên-cia com a nossa base de dados de voluntários internos. Im-plementamos um processo de candidatura muito rigoroso. Todos os voluntários passam testes de conhecimento e de motivação e seus colegas e managers devem fornecer-lhes cartas de recomendação.

Exemplos de parcerias desenvolvidas nos EUA segundo a estrutura PULSE?BBL : Direct Release International (DRI), uma ONG que presta socorro aos sinistrados e administra donativos de produtos, é um dos nossos parceiros desde 2009. Até agora enviamos-

S u m á r i o

Entrevista

Da extensão dos direitos

cívicos ao empowerment

dos trabalhadores migrantes

nas estruturas eco-friendly,

apresentamos-lhes aqui as

iniciativas locais, globais e

integradas que apostam na

colaboração entre recursos

de diferentes instituições, com

desafios à priori antagônicos.

Uma averiguação do programa

de patrocínio de competências

em grande escala e a

iniciativa de IBLF dedicada às

parcerias, acabam de trazer

um esclarecimento pràtico e

um enquadramento teórico ao

nosso caderno.

Desde a sua criação em 2009, o programa PULSE da empresa farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) enviou mais de 200 voluntários oriundos de 26 países, em missão em 39 países, junto a 58 parceiros associativos. Volta a um programa de peso para a mobilização dos assalariados.

CADERNO ESPECIAL

AmériCA DO nOrTE

Becki Brumbach Lynch, Coordenadora global do programa PULSE Volunteer Partnership

Três voluntários na Direct Relief International, um dos principais parceiros de PULSE nos Estados Unidos.

B&Cbrief | n° 15 | março 2012 7

lhe uma dezena de voluntários que trabalharam na sede de DRI para ajudá-la a fazer, por exemplo, melhorias nos seus processos de abastecimento. Outros foram trabalhar em clí-nicas parceiras do DRI, principalmente no Kênia, para onde levaram suas competências medicais, ajudando a desenvol-ver especializações em laboratórios ou formação de pessoas no campo medical. Outros parceiros estão próximos à nossa sede nos EUA, como a Alex’s Lemonade Stand Foundation, que trabalha com crianças cancerosas, ou com clínicas de tratamento de pessoas com baixo poder aquisitivo.

Você mede os benefícios do programa PULSE para GSK e para os outros voluntários ?BBL : Primeiramente, o programa ajuda os empregados a se sentirem orgulhosos de sua empresa. Constatamos também que os voluntários reintegram seus cargos com melhor auto-con-fiança e que suas competências de leadership se fortalecem: o contexto de trabalho em uma ONG implica principalmente uma acentuada restrição de recursos e os voluntários retornam com maior poder criativo face aos problemas. Enfim, graças às re-lações desenvolvidas no local, eles renovam suas perspectivas junto aos pacientes ou beneficiários no seu trabalho quotidiano, muitas vezes distante do paciente final. Avaliamos qualitativa-mente e quantativamente os impactos do programa durante a missão, logo no início, em seguida 6 meses depois, enviando questionários aos nossos voluntários e parceiros. Para melhor compreender o impacto no negócio causado pela partida de um voluntário, seus colegas e managers respondem também a um questionário no momento de sua partida em missão, e seis meses após sua volta. Enfim, todos os voluntários redigem os estudos de casos, ou seja, os estudos realizados durante suas experiências.

E quais são seus impactos junto aos parceiros ? BBL : É difícil generalizar os impactos produzidos em nossos parceiros, levando em consideração sua heterogeneidade ; conseguimos portanto observar alguns tipos de impacto : a melhoria do sistema de saúde em certos países, a melho-ria da comunicação, do marketing e da notoriedade (uma missão frequentemente requerida pelos nossos parceiros) e enfim o reforço das capacidades de desenvolvimento das competências estragégicas das organizações parceiras.

Vocês encontram dificuldades na implementa-ção do programa ?BBL : Um dos principais desafios de PULSE é a logística : no ano passado mais de 50% dos voluntários, vindos de 18 países diferentes, partiram em missão no estrangeiro, o que implica gerenciar problemas de moradia, de câmbio, de visas....O segundo desafio é assegurar a perenidade dos impactos produzidos pelas missões de nossos voluntários. Após os dois primeiros anos do programa, melhoramos nosso pro-

ESTADOS-UNIDOS/MUNDO - pulseUma mobilização que dura

cesso de trabalho com nossos parceiros : agora pedimos-lhes sistematicamente que nos apresentem um «plano de perenidade» ao longo da missão sobre o qual discutimos com o voluntário e o manager da organização parceira.O último desafio concerne a volta do voluntário. Trata-se pois de ajudá-lo a optimisar a energia, as ideias e as com-petências que ele trouxe de volta. Graças aos mais antigos do programa, fizemos evoluir o dispositivo que integra do-ravante as oportunidades de coaching ou de mentoring, um melhor compromisso do manager desde o início, etc.

Quais são as principais aprendizagens e perspectivas para PULSE ?BBL : É uma aprendizagem permanente saber como pro-porcionar valores aos nossos parceiros e que esses valores tenham também sentido para a nossa empresa. Em lugar de propor simplesmente um par de braços, queremos real-mente proporcionar acréscimos de valores. Começamos a ver os campos de ações para os quais podemos contribuir, por exemplo, campos medicais e científicos, mas também a logística, as compras ou a administração do projeto.Esperamos agora alargar nossa rede de parceiros principal-mente na América Latina e na Índia (onde constatamos um interesse crescente por parte dos empregados locais), mas também o número de participantes no âmbito internacional – hoje a maioria de nossos voluntários vem ainda dos EUA ou do Reino Unido.No que concerne os EUA, desejamos desenvolver a partici-pação ao programa fora de nossas sedes. Iremos, pois, re-forçar nossas parcerias com as organizações cujas missões são ligadas à educação, às ciências e à matemática, como o Philadephia Education Fund. É uma maneira de responder a um desafio nacional e também a desafios de contratação a longo prazo. n Krisztina Tora

AmériCA DO nOrTE

Para ir mais longe ....GlaxoSmithKline www.gsk.com

Direct Relief International www.directrelief.org

Alex’s Lemonade Stand Foundation www.alexslemonade.org

Philadelphia Education Fund www.philaedfund.org

Uma voluntária PULSE na Open Door Clinic, uma clínica de prevenção e de tratamento de doenças sexualmente transmissíveis, situada em um subúrbio de Chicago.

8 B&Cbrief | n° 12 | juillet 2011

Você pode nos apresentar a ONG Operação HOPE ? Mary Hagerty Ehrsam (MHE) : A operação HOPE foi criada há 20 ans exatamente, após os tumultos de 1992 em Los Angeles. Além do veredicto do processo de Rodney King, é um contexto econômico estressante – considerando a desigualdade do sistema educativo e a forte taxa de desemprego dos jovens – que provocou tensões e o aumento da violência que levaram aos excessos. É neste contexto que tomou raízes nossa ação.Nossa missão é conseguir oferecer

a todos os cidadãos americanos a dignidade financeira que cada indivíduo deve ter acesso. Não considerando somente o fato de ter dinheiro, ajudamos os americanos a compreender como administrar este dinheiro. Costumamos dizer que existe uma diferença entre uma situação econômica de pobreza e o estado de espírito que a acompanha e que é frequentemente paralisante. Há 20 anos levamos esta educação à 1,8 milhões de pessoas em 237 cidades dos EUA a fim de que eles possam controlar seu futuro financeiro.

Em que consiste precisamente este educação econômica ? MHE : Temos vários programas destinados a públicos diferentes. Um dos principais se chama « Banking our

future » e é destinado exclusivamente às populações jovens. A maioria deles aprende línguas estrangeiras além da própria língua. Nós os ensinamos a falar e a saber ler e escrever « a linguagem do dinheiro » da qual eles precisarão de maneira vital nesta sociedade. Levamos esta ação às escolas, às associações ou por ocasião de eventos dedicados a este fim, utilizando processos lúdicos, de direto acesso e de rápida aprendizagem. Temos também, naturalmente, um programa dedicado aos adultos : formamos famílias a administrar seus créditos e suas dívidas para que possam guardar um equilíbrio financeiro. Enfim, temos um programa sobre as repercussões das catástrofes naturais do ponto de vista financeiro. Após o Katrina, por exemplo, ajudamos mais de 150 000 pessoas, proporcionando-lhes uma assistência financeira personalizada.

A Operaçao HOPE é na realidade uma organização com fins não lucrativos que cria condições de acesso ao mercado e à economia ?

MHE : Sim, pois para dar aos americanos a capacidade de serem economicamente independentes, desenvolvemos igual-

mente um programa de apoio à pequena empresa, com os nossos escritórios em New York, Washington DC, At-

lanta, Los Angeles e New Orleans. Ajudamos os futu-ros empreendedores a estruturar suas ideias, suas percepções econômicas e proporcionamos-lhes acesso aos bancos. Ajudamos indiferentemente os futuros empreendedores que têm um projeto e desejam transformá-lo em um projeto econô-mico e os pequenos empreendedores que têm

uma dificuldade em fazer evoluir suas empresas. A partir de nossa rede de empresas parceiras fazemos

a ligação entre um empreendedor e um mentor na em-presa, que vai acompanhá-lo ao longo de uma missão em

função de problemáticas tais que a contabilidade, o marketing, os recursos humanos. ...

De que maneira as empresas empenham-se a seu lado ?

MHE : Tentamos sistematicamente construir parcerias le-vando em conta as problemáticas de responsabilidade so-cial e meio-ambiental (RSE) específicas à empresa e par-ticularmente no movimento que acontece atualmente nos

CADERNO

ESPECIAL AmériCA DO nOrTE

Comprometida há mais de 20 anos com a luta contra a pobreza nos Estados Unidos, Mary Hagerty Ehrsam se comprometeu inicialmente com a Habitat for Humanity onde ela participou principalmente do projeto anual de construção de habitações em uma semana, colocado em andamento pelo ex Presidente americano Jimmy Carter. Ela defende hoje, no seio da organização Operation Hope, a ideia segunda a qual viver numa sociedade capitalista sem ter acesso ao capital é uma forma de escravidão moderna.

ESTADOS UNIDOS - OpeRAÇÃO HOpeDo you speak Finanças ?

« Nós nos inscrevemos em

um movimento que se opera hoje nos Estados Unidos, de passagem da filantropia à estratégia

RSE, integrada aos objetivos negócios. »

Mary Hagerty Ehrsam, primeira vice-presidente e responsável mundo do programa de alfabetização financeira.

Números chavesO PIB por habitante é de 6 105 USD no México, 25.588 no Canadá e 37.527 nos Estados Unidos. O desemprego atinge principalmente os Estados Unidos e o Canadá com taxas respectivas de 9,3 % e 8,3 %, enquanto que o desemprego no México atinge somente 5,2 %. Quanto à distribuição de riquezas, o México se situa no 27° lugar entre os países em desigualdade social

segundo o índice do GNI, os Estados Unidos ocupa a 39° lugar e o Canadá, o 101° lugar.

Somente 6% da população mexicana têm mais de 65 anos, proporção duas vezes mais impor-tante nos outros dois países. Respectivamente 25 % e 26 % dos parlamentares são mulheres no Canadá e no México, para somente 17 % nos Estados Unidos. A população ativa feminina é

de 63 % no Canadá, 58 % nos Estados Unidos e 43 % no México.

Enquanto que o Canadá e os Estados Unidos são exportadores de energia, o México é o único país da América do Norte que produz menos do que consome; mas os mexicanos são 5 vezes menos consumidores de energia que seus vizinhos . A parte de energias renováveis nos

8 B&Cbrief | n° 15 | março 2012

Entrevista

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+ informaçõesOperation HOPE www.operationhope.orgIndice de alfabetização financeira Gallup-Hopewww.gallup.comBlog do John Hope Bryant johnhopebryant.com

EUA, de passagem da filantropia à estratégia RSE integrada nos objetivos de negócios. Se tomamos por exemplo uma instituição financeira, podemos montar um programa para ajudá-la a criar um produto financeiro específico adaptado às comunidades de zonas desfavorizadas. Implementamos programas de mobilização interna nos quais os empregados tornam-se tutores de jovens, adultos, empreendedores... Tentamos verdadeiramente, com cada um dos nossos par-ceiros criar uma situação de relação ganha-ganha.

Você pode nos dar um exemplo de parceria ? MHE : Decidimos fazer uma parceria específica com a em-presa Gallup, especializada na gestão de recursos huma-nos e em estatística para encontrar o melhor modo de medir nossos impactos sobre a população. Colocamos pois em prática um instrumento específico, o índice de alfabetização financeira, com o objetivo de compreender as correlações entre nosso trabalho no terreno, o bem estar e o engaja-mento dos jovens americanos ; Todos os anos calculamos as evoluções da dinâmica econômica e a da dinâmica de empreendedorismo nas quais se encontram estes jovens.

A crise das sub-gratificações teve um impacto significativo na sua atividade ?MHE : Sim ; houve realmente uma verdadeira mudança. Há 20 anos nossa cibla principal era a população carente das cidades do centro dos EUA. Depois de 2008, nós percebe-

mos que os problemas de dinheiro tinham se ge-neralizado ao conjunto da população, que encon-trava sérias dificuldades em pagar suas contas, em reembolsar um empréstimo ou simplesmente em continuar a gerenciar uma empresa. Lidamos com uma população totalmente perdida, que não sabia o que fazer face à amplitude da crise. Como resposta, adotamos uma linha específica, a « Mor-tgage Hope Crisis Hotline », para a qual qualquer pessoa pode telefonar, explicar seu caso e ser di-rigida a um dos nossos centros HOPE nas proxi-midades, que vai propor um acompanhamento específico.

Você se inscreve, de modo mais amplo, no Silver Rights Movement. De que se trata ?

MHE : O que nós chamamos Silver Rights Movement é, na realidade, a evolução do movimento dos direitos cívicos, pelos quais Martin Luther King lutou entre os anos 1950 e 1960. Num combate centrado ao acesso à igualdade para as minorias, passamos progressivamente para um movimento que milita por um direito econômico da maioria. A época em que vivemos e o sistema econômico mundializado no qual evoluímos faz de cada um de nós um cidadão do mundo que deve ter a capacidade de controlar seu futuro financeiro. Ter o direito de voto sem poder abrir uma conta bancária e sem poder compreender e administrar seu dinheiro não tem sen-tido nesta sociedade. O fundador da « Operation Hope », John Bryant, defende a existência de uma nova classe da sociedade americana, chamada « stakeholder class » que, a meio caminho entre a classe operária e a classe média, se definiria, não mais pela sua capaciade de ter mais ou menos dinheiro, mas pelo fato de melhor saber se servir do mesmo. n Sarah Ertel

Voluntárias enquadram os jovens americanos na aprendizagem das bases da linguagem financeira.

Estados Unidos é de somente 5,6 % (enquanto que a média para a OCDE é de 7,6 %), mas é de 10 % no México e de 16,5 % no Canadá.

A empresa de petróleo e gás americana Exxon Mobil Corporation tem um volume de negócios de 425 bilhões de dólares, soma equivalente ao orçamento do Departamento de Defesa dos Es-tados Unidos em 2008. Seu volume de negócios

é equivalente ao PIB da Suiça e é deste modo superior ao de 179 dos 195 países reconhecidos pela ONU.

Enquanto que o volume de negócios gerado cada ano pelo tráfego de droga seria de 243 bilhões de dólares no mundo e de 63 bilhões de dólares nos Estados Unidos, a guerra contra o tràfego de droga empreendida pelo presidente mexicano

Felipe Calderón já teria matado 43.000 pessoas em 5 anos. Quanto à corrupção, outro flagelo no México, o índice de percepção da ONG Transpa-rency International coloca o México em 98° lugar, ex-aequo com o Burandi e o Egito.

Fontes : Banco Mundial, CIA fact Book, AFD, PNUD, OECD. Yearbook, Transparency International, Planetoscope.

B&Cbrief | n° 15 | março 2012 9

2012 foi proclamado « o ano das cooperativas » pela ONU. Efetivamente, este modelo de organização do trabalho criado no século XIX é hoje um dos côncavos da inovação social. Demonstração com a ONG californiana Women’s Action to Gain Economic Security (WAGES), uma incubadora de cooperativas.de limpeza doméstica que alia dignidade do trabalho e respeito ao meio-ambiente e à saúde.

AmériCA DO nOrTE

ESTADOS UNIDOS - WAGes, WOMeN’s ACTION TO GAIN eCONOMIC seCuRITYAlvoroço cooperativo

mulheres viram seus salários dobrarem ou triplica-rem. Além disso, tornar-se proprietária de um negócio é uma experiência que transforma profundamente a vida, principalmente nas comunidades marginaliza-das nas quais trabalhamos.

Como você explica o sucesso de WAGES junto aos clientes ?MS : No contexto atual da crise econômica, nossos clientes apreciam ainda mais os benefícios do modelo da empresa cooperativa : WAGES conseguiu colocar-se como uma alternativa responsável à indústria de limpeza tradicional que tem má reputação quanto ao tratamento concedido aos assalariados. WAGES ca-pitaliza também considerando o pedido crescente de serviços verdes : os clientes são sensíveis à utilização exclusiva de produtos ecológicos e não tóxicos que preservam a saúde das « socias » e de suas casas, assim como o meio-ambiente.

Que relações mantém WAGES com as cooperativas no decorrer das diferentes etapas da vida destas ? MS : Mesmo que WAGES forneça um esquema de organização, as trabalhadoras são proprietárias das empresas desde a sua criação. Estabelecemos as ba-ses das novas cooperativas graças aos estudos de

mercado e contratamos as « socias ». Uma vez que encontramos uma colocação viável e uma

equipe de mulheres, constituimos juridica-mente a empresa cooperativa e fornecemos uma formação global aos membros, que in-clui uma ajuda para constituir o capital de ajuda inicial.

Após a criação e durante o período de incu-bação, que vai de três a quatro anos, ajuda-

mos ativamente as cooperativas a se desen-volverem aumentando o número de clientes e de «

socias ». Durante este período, investimos muito no desenvolvimento das competências das « socias », propomos-lhes formação em gerenciamento, em marketing e formações técnicas em produtos ecoló-gicos ; Nossas atividades de grupo estão centradas

Meche Sansores,Diretora executiva de WAGES

Você pode nos apresentar WAGES ?Meche Sansores (MS) : WAGES é uma organização com fins não lucrativos que cria empregos salutares e valorizantes para mulheres em dificuldades, oriundas da imigração latino-ame-ricana, através da implan-tação de cooperativas de limpeza doméstica ecoló-gica. Nosso modelo per-mite melhorar, ao mesmo tempo, a situação socio-

econômica e as condições de saúde das em-pregadas.Há dez anos, WAGES lançou uma nova cooperativa a cada dois anos ou três anos, e conta atualmente com cinco na região de Sao Francisco. No total, nos-sas cooperativas criaram mais de cem empregos locais com benefícios quase inéditos para as empregadas domésticas : oferecendo plano de saúde, uma partici-pação nos benefícios da empresa, tomadas de decisões democráticas e salários justos. Visto que todos os benefícios são redistribuídos aos membros das cooperativas, que chamamos « socias », estas

« Nossa parceria com a

7th Generation está perfeitamente em acordo com nossas missões e profissões

respectivas »

RE

FE

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IAS

➜ Giving in Numbers 2011 - Trends in Corporate Giving, editado pelo CPCA (Committee Encouraging Corporate Philanthropy) : www.corporatephilanthropy.org

➜ Analytical Country Report on the state of civil society in Mexico www.civicus.org

➜ Rapport Futurewealth www.futurewealthlab.com

➜ Center for Civil Society Studies, John Hopkins University ccss.jhu.edu

➜ Na seção Stories do site Healthymagination criada pela General Electric, uma seleção de social businesses

americanos no campo da saúde www.healthymagination.com

➜ Plataforma mexicana « Convergencia de Organismos Civiles » www.convergenciacivil.org.mx

➜ Conselho canadense para a cooperação internacional www.ccic.ca

Para ir mais longe no Caderno América do Norte

10 B&Cbrief | n° 15 | março 2012

CADERNO

ESPECIAL

Entrevista

B&Cbrief | n° 15 | março 2012 11

ESTADOS UNIDOS - WAGes, WOMeN’s ACTION TO GAIN eCONOMIC seCuRITYAlvoroço cooperativo

na comunicação interna positiva e a tomada de de-cisão democrática, a fim de favorecer a apropriação de princípios cooperativos fundamentais. Durante o período de incubação, WAGES subvenciona o salário do manager geral, que se ocupa da assistência téc-nica e do apoio ao desenvolvimento comercial.Uma vez que as cooperativas são auto-suficientes, elas não são mais subvencionadas pela WAGES mas continuam a beneficiar da rede : as «socias» podem seguir formações contínuas e participar ao nosso pro-grama de « Peer leadership » que propõe aos mem-bros mais experientes reforçar suas competências de management. As cooperativas aí encontram serviços de agrupamentos de compras e marketing assim que programas de aprendizagem recíproca para dividir suas experiências e passarem umas às outras as mel-hores práticas para sobreviver e desenvolver.

Você pode nos apresentar sua parceria com a Seventh-Generation ?MS : Seventh Generation é uma empresa que fabrica produtos de higiene corporal e doméstica com fraco impacto meio-ambiental. A parceria que concluímos com a mesma é emblemática de um novo modelo do social business, no qual as organizações com fins não lucrativos servem-se do poder da empresa como ala-vanca para maximizar os benefícios das comunida-des. A parceria concretizou-se na Home Green Home, uma cooperativa lançada pela WAGES em 2009 em São Francisco, para a qual a Seventh-Generation for-neceu um apoio em todos os campos de competên-cias de empresa : serviços legais e financeiros, bran-ding e relações com clientes, através de um sistema de patrocínio e de voluntariado. Home Green Home utiliza também produtos de limpeza ecológicos e não tóxicos da Seventh Generation. Quais são os benefícios de uma tal parceria ?MS : O apoio e o financiamento da Seventh Genera-tion permitiram à WAGES de replicar seu modelo. De seu lado , Seenth Generation beneficia de um certo buzz em torno de seus produtos. Indo mais longe, esta parceria é perfeitamente alin-hada às nossas missões e profissões respectivas. Não somente a utilização de produtos Seventh Ge-neration evita às « socias » exposição aos produtos tóxicos que podem causar efeitos nefastos à saúde como, por exemplo, vermelhidões, dores de cabeça, perdas de memória e asma, como também esta par-ceria permite que nossas organizações comuniquem a respeito dos valores e dos impactos importantes para elas , tais como as benfeitorias para a saúde e o meio-ambiente dos produtos de limpeza ecológicos.

+ informações wagescooperatives.org

WAGES organiza deste modo numerosos eventos de sensibilização aos produtos « verdes » de limpeza e às astúcias ecológicas de limpeza no intuito de informar as comunidades, juntando-se deste modo aos especialistas que fazem previsões sobre o pe-rigo dos produtos de limpeza químicos.

Quais são as perspectivas de WAGES hoje ?MS : Nós já temos cinco cooperativas prósperas e prevemos implantar outras em novos setores. Conti-nuamos apaixonados pela nossa atividade, mas ex-ploramos atualmente outras oportunidades de mer-cado e as necessidades de percursos diferentes para algumas de nossas « socias » que não são mais aptas a fornecer um trabalho físico.Além disso, desenvolvemos uma forte especialização na criação e no desenvolvimento de cooperativas e queremos dividir estes conhecimentos com nossos parceiros locais e nacionais, esperando deste modo promover este modelo econômico. n Anne-Julie Beuscart e Juliette Van Wassenhove

Parcerias para a bio-diversidadeNatureServe, uma ONG meio-ambiental criada em 1999, faz parte da rede de programas e de centros de informação sobre a conservação implementada pela ONG The Nature Conservancy. NatureServe desenvolveu uma política de parceria muito avançada e diversificada, ilustrada por duas iniciativas ligadas ao centro da missão. Com a Esri, empresa líder na criação de software de management de informações geográficas, a ONG desenvolveu um sistema de informação, um modelo comum de base de dados de conservação assim como instrumentos de decisão para optimisar a coordenação e o conhecimento da biodiversidade. Por outro lado, a ONG se aliou à Sustainable Forest Initiative (SFI), rótulo de certificação florestal, afim de promover a biodiversidade em terras industriais. O rótulo exige de seus membros – uma maioria das sociedades florestais da América do Norte – que utilizem avaliações da NatureServe afim de identificar as espécies e ecosistemas mais ameaçados em suas terras e elaborar planos de proteção. Este acordo cobre mais de 60 milhões de hectares nos EUA e no Canadá.

www.natureserve.orgwww.esri.com

PROJ

EtOS

& P

ARcE

RIAS

AmériCA DO nOrTE

Darian Stibbe era pesquisador em física quântica em Paris quando ele juntou-se à Câmara de Comércio Americana, para trabalhar sobre questões de durabilidade.Ele dirige hoje o International Business Leaders Forum (IBLF) assim que a Partnering Initiative, criada pelo IBLF para trabalhar especificamente as questões de parcerias entre ONGS, empresas e agências das Nações Unidas. Recolhemos o relato da sua experiência, no momento em que ele contribui ao lançamento da Associação dos Comissários em parcerias.

MUNDO - INTeRNATIONAl BusINess leAdeRs FORuM & THe pARTNeRING INITIATIveCommissário em parceria

a Shell, Microsoft, P&G... Em terceiro lugar, os serviços desti-nados às organizações que podem ir de uma definição de es-tratégia de parceria ao encaminhamento da mudança, afim de responder da melhor maneira possível às suas exigências es-pecíficas. E finalmente, os sistemas : construímos um meio-am-biente favorável que possa permitir à essa dinâmica de parceria de alçar outro nível, e isto animando uma plataforma, foruns....Pouco a pouco, desenvolvemos uma profissão, que chamamos auxiliador de parcerias, e acabamos de lançar a Partnership Brokers Association, este mês, para agrupar os profissionais que trabalham para maximizar os potenciais das parcerias mul-ti-setoriais.

Segundo sua experiência, quais são as condições necessárias para o sucesso de uma parceria ?DS : Existem muitos parâmetros, naturalmente, mas o pri-meiro é certamente o contexto, que é essencial no momento em que começamos a trabalhar sobre uma problemática. Diria, primeiramente, que é preciso que o problema para o qual queremos trabalhar não seja unicamente de um único setor. Paralelamente, a segunda condição é que o setor pri-vado e a sociedade civil tenham, ambos, um verdadeiro inte-resse em tratar a questão. Finalmente, é claro, cada um deve contribuir par achar uma solução.

Um exemplo ? DS : Dar-lhe-ei dois, começando pelas doenças crônicas cuja causa inicial provém de um modo de vida pouco sau-dável. Poderíamos esperar que a questão fizesse parte das

responsabilidades das autoridades públicas do sis-tema de saúde, mas essas autoridades não podem

prescrever um remédio que dê acesso a frutos e legumes frescos, ou um remédio para que os jovens não passem horas face aos video-ga-mes ou por exemplo, algo para, na América do Norte, forçar as pessoas a usarem mais a bici-cleta ou a andar à pé, em lugar de usarem seus

carros. As questões de meio-ambiente urbano, de uso do carro ou da existência de vias especiais para

bicicletas não dependem unicamente das autoridades públicas do sistema de saúde. Este desafio é correlato, de-pende ao mesmo tempo do setor associativo, militando por uma estrutura urbana favorável ao uso de bicicletas como ao setor mercantil na medida em que, por exemplo, um grupo de supermercados passe a permitir o acesso de produtos fres-cos a um grande número de pessoas. Nos EUA, a situação da educação responde às condições que anunciei : ela depende a priori do governo, que não mais asse-gura esta responsabilidade. Mesmo se as escolas não possuem os recursos necessários, o setor privado necessitará de pes-soas com boa formação : todo mundo, pois, ganha com isso.

Qual é a ligação entre as duas estruturas que você dirige ? Darian Stibbe (DS) : A International Business Leaders Forum (IBLF) foi criada em 1991 pelo Príncipe de Galles, num contexto geo-político e econômico em mudança, para reunir grandes patrões convencidos da possibilidade para o setor privado, ator maior da sociedade, de ter um impacto social positivo graças à ações responsáveis. Concluímos que os setores estavam fechados

em si-mesmos e em uma posição de competitividade. Há doze anos aprendemos muito na prática e nosso trabalho, que concerne temas diversos tais quais saúde, educação, corrupção ou esporte, permitiu juntar atores diferentes e mesmo concorrentes, para tratar destas questões. Trabalhar em parceria mostrou-se um dos melhores meios para atingir estes objetivos.Decidimos em 2003 criar uma estrutura dedicada à esta aproximação, The Partnering Initiative (TPI), para experimentar de maneira mais ampla a colaboração efetiva entre setores.

Em que consiste a TPI ?DS : A TPI tem quatro campos de atividade. Primeiramente, a pesquisa-ação : experimentamos coisas, para melhor criar par-cerias, depois coletamos as instruções em guidelines, manuais, standards... Em seguida, o reforço das capacidades : forma-mos mais ou menos três mil pessoas, formação esta que trata das disposições necessárias para montar uma parceria, a ma-neira de tornar o processo em algo profissional, contratual e o mais forte possível, com parceiros cujas perspectivas e pontos de vista são diferentes. No início, a demanda vinha mais das ONGS e de agências das Nações Unidas, mas hoje ela é mais equilibrada e conta com representantes de empresas tais como

« As empresas dos

Estados Unidos têm um certo atrazo em matéria de RSE, que

elas associam um pouco à filantropia

clássica »

Darian Stibbe, diretor das duas estruturas

12 B&Cbrief | n° 15 | março 2012

CADERNO

ESPECIAL

Entrevista

MUNDO - INTeRNATIONAl BusINess leAdeRs FORuM & THe pARTNeRING INITIATIveCommissário em parceria

Você está na Inglaterra, mas desenvolve projetos na América do Norte, mas foi em Nova Iorque que você realizou a premiação dos seus primeiros Business and Development Awards ?DS : Sim, TPI trabalha principalmente em Portland, em Washington e no Canadá. Lançamos, por exemplo, em 2010, um trabalho com a Microsoft, no Estado de Washing-ton, para desenvolver uma formação destinada às escolas estatais, disponível em linha e que deve ajudá-los a adque-rir as bases necessárias para formar parcerias com o setor privado. Na América do Norte, propomos igualmente ciclos de forma-ção que estão em pleno desenvolvimento. As empresas dos EUA são lentas, quando o assunto é RSE, que é associado à filantropia no sentido clássico. A mudança é lenta, ao pro-veito de iniciativas mais estratégicas. O México é também um mercado bem interessante, país onde participamos da criação, por intermédio da PanAmerican Health Organisation (PAHO), do Partners Forum for Action on Chronic Diseases, uma iniciativa multi-setorial desenvolvida na zona fronteira com os EUA.

Você trabalha com grandes grupos e nas regiões onde eles estão implantados ?DS : TPI trabalha em todo em qualquer lugar, nos países onde estão nossas sedes mas também nas zonas de im-plantação dos grupos internacionais. Na prática, IBLF inves-te localmente, nos países em desenvolvimento, ao lado de grandes grupos. Por exemplo, no contexto do nosso projeto International Tourism Partnership, desenvolvemos um eixo sobre formação e o empregabilidade de jovens, chamado Youth Career Initiative. Este eixo é desenvolvido em todo o mundo, e portanto também no México. Marriott, Sheraton e Intercontinental constam como atores principais mas gru-pos como Starbucks estão também implicados no projeto. Outros programas, como o da luta contra a corrupção, nas-ceram de iniciativas locais, como na China e na Rússia.

Você estará presente no Rio + 20 ?DS : Naturalmente ! Este ano é no Rio, durante a Conferência das Nações Unidas, que entregaremos os World Business and Development Awards. Fizemos igualmente a previsão de organi-zar um evento, fora do congresso oficial, que vai tratar das par-cerias em educação e um Forum parcerias com uma sessão de formação... Todos os detalhes estarão no nosso site ! n Marie Antonelle Joubert

+ informaçõesthe Partnering Initiative : http://thepartneringinitiative.org

International Business Leaders Forum : http://iblf.org

Youth career Initiative Mexico : www.youthcareerinitiative.org

the Partnership Brokers Association :

www.partnershipbrokers.org

Partners Forum for Action on chronic Diseases

na frontera EUA-México : http://new.paho.org

n Uma confiança superior à média

O gabinete de Relações Públicas Edelman

publicou em janeiro seu décimo segundo

barômetro de confiança. Testado em mais de

trinta mil pessoas (das quais cinco mil líderes

de opinião) em 23 países, este estudo anual é

a ocasião de conhecer o nível de confiança que

o público tem nas empresas, nas ONGS, no

governo e na mídia. Numa escala mundial,

somente a mídia registra um pequeno

aumento e os EUA e o Canadá são globalmente

mais confiantes este ano – o México de maneira

menos marcante, mas com um nível de confiança

mais elevado que seus vizinhos.

A confiança nas ONGS é estável e elevada na

região, 78 % dos entrevistados mexicanos e

66 % dos entrevistados canadenses dizem

ter confiança nas ONGS. Esta porcentagem ,

que tinha caído para 55% em 2011 para os EUA,

aumentou em 3 pontos (58 %) este ano.

No que se refere às empresas, os mexicanos

mostram uma grande confiança (77 %), enquanto

que no Canadá e nos EUA duvida-se mais desse

setor, com níveis respectivos de 56 % e 50 %.

Aliás, o México registra uma importante baixa

de confiança no governo, enquanto que nos EUA,

ao contrário, a confiança na mídia quase dobrou

a partir de 2011.

Azucena Dominguez, estudante do Youth Career Initiave no México, durante um trainamento no JW Marriott Mexico City.

B&Cbrief | n° 15 | março 2012 13

14 B&Cbrief | n° 15 | março 2012

AmériCA DO nOrTE

Nos EUA a filantropia privada é um setor parti-cularmente desenvolvido : o país registra mais de 1238 000 organizações caritativas e pode-mos citar mais de 60 milhões de voluntários, além de empregos criados pelo setor.

Um total que chega, em 2010 à 303 bilhões de dólares, seja 2,1 % do PIB americano. A crise afetou a quantidade de donativos, mas não de modo sensível : desde o início da década de 2000, esta taxa estabeleceu-se acima de 2 % do PIB, reatingindo as taxas anteriores ao choque do petróleo dos anos 1970.

O donativo, assim como o voluntariado, são práticas culturalmente fortes num país onde os serviços sociais assegurados pelo Estado federal ou pelos próprios Estados continuam sendo poucos e fracos. Aliás, o primeiro fluxo, ou seja 35 % do montante doado em 2010, foi destinado às organizações religiosas. Estas duas características exprimem o peso impor-tante dos particulares que são os principais

contribuintes da filantropia privada com mais de 227 bilhões de dólares de donativos, seja 73 % do total, ao lado das fundações (fami-liares ou os grandes filantropos, tais os que assinaram The Giving Pledge1) e os legados (14% e 8%).

As empresas americanas, quanto a elas, contri-buem a altura de 15,29 bilhões de dólares, ou seja 5 % do total. Segundo o Committee Encouraging Corporate Philanthropy (CECP), distinguimos já há alguns anos, várias ten-dências no desenvolvimento deste patrocínio de empresas. Ele se consacra cada vez mais aos serviços de saúde ou sociais, antes da educação ou do desenvolvimento econômico local. Além disso, as empresas americanas desenvolvem melhor o patrocínio de com-petências através da mobilização dos assa-lariados. Enfim, elas se concentram sobretu-

do no patrocínio dito « estratégico », através de programas ciblados, correspondendo ao eixo central da profissão da empresa. Assim 7,7 bilhões de dólares são consagrados ao financiamento e ao desenvolvimento de pro-jetos nos países em desenvolvimento e as parcerias com as ONGS se multiplicam com o objetivo de melhorar as condições de vida das populações locais nos países fornecedo-res de matérias primas, ao desenvolvimento dos micro-créditos locais ou ainda ao finan-ciamento de projeto agrícolas. n

1/ O Giving Pledge, que conta com a assinatura de grandes fortunas tais quais a de Bill et Melinda Gates, Barron Hilton, Warren Buffet ou Mark Zuckerberg, é uma promessa pública de dar, vivos ou depois da morte, a maioria de suas riquezas às causas filantrópicas e às organizações caritativas.

Charity business

foco setorial . foco setorial . foco setorial . foco setorial . foco setorial .

Giving USA Foundation : www.givingusareports.org

cEcP (committee Encouraging corporate Philanthropy) : www.corporatephilanthropy.org

Para ir mais longe....

FORUM SOCIAL TEMATICO E CUPULA DOS POVOS

Este ano, o Forum Social Mundial voltou à Porto Alegre para uma edição « temática » centrada na preparação do Rio+20. Mais de 40 000 participantes, representando 3000

organizações internacionais, oriundas de mais de 38 países diferentes, se reuniram em volta de conferências e ateliês para preparar a cúpula dos Povos, que vai se realizar em paralelo à Conferência da ONU.As Organizações da sociedade civil presentes, na sua maioria, veem o conceito de economia verde como uma regressão em relação ao conceito do Desenvolvimento sustentável. « Vendem-nos a economia verde como uma solução enquanto que ela não é mais do que uma tentativa para comercializar e financiarisar os problemas que abordamos, adicionando ao mito da solução pelo mercado, aquele da tecnologia que resolve tudo, em lugar de questionar as responsabilidades e os modelos econômicos que não são viáveis ».

Em um clima de transparência e de abertura total, que caracteriza o Forum Mundial Social, o trabalho é organizado em volta de grupos temáticos, em volta de uns vinte temas (cultura, consumo, cidades sustentáveis, água, energias e extração...) e continua a articular, principalmente através do site www.dialogos2012.org

cúpula dos povos para uma justiça social e meio-ambiental, contra a mercantilização da vida e em defesa de bens comunsde 15 à 23 de junho 2012, Rio de Janeiro, Brasil http://cupuladospovos.org.br

RIO + 20CORPORATE SUSTAINBILITY FORUM

A rede Global Compact ou Pacto mondial, « pela qual as empresas se comprometem em alin-har suas operações e suas estratégias em

dez princípios, dos direitos humanos às normas

do trabalho, ao meio-ambiente e à luta contra a corrupção », organiza em paralelo à Conferência da ONU, um corporate Sustainability Forum sobre o tema « Innovation & Collaboration for the Future We Want », de 15 a 18 de junho.A rede, que já conta com 6000 empresas membros, vê o encontro da ONU como uma ocasião para « fazer um grande passo adiante, garantindo uma nova escala e um salto qualitativo nas práticas sustentáveis do setor privado ».

Uma maioria de atividades temáticas deveria funcionar como um « showcase de inovação e de colaboração », em volta de temas tais quais : Energia & clima, Água & ecosistemas, Agricultura & alimentação, Desenvolvimento social, Cidades & urbanização e Economia & finanças do Desenvolvimento sustentável.Global Compact desenvolve seus trabalhos na convicção de que « com bons apoios e com um ambiente adequado, o setor privado pode trazer contribuições significativas e importantes para a agenda do Desenvolvimento sustentável ».« Corporate Sustainability Leadership : A Framework for Action at Rio + 20 and Beyond » : http://unglobalcompact.org

Sociedades civis e setor privado no caminho do Rio+20

Rio+20 . Rio+20 . Rio+20 . Rio+20 . Rio+20 . Rio+20 . Rio+20 . Rio+20 . Rio+20 .

CADERNO

ESPECIAL

B&Cbrief | n° 15 | março 2012 15

leituras & encontros

agendaMARÇO

GSVC (Global Social Ventujre Competition) : a final EMEA francófona8 de marçoESSEc, cergywww.gsvc-essec.org

O papel das empresas na autonomização das mulheres 8 de marçoSede da ONU, Nova Iorquewww.bclc.uschamber.com

Festival Internacional do filme de Direitos humanosDe 6 à 13 de marçoParis, Françawww.festival-droitsdelhomme.org

Semana do clima : « A energia sustentável para todos »De 12 à 18 de Março No Mundo inteirowww.climateweek.com

6° Forum mundial da água 12 à 17 de marçowww.worldwaterforum6.org& Forum alternativo mundial da água 2012 de 14 à 17 de marçoMarselhawww.fame2012.org

1° round de negociações informais sobre o Draft Zero de Rio+20De 19 à 23 de março Nova Iorque http://www.uncsd2012.org

Salão Prosustentável28 e 29 de marçoPalais des congrès, Pariswww.produrable.com

O consumo crítico: movimentos sociais, práticas, economia solidária e mercados.De 29 à 30 de março Maison des Sciences de l’Homme, Pariswww.pacte.cnrs.fr

Patrocínio sem fronteiras A Admical publicou neste começo de ano uma obra realizada pelas

empresas que desejam se lançar numa política de patrocínio em nível internacional. Este livro

trata de todas as questões que se colocam em cada etapa da implantação do desenvolvimento

do dito patrocínio. As boas práticas já experimentadas em outras empresas vêm ilustar a teoria

e seus testemunhos tornam estes propósitos concretos e oferecem uma visão da diversidade da

aproximações possíveis na matéria. www.admical.org

@ n

ota

r…

@ notar…

a seguir... O challenge G20 par as inovações BOPO G20, em parceria com a IFC (International Finance Corporation), acaba de lançar um concurso para identificar e recompensar as empresas mais promissoras e que desenvolveram uma oferta inovante, reaplicável e economicamente viável , destinada às populações pobres (BOP) nos países em via de desenvolvimento. Os portadores do projeto puderam até o dia 29 de fevereiro de 2012, colocar suas candidaturas em linha.

www.g20challenge.com

  Ideais novas sobre o management associativoO Master Management das Associações da IAE de Paris lança, por ocasião dos 10 anos do Master, uma websérie intitulada «3 ideias sobre o management» - Especial AssociaçãoVer em :

www.youtube.comfacebook.com

 « 2012 ESG Trends to Watch »MSCI, líder internacional de instrumentos de ajuda para a tomada de decisões de investidores, com instrumentos de análise especificamente centrados nos critérios ESG, publicou em 2012 temáticas a seguir que poderiam ocasionar riscos para as empresas e desse modo, para os investidores. O artigo menciona entre outros, a necessidade de prestar contas sobre a criação de valores sociais, a necessidade de gerenciar os desafios ligados à segurança alimentar no mundo ou aos conflitos sociais na China.

www.msci.com

Para ler… Durabilidade e equidade : um futuro melhor para todos.Uma constatação bem firmada abre o Relatório 2011 du PNUD : a mudança climática e as degradações meio-ambientais ameaçam os progressos atuais do desenvolvimento humano, principalmente para as populações cuja subsistência depende do acesso aos recursos naturais (terras, água, florestas ) e em particular para as mulheres e meninas.O relatório detalha não somente o impacto das ameaças crônicas sobre a saúde e o progresso da educação, mas também aquele dos fenômenos meteorológicos extremos, que podem causar um retrocesso de dois pontos do IDH do país, atingindo particularmente os mais vulneráveis. O Relatório apresenta portanto sinergias positivas entre durabilidade e equidade do desenvolvimento implementadas em certos países, e identifica pistas para as replicar. Alarmante mas construtivo.

hdr.undp.org

ABRIL

Sociedades civis e setor privado no caminho do Rio+20

4° Colóquio internacional de comércio equitávelDe 2 à 4 de abrilLiverpool, Reino-Unido www.fairtradeinternationalsymposium.org

« A aceitação societária dos projetos energéticos e das grandes infra-estruturas »12 de abril Paris Françawww.agrion.org

Sankalp Summit 2012 (evento maior para recompensar os empreeendedores sociais)De 11 à 13 de abril Mumbai, Indiawww.sankalpforum.com

Investors’ Circle Spring Venture Fair 2012 (Apresentação de empresas propondo soluções sociais e/ou meio-ambientais aos investidores) De 22 a 24 de abrilSão Francisco – Estados-Unidoswww.cvent.com

7a Conferência sobre o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social25 e 26 de abril Montreal, canadáwww.cedd.ca

2a Conferência internacional sobre a responsabilidade social empresarial De 27 à 30 de abril Agadir, Marrocoswww.rse.e-isiam.com

Interaction Forum 2012De 30 de abril à 2 de maio 2012Gateway Marriot, crystal city – VA, EUAwww.interaction.org

QUE NoVidAdE @ BE-LinKED ?

&Business CommunityBRIEF

B U L L E T I N D ’ A B O N N E M E N T A L A R E V U E D E S R E L A T I O N S O N Gn E N T R E P R E P R I S E S

Tous les deux mois, la Revue des relations ONGnEntreprises vous donne les clefs pour comprendre les enjeux de la relation entre les entreprises et les organisations de la société civile – actualité, analyse, recherche, décryptage – sous un angle transversal et international.

q Oui, je souhaite profiter de votre offre spéciale et recevoir les 8 prochains numéros (6 numéros par an + 2 gratuits)

q Tarif normal : 360 e HT, soit 430,56 e TTC

q Tarif réduit (ONG, étudiants et chercheurs, sur justificatif) : 100 e HT, soit 119,6 e TTC

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Merci d’envoyer ce bon de commande par courrier accompagné de votre règlement à : Be-linked, 32, rue de Trévise, 75009 Paris. Une facture vous sera adressée dès réception de votre bulletin d’abonnement.

QUEM SOMOS NóS ?Be-linked, Business & Community Intelligence é um gabinete de conselho em estratégia e em management totalmente dedicado às relações ONGS- empresas. Nossa missão é de integrar as relações com a sociedade civil no âmago da estratégia de empresa, para criar, pela inovação, valor econômico, societal e ambiental durável.Para melhor informação : [email protected]

E VOCÊ ?Você está na origem, ou implicado numa parceria inovante associando ONG e empresa, um novo social business ?Você deseja nos comunicar um projeto que lhe parece particularmente inovador neste campo ? Não hesite em nos informar [email protected]

PARA ENTRAR EM CONTACTO CONOSCO :

Tél. : 01 56 03 12 42Mail : [email protected] Site : www.be-linked.net

F O R M A Ç Ã O

n Afim de sensibilizar estudantes que se destinam à integrar um setor ainda tímido nas práticas RSE, Sarah Ertel atuou num módulo de formação subre a relação entre o setor do luxo e as ONGS no contexto do master Innovation, Design et Luxe da Universidade de Marne la Valléewww.ecogestion.univ-mlv.fr

n Ainda há vagas para as formações feitas pela Be-linked :

- Dias 27 e 28 de março no contexto das formações propostas pela Univers-Cité do WWF : uma ocasião única de desenvolver suas competências e de intercomunicar-se entre empresas e ONGS.Para as ONGS :http://institutdeformation.wwf.frPara as empresas :http://institutdeformation.wwf.fr

- Para as empresas, dias 12 e 13 de abril, na formação Les Échos « Comunicação e desenvolvimento sustentável »www.lesechos-formation.fr

- Para as ONGS e associações , dias 24 e 25 dea bril, no contexto das formações propostas pela AFFwww.fundraisers.fr

S O C I A L R E T U R N O N I N V E S T M E N T

Dias 16 e 17 de fevereiro, Be-linked participou da Conferência internacional anual do SROI Network sobre o tema «Quanto valor social nós criamos ? » e contribuiu às trocas sobre os princípios e práticas ligados ao SROI (Social Return on Investment).Para melhor informação :[email protected]

Impression : Pure Impressionsur papier FSC mixte avec encres végétales

B&Cbrief | Diretor da publicação : Jérôme Auriac | Chefe da redação : Marie Antonelle Joubert I Redatores : Jérôme Auriac,Anne-Julie Beuscart, Sarah Ertel, Marie Antonelle Joubert, Marine Lafon, Krisztina Tora, Juliette Van Wassenhove. | Graphista : Delphine Miserey |

Impressão : Pure Impression | [email protected]

C O - C R I A Ç Ã O

Juliette Van Wassenhove fez uma intervenção para Be-linked por ocasião de um dia organizado pelo Banco Postal dia 25 de janeiro em Paris. O Banco, que sustentou o Manifesto para a inclusão bancária na França, das populações fragilizadas lançada pelo Socorro Católico, a UNCCAS e a Cruz Vermelha Francesa ,reuniu 80 pessoas vindas de associações e de profissões bancárias, para uma reflexão sobre a luta contra a exclusão bancária.

F O R U M M U N D I A L S O C I A L

Be-linked participou das atividades do Forum Social Temático de Porto Alegre em janeiro, principalmente no que se refere às iniciativas de preparação par a Conferência do Rio+20, seguindo os debates preparativos da Cúpula dos povos que acontecerá de 15 à 23 de junho no Rio de Janeiro. http://rio20.net

E S T U D O

Be-linked e Novethic publicaram dia 10 de janeiro a versão inglesa de seu estudo – tratando sobre os riscos meio-ambientais, societários e de governança (ESG) das indústrias extrativas e a relação destas com as ONGS: « The Listed Mining Sector and ESG Risks. ; Influence of NGOS on the Business and Reputation of Mining Companies. »www.be-linked.net