monitorização precoce dos sinais de alerta de agressão em

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CICLO DE ESTUDOS CONDUCENTE AO GRAU DE MESTRE EM ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIATRIA Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em Psiquiatria Forense Sara da Costa Joaquim Coimbra, abril de 2016

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Page 1: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

CICLO DE ESTUDOS CONDUCENTE AO GRAU DE MESTRE EM

ENFERMAGEM DE SAÚDE MENTAL E PSIQUIATRIA

Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de

Agressão em Psiquiatria Forense

Sara da Costa Joaquim

Coimbra, abril de 2016

Page 2: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

Curso de Mestrado em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiaria

Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de

Agressão em Psiquiatria Forense

Sara da Costa Joaquim

Orientadora: Doutora Maria Isabel Dias Marques, Professora Coordenadora,

ESEnfc

Co-orientador: Mestre Amorim Gabriel Santos Rosa, Professor Adjunto,

ESEnfC

Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra

para obtenção do grau de Mestre em

Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria

Coimbra, abril

Page 3: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

DEDICATÓRIA

Aos Quatro Pilares da minha vida: Clarinha, Gui, Bea e Carol

Page 4: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

AGRADECIMENTOS

Durante todo o meu percurso muitos foram os momentos de cansaço e desânimo,

no entanto, superados por um suporte humano que sempre me encorajou e me apoiou e

que, parcial ou integralmente, percorreu comigo este caminho até ao presente:

- aos meus filhos, Ana Clara e Guilherme, único amor incondicional, pelo simples facto

de existirem; única força humana que me faz lutar e ultrapassar todos os momentos

difíceis;

- à minha orientadora, Professora Isabel Marques e co-orientador Professor Amorim

Rosa, por terem abraçado este projeto com a mesma vontade que eu, pelo esforço, pela

compreensão, pelo tempo, pelas sugestões, as críticas, e as reflexões conjuntas que me

fizeram evoluir, e por me ensinarem que é sempre possível fazer melhor;

- à Enfermeira Chefe e a todos os profissionais de saúde da unidade de Psiquiatria Forense

em que foi desenvolvido o estudo, pela recetividade, disponibilidade, ajuda e prontidão

inquestionável;

- à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra por permitir ser possível fazer uma

Especialização e Mestrado nesta modalidade;

- à minha sobrinha, Beatriz, a reprodução “em ponto pequeno” daquilo que sou;

- à minha família, pelo carinho, o apoio, a dedicação, o companheirismo, as palavras de

ânimo e força, a dose de coragem que tantas vezes necessitou de ser reforçada; em

especial:

à minha irmã, Carolina, por ser parte de mim, a minha alma gémea, o meu pilar,

e por me roubar sorrisos mesmo sem vontade, pelos momentos à janela quando, do outro

lado da mesa, não havia mais ninguém;

- ao Zé Miguel, à Adriana e a todos aqueles que se preocuparam comigo, que me dirigiram

palavras de confiança, que, de certa forma, contribuíram para que isto fosse possível;

A TODOS, A MINHA PROFUNDA GRATIDÃO!

Page 5: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

LISTA DE SIGLAS

CHUC - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

FESAI - Forensic Early Signs of Aggression Inventory

MRP - Método de Reconhecimento Precoce

PDP – Plano de Deteção Precoce

PF – Psiquiatria Forense

Page 6: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

RESUMO

Introdução: Cerca de 10% dos doentes desenvolvem comportamentos agressivos

tornando-se necessário perceber que variáveis, previamente reconhecidas, contribuem

para a ocorrência de agressão e, concomitantemente, que ferramentas atuam como

respostas de prevenção e estratégias de gestão e controlo do risco.

Metodologia: A adequação das respostas terapêuticas depende de uma correta avaliação

precoce dos sinais de alerta de agressão, pelo que se recorreu ao ‘Forensic Early Signs of

Aggression Inventory’ (FESAI) por favorecer a compreensão da dinâmica dos mesmos;

e proporcionar o envolvimento do doente na sua monitorização e recuperação,

constituindo uma preciosa ajuda para os enfermeiros, quer no sedimentação das relações

interpessoais, quer na melhoria da intervenção precoce. Neste sentido, propõe-se

desenvolver um estudo quantitativo, exploratório e correlacional, a partir de uma

realidade contextualizada num serviço de internamento de psiquiatria forense.

Objetivos: Analisar e monitorizar a prevalência dos sinais de alerta precoce de agressão

através do uso do FESAI, com a finalidade de averiguar a pertinência da sua

implementação na realidade portuguesa e avaliar a influência do diagnóstico clínico nos

sinais de alerta precoce de agressão.

Resultados: Da amostra utilizada verificou-se que os sinais de alerta precoce de agressão

que prevalecem são “desânimo, ansiedade e isolamento social”, sendo o comportamento

agressivo condicionado pelo uso da psicofarmacologia, que conduz a perda de energia e

prostração e, consequentemente, a uma inevitável deterioração social. Importa, portanto,

equacionar que no contexto da realidade portuguesa os resultados obtidos condicionam a

validação do FESAI, quer pela redutibilidade da amostra, quer pela conduta que se

assume na psiquiatria forense em Portugal.

Conclusão: Apesar das limitações que o estudo apresenta, verificou-se que a relevância

clínica do FESAI acentua-se por permitir capturar uma ampla variedade de sinais de alerta

individuais, constituindo uma preciosa ajuda aos enfermeiros para auxiliar na gestão de

comportamentos perturbadores em contexto de internamento, seja qual for o diagnóstico

clínico do doente, pelo que deve ser implementado.

Palavras-chave: Agressão, sinais de alerta precoce, FESAI, Psiquiatria, Psiquiatria

Forense.

Page 7: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

ABSTRACT

Introduction: About 10% of patients develop aggressive behaviors becoming necessary

to realize which variables, previously recognized, contribute to the occurrence of

aggression and, concomitantly, which tools act as prevention responses and strategies of

risk management and control.

Methodology: The adequacy of the therapeutic responses depends on a correct

assessment of the early warning signs of aggression, so it resorted to 'Forensic Early Signs

of Aggression Inventory' (FESAI) because it fosters understanding of the dynamics of the

early warning signs; and it provides the involvement of the patient in their monitoring

and recovery, providing valuable assistance to nurses in the settling of interpersonal

relations and in the improvement of early intervention. In this sense, it is proposed to

develop a quantitative study, exploratory and correlational from a contextualized reality

in a forensic psychiatric inpatient service.

Objectives: To analyze and monitor the prevalence of early warning signs of aggression

by using the FESAI, in order to verify the relevance of its implementation in the

Portuguese reality and evaluate the influence of clinical diagnosis in the early warning

signs of aggression.

Results: In the sample used was found that the early warning signs of aggression that

prevail are "discouragement, anxiety and social isolation," being aggressive behavior

conditioned by the use of psychopharmacology, which leads to energy loss and

prostration and, consequently, to an inevitable social deterioration. It is therefore equate

that in the context of the Portuguese reality the results affect the validation of FESAI

either by the reducibility of the sample, either by conduct that is assumed in forensic

psychiatry in Portugal.

Conclusion: Despite the limitations of the study, it was found that the clinical relevance

of FESAI is emphasized to allow capture a wide variety of individual warning signals,

providing a valuable help nurses to assist in the management of disruptive behaviors in

internment context, independently the clinical diagnosis of the patient, that is why should

be implemented.

Keywords: Aggression, early warning signs, FESAI, Psychiatry, Forensic Psychiatry.

Page 8: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

LISTA DE TABELAS

Pág.

Tabela 1 - Distribuição dos doentes segundo o grupo etário.............................................31

Tabela 2 – Frequência e percentagens das variáveis de caraterização demográfica dos

participantes.....................................................................................................................32

Tabela 3 – Distribuição dos doentes segundo o diagnóstico principal e secundário.........33

Tabela 4 - Estatística descritiva referente as dimensões do inventário “Forensic Early

Signs of Aggression Inventory” – FESAI.........................................................................40

Tabela 5 – Distribuição dos indivíduos segundo os itens do inventário – FESAI..............41

Tabela 6 – Resultados do teste de normalidade, assimetria e curtose do inventário

“Forensic Early Signs of Aggression Inventory” – FESAI...............................................44

Tabela 7 - Resultado da aplicação do teste de Kruskal-Wallis, relativamente aos sinais

precoces de alerta de agressão e o diagnóstico principal dos doentes...............................46

Page 9: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

SUMÁRIO

Pág.

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO 12

1. AGRESSÃO 12

1.1 Abordagem Concetual 12

1.2 Dinâmica da Agressão: da Teoria do Instinto à Aprendizagem Social 13

1.3 Fatores de Risco 16

2. SINAIS DE ALERTA PRECOCE DE AGRESSÃO EM CONTEXTO

PSIQUIÁTRICO FORENSE

21

2.1 Psiquiatria Forense – abordagens teóricas 21

2.2 Sinais de alerta precoce de agressão 23

2.3 Método de Reconhecimento Precoce: Estratégias de gestão do risco 25

CAPÍTULO II - ESTUDO EMPÍRICO 29

1. DESENHO DA INVESTIGAÇÃO 29

2. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 39

2.1 Análise Descritiva 39

2.2 Análise Inferencial 45

Page 10: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 47

4. CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E IMPLICAÇÕES 52

BIBLIOGRAFIA 54

ANEXOS

ANEXO I - Questionário das Variáveis Sociodemográficas 58

ANEXO II - Forensic Early Signs of Aggression Inventory - FESAI 60

ANEXO III – Pedido de autorização ao Presidente do Conselho de

Administração do CHUC

62

ANEXO IV – Pedido de autorização à Comissão de Ética 65

ANEXO V - Documento de Informação ao Doente e Consentimento

Informado

72

Page 11: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

10

INTRODUÇÃO

Em contexto psiquiátrico forense, cerca de 10% dos doentes desenvolvem

comportamentos agressivos (Marques et al., 2010), podendo estes estar relacionados

com uma diversidade de fatores causais de natureza interna, externa e situacional

(Duxbury e Whittington, 2005). Esforços têm sido movidos no sentido de se estudar as

variáveis de risco que contribuem para a ocorrência da agressão, nomeadamente

relacionadas com o doente, das quais se destacam esquizofrenia, perturbações de

personalidade, história de violência (Liu e Wuerker, 2005); relacionadas com o serviço,

no que concerne, sobretudo, à sobrelotação, à falta de privacidade (Jansen et al., 2005),

e à formação de profissionais (Johnson, 2004); e, ainda, relacionadas com a situação de

cuidados, mais especificamente no que respeita a conflitos na contenção e controlo dos

referidos comportamentos (Bowers, 2009).

Em contexto clínico, a resolução desta problemática implica a utilização de

diferentes respostas de prevenção e controlo (Irwin, 2006), pelo que habitualmente são

oferecidas respostas terapêuticas de natureza biológica e psicossocial relativamente ao

controlo dos fatores ligados aos doentes.

O controlo de comportamentos de risco é um desafio para as equipes de saúde,

pois eles comprometem o ambiente terapêutico e interferem com a segurança de outros

doentes, desmoralizando os profissionais de saúde e causando severos danos; pelo que

urge analisar o risco deste tipo de comportamento (agressivo) de modo a agir

apropriadamente e, consequentemente, facilitar a prevenção (Marques et al., 2015, p.

360). Sabe-se, porém, que a eficácia das respostas terapêuticas resulta da sua adequação

e esta, por sua vez, dependerá necessariamente da avaliação de alguns indicadores

clínicos, nomeadamente a avaliação precoce dos sinais de alerta de agressão (Fluttert et

al., 2010).

Entre os vários instrumentos de avaliação clínica neste domínio, o ‘Forensic

Early Signs of Aggression Inventory’ (FESAI) (Frans et al., 2011) parece ser um

instrumento que favorece a compreensão da dinâmica dos sinais de alerta de agressão e

proporciona precocemente o envolvimento do doente na sua monitorização e

recuperação (ibidem). Neste sentido, e para que o referido inventário seja eficazmente

utilizado na realidade portuguesa, considerou-se útil realizar um estudo quantitativo,

exploratório e correlacional, que possibilite a monitorização dos sinais precoces de

Page 12: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

11

agressão e a sua adaptação, com a finalidade de averiguar a pertinência da sua

implementação na realidade portuguesa.

Surge, mediante o exposto acima, a relevância de desenvolver este trabalho,

tendo como objetivo analisar a prevalência dos sinais de alerta de agressão através do

uso do FESAI em doentes internados numa unidade de psiquiatria forense da zona

Centro e a influência do diagnóstico clínico nos sinais de alerta precoce de agressão.

Propõe-se, assim, realizar um estudo quantitativo, exploratório e correlacional,

tecendo no capítulo I algumas considerações que teoricamente contextualizem conceitos

relacionados com a agressão, a dinâmica da agressão e os fatores de risco e, ainda,

orquestrando teorias relativamente aos sinais de alerta precoce de agressão em contexto

psiquiátrico forense. Subsequentemente, no capítulo II, desenvolver-se-á o estudo

empírico debruçando-nos sobre o desenho da investigação, a apresentação e análise de

resultados, culminando na sua discussão.

Page 13: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

12

CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Neste capítulo pretende-se abordar, de uma forma global, as temáticas centrais

deste trabalho, nomeadamente os sinais de alerta precoces de agressão em contexto

psiquiátrico forense com recurso ao FESAI (Forensic Early Signs of Aggression

Inventory), descrevendo os aspetos gerais de estudos e autores de referência sobre esta

temática.

1. AGRESSÃO

1.1. Abordagem Concetual

Não há consenso quanto à definição de agressão, ou melhor, diversas são as

considerações feitas, sendo, no entanto, consensual, o facto de representar um

comportamento que faz uso da força e que é empregue sobre um ser da mesma espécie,

causando constrangimentos de diversa ordem (Rosa, 2008, p. 18).

Frasquilho (2011), reproduzindo e parafraseando alguns autores, Bandura refere-a como

“comportamento que resulta em dano pessoal ou patrimonial” (p. 35); por seu turno,

Scherer, Abeles e Fischer consideram-na um “comportamento intencional para magoar

outrem da mesma espécie” (p. 35) e; ainda, Baron postula um “comportamento

diretamente dirigido com o objetivo de destruir, prejudicar outro ser vivo que está

motivado para evitar tal tratamento” (p. 36). De uma forma geral, pode-se considerar

agressão como qualquer comportamento hostil verbal, não-verbal, ou físico (para

consigo próprio, outras pessoas ou propriedade) (Dickens et al., 2013, p. 533), visando

causar danos físicos ou psicológicos e que reflete intenção em destruir (Mendes et al.,

2009, p. 78). À produção desse comportamento que visa causar dano físico ou psíquico

a outrem, designamos de agressividade, acrescentando o seu caráter instintivo,

intrínseco à natureza humana, id est uma necessidade, como forma de garantia de

subsistência e sobrevivência, tal como a conhecemos desde os primórdios da

humanidade (Mendes et al., 2009, p. 78).

Nestas perspetivas, chega-se à conceção complexa de violência que, de acordo

com Rippon (2000) apud Dickens et al. (2013), é praticamente sinónimo de agressão (p.

535), indo Frasquilho (2011) mais além assumindo-a como o grau extremo da agressão

(p. 36). Dada a controvérsia que esse termo suscita, Anderson e Bushman (2002),

Page 14: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

13

simplificam generalizando a violência como uma caraterística de algumas formas de

agressão que têm como objetivo causar danos físicos no ser humano, ao considerá-la,

também, na sua componente psicológica (p. 28).

Ainda assim, muitos autores continuam a exacerbar o termo violência,

remetendo-a para atos agressivos particularmente intensos, infames, odiosos e

repreensíveis (Rippon, 2000), o que leva a relativizar a agressão, tendo em conta o tipo

e grau de ato violento que lhe estão implícitos, ou seja, quer-se com isto dizer que a

agressão pode assumir diversas dimensões, propulsionadas por distintos fatores, que

tentaremos abaixo sistematizar em função de três critérios: o da intenção do sujeito, o

do objeto ou alvo a que se dirige e o da forma como se expressa (p. 454).

Independentemente do tipo ou grau de agressão, esta é uma realidade mundial,

preocupante, pelo que os comportamentos agressivos têm vindo a ser vistos, cada vez

mais, como um probema de saúde pública (Liu e Wuerker, 2005, p. 230) e com

repercussões nefastas no contexto de enfermagem (Dickens et al., 2013, p. 532).

1.2. Dinâmica da agressão: da Teoria do instinto à Aprendizagem Social

O fenómeno da agressão entre os seres humanos tem sido abordado em

disciplinas tão distintas como a sociologia, a biologia, a antropologia e a psicologia,

pelo que não é possível determo-nos num só quadro concetual, sob pena de relativizá-lo,

pois os fenómenos humanos resultam de múltiplas determinações (Kristensen et al.,

2003, p. 175). Cada área do conhecimento vê o tema sob uma diferente perspetiva e

desenvolve hipóteses inerentes às causas de comportamentos agressivos, algumas mais

amplas, com a utilização de fatores demográficos, culturais ou de princípios

evolucionistas; outras mais específicas, referindo as alterações metabólicas ou processos

cognitivos para explicar as origens.

Anteriormente referiu-se que a violência e a agressividade estão intrínsecas à

necessidade de sobrevivência de qualquer espécie, pelo que a capacidade de hostilidade

do ser humano conduz a comportamentos destrutivos (Rosa, 2008, p. 21), o que resulta

numa forma negativa de resolução de conflitos. A natureza da agressão implica distintos

aspetos como, por exemplo, o facto de as componentes da agressão serem aprendidas ou

não (inatas), serem internas ou externas e afetivas ou cognitivas. Estes fatores,

biológicos ou psicológicos, ditam a predisposição de um indivíduo para a violência,

Page 15: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

14

pelo que podem estar presentes desde o nascimento ou, por outro lado, manifestarem-se

durante a infância.

Das conceções generalistas, destacam-se as teorias clássicas sobre o fenómeno

que são apresentadas segundo o contributo da Etologia, da psicanálise (Freud) e do

modelo da evolução por seleção natural (Darwin). Depois destas surgem outras

abordagens, impulsionadas pelo behaviorismo e a aprendizagem social, postulando-se

modelos teóricos recentes, entre os quais o cognitivismo neo-associacionista, o

processamento da informação social, o interacionismo social e o modelo geral da

agressão baseado em estruturas de conhecimento do comportamento agressivo ao

procurar compreender o ser humano a partir de uma conceção biopsicossocial.

Deste modo, descrevem-se abaixo, brevemente, as tendências teóricas que

podem ser divididas em dois grupos: as teorias biológicas e inatistas (ou clássicas) e as

teorias psicossociais.

Teorias biológicas e inatistas

Para os seguidores desta corrente, a violência provém de qualidades que são

inatas ao indivíduo, oriundas do caráter instintivo do ser humano (Ribeiro e Sani, 2009,

p. 98). Assim, “o comportamento agressivo estaria relacionado com componentes

biológicos e psicológicos, e a agressividade, vista como fenómeno “extraclassista”, de

caráter eterno, natural e universal (…), sendo um mero instrumento técnico para a

reflexão sobre as realidades sociais, constituindo uma qualidade inata ligada à essência

do ser humano” (Rosa, 2008, p. 22).

As teorias do instinto, originalmente propostas por Freud e a sua psicanálise,

assumem que atos agressivos são uma resposta inata e natural em todos os indivíduos,

fomentados pela necessidade de lutar pela sobrevivência, nomeadamente no que ao

território diz respeito, pelo que devem ser libertados, inevitável e regularmente no

contexto apropriado (Ribeiro e Sani, 2009, p. 98). Considerando que a agressividade

começa a formar-se paralelamente ao desenvolvimento do indivíduo, encara-se “o

comportamento como uma manifestação de conflitos intrapsíquicos (...), de interações

dinâmicas entre forças antagónicas que existem no seu interior” (Rosa, 2008, p. 23),

pelo que a sua libertação pode ser levada a cabo através de comportamentos inaceitáveis

Page 16: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

15

e desviantes ou aceitáveis e socialmente úteis, sendo não mais que uma resposta à dor e

à frustração.

Na sua obra, Ribeiro e Sani (2009, p. 99) referem que a reação de agressividade

projetada pelo conceito de frustração resume-se a uma contrariedade a um

comportamento direcionado para um determinado objetivo, tendo como resultado

inevitável uma reação agressiva. Posteriormente, esta hipótese é reformulada por

Berkowitz (1978) apud Ribeiro e Sani (2009) que lhe adicionou duas condições para

que a frustração leve à agressividade: a oportunidade para a ação agressiva e a presença

de estímulos apropriados, de como é exemplo a ira (p. 99).

Teorias psicossociais

O contexto social e ambiental determina em grande medida as condutas

violentas dos sujeitos. As teorias psicossociais detêm-se, precisamente, na explicação do

comportamento agressivo como resultado da aliança de aprendizagens em contexto

social e de fatores situacionais que desencadeiam essas aprendizagens (Rosa, 2008, p.

25).

Albert Bandura, pai da Teoria da Aprendizagem Social, defende que a

agressividade, ao contrário do defendido pelos inatistas, é aprendida em contexto social,

adquirindo respostas agressivas da mesma forma que desenvolvem outros

comportamentos sociais, quer por experiência própria quer por observação/imitação de

modelos que os pratiquem. Resumidamente, a teoria da Aprendizagem Social estuda o

comportamento humano por meio da observação do comportamento do outro e suas

consequências, afirmando que “os atos extremamente violentos não podem ser

espontâneos, mas precisam ser aprendidos e treinados para que sejam executados (...),

eles são aprendidos lentamente e necessitam de modelos que os pratiquem (família,

sociedade ou ídolos), que demonstrem tipos de ações que são recompensadoras ou

passíveis de punição” (Rosa, 2008, p. 25).

Bandura (1977) tem sustentado consideravelmente a posição da aprendizagem

social que encara a agressividade como um padrão de resposta que é aprendido através

de reforço de modelagem. Quer isto dizer que a pessoa que observa os comportamentos

de modelos, apreende não só o ato agressivo em si, mas também qual o nível de sucesso

atingido por determinado comportamento agressivo, ou seja, se o mesmo foi elogiado

Page 17: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

16

ou penalizado. Ainda na seleção do tipo de modelo a ser seguido, intervém critérios

como inteligência e status, pelo que é mais provável que o modelo selecionado ocupe

uma posição mais elevada que a do sujeito na hierarquia social (Ribeiro e Sani, 2009, p.

99). Tal significa, ainda, que se passa por uma avaliação cognitiva do comportamento

observado, em que o agressor faz uma antecipação da recompensa ou punição resultante

do ato, que ditará, ou não, a manifestação do comportamento agressivo.

Em suma, as teorias supramencionadas defendem, por um lado, na perspetiva

inatista, a agressão como uma perturbação da personalidade que põe em evidência

instintos destrutivos, quer sob a forma de reação impulsiva à dor (seja esta real,

recordada ou imaginada); quer como reação perante um impedimento/obstáculo a algo

que seja desejado; quer como uma forma de libertar tensão acumulada (isto é, uma

reação catártica). Por outro lado, as teorias psicossociais consideram a agressão um

comportamento aprendido através do reforço e da modelagem; uma resposta à

frustração perante afetos negativos, resultante de uma escolha direcionada para

recompensas, custos e probabilidades de resultados esperados.

1.3. Fatores de Risco

Tal como já foi referido anteriormente, a violência é um problema de saúde

pública, que tem crescido substancialmente, (Mendes et al., 2009, p. 78), em que os

tipos de comportamentos agressivos são inúmeros, porém têm em comum o facto de se

sucederem num contexto de interação entre agressor e vítima, distinguindo-se pela

intenção do comportamento, dos estados emocionais do agressor, do objetivo final e do

motivo propulsor do comportamento agressivo, que culminam num ato violento

causando danos de diversa ordem à vítima.

Ressalve-se, ainda, que os atos violentos são protagonizados por indivíduos

tendencialmente violentos, com episódios frequentes e persistentes de agressão, mas

que também podem resultar de situações esporádicas e espontâneas que levam uma

pessoa a praticar a violência, mesmo que à partida não caiba na conceção de “pessoa

violenta”.

Neste sentido, é de extrema importância o estudo de fatores de risco

relacionados com pessoas com alta probabilidade de desenvolverem comportamentos

agressivos, podendo considerar-se três categorias distintas de fatores - biológicos,

Page 18: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

17

sociais e psicológicos -, que por definição “predizem uma alta probabilidade de

ocorrência de violência, (…) fatores que precedem ou estão relacionados com o

resultado final, a violência” (Rosa, 2008, p. 28). Por conseguinte, esta concetualização é

crucial e pertinente, não só para identificar os fatores, mas também no que respeita à

prevenção de comportamentos violentos, no sentido de tal possibilitar monitorizá-los e,

consequentemente, encaminhar o tratamento.

Fatores biológicos

Considerando acima as teorias do instinto que determinam a predisposição do

ser humano, devido à sua natureza, para a violência, outros fatores, predominantemente

biológicos e genéticos determinam essa caraterística, sobretudo devido a componentes

neurológicas, hormonais e a influências bioquímicas que fazem disparar a probabilidade

de adotar comportamentos agressivos.

De entre vários estudos, discriminaremos resumidamente, os seguintes, baseados

em recensão bibliográfica de autores com elevada influência nesses estudos:

- autores como Tardiff (1996) apontam disfunções neurofisiológicas do cérebro como

correlacionadas com a violência, fomentadas pela existência, por exemplo, de Epilepsia

do lobo temporal, e disfunções do lobo frontal (Mendes et al., 2009, p. 81);

- estudos genéticos apontam os substratos genéticos como responsáveis pelo

comportamento agressivo, antissocial e violento, nomeadamente no que respeita às

alterações dos neurotransmissores, no que concerne à baixa expressão do gene

monoaminaoxidase e do gene transportador de serotonina, e às variações nos genes

transportador e recetor de dopamina (Mendes et al., 2009, p. 78);

- a atividade serotoninérgica e dopaminérgica quando associada à utilização

concomitante de drogas, álcool, drogas antipsicóticas incitam a atitudes violentas;

- fatores bioquímicos são determinantes nos estudos sobre a violência, destacando-se

substâncias como o colesterol e a glicose (Liu e Wuerker, 2005, p. 231), as hormonas e

neurotransmissores como possíveis impulsionadoras de comportamentos agressivos

(Virkkunen, 1987, apud Rosa, 2008, p. 29), sobretudo quando associadas ao consumo

de álcool;

Page 19: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

18

- exposição a substâncias durante o desenvolvimento intrauterino (tabaco, álcool e

cocaína), desnutrição materna e hipóxia no parto (Liu e Wuerker, 2005, p. 230)

contribuem para o subdesenvolvimento e crescimento fetal, bem como complicações no

pré, peri e pós-parto (preeclampsia, diabetes gestacional, prematuridade) (Liu, 2011, p.

65);

- desnutrição infantil, que incitam à agressividade, hiperatividade e comportamentos

antissociais, muitas vezes associada à diminuição do quociente de inteligência (Mendes

et al., 2009, p. 80);

- disfunções hormonais relacionam-se com alterações comportamentais que

desencadeiam atos agressivos, nomeadamente os baixos níveis de progesterona nas

mulheres e os altos níveis de cortisol nos homens (Mendes et al., 2009, p. 81).

Fatores sociais

Sem descurar as determinantes biológicas, na perspetiva social, autores

diferenciados sustentam unanimemente a violência como resultante de fatores

contextuais, isto é, sociais, ambientais e culturais, provenientes de interações sociais,

familiares, habitacionais, residenciais e nível socioeconómico que predispõem o

indivíduo à violência.

Do conjunto de estudos analisados, podemos destacar alguns fatores que

acentuam o risco de promover comportamentos violentos:

- Segundo Rosa (2008, p. 31) no grupo de pares, haver uma ligação com amigos

delinquentes que, pela aproximação e identificação, levam a seguir os seus modelos;

pertencer a uma família de baixo nível socioeconómico; residir em zonas urbanas, pela

prevalência de altas taxas de criminalidade; e fatores externos como as experiências

sociais intensificam os comportamentos violentos;

- Segundo Liu e Werker (2005, p. 234), a pobreza, a criminalidade no seio familiar, o

insucesso escolar, o défice de atenção, a impulsividade e hiperatividade, crianças com

comportamento antissocial, o abuso e maus-tratos na infância, conflitos no seio familiar

e marital, gravidez na adolescência, violência doméstica, stress, bullying, negligência

precoce, falta de condições e acesso à saúde, educação, habitação e segurança,

Page 20: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

19

desigualdades socioeconómicas, entre outros, são fatores que aceleram os

comportamentos agressivos.

A interação entre fatores biológicos e ambientais pode ser catalisada por um

ambiente hostil aumentando os riscos para o desenvolvimento de comportamentos

agressivos. Do ponto de vista socioambiental, “indivíduos mais agressivos apresentam

déficits no processamento das informações sociais, ou seja, na habilidade de codificar

informações, interpretar e considerar riscos e benefícios de suas ações” (Mendes et al.,

2009, p. S82), sendo estes indivíduos, por norma, “crianças de pais negligentes, que

oferecem disciplina errática, que têm conflitos entre si, ou que cometem crimes,

envolvem-se precocemente em comportamento criminal (…), pelo que este

comportamento é preditivo de comportamento ofensivo, agressivo e antissocial (dessas

crianças) em adultos” (idem).

Tal transporta-nos para um outro fator, também ele importante – os fatores

psicológicos, dos quais decorrem a formação/desenvolvimento de habilidades sociais,

criando condições de autocontrolo e autorregulação, oriundas de ambientes protetores

em detrimento de ambientes hostis, ou seja, em ambientes familiares favoráveis em que

se os comportamentos “forem recompensados ou punidos de forma adequada, se a

criança tem exemplos positivos dos pais e não testemunha conflitos familiares, ela

conseguirá desenvolver cognições e habilidades sociais que lhe permitirão interpretar

dados sociais, conduzindo-a a um comportamento adequado e não violento” (idem).

Fatores psicológicos

No seio da Psicologia, alguns investigadores canalizam as atitudes agressivas

para fatores de índole psicológica, que levam a protagonizar uma conduta negligente de

confrontação e alienação, e que resultam do próprio indivíduo em toda a sua

complexidade psíquica.

Tal como referido anteriormente, situações precárias no seio familiar conduzem,

também, a um desenvolvimento precário a nível psicológico. Experiências traumáticas,

altos níveis de pobreza e de violência familiar extrema, situações familiares instáveis e

hostis, por exemplo, promovem distúrbios e uma desestruturação da personalidade,

assente no desenvolvimento de um ego frágil, na falta de autoestima e de amor-próprio,

na desorganização de comportamentos socialmente aceites, e em condutas perpetradas

Page 21: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

20

pela ira, a frustração, a raiva traduzidas em impulsos agressivos, descontentamento,

perda de autocontrolo e, por conseguinte, violência.

Pelo exposto, não se pode deixar de concluir que a agressão é multifatorial, ou seja,

decorre de múltiplos fatores que podem coexistir entre si, quer sejam biológicos, sociais

e/ou psicológicos. Quer isto dizer que muitos dos fatores “coabitam” no mesmo

indivíduo, contribuindo para que não consiga desenvolver, a nível psicológico e

comportamental, a capacidade (geneticamente vigente ou socialmente aprendida) de

resolução de conflitos, que não sejam socialmente puníveis.

Page 22: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

21

2. SINAIS DE ALERTA PRECOCE DE AGRESSÃO EM CONTEXTO

PSIQUIÁTRICO FORENSE

2.1 Psiquiatria Forense – abordagens teóricas

O termo “forense” deriva do vocábulo fórum, mais precisamente indicando “o

local onde se situavam os tribunais”. Neste sentido, a Psiquiatria Forense (PF)

corresponde à interface entre psiquiatria e direito e diz respeito a todas as situações que

podem levantar dúvidas sobre as capacidades de uma pessoa (Cordeiro, 2003).

Inscrita no ramo da Medicina Legal, esta área propõe-se a esclarecer os casos em

que determinado indivíduo necessita de consideração particular perante a lei resultante

do estado da sua saúde mental (Gurgel, 2012, p. 11). Por seu turno, Carolo (2005, p. 7),

remete o seu exercício para a competência do foro jurídico e familiar, sendo os juízes,

advogados e familiares (ou em determinadas circunstâncias o próprio arguido ou parte

visada) a invocá-la, pois tem a capacidade de conhecer e avaliar a natureza e as

consequências de um comportamento, permitindo decidir sobre a responsabilidade penal

(imputabilidade) ou a ausência dela (inimputabilidade).

O termo “imputável” carece, neste contexto, de alguma reflexão, de modo a

(des)construir a sua pertinência no âmbito da PF. No sentido originário, o termo

determina a atribuição da responsabilidade de um determinado ato àquele que o

praticou, sendo que, consequentemente, o conceito “imputabilidade” é concebido como

o conjunto de condições psíquicas que a lei exige para atribuir ao agente a sua ação.

Para Gurgel (2012), este conceito ganha dimensão ao referir que “é o complexo de

determinadas condições psíquicas que tornam possível ligar um fato a uma pessoa” (p.

24). Independentemente dos contornos que assuma, crê-se que a imputabilidade tem

uma relação ténue com a “moral”, quer isto dizer que está, por assim dizer, relacionada

com a capacidade de o ator ter juízo crítico sobre o ato cometido ou, resumidamente,

capacidade de ter consciência se uma ação foi ou será boa ou má. Nesta abordagem, a

realização do próprio ato em si é desvalorizado, em detrimento da competência de ter

juízo crítico, compreender e valorizar o ato cometido.

Cronologicamente depara-se com outro conceito que sucede ao referido acima –

inimputabilidade. Segundo Mendes, em referência ao artigo 20º do Código Penal

Português, em sede de anomalia psíquica é considerado inimputável:

Page 23: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

22

1 - quem, por força de uma anomalia psíquica, for incapaz, no momento da prática do

facto, de avaliar a ilicitude deste ou de se determinar de acordo com essa avaliação;

2 - quem, por força de uma anomalia psíquica grave, não acidental e cujos efeitos não

domina, sem que por isso possa ser censurado, tiver, no momento da prática do facto, a

capacidade para avaliar a ilicitude deste ou para se determinar de acordo com essa

avaliação sensivelmente diminuída;

3 – se a comprovada incapacidade do agente para ser influenciado pelas penas pode

constituir índice da situação prevista no número anterior;

4 - quando a anomalia psíquica tiver sido provocada pelo agente com intenção de

praticar o facto (2016, p. 47).

Neste sentido, e nesta área do conhecimento, entende-se que a consciência ou

não da ilicitude vai determinar a imputabilidade e só na ocorrência de causa de exclusão

é que a pessoa se enquadrará como inimputável.

As ciências médicas e forenses reclamam de um papel humanista e preventivo,

considerando a ética. Entende-se por esta “uma categoria do pensamento reflexivo

humano que dá a cada homem a capacidade de distinguir o bem do mal, reconhecidos

como valores e revelados sob a forma de comportamento individual” (Soares, 2001

apud Carolo, 2005, p. 9). O exercício ético da PF, sobretudo na peritagem psiquiátrica

de uma situação ou comportamento, começa por uma atitude imparcial, desprovida de

qualquer preconceito moral, religioso ou rácico, o que implica que, a priori, terá que “se

aceitar equidistantemente, por exemplo, a responsabilidade civil ou criminal ou a

ausência dela, tendo por base o princípio do contraditório” (Gurgel, 2012, p. 20). Para

além do exposto, o exercício ético da PF passa, também, pela competência e pela

responsabilidade médica do perito, no exercício de um ato que pode ter graves

implicações.

Ora, a PF coloca a tónica em quem a exerce – o Enfermeiro Especialista. O

Enfermeiro Especialista em Saúde Mental é aquele que “detém um elevado

conhecimento e consciência de si enquanto pessoa e enfermeiro, mercê de vivências e

processos de auto-conhecimento, desenvolvimento pessoal e profissional”, pelo que no

exercício das suas funções tem que ter em conta as respostas humanas aos processos de

vida e aos problemas de saúde, demonstrando níveis elevados de julgamento clínico e

Page 24: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

23

tomada de decisão, traduzidos num conjunto de competências especializadas relativas a

um campo de intervenção (Ordem dos Enfermeiros, 2011, p. 8648).

Os enfermeiros que desenvolvem a sua atividade em PF contatam diariamente

com indivíduos que têm dificuldades em controlar a sua agressividade, o que significa

que quando os sentimentos de indivíduos com diagnóstico do foro mental não são

atendidos ou as suas necessidades não são satisfeitas, a frustração e raiva muitas vezes

pode resultar em comportamento violento direcionado a esses profissionais de saúde

(Nijman e Merckelbach, 1999 apud Fluttert et al., 2008, p. 211), desempenhando,

assim, um papel importante na gestão do comportamento violento (Doyle, 1998; Doyle

e Dolan, 2002; Mc Kenna, 2002; Morrison, 2002; Middleton, 2004 apud Fluttert et al.,

2008, p. 211).

2.2 Sinais de alerta precoce de agressão

Tal como já foi referido anteriormente, a violência é tida como um grande

problema social, e o hospital psiquiátrico enquanto contexto-alvo desses episódios

violentos é, também, o local que permite explorar e identifica as razões que decorrem da

agressão.

Diversos autores admitem que há um número considerável de evidências,

baseadas em estudos metodologicamente sofisticados, para sugerir que existe uma

associação entre certas doenças mentais e o comportamento agressivo (Monahan, 1992;

Mulvey, 1994; Douglas, 2009 apud Daffern et al., 2010, p. 366); tal como sugerem que

alguns preditores de comportamento violento diferem de acordo com o tipo de

transtorno mental, a situação e o tipo de conduta violenta (Telles et al., 2011, p. 4).

Identificar os fatores de risco precoces é um passo crucial na prevenção de atos

violentos, e apesar dos estudos desenvolvidos sobre a ligação entre fatores de risco

sociais e biológicos e comportamento antissocial e agressivo (para mais detalhes, cf.

ponto 1.3.), sabe-se pouco sobre os seus efeitos.

Os sinais de alerta precoce de agressão podem ser definidos como “experiências

subjetivas, pensamentos e comportamentos que ocorrem antes do comportamento real

agressivo” (van Meijel et al., 2003 apud Fluttert et al. 2008), podendo ser percebidos

pelo próprio indivíduo ou observado por outros no ambiente do mesmo (Fluttert et al.,

Page 25: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

24

2012, p. 1551). Estas “experiências subjetivas”, ou melhor percepções individuais,

crenças pessoais, são influenciadas por caraterísticas de personalidade, experiências de

vida e habilidades interpessoais, que parecem desempenhar um papel profundo na

formação de reações aos acontecimentos. Sentimentos como raiva, hostilidade e rejeição

despoletados em algum momento da vida de um indivíduo podem, portanto, resultar em

ameaças e agressividade (Fluttert et al., 2008, p. 212).

Em contexto de internamento psiquiátrico, vários estudos revelam que um

indivíduo com patologias do foro mental tem maior probabilidade de praticar atos

violentos durante o internamento. Reitera-se, ainda, que os aspetos do ambiente

hospitalar, incluindo a estrutura física, regime, e o meio em que são oferecidos serviços

psiquiátricos, podem desencadear a agressão, influenciando, também, as relações

humanas (Daffern e Ogloff, 2006 apud Daffern et al., 2010, p. 366).

Outro fator que potencia o comportamento agressivo em hospitais psiquiátricos é

a designada “coerção”. Muitas vezes, os indivíduos em questão experimentam eventos

coercivos imediatamente antes ou durante o tratamento no hospital aquando, por

exemplo, da admissão involuntária, do isolamento ou da toma forçada da terapêutica.

Nestes casos, o tratamento forçado é necessário durante a fase aguda de uma doença

mental, devido à perda da percepção que os indivíduos experienciam como parte da sua

doença.

A coerção pessoal pode determinar como se comportam durante o internamento,

ou seja, “um indivíduo que não está pronto para participar no seu próprio tratamento, ou

que se sente coagido a tratamento, pode reagir agressivamente aos pedidos de

participação, cooperação, ou de conformidade” (Daffern et al., 2010, p. 369). Para além

disso, pode ocorrer que, o indivíduo ao sentir-se impotente face às demandas do seio

hospitalar, desespere e se autoprejudique (Daffern e Howells, 2009 apud Daffern et al.,

2010, p. 369).

Ora, o conhecimento desses fatores e perceções que estimulam os

comportamentos agressivos contribui para uma melhor compreensão da origem dos

mesmos, pelo que a participação ativa do indivíduo em reconstruir a sua mudança de

comportamento antes de incidentes agressivos auxiliam na identificação de sinais de

alerta específicos em toda a sua individualidade (Fluttert et al., 2012, p. 155).

Page 26: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

25

2.3 Método de Reconhecimento Precoce: Estratégias de gestão do risco

O conceito de Reconhecimento Precoce de comportamentos agressivos no

contexto forense enfatiza a descrição e exploração dos primeiros sinais de deterioração

comportamental em situações associadas com o comportamento violento e agressivo do

indivíduo e com os próprios doentes. O comportamento objetivo é, por norma, fácil de

entender; ou seja, um indivíduo se gritar efusivamente mostra, claramente, que está com

raiva. No entanto, a dificuldade surge na deteção da fonte dessa ira, pelo que para o

reconhecimento precoce de sinais de alerta deve-se dar particular atenção aos fatores

subjetivos subjacentes à agressão do indivíduo, isto é, aos precursores da violência.

No Método de Reconhecimento Precoce (MRP), importa atentar nos mais

caraterísticos sinais de alerta precoce, individualmente, já que os sinais de alerta são, na

maioria dos casos, pessoais e idiossincráticos. Tal deve-se ao facto de as crenças e

padrões de comportamento de um indivíduo serem o resultado das experiências de vida

que experiencia, pelo que quando são ativadas negativamente, este pode reagir de forma

mais ou menos hostil e de forma mais ou menos previsível. Uma interpretação errada

dos outros ou um contacto negativo formam o perfil pessoal do indivíduo, sendo que

cada um comporta-se de acordo com seu perfil pessoal (Fluttert et al., 2008, p. 213).

Os esforços de formação de reconhecimento precoce focam-se na melhoria das

capacidades de autogestão do indivíduo e, desse modo, a sua capacidade para

reconhecer as fases iniciais da deterioração do comportamento, que Fluttert et al.

(2008), de acordo com os autores infra citados, os enfermeiros, no âmbito da psiquiatria

forense, estão aptos para ensinar aos doentes as habilidades de autogestão necessárias

para lidar com impulsos agressivos (p. 213). Neste sentido, para os cuidados de

enfermagem no âmbito forense, o foco no comportamento do indivíduo durante a fase

de deterioração precoce ou sinais precoces é uma necessidade absoluta.

A importância do MRP centra-se, sobretudo, nos casos menos graves, ou melhor

mais ligeiros, de agressão, uma vez que os sinais de alerta são facilmente detetáveis e o

comportamento do indivíduo ainda não está totalmente dominado por sintomas graves,

como o stress. Para além disso, estes podem participar nos seus esforços de recuperação

e assim, em certa medida, retornar ao comportamento base de referência e à estabilidade

com um mínimo de esforço (Nijman e Palmstierna, 2002 apud Fluttert et al., 2008, p.

211).

Page 27: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

26

Tal como já foi referido anteriormente, os enfermeiros que trabalham em

contextos forenses estão mais expostos ao confronto com a violência em regime de

internamento. As causas da violência no internamento, também já acima explicitadas,

são controladas através de intervenções farmacológicas; no entanto, fatores como a

interação entre pessoal de enfermagem e doentes e a capacidade destes, em conjunto,

reconhecerem os sinais preliminares de agressão (Duxbury 2002, Nijman et al.1999,

Webster et al., 2004, apud Fluttert et al. 2008, p. 210), são essenciais para a gestão e

prevenção da violência no internamento. As perceções sobre as causas de agressão, bem

como a forma como essas causas devem ser geridas, diferem, porém, entre pessoal de

enfermagem e doentes (Duxbury e Whittington, 2005 apud Fluttert et al. 2008, p. 210).

Por um lado, os doentes enfatizam a falta de habilidades de comunicação por

parte dos enfermeiros e estes, por outro lado, relacionam a agressão com a doença. Em

qualquer caso, a equipe de enfermagem, no contexto de PF, desempenha um papel

importante na gestão de violência em regime de internamento (Fluttert et al., 2010, p.

1530).

Existe, portanto, a necessidade de métodos de gestão de risco, a preocupação

incide, porém, na escassez de estudos empíricos em grande escala sobre esta questão.

Os resultados de um recém-desenvolvido método de gestão de riscos (Fluttert et al.

2008), designado acima como MRP, exploram a noção de "primeiros sinais",

defendendo que os indivíduos, na primeira fase da psicose, podem ser capazes de

reconhecer o início de uma recaída e igualmente reconhecer os primeiros sinais de

agressão, contribuindo para a prevenção da violência, pelo que a utilidade deste método

incide, portanto, em sinalizar a necessidade de ações preventivas no tempo (Fluttert et

al., 2010, p. 1530).

Resumidamente, poder-se-ia definir MRP como um método de deteção e

discução de sinais de alerta precoces, entre enfermeiro e doente, baseando-se num

protocolo pré-estabelecido; por outras palavras, segundo Fluttert et al. (2010) o MRP

“visa aumentar a auto-consciência dos pacientes, mas também as suas competências de

auto-gestão para diminuir a probabilidade de se comportar de forma agressiva” (p.

1530). Mais especificamente, este método permite criar uma intervenção eficaz para a

prevenção de incidentes graves, já que este método de gestão de risco tem como foco os

sinais de alerta precoce de agressão (Fluttert et al., 2011, p. 131). Tal aliado a uma

equipe de enfermagem competente, pode resultar os numa deteção de sinais durante o

Page 28: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

27

atendimento diário, permitindo, assim, que tanto o doente como o/a enfermeiro/a

sintonizem as suas perspetivas sobre o risco de agressão e, consequentemente,

gerenciem eficazmente esse risco (Fluttert et al., 2008, p. 211).

O protocolo pré-desenvolvido que sustenta este método prevê uma estrutura

clara que assenta em quatro fases do reconhecimento precoce:

a) Primeiramente, o indivíduo é minuciosamente informado sobre a

natureza da intervenção e expõe-se o que se espera deste e do/a

enfermeiro/a;

b) Em segundo lugar, o mentor-equipe de enfermagem, indivíduo e

membros da sua rede social fazem uma lista alargada dos principais

sinais de alerta precoce de agressão para o indivíduo em questão e

descrevem-nos dentro do plano de deteção precoce (PDP) (plano de

prevenção de recaídas com base em sinais precoces, que podem variar

de sinais psicóticos a sinais e sintomas não psicóticos);

c) De seguida, os indivíduos aprendem a monitorizar e controlar o seu

comportamento para reconhecer os sinais de alerta precoce de perda de

equilíbrio emocional;

d) Por último, na quarta fase, são discutidas e descritas potenciais ações

preventivas, e o indivíduo é encorajado a realizar estas ações, quando

são detetados sinais de alerta precoce, de modo a auxiliá-lo a recuperar

o seu auto-controle.

Além disso, segundo Fluttert et al. (2008, p. 213), é também discutido, no seio

do protocolo, como antecipar e gerir a hostilidade ou falta de motivação por parte do

indivíduo. Quando os sinais de alerta precoce são reconhecidos e se aplicam estratégias

de intervenção para difundir a ameaça de violência, o equilíbrio do indivíduo pode ser

restaurado e o tratamento retomado. O principal objetivo do MRP é, portanto,

proporcionar aos doentes alcançar alguma consciência e discernimento sobre o início do

seu próprio comportamento violento, pelo que devem aprender a reconhecer suas

Page 29: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

28

reações e as crenças fundamentais subjacentes a estas reações (com o auxílio e a

implementação do MRP1).

O PDP é, neste sentido, uma mera descrição dos sentimentos, crenças

fundamentais e respostas comportamentais associados a incidentes agressivos no

passado.

Com um trabalho conjunto entre enfermeiros e doentes, é possível detetar a

agressão e minimizar os seus efeitos, pelo que cabe ao enfermeiro ensinar o próprio

indivíduo a estar alerta e consciente das suas reações, permitindo-lhes, então, praticar

respostas alternativas e desenvolver habilidades mais positivas que evitem a resposta

inicial – a violência. A aprendizagem deve, por isso, ser iniciada com situações de crise

mais leves e incidentes atuais, já que situações de crise graves não proporcionam um

ambiente de aprendizagem favorável (Fluttert et al., 2008, p. 213).

1 De acordo com Fluttert et al., (2010, p. 1532), um estudo prático realizado obteve os seguintes dados de

implementação do MRP: as sessões de MRP entre o doente e o seu mentor duraram aproximadamente 30

minutos / semana; a intervenção foi implementada como parte de avaliações semanais já existentes entre

os doentes e seus mentores; todas as informações que foram obtidas durante estas sessões de MRP foram

anotadas no “PDP” individual do doente; no caso de transferência de um doente para outra ala, a nova

equipe de enfermagem foi treinada para permitir a continuidade da intervenção; todos os profissionais que

trabalham com doentes em MRP foram treinados na aplicação desta intervenção; o treino foi dado a cada

divisão, separadamente, com base na história clínica dos doentes, vinhetas de vídeo e role-playing,

ocupou um dia, e abordou os seguintes temas: fatores relacionados à agressão, o processo de

comportamentos perturbadores leves em direção a agressão grave, o conceito teórico de MRP, o teor do

protocolo de MRP e a aplicação do protocolo na prática.

Page 30: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

29

CAPÍTULO II - ESTUDO EMPÍRICO

No presente capítulo irá ser abordada a metodologia a utilizar neste estudo,

visando essencialmente fornecer um suporte teórico da estratégia de investigação e dos

procedimentos a seguir para a sua execução. Assim, pretende-se descrever de forma

objetiva a metodologia reconhecida como mais adequada à investigação que se assume

realizar.

1. DESENHO DA INVESTIGAÇÃO

De acordo com Fortin (1999), a obtenção de respostas válidas às questões de

investigação colocadas ou às hipóteses formuladas compõem o plano lógico a que se dá

o nome de fase metodológica ou desenho de investigação (p. 132).

Em contexto psiquiátrico, os doentes desenvolvem comportamentos agressivos

que podem estar relacionados com uma diversidade de fatores causais (Marques et al.,

2010), sendo que, a resolução desta problemática implica a utilização de diferentes

respostas de prevenção e controlo (Irwin, 2006). Para tal, urge avaliar prévia e

adequadamente indicadores clínicos, isto é sinais de alerta de agressão (Fluttert et al.,

2010), revelando-se o FESAI um instrumento que favorece a compreensão da dinâmica

desses sinais, permitindo o envolvimento do doente na sua monitorização e recuperação

(Fluttert et al., 2011, p. 130).

Assim sendo, tendo em conta os objetivos e as caraterísticas do estudo,

considerou-se útil realizar um estudo quantitativo, exploratório e correlacional, uma vez

que a temática em estudo encontra-se pouco explorada. Nesse sentido, e corroborado

por Fortin (1999), o estudo quantitativo assume-se como “um processo sistemático de

colheita de dados observáveis e quantificáveis. É baseado na observação de factos

objectivos, de acontecimentos e fenómenos que existem independentemente do

investigador” e tem como caraterísticas a “objectividade, a predição, o controlo e a

generalização, utilizando procedimentos estatísticos” (p. 22). No que concerne ao

estudo exploratório, o intuito é estabelecer critérios, métodos e técnicas para a

elaboração de uma pesquisa, de modo a “oferecer informações sobre o objeto desta e

orientar a formulação de hipóteses” (Bervian et al., 2006) e permitindo a “descoberta, o

Page 31: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

30

achado, a elucidação de fenómenos ou a explicação daqueles que não eram aceites

apesar de evidentes” (Gonçalves, 2014). Assume também caráter correlacional uma vez

que pretendemos descrever o universo de um determinado fenómeno e estabelecer

relação entre variáveis, uma vez que o “investigador tenta explorar e determinar a

existência de relações entre variáveis, com vista a descrever essas relações. O principal

objectivo deste tipo de estudo é a descoberta de factores ligados a um fenómeno.”

(Fortin, 1999, p. 174).

Este estudo tem como objetivos:

Avaliar a prevalência dos sinais de alerta de agressão através do uso do FESAI

em doentes internados num serviço de psiquiatria forense da zona Centro;

Monitorizar os sinais precoces de agressão e a sua adaptação, de modo a avaliar

a pertinência do recurso ao FESAI na realidade portuguesa;

Verificar a relação entre o diagnóstico clínico e presença de sinais precoces de

alerta de agressão.

Partindo dos objetivos anteriormente formulados, definimos as seguintes

questões de investigação:

- Qual a prevalência de sinais precoces de alerta de agressão, mensurados com o

FESAI, em doentes internados numa unidade de psiquiatria forense?

- Qual a influência do diagnóstico principal na manifestação de sinais precoces

de alerta de agressão?

População/Amostra e Local de colheita de dados

A amostra utilizada neste estudo é constituída por 45 doentes inimputáveis, com

idade superior a 18 anos, internados numa Unidade de Psiquiatria Forense da zona

Centro e que acederam participar voluntariamente no estudo.

Nas tabelas 1 e 2 podemos observar as variáveis de caraterização demográfica

dos participantes no estudo.

No que respeita à idade (tabela 1), esta varia entre os 20 e os 78 anos; a média

encontrada é de 44,43 anos, com um desvio padrão de 13,97, sendo a moda de 37 e a

mediana de 45 anos. Observa-se que a maior parte dos doentes se situa no grupo etário

Page 32: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

31

dos 41 aos 50 anos (26,7%), seguindo-se aqueles do grupo etário dos 31 aos 40 anos

(24,4%). É de referir que 17,8% dos doentes em estudo tem idade igual ou inferior a 30

anos, contudo 13,3% tem idade igual ou superior a 61 anos.

Tabela 1 - Distribuição dos doentes segundo o grupo etário

Grupo etário Nº %

20 - 30 Anos 8 17.8

31 - 40 Anos 11 24.4

41 - 50 Anos 12 26.7

51 - 60 Anos 7 15.6

≥ 61 anos 6 13.3

Não responderam 1 2.2

Total 45 100.0

Média = 44,3; Desvio padrão = 13,97; Mínimo = 20; Máximo = 78

Quanto à distribuição dos doentes em estudo segundo o seu estado civil pode-se

constatar que a grande maioria (75,6%) são solteiros, seguindo-se em igual percentagem

(8,9%), divorciados e casados. De referir que 4,4% são viúvos.

No que concerne às habilitações literárias dos doentes em estudo, constatou-se

que a maior parte possui apenas habilitações iguais ou inferior à 4ª classe (40%),

seguindo-se 22,2% com o 6º ano e 20% com o 9º ano de escolaridade. De referir que 8,9

% são analfabetos e que apenas 4,4% tem formação superior.

Quanto à profissão dos doentes em estudo segundo (agrupadas segundo os

grupos da classificação nacional das profissões), podemos constatar que a maior parte

(42,2%) não tem profissão, seguindo-se 26,7% que são operários da construção civil e

8,9% são agricultores. De referir que apenas dois doentes (4,4%) tem uma profissão

“intelectual e científica”.

Page 33: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

32

Tabela 2 – Frequência e percentagens das variáveis de caraterização demográfica dos

participantes

Variável N %

Estado civil:

Solteiro/a

Casado/a

Viúvo/a

Divorciado/a

Não respondeu

Escolaridade:

Analfabeto

1º Ciclo

2º Ciclo

3ª Ciclo

Secundário

Bacharelato/Licenciatura

Mestrado/Doutoramento

Profissão:

Especialista das profissões intelectuais e científicas

Técnicos e profissionais de nível intermédio

Pessoal dos serviços e vendedores

Agricultores e trabalhadores da agricultura e pescas

Operários, artífices e trabalhadores similares

Operadores de instal. e máquinas e trab. montagens

Trabalhadores não qualificados

Sem profissão

34

4

2

4

1

4

18

10

9

2

1

1

2

1

3

4

12

1

3

19

75.6

8.9

4.4

8.9

2.2

8.9

40.1

22.2

20.0

4.4

2.2

2.2

4.4

2.2

6.7

8.9

26.7

2.2

6.7

42.2

Naturalidade:

Aveiro

Castelo Branco

Coimbra

Leiria

Lisboa

Guarda

Porto

Viana do Castelo

Vila Real

Viseu

Angola

Cabo Verde

França

Ucrânia

4

2

9

8

2

1

7

1

1

5

1

1

1

2

8.9

4.4

20.0

17.8

4.4

2.2

15.6

2.2

2.2

11.3

2.2

2.2

2.2

4.4

Page 34: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

33

Em relação à naturalidade dos doentes, pode-se constatar que são naturais de 10

distritos de Portugal e de 4 países estrangeiros. Assim, a maior parte (20%) são naturais

de Coimbra, seguindo-se 17,8% do distrito de Leiria e 15,6% do Porto. De salientar que

11% tem nacionalidade estrangeira, sendo que 4,4% são ucranianos.

No que concerne ao diagnóstico principal e secundário dos doentes em estudo

(tabela 3), podemos constatar que a maioria dos participantes (46,7%) apresenta como

diagnóstico principal a esquizofrenia, seguindo-se 31,2% com debilidade cognitiva e

8,9% com uma perturbação delirante. De referir, que 4,4% tinham uma perturbação da

personalidade e igual percentagem (2,2%) tinham como diagnóstico principal

alcoolismo e epilepsia.

No que respeita a outro diagnóstico psiquiátrico secundário, podemos verificar

que 20% tinha outro diagnóstico, sendo para 13,4% o alcoolismo.

Tabela 3 – Distribuição dos doentes segundo o diagnóstico principal e secundário

Diagnóstico N %

Diagnóstico principal:

Esquizofrenia

Debilidade cognitiva

Perturbação delirante

Perturbação da personalidade

Alcoolismo

Epilepsia

Sem diagnóstico definido

Diagnóstico secundário:

Alcoolismo

Debilidade cognitiva

Demência

Dependência de substâncias

Sem outro diagnóstico

21

14

4

2

1

1

2

6

1

1

1

36

46.7

31.2

8.9

4.4

2.2

2.2

4.4

8.9

40.1

22.2

20.0

4.4

Page 35: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

34

Instrumento de colheita de dados

Foram utilizados como instrumentos de colheita de dados, um questionário de

caraterização sociodemográfica (ANEXO I) e o “Forensic Early Signs of Aggression

Inventory” - FESAI (ANEXO II); tendo sido entregues pessoalmente no serviço, doente

a doente, os quais foram esclarecidos acerca do estudo. Os instrumentos de medida

foram codificados para tratamento e análise de dados.

“Forensic Early Signs of Aggression Inventory” - FESAI

Apesar dos esforços que a pesquisa clínica desenvolve no seio da PF, para

melhorar a avaliação de sinais típicos idiossincráticos do indivíduo, enfermeiros e

doentes necessitam de uma ferramenta mais abrangente, que atente numa abordagem

mais personalizada e individual e que permita estimar, proficientemente, os sinais de

alerta de agressão; contribuindo, desse modo, para a cooperação e o desenvolvimento

bem-sucedido de estratégias de gestão de risco específicas de prevenção (Martin e

Daffern 2006, Meehan et al., 2006, Fluttert et al., 2008, Mason et al. 2009 apud Fluttert

et al., 2012, p. 1551).

No seguimento do que já foi referido anteriormente, a perceção dos indivíduos

das suas experiências internas e do mundo exterior são questões importantes para a

gestão de risco (Duxbury e Whittington, 2005, Meehan et al., 2006, 2008; Fluttert et al.,

2011), pois podem contribuir para uma melhor compreensão da origem de

comportamentos agressivos. No mesmo sentido, a participação ativa do indivíduo em

reconstruir a sua mudança de comportamento antes de incidentes agressivos, pode

conduzir à identificação de sinais de alerta de agressão específicos (Nicholls et al.,

2009, Fluttert et al., 2010) (Idem).

O desenvolvimento metodológico que se tem assistido para melhor

compreender, acompanhar e intervir com base em sinais de alerta a respeito de

comportamentos agressivos de doentes internados, é notório e ganha relevo com uma

investigação feita por Fluttert et al. (2010) ao sugerir que a cooperação entre

enfermeiro-doente na deteção e inventariação de sinais de alerta e a implementação de

medidas preventivas subsequentes podem reduzir os incidentes de agressão em contexto

de internamento. Tal como referido acima (cf. ponto 2.3), esses sinais de alerta precoce

podem ser descritos num PDP, sendo este, um esquema estruturado que permite aos

Page 36: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

35

doentes e enfermeiros monitorizar regularmente os sinais de alerta precoce de agressão.

No seu seguimento, Fluttert et al. (2011) desenvolvem o FESAI (Inventário Forense de

Sinais de Alerta Precoces de Agressão) como uma ferramenta para ser utilizada por

profissionais em psiquiatria forense para listar e descrever os sinais precoces de

agressão de uma forma sistemática e elaborar um PDP (p. 131).

O FESAI é composto por 45 itens de sinais de alerta precoce, divididos em 15

categorias, sendo que o item 45 foi criado como uma categoria aberta para ser utilizado

para um sinal de aviso que é diferente dos restantes 44 itens. Este inventário ganha

importância, uma vez que, de acordo com os enfermeiros e doentes que descreveram os

sinais de alerta precoce no PDP, estes sinais inventariados foram relacionados ao

aparecimento de comportamentos agressivos, supondo-se que, sem a intervenção desta

ferramenta, quando ocorrem esses sinais de alerta precoce, o risco de comportamento

agressivo aumenta (Fluttert et al,. 2012, p. 1553).

No cenário da PF, os enfermeiros têm de gerir a agressão no internamento para

criar um ambiente de trabalho seguro e terapêutico, pelo que devem consciencializar-se

de que a agressão no internamento está, muitas vezes, relacionada com a interação entre

doentes e enfermeiros. Numa tentativa de minimizar incidentes agressivos, cabe ao

enfermeiro refletir sobre a sua conduta e o seu estilo de comunicação pessoal, de modo

a adaptar-se e, assim, melhorar a qualidade das interações com os doentes; bem como

colaborar com estes no que concerne a lidar com eventos que podem resultar em

agressão (Fluttert et al., 2011, p. 130).

Note-se que os indivíduos utilizam o comportamento agressivo como forma de

se protegerem de uma ameaça percebida, com a agravante de que são incapazes de

controlar os seus próprios pensamentos e sentimentos (Fluttert et al., 2011, p. 130),

surgindo a equipe de enfermagem como peça-chave na gestão e prevenção de

comportamentos de risco.

Um passo em direção a uma melhor gestão da agressão no contexto de

internamento surge indissociado da criação do FESAI, por representar um esforço

conjunto, entre profissionais de saúde mental e doentes, para reconhecer os sinais de

alerta precoce de agressão do indivíduo e, consequentemente, melhorar a sua

capacidade de lidar com os primeiros estágios de comportamento agressivo. A

importância de este ser um trabalho conjunto centra-se no facto de que os sinais de

Page 37: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

36

alerta precoce de agressão poderem ser de natureza interna, isto é, percebidos somente

pelo indivíduo, ou externa, ou seja, também observados por outros, representando um

continuum da fase muito precoce da deterioração comportamental à fase de deterioração

proximal à agressão (Fluttert et al., 2011, p. 131).

O FESAI foi desenvolvido por meio de estratégias qualitativas e quantitativas,

em que foram estudados 176 PDPs e para construir uma lista de sinais de alerta precoce

de agressão, sendo que a investigação resultou na inventariação de 44 sinais de alerta

precoce de agressão subdivididos em 15 categorias principais. O processo de

desenvolvimento foi baseado no exame dos sinais de alerta precoce, que foram descritos

em PDPs desenvolvidos em dois hospitais forenses. No entanto, o FESAI não se destina

a ser uma lista exaustiva, e não podemos ter total certeza da viabilidade e

correspondência do FESAI para todos os doentes, em todas as situações distintas em

que ocorrem incidentes agressivos, pelo que, por essa razão, foi adicionada a 45ª

categoria, permitindo, desse modo, tornar este conceito aberto, dinâmico, ao invés de

rígido e dogmático (Fluttert et al., 2011, p. 134).

Ainda que o desenvolvimento do FESAI se encontre num estágio muito precoce,

este pode ajudar a díade doentes-enfermeiros a terem consciência de sinais precoces,

sem esquecer que a sua eficiência depende da sua utilização como um instrumento de

desenvolvimento e aplicação de estratégias individuais de gestão de risco de um futuro

comportamento violento (Fluttert et al., 2011, p. 135). Importa mencionar, por isso, que

o recurso ao FESAI assume-se para além da avaliação e monitorização de sinais de

alerta precoces, atuando, inclusive, na sua prevenção e gestão, já que quando um

incidente agressivo tenha ocorrido ou tem sido gerido, o FESAI permite verificar, a

posteriori, se todas as os primeiros sinais relevantes de agressão (iminente) foram

identificados ou se há uma necessidade de ampliar ou reduzir o levantamento dos sinais

de alerta, para que se tomem medidas de precaução futuras para que não se reincida a

ocorrência do ato agressivo.

Acrescente-se, sublinhando a sua polivalência, que enfermeiros e doentes podem

utilizar o FESAI para discutir e identificar os sinais de alerta mais relevantes da

agressão para o doente em particular (Fluttert et al., 2011, p. 135), alimentando, desse

modo, os relacionamentos interpessoais; bem como, ao usufruir do inventário, podem

ser capazes de melhor reconstruir o processo de escalonamento para a agressão do

doente (Fluttert et al., 2011, p. 135), e melhorar a intervenção precoce para esses grupos

Page 38: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

37

de alto risco ao identificar sinais de alerta específicos (Jonker et al., 2008 apud Fluttert

et al., 2011, p. 135).

Não obstante a relevância do inventário (FESAI) em contexto de internamento

psiquiátrico forense, consideramos que o desenvolvimento do FESAI está, ainda, num

estágio muito precoce, pelo que tem de ser submetido a revisão e aperfeiçoamento

contínuos no futuro para que não se caia em dogmatismos nem em estereótipos,

ponderando, inclusive, a necessidade de alargar a escala de pesquisas para validar o

FESAI.

Nesta linha de raciocínio, achamos pertinente referir que é necessário todo um

esforço investigacional para aferir a confiabilidade e a validade preditiva do FESAI

como uma ferramenta para monitorizar os sinais de alerta precoce para o futuro

comportamento violento; tal como, para ser eficiente, o instrumento deve ser ligado

diretamente ao desenvolvimento e aplicação de estratégias de gestão de risco

individuais.

Ética e garantia de confidencialidade

Como qualquer outro trabalho de investigação feito junto a indivíduos, grupos

ou comunidades, também este estudo levanta questões éticas importantes, o que exige

uma exposição e apresentação de estratégias de proteção dos direitos dos participantes.

Antes da execução deste trabalho de investigação foi realizado um pedido de

autorização ao Presidente do Conselho de Administração do CHUC (ANEXO III) e

submetido a aprovação da comissão de ética, seguindo normas internas (ANEXO IV).

Todos os participantes no estudo foram informados sobre os seus objetivos e

sobre o caráter voluntário da participação, assinando um Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido (ANEXO V). A confidencialidade foi assegurada em todo o processo,

sendo garantida tanto ao nível das respostas como do anonimato dos participantes.

Page 39: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

38

Tratamento estatístico dos dados

O tratamento dos dados foi realizado através do programa estatístico IBM

(International Business Machines) SPSS (Statistical Package for the Social Sciences),

versão 23.

Foram realizadas estatísticas descritivas para sumarização dos dados, ou seja,

estudaram-se as caraterísticas não uniformes das diversas unidades observadas (Pestana

e Gageiro, 2008).

A decisão sobre o design estatístico (paramétrico ou não paramétrico) a utilizar

para a análise correlacional exige a verificação de um conjunto de pressupostos, sendo o

mais importante, a normalidade da distribuição.

A normalidade da distribuição é a suposição mais importante em análise

bivariada e multivariada, definindo-se como o grau em que a distribuição dos dados

para uma variável métrica corresponde a uma distribuição normal (distribuição de

Gauss), padrão de referência dos dados estatísticos (Hair Jr. et al., 2005).

Para verificar a normalidade da distribuição, foram analisados os valores de

significância do teste de Kolmogorov-Smirnov (KS) com correção de Lilliefors e os

valores de assimetria (Skewness) e curtose (Kurtosis), utilizando-se os scores totais de

cada uma das dimensões e do total do inventário.

Page 40: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

39

2. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Este capítulo refere-se à apresentação e análise dos resultados obtidos através do

instrumento de colheita de dados. Os dados serão apresentados através de tabelas e

quadros, de forma a organizar e sistematizar melhor a informação. Recorreu-se à

estatística descritiva para sumariar os dados obtidos, permitindo a sua leitura e análise; e

à estatística inferencial, para estabelecer relações entre variáveis.

Uma vez que os dados apresentados nas tabelas são todos eles retirados da

mesma amostra omite-se essa indicação.

Na apresentação dos resultados relativos à prevalência dos sinais precoces de

agressão, foram utilizadas medidas descritivas: estatísticas de frequência (absoluta e

percentual); medidas de localização (média); medidas de dispersão (desvio padrão,

mínimo e máximo). Para a análise inferencial foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis. A

interpretação do teste estatístico foi realizada com base no nível de significância de α

=0,05 com um intervalo de confiança de 95%.

2.1. Análise Descritiva

Quando analisada a prevalência dos sinais precoces de alerta de agressão, por

dimensão do FESAI, nos doentes em estudo (Tabela 4), constatou-se que oscilaram

entre zero e um máximo de vinte e dois sinais de alerta de agressão por doente. O valor

médio verificado para o total do inventário foi de 6,75, sendo o valor mínimo obtido de

0 e o máximo de 22 sinais de agressão.

A análise por dimensões permite constar que é em relação ao “desânimo e

ansiedade” que se verificam mais sinais precoces de alerta de agressão ( =1,56;

D.P.=1,88), seguindo-se a dimensão “isolamento social, contacto social diminuído” (

=1,31; D.P.=1,58) e “tensão, agitação, raiva” ( =0,89; D.P.=1,21). Por outro lado,

onde se verificam menos sinais precoces de alerta de agressão, é na dimensão “fantasias

sexuais extremas, necessidades, comportamentos” ( =0,07; D.P.=0,25), seguindo-se a

“desinibição e impulsividade” ( =0,09; D.P.=0,29) e “alterações muito específicas do

comportamento” ( =0,13; D.P.=0,46).

Page 41: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

40

Tabela 4 - Estatística descritiva referente as dimensões do inventário “Forensic Early

Signs of Aggression Inventory” - FESAI

Dimensões Min Max D.P.

Mudança de atividades diárias 0 3 0,69 0,85

Isolamento social, contacto social diminuído 0 4 1,31 1,58

Mudança de autogestão 0 3 0,51 0,81

Alterações físicas 0 2 0,24 0,48

Alterações cognitivas 0 2 0,33 0,64

Desânimo e ansiedade 0 6 1,56 1,88

Tensão, agitação, raiva 0 4 0,89 1,21

Comportamento antissocial não agressivo 0 5 0,62 1,30

Desinibição e impulsividade 0 1 0,09 0,29

Fantasias sexuais extremas, necessidades,

comportamentos 0 1 0,07 0,25

Comportamento criminoso 0 1 0,67 0,25

Ideias irracionais, perceções 0 2 0,25 0,57

Alterações muito específicas do

comportamento 0 2 0,13 0,46

FESAI (Total) 0 22 6,75 6,77

Page 42: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

41

Tabela 5 – Distribuição dos indivíduos segundo os itens do inventário – FESAI

Dimensão Sim Não

Nº % Nº %

Mudança atividades diárias

Mudança no ritmo dia/noite 1 2,2 44 97,8

Atividade diminuída 11 24,4 34 75,6

Cada vez mais aborrecido 11 24,4 34 75,6

Dificuldades no cumprimento de acordos, estrutura diária 8 17,8 37 82,2

Isolamento social, contacto social diminuído

Contacto superficial aumentado 12 26,7 33 73,3

Evitamento do contacto ocular 13 28,9 32 71,1

Isolamento aumentado, afastamento 15 33,3 30 66,7

Afasta-se de conversas ou outras atividades 19 42,2 26 57,8

Mudança de autogestão

Declínio no autocuidado ou no que o rodeia 6 13,3 39 86,7

Diminuição na capacidade de resolução de problemas 11 24,4 34 75,6

Aumento dos problemas financeiros 6 13,3 39 86,7

Alterações físicas

Aumento de queixas físicas 8 17,8 37 82,2

Diminuição na adesão à medicação 1 2,2 44 97,8

Aumento da envolvência no uso de substâncias (álcool/drogas) 2 4,4 43 95,6

Alterações cognitivas

Aumento das dificuldades no pensamento, recordar, concentrar 11 24,4 34 75,6

Aumento perturbações associativas ou pensamento caótico 4 8,9 41 91,1

Desânimo e ansiedade

Aumento das preocupações 11 24,4 34 75,6

Aumento da solidão 15 33,3 30 66,7

Aumento da baixa autoestima 13 28,9 32 71,1

Aumento dos sentimentos de tristeza e/ou desesperança 9 20,0 36 80,0

Aumento dos sentimentos de estar magoado, ofendido e/ou rejeitado 6 13,3 39 86,7

Aumento dos comportamentos de automutilação 1 2,2 44 97,8

Aumento da ansiedade 12 26,7 33 73,3

Aumento dos pesadelos 3 6,7 42 93,3

Tensão, agitação, raiva

Menor disponibilidade para as ideias de outros, pensamentos ou maneiras

de comportar 14 31,1 31 68,9

Aumento da vivência de stress 5 11,1 40 88,9

Aumento da raiva, frustrações, e/ou tensões 7 15,6 38 84,4

Aumento da resposta verbal,/física de forma agressiva 6 13,3 39 86,7

Aumento da supressão de emoções 8 17,8 37 82,2

Comportamento antissocial não agressivo

Aumento da quebra de limites dos outros, humilhação e/ou

cinismo/sarcasmo 6 13,3 39 86,7

Aumento na falha de capacidade de assumir responsabilidades 7 15,6 38 84,4

Cada vez mais incerto ou a mentir 8 17,8 37 82,2

Aumento do comportamento de divisão, colocando as pessoas umas contra

as outras 3 6,7 42 93,3

Provocar conflitos, coercivo, exigente 4 8,9 41 91,1

Desinibição e impulsividade

Cada vez mais caótico, agitado e/ou impulsivo 4 8,9 41 91,1

Fantasias sexuais extremas, necessidades, comportamentos

Aumento da frequência de fantasias sexuais extremas, necessidades e/ou

comportamentos 3 6,7 42 93,3

Comportamento criminoso

Fuga ou ideia de comportamento criminoso 2 4,4 43 95,6

Contactos criminosos e/ou atividades criminosas 1 2,2 44 97,8

Ideias irracionais, perceções

Aumento de pensamento paranoide ou sentir-se ameaçado 5 1,1 40 88,9

Alucinações - 0,0 45 100,0

Delírios, convicções irracionais 6 13,3 39 86,7

Alterações muito específicas do comportamento

Comportamento idiossincrático 2 4,4 43 95,6

Alterações nos hábitos de comer/beber, padrões 3 6,7 42 93,3

Falar de maneira diferente 1 2,2 44 97,8

Page 43: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

42

Reportando-nos à análise descritiva da avaliação dos itens por dimensão do

inventário “Forensic Early Signs of Aggression Inventory” - FESAI (tabela 5). Observa-

se que no que concerne à dimensão “mudança de atividades diárias”, apurou-se que a

grande maioria (>75%) não apresentava nenhum dos 4 sinais de alerta de agressão.

Contudo, 24,4% apresentavam “atividade diminuída” e estar “cada vez mais aborrecido”.

De referir que 17,8% dos doentes evidenciam “dificuldade no cumprimento de acordos

na estrutura diária” e 2,2% “mudança no ritmo dia/noite”

Quanto à dimensão “isolamento social, contacto social diminuído”, pode-se

constatar que 42,2% dos doentes “afasta-se de conversas ou outras atividades”, seguindo-

se 33,3% que evidencia “isolamento aumentado, afastamento”, 28,9% evita o “contato

visual” e 26,7% evidencia “contato social aumentado”.

Na dimensão “mudança de autogestão”, pode-se verificar que 24,4% dos doentes

tem “diminuição na capacidade de resolução de problemas” e igual percentagem (13,3%)

evidencia “declínio no autocuidado ou no que o rodeia” ou “aumento dos problemas

financeiros”.

Na dimensão “alterações físicas”, apenas 13,3% dos doentes evidencia o

“aumento das queixas físicas”, sendo que somente 4,4% tem “aumento da envolvência

no uso de substâncias álcool/droga” e apenas 2,2% diminuição na “adesão a medicação”.

Quanto às “alterações cognitivas”, 24,4% dos doentes evidenciavam um

“aumento das dificuldades no pensamento, recordar e concentrar” e em apenas 8,9%

“aumento das perturbações associativas ou pensamento caótico”.

Em relação à dimensão “desânimo e ansiedade”, a percentagem mais elevada de

presença do sintoma (33,3%) é em relação à “solidão”, seguindo-se (28,9%) o aumento

da “baixa autoestima”, 26,7% com “aumento da ansiedade”, 24,4% que evidenciavam

aumento das “preocupações” e 20% aumento dos “sentimentos de tristeza e/ou

desesperança. Com prevalência inferior, o “aumento dos sentimentos de estar magoado,

ofendido e/ou rejeitado” (13,3%), aumento dos “pesadelos” (6,7%) e aumento dos

comportamentos de “automutilação” (2,2%).

No que concerne à dimensão “tensão, agitação e raiva”, a maior prevalência de

alerta foi em relação a “menor disponibilidade para as ideias dos outros, pensamentos ou

maneiras de se comportar” (31,1%). De salientar que à grande maioria dos doentes

(>80%) não apresentava nenhum dos outros 4 sinais de alerta de agressão. Contudo,

Page 44: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

43

17,6% evidenciavam “aumento da supressão de emoções”, 15,6% “aumento da raiva,

frustrações, e/ou tensões” e 13,3% “aumento da resposta verbal/física de forma

agressiva”.

Quanto à dimensão “comportamento antissocial não agressivo”, a grande maioria

dos doentes não apresenta nenhum sinal de alerta de agressão. Assim, apenas 17,8% dos

doentes se observa “cada vez mais incerto ou a mentir”, seguindo-se 15,6% “aumento na

falha de capacidade de assumir responsabilidade” e 13,3% com “aumento da quebra de

limite dos outros, humilhação e/ou cinismo/sarcasmo. De referir, que em apenas 8,9%

dos doentes se verificou a presença do comportamento de “provocar conflitos, coercivo,

exigente” e em 6,7% o aumento do comportamento de “divisão, colocando as pessoas

umas contra as outras”.

A dimensão “desinibição e impulsividade”, apenas tem um item “cada vez mais

caótico, agitado e/ou impulsivo”, tendo-se manifestado em apenas 8,9% dos doentes.

A dimensão “fantasias sexuais extremas, necessidades e comportamentos” é

constituída apenas por um item “aumento da frequência de fantasias sexuais extremas,

necessidades e/ou comportamentos”, tendo-se observado em apenas 6,7% dos doentes

em estudo.

Quanto ao “comportamento criminoso”, apenas 4,4% apresentavam “fuga ou

ideia de comportamento criminoso” e 2,2% tiveram “contactos criminosos e/ou

atividades criminosas”

Na dimensão “ideias irracionais, perceções”, apenas 13,3% dos doentes evidencia

“delírios, convicções irracionais”, sendo que somente 1,1% tem “aumento do

pensamento paranoide ou sentir-se ameaçado” e nenhum evidenciava alucinações.

Por último, em relação à dimensão “alterações muito específicas do

comportamento”, podemos constatar que apenas 6,7% dos doentes evidenciam

“alterações nos hábitos de comer/beber”, e 4,4% “comportamento idiossincrático” e

2,2% que “falam de maneira diferente”.

Em nenhum doente se identificou outros sinais de alarme.

Page 45: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

44

2.2 Análise Inferencial

Após a análise descritiva dos dados obtidos procede-se à verificação da validade

da 2ª questão de investigação através da análise da relação existente entre a variável

independente diagnóstico clínico, sendo esta a “variável manipulada pelo investigador

com a finalidade de estudar os seus efeitos na variável dependente” (Fortin, 1999, p.

377) e a variável dependente do estudo, sinais precoces de alerta de agressão em

doentes internados numa Unidade de PF, pelo que esta “é a que sofre o efeito esperado

da variável independente: é o comportamento, a resposta ou o resultado observado que,

é devido à presença da variável independente” (Ibidem).

Inicialmente verificou-se a normalidade da distribuição através do teste de

Kolmogorov-Smirnov. Foram também observados os valores de assimetria (Skewness)

e curtose (Kurtosis), utilizando-se os scores totais de cada uma das dimensões e do total

do inventário.

Os resultados apresentados na tabela 6 indicam que a distribuição difere

significativamente de uma distribuição normal, tanto para as dimensões como para o

total do inventário (p < .05), facto justificado pela pequena dimensão da amostra (n=

45), sendo predominantes as distribuições assimétricas positivas (S > 0) e platicúrticas

(K > 0.263). Os valores de assimetria (entre 0,764 e 3,595) e curtose (entre -1,048 e

11,433) indicam uma tendência da escala para apresentar scores baixos.

Assim, elegemos para o nosso estudo a utilização de testes estatísticos não

paramétricos.

Page 46: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

45

Tabela 6 – Resultados do teste de normalidade, assimetria e curtose do inventário

“Forensic Early Signs of Aggression Inventory” - FESAI

Dimensões Assimetria Curtose K/S

Mudança atividades diárias 0,893 -0,311 .325*

Isolamento social, contacto social diminuído 0,764 -1,048 .286*

Mudança de autogestão 1,411 0,933 .401*

Alterações físicas 1,841 2,740 .471*

Alterações cognitivas 1,757 1,869 .454*

Desânimo e ansiedade 1,138 0,258 .239*

Tensão, agitação, raiva 1,108 0,147 .346*

Comportamento antissocial não agressivo 2,351 5,059 .417*

Desinibição e impulsividade 2,990 7,260 .532*

Fantasias sexuais extremas, necessidades,

comportamentos 3,595 11,433 .538*

Comportamento criminoso 3,595 11,433 .538*

Ideias irracionais, perceções 2,288 4,235 .488*

Alterações muito específicas do

comportamento 3,536 11,933 .526*

FESAI (Total) 0,983 -0,254 .225*

*p < .01

Cruzando a informação referente aos sinais precoces de alerta de agressão com o

diagnóstico principal dos doentes (tabela 7), constatou-se que os doentes com

diagnóstico principal de esquizofrenia, são os que apresentam ordenações médias mais

baixas no total da escala e na maioria das dimensões (exceto: “isolamento social,

contacto social diminuído” e “fantasias sexuais extremas, necessidades,

comportamentos), por outro lado, aqueles que têm outros diagnósticos (perturbação

delirante, perturbação da personalidade, alcoolismo e epilepsia) são aqueles onde se

Page 47: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

46

verificam as ordenações médias mais elevadas na maioria das dimensões.

O teste Kruskal-Wallis, identificou existência de diferenças estatisticamente

significativas (p<0,05) entre os grupos, no que se refere às dimensões: “alterações

físicas” e “desânimo e ansiedade”.

Assim, pode-se afirmar que o diagnóstico só tem poder explicativo sobre sinais

precoces de alerta de agressão no que se refere às “alterações físicas” e “desânimo e

ansiedade”.

Tabela 7 - Resultado da aplicação do teste de Kruskal-Wallis, relativamente aos sinais

precoces de alerta de agressão e o diagnóstico principal dos doentes

Diagnóstico Principal

FESAI

Esq.

(n=21)

Deb.

(n=14)

Outro

(n=10)

X2

P

Posto

médio

Posto

médio

Posto

médio

Mudança, atividades diárias 20,52 23,64 27,30 2,247 0,325

Isolamento social, contacto social diminuído 23,90 22,82 21,35 0,298 0,862

Mudança de autogestão 21,93 24,89 22,60 0,632 0,729

Alterações físicas 18,00 26,21 29,00 11,44 0,003

Alterações cognitivas 19,71 23,75 28,85 5,924 0,052

Desânimo e ansiedade 17,74 26,86 28,65 7,034 0,030

Tensão, agitação, raiva 18,93 25,21 28,45 5,187 0,075

Comportamento antissocial não agressivo 19,14 26,93 26,50 5,720 0,057

Desinibição e impulsividade 21,00 25,82 23,25 4,676 0,097

Fantasias sexuais extremas, necessidades,

comportamentos 23,64 23,11 21,50 0,973 0,615

Comportamento criminoso 22,57 24,71 21,50 2,095 0,351

Ideias irracionais, perceções 23,38 22,00 23,60 0,270 0,874

Alterações muito específicas do comportamento 21,00 24,21 25,50 3,977 0,137

FESAI (Total) 19,57 26,00 26,00 2,712 0,258

Page 48: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

47

3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Cumpre-nos, assim, neste momento da presente investigação, discutir os

resultados obtidos, relacionando-os com a componente teórico-concetual apresentada na

primeira parte do trabalho, de forma a dar resposta às questões de investigação

formuladas. Como já referido no Capítulo II, no Desenho da Investigação, este estudo

teve como objetivo analisar a prevalência dos sinais de alerta de agressão em doentes

internados numa unidade de psiquiatria forense da zona Centro e a influência do

diagnóstico clínico nos sinais de alerta precoce de agressão. Recorreu-se ao FESAI, uma

ferramenta para a gravação de sinais de alerta que pode ser utilizada para a deteção e

controle de comportamentos agressivos em doentes que se encontram em unidades de

psiquiatria forense.

Para dar resposta às questões de investigação realizou-se um estudo quantitativo

(porque se trabalhou com indicadores numéricos e critérios estatísticos, através da

aplicação do FESAI); exploratório (por forma a elaborar as questões de investigação

com maior precisão); e correlacional (porque se estabeleceram relações entre variáveis).

Note-se que este estudo, na sua generalidade, apresenta algumas limitações, não

só devido à pequena dimensão da amostra e ao facto de esta ser uma área de

investigação pouco explorada, mas também, e sobretudo, no que concerne ao local onde

se realizou o estudo, uma vez que a realidade portuguesa, no que respeita à PF, é

totalmente diferente da realidade dos restantes países da Europa, sobretudo no Norte,

onde se realizam a maioria dos estudos sobre violência. Há, por isso, uma crescente

necessidade de expandir este tipo de investigação, para que melhor se adequem os

resultados à nossa população e, desta forma, as nossas intervenções de enfermagem se

revelarem mais eficazes.

Ainda que se constate a necessidade de em investigações futuras ter-se em conta

estes fatores que se assumem limitadores, procedeu-se aqui a uma tentativa, o mais

elucidativa possível, após a síntese dos resultados de maior significado, de os explicar.

Assim, relativamente à primeira questão de investigação: “Qual a prevalência de

sinais precoces de alerta de agressão, mensurados com o FESAI, em doentes

internados em unidades de psiquiatria forense?”, constatou-se que, nos doentes em

estudo (tabela 4), estes oscilaram entre zero e um máximo de vinte e dois sinais de

Page 49: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

48

alerta de agressão por doente, sendo que, para o total do inventário, o valor médio

verificado foi de 6,75 (D.P.=6,76) sinais de agressão. Verificou-se ainda, a partir da

análise por dimensões, uma maior incidência de sinais precoces de alerta de agressão

( =1,56; D.P.=1,88), em relação ao “desânimo e ansiedade”, seguindo-se a dimensão

“isolamento social, contacto social diminuído” ( =1,31; D.P.=1,58). Tal pode ser

justificado remetendo para o domínio da psicofarmacologia, isto porque, Portugal, de

acordo com os dados da DGS, apresenta consumos excessivamente altos de terapêutica

ansiolítica e sedativa, pelo que é notório o nível elevado de sedação que os nossos

doentes apresentam revelando-se alterações físicas, nomeadamente, maior lentificação,

prostração, sonolência, o que leva a um isolamento maior por parte destes doentes,

sendo que uma das principais consequências desta situação é o facto de “a intervenção

psicofarmacológica tender a continuar a ser resposta predominante, mesmo nos casos

em que não está particularmente indicada” (2013).

Por último, e corroborando a tendência mencionada acima no enquadramento

português no que respeita à terapêutica, os sinais de alerta “tensão, agitação, raiva”, ou

melhor que representam menor prostração, e portanto mais atividade agressiva,

apresentam níveis de incidência mais baixos ( =0,89; D.P.=1,21), o que se pode

explicar pelos efeitos que a terapêutica assume nos doentes, inibindo as suas reações

mais impulsivas. O mesmo se verifica na dimensão “fantasias sexuais extremas,

necessidades, comportamentos”, “desinibição e impulsividade” e “alterações muito

específicas do comportamento”, em que os valores de sinais precoces de alerta de

agressão são visivelmente reduzidos, sendo respetivamente =0,07; D.P.=0,25;

=0,09; D.P.=0,29; e =0,13; D.P.=0,46.

No que concerne à segunda hipótese: “Qual a influência das variáveis clínicas

(diagnóstico principal) com os sinais precoces de alerta de agressão?”, os resultados

do teste de Kruskal Wallis (tabela 7) permitem verificar que os doentes com diagnóstico

principal de esquizofrenia são os que apresentam ordenações médias mais baixas no

total da escala e na maioria das suas dimensões (à exceção de “isolamento social,

contacto social diminuído” e “fantasias sexuais extremas, necessidades,

comportamentos). Por outro lado, verificou-se que as ordenações médias mais elevadas

na maioria das dimensões estavam associadas aos doentes com outros diagnósticos

como perturbação delirante, perturbação de personalidade, alcoolismo e epilepsia.

Assim, podemos afirmar que o diagnóstico só tem poder explicativo sobre sinais

Page 50: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

49

precoces de alerta de agressão no que se refere às “alterações físicas” e “desânimo e

ansiedade”.

Doyle e Dolan (2002), Daffern e Howells (2009) e Vitacco et al. (2009),

considerando as pontuações do FESAI, assinalam um amplo espetro de comportamentos

em doentes em contexto de internamento, refletidos em sinais de alerta, enfatizando os

comportamentos associados a raiva e a fatores interacionais (e.g. comportamento

ameaçador não agressivo para com o pessoal), na medida em que a raiva e as respostas

agressivas, físicas ou verbais, assumem os mais altos escalões. Tal diverge da

descoberta aqui empreendida pois, sendo de esperar que uma resposta agressiva dessa

natureza seja o precursor de uma maior deterioração, capaz de conduzir a incidentes

agressivos (Fluttert et al., 2012, p. 1556), neste estudo, é o isolamento social e o contato

superficial que estão entre os itens com o posto mais alto.

Ora, importa aqui referir que, neste contexto, alterações como o isolamento

social e o contato superficial não poderão ser necessariamente assumidas como

indicadoras de risco de violência, na medida em que constituem respostas associadas a

sintomas específicos de algumas das perturbações estudadas, sobretudo da

esquizofrenia.

Sabe-se que a perda de energia, iniciativa e interesses, humor depressivo,

desconfiança, isolamento, comportamento inadequado, negligência com a aparência

pessoal e higiene, podem surgir como os primeiros sinais e sintomas e permanecer por

muito tempo antes do aparecimento de sintomas mais caraterísticos da doença. A

perceção das mudanças no comportamento do doente, nas suas atividades pessoais,

contato social e desempenho na sua atividade laboral e social é notória, dando lugar,

posteriormente, aos sintomas negativos, numa fase mais avançada da doença, sendo o

embotamento afetivo, a falta de interesse e o isolamento os mais predominantes (Neto e

Elkis, 2007).

É importante refletir sobre estes sinais e sintomas que se manifestam, por vezes,

de forma abrupta. De acordo com Silva (2006), existe uma redução dos níveis de

motivação, de tal forma que os indivíduos se tornam menos capazes de trabalhar ou

participar nas suas atividades. A perda de interesse pelas atividades diárias, associada

aos défices de autocuidado, leva à dificuldade em fazer e manter amigos ou relações

pessoais, colocando em causa a interação com os outros, que tende a ser breve e

Page 51: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

50

superficial, conduzindo ao isolamento social. Em casos extremos, a pessoa pode evitar

deliberadamente todo e qualquer contato social, Assim, os resultados deste estudo, ao

apresentarem pontuações mais elevadas nestes indicadores, não significam

necessariamente que estes sejam sinais precoces de risco de agressão.

Neste sentido, o recurso aos itens do FESAI, em comparação com outras

ferramentas para a avaliação de advertência de sinais de agressão em regime de

internamento, permite a avaliação das mudanças comportamentais tais como o

isolamento, o afastamento e o contacto superficial, devendo no entanto ser utilizado de

forma cuidadosa, tendo em conta o contexto e os diversos fatores envolvidos no

comportamento.

Diversos estudos (cf. Hodgins, 2008 e Fazel et al., 2009) mostram resultados

consistentes com a hipótese de que os doentes com esquizofrenia são responsáveis por

grande parte dos episódios de violência, o que difere de forma significativa dos

resultados do presente estudo, no qual são os doentes com perturbação da personalidade

ganham protagonismo. No entanto, começa a dissociar-se o comportamento agressivo

da esquizofrenia verificando-se mais casos de agressão em doentes com perturbação da

personalidade encenando comportamentos como ultrapassar os limites dos outros, ser

humilhante e/ou ser cínico/sarcástico, podendo tais atos ser justificados pela falta de

habilidades sociais dos indivíduos (Fluttert et al. 2012).

Curiosamente, este estudo revela que indivíduos com outros diagnósticos como

perturbações delirantes, caraterizadas pela ocorrência de delírios em que a crença

infundada e irrealista domina o quadro, não sendo acompanhada de sintomas negativos,

frequentemente não reconhecem as suas crenças como sintomas, motivando sentimentos

de humilhação e hostilidade, gerando elevados níveis de ansiedade, o que leva a

cometer atos violentos com maior frequência, apresentando, também, “menor

desenvoltura nas atividades da vida diária e perda de aquisições cognitivas e de

interação social” (Silva, 2014, p. 12). Também os indivíduos com perturbações da

personalidade apresentam maior risco de agressão do que os indivíduos com algum tipo

de debilidade mental, o que nos leva a concluir que “os distúrbios de personalidade

constituem também um importante preditor para a ocorrência de violência” (Rosa, 2008,

p. 46).

Page 52: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

51

Independentemente do que despoleta ou em que se traduz a perturbação da

personalidade, Dickens et al. (2013, p. 533) afirmam que os indivíduos com diagnóstico

de perturbação da personalidade são mais propensos a agir agressivamente do que

indivíduos com debilidade mental, dado apresentarem uma desregulação a nível

comportamental marcada pela impulsividade e hostilidade, agitação, explosões de raiva,

dificuldades nas relações interpessoais e na regulação das emoções, revelando um

humor marcadamente reativo e um sentimento de superioridade em relação aos outros,

correndo o risco de ter comportamentos que alterem a condição física maioritariamente

relacionada com o abuso de substâncias como o álcool e a droga e até mesmo níveis

elevados de ansiedade. Telles et al. acrescentam ainda, que os portadores desta

perturbação apresentam maior prevalência de eventos violentos quando comparados aos

demais diagnósticos, o que aumenta a perigosidade destes indivíduos, mesmo em

contexto de internamento forense (2011, p. 6).

Em suma, e no que à prevenção do comportamento agressivo diz respeito,

diversos fatores devem ter-se em conta, nomeadamente fatores sociais e pessoais que

possam ditar a ocorrência da agressão, não se detendo apenas na conceção

preestabelecida de que a esquizofrenia ou outro tipo de doença mental estão severa e

indissociavelmente correlacionados com o ato violento. Tal sublinha a complexidade

dos fatores de risco que intervêm no processo de deteção da agressão, pois para além

dos fatores genéticos, são tão importantes os fatores sociais, culturais, interpessoais e

internacionais (Fluttert et al., 2008, p. 211).

Para além disso, é de suma importância encarar o FESAI como um instrumento

essencial aos enfermeiros, pois pode ser aplicado como um inventário para explorar e

identificar um âmbito mais alargado de possíveis precursores de agressividade,

nomeadamente em termos de mudanças no pensamento, cognição, percepção e

comportamentos idiossincráticos (Fluttert et al. 2008).

Page 53: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

52

4. CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E IMPLICAÇÕES

O presente trabalho deteve-se numa área que, na realidade clínica portuguesa,

ainda carece de estudos e que não se esgota na sua concetualização, pois cada caso tem

a particularidade de se orientar segundo parâmetros de caráter pessoal e individual.

Propôs-se, mediante uma realidade contextualizada num serviço de PF, encetar

um trabalho de investigação que, na prática, possibilitasse a monitorização dos sinais

precoces de agressão com a finalidade de avaliar a sua prevalência através do uso do

FESAI, e aferir a relevância do recurso ao inventário no contexto psiquiátrico-forense

português. Nesta linha de sentido, ao examinar os sinais de alerta precoce de agressão

em doentes que se encontram em unidades de PF, verificou-se que a relevância clínica

da FESAI acentua-se por permitir capturar uma ampla variedade de sinais de alerta

individuais, o que se afigura promissor. Para além disso, os enfermeiros têm capacidade

de identificar e detetar sinais de alerta através de uma visão ampla sobre os

comportamentos e percepções dos doentes, auxiliando um instrumento como o FESAI

na perceção de sinais e sintomas relacionadas com uma doença ou desordem ou, até, da

natureza da ofensa (Fluttert et al., 2012, p.1553). A importância do FESAI culmina,

assim, e segundo comprovam os resultados a que chegamos, no facto de constituir uma

preciosa ajuda aos enfermeiros para auxiliar na gestão de comportamentos

perturbadores, seja qual for o diagnóstico clínico do doente.

Detetada a importância de ferramentas como o FESAI na monitorização dos

sinais de alerta precoce de agressão e na prevenção de comportamentos agressivos,

importa equacionar que no contexto da realidade portuguesa os resultados obtidos

condicionam a validação desta ferramenta, pois para além da amostra ser redutível, quer

em termos de número quer de género, a conduta que se assume na psiquiatria forense

em Portugal não torna transparente os resultados. Quer isto dizer que não são apenas os

recursos de monitorização que têm de ser inovados e revistos, mas também a forma

como se lida com os doentes em contexto de internamento, já que uma das soluções

apresentadas é o (ab)uso de terapêuticas que camuflam os sinais de alerta de agressão.

A psicofarmacologia como solução à gestão de comportamentos de risco

apresenta-se, apenas, como “inibidor” dos sinais, já que é usada mesmo que não seja a

Page 54: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

53

mais indicada, por se apresentar como uma resposta ao controlo (mais seguro) de

hipotéticos comportamentos agressivos.

O condicionamento do comportamento por intermédio de fármacos como

ansiolíticos e sedativos não conduz à estranheza dos resultados obtidos, pois a perda de

energia, a prostração, o desânimo, a inibição, a desmotivação e o desinteresse na

participação em atividades diárias traduzem-se numa inevitável deterioração social,

culminando em episódios frequentes de inatividade e isolamento social. Desta realidade

é ilustrativo os dados obtidos neste estudo que remetem os sinais de alerta precoce de

agressão “desânimo, ansiedade e isolamento social” para o topo da hierarquia.

Retomando as limitações particulares deste estudo, note-se que, e corroborando

o acima exposto, os registos dos sinais de alerta de agressão apresentados pertencem ao

contexto de apenas uma unidade de PF, o que implica admitir que os resultados podem

não ser representativos de um contexto e que eles não podem ser diretamente traduzidos

para outros contextos psiquiátricos. Além disso, o estudo foi realizado em população

exclusivamente masculina, permanecendo em aberto um caminho para investigações

futuras em populações mistas e femininas.

O desafio para a enfermagem em contexto forense é, assim, decifrar onde e

quando são necessários fazer ajustes e fazê-los com segurança, pois as ferramentas de

análise e avaliação que examinam atitudes em configurações de saúde mental afiguram-

se necessárias e uma mais-valia em contexto de internamento. O trabalho

investigacional desenvolvido é, ainda, limitado, porém, urgente de modo a garantir

dados robustos que podem ser recolhidos no futuro. Pretende-se, assim, que este estudo

seja um ponto de partida de outros e que todos eles possam culminar num trabalho

sólido que favoreça a área da PF e que permita às gerações vindouras abraçar a

Enfermagem em contexto psiquiátrico forense com deleite e novas perspetivas –

dinâmicas e evolutivas.

Page 55: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

54

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Page 59: Monitorização Precoce dos Sinais de Alerta de Agressão em

58

ANEXO I

Questionário das Variáveis Sociodemográficas

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59

ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE COIMBRA

Questionário Sociodemográfico

Título do Estudo:

Monitorização precoce de sinais de alerta de agressão em Psiquiatria Forense

Nome: _____________________________________ (iniciais)

Idade: _______ (anos)

Género: Masculino Feminino

Estado Civil: Solteiro/a Casado/a Viúvo/a União de

facto

Naturalidade: _________________________

Escolaridade: Analfabeto 1º Ciclo

2º Ciclo 3º Ciclo

Secundário Bacharelato/Licenciatura

Mestrado/Doutoramento

Profissão:________________________________________________

Diagnóstico Principal:______________________________________

Diagnóstico Secundário:______________________________________

OBRIGADA!

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60

ANEXO II

Forensic Early Signs of Aggression Inventory – FESAI

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61

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62

ANEXO III

Pedido de autorização ao Presidente do Conselho de Administração do

CHUC

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63

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64

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65

ANEXO IV

Pedido de autorização à Comissão de Ética

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66

COMISSÃO DE ÉTICA

da Unidade Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA: E)

da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC)

Formulário para Submissão de Pedidos de Apreciação à Comissão de Ética

Relativos a Estudos de Investigação

Todos os campos abaixo devem ser preenchidos eletronicamente. Se porventura o item não se

adequar ao estudo em causa, escreva “não se aplica”. Pode remeter para anexo nos itens em que tal seja

pertinente.

Título do Projeto: Monitorização precoce de sinais de alerta de agressão em contexto

psiquiátrico

Identificação do(s) Proponente(s)

Nome(s): Isabel Marques; Amorim Rosa; António Ferreira; Sara Costa; Aida Bessa; Damilton

Rodrigues;

Filiação Institucional:

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Anexar resumo do Curriculum Vitae (máximo 1 página A4)

Investigador responsável/orientador: Maria Isabel Dias Marques

Justificação:

Em contexto psiquiátrico parece que cerca de 10% dos doentes desenvolvem comportamentos

agressivos (Marques et al., 2010). Estes e poderão estar relacionados com uma diversidade de

fatores causais de natureza interna, externa e situacional (Duxbury e Whittington, 2005). Têm

sido estudadas algumas variáveis de risco relacionadas com o doente, nomeadamente: ter

esquizofrenia, mania, história de violência (Liu e Wuerker, 2005); relacionadas com o serviço,

especificamente: sobrelotação e falta de privacidade (Jansen, Dassen e Groot, 2005), formação

dos profissionais (Johnson, 2004); e ainda, relacionadas com a situação de cuidados, por

exemplo, conflitos na contenção e controlo dos referidos comportamentos (Bowers, 2009). Na

clinica a resolução desta problemática implica a utilização de diferentes respostas de prevenção

e controlo (Irwin, 2006). Relativamente ao controlo dos fatores ligados aos doentes,

habitualmente, são oferecidas respostas terapêuticas de natureza biológica e psicossocial.

Porém, sabe-se que a eficácia das mesmas resulta da sua adequação e esta, por sua vez,

dependerá necessariamente da avaliação de alguns indicadores clínicos, nomeadamente,

avaliação precoce dos sinais de alerta de agressão (Fluttert et al., 2010). Entre os vários

instrumentos de avaliação clínica neste domínio, o Forensic Early Signs of Aggression Inventory’

(FESAI)(Frans et al., 2011) parece ser um instrumento que favorece a compreensão da

dinâmica dos sinais de alerta de agressão e proporciona precocemente o envolvimento do

doente na sua monitorização e recuperação (Ibidem). Neste sentido, para que o referido

inventário seja eficazmente utilizado na realidade portuguesa considerou-se útil realizar um

estudo exploratório/descritivo que possibilite a monitorização dos sinais precoces de agressão e

a sua adaptação, com a finalidade de prevenir os incidentes agressivos e promover a melhoria

da qualidade dos cuidados em ambiente seguro e terapêutico.

Objetivos do Estudo:

Avaliar a prevalência dos sinais de alerta de agressão através do uso da FESAI em doentes

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internados em unidades de psiquiatria forense e agudos do CHUC;

Analisar os sinais de alerta precoces de agressão em função do diagnóstico médico;

Analisar os sinais de alerta precoces de agressão em função do tipo de crime em unidades de

psiquiatria forense.

Data prevista de início dos trabalhos: Fevereiro de 2015 Data prevista de fim dos

trabalhos: Setembro de 2016

Data prevista de início da colheita de dados: Março de 2015

Data prevista de fim da colheita de dados: Julho de 2015

Metodologia

Tipo de Estudo: Tendo em conta os objetivos definidos anteriormente, pretende-se realizar um

estudo exploratório/descritivo em unidades psiquiátricas do CHUC

População e Amostra/Informantes:

Doentes internados em unidades psiquiátricas do CHUC de psiquiatria forense no período de

Março a Julho de 2015 e que tenham critérios de inclusão

Critérios de Inclusão/Exclusão:

Doentes com risco moderado e ou elevado de comportamentos agressivos conforme BVC

(Almevik &

Locais onde Decorre a Investigação:

CHUC: unidades de psiquiatria forense

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Instrumento(s) de Colheita de Dados (juntar exemplo, no formato, que vai ser utilizado):

FESAI

Garantia de Confidencialidade:

Após a seleção dos casos, são assinados os formulários de consentimento informado

individualmente.

Os instrumentos de medida anteriormente referidos são de hétero preenchimento e são

codificados para tratamento e análise dos dados.

Como é garantida a voluntariedade e autonomias dos participantes (juntar exemplos do

documento para informação e obtenção do consentimento):

Há previsão de danos para os sujeitos da investigação?

Explicitar em caso afirmativo:

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Há previsão de benefícios para os sujeitos da investigação?

Explicitar em caso afirmativo:

Custos de participação para os sujeitos da investigação e possível compensação:

ANEXAR

1 - Autorização/concordância dos serviços onde decorre a investigação (caso já

exista)

2 - Folha de Consentimento Informado (anexar) que deve conter, para além de outros

julgados pertinentes, os seguintes elementos:

- identificação do investigador;

- identificação do estudo;

- objetivos do estudo;

- informações relevantes;

- caráter voluntário da participação;

- confidencialidade das respostas

- declaração, por parte do participante, em como recebeu a informação necessária, ficou

esclarecido e aceita participar voluntariamente no estudo.

3 – Instrumento(s) de Colheita de Dados

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4 – Projeto de Investigação (máximo 20 páginas)

5 – Curriculum Vitae do(s) Proponente(s) (máximo 1 página por cada)

Termo de Responsabilidade

Eu, abaixo assinado, na qualidade de investigador responsável, declaro por minha honra que as

informações prestadas são verdadeiras e que em todo o processo de investigação serão

respeitados os direitos humanos e as recomendações constantes nos documentos nacionais e

internacionais relativos à investigação.

Data:

O(s) Proponente(s):

____________________________________________

(Assinatura manuscrita)

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ANEXO V

Documento de Informação ao Doente e Consentimento Informado

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