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Introdução
A ludicidade vem ganhando terreno no espaço educacional, principalmente na
educação infantil. Sendo o brincar a essência da infância e seu uso permitir um trabalho
pedagógico é que brincadeiras e jogos vem cada vez mais se associando ao processo
cognitivo, auxiliando a criança em suas novas descobertas de maneira prazerosa.
O presente texto tem por objetivo ressaltar algumas contribuições importantes que
jogos e brincadeiras podem oferecer na exploração dos saberes que a criança traz consigo
quando chega a escola, de maneira a despertar a imaginação, criando habilidades e
cooperação, mostrando que o brincar, vinculado à função pedagógica da pré escola,
possibilitará maior interação de crianças de diferentes histórias de vida, contribuindo assim
para a construção de sua identidade de maneira prazerosa.
Este trabalho é produto de estudos e análises de livros que mostram a valorização
que o “brincar e jogar” vem ganhando na caminhada pela conquista de condições concretas
para uma educação qualitativa. Pretende-se por em evidência que essa temática vem aliada ao
faz-de-conta, o que apresenta grande familiaridade com a criança, podendo assim, serem
utilizados pelos educadores como ponto de partida para a elaboração e organização de
convivência no papel social.
Partimos de um breve histórico sobre alguns aspectos diferenciados que a
organização da educação vem experimentando a partir dos trabalhos de Comênius (1593),
Rosseau (1712) e Pestalozzi (1756) e em seguida, mostramos estudos iniciados com base no
Referencial Curricular de Educação Infantil (RCNEI) e seguimos com outros autores que
também defendem a brincadeira e jogos como auxiliadores na formação e autonomia do
indivíduo, mostrando sua importância na sexualidade, na alfabetização, na interação entre
outros.
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Pretende-se aqui, expandir conhecimentos explorando a riqueza que o lúdico
apresenta no processo de interação e desenvolvimento de atitudes no meio social, buscando
despertar no profissional da educação o gosto pela ludicidade e a conscientização de sua
importância para o desenvolvimento da criança na idade pré-escolar.
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Histórico da Organização Educacional
Pensar em infância faz com que nos reportemos ao faz-de-conta e a tudo que está
voltado a imaginação da criança, considerando a criança um ser lúdico que necessita brincar
para interagir com seu meio.
WAJSKOP (1999) salienta que tempos atrás a criança não tinha uma educação
voltada somente parta ela, ou seja, não possuía seu próprio espaço social. Segundo a autora a
infância limitava-se apenas a mais tenra idade, quando a criança necessitava dos cuidados
básicos, mais adiante dividia o espaço social entre jogos e brincadeiras com adultos como
meio socialização. O brincar era visto apenas como recreação, não era levado em conta como
base da educação humana, impedindo assim um comportamento espontâneo, que significasse
algum valor.
De acordo com Spodek (1998), a organização da Educação vem experimentando
diferentes aspectos ao longo dos anos. A Educação Infantil, por exemplo, no início era
chamada de educação informal. Já nos tempos modernos surgiram escolas especializadas para
a educação de crianças pequenas. A partir do século XIX foram desenvolvidos métodos
pedagógicos que condiziam com a idade das crianças.
Em 1628, John Amos Comenius, escreveu sobre a “Escola do colo de mãe”, para
crianças de 0 a 6 anos que teve como objetivo o ensino de cores; distinção de objetos, plantas
e animais; partes do corpo e rezas. A partir dos trabalhos de Comenius (1593), Rosseau
(1712) e Pestalozzi (1746) surge à valorização e a necessidade de estimular o
desenvolvimento natural da criança desprovido da razão e desvinculado do contexto social.
Assim o brincar passa a ser visto como um meio de educar a criança, embora não as deixava
livres para escolhas, tendo sua liberdade controlada.
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Em 1816 na Escócia, a “Escola Infantil” trouxe uma abordagem inovadora,
priorizando a liberdade da criança. Em 1827, algumas cidades americanas já contavam com
escolas infantis, objetivando eliminar a pobreza através da educação das crianças pobres. O
Jardim da Infância foi introduzido nos Estados Unidos em 1873, em dedicação aos pobres.
Dedicada aos filhos dos pobres e tendo por objetivo a elevação do lar, eranatural que o jardim de infância como movimento filantrópico recebesse deinício grande apoio. O mero fato de que as crianças das favelas fossemmantidas fora das ruas e tornadas limpas e felizes por jovens bondosas ematernais; que a criança assim cuidada possibilitasse à mãe realizar seutrabalho dentro ou fora de casa, tudo isso apelava ao coração da América e aAmérica contribuiu generosamente, para tornar possível estes jardins deinfância. Igrejas abriram jardins de infância, indivíduos faziam doações ajardins de infância em quase todas as grandes cidades (FISCHER,1968, apudSPODEK, 1998, p.47).
ARIES (1981), pesquisador francês estudou a história social da criança e da família
na Europa e constatou que no século XVI, a criança não possuía um lugar significativo na
sociedade, ingressando muito cedo no mundo adulto, usando os mesmos trajes e participando
das mesmas atividades.
A sociedade capitalista urbano-industrial, mudou a inserção da criança na sociedade,
melhorando as condições de vida, estabelecendo novas relações sociais, principalmente na
família. A criança passou a ter particularidade infantil, diferenciando-as dos adultos.
A partir dessa época ARIES (1981), identifica o “paparico” com a criança, por
considerá-la pura e ingênua e a “moralização”, atitude severa, a partir da compreensão da
criança como um ser incompleto e imperfeito, que o adulto necessitava moralizar.
Desta forma a infância foi ganhando reconhecimento como uma fase específica da
vida, com suas características e necessidades.
Essa idéia de uma infância a ser protegida ou moralizada nasceu a partir dasrelações estabelecidas na sociedade burguesa da Europa do século XVIII eXIX. Estabeleceu-se,assim, uma idéia universal de infância e de criança,
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como se todas as infâncias fossem semelhantes e todas as crianças passassempelas mesmas fases no desenvolvimento. Hoje a partir de muitas pesquisas eestudos realizados, podemos compreender que como a sociedade burguesa ena Europa produziu uma determinada visão da infância, também outrascondições sociais, econômicas e histórias produzirão outros significados paraa infância. A particularidade infantil precisa ser entendida, então, a partir dasociedade na qual a criança está inserida e das relações que adultos ecrianças estabelecem entre si (LOPES ET AL. 2005, p.14).
Assim as crianças foram sendo alvos de ações específicas voltadas para a sua faixa
etária, entrando ai o brinquedo como objetivo infantil. Até aqui os brinquedos eram
confeccionados artesanalmente e a partir do século XIX, com a revolução industrial, deixa de
ser um processo doméstico de produção, passando a ser comercializado, acompanhando a
imagem de seu tempo, as condições históricas e sociais.
Ao brincar a criança estabelece regras e comportamentos que são compartilhados,
formando assim a cultura lúdica a partir dos significados que ela confere às suas ações, se
socializando e compartilhando brincadeiras.
VYGOTSKY (2000) salienta que a brincadeira atende a necessidade da criança,
agindo como motivação na sua ação sobre o mundo, embora nem toda necessidade venha a
gerar uma brincadeira, pois ela se estabelece a partir do que só pode ser realizado na
imaginação. Assim, brincando a criança cria uma situação imaginária que atende sua
necessidade. As respostas são encontradas no próprio conhecimento que ela tem de mundo,
desta forma a brincadeira traz a própria cultura que ela já possui, gerando regras para brincar.
De acordo com VYGOTSKY (2000), a ação imaginária, a criação das intenções
voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações que envolvem os desejos, está
tudo no brinquedo. Ele entende que a brincadeira cria uma zona de desenvolvimento
proximal, pois ao brincar a criança se coloca numa situação daquilo que ela ainda não é,
podendo saber e usar coisas que lhe são proibidas.
De acordo com WAJSKOP (1999), com o rompimento da educação tradicionalista
alguns pedagogos, como Frederich Froebel (1782-1852), Maria Montessori (1870-1909) e
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Ovide Decroly (1871-1932), contribuíram para uma educação própria para as crianças,
considerando-as em seu desenvolvimento próprio, com necessidade de experimentar o
mundo, passando assim a serem respeitadas e compreendidas como seres ativos, tanto no
Brasil, como em outros países, o que segundo a autora, esses pedagogos inauguraram um
período histórico em superação a concepção tradicional.
Segundo a fala da autora percebe-se que o lúdico, ou seja, as brincadeiras e jogos
foram implantados como elemento de sedução e que algumas instituições ainda os encaram
desta forma.
A criança que brinca pode adentrar o mundo do trabalho pela via derepresentação e experimentação; o espaço da instituição deve ser um espaçode vida e interação, e os materiais fornecidos para as crianças podem seruma das variáveis fundamentais que auxiliam a construir e a apropriar-se doconhecimento universal (WAJSKOP, 1999, p.27).
Nota-se que ainda há muito para se fazer no tocante ao assunto em questão, pois a
ludicidade não deve ser apenas um mecanismo de incentivo, mas também um meio de
desenvolvimento da criança como um todo, onde possa sugerir temas a serem desenvolvidos,
escolhendo o que brincar e estabelecer regras, de maneira que possam construir seu próprio
conhecimento.
O brincar no mundo contemporâneo e o papel do professor
Ultimamente a brincadeira tem sido defendida como meio de interagir com a
realidade onde a criança vive, unindo-a a educação, o que ainda amedronta muitos educadores
que em sua formação não foram preparados para compreender a brincadeira desta forma, mas
é necessário valorizá-la como recurso pedagógico, utilizando-a de maneira correta na
educação infantil. O profissional que lida com a criança nesta faixa etária, necessita entender
que o brincar é uma perspectiva sociocultural, oportunizando experiências livres, para que
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desperte habilidades preciosas para o desenvolvimento, podendo propiciar momentos de
descobertas sobre si própria e sobre o mundo, pelo simples fato de brincar.
Assim como em outros países, a Educação no Brasil vem atravessando vários
momentos de mudanças na tentativa de melhorar o ensino. Observa-se também divergências a
respeito do atendimento a crianças pequenas e sua finalidade social.
Atualmente a Educação Infantil perdeu o caráter assistencialista. A Lei de Diretrizes
e Bases da Educação n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, apresenta grande progresso no
que se refere a crianças de 0 a 6 anos. De acordo com artigo n.º 29 a Educação Infantil tem o
objetivo de desenvolver integralmente nas crianças desta faixa etária, seu aspecto físico,
psicológico, intelectual e social, completando a ação da família e da comunidade.
Em auxílio ao trabalho do educador, o Ministério de Educação e Cultura (MEC)
formulou o “Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil” (RCNEI), com base
para a produção pedagógica, planejamentos e avaliação da instituição infantil.
Estes volumes pretendem contribuir para o planejamento, desenvolvimento eavaliação de práticas educativas que considerem a pluralidade e diversidadeétnica, religiosa, de gênero social e cultural das crianças brasileiras,favorecendo a construção de propostas educativas que respondam àsdemandas das crianças, de seus familiares nas diferentes regiões do país(BRASIL, 1998, apresentação p.7).
O RCNEI é constituído de três livros: o 1º introdutório, o 2º formação social e o 3º
conhecimento de mundo.
O volume II do RCNEI orienta-nos quanto ao desenvolvimento das capacidades de
natureza global e afetiva, os esquemas simbólicos de interação da criança com o meio e
consigo mesma, deixando clara a importância sobre o trabalho com jogos e brincadeiras para
o bom desenvolvimento na Educação Infantil.
O jogo vem associado aos estudos como forma de prazer desde Platão e Aristóteles,
sofrendo decadência mais tarde, pois foi considerado como fuga ou apenas recreação.
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Comenius (1593), Rosseau (1712) e Pestalozzi (1746), valorizam a brincadeira
infantil como comportamento verdadeiro e natural, isolado do contexto escolar. Rosseau
utilizou o brinquedo educativo na França para estudar deficientes mentais e, mais tarde,
também se fez válido a crianças normais.
No Brasil, a criança também foi diferenciada do adulto em função da brincadeira.
Através dos pensamentos froebeliano, montessoriano e decrolyano, nos anos de 1970, com a
implantação da “Escola Nova” foram inseridos brinquedos pedagógicos e métodos lúdicos,
com fins em si mesmos, descontextualizados do processo cognitivo somente para facilitar o
trabalho do educador na transmissão de determinada visão de mundo, apenas como
brincadeira, sem vínculo ao conteúdo didático. Hoje a brincadeira tem vestido uma nova
roupagem vendo nos jogos pedagógicos o prazer em decifrar enigmas da vida.
Mesmo concordando com Piaget, que na idade entre 3 a 6 anos uma criança pode
desenvolver a aprendizagem significativa, Antunes (2002), acredita que ele tenha subestimado
um pouco a capacidade da criança nesta fase. O autor destaca que é preciso a estimulação
através de jogos para reforçar a idéia de símbolos.
É primordial que a Educação Infantil seja plena de brincadeiras, possibilitando o
despertar da imaginação e o domínio de habilidades, estimulando a cooperação e a
compreensão sobre regras e limites de maneira a explorar os inúmeros saberes que a criança
traz quando chega à escola.
Nota-se que quando a criança entra na escola, a compreensão das coisas é construída
a partir da ação concreta no seu meio, podendo se caracterizar pela exploração do ambiente,
modificação dos elementos que constituem esse meio através de jogos e brincadeiras, pois
mobiliza possibilidades afetivas e intelectuais para sua realização.
É importante que as atividades por meio de brincadeiras e jogos sejam realizadas a
fim de proporcionar a interação dos alunos com outras crianças, visto que elas aprendem
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muito umas com as outras, sendo necessário o trabalho em grupos, o que oportuniza o
confronto de opiniões e pontos de vista, informações, negociação e argumentação para chegar
a um acordo.
O jogo é excelente recurso pedagógico em atividades de leitura e escrita, matemática
e outras disciplinas, devendo ser utilizado de forma adequada e no momento oportuno,
PINTO; LIMA (2000) cita algumas vantagens de se usar o jogo:
Melhorar a socialização entre os alunos Permitir a criança a ser menos egocêntrica. Viver situações de competição e colaboração. Desenvolver a capacidade de observação, comparando diferenças e
semelhanças. Aprender com mais facilidade de modo geral. Apresentar algo desafiador para as criança resolverem. Aprender a trabalhar em grupo, respeitando o outro. Conseguir objetivos mais amplos de educação infantil (ibid, p.6).
Segundo a autora o jogo pode colaborar com a área sócio-afetiva, diminuindo o
egocentrismo, proporcionando momentos de colaboração, competição e oposição, ensinando
também o conhecimento de regras e o respeito ao companheiro, melhorando o contato social.
Já na área cognitiva, o jogo oportuniza a elaboração de estruturas como: “ordenação,
classificação, estruturação de tempo e espaço, primeiros elementos de lógica através da
resolução de problemas simples, procurando estratégias para vencer o colega” (ibid p.7).
Auxilia também a comunicação e expressão, quando explica regras, contesta ou comenta fases
do jogo.
Na área motora, o jogo permite à criança oportunidade para criar e montar,
desafiando a se ultrapassar pelo auto desafio, melhorando suas habilidades.
É através dos jogos que as crianças desenvolvem seu raciocínio, construindo seu
conhecimento de maneira descontraída e prazerosa a criança vai atingindo novas descobertas.
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O jogo não é apenas disputa, competição ou fruto da imaginação, e sim parte do cotidiano
infantil, canalizando a comunicação com o mundo adulto.
O jogo tem como essência a ludicidade e deve ser atividade espontânea e criativa,
onde a cooperação é mais importante que a competição. Nesse processo, o professor necessita
ser o provocador da participação coletiva, despertando o espírito de companheirismo e
cooperação.
Para proporcionar o desenvolvimento da autonomia, é preciso incluir atividades que
favoreçam a troca de sugestões e opiniões das questões, onde o professor deverá diminuir seu
poder de mando, incentivar e desafiar os alunos, criando ambiente que propicie o
desenvolvimento do pensamento crítico e a tomada de decisões.
Hoje, a idéia é de um ensino despertado pelo interesse do aluno, onde o professor
passa a ser um gerador de situações estimuladoras e eficazes. É nesse contexto que o jogo
ganha seu espaço, propondo estímulos ao aluno, ajudando-o em novas descobertas,
enriquecendo sua personalidade.
Atualmente, a “brincadeira, o jogo pedagógico”, é considerado como uma atividade
que contém em si o mesmo objetivo de decifrar os enigmas da vida, construindo momentos de
entusiasmos e alegria.
A brincadeira infantil está relacionada a estímulos internos e atrai a criança pela
chama da evolução, permitindo-lhe satisfazer a necessidade gerada pelo seu crescimento.
Nenhuma criança é uma esponja passiva que absorve o que lhe éapresentado. Ao contrário, modelam ativamente seu próprio ambiente e setornam agentes de seu processo de crescimento e das forças ambientais queelas mesmas ajudam a formar. Em síntese, o ambiente e a educação fluem domundo externo para a criança e da própria criança para seu mundo(ANTUNES, 2002, p.31).
É no brincar que a criança une seu conhecimento prévio com o novo, formando
assim novas idéias, modelando seu processo de crescimento.
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Segundo Wajskop (1997), o brincar vem atravessando várias fases, desde o brincar
como recreação sem objetivo escolar, até hoje, onde se defende a idéia de que a brincadeira
deve estar vinculada à função pedagógica da pré-escola, de maneira a interagir com as
crianças de diferentes histórias de vida em nossa sociedade. Isso possibilita assim a
construção da identidade infantil autônoma, cooperando e criando de forma a adentrar ao
mundo do trabalho pela representação e experimentação, mas esta concepção é prática nova e
ameaçadora para a maioria dos professores que foram acostumados com exercícios motores
de treinos de habilidades e funções cognitivas específicas.
O educador que realiza seu trabalho pedagógico na perspectiva lúdicaobserva as crianças brincando e faz disso ocasião para reelaborar suashipóteses e definir novas propostas de trabalho. Não se sente culpado poresse tempo que passa observando e refletindo sobre o que está acontecendoem sua sala de aula (MOYLES, 2008, apud. FORTUNA, Revista Pátio2003/2004, p.9).
A unidade fundamental da brincadeira é o papel que é assumido pelas crianças e que
revela e possibilita, ao mesmo tempo, o desenvolvimento das regras e da imaginação através
de gestos e ações significativas. Brincando podem construir relações reais, elaborar regras de
organização e convivência, podendo modificar situações de acordo com suas necessidades,
construindo assim, a consciência da realidade.
De acordo com Vigotsky o brincar:
(...) cria na criança uma nova forma de desejos a um “eu” fictício, ao seupapel na brincadeira e suas regras. Dessa maneira, as maiores aquisições deuma criança são conseguidas no brinquedo, aquisição que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade (apud Wajskop, 1984,p.114).
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Wajskop (1984) vê o professor como figura fundamental para que a brincadeira seja
aplicada de maneira a criar espaços, oferecendo materiais e participação adequada com as
crianças na Educação Infantil. Entretanto, em suas pesquisas pôde perceber que a formação
dos professores não oferece ainda condições para perfeita realização do assunto em questão.
Erickson afirma que (...) “a identidade de uma pessoa e de um povo começa nos
rituais da infância” (Erickson apud Pereira, 2002, p.7).
O autor destaca a importância da brincadeira como algo que está inserido em nossas
vidas, e na educação deve ser utilizada como instrumento pedagógico.
O universo infantil está presente em cada um de nós. As experiências na infância,
sejam boas ou más, deixam marcas em nossas vidas. Brinquedos e brincadeiras também
integram essas experiências.
As crianças trazem consigo a curiosidade, o querer aprender. O Brincar alimenta o
espírito imaginativo, explorativo e inventivo do faz de conta, o que chamamos de lúdico. Em
todo brinquedo existe um campo no tempo e no espaço, para que aconteça diferentemente do
tempo e do espaço que vive normalmente. Porém, brincar não é algo fora da vida, é algo dela
também, onde existe alegria, tristeza, calma, tensão e todos os sentimentos que nos envolvem.
A psicologia cuida dos significados da brincadeira na formação da pessoa, a
antropologia e a sociologia observam os conteúdos presentes numa brincadeira que mostram a
organização de uma cultura, expondo mitos, ritos, relações de autoridade, dentre muitos
outros aspectos. Já na educação, a brincadeira tem sido alvo de muitos estudos,
principalmente como instrumento pedagógico.
Pereira (2002) acredita que a atividade lúdica não pode ser exercida para chegar a um
resultado prévio e determinado, pois o brincar deve levar o brincante a desenvolver sua
própria capacidade de descoberta e imaginação, podendo o professor intervir de maneira
adequada, onde uma proposta poderá vir a ser transformada em brincadeira.
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Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento daidentidade e autonomia. O fato de a criança desde muito cedo, poder secomunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinadopapel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nasbrincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidadesimportantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação.Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio dainteração e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais (Brasil,1988, v.2, p.22).
Para trazer o brincar ao espaço educativo, o educador precisa estar em constante
inquietação e reflexão, buscando redescobrir em si mesmo o gosto pelo fazer lúdico,
ampliando o repertório de brinquedos, e estar sempre atento ao momento certo para colocá-los
em prática.
Pereira (2002), fala das lembranças que trazemos da infância, dentre elas, o brincar,
que alimenta o faz de conta. De acordo com o autor, o brinquedo é uma maneira de realizar
desejos impossíveis de serem concretizados na prática. No ato de brincar a criança se
subordina às regras onde suas ações são caracterizadas pelo que representa.
Sempre que há uma situação imaginária no brinquedo, há regras; não asregras previamente formuladas e que mudam durante o jogo, mas aquela quetem a sua origem na própria situação imaginária. Portanto, a noção de queuma criança pode se comportar em uma situação imaginária sem regras ésimplesmente incorreta (Vygopsky apud Pereira, 2002, p.8).
O brincar é uma preparação para a vida adulta, oportunizando o desenvolvimento das
potencialidades. Jogos e brincadeiras favorecem o desenvolvimento de atitudes e habilidades,
onde o papel do aluno centra-se nas atividades de observação, relacionamento, cooperação,
levantamento de hipóteses e argumentação. A importância do uso dos jogos está ligada
também ao desenvolvimento de atitudes de convívio social, ajudando superar o egocentrismo.
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Além de proporcionar prazer e diversão, o jogo pode representar um desafio provocando o
pensamento reflexivo do aluno.
Vigotsky (apud Wajskop, 1984), afirma que mesmo numa situação imaginária, a
criança utiliza-se de regras. Pereira (2002) comenta que o brincante desenvolve suas próprias
descobertas e imaginações. Antunes (2002), diz que a criança modela seu ambiente tornando
se agente do seu próprio crescimento. É natural então, acreditar que o lúdico é o início da
formação de um indivíduo reflexivo e capaz de conviver de maneira integral numa sociedade.
Acredita-se que realmente o brincar e o jogar podem contribuir não somente no aprendizado
pedagógico, mas também na formação de identidade e autonomia de um indivíduo.
O faz de conta oportuniza a liberdade de ação das crianças, trocando os papéis, ora é
filha, ora é mãe. Essas histórias são cheias de situações em que os conflitos e medos são
resolvidos, desta forma à medida que trabalha emoções, resolvem também conflitos, se
conhecendo, conhecendo o outro e se inserindo no meio em que está constituindo sua
individualidade, fazendo escolhas, participando e contribuindo com o grupo.
Graças ao faz-de-conta, a criança pode imagina,r imitar, criar ou jogarsimbolicamente e, assim, pouco a pouco, vai reconstituindo em esquemasverbais ou simbólicos tudo aquilo que desenvolveu em seu primeiro ousegundo ano de vida com isso pode ampliar seu mundo, estendendo ouaprofundando seus conhecimentos pára além de seu próprio corpo; podeencurtar tempos, alargar espaços, substituir objetos, criar acontecimentos(MACEDO, Revista Pátio, dez 2003/mar 2004, p.12).
A ludicidade vem conquistando espaço principalmente na educação infantil, mas
percebe-se ainda que as atividades lúdicas são pouco exploradas, basta levar em conta que o
professor apresenta em seu fazer pedagógico a hora de ensinar e a hora de brincar, como se
não fosse possível ensinar brincando.
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Nota-se que o âmbito educacional não pode ser considerado uma área geradora dos
avanços científicos, pois as mudanças ocorridas não reverteram o processo como um todo. Por
mais que tenham ocorrido evoluções, é comum ainda encontrarmos instituições educacionais
que consideram a idéia do conhecimento sob uma ótica de repetição, cristalizando o
conhecimento.
Educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho,aquele caminho que o professor considera correto, mas é ajudar a pessoa atomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade. É aceitar-se comopessoa e saber aceitar os outros. É oferecer várias ferramentas para que apessoa possa escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível comseus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cadaum irá encontrar. Educar é preparar para a vida (SANTOS, 1997 p.11).
Na fala da autora pose-se perceber que educar é algo bem mais complexo e talvez
mais simples do que a educação convencional pregava num ensino pautado na repetição de
conhecimentos pregados pelo educador, como senhor absoluto do saber.
SANTOS (1997) acredita que no processo educativo a interação afetiva tem o papel
mais importante para ajudar a compreender e modificar as pessoas do que um raciocínio
brilhante, porém, mecânico. É ai que entra as atividades lúdicas no processo do
desenvolvimento humano.
A autora ressalta ainda a questão da formação dos profissionais da educação,
comentando que apesar das críticas que os cursos de licenciatura têm recebido, os egressos
continuam despreparados para atender as necessidades das escolas, especialmente quando se
trata de compreender a criança como um ser histórico com capacidade de construir seu
próprio conhecimento.
Fazendo um paralelo entre um quebra-cabeça e a formação do educador,pode-se afirmar que, enquanto o primeiro se completa com o encaixe de
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todas as peças, o segundo jamais se completará, pois a formação profissionalnão se acaba com o término de um curso, sempre faltará a peça seguinte(ibid, p.13).
Entende-se então que o educador não está pronto ao sair do curso de licenciatura
onde a preocupação maior é a formação teórica e pedagógica. Ele deve sim entender a
educação como um processo historicamente produzido, onde ele atua como agente, não
somente para informar, como também propiciar a criança a encontrar sua própria identidade.
Nesse sentido é necessário levar em conta a ludicidade como alavanca da educação,
pois o desenvolvimento do aspecto lúdico segundo SANTOS (1997), “facilita a
aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora com uma boa saúde
mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização,
comunicação, expressão e construção do conhecimento” (ibid, p.12).
Seria interessante, portanto, que o lúdico fosse implantado nos cursos de licenciatura,
assim os profissionais teriam oportunidade de se familiarizar com os jogos e brincadeiras e
por conseqüência entender a importância dos mesmos na formação das crianças, jovens e
adultos, pois quanto mais o adulto vivenciar a ludicidade, mais chance terá de trabalhar de
forma prazerosa.
Embora aceitando o valor do brincar seja difícil para os professores envolvidos no
cotidiano da educação infantil extrair substâncias pragmáticas e teóricas capazes de convencê-
los da importância real dos jogos e das brincadeiras em sua prática diária. Normalmente o
brincar fica a escolha do aluno ao terminar suas atividades em sala de aula.
OLIVEIRA (2000) comenta que a criança especialmente na escola possui
dificuldades de se expressar devido a constrangimentos temporais e interpessoais e a
brincadeira permite que o professor encontre outros problemas observando seu
comportamento.
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O professor necessita proporcionar situações de brincar livre e dirigido que busquem
atender as necessidades de aprendizagem das crianças, agindo como mediador e tentando
diagnosticar o que o aluno aprendeu abrindo espaço para o desenvolvimento de um novo ciclo
de aprendizagem.
A criança e o processo de socialização.
Após seu nascimento a primeira relação socializadora da criança é realizada em seu
grupo familiar, se estendendo mais tarde a outros grupos como escola, amigos entre outros,
onde ela se apropriará do mundo social por meio de normas, valores e representações.
A partir daí a criança passa por diversas etapas físicas, mentais, sociais e emocionais,
que influenciarão na formação e desenvolvimento de sua personalidade, que o tornará em
individuo único.
Segundo PINTO (2000), é nos primeiros cinco anos que a criança começa socializar-
se, saindo do egocentrismo, aprendendo a conviver em grupo e a interagir com outras crianças
e adultos.
De 1 a 2 anos o indivíduo necessita de domínio de si e do meio ambiente, de
autonomia e atividade, embora seja limitada pelo adulto. Nessa etapa a criança fala, mexe e
age quase todo o tempo, por isso é interessante que lhe seja oferecido objetos que ela possa
brincar, sacudir, jogar e morder, estimulando-a sem corrigi-la.
Já na fase de 2 a 3 anos de acordo com o autor, o menor explora o mundo ao seu
redor através do próprio corpo, explorando o espaço. Ao subir, descer, pular, entrar e sair de
pequenos lugares vai desenvolvendo a noção de espaço e tempo, também constrói conceitos
por meio de experiências com o meio físico e social, construindo assim o conhecimento do
mundo em que vive.
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Nesta etapa a criança deve ser exposta a brincadeiras cativantes, em atividades livres
e orientadas, baseadas em experiências e vivências com o próprio corpo, num espaço amplo e
material concreto.
Dos 3 aos 4 anos a criança apresenta muita energia e embora já brinque em grupos de
três ou quatro ela é egocêntrica, pois possui o mesmo interesse em comum. Gosta de
escorregador, balanços, gangorras, jogos de imitação, cantigas, jogos de encaixes.
O grupo social da criança é ampliado entre 4 e 5 anos e seus interesses estão voltados
para os amigos. Desenvolve maior atenção e memória, preferem jogos com regras,
brincadeiras em grupo, independentes do adulto. Aos 5 anos usa a imaginação e a criatividade
nos jogos, criando regras novas.
Na brincadeira infantil, a criança revive alegrias, medos, conflitos, transformando a
realidade naquilo que deseja, internalizando regras de conduta, desenvolvendo valores que
possam orientar seu comportamento.
Percebe-se que o brincar é importante na vida da criança e assim como o alimento e
o afeto, a brincadeira deve fazer parte de sua vida desde cedo. Desta forma a criança aumenta
sua capacidade de expressar sentimentos desejos e emoções, descobrindo seu próprio corpo e
como utilizá-lo, o que causa desafios e dúvidas ao professor.
Para a maioria das crianças a entrada na instituição de Educação Infantil é o primeiro
contato mais sistemático com as pessoas fora do seu ambiente familiar, por isso o ambiente
deve estar preparado para recebê-las de forma acolhedora e prazerosa, com muitos recursos e
materiais. Nesta fase a brincadeira permite que a criança crie, invente, imita e muda a
brincadeira sempre que achar necessário.
Observando o desenvolvimento das infâncias, percebe-se as mudanças no decorrer
dos tempos. ARIES (1981) traz muitas formas de como as crianças já foram tratadas;
miniadultos, só mulheres podiam cuidar e educar as crianças, conhecimento administrado por
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adultos, bebês imóveis, enrolados entre outros. Atualmente a criança é parte de uma sociedade
em movimento e é respeitada em seus interesses e curiosidades.
O papel da escola é fundamental na vida das crianças, pois cada vez mais os pais
necessitam trabalhar, por isso aumenta a responsabilidade do setor educativo, uma vez que a
criança passa maior parte do seu tempo dentro dos mesmos. É necessário oferecer situações
de aprendizagem que sejam significativas para que seu desenvolvimento ocorra de forma
agradável e saudável.
Num passado não muito distante a criança de zero a três anos, era atendida sem olhar
pedagógico, somente para suprir necessidades de higiene, alimentação e cuidados em geral. A
nova concepção de infância leva a sociedade a ressignificar a educação infantil, seja em
creches de zero a três anos ou em pré-escolas de quatro a seis, tornando simultâneos e
indissociáveis o cuidado e a educação.
Neste olhar voltado à criança como um ser em construção, o educador necessita estar
preocupado com a qualidade do momento do brincar, verificando que relações estão presentes
entre adulto e criança; quais espaços estão sendo utilizados; se os materiais estão sendo
adequados, se fornecem segurança aos pequenos e principalmente proporcionar momentos de
desafios ao seu desenvolvimento.
A implantação do jogo e do brinquedo como fator de desenvolvimento na educação
infantil, ampliou estudos e pesquisas e dentre as contribuições SANTOS (1997), destaca
algumas:
- as atividades lúdicas possibilitam fomentar a “rosiliência”, pois permitem aformação do autoconceito positivo;- as atividades lúdicas possibilitam o desenvolvimento integral da criança, jáque através destas atividades a criança se desenvolve afetivamente, convivesocialmente e opera mentalmente;- o brinquedo e o jogo são produtos de cultura e seus usos permitem ainserção da criança na sociedade;- brincar é uma necessidade básica assim como é a nutrição a saúde, ahabilitação e a educação;
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- brincar ajuda a criança no seu desenvolvimento, físico, afetivo, intelectuale social, pois através das atividades lúdicas a criança forma conceitos,relaciona idéias, estabelece relações lógicas, desenvolve a expressão oral ecorporal, reforça habilidades sociais, reduz a agressividade, integra-se nasociedade e constrói seu próprio conhecimento;- o jogo é essencial para a saúde física e mental;- o jogo simbólico permite à criança vivências do mundo adulto e istopossibilita a mediação entre o real e o imaginário (ibid p.20).
Entende-se então que é impossível que o educador na instituição infantil esteja alheio
a todas as contribuições que brincadeiras e jogos exercem no desenvolvimento de uma criança
no espaço educativo.
Pode-se notar que aplicar brincadeiras e jogos na educação infantil é um meio de
estimular, analisar e avaliar aprendizagens específicas, competências e potencialidades das
crianças envolvidas.
O brincar espontâneo permite que o educador registre ações lúdicas por meio da
observação, registro, análise e tratamento. É possível também fazer um mapeamento da
criança em sua trajetória lúdica enquanto brinca, oportunizando melhor entendimento de suas
ações, podendo intervir e diagnosticar idéias, valores, necessidades, estágio de
desenvolvimento comportamentos, conflitos, problemas entre outros.
Desta forma pode-se definir criteriosamente ações mais adequadas para cada criança
envolvida, respeitando a singularidade de cada ser humano.
O brincar dirigido tem o propósito de promover acesso a aprendizagens de
conhecimentos específicos nas disciplinas envolvidas, podendo propor desafios a partir da
escolha de jogos e brinquedos determinados pelo educador.
Para ALMEIDA (1987), a ludicidade pode ter duas consequências na mão de um
professor: o professor despreparado pode transformar a brincadeira em uma arma capaz de
mutilar tanto o sentido da proposta, como também negar o próprio ato de educar; já o
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professor competente pode transformar o lúdico num instrumento capaz de unificar, libertar e
transformar as condições em que o educando se encontra.
A esperança de uma criança ao caminhar para a escola é encontrar umamigo, um guia, um animador, um líder-alguém muito consciente e que sepreocupe com ela e que a faça pensar, tomar consciência de si e do mundo eque seja capaz de dar-lhe as mãos para construir com ela uma nova história euma sociedade melhor (ibid, p. 195).
Explorar o universo infantil exige que o educador tenha conhecimento teórico e
prático e que seja capaz de observar, entender e acima de tudo amar.
É preciso valorizar as atividades das crianças, mostrar interesse por elas, animando-
as pelo esforço, evitar a competição, brincar junto das mesmas estimulando sua imaginação.
O momento da brincadeira deve ter a participação do professor, observando o que estão
fazendo, buscando refletir e perceber seu desenvolvimento, de forma que possa acompanhar
sua evolução, suas novas aquisições e as relações com seus pares.
Para se desenvolver, portanto, as crianças precisam aprender com os outros,por meio dos vínculos que estabelece. Se as aprendizagens acontecem nainteração com as outras pessoas, sejam elas adultos ou crianças, elas tambémdependem dos recursos de cada criança. Dentre os recursos que as criançasutilizam, destacam-se a imitação, o faz de conta, a oposição, a linguagem eapropriação da imagem corporal (BRASIL, 1988, v.2, p.21)
Quanto à imitação o RCNEI classifica que, desde muito pequena a criança se esforça
para reproduzir gestos e sons produzidos pelas pessoas de seu convívio o que serve de
comunicação com os demais e também para brincar com outras crianças. A imitação é então o
resultado de sua capacidade de observação aprendendo com seus pares, sendo aceita ou
diferenciando-se, o que propicia a construção de sua identidade e oferecer muitos brinquedos
facilitará melhor sua interação.
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Brincando a criança desenvolverá sua identidade e autonomia. É no faz de conta que
ela imita, usando a fantasia e a imaginação, elementos fundamentais para que a criança
aprenda mais sobre ela e sobre os outros. Ao repetir àquilo que já conhece a criança ativa a
memória sendo capaz de transformar por meio da criação uma nova situação, tornando-se
autor de seus papéis. Repetindo situações imaginárias, a criança internaliza e elabora emoções
e sentimentos, o que propicia o desenvolvimento de moral e justiça.
Ainda de acordo com RCNEI, a oposição também contribui para a formação do
sujeito, pois desta forma estará afirmando seu ponto de vista. Mesmo sendo difícil para o
adulto, ele necessita entender que quando uma criança briga por um brinquedo ela está
diferenciando e afirmando o “eu”.
O brincar é importante também para a formação da linguagem, pois é na interação
social que as crianças se inserem nela, sendo significadas pelo outro e partilhando
significados. Explorando o contanto físico com outros colegas a criança comunica-se também
pela linguagem corporal.
O brincar é apresentado de muitas formas na educação infantil.
A música na educação infantil mantém forte ligação com o brincar. Emalgumas línguas, como no inglês (to play) e no francês (jouer), por exemplo,usa-se o mesmo verbo para indicar tanto as ações de brincar quanto as detocar música. Em todas as culturas as crianças brincam com a música(BRASIL, 1988, v.3, p. 70).
Trabalhar as estruturas e formas musicais é uma forma de estabelecer contato
consigo mesmo e com o outro. Desde muito cedo a criança é envolvida com a música, nos
cânticos de acalanto, nos de animação à criança, nas parlendas, nas canções de roda, nas
adivinhas entre outras.
A pré-escola pode-se apropriar das parlendas como trava-linguas (pronúncia difícil),
as mnemônicas (uma, duna, tena...) fixando número ou nomes; as brincadeiras de roda
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(poesia, música, dança) influências de várias culturas. Tudo isso são jogos que possibilitam a
questões ligadas às características dos sons, o silêncio e a música, permitindo o
desenvolvimento de habilidades, atitudes e conceitos da linguagem musical.
Percebe-se que o brincar envolve várias facetas e que o profissional de educação
infantil quando bem preparado pode lançar mão de muitos recursos ligados a brincadeiras e
jogos que podem proporcionar excelente desenvolvimento em seus alunos.
A brinquedoteca
A brinquedoteca é o espaço criado com o intuito de proporcionar estímulos para que
a criança brinque livremente. Surgiu nos anos 80, uma idéia nova que enfrenta dificuldades
não somente para se impor como instituição educacional, mas também para conseguir
sobreviver economicamente.
Foi através da brinquedoteca que o brincar assumiu características próprias e seu
papel dentro do campo da educação cresceu e podemos afirmar que ela é um agente
modificador no campo educacional. Ela é testemunho vivo da valorização da ludicidade na
instituição infantil.
É neste espaço que a criança pode brincar sem cobranças, desenvolvendo sua
criatividade, expandindo seu potencial, sua inteligência e sociabilidade. O acesso a um
número maior de brinquedos proporciona novas experiências e descobertas, incentivando seu
desenvolvimento intelectual, emocional e social. Levando em conta a valorização da atividade
lúdica, respeitando as necessidades afetivas da criança, diminuindo a opressão do ensino
extremamente rígido.
É necessário, portanto que o professor seja na brinquedoteca um brinquedista
preocupado com a felicidade e o desenvolvimento emocional, social e intelectual de seus
alunos, tirando máximo aproveitamento nas inferências e observações feitas no espaço da
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brinquedoteca com o objetivo de ampliar o desenvolvimento educativo da criança,
oportunizando experiências em diferentes situações para diversos propósitos.
Ludicidade Auxiliadora
Em SANTOS (1997), pode-se constatar pontos importante onde o jogo pode atuar
como auxiliador em sala de aula como:
Sexualidade
Existem diferentes maneiras de se definir a sexualidade, podendo ser o conjunto dos
fenômenos da vida sexual como explica o dicionário, ou fatores que envolvem as diferenças
sociais entre o sexo feminino e o masculino.
Segundo SILVEIRA (apud SANTOS 1997), a sexualidade:
Pode ser considerado um nome que se pode dar a um dispositivo histórico:não à realidade subterrânea que se aprende com dificuldade, mas à granderede de superfície, em que a estimulação dos corpos, a intensificação dosprazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforçodos controles e das resistências encadeiam-se uns aos outros segundoalgumas grandes estratégias de saber e poder (ibid p.29).
Percebe-se diferentes enfoques na definição da sexualidade e a escola deve ser um
espaço para tratar deste assunto. Segundo a autora o professor de educação infantil deve ser
capacitado para identificar e saber se comportar diante os assuntos ligados ao sexo.
E é ai que o jogo pode ser um grande aliado do professor, desde que se crie um
ambiente de descontração, onde a liberdade de expressão possa ser gerada. Salienta ainda que
o jogo não deve ser o único recurso para lidar com o tema sexualidade, mas pode servir como
introdutor ou atividade final, o que permitirá a avaliação dos conhecimentos e o
posicionamento dos alunos.
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Alfabetização
BOLZAN (apud SANTOS 1997) acredita que a alfabetização está fundamentada na
visão de “homem e sociedade”, o que determina um processo de múltiplas dimensões
promovendo o individuo num ser social ativo na interação com seus pares.
Atualmente encara-se a alfabetização como o momento que se constrói estruturas,
onde o indivíduo procura encaixar novas informações, na formulação de hipóteses, colocando
à prova antecipações de maneira a compreender a representação da linguagem no sistema de
escrita e seu uso social.
É então através da interação com seus pares que a criança consolida e constrói suas
concepções por meio de suas experiências, ampliando seu conhecimento.
Nota-se que a alfabetização não deve ser mais encarada como um processo de
decodificação mecânica, mas sim um processo de construção permanente, o que aponta a
grande necessidade de redimensionamento no fazer cotidiano do professor, valorizando assim
as construções e reconstruções, em momentos ricos e desafiadores.
É ai que o lúdico entra, com o objetivo de construir na sua “reflexão-ação-reflexão”.
A capacidade de desafio que o jogo apresenta fará com que os participantes reorganizem seus
referenciais e construa novas idéias. O material oferecido deve ser afirmativo em
problematização, subsídios e contradições, com o intuito de contribuição para superar o tema
proposto.
Conclusão
Como vimos o brincar e jogar agem como estímulo para uma aprendizagem
significativa, propiciando maior interação entre as crianças, atraídas pelo prazer.
Assim, uma ação pedagógica apresentada através do lúdico permitirá que a criança
aprenda de maneira prazerosa não somente num conteúdo escolar proposto pelo professor,
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mas também a vivência de momentos e situações nos jogos e brincadeiras que possam
prepará-la para uma vida futura, pois no dia-a-dia experimentamos o gosto da vitória, da
derrota, da investigação, do imitar e o tentar novamente a cada vez que não formos bem
sucedidos e o jogo propõe essa experiência.
Os estudos aqui realizados nos convidam a repensar novas alternativas no campo da
ludicidade, de forma que sejam vistas como coisas sérias e necessárias no fazer pedagógico.
Implantar o jogo e a brincadeira na educação infantil como elemento dinâmico de
uma proposta pedagógica, exige no mínimo que o profissional em questão tenha pesquisado e
vivenciado a ludicidade em seus estudos acadêmicos. Torna-se necessário que os currículos
sejam revistos tendo como alvo uma visão de criança onde o jogo e o brinquedo sejam vistos
e trabalhados como desenvolvimento e aprendizagem.
Pensar na brincadeira e nos jogos como suporte pedagógico necessita que o
profissional da educação infantil tenha o brincar não somente como essência de diversão, mas
como algo de fundamental importância e que quando bem observado em suas muitas facetas
possa dar-lhe diagnósticos de desenvolvimento e aprendizagem para a construção de
identidade e autonomia a fim de ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicação
e interação social.
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