musica etno indigena brasileira
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FACULDADE DE TECNOLOGIA DE TATUÍ – FATEC - TATUÍ
CURSO SUPERIOR DE PRODUÇÃO FONOGRÁFICA
ADRIANO DI GIULIO RODRIGUES
BRUNO DA SILVA MOLINA
JORGE LUIS PINTO STELA
MAURICIO ACOSTA AGAPITO
MÚSICA INDÍGENA
TATUÍ - SÃO PAULO
1º SEMESTRE / 2015
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ADRIANO DI GIULIO RODRIGUES
BRUNO DA SILVA MOLINA
JORGE LUIS PINTO STELA
MAURICIO ACOSTA AGAPITO
MÚSICA INDÍGENA
Trabalho para obtenção de nota apresentado na
Faculdade de Tecnologia de Tatuí - FATEC, como
parte das exigências do Programa do Curso de P rodução Fonográfica na disciplina de Métodos para a Produção do Conhecimento sob a orientação do Prof. Coord. Luis Antonio Galhego Fernandes.
TATUÍ - SÃO PAULO
1º SEMESTRE / 2015
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ADRIANO DI GIULIO RODRIGUES
BRUNO DA SILVA MOLINA
JORGE LUIS PINTO STELLA
MAURICIO ACOSTA AGAPITO
MÚSICA INDÍGENA
Trabalho apresentado na Faculdade de Tecnologia
de Tatuí - FATEC, como parte das exigências do Programa do Curso de Produção Fonográfica na disciplina de Métodos para a Produção do
Conhecimento para obtenção de nota no primeiro
semestre do curso em ____/____2015.
( ) APROVADO ( ) REPROVADO
Com média___________
Tatuí, ___de ___de 2015.
_____________________________________
Prof. Coord. Luis Antonio Galhego Fernandes
FATEC - Tatuí
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Dedicamos este trabalho aos nossos familiares e
amigos, e principalmente a todos que nunca se
esqueceram e nunca se esquecerão da
importância da ancestralidade dos nossos povos nativos.
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RESUMO
Este estudo mostra a importância da cultura indígena na formação do povo brasileiro como
um todo, em sua cultura e sua música. Por meio desse artigo mostramos como a música
brasileira foi e ainda é influenciada por suas raízes indígenas. Estudar os conceitos artísticos
e filosóficos de uma manifestação cultural de um povo, por muitas vezes tachado primitivo e débil, por seu distanciamento da tecnologia é, em suma, descobrir novos conceitos
estilísticos e estéticos por base de profundo debruçamento na investigação do mesmo, ato
este que requer um envolvimento mais que técnico e teórico do pesquisador, mas sim uma
simbiose em sua alma ancestral. Ancestralidade que podemos nos aproximar entendendo
seus mitos e sua cosmologia, a forma como estes preceitos dialogam com a performance de suas músicas, até mesmo com a confecção e execução de seus instrumentos musicais e
também como isto afeta sua sociedade, que foi consideravelmente modificada pelos
colonizadores e seus colaboradores religiosos.
PALAVRAS-CHAVE
: Música indígena. Influências culturais. Rituais indígenas.
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ABSTRACT
This study shows the importance of indigenous culture in the formation of the
Brazilian people as a whole, in their culture and music. Through this article we show
how Brazilian music was and still is influenced by their indigenous roots. Study the
artistic and philosophical concepts of a cultural expression of a people, for often
branded primitive and weak, for his distancing of technology is, in short, discover new
stylistic and aesthetic concepts deep diving on base in the investigation of the same, act
this that requires an involvement rather than technical and theoretical researcher, but
a symbiosis in his ancestral soul. Ancestry that we can approach understanding their
myths and their cosmology, how these precepts dialogue with the performance of his
songs, even with the preparation and execution of their musical instruments and also
how this affects the company that has been considerably modified by the colonizers
and their religious employees.
KEYWORDS : indigenous music . Cultural influences. Indian rituals .
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Sumário
1. MÚSICA INDÍGENA, SEUS INSTRUMENTOS E SUA HISTÓRIA.
2. RELAÇÃO DA MUSICA E SEUS RITUAIS
3. REFERÊNCIAS
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1 INTRODUÇÃOPouco se sabe das bases estruturais que caracterizam nacionalmente a nossa música. As
melodias registradas não passaram até agora por uma análise sistemática, e nos estudos já
feitos, visando quase sempre fins mais ou menos gerais, recenseia-se um número muito pequeno de elementos reconhecidos como constantes na música do país. Por outro lado, a
documentação disponível é bastante escassa: as melodias recolhidas e publicadas em livros
talvez não cheguem a mil. E, o que é pior, sofremos de uma grande falta de estudos
científicos de folclore musical; as pesquisas, na sua maioria mal orientadas, pecam pela ausência de dados suficientes e precisos. Usando alguns fatos históricos como referência
para situar a música indígena Brasileira e das Terras Baixas Da América do Sul, que é objeto de estudos desde o século XX por diversos nomes do meio intelectual acadêmico Brasileiro
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e mundial, como por exemplo, no Brasil, pela compositora, pintora, professora e musicóloga Helza Cameu, e pelo antropólogo francês Levy Strauss, que contribuiu com imensa obra e
investigação, registros sobre a cultura indígena, incluindo sua música. O texto discorre sobre
preceitos altamente importantes em relação à música indígena e sua influência na cultura
brasileira acerca de conceitos cuidadosamente escolhidos pelos pesquisadores.
2 OBJETIVOS:
Um dos maiores problemas atuais é estabelecer os elementos que formam a nossa música, por isso se faz necessário conhecer as características técnicas da música dos povos indígenas, precursores na formação da nossa cultura e, consequentemente, da nossa música. Este artigo visa a criação de uma base orientadora nas pesquisas sobre os estudos do folclore nacional, enfatizando a valorização da nossa cultura e mostrando como nossa miscigenação criou em nós uma necessidade de busca das nossas origens, com análises em acontecimentos
passados em dado momento histórico, para assim verificarmos as influências que formaram nosso povo, nossa história, nossa cultura e nossa música.
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3 BREVE RELATO DA HISTÓRIA INDÍGENA, SEUS INSTRUMENTOS E SUAMÚSICA.
A música indígena resulta de influências de outros povos que migraram de outros continentes para habitarem o Brasil, isso enriquece a nossa história, cultura e música. Tal
fato só começou a ganhar notoriedade a partir dos relatos de Jean de Léry sobre alguns
cantos tupinambás, em 1558, e de Antonio Ruíz de Montoya, com um grande léxico de
categorias musicais do guarani antigo e a partir da pesquisa de Villa Lobos e Mário de Andrade no século XX. Hoje, a música indígena teve uma grande evolução em pesquisas e
artigos. Mesmo com todo trabalho para determinar suas características, é quase impossível
definir o que é musicalmente natural dos índios que habitavam nossas terras e o que foi ocorrência de influencias externas. Os indígenas brasileiros na época do descobrimento eram
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em torno de 5 milhões, de lá para cá esse número caiu vertiginosamente pelo choque cultural
e doenças trazidas pelos europeus. Segundo Camêu (1977)
[...] 1500. Da Carta de Pero Vaz de Caminha, informando sobre gente do grande
território que se tornaria o Brasil, ficou a certeza de que o som musical era utilizado pelo índio muito antes da descoberta do Continente americano.Logo no primeiro encontro entre a gente de Cabral e o nativo foi constatado pelo cronista que os índios “dançaram e bailaram, com os nossos”. [...] Na mesma ocasião notou que “além do rio andavam muitos deles dançando e folgando” e ainda que “depois da missa quando nós sentados atendíamos à pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço”.[...] (CAMÊU, 1977, p. 20).
O índio através desta interação com uma nova cultura acabou ganhando uma representação
cultural, da mesma forma que os africanos ganharam ao se tornarem escravos. O índio
brasileiro foi considerado como “gentio”, “bárbaro”, “raça atrasada”, “bugre” e “selvagem”, pelos europeus que aqui chegaram, que no período colonial definiam os índios desta forma. Gilberto Freyre (2006), em seu livro “Casa-Grande & Senzala”, explicava a forma
pejorativa que foi atribuída aos índios da seguinte forma:
A denominação de bugres dada pelos portugueses aos indígenas do Brasil em geral e a uma tribo de São Paulo em particular talvez exprimisse o horror teológico de cristãos mal saídos da Idade Média ao pecado nefando, por eles associado sempre ao grande, ao máximo da incredulidade ou heresia. Já para os hebreus o termo
gentio implicava idéia de sodomita; para o cristão medieval foi o termo bugre que
ficou impregnado da mesma idéia pejorativa de pecado imundo. (FREYRE,
2006, p.189).
Os Jesuítas no século XVI tiveram contato quase que imediato com algumas tribos e ali com
o auxilio europeu os índios contribuíram ativamente, como instrumentistas, cantores e
construtores de instrumentos, para criar uma rica cultura musical, mesmo que feita nos
modelos europeus. Este fato é conhecido através de relatos literários da época, sem nenhum documento histórico ou científico que possa comprovar como era a música indígena
brasileira antes da colonização e de todas as influências musicais e culturais entre o índio, o
negro e o branco. Já que os estudos mais aprofundados sobre sua cultura começaram a
ganhar notoriedade por volta de 1977.
A música é sempre rica por conter características da sociedade em que ela foi criada, por
isso ela influência e é influenciada, tanto, que os indígenas foram influenciados pela música
de algumas tribos africanas que contribuíram culturalmente para a música indígena e para a cultura musical nacional como um todo. Dentre essas contribuições estão três manifestações
artísticas africanas, o Jongo, o Lundu e o Coco, cada qual com suas características e
contribuições como afirmam TUGNY e QUEIROZ (2006).
3.1 A INFLUÊNCIA DA CULTURA AFRICANA NA MÚSICA INDÍGENA
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próximos capítulos). Está presente em festas comemorativas, sazonais, guerreiras, ritos de
passagem e congraçamento entre as tribos. Boa parte dessa música é feita pelos instrumentos
que a produzem. De acordo com a professora e musicóloga Helza Camêu (1979, p. 9):
[...] Para o índio o instrumento tem uma origem, uma razão, uma finalidade, por isso, sonoro ou musical conta uma lenda, a sua lenda, que lhe determina um
princípio, que lhe encarece a importância, dando-lhe especificação, vinculando-o a sua gente [...]
Conforme Lúcia Gaspar (2009), a maior parte dos índios brasileiros usam instrumentos
musicais de percussão confeccionados de acordo com o seu uso social e são utilizados de diferentes maneiras de acordo com a cultura da tribo. As diferentes tribos (conforme será
análisado a seguir) costumam fazer uso dos mesmos materiais para a fabricação dos seus
instrumentos, entretanto a aparência desses instrumentos possuem características estéticas e
culturais diferentes ao ambiente mitológico à que estão ligados. A função dos instrumentos podem se de ordem comunicativa, religiosa (rituais) ou apenas musical, porém, sempre estão
ligadas aos significados da natureza, representando-a, conforme veremos no capitulo a
seguir. O corpo também é usado para criar música pelos indígenas, onde o bater de pés com
chocalhos presos aos tornozelos servem para marcar e animar as danças indígenas tornando assim o corpo um instrumento.
Os instrumentos de percussão são aqueles que produzem som por meio de pancadas sobre
qualquer superfície ou pelo atrito, tambores, bastões de ritmo, reco-reco e chocalhos,
causam mais ruído do que som, com variações de timbres de acordo com os materiais em
choque, como madeira, sementes ou élitros (asas de besouros), assim como a intensidade e regularidade dos movimentos que os impulsionam, algumas tribos fazem uso desses
instrumentos para simbolizar a chuva em seus rituais.
Os chocalhos em fieiras são feitos de frutos – normalmente nozes e cocos – caracol, cabaça,
élitros, garras e cascos de animais (anta, veado, boi). São usados como braçadeiras,
pulseiras, joelheiras, colares, tangas, tornozeleiras ou movimentados diretamente na mão
quando fabricados em recipientes fechados, dependendo da forma, podem ser classificados em globulares (forma esférica) e tubulares (forma alongada).
Os globulares são feitos de frutos e a utilização do chocalho está ligada às atividades
religiosas e os de lança são usados, normalmente, em cerimônias de iniciação para os jovens.
Os tubulares são confeccionados de trançado de taquarinha (plantas da família das gramíneas), madeira ou bambu, contendo no seu interior sementes, seixos, dentes ou élitros,
para a produção do som ao se chocar com a madeira. Outro instrumento de percussão
importante utilizado pelos índios brasileiros é o tambor, que pode ser feito de madeira,
cascos de tartarugas, cerâmicas e pelos de animais. Os tambores são instrumentos utilizados tanto para sinalização e comunicação, quanto em festas e cerimônias sociais e religiosas.
Pode se citar também os instrumentos de sopro, como pios, apitos, buzinas, trombetas e
flautas, produzem som pela introdução de ar em tubos e cavidades. São feitos de folhas
retorcidas, frutos, troncos, bambu, ossos, cabaça, cerâmica, chifre e carapaça de animais, e com esses instrumentos de sopro os índios conseguem produzir sons com timbres bem
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agradáveis Pereira (2011). De acordo com Gaspar (2009), há registro sobre instrumento de
corda dentro de algumas culturas indígenas, como o arrabil (instrumento de arco de origem
árabe) e o berimbau, importados de outras culturas, porém não são usuais nas comunidades indígenas brasileiras.
3.3 INSTRUMENTOS INDÍGENAS
Renato Almeida, em seu livro História da Música Brasileira, 3 cita a ideia de Erland
Nordenskiöld de que as trombetas e clarinetas com lingueta de percussão apareceram na
América somente depois da Descoberta, por influência dos europeus ou dos negros. Helza
Cameu, em sua obra Introdução ao Estudo da Música Indígena Brasileira, no capítulo “A Lingueta ou Palheta”, também sugere esta ideia, mas com mais prudência:
Também poderá parecer consequente de influências em seguida à Descoberta. No entanto, mesmo que sua aplicação tenha sido verificada após alguns anos de contato com o branco, isso não autoriza a pensar que o motivo somente daí tenha chegado àquele ponto, visto ser fato encontradiço em várias culturas primitivas.
Para os índios, a música serve como meio de contato com as forças espirituais que
controlam o universo e o tema mais frequente em suas músicas é a Natureza, que
mitologia de várias etnias indígenas, é passada de geração para geração que são os animais que ensinam a música aos homens. Na bela história dos índios Wakuénai, do Amazonas: o
criador do Universo que é chamado Kuwai, cantou e com sua voz deu origem a todas as
coisas que existem. Quando Kuwai morreu e se transformou em árvore, os índios
construíram flautas de sua madeira e tocaram para que o Universo não morresse também. Dentro da sociedade indígena, os instrumentos são mais que simples objeto de cunho
artístico mostrando assim a importância da música nas sociedades e nas religiões indígenas
brasileiras. É importante lembrar que alguns instrumentos sonoros indígenas não são
necessariamente musicais: funcionam como sinalizadores. Esses instrumentos, conforme classificação de Ribeiro (1988, p. 193-212), são divididos basicamente em quatro grupos
genéricos: Aerofones, Cordofones, Idiofones e Membranofones.
São classificados como aerofones os instrumentos que emitem som a partir do sopro em um determinado receptáculo (orifício) ou através da vibração em movimento. São flautas,
apitos, trompetes, instrumentos de palheta e zunidores. Cordofones são instrumentos que
apresentam uma ou mais cordas estendidas e fixas em duas extremidades. O som é
produzido através das vibrações dessas cordas. Entre os povos indígenas já é comum encontrarmos violões e outros instrumentos de corda, devido ao sincretismo musical ao
longo dos anos. No entanto, os genuinamente indígenas são o arco de boca, o arco musical e a viola. Os idiofones são instrumentos musicais ou de sinalização que emitem som a partir
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da vibração da matéria com que são confeccionados. São bastões de ritmo, paus
entrechocantes, chocalhos, reco-reco, sistro e tambores. Os membranofones possuem
membrana acoplada a uma caixa que soa quando percutida com um bastão. Os tambores indígenas geralmente são resultados do sincretismo; acredita-se que, entre os povos
indígenas brasileiros, não são comuns os tambores. Encontramos, então, o tambor d’água, o
tambor de cerâmica e o tambor de pele. A seguir, o detalhamento de alguns tipos de
instrumentos musicais nas diferentes etnias.
3.3.1 MARACÁS
O maracá tupi O maracá de povos maranhenses de língua Tupi (Guajajara e Urubu-Kaapor)
apresenta semelhanças em sua confecção, formato e adornos. O fruto do cabaceiro, de
formato semiesférico, depois de limpo e seco, é revestido por uma camada de verniz negro, brilhante, extraído de pau-santo3 (RIBEIRO, 1988, p.31). Em seguida, o artista faz desenhos
geométricos (em geral semicírculos) retirando esse verniz, utilizando algum objeto
pontiagudo, como uma pintura em negativo, fazendo aparecer a cor da cabaça (Figura 1).
Figura 1 – Maracá Urubu-Kaapor: Maracá com desenhos geométricos (semicírculos) dispostos no sentidovertical e horizontal Fonte: Acervo do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do
Maranhão/Foto: Pedro Paulo C. Moura
O cabo é todo envolvido por um cordão de algodão que também, às vezes, é tingido com
suco de jenipapo em partes alternadas distintas. Na parte inferior, é colocada uma alça para
prender o maracá ao pulso do cantor, evitando que o instrumento caia durante a cantoria. O maracá tupi traz, na parte superior, um adorno feito com plumas coloridas de periquitos,
papagaios, xexéu, corrupião, arara etc., à guisa de cocar que indígenas usam em rituais. Em
alguns maracás Kaapor foram observados adornos plumários também no cabo (Figura 2).
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Figura 2 – Pequeno Maracá Urubu- -Kaapor: Entre os Urubu-Kaapor encontramos um maracá de pequeno
porte, no qual a cabaça possui tamanho reduzido e não há desenhos. No entanto, o adorno plumá- rio fica emevidência Fonte: Acervo da Casa de Nhozinho/Foto: Pedro Paulo C. Moura
4 A RELAÇÃO DA MÚSICA RITUALÍSTICA INDÍGENA SUL AMERICANA COM ASOCIEDADE
A estética dos rituais, coreografias com fins de cerimonia as disposições em círculo ou fila, em variedades de: Saltos, recuos, corpos curvados, apenas movimentos do pé, sem sair do
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lugar passos curtos em fila, sapateado, e meneios serenos do corpo e da cabeça, quando em movimento. A imitação mágica do movimento, como imitação de animais, combates entre guerreiros.
Em parte a conquista europeia foi através da música, na qual dóceis curumins das escolas jesuíticas serviam de aproximador para os adultos; se podem ver quatro meios estratégicos.
1. Substituir os cantos indígenas por textos religiosos escritos em Tupi.2. O ensino de cânticos da Igreja também traduzidos para o Tupi.3. Permissão de danças indígenas dentro de os templos e em procissões.4. A representação de autos hierárquicos nos templos ao lado dos personagens da
mítica Indígena.
''São afeiçoados á música, e os que são escolhidos para cantores da igreja, prezam-se muito do ofício, e gastam os dias e noites em ensinar os outros.'' (Padre Simão de Vasconcelos no séc.XVII)
A absorção pela catequese e o aniquilamento da escravidão contribuíram na formação do homem brasileiro e deixando poucas evidências dos costumes musicais indígenas na cultura.
4.1 BREVE COMENTÁRIO SOBRE A SITUAÇÃO POLITICA INDÍGENA DURANTE ADITADURA MILITAR
Os nativos começaram a ter visibilidade midiática durante a ditadura militar (1964 – 1985) devido amalsucedida obra da rodovia transamazônica, esta que ocupava áreas habitadas pelos nativos,
prejudicando suas condições de subsistência e causando mobilização e revolta para os índios, logo,diante de tal visibilidade, os militares consideraram o fato uma ameaça. A etnia Apinayé foi uma dasmais afetadas com a construção da rodovia, pois o momento acabou facilitando a invasão de suasterras, e assim por diante o total desequilíbrio ambiental de sua área. Posto o fim da ditadura militarno país, é instaurada na constituição de 1988 no capitulo VIII “ Dos Índios” a garantia dedemarcação de suas terras em cinco anos a partir da promulgação. Posteriormente à 88, outrasemendas constitucionais foram formuladas, em um dos casos, garantia o Estado a utilização de suaslínguas maternas nos processos de aprendizagem das crianças e a proteção da cultura manifesta pelosnativos. Pode-se dizer que o indígena foi representado de forma classificatória e hierárquicasocialmente, onde a pratica do poder impera, característica de um pais onde a variedade e mistura dediversas culturas ocorre. (Rodrigues, 2015)
4.2 O MITO MÚSICA RITUALÍSTICA INDÍGENA
"Indiferenciação entre humanos e animais, que se relacionam como iguais; céu eterra tão próximos, que quase se tocam; viagens cósmicas, homens que voam,gémeos prime-vos, incestos criadores; origens subterrâneas; dilúvios; humanidades
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subaquáticas; caos, conquistas, transformações... É o mundo tomando forma,definindo lugares e características de personagens hoje conhecidos. São os temasmíticos, que narram aventuras e seres primordiais, em linguagem fabulosa masconstruída com imagens concretas, captáveis pelos sentidos; situadas em umtempo das origens mas referidas ao presente, encerrando perspectivas de futuro ecarregando experiências do passado. Assim, complexos, são os mitos." (Grupioni,Indios no Brasil, 1994)
Figura 1: Posse de Konini na direção do Parque do Araguaia. As aldeias Karajá serviram, por diversos momentos, como palco de visitação de autoridades federais interessadas em ganhar visibilidade junto aos índios. Foto: Pedro José EmpresaBrasileira de Notícias/s.d fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/karaja/374#
Dentro de cada ambiente sociocultural constituído pelas sociedades indígenas das Terras Baixas DaAmérica Do Sul de uma forma única de representar a pessoa humana, distinguido vida de morte,
natural de sobrenatural... O mito, dentro do assunto aqui abordado, é de suma importância, poistodas as manifestações artísticas concebidas por povos primitivos, em tese, é direcionada erepresentada pelos seus mitos. Estas concepções orientam a vida cotidiana destes povos de forma
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sensorial, tanto na interpretação de acontecimentos, como na tomada de decisões. Dentro do aspectoritualístico, o mito é a linguagem simbólica que o dirige. As formas musicais (como no exemploToré, discorrido a seguir), performances corporais e vestimentas são completamente ligadas ao mito,conforme a figura 1, que nos mostra as vestimentas do ritual de posse dos povos Karajá.
4.
3 O RITUAL TORÉ E AS FLAUTAS MÁGICAS DOS POVOS INDÍGENAS DAS TERRASBAIXAS DA AMÉRICA DO SUL
O ritual Toré é uma das manifestações culturais indígenas das Terras Baixas da América do Sul, performática e musical, onde toda a espiritualidade mágica e resistência da etnia Kariri-Xocó seunem como a ponta de uma lança na luta pelas suas terras há muito saqueadas (como dito acima nocaso dos Apinayé) no nordeste do país. Considerada uma música de pulsação forte, o Toré tem como
principal objetivo dentro do aspecto comunicativo revitalizar a cultura indígena atrás de uma nova perspectiva sobre os impactos subjetivos da sociedade de consumo globalizada. Sendo assim, os
índios nordestinos buscam centros urbanos para realizar sua performance musical sagrada como umaforma estratégica de sobrevivência e a busca pela conscientização cultural da população. Nestemomento, o Toré busca lidar com a exposição pública demonstrando na pratica seus conceitoscomplexos de práticas esotéricas e neoxamânicas dentro dos meios globalizados, como uma formaapresentar seus métodos de educação diferenciada aos que assistem sua apresentação.(Cunha, 2008)
Além do ritual e da performance musical em si destacada no caso Toré dos Kariri Xocó, as flautassagradas de todas as etnias indígenas nas Terras Baixas da América do Sul tem um significadosociocultural, e sobrenatural no universo indígena, sendo de total importância dentro da sociedadenativa, estruturando até mesmo sua forma de viver e interagir. Algumas destas flautas tem um tipo de
poder curativo; um forma anciã de ritual xamânico que fora aprendida durante diversas gerações pelas tribos. Estes instrumentos são confeccionados de forma restrita e são armazenadas com totalsigilo, na casa de homens (alguns destes instrumentos são restritos às mulheres, conforme seráabordado à seguir), só podendo ser utilizadas nas cerimônias.(Cunha, 2008)
Conforme destacado no paragrafo acima, os sentidos da prática musical-ritualística indígena dasTerras Baixas da América do Sul são expressões que endereçam significado à outras vias da vidaindígena, além da mítica e cosmológica, segundo Maria Ignez Cruz Mello sobre a tribo Wauja(2006):
"Quero dizer que toda esta criação ritual trata da demarcação de limites, de estabelecer proporções, de precisar doses, criar diferenças, construir fronteiras, criar o espaço humano de agência no mundo. E este espaço se instaura no ritual, onde a música é o “dito” que se torna “feito” (MELLO, 2006, p. s/n).
4.4 A DIFERENÇA DA ARTE INDÍGENA DA ARTE OCIDENTAL
De acordo com Levy-Strauss, a arte primitiva é concebida como um sistema de signos, ondeo objetivo representar um objeto de forma mimetista, ou seja, adequá-lo à uma estrutura
ligada ao conceito de belo, assim criando um dialogo com o meio, um imitação; a arte primitiva em si, tem em seu termo significativo o todo de uma tribo, por exemplo, uma
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celebração ritualística e musical onde todos cantam e dançam para celebrar a passagem deum individuo para a vida adulta, com canções próprias e instrumentos próprios; rituais decura, onde os instrumentos que são utilizados no mesmo não podem ser tocados por umamulher e etc.(Cunha, 2008)
A concepção de beleza estética na arte ocidental é completamente diferente da indígena,conforme as palavras de Lux Vidal e Aracy Silva pode clarear:
"Ao abordar manifestações estéticas, a antropologia procura os parâmetrosconceituais e físicos que definem uma obra de arte. Os termos habitualmenteempregados no mundo ocidental para beleza e arte estão cognitivamente atreladosaos valores e conceitos correntes nesse universo. Outras culturas podem não
possuir essas categorias. De acordo com uma visão antropológica, afirma-se que o processo estético não é inerente ao objeto: está ancorado na matriz da ação
humana. É possível, então, afirmar que o fenômeno estético é feito, digamos, deexperiências em tom qualitativo. O produtor, a plateia e o objeto interagemdinamicamente, cada um contribuindo para a experiência, que é, ao mesmo tempo,
estética e artística." (VIDAL; SILVA, 2000, p. 280).
Desta forma recorre-se aos estudos ligados a musica indígena no Brasil à Etnomusicologia paraentender seus processos e sentidos ligados à sua prática, de forma mais profunda, com ferramentasoriundas da antropologia e da musicologia, dentro do contexto cultural do objeto estudado. Com baseno estudo da música de um povo indígena, em base de sua história e antropologia podemosdemonstrar a importância da etnomusicologia para todo o conjunto de valores que a música (objeto
estudado) trás para a reprodução de uma identidade que está diretamente ligada à nossa cultura.
Sendo assim, o estudo da música indígena hoje em dia é objeto de interesse e pesquisa de diversosestudiosos pelo mundo, contribuindo aos trabalhos em etnomusicologia e muitas outras áreas doconhecimento.
Conclui-se que, ao estudar os processos indígenas das Terras Baixas Da América do Sul, temosgrande direção para conhecer o ambiente psicossocial e estético musical do nosso país, criando umdialogo mais profundo com seu passado e com a problemática de seu futuro.
5. CONCLUSÃO
Pesquisar os pontos chaves de influencia indígena na cultura brasileira é um ato altamente
instigante e desafiador. Hoje em dia pouco se fala em influencia musical indígena no âmbito
criativo. Conclui-se que, tais preceitos que aqui foram estudados, podem acrescentar um valor de incrível importância para o estimulo musical brasileiro do futuro. A arte indígena
muito tem a acrescentar ao desenvolvimento criativo de um músico, quer seja ele um amante
da etnomusicologia ou não. Como foi dito, os nativos possuem um complexo processo
criativo em suas músicas, que envolve não só a arte em si, a música em si, mas sua mitologia e cosmologia ao lidar com processos de confecção dos instrumentos e composição de suas
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