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1 Aracely Mehl Gonçalves (org.) LITERANEMA: Literatura e Cinema em sala de aula Primeira Edição São Paulo 2014

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Aracely Mehl Gonçalves (org.)

LITERANEMA:

Literatura e Cinema em sala de aula

Primeira Edição

São Paulo

2014

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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO.......................................................05 LITERATURA E CINEMA EM SALA DE AULA: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL Aracely Mehl Gonçalves...............................................07 “A LETRA ESCARLATE”: NATHANIEL HAWTHORNE Andréa Fabbri de Oliveira Machado.............................18 “A REVOLUÇÃO DOS BICHOS.”: GEORGE ORWELL Bruno Almeida Guimarães...........................................33 “AS MULHERZINHAS”: LOUISA MAY ALCOTT Luciane Jacinto de Almeida.........................................54 “BEOWULF” Wellington Cristoffer Matos..........................................68 “FRANKENSTEIN OU O PROMETEU MODERNO.”: MARY SHELLEY Rafael Gomes de Proença...........................................88 “JANE EYRE”: CHARLOTE BRÖNTE Jaqueline de Oliveira Almeida....................................109 “LOLITA”: WLADIMIR NABOKOV Amanda Machado Motta............................................129

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“O GRANDE GATSBY”: SCOTT FITZGERALD Fabiano José dos Santos...........................................148 “O MORRO DOS VENTOS UIVANTES”: EMILY BRONTË Ana Paula Sousa Araujo ...........................................161 “O RETRATO DE DORIAN GRAY”: OSCAR WILDE

Tiago Almeida Guimarães..........................................175 “ORGULHO E PRECONCEITO”: JANE AUSTEN

Aline Camargo da Silva..............................................193

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APRESENTAÇÃO

Caros leitores:

Esta publicação representa um esforço, em conjunto, de doze pessoas que amam literatura e cinema e viram neste binômio uma forma de melhorar sua terceira paixão: ensinar a língua inglesa e sua literatura.

Como nos diz o mestre Paulo Freire: “Ensinar é um ato de amor”. Assim, passamos dias e noites de um ano inteiro, dedicados a diversas obras da literatura inglesa e americana, com o duplo propósito de auxiliar outros colegas professores e, aumentar o conhecimento de mundo de nossos alunos que poderão ser apresentados a diferentes autores além daqueles que constam do currículo nacional, expandindo assim seus horizontes.

Considerando- se que a arte cinematográfica pode ser uma importante aliada na sala de aula para os professores de literatura, desenvolvemos desde o ano de 2011, nas Faculdades Integradas de Itararé SP, nas disciplinas de Literatura Inglesa e Norte Americana, um projeto de pesquisa intitulado “Educação, cinema e literatura” que pretende, através do estudo de autores que partilham da mesma premissa, analisar e comparar diversas obras cinematográficas e a obra literária original a qual ela corresponde. Os onze estudos aqui descritos foram desenvolvidos por alunos do curso de Letras – Inglês nos anos de 2011, 2012 e 2013, respectivamente. A ordem com que se apresentam não segue nenhuma cronologia de escrita nem de autores, pois considero que todos são igualmente importantes. Para resolver este impasse organizei-os por ordem de título das obras analisadas, uma simples questão de ordem alfabética.

Muitos títulos ainda virão, outras analises serão feitas mas, quero agradecer profundamente aos primeiros onze alunos que aceitaram o desafio de praticamente viver um autor e sua obra por um ano e andar com a presença dele todo dia a seu lado, em suas idas e vindas até a faculdade, e também nos fins de semana sentados em frente à televisão assistindo aos seus filmes.

Muitos falavam dos seus autores com uma intimidade enorme: tornaram-se amigos íntimos. Muitos chegavam indignados depois de assistir a uma adaptação fílmica mal feita, como se aquilo fosse um ato de afronta ao seu querido amigo. Outros se

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deliciavam com as nuances de cores, sons e imagens usadas pelos cineastas, para colocar em imagens um sentimento tão sutil apresentado pelo autor do livro e assim, a cada dia, tornavam-se mais apaixonados pelo seu amigo autor.

Agradeço especialmente a Andrea Machado por ter sido o estopim do projeto e sua representante com “A Letra Escarlate”. Sua paixão por Hawthorne a fez ler várias biografias do autor na língua original da obra, já que as escritas em português, na opinião dela, não se mostravam satisfatórias a importância do autor.

Dedico esta obra a todos estes alunos; heróis na opinião de alguns colegas, que aceitaram assinar meu terrível “termo de compromisso” quando do início do processo de pesquisa – diziam as más línguas que era assinado com seu sangue... – que respeitaram todos os meus prazos, não tiverem medo e nem preguiça de se dedicar ao projeto e foram como filhos preciosos para mim (recebia mensagens diárias deles, até nas minhas férias:” Professora, onde você está? Já leu o que eu lhe enviei? Estou travado! Me ajude!”.

Este projeto nos uniu e nunca seremos separados porque cada palavra deste livro vai viver para sempre, assim como meu carinho, orgulho e respeito por vocês.

Por fim, e não menos importante ao desenvolvimento desta obra, agradeço a colaboração da colega professora Suzana Domingues, pela revisão e correção dos textos para nossa língua mãe, o apoio e incentivo de meu esposo Marcus Vinicius e minha filha Heloisa por acreditarem que estes estudos poderiam se transformar em um livro e a oportunidade que me foi dada pelas Faculdades Integradas de Itararé de estar à frente de alunos tão maravilhosos.

Obrigada a todos.

Professora Aracely Mehl Gonçalves

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LITERATURA E CINEMA EM SALA DE AULA: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL.

Aracely Mehl Gonçalves [email protected]

A literatura sempre esteve presente em sala de aula, entretanto, nem sempre de forma agradável e prazerosa. Alguns professores escolhem um titulo, e determinam o que deve ser lido e depois fazem resumos ou qualquer outra atividade longa e cansativa, sem objetivos ou estímulos que despertem a curiosidade, que deve ser explorada ao máximo para que provoque o interesse dos alunos, principalmente daqueles que não apreciam a atividade da leitura. Ao final, os alunos leem somente por exigência do professor ou ainda porque precisam completar pontos para média bimestral, sem que se desenvolva um real interesse pela literatura.

Os professores alegam diversos fatores para a falta de empenho dos alunos em relação à leitura de obras literárias, como a falta de disciplina, poucos e antigos volumes, ou, temas difíceis.

As transformações tecnológicas estão cada vez mais presentes em nosso meio social e os estudantes estão em constante contato com elas. Faz-se obvio, o quanto se enfadam com a habitual: lousa, giz, livro didático, caderno, etc. Ainda mais, se comparados aos novíssimos: tablet e blue-ray. Segundo Modro, (2010) mais de 50% das escolas municipais e estaduais já possuem laboratórios de informática, mesmo estando em mal estado, e que quase 100% dessas escolas têm televisões e aparelhos de DVD.

Ensinar a perceber, apreciar e ouvir o mundo a volta de seus alunos são, certamente, tarefas do educador que tem como objetivo formar um aluno capaz de compreender e questionar os diversos textos que circulam á sua volta. Atualmente, as formas de letramento constituem-se na leitura de diferentes linguagens e estas necessitam fazer parte da prática educativa. Entre os diferentes gêneros textuais presentes no nosso dia a dia, encontra-se um que agrada a todos, independentemente

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de idade, credo ou ainda situação social: o cinema. Assim, porque não incluir o cinema em sala de aula? Freire (1996, p 41) diz:

“Uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou professora ensaiam a experiência profunda em assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto.”

Segundo o mesmo autor (1996), a função do professor vai além da exposição de conteúdos educacionais; ele é responsável pela interação do novo conhecimento, e pela busca de maneiras diversificadas de aplicar o mesmo a fim de construir no aluno seu senso crítico. Vivendo em numa época em que existe uma grande gama de meios de comunicação, muitos deles propícios ao empreendimento da educação, essa busca se tornou mais fácil, porém ainda é necessária uma seleção desses meios, dos quais poucos são acessíveis à escola. Um dos meios mais populares e viáveis para o uso na sala de aula é o cinema, por isso iremos abordar esse meio nesse artigo. Educação e cinema já não constitui uma abordagem nova. Segundo Catelli (2003) esse vínculo já vem sido estudado há anos por pesquisadores, professores e até políticos interessados na área. O que pode ser considerado uma inovação, é a presença do cinema nas práticas pedagógicas, pois, considerando-se todo o suporte que o mesmo traz para sala de aula, sendo ele um meio de comunicação de massas e que possui uma gigantesca gama de estilos que alcançam várias faixas etárias, o material fílmico é uma poderosa ferramenta a ser usada nas mãos do professor. De acordo com Duarte:

Parece ser desse modo que determinadas experiências culturais, associadas a uma certa maneira de ver filmes, acabam interagindo na

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produção de saberes, identidades, crenças e visões de mundo de um grande contingente de atores sociais. Esse é o maior interesse que o cinema tem para o campo educacional; sua natureza eminentemente pedagógica. (DUARTE, 2002, p. 19)

Do ponto de vista da autora anteriormente citada, o cinema é uma ferramenta pedagógica que pode despertar o olhar crítico e aumentar o conhecimento de mundo do expectador, pois ele interage com o novo conhecimento que está sendo aplicado em sala de aula, e também com os saberes prévios do aluno, abrindo assim caminho para debates e dinamicidade com assuntos abordados, que podem ser tanto pedagógicos como sociais, dessa forma saindo da monotonia do ensino repetitivo e contribuindo também para:

[...]o aprimoramento da habilidade leitora, a construção de conhecimentos linguísticos e culturais, o estudo da estrutura narrativa fílmica (linear ou não linear) e a apreensão de novas referências e relações entre áreas e discursos.”(THIEL, THIEL, 2009, p 13)

Martin (2010: p 20) diz ainda sobre o a interação de cinema

e aluno:

O cinema é dotado de uma linguagem pluralista, por meio de cenas que tratam das situações da vida, é possível que sejam realizadas discussões de temas diversos sem desvinculá-las à realidade do educando. Isso pode ser de grande importância para um tratamento coerente com os novos paradigmas que se tem buscado na educação, permitindo que o sujeito que constrói o conhecimento do ponto de vista social seja enxergado. Um dos principais objetivos de se usar imagens cinematográficas na educação é para compreender as relações

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entre Ciências, sociedade e Educação. Como exemplo disso tem-se a construção de uma postura mais crítica em relações às mídias (...) e ao seu papel no nosso cotidiano.

Acompanhando esse pensamento, onde o autor coloca o cinema como mediador entre o conhecimento a ser adquirido e o educando, compartilha-se a ideia que o uso dos atributos linguísticos e visuais do cinema trabalha interage com a vida do aluno e sua vivência na sociedade, e ainda mostra a aplicação do conhecimento que ele adquire nas aulas, sendo assim a experiência pode ser mais frutífera e gratificante. Considerando que uma grande parte dos filmes é baseada em obras literárias1·, se torna mais que atrativa a proposta de trabalhar a interação entre cinema e literatura. Como diz Brito (2006, p.131) “na era da interdisciplinaridade, nada mais saudável do que tentar ver a verbalidade da literatura pelo viés do cinema, e a iconicidade do cinema pelo viés da literatura”, ou seja, usando de ambas as qualidades dos elementos para chegar a um denominador comum, ou construindo uma abertura subjetiva, mais confortável para os alunos, com o cinema para, e nessa abertura introduzir o outro suporte, no caso, a literatura, como diz Cunha (2000, p 143) “os dois textos podem ser lidos, então, em conjunto, situação de recepção em que um ilumina o outro” .

O uso do cinema em sala de aula pode também, elevar a motivação dos alunos para a leitura da obra literária. Cláudio de Sá Capuano, ao falar sobre o uso do cinema como ferramenta pedagógica diz que:

Entende-se o filme como importante recurso de motivação do estudo de temas históricos e literários, a partir de uma visão representada na arte. No entanto, ele não pode ser utilizado como elemento isolado, pois assim seria condenado a um entendimento muito superficial, aquém de suas potencialidades.

1 De acordo com Bluestone (1973, p. 3), um terço dos filmes produzidos nos estúdios da RKO, Paramount e Universal são adaptações de

romances.

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(2008, p. 1).

Os filmes necessitam ser escolhidos de maneira apropriada, em um bom contexto, sempre com propósitos específicos. Os professores devem planejar com cuidado, como será aplicado o uso do cinema em sala de aula e também compreender que se trata de uma atividade complementar. Jamais deve ser tratada de maneira leviana e desinteressada por partes dos professores, pois consequentemente não serão obtidos bons resultados. Claudemir Ferreira (s/d, p.2) afirma que “[...]é preciso que o professor seja mediador e que esteja preparado para explorar um filme colocado à disposição de seus alunos, para que o filme ganhe sentido didático e propicie o aprendizado”.

Muitos professores não estão habituados a fazer uso da linguagem audiovisual, e consequentemente acabam cometendo algumas falhas. As mais comuns segundo Martins (2010) são: colocar filmes quando algum professor falta, ou ao termino dos conteúdos. Quando o vídeo/filme não tem ligação com o conteúdo, os alunos costumam perceber que o utilizaram para “enrolar”. Há professores, que descobrem que fazer uso do vídeo/filme é eficaz e acabam por usá-lo em demasia, e também há os professores que simplesmente não fazem uso do cinema por achar muitos “defeitos”.

Devemos considerar que o cinema não precisa se comparar a literatura e reciprocamente, pois são linguagens diferentes. Segundo Antonio Mateus (2008 p.1) “Essas duas linguagens devem dialogar sem que haja diluição ou servilismo”. As obras literárias que são adaptadas, diversas vezes sofrem muitas modificações, pois há necessidade de acrescentar ou tirar algo. Daniela Garces de Oliveira e Sandra da Silva Careli afirmam que:

Parece claro se saber que uma obra literária não se traduz fielmente num filme, sobretudo pelo tempo, que no cinema teria outra concepção. Ora, o filme não pode ter na sua íntegra ambientes personagens, eventos próprios de uma obra literária. Às vezes até se percebe certa tentativa de se manter muitos elementos que sugerem fidelidade a obra.

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Porém não é o intento de um filme. Faz-se necessário perceber quais supressões serão feitas pelo diretor e que estarão no cerne do discurso que busca implementar. (OLIVEIRA e CARELI, p. 4).

O professor Carlos Adriano Martins (2010), em seu curso “Cinema em sala de aula”, nos aponta que é importante ter alguns critérios na escolha dos filmes a serem usados em sala de aula, na preparação para a execução e de como será feito o procedimento. Se faz necessário que mostremos um vídeo ou filme com o objetivo de despertar a curiosidade dos alunos para um assunto novo ou para complementação dos conteúdos antigos. Para que não haja erros, o mesmo deverá assistir ao filme antes, para comprovar se a qualidade é apropriada, adequada à faixa etária dos estudantes, verificar o nível de adaptação da obra literária para linguagem fílmica e certamente analisar se a mesma está de acordo com a proposta de ensino.

O professor, mediador do conhecimento, precisa avaliar a prática educativa com um olhar crítico e perceber que ela “se dá em uma variedade de lugares sociais, incluindo o espaço escolar, mas não se restringindo a ele” (HOLLEBEN, p. 08, s/a). Por conseguinte a educação tem de primar-se por respeitar o conhecimento de mundo que o educando possui, valorizando- o dentro das salas de aulas.

Desde cedo as crianças e jovens têm contato com obras cinematográficas. Os clássicos infantis são lidos para elas na infância e depois outros gêneros são apresentados e discutidos com os jovens e, algumas destas obras são apresentadas também como adaptações para o cinema. Elas crescem interagindo com essas duas linguagens artísticas, assim, ao usar o cinema na sala de aula, o professor enriquecerá sua práxis pedagógica utilizando-se dessa importante ferramenta no processo ensino-aprendizagem, neste caso, nas aulas de literatura inglesa.

Se faz necessário também que o professor saiba discernir que literatura e cinema são duas linguagens artísticas distintas, porém cinema é uma “linguagem que tem parentesco com a literatura, possuindo em comum com ela o uso da palavra, das personagens e a finalidade de contar histórias” (COSTA apud SCORSI, 2005, p. 37) e esse parentesco permite ao educador

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buscar diferentes meios para que os alunos possam aprender literatura, sem que as aulas se tornem chatas ou ainda pouco atraentes.

Ao invés de utilizá-la como mero entretenimento, a sétima arte precisa ser vista pelo docente como uma ferramenta educacional de fácil acesso e de grande proveito pedagógico, tendo-a como “mais um suporte a ser utilizado na educação, com uma pedagogia voltada à função comunicativa que o meio dispõe” (MARTIN, 2010, p. 37).

O professor que faz uso do cinema em suas aulas despertará o educando para uma nova visão de mundo, pois o trabalho com adaptações de obras da literatura para o cinema

[..]propicia ao leitor a interação com as situações retratadas nessas obras [...] permite ao leitor experimentar pontos de vistas diversos e, ao mesmo tempo, intervir nesse processo dialógico, uma vez que o leitor torna-se a obra e a obra passa a integrar o próprio leitor. (FILETTI, s/a, p. 06)

A criança ou o adolescente que assiste a uma aula com recursos midiáticos variados, aliados a uma boa formação do docente, se sobressairá àquelas que não têm esse contato, pois com esse “recurso visual, aguçamos algo que já é presente e fundamental na criança: sua criatividade, sua capacidade de indagar, de perguntar” (MARTINS, 2010, p. 38), contribuindo para a formação de um adulto mais consciente e autônomo.

Buscando a aplicação das teorias acima citadas, e considerando o parco hábito de leitura pela maioria dos estudantes é que esse estudo foi realizado, Considerando- se que a arte cinematográfica pode ser uma importante aliada na sala de aula para os professores de literatura, desenvolveu-se desde o ano de 2011, nas Faculdades Integradas de Itararé SP, nas disciplinas de Literatura Inglesa e Norte Americana, um projeto de pesquisa intitulado “Educação, cinema e literatura” que pretendeu, através do estudo de autores que partilham da mesma premissa, analisar e comparar diversas obras cinematográficas e a obra literária original a qual ela corresponde.

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O foco desse trabalho foi o de fazer uso do contato entre cinema e literatura, a fim de extrair um material dinâmico e prático para o uso dos professores e estudantes da área de literatura Inglesa. Os onze artigos aqui apresentados foram escritos por alunos do curso de Letras – Inglês nos anos de 2011, 2012 e 2013 e seguiram, como metodologia de pesquisa, as seguintes fases:

1) leitura e estudo de artigos que demonstram e fundamentam a teoria da importância do cinema na sala de aula como um elemento enriquecedor das aulas de literatura.

2) levantamento bibliográfico acerca dos dados do autor e obra estuda a fim de auxiliar aqueles que não tenham conhecimento prévio da obra em questão.

3) Um resumo da obra e a análise de suas personagens seguem o artigo tendo a mesma finalidade anterior.

Após a leitura, análise e contextualização de todos os dados referentes à cada uma das obras literárias, são apresentados dados das adaptações cinematográficas analisadas em cada artigo para que seja traçado um comparativo entre as mesmas e a obra original. Por fim, após as análises comparativas dos filmes, individualmente, os alunos apresentaram a adaptação que, na visão dos mesmos, corresponde a representação mais próxima ao livro analisado, possibilitando assim aos professores, ao utilizarem alguma destas adaptações em sua sala de aula, um conhecimento geral sobre a obra literária e seu autor bem como das obras fílmicas que podem vir a serem ótimas ferramentas pedagógicas para o ensino de literatura nos dias atuais.

Este projeto teve seu início a partir da problematização levantada por alguns alunos da turma de 2011, ao se depararem com a falta de conhecimento de muitas pessoas quanto ao enredo original da obra literária “A Letra Escarlate”. Conhecendo somente o filme, estas pessoas o julgavam uma “grande história de amor com final feliz”, fato este que não condiz com a escrita de Nathaniel Hawthorne. Preocupados com esta constatação, elegemos o livro como marco inicial de nosso projeto que foi sendo expandido para outros autores e suas obras.

Quanto às análises comparativas, é de nosso conhecimento que podemos levar as mesmas para um nível muito mais profundo do que a simples comparação obra – filme porém, compactuamos aqui com a opinião de Alfredo Suppia pois não

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tratamos de reclamar fidelidade a obra original, no sentido de uma transcrição ipsis verbis da narrativa.De acordo com o autor citado

A adaptação audiovisual pode - e muitas vezes deve – influir sobre sua fonte, criando novos elementos, descartando ou enfatizando determinados aspectos. Mas havemos de considerar que, em se tratando de um texto original de sucesso, um filme adaptado será tanto mais apreciado quando for capaz de reproduzir o espírito e a atmosfera da obra matriz, não importando quão subjetivos sejam estes aspectos. ( 2007, p.214)

Portanto, não se pretende com esta publicação esgotar o assunto, nem mesmo dizer que o cinema deve substituir a leitura da obra original, sempre mais rica e importante para o desenvolvimento cognitivo de nossos alunos, porém, em tempos de internet, em tempos visuais por excelência, é necessário que tentemos alcançar nossos alunos com ferramentas que despertem seus interesses.

Referências

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Autêntica, 2002.

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MATEUS, A. C. C. Literatura, cinema e educação. IN: Anais do XI Congresso Internacional da ABRALIC. Disponível em: < http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/009/ANTONIO_MATEUS.pdf >. Consultado em 25 /03/2013.

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THIEL, G. THIEL, J. Movie takes: a magia do cinema na sala de aula. Ed: Aymará, Curitiba, PR, 2009.

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“A LETRA ESCARLATE”: NATHANIEL HAWTHORNE

Andréa Fabbri de Oliveira Machado [email protected]

1. Autor e obra. 1.1 Nathaniel Hawthorne Timidez e introspecção são duas palavras que descrevem com precisão a personalidade de um dos maiores autores norte-americanos, considerado por Nabuco (1967, p.50) como o “mais bem dotado novelista já surgido nos Estados Unidos”

Nathaniel Hawthorne nasceu em Salém e lá viveu tempo suficiente para o puritanismo do local encrustrar-se em seu corpo e mente. Mas um ponto interessante a ser analisado e questionado é o fato de que, através de suas obras, o autor infere essa cultura praticamente nascida com ele e ao mesmo tempo a critica de maneira direta e indignada. Para se entender melhor sobre o pensamento de Nathaniel Hawthorne, é necessário voltar ao século XVII. Salém foi a cidade-símbolo da bruxaria nos Estados Unidos. Um dos ancestrais de Nathaniel Hawthorne participou diretamente dos tribunais de feitiçaria. A sociedade era totalmente ligada ao puritanismo religioso, social e moral da época. Vivendo por anos em Salém, Hawthorne tem uma grande bagagem para começar a escrever, sua grande paixão. Antes de ser um escritor, Nathaniel Hawthorne trabalhou no porto de sua cidade natal, como alfandegário. Sua função burocrática o impedia de escrever. Quando foi demitido, Salém já se apresentava há tempos em decadência. Finalmente Hawthorne começa a passar para o papel o reflexo de sua personalidade. Personalidade esta, que é percebida no livro que é considerada sua obra-prima:” A Letra Escarlate”. Mas o autor analisado começou a ser admirado antes desse romance. Seu primeiro livro publicado foi “Twice-Told Tales” com a ajuda financeira de um amigo. A partir dessa publicação é que o autor foi conquistando um número, ainda que pequeno, de fiéis seguidores. Aos trinta e oito anos, casou-se com Sophia Peabody,

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sua maior incentivadora. A partir daí não parou mais de escrever contos, narrativas, e, com um bom material em suas mãos, publicou “Mosses from a Old Manse”. Como características de suas obras, destacam-se a simbologia de seus sentimentos, principalmente a sua vivência com o puritanismo e a distorção dos padrões morais e éticos da época. De acordo com Royot (2009, p.35) Hawthorne extraia seus temas “[...] da dolorosa herança cultural da Nova Inglaterra, uma colônia puritana. Dela exorcizava os demônios, com olhar aguçado para os sofrimentos psicológicos e os dramas morais [...]”. “A Letra Escarlate” foi sem dúvida o seu maior e mais famoso trabalho, tanto que logo faria parte dos estudos acadêmicos de universidades dos Estados Unidos. A obra mostra mais do que claramente o interior de seu autor. Hawthorne era perfeito no quesito “análise do íntimo do ser humano”. Imprimia essa análise de forma neutra. Sobre isto, o autor Robert Spiller (1955, p.80) diz:

Há um significado estético e moral nesta posição neutra que HAWTHORNE assumiu, sem estar dentro nem fora do fluxo da vida humana. Como artista, esta posição lhe deu bastante perspectiva para tratar a realidade com a liberdade que se usa para com a ficção e, como moralista, ela lhe trouxe uma mensagem que se tornou sua, pessoal: o elo do pecado – cometido ou só imaginado – prende o homem à terra e consequentemente a um destino comum a todos os seres humanos, seus semelhantes. O verdadeiro calvinista procura punição do pecado como a preparação para uma redenção que lhe foi prometida por Deus; HAWTHORNE, o herege humanitário, o considera um reconhecimento da fraternidade dos homens entre si e pouco lhe importa o que poderá sobrevir numa vida pós-terrena.

Nas histórias de Nathaniel Hawtorne, a vida, o cotidiano e os personagens são retratados como símbolos, não como pessoas reais. São alegorias, que para o autor, transmitem com mais clareza o sentimento que lhe é mais próximo ao ponto de

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entendimento a que o leitor deve se aproximar. A este assunto, Spiller (Idem, p.80) aponta:

O homem (ou a mulher) é o seu herói, dotado de esperança de atingir a perfeição, que ele entrevê, vagamente através de sua fé cristã, mas sempre voltado para si mesmo e empenhado em descobrir o obscuro caminho da salvação de sua alma através do caminho do pecado.

Vários estudiosos da vida e da personalidade de Nathaniel Hawthorne convergem para uma opinião; ele escrevia suas sensações, indignações sobre os padrões sociais e religiosos do momento. Ao mesmo tempo, ele vivia dentro desses padrões. Existia então um conflito interno que o fazia alternar-se em ser uma pessoa calma, serena, correta em suas atitudes e às vezes ser incompreendido, insatisfeito com sua vida. Parecia que Nathaniel Hawthorne não se encaixava em lugar algum na Terra. Essa falta de entrosamento com o mundo e suas regras fazia com que Nathaniel Hawthorne escrevesse, numa tentativa de se encontrar como um ser humano. Projetava suas vontades e repugnâncias em todos os seus personagens, tornando suas obras tão admiradas pelos seus leitores e o colocando no patamar mais alto da literatura Norte Americana e mundial. Ao falecer, em 1864, aos sessenta anos, Nathaniel Hawthorne deixou como herança aos leitores, muitas obras, e um legado de sua forte personalidade, essa que o confrontou durante toda sua vida, mas que, sem ela, suas riquíssimas obras não teriam sido escritas e contempladas pelos estudiosos, estudantes do mundo todo e simplesmente admiradores de uma leitura repleta de fatores psicológicos que se embrenham na imaginação de cada um. 1.2. A Letra Escarlate

Nathaniel Hawthorne começou a escrever “A Letra Escarlate” quando foi demitido do seu emprego na Alfândega, em Salém. A partir daí teve tempo para organizar suas anotações e se dedicar com tempo integral a que seria mais tarde sua obra-prima.