na cadência bonita do samba

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Na Cadência Bonita do Samba Ao ser indagado sobre a clássica polêmica, aonde teria nascido o samba, o grande compositor baiano Riachão põe fim à questão com a seguinte resposta: “O samba nasceu na Bahia, porque o Brasil nasceu na Bahia”. Notável, porém, são as diferentes características que este ritmo adquiriu em cada um dos estados brasileiros. Nas zonas rurais, como produto da escravidão, da saudade, dos lamentos, surgiram o samba-de-roda baiano, o coco pernambucano, o jongo mineiro, paulista e carioca, o tambu, o batuque de umbigada e o samba de bumbo paulistas, entre muitas outras danças que tem a umbigada e a rasteira como passos principais. Estes são os sambas rurais. Nas cidades, o samba tornou-se produto da liberdade, da mistura, da malandragem, da mestiçagem. O choro, a marcha, o maxixe, o lundu e a modinha - cantados na casa das tias baianas no Rio de Janeiro, entre as quais a renomada Tia Ciata – e mais a depuração estética dos compositores do Estácio, como Ismael Silva, moldaram o samba que será alçado a ritmo nacional através do rádio durante Estado Novo. Desta forma, o samba é produto do morro, do mangue, da favela, da rua, dos largos, das praças, das imediações do recôncavo e dos pelourinhos esquecidos. Seja na Bahia, no Rio de janeiro ou em São Paulo o samba é invenção da alegria e da dor do negro ancorado em suas tradições musicais; fervor que é um monumento quase intocado trazido das várias Áfricas para ser modificado em seu ritmo do lado de cá do atlântico. O samba, seja na sua forma tradicional, seja nas suas formas mais modernas, esteja ele em área rural ou urbana, é a música da convivência, do calor humano compartilhado, ele é cultura do social, a manifestação geral de um povo. Ele é também música de espetáculo, de apresentação, mas principalmente é a evocação para a sociabilidade da festa, imperativo da alegria sentida em conjunto, portanto, ele é

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Ao ser indagado sobre a clássica polêmica, aonde teria nascido o samba, o grande compositor baiano Riachão põe fim à questão com a seguinte resposta: “O samba nasceu na Bahia, porque o Brasil nasceu na Bahia”. Notável, porém, são as diferentes características que este ritmo adquiriu em cada um dos estados brasileiros.

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Na Cadncia Bonita do SambaAo ser indagado sobre a clssica polmica, aonde teria nascido o samba, o grande compositor baiano Riacho pe fim questo com a seguinte resposta: O samba nasceu na Bahia, porque o Brasil nasceu na Bahia. Notvel, porm, so as diferentes caractersticas que este ritmo adquiriu em cada um dos estados brasileiros. Nas zonas rurais, como produto da escravido, da saudade, dos lamentos, surgiram o samba-de-roda baiano, o coco pernambucano, o jongo mineiro, paulista e carioca, o tambu, o batuque de umbigada e o samba de bumbo paulistas, entre muitas outras danas que tem a umbigada e a rasteira como passos principais. Estes so os sambas rurais. Nas cidades, o samba tornou-se produto da liberdade, da mistura, da malandragem, da mestiagem. O choro, a marcha, o maxixe, o lundu e a modinha - cantados na casa das tias baianas no Rio de Janeiro, entre as quais a renomada Tia Ciata e mais a depurao esttica dos compositores do Estcio, como Ismael Silva, moldaram o samba que ser alado a ritmo nacional atravs do rdio durante Estado Novo.

Desta forma, o samba produto do morro, do mangue, da favela, da rua, dos largos, das praas, das imediaes do recncavo e dos pelourinhos esquecidos. Seja na Bahia, no Rio de janeiro ou em So Paulo o samba inveno da alegria e da dor do negro ancorado em suas tradies musicais; fervor que um monumento quase intocado trazido das vrias fricas para ser modificado em seu ritmo do lado de c do atlntico.

O samba, seja na sua forma tradicional, seja nas suas formas mais modernas, esteja ele em rea rural ou urbana, a msica da convivncia, do calor humano compartilhado, ele cultura do social, a manifestao geral de um povo. Ele tambm msica de espetculo, de apresentao, mas principalmente a evocao para a sociabilidade da festa, imperativo da alegria sentida em conjunto, portanto, ele um ritmo pra ser cantado, tocado, danado e partilhado por todos.

A batida ritmada do cavaco, do pandeiro e do tamborim, a presena do surdo, reco-reco, atabaque, agog e violo, revelam que o samba se faz de rica instrumentao, dando vida a um ritmo singular, somado cadncia sincopada na voz dos sambistas. So inmeras as influncias que esse mesmo ritmo tem marcado na msica popular e erudita brasileira e internacional, influncias essas que o figurou e o transfigurou em sua eterna metamorfose.Os pioneiros compositores do samba, com as chagas ainda abertas pela escravido, paradoxalmente evocavam em suas msicas a insegurana com relao ao futuro, as angstias em demasia, as dores, as dificuldades, mas tambm as delcias e as alegrias da vida, em canes numa cadncia que evoca tantos outros ritmos africanos, em seus belos compassos de pulso vigorosa, transformados em diversos cantos do Brasil.Samba, agoniza, mas no morreAlgum sempre te socorreAntes do suspiro derradeiroSambaNegro forte destemidoFoi duramente perseguidoNa esquina, no botequim, no terreiroSamba Inocente, p-no-cho,A fidalguia do salo,Te abraou te envolveu

Mudaram toda sua estruturaTe impuseram outra cultura,E voc nem percebeu...

Nelson Sargento Agoniza, mas no morre

Renato Arajo da Silva e Andr Santos2011

Referncias

DINIZ, A. Almanaque do Samba: a histria do samba, o que ouvir, o que ler, onde curtir. 2ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. VIANNA, H. O Mistrio do Samba. 6ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.: Ed. URFJ, 2007.LOPES, Nei. Partido-alto: samba de bamba. Rio de Janeiro: Pallas, 2005.