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Universidade de BrasíliaFaculdade de ComunicaçãoPrograma de Pós-Graduação em Comunicação
PROJETO DE PESQUISA – Pesquisador Visitante Especial – Edital Capes 09/2014
Um estudo dos sistemas de informação em redações jornalísticas do Brasil, Venezuela, Colômbia, Inglaterra e Estados Unidos. Como as rotinas produtivas da notícia podem ser gerenciadas a partir de um modelo computacional, atendendo às diversas plataformas de uma estrutura digital convergente
A study of information systems in the newsrooms of Brazil, Venezuela, Colombia, England and the United States. How news production routines can be managed by a computational system, taking into account different platforms in a convergent digital structure
Profa. Thaïs de Mendonça Jorge (Coordenador proponente FAC/UnB)1
Resumo
A comunicação e o jornalismo vivem um momento de transformações. Depois de passar pelas etapas de (a) transposição das notícias a espaços na internet – os websites, sites ou páginas jornalísticas – e (b) pelo desenvolvimento de novos produtos para a tela eletrônica, os veículos impressos iniciam novo processo de mutação, desta vez para os smartphones e tablets, entendidos aqui como dispositivos multimidiáticos, multitarefas e multifuncionais. Este projeto tem a intenção de acompanhar a evolução da notícia nas redações digitais convergentes, mapeando as novas rotinas de produção da notícia feita para o consumo em diferentes plataformas, dos meios impressos (jornal e revista) à TV, do rádio ao portal na internet, além dos celulares e tablets, com atenção à linguagem, à forma de apresentação gráfica e visual e como a cultura periodística está se amoldando ao contexto da sociedade. No momento em que os dispositivos móveis, com novas exigências do público e do próprio suporte, passam a fazer parte do complexo midiático, as redações jornalísticas, muitas ainda dependentes da tradição do papel, são forçadas a se reestruturar para poder funcionar adequadamente. Com o leitor plugado 24 horas, 7 dias na semana, todos os recursos têm que ser repensados para a apresentação da notícia, não mais em um suporte bidimensional, mas com a possibilidade de conexão sem interrupções, uso dos recursos de geolocalização, além de novas formas de apresentação visual, tátil e responsiva. Para isso, o projeto pretende fazer um estudo dos
1 Este projeto tem a colaboração dos seguintes professores: Prof. Dr. Fabio Henrique Pereira (FAC/UnB); Profa. Dra. Zélia Leal Adghirni; e da pesquisadora recém doutora Ana Lúcia Medeiros Batista.
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sistemas de informação em redações jornalísticas que já adotaram novos modelos de gerenciamento interno da informação, como os veículos O Estado de S. Paulo (Brasil); El Tiempo (Bogotá/ Colômbia); La Nación (San José/ Costa Rica); Ultimas Noticias (Caracas/ Venezuela); The Guardian (Londres/ Inglaterra); e The New York Times (New York/ Estados Unidos). Este projeto se vincula ao Laboratório de experimentação em linguagens digitais para dispositivos móveis e desenvolvimento de novos produtos jornalísticos para tablets e smartphones (Labdim), registrado no CNPQ sob número XXXX. Dessa iniciativa de mapear, registrar e documentar o processo de entrada e saída de informações na indústria da mídia poderão resultar propostas inovadoras em termos de utilização dos dispositivos, explorando mais a fundo as características de multiprocessamento, multimidiatismo e conexão instantânea; buscando maior participação nas demandas da sociedade e, finalmente, visando um maior compartilhamento do fluxo de informações, de modo a contribuir para os ideais de disseminação, transparência e democratização do conhecimento.
Justificativa
Segundo Schumpeter (1939), é preciso destruir as velhas estruturas para criar novas. O
jornalismo tradicional, aquele do produto nas bancas de revista, perde leitores a cada
dia, vitimados pelos novos hábitos de consumo das gerações pós-digitais, que exigem
participação no processo da produção da notícia e não se contentam mais com a
distribuição hegemônica da informação. Parece não ser mais possível que a forma de
transmissão das informações se restrinja à velha fórmula da notícia apresentada em sites
e portais, mesmo que isso já tenha representado uma inovação, com a agregação de sons
e imagens.
A relevância do projeto está, portanto, em propor o estudo dos sistemas de produção de
notícias em redações jornalísticas da contemporaneidade, com um olhar aos novos
produtos para tablets e smartphones, verificando as prioridades estabelecidas em cada
veículo para a disponibilização das informações. É também interessante que este projeto
se conecte ao do Laboratório de experimentação em linguagens digitais para
dispositivos móveis (Labdim) da Faculdade de Comunicação da UnB e, a partir da
parceria entre os departamentos de Comunicação e Ciência da Computação da
Universidade de Brasília e a Brunel University, de Londres, a pesquisa possa redundar
em produtos e serviços inovadores para leitores e usuários, num ambiente
democratizado. Isso inclui os processos de produção de notícias e um melhor
relacionamento com a audiência.
No âmbito da UnB, o projeto se estende à integração dos laboratórios (jornal Campus e
Campus On-line) da própria Faculdade de Comunicação da UnB, hoje dispersos e
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estanques, o que já está sendo cogitado na mudança dos currículos do curso de
Jornalismo, segundo as novas diretrizes do Ministério da Educação para a área.
Entendemos que o projeto poderá, num segundo momento e como resultado das
pesquisas em torno do gerenciamento de uma redação digital convergente, levar a uma
maior racionalização das rotinas produtivas na área jornalística, com benefícios à sua
própria renovação e inteligência competitiva, assim como na preservação da
credibilidade das empresas, estruturas e marcas, longamente consolidadas no mercado.
Roselyne Ringoot introduziu o conceito de dispersão de Michel Foucault no estudo do
jornalismo. Para ela, “os ‘objetos’ do jornalismo parecem dispersos a priori”. Num
artigo escrito com Jean-Michel Utard (2005: 41), Ringoot aponta que, sempre que se
lida com a informação, é preciso considerar os planos: 1) das notícias – da qual fala o
discurso jornalístico; 2) do que é dito nos jornais – seja qual for seu suporte; 3) da
informação – dentro dos discursos profissionais. Neste projeto, nós nos propomos a
estudar o plano das notícias e o plano do que é dito nos jornais, nos diferentes suportes e
plataformas, na convicção de que poderemos captar um pouco da fragmentação e
dispersão do jornalismo e poder explicar melhor o processo pela qual as notícias
atingem o leitor e a sociedade.
IntroduçãoHoje, a comunicação e o jornalismo vivem um momento de transformações. Depois de
passar pelas etapas de (a) transposição das notícias (Prado, 2011: 31) a espaços na
internet – os websites, sites ou páginas – e (b) pelo desenvolvimento de novos produtos
para a tela eletrônica, os veículos impressos iniciam um novo processo de mutação
(Jorge, 2008), desta vez para os smartphones e tablets, entendidos aqui como
dispositivos multimídia (ou multitarefa), multiprocessados e multifuncionais.
A história do aparecimento dos aparelhos móveis nos dá algumas pistas destas
tendências inovadoras, que atingem em cheio a indústria jornalística, alterando a cultura
organizacional, as rotinas produtivas e a forma de apresentação dos produtos (Wolf).
No ano de 2010, a empresa norte-americana Apple lançou, em São Francisco (EUA),
um novo tipo de dispositivo de comunicação: o Ipad, aparelho eletrônico em formato de
prancheta, medindo 24,3cm por 19cm, e 13mm de espessura. Era diferente dos
computadores pessoais e dos laptops, totalmente portátil, com tela sensível ao toque e
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um sistema operacional que pretendia ser mais intuitivo, o iOS2. Meio termo entre os
notebooks e os smartphones (telefones celulares com capacidade de processamento e
acesso à internet) dois meses após o anúncio já comercializava 15 milhões de unidades
no mercado.
Desde que foram apresentados à sociedade, os aparelhos batizados com o nome
genérico de tablets (o que atualmente inclui, além do dispositivo da Apple, alguns
modelos com sistemas operacionais próprios, como veremos adiante) não se resumiam a
meros dispositivos móveis, multimidiáticos, como se poderia pensar numa primeira
visão, uma espécie de computadores aperfeiçoados. Eles agregaram, num só produto, a
capacidade de multiprocessamento e de conexão à rede que já tinham os PCs, mas
juntaram a essas características as vantagens da multifuncionalidade (são também
telefones, agenda, editores de textos, sons e imagens) e, por estar on-line todo o tempo,
assumiram tarefas que poderiam sugerir tratar-se de um novo meio. No caso da indústria
jornalística em especial, permitem a difusão de notícias instantâneas, com todos os
recursos que hoje as complementam e contribuem para adicionar mais veracidade e
credibilidade aos relatos: vídeos, gráficos animados, galerias de fotos, música, além da
participação do público. E isso nos dá a dimensão da grande responsabilidade atual para
com o jornalismo cidadão, também chamado de jornalismo cívico ou público, aquele
que acompanha as grandes causas, problemas ou inquietações da comunidade a que
devem os veículos servir.
Se os tablets são invenções recentes, mais ainda o são as experiências da indústria
jornalística com esse novo dispositivo. Nem bem acabaram de se adaptar à notícia na
rede – e a prova disso é a demora em descobrir um modelo de negócio que oferecesse
rentabilidade, como parece ser a tendência em cobrar por parte das informações (no
método batizado como paywall) – as empresas ainda tateiam o desconhecido terreno das
relações diretas com o público. Um outro complicador nesse campo foi gerado pela
própria disseminação das tecnologias da informação e das comunicações: a enorme
familiaridade, principalmente das novas gerações, com os aparatos e recursos
eletrônicos, criando uma independência e autonomia dos leitores que até agora não
haviam sido colocados entre os componentes da busca, consumo e produção de notícias.
Por isso, embora baseados em experiências pregressas de alguma maneira conhecidas (o
2O sistema operacional iOS é uma plataforma proprietária que antigamente tinha o nome de iPhone OS, porque serviu primeiro aos telefones celulares da Apple. Só mais tarde, com seu emprego no Ipad, viria a usar a designação reduzida de iOS.
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funcionamento em rede, as bases de dados), os veículos de comunicação entram nesse
mercado tecnológico com as mesmas armas do passado e tendem a cometer os mesmos
erros de duas décadas atrás, quando imaginaram a internet apenas como uma espécie de
“braço digital das suas operações” (Botão, 2013). Assim como uma mídia nova copia ou
se sustenta, a princípio, sobre uma mídia antiga (a TV copiava o rádio; o jornal
impresso tinha o estilo das antigas news letters), o conteúdo noticioso dos tablets e
smartphones reproduz o já-visto, com muito pouco de inovação real em produtos ou
serviços jornalísticos.
Voltando um pouco no tempo, lembramos que os telefones celulares, o aparecimento do
iPhone3, em 2007, e os dispositivos que o seguiram, como smartphones que utilizam o
sistema operacional Android (criado pelo Google em 2008)4, facilitaram o acesso à rede
e abriram possibilidades que ainda não foram largamente exploradas pelos veículos de
comunicação. Segundo uma pesquisa da consultoria ComScore em 13 países (Agência
Globo, 2012), o Brasil é o país onde mais se consome conteúdo jornalístico por meio de
tablets e smartphones, com média de leitura duas vezes maior do que em outros
equipamentos. Aqui, o número de pessoas conectadas cresce aceleradamente, com
percentuais que estão bem próximos dos 10% ao ano. Segundo dados do Ibope
Netratings (2012), o total de internautas brasileiros era de 53,2 milhões ao final do ano
passado. Desse total, 52,31% eram homens e 47,69% mulheres, sendo que o contingente
feminino avançava mais rapidamente que o de homens no uso da internet.
Parecendo comprovar a afirmação de Fidler, um relatório da Cisco Computadores
previu que o número de smartphones, tablets, laptops e telefones com conexão à internet
no mundo passará de 7 bilhões em 2013 e que em quatro anos haveria cerca de 1,4
dispositivo por habitante, no mundo. Duas empresas – a Hi-Mídia e a M.Sense –
realizaram, em 2012, uma série de pesquisas sobre o mercado móvel no Brasil. Num
universo de 1.796 pessoas, nas cinco regiões geográficas brasileiras, 45% já possuem
smartphones e 16% possuem tablets. Do total, 72% são homens.
As pessoas também estão usando os aparatos móveis para realizar compras: em todo o
planeta, 27% do tráfego nos sites de comércio eletrônico parte desses dispositivos em
rede (Polo, 2013) e 58% de todo o tráfego móvel veio de dispositivos da Apple. No
Brasil, 40% do comércio em rede se origina de um acesso móvel (IDG Now 2013). A
3Ver: http://gs.statcounter.com/#mobile_os-ww-monthly-200909-201009.4Ver mais informações em: http://www.android.com/media.
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pesquisa da Hi-Mídia e da M-Commerce comprovou que os números do chamado m-
commerce, o comércio eletrônico móvel, estão realmente em alta no Brasil. Estimativas
da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico asseguram que o setor deve movimentar
R$2 bilhões em 2013, superando em muito o total de 2012 (R$ 132 milhões).
Problema da pesquisa
The project aims to accompany this evolving process and discover the production routines of news destined for consumption via tablets and smartphones with special attention to language, forms of visual and editorial presentation, and the way in which the culture of journalism is molding itself to the social context. Além disto, o projeto quer saber:What is the system for updating the news inside a newsroom, which combines print, TV, radio, internet, tablet and smartphones products? What are the production routines for these news products? How print media companies are solving the problems of designing pages (visual or editorial planning design) of products in tablets and smarthphones?
Objetivos da PesquisaGeneral
Accompany and register changes undergone by journalism’s main product, news, when it is carried by mobile devices in some Latin American countries (Brazil, Chile, Argentina and Peru), in the United Kingdom and in the U.S.A., and propose innovative solutions for presenting and designing information in tablets and smartphones.
Specific
Newspapers and magazines are read by persons sitted down or standing up. Mobile devices are read in motion. Therefore, the construction of the text and the page design must take into account many other aspects of the process of reading, presenting and therefore designing the information to the small digital spaces. In our
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work we will reflect the recent results of research on eye-tracking: there are áreas that are not visible and which are impossible to read within a mobile device. We also intend to:
Find out how British, North American and Latin American printed news media outlets are adapting themselves to mobile devices as well as registering social, technological, editorial and visual aspects of the news;
Accompany production routines´ system, journalism culture, and modifications to the news product in editorial offices;
Investigate the appearance, functioning and survival of informative products specifically destined for tablets and cell phones;
Accompany transformations and the emergence of new journalism genres in mobile devices;
Experiment with and propose new journalism languages, in terms of editorial and visual styles and genres for mobile devices thereby contributing to the improvement and launching of innovations that aggregate citizen participation;
Study and develop the best model to produce pages to smartphones and tablets.
Geral
Acompanhar a evolução da notícia nas redações digitais convergentes, mapeando as
novas rotinas de produção da notícia feita para o consumo em diferentes plataformas:
meios impressos (jornal e revista), TV, rádio, portal, smartphones e tablets, com atenção
à linguagem, à forma de apresentação gráfica e visual e como a cultura periodística está
se amoldando ao contexto da sociedade.
Específicos
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1) Documentar as mudanças que o principal produto jornalístico – a notícia – sofre ao se
transportar a dispositivos móveis e propor soluções inovadoras para o gerenciamento da
cadeia produtiva da informação na indústria midiática;
2) Verificar se existe convergência nas empresas informativas, ou seja, se elas
trabalham em sistema de “turbina informativa”, ou seja, como processo
integrado de produção;
3) Verificar como os grupos de mídia centrados em veículos impressos estão
operando a transição para os dispositivos móveis e como se dá o sistema de
atualização das informações nos diferentes veículos/ plataformas;
4) Acompanhar a rotina de produção nas redações, na cultura jornalística e as
possíveis modificações no produto notícia;
5) Investigar o aparecimento, o funcionamento e a sobrevivência dos produtos
informativos feitos especialmente para tablets e celulares;
6) Experimentar e propor linguagens, estilos e gêneros jornalísticos para os
dispositivos móveis, contribuindo para o aperfeiçoamento e lançamento de
inovações que agreguem a participação cidadã;
7) Acompanhar e documentar a produção de notícias e a apresentação do produto
final em distintas plataformas;
8) Contribuir para uma melhor disseminação das informações e do conhecimento,
de modo a garantir o funcionamento das instituições democráticas.
Referencial teórico-metodológico
O termo notícia é central em nossa investigação e constitui um eixo nos estudos
do jornalismo. Entendemos o jornalismo como uma atividade intelectual e periódica de
produção de conhecimento, cujo objetivo é fornecer informações atualizadas à
sociedade, sob a forma de notícias. Consideramos o jornalismo como sendo “possuidor”
ou representante de um gênero de discurso, expresso por meio de narrativas que teriam
a notícia – um relato, texto elaborado com a intenção de comunicar e transmitir
informações organizadas, adaptado aos veículos rádio, jornal, TV e ao meio digital –
como modelo ou unidade básica de construção de significados. Em sentido lato, a
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notícia é a “metonímia do jornalismo” (Ponte, 2005: 16), ou seja, onde se lê notícia,
leia-se jornalismo. Veremos, mais adiante, como se deu historicamente a “invenção” do
jornalismo e como a relação entre os dois termos – notícia e jornalismo – veio a se
configurar tão próxima.
São muitos os conceitos de notícia. Do latim notitia, sua raiz está em noção,
conhecimento. Nos dicionários, a palavra pode ter vários significados: 1 Informação,
notificação, conhecimento; 2 Observação, apontamento, nota; 3 Resumo de um
acontecimento; 4 Escrito ou exposição sucinta de um assunto qualquer; 5 Novidade,
nova; 6 Nota breve sobre um assunto, lembrança (Ferreira, 1986: 1200; Koogan/
Houaiss, 1999: 1149).
O jornalismo faz parte de uma corrente epistemológica muito recente. As teorias
que procuram abrangê-lo buscam colocar as questões dentro de um enfoque histórico-
social, apontando os aspectos filosóficos envolvidos e fazendo, ao mesmo tempo, uma
reflexão ontológica sobre o desenvolvimento da atividade. Por isso, ao estudar a notícia,
debatemos sua matéria-prima – os fatos e sua significância – e o sistema de apuração ou
recolha, seleção, processamento e hierarquização da informação (Sousa, 2002: 13), que
estabelece valores-notícia e critérios de “qualidades dos acontecimentos, ou da sua
construção jornalística” (Golding e Elliot. In: Correa, 1997: 137). O estudo da notícia
integra a área de pesquisa em comunicação que se dedica aos processos de produção ou
newsmaking, e que reúne, segundo Wolf (2003: 194), a cultura profissional dos
jornalistas e a organização dos processos de produção.
O esforço de análise deve funcionar de maneira a que compreendamos os tipos
de articulação realizados durante a elaboração das notícias, e como um fato se
transforma em relato noticioso, o que envolve, além de critérios de noticiabilidade, as
rotinas produtivas. A questão que se apresenta é: será a teoria da notícia (junto com a
teoria do hipertexto) capaz de dar conta e de exaurir as novas possibilidades de
apresentação da notícia no meio digital? Examinaremos, na próxima parte, o referencial
teórico das ciências da comunicação, em especial do jornalismo, para mostrar como o
relato noticioso alcançou um paradigma com base nas idéias de August Comte e no
positivismo – até hoje influenciando novos e velhos jornalistas.
O primeiro modelo dos processos comunicativos foi baseado na teoria da
informação e da comunicação que, por sua vez, calcou-se na teoria matemática
(Shannon e Weaver) de transmissão de mensagens. Na mesma época, Lasswell
sintetizou o modelo em uma fórmula que iria ganhar mundo por sua simplicidade:
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quem/ diz o que/ por que canal/ para quem/ com que efeito. O modelo de Lasswell, de
1948, deu origem a várias vertentes da pesquisa em comunicação, quais sejam: o estudo
dos emissores; dos conteúdos; dos meios; da recepção; dos efeitos da comunicação
(Santaella, 2001: 50).
Mais tarde, segundo Santaella, Devito (In: Santaella, 2001: 84-101), apresentaria
uma versão ampliada da comunicação humana que, de acordo com esse autor, “se refere
a um ato, realizado por uma ou mais pessoas, de enviar e receber mensagens que são
distorcidas pelo ruído, ocorrem dentro de um contexto, produzem algum efeito e dão
oportunidade à retroalimentação”. O destaque dado aos elementos da comunicação
permitiu a Santaella mapear os territórios do processo comunicativo (território da
mensagem e dos códigos, territórios dos meios e modos de produção das mensagens,
território do contexto comunicacional das mensagens e outros), suas interfaces e a
inserção das teorias e ciências da comunicação no mapa geral da comunicação. Nesta
pesquisa, nós nos identificamos especialmente com as interfaces “das mensagens com
seu modo de produção”, “dos meios com o contexto” e “dos meios com o sujeito
produtor”. Trataremos das características definidas por Santaella (idem: 63-67) para
definir estas linhas de estudo mais adiante.
No século XX, a communication research ou mass communication research,
junto com a Teoria Crítica, motivou o estudo da notícia e enquadrou o jornalismo entre
as áreas do comportamento humano, objeto das Ciências Sociais. A contraposição entre
a pesquisa administrativa, identificada com a corrente norte-americana, marcada pelo
empiricismo; e a Teoria Crítica – orientada pela teoria social e ligada às relações entre o
sistema e os meios de comunicação de massa –, com influência européia, proporcionou
anos de discussões em torno do papel da mídia na sociedade e na ciência. A pesquisa
em comunicação chegou aos anos 70 com um conjunto de conhecimentos, métodos e
pontos de vista tão heterogêneo e diferente, que tornou difícil qualquer tentativa de
chegar a uma tese satisfatória e exaustiva (Wolf, 2003: 84-85 e 271-171).
Se a pesquisa em comunicação havia já produzido um respeitável acervo de
análises, hipóteses e abordagens, chegava-se a esse ponto com a constatação da
“impossibilidade de (...) uma síntese significativa dos conhecimentos acumulados, a
uma sistematização orgânica desses conhecimentos num conjunto coerente”. Os
problemas se concentravam em definir a área temática de competência dos estudos de
mídia e escolher qual deveria ser a base disciplinar para unificar a communication
research.
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Wolf5 lembra que, aos poucos, o conflito foi superado, assumindo três diretrizes:
1) a abordagem sociológica se impôs como campo de estudos da mídia, unindo a
sociologia do conhecimento e o estudo das comunicações de massa; 2) o
reconhecimento da necessidade de um estudo multidisciplinar dentro dessa delimitação
sociológica inseriu a percepção dos meios de comunicação de massa (MCM) como
integrantes de um complexo sistema de comunicação, que pode ser examinado sob
muitos aspectos – conteúdo, forma de transmissão das mensagens, eficácia, sistemas de
produção; e 3) houve uma “delimitação temporal” nos estudos: a atenção recaiu sobre
os efeitos de longo prazo, “às influências fundamentais, mais do que às causas
próximas”. Dessa maneira, o paradigma do estudo dos efeitos, sob a ótica
predominantemente sociológica e com a compreensão de que a mídia funciona como
uma encruzilhada de disciplinas e sua influência se faz sentir a largo prazo, foi o que
predominou.
Entretanto, outras tendências eclodiram ao longo do século XX. Na esteira dos
cultural studies que se esboçaram a partir da Inglaterra, em meados dos anos 1950 e
início dos 60, vieram as correntes culturológicas (Santaella, 2001: 63-67), pelas quais os
meios de comunicação são vistos sob a dimensão da cultura, como elementos ativos das
estruturas coletivas. Os estudos culturais apontaram duas vertentes para os trabalhos
envolvendo os MCM: 1) a produção, sistema complexo de práticas que contribui para
conformar a cultura e a realidade social; e 2) o consumo da comunicação. Ainda nesta
corrente culturológica, porém numa via “híbrida, tecno-culturalista”, Santaella situa a
obra do canadense Marshall McLuhan, que inspirou toda uma geração de teóricos da
mídia, preocupados em “construir uma história da civilização de uma perspectiva
midiática”. Na opinião de Santaella, toda a geração que o seguiu considerava que “as
mídias não são simples canais para transmitir informação, mas conformadoras de novos
ambientes sociais nelas mesmas”, preocupada com questões como: “Quais os traços que
caracterizam cada mídia e como esses traços tornam cada mídia física, psicológica e
socialmente diferente de qualquer outra? Como o advento de uma nova mídia, em uma
5 “Não foi por acaso que a importância da sociologia do conhecimento e sua função de quadro geral, dentro do qual se coloca a problemática dos meios de comunicação de massa, cresceram paralelamente: é possível perceber claramente um reflexo disso na definição que hoje se dá aos meios de comunicação de massa como ´instituições que desenvolvem uma atividade-chave, que consiste na produção, na reprodução e na distribuição de conhecimento [...], conhecimento que nos coloca em condição de dar um sentido ao mundo, que molda nossa percepção em relação a ele e contribui com o conhecimento do passado e para dar continuidade à nossa compreensão presente” (McQuail, 1983, in Wolf, 2003).
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matriz existente de mídias, pode alterar as interações sociais e a estrutura social em
geral?”
O estudo do papel dos meios na formação e mudança de cognições – um ramo
da teoria dos efeitos limitados da comunicação – conduziu a teoria do agenda-setting ou
agendamento, com o princípio de que “a imprensa pode não conseguir dizer às pessoas
como pensar, mas tem capacidade para dizer sobre o que pensar” (Cohen. In: Traquina,
2000: 31) Esta teoria ganhou evidência quando McCombs e Shaw (In: Traquina, 2000:
57) giraram o eixo do estudo dos efeitos, saindo da idéia de que a mídia influenciava a
opinião das pessoas, para algo mais profundo: o papel dos MCM no mundo cognitivo,
na formação do conhecimento, ou como os consumidores de notícias reelaboram as
informações e colocam em sua pauta pessoal os temas que são veiculados pela
imprensa. Da perspectiva do agenda-setting deduzimos que os meios: têm poder
reduzido, limitam-se a agendar as pessoas, mas seus efeitos cognitivos atuam a longo
prazo.
A abordagem teórica do newsmaking – parte do que está sendo chamado de
Teoria do Jornalismo – consegue juntar os “dois binários” (Wolf, 2003: 148) da cultura
profissional e da organização do trabalho dos jornalistas e seus processos de produção.
Por meio do newsmaking é possível fazer uma análise sociológica da produção de
notícias e verificar como se dá a construção das mensagens via meios de comunicação
de massa. “Assim, a imprensa não reflete a realidade, mas ajuda a construí-la” (Pena,
2005: 128-130). “Diante da imprevisibilidade dos acontecimentos, as empresas
jornalísticas precisam colocar ordem no tempo e no espaço. Para isso, estabelecem
determinadas práticas unificadas na produção de notícias. É dessas práticas que se
ocupada a teoria do newsmaking”, sintetiza Pena.
“Todas as pesquisas de newsmaking têm em comum a técnica de observação
participante”, aponta Wolf (2005: 184, 191-193), que permite a observação dos
momentos e fases de crise, bem como as rotinas produtivas. Na abordagem que
adotamos neste trabalho, procuraremos examinar, por meio da etnografia nas redações
apontadas, a lógica dos processos com que são produzidas as notícias, e a organização
do trabalho através da qual se dá a construção das mensagens. “Essas determinações –
muito complexas – parecem decisivas quanto ao produto acabado, seja ele um noticiário
ou uma série de filmes para a televisão.” O newsmaking abrange os estudos da
elaboração do relato noticioso e dos critérios de noticiabilidade, assim como a pesquisa
sobre as condições de desenvolvimento das tarefas e os resultados na forma de produtos
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informativos colocados à disposição do público, nas características específicas da
imprensa periódica. Sousa (2002: 141-142) aborda a questão dos efeitos dos meios a
partir da forma como um determinado conteúdo é construído e fabricado. Entramos,
então, na questão específica do conteúdo produzido e, em especial, as milhares de linhas
que saem todos os dias das empresas jornalísticas. Três áreas de investigação
conformam esse campo de estudos: (a) as rotinas jornalísticas; b) o conteúdo da
informação e o impacto dos produtos informativos; c) a notícia como construção da
realidade.
Além disso, os estudos sobre newsmaking jogam alguma luz sobre o fenômeno
pelo qual apenas uma pequena parcela dos fatos se converte em notícia. Ultimamente,
muitas das pesquisas em newsmaking examinam o fator tempo: a atualização constante
dá novas formas à notícia, transcende a ação pessoal do jornalista, pois afeta o
newsjudgement, a seleção, e acrescenta o fator velocidade.
Fazemos um parênteses para tratar do conceito de “atualidade múltipla” de Rost
(2002). O autor afirma que uma das particularidades do “jornal digital” é o tipo de
atualidade que ele constrói, o que denomina atualidade múltipla, feita de “diferentes
temporalidades internas”. Dentro do conceito de “atualidade múltipla” está a noção de
tempo real, que chama de “atualidade sincrônica”, ou seja, o meio está em sincronia
com os fatos. Aos acontecimentos que sucederam há pouco ou que se renovam ao longo
do dia, Rost vê como “atualidade recente”; aos que se prolongam no tempo e são
atualizados de forma mais espaçada, “atualidade prolongada”, contrapondo-se aos que
sempre são de interesse para o público e perduram (atualidade permanente). Os que não
são atuais, mas podem ser consultados pelo arquivo ou bases de dados, classifica de
“não atualidade”.
“As informações mais atuais teriam (...) mais hipóteses de passar pelos
portões”, enquanto “os acontecimentos fora das horas normais de trabalho apresentam
menos hipóteses de serem cobertos”, diz Sousa. No jornalismo on-line, pelo menos no
Brasil, os fluxos ainda obedecem a horários muito semelhantes aos da redação impressa,
que tem fechamento, ao contrário do meio digital, onde o fechamento é contínuo.
Sousa (com Altheide) conclui:A notícia resultaria, portanto, de um processo organizado e constrangido de fabrico que nela deixaria as suas marcas, até porque só seria notícia o que fosse perspectivado como tal no seio da cultura profissional dos jornalistas e da cultura própria do meio social envolvente e, exceto em casos excepcionais, só seria notícia o que pudesse ser processado pela organização
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noticiosa sem grande sobressaltos ou complicações no ciclo produtivo (Sousa, 2000a: 28).
2.1 Parâmetros no jornalismo
Na prática jornalística, grande número de textos é redigido às pressas, no calor
do fechamento das edições. “O jornalismo se propõe a processar informação em escala
industrial e para consumo imediato. As variáveis formais devem ser reduzidas, portanto,
mais radicalmente que na literatura”, observa Lage (1986: 35) . Os problemas concretos
que os repórteres enfrentam no dia-a-dia – que acontecimentos merecem ser elevados à
condição de notícia, que fatos selecionar entre os dados apurados – têm que ser
solucionados rapidamente e determinam a escolha do texto jornalístico mais adequado.
Altheide e Snow (In: Sousa, 2000: 35) destacam que as notícias são feitas de acordo
com determinados formatos que se converteriam, segundo a lógica da mídia, em
esquemas utilizados para compreender, apresentar e interpretar a realidade. Molotch e
Lester (Sousa, 2002: 64-65) pensam que os conteúdos fornecidos pelas fontes, que o
jornalista edita e difunde, transformam-se em conhecimento social e em referencial a
partir de seu consumo.
A comunicação nas redes se caracteriza por dois traços, segundo Salaverría
(2006: 25, 101) policronismo: o ato de elocução é único, os receptores são múltiplos no
espaço e no tempo; 2) multidirecionalidade: é a troca personalizada e interativa de
muitos para muitos, sem um centro único. No momento, o hipertexto e a hipermídia
constituem uma revolução em si. A possibilidade de ligar unidades de informação por
partículas de significado é uma grande descoberta do século XX, e se beneficia da
tecnologia do hardware, do software e dos bancos de dados. As características principais
da comunicação em rede são: hipertextualidade, multimidialidade, interatividade,
memória e personalização (Palacios).
A hipermídia – também chamada sistemas de hipermeios – é a “organização da
informação textual, visual, gráfica e sonora através de vínculos que criam associações
entre informação relacionada dentro do sistema”, como definem Caridad e Moscoso (In:
Diaz Noci, [2001]: 89). Robert Darnton (in Salaverría, 2006: 113-121) e outros autores
compreendem a apresentação de textos na internet como em um sistema de camadas
superpostas. Darnton sugere que a primeira camada (layer) cumpra a função de um
abstract em um artigo cientifico, introduzindo o leitor no conteúdo, o que Salaverría
15
chama de “nó de arranque”: como um lide sumário, não tem mais que dois parágrafos e
“é um lugar idôneo para a pirâmide invertida”. Ainda tomando como exemplo um texto
acadêmico, Darnton enumera seis camadas: Top layer: texto conciso sobre o assunto,
como o de uma capa de livro; Segunda camada: aspectos do tema, em unidades
isoladas; Terceira camada: documentação; Quarta camada: teoria e história; Quinta
camada: pedagógica, jogos para ensinar e discutir em classe; Sexta camada: troca de
informações entre os leitores e o autor.
“Nos cibermeios, o jornalista propõe, mas o leitor dispõe. Portanto, os
jornalistas devem aprender a distribuir a informação com cordialidade: se na redação
impressa a informação era limitada pelo papel, na Web o tempo e o interesse do leitor
são os limites” Salaverría (2006: 133-135)
A notícia digital aparece, aos olhos do público, como uma exacerbação das
características que a tornaram um produto aceito na sociedade contemporânea:
participa, organiza, padroniza esse processo de absorção de conhecimento da realidade,
com as promessas de velocidade, redução de tempo e precisão. A premissa básica não é
a imposição de um gênero textual – a pirâmide, por exemplo –, porém o fato de o
jornalismo apresentar as informações mais relevantes, raras ou importantes em primeiro
lugar. Assim como Bolter, preferimos encarar o gênero jornalístico como fenômeno
histórico e social integrado ao discurso digital, o que configura, sem dúvida, uma nova
economia da escrita. Entretanto, a decisão sobre que forma adotar, ao reportar um fato,
ou que plataforma priorizar pode depender também da estrutura da redação da empresa
jornalística e do modo como os fatos são trabalhados pelos profissionais, antes de
chegar às mãos dos usuários.
4 A notícia como produto da convergência na empresa
Convergência, integração, cross-media, multimídia, multiplataforma – muitos são os
conceitos associados, segundo Salaverría e Negredo (2008), a esse fenômeno que
costuma gerar divergência no que tange aos meios de comunicação. Numa acepção
genérica, convergência de mídia é a fusão de mercados de comunicação de massa
(impresso, televisão, rádio, internet) com tecnologias portáteis e interativas, por meio de
plataformas de apresentação digital. Kawamoto (2003:4) aponta como características do
16
jornalismo digital: a) hipertextualidade; b) interatividade; c) não-linearidade; d)
multimidialidade; e) convergência; e f) customização.
A convergência pode ser vista por vários ângulos e, segundo a área do conhecimento
pelo qual é observada, assume diferentes facetas. Convergir é “dirigir-se para o mesmo
ponto”, diz o dicionário (Ferreira, 2004: 543). Na Matemática, a convergência é uma
aproximação. Convergência é a qualidade, estado ou caráter do que é convergente, que
tende ao mesmo fim. Também é o ponto ou grau em que linhas ou objetos se juntam:
“uma formação evolutiva de caracteres semelhantes em grupos distintos” ou ainda um
tipo de “formação de similaridade sucessiva entre organismos ou associações antes
distintas”.
Ficaremos aqui apenas com a característica da convergência, definida pelo autor como
“a mescla ou união de tecnologias e serviços historicamente separados”. O movimento
de convergência de mídias tomou corpo a partir de avanços tecnológicos recentes,
principalmente o surgimento da Internet e a digitalização da informação o que
redundou, no jornalismo, em uso de tecnologias digitais para apurar, produzir e
disponibilizar notícias “a uma audiência cada vez mais familiarizada com o
computador”, como observa Kawamoto.
De qualquer forma, convergir é aproximar, juntar ou evoluir, num sentido positivo;
aproveitar as semelhanças entre os órgãos para desenvolver novos organismos,
implicando uma idéia de mudança ou mutação, já que as alterações se dão em diversas
dimensões. Trazida ao âmbito jornalístico, a convergência seria, segundo García Avilés
et al. (2009: 193-198), um “processo (...) que afeta o âmbito tecnológico, empresarial,
profissional e editorial dos meios de comunicação”.
Quatro dimensões dessa hiperconvergência atingem a indústria de notícias em sua
complexidade: 1) a convergência tecnológica – aspecto mais evidente, vai além da
transmissão em rede para combinar conteúdos, linguagens, equipes e suportes; 2) a
dimensão empresarial se manifesta nas fusões, incorporações e diversificação de
atividades no seio da indústria jornalística; 3) a dimensão profissional ameaça e
constrange o ambiente das redações, pois se vem configurando como uma maneira de
reduzir as estruturas produtivas; 4) a convergência de conteúdos pode ser vista no
chamado jornalismo multiplataforma, e corresponde a uma nova forma de apresentação
da notícia, agora conjugando texto, som e imagem.
Neste trabalho trataremos do conceito de turbina informativa, modelo de convergência
que pretende auxiliar as empresas a se estruturar, no processo de reengenharia da
17
notícia, e capacitá-las a oferecer produtos e serviços para vários suportes, a partir de um
insumo, que são os fatos. O conceito foi desenvolvido na década de 1980 por
professores da Universidade de Navarra (Espanha) e desembarcou no Brasil nos anos
1990, quando as empresas jornalísticas brasileiras começavam a se preparar para a
escalada digital.
Sabemos que as empresas jornalísticas se estruturaram em fins do século XIX,
influenciadas pelo fordismo, que decompôs a produção do jornal da mesma maneira que
a de um automóvel, e instaurou uma organização interna e externa que garantiriam sua
sustentação. No Brasil, a indústria tomou forma no período entre 1880 a 1920. Medina
(1988: 47) lembra que, nessa época, observavam-se duas tendências na exploração da
atividade jornalística: de um lado, jornais tradicionais (Gazeta de Notícias, Jornal do
Commercio) se modernizavam; de outro, surgiam novos veículos (Jornal do Brasil,
Correio da Manhã) já estruturados como empresa.
Morel (2008: 23-43) assinala que “não ocorre uma transformação repentina de uma
imprensa artesanal e política para a empresarial”. De acordo com esse autor, foi “uma
mudança gradativa e não linear que se deu ao longo de todo o século XIX”. Muitos dos
novos negócios foram assumidos por famílias. Na metade do século XX, entrou em
ação o chamado jornalismo informativo, com os novos modelos que anteciparam
maneiras de tratar os fatos e organizar a produção, influenciados pelos norte-
americanos.
Se o século XIX foi responsável pela incorporação de tecnologias de aceleração das
tiragens (o prelo mecanizado, a rotativa) e valorizou as invenções – o telégrafo, o
telefone, o rádio, a máquina de escrever e até a locomotiva –, o século seguinte agregou
ao rol de tecnologias da informação e da comunicação o computador e a informática. A
convergência, no sentido de absorção e concentração de tecnologias por parte da
empresa jornalística, não é de hoje e vem acontecendo desde que a notícia entrou em
rota de afirmação na sociedade.
4.1 Turbina brasileira
Em 1986, professores de Comunicação da Universidade de Navarra (Unav) – instituição
espanhola de ensino superior vinculada à igreja católica – começaram a ser requisitados
por empresas informativas para oferecer consultoria à implantação de artefatos digitais.
Ainda dentro da Unav, eles constituíram, em 1990, uma companhia de prestação de
18
serviços em jornalismo, a Innovation International Media Consulting Group.
“Nascemos com o espírito de fazer jornalismo de qualidade e de ajudar as empresas de
primeira geração a passar para a segunda, ou da segunda para a terceira”, exemplifica o
chairman Carlos Soria, em entrevista realizada em 2011. Há anos o chefe do conselho
de direção da Innovation defende o princípio de que a organização tem que se organizar
como uma turbina, a fim de rentabilizar-se.
O conceito de turbina informativa é o de que a redação jornalística deve funcionar como
indústria de produção de informação on-line: multimídia, multiplataforma e multicanal.
“O jornal tem que se planejar como multiplataforma, se todo o mundo é multimídia e
multiplataforma”, indica Soria, para quem o momento é de “ansiedade, desconcerto e
encruzilhada na comunicação”: “Derrubaram-se certezas que se mantinham há longos
anos e o panorama dos meios clássicos envelheceu prematuramente devido à revolução
digital” (Carlos Soria, 2009). É hora de promover a convergência:
As empresas de comunicação não são fábricas de salsichas, mas turbinas de ideias de qualidade, com ética e rentabilidade. As organizações precisam ter princípios intelectuais éticos e políticos claros numa época de pensamento débil. O bom jornalismo sempre será um bom negócio. Há que reinventar os periódicos de papel. A integração de papel e internet não é uma opção, é uma necessidade (Carlos Soria, 2009).
A empresa informativa deveria, segundo essa ideia, funcionar como usina, organizando
a produção “em círculos conectados”: de um lado, entra o produto em bruto; ele é
refinado (para os diversos usos que se pode fazer dele); e depois, distribuído por uma
rede de canais. Para Beth Saad (2003: 90), a turbina seria uma “central informativa
capaz de gerar um superávit de informações que podem ser arquivadas, recicladas em
forma de anuários/ livros ou colocadas à disposição do público na freqüência e pelo
meio mais desejado por ele”.
Para Zélia Leal Adghirni (2001: 140), “a influência da Universidade de Navarra foi
decisiva para as transformações da imprensa brasileira”, quando da adoção das
tecnologias de informação e comunicação, “com um sentido operacional, voltado para o
mercado, bem como a visão comercial do jornal como usina de informação”. A
pesquisadora aponta que a raiz dessa mudança estaria no declínio do conceito de notícia
e sua substituição por informação, que não era “troca casual ou questão de moda”, nem
se restringia ao jornalismo econômico onde teria se originado.
19
Com efeito, a agência Estado foi a primeira a se lançar no jornalismo em tempo real
criando, em 1991, a Broadcast, especialista em informações financeiras. Soria conta que
o então dirigente da empresa, Rodrigo Mesquita, “foi quem primeiro entendeu o
conceito de turbina no Brasil”. Enquanto o Grupo Estado colocava em marcha a ideia,
muitos não a encararam como algo positivo, e sim, como “uma concepção e um modo
de fazer jornalismo totalmente vinculado ao mercado e às necessidades do cliente”
(Adghirni, 2001: 141), reagindo até aos “informadutos” e à visão do “usuário da
informação” em lugar do leitor. Vistos como peças dessa engrenagem, muitos
jornalistas sentiram-se desconfortáveis. Enquadrar o produto jornalístico na linha de
montagem de uma indústria ou comparar o fluxo de informação com oleodutos que
abastecem cidades quebra a imagem romântica do jornalista como intelectual e
missionário, a difundir mensagens vitais para a população, e não mero produtor de
conteúdos, que os vende como mercadorias de feira.
Soria, porém, continua a insistir no conceito de turbina. Rastreando a origem do
conceito de convergência, encontramos como sua primeira aplicação o ano de 1980,
quando o diretor da CBS, William Paley, num discurso, observou que “a convergência
na distribuição de notícias e informação levanta questões críticas para a Primeira
Emenda”. Por esse tempo, Nicholas Negroponte, do Massachussets Institute of
Technology (MIT-EUA) previa que a “Indústria de Cinema e TV”, a “Indústria
computacional” e a “Indústria informativa publicadora” iriam se fundir. E em 1994, o
jornal digital San Jose Mercury News, o primeiro a colocar toda a edição em formato
virtual, foi apontado como exemplo de “convergência de mídias”.
Quer considerando-se a convergência como questão estratégica das empresas, quer
como recurso tecnológico na produção de notícias, o fato é que a digitalização junto
com a necessidade de rentabilização transformam o ambiente onde o produto
jornalístico é processado, disponibilizado e consumido. “A ideia de turbina é a ideia
final, o objetivo último”, diz Soria em entrevista. A convergência, segundo ele, “é
simplesmente um estágio para se chegar à turbina”. Ele acrescenta que:
O conceito de convergência (ou qualquer outro nome que reflita essa realidade) deixou de ser uma questão discutida e passou a ser uma questão aceita pelas empresas de comunicação em todo o mundo. A dificuldade neste momento já não é conceitual e, sim, de realização: o tema é difícil, suscita muita resistência nas redações convencionais e não tem um único modo de executar, mas múltiplas maneiras. As situações de que se parte são tão
20
diferentes que resulta impossível copiar soluções. Há que fazer integrações sob medida.
O trabalho dos 80 consultores da Innovation Media Consulting é estudar, mapear e
analisar o ciclo de consumo das audiências de um jornal, sugerindo estruturas para
produzir conteúdo multiplataforma. “Redes eficientes permanecem num estado de fluxo
contínuo, sempre mudando, adaptando e assumindo as últimas inovações que os
consumidores já adotaram”, pensa Juan Señor (Erbsen, 2010: 44), um dos estrategistas
da Innovation. Ele acha que “as novas narrativas do século XXI requerem uma completa
reinvenção dos espaços de trabalho para abrigar uma equipe editorial única e integrada,
capaz de conectar-se com sua audiência potencial através de todas as plataformas, todo
o tempo.”
No modelo de convergência preconizado pela empresa de consultoria espanhola, o
relógio da informação é regulado pelo tempo de utilização dessa informação, como
observa Soria (2011), lembrando que conhecer os hábitos dos leitores é fundamental. “É
equivocada a ideia de economizar recursos com a integração. A verdadeira integração
precisa de gente que pense a notícia como numa turbina. Promover a integração para
economizar não é fazer jornalismo de qualidade”, afirma. Ele diz que a ligação da
Innovation com O Estado de S. Paulo foi coisa do passado, pois a empresa de hoje não
é mais aquela que, nos anos 1990, quis fazer uma profunda inovação. A família
Mesquita – e especialmente Rodrigo Mesquita, que abraçou a idéia da turbina – se
retirou do comando do negócio: “Parece-me que o processo ficou interrompido”.
4.2 Raio X da convergência
Poderíamos sintetizar em cinco as fases da convergência na indústria de notícias: 1)
digitalização das redações; 2) implantação das estruturas redacionais próprias pelo
jornalismo on-line; 3) integração física das redações tradicionais e on-line; 4)
desenvolvimento de novas linguagens de acordo com o interesse do público; 5) fusão
das estruturas, tornando-as indistintas.
Nos países do mundo ocidental, em especial no Brasil, há veículos de comunicação que
estão estacionados nos diversos patamares da convergência. Alguns deles apenas
cumpriram a primeira fase e estão na rede com uma estrutura e uma cultura do jornal
impresso, sem ter passado pela etapa 2, a adoção de ferramentas próprias ao jornalismo
on-line, que representaria uma fase intermediária de adaptação, tanto dos jornalistas,
21
como da empresa: eles apenas digitalizaram a redação, ou seja, substituíram as
máquinas de escrever por computadores, instituíram softwares editores de texto, bases
de dados e programas eletrônicos para a diagramação e a finalização do produto e
chegaram mesmo a colocar páginas no ar, mas não funcionam como uma redação
digital.
Observamos, então, que a presença de computadores não tem relação com o fato de as
empresas estarem na internet. Quer dizer: decisões paralelas incidiram sobre as rotinas
produtivas, modificando o modo de produção e a cultura interna, porém, poderiam ter
ocorrido uma sem a outra, já que com poucas máquinas seria possível colocar conteúdos
na rede, como aconteceu com a FolhaWeb, por exemplo, em 1994. A opção pela
convergência surgiu depois, como veremos.
Em meio a um panorama de incertezas, muitos deram o salto no escuro e incorporaram
os jornalistas digitais à rotina do impresso e até à da TV e do rádio, num caminho difícil
e povoado de inseguranças, como constataram García Avilés et al (2009). Chegar ao
quarto estágio, de desenvolvimento de novos produtos para a Web, está sendo custoso
material e financeiramente, por questões ligadas ao cenário de crise econômica e ao
intenso bombardeio das vontades da audiência.
5 O desafio da atualização
Jornalismo em Tempo Real, segundo Moretzsohn (2002: 27), corresponde ao
“processo de produção de notícias” numa engrenagem que alimenta a “volatilidade”,
pois se supõe o público assim o deseje. A dromocracia, a velocidade como valor foi o
que moveu as primeiras empresas jornalísticas brasileiras a colocar seu conteúdo na
rede, nos anos 1990, e a fazer experiências com o tempo real. Adghirni (2001: 140)
lembra que a idéia era equiparar os veículos a “turbinas de informação”, em
consonância com o modelo das agências de notícias (e com os conceitos da
Universidade de Navarra), e fazer um estoque de dados que pudesse ser processado e
comercializado, como em uma “usina de informação”. Os jornalistas, transformados em
informadutos, supririam de informação os canais que irrigam o tecido social, em fluxo
constante e veloz.
22
Beckett explica que o ritmo atual das redações impressas que contam com uma
redação on-line forte mudou, há algum tempo, uma das mais tradicionais características
do jornalismo: o deadline. E que as redações, pelo menos aquelas de grande porte, têm,
no mínimo, uma equipe completa à frente do noticiário em tempo real em cada uma das
24 horas do dia.
A reflexão que propomos é: será que a guerra inevitável pela atualização acabará
levando os veículos noticiosos a uma distribuição de conteúdo em tempo quase real,
como é de se pressupor? E retoma-se aqui a questão anterior: em que os produtos irão se
diferenciar da internet tradicional? Mais ainda: como e quando os boletins digitais no
tablet irão se apresentar como um novo meio?
Depois de um início que pode ser definido como promissor, como mostram
Fidalgo e Canavilhas (2009: 106), a utilização dessa nova plataforma estacionou na falta
de criatividade (por parte dos desenvolvedores) ou de ousadia (por parte dos
empresários) das mesmas empresas que vislumbraram nos dispositivos móveis uma
mudança de rumo na indústria. E, como exemplifica Doctor (2010: 77), não havia
momento melhor para uma “mudança de rumo”:
O grupo de Brian Tierney comprou o Philadelphia Newspapers em
2006 e o grupo Chris Harte’s Avista comprou o Star Tribune poucos
meses depois. (...) Sam Zell assumiu o controle do Tribune Company
em dezembro de 2007. Todos os três, rapidamente, foram à falência
(...). Eles pensavam que estavam comprando empresas mal-
gerenciadas. O que eles não viram é que estavam comprando em uma
indústria mal-gerenciada.
Com o nascimento dos tablets e dos aplicativos específicos para essa plataforma,
entraram no mercado veículos que, em outras palavras, acabaram com o sentido do
deadline e, por serem específicos para o meio virtual, ignoram problemas de outrora,
como o custo do papel ou a logística de distribuição dos impressos. A existência desse
grupo e suas experimentações (como The Daily, apesar de sua curta existência) são
fundamentais para entender o dilema da atualização em tablets e dispositivos móveis
multimídia. Um jornal num dispositivo móvel, multiprocessador e multimidiático
significa que o meio exige uma mentalidade distinta, não só no modo produtivo, como
23
na relação com o leitor, afinal, o produto está sempre on-line e o leitor sempre vai
dispor dele, a qualquer hora do dia ou da noite. “Novos tempos exigem um novo
jornalismo”, escreveu Rupert Murdoch, no texto de lançamento do novo veículo,
explicando as suas expectativas à época: “Uma mistura única de texto, fotografia, áudio,
vídeo, informações gráficas, interatividade táctil e dados em tempo real (...) que dará
aos editores a oportunidade de escolher os melhores formatos para entregar as
reportagens aos leitores”6.
O leitor de hoje quer estar constantemente on-line e isso muda as relações da
sociedade com as novas tecnologias. Para os jornalistas e a indústria de notícias, isso
significa que o estoque de fatos disponíveis ao consumo – ou seja, trabalhados em
formatos que o usuário possa acessá-los remotamente – deve estar disponível todo o
tempo, a qualquer momento, não importa a hora, não importa o meio, como observa
Turkle (2008: 122-123), “always-on/always-on-you”:
Na maioria das vezes, nossas conversas diárias sobre os efeitos da
tecnologia pressupõem uma vida on-line nas telas e off-line (fora
delas); pressupõe a existência de mundos separados, conectados e
desconectados. Mas em algumas das interpretações atuais para uma
nova localização, como quando dizemos “Estarei no meu celular”,
queremos dizer “Você pode me encontrar; meu celular estará ligado, e
eu estou conectado à existência (social) por meio dele”.
Se a ideia está em preencher esse excesso de lacunas de uma sociedade “always-
on/always-on-you”, ou seja, focada no consumidor e em suas demandas, parece que não
é uma questão de se e, sim, de quando os veículos de comunicação irão iniciar a corrida
pelo conteúdo atualizado nos tablets.
Os primeiros veículos impressos criaram seus aplicativos para dispositivos móveis
(no início para smartphones, mais tarde para tablets) há pouco tempo; grande parte dos
jornais e revistas do mundo entrou no suporte tablet apenas em 2010. Compreende-se,
então, a dificuldade e a resistência às ferramentas de transposição de linguagem. O que
causa perplexidade é a falta de debate interno nas redações, até agora, sobre a questão
6O Daily teve sua data de lançamento adiada duas vezes até que, enfim, foi ao ar pela primeira vez em fevereiro de 2011. Disponível em: http://www.thedaily.com/press-release
24
da presença da notícia nos tablets e como se dará o fornecimento do fluxo de
informações para os vários dispositivos.
Research lines The initial proposal is to perform a comparative study between the media outlets of five countries: Brazil, United Kingdom, Argentina, Peru, Estados Unidos.
1. Adaptation to mobile devices in the organization of the newspapers O Globo (Brasil), Clarín (Argentina), El Comercio (Peru) and El Mercurio (Chile); The Guardian (U.K.); The New York Times (U.S.A.) – The purpose is to analyze transformations in professional practices including production routines, news values and relations with sources against the background of transformations in the processes of investigating, writing and editing news destined for two supports: the internet and the tablet. Also, to investigate the design, functioning and survival of informative products produced specifically for tablets and cell phones. Content analysis methodology complemented by interviews and participatory observation will be used to that end.
2. The challenge of updating and the social right to information – The object here is to gain an understanding of the ways in which the news media entities are handling the question of updating news in the various supports. What alterations have taken place in the professional journalists’ routines and in the editorial culture in this regard? Is there due concern on the part of journalists and entities alike for the dissemination of correct information to the citizens?
Subprojects and Products
25
a) Workshop or Seminar (1,5 month) – What are the mobile devices? Prof. Dr. Gheorghita Ghinea (Brunel University) at FAC-UnB;
b) Seminar in Second Life – The objective is to create a journalistic product for tablets and smartphones – Prof. Dr. Suzana Guedes Cardoso and Prof. Dr. Thaïs de Mendonça Jorge (FAC-UnB);
c) Articles in scientific journals – about 3D Platforms and the creation of products for tablets and smartphones; about eye-tracking related to news products at mobile devices - Prof. Dr. Suzana Guedes Cardoso, Prof. Dr. Thaïs de Mendonça Jorge (FAC-UnB), Prof. Dr. Gheorghita Ghinea (Brunel University);
d) Book – about the concept, design and production of news for tablets e smarthphones - Prof. Dr. Suzana Guedes Cardoso, Prof. Dr. Thaïs de Mendonça Jorge (FAC-UnB) and students.
Expected Results
1. Register the data from the production routines from each media group researched;2. Compare and analyze the results according to the updating process at the newsrooms in order to check the productivity and effectiveness of the actual model of information management;3. Create a model for the working/ production routines at a convergent newsroom (Print/ TV/ radio/ Internet/ Mobile devices);4. Test the model at the newsroom of UnB´s Newsroom Laboratory;5. Divulge the model and project results to the media groups in Brazil and the other countries researched.
Eixos da pesquisa 3. Adaptação na organização dos veículos impressos Folha de S. Paulo e Clarín
aos dispositivos móveis - O objetivo é analisar as transformações nas práticas
profissionais, incluindo rotinas produtivas, valores-notícia e relações com as fontes,
26
tendo como pano de fundo as transformações no processo de apuração, redação e
edição das notícias nos dois suportes: internet e tablet. Busca-se ainda investigar o
aparecimento, o funcionamento e a sobrevivência dos produtos informativos feitos
especialmente para tablets e celulares. A metodologia será a análise de conteúdo,
complementada por entrevistas e observação participante. Será usada pesquisa
etnográfica (entrevistas e observações) nas redações dos veículos, localizados em
São Paulo e Buenos Aires.
2. Mudanças nas empresas jornalísticas – O objetivo deste eixo será pesquisar como
se dão as interações das redes sociais, em especial o site noticioso na internet com os
dispositivos móveis, no caso das rotinas específicas do repórter, produtor, redator e
editor de notícias; acompanhar e documentar possíveis alterações no relacionamento dos
jornalistas com os leitores e a participação destes no processo de produção de notícias; e
verificar se existe convergência nas empresas informativas, ou seja, se elas trabalham
em sistema de “turbina informativa”, ou seja, como um processo integrado de produção.
3. Novos gêneros – Visa-se acompanhar as transformações e o surgimento de novos
gêneros jornalísticos especificamente para os dispositivos móveis. Por meio de
etnografia, pretende-se acompanhar e documentar a produção de notícias e a
participação dos jornalistas e demais profissionais na apresentação do produto final de
empresas jornalísticas. Também serão usadas entrevistas abertas e fechadas com os
profissionais, em vários níveis das redações.
4. O desafio da atualização – O objetivo deste eixo é tentar apreender de que forma os
veículos estão lidando com a questão da atualização das notícias nos diversos suportes.
Quais são as alterações na rotina dos profissionais e na cultura das redações a esse
respeito? A metodologia será a análise de conteúdo, complementada por entrevistas e
observação participante. Será usada pesquisa etnográfica (entrevistas e observações) nas
redações dos veículos, localizados em São Paulo e Buenos Aires.
Plano de AtividadesAs atividades previstas para realização dos objetivos propostos pelo projeto são
apresentadas a seguir:
27
Atividade 1 – Realização das atividades de pesquisa previstas no projeto, com o apoio
do Laboratório de experimentação em linguagens digitais para dispositivos móveis
e desenvolvimento de novos produtos jornalísticos para tablets e smartphones
(Labdim) da Faculdade de Comunicação da UnB.
Resultados Esperados:
Apresentar um mapeamento empírico da situação do jornalismo para tablets,
produzido a partir de dois veículos importantes no Brasil e na Argentina, a partir
dos diferentes eixos de análise propostos;
Contribuir para a construção de um referencial téorico-metodológico para o
estudo do jornalismo e suas transformações;
Contribuir para melhorar a formação de discentes de graduação e pós-graduação
da Faculdade de Comunicação da UnB.
Atividade 2 – Organização de uma mesa temática no congresso da Associação
Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) sobre o tema “Jornalismo em
Dispositivos Móveis”. A idéia é organizar uma reunião de apresentação de trabalhos
dos brasileiros que estejam estudando o tema.
Resultados Esperados:
Promover o diálogo interdisciplinar e interinstitucional a partir da temática
proposta, por meio da participação direta de pesquisadores de outras
áreas/instituições;
Promover o debate coletivo, interdisciplinar e transversal sobre as temáticas
do grupo;
Confrontar os resultados de pesquisa do grupo com investigações
semelhantes, organizadas por professores de outras instituições/países.
Atividade 3 – Organização de um número temático da revista Esferas. A revista,
que é uma publicação conjunta dos cursos de Pós-Graduação da UnB, UFG, UFMS e
UCB se dedica a temas contemporâneos da Comunicação e seria interessante a
proposta, já que a coordenadora da pesquisa é também membro do Conselho Editorial
da revista.
28
Resultados Esperados:
Promover o diálogo interdisciplinar e interinstitucional a partir da temática
proposta, por meio da participação direta de pesquisadores de outras
áreas/instituições;
Promover o debate coletivo, interdisciplinar e transversal sobre as temáticas
do grupo;
Confrontar os resultados de pesquisa do grupo com investigações
semelhantes, organizadas por professores de outras instituições/países.
Atividade 4 – Seminários com professores convidados, reconhecidos pela
comunidade acadêmica e vinculados a outras instituições no Brasil e no exterior com o
objetivo de promover o debate entre as pesquisas realizadas pelo grupo e as principais
linhas de investigação que abordem questões ligadas aos dispositivos móveis. Os
seminários poderão ser promovidos sob o formato de conferências abertas à
comunidade, jornadas de trabalho ou curso de extensão, com a participação de
professores e alunos de graduação e pós-graduação. A UnB tem convênio com a
Universidade de Navarra (Espanha)e a Universidade de Beira Interior (Portugal), para
intercâmbio de estudantes e professores nos níveis de Graduação e Pós-Graduação.
Resultados Esperados:
Permitir a abertura e o enriquecimento das pesquisas realizadas pelo grupo;
Contribuir para melhorar a formação de discentes de graduação e pós-
graduação da Faculdade de Comunicação da UnB.
Vincular o aprendizado na Graduação e Pós-Graduação, com oferecimento de disciplinas de Linguagens em dispositivos móveis e Jornalismo Digital; formação de recursos humanos (com os bolsistas de Iniciação Científica) e o incentivo à produção de TCCs nesse setor, além de trabalhos de mestrado e doutorado vinculados ao projeto, alguns já em andamento;
Apresentar pelo menos três artigos em congressos e duas publicações em revistas científicas, com Qualis A e B e talvez um livro sobre o assunto.
Referências ADGHIRNI, Z. L. Informação online: jornalista ou produtor de conteúdos? In: Contracampo, revista do Mestrado em Comunicação, Imagem e Informação. Niterói, 2001.
29
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