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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração Mestrado Profissional em Administração RELAÇÕES DE TRABALHO, GESTÃO DE PESSOAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: o desenvolvimento profissional e a empregabilidade no centro da discussão Marcos Silva Ramos Belo Horizonte 2009

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração

Mestrado Profissional em Administração

RELAÇÕES DE TRABALHO, GESTÃO DE PESSOAS E RESPONSABILIDADE

SOCIAL EMPRESARIAL: o desenvolvimento profissional e a empregabilidade

no centro da discussão

Marcos Silva Ramos

Belo Horizonte 2009

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Marcos Silva Ramos

RELAÇÕES DE TRABALHO, GESTÃO DE PESSOAS E RESPONSABILIDADE

SOCIAL EMPRESARIAL: o desenvolvimento profissional e a empregabilidade

no centro da discussão

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administração do Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre.

Orientador: Prof. Dr. Antônio Moreira de Carvalho Neto

Belo Horizonte

2009

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FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais

Ramos, Marcos Silva R175r Relações de trabalho, gestão de pessoas e

responsabilidade social empresarial: o desenvolvimento profissional e a empregabilidade no centro da discussão / Marcos Silva Ramos. Belo Horizonte, 2009.

102f. : il.

Orientador: Antônio Moreira de Carvalho Neto Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação

em Administração. 1. Relações de trabalho. 2. Administração de pessoal. 3.

Responsabilidade social da empresa. 4. Recursos humanos. 5. Empregabilidade. 6. Sindicatos. I. Carvalho

Neto, Antônio Moreira de. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título.

CDU:

658.31

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À Lana, Eduardo e Luciana,

mais do que esposa e filhos,

cúmplices de uma vida.

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AGRADECIMENTO

Ao Professor Dr. Antônio Moreira de Carvalho Neto. Por tudo!

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RESUMO Esta pesquisa analisa o resultado de oito trabalhos desenvolvidos por pesquisadores

do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas, no âmbito do

NUPEGS – Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social da PUC Minas relativos

ao indicador de Responsabilidade Social Empresarial “compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade”, a partir da percepção dos

empregados de empresas que se dizem socialmente responsáveis. Procurou-se

verificar se o discurso sobre ser socialmente responsável está alinhado com ações

práticas da empresa, percebidas pelos empregados, bem como analisar a sua

correlação com os construtos Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas.

Considerou-se, para efeito de análise, a evolução histórica das áreas Relações de

Trabalho e Gestão de Pessoas, buscando-se pontuar os principais fatos e

momentos, com fundamento nas obras de autores renomados que analisam sobre

as concepções dos dois construtos e suas correlações. Os conceitos

contemporâneos de empregabilidade e diferencial competitivo são analisados ora

sob a perspectiva das Relações de Trabalho, ora sob o ponto de vista da Gestão de

Pessoas, verificando-se o efeito dessas concepções na aplicação do indicador Ethos

de Responsabilidade Social “compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade”. O papel e a atuação dos sindicatos são contextualizados neste

estudo por sua importância no mundo do trabalho e sua posição singular na

interação com a Responsabilidade Social Empresarial, a partir de suas escolhas

estratégicas. Os resultados mostram que as percepções dos empregados são

compatíveis com seu perfil, definido a partir dos dados demográficos. Demonstram,

também, que a Responsabilidade Social Empresarial, no tocante ao indicador

analisado, apresenta-se muito mais como uma prática de Gestão de Pessoas – em

uma visão tradicional da área, que busca modelar comportamentos – do que como

uma atuação em âmbito social da concepção de Relações de Trabalho, mais

próxima do conceito preconizado pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social

Empresarial.

Palavras-chave: Relações de Trabalho; Gestão de Pessoas; Responsabilidade

Social Empresarial; Recursos Humanos; Empregabilidade; Sindicatos.

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ABSTRACT

The objective of this research is to analyze the result of eight studies developed by

researchers of the Pos-Graduation Program of Administration of PUC Minas, within

the field of action of NUPEGS – PUC Minas Center of Research in Ethics and Social

Management - related to the indicator of Entrepreneurial Social Responsibility

“commitment with the professional development and the employability” from the

perception of the employees of the companies considered as socially responsible.

The aim was to check how much the discourse about being socially responsible is

aligned with the practical actions of the company as perceived by the employees, as

well as analyze its correlation with the subjects Job Relations and People

Management. The historical evolution of the areas Job Relations and People

Management was taken into consideration for the analysis aiming at pointing out the

main facts and moments based on the works of renowned authors who study the

conceptions of the two subjects and their correlations. The current concepts of

employability and competitive differential are analyzed under the perspective of Job

Relations as well as under the point of view of People Management, observing the

effect of these conceptions in the application of the indicator Ethos of Social

Responsibility “commitment with the professional development and the

employability”. The role and action of the syndicates are contextualized in this study

due to their importance in the world of work and their singular position in the

interaction with the Entrepreneurial Social Responsibility from their strategic choices.

The results show that the perceptions of the employees are compatible with their

profile defined by the demographic data. They also show that the Entrepreneurial

Social Responsibility according to the indicator analyzed appears much more as a

People Management practice – in a traditional view of the area that seeks to model

behaviors – than as an action within the social scope of the conception of Job

Relations, closer to the concept proclaimed by the Ethos Institute of Entrepreneurial

Social Responsibility.

Key-Words: Job Relations, People Management, Entrepreneurial Social

Responsibility, Human Resources, Employability, Syndicates.

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LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Configuração das expectativas de pesquisa ......................................... 16

FIGURA 2: Evolução das áreas de Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas... 26

FIGURA 3: Configuração do resultado de pesquisa ................................................ 88

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Detalhamento das pesquisas de referência..................................... 54

QUADRO 2: Caracterização da amostra de pesquisa – Coelho (2004)............... 59

QUADRO 3: Amostra de pesquisa – Molica (2006)............................................. 63

QUADRO 4: Resultado de pesquisa – Molica (2006).......................................... 65

QUADRO 5: Achados de pesquisa – Molica (2006)............................................ 65

QUADRO 6: Amostra de pesquisa – Mattoni (2007)........................................... 68

QUADRO 7: Dados demográficos da amostra de pesquisa – Napoleão (2007) 71

QUADRO 8: Caracterização da amostra de pesquisa – Nagli (2008)................. 75

QUADRO 9: Dados demográficos da amostra pesquisada – Pereira (2008) .... 77

QUADRO 10: Quadro geral de resultados das dissertações estudadas.............. 82

QUADRO 11: Conjunção das ações de RTs, GP e RSE relativas ao

Indicador Ethos compromisso com o desenvolvimento

profissional e a empregabilidade ................................................... 85

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LISTA DE SIGLAS

RTs - Relações de Trabalho

GP - Gestão de Pessoas

RSE - Responsabilidade Social Empresarial

NUPEGS - Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social da PUC Minas

RH - Recursos Humanos

OIT - Organização Internacional do Trabalho

PI - Público Interno

EUA - Estados Unidos da América

IRRA - Industrial Relations Association of America

ILE - Institutional Labor Economics

PM - Personnel Management

PPGA - Programa de Pós Graduação em Administração

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 13

1.1 Problema .................................................................................................. 17

1.2 Objetivos ................................................................................................... 21

2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................... 21

2.1 Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas – uma relação em

discussão .................................................................................................. 23

2.1.1 As Relações de Trabalho e os desafios enfrentados pela área

com a derrocada da lógica social-democrata provocada pela

crise do fordismo .................................................................................... 28

2.1.2 Os Sindicatos em crise de identidade: to be or not to be! …......….. 32

2.2 A Gestão de Pessoas nas organizações: a atuação pontual

dissociada do ambiente macro - os reflexos no desenvolvimento

profissional e na empregabilidade ........................................................ 37

2.2.1 O discurso contemporâneo da empregabilidade: o desenvolvimento

profissional como responsabilidade do trabalhador ........................... 41

2.3 Responsabilidade Social Empresarial: um novo discurso? ............... 44

3 METODOLOGIA .......................................................................................... 49

3.1 Unidades de Análise................................................................................ 50

3.2 Análise dos dados ................................................................................... 53

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 79

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 89

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1 INTRODUÇÃO

Esta dissertação parte da premissa que Relações de Trabalho – RTs – e

Gestão de Pessoas – GP – são construtos próximos, na realidade imbricados, mas

que diferem quanto ao seu entendimento e aplicação nas organizações, e que

apresentam na Responsabilidade Social Empresarial – RSE – um possível ponto de

convergência.

Enquanto Relações de Trabalho refere-se à concepção macro do mundo do

trabalho, englobando os aspectos políticos, sociais e econômicos envolvidos na

relação por vezes conflituosa entre trabalhador e empregador, bem como ao

exercício desse relacionamento no cotidiano das organizações, Gestão de Pessoas

prende-se às políticas e práticas do dia a dia, no âmbito interno destas,

considerando como dado o ambiente externo.

Já a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é tema emergente que

busca promover a sustentabilidade da sociedade através da recomendação de

práticas saudáveis e relações éticas das organizações para com os stakeholders,

sejam eles internos (trabalhadores) ou externos (clientes, fornecedores, sociedade

em geral). Quando a correlacionamos, criticamente, com Relações de Trabalho e

Gestão de Pessoas, acentua-se a importância da análise, pois a convergência das

três áreas parece inevitável, em face do escopo de atuação de cada uma delas.

Como acentua Carvalho Neto e Furtado (2007), praticamente todos os aspectos

considerados pela RSE em relação aos empregados estão afetos às práticas das

duas áreas de estudo acadêmico, evidenciando-se assim a interface entre RTs, GP

e RSE.

A RSE, no Brasil, é capitaneada pelo Instituto Ethos de Responsabilidade

Social Empresarial, instituição que concentra a mobilização e discussão no âmbito

empresarial dos reclames mundiais a serem observados pelas organizações que se

pretendem socialmente responsáveis.

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, fundado em 1998,

é uma organização não governamental que conta com aproximadamente 1400

empresas filiadas, de diferentes portes e áreas de atuação, que comungam da

importância de estabelecer padrões éticos de relacionamento com seus diversos

públicos e com o meio ambiente (ETHOS, 2009).

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Sua atuação é no sentido de fomentar a Responsabilidade Social nas

empresas filiadas, propiciando material para análise e reflexões, sem entretanto

estabelecer obrigatoriedade de comportamento e tampouco desenvolver auditorias

certificadoras, pois como Furtado e Pena (2005) explicitam, a Responsabilidade

Social tem caráter voluntário, exigindo apenas conscientização para sua aplicação.

Assim, o Instituto Ethos preconiza a necessidade de se adequar a cultura da

empresa à RSE, de forma a atender o reclame por ela justificado:

“As enormes carências e desigualdades sociais existentes em nosso país dão à responsabilidade social empresarial relevância ainda maior. A sociedade brasileira espera que as empresas cumpram um novo papel no processo de desenvolvimento: sejam agentes de uma nova cultura, sejam atores de mudança social, sejam construtores de uma sociedade melhor”. (ETHOS, 2009).

Concernente à relação das empresas com os trabalhadores, o Instituto Ethos

estabelece três categorias de análise para indicar o grau de aderência das práticas

da organização aos princípios da RSE, a saber: Diálogo e Participação, Respeito ao

Indivíduo e Trabalho Decente.

Subdivididas em indicadores, cada categoria apresenta uma particularidade.

Enquanto a primeira centra-se em ações no âmbito dos níveis meso e micro das

relações entre capital e trabalho, por tratar de temas relativos às relações com o

sindicato e à gestão participativa; a segunda estabelece indicadores cujas ações

repercutem no nível macro, representadas por compromissos para com a sociedade,

como as questões do tratamento da diversidade e do trabalho infantil. Já Trabalho

Decente considera práticas de RH no ambiente de trabalho, como remuneração e

condições de trabalho, por exemplo, que são também negociadas no nível meso

(com os sindicatos), cujos reflexos, positivos ou negativos, expressam-se no nível

macro das relações entre capital e trabalho.

Dentre os indicadores relativos a esta última categoria, optou-se pelo

“compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade” como o

ponto de convergência deste estudo, por três motivos: primeiro, por ser tema

corriqueiro presente nas organizações, através de ações de treinamento e

desenvolvimento (nível micro das RTs), e que conforme o entendimento proposto

pelo Instituto Ethos, a empresa socialmente responsável deve promover capacitação

contínua e oferecer bolsas de estudo para seus funcionários; segundo, por

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apresentar conteúdo passível de inclusão no campo das negociações coletivas

(nível meso das RTs) e, por fim, produzir efeitos significativos na sociedade (nível

macro das RTs), dado o Instituto Ethos conceber que as empresas, através das

ações de capacitação e concessão de bolsas de estudo, devem proporcionar

conhecimentos mais universais aos seus funcionários de forma a propiciar um

impacto positivo em sua empregabilidade.

Assim, as três dimensões das relações entre empregador e empregado (nível

micro, meso e macro) são analisadas sob uma única perspectiva, o que proporciona

uma análise crítica entre os construtos Relações de Trabalho, Gestão de Pessoas e

Responsabilidade Social Empresarial.

Nessa perspectiva, as instituições sindicais, como atores sociais coletivos,

exercem papel importante no processo de desenvolvimento de ações de RSE com o

público interno, contribuindo para o equilíbrio nas relações entre empregados e

empregadores. Hobsbawm (2000) nos lembra que “se a declaração das Nações

Unidas inclui direitos econômicos, sociais e educacionais, este fato se deve

primordialmente à intervenção histórica dos movimentos operários” (pg. 435).

Dessa forma, é significante verificar se o discurso da RSE para com os

trabalhadores se concretiza – e em que nível – nas práticas de gestão das

organizações estudadas, relativamente ao indicador “compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade”, e, concomitantemente, que

ações caracterizam - e em que grau - a interação entre as áreas Relações de

Trabalho, Gestão de Pessoas e Responsabilidade Social Empresarial.

Na figura 1, a seguir, apresentamos nossas premissas de pesquisa:

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FIGURA 1 – Configuração das expectativas de pesquisa

Fonte: autor

Se se configura hoje uma separação, tanto em nível acadêmico quanto na prática,

entre as áreas Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas, esta encontra paralelo

nos ciclos do capitalismo e na forma de gerir a relação entre empregador e

empregado ao longo de sua evolução histórica, cujas condições pré-existentes de

conflito caracterizam-se nas formas de organização do processo produtivo e da

gestão da força de trabalho neste âmbito, fortemente influenciado pela área

acadêmica predominante: economia (RT) ou psicologia (GP/RH).

Do método artesanal até a atual produção enxuta, flexível e automatizada –

passando pelo sistema taylorista/fordista – o desenvolvimento da tecnologia e a

adoção de modelo de gestão voltado para a demanda, para a remuneração por

resultados e para a jornada flexível, são as principais características instituídas pelo

neoliberalismo, marcado por uma profunda reestruturação produtiva que estabelece

reflexos acentuados na sociedade, como a exigência pela maior qualificação

profissional, por exemplo. E é nesta singular conjuntura que o discurso das

organizações enfatiza a valorização do trabalhador, buscando a qualificação de

Empresa Cidadã, Socialmente Responsável.

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Neste contexto, o cenário é de paradoxo: por um lado o sistema de “mercado”

neoliberal estabelece a insegurança quanto ao emprego e submete o trabalhador à

arena da competitividade; por outro, as organizações exigem-lhe habilidades

múltiplas, transferindo para ele seu “sucesso” pessoal, medido via empregabilidade e

excelência de performance, ao mesmo tempo que, no vértice da questão, a

sociedade reclama por sustentabilidade. A “administração” desse paradoxo ocorre,

muitas das vezes, por meio de experimentos não ortodoxos, constituindo o que

Enriquez (1999) denominou de psicologização da sociedade, que aceita, sem

estranhezas, o desemprego, a excessiva competição entre colegas, e a precarização

do trabalho.

Apesar da postura das organizações, que enfatizam a valorização do

trabalhador, buscando a qualificação de Empresa Cidadã, Socialmente

Responsável, há de se verificar a coerência entre discurso e prática - expressão de

aceitação e tolerância entre os atores sociais empregador e empregado. Ou as

ações de valorização do humano nas organizações são pontuais e não representam,

necessariamente, avanço nas relações entre as partes?

É na consideração a esta questão que a RSE incorpora a Agenda Global

Compact das Nações Unidas, a Proposta de Trabalho Decente da Organização

Internacional do Trabalho – OIT – e os Indicadores Ethos de Responsabilidade

Social Empresarial, que preconizam ações que expressem o comprometimento com

o desenvolvimento sustentável da sociedade, tornando relevantes os estudos que

analisam a percepção dos trabalhadores sobre as práticas de RSE nas

organizações.

Assim, constitui o objeto deste trabalho verificar como os trabalhadores das

organizações que se dizem socialmente responsáveis percebem o compromisso

com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade, relacionando tais ações

aos construtos Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas.

Para tanto, foram considerados – como base teórico-conceitual – os estudos

desenvolvidos por autores, expoentes dos temas Relações de Trabalho, Gestão de

Pessoas e Responsabilidade Social Empresarial, estruturando-se o referencial

teórico em três partes.

Na primeira, apresentamos a concepção e a evolução da área de Relações

de Trabalho, estabelecendo paralelo com o construto Gestão de Pessoas e os

desafios destas áreas colocados pelo neoliberalismo, em face da crise do fordismo.

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O tema “sindicatos” é de abordagem obrigatória em função de seu papel como ator

social importante, concepção esta reforçada pelo Instituto Ethos de

Responsabilidade Social Empresarial, o qual considera como empresa socialmente

responsável aquela que, além de observar a legislação trabalhista vigente e os

padrões da OIT, favorece a organização de seus trabalhadores em sindicatos e

busca, por intermédio do diálogo, o alinhamento dos interesses entre as partes.

Na segunda parte, abordamos a Gestão de Pessoas nas organizações e sua

atuação pontual, que, ao não reconhecer a relação de conflito entre capital e

trabalho, propõe ferramentas de adequação do empregado ao “mundo moderno”,

como o discurso contemporâneo da empregabilidade, por exemplo, que considera

responsabilidade do trabalhador seu desenvolvimento profissional. Este fato

desfigura a RSE de seu sentido amplo, permitindo interpretações e ações múltiplas

pelas organizações em relação ao desenvolvimento profissional e à

empregabilidade.

Na terceira e ultima parte, analisamos a Responsabilidade Social Empresarial

e suas interfaces com os construtos Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas,

estabelecendo o indicador ”compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade” como o fiel da balança.

Como se pretende neste trabalho analisar a percepção dos trabalhadores

sobre a prática de RSE nas organizações em relação ao compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade, tema alvo de diversas pesquisas

já realizadas e que referenciam-se nos mesmos autores, optou-se por empregar

análise agregada dos dados disponíveis de oito dissertações de mestrado

defendidas no Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC Minas,

desenvolvidos durante os anos de 2004 a 2008, no âmbito do NUPEGS – Núcleo de

Pesquisa em Ética e Gestão Social da PUC Minas. Apresentar-se-á uma nova

perspectiva de análise, já que esta análise agregada ainda não foi feita, buscando

avançar na discussão dos construtos RTs, GP e RSE.

Classifica-se a pesquisa como qualitativa e exploratória, por meio de dados

secundários, sendo ainda documental.

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1.1 Problema

A história da evolução das relações de conflito entre empregador e

trabalhador, no que concerne à industrialização e ao próprio capitalismo, sempre se

deu por pressões sociais. Em países industrializados, como nos EUA, por exemplo,

na década de 1930, as relações de emprego e trabalho ganharam tal importância no

processo de desenvolvimento da nação que evidenciaram a necessidade de se

estabelecer um pacto social entre as partes, caracterizado no fordismo. Fordismo

este que surgiu na esteira da social-democracia que se impunha na Europa.

Importante ressaltar que durante a segunda grande guerra, nos EUA, a escassez de

mão de obra culminou com a criação da Comissão para Relações Industriais (RTs)

pelo governo americano (CARVALHO NETO, 2001).

O fordismo, simbolizado pela “esteira rolante” e caricaturizado no filme

“Tempos Modernos” do impagável Charles Chaplin, estabeleceu uma nova trajetória

para as relações entre trabalhadores e empregadores, na medida em que concebeu

e concretizou um círculo virtuoso. Esse modelo, edificador do Welfare State, em

muito impulsionado pela social democracia, vigorou por trinta anos.

Para garantir o desenvolvimento econômico e social representado pelo

Welfare State, o círculo virtuoso: investimento – crescimento da produção – ganho

de produtividade – aumento de salários – consumo em massa – maior lucro –

aumento da arrecadação dos impostos - investimento - (...), permitiu distribuição

mais equitativa de renda e responsabilidades entre os atores sociais no processo de

desenvolvimento capitalista.

O modelo dunlopiano concebeu uma estrutura tripartite para o

estabelecimento do Sistema de Relações de Trabalho, objetivando a interação entre

os três atores sociais coletivos: Governo, Empresários e Trabalhadores. O sistema

proposto reconhecia o conflito capital-trabalho como permanente, e os sindicatos

como um dos atores sociais de relevância, em especial estabelecendo – na

negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores – o lócus privilegiado para

resolução das divergências (DUNLOP 1958; 1993).

No Brasil, entretanto, conforme salienta Carvalho Neto (2001), nunca existiu o

consenso em torno do sistema fordista de regulação tal como adotado na Europa e

EUA, onde os trabalhadores conquistaram ganho real em salários e Welfare State, o

que permitiu espetacular crescimento da economia capitalista até os anos 1970.

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Entretanto, em decorrência das mudanças ocorridas especialmente a partir de

1980 nos países desenvolvidos e a partir de 1990 no Brasil, com o predomínio da

visão neoliberal, o capitalismo financeiro sobrepôs-se ao capitalismo industrial

(AKTOUF, 2008), tornando as relações de trabalho e emprego frágeis e de ordem

secundária na economia global, colocando em crise o sistema fordista de regulação

social, mais afinado com o ideário social-democrata.

Por outro lado, a Gestão de Recursos Humanos, ou Gestão de Pessoas,

como é atualmente denominada, na área acadêmica no Brasil, embora tenha

evoluído e apresentado um conjunto heterogêneo de diferentes abordagens, não

produziu respostas efetivas para o desafio imposto pelas organizações em relação

ao mundo do trabalho. A histórica atuação periférica da área faz com que sua

contribuição seja reconhecida pelas empresas, embora esta não esteja efetivamente

refletida na prática (TANURE, EVANS e PUCIK, 2007).

Conquanto novos estudos de Gestão de Pessoas busquem evidenciar o fato

humano Quadro geral de resultados das dissertações estudadas

nas empresas, no atual cenário, globalizado e neoliberalizante, as organizações

subestimam as ações inerentes às Relações de Trabalho e à Gestão de Pessoas.

A Responsabilidade Social Empresarial, no Brasil, mobilizando e

sensibilizando setores da sociedade em relação aos reclames mundiais relativos à

sustentabilidade, por iniciativa do empresariado, é uma novidade que torna

importante o objeto da pesquisa. Embora não atinja nem de longe os níveis de

abrangência de um pacto social, que acenem na direção das concepções das

Relações de Trabalho da Alemanha, da França, do Japão e de países

escandinavos, estabelece uma ponte, ainda que incipiente, entre empregador e

empregado.

Assim, o problema de pesquisa que se apresenta é: qual a percepção que os

trabalhadores em empresas que se dizem socialmente responsáveis têm das

práticas de Relações de Trabalho e de Gestão de Pessoas quanto ao compromisso

com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade?

Pretende esta dissertação estabelecer elementos de reflexão que permitam

avançar na definição do construto Responsabilidade Social com os trabalhadores e

sua importância no contexto do mundo do trabalho, reacendendo a discussão

teórica, pontual a partir da década de 1990 no Brasil, sobre o distanciamento entre

as áreas Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas.

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1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Analisar como os trabalhadores das organizações que se dizem socialmente

responsáveis percebem o compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade nas práticas das Relações de Trabalho e da Gestão de Pessoas

destas empresas.

1.2.2 Objetivos Específicos

Analisar a percepção dos trabalhadores das organizações estudadas, em relação

às práticas voltadas para o desenvolvimento profissional.

Analisar a percepção dos trabalhadores das organizações estudadas, em relação

às práticas voltadas para a empregabilidade.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O debate sobre a interação necessária entre RTs, GP e RSE, visando a uma

construção coerente das relações entre empregador e empregado, é preconizado

por Freeman (1984), o qual considera que a relação da empresa com os

stakeholders, sejam internos – empregados – ou externos, deve ser transparente e

facilitadora da formação da sociedade. Pena, Carvalho Neto, Coelho e Teodósio

(2005) acrescentam que a RSE, concebida como “as práticas que demonstram o

compromisso para com os trabalhadores”, é um claro exemplo da interface e da

complementaridade, também necessárias entre os níveis macro – dos contextos

político, econômico e social; meso – onde se situam as negociações coletivas com

os sindicatos, e micro – das organizações, das práticas de RH.

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Para melhor entendimento do contexto da RSE e sua correlação com RTs e

RH é necessário analisar os termos Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas,

utilizados indistintamente para referir-se tanto às relações entre empregador e

empregado que ocorrem nos níveis macro e meso, quanto às práticas cotidianas de

RH, como seleção, avaliação, treinamento, etc., que ocorrem no nível micro – interno

às organizações.

Esta aparente generalização casual dos termos, entretanto, objeto de debate

entre escolas teóricas, possui raízes históricas que, segundo Kaufman (2002),

remontam à Administração Científica de Frederick Taylor e encontraram terreno fértil

para desenvolver-se ao final da década de 1910 e início da década de 1920, com a

profissionalização da gestão das organizações e inclusão do tema em currículos

universitários nos EUA.

Relações de Trabalho, relações industriais, relações sindicais e relações

trabalhistas são termos utilizados indistintamente para se referirem às relações entre

empregador e trabalhador. Recursos Humanos e Gestão de Pessoas, da mesma

forma, são termos utilizados como sinônimos para se referirem às atividades

específicas da administração da força de trabalho dentro das organizações. A

distinção entre os conceitos, nos dois casos, não foi devidamente incorporada pelo

senso comum e, mesmo na área acadêmica há posicionamentos controversos.

O termo Relações de Trabalho não é utilizado de forma homogênea pelas

diversas escolas. Relações Industriais, baseado nos estudos de Dunlop (1958;

1993), é utilizada pelas escolas americana e inglesa e por pesquisadores de vários

países para se referirem às relações entre capital e trabalho (MELO e CARVALHO

NETO,1998). A escola francesa emprega o termo Relações Profissionais, utilizado

pela OIT, considerando que a expressão Relações Industriais já não cabe mais num

contexto onde cresce também o setor de serviços.

As diferenças, entretanto, vão além da semântica. Enquanto o termo

Relações de Trabalho – termo adotado no Brasil e derivado das Relações Industriais

do modelo dunlopiano – representa a integração entre os níveis macro, meso e

micro das relações de conflito e poder entre os atores sociais governo, empregador

e trabalhador (Melo e Carvalho Neto, 1998), o termo Gestão de Pessoas refere-se à

administração das relações entre empregador e empregado no cotidiano das

organizações.

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Mais do que simples opção por uma nomenclatura, os termos RTs e GP

definem a forma de gerir a força de trabalho. Enquanto RTs concebe o trabalhador

em seu contexto macro, admitindo o conflito de interesses entre empregador e

empregado e estabelecendo instância “extra muro” para o debate, GP trata o

trabalhador como empregado, reduzindo o universo de ação para o âmbito interno

das organizações. Fleury e Fischer (1987) consideram que esta confusão semântica,

aparentemente pouco importante, não é casual, pois permite o uso do conceito em

“discursos de teores ideológicos e objetivos políticos muito diversos” (p.13).

No Brasil, empregam-se os termos relações industriais, relações de trabalho,

relações sindicais e relações trabalhistas com significados muito próximos, mas o

termo que predomina nos estudos acadêmicos é Relações de Trabalho, adotado

inclusive pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração

– ANPAD.

Nesta dissertação, utilizaremos o termo Relações de Trabalho para identificar

o lócus do conflito entre empregador e empregado, em consonância com o

entendimento proposto por Melo e Carvalho Neto (1998), e o termo Gestão de

Pessoas para designar as atividades práticas de administração salarial, seleção,

avaliação de desempenho, treinamento, etc., adotadas nos recintos das

organizações.

A contextualização dos sindicatos neste cenário é indispensável e necessária,

pois, como Veloso et al (1999) nos lembram, a atuação dos sindicatos dos

trabalhadores foi crucial para o modelo dunlopiano e o Welfare State.

Os sindicatos, como instituições que representam os trabalhadores, são

atores sociais coletivos que exercem papel importante no processo de conflito com o

capital. Hobsbawm (2000) salienta a atuação decisiva dos movimentos operários na

obtenção e manutenção de benefícios sociais pelos trabalhadores, através dos

sindicatos.

2.1 Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas: uma relação em discussão

Embora o desenvolvimento das áreas Relações de Trabalho e Gestão de

Pessoas ocorra, atualmente, de forma simultânea, mas separadamente, tanto no

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meio acadêmico quanto em seu lócus privilegiado – o das organizações – suas

origens e trajetórias guardam estreita correlação, estabelecendo, muitas vezes,

inúmeras interfaces.

De 1920 a 1950, Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas formavam uma

única área, que atuava, principalmente, em nível acadêmico, embora experiência

datada de 1890 demonstre sua aplicação conjunta também nas organizações.

Enquanto una a área atuava sob os conhecimentos da economia e era denominada,

nos EUA, Relações Industriais, englobando tanto os aspectos práticos do trabalho

como os relativos aos problemas e questões afetas às partes envolvidas na relação,

abrangendo assim as perspectivas inerentes aos níveis macro, meso e micro das

Relações de Trabalho (KAUFMANN, 2002).

Esclarece, ainda, aquele autor que a área de Relações Industriais, nos

Estados Unidos, era considerada com duas grandes subdivisões: uma que tratava

da gestão do trabalho, e outra que cuidava da negociação coletiva com os

sindicatos, os métodos de trabalho e da governança.

O termo Relações de Trabalho começou a ser utilizado a partir de meados

dos anos 1930, com ênfase na análise dos problemas e das questões relativas ao

mundo do trabalho e tendência a enfatizar e defender formas coletivas de tratamento

entre trabalhadores e empregadores por intermédio dos sindicatos.

Carvalho Neto (2001) aponta que as Relações Industriais desenvolveram-se

como um campo de estudo acadêmico distinto a partir de 1920, na Universidade de

Wisconsin, integrando-se ao movimento posteriormente as Universidades da

Pennsylvania, Princeton, Harvard e Chicago, em 1921, 1922, 1923 e 1925,

respectivamente. Destaca, ainda, que a criação da Industrial Relations Association

of America – IRRA – foi um marco significativo para a consolidação das Relações de

Trabalho como campo de pesquisa, demonstrando “a preocupação tanto com a

consolidação de um campo científico quanto com a necessidade de “resolver os

problemas” entre capital e trabalho”. (p.19)

Kaufmann (1993) distingue duas correntes internas ao IRRA, uma

denominada Institutional Labor Economics (ILE), composta por institucionalistas

como Dunlop, que consideravam o conflito entre capital e trabalho inerente ao

processo, e outra, a Personnel Management (PM), que abrigava simpatizantes da

gerência de pessoal, como a escola das Relações Humanas de Elton Mayo, que não

admitia a existência do conflito entre as partes.

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Para Kaufman (1993), os estudos de Elton Mayo tiveram um impacto muito

positivo nas RTs, até então de abordagem quase que estritamente econômica,

contribuindo substancialmente para aumentar o envolvimento de cientistas

comportamentais com o tema, intensificando não somente a interdisciplinaridade das

pesquisas, mas também da própria área.

Fischer (1998) analisa a contribuição de Mayo como uma nova perspectiva

para a administração, na medida em que agregou à Teoria Clássica outros

elementos presentes em uma organização que não só os econômicos, incluída a

compreensão de que o comportamento dos trabalhadores possuía papel

preponderante. Mayo e seus colegas Abraham Maslow, David McClelland, Douglas

McGregor, Frederick Herzberg e Herbert Simon desenvolveram estudos sobre

motivação, liderança e comunicação, principalmente, promovendo a entrada, de

forma marcante, da psicologia na administração, estabelecendo uma nova fase na

gestão de empresas.

Kaufman (1993) pondera que duas correntes foram expressivas nesse

movimento: a do Institute of Human Relations da Yale University, entre 1930 e 1940,

e a liderada por Maslow, com seu ápice na década de 1950.

Estas correntes, porém, divergiam entre si em relação ao reconhecimento da

existência de conflito de interesses entre empregador e empregado. Enquanto os

adeptos do Institute of Human Relations da Yale University admitiam o conflito entre

capital e trabalho como inerente ao processo, Maslow e seus seguidores não o

admitiam. Com o passar do tempo esta situação também contribuiu para a

separação entre os membros da Institutional Labor Economics e da Personnel

Management, evento que teve consequências negativas para a área.

Carvalho Neto (2001) acrescenta que foi a partir da obra de Dunlop –

Industrial Relations Systems – de 1958, que os pesquisadores da Personnel

Management desligaram-se da Industrial Relations Association of América, “para

formar, juntamente com outras disciplinas, o campo acadêmico que ainda hoje é

denominado Comportamento Organizacional.” (p 21,22)

A partir dos estudos de Kaufman (1993) e Carvalho Neto (2001), podemos

estabelecer um diagrama de evolução das duas áreas, para melhor

compreendermos suas origens, encontros e desencontros.

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FIGURA 2: Evolução das áreas de Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas

Fonte: autor

Revolução Industrial

taylorismo

Personnel Office - NCR

Estudo das Relações Industriais como campo de estudo acadêmico – Universidade de Wisconsin

Relações

Industriais Estudos das Universidades da Pennsylvania – 1921; Princeton – 1922; Harvard – 1923 e Chicago – 1925

Relações

de Trabalho

A área é denominada Relações de Trabalho, com foco em questões relativas ao mundo do trabalho, enfatizando formas coletivas de tratamento entre trabalhadores e empregadores por intermédio dos sindicatos.

Institute of Human Relations - Yale University X

Estudos de Maslow

Sistema Dunlopiano – fordismo – Welfare State

A partir da obra de Dunlop “Industrial Relations Systems”, a área passa a ser denominada

Relações Industriais

Industrial Relations Association of America – IRRA X

Relações

Industriais

Separação das áreas RTs e RH/GP

Campo de estudos acadêmicos Comportamento Organizacional

Influência da Ciência da Economia

Criação do Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial - Brasil

Sistema de Mercado - Neoliberalismo

Human Resource Management – Bancos e Indústrias

Institutional Labor Economics (ILE) o conflito entre capital e trabalho é inerente ao processo

Personnel Management (PM) – a gerência de pessoal (escola das Relações Humanas) não admitia a existência do conflito entre as partes.

Influência da Psicologia

RH/Gestão de Pessoas

Estudos de Kaufman, Kochan, Katz e McKersie

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As áreas Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas, também no Brasil são

distintas, sendo que as conseqüências dessa separação também se dão em virtude

das características políticas, econômicas e sociais históricas de nosso

desenvolvimento (CARVALHO NETO, 2001).

Fischer (1987), em estudo clássico sobre o desdobramento dessas duas

áreas, RTs e GP, demarcou de forma clara os limites e instâncias inerentes à

relação entre empregador e empregado. Considera a autora que a RTs está

sedimentada nas relações sociais, econômicas e políticas da sociedade, de forma

abrangente, enquanto GP organiza-se a partir das relações interpessoais geradas

no ambiente de trabalho.

A autora aponta a importância de enfatizar tal diferença, em face da tendência

de se considerar os termos sinônimos, acarretando em entendimento de que ações

pontuais das empresas em relação aos empregados são ações de RTs.

Colocado os pingos nos “is”1, Melo e Carvalho Neto (1998) analisam as

concepções de Fleury (1989), Melo (1991) e Siqueira (1991), autores expoentes das

áreas Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas, estabelecendo semelhança entre

o pensamento dos autores, e Fischer (1987) quanto ao construto RTs, o qual integra

ao sistema de Relações de Trabalho as práticas de Gestão de Pessoas no âmbito

das organizações.

Esse posicionamento, entretanto, não é unanimidade no campo dos estudos

organizacionais, conforme assinalam Carvalho Neto e Furtado (2007), evidenciando

que tal separação destaca-se nos Encontros da Associação Nacional dos Programas

de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração – EnANPADS –, que mantém

áreas distintas de estudo: Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas.

Na visão de Kochan, Katz e McKersie (1986), autores emblemáticos no

campo de pesquisa em Relações de Trabalho, é legítimo entender que a área RTs

engloba a área GP, na medida em que aquela considera tanto os fatores externos

(político-econômicos e macro-sociais) quanto os internos às organizações

(organização do processo de trabalho e práticas de Gestão de Pessoas),

estabelecendo ainda que, no âmbito das organizações, as Relações de Trabalho

compreendem também as práticas administrativas referentes a recrutamento e

1 em referência ao título da publicação da autora: “Pondo os Pingos nos is” sobre as Relações do

Trabalho e Políticas de Administração de Recursos Humanos.

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seleção, desenvolvimento, cargos e salários, benefícios e relações com o sindicato

(por meio das comissões de fábrica e das Comissões Internas de Prevenção de

Acidentes – CIPA, por exemplo).

O fato marcante desta separação, entretanto, “o divisor de águas”, é que os

adeptos do construto RTs concebem o conflito entre empregador e empregado como

inerente à relação, que é também uma relação de poder, enquanto a corrente

voltada para GP não considera este conflito ou considera que os interesses são

mútuos, inexistindo a relação de conflito de interesses.

Embora a separação patente, Kaufmann (2002) vislumbra uma aproximação,

ainda que modesta, entre RTs e GP, em virtude dos estudos atualmente

desenvolvidos sobre alta performance e sistemas de trabalho que impactam o

desempenho das organizações. Considera que, embora os manuais de Gestão de

Pessoas continuem a ignorar a separação e a área de Relações de Trabalho relute

em aceitar os modelos simplistas de modelagem do comportamento humano, os

estudiosos de Gestão de Pessoas não negligenciam mais tanto os fatores externos

como intervenientes na relação capital-trabalho. Assim, começa a ocorrer um certo

estreitamento entre as áreas. Pelo menos nos EUA, inicia-se uma aproximação entre

os autores das duas áreas, através de referências cruzadas e até pesquisas e

publicações conjuntas.

2.1.1 As Relações de Trabalho e os desafios enfrentados pela área com a

derrocada da lógica social-democrata provocada pela crise do fordismo

As RTs são concebidas a partir da atuação dos três atores sociais coletivos

intervenientes no desenvolvimento de uma nação: Governo, Empresários e

Trabalhadores. A gestão desta relação é caracterizada pelo Sistema de Relações de

Trabalho – SRT – de um país, e é influenciada por fatores denominados por Dunlop

(1958;1993) como contexto da distribuição de poder entre os atores sociais; contexto

tecnológico e contexto econômico. Sendo que o SRT pode ser mais estruturado, ou

menos estruturado, com características nacionais mais definidas e homogêneas

(como na Escandinávia e Alemanha) ou mais heterogêneas (como nos EUA e, em

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muito maior escala, no Brasil), em face das diferenças existentes em relação às

questões sociais, políticas e econômicas de cada nação.

No caso brasileiro e em toda a América Latina, Carvalho Neto (2001)

reconhece ser difícil falar de SRT plenamente constituído no período anterior à

década de 1980. A institucionalidade necessária à constituição do sistema e ao

estabelecimento das regras do jogo para os envolvidos, além da vontade política por

parte dos três atores sociais de participarem, foi frequentemente alterada por longos

períodos de inexistência ou quebra de preceitos minimamente democráticos.

O modelo dunlopiano, desenvolvido por John Dunlop, concebia como

elemento central para resolução das divergências entre trabalhadores e

empregadores a negociação coletiva, cuja regulação era exercida pelo Estado. Para

garantir o desenvolvimento econômico e social representado pelo Welfare State,

considerava a comunhão de objetivos entre os atores sociais quanto aos fatores do

contexto externo (econômico, social e tecnológico), sugerindo assim a existência de

interesses semelhantes entre eles. Ao fazer isso, nivela não só as aspirações dentro

da classe trabalhadora, considerando que todos têm os mesmos anseios e

necessidades, bem como idealiza sua participação no processo de forma

subordinada, ou seja, dentro das “regras do jogo” da lógica capitalista. (DUNLOP,

1958; 1993).

Esta conjuntura favoreceu o desenvolvimento de modelos de RTs em que

predominaram o trabalho assalariado formal e a relação de emprego padrão,

representada pela existência concomitante de contrato de trabalho com salário fixo

estabelecido e jornada de trabalho definida (CARVALHO NETO, 2001).

Silva (1998) esclarece que o Welfare State, assim, consolidou-se como

sistema de organização política e econômica dos países desenvolvidos, cuja

concepção baseava-se na existência de direitos sociais garantidos a qualquer

cidadão – tais como a educação em todos os níveis e o auxílio aos desempregados

– com a atuação direta do Estado como promotor das principais diretrizes, regulando

a relação com e entre os demais atores sociais.

Embora com grande aceitação e aplicação por mais de 30 anos, o modelo

dunlopiano não ficou isento de críticas. A escola francesa, por exemplo, apresenta

como principal censura ao modelo dunlopiano a sugerida passividade do

trabalhador, ao conceber a comunhão de objetivos entre os atores sociais quanto

aos interesses econômicos, sociais e tecnológicos. Considera, ainda, que as regras

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efetivas das RTs são aquelas desenvolvidas no ambiente de trabalho, provenientes

da convivência direta e diária entre os atores.

Kochan, Katz e McKersie (1986) também ofereceram crítica ao modelo

dunlopiano ao considerarem as escolhas estratégicas dos atores sociais como o

elemento central das Relações de Trabalho, e não a negociação coletiva nos moldes

sugeridos por Dunlop (1958; 1993).

No início da década de 1970, entra em cheque o poder hegemônico dos EUA,

com o desatrelamento do dólar da economia mundial. O rompimento de Bretton

Woods como reação à crise da economia mundial provocada pelo petróleo, acelerou

a decadência do fordismo, acentuada pela crise de mercado, de demanda, de

produtividade e de lucratividade, e aguçada pela competição dos países asiáticos,

da Alemanha e da Escandinávia. A flexibilização da economia provocou recessão,

desemprego estrutural e consequente rompimento do pacto fordista, atingindo

negativamente o Welfare State.

Neste contexto, a partir do final da década de 1970, o pacto social começou a

dar sinais de enfraquecimento, devido às mudanças no arranjo do trabalho pelas

organizações diante dos novos modelos de gestão adotados, visando ao aumento

de produtividade. O desaquecimento da economia, o crescente endividamento tanto

da iniciativa privada quanto do governo e a perda de produtividade da indústria

norte-americana contribuíram também para o agravamento do quadro (AKTOUF,

2008; ANTUNES, 2003).

Nos anos 1980 e 1990, com a ascensão de governos liberais nos EUA, com

Ronald Reagan, na Inglaterra com Margareth Tatcher e Fernando Collor no Brasil,

aguçou-se o movimento de privatizações, abertura de mercados e competições entre

blocos econômicos. O neoliberalismo instaurado pela economia de mercado

caracterizou-se pelo afastamento do Estado da economia e pela flexibilização das

relações de trabalho, atingindo o pacto social instaurado pela social democracia nos

países centrais (ANTUNES,2003).

Desde então, a reestruturação produtiva – marcada por um lado pelo uso

intensivo de tecnologias de produção, com a automação de diversos tipos de

tarefas, e de outro, pelos choques de gestão, como a Reengenharia e os Programas

de Qualidade Total – estabeleceram maior precariedade ao vínculo empregatício,

pois flexibilizaram os elementos básicos da relação de trabalho: o contrato, a jornada

e a remuneração. Além disso, contribuíram significativamente para o desemprego.

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A partir de meados dos anos 1980 e de forma significativa nos anos 1990, os

altos custos necessários à modernização tecnológica levaram as empresas

brasileiras de maior porte a optarem pelo menor custo de investimento em

tecnologias organizacionais, onde destacaram-se a gestão da qualidade total e a

terceirização, em detrimento das tecnologias nas áreas de eletrônica e automação.

(CARVALHO NETO, 2001)

Nesse novo cenário, privilegiam-se os superqualificados, os detentores de

conhecimentos tecnológicos, capazes de aumentar a produtividade e de reduzir

custos, excluindo-se os menos qualificados do mercado de trabalho (CARVALHO

NETO, 2001).

Quanto à prática da terceirização, que vai atingir profundamente as RTs,

diferentes formas surgiram no Brasil. Entre elas, citam-se os contratos de trabalho

domiciliar, os contratos de empresas fornecedoras, os contratos de serviços de

terceiros (empresas ou indivíduos) e os contratos de empresas cuja mão de obra

realiza a atividade produtiva ou o serviço na planta da contratante. Surgiu o

fenômeno “cascata” de subcontratação, onde as empresas contratadas pela

“empresa-mãe” subcontratam outras empresas ou trabalhadores para realizar o

serviço, as quais, por sua vez, podem também subcontratar outras empresas e

outros trabalhadores, e assim sucessivamente (DRUCK, 1999, p. 126).

No discurso empresarial, a terceirização se apresenta como possibilidade de

crescimento e multiplicação de oportunidades para as pequenas e médias empresas

e para a transformação dos trabalhadores em empresários. No entanto, Druck

(1999) afirma que os estudos realizados se contrapõem a esta visão. Segundo a

autora, nas relações de poder que se estabelecem, existe uma acentuada

subordinação das pequenas às grandes empresas, que se define mais pela

competição do que pela parceria, pela dependência unilateral das pequenas em vez

da interdependência, pelo conflito em detrimento da harmonia.

Druck (1999) considera que os atores jogam conforme seu poder de

barganha, cabendo às pequenas empresas subordinar-se ao capital das grandes, as

quais definem preços, prazos, condições de qualidade e de pagamento, em acordo

com seu interesse econômico.

Carvalho Neto (2001) corrobora as idéias de Druck (1999) afirmando que,

apesar de haver um discurso propagando questões de qualidade e especialização,

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as práticas de terceirização e subcontratação no Brasil têm como principal objetivo

reduzir custos numa perspectiva de curto prazo.

Acrescenta ainda o autor que, com a chegada da modernidade no Brasil, no

início dos anos 1990, via governo Collor, estabelecendo políticas econômicas e

reformas estruturais desvinculadas de um projeto nacional de política industrial, e a

continuidade dessa política neoliberal pelos governos que o sucederam,

favoreceram ainda mais o agravamento dos níveis de desemprego e de exclusão

social, já característicos do mercado de trabalho brasileiro.

As soluções liberais de privatização criadas pelo governo Fernando Henrique

Cardoso, por exemplo, como forma de gerar emprego, contribuíram ainda mais para

incentivar a precariedade das relações de trabalho, dada a incapacidade de

fiscalização do Ministério do Trabalho: “o fordismo periférico vai cedendo lugar à

mão cada vez mais visível do mercado persa, onde tudo é possível” (CARVALHO

NETO, 2001, p. 64).

Este contexto contribuiu para o enfraquecimento da representatividade

sindical, tendo em vista a diminuição de sua influência política e do seu poder de

barganha, na medida em que as terceirizações estabelecem a pulverização da

classe trabalhadora e o desemprego.

2.1.2 Os Sindicatos em crise de identidade: to be or not to be!

O sindicato é a instituição que representa os trabalhadores na relação de

conflito com o capital. Embora sua origem remonte ao ano de 15102 o século XIX é o

marco da evolução da história sindical mundial, por ser nessa época que ganharam

maior expressão as reivindicações frente às condições de trabalho impostas pela

revolução industrial.

Nascimento (1989) ilustra a evolução do conceito de sindicato a partir do

significado da palavra em outras culturas. No direito romano, por exemplo, o termo

era utilizado para designar os “mandatários encarregados de representar uma

2 Os sindicatos são considerados uma evolução das guildas que, originárias da Europa medieval, eram

associações de mutualidade constituídas entre corporações de operários, aertesãos, negociantes e artistas.

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coletividade”, enquanto na França o vocábulo síndico “é utilizado como sinônimo de

sujeito diretivo de grupos profissionais”.

As instituições sindicais, como atores sociais coletivos, exercem papel

importante no processo de desenvolvimento de ações que contribuem para o

equilíbrio nas relações entre capital e trabalho. Na Alemanha, por exemplo, há uma

forte tradição de luta operária e política cooperativa, cujas características marcantes

são a preocupação com problemas sociais mais amplos e a negociação coletiva.

Dada a integração entre os atores sociais, as relações de trabalho estão mais

voltadas para o bem estar social e os sindicatos são importantes nesse processo.

(FURSTENBERG, 2003)

A Alemanha, ao contrário do Brasil, foi o país onde houve a maior

participação dos sindicatos nos processos de reestruturação produtiva que atuaram

preventivamente, negociando mudanças sociais, tecnológicas e econômicas por

meio das Organizações de Trabalhadores no Local do Trabalho – OLTs.

(CARVALHO NETO, 2001).

Furstenberg (2003) aponta que essa participação na Alemanha tem seu ponto

de convergência no Pacto Social direcionado para as políticas econômicas e

educacionais, sendo caracterizada pela contribuição dos trabalhadores e suas

associações coletivas em mudanças tecnológicas, assumindo responsabilidade na

melhora da produtividade e competitividade das organizações, ao mesmo tempo que

buscam compatibilizar com a segurança e formas mais humanas de trabalho.

Ainda segundo o autor, os sindicatos, na Alemanha, participam das políticas

públicas relativas à qualidade de vida dos trabalhadores e de suas famílias. Este

processo de codeterminação tem como principal instrumento de implementação o

conselho de trabalho, que negocia mudanças também no ambiente e no ritmo do

trabalho, podendo influenciar ainda nos processos de seleção e treinamento. Nesse

aspecto, segundo Furstenberg (2003), a Alemanha é tida como modelo em

treinamento vocacional.

A França, a exemplo da Alemanha, concebe as relações de trabalho dentro

de um ambiente de busca do equilíbrio social com uma cooperação

institucionalizada entre os atores coletivos envolvidos, entre os quais os sindicatos

têm papel relevante. Embora as negociações sejam tensas e centradas

principalmente nos salários (motivo este de forte intervenção do Estado na

manutenção das políticas de renda), negocia-se também a divisão de lucros, a

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implementação de novas tecnologias e as mudanças nos horários de trabalho

(GOETSCHY E JOBERT, 2003).

Para Goetschy e Jobert (2003), o treinamento tem sido um dos principais

pontos nas negociações na França, em face da obrigatoriedade imposta pelo

governo, por meio de lei vigente desde 1971, que exige dos empregadores um

investimento equivalente a 0,9% de seu faturamento para custear treinamento. A

partir de 1994, essa alíquota passou para 1,5%, embora as autoras constatem que,

na prática, as empresas francesas gastam algo em torno de 3,2% de seu

faturamento em treinamento, qualificação e requalificação. Esse é um tema

importante nas negociações coletivas, o que faz da França país referência em

readaptação profissional.

O Japão também experimentou o Welfare State instituído pelo modelo

dunlopiano, embora de forma diversa à experiência Ocidental, em virtude do modelo

de produção adotado e da cultura do país, imortalizada pelo espírito samurai e a

filosofia dos campos de arroz – guerreiro e servil aos interesses coletivos. É nesse

sentido que os japoneses se vêem como uma sociedade igualitária, de classe média

e com excelente distribuição de renda, embora trabalhem mais horas que o seu par

ocidental e gozem apenas de 7 (sete) dias de férias por ano.

A relação entre empregados e empregadores é um fator importante no

desenvolvimento japonês, que considera prioritário o atingimento das metas

estabelecidas pelas partes, apresentando-se em segundo plano a distribuição dos

benefícios decorrentes. A estrutura produtiva tem duas principais características em

relação à força de trabalho: a terceirização, ou redes de subcontratação – keiretsu, e

a relação duradoura do trabalhador com a empresa. No Japão, as pessoas são

contratadas para trabalhar na empresa, não para ocupar determinados cargos ou

desenvolver atividades específicas, inexistindo no país planos de cargos e salários

com funções especificas e de pouca mobilidade, o que justifica o Japão como berço

da automação flexível (DRUCK, 1999).

Druck (1999), ao considerar a “terceirização: uma prática japonesa com

certeza!”3, assinala a complementaridade como característica marcante da estrutura

produtiva japonesa, que estabelece uma rede de trabalhadores e/ou fornecedores

ao longo da cadeia produtiva, operando em sintonia, formada por grandes, micro,

3 título da publicação citada da autora

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pequenas e médias empresas, sendo essas últimas a base de sustentação do

modelo.

Esta convivência, entretanto, não ocorre totalmente isenta de conflitos,

embora o sistema de RTs no Japão caracterize-se pela parceria social e se

desenvolva em clima de cooperação e solidariedade, onde a participação dos atores

sociais é convergente. É raro o uso da lei para dirimir conflitos, até porque lá não

existe, como no Brasil, a Justiça do Trabalho. O processo de comunicação formal e

informal adotado nas empresas e as reuniões frequentes entre empregadores e

trabalhadores facilitam a relação entre as partes, refletindo na negociação coletiva,

denominada shunto (negociação de primavera), que ocorre anualmente, por

empresa, e que tem papel valorizado no sistema de RTs do país.

Já no Brasil, criados em 1938 pelo Estado Novo de inspiração fascista da

ditadura de Getúlio Vargas, os sindicatos tiveram sua atuação delimitada pelo

caráter populista, totalitário e paternalista do governo, que lhes reservou a

representação dos interesses dos trabalhadores “sob determinada jurisdição”,

atrelando a estrutura sindical ao governo, através do imposto sindical e da unicidade

sindical (um sindicato somente por categoria profissional).

Enquanto em países como EUA, Alemanha e França a representação sindical

se dá a nível nacional, no Brasil instituiu-se a segmentação da classe trabalhadora,

concebendo-se a jurisdição como uma divisão por categorias profissionais e por

localização geográfica, concomitantemente, determinando-se assim uma estrutura

sindical e um sistema de negociação coletiva significativamente pulverizados.

Fator importante a ser considerado nesse processo é a herança escravocrata

que sempre esteve presente na cultura empresarial brasileira, refletida na postura

autoritária dos empresários e da elite governante em sua relação com os

trabalhadores. Faltou ao país um pacto social que fizesse com que as empresas

aceitassem o sindicalismo e seus possíveis conflitos como parte natural de um

sistema de relações de trabalho, como ocorreu com o modelo dunlopiano nos EUA e

Europa fordista (CARVALHO NETO, 2001).

Diferentemente do modelo de RTs estabelecido pelo fordismo nos países

centrais do sistema capitalista, que concebia a negociação coletiva como o principal

instrumento de regulação do conflito entre empregador e empregado através da

interação entre os três atores sociais, no Brasil a regulação do conflito caracteriza-se

por forte intervenção do Estado, com a criação da Justiça do Trabalho em 1943 e a

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promulgação da Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT, de caráter bastante

regulador (NEPOMUCENO, 1998).

A tutela do Estado, legislando, normatizando e estabelecendo as “regras do

jogo”, inibiu a participação efetiva dos atores sociais na gestão do conflito

(Nepomuceno,1998), impedindo o exercício da negociação e da cidadania.

Arbix (1997) acentua que a conduta do governo em recusar a discussão com

os sindicatos sobre políticas de relações de trabalho que gerem compromissos, bem

como a imposição de barreiras ao movimento sindical via restrição ao direito de

greve, favorece o cenário delineado por Pochmann (1997) para o qual, no Brasil, o

baixo nível de cooperação entre os atores sociais – governo, empregador e

empregado – estabelecem a administração dos conflitos entre capital e trabalho de

forma normatizada, via Justiça do Trabalho, o que não favorece o diálogo e o

crescimento das partes. O governo Lula reuniu os atores sociais durante dois anos,

no Fórum Nacional do Trabalho, mas não houve avanços significativos nesta relação

e a estrutura sindical de Vargas permanece intacta.

Embora o fim dos sindicatos seja preconizado por vários autores, em função

das mudanças políticas e econômicas ocorridas entre os anos 1980 e 1990 pela

adoção do neoliberalismo na Inglaterra e EUA principalmente, essa afirmativa não

encontra abrigo junto aos teóricos das Relações de Trabalho (CARVALHO NETO,

2001; LARANJEIRA e CARVALHO NETO, 2006).

Sarsur et al (2005) corroboram esse posicionamento destacando que o

cenário atual impõe novos desafios aos sindicatos, relacionados à sua capacidade

de responder positivamente às negociações, que passam a incluir questões relativas

à produtividade e competitividade, e à sua efetiva participação nos processos de

reestruturação produtiva e de políticas nacionais. Carvalho Neto (2001) exemplifica

essa possibilidade ao relatar a iniciativa do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que,

nos anos 1990, através das OLTs, negociou vários aspectos da reestruturação

produtiva da região.

A fragilização da representatividade sindical salientada por Neves (1999)

encontra resposta de ação em Laranjeira e Carvalho Neto (2006) que, em

consonância com a OIT (1997) e com Sarsur et al (2005), consideram a necessidade

de ajuste do sindicalismo contemporâneo ao mundo do trabalho instituído pelo

neoliberalismo, o qual apresenta grandes desafios, ao mesmo tempo em que abre

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espaços para novas práticas baseadas em demandas sociais relevantes, inserindo-

se neste contexto a perspectiva da RSE.

Tal posicionamento encontra trincheira também em Kochan, Katz e McKersie

(1986), que assentam sua expressiva contribuição ao construto Relações de

Trabalho na consideração de que o elemento relevante no processo de relações de

conflito e poder entre os atores sociais são suas escolhas estratégicas.

2.2 A Gestão de Pessoas nas organizações: a atuação pontual dissociada do ambiente macro – os reflexos no desenvolvimento profissional e na empregabilidade.

O trabalho humano nas organizações desenvolveu-se atrelado à evolução

dos ciclos de produção4 e aos modelos de gestão que buscam legitimar o aumento

de produtividade. Nesse movimento, o trabalhador é chamado a oferecer desde a

“força motriz” até a qualificação profissional que estabeleça diferencial competitivo.

Originária da Human Resource Management, a Administração de Recursos

Humanos, ou Gestão de Pessoas – como é atualmente denominada na academia

brasileira – deriva do personnel office, criado pela NCR Corporation em 1890, cujo

objetivo inicial era aplicar métodos que auxiliassem na escolha de candidatos que

melhor se adaptassem ao trabalho, centrando no gerenciamento do custo de

empregados o diferencial competitivo da época (FISCHER, 1998).

Com a revolução industrial e com o taylorismo – também conhecido por

movimento de organização racional do trabalho – estabeleceu-se a fragmentação do

trabalho em atividades simples e rotineiras e a seleção e treinamento dos

trabalhadores para a execução das tarefas. Assim é que a Administração Científica

de Taylor relegava a um segundo plano o elemento humano nas organizações,

centrando-se na desqualificação e na abundância de mão de obra existente à época

(FISCHER, 1998).

Henry Ford consolidou o pensamento taylorista com a implantação do processo de

produção em massa, alicerçado na especialização taylorista do trabalho. O fordismo

da “esteira rolante” proporcionou um evidente desenvolvimento da indústria

4 Para maiores informações vide MEINERS, Wilheim. As mudanças nos paradigmas tecnológicos e suas

implicações para as empresas. Curitiba: IBQP, 2001.

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automobilística, contribuindo sobremaneira para a consolidação da Teoria Clássica

da Administração (EL SAYED, 2003).

Embora o fordismo exprima a excelência na aplicação do modelo taylorista de

produção, difere-se deste por sua maior valorização do trabalhador, patente em suas

políticas de remuneração e da redução da jornada de trabalho, permitindo inclusive

a aplicação do modelo dunlopiano e o Welfare State.

Concomitantemente às mudanças ocorridas na organização do trabalho, no

comportamento do mercado e no desenvolvimento da tecnologia, novas

necessidades e perspectivas na gestão dos trabalhadores se apresentavam. Assim

é que, em reação ao modelo taylorista, surgiu a Escola das Relações Humanas,

conhecida pelos trabalhos de Elton Mayo, em Hawthorne. Aquela escola centrou sua

atuação no estudo do comportamento dos trabalhadores em relação às condições

de trabalho impostas pelas organizações. Embora ingênua, a escola de Relações

Humanas motivou o surgimento da Teoria Comportamental, ou Behaviorista, que se

seguiu, e cujas contribuições estão presentes na GP até os dias de hoje. (DAVEL e

VERGARA, 2001)

Fischer (1998) salienta que a expansão da tradicional administração de

pessoal, principalmente no tocante ao comportamento de empregados e

empregadores no ambiente de trabalho, ocorreu a partir dos estudos de Mayo, na

Western Eletric Company, desenvolvidos nas décadas de 1920 e 1930. Davel e

Vergara (2001) atribuem a esta época o início da concepção do “Serviço de

Pessoal”, que se expandiu a partir de 1947, primeiramente para bancos e, a

posteriori, para a indústria.

Com a expansão da indústria fordista nos séculos XIX e XX, criou-se grande

massa de assalariados e, concomitantemente, os movimentos operários em busca

de melhores condições de trabalho que culminaram com a regulamentação jurídica

das relações de trabalho em diversos países. O trabalhador não era mais passivo.

Organizou-se, pressionou, conquistou; e a instituição da área de RH nas empresas

não deixou de representar uma resposta da gestão a essa pressão, assim como os

sindicatos representaram uma resposta da classe trabalhadora às pressões do

capital.

Desde a Administração Científica de 1903, passando pela Teoria Neoclássica

da década de 1950, até os dias de hoje, diversos autores – como Albuquerque

(1998), Fleury (1987), Fischer (1987,1998), Davel e Vergara (2001) e Dutra (2002) –

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apresentaram a evolução da área de GP, oferecendo uma interpretação da

abordagem adotada pelas organizações na busca por resultados, caracterizando os

principais instrumentos, ou ferramentas, utilizados pela GP no alinhamento da força

de trabalho aos objetivos empresariais.

Davel e Vergara (2001), por exemplo, salientam que, a partir da década de

1980, surgiram três abordagens dominantes na GP: a funcionalista, a estratégica e a

política, que caracterizaram o movimento da estrutura de poder e as relações de

conflitos na convivência entre os atores sociais.

A abordagem funcionalista estabelece uma relação institucionalizada, por

meio de forte hierarquia entre o empregado e a organização, delegando à área de

GP o convívio, ainda que distante e em posição defensiva, com o sindicato - porta

voz dos trabalhadores.

Na abordagem estratégica, a organização delega à gerência o papel de

intermediação entre a organização e os empregados, mantendo a área de GP como

interlocutor privilegiado na relação, agora direta, com o trabalhador, distanciando –

ou mesmo eliminando o sindicato deste processo.

Já a abordagem política põe empregado e organização “frente a frente”, numa

relação direta de convivência, estabelecendo na arbitragem administrativa o lócus

para resolução de conflitos. Nesse contexto, a GP assume o papel de parceira dos

empregados, ignorando-se a existência do sindicato.

Se para a GP há uma evolução entre as abordagens, partindo do

distanciamento entre empregado e objetivos organizacionais até a sua participação

(ainda que idealizada) na formulação das estratégias, para as RTs o entendimento é

de que o processo evolui do convívio institucionalizado com o sindicato até o seu

alijamento do processo, estabelecendo a separação entre as áreas. Essa conjuntura

suscita algumas questões, como, por exemplo: quais as consequências, para os

trabalhadores, dessas concepções díspares entre RTs e GP?

Fato é que as escolas e abordagens inerentes à GP, ao atuarem na

reação/adaptação da organização ao ambiente externo, tratam a relação entre

empregador e empregado em nível micro, desenvolvendo estratégias dissociadas do

conflito latente entre as partes, que se expressam também nos níveis político e

socioeconômico. Desde a abordagem do homo economicus proposta pela

Administração Científica, o foco no fator humano nas organizações esteve atrelado a

formas de recrutar e selecionar, adaptar ao trabalho, remunerar e, principalmente,

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treinar. Isso ocorreu ora de forma isolada, visando a desenvolver tarefas, ora –

como Locke (1999) enfatiza – de forma coletiva, situando o trabalhador como

membro de um grupo, para desenvolver equipes, círculos de qualidade,

polivalências, ou ainda motivá-lo e envolvê-lo nos objetivos organizacionais.

Entretanto, conforme salienta Neves (1999), os programas de treinamento

desenvolvidos pelas organizações caracterizam-se mais pela doutrinação da mão de

obra, para cooperarem com as estratégias empresarias e fortalecerem a cultura

organizacional, do que para a formação profissional.

Contribuição mais recente oferece Tanure, Evans e Pucik (2007, p. 24) ao

desvendarem as quatro faces, ou etapas, da GP, considerando que, mesmo com as

controvérsias existentes sobre a efetiva contribuição da área para a performance das

organizações e a variedade desconcertante de práticas existentes, a Gestão de

Pessoas pode, sim, oferecer contribuição para a melhoria do desempenho

organizacional, dependendo da forma com que os “fundamentos”5 são utilizados.

Embora notória, a evolução da área de RH desde o surgimento da Escola de

Relações Humanas até os dias atuais, a GP – mesmo ocupando espaços

importantes e, paulatinamente, tomando assento no centro das decisões

organizacionais, ao menos no nível do discurso empresarial, mantém uma histórica

atuação pontual interna na organização, dissociada do macro ambiente político,

econômico, social e tecnológico, pelo qual é influenciada, oferecendo respostas a

esse contexto por meio de ações associadas à necessidade da organização de se

adaptar ao mercado para o enfrentamento dos desafios impostos pela

competitividade (ULRICH, 2002).

Roesch e Antunes (1990), ao analisarem a questão do comprometimento, em

voga a partir dos anos 1980, justificam sua inserção nos debates empresariais

“como resposta à ameaça japonesa em razão do aumento da competitividade e da

globalização” (p.43), tema este integrado aos Programas de Qualidade Total.

Para obter a participação dos empregados no processo de qualidade, a

separação entre planejamento e execução realizada por Taylor foi desfeita por Juran

(1991), que estabeleceu como “princípios” para a ocorrência dessa integração:

proporcionar treinamento a todos os funcionários, desenvolver projetos de melhoria

5 recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, gestão de carreira, gestão de desempenho

e gestão de recompensas. (p.24)

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por meio de atividades grupais, difundir os avanços obtidos e demonstrar

reconhecimento aos empregados (RUAS e ANTUNES, 1997).

No Brasil, Campos (1992) destaca que o comprometimento dos empregados

é fundamental para o sucesso dos Programas de Qualidade Total, apontando que a

remuneração justa, o desenvolvimento pessoal e profissional, o reconhecimento pelo

esforço e o estímulo à comunicação aberta são princípios a serem observados pela

gestão na aplicação da estratégia de recursos humanos.

Em relação ao princípio do Desenvolvimento Pessoal e Profissional, Ruas e

Antunes (1997) apresentam definição unânime obtida dos autores da área:

“estimular a capacitação das pessoas a fim de melhorar a performance da empresa.”

Nesse sentido é que Davel e Vergara (2001) ressaltam que as práticas de

Gestão de Pessoas desenvolvidas nas organizações refletem mais regras de

modelagem de comportamento do que mudanças de valores que reflitam um avanço

social. Ao que Fischer (1998) considera ser este fato decorrente da separação entre

os níveis macro e micro das Relações de Trabalho, na medida em que os modelos

porventura praticados nas organizações não encontram respaldo nas políticas

sociais e econômicas.

Neste contexto, reforçam-se as questões apontadas por Neves (1999) sobre

as conseqüências para os trabalhadores, deixando espaço, entretanto, para o

questionamento: que lacunas a RSE pretende preencher?

2.2.1 O discurso contemporâneo da empregabilidade: o desenvolvimento

profissional como responsabilidade do trabalhador

O discurso do “mercado”, muito bem articulado junto à classe trabalhadora

especialmente, e na sociedade de forma geral, apresenta-se sob duas formas. A

primeira, de maneira proposital, que se confunde com a noção de competência

individual e transfere para os trabalhadores a responsabilidade por seu emprego,

transformando a demissão em ato de mea culpa, o que faz com que “além de se

sentirem incompetentes, também são assim tratados pelo mercado, que os

marginaliza” (CARRIERI e SARSUR, 2004, p.147;148). A segunda, referente à

legitimação do afastamento do Estado das questões sociais relativas ao trabalho, a

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quem compete as políticas públicas de formação e capacitação do trabalhador,

transferindo para o “mercado” o estabelecimento dos padrões de capacitação

necessários para o desempenho de atividades profissionais.

O DIEESE (2001) analisa a questão apontando, de um lado, que o argumento

da empregabilidade é uma tentativa de transferir para o trabalhador a manutenção

de seu emprego e, de outro, que tal fato impõe a ele enfrentar sozinho o desafio da

adaptação às novas formas de trabalho, cujas exigências assentam suas bases no

sistema educacional e na requalificação profissional, atribuições inerentes ao

Estado.

Carrieri e Sarsur (2004) destacam que no sistema capitalista avançado –

neoliberal - as garantias de emprego são substituídas pela empregabilidade. Com

essa estratégia, a organização consegue do indivíduo o comprometimento com seus

propósitos, extraindo dele mais trabalho e dedicação, consoante o discurso dos

“princípios” dos Programas de Qualidade Total, que buscam estimular a capacitação

das pessoas a fim de melhorar a performance da empresa (RUAS e ANTUNES,

1997).

O tema “desenvolvimento profissional” incorpora e reforça o discurso da

empregabilidade, configurando a passagem do subjetivo (com significações dadas

pelo mercado) para o objetivo (linguagem corriqueira da sociedade), concretizando a

máxima de Marx em “O Capital”: pior do que ser explorado é não ser explorado.

Assim é que o mercado exige um novo perfil de trabalhador: polivalente, com

competências individuais capazes de enfrentar imprevistos e de apresentar

respostas efetivas aos problemas e, ainda, de trabalhar em equipe de forma

harmônica. Sant`anna, Kilimnik e Castilho (2004) destacam as quinze competências

essenciais consideradas como fatores de empregabilidade e como diferencial

competitivo do trabalhador contemporâneo, que vão da “capacidade de aprender

rapidamente novos conceitos e tecnologias”, a “capacidade de lidar com situações

novas e inusitadas”, passando pela formação acadêmica, o domínio de idiomas e o

exercício da liderança.

Embora os autores enfatizem que inexiste um consenso sobre o conceito de

competência, questionam o discurso das organizações ao cobrarem delas ações que

estabeleçam maior satisfação do trabalhador, e introduzam sua participação nas

decisões organizacionais, principalmente naquelas que os afetam.

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Storey (1995) citado por Sant’anna, Kilimnik e Castilho (2004), considera que

o reconhecimento das pessoas e suas competências está interligado à sofisticação

dos mecanismos de formas de controle, incluindo-se aquelas por contínua

atualização profissional, legitimadas por discursos como os da competitividade,

empregabilidade e competência, intensificando, desta forma, o volume de trabalho

imposto aos trabalhadores.

O enxugamento do quadro de pessoal pelas organizações, via terceirização –

a qual não tem, no Brasil, a mesma concepção que o keiretsu japonês – assinalou,

além do desemprego acentuado, a continuidade progressiva da precarização do

trabalho existente desde a década de 1970 no país (CARVALHO NETO, NEVES E

OLIVEIRA, 2002) . Tal situação coloca na berlinda a educação pública brasileira,

incapaz de responder adequadamente às necessidades de formação do trabalhador

contemporâneo.

Além das implicações evidentes da reestruturação produtiva, aglutinadoras de

inovações tecnológicas e gerenciais que provocam mudanças substanciais na

estruturação do processo de trabalho e em sua gestão, a discussão pública sobre a

inadequação de nossa mão de obra às exigências contemporâneas é fato relevante

no processo de análise do discurso (BALASSIANO, SEABRA E LEMOS, 2005).

2.3 Responsabilidade Social Empresarial: um novo discurso?

O surgimento da RSE remonta ao início do século XX com o filantropismo. A

partir de então, o conceito evoluiu para voluntariado empresarial, cidadania

corporativa, responsabilidade social corporativa e desenvolvimento sustentável.

Tenório (2004) considera que o esgotamento do modelo fordista e o aparecimento

da sociedade pós-industrial impulsionou o movimento, sendo incorporados aos

discursos empresariais os anseios da classe trabalhadora.

Soares (2002) também considera que a RSE ultrapassa os velhos conceitos

de proteção social paternalista e de cumprimento às exigências legais, avançando

na direção da promoção humana e do desenvolvimento da sociedade. É nesse

sentido que o Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial entende que a

empresa socialmente responsável deve ir além da conformidade legal.

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A RSE integra-se à Ética nos Negócios, com a introdução por Frederick

(1998) do conceito de ética à responsabilidade social das empresas, fazendo com

que essa associação estabeleça uma forma necessária de legitimação de práticas

organizacionais além do marketing social, fundado apenas em investimento privado

na área social, de forma pontual, às vezes até pirotécnica, aparentando dimensões

além do fato real.

Bullara (2003) contribui para o construto RSE ao considerar que a empresa

socialmente responsável é aquela que age com virtude, que desenvolve em seu

âmbito pessoas socialmente responsáveis, capazes de pensar e agir de forma a

fortalecer a cultura, não se limitando a dar vida a um projeto social ou a realizar

algumas ações de melhoria na transparência da gestão dos negócios, mas fazendo

com que responsabilidade social transcenda os limites da empresa.

Nesse contexto é que o Instituto Ethos de Responsabilidade Social

Empresarial estabelece o conceito de RSE:

“Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos

6 com

os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a

diversidade e promovendo a redução de desigualdades sociais.” (ETHOS,2009).

Mas como “medir” as práticas de RSE? Como verificar se demonstram

comprometimento com o trabalhador?

Visando oferecer subsídios para estas e outras questões, em junho de 2000 o

Instituto Ethos lançou os “Indicadores Ethos”, que se apresentam como instrumento

de avaliação e planejamento das ações socialmente responsáveis desenvolvidas

pelas organizações.

Os Indicadores Ethos foram estabelecidos a partir da análise de trinta e três

documentos escolhidos entre os inúmeros padrões, normas, referências e diretrizes,

inerentes à RSE, existentes no mundo, fruto do trabalho conjunto dos atores sociais

(empresas, governo e sindicatos dos trabalhadores) bem como de organismos

6 O Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial denomina “Público Interno” (stakeholders) os Trabalhadores de uma empresa.

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internacionais como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Organização

das Nações Unidas (ONU).

Esses documentos, por sua vez, estão contidos no Guia de Normas

Internacionais do Trabalho; na SA 8000 – Social Accountability 8000; nos Princípios

e Direitos Fundamentais do Trabalho e seu Seguimento; na OHSAS 18001 –

Occupational Health Safety Assessment Series e nas Diretrizes sobre Sistemas de

Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional (ILO - OSH 2001).

O Guia de Normas Internacionais do Trabalho foi elaborado em 1994 pela

OIT, dentro de uma estrutura tripartite, composta por representantes de governos,

empresários e trabalhadores de diversos países, sendo revisado no ano seguinte e

concluído em 2002. Assim como a RSE, sua aplicação é voluntária.

A SA 8000 – Social Accountability 8000 é uma norma internacional voltada

para as questões ligadas às relações de trabalho, criada em 1997 pela Social

Accountability International – SAI – em conjunto com empresas, sindicatos e ONGs.

Seu conteúdo está fundamentado nas Convenções da OIT, na Declaração Universal

dos Direitos Humanos e na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos da

Criança.

A Social Accountability International – SAI, é uma instituição que promove os

direitos humanos dos trabalhadores em todo o mundo. Conhecida por SA 8000 –

seu sistema internacional de gestão ética do trabalho está alinhado com os preceitos

da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da ONU, promovendo o aumento

da eficiência e produtividade do trabalhador, e reforçando a sustentabilidade das

empresas e da sociedade.

Os Princípios e Direitos Fundamentais do Trabalho e seu Seguimento estão

baseados na Declaração da Conferência Geral da OIT, por ocasião da octogésima

sexta reunião, em junho de 1998, em Genebra, na Suíça. O documento declara os

princípios a serem observados pelos países em relação à Liberdade Sindical,

Trabalho Forçado, Abolição do Trabalho Infantil e Eliminação da Discriminação. Sua

aplicação deve ser observada pelos países membros da OIT, embora seja

voluntária.

A OHSAS 18001 – Occupational Health Safety Assessment Series é uma

norma criada em 1999 por treze entidades de diversos países, voltada para a saúde

ocupacional, sendo também sua aplicação de caráter voluntário.

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As Diretrizes sobre Sistemas de Gestão de Saúde e Segurança Ocupacional

(ILO - OSH 2001) foram aprovadas pela OIT em junho de 2001, como resultado de

texto elaborado por experts da área, em virtude das consultas internacionais

ocorridas em encontro realizado em Genebra em abril do mesmo ano. Assim como

os demais documentos, sua aplicação é voluntária.

Desses documentos, foram selecionadas oitocentas e nove práticas,

separadas em sete áreas de abrangência de RSE: Direitos Humanos; Direitos das

Relações de Trabalho; Proteção das Relações de Consumo; Meio Ambiente; Ética e

Transparência; Diálogo/Engajamento com stakeholders e Governança Corporativa,

sendo caracterizados oito temas para a construção dos indicadores: Associação,

sindicalização e negociação coletiva; Não-discriminação; Trabalho forçado; Trabalho

infantil; Educação e desenvolvimento profissional; Remuneração justa; Respeito aos

direitos das relações de trabalho; Segurança, saúde e condições de trabalho.

Vale ressaltar que entre as questões prioritárias de maior mobilização e

articulação da sociedade em relação à expectativa de atendimento pelas empresas,

destaca-se a área dos Direitos das Relações de Trabalho, com 21% das oitocentas e

nove práticas de RSE, ou seja, aproximadamente 170 delas. Esses números

garantem-lhe o segundo lugar, apresentando-se em primeiro lugar aquelas afetas ao

Meio Ambiente, com 25% de representatividade.

No tocante aos Trabalhadores – visando direcionar as ações de RSE bem

como estabelecer parâmetros de comparação entre elas na aplicação pelas

organizações – foram concebidos treze Indicadores, distribuídos em três categorias,

a saber: Diálogo e Participação, representado pelos indicadores Relações com

Sindicato e Gestão Participativa; Respeito ao Indivíduo, representado pelos

indicadores Compromisso com o Futuro das Crianças, Compromisso com o

Desenvolvimento Infantil, Valorização da Diversidade e Promoção da Equidade

Racial e de Gênero, Compromisso com a Equidade Racial, Compromisso com a

Equidade de Gênero e Relações com Trabalhadores Terceirizados e Trabalho

Decente, representado por Política de Remuneração, Benefícios e Carreira,

Cuidados com Saúde, Segurança e Condições de Trabalho, Compromisso com o

Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade, Comportamento Frente a

Demissões e Preparação para a Aposentadoria.

Vale relembrar que o Instituto Ethos de Responsabilidade Social Empresarial

considera que os indicadores têm por objetivo subsidiar as empresas no

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acompanhamento e monitoramento de suas práticas de RSE, as quais não devem

se limitar a cumprir a legislação trabalhista e os padrões definidos pela OIT.

Considera, assim, que as organizações que se dizem socialmente responsáveis

devem comprometer-se com o investimento na capacitação e desenvolvimento

profissional de seus empregados, incentivando e custeando, total ou parcialmente, o

investimento relativo à educação profissional de seus empregados, explicitando o

indicador da seguinte forma:

“Para desenvolver seus funcionários, a empresa socialmente responsável deve promover capacitação contínua, oferecer bolsas de estudo para a aquisição de conhecimentos mais universais e com impacto positivo na empregabilidade de seus funcionários, e essas bolsas de estudo devem ser oferecidas para todos, sem distinção.” (ETHOS, 2009).

É o indicador “compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade”, integrante da categoria Trabalho Decente, o ponto de

convergência deste estudo.

Embora não represente um novo discurso no tocante aos reclames do

trabalhador, a RSE apresenta-se alvissareira na perspectiva de que o discurso é

uma iniciativa do empresariado.

A evolução histórica das relações de conflito entre capital e trabalho sempre

se deu por pressões sociais, sendo uma das principais características, no Brasil,

desta convivência, a herança escravocrata, que marcou de forma acentuada a

sociedade em suas formas de tratar e pensar seus trabalhadores (GOMES, 2002).

Se considerarmos a evolução dos movimentos sindicais (Oliveira e Mattoso,

1997) - com suas temáticas em períodos históricos definidos pelas necessidades da

classe trabalhadora à época - como parâmetro de análise da RSE, verificamos que o

movimento empresarial em torno da Responsabilidade Social Empresarial

apresenta-se como uma nova roupagem para velhos problemas de cidadania,

resgatando questões oriundas desde 1919, por exemplo, quando ocorreram greves

em vários estados do país pela jornada de trabalho de oito horas e melhores

salários.

Voltando no tempo, verificamos, entre 1900 e 1950, um período que foi palco

da busca de melhores condições salariais e de emprego pelos trabalhadores. A

tônica, ainda como reflexo do modelo de remuneração estabelecido pela revolução

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industrial, era a obtenção de um pagamento justo pelo trabalho executado. Insere-se

nessa época a crise da década de 1930 ocorrida nos EUA, que alerta os

trabalhadores para a necessidade da garantia de emprego. Os indicadores Ethos

“Política de Remuneração, Benefícios e Carreira” e “Comportamento Frente a

Demissões” abordam, hoje, tema similar às reivindicações da época.

Já de 1950 a 1960 os trabalhadores almejaram a satisfação no trabalho, em

contraposição às técnicas alienantes de produção adotadas, não só por seus

movimentos repetitivos, mas também e principalmente em função dos processos

administrativos estabelecidos de jornada de trabalho, turnos, rodízios e horários de

descanso. “Cuidados com a Saúde, Segurança e Condições de Trabalho” é o

indicador Ethos hoje utilizado para a questão levantada à época.

Podemos ainda citar o período de 1960 a 1980, em que predominou

reivindicações dos trabalhadores por participação nas decisões que afetam seu

status quo, em virtude das inovações tecnológicas e reestruturações produtivas

introduzidas pelas organizações. O indicador “Gestão Participativa” do Instituto

Ethos resgata esta questão tão atual.

É neste sentido que Carvalho Neto e Furtado (2007) consideram que a

maioria dos indicadores Ethos relativos às áreas de RTs e GP não se apresentam

como novidade, tratando-se de temas já presentes há muito na literatura destas

áreas. A novidade fica a cargo das políticas de RH presentes no discurso da RSE

das empresas que se dizem socialmente responsável, embora mantenham, ainda,

distância em relação à prática.

3 METODOLOGIA

Pretende-se com este trabalho analisar como os trabalhadores percebem o

discurso da RSE das organizações que se dizem socialmente responsáveis com

suas práticas de RTs e GP que corroboram ações com os trabalhadores, relativas ao

indicador Ethos de Responsabilidade Social Empresarial “compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade”.

Estas práticas atendem a característica necessária para análise, que é a de

serem comuns tanto ao tema Relações de Trabalho quanto ao de Gestão de

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49

Pessoas, independentemente da concepção dada pela organização às áreas,

encontrando-se assim expressas tanto nos Acordos Coletivos de Trabalho com os

sindicatos, quanto nos métodos cotidianos empregados na gestão de pessoas.

Nesse sentido, a presente pesquisa configura um estudo documental,

centrado em técnicas qualitativas de natureza exploratória.

Classifica-se como uma pesquisa de natureza qualitativa, já que permite obter

maior riqueza de informações e percepções desejadas pelo estudo em questão;

exploratória, por contemplar a análise documental (Dissertações de Mestrado), e

descritiva, por verificar as falas de empregados, executivos e dirigentes sindicais,

visto que o objetivo principal é o de proceder à investigação dos dados, segundo o

discurso dos membros das organizações.

A pesquisa qualitativa facilita a compreensão e a interpretação do contexto

estudado em função da interação propiciada ao pesquisador no desenvolvimento da

análise documental (MATTAR, 1999).

A natureza descritiva caracteriza-se por sua intenção de estabelecer relação

entre as falas e as ações expressas dos pesquisados, bem como de quantificar a

incidência da relação (CERVO, 1983).

A estratégia de pesquisa utilizada é de análise secundária, voltada à

observação comparativa entre dados levantados e reunidos por outros

pesquisadores (LEVIN e FOX, 2004).

Essa estratégia foi utilizada com o objetivo de permitir uma análise ampla

sobre o tema compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade

e de verificar o comportamento deste em relação às unidades de pesquisa.

Quanto à técnica de coleta de dados, foi utilizada a análise documental, que

caracteriza a análise secundária, a qual, de forma abrangente, focou oito

dissertações de Mestrado do Programa de Pós-Graduação da PUC Minas

desenvolvidas entre os anos de 2004 e 2008, no âmbito do NUPEGS – Núcleo de

Pesquisa em Ética e Gestão Social da PUC Minas, e que contemplam o tema

“compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade.

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50

3.1 Unidades de análise

O objeto do estudo consiste nas pesquisas desenvolvidas por então

mestrandos do Programa de Pós Graduação em Administração – PPGA da PUC

Minas, expressas em suas dissertações para obtenção do título de Mestre, durante

os anos de 2004 a 2008.

Para seleção das dissertações foram considerados os seguintes critérios:

1. aquelas cujos orientadores foram Carvalho Neto, Antônio Moreira de e/ou

Pena, Roberto Patrus Mundim;

2. que contemplavam o tema “compromisso com o desenvolvimento

profissional e a empregabilidade”;

3. estavam disponíveis no acervo da biblioteca digital da PUC Minas.

No total, foram analisadas 8 (oito) dissertações que abrangem, como objeto

de pesquisa, 09 (nove) empresas, 3 (três) sindicatos dos trabalhadores e 1 (um)

sindicato patronal. Uma das empresas, de saneamento básico, foi estudada por

duas pesquisadoras distintas. A amostra está assim distribuída:

1. COELHO, Helena Maria Queiroz. Gestão do Público Interno em duas

Empresas Filiadas ao Instituo ETHOS de Responsabilidade Social

Empresarial: Visão dos Trabalhadores, dos Gestores de Pessoas e dos

Sindicalistas. 2004

Indústria Alimentícia localizada no Estado de Minas Gerais

Empresa de Telefonia celular em Minas Gerais

2. FURTADO. Raquel Alves. Responsabilidade Social Empresarial com Público

Interno: a Percepção dos Empregados da PROMON. 2006

Promon Engenharia

3. MOLICA, Daniela Gomes. Responsabilidade Social Empresarial: o discurso e

a prática na negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores. 2006

Empresa de energia

Empresa de saneamento básico

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Sindicato dos Trabalhadores na empresa de energia – filiado à Central Única

dos Trabalhadores - CUT

Sindicato dos Trabalhadores na empresa de saneamento básico filiado à CUT

Sindicato dos trabalhadores em empresas de prestação de serviços – filiado à

CUT

Sindicato dos empregadores em prestação de serviços.

4. MATTONI, Lúcia Augusta Mota. Gestão do Público Interno e

Responsabilidade Social: um Estudo de Caso em uma Empresa Signatária do

Global Compact. 2007

Empresa do setor Siderúrgico de Minas Gerais

Utilizados, para efeito de comparação, dados de pesquisa do grupo NUPEGS

referentes às empresas:

Indústria mineradora em Minas Gerais

Empresa de telefonia celular em Minas Gerais

Indústria alimentícia sediada Minas Gerais

Indústria metalúrgica com unidade em Minas Gerais

Promon Engenharia (SP)

5. NAPOLEÃO, Raquel de Santana. A Percepção dos Gerentes e Trabalhadores

de uma Grande Empresa que se quer Socialmente Responsável sobre as

Ações Direcionadas ao Público Interno. 2007

Empresa de saneamento

6. SANTOS, Cláudio Tadeu Berkelmas dos. A Responsabilidade Social

Empresarial de um Banco de Investimento sob a Ótica de seu Público

Interno no Brasil e na Argentina. 2007

Banco de Investimento, em suas unidades no Brasil e na Argentina.

7. NAGLI, Luiz Sérgio Dutra. Responsabilidade Social Empresarial com os

Trabalhadores e Gestores de uma Empresa Metalúrgica. 2008

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Empresa Metalurgica

8. PEREIRA, Antonio Augusto Ribeiro. Responsabilidade Social Empresarial

com público interno: percepção dos funcionários e gerentes em empresa de

médio porte vencedora do Prêmio SESI de Qualidade no Trabalho. 2008

Açoforja S.A.

Considerando o objeto de pesquisa e os dados disponíveis, elaborou-se

análise comparativa entre os resultados apresentados pelos pesquisadores em suas

oito dissertações, em confronto com leitura crítica realizada à luz dos construtos RTs

e GP desenvolvidos no referencial teórico deste trabalho. Desta fora, duas etapas

foram cumpridas:

1. Análise das ações de RSE, relativas ao compromisso com o desenvolvimento

profissional e a empregabilidade, desenvolvidas pelas organizações estudadas e,

2. Análise da percepção dos trabalhadores das organizações estudadas em relação

às práticas voltadas para o desenvolvimento profissional e a empregabilidade.

Sendo ainda pretensão desta dissertação estabelecer elementos de reflexão entre

os construtos RSE, RTs e GP, acrescentou-se ao presente estudo o

estabelecimento de relações entre as ações de RSE com os trabalhadores, relativas

ao compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade,

desenvolvidas pelas organizações pesquisadas.

3.2 Análise dos dados

Este tópico está composto de forma a permitir a análise comparativa entre os

resultados apresentados pelos pesquisadores em suas oito dissertações, em

confronto com leitura crítica realizada à luz dos construtos RTs e GP desenvolvidos

no referencial teórico deste trabalho.

Estabeleceu-se como estratégia de análise: salientar os pontos relevantes

para a discussão realizada sobre os construtos RTs e GP do embasamento teórico

desenvolvido pelos pesquisadores; evidenciar os dados demográficos da amostra

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53

que influenciam a postura da empresa objeto de cada estudo e apresentar os

principais dados conclusivos considerados no resultado dos oito trabalhos.

Concomitantemente, proporcionou-se, sob outra ótica, a leitura dos dados, embora

uma analise mais abrangente seja apresentada nas considerações finais.

Para maior compreensão do contexto dos dados considerados e das análises

efetuadas, apresentamos a seguir, em ordem cronológica, quadro síntese das oito

pesquisas de referência utilizadas neste trabalho.

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QUADRO 1: Detalhamento das pesquisas de referência

AUTOR / DATA

OBJETIVO

METODOLOGIA UTILIZADA

EMPRESA(S) PESQUISADA(S)

AMOSTRA

Coelho (2004)

Analisar as práticas

gerenciais, no que diz respeito às relações de

trabalho com os funcionários, desenvolvida

por duas empresas privadas, filiadas ao Instituto Ethos de responsabilidade

Social

Estudos de casos múltiplos,

de natureza descritiva, quantitativa

Indústria Alimentícia Minas

Empresa telefonia celular Minas

Empresa A = 130 funcionários (20%) Empresa B = 254 funcionários (20%) Empr. A Empr. B

Gerência 0,8 % 2,2 % Supervisão 11,6 % 7,8 % Administrativo 15,5 % 13,4 % Produção 72,1 % 76,6 %

Furtado (2006)

Compreender o discurso da RSE com o público interno e avaliar essa prática em uma

empresa específica, do ponto de vista dos

empregados

Três instrumentos de coleta

de dados: Pesquisa quantitativa com uma amostra significativa de empregados;

uma entrevista com a Diretora de RH e três grupos de foco com empregados de diversos

níveis hierárquicos

PROMON Engenharia

180 entrevistados sendo: Diretores e Gerentes 20% Supervisores 25% Técnicos 23% Vendedores 1% Administrativos 17% Operacionais 11% Terceirizados 1% Não respondeu 2% Estagiários 0%

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AUTOR / DATA

OBJETIVO

METODOLOGIA UTILIZADA

EMPRESA(S)

PESQUISADA(S)

AMOSTRA

Molica (2006)

Verificar como a negociação coletiva entre trabalhadores

e empregadores está refletindo o discurso da RSE no tocante ao público interno

Estudos de casos múltiplos (3), centrados em técnicas qualitativas, de natureza

descritiva

Empresa de energia;

Sindicato dos trabalhadores na empresa de energia

elétrica; Empresa de saneamento

básico; Sindicato dos trabalhadores na empresa de saneamento

básico; Sindicato dos empregadores

– serviços; Sindicato dos trabalhadores em empresas de serviços

Dir. Gestor Pres. Superint. Empresa A – energia reg. Sudeste - 2 - - Sindicato A CUT 3 - - - Empresa B San. Básico - 2 - - Sindicato B CUT 2 - 1 - Sindicato Empregadores serviços 1 - - 1 Sindicato C 2 - 1 -

Mattoni (2007)

Analisar a percepção sobre

as práticas gerenciais voltadas ao público interno,

desenvolvidas por uma empresa privada signatária

do Programa Global Compact

Estudo de caso único de

natureza descritiva, quantitativa

Indústria siderúrgica de

Minas Gerais

87 questionários da amostra obtida, sendo; Supervisão 21% Administrativos 10% Produção 64% Missing 5%

Napoleão (2007)

Analisar a percepção dos

gerentes e trabalhadores a respeito da RSE direcionada

ao público interno, numa empresa que se quer

socialmente responsável

Pesquisa Survey, quantitativa

Empresa de saneamento

básico

247 trabalhadores (90% acima de 3 anos e 72% com mais de 10 anos de empresa): gerentes 17 (7%) administrativos 146 (59%) operacional 74 (30%) em branco 10 (4%)

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AUTOR / DATA

OBJETIVO

METODOLOGIA UTILIZADA

EMPRESA(S)

PESQUISADA(S)

AMOSTRA

Santos (2007)

Avaliar a percepção do público interno de um Banco de Investimento Americano no Brasil e na Argentina, sobre as práticas de RSE praticadas pelo (B)banco

Pesquisa predominantemente quantitativa e descritiva com suporte qualitativo

Banco de Investimento: unidades Brasil e Argentina

63% dos empregados, sendo: Brasil Argentina Diretores/Gerentes 18% 15% Supervisores 30% 36% Analistas 38% 39% Administrativo 7% 5% Operacional 6% 4% Terceirizados 1% 1% Total 409 187

Nagli (2008)

Analisar a percepção dos

gestores e trabalhadores em relação às iniciativas de RSE endereçadas ao

público interno e, se há diferença de percepção

entre os dois grupos

Estudo de caso de natureza

descritiva: questionário fechado aplicado a

empregados e gerentes, quantitativa

Empresa de Metalurgia e

Mineração

616 questionários - 77% dos empregados GESTORES (Superintendente, Gerentes e Chefes Departamento) 24 respondentes TRABALHADORES (Chefes Setor, Técnicos, Administrativo e Operacional) 592 respondentes

Pereira (2008))

Analisar a percepção do público interno (empregados e gestores) com relação à gestão de RSE direcionada aos mesmos

Estudos de caso de natureza

descritiva: pesquisa documental, questionários

fechados e entrevistas semi-estruturadas (pontuais);

quantitativas

Açoforja SA - vencedora do prêmio SESI de Qualidade no Trabalho

261 empregados (77,68%) do quadro e 4 Gerentes entrevistados % Supervisor 16 6,0 Operacional 120 45,3 Administrativo 41 15,5 Técnico 48 18,1 Estagiário 17 6,4 Terceirizado 19 7,2 Gerente 4 1,5 Total 265 100,0

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Coelho (2004) trata em sua dissertação do tema “compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade” sob a ótica dos Indicadores

Ethos: Concessão de bolsa de estudo e Treinamento como atividade de

capacitação e desenvolvimento, salientando que “Para investir nas pessoas, uma

das mais poderosas ferramentas de transformação nas organizações é o

treinamento e capacitação de pessoal”. (pg. 71).

Essa concepção é enriquecida com as contribuições, principalmente de

Ulrich (2002) e Cardoso (2002), salientando este último que a atividade de

treinamento é uma estratégia de crescimento organizacional, uma vez que

empregados pouco qualificados produzirão resultados (produtos) pouco

competitivos.

Já Ulrich (2002) apud Coelho (2004) em relação aos tipos de atividades de

treinamento desenvolvidos pelas empresas, salientando suas três concepções

básicas: a empresa prepara cursos modelados segundo as necessidades dos

empregados em cada estágio de suas carreiras; as pessoas aprendem fazendo e,

ao se defrontarem com novos desafios de trabalho, aprendem com a experiência;

e aquisição de competência por meio de atividades de treinamento voltadas para

um problema empresarial concreto. Importante ressaltar que esses três aspectos

considerados direcionam-se à necessidade da empresa, não do trabalhador como

cidadão.

Ao pesquisar o tema, Coelho (2004) considerou o posicionamento do

Instituto Ethos, em consonância com os princípios da Agenda Global Compact da

ONU, que consideram que a empresa socialmente responsável deve promover

capacitação contínua de seus empregados, bem como oferecer bolsas de estudo

a todos eles, sem distinção, para a aquisição de conhecimentos mais universais e

com impacto positivo na empregabilidade. (p. 72)

A empresa industrial pesquisada por Coelho (2004) possui 650 (seiscentos

e cinquenta) empregados que trabalham em fábrica situada no interior do Estado

de Minas Gerais. Oferece cursos de profissionalização em mecânica e

eletroeletrônica, em parceria com o SENAI, para os adolescentes da comunidade,

além de creche, inaugurada em 2002, para 80 crianças que moram em bairro

carente da cidade.

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Já a empresa de telefonia celular possui 2.919 empregados no Estado de

Minas Gerais, sendo estimada a participação no mercado em que atua em 58%.

Possui um Instituto de Desenvolvimento Social, e a empresa se diz socialmente

responsável por meio da atuação em projetos ligados ao Estatuto da Criança e do

Adolescente, atuando na criação e no fortalecimento de Conselhos Tutelares e de

Conselhos Municipais de Direito, contando com parceiros do porte da UNICEF e

do Ministério Público de Minas Gerais.

O quadro a seguir apresenta uma síntese da caracterização da amostra

analisada pela pesquisadora, por ser representativo o perfil delineado e permitir

algumas considerações preliminares sobre o resultado apurado.

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QUADRO 2: Caracterização da amostra de pesquisa – Coelho (2004)

EMPRESA(S) PESQUISADA(S)

AMOSTRA

A- Indústria alimentícia de Minas Gerais B- Empresa de telefonia celular em Minas Gerais

Empresa A = 130 funcionários (20%) Empresa B= 254 funcionários (20%)

Empresa A Empresa B

Gerência 0,8 % 2,2 % Supervisão 11,6 % 7,8 % Administrativo 15,5 % 13,4 % Produção 72,1 % 76,6 %

Fonte: dissertação da autora (COELHO, 2004)

Empresa Indústria alimentícia de Minas Gerais

ESTADO CIVIL

ESCOLARIDADE

IDADE

SEXO

TEMPO DE EMPRESA NÚMERO DE FILHOS

Casado 63,6% Solteiro 33,3% Separado 3,1%

1º Grau 29,5% 2º Grau 55,7% Univ. Incompl. 10,1% Univ. Compl. 4,7%

Entre 0 e 20 anos 2,3% Entre 21 e 30 anos 43,0% Entre 31 e 45 anos 42,2% Acima de 45 12,5%

Masculino 63,1%

Feminino 36,9%

Abaixo de 2 anos 20,0% 2 a 5 anos 23,1% 5 a 15 anos 40,0% Acima de 15 anos 16,9%

Nenhum 32,3% 1 ou 2 56,2% 3 ou 4 1,5%

Fonte: dissertação da autora (COELHO, 2004)

Empresa de telefonia celular em Minas Gerais

ESTADO CIVIL

ESCOLARIDADE

IDADE

SEXO

TEMPO DE EMPRESA

NÚMERO DE FILHOS

Casado 21,0% Solteiro 73,1% Separado 5,4% Viúvo 0,5%

1º Grau 2º Grau 41,9% Univ. Incompl. 44,1% Univ. Compl. 1 4,0%

Entre 0 e 20 anos 11,8% Entre 21 e 30 anos 70,4% Entre 31 e 45 anos 15,1% Acima de 45 2,7%

Masculino 41,1%

Feminino 58,9%

Abaixo de 2 anos 49,5% 2 a 5 anos 37,0% 5 a 15 anos 11,4% Acima de 15 anos 2,2%

Nenhum 79,1% 1 ou 2 20,4% 3 ou 4 0,5%

Fonte: dissertação da autora (COELHO, 2004)

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Baseada nos resultados de sua pesquisa, a autora conclui que: “Podemos

constatar que as duas empresas pesquisadas oferecem treinamento para seus

funcionários, mas somente no que diz respeito ao desempenho de suas tarefas” (p.

127). Entretanto, cabe ressaltar que a empresa industrial alimentícia segue os

parâmetros eleitos pelo Instituto Ethos em suas ações de capacitação, no tocante ao

objetivo da empregabilidade, enquanto a de telefonia, não.

A conclusão da autora encontra justificativa nos dados demográficos das

empresas pesquisadas, os quais estabelecem o perfil padrão de seu trabalhador.

Enquanto o trabalhador da indústria alimentícia caracteriza-se como “homem,

casado, dois filhos, com idade entre 21 e 45 anos, possuindo o 2º grau e entre 5 e

15 anos de empresa”, a empresa de telefonia celular emprega “mulheres, solteiras,

sem filhos, com idade entre 21 e 30 anos, curso universitário incompleto e menos de

2 anos de empresa”.(Coelho, 2004)

Robbins (2005), baseado em pesquisas7, considera que “quanto maior a

idade e o tempo de empresa, menor a probabilidade de que a pessoa deixe o

emprego”, pois busca a estabilidade. Cita ainda que os referidos estudos indicam

relação positiva entre idade e satisfação no trabalho. (p.33)

Considerando que o quadro apresentado por Robbins (2005) é uma

característica da indústria alimentícia analisada, justifica-se, neste contexto, o fato de

a empresa oferecer para os empregados somente treinamento voltado para o

desempenho de suas tarefas - não se preocupando com a formação profissional e a

empregabilidade no sentido lato da expressão, por considerar que os empregados

ali permanecerão até a aposentadoria, além do que sua posição geográfica, interior

de Minas Gerais, sugere poucas oportunidades de trabalho, dificultando ainda mais

o turnover espontâneo.

Por outro lado, o fato de a empresa disponibilizar cursos profissionalizantes

em mecânica e eletroeletrônica para a comunidade, permitindo oportunidades de

trabalho aos jovens – o que é louvável, dada a carência de formação profissional

local – pode também ser vista, em uma concepção macro do sistema de conflito

entre capital e trabalho, como uma ação estratégica de formação de mão de obra

abundante, o que permite pressões psicológicas sobre os trabalhadores e instiga a

competição entre colegas, conforme preconizado por Enriquez (1999).

7 S.R. Rhodes, Age-related differences in work attitudes and behavior: a review and conceptual analysis. Psychological Bulletin, mar. 1983, p.328-367.

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Já a empresa de telefonia, ao contrário, formando seu quadro de empregados

com jovens, sem compromissos familiares e com escolaridade em formação,

alicerça na rotatividade inerente a esse público (Robbins, 2005), o não

comprometimento com o desenvolvimento profissional, uma vez ser característico

desse perfil – conforme discurso neoliberal da empregabilidade – a troca de

emprego para aquisição de experiência e obtenção de diferencial competitivo. Cabe

ressaltar que, embora a empresa ofereça treinamento para os empregados, estes se

restringem ao aperfeiçoamento no trabalho.

Importante reiterar que enquanto a indústria alimentícia busca atender, ainda

que de modo pontual, os parâmetros de empregabilidade através da capacitação

profissional, a empresa de telefonia desconsidera tal questão, posicionando-se de

forma mais próxima ao discurso neoliberal da empregabilidade.

Furtado (2006) define como objetivo de sua pesquisa “analisar a percepção dos

empregados de uma das empresas que figura no ranking da Revista Exame

Melhores para Trabalhar, a Promon, em relação à Responsabilidade Social

Empresarial com o Público Interno”.

Até 2004, a Promon era uma das únicas três empresas que se mantinham no

Guia8 por nove anos, desde o início da publicação, várias vezes figurando entre as

10 melhores. No Guia de 2005, editado após o término da pesquisa de campo, a

Promon conquistou o primeiro lugar nesse ranking.

Destaca a autora que, entre os motivos que a levaram a escolher a

PROMON, está o singular fato de que 65% dos empregados, à época da pesquisa,

detivessem ações da empresa, e que todos eles tinham poder de voto para eleição

do Presidente da organização, fato que torna esta empresa singular no país.

Furtado (2006), ao tratar o tema “compromisso com o desenvolvimento

profissional e a empregabilidade”, busca em Galvão e Trindade (1999) a justificação

da necessidade de as empresas apoiarem programas de capacitação, qualificação e

desenvolvimento de seus empregados, concomitantemente com a concepção de

que estes desenvolvem tarefas múltiplas no dia a dia do trabalho, sustentando em

8 Melhores Empresas para Trabalhar – Revista Exame

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Arruda e Navran (2000) a concepção de que é de interesse do trabalhador buscar

atualização contínua, o que merece apoio das empresas.

Mas é em Barlett e Goshal (2000) que a visão da RSE ganha peso ao

considerarem que não é suficiente treinar os empregados somente em habilidades

ligadas às suas tarefas. Para os autores, as empresas devem investir no

crescimento pessoal e profissional de forma ampla, criando compromisso com a

empregabilidade das pessoas, tornando-as capazes de assumir novas

responsabilidades, crescerem profissionalmente e se recolocarem no mercado de

trabalho, caso necessário.

Baseado nos resultados da pesquisa a autora apresenta sua análise a partir

de comentários comparativos entre os índices de discordância e concordância

apurados nos quesitos das diversas categorias. Aponta, em relação ao

“compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade”, que o

índice de discordância da amostra pesquisada é superior ao de concordância quanto

à distribuição de bolsas de estudo (FURTADO, 2006).

Frisa que, em relação à distribuição de bolsas de estudo para obtenção de

conhecimentos extra função, o resultado apresenta variações significativas:

“o índice de concordância cai dos Diretores aos Administrativos (de 36% para 10%), mas volta a subir no nível Operacional (40%). (p.115)

e conclui:

“Isso demonstra que, embora a empresa tenha a prática de incentivar o desenvolvimento profissional do empregado, ela ainda não chegou ao ponto máximo dentro dos preceitos da RSE com Público Interno (PI), de apoiar o desenvolvimento como contribuição à sociedade, e não em seu próprio interesse.” (Furtado, 2006, p.117)

A variação observada – principalmente no tocante ao índice alcançado nos

cargos de nível operacional – pode também ser justificada em Cardoso (2002), que

salienta a atividade de treinamento como uma estratégia de crescimento

organizacional, uma vez que empregados pouco qualificados produzirão resultados

pouco competitivos.

Assim posto e considerando o perfil genérico da mão de obra operacional em

empresas de engenharia, embora seja uma ação elogiável, apresenta características

de elevação dos empregados a patamares “condizentes” com o título que a empresa

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sustenta, onde a escolaridade formal apresenta-se como diferencial competitivo para

criação da imagem, tornando assim importante para a organização oferecer bolsas

de estudo para os trabalhadores.

Furtado (2006), pesquisando empresa em evidência na mídia devido à sua

reputação “Melhor Empresa para trabalhar” – que induz à concepção de “empresa

voltada para os empregados”, encontra resultado alinhado à imagem criada. Os

dados apresentados, principalmente pela ausência dos demográficos, não permitem

análise complementar, além da proporcionada pela autora.

Molica (2006) estabeleceu como objetivo de pesquisa “verificar como a negociação

coletiva entre trabalhadores está refletindo o discurso da RSE no tocante ao público

interno” (p.12), analisando para tanto as três ultimas negociações coletivas firmadas

entre as empresas pesquisadas e os sindicatos de classe respectivos, cujo critério

de escolha foi: “dentre os mais atuantes na região metropolitana de Belo Horizonte,

no tocante às ações sindicais”. (p.75)

Para efeito de composição e posterior comparação dos resultados, a

pesquisadora decompôs “por caso” o agrupamento das entrevistas realizadas com

gestores das empresas e das entidades de classe afins, ficando assim distribuídas:

QUADRO 3: Amostra da pesquisa

CASO INSTITUIÇÃO STATUS ENTREVISTADOS

A

Sindicato A Trabalhadores Empresa A

Diretor Gestor

3

2

B

Sindicato B Trabalhadores Empresa B

Presidente Diretor Gestor

1 2

2

C

Sindicato C Trabalhadores Sindicato Patronal

Presidente Diretor Superintendente Diretor

1 2

1 1

Fonte: Molica (2006)

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Molica (2006), ao tratar o tema “compromisso com o desenvolvimento

profissional e a empregabilidade”, esclarece em Argyris (1992), Fleury (1997) e

Davel e Vergara (2001) a concepção usual de que as empresas devem investir em

treinamento e capacitação profissional de seus empregados como forma de ganhos

de produtividade e estabelecimento de diferencial competitivo. Mas em Carrieri e

Sarsur (2002) a autora contrapõe outra visão do tema, evidenciando que, embora a

empregabilidade seja “vista como a capacidade do trabalhador de assegurar um

emprego, frente às novas exigências das organizações” (p.68), outros “entendem a

empregabilidade como uma estratégia adotada pela alta gestão para transferir a

responsabilidade da organização pela não contratação ou demissão para o

trabalhador” (p.68) e que “nesse sentido, é alvissareiro o discurso da RSE, que

assume parte da responsabilidade pelo desenvolvimento da carreira como sendo da

empresa”. (p.69)

O resultado geral obtido pela pesquisadora em relação ao compromisso com

o desenvolvimento profissional e a empregabilidade está sintetizado também “por

caso”, sendo que denominamos “ponto” e “contraponto” o posicionamento das

empresas e dos sindicatos, respectivamente.

QUADRO 4: Resultado de pesquisa

CASO

PONTO

CONTRAPONTO

A

A empresa considera que valoriza e auxilia os empregados, em programas de mérito e promoções, subsidiando os programas de treinamento e desenvolvimento.

O sindicato considera que os empregados não se sentem valorizados e que a empresa exige em demasia habilidades pessoais e sociais, além de dedicação, aprendizado contínuo e comprometimento com os valores organizacionais.

B

A empresa tem por crença a necessidade de treinar e capacitar seus empregados para que se sustentem no mercado competitivo, desenvolvendo ações de crescimento profissional, integração social e resgate da cidadania.

O sindicato entende que a empresa adota postura condizente com o cenário atual, embora considere que “diante das mudanças nos padrões de emprego, a certeza de fazer carreira, em organizações estáveis, de forma linear e segura, transforma-se em ilusão.” (p.113)

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65

C

O sindicato patronal considera que o mercado exige profissionais cientes de seu papel e que as empresas do segmento têm feito altos investimentos em cursos de capacitação profissional.

O sindicato dos trabalhadores discorda quanto aos investimentos declarados, esclarecendo que “os cursos de aperfeiçoamento profissional são iniciativa e custeado pelos próprios profissionais”. (p.114)

Fonte: Molica (2006)

A pesquisadora, baseada nas entrevistas e nas análises documentais,

conclui:

QUADRO 5: Achados de Pesquisa

CASO CONCLUSÃO

A

“o discurso dos gestores entrevistados, enfático, contradiz a análise documental, que mostra, pelo menos no nível do que foi acordado em negociação coletiva, pequenos avanços.” (p.112) e “os dirigentes sindicais criticaram a postura da empresa quanto ao desenvolvimento profissional e, no entanto, reivindicaram apenas uma cláusula de manutenção de empregos. Portanto, há que se relativizar a crítica dos dirigentes do sindicato, que não se mostraram sequer interessados em reivindicar algo em relação ao desenvolvimento profissional.” (p.112)

B

Há menção que “o sindicato reivindicou a estabilidade no emprego, mas essa cláusula não foi acordada.” (p.113)

C

“Pela análise documental dos acordos e convenções coletivas, não há cláusulas concedidas pelo Sindicado de Empregadores que justifiquem sua fala. Apesar de o Sindicato de Empregadores e do Sindicato de Trabalhadores não terem reivindicado e acordado cláusula sobre o desenvolvimento profissional e a empregabilidade, há em comum, entre os entrevistados (sindicado de trabalhadores e empregadores), a preocupação de discutir tais questões.” (p.114)

GERAL

“As empresas e os sindicatos pesquisados não perceberam, mais uma vez, a relação das cláusulas acordadas com o indicador compromisso com o desenvolvimento profissional e com a empregabilidade, mas mantêm cláusulas que contemplam os indicadores do Instituto Ethos de Responsabilidade Social para o público interno nessa área.” (P.114)

Fonte: Molica (2006)

Molica (2006), em trabalho mais abrangente, oferece dados que extrapolam o

ambiente organizacional, sendo o único, entre os oito estudados, que permite

análise em níveis meso e macro das relações de trabalho.

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66

A fundamentação teórica apresentada pela autora instiga a pensar o

compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade além dos

muros das organizações, ao contrapor interpretações distintas para a

empregabilidade como: formação pessoal, auto-desenvolvimento e como estratégia

empresarial, esta última definida por Enriquez (1999) como psicologização da

sociedade.

Neste contexto, as análises apresentadas em “ponto” e “contraponto”, bem

como as conclusões estabelecidas, falam por si sós, sendo importante, entretanto,

destacar:

No caso A, embora o sindicato conteste as ações da empresa em relação ao

desenvolvimento profissional, não transformou a questão em uma reivindicação,

limitando-se a tradicional “manutenção do emprego” como bandeira de luta. Se de

um lado a empresa incorpora o discurso neoliberal da empregabilidade, por outro, os

dirigentes sindicais entendem que a empregabilidade refere-se à manutenção do

emprego na empresa atual.

No caso B, o sindicato não contesta as ações da empresa, o que denota ou

concordância ou desconhecimento mais profundo sobre o tema. Se a primeira

hipótese é a verdadeira (destacamos que a fala do sindicato é de “que a empresa

adota postura condizente com o cenário atual”), podemos inferir uma justificação

pelos dados demográficos da população analisada em Napoleão (2007), que,

pesquisando a mesma empresa, identificou o perfil “acima de 41 anos, escolaridade

equivalente ao ensino médio e com mais de 20 anos de empresa”, que em Robbins

(2005) apresenta-se como público que tende a apresentar maiores índices de

satisfação no trabalho e mesmo de acomodação. Mas se é a segunda a hipótese

verdadeira (a ênfase da empresa está na “qualificação da força de trabalho”), o

discurso neoliberal da empregabilidade, a exemplo do caso A, faz-se presente.

Também aqui o sindicato limitou-se a negociar, sem obter sucesso, cláusula relativa

a “manutenção do emprego”, sendo ilustrativa a fala do dirigente sindical: “diante das

mudanças nos padrões de emprego, a certeza de fazer carreira, em organizações

estáveis, de forma linear e segura, transforma-se em ilusão.” (p.113)

Em ambos os casos, o compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade é tratado pelos atores sociais na visão da GP, em nível micro – o

das organizações – e esta visão até certo ponto reducionista do tema explica os

posicionamentos adotados.

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67

O caso C, por sua vez, retrata uma realidade inferida em diversas pesquisas –

de que o discurso entre empresa e trabalhadores guarda relativa distância.

Os três casos corroboram a conclusão da pesquisadora de que empresas e

sindicatos não percebem o acordo coletivo como um lócus de solução de conflitos

entre as partes, negligenciando dessa forma o estabelecimento de pacto que atenda

o escopo da RSE no tocante ao Indicador Ethos analisado. Cabe aqui considerar

Lodi (2008), quando salienta que a atuação do sindicato em relação à RSE é

fundamental para nortear suas ações, evitando tomadas de decisão empresarial

unilaterais, como nos casos de elaboração dos códigos de ética, por exemplo, nos

quais não se encontram indícios de RSE com o público interno.

Essa visão reducionista, que trata em nível micro – para dentro das

organizações – a gestão dos conflitos entre empregadores e empregados, não

oportuniza o pleno atendimento ao quesito “compromisso com o desenvolvimento

profissional e a empregabilidade”, uma vez que este se refere, em sua essência, ao

campo das políticas sociais – nível macro das RTs e não simplesmente laborais –

nível micro, ou das organizações.

Mattoni (2007) estabeleceu como objetivo de sua pesquisa “analisar a percepção

sobre as práticas gerenciais voltadas ao público interno, desenvolvidas por uma

empresa privada signatária do programa Global Compact.”

A agenda Global Compact foi introduzida no cenário da RSE na década de

1990, quando o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Kofi

Annan, solicitou aos dirigentes do mundo dos negócios que aplicassem um conjunto

de nove princípios sobre os direitos humanos, trabalhistas e questões ambientais.

Em 2004, um décimo princípio (contra a corrupção) foi acrescentado.

A autora desenvolveu um estudo de caso adotando técnicas diversificadas de

coleta de dados, que foram da análise documental à aplicação de questionários,

passando por entrevistas semiestruturadas. Dentre estas, as desenvolvidas com o

gestor de recursos humanos e com o dirigente sindical da entidade de classe não

foram exploradas em maior profundidade de forma a permitir análise em nível meso

das RTs. A pesquisa constituiu-se basicamente em quantitativa.

. A identificação da amostra que se segue oferece elementos para efeito de

análise.

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QUADRO 6: Amostra de pesquisa

SEXO

IDADE

ESTADO CIVIL

FILHOS

Masculino Feminino

92%

7%

0___ 20 a. 21 ___ 30 a. 31 ___ 45 a. > 45 a.

5%

18%

21%

54%

Casado Solteiro Separado

78%

17%

3%

Nenhum 1 ou 2 3 ou 4 > 4

18%

48%

31%

2%

Fonte: Mattoni (2007)

QUADRO 6.1: Amostra de pesquisa

Fonte: Mattoni (2007)

Mattoni (2007) trata o tema “compromisso com o desenvolvimento profissional

e a empregabilidade” de forma breve e pontual, sob a ótica de que “Para investir nas

pessoas, uma das mais poderosas ferramentas de transformação nas organizações

é o treinamento e a capacitação de pessoal.” (p.38), estabelecendo em Ulrich (2002)

e Caseli (1997) apud Pena et al. (2004), respectivamente, suas referências, bem

como na definição do tema dada pelo Instituto Ethos:

“Para desenvolver seus funcionários, a empresa socialmente responsável deve promover capacitação contínua, oferecer bolsas de estudo para a aquisição de conhecimentos mais universais e com impacto positivo na empregabilidade de seus funcionários, e essas bolsas de estudo devem ser oferecidas para todos, sem distinção.” (ETHOS, 2009).

ESCOLARIDADE

TEMPO DE EMPRESA

Ensino Fundamental Ensino Médio Universitário Incompleto Universitário Completo

14%

67%

15%

2%

< 2 anos 2 _______ 5 anos 5 ______ 15 anos > 15 anos

10%

5%

16%

67%

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Em sua dissertação, a autora agrega pesquisa desenvolvida pelo grupo

NUPEGS9, apresentando os resultados obtidos em 5 (cinco) empresas, expressos

pela avaliação relativa à aderência dos itens pesquisados aos preceitos da RSE;

estes estabelecidos em conformidade com a correlação encontrada entre o discurso

da empresa e a percepção dos pesquisados, conforme modelo proposto por Pena et

al. (2005).

Denominada Empresa F, a organização objeto da pesquisa desenvolvida por

Mattoni (2007) foi também classificada em consonância com os critérios acima

descritos, permitindo comparação de seu posicionamento em relação a um grupo de

empresas, sendo classificada no 10 nível: indicadores de RSE que apresentaram

maior aproximação entre os princípios afirmados pela empresa e a prática percebida

pelos trabalhadores.

O grupo focal e o gestor de recursos humanos da empresa, tanto quanto o

dirigente sindical da entidade de classe representativa da maioria dos trabalhadores,

corroboraram o resultado obtido pela pesquisadora, embora seja ilustrativa a análise

de algumas falas, que sugerem, à luz do construto RTs, outras interpretações. Os

integrantes do grupo focal, por exemplo, quando destacam a amplitude do plano de

capacitação da empresa e a oportunidade de autodesenvolvimento dos

empregados, encerram afirmando, textualmente: “Oferece-se muito, mas não é o

que se quer. Cursos específicos não são oferecidos. Mas o core businness é

totalmente atendido. O foco é nas competências profissionais.” (p.130)

Outro exemplo é o dirigente sindical, que concorda quanto à abrangência dos

treinamentos oferecidos pela empresa, mas considera que “A maior reclamação na

empresa hoje é de formação universitária, de formação secundária, fora do ambiente

da usina”. (p.131)

Essas duas colocações indicam/sugerem que o tema “compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade” é entendido e tratado no

horizonte interno da organização, não contemplando a amplitude proposta por uma

visão mais afinada com os contextos expressos à organização como na RSE e nas

RTs. Esse fato é evidenciado por não haver no corpo do trabalho qualquer menção

de que os indicadores de RSE sejam contemplados nas negociações coletivas de

trabalho - as quais não foram objeto de análise documental e tampouco constam da

9 Núcleo de Pesquisa em Ética e Gestão Social da PUC Minas coordenado pelo Programa de Pós

Graduação em Administração

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70

fala do dirigente sindical que não esboça a ocorrência de tal preocupação. A

propósito da relação entre os atores sociais empresa e sindicato dos trabalhadores,

na forma apresentada pela pesquisadora, parece ser de mútua cooperação.

O fato de tal relação é marcante, na medida em que reforça o posicionamento

de Kochan, Katz e McKersie (1986), que consideram que o elemento relevante no

processo de relações de conflito e poder entre os atores sociais são suas escolhas

estratégicas.

Neste sentido, o sindicato dos trabalhadores pesquisado faz sua escolha

estratégica ao optar pelo relacionamento de convivência cooperativa com a

empresa, mantendo o conflito inerente à relação entre empregador e empregado no

nível latente. Para tanto, considera o âmbito interno da empresa como o lócus

satisfatório para tratar o tema compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade, em detrimento do nível meso das relações de trabalho, onde se dá

a negociação entre os atores sociais empregador e empregado.

Esta privatização das relações de trabalho é considerada por Neves (1999),

uma fragilização do papel do sindicato como representante coletivo dos interesses

dos trabalhadores, situação que relativiza as ações de cidadania e a própria RSE.

Baseado nos resultados obtidos, a pesquisadora conclui por classificar a

empresa no 1º nível em relação ao grau de aderência à RSE uma vez que “além de

haver coerência nas informações de todos os atores, a empresa de fato prioriza e se

compromete com o desenvolvimento profissional”. No entanto 62% dos

respondentes negam o fato de a empresa oferecer bolsas de estudo para aquisição

de conhecimentos fora da sua função atual.

A pesquisa de Mattoni (2007), ao apresentar dados demográficos da empresa

pesquisada, permite ainda algumas inferências quando analisada sob a ótica de

RTs, como por exemplo, a de que o perfil quase homogêneo: “homem, casado, com

mais de 45 anos, 1 a 2 filhos, escolaridade em nível do ensino médio e com mais de

15 anos de empresa”, evidencia, segundo Robbins (2005) uma população estável,

com bom índice de satisfação no trabalho e cidadania organizacional, o que permite

e justifica o resultado encontrado e o clima de relacionamento entre empregador e

empregados - estes últimos representados por sua entidade de classe.

O dirigente sindical entrevistado alerta, entretanto, que os treinamentos

oferecidos pela empresa levam em consideração somente a necessidade do

trabalho, fato que reforça o posicionamento de Neves (1999), para quem os

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programas de treinamento desenvolvidos pelas organizações caracterizam-se mais

pela doutrinação da mão de obra para “cooperarem com as estratégias empresarias”

e fortalecimento da cultura organizacional do que pela formação profissional e

empregabilidade do indivíduo (NEVES, 1999, p.334).

Napoleão (2007) estabeleceu como objetivo de seu trabalho “analisar a percepção

dos gerentes e trabalhadores a respeito da RSE direcionada ao público interno

numa empresa que se quer socialmente responsável.” (p.17).

Os dados demográficos foram considerados em cinco quesitos: sexo, idade,

escolaridade, estado civil e tempo de empresa, conforme evidenciado a seguir.

QUADRO 7: Dados demográficos da amostra de pesquisa

SEXO

IDADE

ESCOLARIDADE

Masculino Feminino Em branco

60%

38%

2%

≤ 30 anos 31 ___ 40 anos 41 ___ 50 anos > 50 anos

15%

23%

33%

28%

Ensino Fundamental Ensino Médio Universitário Incompleto Universitário Completo Pós-graduação

5%

33%

14%

27%

21%

Fonte: Napoleão (2007) QUADRO 7.1: Dados demográficos da amostra de pesquisa

Fonte: Napoleão (2007)

ESTADO CIVIL

TEMPO DE EMPRESA

Casado ou união estável Solteiro Separado/divorciado Em branco

61%

23%

12%

4%

≤ 2 anos 3 _______ 10 anos 10 ______ 20 anos > 20 anos Em branco

9%

18%

30%

42%

1%

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Napoleão (2007) trata em sua dissertação o tema “compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade” apoiando-se, principalmente em

Lemos (2004) e Fischer (1998), para a construção de seu referencial teórico. Assim,

as concepções de abordagem prendem-se à necessidade de qualificação do

trabalhador e à responsabilidade compartilhada entre pessoas e empresas no

tocante ao desenvolvimento profissional. A contribuição de Dutra (2002) para o

construto é importante, na medida em que aprofunda o pensamento de Fischer

(1998), ao considerar que a aprendizagem nas organizações deve ser parte da

cultura da empresa.

Ao considerar o posicionamento do Instituto Ethos sobre o tema, a

pesquisadora expressa sua hipótese de pesquisa:

“A empresa socialmente responsável deve se preocupar com o desenvolvimento de seus empregados a fim de criar condições para que eles sejam capazes de trabalhar dentro ou fora da organização. Um compromisso que deve acontecer em conjunto com os trabalhadores. Cada lado cumprindo o seu papel. A empresa deve oferecer condições e também receber por parte dos empregados o retorno pelos investimentos. À medida que a organização se preocupa em garantir sua empregabilidade, tende a estimular e a envolver os empregados, gerando comprometimento mútuo.” (p.53)

Em conclusão, a autora considera que

“os dados mostram que as verbas destinadas à capacitação dos funcionários

estão mais dirigidas à atividade que o empregado desempenha e ao benefício

direto que isto pode gerar para a empresa, do que para o crescimento do

trabalhador e ganhos indiretos que esse aperfeiçoamento pode propiciar”.

(p.123)

Reforça seu posicionamento na fala do responsável pela área de RSE da

empresa, que informou haver critérios para a concessão de bolsas de estudos e que

estas não são “para aquisição de conhecimento fora da sua função atual”. (p.125)

Napoleão (2007), ao apresentar informações relativas aos dados

demográficos da amostra de pesquisa, infere um quadro de empregados com idade

acima de 41 anos, escolaridade equivalente ao ensino médio e com mais de 20 anos

de empresa. Esse quadro é propício ao resultado encontrado, conforme esclareceu-

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se em Robbins (2005) anteriormente, de propensão a maior satisfação no trabalho e

maior aceitação do que conquistou o trabalhador em sua carreira até então.

Assim posto, as ações de RSE analisadas pertencem ao campo da GP, o

nível micro das relações entre os atores sociais trabalhador e empregador.

Santos (2007) estabeleceu como objeto de pesquisa um Banco de Investimento

com um quadro de empregados bastante qualificado. As unidades pesquisadas

(Brasil e Argentina) subordinam-se às mesmas orientações e normas estabelecidas

pela matriz em Nova Iorque.

Seu objetivo foi “avaliar a percepção do público interno de um banco de

investimento no Brasil e na Argentina sobre as práticas de responsabilidade social

praticadas pelo referido Banco”. (p.13)

Santos (2007), ao abordar o tema “compromisso com o desenvolvimento

profissional e a empregabilidade”, o fez baseado, de um lado, na visão dos autores

Cardoso (1996) apud Sá et al (2002) e Fischer (1998), cujas abordagens prendem-

se à necessidade de qualificação do trabalhador e à responsabilidade compartilhada

entre pessoas e empresas no tocante ao desenvolvimento profissional, e, de outro,

Arruda e Navram (2000) e Barlett e Gloshal (2000), autores mais críticos em relação

à questão do treinamento e desenvolvimento profissional, ao considerarem que as

empresas devem investir no crescimento profissional e pessoal dos empregados de

forma ampla.

Em sua conclusão, o pesquisador aponta que “os resultados apurados

demonstraram semelhança entre as unidades do Banco no Brasil e na Argentina em

praticamente todas as variáveis” (p.99) e acrescenta que “de forma geral, foi

possível concluir que o Banco, sob uma perspectiva baseada em referências

teóricas e na realidade apurada em outras pesquisas, já alcançou resultados

bastante satisfatórios em algumas vertentes da RSE com PI...” (p.100)

Utilizando-se da escala do Instituto Ethos referente aos quatro estágios de

desenvolvimento (ou profundidade) das empresas em relação ao Indicador

“compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade”, Santos

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(2007) estabeleceu paridade, tanto para a unidade do Brasil quanto para a da

Argentina, com o 20 estágio10 de evolução, e conclui:

“de maneira geral, avaliando o que foi descrito, é possível dizer que o Banco de Investimentos analisado sob a ótica de seu público interno no Brasil e na Argentina cumpre a legislação no que tange à aplicação da responsabilidade social empresarial, mas ainda tem muito o que evoluir se se levar em consideração o que preconiza o Ethos. O Banco, aparentemente, considerando apenas suas subsidiárias no Brasil e na Argentina, faz parte do grupo de empresas descritas por Melo Neto e Froes (1999), que parecem crer que podem obter vantagens com a RSE. No entanto, é difícil identificar e mensurar se o motivo da prática responsável é econômico/competitivo ou se é uma questão voltada para o âmbito da consciência empresarial ou, ainda, se são as duas razões ao mesmo tempo.” (p.103)

Santos (2007) é cauteloso em sua conclusão, buscando palavras que melhor

reflitam a prática do compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade observada na empresa pesquisada. Ao considerar em sua

conclusão que a empresa “cumpre a legislação no que tange à aplicação da

responsabilidade social empresarial”, evoca Cheibub e Locke (2002) apud Lodi

(2008), que consideram: “em relação à RSE a questão central é se as empresas

assumem alguma responsabilidade além das exigidas por lei”, por entenderem não

fazer sentido denominar RSE o simples cumprimento da lei.

Assim posto, podemos considerar como inerente a área de GP as ações de

responsabilidade social da empresa analisada.

Nagli (2008) também desenvolveu seu trabalho com o objetivo de analisar a

percepção dos gestores e trabalhadores em relação às iniciativas de RSE

endereçadas ao público interno e de identificar a existência de diferença de

percepção entre os dois grupos.

10 De acordo com o Ethos (2007), as questões de profundidade representam os quatro estágios indicados pelo

Ethos, sendo que o primeiro estágio representa um estágio básico de ações da empresa, no qual ela ainda se

encontra em nível reativo em relação às exigências legais. Já o segundo estágio representa um nível

intermediário de ações, no qual a empresa mantém uma postura defensiva sobre os temas, mas já começa a

encaminhar mudanças e avanços em relação à conformidade de suas práticas. O terceiro estágio, por sua vez,

representa um patamar avançado de ações, no qual são reconhecidos os benefícios de ir além da conformidade

legal, preparando-se para novas pressões regulamentadoras do mercado, da sociedade,etc. Nesse estágio a

responsabilidades social e o desenvolvimento sustentável são tidos como estratégicos para o negócio. O quarto e

último estágio representa um estágio proativo, no qual a empresa atingiu padrões considerados de excelência em

suas práticas, envolvendo fornecedores, consumidores, clientes, a comunidade e também influenciando políticas

públicas de interesse da sociedade.

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As informações demográficas da amostra, apresentadas a seguir, são de

relevância para algumas considerações que se fará em seguida.

QUADRO 8: Caracterização da amostra de pesquisa

SEXO

IDADE

ESCOLARIDADE

Masculino Feminino

96%

4%

< 20 anos 20 ___ 25 anos 26 ___ 35 anos 36 ___ 45 anos 46 ___ 55 anos > 55 anos

1%

28%

44%

13%

13%

1%

Ensino Fundamental Ensino Médio Universitário Incompleto Universitário Completo Pós graduação Mestrado/Doutorado

2,6%

53,4%

21,8%

13,6%

8,0%

0,6%

Fonte: Nagli (2008)

QUADRO 8.1: Caracterização da amostra de pesquisa

Fonte: Nagli (2008)

Nagli (2008) trata em sua dissertação o tema “compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade” sob dois aspectos: concessão de

bolsas de estudo para obtenção de capacitação e capacitação em si, abordada sob

CARGO

TEMPO DE EMPRESA

Superintendente/Gerente Chefe Departamento Chefe Setor Técnico Administrativo Operacional

2%

2%

2%

18%

6%

70%

< 2 anos 2 _______ 5 anos 6 ______ 10 anos 11 _____ 15 anos 16 _____ 20 anos > 20 anos

24%

29,5%

25,5%

3,9%

2,3%

14,8%

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a ótica pontual (aquela referente ao treinamento para o exercício de atividades

específicas) e contínua (inerente ao desenvolvimento humano).

Essas concepções são abordadas na perspectiva de Lemos (2004), que

considera a necessidade de qualificação do trabalhador necessária em função da

qualificação do próprio sistema produtivo, enriquecidas com a contribuição de

Fischer (1998), para quem o desenvolvimento profissional deve ser visto como uma

responsabilidade compartilhada entre pessoas e empresas, tendo ainda em Silva

(1998), Ulrich (2002) e Furtado (2006) argumentação quanto à necessidade de

desenvolvimento do ser humano por intermédio de programas de qualificação,

capacitação e aprendizado, capazes de manter o emprego dos trabalhadores, uma

vez ser o desemprego consequência da falta de investimento em educação.

O autor considerou também os resultados dos trabalhos de Coelho (2004),

Oliveira (2005), Furtado (2006) e Napoleão (2007), pesquisadores do NUPEGS, para

reforçar a hipótese de que

“o estado da arte da pesquisa de responsabilidade social perante o público interno no quesito compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade permite inferir que boa parte das empresas mantém programas de capacitação profissional e empregabilidade voltados para suas necessidades particulares.” (p.40)

O autor considera positivo o resultado encontrado, acima de 50% em todos os

quesitos, destacando a concordância entre gerentes e trabalhadores e concluindo

“que a empresa é percebida por gerentes e trabalhadores como tendo compromisso

para o desenvolvimento profissional e a empregabilidade”. Acrescenta, ainda, que

“de fato, a empresa, desde 1970, desenvolve projetos direcionados para a educação

dos colaboradores, o que vem proporcionando oportunidades de estudo a um

grande número de funcionários e seus dependentes.” (p.107)

Nagli (2008), apresenta dados demográficos da empresa pesquisada, que

mostram um perfil “homem, com idade entre 26 e 35 anos, escolaridade em nível do

ensino médio, com até 5 anos de empresa.” Este perfil caracteriza, segundo Robbins

(2005), como já se viu em outras dissertações analisadas aqui, uma população

estável, com bom índice de satisfação no trabalho.

Já o tempo de trabalho na empresa apresenta 53,5% dos empregados com

menos de 5 anos. Isto sugere que, embora em idade de maior procura de

estabilidade, a predominância de empregados em atividades operacionais, aliada ao

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fato de a empresa pesquisada estar sediada no interior de Minas Gerais (o que

sugere poucas oportunidades de trabalho) reforça a conclusão apresentada e facilita

o nível de aceitação das condições ofertadas pela empresa e de convivência mais

“fraterna” existente entre os atores sociais pesquisados.

Pereira (2008) desenvolveu seu trabalho de pesquisa em empresa vencedora do

Prêmio SESI Qualidade no Trabalho (PSQT), etapa Minas Gerais, na categoria de

média empresa no ano de 2005. Importante ressaltar que, para participar desse

prêmio, as empresas candidatas devem possuir boas práticas de gestão socialmente

responsável direcionada ao público interno.

Seu objetivo foi “analisar a percepção do público interno (empregados e

gestores) de uma empresa de médio porte que se diz socialmente responsável, com

relação à gestão de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) direcionada aos

mesmos.” (p.20)

Trabalhou com a significativa amostra de 76% dos empregados da empresa,

abrangendo os diversos cargos e níveis existentes, pontuando os aspectos

demográficos: sexo, idade, escolaridade e tempo de empresa.

QUADRO 9: Dados demográficos da amostra pesquisada

SEXO

IDADE

ESCOLARIDADE

TEMPO DE EMPRESA

Masculino Feminino

87%

13%

≤ 20 anos 20 ___ 25 anos 26 ___ 35 anos 36 ___ 45 anos 46 ___ 55 anos > 55 anos

3%

22%

39%

21%

12%

3%

Ens.Fund. Incompl. Ens.Fund. Compl. Ens.Médio Incompl. Ensino Médio Univers. Incompl. Univers.Compl. Pós graduação

4%

2%

3%

63%

20%

5%

3%

≤ 2 anos 2 a 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15 anos 16 a 20 anos > 20 anos

42%

29%

13%

9%

2%

5%

Fonte: Pereira (2008)

Ao abordar o tema “compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade” destacou a visão crítica de Ramos (2001) e Carrieri e Sarsur

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78

(2002), para os quais, na sociedade contemporânea, a noção de competência e

empregabilidade é transferida para o trabalhador, responsabilizando-o por sua

contratação e demissão:

“Ao enfatizar características subjetivas, como criatividade e adaptabilidade, Ramos (2001) afirma que a noção de competência transfere do social para o individual a responsabilidade pela inserção profissional dos indivíduos, intensificando a discussão sobre empregabilidade.” (p.73)

A contribuição de Arruda e Navran (2000) segue na mesma linha da

abordagem de RTs, pois alertam para o fato de que “a busca de atualização

contínua ganhou importância com as mudanças nas relações de trabalho”. (p.74)

Ao considerar o posicionamento do Instituto Ethos sobre o tema pesquisado,

reforça em Barlett e Gloshal (2000) sua hipótese de pesquisa, a qual pondera que as

empresas devem investir na formação de seus empregados além do treinamento em

habilidades ligada às tarefas desempenhadas no cotidiano.

Em conclusão do trabalho, o pesquisador aponta:

“Os resultados obtidos mostraram que é boa a percepção dos funcionários, o que indica que a empresa possui boas práticas de RSE com público interno. As entrevistas com os gestores permitiram-nos concluir que a realização destas práticas não é assumida como decorrente de orientações estratégicas, e sim de políticas implementadas pelo RH, que visam à valorização do quadro de funcionários. Esta valorização pode estar associada a crenças pessoais do fundador da empresa, retenção/fidelização de talentos”... “dentre outros motivos inferidos dos resultados obtidos e entrevistas.” (p.127)

Conclui assim que “dos resultados obtidos, as percepções positivas de

funcionários e gerentes convergem entre si, indicando que a empresa atua de forma

socialmente responsável perante seu público interno. Assistimos à atuação de uma

empresa que valoriza seu público interno e que acredita que a Responsabilidade

Social Empresarial em si não resulta de ações isoladas, mas sim de um somatório

de ações realizadas tanto interna quanto externamente”. (p.133/134)

Cabe salientar, entretanto, que Pereira (2008), ao apresentar os dados

demográficos da amostra pesquisada, demonstra que, quanto ao tempo de

empresa, 42% possuem menos de 2 anos, e 29%, de 2 a 5 anos. Considerando que

a empresa foi fundada em 1973 e iniciou suas operações em 1977, há 31 anos, o

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dado indica alta rotatividade, principalmente porque somente 2% dos empregados

possuem de 16 a 20 anos de trabalho na empresa, e 5% deles possuem acima de

20 anos.

Esses dados, se analisados sob a ótica das RTs, contradizem as entrevistas

com os gestores que afirmam que as boas práticas de RSE com o público interno

são políticas implementadas pela área de RH que visam à valorização dos

empregados, com base na crença de seu fundador de retenção de mão de obra. É a

prática distanciando-se do discurso.

Na análise apresentada, evidencia-se o entendimento, em nível micro, do

compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade quando o

autor expressa que:

“Estas medidas, dentre outras, como bolsas de estudo para ensino superior, parceria com o SESI, propiciam condições para que os funcionários sejam capacitados a assumirem novas responsabilidades, crescerem na empresa, e fortalecerem-se para suas posições atuais, bem como estarem aptos às crescentes exigências do mercado de trabalho.” (grifo nosso).

4 Considerações finais

Analisou-se, portanto, oito dissertações no âmbito do NUPEGS do PPGA da

PUC Minas, para verificar como os trabalhadores das organizações que se dizem

socialmente responsáveis percebem o compromisso com o desenvolvimento

profissional e a empregabilidade nas práticas das Relações de Trabalho e da Gestão

de Pessoas destas empresas.

Várias são as perspectivas pelas quais podemos analisar os dados das

pesquisas estudadas, principalmente se tivermos em mente que esta dissertação

considera RTs (nível macro) e GP (nível micro) construtos interdependentes,

inerentes à arena do mundo do trabalho. Nesse sentido é que a contribuição de Lodi

(2008), oferecida em sua dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação

em Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, enriquece o debate.

Lodi (2008) analisa aspectos da Responsabilidade Social Empresarial sobre a

ótica do Direito do Trabalho, procurando revelar as discrepâncias entre o discurso e

a realidade das ações de Responsabilidade Social das empresas em relação aos

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seus trabalhadores. Ressalta que pouco tem sido feito a favor destes, embora

existam experiências positivas, observando alguns aspectos críticos envolvidos,

especialmente quanto ao papel do Estado enquanto titular da promoção dos direitos

sociais.

Há preocupação geral em Santos (2007) e Lodi (2008) sobre a intenção da

aplicação da RSE pelas empresas. Enquanto Lodi (2008) considera que

“Certa parcela das empresas, contudo, começa a desenvolver um olhar para as questões sociais. Não sendo possível concluir, até aqui, se por consciência ou por alternativa de mercado”. (p.24),

Santos (2007) pondera que:

“Assim, fica aqui a suspeita de que o grau de desenvolvimento e investimento nas práticas que envolvem responsabilidade social estão diretamente atreladas ao impacto que estas vão oferecer para a imagem da empresa no local em que atua; ou seja, se não há pressão da sociedade ou do governo local, é provável que não haja empenho nesse sentido, pois parece que a motivação para tal não reside no cuidado com necessidades externas, mas nos possíveis benefícios ou impactos internos”. (p.106)

Importante observar que os dois pesquisadores - de áreas de conhecimento

distintas, com objetivos e metodologia de pesquisa também distintos, compartilham

de percepção semelhante quanto às ações de RSE desenvolvidas pelas

organizações: distante do que preconiza o Instituto Ethos, e voltadas para os

interesses do empresariado - promotor do novo discurso referente a velhas

questões.

Buscou-se neste trabalho analisar como os trabalhadores das organizações

que se dizem socialmente responsáveis percebem o compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade nas práticas das Relações de

Trabalho e da Gestão de Pessoas.

Com este propósito foram considerados os resultados de oito estudos

desenvolvidos por pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em

Administração da PUC Minas, centrando a análise na percepção que os

trabalhadores das empresas pesquisadas têm das práticas relativas ao indicador de

RSE denominado compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade.

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A revisão da literatura permitiu estabelecer elementos de reflexão sobre os

construtos RTs, GP e RSE, bem como a interface entre estas áreas, considerando

ainda a importância da aplicação dos preceitos desta última para com os

trabalhadores no contexto do mundo do trabalho. Concomitantemente foram

examinados dados históricos sobre a trajetória das áreas RTs e GP, analisando suas

concepções e correntes de pensamento, visando oferecer subsídios capazes de

reacender a discussão teórica, pontual no Brasil a partir da década de 1990, sobre o

distanciamento entre as mesmas.

Constatou-se que as nove empresas e os três sindicatos dos trabalhadores

pesquisados possuem visão semelhante quanto ao tema “compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade”, o qual é visto, por um lado, como

responsabilidade do trabalhador – uma necessidade sua de adaptação às novas

exigências do mercado – e, por outro, como uma ação social da empresa, com

conotações de benefício.

O resultado da pesquisa de Mattoni (2007), por exemplo, demonstra isto:

embora mais de 60% dos empregados neguem que a empresa ofereça bolsas de

estudo para aquisição de conhecimentos fora da sua função atual, os mesmos dizem

que a empresa prioriza e se compromete com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade. O próprio sindicato dos trabalhadores participou desse coro,

ignorando o cunho social, de caráter mais amplo, presente na RSE.

Se no mínimo contraditória a constatação, por outro lado há de se considerar

que uma das máximas do sistema neoliberal é a substituição do conceito de

emprego pelo de empregabilidade, que permite que a organização consiga do

trabalhador maior comprometimento e dedicação para com os seus objetivos,

justificando assim a visão comum entre os atores sociais, sindicatos e empresas,

quanto à participação dos trabalhadores na construção desta realidade.

As nove empresas consideradas neste estudo apresentam-se conscientes

quanto ao indicador Ethos compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade, embora atuem em níveis diferentes de abrangência e

profundidade, de acordo com a percepção de seus empregados.

Mattoni (2007), Nagli (2008) e Pereira (2008) concluem pelo atendimento ao

indicador proposto pelas empresas pesquisadas. Já Santos (2007) alerta para

deficiências na aplicação do indicador, enquanto Coelho (2004), Furtado (2006),

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Molica (2006) e Napoleão (2007) concluem pelo não atendimento, em parte, ao

indicador pelas empresas pesquisadas.

A seguir apresentamos quadro, em ordem cronológica de pesquisa, com as

conclusões dos pesquisadores e os resultados alcançados pelas empresas:

P (positivo), R (restrição) e N (negativo).

QUADRO 10: Quadro geral de resultados das dissertações estudadas

PESQUISADOR(A) / EMPRESA(S)

CONCLUSÃO

Coelho (2004)

Industria alimentícia

Empresa telefonia celular

As empresas pesquisadas oferecem treinamento

para seus funcionários, mas somente no que diz

respeito ao desempenho de suas tarefas. N

Furtado (2006)

PROMON Engenharia

A empresa tem a prática de incentivar o

desenvolvimento profissional dos empregados no

interesse da empresa, mas não como contribuição à

sociedade. N

Molica (2006)

Empresa de energia

Empresa saneamento básico

Sindicato empregadores em

serviços

Sindicato trabalhadores empresa

de energia

Sindicato trabalhadores empresa

saneamento básico

Sindicato trabalhadores em

empresas de serviços

As empresas e os sindicatos pesquisados não

percebem a relação das cláusulas de acordo coletivo

com o indicador compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade.

N

Mattoni (2007)

Industria siderúrgica de MGs

A empresa prioriza e se compromete com o

desenvolvimento profissional, havendo coerência

nas informações dadas por todos os atores. P

Napoleão (2007)

Empresa saneamento básico

As verbas destinadas pela empresa à capacitação

dos funcionários estão mais dirigidas à atividade que

o empregado desempenha e ao benefício direto que

isto pode gerar para a empresa, do que para o

crescimento do trabalhador e ganhos indiretos que

esse aperfeiçoamento pode propiciar. N

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PESQUISADOR(A) / EMPRESA(S)

CONCLUSÃO

Santos (2007)

Banco de investimento –

unidades Brasil e Argentina

A empresa apresenta como principal deficiência a

oferta de bolsas de estudo de forma igualitária para

todos e a obtenção destas para aquisição de

conhecimento fora da função atual. R

Nagli (2008)

Empresa metalurgia e mineração

A empresa é percebida como tendo compromisso

para o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade. P

Pereira (2008)

Açoforja S.A.

A empresa investiu no crescimento profissional e

pessoal de seus funcionários (diretos e

terceirizados). P

Fonte: dissertações estudadas

Constatou-se que as práticas desenvolvidas pelas empresas com o público

interno, relativas ao compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade, apresentam-se como ações típicas de GP. Tanto as atividades de

treinamento quanto a concessão de bolsas de estudo, de uma forma geral,

direcionam-se à formação dos empregados ou ao seu desenvolvimento, sempre

visando à melhoria de seu desempenho no trabalho.

O tratamento do tema em nível micro – interno às organizações estudadas –

não estabelece relação entre as partes que represente atendimento pleno ao

conceito de RSE proposto pelo Instituto Ethos. Esta prerrogativa não é sequer

intencionada pelos atores sociais envolvidos – empregador e empregado – os quais

negligenciam a iniciativa em transpor a relação para o nível meso, onde se dá a

negociação coletiva, o que estabeleceria um “compromisso” no sentido amplo da

palavra.

Dois dos sindicatos dos trabalhadores pesquisados denotam uma atuação no

modelo fordista tradicional - da porta da fábrica para fora e voltado para demandas

salariais de curto prazo - não considerando as questões sociais em sua forma mais

ampla. Neste sentido, reduzem o entendimento da empregabilidade à relação do

trabalhador com seu emprego atual e, ao fazerem esta escolha estratégica,

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compartilham da concepção de passividade do trabalhador, tão questionada pela

escola francesa.

Como conseqüência deste pensamento e conforme discutido no referencial

teórico, observou-se nas nove empresas estudadas que a GP, ao negar a relação de

conflito entre empregador e empregado, institucionalizando intramuros as regras de

convivência entre as partes, relativiza as ações de RSE ao estabelecê-las de modo

unilateral, sem o envolvimento dos demais atores e interessados; isto embora a

RSE, por iniciativa do empresariado, traga em seu discurso elementos que podem

colaborar com o atendimento às demandas sociais, principalmente em relação às

condições de trabalho e sustentabilidade social.

Presas à compreensão clássica da GP, as nove empresas e três sindicatos

estudados não maximizam as práticas de RSE relativas ao indicador Ethos aqui

analisado, cuja amplitude de ação evidenciada na Tabela 11 a seguir promoveria,

em consonância com os anseios do Instituto Ethos, impacto positivo na

empregabilidade.

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QUADRO 11: Conjunção das ações de RTs, GP e RSE relativas ao

Indicador Ethos compromisso com o desenvolvimento profissional e a

empregabilidade

PRÁTICA DE RSE

ABORDAGEM

NÍVEL DE ATUAÇÃO

Ações de Treinamento e

Desenvolvimento voltadas

para o desempenho de

tarefas na organização

Gestão de Pessoas

Micro

Ações de Treinamento e

Desenvolvimento voltadas

para a formação pessoal

Relações de Trabalho

e Responsabilidade

Social Empresarial

Macro

Ações de concessão de

bolsa de estudo para

aquisição de conhecimentos

ligados ao trabalho

desenvolvido

Gestão de Pessoas

Micro

Ações de concessão de

bolsa de estudo para

aquisição de conhecimentos

diversos de sua área de

trabalho

Relações de Trabalho

e Responsabilidade

Social Empresarial

Macro

Instituição de compromisso

com o Desenvolvimento

Profissional e a

Empregabilidade por

intermédio de acordo coletivo

Relações de Trabalho

e Responsabilidade

Social Empresarial

Meso

Fonte: elaborado pelo autor

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Embora a convergência entre RTs, GP e RSE proporcionada pelo indicador

Ethos compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade

oportunize ações que traspassam os três níveis do sistema de relações de trabalho

(micro, meso e macro), a possível integração entre as três áreas discutidas, de

forma a consolidar a RSE como um novo discurso, não está presente nas empresas

estudadas.

Esse fato, como resultado do entendimento das abordagens de RTs ou GP

sobre a abrangência das relações entre empregador e empregado e sua importância

no contexto social, estabelecem crenças. Essas crenças, por sua vez, conforme

evidenciado no referencial teórico promoveram a separação entre RTs e GP,

refletindo, por conseqüência, na aplicação das ações de RSE pelas empresas.

Como fato constatado nas nove empresas estudadas, presencia-se hoje,

como fruto da separação entre as áreas RTs e GP, a limitação do horizonte das

“ações de RSE” aos muros das organizações.

Distancia-se a prática do discurso, na aplicação do compromisso com o

desenvolvimento profissional e a empregabilidade, pelas empresas pesquisadas, ao

atrelarem suas ações à pontual atuação da área de GP que, ao não conceber a

relação de conflito entre empregador e empregado, relativiza as ações de RSE.

A aplicação de ações sociais e de cidadania, por iniciativa do empresariado,

apresenta-se tênue, pois a prática observada nas organizações estudadas diverge,

substancialmente, da teoria proposta pelo Instituto Ethos.

O escopo das ações analisadas, neste trabalho, longe de atender as questões

políticas e sociais inerentes às relações de conflito entre capital e trabalho, reforça o

discurso neoliberal da empregabilidade, beneficiado ainda pelo afastamento do

Estado de seu papel: promotor do bem estar social.

A atuação ortodoxa da GP, enquanto guardiã da cultura organizacional, ao

desconsiderar a existência de conflito nas relações entre empregador e empregado,

limita sua visão do trabalhador, negligenciando, por conseqüência, a interpretação

dos preceitos da RSE, conforme concebida, ou oportunizada, pelo Instituto Ethos.

Esse quadro abre possibilidades de novas pesquisas, na medida em que os

resultados encontrados demonstram a fragilidade com que o tema RSE é ainda

tratado em relação ao público interno, abrindo espaço para estudos específicos que

examinem sua interdisciplinaridade perante os contextos meso e macro das relações

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entre trabalhador e empregador, e verifiquem que espaços a RSE pretende

preencher.

O presente trabalho pretendeu discorrer sobre as abordagens de Relações de

Trabalho, Gestão de Pessoas e Responsabilidade Social Empresarial, ainda que de

forma pontual, por estabelecer como arena de debate o Indicador Ethos

“compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade”, verificando

o discurso e a prática de empresas que se dizem socialmente responsáveis, suas

interfaces e perspectivas.

Apesar das nove empresas estudadas enfatizarem a valorização do

trabalhador através de ações relativas ao compromisso com o desenvolvimento

profissional e a empregabilidade, verifica-se uma dissociação entre discurso e

prática, tendo em vista que as ações inerentes à RSE com o público interno são

ainda pontuais, não representando, necessariamente, avanço nas relações entre as

partes. Os sindicatos, por sua vez, não percebem a oportunidade presente na RSE,

permanecendo presos as suas velhas “bandeiras de lutas”, ao invés de fazerem

novas escolhas estratégicas.

Os estudos aqui desenvolvidos sugerem que, do Taylorismo à

Responsabilidade Social Empresarial (RSE), dois movimentos expressivos e

impactantes nas relações de trabalho e separados por mais de dois séculos de

história, as relações entre capital e trabalho continuam presas a velhas questões,

não apresentando nada de muito novo além de nomenclaturas diferenciadas para o

trato de conflitos latentes desde os primórdios da industrialização. Neste sentido, o

resultado verificado assim se apresenta em relação à nossas premissas de

pesquisa:

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FIGURA 3 – Configuração do resultado de pesquisa

Fonte: autor

Não há pretensão de se esgotar o debate, mas, sim, de apresentar elementos

de reflexão que permitam avançar na definição do construto RSE com os

trabalhadores e sua importância no contexto do mundo do trabalho, reacendendo a

discussão teórica, pontual a partir da década de 1990 no Brasil, sobre o

distanciamento entre as áreas Relações de Trabalho e Gestão de Pessoas

Este estudo, utilizando um conjunto de dados coletados por outros autores,

apresenta limitação em relação aos elementos disponíveis para análise, os quais,

por serem secundários, oferecem variáveis já pré-definidas. Contudo procurou-se

minimizar tal limitação apresentando análise agregada dos dados.

Como recomendação para futuras pesquisas que contemplem a convergência

entre RSE, RTs e GP, sugere-se verificar a percepção dos atores sociais,

empresários e trabalhadores, quanto a que lacunas a RSE pretende preencher,

verificando a amplitude das ações desenvolvidas: se em uma visão reducionista, que

trata as questões em nível micro da GP – para dentro das organizações, ou em sua

essência, no campo das políticas sociais – nível macro das RTs.

Cabe ainda recomendar que se desenvolvam estudos mais específicos e

aprofundados junto aos sindicatos dos trabalhadores, a fim de identificar suas

escolhas estratégicas na relação de conflito entre empregador e empregado e, se

percebem e consideram, ou não, as oportunidades oferecidas pela RSE para este

posicionamento.

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