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Karl Marx – O Capital – Volume I – Tomo I Trechos para plano de aula extraídos de: MARX, Karl. 1983 [1867]. O capital: crítica da economia política; apresentação de Jacob Gorender. São Paulo: Abril Cultural. Mercadoria 1 – Os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valor A mercadoria é antes de tudo um objeto que por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, não altera em nada no objeto. Tampouco importa se a mercadoria satisfaz a necessidade humana diretamente, como objeto de consumo, ou indiretamente, como meio de produção. A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. O valor de uso realiza-se somente no uso ou no consumo de algo. Os valores de uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja sua forma social. O valor de troca aparece como a relação quantitativa, ou seja a proporção na qual valores de uso de uma espécie se trocam contra valores de uso de outra espécie – essa é uma relação que muda constantemente no tempo e no espaço. O valor de troca parece algo casual e puramente relativo. Não há valor de troca intrínseco a uma mercadoria. A permutabilidade e a origem da moeda – o denominador comum por meio do qual objetos com valores diversos são expressos em termos econômicos. Deixando de lado o valor de uso dos corpos das mercadorias, resta a elas apenas uma propriedade: elas são produto do trabalho humano. Se abstraímos seu valor de uso, abstraímos também os seus componentes que fazem do objeto um valor de uso. Está tudo reduzido ao seu valor de troca. Subtraído ao seu valor de troca, desaparece também o caráter útil do trabalho humano nele 1

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Karl Marx O Capital Volume I Tomo ITrechos para plano de aula extrados de:MARX, Karl. 1983 [1867]. O capital: crtica da economia poltica; apresentao de Jacob Gorender. So Paulo: Abril Cultural.Mercadoria1 Os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valorA mercadoria antes de tudo um objeto que por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espcie.A natureza dessas necessidades, se elas se originam do estmago ou da fantasia, no altera em nada no objeto.Tampouco importa se a mercadoria satisfaz a necessidade humana diretamente, como objeto de consumo, ou indiretamente, como meio de produo.A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. O valor de uso realiza-se somente no uso ou no consumo de algo. Os valores de uso constituem o contedo material da riqueza, qualquer que seja sua forma social.O valor de troca aparece como a relao quantitativa, ou seja a proporo na qual valores de uso de uma espcie se trocam contra valores de uso de outra espcie essa uma relao que muda constantemente no tempo e no espao. O valor de troca parece algo casual e puramente relativo. No h valor de troca intrnseco a uma mercadoria.A permutabilidade e a origem da moeda o denominador comum por meio do qual objetos com valores diversos so expressos em termos econmicos.Deixando de lado o valor de uso dos corpos das mercadorias, resta a elas apenas uma propriedade: elas so produto do trabalho humano.Se abstramos seu valor de uso, abstramos tambm os seus componentes que fazem do objeto um valor de uso. Est tudo reduzido ao seu valor de troca. Subtrado ao seu valor de troca, desaparece tambm o carter til do trabalho humano nele representado, desaparecem, portanto, as diferentes formas concretas desses trabalhos (marceneiro, jardineiro, cozinheiro, alfaiate) para reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano abstrato. O que essas coisas representam apenas quantum de trabalho humano que foi despendido na sua confeco.O valor de troca est totalmente desvinculado do valor de uso da mercadoria.Portanto, um valor de uso (ou um bem) possui valor apenas porque nele est objetivado ou materializado trabalho humano abstrato.O tempo de trabalho socialmente necessrio aquele requerido para produzir um valor de uso qualquer, nas condies dadas socialmente normais e com o grau social mdio de habilidade e de intensidade de trabalho.Exemplo citado por Marx:Na Inglaterra, depois da introduo do tear a vapor, bastava algo como metade do tempo de trabalho de antes para transformar certa quantidade de fio em tecido. O tecelo manual ingls precisava para essa transformao, de fato, do mesmo tempo de trabalho que antes, porm, agora, o produto de sua hora de trabalho individual somente representava meia hora de trabalho social e caiu, portanto, metade do valor anterior. , ento, somente o quantum de trabalho socialmente necessrio ou o tempo de trabalho socialmente necessrio para a produo de um valor de uso que determina a grandeza de seu valor. (1983:48)Mercadorias que contm as mesmas quantidades de trabalho ou que podem ser produzidas no mesmo tempo de trabalho, tm, portanto, a mesma grandeza de valor. O valor de uma mercadoria est para o valor de cada uma das outras mercadorias assim como o tempo de trabalho necessrio para a produo de uma est para o tempo de trabalho necessrio para a produo da outra."Enquanto valores, todas as mercadorias so apenas medidas determinadas de tempo de trabalho materializado".Uma coisa pode ser valor de uso, sem ser valor. esse o caso quando a sua utilidade para o ser humano no mediada por trabalho: so os casos do sol, do ar, do oxignio. Por outro lado, uma coisa pode ser til e produto do trabalho humano, porm, sem ser mercadoria. So os produtos que satisfazem as necessidades de seu produtor, tendo valor de uso porm que no so mercadorias. 2) A forma relativa de valorSomente na forma de valor pode um valor de uso x equiparar-se a um outro objeto de uso y, tornando-se permutvel."Digamos: como valores, as mercadorias so meras gelatinas de trabalho humano, ento a nossa anlise reduz as mesmas abstrao de valor, sem dar-lhes, porm, qualquer forma de valor diferente de suas formas naturais."Entre uma mercadoria e outra, seu valor revela-se por meio de sua prpria relao outra mercadoria."Ao equiparar-se, por exemplo, o casaco, como coisa de valor, ao linho, equiparado o trabalho inserido no primeiro com o trabalho contido nesse ltimo." (Com ajustes meus. 1983: 56) evidente que Marx observa a diferena qualitativa implicada em formas de trabalhos diversas. Ele no acha simplesmente que o trabalho da alfaiataria que executa o casaco equiparvel ao trabalho da tecelagem de forma simplista. Contudo, no que diz respeito ao que produz valor trabalho humano abstrato. Somente a expresso de equivalncia de diferentes espcies de mercadoria revela o carter especfico do trabalho gerador de valor, ao reduzir, de fato, os diversos trabalhos contidos nas mercadorias diferentes a algo comum neles, ao trabalho humano em geral. (1983:56)A fora de trabalho humano cria valor, porm, ela no valor. O trabalho humano torna-se valor quando se materializa de forma concreta.Para expressar esses quanta diferentes que surge a noo de moeda.*4. O carter fetichista da mercadoria e seu segredoO carter mstico da mercadoria no provm, portanto, de seu valor de uso. Ele no provm, tampouco, do contedo das determinaes de valor. Pois, primeiro, por mais que se diferenciem os trabalhos teis ou atividades produtivas, uma verdade fisiolgica que eles so funes do organismo humano e que cada uma dessas funes, qualquer que seja seu contedp ou forma, essencialmente dispndio de crebro, nervos, msculos, sentidos humanos. Segundo, quanto ao que serve de base determinao da grandeza de valor, a durao daquele dispndio ou a quantidade do trabalho, a quantidade distinguvel at pelos sentidos da qualidade do trabalho. Sob todas as condies, o tempo de trabalho, que custa a produo dos meios de subsistncia, havia de interessar ao homem, embora no igualmente nos diferentes estgios de desenvolvimento. Finalmente, to logo os homens trabalham uns para os outros de alguma maneira, seu trabalho adquire tambm uma forma social. De onde provm, ento, o carter enigmtico do produto do trabalho, to logo ele assume a forma mercadoria? Evidentemente, dessa forma mesmo. A igualdade dos trabalhos humanos assume a forma material de igual objetividade de valor dos produtos de trabalho, a medida do dispndio de fora de trabalho do homem, por meio da sua durao, assume a forma da grandeza de valor dos produtos de trabalho, finalmente, as relaes entre os produtores, em que aquelas caratersticas sociais de seus trabalhos so ativadas, assumem a forma de uma relao social entre os produtos de trabalho. O misterioso da forma mercadoria consiste, portanto, simplesmente no fato de que ela reflete aos homens as caractersticas sociais do seu prprio trabalho como caractersticas objetivas dos prprios produtos de trabalho, como propriedades naturais sociais dessas coisas e, por isso, tambm reflete a relao social dos produtores com o trabalho total como uma relao social existente fora deles, entre objetos. Ser uma mercadoria , portanto, ser uma coisa social.A forma mercadoria e a relao de caor dos produtos do trabalho, na qual o valor se representa, no tm nada que ver com sua natureza material e com as relaes materiais que da se originam. No nada mais que determinada relao social entre os prprios homens que, para eles aqui, assume a forma fantasmagrica de uma relao entre coisas. (Minhas alteraes. 1983:71) Eis o carter social do trabalho que produz mercadoria.No mundo mercadolgico, os produtores se colocam em relaes mediante a troca de seus produtos de trabalho e as caractersticas especificamente sociais de seus trabalhos privados aparecem, portanto, a, dentro das trocas de produtos. Somente dentro da troca, os produtos recebem uma objetividade de valor socialmente equacionada, separada de sua objetividade de uso, separada do seu valor de uso.O carter socialmente til dos trabalhos privados tem de ser til aos outros assim o valor dos trabalhos diferentes so equacionados mediante a relao que os produtos desses trabalhos estabelecem entre si no mundo dos valores. Ao equiparar seus produtos de diferentes espcies na troca, como valores, equiparam-se seus diferentes trabalhos como trabalhos humanos diversificados.O valor transforma cada produto de trabalho em um signo social.O que vale para ssa forma particular de produo, ou seja, a produo de mercadorias, o carter especificamente social dos trabalhos privados.O valor uma relao entre pessoas: uma relao oculta sob uma capa material.As propores valorativas, conforme amadurecem e alcanam certa estabilidade mercantil, as propores de valores parecem provir da natureza das coisas, da natureza dos produtos de trabalho, dissimulando nessa aparente naturalidade, os entremeios de relaes sociais iniqunimes. "De fato, o carter de valor dos produtos de trabalho apenas se consolida mediante sua efetivao como grandezas de valor." (1983: 72) Ou seja, o valor dos produtos de trabalho, e portanto, do prprio trabalho, apenas se consolida no ato da troca, nas relaes de permuta."A determinao da grandeza de valor pelo tempo de trabalho , por isso, um segredo oculto sob os movimentos manifestos dos valores relativos das mercadorias." (1983: 73)

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