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5 Introdução A ludicidade vem ganhando terreno no espaço educacional, principalmente na educação infantil. Sendo o brincar a essência da infância e seu uso permitir um trabalho pedagógico é que brincadeiras e jogos vem cada vez mais se associando ao processo cognitivo, auxiliando a criança em suas novas descobertas de maneira prazerosa. O presente texto tem por objetivo ressaltar algumas contribuições importantes que jogos e brincadeiras podem oferecer na exploração dos saberes que a criança traz consigo quando chega a escola, de maneira a despertar a imaginação, criando habilidades e cooperação, mostrando que o brincar, vinculado à função pedagógica da pré escola, possibilitará maior interação de crianças de diferentes histórias de vida, contribuindo assim para a construção de sua identidade de maneira prazerosa. Este trabalho é produto de estudos e análises de livros que mostram a valorização que o “brincar e jogar” vem ganhando na caminhada pela conquista de condições concretas para uma educação qualitativa. Pretende-se por em evidência que essa temática vem aliada ao faz-de-conta, o que apresenta grande familiaridade com a criança, podendo assim, serem utilizados pelos educadores como ponto de partida para a elaboração e organização de convivência no papel social. Partimos de um breve histórico sobre alguns aspectos diferenciados que a organização da educação vem experimentando a partir dos trabalhos de Comênius (1593), Rosseau (1712) e Pestalozzi (1756) e em seguida, mostramos estudos iniciados com base no Referencial Curricular de Educação Infantil (RCNEI) e seguimos com outros autores que também defendem a brincadeira e jogos como auxiliadores na formação e autonomia do indivíduo, mostrando sua importância na sexualidade, na alfabetização, na interação entre outros.

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Introdução

A ludicidade vem ganhando terreno no espaço educacional, principalmente na

educação infantil. Sendo o brincar a essência da infância e seu uso permitir um trabalho

pedagógico é que brincadeiras e jogos vem cada vez mais se associando ao processo

cognitivo, auxiliando a criança em suas novas descobertas de maneira prazerosa.

O presente texto tem por objetivo ressaltar algumas contribuições importantes que

jogos e brincadeiras podem oferecer na exploração dos saberes que a criança traz consigo

quando chega a escola, de maneira a despertar a imaginação, criando habilidades e

cooperação, mostrando que o brincar, vinculado à função pedagógica da pré escola,

possibilitará maior interação de crianças de diferentes histórias de vida, contribuindo assim

para a construção de sua identidade de maneira prazerosa.

Este trabalho é produto de estudos e análises de livros que mostram a valorização

que o “brincar e jogar” vem ganhando na caminhada pela conquista de condições concretas

para uma educação qualitativa. Pretende-se por em evidência que essa temática vem aliada ao

faz-de-conta, o que apresenta grande familiaridade com a criança, podendo assim, serem

utilizados pelos educadores como ponto de partida para a elaboração e organização de

convivência no papel social.

Partimos de um breve histórico sobre alguns aspectos diferenciados que a

organização da educação vem experimentando a partir dos trabalhos de Comênius (1593),

Rosseau (1712) e Pestalozzi (1756) e em seguida, mostramos estudos iniciados com base no

Referencial Curricular de Educação Infantil (RCNEI) e seguimos com outros autores que

também defendem a brincadeira e jogos como auxiliadores na formação e autonomia do

indivíduo, mostrando sua importância na sexualidade, na alfabetização, na interação entre

outros.

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Pretende-se aqui, expandir conhecimentos explorando a riqueza que o lúdico

apresenta no processo de interação e desenvolvimento de atitudes no meio social, buscando

despertar no profissional da educação o gosto pela ludicidade e a conscientização de sua

importância para o desenvolvimento da criança na idade pré-escolar.

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Histórico da Organização Educacional

Pensar em infância faz com que nos reportemos ao faz-de-conta e a tudo que está

voltado a imaginação da criança, considerando a criança um ser lúdico que necessita brincar

para interagir com seu meio.

WAJSKOP (1999) salienta que tempos atrás a criança não tinha uma educação

voltada somente parta ela, ou seja, não possuía seu próprio espaço social. Segundo a autora a

infância limitava-se apenas a mais tenra idade, quando a criança necessitava dos cuidados

básicos, mais adiante dividia o espaço social entre jogos e brincadeiras com adultos como

meio socialização. O brincar era visto apenas como recreação, não era levado em conta como

base da educação humana, impedindo assim um comportamento espontâneo, que significasse

algum valor.

De acordo com Spodek (1998), a organização da Educação vem experimentando

diferentes aspectos ao longo dos anos. A Educação Infantil, por exemplo, no início era

chamada de educação informal. Já nos tempos modernos surgiram escolas especializadas para

a educação de crianças pequenas. A partir do século XIX foram desenvolvidos métodos

pedagógicos que condiziam com a idade das crianças.

Em 1628, John Amos Comenius, escreveu sobre a “Escola do colo de mãe”, para

crianças de 0 a 6 anos que teve como objetivo o ensino de cores; distinção de objetos, plantas

e animais; partes do corpo e rezas. A partir dos trabalhos de Comenius (1593), Rosseau

(1712) e Pestalozzi (1746) surge à valorização e a necessidade de estimular o

desenvolvimento natural da criança desprovido da razão e desvinculado do contexto social.

Assim o brincar passa a ser visto como um meio de educar a criança, embora não as deixava

livres para escolhas, tendo sua liberdade controlada.

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Em 1816 na Escócia, a “Escola Infantil” trouxe uma abordagem inovadora,

priorizando a liberdade da criança. Em 1827, algumas cidades americanas já contavam com

escolas infantis, objetivando eliminar a pobreza através da educação das crianças pobres. O

Jardim da Infância foi introduzido nos Estados Unidos em 1873, em dedicação aos pobres.

Dedicada aos filhos dos pobres e tendo por objetivo a elevação do lar, eranatural que o jardim de infância como movimento filantrópico recebesse deinício grande apoio. O mero fato de que as crianças das favelas fossemmantidas fora das ruas e tornadas limpas e felizes por jovens bondosas ematernais; que a criança assim cuidada possibilitasse à mãe realizar seutrabalho dentro ou fora de casa, tudo isso apelava ao coração da América e aAmérica contribuiu generosamente, para tornar possível estes jardins deinfância. Igrejas abriram jardins de infância, indivíduos faziam doações ajardins de infância em quase todas as grandes cidades (FISCHER,1968, apudSPODEK, 1998, p.47).

ARIES (1981), pesquisador francês estudou a história social da criança e da família

na Europa e constatou que no século XVI, a criança não possuía um lugar significativo na

sociedade, ingressando muito cedo no mundo adulto, usando os mesmos trajes e participando

das mesmas atividades.

A sociedade capitalista urbano-industrial, mudou a inserção da criança na sociedade,

melhorando as condições de vida, estabelecendo novas relações sociais, principalmente na

família. A criança passou a ter particularidade infantil, diferenciando-as dos adultos.

A partir dessa época ARIES (1981), identifica o “paparico” com a criança, por

considerá-la pura e ingênua e a “moralização”, atitude severa, a partir da compreensão da

criança como um ser incompleto e imperfeito, que o adulto necessitava moralizar.

Desta forma a infância foi ganhando reconhecimento como uma fase específica da

vida, com suas características e necessidades.

Essa idéia de uma infância a ser protegida ou moralizada nasceu a partir dasrelações estabelecidas na sociedade burguesa da Europa do século XVIII eXIX. Estabeleceu-se,assim, uma idéia universal de infância e de criança,

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como se todas as infâncias fossem semelhantes e todas as crianças passassempelas mesmas fases no desenvolvimento. Hoje a partir de muitas pesquisas eestudos realizados, podemos compreender que como a sociedade burguesa ena Europa produziu uma determinada visão da infância, também outrascondições sociais, econômicas e histórias produzirão outros significados paraa infância. A particularidade infantil precisa ser entendida, então, a partir dasociedade na qual a criança está inserida e das relações que adultos ecrianças estabelecem entre si (LOPES ET AL. 2005, p.14).

Assim as crianças foram sendo alvos de ações específicas voltadas para a sua faixa

etária, entrando ai o brinquedo como objetivo infantil. Até aqui os brinquedos eram

confeccionados artesanalmente e a partir do século XIX, com a revolução industrial, deixa de

ser um processo doméstico de produção, passando a ser comercializado, acompanhando a

imagem de seu tempo, as condições históricas e sociais.

Ao brincar a criança estabelece regras e comportamentos que são compartilhados,

formando assim a cultura lúdica a partir dos significados que ela confere às suas ações, se

socializando e compartilhando brincadeiras.

VYGOTSKY (2000) salienta que a brincadeira atende a necessidade da criança,

agindo como motivação na sua ação sobre o mundo, embora nem toda necessidade venha a

gerar uma brincadeira, pois ela se estabelece a partir do que só pode ser realizado na

imaginação. Assim, brincando a criança cria uma situação imaginária que atende sua

necessidade. As respostas são encontradas no próprio conhecimento que ela tem de mundo,

desta forma a brincadeira traz a própria cultura que ela já possui, gerando regras para brincar.

De acordo com VYGOTSKY (2000), a ação imaginária, a criação das intenções

voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações que envolvem os desejos, está

tudo no brinquedo. Ele entende que a brincadeira cria uma zona de desenvolvimento

proximal, pois ao brincar a criança se coloca numa situação daquilo que ela ainda não é,

podendo saber e usar coisas que lhe são proibidas.

De acordo com WAJSKOP (1999), com o rompimento da educação tradicionalista

alguns pedagogos, como Frederich Froebel (1782-1852), Maria Montessori (1870-1909) e

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Ovide Decroly (1871-1932), contribuíram para uma educação própria para as crianças,

considerando-as em seu desenvolvimento próprio, com necessidade de experimentar o

mundo, passando assim a serem respeitadas e compreendidas como seres ativos, tanto no

Brasil, como em outros países, o que segundo a autora, esses pedagogos inauguraram um

período histórico em superação a concepção tradicional.

Segundo a fala da autora percebe-se que o lúdico, ou seja, as brincadeiras e jogos

foram implantados como elemento de sedução e que algumas instituições ainda os encaram

desta forma.

A criança que brinca pode adentrar o mundo do trabalho pela via derepresentação e experimentação; o espaço da instituição deve ser um espaçode vida e interação, e os materiais fornecidos para as crianças podem seruma das variáveis fundamentais que auxiliam a construir e a apropriar-se doconhecimento universal (WAJSKOP, 1999, p.27).

Nota-se que ainda há muito para se fazer no tocante ao assunto em questão, pois a

ludicidade não deve ser apenas um mecanismo de incentivo, mas também um meio de

desenvolvimento da criança como um todo, onde possa sugerir temas a serem desenvolvidos,

escolhendo o que brincar e estabelecer regras, de maneira que possam construir seu próprio

conhecimento.

O brincar no mundo contemporâneo e o papel do professor

Ultimamente a brincadeira tem sido defendida como meio de interagir com a

realidade onde a criança vive, unindo-a a educação, o que ainda amedronta muitos educadores

que em sua formação não foram preparados para compreender a brincadeira desta forma, mas

é necessário valorizá-la como recurso pedagógico, utilizando-a de maneira correta na

educação infantil. O profissional que lida com a criança nesta faixa etária, necessita entender

que o brincar é uma perspectiva sociocultural, oportunizando experiências livres, para que

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desperte habilidades preciosas para o desenvolvimento, podendo propiciar momentos de

descobertas sobre si própria e sobre o mundo, pelo simples fato de brincar.

Assim como em outros países, a Educação no Brasil vem atravessando vários

momentos de mudanças na tentativa de melhorar o ensino. Observa-se também divergências a

respeito do atendimento a crianças pequenas e sua finalidade social.

Atualmente a Educação Infantil perdeu o caráter assistencialista. A Lei de Diretrizes

e Bases da Educação n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, apresenta grande progresso no

que se refere a crianças de 0 a 6 anos. De acordo com artigo n.º 29 a Educação Infantil tem o

objetivo de desenvolver integralmente nas crianças desta faixa etária, seu aspecto físico,

psicológico, intelectual e social, completando a ação da família e da comunidade.

Em auxílio ao trabalho do educador, o Ministério de Educação e Cultura (MEC)

formulou o “Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil” (RCNEI), com base

para a produção pedagógica, planejamentos e avaliação da instituição infantil.

Estes volumes pretendem contribuir para o planejamento, desenvolvimento eavaliação de práticas educativas que considerem a pluralidade e diversidadeétnica, religiosa, de gênero social e cultural das crianças brasileiras,favorecendo a construção de propostas educativas que respondam àsdemandas das crianças, de seus familiares nas diferentes regiões do país(BRASIL, 1998, apresentação p.7).

O RCNEI é constituído de três livros: o 1º introdutório, o 2º formação social e o 3º

conhecimento de mundo.

O volume II do RCNEI orienta-nos quanto ao desenvolvimento das capacidades de

natureza global e afetiva, os esquemas simbólicos de interação da criança com o meio e

consigo mesma, deixando clara a importância sobre o trabalho com jogos e brincadeiras para

o bom desenvolvimento na Educação Infantil.

O jogo vem associado aos estudos como forma de prazer desde Platão e Aristóteles,

sofrendo decadência mais tarde, pois foi considerado como fuga ou apenas recreação.

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Comenius (1593), Rosseau (1712) e Pestalozzi (1746), valorizam a brincadeira

infantil como comportamento verdadeiro e natural, isolado do contexto escolar. Rosseau

utilizou o brinquedo educativo na França para estudar deficientes mentais e, mais tarde,

também se fez válido a crianças normais.

No Brasil, a criança também foi diferenciada do adulto em função da brincadeira.

Através dos pensamentos froebeliano, montessoriano e decrolyano, nos anos de 1970, com a

implantação da “Escola Nova” foram inseridos brinquedos pedagógicos e métodos lúdicos,

com fins em si mesmos, descontextualizados do processo cognitivo somente para facilitar o

trabalho do educador na transmissão de determinada visão de mundo, apenas como

brincadeira, sem vínculo ao conteúdo didático. Hoje a brincadeira tem vestido uma nova

roupagem vendo nos jogos pedagógicos o prazer em decifrar enigmas da vida.

Mesmo concordando com Piaget, que na idade entre 3 a 6 anos uma criança pode

desenvolver a aprendizagem significativa, Antunes (2002), acredita que ele tenha subestimado

um pouco a capacidade da criança nesta fase. O autor destaca que é preciso a estimulação

através de jogos para reforçar a idéia de símbolos.

É primordial que a Educação Infantil seja plena de brincadeiras, possibilitando o

despertar da imaginação e o domínio de habilidades, estimulando a cooperação e a

compreensão sobre regras e limites de maneira a explorar os inúmeros saberes que a criança

traz quando chega à escola.

Nota-se que quando a criança entra na escola, a compreensão das coisas é construída

a partir da ação concreta no seu meio, podendo se caracterizar pela exploração do ambiente,

modificação dos elementos que constituem esse meio através de jogos e brincadeiras, pois

mobiliza possibilidades afetivas e intelectuais para sua realização.

É importante que as atividades por meio de brincadeiras e jogos sejam realizadas a

fim de proporcionar a interação dos alunos com outras crianças, visto que elas aprendem

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muito umas com as outras, sendo necessário o trabalho em grupos, o que oportuniza o

confronto de opiniões e pontos de vista, informações, negociação e argumentação para chegar

a um acordo.

O jogo é excelente recurso pedagógico em atividades de leitura e escrita, matemática

e outras disciplinas, devendo ser utilizado de forma adequada e no momento oportuno,

PINTO; LIMA (2000) cita algumas vantagens de se usar o jogo:

Melhorar a socialização entre os alunos Permitir a criança a ser menos egocêntrica. Viver situações de competição e colaboração. Desenvolver a capacidade de observação, comparando diferenças e

semelhanças. Aprender com mais facilidade de modo geral. Apresentar algo desafiador para as criança resolverem. Aprender a trabalhar em grupo, respeitando o outro. Conseguir objetivos mais amplos de educação infantil (ibid, p.6).

Segundo a autora o jogo pode colaborar com a área sócio-afetiva, diminuindo o

egocentrismo, proporcionando momentos de colaboração, competição e oposição, ensinando

também o conhecimento de regras e o respeito ao companheiro, melhorando o contato social.

Já na área cognitiva, o jogo oportuniza a elaboração de estruturas como: “ordenação,

classificação, estruturação de tempo e espaço, primeiros elementos de lógica através da

resolução de problemas simples, procurando estratégias para vencer o colega” (ibid p.7).

Auxilia também a comunicação e expressão, quando explica regras, contesta ou comenta fases

do jogo.

Na área motora, o jogo permite à criança oportunidade para criar e montar,

desafiando a se ultrapassar pelo auto desafio, melhorando suas habilidades.

É através dos jogos que as crianças desenvolvem seu raciocínio, construindo seu

conhecimento de maneira descontraída e prazerosa a criança vai atingindo novas descobertas.

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O jogo não é apenas disputa, competição ou fruto da imaginação, e sim parte do cotidiano

infantil, canalizando a comunicação com o mundo adulto.

O jogo tem como essência a ludicidade e deve ser atividade espontânea e criativa,

onde a cooperação é mais importante que a competição. Nesse processo, o professor necessita

ser o provocador da participação coletiva, despertando o espírito de companheirismo e

cooperação.

Para proporcionar o desenvolvimento da autonomia, é preciso incluir atividades que

favoreçam a troca de sugestões e opiniões das questões, onde o professor deverá diminuir seu

poder de mando, incentivar e desafiar os alunos, criando ambiente que propicie o

desenvolvimento do pensamento crítico e a tomada de decisões.

Hoje, a idéia é de um ensino despertado pelo interesse do aluno, onde o professor

passa a ser um gerador de situações estimuladoras e eficazes. É nesse contexto que o jogo

ganha seu espaço, propondo estímulos ao aluno, ajudando-o em novas descobertas,

enriquecendo sua personalidade.

Atualmente, a “brincadeira, o jogo pedagógico”, é considerado como uma atividade

que contém em si o mesmo objetivo de decifrar os enigmas da vida, construindo momentos de

entusiasmos e alegria.

A brincadeira infantil está relacionada a estímulos internos e atrai a criança pela

chama da evolução, permitindo-lhe satisfazer a necessidade gerada pelo seu crescimento.

Nenhuma criança é uma esponja passiva que absorve o que lhe éapresentado. Ao contrário, modelam ativamente seu próprio ambiente e setornam agentes de seu processo de crescimento e das forças ambientais queelas mesmas ajudam a formar. Em síntese, o ambiente e a educação fluem domundo externo para a criança e da própria criança para seu mundo(ANTUNES, 2002, p.31).

É no brincar que a criança une seu conhecimento prévio com o novo, formando

assim novas idéias, modelando seu processo de crescimento.

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Segundo Wajskop (1997), o brincar vem atravessando várias fases, desde o brincar

como recreação sem objetivo escolar, até hoje, onde se defende a idéia de que a brincadeira

deve estar vinculada à função pedagógica da pré-escola, de maneira a interagir com as

crianças de diferentes histórias de vida em nossa sociedade. Isso possibilita assim a

construção da identidade infantil autônoma, cooperando e criando de forma a adentrar ao

mundo do trabalho pela representação e experimentação, mas esta concepção é prática nova e

ameaçadora para a maioria dos professores que foram acostumados com exercícios motores

de treinos de habilidades e funções cognitivas específicas.

O educador que realiza seu trabalho pedagógico na perspectiva lúdicaobserva as crianças brincando e faz disso ocasião para reelaborar suashipóteses e definir novas propostas de trabalho. Não se sente culpado poresse tempo que passa observando e refletindo sobre o que está acontecendoem sua sala de aula (MOYLES, 2008, apud. FORTUNA, Revista Pátio2003/2004, p.9).

A unidade fundamental da brincadeira é o papel que é assumido pelas crianças e que

revela e possibilita, ao mesmo tempo, o desenvolvimento das regras e da imaginação através

de gestos e ações significativas. Brincando podem construir relações reais, elaborar regras de

organização e convivência, podendo modificar situações de acordo com suas necessidades,

construindo assim, a consciência da realidade.

De acordo com Vigotsky o brincar:

(...) cria na criança uma nova forma de desejos a um “eu” fictício, ao seupapel na brincadeira e suas regras. Dessa maneira, as maiores aquisições deuma criança são conseguidas no brinquedo, aquisição que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade (apud Wajskop, 1984,p.114).

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Wajskop (1984) vê o professor como figura fundamental para que a brincadeira seja

aplicada de maneira a criar espaços, oferecendo materiais e participação adequada com as

crianças na Educação Infantil. Entretanto, em suas pesquisas pôde perceber que a formação

dos professores não oferece ainda condições para perfeita realização do assunto em questão.

Erickson afirma que (...) “a identidade de uma pessoa e de um povo começa nos

rituais da infância” (Erickson apud Pereira, 2002, p.7).

O autor destaca a importância da brincadeira como algo que está inserido em nossas

vidas, e na educação deve ser utilizada como instrumento pedagógico.

O universo infantil está presente em cada um de nós. As experiências na infância,

sejam boas ou más, deixam marcas em nossas vidas. Brinquedos e brincadeiras também

integram essas experiências.

As crianças trazem consigo a curiosidade, o querer aprender. O Brincar alimenta o

espírito imaginativo, explorativo e inventivo do faz de conta, o que chamamos de lúdico. Em

todo brinquedo existe um campo no tempo e no espaço, para que aconteça diferentemente do

tempo e do espaço que vive normalmente. Porém, brincar não é algo fora da vida, é algo dela

também, onde existe alegria, tristeza, calma, tensão e todos os sentimentos que nos envolvem.

A psicologia cuida dos significados da brincadeira na formação da pessoa, a

antropologia e a sociologia observam os conteúdos presentes numa brincadeira que mostram a

organização de uma cultura, expondo mitos, ritos, relações de autoridade, dentre muitos

outros aspectos. Já na educação, a brincadeira tem sido alvo de muitos estudos,

principalmente como instrumento pedagógico.

Pereira (2002) acredita que a atividade lúdica não pode ser exercida para chegar a um

resultado prévio e determinado, pois o brincar deve levar o brincante a desenvolver sua

própria capacidade de descoberta e imaginação, podendo o professor intervir de maneira

adequada, onde uma proposta poderá vir a ser transformada em brincadeira.

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Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento daidentidade e autonomia. O fato de a criança desde muito cedo, poder secomunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinadopapel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nasbrincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidadesimportantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação.Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio dainteração e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais (Brasil,1988, v.2, p.22).

Para trazer o brincar ao espaço educativo, o educador precisa estar em constante

inquietação e reflexão, buscando redescobrir em si mesmo o gosto pelo fazer lúdico,

ampliando o repertório de brinquedos, e estar sempre atento ao momento certo para colocá-los

em prática.

Pereira (2002), fala das lembranças que trazemos da infância, dentre elas, o brincar,

que alimenta o faz de conta. De acordo com o autor, o brinquedo é uma maneira de realizar

desejos impossíveis de serem concretizados na prática. No ato de brincar a criança se

subordina às regras onde suas ações são caracterizadas pelo que representa.

Sempre que há uma situação imaginária no brinquedo, há regras; não asregras previamente formuladas e que mudam durante o jogo, mas aquela quetem a sua origem na própria situação imaginária. Portanto, a noção de queuma criança pode se comportar em uma situação imaginária sem regras ésimplesmente incorreta (Vygopsky apud Pereira, 2002, p.8).

O brincar é uma preparação para a vida adulta, oportunizando o desenvolvimento das

potencialidades. Jogos e brincadeiras favorecem o desenvolvimento de atitudes e habilidades,

onde o papel do aluno centra-se nas atividades de observação, relacionamento, cooperação,

levantamento de hipóteses e argumentação. A importância do uso dos jogos está ligada

também ao desenvolvimento de atitudes de convívio social, ajudando superar o egocentrismo.

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Além de proporcionar prazer e diversão, o jogo pode representar um desafio provocando o

pensamento reflexivo do aluno.

Vigotsky (apud Wajskop, 1984), afirma que mesmo numa situação imaginária, a

criança utiliza-se de regras. Pereira (2002) comenta que o brincante desenvolve suas próprias

descobertas e imaginações. Antunes (2002), diz que a criança modela seu ambiente tornando

se agente do seu próprio crescimento. É natural então, acreditar que o lúdico é o início da

formação de um indivíduo reflexivo e capaz de conviver de maneira integral numa sociedade.

Acredita-se que realmente o brincar e o jogar podem contribuir não somente no aprendizado

pedagógico, mas também na formação de identidade e autonomia de um indivíduo.

O faz de conta oportuniza a liberdade de ação das crianças, trocando os papéis, ora é

filha, ora é mãe. Essas histórias são cheias de situações em que os conflitos e medos são

resolvidos, desta forma à medida que trabalha emoções, resolvem também conflitos, se

conhecendo, conhecendo o outro e se inserindo no meio em que está constituindo sua

individualidade, fazendo escolhas, participando e contribuindo com o grupo.

Graças ao faz-de-conta, a criança pode imagina,r imitar, criar ou jogarsimbolicamente e, assim, pouco a pouco, vai reconstituindo em esquemasverbais ou simbólicos tudo aquilo que desenvolveu em seu primeiro ousegundo ano de vida com isso pode ampliar seu mundo, estendendo ouaprofundando seus conhecimentos pára além de seu próprio corpo; podeencurtar tempos, alargar espaços, substituir objetos, criar acontecimentos(MACEDO, Revista Pátio, dez 2003/mar 2004, p.12).

A ludicidade vem conquistando espaço principalmente na educação infantil, mas

percebe-se ainda que as atividades lúdicas são pouco exploradas, basta levar em conta que o

professor apresenta em seu fazer pedagógico a hora de ensinar e a hora de brincar, como se

não fosse possível ensinar brincando.

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Nota-se que o âmbito educacional não pode ser considerado uma área geradora dos

avanços científicos, pois as mudanças ocorridas não reverteram o processo como um todo. Por

mais que tenham ocorrido evoluções, é comum ainda encontrarmos instituições educacionais

que consideram a idéia do conhecimento sob uma ótica de repetição, cristalizando o

conhecimento.

Educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho,aquele caminho que o professor considera correto, mas é ajudar a pessoa atomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade. É aceitar-se comopessoa e saber aceitar os outros. É oferecer várias ferramentas para que apessoa possa escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível comseus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cadaum irá encontrar. Educar é preparar para a vida (SANTOS, 1997 p.11).

Na fala da autora pose-se perceber que educar é algo bem mais complexo e talvez

mais simples do que a educação convencional pregava num ensino pautado na repetição de

conhecimentos pregados pelo educador, como senhor absoluto do saber.

SANTOS (1997) acredita que no processo educativo a interação afetiva tem o papel

mais importante para ajudar a compreender e modificar as pessoas do que um raciocínio

brilhante, porém, mecânico. É ai que entra as atividades lúdicas no processo do

desenvolvimento humano.

A autora ressalta ainda a questão da formação dos profissionais da educação,

comentando que apesar das críticas que os cursos de licenciatura têm recebido, os egressos

continuam despreparados para atender as necessidades das escolas, especialmente quando se

trata de compreender a criança como um ser histórico com capacidade de construir seu

próprio conhecimento.

Fazendo um paralelo entre um quebra-cabeça e a formação do educador,pode-se afirmar que, enquanto o primeiro se completa com o encaixe de

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todas as peças, o segundo jamais se completará, pois a formação profissionalnão se acaba com o término de um curso, sempre faltará a peça seguinte(ibid, p.13).

Entende-se então que o educador não está pronto ao sair do curso de licenciatura

onde a preocupação maior é a formação teórica e pedagógica. Ele deve sim entender a

educação como um processo historicamente produzido, onde ele atua como agente, não

somente para informar, como também propiciar a criança a encontrar sua própria identidade.

Nesse sentido é necessário levar em conta a ludicidade como alavanca da educação,

pois o desenvolvimento do aspecto lúdico segundo SANTOS (1997), “facilita a

aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora com uma boa saúde

mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização,

comunicação, expressão e construção do conhecimento” (ibid, p.12).

Seria interessante, portanto, que o lúdico fosse implantado nos cursos de licenciatura,

assim os profissionais teriam oportunidade de se familiarizar com os jogos e brincadeiras e

por conseqüência entender a importância dos mesmos na formação das crianças, jovens e

adultos, pois quanto mais o adulto vivenciar a ludicidade, mais chance terá de trabalhar de

forma prazerosa.

Embora aceitando o valor do brincar seja difícil para os professores envolvidos no

cotidiano da educação infantil extrair substâncias pragmáticas e teóricas capazes de convencê-

los da importância real dos jogos e das brincadeiras em sua prática diária. Normalmente o

brincar fica a escolha do aluno ao terminar suas atividades em sala de aula.

OLIVEIRA (2000) comenta que a criança especialmente na escola possui

dificuldades de se expressar devido a constrangimentos temporais e interpessoais e a

brincadeira permite que o professor encontre outros problemas observando seu

comportamento.

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O professor necessita proporcionar situações de brincar livre e dirigido que busquem

atender as necessidades de aprendizagem das crianças, agindo como mediador e tentando

diagnosticar o que o aluno aprendeu abrindo espaço para o desenvolvimento de um novo ciclo

de aprendizagem.

A criança e o processo de socialização.

Após seu nascimento a primeira relação socializadora da criança é realizada em seu

grupo familiar, se estendendo mais tarde a outros grupos como escola, amigos entre outros,

onde ela se apropriará do mundo social por meio de normas, valores e representações.

A partir daí a criança passa por diversas etapas físicas, mentais, sociais e emocionais,

que influenciarão na formação e desenvolvimento de sua personalidade, que o tornará em

individuo único.

Segundo PINTO (2000), é nos primeiros cinco anos que a criança começa socializar-

se, saindo do egocentrismo, aprendendo a conviver em grupo e a interagir com outras crianças

e adultos.

De 1 a 2 anos o indivíduo necessita de domínio de si e do meio ambiente, de

autonomia e atividade, embora seja limitada pelo adulto. Nessa etapa a criança fala, mexe e

age quase todo o tempo, por isso é interessante que lhe seja oferecido objetos que ela possa

brincar, sacudir, jogar e morder, estimulando-a sem corrigi-la.

Já na fase de 2 a 3 anos de acordo com o autor, o menor explora o mundo ao seu

redor através do próprio corpo, explorando o espaço. Ao subir, descer, pular, entrar e sair de

pequenos lugares vai desenvolvendo a noção de espaço e tempo, também constrói conceitos

por meio de experiências com o meio físico e social, construindo assim o conhecimento do

mundo em que vive.

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Nesta etapa a criança deve ser exposta a brincadeiras cativantes, em atividades livres

e orientadas, baseadas em experiências e vivências com o próprio corpo, num espaço amplo e

material concreto.

Dos 3 aos 4 anos a criança apresenta muita energia e embora já brinque em grupos de

três ou quatro ela é egocêntrica, pois possui o mesmo interesse em comum. Gosta de

escorregador, balanços, gangorras, jogos de imitação, cantigas, jogos de encaixes.

O grupo social da criança é ampliado entre 4 e 5 anos e seus interesses estão voltados

para os amigos. Desenvolve maior atenção e memória, preferem jogos com regras,

brincadeiras em grupo, independentes do adulto. Aos 5 anos usa a imaginação e a criatividade

nos jogos, criando regras novas.

Na brincadeira infantil, a criança revive alegrias, medos, conflitos, transformando a

realidade naquilo que deseja, internalizando regras de conduta, desenvolvendo valores que

possam orientar seu comportamento.

Percebe-se que o brincar é importante na vida da criança e assim como o alimento e

o afeto, a brincadeira deve fazer parte de sua vida desde cedo. Desta forma a criança aumenta

sua capacidade de expressar sentimentos desejos e emoções, descobrindo seu próprio corpo e

como utilizá-lo, o que causa desafios e dúvidas ao professor.

Para a maioria das crianças a entrada na instituição de Educação Infantil é o primeiro

contato mais sistemático com as pessoas fora do seu ambiente familiar, por isso o ambiente

deve estar preparado para recebê-las de forma acolhedora e prazerosa, com muitos recursos e

materiais. Nesta fase a brincadeira permite que a criança crie, invente, imita e muda a

brincadeira sempre que achar necessário.

Observando o desenvolvimento das infâncias, percebe-se as mudanças no decorrer

dos tempos. ARIES (1981) traz muitas formas de como as crianças já foram tratadas;

miniadultos, só mulheres podiam cuidar e educar as crianças, conhecimento administrado por

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adultos, bebês imóveis, enrolados entre outros. Atualmente a criança é parte de uma sociedade

em movimento e é respeitada em seus interesses e curiosidades.

O papel da escola é fundamental na vida das crianças, pois cada vez mais os pais

necessitam trabalhar, por isso aumenta a responsabilidade do setor educativo, uma vez que a

criança passa maior parte do seu tempo dentro dos mesmos. É necessário oferecer situações

de aprendizagem que sejam significativas para que seu desenvolvimento ocorra de forma

agradável e saudável.

Num passado não muito distante a criança de zero a três anos, era atendida sem olhar

pedagógico, somente para suprir necessidades de higiene, alimentação e cuidados em geral. A

nova concepção de infância leva a sociedade a ressignificar a educação infantil, seja em

creches de zero a três anos ou em pré-escolas de quatro a seis, tornando simultâneos e

indissociáveis o cuidado e a educação.

Neste olhar voltado à criança como um ser em construção, o educador necessita estar

preocupado com a qualidade do momento do brincar, verificando que relações estão presentes

entre adulto e criança; quais espaços estão sendo utilizados; se os materiais estão sendo

adequados, se fornecem segurança aos pequenos e principalmente proporcionar momentos de

desafios ao seu desenvolvimento.

A implantação do jogo e do brinquedo como fator de desenvolvimento na educação

infantil, ampliou estudos e pesquisas e dentre as contribuições SANTOS (1997), destaca

algumas:

- as atividades lúdicas possibilitam fomentar a “rosiliência”, pois permitem aformação do autoconceito positivo;- as atividades lúdicas possibilitam o desenvolvimento integral da criança, jáque através destas atividades a criança se desenvolve afetivamente, convivesocialmente e opera mentalmente;- o brinquedo e o jogo são produtos de cultura e seus usos permitem ainserção da criança na sociedade;- brincar é uma necessidade básica assim como é a nutrição a saúde, ahabilitação e a educação;

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- brincar ajuda a criança no seu desenvolvimento, físico, afetivo, intelectuale social, pois através das atividades lúdicas a criança forma conceitos,relaciona idéias, estabelece relações lógicas, desenvolve a expressão oral ecorporal, reforça habilidades sociais, reduz a agressividade, integra-se nasociedade e constrói seu próprio conhecimento;- o jogo é essencial para a saúde física e mental;- o jogo simbólico permite à criança vivências do mundo adulto e istopossibilita a mediação entre o real e o imaginário (ibid p.20).

Entende-se então que é impossível que o educador na instituição infantil esteja alheio

a todas as contribuições que brincadeiras e jogos exercem no desenvolvimento de uma criança

no espaço educativo.

Pode-se notar que aplicar brincadeiras e jogos na educação infantil é um meio de

estimular, analisar e avaliar aprendizagens específicas, competências e potencialidades das

crianças envolvidas.

O brincar espontâneo permite que o educador registre ações lúdicas por meio da

observação, registro, análise e tratamento. É possível também fazer um mapeamento da

criança em sua trajetória lúdica enquanto brinca, oportunizando melhor entendimento de suas

ações, podendo intervir e diagnosticar idéias, valores, necessidades, estágio de

desenvolvimento comportamentos, conflitos, problemas entre outros.

Desta forma pode-se definir criteriosamente ações mais adequadas para cada criança

envolvida, respeitando a singularidade de cada ser humano.

O brincar dirigido tem o propósito de promover acesso a aprendizagens de

conhecimentos específicos nas disciplinas envolvidas, podendo propor desafios a partir da

escolha de jogos e brinquedos determinados pelo educador.

Para ALMEIDA (1987), a ludicidade pode ter duas consequências na mão de um

professor: o professor despreparado pode transformar a brincadeira em uma arma capaz de

mutilar tanto o sentido da proposta, como também negar o próprio ato de educar; já o

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professor competente pode transformar o lúdico num instrumento capaz de unificar, libertar e

transformar as condições em que o educando se encontra.

A esperança de uma criança ao caminhar para a escola é encontrar umamigo, um guia, um animador, um líder-alguém muito consciente e que sepreocupe com ela e que a faça pensar, tomar consciência de si e do mundo eque seja capaz de dar-lhe as mãos para construir com ela uma nova história euma sociedade melhor (ibid, p. 195).

Explorar o universo infantil exige que o educador tenha conhecimento teórico e

prático e que seja capaz de observar, entender e acima de tudo amar.

É preciso valorizar as atividades das crianças, mostrar interesse por elas, animando-

as pelo esforço, evitar a competição, brincar junto das mesmas estimulando sua imaginação.

O momento da brincadeira deve ter a participação do professor, observando o que estão

fazendo, buscando refletir e perceber seu desenvolvimento, de forma que possa acompanhar

sua evolução, suas novas aquisições e as relações com seus pares.

Para se desenvolver, portanto, as crianças precisam aprender com os outros,por meio dos vínculos que estabelece. Se as aprendizagens acontecem nainteração com as outras pessoas, sejam elas adultos ou crianças, elas tambémdependem dos recursos de cada criança. Dentre os recursos que as criançasutilizam, destacam-se a imitação, o faz de conta, a oposição, a linguagem eapropriação da imagem corporal (BRASIL, 1988, v.2, p.21)

Quanto à imitação o RCNEI classifica que, desde muito pequena a criança se esforça

para reproduzir gestos e sons produzidos pelas pessoas de seu convívio o que serve de

comunicação com os demais e também para brincar com outras crianças. A imitação é então o

resultado de sua capacidade de observação aprendendo com seus pares, sendo aceita ou

diferenciando-se, o que propicia a construção de sua identidade e oferecer muitos brinquedos

facilitará melhor sua interação.

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Brincando a criança desenvolverá sua identidade e autonomia. É no faz de conta que

ela imita, usando a fantasia e a imaginação, elementos fundamentais para que a criança

aprenda mais sobre ela e sobre os outros. Ao repetir àquilo que já conhece a criança ativa a

memória sendo capaz de transformar por meio da criação uma nova situação, tornando-se

autor de seus papéis. Repetindo situações imaginárias, a criança internaliza e elabora emoções

e sentimentos, o que propicia o desenvolvimento de moral e justiça.

Ainda de acordo com RCNEI, a oposição também contribui para a formação do

sujeito, pois desta forma estará afirmando seu ponto de vista. Mesmo sendo difícil para o

adulto, ele necessita entender que quando uma criança briga por um brinquedo ela está

diferenciando e afirmando o “eu”.

O brincar é importante também para a formação da linguagem, pois é na interação

social que as crianças se inserem nela, sendo significadas pelo outro e partilhando

significados. Explorando o contanto físico com outros colegas a criança comunica-se também

pela linguagem corporal.

O brincar é apresentado de muitas formas na educação infantil.

A música na educação infantil mantém forte ligação com o brincar. Emalgumas línguas, como no inglês (to play) e no francês (jouer), por exemplo,usa-se o mesmo verbo para indicar tanto as ações de brincar quanto as detocar música. Em todas as culturas as crianças brincam com a música(BRASIL, 1988, v.3, p. 70).

Trabalhar as estruturas e formas musicais é uma forma de estabelecer contato

consigo mesmo e com o outro. Desde muito cedo a criança é envolvida com a música, nos

cânticos de acalanto, nos de animação à criança, nas parlendas, nas canções de roda, nas

adivinhas entre outras.

A pré-escola pode-se apropriar das parlendas como trava-linguas (pronúncia difícil),

as mnemônicas (uma, duna, tena...) fixando número ou nomes; as brincadeiras de roda

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(poesia, música, dança) influências de várias culturas. Tudo isso são jogos que possibilitam a

questões ligadas às características dos sons, o silêncio e a música, permitindo o

desenvolvimento de habilidades, atitudes e conceitos da linguagem musical.

Percebe-se que o brincar envolve várias facetas e que o profissional de educação

infantil quando bem preparado pode lançar mão de muitos recursos ligados a brincadeiras e

jogos que podem proporcionar excelente desenvolvimento em seus alunos.

A brinquedoteca

A brinquedoteca é o espaço criado com o intuito de proporcionar estímulos para que

a criança brinque livremente. Surgiu nos anos 80, uma idéia nova que enfrenta dificuldades

não somente para se impor como instituição educacional, mas também para conseguir

sobreviver economicamente.

Foi através da brinquedoteca que o brincar assumiu características próprias e seu

papel dentro do campo da educação cresceu e podemos afirmar que ela é um agente

modificador no campo educacional. Ela é testemunho vivo da valorização da ludicidade na

instituição infantil.

É neste espaço que a criança pode brincar sem cobranças, desenvolvendo sua

criatividade, expandindo seu potencial, sua inteligência e sociabilidade. O acesso a um

número maior de brinquedos proporciona novas experiências e descobertas, incentivando seu

desenvolvimento intelectual, emocional e social. Levando em conta a valorização da atividade

lúdica, respeitando as necessidades afetivas da criança, diminuindo a opressão do ensino

extremamente rígido.

É necessário, portanto que o professor seja na brinquedoteca um brinquedista

preocupado com a felicidade e o desenvolvimento emocional, social e intelectual de seus

alunos, tirando máximo aproveitamento nas inferências e observações feitas no espaço da

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brinquedoteca com o objetivo de ampliar o desenvolvimento educativo da criança,

oportunizando experiências em diferentes situações para diversos propósitos.

Ludicidade Auxiliadora

Em SANTOS (1997), pode-se constatar pontos importante onde o jogo pode atuar

como auxiliador em sala de aula como:

Sexualidade

Existem diferentes maneiras de se definir a sexualidade, podendo ser o conjunto dos

fenômenos da vida sexual como explica o dicionário, ou fatores que envolvem as diferenças

sociais entre o sexo feminino e o masculino.

Segundo SILVEIRA (apud SANTOS 1997), a sexualidade:

Pode ser considerado um nome que se pode dar a um dispositivo histórico:não à realidade subterrânea que se aprende com dificuldade, mas à granderede de superfície, em que a estimulação dos corpos, a intensificação dosprazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforçodos controles e das resistências encadeiam-se uns aos outros segundoalgumas grandes estratégias de saber e poder (ibid p.29).

Percebe-se diferentes enfoques na definição da sexualidade e a escola deve ser um

espaço para tratar deste assunto. Segundo a autora o professor de educação infantil deve ser

capacitado para identificar e saber se comportar diante os assuntos ligados ao sexo.

E é ai que o jogo pode ser um grande aliado do professor, desde que se crie um

ambiente de descontração, onde a liberdade de expressão possa ser gerada. Salienta ainda que

o jogo não deve ser o único recurso para lidar com o tema sexualidade, mas pode servir como

introdutor ou atividade final, o que permitirá a avaliação dos conhecimentos e o

posicionamento dos alunos.

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Alfabetização

BOLZAN (apud SANTOS 1997) acredita que a alfabetização está fundamentada na

visão de “homem e sociedade”, o que determina um processo de múltiplas dimensões

promovendo o individuo num ser social ativo na interação com seus pares.

Atualmente encara-se a alfabetização como o momento que se constrói estruturas,

onde o indivíduo procura encaixar novas informações, na formulação de hipóteses, colocando

à prova antecipações de maneira a compreender a representação da linguagem no sistema de

escrita e seu uso social.

É então através da interação com seus pares que a criança consolida e constrói suas

concepções por meio de suas experiências, ampliando seu conhecimento.

Nota-se que a alfabetização não deve ser mais encarada como um processo de

decodificação mecânica, mas sim um processo de construção permanente, o que aponta a

grande necessidade de redimensionamento no fazer cotidiano do professor, valorizando assim

as construções e reconstruções, em momentos ricos e desafiadores.

É ai que o lúdico entra, com o objetivo de construir na sua “reflexão-ação-reflexão”.

A capacidade de desafio que o jogo apresenta fará com que os participantes reorganizem seus

referenciais e construa novas idéias. O material oferecido deve ser afirmativo em

problematização, subsídios e contradições, com o intuito de contribuição para superar o tema

proposto.

Conclusão

Como vimos o brincar e jogar agem como estímulo para uma aprendizagem

significativa, propiciando maior interação entre as crianças, atraídas pelo prazer.

Assim, uma ação pedagógica apresentada através do lúdico permitirá que a criança

aprenda de maneira prazerosa não somente num conteúdo escolar proposto pelo professor,

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mas também a vivência de momentos e situações nos jogos e brincadeiras que possam

prepará-la para uma vida futura, pois no dia-a-dia experimentamos o gosto da vitória, da

derrota, da investigação, do imitar e o tentar novamente a cada vez que não formos bem

sucedidos e o jogo propõe essa experiência.

Os estudos aqui realizados nos convidam a repensar novas alternativas no campo da

ludicidade, de forma que sejam vistas como coisas sérias e necessárias no fazer pedagógico.

Implantar o jogo e a brincadeira na educação infantil como elemento dinâmico de

uma proposta pedagógica, exige no mínimo que o profissional em questão tenha pesquisado e

vivenciado a ludicidade em seus estudos acadêmicos. Torna-se necessário que os currículos

sejam revistos tendo como alvo uma visão de criança onde o jogo e o brinquedo sejam vistos

e trabalhados como desenvolvimento e aprendizagem.

Pensar na brincadeira e nos jogos como suporte pedagógico necessita que o

profissional da educação infantil tenha o brincar não somente como essência de diversão, mas

como algo de fundamental importância e que quando bem observado em suas muitas facetas

possa dar-lhe diagnósticos de desenvolvimento e aprendizagem para a construção de

identidade e autonomia a fim de ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicação

e interação social.

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