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ACUPUNTURA PARA DIABETES MELLITUS TIPO 1
Monografia apresentada ao Centro
Integrado de Estudos e Pesquisas do
Homem como requisito parcial para
obtenção do grau de Especialista em
Acupuntura.
Florianópolis, outubro de 2010
2
CENTRO INTEGRADO DE ESTUDOS E PESQUISAS DO HOMEM
PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM ACUPUNTURA
ACUPUNTURA PARA DIABETES MELLITUS TIPO 1
Elaborado por
ANDRESSA KUHNEN
COMISSÃO EXAMINADORA:
___________________________________________________
Prof. Marcelo Fabián Oliva, Esp.
Orientador/ Presidente de Banca
___________________________________________________
Profa. Luisa Regina Pericolo Erwig, MSC
Membro de Banca
___________________________________________________
Prof. Cleto Emiliano Pinho
Membro de Banca
Florianópolis, outubro de 2010
3
SUMÁRIO
RESUMO _____________________________________________________ 4
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 5
1.1 O PROBLEMA ........................................................................................................ 5
1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................ 6
1.2.1 GERAL ................................................................................................................... 6
1.2.2 ESPECÍFICOS ........................................................................................................ 6
1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 6
1.4 METODOLOGIA .................................................................................................... 7
2 DISCUSSÃO __________________________________ 8
2.1 DIABETES MELLITUS TIPO 1 – VISAO OCIDENTAL ................................. 8
2.1.1 CONCEITO ............................................................................................................ 8
2.1.2 INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA ......................................................................... 8
2.1.3 ETIOPATOGENIA ................................................................................................ 9
2.1.4 DIAGNÓSTICO ................................................................................................... 10
2.1.5 QUADRO CLÍNICO ............................................................................................ 11
2.1.6 COMPLICAÇÕES CRÔNICAS .......................................................................... 11
2.2 DIABETES MELLITUS TIPO 2 – VISÃO ORIENTAL .................................. 15
2.2.1 CONCEITO .......................................................................................................... 15
2.2.2 SINTOMATOLOGIA .......................................................................................... 17
2.3 PROTOCOLO TERAPÊUTICO SEGUNDO A MTC ...................................... 18
2.3.1 AURICULOTERAPIA ........................................................................................ 21
3 CONCLUSÃO ____________________________________ 22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________ 23
4
RESUMO
Título: ACUPUNTURA PARA DIABETES MELLITUS TIPO 1
Autora: Andressa Kuhnen.
Orientador: Marcelo Fabián Oliva.
Introdução: A Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) é uma doença metabólica causada pela
perda da capacidade de secreção da insulina devido a uma destruição lenta e progressiva
das células betas das ilhotas pancreáticas. A sua incidência está crescendo rapidamente
especialmente entre crianças mais jovens, surgindo anualmente no mundo 75,8 mil
novos casos de em crianças de 0 a 14 anos. Nos últimos anos, a efetividade da
acupuntura para o tratamento de DM tem sido pesquisada e comprovada. O objetivo
deste trabalho é propor um protocolo de tratamento para a DM1 de acordo com a
Medicina Tradicional Chinesa (MTC), bem como conceituar a DM1 pela medicina
ocidental e chinesa e descrever a importância dos pontos de tratamento.
Discussão: A etiologia da DM1 está na raiz Yin do Baço-Pâncreas (BP), encarregado do
metabolismo dos carboidratos, que se encontra geneticamente alterada e não funciona
adequadamente. Assim, o protocolo da acupuntura é focado em tratar: a deficiência yin
do BP; a yangnificação geral do TA; yangnificação do TA inferior (Rim e Fígado
respectivamente); e por último, a debilidade da raiz Yin do Coração.
Conclusão: Conclui-se que a DM1 é caracterizada, conceituada e tratada pela MTC
diferentemente da medicina ocidental. Com este trabalho pode-se expor mais um
recurso disponível para o tratamento da DM1 e tal como os outros tratamentos, a
acupuntura também se comporta como uma terapêutica segura e eficaz
Palavras-chave: DM1, acupuntura e auriculoterapia.
Florianópolis, outubro de 2010.
5
1 INTRODUÇÃO
1.1 PROBLEMA
A Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) é uma doença metabólica causada pela perda
da capacidade de secreção da insulina devido a uma destruição lenta e progressiva das
células betas das ilhotas pancreáticas, que pode ser de origem auto-imune ou
idiopática.12
A DM1 de origem auto-imune é denominada Diabetes Mellitus tipo 1 A
(DM1A) e corresponde a aproximadamente 10% de todos os casos de diabetes. É uma
das doenças crônicas mais comum na infância, com pico de incidência entre 5 e 15
anos, embora possa aparecer em qualquer idade.12
A alta taxa de glicose acumulada no sangue, que com o passar do tempo pode
afetar os olhos, rins, nervos ou coração, é o principal foco de tratamento dos
diabéticos.13
Assim, devem realizar insulinoterapia juntamente com a adequação do
perfil lipêmico e pressórico do paciente, mudança de hábitos como o sedentarismo, o
tabagismo e o alcoolismo. Também é importante para o tratamento a provisão de
informações sobre nutrição ideal e atividade física adequada.13 8
Nos últimos anos, a efetividade da acupuntura para o tratamento de DM tem sido
pesquisada e comprovada. Zhi-long afirma que deve-se combinar os tratamentos como
exercícios, dieta modificada, acompanhamento psicológico, medicação e acupuntura
para resolver as diversas dificuldades no tratamento da diabetes.14
6
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Geral
O objetivo geral deste trabalho é propor um protocolo de tratamento para a DM1
de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa (MTD).
1.2.2 Específicos
* Descrever a DM1 através do conceito ocidental;
* Descrever a DM1 através do conceito da MTC;
* Descrever a importância dos pontos utilizados no protocolo de tratamento proposto;
1.3 JUSTIFICATIVA
Esse trabalho justifica-se por ser a DM1 um distúrbio metabólico e endócrino
mais comum na infância e sua incidência está crescendo rapidamente especialmente
entre crianças mais jovens. A International Diabetes Federation (IDF) afirma que
surgem anualmente no mundo 75,8 mil novos casos de diabetes em crianças de 0 a 14
anos. Tendo assim, um aumento na incidência anual de aproximadamente 3%.6
Tratando-se de uma doença progressiva e potencialmente debilitante, com suas
diversas complicações que atingem uma considerável parte da população
economicamente ativa, tornou-se também, uma preocupação socioeconômica até
mesmo para os países desenvolvidos.8
E sendo a DM uma preocupação socioeconômica e de saúde pública, a
acupuntura é uma terapêutica ainda pouco solicitada no tratamento de DM, como
7
revelou uma pesquisa realizada com 33 enfermeiras, em 11 Unidades de Saúde da
Região Sudeste do Município de são Paulo, onde havia a terapia de acupuntura. Entre
elas, apenas 10% sugeriram a acupuntura para tratamento de DM, revelando assim uma
necessidade de explanar e divulgar o uso desta no tratamento de DM.7
1.4 METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta pesquisa classifica-se segundo Gil (2002) como Bibliográfica, pois foi
desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e
artigos científicos.4
A pesquisa bibliográfica é um suporte imprencidível para qualquer outro tipo de
pesquisa, visto que não pode existir uma investigação científica sem um prévio
conhecimento das contribuições teóricas existentes em textos que já abordaram com
maior ou menor incidência o assunto que é motivo de indagação.1
Classifica-se também como pesquisa Exploratória, porque tem como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vista a torná-lo mais explícito
ou a constituir hipóteses. Tendo como finalidade o aprimoramento de idéias.4
8
2 DISCUSSÃO
2.1 DIABETES MELLITUS TIPO 1 - VISÃO OCIDENTAL
Conceito
A DM1 é aquela em que há uma destruição das células beta pancreáticas,
resultando numa deficiência insulínica absoluta. Etiologicamente, a DM1 é subdividia
em tipo 1A (conseqüência de uma agressão auto-imune pancreática) e tipo 1B
(idiopático).3
Incidência e Prevalência
A incidência da DM1A varia de acordo com os países e populações. Países do
norte europeu, como a Finlândia e a Suécia, apresentam as incidências mais altas,
variando de 30 a 40 indivíduos por 100.000 pessoas por ano. Em contrapartida, os
países asiáticos possuem uma incidência de 0,5 a 1 por 100.000 pessoas por ano.3
Em algumas cidades do interior de São Paulo, a incidência é de 7,4 novos
casos/100.000 pessoas por ano. Tem-se verificado recentemente um aumento de 3% a
4% na incidência anual da DM1A, acometendo crianças cada vez mais novas.12
De acordo com a IDF, no Brasil no ano de 2010 surgirão 7.7 novos casos de DM
tipo 1 em crianças a cada 100.000 habitantes.6
9
Etiopatogenia
Com os avanços em imunologia e genética, houve um grande
desenvolvimento na compreensão dos mecanismos etiopatogênicos do DM1A, ao
contrário da DM1B que pouco se conhece. Portanto, esse trabalho irá ater-se a DM1A.3
Assim, a DM1A corresponde a uma doença crônica que, após uma
interação entre fatores genéticos e ambientais, as reações dos componentes celular e
humoral do sistema imunológico com determinados antígenos resultam na destruição
específica das células β pancreáticas. Tais células são quase completamente destruídas,
preservando-se apenas as células α e δ.3
No que corresponde aos fatores genéticos, estudos identificaram os genes
responsáveis pela suscetibilidades genética do DM1A. Há pelo menos 15 loci situados
em cromossomos diferentes, denominados de IDDM1 a IDDM15. Entre tais loci, são os
IDDM1 e IDDM2 responsáveis pela maior parte da predisposição genética na DM1A.3
Entre os fatores ambientais os principais são as infecções virais. Seu
envolvimento com o desenvolvimento da DM1A possui, no mínimo, 2 mecanismos. No
primeiro, os vírus do grupo Coxsackie A infectam diretamente e destroem as células
beta pancreáticas.3
No segundo mecanismo, os vírus colaboram para desencadear ou exacerbar um
processo crônico contra esta que já estava em evolução. Os vírus envolvidos são os da
rubéola, citomegalovirus, o da caxumba, Epstein-Barr e os Coxsackie B4.3
Vários são mecanismos responsáveis pela destruição das células beta, incluindo
radicais livres, óxido nítrico e outras citocinas. Essas reações se expressam como uma
insulite que corresponde a um infiltrado de linfocitário nas ilhotas, as vezes
acompanhado por macrófago e neutrófilos.3
10
A destruição específica das células beta sofre influencia dos alvos específicos
nas ilhotas, dos receptores das células T, imunoglobulinas e de uma suscetibilidade
característica das células beta a certos tipo de lesão.3
À medida que a doença cronifica-se, as células beta das ilhotas são depletadas.
Divulga-se amplamente que a diabetes apresenta manifestações clínicas apenas quando
90% das células beta foram destruídas. No entanto, estudos demonstram que a resposta
insulínica aguda à glicose torna-se indetectável mesmo quando 40-50% das células beta
ainda estão presentes.3
Sabe-se que apenas uma pequena porcentagem dos indivíduos com
predisposição genética para a DM1A realmente a desenvolvem clinicamente.3
2.1.4 Diagnóstico
O DM1A pode ocorrer em qualquer idade. Cinqüenta por cento dos indivíduos
desenvolvem a doença antes dos 40 anos de idade.3
O exame mais comum para medir o nível de glicose no sangue chama-se
Glicemia de Jejum. É um teste feito através do sangue venoso. O resultado é
considerado normal quando a taxa de glicose varia de 70 até 110 mg/dl. Se o resultado
ficar em torno de 110 a 125 mg/dl, o indivíduo é portador de glicemia em jejum
inapropriada. Assim, torna-se necessário à realização do exame conhecido como “Teste
Oral de Tolerância à Glicose”.13
Ocorrendo um resultado igual ou acima de 126 mg/dl, em pelo menos dois
exames consecutivos, fica então confirmado o diagnostico de Diabetes Mellitus. Já com
uma glicemia superior a 140 mg/dl, mesmo sendo recolhida a qualquer hora do dia, já se
confirma o diagnostico do diabetes.13
11
2.1.5 Quadro clínico
Os típicos sintomas da DM1A são: poliúria, polidipsia, polifagia e perda
de peso e são conseqüências da hiperglicemia. A glicose elevada ultrapassa o seu
transporte máximo tubular, promovendo uma perda renal que por efeito osmótico
aumenta a perda de água. Para compensar a poliúria gera-se a polidipsia. Com a
evolução do quadro ocorre a lipólise e proteólise levando a perda de peso e
simultaneamente a polifagia.3
Na presença desses sintomas o diagnóstico torna-se fácil de se realizar. Porém,
na maioria das vezes, o diagnóstico não é feito nessa fase inicial, ocorrendo um aumento
progressivo do volume de diurese, desidratação e acidose. Há formação de corpos
cetônicos denota um atraso no diagnóstico e reflete uma maior destruição das células
beta pancreáticas.3
Um diagnóstico precoce evita um quadro de cetoacidose, que possui elevada
morbimortalidade, e preserva uma maior produção de insulina, prevenindo
complicações crônicas que possam se desenvolver no futuro.3
2.1.6 Complicações Crônicas
Nefropatia Diabética
A Nefropatia Diabética pode afetar o bom funcionamento dos rins, fazendo com
que eles percam a capacidade de filtrar adequadamente essas substâncias. Constitui-se
por alterações nos vasos dos rins, levando a perda de proteína na urina. Nesse caso, o
12
órgão pode reduzir sua função lentamente, porém de forma progressiva, até sua
paralisação total.13
Uma das proteínas que circulam no sangue é a albumina, que possui alto valor
biológico e fornece todos os aminoácidos essenciais para facilitar a recuperação do
organismo.Na fase inicial da Nefropatia Diabética, aparecem pequenas quantidades
dessa proteína na urina (detectada através do exame de microalbuminúria). É comum
que nesse estágio ocorra, também, o aumento da pressão arterial (hipertensão). Esta
situação pode levar à insuficiência renal avançada.13
No diabetes tipo 1, a insuficiência renal progressiva ocorre em cerca de 50% dos
pacientes. Seu tratamento consiste em controlar as taxas de glicemia, tanto para previnir
seu aparecimento como sua progressão. Mesmo naqueles que já apresentam
microalbuminúria na urina, a diabetes bem controlada evita a piora do quadro.13
È recomendável, também, o controle do colesterol, parar de fumar, ter uma dieta
mais balanceada e até mesmo o uso de algumas medicações ( receitadas por um
especialista). Caso já exista perda importante da função renal (insuficiência renal
avançada), entrará em ação a diálise ou transplante.13
Infeces
A presença de hiperglicemia pode causar danos às tarefas do sistema
imunológico, como por exemplo a diminuição da eficiência dos glóbulos brancos.
Aumentando, assim, o risco da pessoa com diabetes contrair algum tipo de infecção.13
O alto índice de açúcar no sangue propicia a invasão do organismo por
fungos, bactérias, etc. e promove uma fácil proliferação desses patogênicos. Assim,
áreas como boca e gengiva, pulmões, pele, pés, genitais e local de incisão pós cirurgia
estão mais sujeitos a este risco.13
13
Como prevenção e tratamento o mais importante é manter um bom controle da
glicemia.13
Infarto do Miocárdio e Acidentes Vasculares Cerebrais
Essas complicações ocorrem quando os grandes vasos são afetados,
levando à obstrução/estenose (arteriosclerose) de órgãos vitais como o coração e o
cérebro. O bom controle da glicose, somado à atividade física e medicamentos - que
possam combater a pressão alta, o aumento do colesterol e suspender o tabagismo – são
medidas imprescindíveis de segurança. A incidência deste problema é de 2 a 4 vezes
maior nas pessoas com diabetes.13
Como sempre, o bom controle das taxas glicêmicas, associado ao controle dos
outros fatores de risco, pode prevenir o infarto agudo do miocárdio. Além disso, existem
medicações que podem promover um efeito protetor. Procure sempre um médico para a
melhor avaliação do seu caso.13
Neuropatia Diabética
O diabetes é a principal causa de Neuropatia. Nela os nervos podem ficar
incapazes de emitir as mensagens, emiti-las na hora errada ou muito lentamente. Os
sintomas irão depender e variar conforme o tipo de complicação e quais os nervos
afetados. Sua incidência é alta e possui diferentes formas clínicas, tais como:13
• Polineuropatia distal: uma das formas mais comuns de Neuropatia, que
acomete preferencialmente os nervos mais longos, localizados nas pernas e nos pés,
causando dores, formigamento ou queimação nas pernas. Tende a ser pior à noite
(período onde prestamos mais atenção aos sintomas);13
14
• Neuropatia autonômica: causa principalmente hipotensão postural, como
a queda da pressão arterial ao levantar-se (tonturas) e impotência sexual. Outros
sintomas incluem sensação de estômago repleto após as refeições, distúrbios de
transpiração e outros mais raros;13
• Neuropatia focal: esta é uma condição rara decorrente de danos a um
único nervo ou grupo de nervos. Desenvolve-se quando o suprimento de sangue é
interrompido devido ao entupimento do vaso que supre aquele nervo. Ou pode ser
conseqüência de uma compressão do nervo.13
A presença desta complicação está muito relacionada ao tempo de
duração do diabetes e ao grau de controle glicêmico. Portanto ressalta-se, mais uma vez,
a importância de manter um bom controle da glicemia.13
Pé Diabético
Uma úlcera na base do pé pode desenvolver-se através de um machucado ou
uma infecção na área. O aparecimento é mais provável quando a circulação é deficiente
e os níveis de glicemia são mal controlados. As camadas de pele são gradativamente
destruídas pela infecção, quando a úlcera não é devidamente tratada.13
Retinopatia Diabética
São lesões que aparecem na retina, podendo causar pequenos
sangramentos e, como conseqüência, a perda da acuidade visual. Exames de rotina
(como o “fundo de olho”) podem detectar anormalidades em estágios primários, o que
possibilita o tratamento ainda na fase inicial do problema. Hoje, a Retinopatia é
considerada uma das mais freqüentes complicações crônicas da diabetes.13
15
No caso do tipo 1, não há necessidade de começar os exames assim que a pessoa
se descobre com diabetes, pois não possui um histórico de glicemia alta. Sendo assim, o
primeiro exame oftalmológico poderá ocorrer após cinco anos de tratamento. Concluído
esse período, os exames serão realizados anualmente.13
Num estudo realizado com pacientes DM tipo 1 atendidos no Serviço de
Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre avaliou a prevalência de
complicações crônicas vasculares e os fatores associados. Observou-se que a duração da
DM, hipertensão arterial sistêmica e presença de nefropatia diabética foram associados à
retinopatia diabética, sendo encontrada em 43,3% dos 573 pacientes avaliados.7
2.2 DIABETES MELLITUS TIPO 1 - VISÃO ORIENTAL
2.2.1 Conceito
A etiologia da DM1 está na raiz Yin do Baço-Pâncreas (BP), encarregado do
metabolismo dos carboidratos, que se encontra geneticamente alterada e não funciona
adequadamente.10
O que confere sua característica hereditária é a predisposição genética,
representando o substrato mais importante para o surgimento dessa enfermidade.
Outros fatores que estão relacionados com sua origem são:10
Os agentes climáticos Liuqu (energia cósmica), XieT`chiqi (energia
cósmica perversa) e Liuyin (materialização da energia cósmica
perversa ou vírus).
Os distúrbios emocionais (Baifeng ou Xieshen)
16
As transgressões dietéticas (Xiegu)
Todos estes fatores atuam sobre a energia essencial diminuída que é constituída pelo
Rong-Wei (energia nutrícia) e pela energia Zhong (energia ancestral), sendo a
debilidade do Zhong a causa mais importante. Como resultado ocorre uma alteração
completa do Triplo Aquecedor Médio, composto pelo BP e Estômago (E).10
De acordo com a MTC, o alimento é recebido pelo estômago e este passa a parte
mais energética para o BP e o menos energético ao Triplo Aquecedor Inferior. Por sua
vez o BP realizará a metabolização e enviará a parte mais energética ao Triplo
Aquecedor Superior e o impuro, ou seja, a insulina e o suco pancreático ao sangue. Se
isto não funciona corretamente, como é no caso da DM1, produzirar-se-á alterações no
TA Superior e formação de fleumas no TA Inferior que afetarão posteriormente o Rim e
o Fígado.10
Estando a raiz Yin do BP debilitada, a metabolização dos alimentos provocará
um hiperfuncionamento do Yang do BP, que com a persistência ocorrerá seu
esgotamento. Diante de um BP totalmente debilitado, o E tende a enviar ao Triplo
Aquecedor inferior um líquido alimentício insuficientemente degradado e com muita
energia.10
Desta forma, há uma plenitude yang do TA inferior que afetará
consequentemente o Rim (R), o Fígado (F) e por último o Coração (C). Em primeiro
lugar, o R será acometido por excesso de trabalho pois receberá os aportes provenientes
da 1ª, 2ª e 3ª purificação (E, ID e IG) e terá que metabolizar o líquido impuro
excessivamente yangnificado, tornando-se hiperativo.10
Tal hiperatividade, com o tempo, levará a hipertrofia da função Yin e o
esgotamento da raiz yang do Rim, impulsionando este acúmulo até o F (ciclo de
assistência) para realizar a última etapa de formação da energia wei. Então o Fígado
17
deverá metabolizar o que o R não metabolizou, tornando-se hiperativo e com o tempo a
sua ação Yin fracasará.10
E por último, aparecerá uma diminuição do Yin do Coração, pois gastará sua
energia para suministrar/alimentar o Yin do BP. Esta situação faz com que apareça a
complicação denominada angiopatia diabética que é muito mais comum na DM tipo 1
visto que o yin do BP está muito precário e a assistência do C tem de ser contínua.10
Assim, a enfermidade do BP compromete todo o Triplo Aquecedor e
consequentemente a produção energética, nutrícia ou Rong (TA Superior) e a defensiva
ou energia Wei (TA inferior).10
2.2.2 Sintomatologia
Polidipsia (sede excessiva): A energia Rong, formada no Pulmão, é
conseqüência da combinação de uma energia que provém da alimentação (yin) e outra
energia que provém dos cosmos (Yang). Quando o aporte yin de energia se torna
insuficiente em comparação com a cósmica, devido a deficiência da raiz yin do Baço
Pâncreas, provocará uma yangnificação sobre o Triplo Aquecedor Superior (Coração e
Pulmão), originando a sede.10
A sede surge como uma necessidade de neutralizar esse yang, levando água para
a zona regida pelo pulmão, como a traquéia e faringe. No entanto, não causa nenhum
efeito, visto que a água não atuará sobre a causa etiológica.10
Polifagia (fome excessiva): Necessidade de grande ingesta de alimentos para
saciar a fome. O estômago encontra-se yangnificado por isso necessita de yin (matéria)
para compensar. E o alimento, antes de ser degradado, contém energia Yin.10
18
Poliúria (excesso de urina): O yin segura o yang (não permite-lhe ascender) e o
yang segura o yin (não permitindo-lhe descender). Por tanto, como há uma diminuição
de yang do Rim haverá uma facilitação da emissão do yin (urina) ao exterior. A
polidipsia incrementa tal efeito.10
2.3 PROTOCOLO TERAPÊUTICO SEGUNDO A MTC
Em 1960 iniciou-se a observação clínica dos efeitos da acupuntura e moxabustão
no tratamento para diabetes. As primeiras pesquisas no mecanismo de ação da
acupuntura e moxabustão para diabetes e suas complicações foram realizadas em 1980.
Desde o início do século 21 as pesquisas vem se aperfeiçoando dia a dia e um grande
número de estudos clínicos e laboratoriais têm afirmado a efetividade terapêutica da
acupuntura e moxabustão no tratamento para diabetes.14
Assim, neste trabalho expõe-se um protocolo para o tratamento da DM tipo 1,
que baseado no seu conceito oriental, tem como foco: a deficiência yin do BP; a
yangnificação geral do TA; yangnificação do TA inferior (Rim e Fígado
respectivamente) seguido da hipertrofia de suas funções yin e do esgotamento das raízes
yang; e por último, debilidade da raiz Yin do Coração.
Para tratar a deficiência yin do BP deve-se hidratar e nutrir seu yin. Para isso
usa-se:9
CS6 (Neiguan) – para abrir o Yinweimai;
IG4 (Hegu) , E36 (Zusanli) e VC12 (Zhongwan) – para regular o
centro e o Yangming;
19
F13 (Zhangmen), BP9 (Yinlingquan) e BP6 (Sanyinjiao) – para
estimular o yin do BP;
B20 (Pishu) e B21 (Weishu) – para sedar o TA médio;
Para diminuir o Yang do TA nos seus três níveis:10
B13 (Feishu) – para dispersar o fogo do P e, portanto diminui a sede;
B22 (Sanjiaoshu) – corresponde ao Shu do TA. Seda o yang do TA nos
três níveis.
VC5 (Shimen) – Mu do TA nos três níveis. Estimula o yin do TA.
VC7 (Yinjiao) – Mu do Ta inferior. Estimula o Yin do TA inferior.
B39 (Weiyang) – Roé do TA; usado para problemas metabólicos,
sobretudo diabetes.
Para tratar as alterações no movimento água (R):10
VC4 (Guanyuan) – atua sobre as funções do sangue ou do Yin a nível
do TA inferior;
R7 (Fului) – ponto de tonificação do meridiano do R;
R3 (Taixi) – ponto fonte do R;
B23 (Shenshu) estimula a raiz yang do R;
Para tratar as alterações no movimento Madeira (F):10
F8 (Ququan) – estimula a água do F;
B18 (Guanshu) – ponto Shu do F;
F14 (Qimen) – ponto Mu do F;
20
Para tratar a debilidade da raiz yin do Coração:9
CS6 (Neiguan) – abri o Yinweimai;
VC15 (Jiuwei) – estimula a raiz Yin do C;
B15 (Xinshu) – deve-se sedar a raiz Yang do C;
BP6 (Sanyinjio), B17 (Geshu) e P9 (Tayuan) – tonifica o Xue;
R10 (Yingu), R3 (Taixi), R7 (Fuliu) – tonificar o R-Yin;
C7 (Shenmen) – abrir o Shen;
Para tratar os sintomas de polidipsia:10
P10 (Yuji) – ponto fogo do P, responsável pela sede;
P5 (Chize) – ponto água do pulmão;
VC24 (Chengjiang) ou MC3 (Quze) – para acalmar a sede;
TA4 (Yangchi) – ponto neutralizador da sede, por ser reeequilibrador
do líquido alimentício;
Para tratar os sintomas da poliúria:10
P9 (Taiyuan) – tonificar a mãe da água que se encontra em deficiência;
Para tratar os sintomas da polifagia:10
VG26 (Renzhong) – ponto que regula os líquidos e é anorexígeno;
E45 (Lidui) – ponto Jing fonte; arrasta a energia para a parte inferior e
diminui o yang, não necessitando tanto yin (alimento) no estômago;
VC12 (Zhongwan) e B21 (Weishu) – técnica Shu-Mu do estômago;
regulariza o yin-yang;
21
2.3.1 AURICULOTERAPIA
A auriculoterapia é uma terapia que estimula diferentes pontos reflexos no
pavilhão auricular no intuito de tratar e curar diversas enfermidades.2 Os pontos
escolhidos para trata a DM1 seguem abaixo:5 10
Hipófises – regula a secreção do hormônio antidiurético;
Paratireóide – indicado para problemas metabólicos;
Simpático – regulariza os deseqilíbrios neurovegetativos;
Shenmen – considerado o ponto base no tratamento de auriculoterapia;
Rim e Bexiga – para redução da micção;
Pâncreas e Visícula Biliar – indicado no caso de diabetes;
Baço e Boca – para fluidificar e reduzir a sede;
Endócrino e Subcórtex – regula a função endócrina;
22
3 CONCLUSÃO
Com esse trabalho pode-se ter esclarecimentos sobre a DM1 tanto no conceito
da medicina ocidental quanto da TMC. Os conceitos, sintomas, incidências,
complicações e tratamentos foram abordados e discutidos de acordo com ambas as
medicinas.
Pode-se notar que a DM1 para a medicina ocidental corresponde a uma
patologia que traz uma série de transtornos ao organismo. Já de acordo com a MTC, tal
doença corresponde a um conjunto de síndromes que são classificadas de acordo com os
órgãos afetados, podendo comprometer o TAinferior, médio e superior.5
Conclui-se, com o exposto acima, que a DM1 é caracterizada, conceituada e
tratada pela MTC diferentemente da medicina ocidental. Assim, este trabalho expôs
mais um recurso disponível para o tratamento da DM1 e mostrou que, tal como os
outros tratamentos, a acupuntura também se comporta como uma terapêutica segura e
eficaz, tendo como postergar o aparecimento de complicações e assegurar uma melhor
qualidade de vida para portadores de tal distúrbio.
No entanto, percebe-se ainda uma necessidade de mais estudos para
esclarecimentos e divulgação da acupuntura como uma medicina que possui uma
terapêutica própria para diagnosticar e tratar a DM1.
23
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1) AYALA, E.; LAMEIRA, L. Considerações básicas sobre a pesquisa. Santa
Maria: UFSM, 1989.
2) BUDRIS, F. Ariculoterapia: Técnicas y tratamientos. Buenos Aires:
Editorial Albatros, 2005.
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