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    MANUAL DE BOAS PRTICAS AGRCOLAS

    CULTURA DA CEVADA DSTICA PARA MALTE

    Novembro 2009

  • 2

    RECOMENDAES BSICAS

    A oportunidade das intervenes culturais fundamental. Elabore um plano de produo com as principais operaes culturais.

    Pratique rotaes e prticas culturais que minimizem os problemas com infestantes, doenas e pragas para reduzir o controlo qumico.

    Realize a sementeira na poca apropriada de acordo com a variedade.

    Proceda periodicamente a inspeces do campo para detectar problemas antes da ocorrncia dos factores limitantes.

    Respeite as variedades recomendadas pelos utilizadores.

    Use semente certificada para garantir pureza e boa viabilidade.

    Realize anlises do solo para racionalizar a fertilizao e dedique particular ateno dose, ao fraccionamento e poca de aplicao do fertilizante azotado.

    Em regadio, evite qualquer stress hdrico. Programe as regas para assegurar um conveniente fornecimento de gua s plantas durante todas as fases de crescimento, sobretudo durante o alongamento dos caules e espigamento.

    Ajuste a ceifeira debulhadora para evitar danos no gro.

  • 3

    1 INTRODUO A produo de cevada dstica para malte em Portugal tem longa tradio, alternando perodos de quase autosuficincia com pocas de ausncia desta espcie nos sistemas de cultura. Nos ltimos anos (desde 2000) a Maltibrica/Unicer, conscientes da importncia em dispor de matria prima no mercado nacional, desenvolveram um plano de aces com instituies cientficas e parceiros de negcio que se tem consubstanciado num sustentvel crescimento de aquisio de cevada dstica em Portugal. Por outro lado, esse plano tem sido acompanhado de uma componente tcnico-cientfica que permite a permanente actualizao de conhecimentos imprescindveis para a introduo de inovao quer ao nvel de variedades quer ao nvel de prticas culturais.

    Evoluo de Quantidades Compradas

    0

    5.000

    10.000

    15.000

    20.000

    25.000

    30.000

    35.000

    40.000

    45.000

    2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

    Ton.

    Figura 1 Grfico da evoluo de quantidade compradas (Maltibrica 2001-2009)

  • 4

    A publicao que agora se apresenta pretende reunir indicaes sobre os itinerrios tcnicos mais adequados com vista a produzir gro de cevada com as especificaes impostas pela exigente indstria do malte e cerveja. Este manual pretende fornecer algumas indicaes pertinentes que possam contribuir para o sucesso da cultura da cevada dstica para malte e cerveja. Os dados que se apresentam resultam da informao obtida ao longo de vrios anos de investigao e experimentao na cultura da cevada para malte, nomeadamente, nos anos em que decorreu o Projecto Cevalte Seleco de variedades de cevadas dstica para malte e cerveja e da experincia acumulada pelos autores. 2 OBJECTIVO Construir a estrutura da cultura para alcanar elevadas produes, sem acama e que permita melhorar a eficincia do uso da gua, da luz e do azoto. Para isto importa:

    controlar o crescimento inicial, para evitar excesso de produo de biomassa que conduz acama, a maior risco de doenas e a ndice de colheita reduzido;

    equilibrar folhas, colmos e nmero de espigas e gros;

    prolongar a durao da rea foliar (stay green) durante o perodo de enchimento do gro;

    adequar a rotao para evitar ou minimizar os riscos de doenas, particularmente na base dos colmos e raz.

    3 CICLO DE CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA CEVADA A oportunidade de aplicao das tcnicas culturais, tais como, adubao, mondas e rega, deve ser baseada no conhecimento das fases de desenvolvimento da cevada. S assim ser possvel agir de forma a prevenir e evitar as principais limitaes obteno de elevadas produes. As fases de desenvolvimento da cevada so descritas atravs da escala numrica de Zadoks (Quadro 1) que permite, de uma forma rpida, proceder sua identificao. Este guia relaciona as principais prticas culturais com a fase de desenvolvimento da cultura da cevada.

  • 5

    Quadro 1 Fases do desenvolvimento da cevada. Escala de Zadoks (abreviado)

    Escala de Zadocks (GS)

    Descrio Escala de Zadocks

    Descrio

    Germinao Emborrachamento

    00 Semente seca 41 Extenso da bainha da folha bandeira

    05 Emergncia da radcula 47 Abertura da bainha da folha bandeira

    07 Emergncia do coleptilo

    49 Primeiras aristas visveis

    09 Ponta da folha visvel Espigamento

    Crescimento da plntula

    50 Primeira espigueta visvel

    11 Primeira folha desenvolvida

    53 de espiga visvel

    13 Trs folhas desenvolvidas

    59 Espigamento completo

    14 Quatro folhas desenvolvidas

    ntese

    19 Nove ou mais folhas desenvolvidas

    60 Incio da ntese (deiscncia do plen)

    Afilhamento 69 ntese completa

    20 Colmo principal

    21 Colmo principal com um filho

    Desenvolvimento e enchimento do gro

    24 Colmo principal com 4 filhos

    70-77 Gro leitoso

    80-87 Gro pastoso

    Alongamento dos caules

    90-94 Maturao

    31 1 n detectvel 95 Semente

    33 3 n detectvel

    37 Folha bandeira visvel

    39 Lgula da folha bandeira visvel

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    A produo de gro de uma variedade resulta da combinao de determinados componentes do rendimento, os quais se formam sequencialmente ao longo das etapas do desenvolvimento da cultura. O nmero de espigas estabelece-se durante a fase de afilhamento e depende tanto da quantidade de caules filhos como da proporo dos mesmos que podem diferenciar-se em espigas frteis. As condies ambientais (temperatura, luz, gua) tcnicas culturais tais como fertilizao azotada e densidade de sementeira condicionam a capacidade de afilhamento. O nmero de gros/espiga determina-se no incio do perodo reprodutivo, no estado de aresta dupla, que coincide com o incio do encanamento e fixa-se at fase da ntese. O peso do gro decide-se durante a fase da maturao (enchimento do gro). Depende fundamentalmente da temperatura, do teor de gua no solo, da rea fotossinttica da cultura e da sua capacidade de translocar os assimilados para o gro. 4 - TCNICAS CULTURAIS MAIS RELEVANTES Os princpios e bases que se apresentam, baseados em resultados de experimentao, devem ser usados em conjunto com a experincia individual de cada agricultor para conseguir o uso mais eficiente possvel dos recursos solo, gua e outros factores de produo. A introduo, cada vez mais generalizada da cevada, em sistemas de regadio suplementar, implica alguns ajustes especficos em relao aos itinerrios tcnicos para essa condio.

    Produ o de gro

    Gros m 2 Peso do gro

    Gros Espiga - 1 Espigas m - 2

    Produ o de gro

    Gros m 2 Peso do gro

    Gros Espiga - 1 Espigas m - 2

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    4.1 - ROTAO A cevada deve ser enquadrada em rotaes equilibradas de modo a regular os mecanismos de autocontrolo dos sistemas biolgicos, ou seja, a interromper ciclos de doenas e pragas, infestantes e nutrientes. Deste modo devem privilegiar-se sequncias culturais onde a cevada entra em rotao com outras espcies, nomeadamente plantas de folha larga, como tomate, hortcolas ou proteaginosas. Neste sentido, dever-se- evitar a cultura sucessiva de cevada bem como sucesses de cevada com outros cereais particularmente os praganosos. 4.2 - ESCOLHA DAS VARIEDADES A escolha da variedade mais adequada para as condies de cultura deve merecer bastante ateno com vista a maximizar o retorno do investimento nos outros factores de produo. No existe a variedade ideal para todas as regies e condies agro-ambientais. , por isso, necessrio recorrer aos resultados dos ensaios que se realizam antes da divulgao comercial das variedades. Na produo de cevada para malte em condies de contrato com a malteria, a tarefa da escolha est facilitada uma vez que nas diferentes clusulas do contrato so recomendadas algumas variedades cujas caractersticas tecnolgicas esto de acordo com as exigncias da indstria. No entanto, as variedades recomendadas mostram variabilidade em relao s suas caractersticas agronmicas, possibilitando o ajustamento s condies agro-ambientais de cada caso. Uma boa cevada para malte deve apresentar teor proteico adequado ao processo industrial de transformao em malte (9,512%), bom rendimento calibragem, gros limpos sem doenas, ausncia de gros partidos e elevada massa do hectolitro. Nos quadros 2, 3 e 4 apresentam-se algumas caractersticas agronmicas de variedades de cevada dstica recomendadas pela indstria. Essas informaes foram obtidas em condies de grande cultura durante os anos agrcolas de 2006/07, 2007/08 e 2008/09, respectivamente. Para mais informaes sobre o comportamento das variedades podem ser

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    consultados, entre outros, os relatrios de ensaios de cevada da Estao Nacional de Melhoramento de Plantas, Escola Superior Agrria de Beja, European Brewery Convention (EBC) e da Red de Malteros de Espanha. Todos eles, fornecem informao independente sobre o comportamento das variedades ajudando a decidir sobre a melhor soluo. Quadro 2 Produo das variedades Pewter, Prestige e Scarlett em sequeiro e regadio nas trs principais regies produtoras de cevada em Portugal (2006/07).

    Pewter (Seq.)

    Pewter (Reg.)

    Prestige (Seq.)

    Prestige (Reg.)

    Scarlett (Seq.)

    Scarlett (Reg.)

    Baix

    o

    Ale

    nte

    jo

    Produo

    (kg/ha) 3.100 4.660 2.435 3.610 3.160 4.570

    Calibragem

    >2,5 mm(%) 89 87 83 85 80 82

    Calibragem

    2,5mm (%) 85 92 78 90 79 79

    Calibragem

    2,5mm (%) 91 90 84 90 89 85

    Calibragem

  • 9

    Quadro 3 Produo das variedades Pewter, Prestige e Scarlett em sequeiro e regadio nas trs principais regies produtoras de cevada em Portugal (2007/08).

    Pewter (Seq.)

    Pewter (Reg.)

    Prestige (Seq.)

    Prestige (Reg.)

    Scarlett (Seq.)

    Scarlett (Reg.)

    Baix

    o

    Ale

    nte

    jo

    Produo

    (kg/ha) 3.240 4.910 2.350 3.000 2.835 4.330

    Calibragem

    >2,5 mm(%) 89,6 89,4 87,1 86,5 85,8 86,0

    Calibragem

    2,5mm (%) 91,3 89,8 86,9 - 84,6 85,5

    Calibragem

    2,5mm (%) 83,9 92,4 87,1 - 82,3 81,6

    Calibragem

  • 10

    Quadro 4 Produes mdias das variedades Margret, Pewter, Prestige e Scarlett nas trs principais regies produtoras de cevada em Portugal (2008/09).

    Margret Pewter Prestige Scarlett

    Baix

    o

    Ale

    nte

    jo

    Produo

    (kg/ha) 2.030 2.830 - 1.845

    Calibragem

    >2,5 mm(%) 81,4 87,9 - 79,3

    Calibragem

    2,5mm (%) 72,7 88,5 91,3 78,6

    Calibragem

    2,5mm (%) 74,0 87,2 80,6 78,0

    Calibragem

  • 11

    Breve descrio das principais variedades recomendadas: Scarlett Variedade de origem alem, com caractersticas de rusticidade, adequada a situaes de sequeiro. Em regadio deve ter-se especial cuidado com a densidade de sementeira, pois o excesso de biomassa estrutural aumenta o risco de acama. Prestige - Variedade referncia em termos de qualidade tecnolgica. A elevada susceptibilidade s principais doenas tornam a sua produo pouco competitiva quando comparada com outras variedades, pois necessrio realizar 1-2 tratamentos com fungicidas. Pewter Variedade identificada no projecto CEVALTE com resistncia s doenas. Esta caracterstica aliada a uma estatura da planta mais baixa que Scarlett, tornam esta variedade particularmente adequada para situaes de regadio. Braemar Variedade estudada e recomendada no mbito projecto CEVALTE. Representativa do grupo de novas variedades com elevado peso do gro, por isso, evidenciando, bom rendimento calibragem mesmo em condies de sequeiro. Variedade de palha relativamente alta, susceptvel acama. 4.3 - Mobilizao do solo Dever conduzir a uma boa emergncia da cultura, podendo recorrer-se s tcnicas convencionais ou s tcnicas de conservao (Fig.2). Neste caso existe uma maior proteco da eroso e do escorrimento superficial, promove-se a formao natural dos agregados do solo, aumenta-se ou mantm-se a matria orgnica e a sua fertilidade e, por outro lado, pode diminuir-se a compactao devido ao trfego de maquinaria pesada. Alm disso, h uma menor contaminao das guas superficiais, reduzem-se a emisses de CO2 na atmosfera favoreceu-se o aumento da biodiversidade. A agricultura de conservao pode proporcionar maior rendibilidade econmica em comparao com a convencional, dado que necessita de menos inputs na aquisio e manuteno de maquinaria agrcola, combustvel e mo-de-obra. (Quadro 5).

  • 12

    Figura 2 - Talhes sujeitos a sistemas de conservao do solo (no mobilizao e mobilizao vertical com escarificador).

    Quadro 5 - Produo de gro, protena e peso especfico do gro por sistema de mobilizao do solo em cevada dstica (var. Scarlett) em sequeiro (Beja, 2005-2007).

    Mobilizao Produo de

    gro (kg ha-1)

    Protena do gro (%)

    Peso especfico (kg hl-1)

    Convencional (charrua) 3645 11.7 60.5

    Conservao (chsel) 3938 11.5 60.8

    Conservao (escarificador)

    3732 11.0 60.1

    Conservao (sementeira directa)

    3451 11.6 60.1

    Mdia 3692 11.5 60.4

  • 13

    4.4 - Datas e densidades de sementeira As datas de sementeira ptimas variam de regio para regio e de acordo com as condies climticas e tipo de solo. Para as principais regies produtoras de cevada as datas aproximadas so:

    Baixo Alentejo fim de Novembro a fim de Dezembro

    Alto Alentejo - 20 Novembro a fim de Dezembro

    Ribatejo 20 Dezembro 20 Janeiro

    De uma forma geral, as sementeiras anteriores poca recomendada conduzem a maiores riscos de acama e de ocorrncia de doenas e, por isso, a ndice de colheita baixo. Nessas condies, na ausncia de carncias nutricionais, a cevada cresce e desenvolve-se de forma contnua produzindo um excesso de biomassa estrutural que no se reflecte na produo de gro. Por outro lado, em situao de sequeiro a sementeira deve realizar-se mais cedo, de forma a ajustar o ciclo poca mais favorvel do ponto de vista da situao hdrica e de temperatura durante o enchimento do gro (Quadros 6 e 7).

    Quadro 6 Produo de gro (kg/ha) de cevada em duas datas de sementeira - regadio.

    1Data de Sementeira

    (3 Jan.) 2Data de Sementeira

    (1 Fev.)

    Produo (kg/ha)

    Peso 1000 gros (g)

    Calibre >2,5mm

    (%)

    Produo (kg/ha)

    Peso 1000 gros (g)

    Calibre >2,5mm

    (%)

    PEWTER 8.070 47,07 94,3 5.570 47,96 90,9

    SCARLETT 7.820 49,76 86,0 6.730 43,84 87,9

  • 14

    Quadro 7 Produo de gro (kg/ha) de cevada em duas datas de sementeira - sequeiro.

    1Data de Sementeira

    (20 Dez.) 2Data de Sementeira

    (20 Jan.)

    Produo (kg/ha)

    Peso 1000 gros (g)

    Calibre >2,5mm

    (%)

    Produo (kg/ha)

    Peso 1000 gros (g)

    Calibre >2,5mm

    (%)

    SCARLETT 5.340 38,28 82,9 3.910 34,27 67,6

    Da mesma forma a densidade de sementeira tambm deve ser superior no sequeiro. Para calcular a densidade de sementeira deve usar-se como base o nmero de gros/m2 em vez de quantidade de semente (kg/ha). A quantidade no tem em conta a variao no tamanho da semente que ocorre de variedade para variedade ou mesmo de ano para ano. (Quadro 8). Como norma, em regadio, devem usar-se densidades mais baixas (250 gros/m2-350 gros/m2). No sequeiro deve subir-se para 350 gros/m2450 gros/m2.

    Quadro 8 - Variao da quantidade de semente (kg/ha) de acordo com o peso de 1000 gros das variedades de cevada, Pewter e Scarlett.

    Densidade de sementeira gros/m2

    PMG (g) Variedade 300 350 450 550

    52 PEWTER 156 180 234 286

    38 SCARLETT 114 133 171 209

  • 15

    Fig. 3 - Fase do desenvolvimento GS 13-14 Fig. 4 - Fase do desenvolvimento GS 13-14

    Resultados de ensaios envolvendo as variedades Pewter e Scarlett com diferentes densidades mostram um efeito reduzido na produo quando se aumenta a dose de semente (Quadro 9 e 10). As densidades mais baixas conduzem a povoamentos mais equilibrados e mais fceis de manipular, sobretudo no que diz respeito ocorrncia de doenas e acama. Quadro 9 Produo de gro (kg/ha) de cevada em 3 densidades de sementeira - regadio.

    350

    gros/m2 450

    gros/m2 550

    gros/m2

    PEWTER 6.850 6.440 7.180

    SCARLETT 7.660 7.370 6.800

    Quadro 10 Produo de gro (kg/ha) de cevada em 5 densidades de sementeira - sequeiro.

    Densidade de sementeira gros/m2

    Variedade 250 300 400 450 550

    SCARLETT 4.473 4.603 4.847 4.717 5.104

  • 16

    A profundidade de sementeira e a distncia entre linhas so outros aspectos a ter em conta para obter um bom estabelecimento da cultura. Sementeiras mais profundas que 2,5cm3cm so usuais em situaes de pouca humidade no solo e mais elevada temperatura. A semente gasta mais energia para germinar mas pode tornar-se til para evitar a acama uma vez que as razes mais profundas, contrariam os factores que provocam aquele fenmeno. Semeadores comerciais com espaamento entre linhas de 12 a 20cm so os mais usuais para distribuir a semente. Em situao de regadio e mesmo em sementeira directa prefervel optar por espaamentos da ordem dos 18-20cm. Evitam-se os problemas de falta de arejamento das plantas, sobretudo, na zona inferior dos colmos, melhorando tambm o controlo das doenas. No caso da sementeira directa, facilita-se a operao quando na presena de grande quantidade de resduos da cultura anterior. Quadro 11 - Comportamento da variedade Margret em condies de sementeira em linhas pareadas e sementeira normal (mdia de 2 anos-2007/2008 e 2008/2009)

    Densidade de

    sementeira (gros/m2)

    N de plantas

    emergncia Espigas/m2

    Produo (kg/ha)

    Linhas pareadas

    270 262 561 4.839

    Sementeira normal

    400 353 632 4.870

    Fig. 5 Campo semeado em linhas pareadas (var. Margret - Cartaxo 2008/2009)

  • 17

    4.5 - Controlo de Infestantes O controlo de infestantes na cevada um aspecto que deve merecer particular relevncia no itinerrio tcnico da cultura com vista a assegurar a obteno de boas produes e qualidade. O balanco (Avena sterlis ou Avena fatua), a erva febra (Lolium sp.), a alpista vulgarmente conhecida como erva cabecinha (Phalaris sp.) e algumas infestantes de folha larga so bastante comuns na cultura da cevada, podendo provocar fortes perdas desde que o seu controlo no seja eficaz. O sucesso tcnico e econmico do controlo de infestantes depende da integrao de vrios mtodos, conjugando prticas culturais (mtodos preventivos) com o uso de controlo qumico. O conveniente controlo das infestantes das culturas que entram na rotao e a eliminao das ervas nas bordaduras das parcelas de cultura pode contribuir para uma mais eficaz reduo do efeito nocivo na cevada. Seguindo estas prticas, o controlo qumico, com o uso de herbicidas selectivos, torna-se mais eficaz e menos dispendioso. Antes da aplicao de qualquer herbicida leia atentamente o rtulo. Deve ter-se particular cuidado com as doses e fase vegetativa da cultura para aplicao. A identificao correcta da infestante outro aspecto de particular importncia.

  • 18

    Fig. 6 - Fase do desenvolvimento GS 23-25.

    Fig. 7 - Fase do desenvolvimento GS 23-25.

  • 19

    4.6 - Fertilizao azotada Para o clculo da adubao azotada dever-se- ter em conta o teor de azoto no solo, pelo que se recomenda a realizao de anlises. Tambm o precedente cultural poder funcionar como um indicador de azoto no solo j que, em geral, aps culturas leguminosas ou culturas como o milho e o tomate, o solo fica com um teor de azoto mais elevado, facto que dever determinar uma adubao sementeira e/ou ao afilhamento mais reduzida de modo a evitar uma excessiva produo de biomassa com repercusso negativa no ndice de colheita (Quadro 12 e Fig. 7). Quadro 12 - Teor de nitratos do solo sementeira, produo de biomassa ao afilhamento e ao encanamento e ndice de colheita da cevada dstica (var. Scarlett) por localizao (Beja e Canhestros 2003-2005) (Patanita, 2007).

    Local Nitratos sementeira

    (kg ha-1)

    Biomassa ao afilhamento (kg MS ha-1)

    Biomassa ao encanamento (kg MS ha-1)

    Beja 23 365/270* 2944/1185*

    Canhestros 55 455/362* 3238/1963*

    (*) Valores obtidos sem aplicao de fertilizante azotado.

    Fig. 7 Talhes de cevada dstica (var. Scarlett) sujeitos a diferentes doses e fraccionamentos de fertilizante azotado.

  • 20

    Alm disso importante reter que a planta apenas utiliza em mdia, cerca de 30% do azoto fornecido pelo adubo, aumentando esta utilizao com o fraccionamento e com a aplicao nas fases em que a cultura mais exigente no nutriente. No que respeita ao azoto total existente no gro e na planta inteira colheita, cerca de 50% derivado do azoto fertilizante, pelo que os outros 50% provm do azoto do solo (Quadro 13). Quadro 13 - Eficincia do uso do adubo azotado (%) em cevada dstica (var. Scarlett) em regadio (Beja, 2003-2005) (Patanita, 2007).

    Fraccionamento Recuperao do 15N fertilizante (%)

    N total derivado do 15N fertilizante (%)

    Gro Planta inteira

    Gro Planta inteira

    S 24,6 30,5 45,8 46,4

    S + A 26,3 33,4 46,2 47,1

    S + E 31,2 39,1 51,4 51,1

    A + E 34,8 43,5 53,7 53,9

    Media 29,2 36,6 49,3 49,6

    Ssementeira, Aafilhamento, Eencanamento A fertilizao azotada dever ser to fraccionada quanto possvel para melhorar a eficincia de utilizao do azoto fertilizante, conduzindo a produtividades mais elevadas (Quadro 14) e teores de protena dentro do intervalo requerido pela indstria (9,5 a 12%). A aplicao tardia de fertilizante azotado aumenta o teor de protena do gro podendo ultrapassar o limite mximo fixado pela indstria, embora em situaes de regadio se possa aplicar fertilizante azotado no encanamento (em sequeiro apenas at ao final do afilhamento) sem prejuzo da qualidade do gro para malte e cerveja (Quadro 15).

  • 21

    Quadro 14 - Produo de gro e teor de protena do gro da cevada dstica (var. Scarlett) em regadio por dose e por fraccionamento de azoto fertilizante (Beja e Canhestros, 2003-2005) (Patanita, 2007).

    Dose (kg N ha-1)

    Produo de gro (kg ha-1)

    Protena do gro (%)

    0 3.296 8,7

    75 5.263 10,0

    100 5.529 10,4

    125 5.811 11,0

    150 5.763 11,7

    Mdia 5.132 10,4

    Fraccionamento Produo de gro (kg

    ha-1) Protena do gro (%)

    S 5.045 8,7

    S + A 5.151 10,0

    S + E 5.095 10,4

    A + E 5.100 11,0

    S + A + E 5.271 11,7

    Mdia 5.132 10,4

    S sementeira, A afilhamento, E encanamento

  • 22

    Quadro 15 - Produo de gro e teor de protena do gro da cevada dstica (var. Scarlett) em sequeiro por dose e por fraccionamento de azoto fertilizante (Beja e Canhestros, 2005-2007).

    Dose (kg N ha-1)

    Produo de gro (kg ha-1)

    Protena do gro (%)

    0 2.559 8,6

    75 4.680 9,8

    100 4.882 10,7

    125 5.185 11,5

    150 4.992 12,6

    Mdia 4.460 10.7

    Fraccionamento Produo de gro (kg

    ha-1) Protena do gro (%)

    S 4.529 10,2

    S + A 4.549 10,4

    S + E 4.345 10,7

    A + E 4.304 11,3

    S + A + E 4.571 10,6

    Mdia 4.460 10,4

    S sementeira, A afilhamento, E encanamento

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    Como indicao geral, recomenda-se a monitorizao da seara (Fig. 7), ao longo do ciclo, com vista a evitar quer excesso de azoto, que conduz produo desnecessria de biomassa estrutural com repercusses negativas ao nvel de produo de gro, quer situaes de carncia que prejudiquem a produo final. De acordo com resultados de experimentao recente (Quadro 13) em regadio, doses de fertilizante azotado da ordem 125-150 kg N/ha no parecem constituir limitao quer no que respeita ao teor de protena do gro quer produo de biomassa e ao peso do gro. J em relao ao sequeiro as doses devem ser ajustadas de acordo com o andamento climtico do ano.

    Fig. 8 Monitorizao do azoto na cevada dstica atravs do medidor de clorofila

    Minolta SPAD 502

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    Fase do desenvolvimento GS 31-33

    Fig. 9 - Alongamento dos caules GS 31-32.

    4.7 - Rega A rega na cultura dever ser realizada como complemento da precipitao, sempre que os indicadores de gua do solo e/ou do estado hdrico da cultura justificarem. A cultura da cevada para malte requer uma boa repartio de gua ao longo do ciclo e sem deficits marcados. A programao da rega dever ter por base a determinao da evapotranspirao da cevada (ETc), de acordo com a metodologia recomendada pela FAO, que considera como ponto de partida a determinao da evapotranspirao de referncia (ETo) pelo mtodo de Peman-Monteith com recurso a dados meteorolgicos. Com base nessa informao, e recorrendo especificidade da cevada (Fig. 9) disponibilizado semanal, desde 2002, em www.cotr.pt/sagra.asp, informao sobre a utilizao de gua pela cultura para diferentes zonas do Alentejo, considerando diferentes datas de sementeira que abrangem desde o ms de Novembro a inicio de Janeiro.

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    Fig. 10 Ciclo cultural da cevada (FAO, 1998)

    Pela anlise da Fig. 10, considerando que a cevada, em termos mdios tem um ciclo cultural de 160 dias, verifica-se que a fase com maior exigncia hdrica, fase intermdia, est compreendida entre o fim do espigamento e o inicio da maturao ou gro leitoso.

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    Fig.11 Monitorizao do estado hdrico do solo

    Fig. 12 - Fase de enchimento do gro

    Este ponto foi elaborado pelo Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR)

    4.8 Controlo de Doenas Em Portugal a cultura da cevada pode ser severamente afectada pelas doenas. Tambm neste caso o seu controlo depende largamente de medidas preventivas, destacando-se o uso de variedades resistentes e a rotao de culturas que influncia claramente o nvel de inoculo presente no solo. No controlo qumico deve prestar-se particular ateno ao aparecimento dos sintomas e sobretudo persistncia do efeito dos fungicidas, pois poder ser necessrio recorrer a mais que uma aplicao. A cevada pode ser atacada por um grande nmero de doenas, mas em Portugal destacam-se, pela sua severidade, as seguintes:

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    1 Odio, causado pelo fungo Erysiphe Blumeria graminis

    Esta doena ocorre em condies de humidade elevada com temperaturas amenas, manifestando-se, em Portugal, na fase do incio do encanamento (GS 31-33).

    2 Rincosporiose, causada pelo fungo Rhynchosporium secalis.

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    3 Helminthosporiose, causada pelo fundo Pyrenophora teres.

    4 P negro, causado pelo fungo Gaeumamomyces graminis.

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    5 (BYDV) Vrus do ananicamento amarelo da cevada Ataques de BYDV seguem-se, normalmente, aps infestaes de afideos. Se houver controlo eficaz da praga no existe perigo de aparecimento. Fig. 13 - Ataque de BYDV Fig. 14 - Ataque de afideos

    Como informao adicional, que julgamos ser bastante til, apresentamos de seguida uma tabela que refere o efeito do nmero de aplicaes de fungicida na qualidade da cevada, mais concretamente na produo e calibre.

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    Quadro 16 Resultados obtidos a partir das Fichas de Produo de Cevada Cervejeira preenchidas pelos produtores (Campanha 2007/2008).

    N de Aplicaes

    de Fungicida

    Pewter Prestige Scarlett

    Kg/ha Cal.

    >2,5mm (%)

    Cal. 2,5mm

    (%)

    Cal. 2,5mm

    (%)

    Cal.

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    5 PRODUO DE MALTE 5.1 A Maltibrica Em 1990, a Unicer e o seu habitual fornecedor de malte espanhol, a Intermalta, avanaram para a construo da primeira, e nica at ao momento, malteria de raiz em Portugal. O projecto assentou em rigorosos critrios de automao industrial, o que, aliado a uma cuidada seleco da tecnologia e equipamentos adoptados e utilizao de matria prima da melhor qualidade, garante de elevados ndices de qualidade e de produtividade. A produo iniciou-se em Maio de 1992, em regime de laborao contnua. Desde ento no se perdeu uma nica produo diria devido a paragens voluntrias ou involuntrias. A Maltibrica produz anualmente cerca de 40.000 toneladas de malte, utilizando para isso cerca de 50.000 toneladas de cevada dstica.

    Fig.15 Maltibrica

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    5.2 - Malte O malte um gro de cereal, geralmente cevada, germinado durante um perodo limitado de tempo e de seguida seco, de forma a permitir a sua conservao durante perodos prolongados. a principal fonte de extracto e enzimas para a obteno de aucares fermentescveis usados na produo de cerveja. tambm fonte de nutrientes para o crescimento da levedura, para a origem da cor da cerveja e para a formao da espuma. De acordo com a utilizao dos diferentes tipos de malte, obtm-se diferentes tipos de cerveja.

    Fig.16 Malte

    5.3 O processo de maltagem O processo de maltagem consiste em transformar um gro de cereal (cevada) num gro de malte e compreende as seguintes etapas: Molha: a cevada, depois de limpa e calibrada, enviada para as tinas de molha onde permanece durante 24 a 48 horas, a temperatura e

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    humidade controladas. Durante este processo, e com o objectivo de activar a germinao, a cevada alternadamente mergulhada em gua (perodo hmido) e exposta ao ar (perodo seco). A percentagem de humidade do gro aumenta de cerca de 12 para 40 a 45%. Durante os perodos hmidos a cevada tem arejamento e nos perodos secos h extraco de CO2, a fim de evitar a asfixia dos gros. Na Maltibrica existem duas tinas de molha, com capacidade de 50 a 55 toneladas cada uma.

    Fig.17 Tina de Molha

    Germinao: aps a Molha, a cevada enviada para as caixas de germinao, onde permanece entre 16 a 24 horas em cada uma das caixas, num total de 6, a temperatura e humidade controladas. Estas caixas tm um fundo perfurado, a fim de permitir a circulao do ar. A transferncia do malte verde entre caixas efectuada atravs de um sistema de ps por arrastamento. Durante esta fase so produzidas

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    enzimas que desagregam as paredes celulares, tornando o gro frivel. As caixas de germinao podem ter capacidades diferentes. No caso da Maltibrica, tm capacidade entre 50 a 55 toneladas.

    Fig.18 Caixas de Germinao

    Secagem: tem por objectivo parar a germinao atravs da secagem do malte at teores de humidade na ordem dos 4-5%, para que possa ser armazenado em boas condies. Este processo feito em estufa, durante 30 a 48 horas, e carece de enormes cuidados para que as enzimas do malte sejam inactivadas e no destrudas.

    Fig.19 Secagem

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    5.4 A Importncia da cevada no processo de maltagem A utilizao de semente certificada de variedades de cevada previamente testadas, garantem um bom desempenho no processo de maltagem. Desde o inicio do processo, que os lotes de cevada homogneos apresentam um comportamento mais regular e uniforme na germinao, condio essencial para a obteno de um produto final de excelente qualidade. O malte produzido nestas condies, apresenta caractersticas fsico-qumicas mais homogneas, que so essenciais para cumprir as especificaes da indstria da cerveja.

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