monografia 211106
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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UINIVALICENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR EM CIÊNCIAS JURIDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPSCURSO DE CIÊNCIA POLÍTICACOORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
ECONOMIA SOLIDÁRIA:Aspectos de uma nova organização social do trabalho
Moises Krieger
Itajaí, novembro de 2006.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UINIVALICENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR EM CIÊNCIAS JURIDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPSCURSO DE CIÊNCIA POLÍTICACOORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
ECONOMIA SOLIDÁRIA:Aspectos de uma nova organização social do trabalho
Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau em bacharel em Ciência Política na Universidade do Vale do Itajaí, sob orientação do professor Guillermo Alfredo Johnson.
Moises Krieger
Itajaí, novembro de 2006.
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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UINIVALICENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR EM CIÊNCIAS JURIDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPSCURSO DE CIÊNCIA POLÍTICACOORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
ECONOMIA SOLIDÁRIA:Aspectos de uma nova organização social do trabalho
Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau em bacharel em Ciência Política na Universidade do Vale do Itajaí.
Banca Examinadora:
-------------------------------------------Prof. Guillermo Alfredo Johnson
Presidente e orientador
---------------------------------Prof. Carlos Eduardo Sell
Membro
----------------------------------Prof. Eduardo Guerini
Membro
Itajaí, novembro de 2006.
3
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí
– UNIVALI, a Coordenação do Curso de Ciência Política, a Banca Examinadora, o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, 20 de novembro de 2006.
Moises Krieger
Graduando
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O som lamentoso está presente em alguns
momentos das nossas vidas,
que em muitos casos culmina com soares das trompas
anunciando o término de uma jornada cientifica
no caminhar dos quatro anos do curso de Ciência Política
tive como a força motriz o pressuposto “a leitura é base de tudo”
dita pela pessoa que sempre vou admirar
e ter no meu coração.
Desta forma dedico exclusivamente
este trabalho in memorian ao Érico Krieger, meu avô.
5
Meus Agradecimentos:
Ao professor Guillermo Alfredo Johnson, meu orientador,
Meu amigo, meu guia intelectual, que me honrou com sua
sapiência, seu apoio nos anos da graduação.
Aos meus pais, por terem paciência no Caminho
das pesquisas que foram desenvolvidas no caminhar da graduação.
Obrigado!
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“Economia solidária tem sido, em muitos paises ao longo de muitas gerações,uma das principais formas de luta contra o capitalismo, ao lado da ação combativa de
sindicatos e partidos por direitos sociais” (SINGER, 2000b, p.15)
“O desemprego é apenas a expressão parcial de um problema maior: a crise da sociedade salarial. O capitalismo pós-industrial tem sido marcado pela deterioração
das relações de trabalho” (SOUZA, 2003, p.27).
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Resumo
Esta monografia foi elaborada e escrita com a perspectiva de compreender o
fenômeno da economia solidária que vem acontecendo nos mais variados níveis –
local, nacional e mundial – como resposta a seqüelas da lógica neoliberal. Com
objetivo presente no entendimento dos autores clássicos – utopistas, anarquistas e
críticos – sobre o cooperativismo e a visão dos pensadores contemporâneos sobre a
economia solidária. No desenvolvimento da investigação foi utilizado referencias
bibliográficas que tratam direta e indiretamente a temática da economia solidária
partindo do materialismo dialético obtendo algumas ponderações que a economia
solidária vem amenizando os males do neoliberalismo e não ruptura. Porem se
considera que na busca da mudança da realidade é importante estudar,
compreender o que acontece no nosso redor.
Palavras chaves: - Trabalho – Economia Solidária - Desemprego
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Sumário
Resumo............................................................................................ 8Introdução........................................................................................10
Capitulo 1O trabalho, o homem e a sociedade
1.1. Parâmetros Teóricos.................................................................141.1.1. A sociedade............................................................................171.2. Parâmetros Empíricos................................................................191.2.1. Reestruturação Produtiva........................................................191.2.1.1. Desemprego.........................................................................24
Capitulo 2Cooperativismo: uma visão dos clássicos
2.1. Parâmetros Históricos..................................................................282.2. Os defensores do cooperativismo............................................... 332.2.1. Robert Owen, William King, Charles Fourier............................ 332.1.2. Louis Blanc, Saint-Simon…….………………………………….. 352.3. Pensamento Anarquista………….…………...…………………..... 372.4. Os críticos do cooperativismo...................................................... 38
Capitulo 3Economia solidária: Uma visão dos pensadores contemporâneos
3.1. Características e conceituação................................................ 433.2. Aspectos políticos, econômicos e sociais da economia solidária ........................................................................................................ 463.3. Perspectiva critica.................................................................... 48
Considerações Finais..................................................................... 57Referencias Bibliográfica................................................................ 62
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INTRODUÇÃO
As pesquisas desenvolvidas nos cursos das ciências humanas mais
precisamente no Curso de Ciência Política têm o foco o entendimento dos
fenômenos sociais que se apresentam na sociedade. O objeto da pesquisa centra
nas questões relacionadas ao mundo do trabalho que no término da pesquisa é
produzida monografia para obter título de bacharel em Ciência Política pela
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
E como esse trabalho está relacionado com a questão do mundo do
trabalho, tem a sua temática de pesquisa na economia solidária como alternativa de
produção, consumo, distribuição de mercadorias. Mas o objetivo geral na
investigação é a compreensão do processo político, econômico da economia
solidária, como retorno dos princípios preconizados pelo cooperativismo do século
XIX, em relação ao desemprego. E objetivo especifico do trabalho está centrado no
entendimento da visão dos clássicos – os defensores, os anarquistas e os críticos –
e dos atuais pensadores/ pesquisadores sobre a temática do cooperativismo.
Na busca investigatória deste trabalho com o titulo ‘Economia solidária:
aspectos de uma nova organização social do trabalho’, estarão baseado em
algumas problemáticas que pode ser destacado que nos últimos anos da década de
90 como Singer (2000a) observa a taxa de desemprego teve um acréscimo
alarmante que conseqüentemente sendo debatido entre os acadêmicos, inseridos,
no debate destacado sobre economia solidária como tentativa de amenizar a
questão do desemprego. Assim tem a possibilidade de destacar que a problemática
da pesquisa se a economia solidária pode ser compreendida como uma nova
organização social do trabalho?
Partindo dessa problemática da pesquisa tem a possibilidade de observar
que a categoria trabalho é entendida como ator fundamental na sociedade, na
modernidade, se manifestando, por meio da relação salarial, da exploração do
trabalhador na dependência e na exploração pelo capital e, ao mesmo tempo
afirmando vínculos dos trabalhadores na sociedade (FRANÇA FILHO; LAVILLE,
2004).
10
Por conseguinte na sociedade com o processo da globalização vem
provocando mudanças consideráveis na produção, deixando de ser fordista,
passando a ser toyotista. E a troca do padrão produtivo, com a introdução de novas
tecnologias provoca que vários trabalhadores perdessem seus empregos (NUN,
2000).
E nessa mudança de paradigma produtivo – do fordismo a toyotismo –
podem ser apresentadas várias explicações, mas como o reaparecimento do
liberalismo (sob a nomenclatura ‘neoliberalismo’) trás à tona a noção da competição
selvagem, incertezas, individualismo irracional alicerçado no ‘darwinismo social’
preconizado pelas elites dominantes (RATTNER, 2004).
Dessa forma a pesquisa está presente na questão do desemprego que é
centrada nos debates dos sociólogos, dos cientistas políticos, dos acadêmicos dos
mais variados cursos superiores centrados na sociologia do trabalho ou na ciência
política do trabalho, preocupados na concepção de uma sociedade capitalista – que
está em vigência – vem ao longo dos tempos excluindo pessoas que tem vontade de
trabalhar e por ventura essas mesmas pessoas batem de frente do discurso de que
essas pessoas não têm qualificações necessárias no mercado de trabalho.
A pesquisa desta monografia está centrada na economia solidária e nessa
temática, como Singer (2004b) observa, no Brasil a concepção teórica é
fundamentada no marxismo, com inspiração no materialismo histórico, e como
resposta á ‘crise’ do paradigma fordista e do Estado bem-estar social, e também
com a incapacidade do Estado em elaborar e por em práticas as políticas públicas
direcionadas para o mercado de trabalho.
Em relação à economia solidária é importante ser observado que esse
movimento é alicerçado por associações de trabalhadores, grupos informais,
empresas autogestionárias ou co-autogestionárias e cooperativas – de produção,
consumo, distribuição (RUFINO, 2003; FRANÇA FILHO; LAVILLE, 2004).
No prisma do materialismo histórico, é possível observar que a metodologia
da monografia está baseada em referencias bibliográficas que tratam direta e
indiretamente a economia solidária. A dialética se apresenta num movimento de
posições contrárias pressupondo o principio triádico constituindo uma tese que é
desafiada pela força de reação resultando numa síntese-produto. E o
desenvolvimento da dialética se divide em tese, antítese e síntese. Que entre os
teóricos da economia solidária se apresenta um debate entre setor econômico (tese)
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e o terceiro setor (antítese) e uma forma de defesa dos trabalhadores (síntese).
Onde a tese é uma afirmação, a antítese a negação da afirmação e a síntese a
negação da negação (SANT´ANNA, 2006; RICHARDSON, 1999).
Em relação à dialética é importante observar que constantemente as coisas
estão em movimento, transformação partindo do principio que todos fenômenos
sociais não são estáticos, estão em constantes transformações. E a palavra dialética
nos trás a noção do dialogo que por conseqüência temos duas concepções, a
primeira nos remete que os fenômenos sociais estão em constantes transformações,
e a segunda nos remete ao entendimento de que os movimentos se apresentam em
oposição das idéias entre si (SELL, 2002; RICHARDSON, 1999).
A investigação da monografia está baseada no entendimento de que uma,
como Marx (1987) preconizava, investigação se apodera da matéria para analisar as
diferenças do desenvolvimento questionando a conexão intima entre elas. E no
termino do trabalho tem a possibilidade de descrever adequadamente o objetivo da
pesquisa. Dessa forma este trabalho está dividido em três capitulo pára que seja
alcançada a compreensão, objetivo traçado na elaboração do projeto desta
pesquisa.
No primeiro capitulo será dividido em duas partes. Na primeira parte será
abordada a linha teórica, os conceitos para compreender o objeto de estudo. Na
segunda parte do capitulo será abordado o processo da reestruturação produtiva, do
desemprego, como sendo um dos estopins do surgimento da economia solidária.
No segundo capitulo da monografia está apresentando a compreensão dos
pensadores clássicos que tiveram seus trabalhos/ escritos direcionados ao
cooperativismo – de forma direta e/ou indiretamente. Neste capitulo estará em
quatro partes. Na primeira parte se apresentará a compreensão dos defensores
sobre as cooperativas. Na segunda parte apresentará a compreensão dos
anarquistas sobre o movimento cooperativista. Na terceira parte será
contextualizado o pensamento dos críticos que tratam direta e/ou indiretamente o
cooperativismo. E na última parte do terceiro capitulo configura numa perspectiva
critica sobre a economia solidária.
E no terceiro capitulo será abordado as compreensões dos atuais
pesquisadores e pensadores que estão inseridos no debate sobre a economia
solidária. A divisão em três partes se repete. Na primeira parte será contextualizada
as características e a conceituação da economia solidária. Na segunda parte será
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apresentado algum aspecto que estão presentes nas iniciativas de economia
solidária. E na última parte do terceiro capitulo configura numa perspectiva critica
sobre a economia solidária.
Toda pesquisa da monografia está presente, em síntese, no pressuposto de
que a pesquisa é uma ferramenta para compreender os fenômenos sociais e para
propor alguma mudança na sociedade.
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Capitulo 1
O TRABALHO, O HOMEM E A SOCIEDADE
1.1. Parâmetros Teóricos
Este trabalho visa contribuir com o debate que está ocupando o centro das
atenções entre politólogos, sociólogos, políticos profissionais e acadêmicos dos mais
variados cursos de graduação com as mais variadas concepções. Essas
preocupações teóricas estão baseadas em estudos da sociologia do trabalho ou até
mesmo da ciência política do trabalho que crescentemente concentram-se na
questão da Economia Solidária, que se apresentam enquanto uma das formas de
amenizar o desemprego sustentado em uma participação política e econômica com
ênfase em nível local.
A argumentação que envolve a Economia Solidária está baseada na
concepção de que o trabalho é uma das formas de acontecimento da relação social.
É relevante observar que "trabalho é a atividade desenvolvida pelo homem"
(OLIVEIRA, 1987, p. 5), ou seja, as atividades executadas pelo homem para
satisfazer as suas necessidades são consideradas como trabalho. Ainda essas
atividades, de acordo com Sell (2002), ocorrem na forma de uma relação entre
homem e a natureza e ou entre homem e homem, mas historicamente essas
relações se apresentam decorrentes de exploração do trabalho do homem.
Para se ter a compreensão, quando se trata do trabalho1, independente das
formas sociais que o trabalho assume, é um fenômeno formador da condição
humana que atua “regulando y controlando el metabolismo del hombre con la
naturaleza” (TIRIBA, 1997, p.10) que conseqüentemente vai modificando a natureza
humana e buscando suprir as necessidades que são construídas e utilizadas
historicamente nas mais variadas sociedades, contudo não esquecendo que
trabalho é compreendido como uma atividade transformadora.
A compreensão contemporânea do trabalho no contexto do modo capitalista
de produção, é determinada pela propriedade privada, como sendo atividade e
condição para o metabolismo das relações sociais que acontece entre os indivíduos.
1 Para Arendt (2003) o trabalho é “a atividade correspondente ao artificialismo da existência humana” (p.15). Contudo é importante salientarmos que “o trabalho constitui-se uma categoria central e fundamental, protoforma do ser social, porque possibilita a síntese entre teleologia e causalidade” (ANTUNES, apud MONTAÑO, 2003, p.102).
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É importante frisar que essas atividades executadas pelo homem têm a finalidade de
melhorar a utilidade de um determinado objeto. E é na melhoria que é compreendido
como sendo uma criação na qual entende-se que se apresenta uma relação social
com uma presença de uma determinação histórica do trabalho nessa melhoria
(MARX, 1987; OLIVEIRA, 1987).
Nessas determinações históricas do trabalho se vinculam dois aspectos
essenciais que merecem uma devida atenção: (1) formas históricas; (2) organização
técnica. Conseqüentemente pode-se perceber que, ao considerar esses dois
elementos de análise está se afirmando que o trabalho é condicionado ao modo de
produção. Na ilação sobre o modo de produção podemos salientar que essa
categoria é formada pela infra-estrutura e superestrutura (OLIVEIRA, 1987; SELL,
2002).
Na questão da organização técnica, pode também ser compreendido como
meio de produção. A qual é entendido como sendo instrumentos utilizados pelo
homem na transformação da matéria e o ambiente em que ocorre essa
transformação (OLIVEIRA, 1987)
Na formas sociais históricas podem ser destacados que para as etapas do
desenvolvimento histórico ocidental elaborado por Marx, são: (1) modo de produção
primitivo; (2) modo de produção escravista; (3) modo de produção asiático; (4) modo
de produção feudal; (5) modo de produção capitalista; (6) modo de produção
comunista (SELL, 2002).
As relações dos desenvolvimentos históricos podem ser compreendidas como
etapas históricas e seriam modos de produção. E nas atuais circunstâncias se
apresenta o modo capitalista de produção que ao longo da sua existência se
destaca como produtor e reprodutor de uma sociedade altamente desigual.
Conforme Singer (2000a; 2000b) é possível apontar outras características
relevantes: (1) o capitalismo enquanto modo de produção faz com que os meios de
produção e de distribuição sejam apontados como mercadorias; (2) a incapacidade
da utilização da grande gama da força de trabalho que está disponível.
Mas, também, é compreendido que no modo capitalista de produção, ao
longo da história, vem produzindo efeitos que são destacados como nefastos
(TIRIBA, 1997), pois esses efeitos contêm o espírito no qual se fundamenta a
reprodução constante da riqueza em benefício próprio do capitalista.
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Na perspectiva do aumento da riqueza capitalista, com Mandel (1982), é
notabilizado como outra característica do modo capitalista de produção, ao qual se
associam a recorrente presença de crises e o almejado crescimento acelerado. Logo
é possível conceituar modo de produção capitalista como sendo uma:
Produção mercantil generalizada, onde os produtores diretos foram desapropriados de seus meios de produção, por conseguinte, tem de vender sua força de trabalho [...] àqueles que dispõem dos meios de produção tanto a força de trabalho quanto os meios de produção transformaram-se em mercadorias. Os meios de produção, por sua vez, transformam-se em capital. (Idem, p.413).
Ou seja, o modo de produção se apresenta como um antagonismo entre
àqueles que detêm os meios de produção e os que vendem a força de trabalho para
a sua sobrevivência. E a força de trabalho pode ser compreendida como “conjunto
das faculdades físicas e mentais, existente no corpo e na personalidade viva de um
ser humano” (MARX, 1987a, p.187), ou seja, a capacidade de produzir do indivíduo.
A relação daqueles que vendem, que compram a força de trabalho tem seu
estabelecimento na contratação da força de trabalho. E nesse contrato se resulta na
produção de mercadorias tenha: (1) valor-de-uso: que é o aspecto material da
mercadoria; (2) valor-de-troca: é a capacidade da mercadoria ser trocada (SELL,
2002).
Na observação de Marx (1987a) sobre o valor-de-uso e valor-de-troca está
presente a compreensão da propriedade do capitalista de forma indevida. Na
produção de mercadorias. E se apropriando indevidamente na produção, esse valor
denomina-se mais-valia, que pode ser compreendido como:
Forma monetária assumida pelo subproduto social numa sociedade de produção mercantil. Numa sociedade capitalista, a mais-valia é produzida pelos trabalhadores assalariados e apropriada pelos capitalistas (MANDEL, 1982, p.413).
O conceito de mais-valia é possível compreender que o capitalista se
apropria da produção alheia – comumente conhecida como lucro – e considera o
entendimento de que ocorre a acumulação capitalista. Dessa forma é compreendido
que a acumulação do capital é o “aumento do valor do capital pela transformação da
parte da mais valia em capital adicional” (MANDEL, 1982, p.411).
Nesse aumento provocado pela mais-valia, com Marx (1987a), tem a
possibilidade de observar que a acumulação do capital se efetiva na venda das
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mercadorias e na reconversão da maior parte do dinheiro recebido em capital. E
“acumular é empreender a conquista do mundo da riqueza social” (p.689).
Quando mencionamos acumulação capitalista, de acordo com Marx (1987a),
se apresenta o mandamento ‘acumulai, acumulai!’, e nesse prisma “acumular é a
formula com que a economia clássica expressou a vocação histórica do período
burguês” (p.691-692).
E, ainda, na questão da acumulação capitalista é importante observarmos
que se apresenta, como primeiro fator a conjugação do homem com a natureza, e
como o segundo fator está relacionada com o grau da produtividade do trabalho
(MARX, 1987a).
1.1.1. Sociedade
Partindo da atual circunstância que se configura na existência do modo
capitalista de produção é compreendido que há uma sociedade dividida em classes,
que se subentende que é resultado das contradições existentes na sociedade.
Todavia a sociedade “é um momento no processo histórico, e só pode ser
apreendida como parte daquele processo” (BRAVERMAN, 1987, p.29).
Assim, as sociedades capitalistas, sendo um processo histórico que está em
vigência, de acordo com Singer (2003a, 2003b), tem a possibilidade de evidenciar
que essa divisão se apresenta da seguinte forma: (1) classe proprietária e (2) classe
trabalhadora2. Partindo dessa desarmonia social é importante lembrar que, sendo
uma sociedade capitalista, a classe proprietária detém os meios de produção e a
classe trabalhadora vende a sua força de trabalho como meio para sua
sobrevivência numa sociedade altamente desigual3.
A presença das classes proprietária e trabalhadora na sociedade têm a
possibilidade de compreender que a classe trabalhadora está em constante
desenvolvimento social provocando pequenas ou grandes transformações na
sociedade (BRAVERMAN, 1987).
2 E na questão da venda da sua força de trabalho na perspectiva de Braverman (1982) tem a possibilidade de entender que nessa venda, a classe trabalhadora, não apresenta nenhuma autonomia econômica ou ocupacional. 3 É dessa desigualdade que se apresenta na sociedade que tem a possibilidade de salientar que, de acordo com Tiriba (2001), está presente uma sociedade que está dividida em três terços: um terço composto por camadas em ascensão e com poder de consumo; um terço sendo precariamente incluído e satisfazendo as suas necessidades em precariedade; e um terço de excluídos.
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Partindo de Bottomore e Outhwait (1996, p.99) existe uma observação que
deve ser destacada: a classe trabalhadora tem como referencia os trabalhadores
das minas, dos transportes, das fábricas (reunidos nas cidades industriais num
desenvolvimento rápido em função do modo capitalista de produção e no contexto
dos países de índices alto de desenvolvimento) que, na concepção dos marxistas,
compreende esses trabalhadores como sendo a ‘imensa maioria’.
Dessa ‘imensa maioria’ fazem parte àqueles que conseguem vender a sua
capacidade de produzir e os que não conseguem vender a sua força de trabalho
passa a compor o exército industrial de reserva. De acordo com Braverman (1987)
existe a possibilidade de compreender que o mesmo é formado por: 1)
desempregados; 2) os temporariamente empregados; 3) os empregados em tempo
parcial; 4) a massa de mulheres como donas-de-casa ou domésticas; 5) os
imigrantes; 6) a população negra com taxas extraordinariamente elevadas de
desemprego; 7) reservas estrangeiras.
Nas análises contemporâneas relacionadas com o mundo do trabalho, por
causa da reestruturação produtiva4, existe um debate que está baseado na perda da
centralidade do trabalho assalariado, que para os críticos vincula-se no surgimento
de pequenas unidades de produção com suas características baseadas no modo de
produção coletivo (TIRIBA, 1997).
Conseqüentemente, nessa nova organização do trabalho, como nas
empresas capitalistas, compreende que ocorre uma cooperação que, de acordo com
as elaborações de Marx (1987a), define como sendo “forma de trabalho em que
muitos trabalham juntos, de acordo com um plano, no mesmo processo de produção
ou em processo de produção ou em processos de produção diferentes mais
conexos” (p.374).
Ainda debatendo a cooperação, com Jesus e Tiriba (2003), tem a
possibilidade compreender que a sua ocorrência converge com a prevalência da
disposição do homem em viver socialmente, como espécie, e diminuindo a
individualidade, pois os autores salientam, partindo de Marx, que o homem é um ser
político por natureza5.
4 Que será abordado no próximo item deste capítulo.5 “Homo est naturaliter politicus, id est, socialis (O homem é, por natureza, político, isto é, social)” (ARENDT, 2003, p.32)
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Dessa forma com Pedrini (2000) tem a possibilidade de observar que,
também será visto com mais detalhes, esse meio de produção coletivo6 sendo como
uma cooperativa tendo como precursores os trabalhadores e assim tem a
possibilidade de compreender que é uma organização social.
E quando tem a noção de uma organização social pode surgir possibilidade
de fazer uma relação com a autogestão que, de acordo com Tiriba (1994) se
apresenta várias concepções, mas, no entanto, salientamos que autogestão pode
ser visto como: (a) alternativa de trabalho; (b) uma representação do socialismo
construído cotidianamente e gradualmente; (c) uma forma de administrar o capital;
(d) uma luta contra o desemprego.
Mas também podemos observar que na questão da autogestão pensando
como uma alternativa de novas organizações tem a implicação de possibilidade de
desenvolvimento, do uso do conhecimento-emancipação, tendo um fim a
solidariedade, mas sempre tomando cuidado para não tornar mais uma forma de
cooptação do trabalho e do trabalhador pelo capital (PEREIRA; LIBONI, 2001).
Assim Bobbio (2002) salienta que a sociedade civil é compreendida como
sendo lócus no qual os homens não estão isolados, livres ou até mesmo iguais.
Diante disso a desigualdade está presente por causa da divisão do trabalho e não
tendo a liberdade, pois tem a classe economicamente dominante que detém o poder
político.
Portanto com a colaboração do pensamento de Gramsci sobre sociedade
civil, é possível compreender que é um conjunto de organismos denominados
privados e o locus da atividade econômica propriamente dita (BIANCHI, 2002).
Contudo é observado que no pensamento gramsciano a sociedade civil, é o
locus em que as classes sociais se antagonizam entre elas. A categoria sociológica
sociedade civil está presente na superestrutura e não na base (infraestrutura) como
preconizava Marx (MONTAÑO, 2003).
1.2. Parâmetros Empíricos
1.2.1. Reestruturação Produtiva
6 No próximo capítulo esse aspecto será abordado com maiores detalhes.
19
Na atual conjuntura se apresenta um momento histórico em que cada vez
mais se configura numa frase “tudo que é sólido se desmancha no ar” (MARX;
ENGELS, 2002, p.29) que pode ser compreendida que as mudanças que transforma
as estruturas sociais até o momento se desmancham dando lugar a novas estruturas
sociais.
Rattner (2004) observa com veemência que na presente conjuntura ocorre
um momento de incertezas vinculado a uma competição darwinista social aliada a
irracionalidade da acumulação capitalista, que passa por uma transformação
comandada pelas elites dominantes em nome da manutenção do status quo.
As mudanças estruturais que tiveram inicio na década de 80, principalmente
nos países de capitalismo avançado, tendo um forte impacto no mundo do trabalho
faz com que a classe trabalhadora fosse atingida na forma de ser. (ANTUNES,
2000).
Quando se fala em mudança estrutural está se referindo a modo de
produção. Que entre as décadas de 1950 a 1980 predominou um modelo de
produção baseado na acumulação capitalista em massa que pode ser denominado
como modelo fordista de produção (MAGALHÂES; TODESCHINI, 2000).
E na atual conjuntura se configura um processo acumulativo do capital como
sendo flexível; que essa flexibilidade da acumulação capitalista, de acordo com
Guerini e Johnson (2001), é alimentada por investimentos financeiros que tenham
como objetivos na manutenção da taxa de lucro contendo um teor fantasmagórico,
pois tem seu baseamento na especulação financeira.
Mas para chegar nessa flexibilização da acumulação capitalista ocorre um
esgotamento da acumulação em massa que é condicionada fatores que são
destacados os seguintes: (1) a crise fiscal; (2) terceira revolução industrial; (3) a
globalização provocando assim a desestruturação das cadeias produtivas
(MAGALHÃES; TODESCHINI, 2000).
Nesse processo de desestruturação e reestruturação produtiva fez com que
o principio fordismo-taylorismo entrasse em choque provocando mudanças
econômicas, políticas e sociais que alcançou rapidamente e profundamente todos os
cantos do mundo. No contexto da mudança é importante salientar que no processo
produtivo o foco é a base organizacional e técnica de produção e que no campo
político é importante salientar a falência das concepções social-democratas (LEITE;
SILVA, 1996).
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No campo social e político é importante salientar que na atual conjuntura
neoliberal ocorreram severos cortes nos investimentos sociais provindo do Estado
com o intuito de instaurar a idéia do Estado mínimo para as vítimas da
reestruturação produtiva (GUERINI; JOHNSON, 2001).
Assim com Cardoso (2000) tem a possibilidade de observar que Estado
mínimo está associada no interesse nacional que atua na diminuição da regulação
ao mínimo possível defendendo o discurso neoliberal.
Ainda no campo político essa conjuntura neoliberal teve um forte aliado com
as eleições de 1979 e 1980 (Na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos), onde
Margareth Thatcher e Ronald Reagan aplicaram de forma implacável as ortodoxias
econômicas da ideologia neoliberal que tinham como objetivos no combate à
inflação na qual as ações estavam concentradas nas privatizações, nos cortes
sociais e no aumento dos juros (ANDERSON, 2000; SINGER, 2003a).
No entanto é importante frisar que alem do corte de investimentos sociais,
Magalhães e Todeschini (2000) compreendem que com o advento da globalização
sucedeu-se uma confrontação de mercados e dita terceira revolução industrial.
Mas quando se apresenta a Terceira Revolução Industrial vem à mente que
ocorre uma grande mudança na forma de produzir as mercadorias. É nessa
mudança que acontece um salto tecnológico a qual se utiliza a automação, a
robótica e até mesmo microeletrônica nas industrias fabris e que conseqüentemente
se insere e desenvolve nas relações do trabalho e na produção do capital
(ANTUNES, 2000; ALVES, 2000).
E com essas inovações tecnológicas e organizacionais com Alves (2000)
pode salientar que faz parte do ‘complexo de reestruturação produtiva’, a qual pode
ser compreendido como sendo um importante componente para a reestruturação.
Que conseqüentemente se baseia numa ofensiva do capital na produção buscando
um novo modelo de acumulação capitalista e debilitação do mundo do trabalho.
No contexto em que se apresenta a ideologia neoliberal é importante
salientar que esse liberalismo, com uma nova roupagem, é totalmente diferente ao
Welfare State que tem suas bases como sendo um Estado protetor. Já no
liberalismo com uma nova cara é baseado numa concepção filosófica no
individualismo como propulsor das relações (SINGER, 2003a).
Com essa base – no individualismo – tem a possibilidade de compreender
que ocorreu uma devida confiabilidade na capacidade do mercado de ser o locus da
21
sustentação para o modelo de produção que está sendo praticado na atual
conjuntura (RATTNER, 2004).
Pois nessa praticidade pode ser visto que no capitalismo, na atual
conjuntura, o mercado teve um considerado aumento na questão da competição
ligada na questão do consumo. E conseqüentemente o consumo tem uma
interligação com a produção. Ou seja, a produção, ou a reprodução, está ligada com
o consumo de uma mercadoria que está disponível no mercado (ANTUNES, 2000).
Dessa forma a ligação da produção com o consumo pode ser compreendida
como sendo uma ‘produção enxuta’ ou uma nova concepção produtora de
mercadorias que é entendido como toyotismo. Não obstante nesse modelo pode ser
configurado como sendo a submissão do modo de produção ao ‘ poder das coisas’,
ao mercado (ALVES, 2000).
Contudo é importante salientar que tanto no toyotismo, como no fordismo-
taylorismo, se apresenta em três características: (1) voltado para o crescimento; (2)
crescimento em valores reais aplicados na exploração do trabalho; (3) capitalismo se
apresenta numa dinâmica tecnológica e organizacional (ANTUNES, 2000).
Com a introdução do toyotismo como modelo de produção existente no
contexto do modo capitalista de produção pode-se compreender que ocorre um
esgotamento do modelo fordista que provém da crise que tem seu inicio em 1973.
No entanto nessa crise que atinge o fordismo pode ser compreendido como sendo
um acontecimento novo na história, muito pelo contrário é uma manifestação da
crise permanente do capitalismo (ANDERSON, 2000; ANTUNES, 2000).
Na reestruturação do capital, que aconteceu nas décadas 80/90 no Brasil
para alguns autores como Alves (2000), a mesma é vista como um contraste do
processo que aconteceu no governo de Kubitschek, pois na conjuntura estava
presente a idéia de desenvolver industrialmente o país, baseado no
desenvolvimentismo que estava centrado no lema defendido pelo presidente
naquele momento que era ‘cinqüenta anos em cinco’.
Contudo com a reestruturação produtiva que ocorrera no Brasil na década
de 90, numa época em que o neoliberalismo estava afirmado como uma ideologia
dominante em escala internacional, sucedeu-se não como um estímulo à uma
modernização do parque produtivo e a capacidade de competitividade. E com isso
aconteceu que teve uma considerável destruição de postos de trabalho destacando
no setor industrial (CARVALHO, 2001).
22
Mas no processo da reestruturação produtiva no Brasil, que teve uma força
maior na década de 1980, podem ser destacados dois períodos: o primeiro abrange
os anos 1981 a 1983, onde o processo da reestruturação produtiva se encaminhava
para o toyotismo restrito. No processo brasileiro :
Temos utilizado o conceito de ‘toyotismo restrito’ para caracterizar a particularidade do complexo da reestruturação produtiva no Brasil dos nos 80, o que determinava, em maior ou menor proporção, os alcances da ofensiva do capital na produção (ALVES, 2000, p.131).
Ou seja, esse conceito foi utilizado para explicar o processo que ocorrera no
inicio da década de 1980 (1981-1983), que pode ser compreendido como um fato
particular que atingiu o cenário industrial. Dessa forma podemos observar um
exemplo do ‘toyotismo restrito’ pois, além da introdução do just-in-time/ kanban, que
aconteceu no inicio da década de 80, também ocorreu à adoção, pela Ford do Brasil,
do programa que fora aplicado mundialmente, cuja dominação era employer
envolvement (ALVES, 2000).
Contudo pode-se observa que entre 1984 a 1986 ocorreu a automação
microeletrônica, promovendo assim, uma recuperação da economia brasileira, que
foi influenciada também pela introdução da automação industrial. No entanto, nesse
período, pode ser observado um decréscimo do empenho industrial na questão da
inovação organizacional (ALVES, 2000).
Já entre os anos de 1987 a 1989, temos o segundo momento, que pode ser
caracterizado por uma crescente instabilidade inflacionária e por flutuações do nível
da produção e do emprego. Contudo, é partir da década de 90, que pode ser
observada a instauração produtiva que for implantada a flexibilização da
acumulação. Com isso, Alves (2000), é importante observar que essa instauração
não ocorre na relação interisndustrial produtiva baseada na descentralização
produtiva e muita menos somente na relação infra-industrial tendo como base as
inovações tecnológicas e organizacionais sustentado no ideário toyotista.
No entanto Carvalho (2001) observa alguns pontos resultantes desta
reestruturação produtiva que ocorrera na década 90: (a) baixo crescimento
econômico; (b) deterioração das condições de trabalho e conseqüentemente da
renda; (c) aumento das desigualdades sociais; (d) reorientação profunda e
regressiva na questão das políticas sociais.
23
1.2.1.1. Desemprego
Na atual conjuntura que está presente não se pode deixar de lado o
fenômeno definido como o desemprego, que Krieger e Johnson (2004)
compreendem como resultado do processo das políticas sociais do neoliberalismo:
Dados do DIEESE mostram que na grande São Paulo, a proporção de trabalhadores em empresas com ‘contratação flexibilizada’ era de 20,9% em 1989, passando a 33,5% em 1999. Estes dados não dão conta do grande número de trabalhadores excluídos do emprego capitalista que ganham vida mercadejando algo pelas ruas, catando lixos ou se entregando as atividades ilegais.Esses dados meramente ilustram um retrocesso nas conquistas dos direitos sociais pelos trabalhadores, que à primeira vista parece irreversível (SINGER, 2003, p.14).
Mas quando se fala em desemprego é importante observarmos que, Souza
(2003) destaca o mesmo um dos fatores principais da exclusão social e, não
somente como um problema dos pobres, mas também das classes médias das
populações do mundo.
Na questão do desemprego é importante frisar que oficialmente pode-se ser
considerado “como desempregando apenas que, além de ter buscado emprego
ativamente no período de referencia, encontra-se apto para o exercício de uma
vaga, sem ter executado qualquer atividade laboral” (CARVALHO, 2001, p.133).
Para poder entender a questão do desemprego – e do emprego é importante
associar a dois processos macroeconômicos: a estabilização monetária. E também
na compreensão do desemprego causado pelas crises conjunturais do desemprego
causado pela globalização (SINGER, SLAM; CAMARGO, POCHAMANN, 1996).
Contudo na temática do desemprego Singer (2000a) observa que os
fenômenos denominados globalização e revolução industrial – a atual reestruturação
produtiva – têm causado efeitos fortes e difusos acentuando o desemprego e o
subemprego provocando o agravamento da exclusão social.
Mencionando de forma teórica o desemprego causado pela globalização,
com Singer (2000a) é observado que esse tipo de desemprego “é semelhante em
seus efeitos ao desemprego tecnológico: ele aumenta necessariamente o número
total de pessoas sem trabalho, mas contribui” (p.23). A questão do desemprego não
se deve ser tratada como um assunto secundário, pois estamos inseridos numa
sociedade regulada na reprodução da vida relacionada com o emprego e com a
24
lógica do consumismo, se por acaso relacionarmos com a lógica consumista a
situação social se torna periclitante.
Na questão da existência do desemprego estrutural se apresenta um
discurso dominante centrado na demanda no mercado de trabalho de mão-de-obra
mais escolarizada em determinadas ocupações, no entanto a escolaridade não é
uma condição determinante se cruzar anos de estudos com as categorias
correspondentes do mercado de trabalho (LETELIER G., 1999).
Dessa forma com a reestruturação produtiva, com o ideário neoliberal se
criam condições não para a existência de um Estado de bem-estar, mas sim para a
propagação de valores individuais proporcionando um momento hobbesmasiano7 no
mercado de trabalho provocando um mal-estar entre aqueles que estão inseridos
parcial, totalmente em algum setor de ocupação (SINGER, 2003a, LETELIER G.,
1999).
Mas, também, com Cardoso (2000) tem a possibilidade de observar que o
desemprego era esperado por causa dos efeitos colaterais da racionalização
produtiva principalmente o grande setor da industria. Que conseqüentemente nessa
lógica é criado um termo visto ‘empregabilidade’ que é compreendido como uma
face do processo das desregulamentações das relações sociais.
E em relação ao termo ‘empregabilidade’ tem devido importância em
observar que de acordo com Krayachete (2002), está intimamente ligada ao
processo de individualismo, na qual “caberia agora ao próprio trabalhador implantar
o seu trabalho, tendo a si próprio como sua melhor mercadoria” (p.86) que
conseqüentemente escamoteia o fenômeno do desemprego.
Mas, no entanto, é importante observarmos que os trabalhadores
despedidos são transferidos para o mercado de trabalho aumentando o número de
pessoas estando à disposição da exploração capitalista. Mas essa transferência está
relacionada com o aperfeiçoamento tecnológico (MARX, 1987a).
Portanto as questões do desemprego – estrutural e conjuntural – das
transformações que aconteceram nos últimos anos do século XX que atingiu uma
grande massa de trabalhadores nas redefinições das possibilidades de trabalho
aparecem como uma questão emergencial.
Mas ainda é observado que uma fração da classe trabalhadora que é
transformada pelo avanço tecnológico em população supérflua segue à dois
7 Um momento em que todos lutam contra todos.
25
dilemas: (a) sucumbe na luta desigual dos velhos ofícios, ou (b) provocar uma
inundação nos ramos de produção acessíveis provocando que o preço da força de
trabalho caia (MARX, 1987a).
26
Capítulo 2
COOPERATIVISMO: Uma visão dos clássicos
Quando nos debates apresentam as discussões sobre as desigualdades
sociais e as possibilidades para resolver ou amenizar essa questão nos faz retomar
uma velha discussão que já os clássicos já debatiam fervorosamente entre eles.
Que por conseqüência se apresenta a validação, valorização das práticas sociais,
políticas, econômicas das cooperativas. E para ter devido entendimento sobre o
movimento cooperativista há uma certa necessidade de conhecer o pensamento dos
clássicos – defensores e críticos – sobre esse tipo de organização que parte do
modo coletivo de produção.
No movimento cooperativista tem a importância de observar que no debate
que envolve essa temática (o cooperativismo) se apresenta um enquadramento
ideológico, que cuja formação se apresenta concepções filosóficas distintas e
antagônicas. Essas concepções filosóficas se apresentam o socialismo-cristão,
anarquismo e o marxismo (SANTOS, 1968).
Mas é importante salientarmos que dentre os defensores do movimento
cooperativista (os utópicos, os atuais pesquisadores8) se destaca os pensadores
utópicos, que nesse campo ideológico se encontra três categorias de utopismo: (1) a
primeira categoria se enquadra às fábulas destituídas de qualquer implicação e
significação política; (2) utopia crítica; (3) utopia social, a qual os defensores do
cooperativismo se enquadram.
Na compreensão do cooperativismo na perspectivas de Owen, Fourier,
Blanc e entre outros pensadores utópicos e críticos tem a devida importância de
entendermos o conceito de utopia, a qual se apresenta uma definição complicada
por causa da multiplicidade das aproximações do conteúdo, das propostas
subjetivas, que geram confusões, desentendimento que pressupõe contradições
entre a realidade e o rompimento da ordem existente que está relacionada com
reflexões políticas em cada tempo e cada país (BOBBIO, 2002).
No prisma do socialismo utópico, nos escritos de Owen, Fourier, Saint-
Simon e de tantos outros utopistas, tem a presença do credo socialista sendo
8 Será estudado no próximo capítulo.
27
expressão da verdade absoluta, da razão e da justiça que fez com que o movimento
cooperativista fosse uma forma de questionar a propriedade privada (TOLEDO,
2005).
Mas todo movimento cooperativista está presente na concepção da abolição
da propriedade privada, onde a socialização dos meios de produção representa
condições necessárias e indispensáveis para a construção do socialismo (TIRIBA,
1997).
2.1. Parâmetros Históricos
Entre os teóricos da sociologia do trabalho, como da Ciência Política do
trabalho, que estão inseridos no debate sobre a economia solidária que pode ser
compreendido como retorno às discussões que, de acordo com Lima (2004), eram
divididos entre os defensores do projeto reformista e do projeto revolucionário, mas
não deixando de lado na atual conjuntura a sociedade apresenta questões
emergenciais.
Partindo da concepção reformista ou revolucionária é importante salientar
que Singer (2004a) observa que a economia solidária teve seu nascimento um
pouco depois do capitalismo, na qual o surgimento está ligado aos efeitos maléficos
do capitalismo industrial que apareceram na sociedade ao longo do tempo da sua
existência.
Contudo tem a importância em salientar que, com Tiriba (1997), ao longo do
movimento da história do capitalismo industrial, desde o século XIX, os
trabalhadores vem constituindo, por iniciativa própria, pequenas unidades de
produção de vários tipos com a intenção de ter uma alternativa de trabalho e renda
para poder ter um meio de sobrevivência na sociedade altamente desigual.
Como a formação do capitalismo industrial e conseqüentemente a
exploração do capital nas fabricas, sem limites na qual os detentores dos meios de
produção contratavam forças de trabalho provinda das mulheres, das crianças com
idades entre dez anos no pleno inicio do século XIX que, de acordo com Singer
(2004, 2003a), surge a proposta da proibição da contratação de crianças de
menores de dez anos de idade, e limitação da jornada de trabalho. E nessa proposta
surge Robert Owen que inicialmente proibiu nas suas fabricas o emprego das
28
crianças e limitações de jornadas de trabalho. Contudo com essa atitude deste
industrial continuava obter lucros significativos e com isso fez com que ele ficasse
famoso como filantropo.
É importante salientar veemente que as ações de Robert Owen não estava
relacionadas com as questões de autopromoção, mas, muito pelo contrário, Aguiar e
Reis (2002) salientam que nas ações de Owen estavam relacionadas com as
preocupações nas questões da exploração do capital e na busca de um mundo
melhor.
Como no século XIX estava presente na Europa momento de crise, a guerra
napoleônica. E com isso a Grã-Bretanha entra em recessão e assim o desemprego
tornou-se epidêmico. Owen então apresentou ao governo britânico um plano que ao
invés de distribuir fundos como uma forma de sustento aos pobres, os mesmo
deveriam ser investidos na compra de terras e nas construções de aldeias
cooperativas (SINGER, 2004a; 2003c).
A existência de experiências baseadas nas premissas cooperativistas no
contexto de Robert Owen, que fora elaborado por George Mudie, por um grupo de
jornalistas, gráficos de Londres que fora proposto que nessa experiência se centrava
na criação de uma comunidade para poder viver dos ganhos das suas atividades
(AGUIAR; REIS, 2002).
Assim com Aguiar e Reis (2002) tem a possibilidade de observar que o
movimento owenista preconizou o surgimento de uma associação de tecelões da
cidade de Rochdale como a primeira associação baseada no cooperativismo que
influenciou diretamente o movimento cooperativista.
Contudo tem a possibilidade de salientar que o processo de construção de
comunas já teve o seu inicio antes do século XIX e o no momento atual apresenta-
se o reaparecimento das comunas como uma alternativa para os problemas sociais
e econômicos apresentados em vários países inclusive no Brasil (JESUS; TIRIBA,
2003).
O movimento cooperativista não somente teve atuação na Europa, mas
também aqui no Brasil como Schmidt e Perius (2003) salientam que essa atividade
tem inicio em 1847 quando um médico francês Jean Maurice Faivre sendo um
adepto aos ideais reformistas de Charles Fourier funda, tendo apoio de um grupo
europeu, a colônia Teresa Cristina sendo organizada em cooperativas, no entanto “o
29
cooperativismo, com a sua fisionomia de organização, apareceu no Brasil a partir de
1891” (p.64).
Conseqüentemente tem a possibilidade em observar que na Europa quanto
na América, com Singer (2004a) temos a compreensão de que o “owenismo foi
assumido pelo crescente movimento sindical e cooperativo da classe trabalhadora”
(p.28) como uma forma de luta contra os efeitos maléficos do modo capitalista de
produção.
E por conseqüência disso tem a possibilidade de observar que, de acordo
com Lima (2004), o cooperativismo de trabalho, de produção ou o movimento
owenista9 tem o seu nascimento com o movimento operário no século XIX. Mas
principalmente no Brasil no pleno século XX o movimento owenista10 ganha uma
devida força quando começa a ter a existência das experiências baseadas nos
princípios de Rochdale.
Contudo é importante salientar que no Brasil no século XX em que foi
constatado um fortalecimento do capitalismo como sendo uma forma desigual da
distribuição da riqueza e das oportunidades sociais e econômicas e também se
apresentou um momento em que teve as iniciativas articuladas pelos trabalhadores
desempregados ou que estavam empregados em empresas que apresentavam um
perigo eminente de falência, ou já falidos, para assegurar algum rendimento. Alguns
experimentos deram certos e teve que fracassaram após de um tempo em que
funcionamento baseado em autogestão. (SINGER; SOUZA, 2000c).
Porem na década de 1990 é possível encontrar um grande número de
trabalhadores – integrados na população economicamente ativas – já trabalhava em
iniciativas dos trabalhadores como sendo um resultado da reestruturação produtiva
que aconteceu no período de 1950 a 1980 (TIRIBA, 1997).
Dessa forma é importante observar que nos paises em desenvolvimento, o
caso brasileiro pode ser incluído, partir dos anos 1970 o movimento cooperativista
também foi uma proposta dos órgãos internacionais baseados na visão do
engajamento da sociedade nos projetos de desenvolvimento social (LIMA, 2004).
No movimento cooperativista tem a possibilidade de ser observado que
algumas escolas, além de Rochdale, que foram influenciadas pelos utopistas como 9 Movimento owenista ou owenismo pode ser considerado como uma expressão de uma doutrina comunitária e/ou revolucionária (CHATELET, DUHAMEL, 1993).10 Singer (2005) observa que o owenismo foi uma das primeiras doutrinas que chamou atenção das massas no período em que teve a presença da expansão produtiva através da energia a vapor e da fábrica.
30
pelos pioneiros de Rochdale que foram as fontes dos valores que o cooperativismo
tem como base. Assim pode ser destacada a seguinte escola: (1) de Raiffensem
(1847-1864); (2) de Nîmes, elaborada por Charles Gide com base dos princípios
rochdalianos; (3) da Universidade de São Francisco Javier pelos doutores Tomkins e
Mac-Pherson (SANTOS, 1968).
E dessas escolas do movimento cooperativista tem a possibilidade de
salientar que os princípios que nasceram com os pioneiros de Rochdale são os
seguintes: (1) um voto por cada membro; (2) as vendas são feitas de acordo com os
preços do mercado; (3) distribuição do lucro é feita de acordo com as ações detidas
pelos cooperados; (4) a existência da limitação de número de ações por pessoa; (5)
adesão livre; (6) neutralidade política e religiosa (BHOWMIK, 2002; SANTOS, 1968;
AGUIAR; REIS, 2002).
Gide compreendia que além dos princípios elaborados pelos pioneiros de
Rochdale existem doze (12) virtudes que são: (1) viver melhor ou conseguir uma
condição melhor do nível de vida através do auxilio mútuo; (2) pagamento em
dinheiro para evitar a devolução de ganhos sob as formas de excedentes; (4)
eliminar ou suprimir os intermediários; (5) combater o alcoolismo; (6) educar
econômica e politicamente o povo para autogestão; (7) interessar as mulheres nas
questões sociais; (8) reconstruir a propriedade coletiva através do patrimônio
cooperativo; (9) estabelecimento de preço justo, remunerado convenientemente para
o trabalho ligado à produção de mercadoria; (10) eliminar o lucro do capitalista; (11)
facilitar que todos tenham acesso à propriedade; (12) abolir os conflitos. Que
conseqüentemente o nosso autor salienta que para ter uma superação do
capitalismo era importante ter essas dozes virtudes, contudo passar por três etapas
é fundamental para a devida superação: primeiro passo seria organizado as
cooperativas de consumo para a eliminação do lucro e dos aumentos dos preços
das mercadorias; segundo passo seria as criações das cooperativas de produção
industrial com os fundos das cooperativas de consumo, e depois, no terceiro
momento, seriam organizadas as cooperativas agrícolas, que em todas essas
cooperativas o trabalho assalariado seria abolido. Contudo tem a importância de
observar que esses princípios como as três etapas são pontos preconizados pela
escola de Nîmes criada por Charles Gide, Boyer e Fabre em 1886 (AGUIAR; REIS,
2002).
31
Contudo nas escolas cooperativistas são destacados os falanstérios que fora
propagado pelo seu criador Charles Fourier e seus seguidores na qual estaria
baseada na produção em abundância, e que seriam comunidades formadas por
1620 pessoas (número igual de homens e de mulheres), na qual seriam centros de
economia fechada que somente seriam abertas para a troca recíproca dos produtos
produzidos pelos centros econômicos (HUGON, 1986).
No contexto do falanstério, como Hugon (1986), tem a possibilidade de
salientarmos que: (a) a repartição é feita com base no número de ações proporcional
ao valo do capital, da terra, da força de trabalho; (b) a repartição, na visão de
Fourier, estabelecida nas proporções: 4/12 para o capital, 5/12 para o trabalho, 3/12
para o talento ou capacidade; (c) cada associado seria um co-proprietário.
Em relação aos falanstérios tem uma devida importância em salientarmos
que são alternativas radicais ao capitalismo tendo como centro a reconstrução
econômica atingindo todos os setores da vida individual e social. E nessa
associação também é observado que além de ser uma fonte de inspiração para
cooperativas de produção tem o principio de ser uma associação livre e universal
(BOBBIO, 2002; HUGON, 1986).
Conseqüentemente podemos observar que o falanstério é uma:
Associação de pessoas que tinham como objetivo produzir bens de consumo. Organização fundamentada na associação livre e universal, mantendo a hereditariedade, a propriedade, o capital e o interesse individual, além da distribuição do excedente. Expressa a idéia de que ao trabalhador caberia uma parte do resultado social na proporção da participação social no trabalho coletivo (FIGUEIREDO apud AGUIAR; REIS, 2002, p.163).
Apesar disso, de acordo com Hugon (1986), temos a possibilidade de
observar que o falanstério pode ser visto como um projeto socialista, pois está
baseado na transformação da propriedade privada afirmando o direito à subsistência
e ao bem-estar; associonista, por causa da preconização da busca do
desaparecimento das falhas da organização existente; e liberal, por causa da defesa
da liberdade de todas as formas.
Das experiências provindas dos defensores daqueles apontados como
utopistas, anarquistas é importante salientarmos que pode ser enquadrada na
sociedade capitalista nos inícios da Revolução Industrial e como um movimento
proletário que teve intensificação na França sobre a égide do movimento utopista
32
francês, e na Inglaterra com Robert Owen que predominou na corrente do
movimento utopistas inglês (HOBSBAWN, 1987)
2.2. Os defensores do cooperativismo
2.2.1. Robert Owen, William King, Charles Fourier
Um dos fundadores do movimento cooperativista, sendo destacado Robert
Owen, tem a possibilidade de salientar que Owen “aprendeu que o caráter dos
homens é formado pelo ambiente em que são criadas, que vícios e maus hábitos
são causados por mais instituições” (SINGER, 2003a, p.221). Com isso pode-se
compreender que através dos ambientes que os indivíduos estão inseridos são
construídos seus hábitos, assim com as cooperativas e os indivíduos com uma
educação provida da infância que é possível construir hábitos que não degeneram
os indivíduos.
Owen acreditava que através da transição da sociedade capitalista – como
se apresentava no inicio do século XIX – para a sociedade socialista através da
organização de cooperativas de consumo e produção poder-se-ia alcançar um bem-
estar geral (TOLEDO, 2005).
No movimento cooperativista se destaca um médico chamado Willian King
que compreendia na formação das cooperativas poderia eliminar os males da
sociedade moderna. Inspirado pelo ideal de equidade, liberdade e fraternidade com
base na teoria que influenciou as cooperativas serem auto-suficientes, auto-ajuda e
sem intervenções externas (VEIGA; FONSECA, 2001; AGUIAR; REIS, 2002).
Outro defensor do movimento cooperativista é um francês socialista que
nasceu em 7 de abril de 1772, Charles Fourier, compreendia que “a ordem social
depende de leis morais e intelectuais e que o homem deve descobrir e viver de
acordo com estas leis” (VEIGA; FONSECA, 2001, p.25) e, que a sociedade deveria
ser organizada de uma forma que possibilitasse que os homens tivessem liberdade
para as paixões e desejos.
Em 1832 Owen cria National Equitable Labour Exchange que partir da
concepção do preço justo, na base do valor-de-uso. Na qual essa cooperativa
receberia produtos dos associados por trocas de uma estimativa em bônus de
33
trabalho, onde é compreendido que seria suprimido a moeda e conseqüentemente o
lucro (HUGON, 1986).
Na compreensão de Fourier que as organizações de comunidades
compostas por um número de pessoas com distribuição dos encargos baseados na
atração passional. Todo esse idealismo nas construções dessas comunidades
denominado falanstério é provocado pelas paixões sendo úteis (MOSCA; BOTHON,
1987; HUGON, 1986).
Contudo Owen no inicio do século XIX tentou no Canadá, Estados Unidos,
Escócia, organizar comunidades cujas divisões da produção e das terras seria de
acordo com os princípios comunistas (MOSCA; BOUTHON, 1987; PETITFILS,
1978).
Com o surgimento as experiências e da teoria do movimento owenista
demonstram que a critica romântica da burguesia tem seu inicio e tem a presença da
defesa da atividade industrial como um mecanismo de criar um novo tecido social.
Além da critica romântica apresentada pelo Owen, também teve a apresentação das
questões econômicas e sociais (CHATELET; DUHAMEL, 1993; HUGON, 1986).
Dos defensores do cooperativismo, cujas nacionalidades (ingleses e
franceses) apresenta diferenças de pensamento, onde os defensores franceses
demonstravam um pensamento econômico cooperativista direcionado para a
produção sendo especificamente agrícola (AGUIAR; REIS, 2002).
No pensamento de Fourier, como um representante dos pensadores
franceses, a humanidade tem dois problemas que podem ser vistos como
empecilhos para o desenvolvimento da humanidade: (a) a produção das riquezas;
(b) gozo dos prazeres limitados pelo casamento exclusivo. Mas a questão da
produção das riquezas está intimamente ligada com a revolução industrial, na qual a
preocupação rural como enfrentamento das questões sociais colocada pela primeira
revolução industrial. Assim o centro teórico de Fourier se apresenta na propriedade
privada. Pois ele compreendia que na eliminação da propriedade privada poderia
ocorrer uma transformação social (CHATELET; DUHAMEL, 1993; AGUIAR; REIS,
2002).
2.2.2. Louis Blanc, Saint-Simon
34
Dentre os defensores do cooperativismo temos a possibilidade de destacar o
pensamento de Blanc. Para ele, a formação das cooperativas, era vista como uma
reforma econômica e política para este pensador utopista, o Estado deveria tomar
emprestado do fundo público – destinar uma verba – para as construções dessas
cooperativas na qual tivessem meios de trabalho sem a presença dos capitais
privados (MOSCA; BOUTHON, 1987; HUGON, 1986).
Contudo, dos socialistas que viveram no ano de 1840 Blanc é o menos
teórico, como jornalista defendia o sufrágio universal. Mas na sua obra ‘Organização
do Trabalho’ mostra que a concorrência entre operários, entre máquinas e operários.
Era prejudicial tanto para os não-proprietários quanto para os proprietários dos
meios de produção (CHATELET; DUHAMEL, 1993).
No entanto dentre os socialistas utópicos, Blanc como sendo o menos
teórico elaborou uma critica direcionada ao ambiente existente (sociedade industrial)
que visava mais incisivamente a questão de livre-concorrência. Na qual “Louis Blanc
queria, [...], o desaparecimento do regime livre-concorrência, como melhorar a sorte,
não apenas de uma das partes componentes da sociedade – [...] -, mas também da
própria burguesia” (HUGON, 1986, p.179).
Dessa forma tem a possibilidade de observarmos que na supressão da livre-
concorrência (como sendo uma expressão do individualismo), como Blanc concebia
no combate, seria realizado através da criação de cooperativas (AGUIAR; REIS,
2002).
E diferentemente de Owen e Fourier, Louis Blanc preconizava criação de
associação na qual cada indivíduo seria co-proprietário dos meios de produção. Na
qual essa associação era concebida como uma oficina social, onde asseguraria a
vitória sobre a livre-concorrência. No entanto, nesse entendimento de associação
possibilita uma interpretação na idéia de Blanc, que ele concebia de forma
autoritária, mas na expansão das oficinas sociais para suprimir a livre-concorrência
se destaca a idéia de ser dinâmico e liberal (HUGON, 1986).
Mas todo fundamento da supressão da livre-concorrência, Blanc concebia
que essa disputa é nociva tanto para os proprietários e não-proprietários dos meios
de produção, na qual conduzem a existência de superprodução que constantemente
gera crises industriais (CHATELET; DUHAMEL, 1993).
Na preconização de um ideal baseado na associação como uma mediadora
da passagem do regime livre-concorrência para cooperação, que conseqüentemente
35
deixara da propriedade privada para propriedade coletiva. Na qual esse idealismo
tem como objetivo a criação da sociedade comunista (AGUIAR; REIS, 2002).
Já em Saint-Simon tem a possibilidade de observarmos que todo progresso
da humanidade não se limitava somente nas mudanças provindas pela Revolução
Francesa; onde a ciência, como uma utopia, ajudar no desenvolvimento da
humanidade (CHATELET; DUHAMEL, 1993).
Contudo no contexto de Saint-Simon, no final do século XVIII, estavam
presentes as conturbações econômicas, sociais de grande importância, que
provocou o aparecimento das preocupações vinculado à moral, à humanidade, ou
até mesmo metafísicas que custaram um considerável preço aos homens deste
século – século XVIII – que sucederam pesquisas centradas nas questões
econômicas e/ou sociais conseqüentemente destacam os trabalhos de Saint-Simon
(PETITFILS, 1978).
Dessa forma é destacado que na obra de Saint-Simon pode ser entendido
que há uma pergunta sobre o convívio social nas condições sociais históricas que
foram construídas após das revoluções – Revolução Industrial e Revolução
Francesa – que conseqüentemente torna centro nas reflexões saint-simoniana
envolvendo a ‘doença política’ apontada como egoísmo. E toda reflexão que a
doutrina saint-simoniana envolve os problemas econômicos e sociais. Não tendo
como individuo isolado, mas sim pertencente a um quadro social (CHATELET;
DUHAMEL, 1993; HUGON, 1986).
Contudo os primeiros resultados científicos de Saint-Simon teve seu inicio
em 1802 pelas cartas enviadas à um cidadão de Genebra, a qual se destacavam
primeiros sinais do seu sistema – de uma sociedade industrial. Que separaria a
filosofia das ciências e o destaque da necessidade da ciência global (MOSCA;
BOUTHON, 1987; PETITFILS, 1978).
A sua teoria faz com que se tenha uma quebra nas formas dos discursos
científicos que até então existiam e da mesma forma contraria o positivismo, pois a
doutrina saint-simoniana está presente em duas frentes: (1) a visão da escala
ecumênica; (2) uma perspectiva estritamente econômica e política (CHATELET;
DUHAMEL, 1993).
E toda construção teórica da doutrina saint-simoniana está alentada na
compreensão da histórica como:
36
um lento processo de industrialização, evidente através de fases de alternadas de ordem e de crise. Desde a idade média, o fenômeno é perceptível com a decadência do feudalismo, a ascensão social dos comerciantes, a emancipação das comunas (PETITFILS, 1978, p.55).
Como Saint-Simon compreendia que a história é um lento processo de
industrialização, no seu projeto a sociedade industrial – a sociedade de amanhã -,
seria organizada por duas ordens: moral e intelectual. Mas para chegar na
sociedade industrial os indivíduos iriam utilizar a participação e cooperação
(PETITFILS, 1978; MOSCA; BOUTHON, 1987).
Saint-Simon compreendia que no antigo sistema se apresentava uma
relação social antagônica – senhor/ escravo; proprietário/ não-proprietário;
empregador/ empregado – e no novo sistema o povo seria associado. Isto é, até o
advento da sociedade industrial as relações se dão em lutas de classe, e com o
surgimento da sociedade industrial as relações se dão através da concórdia
universal (HUGON, 1986; PETITFILS, 1978).
2.3. Pensamento Anarquista
Dentre os defensores do movimento cooperativista se destaca também o
pensamento anarquista, na qual destaca-se nesse pensamento filosófico que está
alicerçado na negação da autoridade, afirmando a liberdade e tendo a premissa na
ação individual partindo da autogestão social (PAGOTTO, 2005).
E nesse pensamento se destaca Proudhon que compreende as relações
econômicas como sendo organizadas na sociedade apresentam defeitos. E toda sua
critica construída no seu arcabouço teórico se mostra ao liberalismo e ao socialismo
(HUGON, 1986).
A critica ao liberalismo se apresenta na questão da propriedade privada,
onde Proudhon observa que a mesma pedra fundamental para uma sociedade
baseada na desigualdade. Na condenação severa apresentada pelo autor é
compreendida como sendo um roubo, pois sendo a propriedade de um homem é
retirado do fundo comum que pertence a sociedade (HUGON, 1986).
Juntamente com a critica ao liberalismo Proudhon relembra que tendo um
modo de produção sustentado no direito de usar e abusar estabelece na sua base
37
social a dicotomia capital / trabalho, uma luta de classes ente os não-proprietários e
os proprietários dos meios de produção (CHATELET; DUHAMEL, 1993).
Contudo Proudhon também faz criticas ao socialismo a qual é dirigida à
concepção dos socialistas em relação à propriedade e aos elementos econômicos
que formam a sociedade. Esse pensador anarquista faz condenações severas ao
socialismo associonista por causa deste último propõe substituir o trabalho
assalariado pelo trabalho associado, que conseqüentemente perde toda liberdade,
tem a presença autoritária e hierárquica (HUGON, 1986).
Com essa critica ao socialismo, Proudhon rompe com os sistemas
socialistas anteriores, pois entendia que não seria a supressão das instituições que
iriam resolver os problemas sociais existentes e sim, a busca de equilíbrio das forças
e dos interesses (AGUIAR; REIS; 2002).
Assim esse pensador anarquista observa que a propriedade deverá ser
substituída por posse; tendo a recriação dos mecanismos econômicos, financeiros
para que sejam atendidas as necessidades dos mais pobres. Dessa forma em 1848
Proudhon funda Banco de trocas e em 1849 funda Banco do Povo, que este último
consegue 27000 adesões, tanto as instituições Banco do Povo como Banco de
trocas podem ser compreendidas como sendo uma proposição na eliminação do
trabalho sem renda (PAGOTTO, 2005; AGUIAR; REIS, 2002).
Com o Banco do Povo e Banco de Trocas tem a possibilidade de
observamos que as cooperativas abrem espaços para trabalho com a pressuposição
da abolição da autoridade hierárquica, e com a formação de uma rede cooperativas,
sendo hipoteticamente, a geração de uma comunidade tendo a principio a
cooperação (PAGOTTO, 2005).
2.4. Os Críticos do cooperativismo
Antes de entrarmos na questão do cooperativismo na visão dos críticos é
importante salientar que os ditos socialistas utópicos ou até mesmo socialistas pré-
marxistas de certa forma tiveram influencia tanto em Marx como em Engels; no
entanto o jovem Engels teve interesse no movimento saint-simoniano. Mas os dois
autores críticos influenciados pelos utopistas observam que Saint-Simon, Fourier,
38
Owen mereciam uma particular atenção pelas elaborações das criticas românticas à
sociedade burguesa que surgia da revolução industrial (HOBSBAWN, 1987).
De forma direta e criticamente com Marx e Engels (2002) tem a possibilidade
de observar que os sistemas elaborados pelos utopistas (Saint-Simon, Fourier, e
Owen) aparecem no período em que os antagonismos entre proletariado e a
burguesia nascia.
No movimento cooperativista como fora apontado pelos utopistas seria uma
forma pacifica de superação do modo capitalista de produção, assim é importante
relembrar que Marx compreendia como sendo uma forma híbrida, a qual unia a
economia política burguesa com a economia política proletária (TOLEDO, 2005).
Na observação de Pagotto (2005) Karl Marx, no manifesto inaugural da
Associação Internacional do Trabalho (AIT) destaca a importância do movimento
cooperativista e das fábricas cooperativas criadas sem apoio dos governos como
parte do processo da tentativa da superação da dicotomia capital / trabalho.
No entanto no Programa do partido Operário Alemão enfatiza a importância
da cooperativa na superação da dicotomia capital / trabalho:
O Partido Operário Alemão exige, para preparar o caminho para a solução da questão social, o estabelecimento de cooperativas de produção, subvencionadas pelo Estado, sob o controle democrático do povo trabalhador. As cooperativas de produção devem ser criadas na industria e na agricultura como uma amplitude tal que delas surja a organização socialista do trabalho comum (MARX; ENGELS, 2002b, p.118).
Contudo Marx e Engels (2002b) observam que em vez de ter uma revolução
social, acontece uma solidificação do poder do Estado. Pois no Programa do Partido
Alemão está presente que o Estado cria as cooperativas para que supostamente irá
ajudar o trabalhador na sua luta pela emancipação. E em relação às cooperativas
“estas só tem valor enquanto são criadas independentes, realizadas pelos
trabalhadores” (MARX; ENGELS, 2002b, p.120).
No movimento cooperativista é importante observarmos que Marx, na
Primeira Internacional Comunista, reconhece que
É uma das forças transformadoras da sociedade baseada em antagonismos de classe; que seu grande mérito é mostrar que a cooperação subordinada do capital, causadora da miséria da classe operaria, pode ser superada pela ‘associação de produtores livres e iguais’ (PAGOTTO, 2005, p.17).
39
Dessa forma temos a possibilidade de salientar que nem Engels nem Marx
faziam condenações ao movimento cooperativista. Pois compreendiam que tinha
mérito na perspectiva da emancipação da classe operaria; e eles criticavam
severamente as cooperativas que eram apoiadas pelo Estado (TOLEDO, 2005).
Contudo entre os críticos do cooperativismo é destacado com Marx a qual
observava um perigo existente, no combate ao modo capitalista de produção que
seria os trabalhadores auto-explorarem, pois esses mesmos seriam os patrões de si
mesmos (LIMA, 2004).
No entanto, com Marx (1987b), tem a possibilidade de observar que o
aparecimento das cooperativas no interior do modo capitalista de produção é a
primeira ruptura da velha lógica, contudo na sua organização efetivada reproduzem
a contradição do modo de produção em vigência.
Não obstante é observado que Marx alertava os trabalhadores que o sistema
cooperativo por si só não transformará a sociedade capitalista. Mas notabilizava que
o movimento cooperativista tinha grande mérito em mostrar que a cooperação
submissa ao capital, causadora da miséria da classe operária, pode ser superada
pela ‘associação de produtores livres e iguais’ (PAGOTTO, 2005).
No comentário sobre o Programa do Partido Operário Alemão, que Marx faz,
temos a possibilidade de observar que nele também se apresenta a compreensão
sobre o movimento cooperativista como sendo uma concessão da burguesia para
atenuar as condições miseráveis de vida da classe operária (TIRIBA, 1997).
Partindo dos precursores do marxismo – Marx e Engels – têm a possibilidade
de destacar uma recuperação do debate teórico provocado por Bernstein e Rosa
Luxemburgo, partindo do Programa de Erfurt que parte da necessidade da
socialização dos meios de produção como forma de superação do modo capitalista
de produção (TIRIBA, 1997).
Com o Programa de Erfurt tem a possibilidade de observar que o socialismo,
é compreendido como uma necessidade histórica que se dará através das
instituições presentes na sociedade: os sindicatos e as cooperativas (PAGOTTO,
2005).
Refutando o revisionismo de Bernstein, com Tiriba (1997), tem a possibilidade
de observar que Rosa Luxemburgo compreendia que a luta contra o modo
capitalista de produção deve ser direcionada pelo movimento socialista a luta contra
a ‘distribuição capitalista’.
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Assim com Toledo (2005) pode-se ser destacado que no pensamento de
Rosa Luxemburgo as cooperativas são formas híbrida no modo capitalista de
produção, como pequenas unidades de produção baseada na socialização dos
meios de produção no seio da troca capitalista.
Com Tiriba (1997) tem a possibilidade de observar que Rosa Luxemburgo
compreendia que as cooperativas de produção são apêndices das cooperativas de
consumo e como estão inseridas numa sociedade com bases na lógica do capital
ficam excluídas dos ramos mais importantes das produções capitalistas.
Dessa forma Rosa Luxemburgo compreendia que as cooperativas
representam uma importância com limitação na transformação das estruturas socais
e econômicas, e como sendo uma forma de organização através da coletividade dos
meios de produção inserido no contexto do modo capitalista de produção que
conseqüentemente essa organização está permeada, moldada pela lógica estrutural
do modo capitalista de produção em vigência (PAGOTTO, 2005).
O debate que aconteceu entre Rosa Luxemburgo e Bernstein está inserido
nas discussões que II Internacional Comunista esteve envolvida: o revisinismo e a
ortodoxia marxista – reforma social versus revolução social socialista. No entanto
essa discussão sempre estava presente nos teóricos que estudavam as questões da
classe trabalhadora e com isso em 1900 Paul Lafargue defendeu quem as
cooperativas seria o meio de recrutamento e educação condenando as cooperativas
de produção e defendendo as de consumo, pois as de produção seguem os
princípios do modo capitalista de produção (SECCO, 2003).
Mas também nessa critica à cooperativa de produção Rosa Luxemburgo de
forma impiedosa observa:
Mas, na economia capitalista, a troca domina a produção, fazendo da exploração impiedosa, isto é, da completa dominação do processo de produção pelos interesses do capital, em face da concorrência, uma condução de existência da empresa. Praticamente, exprime-se isso pela necessidade de intensificar as horas de trabalho o mais possível, de reduzir ou prolongar as horas de trabalho segundo as necessidades do mercado ou de atirá-la na rua, em suma, de praticar todos métodos muitos conhecidos das outras. Resulta daí, por conseguinte, para a cooperativa de produção, verem-se os operários na necessidade contraditória de governar-se a si mesmo com todo absolutismo necessário e desempenhar entre eles mesmos o papel do patrão capitalista. E desta contradição que morre a cooperativa de produção, quer pela volta à empresa capitalista de produção, quer, no caso de serem mais fortes os interesses dos operários, pela dissolução (LUXEMBURGO apud SINGER, 2000b, p.17).
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Portanto na perspectiva dos pensadores clássicos críticos do movimento
cooperativista tem a possibilidade de observar que tem duas vertentes: (1)
revisionismo; e, (2) ortodoxia marxista. A qual o embate teórico entre essas duas
frentes consistia que, para os revisionistas as cooperativas de produção, apesar de
ter a lógica nefasta da acumulação capitalista, poderia ser um dos fronts na luta pela
superação do modo de produção em vigência. Mas, para os ortodoxos marxistas as
cooperativas de produção não poderiam ser um dos fronts da luta operaria, pois
reproduz a lógica do modo capitalista de produção (SECCO, 2003; PAGOTTO,
2005, TIRIBA, 1997).
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Capítulo 3
ECONOMIA SOLIDÁRIA: Uma visão dos pensadores
contemporâneos
3.1. Características e conceituação
Com o surgimento da problemática do desemprego, que nos últimos tempos
vem atingindo cada vez mais pessoas na sociedade. Com isso, se torna um dos
pontos centrais mais preocupantes nos pesquisadores – das mais variadas linhas de
pesquisa – nos assistentes sociais, nos gestores públicos e nos políticos
interessados na diminuição desta alarmante questão social. E como estamos no
limiar do século XXI, é preciso pensar numa forma de lutar por alternativas que
partem do econômico, social com um grau de emergência por estarmos num
momento em que o modo capitalista de produção alcançou um alto nível de
aceitação (SANTOS; RODRIGUES, 2002).
Dessa forma, neste contexto em que a globalização se apresenta
hegemônica, a lógica do consumo – visto como uma relação social que pode ser
parafraseada: ‘eu consumo, logo existo’ – a validação e valorização das
organizações cooperativas têm um considerável aumento (KRIEGER; JOHNSON,
2004; FRANTZ, 2002; PAULI, 2003).
Antes de tudo, para podermos entender a questão da economia solidária é
importante observarmos que, no Brasil se apresenta um sistema socioeconômico
composto por diferentes modos de produção, convivendo e competindo entre si.
Deste sistema socioeconômico pode ser destacado o modo capitalista de produção
e da existência da mão-de-obra assalariada. E outro modo de produção que faz
parte deste sistema socioeconômico brasileiro, cuja sua formação é alicerçado
principalmente nas pequenas empresas familiares (SINGER, 2003a).
Contudo, nas ultimas décadas, as questões que envolvem a economia
solidária, estão tendo grande importância e atenções nos debatem, pois também faz
parte do complexo sistema socioeconômico brasileiro, cuja sua formação é
alicerçado principalmente nas cooperativas autogestionárias. Contudo não pode
esquecer que a economia solidária, também, é alicerçada por empresas
43
autogestionárias, associações dos trabalhadores (RECH, 2003; SINGER, 2003b;
FRANÇA FILHO; LAVILLE, 2004).
Dessa forma, temos a possibilidade de observar que a economia solidária –
como sendo iniciativa – em muitos casos tem sido interpretada como sendo
questionamentos da capacidade do Estado remediar efeitos do mercado, que
conseqüentemente, propõe o fortalecimento da sociedade organizada (CUNHA,
2003).
Mas na questão da economia solidária, partindo dos debates existentes
entre pesquisadores e defensores, temos a possibilidade de salientar que existem
dois aspectos que chamam a atenção: (1) a critica ao modo capitalista de produção;
(2) o sonho da sociedade socialista tendo perspectiva a coletividade (RECH, 2003).
Sobre a questão da economia solidária, também é importante salientar que é
uma iniciativa que pode ser interpretada como uma das formas de enfrentamento ao
sistema dominante e fontes para a elaboração de uma alternativa de trabalho e
renda (CUNHA, 2003).
Contudo na proposta da economia solidária, partindo de Bocayuva (2003),
tem a possibilidade de observar que, como sendo uma luta anti-capitalista, se
destacam três aspectos: (1) oposição direta contra industrialização; (2) movimento
cultural e ideológico permeado com ideais da revolução francesa e com os princípios
de Rochdale; e (3) forma de organização autônoma.
Nas experiências existentes da economia solidária, no Brasil, temos
possibilidade de salientar que tem dois grandes tipos de grupos formadores das
experiências: (1) empresas que passaram, ou passam, por situações falimentar ou
pré-falimentar; e (2) origem estimulada por políticas de governos progressistas ou de
iniciativas comunitárias (TAUILE, 2001).
Na formação de cooperativas, partindo da situação falimentar das empresas,
com Lima (2004), temos a possibilidade de salientar que essas ‘cooperativas
defensivas’ ou ‘cooperativas fênix’, “são formadas pelos operários visando manter os
empregos a despeito do fechamento ou da falência de fábricas e empresas” (p.49).
E nesse aspecto, as cooperativas são o último recurso para os empregados.
Contudo com Cortizo e Oliveira (2004) é possível notabilizar que a economia
solidária abrange várias iniciativas que tem como base a justiça, democracia e a
autogestão, e a vivencia desses princípios nos faz refletir sobre a possibilidade de
mudança, superação da autonomia dos trabalhadores e trabalhadoras.
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Das experiências que se inserem na temática da economia solidária
podemos salientar que, as causas das constituições destas experiências podem ser:
(a) as transformações do mundo do trabalho; (b) o apoio externo; (c) a sociedade
civil organizada; (d) o crescimento das políticas públicas; (e) a ação coletiva dos
trabalhadores; (f) o desencanto com a modernidade; (g) os princípios da
solidariedade e de cooperação em nível local; e (h) o retorno do solidarismo
(PEDRINI; SANTOS, 2004).
No contexto da economia solidária, é importante salientar, as cooperativas
de produção, de comercialização, de consumo e de crédito. Mas, no entanto, as
cooperativas de produção é a modalidade básica da economia solidária (SINGER,
2002).
Partindo de Tauile (2001), é importante destacar que, a economia solidária
pode ser conceituada como ação:
De trabalhadores excluídos do mercado formal de trabalho que através de sua auto-organização constituem empreendimentos coletivos de produção e/ou serviços ou assumindo empresas falidas ou em dificuldade que, num primeiro momento visam a obtenção de trabalho e renda ou a manutenção dos postos de trabalho para auto-sustentação (p.4).
Mas também que também pode ser conceituada como:
A economia solidária recobre diferentes formas de organização onde os cidadãos e cidadãs se incubem seja para criar sua própria fonte de trabalho, seja para ter acesso a bens e serviços de qualidade ao mais baixo custo possível, numa dinâmica solidária e de reciprocidade que articula os interesses individuais aos coletivos (ROCA apud idem, p.3).
No entanto é importante salientar que, no contexto da economia solidária,
tem alguns pesquisadores que elaboraram um conceito modelo, que é
empreendimento econômico solidário (EES) para explicar e classificar algumas
manifestações atuais da economia solidária que partem dos princípios reelaborados
através das experiências cooperativistas do inicio do século XIX, que são:
autogestão, democracia, participação igualitarismo, cooperação, auto-sustentação,
desenvolvimento humano e responsabilidade social (GAIGER, 2004).
Contudo, é importante observar que, para o conceito de economia solidária –
como Paul Singer salientara – temos várias concepções, e que nessas diversas
definições conserva, em comum, a oposição entre a sociedade e o individualismo
pregado pela lógica neoliberal (LIMA, 2004).
45
Nessa perspectiva da conceituação da economia solidária temos a
possibilidade de observar que, de acordo com Frantz (2002), a conceituação de
organização cooperativista está relacionada com três pontos direcionantes: (1) ação
organizadora; (2) associação com definição dos objetivos/ interesses; (3)
instrumentalização para o mercado.
3.2. Aspectos políticos, econômicos e sociais da economia solidária
Ao mencionar economia solidária, como sendo tema de debate fervorosos
entre acadêmicos e teóricos, é importante notabilizar que, o modo capitalista de
produção tende a ter concentração da propriedade do capital nas grandes
empresas, conseqüentemente a renda no grupo gerencial das empresas e, fazendo
contraposição à essa lógica da concentração temos a pequena produção de
mercadorias e a economia solidária, que tende à desconcentração da propriedade e
da renda (SINGER, 2003b). Que, de acordo com Rech (2003), as iniciativas da
econômica solidária têm a perspectiva da criação de condições para que as pessoas
tenham recursos que seriam destinados à constituição dos meios de manter com
dignidade a si e às suas famílias, contribuindo para o processo de transformação
social.
No contexto do cooperativismo é importante observarmos que:
A pratica cooperativista ou o movimento cooperativista é uma questão fundamentalmente, econômica. Porém, ela se torna uma questão política, social e cultural, exatamente na medida em que assume importância econômica, seja para seus associados ou seja para a economia em geral (FRANZ, 2002, p.2).
Partindo das questões sociais, culturais e políticas da economia solidária, é
importante destacar que, além de ser um projeto é também um movimento social,
pois esse fenômeno é constituído como uma resposta ao desemprego e à exclusão
social (VERARDO, 2003; SOUZA, 2003).
A questão cultural da economia solidária, como alternativa de emprego e de
renda, é altamente marcante, pois desenvolve tanto no mercado e na sociedade que
essencialmente são avessos à solidariedade. E como sendo uma alternativa
pressupõem-se dois elementos básicos: (1) a negação do modelo existente; (2) e
uma perspectiva diferenciada (VERARDO, 2003).
46
E essa questão cultural que se apresenta na economia solidária, como
sendo uma recuperação, representa uma potencialização na possibilidade
agregadora e integradora das organizações presentes com os preceitos da temática
perante o fenômeno globalização (FRANTZ, 2002).
Mas, quando se fala em iniciativa de economia solidária, de acordo com
Rech (2003), não tem como distanciar da questão cultural, pois com o
desenvolvimento das iniciativas tendem a procurar a superação da dominação
ideológica que colocara as pessoas pertencentes a uma gama da população como
dependentes. E, além do ponto cultural que se apresenta, tem mais duas questões –
econômicas e política – que estão no cerne da temática da economia solidária, uma
vez que suas iniciativas sempre se apresentam centradas nestas questões, como foi
observado por Krieger e Johnson (2004).
Mas ao mencionar a questão política das iniciativas de economia solidária é
importante compreender que a elaboração destas iniciativas está presente no
processo econômico da produção, na distribuição das riquezas que forma o
significado político das iniciativas (FRANTZ, 2002).
Na perspectiva da questão política da economia solidária também pode ser
observada a necessidade da busca da autonomia da classe trabalhadora como
sendo a condição para a criação de um novo modo de produção para que tenha a
implementação efetiva (BOCAYUVA, 2003).
E quando se fala em iniciativas de economia solidária tem a devida
importância em salientar que as questões políticas destas experiências são avessas
das políticas compensatórias; isto é, a economia solidária busca a autonomia, não
busca a dependência, a precarização do trabalho (VERARDO, 2003).
Contudo é importante observarmos que ao mencionar a questão política das
iniciativas de economia solidária está-se falando, também, no processo de
politização, e que nesse processo significa “identificar relações de poder e imaginar
formas práticas de transformar em relações de autoridade partilhada” (SANTOS
apud CORTIZO; OLIVEIRA, 2004, p.85).
E nesse processo de politização, como um dos aspectos das iniciativas de
economia solidária, pode ser identificado como sendo uma forma de atuar nas
instancias político-partidário no município, do Estado na busca de espaços de poder
para influenciar as áreas de produção, distribuição e controle dos recursos públicos
(PEDRINI, 2000).
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Mas, no entanto, a questão política no interior das iniciativas de economia
solidária, de acordo com Krieger e Johnson (2004), está se referindo à participação
política que pode ser compreendido como sendo a:
Participação política em organizações cooperativas, [...], se entende todo envolvimento do associado os rumos da cooperativa, através de reuniões, assembléias, conselhos, comitês e outras formas de comunicação, debate, de critica ou de sugestões (FRANTZ, 2002, p.11).
E quando à questão econômica das iniciativas de economia solidária
relacionada com aqueles que desenvolveram a iniciativa, é compreendido como
participação econômica, na qual “diz respeito à capitalização do empreendimento
cooperativo, às relações de uso, por parte do associado, de toda estrutura de
serviços de organização cooperativa” (FRANTZ, 2002, p.11).
Nessa perspectiva, com França Filho e Laville (2004) temos a possibilidade
de observar que a questão econômica da economia solidária, como geral, tem por
vocação combinar a dimensão comunitária com a dimensão política na sua ação,
que conseqüentemente tem as suas ações fortemente baseadas nos vínculos
comunitários alterando na resolução dos problemas públicos ligados às condições
de vida das pessoas inseridas nas iniciativas de economia solidária.
3.3. Perspectiva Critica
Ao pensarmos nas iniciativas de economia solidária, partindo do pressuposto
da questão social periclitante causado pela lógica das políticas sociais neoliberais,
surgem alguns questionamentos: (1) tem a possibilidade de reverter num futuro
próximo à exclusão da maioria dos trabalhadores? (2) o que poderia ser feito? (3)
tem a possibilidade de garantir os direitos sociais aos trabalhadores ‘irregulares’,
inclusive aqueles contratados pelas cooperativas? (SINGER, 2003).
Diante desses questionamentos, Bocayuva (2003) observa que, Paul Singer
renova o projeto da revolução socialista onde, com uma apropriação efetiva dos
meios de produção pelos trabalhadores, os mesmos poderão romper com as
relações sociais, as técnicas de produção, forças produtivas alicerçadas e
dominadas pelo capital.
Pois Paul Singer, sendo um dos pesquisadores da temática da economia
solidária, compreende esse projeto autogestionário dos trabalhadores como sendo
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uma nova forma da revolução socialista – está crescendo, revolucionando no
decorrer da existência do modo capitalista de produção, porém está num processo
lento ao contrário da revolução capitalista quando rompeu os laços feudais. Esse
projeto da revolução socialista está em construção à aproximadamente dois séculos,
começando na Grã-Bretanha (CUNHA, 2003).
Nessa perspectiva, na leitura de Bocayuva (2003), temos a possibilidade de
enfatizar que, a revolução social socialista é resultado dos antagonismos,
resistências ao sistema capitalista com a transformação da supra e infra-estrutura
pelos sindicatos, as cooperativas e a conquista do sufrágio universal.
Assim, com Singer (2000b), temos a possibilidade de observar que, as
iniciativas de economia solidária, em muitos países, ao longo do tempo, se
destacam como uma proposta de luta contra o modo capitalista de produção que
vem ao longo dos tempos provocando efeitos nefastos.
Como sendo uma das faces da luta dos trabalhadores, o pensamento
cooperativista estabelece alguns limites ao domínio do modo capitalista de produção
que conseqüentemente deixa aberta a questão clássica “Até que ponto as
‘sementes’ que foram plantadas ao longo da consolidação hegemônica do modo
capitalista de produção podem expandir?” (BOCAYUVA, 2003).
Uma questão, que Paul Singer mostra com sendo uma grande preocupação
do desemprego em massa, e a do subemprego existente, numa pequena hipótese,
de que os trabalhadores tenham que trabalhar individualmente, e que uma das
saídas para amenizar a problemática do desemprego e outras seqüelas sociais
precisaria de que os trabalhadores empregados parcialmente, precariamente,
formais, os desempregados se organizarem criando alternativas de produção,
consumo, distribuição de mercadorias (OLIVEIRA, 2003).
E essa alternativa de produção, de consumo e de distribuição organizada
pelos trabalhadores, está se destacando como um assunto de interesse público que
também constitui a categoria dos movimentos sociais no Brasil, pois demonstra uma
mobilização numa proposta socioeconômica solidária (SOUZA, 2003).
Contudo Cunha (2003) observa que existe um debate fervoroso entre os
acadêmicos e pensadores destacando um vínculo da economia solidária com
‘terceiro setor’. Centrando as discussões em torno da idéia que as iniciativas de
economia solidária são experiências ‘não lucrativas’ que conseqüentemente se
aproxima do ‘terceiro setor’. Não obstante para nossa autora as iniciativas de
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economia solidária são reconhecidas como sendo do setor econômico pois as
formações dos empreendimentos são compreendidas como empresas.
Contudo o que a nossa autora, acima citada, não observou que, com França
Filho e Laville (2004), no setor econômico, ou esfera econômica, tem a finalidade de
desenvolvimento da economia mercantil ao contrário como preconiza a economia
solidária. E na esfera econômica tem o favorecimento para o desenvolvimento das
empresas capitalistas e não cooperativas, associações de trabalhadores, empresas
autogestionárias, pois as empresas capitalistas aparecem com o objetivo de tirar o
beneficio máximo das trocas, nas produções das mercadorias e não como as
iniciativas de economia solidária preconizam.
Todavia ao mencionar as iniciativas de economia solidária, de acordo com
Bocayuva (2003), é importante salientar que, as mesmas se relacionam com
associativismo como um projeto alternativo para a criação de uma sociedade com
sua base no modo coletivo de produção.
Mas quando se menciona a questão das instituições que são inseridas no
contexto do associativismo como alternativa de produção, consumo e distribuição, a
sobrevivência dessas instituições a curto e médio longo prazo vai depender das
capacidades de se adaptar ao contexto da dominação nefasta do modo capitalista
de produção (SANTOS; RODRIGUES, 2003).
Contudo Bocayuva (2003) observa que a sobrevivência ao enfrentamento ao
modo capitalista de produção a economia solidária sustenta três dimensões: (1) os
implantes de autonomia dos trabalhadores no espaço sócio-produtivo vigente; (2)
organização política e participação no processo democrático, construção dos direitos
econômicos; (3) formulação do projeto de uma sociedade de produtores associados.
No entanto, no contexto da exclusão social, que está se tornando alarmante
com o desemprego, esse fenômeno social é motivado pelo modelo de consumo
desumano e sem alguma responsabilidade com o social. Todo ato de consumir além
de ser econômico, também é um ato político, pois a ação de consumir está
diretamente relacionada com os escoamentos da produção ampliando o excedente
do consumidor através das compras coletivas (PAULI, 2003).
Nessa perspectiva pode ser observado que, na economia solidária a forma
de consumo visa consumir bens ou serviços que atendam às necessidades visando:
(a) realização do seu livre bem-viver; (b) promoção do bem-viver dos trabalhadores;
50
(c) manutenção dos ecossistemas; (d) contribuição para a construção de uma
sociedade mais justa e solidária (MANCE, 2003).
No entanto, para a devida consolidação ou até mesmo a construção desse
tipo de consumo é importante que se tenha um processo educacional dos hábitos de
consumo e uma aposta na organização coletiva para garantir o bem viver de todos
(PAULI, 2003). Mas esse consumo tem como objetivo central a
formação/consolidação do consumidor ecológico e critico que aos poucos muda o
paradigma produtivo e de consumo da sociedade (TEDESCO, 2001).
Contudo, na contraposição do consumo, preconizado pela economia
solidária, na sociedade que é regulamentada pela vigência do modo capitalista de
produção, ocorre o consumo alienado que se caracteriza pela influência semiótica
publicitária (MANCE, 2003).
É de fundamental importância observar que, toda discussão da economia
solidária se dá, de acordo com Singer (2004b), como resposta à insuficiência das
políticas ativas que têm por objetivo gerar emprego articulando com serviços
voluntários e profissionais que vendem seus serviços.
Por conseguinte com Santos e Rodrigues (2002) temos a possibilidade de
observar que, na existência alternativa da economia solidária como sendo projeto
que visa a construir uma sociedade mais justa e solidária é cético nas relações
econômicas centralizadas exclusivamente no modo capitalista de produção como
uma relação econômica centralizada e controlada pelo Estado.
Dessa forma é importante observar que as discussões que envolvem a
temática da economia solidária se dá como resposta à insuficiência das políticas
públicas ativas que tenham como objetivo em gerar emprego articulando com
serviços voluntários e profissionais que vendem seus serviços (SINGER, 2004b).
Assim com essa característica tem a possibilidade de observar que para a
existência dessas políticas públicas o Estado deixa de ser protetor para ser provedor
como um instrumento de uma relação salarial que nesse momento de passagem
respondeu as exigências da acumulação capitalista (FRANÇA FILHO; LAVILLE,
2004).
Mas, no entanto, partindo das décadas de 80/90 começou a predominar a
lógica neoliberal que provocara uma precarização no mundo do trabalho, e uma
postura diferente do Estado em relação às políticas públicas provocando o
aprofundamento das diferenças sociais (SINGER, 2003a).
51
E nessa perspectiva da mudança de postura do Estado em relação às
políticas públicas do Estado, de acordo com Montaño (2003), é possível
compreender que ocorre uma transferência da responsabilidade, na qual justificativa
desta está presente no discurso da existência do Estado burocrático e que esse
setor responsável seria mais hábil, solidário com as ‘questões sociais’.
Essa transferência que acontecera, de acordo com França Filho e Laville
(2004), pode ser relacionados com dois fatores. O primeiro pode ser compreendido
como sendo a quedas das solidariedades concretas na qual possibilita o mercado se
encarregar de certas atividades que se tornaram rentáveis substituindo os serviços
tradicionais provindo do Estado. E o segundo fator está relacionado com o Estado
fica ao mesmo tempo privado de uma parte dos seus recursos e solicitado para
novos compromissos sociais com a sociedade.
Dessa forma se destaca o chamado ‘terceiro setor’, ou para alguns setores
público não-estatal que, de acordo com Tedesco (2001), na qual é compreendido
como um espaço social e um conjunto de relações sociais apresentando na
sociedade civil com objetivo de bem-comum presente na atividade do emprego e
renda, serviços baratos, ou até mesmo ‘gratuitos’ em áreas de maior necessidade
social.
É importante observarmos que ‘terceiro setor’ está caracterizado como
sendo um conjunto de organizações privadas ‘sem fins lucrativos’ com finalidades
públicas. E nesse conjunto de organizações somam-se atividades heterogêneas e
contraditórias (LISBOA, 2003).
Contudo tem a possibilidade de observar que, de acordo com França Filho e
Laville (2004), nessas atividades heterogêneas, contraditórias está presente a
focalização do espírito do mercado como modo de institucionalizar as relações
sociais na sociedade, e assim provocando um esquecimento de que os serviços
relacionais estão ligados aos espaços das representações sociais.
Embora que ocorra as representações sociais das iniciativas de economia
solidária partindo de Lisboa (2003) é possível observar que nesta busca alternativa
em muitos caos se confunde com a idéia da existência de uma terceira via. Não
obstante é a categoria ‘terceiro setor’ tem como ator principal o cidadão se opondo
contra o Estado e o mercado defendendo-se com o ‘discurso solidário’.
E nesse ‘discurso solidário’ pressupõe que tenham envolvimento, reflexões,
avaliações, conscientização adquirida nas vivencias das iniciativas de economia
52
solidária como projeto político, social, transformador com base no dialogo entre os
atores envolvidos nesses projetos (TEDESCO, 2001).
Mas, no entanto, no ‘discurso solidário’ pode ser interpretado como uma
ação filantrópica provindo de associações sem fins lucrativos se oferecendo
serviços, prestando serviços sociais que até então estavam sob tutela do Estado
(FRANÇA FILHO; LAVILLE, 2004).
Contudo é importante compreender que muitos pesquisadores da temática
do ‘terceiro setor’ entendem que a legitimação desse conceito não se apresenta nas
falhas do Estado, do mercado, mas, sim, nas transformações das relações sociais
que requerem mais personalizadas, humana e solidarismo (LISBOA, 2003).
Mas, no entanto, é de fundamental importância observar que nesse conceito,
debate do ‘terceiro setor’ se apresenta dois processos: (a) re-mercantilização dos
serviços socais e (b) a re-filantropização das respostas às questões sociais. Assim
o discurso de solidariedade presente na reformulação do movimento cooperativista
poderá ter vinculo aos dois processos relacionados com o ‘terceiro setor’
(MONTAÑO, 2003).
Embora de ter esses dois processos que podem ser interpretados como uma
das faces do ‘terceiro setor’, mas com Lisboa (2003) tem a possibilidade de observar
que , também, outra face do ‘terceiro setor’ como um setor funcional, suplementar e
complementar do econômico, social e do poder estatal agindo onde o mercado e o
Estado não atuam por motivos diversos.
Contudo é importante observar que todo o debate envolvendo ‘terceiro setor’
“tornam-se, assim, funcional ao processo de reformulação do padrão de resposta às
seqüelas da ‘questão social’” (MONTAÑO, 2003, p.15).
No entanto França Filho e Laville (2004) observam que tem a necessidade,
com uma certa urgência, da reelaboração da solidariedade como principio para
suprimir a lógica liberal, laissez-faire, desembocando numa desigualdade partindo
da reelaboração das regulações sociais através do trabalho.
Mas o que nossos autores, acima citados, não observaram que nesse
principio da solidariedade envolvendo ‘terceiro setor’ é um discurso perigoso que
poderá desencadear o processo re-filantropização das questões sociais e
desenvolver um papel ideológico intimamente ligado aos interesses dos proprietários
do capital promovendo uma certa ‘calmaria’ após da tempestade do Estado Bem-
Estar social (MONTAÑO, 2003).
53
Todavia com base nesse discurso da ‘solidariedade’ tem a possibilidade de
observar que, partindo de Marx (2002b), os proprietários dos meios de produção
armam, fortalecem àqueles que estão insatisfeitos com a conjuntura que está
formada.
Conseqüentemente nesse prisma, com Oda (2000), o movimento
cooperativista como sendo uma arma, para os descontentes com a conjuntura que
está presente, baseado no discurso de ser uma alternativa de geração de trabalho e
renda. E esse fato pode ser constatado com um aumento considerável das
experiências nos últimos anos do século XX.
Contudo nessa luta contra todos efeitos da lógica neoliberal, que provoca um
individualismo acerbado, consumismo desumano, existência do discurso do discurso
da ‘eficiências’, não pode ser construída com retorno da regulação estatal, pois seria
anacrônico. Dessa forma para a construção de uma sociedade mais igualitária,
solidária passa pelas cooperativas partindo da existência da diversidade das
identidades (LISBOA, 2003).
Mas para que aconteça, da saída do paradigma neoliberal para um novo
paradigma, só será possível “à medida que se identifica ‘caminhos emancipatórios’ e
principalmente, à medida que se constituem subjetividades que desejem e sejam
capazes de percorrê-los” (PEREIRA; LIBONI, 2001, p.281).
No entanto para que ocorra essa mudança é de fundamental importância
que tenha o foco o processo educativo partindo da mudança radical do sentido de
vida em sociedade, partindo da luta de classe, buscando um novo significado para a
produção instaurando uma nova concepção cultural do trabalho (TIRIBA, 1997).
Mas é importante notabilizar que na economia solidária tem o seu maior
desafio, campo ideológico, está presente na construção do projeto de uma
sociedade que respeite as conquistas dos trabalhadores (MACHADO, 2003).
Contudo na observação de Lima (2004) sobre as iniciativas de economia
solidária, de forma geral, os trabalhadores compreendendo as características,
peculariedade das cooperativas como uma empresa, e os trabalhadores observam
que a participação em cooperativas não é bem visto; pois a entrada numa
cooperativa está ligada com a falta de opção de emprego em sua região.
Nesse prisma tem a possibilidade de observar que nessa visão negativa,
com Rech (2003), pode estar vinculado com a idéia da negação da
responsabilidade. Isto é, entre uma grande gama dos trabalhadores não aceitam
54
trabalhar sem o ‘patrão’, baseado na consideração de que a patronagem é o único
meio para a sua sobrevivência. Pois na sociedade está fortemente presente a noção
de que o trabalho assalariado é o caminho para acesso dos direitos de cidadania
que dificulta a compreensão das propostas vinculadas nas iniciativas de economia
solidária (LIMA, 2004).
Mas, além dessa presença da cultura do assalariamento, também está
presente a questão da disponibilidade dos produtos, na qual as iniciativas de
economia solidária produzem pouco produtos provocando a não superação dos
custos e a pouca regularidade da oferta no mercado (RECH, 2003).
No prisma dos efeitos nefasticos do neoliberalismo, da reestruturação
produtiva, pode aparecer iniciativas de economia solidária funcionando como
terceirização da produção com intuito de baixar os custos, fazendo os trabalhos de
montagem e acabamento dos produtos com maquinários cedidos pela fábrica em
comodatos aos trabalhadores (LIMA, 2004).
E na existência dos debates que envolvem as iniciativas de economia
solidária como ‘sistema alternativo de produção’ está implicando constantemente
referindo à um capitalismo globalizado:
julgo que agora há um novo imaginário anticapitalista, que não contrapõe apenas ao capitalismo, mas também à proposta de nacionalização da economia como realmente alternativa ao capitalismo (QUIJANO, 2002, p.481).
Nessa contraposição ao modo capitalista de produção Cunha (2003)
observa com muita atenção o pensamento de Aníbal Quijano referente às iniciativas
da economia solidária na qual:
A economia popular existiria dentro de uma ambígua combinação entre padrões de reciprocidade e de padrões do capital, onde estes últimos ainda predominam – o que, segundo Quijano, não é suficiente para admitir a existência de uma economia ‘alternativa’ ao capital (p.63).
Nessa ambigüidade com Lima (2004) tem a urgência em distinguir as
iniciativas da economia solidária que partem dos resultados nefasticos da lógica
neoliberal, das iniciativas que tenham o intuito de baixar os custos da produção.
Por conseqüência nessa ambigüidade a economia solidária terá que,
segundo Pauli (2003), reeducar os hábitos de consumo e apostar nas organizações
coletivas na garantia do bem viver de todos.
55
Assim, é possível observar que a construção lenta da sociedade mais
igualitária, solidária está ligada com os processos das demais lutas dos
trabalhadores, à lutas políticas que acontecem no seio da sociedade capitalista
(MACHADO, 2003).
Dessa forma com Toledo (2005) tem a possibilidade de salientar o
pensamento de Rosa Luxemburgo sobre as limitações das cooperativas:
Se for verdade que as possibilidades de existência das cooperativas de produção dentro do capitalismo estão ligadas às possibilidades de existência das cooperativas de consumo, então o alcance das primeiras se vê limitado, no melhor dos casos, ao pequeno mercado local e à manufatura de artigos que satisfaçam necessidades imediatas, sobretudo alimentícias. As cooperativas de consumo e, portanto, também as de produção, ficam excluídas dos ramos mais importantes da produção, de capital: As industrias têxteis, mineiras, metalúrgicas e petroleiras, e de construção de maquinarias, locomotivas e barcos. Por essa única razão (deixando momentaneamente de lado seu caráter híbrido), não se pode considerar seriamente as cooperativas de produção como instrumento para a realização de uma transformação geral (LUXEMBURGO apud idem, p.4).
Mas, no entanto, é importante observar que das iniciativas da economia
solidária que se apresentam na sociedade tem a possibilidade de investigar, com
profundidade, o significado se configurando como estratégia de vida, de
sobrevivência contrariando ao modelo de cooperativas regidas pela lógica do modo
capitalista de produção incluindo no debate secular focalizando as iniciativas de
economia solidária como apoio na auto-educação dos trabalhadores na luta contra o
despotismo do capital (TIRIBA, 1997; QUIJANO, 2002).
56
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na compreensão de algum fenômeno social é importante que o pesquisador
se interage, sinta o seu objeto de pesquisa no caminhar da sua investigação para
que possibilite reflexões criticas. E na grande maioria dos fenômenos sociais
envolve indivíduos que estão inseridos na sociedade.
Na condição de pesquisador tem a possibilidade de salientar que as
pesquisas, de formas gerais, voltadas para a compreensão dos fenômenos sociais
possibilitando que a sociedade conhecer si mesma partindo das leituras e reflexões
críticas.
Dessa forma pode ser salientado que o objetivo – geral e especifico – são os
caminhos para o desenvolvimento da pesquisa. E a metodologia utilizada na
monografia provoca a liberação do cientista para concentrar-se na sua essência: a
pesquisa.
Com a problemática apresentada, ‘se a economia solidária pode ser
compreendida como uma nova organização social do trabalho?’, pode ser apontado
como um mecanismo para o desenvolvimento desta pesquisa que tem como objetivo
entender a compreensão dos clássicos – utópicos, anarquistas e críticos – e dos
pensadores contemporâneos na questão da economia solidária como alternativa de
trabalho e renda.
Na atual circunstancia se apresenta, na sociedade, o discurso darwinista
social, individualismo acerbado, consumismo desumano vinculado à concepção
neoliberal que fora introduzido na sociedade com a mudança do padrão produtivo –
deixando de ser fordista, passando a ser toyotista – que conseqüentemente deixa
em evidencia a questão do desemprego (SINGER, 2000a; RATTNER, 2004).
É na questão do desemprego que muitos pesquisadores ficam centrados
questionando se num futuro próximo tem possibilidade de reverter a exclusão da
grande maioria dos trabalhadores e investigando em vários prismas a problemática
do desemprego que não atinge somente os pobres, mas também a classe média em
todos os países do mundo (SINGER, 2003b; CARDOSO, 2005).
57
Da literatura sociológica que aborda a questão do desemprego se pode
observar que o fenômeno da desigualdade social acompanha direta ou
indiretamente essa questão que ao longo do tempo se fazem presentes nas
discussões, nos escritos acadêmicos e revolucionários.
Na questão da desigualdade social que se apresenta historicamente nos
escritos dos pensadores clássicos sendo apresentado como mal social
impossibilitando uma sociedade homogênea. Esses escritos apresentavam a defesa
da superação dessa desigualdade, que os autores advogavam a ruptura radical com
a lógica que se apresentava nos contextos históricos (MOSCA; BOUTHON, 1987,
CHATELET; DUHAMEL, 1993; PAGOTTO, 2005).
E dos clássicos podemos dividir entre os defensores e os críticos do
movimento cooperativista. Entre os defensores destacam os socialistas utópicos –
Owen, Fourier, Saint-Simon, Blanc – os quais preconizavam que através das uniões
dos trabalhadores em cooperativas de produção, de consumo, e distribuição de
mercadorias provocaria lentamente e gradualmente ruptura com a sociedade
capitalista construindo a sociedade socialista. Contudo, os críticos do movimento
cooperativista – Marx, Engels, Rosa Luxemburgo – observam que somente com as
cooperativas não seria possível provocar uma ruptura com o modo capitalista de
produção, pois as cooperativas é, um sistema híbrido que une a economia política
burguesa com a economia política proletária (PAGOTTO, 2005; TOLEDO, 2005).
No primeiro capitulo deste trabalho monográfico pode ser compreendido que
nas últimas décadas do século XX teve mudança de paradigma produtivo, deixando
de ser fordista, passando a ser toyotista; deixando da acumulação capitalista em
massa, passando a ser acumulação capitalista flexível, provocando a debilitação do
mundo do trabalho. Nessa debilitação, ou precarização, do mundo do trabalho pode
ser relacionada com o discurso darwinista social preconizado pela elite dominante
(RATTNER, 2004).
Com a reestruturação produtiva que teve seu inicio nas últimas décadas do
século XX pode, também, ser vinculada à falência da concepção social-democrata
dando lugar ao neoliberalismo enfatizando a existência do Estado mínimo que
conseqüentemente provoca alguns males sociais deixando em evidência,
aumentando consideravelmente a questão do desemprego (LEITE; SILVA, 1996).
Quanto ao desemprego é importante observarmos que consiste num dos fatores da
exclusão social que não atinge os trabalhadores, mas sim uma grande gama da
58
sociedade (CARDOSO, 2005). Ao mesmo tempo o desemprego se vincula com as
estabilizações monetárias, e com a globalização. E tem a possibilidade –
teoricamente – de classificar o desemprego conjuntural e estrutural (SINGER;
SLAM; CAMARGO; POCHAMN, 1996).
No segundo capitulo deste trabalho tem a possibilidade de observar que o
movimento cooperativista esteve presente nos escritos dos defensores, dos críticos
destacando a sua importância como projeto revolucionário, reformista, a sua
fragilidade no processo histórico das construções nas contraposições ao modo
capitalista de produção.
Dos defensores do cooperativismo, apontados como socialistas utópicos,
apresentavam nos seus escritos que o credo socialista era expressão da verdade
absoluta questionando a questão da propriedade na transição lenta e gradual da
sociedade capitalista para sociedade socialista (TOLEDO, 2005).
Dentre dos utopistas se destaca Robert Owen que predominou na corrente
inglesa influenciando o movimento operário inglês com suas experiências em
Canadá, Estados Unidos e na Escócia, defendendo constantemente os princípios
comunistas nas divisões do lucro e das produções, e possibilitando o aparecimento
da critica romântica da burguesia defendendo as atividades industriais (CHATELET,
DUHAMEL, 1993; HUGON, 1986; MOSCA; BOUTHON, 1987; PETITFILS, 1978).
Das experiências do movimento cooperativista que direta ou indiretamente
tiveram influência dos socialistas utópicos e que influenciou a economia solidária foi
a experiência dos pioneiros de Rochdale. Que nessa cooperativa organizada por
tecelões fora elaborado alguns princípios que a economia solidária recupera, na qual
podemos destacar: (1) um voto para cada membro; (2) as vendas são feitas de
acordo com os preços do mercado; (3) a distribuição do lucro é feita com as ações
detidas pelos cooperados; (4) a existência da limitação de números de ações por
pessoa; (5) adesão livre; (6) neutralidade religiosa e política (AGUIAR; REIS, 2002).
Com o terceiro capitulo temos a possibilidade em observar que entre os
pensadores contemporâneos se apresenta um debate fervoroso destacando a
importância das iniciativas de economia solidária na contraposição aos efeitos do
modo capitalista de produção.
Entre os pensadores contemporâneos que se vinculam à temática da
economia solidária entram em consenso quando abordam a questão de origem das
iniciativas, que podemos destacar: (1) empresas que faliram ou estão passando por
59
situação falimentar ou pré-falimentar; (2) estimulação gerada por políticas públicas
dos governos progressistas ou por iniciativas comunitárias que visam construção, a
manutenção dos postos de trabalho e renda (TAULI, 2001).
Nesse debate fervoroso que envolve economia solidária podem ser
destacadas duas frentes, uma parte da concepção que as iniciativas estão inseridas
no setor econômico porque perante a sociedade as cooperativas – de produção, de
consumo, de distribuição – e as empresas autogestionárias são reconhecidas como
empresas (CUNHA, 2003).
No entanto nesse debate se apresenta outra frente defendendo que as
iniciativas de economia solidária estão inseridas no ‘terceiro setor’. Pois para os
pensadores contemporâneos que estão nessa frente salientam que o setor
econômico está impregnado pela concorrência desleal com grandes espaços
ocupados pelas empresas capitalistas com intuito de tirar o máximo aproveito nas
trocas de mercadorias que por conseqüência impossibilita o surgimento das
cooperativas, empresas autogestionárias e associações de trabalhadores. Dessa
forma esses pensadores salientam a urgência da solidariedade que se faz presente
no ‘terceiro setor’ como um mecanismo para fortalecer as relações sociais e a
construção da sociedade socialista (FRANÇA FILHO; LAVILLE, 2004; TEDESCO,
2001).
Com a inserção da economia solidária no ‘terceiro setor’ temos a
possibilidade de destacar que, para muitos autores – Tedesco (2001) e França Filho
e Laville (2004) –, se faz presente a retórica do ‘bem comum’. Mas, no entanto, é
importante observar que nessa esfera pode levar à um processo de re-
filantropização das questões sociais que estão presentes na sociedade gerando o
caráter assistencialista (MONTAÑO, 2003).
E no desenvolvimento do terceiro capítulo se pode observar que a economia
solidária ganha espaço não por ser do setor econômico ou do ‘terceiro setor’, mas
sim como uma defesa, um projeto provindo dos trabalhadores perante aos efeitos da
lógica neoliberal que fora introduzido com a reestruturação produtiva. E no
desenvolvimento da pesquisa monográfica se pode notar que a economia solidária
não é uma nova organização social do trabalho, pois historicamente o homem, de
forma geral, se organiza e mais precisamente os trabalhadores desde o tempo dos
socialistas utópicos já se organizavam contra o predomínio do modo capitalista de
produção (LIMA, 2004; TIRIBA, 1997).
60
E com o debate sobre a economia solidária, ‘terceiro setor’ faz nos refletir
que em médio, longo prazo o antagonismo entre capitalismo e socialismo, entre
capital e trabalho, entre trabalho abstrato, alienado e trabalho emancipado, entre
sociedade de classes e exploração do trabalho alheio e sociedade de livres
produtores associados persiste na sociedade (MONTAÑO, 2003).
61
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