monografia de graduaÇÃo 30 abril
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF
CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA DE MONOGRAFIA II
MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO
O TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO SOB O PRISMA DA TERAPIA
COGNITIVO COMPORTAMENTAL
PAULO SANTUCCI DIAS MARQUES
ORIENTADORA: Profª Cristine Fares
Niterói , 30 de abril de 2012

RESUMO
O presente trabalho versa sobre o Transtorno Obsessivo-Compulsivo e a prática clínica
realizada durante o período de um ano de estágio no Serviço de Psicologia Aplicada da UFF e
quatro meses de estágio na Clínica Social do Instituto Cognitivo e Comportamental de
Psicologia (ICCP), através de atendimento supervisionado, na aplicação de princípios da TCC,
em dois pacientes portadores do transtorno referenciados neste trabalho como Estudos de
Caso. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) surgiu nos anos 60 a partir da prática clínica
feita por nomes como Aaron T. Beck e Albert Ellis, seus principais percursores, que, devido à
insatisfação com as abordagens em voga no campo clínico, especialmente àquelas findadas na
teoria psicanalítica e no behavorismo radical, reformularam certos preceitos atinentes ao
modo de se tratar enfermidades psicológicas, calcando-se em novas evidências descobertas
empiricamente no tratamento de pacientes, sobretudo após a corroboração do caráter falso
de algumas supostas verdades sobre o funcionamento mental que permeavam o pensamento
científico da época, no que tange a prática psicoterapêutica. A TCC tem seu alicerce na
Psicologia e Cognitiva e no Behavorismo de autores como Skinner e Albert Bandura, e pode ser
descrita como uma teoria híbrida, totalmente voltada para a prática clínica. Prescindindo de
uma postura que busque enaltecer a abordagem escolhida em detrimento de outras
abordagens psicológicas, o presente trabalho serve como o relato de uma experiência que
possa servir como tema de discussão sobre o atual panorama da clínica terapêutica.
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Sumário
1 TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO. Definição.
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2. Como são essas obsessões? 06
2.1 Tipos de Compulsões 06
2.2 Como é feito o diagnóstico? 11
3. A TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL 13
4. TRATAMENTOS 23
5. Experiência clínica com o Transtorno 29
5.1 Estudos de caso 1 29
5.2 Estudo de caso 2 35
6. CONCLUSÃO 38
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 41
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TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO – CARACTERÍSTICAS, DIAGNÓSTICO, CONCEITUAÇÃO TEÓRICA
“O termo neurose foi cunhado e primeiramente utilizado pelo médico escocês Willian Cullen, em 1769, para definir uma série de patologias vagamente relacionadas a uma deficiência no aporte de energia ao cérebro. Assim, não somente alterações psiquiátricas como melancolia, mania e hipocondria estariam englobadas neste conceito, mas também patologias como a epilepsia, a coréia, asma, diabetes, colites etc.
No decorrer do século XIX, com o avanço da medicina em diversas áreas, o uso do termo neurose para patologias médicas foi deixado em esquecimento, porém, no campo da psiquiatria, o uso do termo neurose foi popularizado e grandemente expandido por Freud, que definiu as assim chamadas neuroses clássicas, ou Neuroses” atuais”, por apresentar uma etiologia psíquica e não somática. Freud introduziu a clássica tríade da Neurose de Conversão Histérica, Neurose Obsessivo-Compulsiva e Neurose de Ansiedade.
... Os sistemas atuais de classificação preferem abandonar o termo neurose por ser pouco exato e impregnado pela teoria psicanalítica e adotar o conceito sindrômico (transtorno ou distúrbio) sem implicações etiológicas. Tanto a CID-10 como o DSMIV-TR colocam o TOC entre os transtornos Ansiosos ao lado do Transtorno do Pânico, Agorafobia, Fobia Específica, Fobia Social e Transtorno do Estresse Pós-Traumático.”
(In Rangé, pg. 105, 1998)
1. O TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO (TOC)
Transtorno Obsessivo Compulsivo é um distúrbio psicológico que caracteriza-se pela
prevalência de obsessões e compulsões que possuem uma relação funcional entre si, e
que são reforçadas na medida em que o indivíduo experimenta nas compulsões uma
forma de alívio da ansiedade, supressão ou neutralização de impulsos.
A reação desencadeada é de extrema ansiedade (disforia). Os comportamentos
adotados são àqueles que visam evitar a disforia causada pelos pensamentos
obsessivos, ou àqueles que sirvam como forma de esquiva da situação ambiental
eliciadora das obsessões de modo que, o indivíduo que sofre com o TOC, tem
dificuldades em pensar além do curto prazo, e opta sempre pela opção menos racional
de lidar com próprios pensamentos e sentimentos.
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2. Como são essas obsessões? E as compulsões?
Obsessões são idéias, pensamentos aversivos, impulsos ou imagens consideradas
inadequadas e que invadem a consciência do indivíduo de forma repetitiva e
persistente, causando-lhe extrema aflição, ao que este, para lidar com a situação,
adota um comportamento ou um ato mental na forma de uma compulsão, com vistas
a suportar a aflição, neutralizar os impulsos, esquivar-se da consequência temida,
experimentar algum outro modo de fuga da situação conflituosa ou erradicar o
sofrimento em curto prazo (comportamento disfuncional).
As obsessões mais comuns se referem à possibilidade de contaminar-se, sofrer ou
causar a outrem algum tipo de mal através do pensamento, ou mesmo pecar e/ou
realizar crimes em conseqüência desses pensamentos.
O tipo de obsessão que predomina nos casos de TOC é ego-distônica’, na medida em
que causa ao indivíduo um sentimento de que o conteúdo da obsessão lhe é estranho,
e que os pensamentos obsessivos não lhe são próprios.
A compulsão é um comportamento repetitivo, realizado de forma intencional, e
sempre estereotipada, com o intuito de diminuir a ansiedade causada pelos
pensamentos obsessivos. É motivada por uma sensação de urgência, que o indivíduo
sente, e que é atenuada após a realização do comportamento compulsivo. As reações
fisiológicas costumam ser intensas (taquicardia, sudorese, náuseas, entre outras)
causando extremo mal-estar. Em algumas vezes, pode-se observar também alguns
sintomas de ataque de pânico.
2.1 Tipos de compulsões
Os tipos de compulsões manifestadas nos casos de TOC são àquelas ligadas às
questões de limpeza e contaminação (o paciente se sente sujo fisicamente devido ao
conteúdo de certos pensamentos); de medo paranóico, de prevenção ou evitação de
uma conseqüência temida que, devido a um tipo de crença disfuncional que estes
pacientes têm, torna-se mais provável, na aparição do pensamento obsessivo.
Como exemplos de casos de TOC, documentados, podem-se citar os seguintes casos:
1.Um jovem que sofria com uma imagem mental intrusiva aonde sua namorada era
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atacada por um animal e ele tinha que se por no lugar dela para salvá-la; 2. Através de
um ato mental compulsivo, um motorista de táxi refazia o percurso várias vezes para
se certificar que não havia atropelado alguém; 3. Um rapaz que fazia constantemente
testes laboratoriais ou de HIV, além de consultar a opinião de familiares sobre estar
doente ou não; 4. Uma dona de casa que precisava examinar portas e janelas diversas
vezes por dia por não suportar o medo de ser assaltada, estão entre outros casos
comuns. A intensidade com que muitos indivíduo sofrem com o TOC, podem levá-los a
desistir de um emprego por não conseguir realizar o trabalho devido o excesso de
tempo despendido nos comportamentos compulsivos.
O comportamento compulsivo é reforçado negativamente com o passar do tempo, e a
falta de clareza sobre o evento ativador da situação aflitiva aumenta
progressivamente, fazendo com que o indivíduo reaja com menos racionalidade, e
adote como defesa, comportamentos compulsivos que vão perdendo força e passam a
ser substituídos por outros.
Com o desenvolvimento da doença, torna-se claro a existência de alterações na forma
de pensar, e de avaliar a si e a o mundo em volta. Percebe-se uma crença ideal sobre o
que pode ou não ser pensado, que caminha junto com uma visão fantasiosa sobre a
própria natureza íntima (sobretudo nos casos de TOC ligados à questões de
contaminação e limpeza). Muitos dos pacientes que têm o transtorno criam sistemas
próprios, onde a lógica e a razão não são fatores preponderantes. Ademais, o manejo
dos comportamentos ritualísticos é uma forma de manter esse sistema ‘funcionando’.
Observa-se entre estes pacientes a prevalência do pensamento mágico. Para muitos
destes pacientes, pensar em algo aversivo é o mesmo que fazê-lo, ou seja, o
pensamento é tido como uma ação (comportamento). Segundo Poy Salkovskis (In
Barlow, pg 175, 2009), este processo denomina-se ‘fusão pensamento-ação’. O mais
comum entre estes pacientes é reagir impulsivamente devido ao medo que têm sobre
as conseqüências de não realizar o comportamento ritualístico. Segundo dados
estatísticos (In Barlow, pg. 176, 2009) apenas dois terços dos pacientes conseguem
enxergar além da aflição emocional causada pelo medo do conteúdo de suas
distorções cognitivas.
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Na cultura popular, muitos desses comportamentos são tidos como manias ou mesmo
se confundem às superstições, dentro de uma cultura mais religiosa, e assim ficam
ocultos, impedindo a identificação dos sintomas.
O maior objetivo da manutenção destes rituais é proteger o self da ameaça causada
pelo conteúdo dos pensamentos aversivos, e reduzir a aflição causada por esses
pensamentos. O DSM-IV-TV define estes rituais como sendo ações explícitas, no caso
dos comportamentos, ou implícitas, no caso dos atos mentais.
Segundo o DSM-IV-TR, existe um subtipo de pacientes com TOC que possuem insight
reduzido e respondem cegamente ao comportamento compulsivo sem que consigam
identificar o conteúdo de sua obsessão. Para estes grupo de pacientes, a abordagem
comportamental calcada no behavorismo clássico descreve melhor o ‘funcionamento’
da obsessão.
O TOC recebeu diferentes abordagens ao longo do tempo, e os tratamentos foram se
aperfeiçoando numa linha cronológica demarcada pela utilização de métodos oriundos
da terapia psicodinâmica, à análise de comportamento e análise cognitivo-
comportamental.
A psicanálise freudiana concebe que as obsessões e compulsões sirvam como uma
forma de esconder algum conflito inconsciente, originado pelas tentativas de se
reprimir certos desejos sexuais ou agressivos. Deste modo, as obsessões seriam idéias
reprimidas e as compulsões serviriam como maneiras inconscientes de se auferir certo
prazer sexual.
Sob o prisma das teorias da aprendizagem: condicionamento pavloniano,
condicionamento operante e no fenômeno da habituação, o modelo comportamental
do TOC o concebia como uma forma de aprendizagem não associativa. Os teóricos
desta linha buscaram alicerces nos estudos elaborados por Mowrer, que explicava os
mecanismos comportamentais existentes na presença do medo e de ansiedade.
Mowrer estabeleceu um modelo chamado de dois fatores ou dois estágios, em que a
ansiedade é tida como uma resposta que, devido às circunstâncias da situação que a
desencadeou, condicionou-se a determinados tipos de estímulos (pensamentos,
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imagens) e que teria generalizado para outros tipos de estímulos neutros ou
meramente familiares aos primeiros estímulos (condicionamento clássico), ao que o
indivíduo, através das comportamentos do tipo ensaio-erro, teria descoberto formas
relativamente eficazes de reduzir a aflição causada, e que teriam sido mantidas por
comportamentos permanentes através do condicionamento operante, representando
assim um reforço negativo.
O modelo comportamental se mostrou muito válido no que tange ao modo como os
sintomas são mantidos, e na caracterização do comportamento compulsivo como um
reforço negativo que distancia o indivíduo dos estímulos causadores do sofrimento.
Entretanto, esta linha teórica não relevou a importância das crenças disfuncionais para
a manutenção do transtorno obsessivo-compulsivo.
Salvosvkis (in Barlow, 176, 2009) alterou o panorama terapêutico do TOC ao preconizar
a importância da análise cognitiva dos pacientes com TOC, assim como estabelecer
que os pensamentos obsessivos também são estímulos, e que desencadeiam
pensamentos automáticos por meio da relação entre o conteúdo inaceitável do
pensamento e o sistema de crenças do indivíduo, como por ex. “isto é pecado”, “sou
uma pessoa ruim por ter pensado isto”, “algo ruim vai acontecer comigo ou com a
minha família por causa deste pensamento”.
Assim, em determinada situação ambiental existem não só os estímulos oriundos do
ambiente mas também aqueles que acontecem no processamento cognitivo. Uma
situação de perturbação é mediada não só pelos estímulos do ambiente, mas pelas
cognições.
Nota-se, em pacientes portadores do TOC, uma série de idiossincrasias referentes ao
modo como concebem o mundo. A responsabilidade exagerada e a autorecriminação
são características comuns à eles. Segundo Salvoskis, o paciente com TOC possui cinco
características que os diferenciam dos pacientes que não tem o transtorno, que são:
1- Ter um pensamento sobre uma ação é como realizar a ação;
2- Deixar de impedir (ou deixar de impedir de tentar impedir) o prejuízo a si e aos
outros é o mesmo que causar o prejuízo;
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3- A responsabilidade não é amenizada por outros fatores (por exemplo, baixa
probabilidade de ocorrência);
4- Não neutralizar quando ocorre uma intrusão é semelhante ou equivalente a
buscar ou querer que o prejuízo envolvido nessa intrusão aconteça de verdade.
5- A pessoa deve (e pode) exercer controle sobre os seus pensamentos.
Foa e Kozak (in Barlow, pg 177, 2009) conceituaram os transtornos de ansiedade como
sendo àqueles que mais acarretam prejuízos às redes de memória emocional do
paciente. Calcados na teoria de Lang os autores concebem o medo como “uma rede
informações existentes na memória, que inclui representações sobre o estímulo
temido, respostas baseadas em medo e seu significado”.
Na visão destes autores, os indivíduos que sofrem com o TOC possuem uma rede de
medo repleta de avaliações equivocadas sobre ameaças, valores acentuados sobre o
evento temido, além de padrões de respostas exageradas (alta reatividade fisiológica,
por exemplo), e que dificilmente se modifica. Ademais, a excitação excessiva ao medo,
o alto grau das defesas cognitivas, a quantidade de regras e conceitos distorcidos são
problemas que atrapalham o processamento de informação necessário para poder
modificar esta estrutura, sejam pela técnicas utilizadas para se alcançar a mudança de
comportamento, como também pelas técnicas que visem a eliminação de esquemas
cognitivos disfuncionais.
Este aspecto da doença dificulta o acesso do terapeuta ao conteúdo das obsessões,
agravados pelo comportamento extremamente evitativo do paciente. Foa e Fozak vão
mais além no que tange as chamadas estruturas de medo:
“O paciente que tem medo de contrair de doenças venéreas em banheiros públicos e se lava para se prevenir tem uma estrutura de medo que inclui associações excessivas entre estímulos (por exemplo, um banheiro) e as respostas de ansiedade-aflição, bem como crenças equivocadas em lugar de determinado estímulo. Por exemplo, alguns pacientes incomodados pela percepção de assimetria e que reduzem a sua aflição reorganizando os objetos em si não prevêem desastre em função da assimetria; o que lhes incomoda é sua visão de que determinadas disposições de estímulos são inadequadas.”
(In Barlow, pg. 177, 2009).
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Para esses autores, os pacientes que sofrem com o TOC, afora suas obsessões
patológicas, possuem um mecanismo igualmente patológico subjacente ao
processamento de informações:
“... os pacientes com TOC têm dificuldades para avaliar as regras para fazer inferências a danos, concluindo muitas vezes que uma situação é perigosa com base na ausência de evidências de segurança, e que não costumam fazer inferências deste tipo sobre segurança a partir de informações sobre a ausência de perigo. Conseqüentemente, os rituais realizados para reduzir a probabilidade de dado nunca conseguem proporcionar a segurança e precisam ser repetidos.”
(In Barlow, pg. 177, 2009)
Segundo Skinner, “o reforço positivo é mais eficiente na mudança de comportamento,
mas a punição produz efeitos reforçadores negativos mais imediatos em quem pune,
de forma que são utilizados com mais freqüência” (In Rangé, pg. 19, 2009).
Uma vez que o comportamento de fuga categoriza-se entre os comportamentos de
punição, ele tende a ser manejado pelo indivíduo devido à sua alta reatividade e baixa
discriminação de estímulos. Entretanto, a fuga só se faz eficaz em situações
momentâneas, e não pode ser utilizada sempre (uma pessoa não pode sair correndo
de seu trabalho por achar que se contaminou ao tocar em algum objeto) de modo que
o comportamento de evitação passa a ser utilizado em situações de perigo previsíveis.
Deste modo, relevando-se o padrão comportamental e os aspectos neurofisológicos
presentes no transtorno, somados a uma série de distorções cognitivas formadas em
experiências anteriores, pode-se entender o tipo de dano que este transtorno causa na
vida de uma pessoa.
2.2 Métodos de Diagnóstico
“As características do Transtorno Obsessivo Compulsivo são obsessões ou compulsões recorrentes (Critério A) suficientemente graves a ponto de consumirem tempo (i. é, consomem mais de uma por dia) ou causarem sofrimento acentuado ou prejuízo significativo (Critério C). Em algum ponto durante o curso do transtorno, o indivíduo reconhece que as obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais (Critério B). Em presença de outro transtorno do Eixo I, o conteúdo das obsessões ou compulsões não se
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restringe a ele (Critério D). A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância(P. ex., droga de abuso, medicamento) ou uma condição médica geral (Critério E)”
(In Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-IV-TR, pg. 443)
O ato de tentar fugir ou se esquivar do conteúdo obsessivo de certos pensamentos
podem ser comuns às outras pessoas que não tenham o TOC, assim como certas
compulsões relacionadas à hipocondria. Não deve confundir certas práticas religiosas,
comuns à indivíduos que pertençam a uma mesma cultura, como sintomas do TOC.
Todavia, alguns temas e preceitos podem ser comuns em algumas religiões podem
colaborar para o desenvolvimento de obsessões e comportamentos compulsivos.
Observa-se ser relativamente comum ao curso do TOC outros transtornos tais quais:
Transtorno Depressivo Maior, Transtornos da Alimentação, Transtornos de
Personalidade e também outros transtornos de ansiedade (Fobia Social, Pânico,
Ansiedade generalidade, Fobia Específica). Também é comum ver indivíduos com
Transtorno de Tourette apresentarem o TOC.
Quanto ao diagnóstico diferencial, deve-se ter cuidado para não se confundir algumas
características presentes no Transtornos Obsessivo-Compulsivo com características de
outros transtornos. Por exemplo, pensamentos, impulsos, imagens ou
comportamentos ocorrentes podem estar presentes no Transtorno Dismórfico
Corporal – quando relacionado ao corpo; no Transtorno de Fobia Específica ou Fobia
Social, quando referem-se à um objeto ou situação temida específica. Uma grande
diferença das obsessões presentes nos demais transtornos de ansiedades é que elas
não são egodistônicas, de modo que o indivíduo as considera adequadas
(egossintônicas).
Também não se deve confundir ruminações depressivas com obsessões. Ruminações
depressivas, características do Transtorno Depressivo Maior, têm como principal
diferença o fato de serem apenas idéias pessimistas do paciente sobre sua vida, que
podem ter caráter obsessivo, mas não observa-se no comportamento de um paciente
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que sofra com o TDM, a prevalência de uma compulsão no sentido de rechaçar as
ruminações.
Deve-se diferenciá-lo do Transtorno de Ansiedade Devido a uma Condição Médica
Geral, em que existem obsessões e compulsões como conseqüência fisiológica oriunda
de uma patologia orgânica, ou como dito, uma Condição Médica Geral.
Quando o tema das obsessões refere-se ao fato de estar doente ou não, deve-se ter
cuidado em não confundir o TOC com a Hipocondria. Na hipocondria, o indivíduo
relaciona sintomas somáticos com o fato de ter uma doença grave ou estar prestes a
contrair alguma. Entretanto, quando a preocupação em contrair uma doença é
acompanhada de comportamentos compulsivos com vistas a extinguir a possibilidade
de contraí-la, pode-se falar de um Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
Existem casos em que o TOC agrava-se, e levando o indivíduo a desenvolver um
transtorno adicional como o Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra
Especificação. A diferença substancial é que, no Transtorno Obsessivo-Compulsivo o
paciente julga evitar, embora fantasiosamente, que o impossível aconteça através de
um comportamento compulsivo (por ex., bater na madeira para evitar que alguém da
família morra). Em um Transtorno Delirante ou Psicótico, o paciente acredita que esta
impossibilidade tenha acontecido por não ter realizado a compulsão.
O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é uma doença bastante comum, e acomete
aproximadamente um em cada 40 ou 50 indivíduos. Estima-se que no Brasil existam
entre 3 a 4 milhões de portadores. Também é considerado uma doença grave, e está
entre as dez maiores causas de incapacitação por doença mental de acordo com a
Organização Mundial de Saúde, e segundo o ECA (Epidemioloic Catchment Area,
1986), é o terceiro transtorno psiquiátrico mais comum.
3. TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL (TCC): HISTÓRIA, TEORIA E PRÁTICA
A Terapia Cognitiva foi desenvolvida nos anos 60, tendo nomes como Aaron T. Beck e
Albert Ellis seus maiores expoentes. Albert Ellis criou uma linhagem denominada
Terapia Racional-Emotiva e Aaron Beck, sendo seguido posteriormente por sua filha
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Judith Beck, criou a denominada TCC - Terapia Cognitvo Comportamental, que será
descrita no presente trabalho.
Inicialmente voltada para o tratamento da depressão, Beck, outrora um seguidor da
teoria psicanalítica freudiana, abandou esta teoria quando descobriu que algumas
afirmações de Freud sobre a síndrome depressiva (melancolia) não estava correta.
O que Beck descobrira, foi o fato de que o grande problema destes pacientes estava
concentrado em distorções no processamento de certas informações, atinentes aos
eventos emocionais e outras questões gerais da vida do indivíduo, de modo que a
depressão não se restringia à ‘hostilidade retrofletida reprimida’, como pressupunha a
teoria psicanalítica.
Era comum aos pacientes que sofriam com depressão, a presença de determinadas
distorções cognitivas que fundamentavam a forma como viam a si mesmo e ao mundo,
assim como avaliavam seus sucessos e fracassos. A TCC concebe que a questão central
da patologia está relacionada ao aspecto cognitivo (crenças, pressupostos, distorções
do pensamento) e não somente nos processos dinâmicos (motivacionais), em
contraste com a psicologia psicodinâmica.
Diferentemente da teoria psicanalítica, a TCC não acredita que exista sucesso em um
tratamento pelo meio da remoção de algum trauma ocorrido em um passado distante.
pois mesmo que tenha havido um trauma, também deve existir alguma situação atual
de caráter perturbador que desencadeie tais respostas emocionalmente aflitivas, de
modo que o terapeuta deva buscar alterar os comportamentos disfuncionais
evidentes, partindo de uma análise minuciosa das crenças que os solidificaram.
Ademais, o foco de um tratamento cognitivo comportamental é voltado para relação
do indivíduo com o seu meio ambiente, que é eminentemente social, de tal maneira
que o interesse prioritário é fazer com que ele mude o modo como responde aos
eventos ambientais na medida em que corrija as cognições (ou eventos internos) que
podem levá-lo a representar determinado evento como hostil ou agradável.
Assim, a TCC evita uma postura filosófica típica de um dualismo cartesiano que
conceba um indivíduo dividido entre ele e suas forças inconscientes e/ou isolado de
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seu ambiente, como faz a teoria psicanalítica. Em seus estudos sobre os sonhos de
pacientes deprimidos, por exemplo, Beck comprovou que os temas dos sonhos eram
similares aos temas durante a vigília, e que não existiam motivações inconscientes que
causavam a patologia, mas sim falhas no processamento cognitivo, que poderiam ser
acessadas conscientemente, através de um trabalho apropriado.
A TCC vale-se do preceito de que a forma como uma pessoa pensa, determina o modo
que ela percebe a realidade. Os pensamentos podem levar ao prazer e ao sofrimento
com a mesma facilidade. Observa-se, ser comum aos distúrbios psicológicos, a
incidência de pensamentos que distorcem a realidade, mas que, quando examinados
com acuidade, mostram-se ilógicos ou falsos. Todavia, as alterações de afeto causadas
por uma falha no processamento cognitivo costumam ser constantes e determinantes
em uma perturbação psicológica, e dificilmente são notadas, devido à atitude
relativamente comum das pessoas de se aterem mais a reação do que a causa nas
situações de caráter emocional perturbador.
Um terapeuta cognitivo-comportamental visa desvelar a relação existente entre
pensamentos, comportamentos e emoções específicos, que parecem ocultos ou
misteriosos ao paciente devido esta tendência irracional inata de se agir.
Nossas cognições são construídas em nossas diversas experiências, e são reforçadas na
medida em que correspondem à certos tipos de comportamentos que vão se
repetindo, e sendo condicionados. As crenças que uma pessoa estabelece como
verdadeiras em suas aprendizagens anteriores influenciam no modo como ela avalia a
si mesmo e responde às situações ambientais que enfrenta. Estas crenças se resumem
ao que Beck determina como tríade cognitiva correspondente às crenças de uma
pessoa sobre si mesmo, o futuro e o mundo.
Durante o tratamento, o paciente aprende a avaliar melhor estas crenças, e
conseqüentemente mudar suas reações emocionais. O relato é de Dobson em seu
Manual de Técnicas Cognitivo-Comportamentais:
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“Quando o paciente presta atenção no conteúdo de sua reação cognitiva, ele se sente estimulado a enxergá-la como uma hipótese (em vez de um fato)- ou seja, uma proposta possível, mas não necessariamente verdadeira. A formulação de uma crença como uma hipótese é chamada de “distanciamento”, visando enfatizar a maneira em que é possível se dissociar de uma crença para permitir uma análise mais objetiva.
Por meio de cuidadoso escrutínio e análise da crença, o paciente pode chegar a uma visão diferenciada. Em virtude da mudança da crença relevante, há mudança na reação emocional. Ou seja, com a atenuação da base cognitiva para uma reação emocionalmente perturbadora a um evento ou problema, a reação emocional diminui.”
(In DOBSON, pg. 270. 2006).
Desse modo, a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) vale-se da seguinte premissa
que: 1- a cognição afeta o comportamento; 2- a cognição pode ser monitorada e
alterada; 3- a mudança comportamental desejada pode ser efetuada pela mudança
cognitiva.
Assim, um indivíduo transforma o modo como sente e age (comporta-se) a partir do
momento que altera a forma como pensa. Isso ocorre quando ele começa a identificar
seus próprios pensamentos, questionar a veracidade deles, avaliar seus pressupostos
sobre a realidade, e por conseguinte, mudar suas respostas às diversas situações
ambientais que costuma enfrentar.
Vale ressaltar, que a TCC não defende o poder do pensamento positivo ou acate algum
tipo de sugestão. O que se busca numa terapia cognitivo-comportamental é levar o
paciente a identificar o que quer que esteja sendo pensado. Uma vez que nosso
comportamento é motivado pelos nossos pensamentos, e que esses pensamentos, -
muitas vezes desconhecidos, possuem uma relação funcional com determinadas
emoções, torna-se imprescindível identificar esses pensamentos e modificar certas
crenças subjacentes a este modo de pensar.
O foco na mudança de comportamento é um dos alicerces que dão base à Terapia
Cognitivo Comportamental, e isto se deve a herança deixada pelo behavorismo de
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Skinner. Assim como os comportamentos disfuncionais são aprendidos, também pode-
se aprender comportamentos novos, mais adaptativos. Da mesma forma, um paciente
que tem um comportamento típico de evitação –muito presente nos transtornos de
ansiedade, deixa de aprender formas mais adaptativas de lidar com às suas questões
mundanas. Ou seja, um comportamento, considerado disfuncional, também pode
inibir ou dificultar a aprendizagem de outros tipos de comportamento. Quando se
ajuda o paciente a mudar a forma de agir, ‘removendo’ determinado tipo de
comportamento, ou em outras palavras, superar uma limitação aprendida, vê-se que
ele se torna mais hábil a agir com mais calma e paciência e com maior controle
emocional em sua vida, tornando-se assim mais propenso a aprender formas mais
adaptativas de lidar com suas questões mundanas.
Cabe ressaltar o dizer de Julian B. Rotter (Millon, pg 238, 1973), que ilustra em muito o
objetivo da Terapia Cognitivo Comportamental: “O propósito da terapia não é resolver
todos os problemas do paciente mas sim aumentar a habilidade do paciente em
resolver os próprios problemas.”
Muitos confundem a Terapia Cognitiva Comportamental com a Terapia
Comportamental Clássica. A principal diferença subsiste no fato de a TCC concebe a
presença de eventos internos (cognições) como sendo eventos mediadores nos
conflitos do indivíduo em uma determinada situação ambiental.
Assim como a Terapia Comportamental, a TCC também acredita que uma mudança
comportamental, referente à forma como o indivíduo age em uma situação, pode
alterar a sua cognição, no sentido que, uma vez que esta situação não lhe cause mais
aflição, suas crenças exageradas sobre o que esta situação representa irão alterar-se,
também. E nesse sentido somente, a TCC assemelha-se à abordagem comportamental
como via de solução para problemas psicológicos. Entretanto, afora mudar o
comportamento (ou a forma como uma pessoa age), a TCC objetiva alcançar os
processos cognitivos subjacentes ao modo de agir e que incidem diretamente na
percepção de uma determinada situação, influenciando no tipo de resposta que esta
pessoa terá face à um evento de perturbação emocional.
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Desse modo, é característica fundamental de uma terapia cognitivo-comportamental
adotar uma perspectiva mediacional na resolução de um problema, de forma que, não
seja visado apenas a situação ambiental e a reação do indivíduo perante, mas sim a
forma como este indivíduo percebe a situação, que pensamentos têm, e que crenças
fundamentam a sua maneira de pensar.
Entretanto, acredita-se também que em alguns tipos de conflitos psicológicos são
solucionados sem a necessidade de uma intervenção comportamental, considerando
que é possível mudar a forma de uma pessoa reagir ao que se mude sua maneira de
pensar, somente. Para realizar isto, o terapeuta cognitivo comportamental vale-se de
diversas técnicas utilizadas para avaliação cognitiva, tais quais o preenchimento do
quadro ABC (antecedents, behavior & consequences), técnica da flecha descendente,
questionamento socrático, avaliação de pressupostos ilógicos, exame de evidências em
certas crenças, entre outras. “Uma estrutura cognitiva é um componente da
organização cognitiva em contraste com os processos cognitivos que são passageiros
(In BECK, 1963; 1964).”
O trabalho feito para mudar alterar as cognições disfuncionais do paciente
fundamenta-se na teoria chamada de Modelo Cognitivo.
“O modelo cognitivo supõe que a maioria dos transtornos psicológicos, originam-se no modo distorcido como cada um percebe os acontecimentos, e isso influencia o afeto e o comportamento. O que não significa que são os pensamentos que causam os problemas e sim, eles modulam e mantêm emoções disfuncionais que independem de sua origem.(RANGÉ, Pg. 18, 2001).
Basicamente, nossa cognição é extremamente influenciada pelas crenças que
formamos em nossas experiências anteriores, ou como dito por Judith Beck em seu
livro Terapia Cognitiva: “as crenças subjacentes de uma pessoa influenciam sua
percepção, que é expressada por pensamentos automáticos específicos da situação.
Esses pensamentos por sua vez, influenciam as emoções das pessoas.” (In Beck, pg.
175, 1997 )
18

Para ilustrar este processo, o quadro abaixo serve como exemplo:
Crença Central
Crença Intermediária
Situação Pensamento Automático Emoções
Os teóricos da TCC concebem como característica elementar dos distúrbios
psicológicos a presença de pensamentos distorcidos ou disfuncionais, que influenciam
diretamente nas emoções e no comportamento do indivíduo. A origem destes
pensamentos remete-se às experiência passadas de caráter emocionalmente aflitivo
que, em decorrência da falta de uma reflexão maior, acabaram por influenciar o modo
como o indivíduo representou estas experiências, assim como o tipo de crença que
formou a respeito disto.
A cognição pode ser definida como a “função que envolve deduções sobre nossas
experiências e sobre a ocorrência e o controle de eventos futuros” ou ainda “o
processo de identificar e prever relações complexas entre eventos, de modo a facilitar
a adaptação a ambientes passíveis de mudança” ( In BECK e ALFORD, 2000).
No processamento cognitivo, existem determinados tipos de pensamentos que se
manifestam simultaneamente aos mais superficiais, e que são chamados de
pensamentos automáticos. Esses pensamentos têm a qualidade de serem
espontâneos, de modo que normalmente as pessoas não os notam, e mudam suas
emoções– em decorrência deles- sem se aperceberem disto. Estes pensamentos
aparecem do “nada”, podem ser ativados por eventos internos ou externos, são livres
de raciocínio, e costumam ser tidos como verdadeiros na maioria das vezes.
Uma das primeiras coisas ensinadas pelo terapeuta cognitivo comportamental é como
identificá-los, e para tal, o paciente deve-se habitar a perguntar a si próprio cada vez
19

que perceba uma mudança emocional ruim “O que estava passando pela minha
cabeça naquele momento?”.
Quando se identificam alguns pensamentos disfuncionais, assim como as situações
com que estão relacionados, o terapeuta ajuda o paciente a examinar melhor este
pensamento, testar sua validade, formular evidências contras e a favor de se seguir
este pensamento, além de refletir sobre formas mais adaptativas de responder à
determinada situação. Uma ferramenta muito comum à TCC é o Registro de
Pensamentos Disfuncionais (RPD), em que o paciente deve relatar: data/hora de um
pensamento disfuncional, Situação, Pensamento Automático tido, Emoção sentida,
Resposta Adaptativa (uma contra-argumentação ao pensamento disfuncional), e
finalmente, em Resultado, deve escrever usando uma escala de 1 a 10 ou mesmo a
porcentagem de força que este pensamento disfuncional apresenta após examiná-lo e
questionar o seu valor.
Em um nível mais profundo ao dos pensamentos disfuncionais, existem as chamadas
crenças central e intermediária. Estas crenças remetem-se a períodos remotos da vida
de um indivíduo, geralmente têm origem na infância, e correspondem à determinadas
aprendizagens que o indivíduo fez sobre si mesmo em situações consideradas
adversas. Elas costumam ‘ativar-se’ nas diversas situações ambientais que o indivíduo
enfrenta, e dificilmente são percebidas. Também chamada de esquema cognitivo, a
crença central pode ser entendida como uma ‘estrutura cognitiva dentro do
pensamento’.
Como exemplo simples de uma crença central, uma pessoa que tenha tido dificuldades
em algumas disciplinas na escola, ao invés de formular que teve dificuldades comuns à
maioria das pessoas e que poderia ser resolvida com maior trabalho, forma uma
crença central de que é burro. Assim, toda vez que se depara com alguma dificuldade
de nível intelectual, costuma ter certos pensamentos do tipo “nunca conseguirei
entender isto”, “isso é difícil demais e sou burro para compreender”. As crenças
centrais são profundas, costumeiramente têm origem na infância, e correspondem às
20

idéias centrais da pessoa a respeito de si, de modo que costumam ser inflexíveis, e
dificilmente são percebidas.
A crença intermediária relaciona-se a certas idiossincrasias e pressupostos ilógicos de
como as coisas devem ser. Como no exemplo relatado no quadro anterior, um
indivíduo com uma crença central de que é burro ou incompetente, costuma validar
seus fracassos peremptoriamente, sem dar-se a oportunidade de relevar melhor suas
ações. Observa-se a presença de certas idéias do tipo “se eu não entendo isto de uma
vez é porque sou burro.” Esses tipos de pressupostos regem o modo como este
indivíduo lida com situações semelhantes, e por serem mais profundos, influenciam o
modo como este indivíduo as realiza sem que este se dê conta do raciocínio que o
levou a interpretar e agir de determina forma. Este tipo de crença ocorre num nível
menos superficial de pensamento, podendo ser chamado de segundo ‘nível’
pensamento, e a ampla utilização deste tipo de crença pelo indivíduo reforça a crença
central.
Segue uma esquematização do modelo cognitivo, em que nota-se a influência do tipo
de crenças citadas em uma situação relativamente simples:
21

Exemplo: Crença Central
Eu sou incompetente.
Crença Intermediária
Se não entendo algo perfeitamente, então sou burro.
Situação: Pensamentos Automáticos Reações
Ler este livro. Isso é muito difícil. Não vou
entender.
. Emocional :
Tristeza
Comportamental:
Fecho o Livro.
Fisiológica:
Peso no abdômen.
A meta de um trabalho cognitivo é fazer com que o paciente perceba este seu modo
de avaliar às diversas situações que enfrenta, munindo-o de técnicas em que possa
elaborar melhor o seu raciocínio, contestar certos pensamentos, identificar os seus
pressupostos ilógicos, crenças disfuncionais formadas em suas experiências passadas
de modo que gradualmente, ele possa diminuir o impacto que suas distorções
cognitivas causam em seu comportamento, e em sua vida.
Para conseguí-lo o terapeuta o faz através de um método chamado Conceituação
Cognitiva. Esse trabalho começa com a identificação dos pensamentos automáticos e
das emoções causadas por eles. A partir de então, o terapeuta ajuda o paciente a
22

articular melhor seus pensamentos, desvelando suposições subjacentes, regras e
atitudes (crenças intermediárias) que fundamentam este modo de pensar e agir. O
terapeuta investiga experiências passadas, da infância à fase adulta, para conseguir
entender como se desenvolveram certas crenças mais profundas (crenças centrais).
4. TRATAMENTOS
O tratamento para o TOC pressupõe como uma etapa fundamental a exposição e
prevenção de rituais (EPR). Esta técnica foi desenvolvida nos anos 1950 por Meyer a
partir de experimentos feito com ratos que haviam recebido choque e adquirido medo
de entrar em determinadas gaiolas, mas que, após a intervenção do experimentador,
passaram a se dirigir para as gaiolas temidas sem a necessidade do uso de algum
instrumento tecnológico, sendo utilizados, apenas, as mãos para conduzí-los. Meyer
também conseguiu tratar duas pessoas através da Exposição e Prevenção de Respostas
(EPR), porém seus relatos se perderam no tempo até serem redescobertos e
sucessivamente utilizados nos anos 1970, através dos experimentos de Hogdson,
Röper e Rachman com diversos voluntários (In CORDIOLI, pg. 64, 2008).
O que viria ser comprovado é que, mediante o uso de técnicas comportamentais como
dessensibilização, exposição ao vivo e na imaginação, relaxamento muscular era
possível curar sintomas relacionados ao medo fóbico e ao comportamento compulsivo.
Em 1974 Meyer, através da ajuda de colaboradores, reconduziu experimentos em que
conseguiu curar 15 pacientes, sendo seguido por Marks, que através do uso das
técnicas de EPR, teria curado cerca de 20 pacientes.
Durante a exposição, o paciente enfrenta real ou imaginariamente situações, objetos
ou lugares inofensivos e desprovidos de risco, mas que são temidos e evitados através
de estratégias cognitivas e comportamentais sistematicamente utilizadas pelo paciente
no decurso do transtorno.
Na exposição ao vivo o paciente toca em objetos que considera repulsivos, passa por
lugares temidos e realiza as ações evitadas; na exposição imaginária o paciente simula
a realização de alguns destes atos. A EPR também pode ser realizada com imagens.
23

Nesta etapa do tratamento, o paciente pode trabalhar as suas reações de medo e
ansiedade e com o tempo, através de um processo chamado habituação, diminuir a
força de resposta causada pelos estímulos ativadores do transtorno. Na prevenção de
resposta, o paciente abstém-se de realizar os comportamentos compulsivos, e abre
mão de qualquer modo de fuga ou neutralização dos efeitos de suas obsessões.
É necessário que o terapeuta investigue todas as possíveis fontes de medo do paciente
para poder confrontá-lo com esses medos e ajudá-lo a ver que as consequências
temidas não procedem com a realidade. O terapeuta também pode valer-se da
modelação, realizando, na frente do paciente, certos comportamentos temidos e
evitados por ele, de forma que este tipo de ação pareça menos aflitiva ao paciente,
para que assim este se sinta mais encorajado para continuar com a terapia e poder
despojar-se de seus vícios comportamentais.
A Habituação é um processo que pode ser caracterizado pela atitude do paciente em
se habituar a não realizar mais os rituais compulsivos em decorrência da apresentação
proposital –feita através do terapeuta- de estímulos eliciadores de obsessões. Percebe-
se que, a cada vez que uma exposição à situação ambiental eliciadora de obsessões é
feita, a intensidade da resposta de medo ou ansiedade conseqüente diminui,
progressivamente, e, quando este processo dura o tempo necessário, estas respostas
extinguem-se permanentemente.
A exposição ou enfrentamento aos estímulos aversivos costuma elevar o nível de
ansiedade do paciente, que gradualmente diminui, com o seguimento das sessões
terapêuticas. Uma exposição adequada recria o ambiente eliciador do comportamento
compulsivo, e remete o paciente às situações de caráter perturbador vivenciadas
anteriormente. O terapeuta deve instruir o paciente a manejar a sua ansiedade,
através de técnicas de respiração e relaxamento muscular, e encorajá-lo a dar
prosseguimento com as sessões de exposição.
Quando se trata de pacientes que desenvolveram o transtorno por medo de sujeira ou
contaminação, pede-se que toque maçaneta de portas, corrimões de escada, tampa de
vaso sanitário, lixo comum, objetos de outras pessoas, ou que também use banheiro e
telefone públicos, entre outros exemplos.
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No caso das compulsões mentais, a etapa de exposição e prevenção é um pouco mais
complexa. Pacientes que têm compulsões mentais costumam substituir pensamentos
ruins por pensamentos bons, rezar demasiadamente, contar, repetir frases, ou mesmo
‘anular’ um pensamento temido através de um ritual motor, como sacudir as pernas,
tocar objetos, estalar os dedos, raspar ou coçar o couro cabeludo. Para lidar com este
tipo de compulsão, Cordioli AV (pg. 69, 2008) criou um exercício chamado “Pare”, que
deve ser seguido pelo paciente, e pode ser entendido como uma instrução para lidar
com os momentos de medo, aflição ou ansiedade que precedem as compulsões.
Através das recomendações prescritas, o paciente, em um primeiro momento,
condiciona um comportamento para ajudá-lo a responder de forma mais saudável às
situações emocionais perturbadoras. Esse exercício pode ser considerado como uma
etapa preliminar no processo terapêutico, e constitui-se de:
Anote as situações e os horários em que você executa rituais mentais ou quaisquer
outros rituais de forma automática, ou fica “ruminando” dúvidas, buscando chegar a
um estado de absoluta certeza, e prepare-se com antecedência para utilizar o exercício
do “Pare”.
Identifique tudo o que você repete mentalmente para afastar pensamentos
impróprios (rituais mentais), ruminações ou rituais automáticos), repita em voz alta:
“Pare!” ou “Pare com isso!”, procurando interromper a compulsão ou a ruminação.
Juntamente com a frase, pode-se dar uma batida forte na mesa, bater palmas ou
provocar outro estímulo, a fim de se distrair e cortar o fluxo do pensamento.
Por fim, procure distrair sua mente com outra idéia ou estímulo mais intenso (ler,
ouvir música, ligar para um amigo, ver TV) ou envolver-se em uma tarefa prática,
lembrando que a aflição desaparece naturalmente se você não ficar com a sua atenção
voltada para suas preocupações ou para seus pensamentos obsessivos ou se você
desistir de querer ter certeza.
O sofrimento causado pelo transtorno é incomensurável e observa-se muita
resistência dos pacientes em erradicar seus rituais comportamentais. Isto se deve à
pouca habilidade desses pacientes em lidar com suas próprias emoções, exacerbado
pelo fato que esses rituais vêm sendo repetidos durante muito tempo. Como esperar
que o paciente deixe de realizar em 3 ou 4 meses hábitos que repete há 10 anos?
25

Um outro agravante é o fato de que, pacientes que sofrem com o transtorno há muito
tempo, costumam ter uma vida muito restrita devido às contingências estabelecidas
por si próprios no decurso do transtorno. Isto se deve ao comportamento de evitação
desses pacientes, que desenvolvem maneiras estratégicas de evitar qualquer contato
real ou imaginário com as situações causadoras de perturbação emocional.
Abster-se de fazer coisas relativamente comuns à maioria, como os pacientes com TOC
o fazem, restringe em muito a vida pública, uma vez que o ambiente social é
imperfeito, e não é possível viver evitando toda e qualquer fonte de “perigo”. Assim,
percebe-se uma imensa dificuldade desses pacientes em dar prossecução às atividades
sociais mais saudáveis e prazerosas devido à facilidade com que os estímulos
eliciadores de obsessões, ou também outros estímulos neutros, desencadeiam cargas
elevadas de ansiedade, agravado pelo fato desses pacientes serem extremamente
sensíveis às reações fisiológicas da ansiedade, fazendo com que se submetam aos
rituais comportamentais para atenuar esses momentos de perturbação.
Através da aprendizagem de um novo tipo de comportamento, emocionalmente mais
saudável, o paciente aprende a abrir mão de seu sistema de evitações, obsessões e
compulsões, e o faz, sobretudo, quando perde o medo associado à não consecução
dos rituais comportamentais, ou quando encontra formas mais válidas de lidar com as
emoções perturbadoras. Esse é um processo lento, e difícil, devido á alta carga de
ansiedade desencadeada nessas situações. O terapeuta deve instruir o paciente a
registrar o grau de ansiedade nas situações em que os estímulos causadores de
obsessões se façam presentes e observar a sua diminuição no decorrer do tratamento.
A idéia básica, que subjaz este processo, é que a ansiedade pode ser medida,
monitorada e controlada e, conquanto for reduzida, traduzirá um ganho terapêutico.
Uma vez que o paciente não sinta mais medo ou ansiedade em decorrência destes
estímulos, poderá dizer-se que houve uma cura.
Estas técnicas também podem ser utilizadas em outros transtornos fóbicos, como os
transtornos de fobia específica, fobia social, ou transtorno do pânico. A realização
destas técnicas não prescinde do trabalho de análise cognitiva realizado com o
terapeuta. Entretanto, é somente com a exposição de seus rituais comportamentais
26

que o paciente pode ter uma dimensão maior da forma como o transtorno o vem
afetando. Ademais, algumas distorções cognitivas revelam-se para o paciente durante
as práticas, afora o fato de que, durante estas práticas, alguns pacientes de menos
insight podem compreender que pensar em algo não é o mesmo que fazê-lo, uma vez
que esta é uma das distorções cognitivas mais comuns ao TOC, chamada por Salvovskis
de fusão pensamento-ação.
Recomenda-se a utilização das técnicas cognitivas a partir do momento em que o
paciente já começou a etapa de Exposição e Prevenção de Rituais (EPR) e identificou
alguns de seus sintomas, conheceu mais sobre as suas obsessões, e se esforçou o
mínimo para não tentar mais neutralizar os efeitos emocionais de suas obsessões. A
partir desse momento, o trabalho de análise cognitiva se faz contíguo às intervenções
comportamentais, que também podem ser feitas em consultório.
A meta de uma terapia cognitiva é fazer com que o paciente altere certas crenças
distorcidas que ocasionam as perturbações emocionais. Observa-se a presença de
diversos pensamentos catastróficos intrínsecos aos temas das obsessões. Esses
pensamentos são espúrios, e facilmente contestáveis. Entretanto, durante um
momento de aflição, os pacientes costumeiramente respondem imediatamente ao
valor destes pensamentos, e temem às conseqüências de não realizar algo para
sobrepujar o pensamento temido, como por exemplo, “se eu não virar o chinelo para
cima minha mãe irá morrer”, ou mesmo se submetem às compulsões mentais
tentando anular o ‘valor’ do pensamento temido com outros pensamentos,
considerados positivos.
Pacientes que sofrem com o TOC possuem características singulares no que tange às
distorções cognitivas usualmente típicas do transtorno. Necessidade de corresponder à
certas metas e padrões inalcançáveis, exigindo-se um certo perfeccionismo que se
revela também nas obsessões por simetria e organização; preocupação exagerada com
o teor dos pensamentos e sobre ter controle deles; a idéia de que seja possível ter
certeza sobre tudo o que acontece ou está para acontecer; responsabilidade excessiva,
supervalorizar a probabilidade dos riscos, entre outras.
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Cordioli AV (pg. 27, 2008) concebe o TOC como sendo “...uma doença na qual certos
medos adquiridos em algum momento ou ao longo da vida levam o indivíduo a realizar
rituais ou a evitar o contato com o que considera perigoso, ou com a finalidade de
reduzir ou eliminar riscos. O alívio obtido desta forma tem o grave inconveniente de
manter a pessoa prisioneira de rituais, muitas vezes para o resto da vida”.
Destituir crenças distorcidas de seu valor de ameaça iminente, reavaliar pressupostos e
regras à luz da razão, ou mesmo expor os pacientes às crenças que usualmente têm
vergonha de admitir para si próprios mas a que sempre respondem compulsoriamente
são etapas essenciais no tratamento.
A lassidão provocada pelo prolongamento do transtorno dificulta o paciente em
questionar o tema de suas obsessões ou mesmo enxergar o caráter absurdo de alguns
de seus comportamentos, para assim desenvolver respostas alternativas aos rituais
compulsivos. A maneira com que esses pacientes eludem-se de enfrentar os estímulos
temidos e o comportamento arraigado à estas formas de evitação, condicionadas
durante o transtorno, podem parecer uma barreira intransponível ao terapeuta, pois
muitos desses pacientes acreditam piamente não ser possível abster-se de suas
compulsões. Entretanto, com o prosseguimento da EPR, os pacientes sentem-se
estimulado com os seus avanços, que embora pequenos, são substanciais para fazer
cair por terra a imagem exagerada que desenvolveram sobre sua doença.
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5. Experiência clínica com o TOC
Relato baseado na experiência clínica pessoal como estagiário no atendimento de dois
jovens diagnosticados com o TOC. Descrição: Pacientes com praticamente a mesma
idade, sexo masculino, ambos apresentando os sintomas por aproximadamente mais
de 10 anos.
5.1 Estudo de Caso 1
O paciente tem 25 anos, foi diagnosticado com o TOC por um psiquiatra, mas nunca
havia procurado ajuda até setembro de 2011, quando procurou atendimento no
Serviço de Psicologia Aplicada da UFF.
Inicialmente foi estipulado o atendimento duas vezes na semana num prazo estimado
em quatro meses, mas o atendimento não foi muito aquém de algumas esparsas
sessões, devido às características próprias do paciente, que faltava muito e não aderiu
ao tratamento de forma adequada.
Seus sintomas teriam aparecido por volta dos 14 anos de idade, e se caracterizam por
uma série de comportamentos compulsivos realizados para suportar a aflição causada
por pensamentos relacionados ao ato de pecar e outras questões religiosas. O maior
medo relatado pelo paciente era de cometer um pecado, e uma vez que tivesse um
pensamento deste tipo, se submetia ao comportamento ritualístico para expurgar o
pensamento aversivo e experimentar um alívio de consciência.
Como exemplo de um comportamento disfuncional utilizado pelo paciente, ainda
nesta idade, era refazer a tarefa que estava fazendo: se ele estivesse jogando
videogame, e durante o jogo tivesse algum dos pensamentos temidos, reiniciava a
partida para jogá-la de novo, e o fazia repetida vezes, até que conseguisse concluir a
partida sem o aparecimento dos pensamentos temidos. Provavelmente esses
pensamentos continuavam retornando dada a situação conter os mesmos estímulos
eliciadores anteriores, porém, a fadiga causada deveria ser tão grande de modo que
ele não percebesse o retorno desses pensamentos.
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Durante as sessões, o paciente relatou que o seu grande intuito era ‘desfazer’ o
pensamento, e para tal se valia do comportamento de refazer o que estava fazendo,
até que pudesse realizar a ação sem ser ‘contaminado’ pelos pensamentos temidos.
Esse comportamental disfuncional causou muitos danos em sua vida. Trabalhando
como técnico de informática, chegava ao extremo de, durante a instalação de um
programa, como por exemplo o Windows, despender cerca 10 horas em uma ação que
levaria no máximo 2 horas– segundo o relato do próprio, pois necessitava reinstalar o
programa a cada vez que algum pensamento aversivo ‘aparecesse’.
Quanto ao pensamento temido, foi difícil, no início da terapia, conseguir extrair do
paciente com precisão que tipos de pensamentos causavam reações emocionais
aflitivas, e que o levavam ao comportamento compulsivo, pois parece que o mesmo,
devido às questões de sua própria moralidade, tinha vergonha de falar, e o só fazia
recorrendo às categorias das quais o pensamento pertencesse; ou talvez evitasse
relatá-los por acreditar que uma vez que falasse sobre os assuntos temidos, a
probabilidade de seus medos se tornarem realidade, aumentaria.
Por exemplo, quando perguntava-lhe sobre qual foi o pensamento que causou a
reação emocional aflitiva, ele respondia dizendo que eram coisas ruins, ligadas ao
demônio. Então, pedia-lhe uma melhor elaboração de suas definições e ele respondia
da seguinte forma:
- “Demônio é o que não é bom. É o mal. É tudo relacionado ao mal. Demônio é anjo que
caiu”
- “O bem é Jesus. As luzes.” (Sic)
Tentou-se entender melhor como ele representava certas palavras que repetia nas
sessões, para assim averiguar qual era o significado atribuído à elas. Quando
perguntado sobre o que era o demônio, por exemplo, ele também o afigurava como
sendo tudo aquilo que o separava de Jesus, e que o tirava do “louvor”.
O louvor relatado parecia como um estado emocional de euforia, que ele
experimentava durante os cultos religiosos. Uma vez que o paciente teve certos
estados de ‘beatitude’ ou de euforia nos cultos religiosos, aliado a o fato desses cultos
30

religiosos contiverem uma série de fundamentos sobre o modo que se deveria seguir a
vida e se comportar, ele provavelmente criou um sistema que o levasse a repetir ou a
manter esses estados, desde que fossem obedecidos uma série de preceitos e regras
condizentes ao que lhe fora dito. Uma vez que ele participava com muita assiduidade
nesses cultos, seus esquemas cognitivos disfuncionais foram reforçados. Estas seriam
umas das contingências de reforço que serviram para a manutenção das crenças
disfuncionais centrais.
A prática religiosa o acompanhou durante toda vida, influenciando na formação de
suas crenças centrais, suas representações do mundo e seus conceitos sobre o próprio
universo íntimo. Viver nesse estado de louvor, que era permitido por Deus, se tornou
uma das metas. A cada dissabor experimentado, o comportamento mais proeminente
era o de buscar nos fundamentos de sua crença alguma explicação para o que estava
acontecendo, ou mesmo, de repetir alguns atos mentais visando afastar o sofrimento
sem atingir a causa, como por exemplo, algo dito muito comumente por alguns
seguidores fanáticos: “isso é coisa do demônio, basta que Jesus tire isto de minha
cabeça”.
Assim, a cada vez que o paciente sentia uma de suas crises de ansiedade, sua tentativa
era voltar ao estado de louvor religioso, ao que se submetia a uma série de
comportamentos visando descontaminar ou purificar-se. Todavia, essa prescrição
religiosa não é condizente com natureza da vida humana, e as tentativas de seguí-la
causaram um dano imensurável na vida do paciente.
Pelas situações conflituosas relatadas pelo paciente, acreditou-se que a patologia
primordialmente se deu pelas tentativas do paciente em coibir os próprios impulsos
sexuais, por considerá-los impuros ou como sendo uma forma de pecar. Assim, o
paciente começou a apresentar neste período respostas de ansiedade em nível
patológico, que com o passar do tempo, generalizaram-se para outros estímulos mais
diversos (condicionamento pavloniano clássico).
Além disso, na falta de um esclarecimento maior sobre a sua natureza, ele buscou
aporte na doutrina religiosa para descobrir o que estava acontecendo consigo.
Desprovido de aconselhamento terapêutico, o paciente buscou curar-se através do
31

dogma religioso, e a partir daí provavelmente desenvolveu um comportamento com
vistas a expurgar o mal dentro de si, através de uma diligência exagerada com suas
emoções e com os pensamentos temidos. Este comportamento serviu como um
reforço negativo à ansiedade sentida (condicionamento operante).
É muito comum, em pacientes que sofrem com o TOC, a idéia de que ter um
pensamento desagradável corresponde ao mesmo que fazê-lo. É muito difícil para
alguns destes pacientes distinguir a diferença entre pensamento e ação, devido a
intensidade do pensamento mágico em suas cognições. Este tipo de crença
disfuncional recebeu o nome de fusão pensamento-ação, por Salkovskis (In Barlow, pg
175, 2009). Analisando a vida do paciente, uma de suas primeiras crenças disfuncionais
que aprendeu, foi: pensar algo ruim é o mesmo que pecar. Assim, o paciente adotou
um comportamento com o objetivo de punir determinados tipos de estímulos
(pensamentos que entrem em conflito com suas questões religiosas).
Edward L. Walker (1969), descreve o condicionamento operante como sendo aquele
em que o comportamento é emitido pelo próprio organismo ao invés de ser eliciado
pela apresentação de um estímulo incondicionado. Assim, o condicionamento
operante é voluntário, estabelecido pelo próprio indivíduo, que determina tanto o
começo como o fim da de sua prática.
Na vida do paciente, este condicionamento operante se estabeleceu pelas suas
tentativas de lidar com o seu ambiente –social, familiar, e sobretudo com o seu mundo
íntimo, de forma que estabeleceu comportamentos com vistas a punir certos tipos de
pensamentos e emoções, assim como inibir sua natureza de um modo geral: estar em
conformidade com os preceitos religiosos era uma meta e um fator de estimulação
para o paciente manter este comportamento.
Destarte, o paciente experimentou a ansiedade como resposta a determinados tipos
de estímulos, que se generalizaram através de um condicionamento pavloniano. Suas
tentativas de manter controle sobre seus pensamentos e emoções com o intuito
principal de manter-se puro, fizeram com que ele, através de um condicionamento
operante, reforçasse uma mentalidade obsessiva, buscando também inibir os seus
impulsos sexuais.
32

A simples menção da palavra demônio causava-lhe extrema aflição, de modo que o
mesmo relutava em realizar tarefas em que precisasse escrever esta palavra.
Costumava-se pedir que realizasse as técnicas comuns à TCC, como técnica da seta
descendente ou o preenchimento de um quadro chamado ABC (antecedents, behavior
e consequences) em que descrevesse uma determinada situação aflitiva, identificando
o pensamento que teve no determinado momento, a reação emocional causada e o
comportado adotado. O objetivo destas técnicas é fortalecer o insight do paciente, ou
a compreensão de seu próprio raciocino, ajudando-o a identificar os pensamentos
temidos, questioná-los e avaliar a suas crenças com maior escrutínio. Quando
aprendida a técnica, o paciente pode aplicá-la em casa, e, num primeiro momento,
substituir o comportamento compulsivo por uma atividade terapêutica, aonde
incluem-se tanto as técnicas de análise cognitiva como técnicas de relaxamento para
ajudá-lo a lidar com a ansiedade.
Todavia, pouco se conseguia avançar neste sentido, e ele escrevia algumas parcas
palavras com muito custo, e era sempre muito hesitante. O paciente chegava ao ponto
de, tendo chegado em casa, não tocar no material da terapia (um mero bloco de
folhas) por ter escrito a palavra demônio anteriormente.
Os maiores medos identificados foram o de pecar e de se sujar por ouvir a palavra
demônio. Sujar ou contaminar-se, tornava-se possível caso ele passasse perto de um
centro espírita -pois em sua concepção todas as outras religiões faziam pacto com o
demônio, ou se ouvisse a palavra demônio na televisão ou por outra pessoa. O nível
de seu pensamento mágico era tão forte, que às vezes, quando assistia televisão, ele
mudava o enredo de um programa fictício e imaginava-se vendo-o sem ouvir a palavra
demônio.
Foi perguntado ao paciente, se ele acreditava ser possível que um pensamento o
sujasse fisicamente? Ele assentiu que não. Também perguntou-se, se acreditava ser
possível pecar por dizer a palavra demônio, ao que ele respondeu que não e que tinha
noção desta impossibilidade, seguindo uma lógica um tanto quanto simplista de que:
não era possível pecar por falar no demônio pois o pastor de sua igreja também falava
e não era pecador. Nesta etapa da terapia realizou-se algumas técnicas descritas por
33

Judith Beck, em seu livro Terapia Cognitiva, para contestar algumas crenças
disfuncionais e pressupostos ilógicos.
Todavia, mesmo tenho conhecimento da irracionalidade dos atos não conseguia parar
de repeti-los. Nesse sentido, é lembrado uma frase de Freud, que diz que os neuróticos
não sofrem de ignorância. Sobre isto, foi feito uma anotação em uma das primeira
sessões:
“Enquanto falava com ele reparei que, ao falar do tratamento e da mudança de
hábitos, ao mesmo tempo em que consentia comigo, uma tristeza muito grande
parecia se manifestar dentro dele, e seu olho direito parecia mostrar um sentimento
diferente do que o resto do seu semblante, parecendo que uma parte dele não quisesse
renunciar aos rituais.”
Desde o início acreditou-se na possibilidade do paciente apresentar alguma outra
comorbidade. Entretanto, esperou-se conseguir, através da Exposição e Prevenção de
Rituais, que o paciente desenvolvesse um maior controle sobre as suas emoções, de
modo que alguns dos estímulos aversivos perdessem força. A partir de então, seria
possível substituir esquemas cognitivos disfuncionais, dos quais o próprio paciente
percebia a irracionalidade, por outros, mais saudáveis e de maior valor adaptativo.
Infelizmente não foi possível avançar o suficiente na etapa de exposição de rituais (ER),
tendo permanecido basicamente na etapa da psicoedução do transtorno e do ensino
das técnicas fundamentais de análise cognitiva. Realizou-se apenas uma técnica
exposição de rituais, em que lhe foi dado uma série de imagens relacionadas à figuras
do demônio e cultos religiosos oriundos de religiões afro-brasileiras. O paciente,
depois de muita insistência, viu cada imagem duas vezes, em diferentes ordens, e
escreveu ao lado o grau de ansiedade sentido, com um número de 0 a 100. O nível de
ansiedade médio foi de aproximadamente 80/100, e curiosamente, a ansiedade
sentida não diminuiu ao ver as imagens pela segunda vez.
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O atendimento se restringiu à cerca de 10 (dez) sessões durante uns 3 ou 4 meses,
havendo um hiato maior de tempo entre dezembro e início de fevereiro, devido ao
fechamento da instituição no recesso de fim de ano, agravado pelas faltas constantes
do paciente que puseram em xeque o andamento da terapia, mas foi aceito o retorno
da terapia devido à pressão dos familiares e após a resolução do paciente em se tratar
e se comprometer com o tratamento.
5.2 Estudo de Caso 2
O segundo paciente que atendi clinicamente durante o estagiário, possui 26 anos, sexo
masculino, trabalha como ilustrador freelancer, também é músico, fora atendido
anteriormente por uma estagiária do Instituto Cognitivo e Comportamental de Psicologia
(ICCP) em um total de seis sessões. Continuei com o seu atendimento, que ainda perdura,
tendo alcançado 8 sessões até então.
O paciente tem crises de ansiedade constantes e um medo muito grande em relação à
possibilidade de vir a desenvolver um câncer. Segundo ele, essas crises de ansiedade o
acompanham há mais de 10 anos, e o medo de desenvolver um câncer também surgiu por
volta deste período, embora o paciente ache difícil precisar quando e porquê.
É de seu costume responder com medo e ansiedade às situações em que lide com o tema do
câncer (assistir um filme que traga este conteúdo, por exemplo ) ou outras atividades que
requeiram um nível de cobrança maior de si, como por exemplo o seu trabalho. A cada vez que
sente ansiedade em um grau elevado, o medo de desenvolver o câncer também aparece, e
necessita se submeter a rituais mentais ou comportamentais para afastar o sentimento
perturbador.
Como exemplo de comportamentos ritualísticos, o paciente pede para que alguns de seus
familiares façam tarefas por ele, como por exemplo, mudar um canal de televisão em que
esteja sendo exibido um programa que trate sobre o câncer, costuma substituir pensamentos
sobre a doença por outros com sentido oposto, tocar em alguns objetos ou cantos de seu
quarto que mesmo sabendo ser impossível, desempenham, em um momento de aflição, a
função de afastar a possibilidade temida.
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Nota-se que a compulsão também é uma forma de fantasia. Pode ser concebida como um
comportamento desprovido de fundamento lógico em que a pessoa espera que uma ação
distinta da causa tenha efeito de extinguir o medo. Na dificuldade de desviar o foco de
pensamento do tema obsessão, o indivíduo exime-se desses pensamentos através de maneiras
compulsivas de reagir, e utiliza comportamentos com este fim até o momento em que decida
encarar e avaliar os seus medos.
Analisando o histórico do paciente, o comportamento obsessivo-compulsivo teria aparecido
durante o período em que enfrentou certas atribulações em sua vida, tornando-se limitado às
contingências surgidas nesta época.
Quando ainda cursava o 2º grau teve uma decepção amorosa com o término de um namoro,
por iniciativa de sua namorada. Ficou inconsolável, e perdeu a vontade de se dedicar ao
colégio, acabando por repetir o ano letivo. Logo após, seus pais resolveram transferi-lo para
um colégio público, e essa decisão o afastou de seu grupo de amigos, todos da antiga escola.
Depois de ter prosseguido mais alguns meses na nova escola, abandou os estudos
peremptoriamente, e aos 26 anos, não possui o ensino fundamental, fato que lhe causa muita
vergonha.
Subseqüentemente aos acontecimentos drásticos de sua vida, imergiu em um período de
reclusão, tendo permanecido a maior parte do tempo em casa, sem nenhuma ocupação.
Desprovido de um ambiente social agradável e motivador, agravado pelas exigências
constantes de seus pais para que ele desse rumo à sua vida profissional, e pelo fato de nunca
ter buscado ajuda profissional até então, passou a ter crises constantes de ansiedade e
desenvolveu um sentimento muito forte de inadequação, assim como esquemas cognitivos
disfuncionais. Deste modo, o início de sua perturbação psicológica eclodiu, sendo facilitado
pela sua situação interpessoal restrita, desprovida de afeto, e eliciadora de ansiedade, medo e
angústia.
As primeiras crises de ansiedade em nível patológico teriam então surgido, e o paciente
acredita que suas obsessões sobre o câncer também teriam sido concomitantes ao início
destas crises.
Foi difícil entender como este medo se tornou tão preponderante, e quando o requisitei sobre
possíveis razões para que tivesse este medo, o paciente alegou que acreditava ser possível ter
um câncer por não se alimentar direito e dormir mal, e não formulava muitas outras razões
que fundamentassem esta crença.
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Foi pedido então que ele descrevesse como eram estes momentos de perturbação emocional,
definindo a forma com que sentia no corpo os efeitos causados. Notei então que o paciente
tinha dificuldade em descrever determinadas sensações corporais, e que desconhecia que
estas sensações atribuíam-se às próprias reações emocionais. Tendo em vista o período que
paciente ficou sem ajuda especializada, o grau de intensidade das emoções e a sua forma
condicionada de se comportar, perguntei-lhe se fazia sentido que seu medo de ficar doente,
ou de que seu corpo ficasse doente, estivesse relacionado ao fato de ele acreditar que estas
cargas emocionais pudessem afetar o seu organismo seriamente, e que uma doença grave,
como o câncer, pudesse se desenvolver em decorrência disto. O paciente disse que realmente
isto fazia sentido, pois embora o câncer fosse um tema que normalmente lhe causasse medo,
este medo aparecia de forma intensa quando precedido por um estado de ansiedade,
geralmente causado por estímulos diversos, mas que, uma vez que sua ansiedade aumentava,
e que sentia as alterações fisiológicas decorrentes, os pensamentos de que fosse ter um câncer
invadiam sua mente, e só conseguia afastar este medo mediante rituais de comportamento
que extinguissem, obviamente de forma fantasiosa, esta possibilidade.
Destarte, concluí que a evolução do transtorno tenha se caracterizado por certas descargas de
medo e ansiedade, que devido às contingências estabelecidas, teriam ocorrido de forma
constante, fazendo com que o paciente experimentasse neste período uma série de sensações
corporais desagradáveis, como consequência das reações fisiológicas. Essa sua experiência
teria sido responsável por germinar a crença de que àquilo que fora sentido realmente
pudesse acarretar em um dano mais grave, como um câncer. Por conseguinte, esquemas
cognitivos comuns à depressão, carência afetiva e um sentimento forte de inadequação teriam
servido para corroborar a idéia central de que realmente estivesse muito doente. Assim,
pensamentos frequentes sobre estar doente aliado à alta reatividade fisiológica decorrente
das crises de ansiedade, elevaram o tema da doença à um patamar principal em suas
cognições.
O paciente realizou mudanças consideráveis com o início do tratamento, e desenvolveu um
comportamento mais saudável face às suas crises de ansiedade, de modo que passou a
questionar o seu medo em relação ao câncer, se abster de reagir maquinalmente às suas
emoções, tendo adotado, de um modo geral, uma postura mais ativa em sua vida. Também
conseguiu um novo emprego, resolvendo a questão financeira que lhe incomodava, e adotou a
resolução de terminar os seus estudos, para dar prosseguimento à sua carreira como
ilustrador.
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6. CONCLUSÃO
Estudando os transtornos emocionais, torna-se interessante corroborar o quanto a ação de
indivíduo sobre ele mesmo é determinante em sua patologia.
A noção de condicionamento operante, retirada do behavorismo de Skinner, reluz sobre este
ponto de vista, quando desvela o potencial que um ser humano tem, de realizar um
condicionamento sobre si próprio, na medida em que interpreta os eventos de sua vida de
maneira específica e corresponde às consequências geradas pela sua forma de interpretar, e
sobre os comportamentos subsequentes.
Skinner atribuiu o comportamento à uma ação, quase sempre motora e observável. Todavia,
esta noção não denota aspectos substanciais do comportamento de um indivíduo, como o
papel desempenhado por seus pensamentos, e que incidem diretamente na escolha de uma
ação manejada para lidar com determinada situação ambiental.
Os teóricos que conceberam a Terapia Cognitivo-Comportamental souberam relevar aspectos
importantes defendidos na psicologia comportamental, assim como fazer uso de um método
de estudo que buscasse aproximar a psicologia o mais possível de um patamar de objetividade
merecida. Entretanto, o grande diferencial nesta teoria é considerar o pensamento como um
acontecimento, que pode ser estudado e avaliado de forma objetiva e racional.
A psicologia cognitiva, que eclodiu nos anos 1960, serviu para fundamentar alguns dos
preceitos contidos na psicologia cognitivo-comportamental. Acrescenta-se, sobretudo, a
noção de que a maneira como um indivíduo representa a sua realidade, determina o modo
como a ela, ele reage. Assim, crenças ou ideias formadas e mantidas por formas condicionadas
de se pensar e agir, podem ser identificadas e alteradas conscientemente através de um
trabalho cognitivo apropriado.
A posição adotada pelos psicólogos comportamentais e cognitivo-comportamentais foi
substancial para afastar o estudo da psicologia do predomínio das abordagens psicodinâmicas,
muito em voga nesta época, mas que, conforme demonstrado na prática clínica, eram
insuficientes no tratamento de enfermidades psicológicas.
Algumas linhas de psicologia psicodinâmica apontam determinadas características do
comportamento humano, e que são bastante relevantes, mas direcionam sua pesquisa
unicamente para os diversos processos que supõem integrar certo tipo de comportamento,
dando ênfase aos aspectos tais como o inconsciente, ou descrições gerais do aparelho mental.
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Destarte, aspectos da vida mental e demais características inferidas a partir da decomposição
do comportamento em suas partes ou instâncias, supostamente primevas, ganham o primeiro
plano, de forma a assoberbar outros aspectos precípuos que mereçam devida importância
para uma justa análise dos eventos que influenciam no comportamento do indivíduo. Esta
maneira de avaliar o porquê de determinado comportamento acontecer deixa de lado
detalhes importantes sobre situação ambiental específica, ignorando os demais estímulos
envolvidos, para se ater única e exclusivamente às forças mentais ocultas que o motivaram.
Determinada instância psíquica, supostamente universal, ocasiona o comportamento mas
devido a obscuridade de sua natureza, torna inviável um estudo aprimorado ou uma
comprovação empírica de sua existência. Este é um pressuposto teórico típico das teorias
psicodinâmicas e que se constituí no maior entrave para uma averiguação mais precisa dos
fatos.
Freud, foi genial em perceber a relação de causa e efeito no comportamento, e também por
constatar que o comportamento do indivíduo em sua infância têm consequências ou preserva
características que podem ser auferidas do comportamento tido na fase adulta, contudo,
falhou ao preterir o objeto de estudo empírico ao especulativo. Como dito por B.F Skinner, “O
comportamento foi relegado à posição de um simples modo de expressão das atividades do
aparelho mental ou dos sintomas de uma perturbação subjacente.”
Em suma, o que Freud fez foi buscar preencher o hiato existente entre a vida da criança e do
adulto -assim como as relações de causa e efeito dos comportamentos- com determinações
acerca funcionamento mental, como por exemplo as pulsões e os complexos que, por si só,
explicariam determinado comportamento, ao relacioná-lo como consequência desta suposta
atividade inconsciente.
Por outro lado, os teóricos da psicologia comportamental, embora não padecessem dos
mesmos erros na maneira como concebiam seu objeto de estudo, relegavam pouca
importância ao estudo dos processos cognitivos, e na importância da cognição para o
comportamento humano.
A metodologia utilizada pelos psicólogos comportamentais revela-se eficiente na medida que
permite emergir um material de estudo que possa ser analisado objetivamente, e ser
observado por outros. Todavia, esta noção desconsidera os pensamentos como estímulos, aos
quais o indivíduo também reage. Sem contar o fato de que, muitos teóricos desta linha não
admitirem a possibilidade da autoconsciência, e insistirem demasiadamente em paralelismos
que coloquem o ser humano em um mesmo nível de complexidade de animais inferiores.
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Desta maneira, o enfoque ideal a ser aplicado por uma psicologia, deve ser aquele em que
busque examinar os pensamentos e demais processos cognitivos, sem precisar, para tal, fazer
uso de determinismos, metáforas ou conceitos dubitáveis, oriundos da especulação filosófica.
O comportamento, ou a ação de um indivíduo, deve ser estudado em sua total conjuntura,
relevando tantos os eventos ambientais, como os eventos internos –cognições- que o
tornaram possível. Para o entendimento das relações funcionais entre determinadas ações e
cognições, o psicólogo deve buscar entender mais sobre as aprendizagens anteriormente
feitas, crenças desenvolvidas, pressupostos e maneiras singulares de representar a vida que
ocasionaram tal comportamento ou crença, abstendo-se, para isto, de metáforas ou
conclusões que ignorem a relação causal dos fatos, ou a própria história do desenvolvimento
do indivíduo.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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