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2013/2014 Lino Manuel Moreira Azevedo Cardiomiopatia dilatada idiopática março, 2014

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2013/2014

Lino Manuel Moreira Azevedo

Cardiomiopatia dilatada idiopática

março, 2014

Mestrado Integrado em Medicina

Área: Cardiologia

Trabalho efetuado sob a Orientação de:

Doutor Manuel Joaquim Lopes Vaz da Silva

Trabalho organizado de acordo com as normas da revista:

Revista Portuguesa de Cardiologia

Lino Manuel Moreira Azevedo

Cardiomiopatia dilatada idiopática

março, 2014

1

CARDIOMIOPATIA DILATADA IDOPÁTICA

IDIOPATHIC DILATED CARDIOMYOPATHY

Autor: Lino Azevedo

Mestrado integrado em Medicina, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Porto,

Portugal

Correspondência para: Lino Manuel Moreira Azevedo, Rua do Sanguinhal, nº89,

Alvarelhos, Trofa, 4745-015 TRF. E-mail: [email protected]

Número de palavras: 4261

2

Índice

Índice .................................................................................................................................. 2

Resumo e palavras-chave .................................................................................................. 3

Abstract e key words ......................................................................................................... 4

Lista de abreviaturas .......................................................................................................... 5

Introdução .......................................................................................................................... 6

Métodos ............................................................................................................................. 7

Classificação das cardiomiopatias ..................................................................................... 8

Génotipo e fenótipo, CMD .............................................................................................. 10

Mutações que causam CMD ........................................................................................... 11

Mutações que contribuem para o desenvolvimento de CMD ......................................... 14

Diagnóstico genético e tratamento .................................................................................. 18

Conclusão ........................................................................................................................ 19

Bibliografia ...................................................................................................................... 20

Figuras ............................................................................................................................. 23

Tabelas ............................................................................................................................ 26

3

Resumo

Introdução e objetivos: A cardiomiopatia dilatada idiopática é uma doença com relativamente elevada

prevalência, no entanto a sua base genética continua largamente desconhecida. O objetivo desta

revisão é resumir e consolidar os novos desenvolvimentos na genética da cardiomiopatia dilatada.

Métodos: Foi usado o motor de busca Pubmed para a pesquisa de artigos científicos. Estes foram

posteriormente selecionados de acordo com os objetivos da revisão.

Resultados: As novas descobertas na área da cardiomiopatia dilatada ao longo das últimas décadas têm

permitido avanços notáveis não só na investigação mas também na prática clínica. A crescente

compreensão dos mecanismos fisiopatológicos da doença, como os apresentados, está a tornar a

classificação atual das cardiomiopatias obsoleta pelo que aparece a classificação MOGE(S). Estas

novas descobertas começam também a ter implicação na prevenção e tratamento dos doentes.

Conclusões: Foram feitos grandes avanços no campo da cardiomiopatia dilatada, nomeadamente na

etiologia, fisiopatologia e classificação. É no entanto preciso continuar a procura de conhecimento

nesta área.

Palavras-chave: Cardiomiopatia dilatada; Genética; Insuficiência cardíaca

4

Abstract

Background and objectives: The genetic etiology of dilated cardiomyopathy remains largely unknown,

despite its relatively high prevalence. We aim to resume and consolidate new findings into the genetics

of dilated cardiomyopathy.

Methods: The search engine Pubmed was used to gather articles pertaining to this field. These were

then selected in accordance to the revision’s objectives.

Results: New discoveries regarding dilated cardiomyopathy during the last decades have allowed for

great advances in terms of research as well as clinical practice. The growing comprehension of the

pathophysiology behind the disease, like the genetic mechanisms presented, called for a new, more

practical classification to be created like the MOGE(S) classification. These new genetic discoveries

are beginning to have implications into the everyday clinical practice, namely into preventive care and

therapeutic indications.

Conclusions: Despite these new findings, dilated cardiomyopathy still lacks preventive and therapeutic

guidelines based on the genetics of the disease. These could be extremely beneficial so further studies

in this area are required in the future.

Keywords: Dilated cardiomyopathy; Genetics; Heart Failure

5

Abreviaturas

ADN Ácido desoxirribonucleico Deoxyribonucleic acid

ADNmt Ácido desoxirribonucleico mitocondrial Mitochondrial deoxyribonucleic acid

AHA American Heart Association

CARP Cardiac ankyrin repeat protein

CDI Cardiodesfibrilador implantável Implantable cardioverter defibrilator

CMD Cardiomiopatia dilatada Dialted Cardiomyopathy

CMDI Cardiomiopatia dilatada idiopática Idiopathic dilated cardiomyopathy

CMH Cardiomiopatia hipertrófica Hypertrofic cardiomyopathy

CMR Cardiomiopatia restritiva Restrictive cardiomyopathy

ESC European Society of Cardiology

MMP Metaloproteinases da matriz Matrix metalloproteinase

SNP Polimorfismos nucleótido único Single nucleotide plolymorphism

WHF World Heart Federation

6

Introdução

A cardiomiopatia dilatada (CMD) é uma doença primária do músculo cardíaco causada por

anormalidades funcionais e estruturais dos cardiomiócitos e uma importante causa de morte súbita de

origem cardíaca e insuficiência cardíaca progressiva1, 2.

Esta é definida por um alargamento de um ou

ambos os ventrículos acompanhado de disfunção sistólica. Dentro das cardiomiopatias, o fenótipo

dilatado é o mais comum, e dentro deste, mesmo em centros especializados com investigação

diagnóstica exaustiva, em apenas 50% é estabelecida uma causa específica para a doença3. Isto é

devido à natureza multifatorial da CMD, sendo atribuída a designação de idiopática quando não é

identificada uma causa específica.

Porém, graças aos grandes avanços tecnológicos das últimas décadas, em vários casos de

cardiomiopatia dilatada idiopática (CMDI) tem sido possível identificar novos fatores provocadores da

doença, nomeadamente a autoimunidade, infeções prévias, citotoxicidade ou morte celular1, 3

.

Ao longo dos últimos anos várias mutações têm sido identificadas como causadoras de

cardiomiopatia1. Estas novas mutações envolvem principalmente genes que codificam proteínas

envolvidas na citoarquitetura dos cardiomiócitos. Uma das principais unidades celulares responsável

pela citoarquitetura é o sarcómero, a unidade funcional básica do músculo estriado, e dentro desta a

banda-Z. Esta é responsável pela união entre os vários sarcómeros, e portanto essencial à translação da

contração sarcomérica num movimento cardíaco efetivo1. No entanto, a falta de marcadores

fenotípicos com associação ao genótipo continua a apresentar um dos maiores desafios à investigação

da etiologia da doença3, 4

.

Deste modo o objetivo desta revisão consiste em examinar os novos avanços na área da

genética da CMDI e resumir a informação já comprovada neste campo.

7

Métodos

Na recolha de informação acerca do tema “Cardiomiopatia dilatada idiopática” foi utilizado o

motor de busca PubMed para a procura de artigos científicos, sendo utilizada a seguinte pesquisa

“("Cardiomyopathy, Dilated/genetics"[Mesh] OR (dilated[All Fields] AND

("cardiomyopathies"[MeSH Terms] OR "cardiomyopathies"[All Fields] OR "cardiomyopathy"[All

Fields]))) AND idiopathic[title] AND ("2000/01/01"[PDAT] : "2014/12/31"[PDAT])”. A pesquisa foi

limitada a artigos sobre CMDI em humanos, publicados a partir do ano 2000 e escritos em inglês ou

português. Dentro destes parâmetros foram encontradas 690 referências distintas. Os artigos foram

posteriormente selecionados por título e depois por abstract, sendo incluídos os que abordavam a

perspetiva genética da CMDI. Sempre que o texto integral de um artigo não estava disponível foram

contactados os seus autores, solicitando o seu envio.

8

Classificação das cardiomiopatias

A classificação das várias cardiomiopatias tem sofrido uma grande evolução ao longo dos

tempos. Em 1957, Brigden definiu cardiomiopatias como doenças raras de etiologia não coronária do

músculo cardíaco2. Seguidamente, Goodwin e Oakley definiram cardiomiopatias como doenças do

miocárdio de origem desconhecida, propondo a categorização das doenças em cardiomiopatia dilatada

(CMD), hipertrófica (CMH) e restritiva (CMR)2. Mais tarde, a American Heart Association (AHA) e a

European Society of Cardiology (ESC) propuseram revisões à classificação das cardiomiopatias.

Ambos os sistemas propostos têm bastantes similaridades e fazem recomendações importantes, no

entanto diferem na abordagem à doença. A classificação da AHA descreve as cardiomiopatias partindo

da base genética da doença seguida da descrição do fenótipo miocárdico. Por outro lado a classificação

da ESC retém a divisão em categorias morfofuncionais original seguida de subdivisões de acordo com

a etiologia2, 3

. Porém ambos os sistemas de classificação não consideram as doenças específicas do

músculo cardíaco (resultantes de doença congénita cardíaca, hipertensiva, valvular ou coronária) como

fazendo parte das cardiomiopatias. As figuras 1 e 2 traduzem os modelos propostos pela AHA e ESC.

A nova proposta de classificação das cardiomiopatias apoiada pela World Heart Federation

(WHF) contempla os novos conhecimentos decorrentes dos avanços no diagnóstico genético,

permitindo assim, uma abordagem fenótipo-genótipo melhor fundamentada. Esta define

cardiomiopatias como doenças caracterizadas por miocárdio funcionalmente e morfologicamente

alterados na ausência de outra doença que, por si só, cause o fenótipo cardíaco observado2. Inspirada

pelo sucesso e utilidade da classificação TNM para estadiamento de tumores, que tem sido

constantemente expandida e providencia uma linguagem comum a todos os clínicos, a classificação

MOGE(S) é criada tendo em mente uma abordagem modular e de expansibilidade fácil, utilizando 5

características das cardiomiopatias para as definir como mostrado na tabela 1.

Em relação à CMD, esta nova classificação poderá trazer muitos benefícios não só no que

concerne ao diagnóstico mas também no capítulo da terapêutica mais individualizada no futuro. Isto é

devido ao fenótipo CMD ser amplamente similar entre as inúmeras etiologias possíveis, porém,

dependendo da etiologia, os riscos a que o paciente está sujeito são muito diferentes2.

9

Assim sendo, uma nomenclatura simples e sistematicamente organizada cria uma linguagem

fenotipo-molecular comum facilmente incorporada na prática clinica sem o risco de se perder

informação importante. Esta poderá ser um utensilio indispensável no futuro, à medida que o avanço

tecnológico permite estudos genéticos cada vez mais completos e acessíveis e estes são cada vez mais

utilizados para decisões terapêuticas e preventivas, é também necessária uma linguagem comum a

todas as partes envolvidas.

10

Genótipo e fenótipo, CMD

Nas últimas décadas mais de 60 genes foram descritos como causadores de CMD,

especialmente genes do citoesqueleto celular e mais recentemente genes do sarcómero e banda-Z,

inicialmente estudados pelo seu papel na patogénese de CMH e posteriormente descoberta a sua

relação com a CMD1-3, 5

. Para além destas, mutações nos genes da laminina (LMNA), dystrophin

(DMD) e tafazzin (TAZ) são responsáveis por CMD associada a distrofia muscular1, 6-11

. A figura 3

ilustra a grande quantidade e variedade de moléculas implicadas na fisiopatologia da CMD.

Adicionalmente, mutações que afetam os canais iónicos cardíacos também foram identificadas como

causadoras de doença, como a mutação do gene EYA4 que causa CMD acompanhada de perda

auditiva1. A maioria destes genes tem hereditariedade autossómica dominante, com alguns casos raros

de hereditariedade autossómica recessiva, dominante e recessiva ligada ao X, e matrilinear2, 12, 13

. A

tabela 2 resume os genes implicados na CMD assim como a sua hereditariedade.

Porém, devido ao elevado número de mutações causadoras de doença e à sua baixa

prevalência, grande parte dos seus mecanismos patológicos continuam desconhecidos. Assim sendo

serão apresentados em melhor detalhe as mutações com mecanismos fisiopatológicos mais conhecidos

ou cujos mecanismos tenham sido descobertos mais recentemente.

11

Mutações génicas que causam CMD

LMNA (laminina A e C)

As mutações do gene LMNA, que codifica as proteínas laminina A e C, são das mais

frequentemente encontradas em casos de cardiopatia dilatada idiopática e familiar, tendo uma

prevalência de 5% a 10% nos casos familiares e de 2% a 5% nos casos esporádicos 1, 10, 14

. As

lamininas A e C são proteínas da família dos filamentos intermediários, sendo constituintes da lâmina

nuclear e portanto envolvidas em várias funções essenciais da célula10

. Assim sendo, alterações da sua

estrutura estão associadas a várias doenças, como distrofia muscular, lipodistrofia, progeria e CMD 14

.

A maioria das mutações identificadas consiste em mutações pontuais que levam à substituição de um

aminoácido por outro, criando assim múltiplas variantes da laminina A e C 8, 10

.

Clinicamente, a apresentação de CMD devido mutação do LMNA é heterogénea quer na idade

de manifestação da doença quer na sua gravidade, porém manifesta-se tipicamente por alargamento

ventricular esquerdo e redução da função sistólica do ventrículo esquerdo, precedida por defeitos da

condução cardíaca, como bloqueio auriculoventricular ou arritmias supraventriculares10, 14

.

No entanto, nos vários estudos que foram realizados sobre a patogenia das variantes de

laminina A e C foi demonstrado que estas não são sempre patogénicas por si só, sendo necessário em

certos casos outro fator causal concomitante10

. Por outro lado estão também descritas alterações da

morfologia nuclear e da localização da laminina A e C quando existem estas variantes, pelo que

estudos da arquitetura nuclear poderão ser úteis para uma melhor compreensão da etiopatogenia da

CMD relacionada com variantes do gene LMNA8, 10, 14

.

Troponinopatias

O complexo das troponinas é uma parte essencial do sarcómero cardíaco e é composto por

uma subunidade ligante de cálcio (troponina C), uma subunidade inibitória (troponina I) e uma

molécula alongada (troponina T). Este complexo é um modulador essencial da interação actina-

miosina e do funcionamento de ATPases mediadas pelo cálcio no músculo estriado9, 15, 16

. Assim

sendo, o complexo das troponinas distribui-se ao longo dos pequenos filamentos do sarcómero,

12

interagindo com a actina e tropomiosina, regulando desta forma parte integral da contractilidade

cardíaca9, 16

.

Neste complexo foram descobertas mutações das três subunidades de troponina causadoras de

doença, nomeadamente nos genes TNNC1 (troponina C), TNNT2 (troponina T) e TNNI3 (troponina

I)9, 17, 18

. Estima-se que alterações no complexo das troponinas estejam presentes em cerca de 6% dos

casos de CMD, sendo as manifestações clínicas dos portadores destas mutações geralmente severas

(morte súbita cardíaca, necessidade de transplante cardíaco) e de aparecimento em média na quarta

década de vida9, 16

.

Estudos recentes sugerem que a troponina T é essencial não só à integridade estrutural do

complexo das troponinas, mas também ao acoplamento dos sarcómeros e à contractilidade cardíaca.

Estudos subsequentes em modelos experimentais mostraram que as alterações da troponina T

causadoras de doença provocam dessensibilização ao cálcio da ATPase da actomiosina, que por sua

vez reduzem a velocidade de contração do sarcómero e consequentemente a sua força contráctil1, 5, 9

.

Pensa-se que seja por este mecanismo que a função sistólica é afetada com o subsequente

aparecimento de dilatação das câmaras cardíacas9.

A troponina C é a proteína do complexo das troponinas responsável por ligar o cálcio durante

a sístole. Esta ligação induz alterações conformacionais no complexo das troponinas que diminuem a

potência inibitória da troponina I, permitindo a interação entre miosina e actina, sendo o resultado

final a contração muscular9, 11, 15, 18

. A mutação descrita para este gene (TNNC1) trata-se de uma

mutação pontual, resultando na substituição de um aminoácido no domínio de ligação ao cálcio da

troponina C1, 9

. Isto pode alterar a afinidade da troponina C pelo cálcio, e portanto explicar a falta de

regulação da contração cardíaca e o subsequente aparecimento da doença9, 16

.

A troponina I exerce uma função inibitória no complexo das troponinas. Recentemente foram

descritas mutações com hereditariedade dominante e recessiva no gene TNNI3 causadoras de CMD1, 2,

15. Em estudos funcionais esta alteração provocou uma diminuição significativa da capacidade de

construção do complexo das troponinas e concomitantemente desregulação da contractilidade

cardíaca1, 15

.

13

Porém, nem todos os portadores de mutações nos genes das troponinas cardíacas apresentam a

doença, apesar da penetrância destes genes ser elevada. Isto aponta para a natureza multifatorial da

CMDI, podendo estes genes conferir maior risco de desenvolver a doença após exposição a um fator

extrínseco, quando não são causadores de doença1, 5, 7, 9, 15

. Desta forma, o aparecimento de doença

nestes casos resulta de uma interação entre alterações genéticas e fatores ambientais1, 9

.

Assim sendo, as alterações destes três genes podem ser bons candidatos para pesquisa

sistemática em caso de CMDI, permitindo aos clínicos estar alertados para a probabilidade elevada de

um fenótipo grave e de instalação precoce da doença1, 9

.

14

Mutações génicas que contribuem para o desenvolvimento de CMD

Haplogrupo Mitocondrial H

Os haplogrupos mitocondriais são grupos criados pelas variações do ADN mitocondrial

humano (ADNmt). Cada haplogrupo é definido por um conjunto de polimorfismos de nucleótido

único (SNPs)19

. Os vários haplogrupos diferem na forma como a cadeia transportadora de eletrões é

construída, havendo diferenças na produção de superóxido e outras espécies reativas de oxigénio.19

Desta forma, os níveis de stress oxidativo vão influenciar a morbilidade, mortalidade e longevidade

dos indivíduos com diferentes haplogrupos1, 7, 19

.

Um estudo recente avaliou a prevalência dos vários haplogrupos mitocondriais presentes numa

população espanhola incluindo um grupo de doentes com CMDI e um grupo de controlo. Neste estudo

foi encontrada uma prevalência mais elevada do haplogrupo H no grupo dos doentes em comparação

com o grupo de controlo19

. Esta maior prevalência do haplogrupo H aponta-o como potencial fator de

risco, porém não é considerado causador de doença visto uma grande quantidade da população

saudável também possuir este haplogrupo19

. O mecanismo pelo qual o haplogrupo H confere uma

maior suscetibilidade a doença pensa-se ser a maior produção de espécies reativas de oxigénio que

condicionam um maior consumo de oxigénio das mitocôndrias. Uma vez que o miocárdio é o tecido

do corpo com maior captação de oxigénio, ao longo do tempo será também o tecido que sofrerá maior

dano devido ao stress oxidativo potenciado pelo haplogrupo mitocondrial H19

. Este dano consiste no

ataque a biomoléculas como proteínas contráteis ou canais iónicos cardíacos pelos radicais de

oxigénio19

. Adicionalmente, a alteração do equilíbrio oxidação-redução intracelular pode levar à

ativação de mecanismos de resposta ao stress oxidativo que também podem estar implicados na

patogenia da CMD19

.

No entanto este é um estudo único numa população europeia muito selecionada (espanhóis

caucasianos), sendo portanto necessários estudos mais abrangentes para avaliar melhor a influência

dos haplogrupos mitocondriais na CMDI.

15

Metaloproteinases da matriz

As Metaloproteinases da matriz (MMP) são uma família de enzimas dependentes do zinco que

degradam a matriz extracelular e foram identificadas como participantes na remodelação cardíaca

existente nas várias fases da insuficiência cardíaca20

. As MMPs são agrupadas de acordo com o

substrato que degradam, tendo sido até à data identificadas 20 MMPs diferentes. A regulação destas

proteínas é efetuada em vários níveis, sendo o controlo da transcrição muito apertado20-22

. Estudos

anteriores revelaram que polimorfismos nas zonas promotoras dos genes das MMPs promovem uma

transcrição desregulada das mesmas e estão associadas a suscetibilidade a várias doenças (como

doença coronária ou cancro)20

.

De modo a avaliar se os genótipos das MMPs eram determinantes de CMDI foi realizado um

estudo na população chinesa Han para analisar a correlação entre as MMP-1, -3 e -9 e a doença20

. Este

estudo mostrou uma associação significativa entre MMP-3 e a cardiomiopatia, mas não com a MMP-1

ou MMP-9. A MMP-3 é de especial interesse entre as várias MMPs, uma vez que tem uma quantidade

de substratos mais abrangente e tem também a capacidade de ativar outras MMPs ao atuar sobre as

suas moléculas precursoras20-22

. Dentro dos polimorfismos da MMP-3, um genótipo (5A/6A) foi

expresso com maior frequência nos indivíduos com CMD em relação ao grupo de controlo20

. Como a

MMP-3 pode participar na cascata de ativação que controla a remodelação ventricular e consequente

alargamento dos ventrículos, especula-se que seja este o seu mecanismo patológico na CMD20

.

Desta forma este polimorfismo da MMP-3 apresenta-se como um possível fator de

suscetibilidade para a CMD, pelo menos na população chinesa Han20

.

Miopaladina

A miopaladina é uma proteína estrutural da banda-Z codificada pelo gene MYPN.6 Tendo em

conta o elevado número de genes de proteínas sarcoméricas identificados como patogénicos na CMDI,

o gene MYPN foi proposto como um possível elo da sua etiopatogenia1, 5, 6

.

Um estudo genético em doentes com CMDI identificou 3 mutações do gene MYPN que não

estavam presentes em nenhum dos indivíduos do grupo de controlo. Após identificação das mutações

estas foram transfectadas em miócitos de ratos recém-nascidos, sendo depois comparadas as

16

arquiteturas dos sarcómeros entre si e com células saudáveis6. Em duas das três mutações a arquitetura

dos miócitos estava alterada, havendo expressão de miopaladina em áreas fora da banda-Z. A terceira

mutação apresentava uma citoarquitetura normal no modelo experimental, mas a análise histológica de

tecido de necropsia do miocárdio de um portador desta mesma mutação mostrou uma alteração

estrutural do sarcómero semelhante às das duas mutações anteriores6. Para além desta alteração

estrutural, as células com miopaladina mutante sofreram desorganização sarcomérica e morte celular

precoce6.

Com base nestes resultados as mutações do MYPN são potenciais fatores causadores de

doença/suscetibilidade. O seu mecanismo fisiopatológico, para além da alteração estrutural do

sarcómero em consequência da mudança da conformação da miopaladina pela mutação, pode também

estar associada ao facto de o N-terminal da miopaladina interagir com o CARP (cardiac ankyrin repeat

protein)6. Este é um inibidor da transcrição descrito como sendo sobre expresso em várias doenças

cardíacas, incluindo a CMD. Uma desregulação da via de sinalização do CARP poderá explicar a

desorganização sarcomérica e morte celular precoce observada, porém é necessária mais investigação

neste campo para esclarecer a implicação destas mutações na fisiopatologia da CMD6.

Presenilina

A presenilina é uma proteína essencial à γ-secretase, enzima responsável pelo processamento

proteolítico de múltiplas proteínas associadas à membrana celular. Esta proteína é amplamente

expressa no cérebro, onde é responsável pela regulação de correntes de cálcio intracelular e está

implicada na fisiopatologia da doença de Alzheimer23

. É também expressa no coração, onde é

essencial à morfogénese cardíaca. Devido ao seu papel na regulação da homeostasia do cálcio e no

processamento de proteínas, mutações nos genes PSEN1 e PSEN2 foram propostas como possíveis

causas de CMDI23

.

Assim sendo, foram estudadas a acumulação de depósitos proteicos fibrilares e oligoméricos

devido a mutações do PSEN1 e PSEN2, e também as alterações à homeostasia celular por estas

causadas. Foi demonstrado que miócitos que apresentavam depósitos proteicos sofriam de contração

muscular reduzida e desregulação da homeostasia do cálcio23

. Estas alterações são semelhantes às

17

existentes na doença de Alzheimer e outras doenças degenerativas. Por outro lado estes depósitos

proteicos são frequentemente encontrados em indivíduos entre a sexta e nona década de vida, podendo

o seu aparecimento em indivíduos mais novos sugerir uma senilidade precoce do aparelho cardíaco23

.

Para além dos depósitos proteicos, a presenilina foi também implicada na possível patogénese

da doença. Várias proteínas constituintes do metabolismo do cálcio são substrato da presenilina/γ-

secretase, notoriamente o SERCA2b (sarco/reticulum Ca2+

-ATPase 2b), diminuindo a sua função

quando a presenilina está infra-regulada23

.

Desta forma, alterações dos genes PSEN1 e PSEN2 são potenciais candidatos a causadores de

doença, uma vez que aumentam os agregados proteicos intracelulares, que por sua vez alteram a

homeostasia do cálcio e provocam citotoxicidade. A desregulação da presenilina pode ainda alterar a

função de proteínas reguladoras da excitação e contractilidade do miocárdio23

.

HSPB7

Mais recentemente vários estudos têm utilizado uma aproximação mais abrangente à

identificação de causas genéticas de CMDI. Um destes estudos identificou um polimorfismo do gene

HSPB7 como estando associado a maior suscetibilidade a CMDI24

. O HSPB7 é um gene que codifica

uma pequena proteína de choque térmico, a cvHsp (também conhecida como HspB7). Estas proteínas

de choque térmico são geralmente ativadas quando a célula está sob stress, seja por temperatura

elevada, hipoxia ou isquemia. Esta proteína quando ativada interage com outras proteínas de choque

térmico e também com elementos da banda-Z de miocárdio24

.

Apesar do mecanismo fisiopatológico deste polimorfismo não estar esclarecido, a sua

prevalência nos doentes deste estudo foi muito elevada, estando presente em 49% dos casos de

CMDI24

. Por conseguinte o polimorfismo do HSPB7 pode estar envolvido numa grande parte da

patogenia da doença, quer como causador ou gene de suscetibilidade. Porém mais estudos são

necessários para esclarecer o seu mecanismo fisiopatológico. Neste sentido este polimorfismo poderá,

no futuro, ser útil no rastreio de populações de alto risco de CMDI para identificação de indivíduos de

risco elevado24

.

18

Diagnóstico genético e tratamento

Atualmente, o diagnóstico de CMD continua a ser baseado em estudos morfofuncionais, sendo

necessários disfunção sistólica do ventrículo esquerdo acompanhada de dilatação. Porém, tendo em

conta os novos conhecimentos adquiridos na área da genética, os estudos familiares e genéticos são

cada vez mais considerados. Este tópico continua no entanto em discussão, estando as guidelines em

constante evolução12, 13

.

Assim sendo, quando um novo caso de CMD é identificado, atualmente preconiza-se um

estudo da história familiar até 3-4 gerações e um rastreio clínico (história, exame, eletrocardiograma e

ecocardiograma) de familiares em primeiro grau. Este rastreio tem como objetivo a identificação de

pacientes assintomáticos ou com doença ainda não detetada12, 13

. Os testes e aconselhamento genéticos

são indicados em casos conhecidos de CMD familiar de modo a melhor estratificar o risco de doença

nos membros da família. Estes estão também indicados em casos nos quais o diagnóstico de CMD está

bem fundamentado mas para o qual não foi encontrada outra causa.

Quanto ao tratamento este continua a ser baseado nas alterações funcionais pelo que a

identificação de uma mutação não irá alterar a terapêutica. No entanto a presença de certas mutações

pode influenciar o rastreio, educação e aconselhamento dos familiares, e o limiar para instituição de

medidas de prevenção primária (e.g aplicação de CDI em doentes com mutação da LMNA ou

desmina) ou terapia pré-sintomática (e.g. bloqueadores-β)12, 13, 25

.

19

Conclusão

A etiopatogénese da cardiomiopatia dilatada “idiopática” continua largamente desconhecida.

Apesar dos grandes avanços conseguidos nas últimas décadas, nomeadamente com a identificação de

novos genes implicados na etiologia da doença, estes continuam a explicar apenas uma diminuta

proporção dos casos de CMDI1, 5, 7

. Adicionalmente continua a não existir um conhecimento integrado

da natureza multifatorial desta doença e a associada interação entre fatores intrínsecos do doente,

como o genótipo ou autoimunidade, e fatores extrínsecos potencialmente desencadeadores da doença.

Por outro lado, algumas das descobertas recentes enunciadas nesta revisão podem constituir

um elo importante para a etiopatogenia da CMDI, nomeadamente o polimorfismo do HSPB7 24

. O

estudo referenciado encontrou uma prevalência de um polimorfismo do HSPB7 em 49% dos doentes

com CMD, podendo, no futuro, ser um bom gene para estratificação de risco de desenvolvimento da

doença. Porém o seu mecanismo patológico ainda não é conhecido, podendo esta associação com a

cardiomiopatia ser apenas coincidência.

Outro ponto interessante foi a necessidade de criação de um novo sistema de classificação

(MOGES) adequado ao conhecimento atual e que pode ser facilmente expandido no futuro se

necessário. Este poderá providenciar uma linguagem básica sólida para a comunicação e investigação

médicas da CMD2.

São então necessários mais estudos nas áreas da genética, autoimunidade, infeção e influências

ambientais para melhor caracterizar esta doença. Consequentemente uma melhor compreensão desta

doença permitirá no futuro identificar indivíduos com maior risco de a desenvolverem, o que por sua

vez habilitará uma melhor prevenção. Adicionalmente, a compreensão total do mecanismo patológico

da CMDI poderá permitir a descoberta de novos alvos terapêuticos e, desta forma, uma melhor

qualidade de vida ou até a cura dos doentes que dela sofrem.

20

Bibliografia

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MYH7, TNNT2, SCN5A, CSRP3, LBD3, and TCAP from 313 patients with familial or

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18. Hershberger RE, Norton N, Morales A, et al. Coding sequence rare variants identified in

MYBPC3, MYH6, TPM1, TNNC1, and TNNI3 from 312 patients with familial or idiopathic

dilated cardiomyopathy. Circ Cardiovasc Genet. 2010;3(2):155-61.

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haplogroup H as a risk factor for idiopathic dilated cardiomyopathy in Spanish population.

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20. Tang LJ, Chen XF, Zhu M, et al. Matrix metalloproteinase-1, -3, and -9 gene polymorphisms

and the risk of idiopathic dilated cardiomyopathy in a Chinese Han population. Clin Biochem.

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left ventricular function in idiopathic dilated cardiomyopathy. Jpn Circ J. 2000;64(5):352-7.

22. Reddy HK, Tjahja IE, Campbell SE, et al. Expression of matrix metalloproteinase activity in

idiopathic dilated cardiomyopathy: a marker of cardiac dilatation. Mol Cell Biochem.

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state of genetic testing for the channelopathies and cardiomyopathies this document was

developed as a partnership between the Heart Rhythm Society (HRS) and the European Heart

Rhythm Association (EHRA). Heart Rhythm. 2011;8(8):1308-39.

23

Figuras

Figura 1: Classificação das cardiomiopatias da American Heart Association.

Retirada e adaptada de Arbustini E, Narula N, Dec GW, et al. The MOGE(S) Classification for a

Phenotype– Genotype Nomenclature of Cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol. 2013; 62:2046-72. CMD

= cardiomiopatia dilatada; CMH = cardiomiopatia hipertrófica; CMR = cardiomiopatia restritiva;

CMVDA = cardiomiopatia ventricular direita arritmogénica; MSNI = morte súbita noturna

inexplicada; NCVE = Não-compactação ventricular esquerda; SQTC = síndrome QT curto; SQTL =

síndrome QT longo; TVPC = taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica.

24

Figura 2: Classificação das cardiomiopatias da European Society of Cardiology.

Retirada e adaptada de Arbustini E, Narula N, Dec GW, et al. The MOGE(S) Classification for a

Phenotype– Genotype Nomenclature of Cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol. 2013; 62:2046-72. CMD

= cardiomiopatia dilatada; CMH = cardiomiopatia hipertrófica; CMR = cardiomiopatia restritiva;

CMVDA = cardiomiopatia ventricular direita arritmogénica.

25

Figura 3: Moléculas envolvidas na CMD.

Retirada e adaptada de Hershberger, R. E. et al. (2013) Dilated cardiomyopathy: the complexity of a

diverse genetic architecture Nat. Rev. Cardiol. doi:10.1038/nrcardio.2013.105. Genes relevantes à

CMD codificam um diverso conjunto de proteínas, estando aquelas nas quais foi identificada uma

mutação relacionada com a CMD indicadas por uma estrela. a) Núcleo do cardiomiócito; b)

Desmossoma, junção celular; c) Membrana celular do cardiomiócito e proteínas da matriz

extracelular; d) membrana cardiomiócito, túbulo-T e retículo sarcoplasmático; e, f) sarcómero. β1AR =

recetor adrenérgico β1; DAG = glicoproteína associada à distrofina; CMD = cardiomiopatia dilatada;

DHPR = recetor dihidroperidina; NCX = trocador sódio/cálcio; SERCA2a =

sarcoplasmic/endoplasmic reticulum Ca2+

ATPase 2a.

26

Tabelas

Tabela 1: Classificação da WHF (2013) segundo o sistema MOGE(S)

Retirada e adaptada de Arbustini E, Narula N, Dec GW, et al. The MOGE(S) Classification for a

Phenotype– Genotype Nomenclature of Cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol. 2013; 62:2046-72.

ACC/AHA = American College of Cardiology-American heart Association; ARVC = arrythmogenic

right ventricular cardiomyopathy (cardiomiopatia ventricular direita arritmogénica); LVNC = Left

ventricular noncompaction (não compactação ventricular esquerda); NYHA = New York Heart

Association.

27

Tabela 2: Genes/proteínas identificados na CMD

Gene nuclear Proteína Hereditariedade

ABCC9 ATP-binding cassette, subfamily C, member

9 AD

ABLIM1 Limatin (actin-binding LIM domain protein) AD

ACTC1 Cardiac actin alpha AD

ACTN2 Alpha-actinin 2 AD

ALMS1 ALMS1-C AR

ANO5 Anoctamin 5 AR

ANKRD1 Ankyrin repeat domain-containing protein 1 AD

BAG3 BCL2-associated athanogene 3 AD

CASQ2 Calsequestrin 2 AD

CAV3 Caveolin3

CRYAB Alpha B crystallin AD

CSRP3 Cysteine- and glycine-rich protein 3 AD

DES Desmin AD

DMD Dystrophin X-linked recessive

DMPK Dystrophia myotonica protein kinase gene AD

DOLK Dolichol kinase AR

DSC2 Desmocollin 2 AD

DSG2 Desmoglein 2 AD

DSP Desmoplakin AD

EMD Emerin X-linked recessive

EYA4 Eyes absent 4 AD

FHL1 Four-and-a-half LIM domains 1 X-linked recessive,

X-linked dominant

GATAD1 GATA zincfinger domain containing

protein 1 AD

ILK Integrin-linked kinase AD

JUP (DP3) Plakoglobin, desmoplakin III AD, AR

LMNA Lamin A/C AD

LAMA4 Laminin alpha 4 AD

LDB3 LIM domain- binding 3 AD

MYBPC3 Myosin-binding protein C AD

MYH6 Alpha-myosin heavy chain 6 AD

MYH7 Beta-myosin heavy chain 7 AD

MYOZ1 Myozenin 1 AD

28

MYPN Myopalladin AD

NEBL Nebulette AD

NKX2-5 NK2 homeobox 5; cardiac-specific

homeobox1 AD

PDLIM3 PDZ LIM domain protein 3 AD

PLN Phospholamban AR

PKP2 Plakophilin 2 AD

PSEN1 Presenilin 1 AD

PSEN2 Presenilin 2 AD

RBM20 RNA-binding protein 20 AD

SCN5A Sodium channel, voltage gated, type V,

alpha subunit AD

SGCD Delta-sarcoglycan AD

SYNE1 Nesprin 1, synaptic nuclear envelop protein

1 AD

TAZ Tafazzin X-linked

TCAP Titin-cap; telethonin AD

TCF21 Transcription factor 21, epicardin AD

TGFB3 Transforming growth factor beta-3 AD

TMEM43 Transmembrane domain 43 AD

TMPO Thymopoietin AD

TNNC1 Cardiac troponin C1 AD

TNNI3 Cardiac troponin I3 AD

TNNT2 Cardiac troponin T2 AD

TPM1 Tropomyosin 1 AD

TTN Titin AD

VCL Vinculin AD

Retirada e adaptada de Arbustini E, Narula N, Dec GW, et al. The MOGE(S) Classification for a

Phenotype– Genotype Nomenclature of Cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol. 2013; 62:2046-72.

Listagem dos genes, respetivas proteínas e via de hereditariedade, identificados na CMD até à data.

AD = autossómica dominante; AR = autossómica recessiva; CMD = cardiomiopatia dilatada.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer ao Professor Doutor Manuel Joaquim Lopes Vaz da Silva

pelo seu suporte, disponibilidade e partilha de conhecimentos, sem os quais este projeto

não seria possível.

Agradeço ao meu amigo Rui Lopes por uma ajuda essencial na realização da

bibliografia desta revisão.

Um agradecimento especial a toda a minha família e amigos pelo seu continuado

suporte ao longo deste projeto.

Normas da Revista

A Revista Portuguesa de Cardiologia, órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, é uma publicação científica internacional destinada ao estudo das doenças cardiovasculares.

Publica artigos em português na sua edição em papel e em portu-guês e inglês na sua edição online, sobre todas as áreas da Medicina Cardiovascular. Se os artigos são publicados apenas em inglês, esta versão surgirá simultaneamente em papel e online. Inclui regularmen-te artigos originais sobre investigação clínica ou básica, revisões te-máticas, casos clínicos, imagens em cardiologia, comentários editoriais e cartas ao editor. Para consultar as edições online deverá aceder através do link www.revportcardiol.org.

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Os trabalhos submetidos para publicação na Revista Portuguesa de Cardiologia devem respeitar as recomendações internacionais sobre investigação clínica (Declaração de Helsínquia da Associação Médica Mundial, revista recentemente) e com animais de laboratório (So-ciedade Americana de Fisiologia). Os estudos aleatorizados deverão seguir as normas CONSORT.

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Conflito de interessesCada um dos autores deverá indicar no seu artigo se existe ou não qualquer tipo de Conflito de Interesses.

Declaração de originalidadeO autor deverá enviar uma declaração de originalidade. Ver anexo IProtecção de dadosOs dados de carácter pessoal que se solicitam vão ser tratados num ficheiro automatizado da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) com a finalidade de gerir a publicação do seu artigo na Revista Por-tuguesa de Cardiologia (RPC). Salvo indique o contrário ao enviar o artigo, fica expressamente autorizado que os dados referentes ao seu nome, apelidos, local de trabalho e correio electrónico sejam publica-dos na RPC, bem como no portal da SPC (www.spc.pt) e no portal online www.revportcardiol.org, com o intuito de dar a conhecer a autoria do artigo e de possibilitar que os leitores possam comunicar com os autores.

INSTRUÇÕES AOS AUTORESTodos os manuscritos deverão ser apresentados de acordo com as normas de publicação. Pressupõe-se que o primeiro autor é o repon-sável pelo cumprimento das normas e que os restantes autores conhe-cem, participam e estão de acordo com o conteúdo do manucrito.

1. Artigos OriginaisApresentação do documento:• Com espaço duplo, margens de 2,5 cm e páginas numeradas.• Não deverão exceder 5.000 palavras, contadas desde a primeira à última página, excluindo as tabelas.• Consta de dois documentos: primeira página e manuscrito• O manuscrito deve seguir sempre a mesma ordem: a) resumo estru-turado em português e palavras-chave; b) resumo estruturado em inglês e palavras-chave; c) quadro de abreviaturas em português e em inglês; d) texto; e) bibliografia; f) legendas das figuras; g) tabelas (opcional) e h) figuras (opcional)-

Primeira páginaTítulo completo (menos de 150 caracteres) em português e em inglês.

Nome e apelido dos autores pela ordem seguinte: nome próprio, seguido do apelido (pode conter dois nomes)

Proveniência (Serviço, Instituição, cidade, país) e financiamento caso haja.

Endereço completo do autor a quem deve ser dirigida a corres-pondência, fax e endereço electrónico.

Faz-se referência ao número total de palavras do manuscrito (ex-cluindo as tabelas).

Resumo estruturadoO resumo, com um máximo de 250 palavras, está dividido em quatro partes: a) Introdução e objectivos; b) Métodos; c) Resultados e d) Conclusões.

Deverá ser elucidativo e não inclui referências bibliográficas nem abreviaturas (excepto as referentes a unidades de medida).

Inclui no final três a dez palavras-chave em português e em inglês. Deverão ser preferencialmente seleccionadas a partir da lista publica-da na Revista Portuguesa de Cardiologia, oriundas do Medical Subject

Normas de publicação da Revista Portuguesa de Cardiologia

Headings (MeSH) da National Libray of Medicine, disponível em: www.nlm.nihgov/mesh/meshhome.html.

O resumo e as palavras-chave em inglês devem ser apresentados da mesma forma.

TextoDeverá conter as seguintes partes devidamente assinaladas: a) In-trodução; b) Métodos; c) Resultados; d) Discussão e e) Conclusões. Poderá utilizar subdivisões adequadamente para organizar cada uma das secções.

As abreviaturas das unidades de medida são as recomendadas pela RPC (ver Anexo II).

Os agradecimentos situam-se no final do texto.

BibliografiaAs referências bibliográficas deverão ser citadas por ordem numérica no formato ‘superscript’, de acordo com a ordem de entrada no texto.

As referências bibliográficas não incluem comunicações pessoais, manuscritos ou qualquer dado não publicado. Todavia podem estar incluídos, entre parêntesis, ao longo do texto.

São citados abstracts com menos de dois anos de publicação, identificando-os com [abstract] colocado depois do título.

As revistas médicas são referenciadas com as abreviaturas utiliza-das pelo Index Medicus: List of Journals Indexed, tal como se publi-cam no número de Janeiro de cada ano. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/citmatch_help.html#JournalLists.

O estilo e a pontuação das referências deverão seguir o modelo Vancouver 3.

Revista médica: Lista de todos os autores. Se o número de autores for superior a três, incluem-se os três primeiros, seguidos da abreviatu-ra latina et al. Exemplo:

17. Sousa PJ, Gonçalves PA, Marques H et al. Radiação na AngioTC cardíaca; preditores de maior dose utilizada e sua redução ao lon-go do tempo. Rev Port cardiol, 2010; 29:1655-65Capítulo em livro: Autores, título do capítulo, editores, título do

livro, cidade, editora e páginas. Exemplo: 23. Nabel EG, Nabel GJ. Gene therapy for cardiovascular disease. En: Haber E, editor. Molecular cardiovascular medicine. New York: Scientific American 1995. P79-96.Livro: Cite as páginas específicas. Exemplo: 30. Cohn PF. Silent myocardial ischemia and infarction. 3rd ed. New York: Mansel Dekker; 1993. P. 33.Material electrónico: Artigo de revista em formato electrónico.

Exemplo: Abood S. Quality improvement initiative in nursing homes: the ANA acts it an advisory role. Am J Nurs. [serie na internet.] 2002 Jun citado 12 Ago 2002:102(6): [aprox. 3] p. Disponível em: http://www.nursingworld.org/AJN/2002/june/Wawatch.htm. A Bibliografia será enviada como texto regular, nunca como nota de rodapé. Não se aceitam códigos específicos dos programas de gestão bibliográfica.

1. FigurasAs figuras correspondentes a gráficos e desenhos são enviadas no for-mato TIFF ou JPEG de preferência, com uma resolução nunca inferior a 300 dpi e utilizando o negro para linhas e texto. São alvo de numera-ção árabe de acordo com a ordem de entrada no texto.• A grafia, símbolos, letras, etc, deverão ser enviados num tamanho que, ao ser reduzido, os mantenha claramente legíveis. Os detalhes especiais deverão ser assinalados com setas contrastantes com a figura.• As legendas das figuras devem ser incluídas numa folha aparte. No final devem ser identificadas as abreviaturas empregues por ordem alfabética.

• As figuras não podem incluir dados que dêem a conhecer a proveniência do trabalho ou a identidade do paciente. As fotogra-fias das pessoas devem ser feitas de maneira que estas não sejam identificadas ou incluir-se-á o consentimento por parte da pessoa fotografada.

TabelasSão identificadas com numeração árabe de acordo com a ordem de entrada no texto.

Cada tabela será escrita a espaço duplo numa folha aparte.• Incluem um título na parte superior e na parte inferior são refe-ridas as abreviaturas por ordem alfabética.• O seu conteúdo é auto-explicativo e os dados que incluem não figuram no texto nem nas figuras.

2. Cartas ao EditorDevem ser enviadas sob esta rubrica e referem-se a artigos publica-dos na Revista. Serão somente consideradas as cartas recebidas no prazo de oito semanas após a publicação do artigo em questão.• Com espaço duplo, com margens de 2,5 cm.• O título (em português e em inglês), os autores (máximo quatro), proveniência, endereço e figuras devem ser especificados de acordo com as normas anteriormente referidas para os artigos originais.• Não podem exceder as 800 palavras.• Podem incluir um número máximo de duas figuras. As tabelas estão excluídas.

3. Casos ClínicosDevem ser enviados sob esta rubrica.• A espaço duplo com margens de 2,5 cm.• O título (em português e em inglês) não deve exceder 10 palavras

Os autores (máximo oito) proveniência, endereço e figuras serão especificados de acordo com as normas anteriormente referidas para os artigos originais.

O texto explicativo não pode exceder 3.000 palavras e contem in-formação de maior relevância. Todos os símbolos que possam constar nas imagens serão adequadamente explicados no texto.

Contêm um número máximo de 4 figuras e pode ser enviado mate-rial suplementar, como por exemplo vídeoclips.

4. Imagens em Cardiologia• A espaço duplo com margens de 2,5 cm.• O título (em português e em inglês) não deve exceder oito palavras• Os autores (máximo seis), proveniência, endereço e figuras serão especificados de acordo com as normas anteriormente referidas pa-ra os artigos originais.• O texto explicativo não pode exceder as 250 palavras e contem informação de maior relevância, sem referências bibliográficas. To-dos os símbolos que possam constar nas imagens serão adequada-mente explicados no texto.• Contêm um número máximo de quatro figuras.

5. Material adicional na WEBA Revista Portuguesa de Cardiologia aceita o envio de material electrónico adicional para apoiar e melhorar a apresentação da sua investigação científica. Contudo, unicamente se considerará para publicação o material electrónico adicional directamente relacionado com o conteúdo do artigo e a sua aceitação final dependerá do critério do Editor. O material adicional aceite não será traduzido e publicar-se-á electronicamente no formato da sua recepção.

Para assegurar que o material tenha o formato apropriado reco-mendamos o seguinte:

Normas de publicação da revista portuguesa de cardiologia

ANEXO IISímbolos, abreviaturas de medidas ou estatística

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Do mesmo modo, este tipo de material deverá cumprir também todos os requisitos e responsabilidades éticas gerais descritas nes-sas normas.

O Corpo Redactorial reserva-se o direito de recusar o material electrónico que não julgue apropriado.

ANEXO I

DECLARAÇÃO

Declaro que autorizo a publicação do manuscrito:

Ref.ª ........................................................................................

Título ...........................................................................................

........................................................................................................

.........................................................................................................

........................................................................................................

do qual sou autor ou c/autor.

Declaro ainda que presente manuscrito é original, não foi objecto de qualquer outro tipo de publicação e cedo a inteira propriedade à Revista Portuguesa de Cardiologia, ficando a sua reprodução, no todo ou em parte, dependente de prévia autorização dos editores.

Nome dos autores:

.............................................................................................

..................................................................................................

.........................................................................................................

Assinaturas:

Normas de publicação da revista portuguesa de cardiologia

Designação

AmpereAnoCentímetro quadradoContagens por minutoContagens por segundoCurieElectrocardiogramaEquivalenteGrau CelsiusGramaHemoglobinaHertzHoraJouleLitroMetroMinutoMolarMoleNormal (concentração)OhmOsmolPesoPressão parcial de CO2

Pressão parcial de O2

QuilogramaSegundoSemanaSistema nervoso centralUnidade InternacionalVoltMilivoltVolumeWatts

Estatística:

Coeficiente de correlaçãoDesvio padrão (standard)Erro padrão (standard) da médiaGraus de liberdadeMédiaNão significativaNúmero de observaçõesProbabilidadeTeste «t» de Student

Português

Aanocm2

cpmcpsCiECGEq°CgHbHzhJL ou LmminMmolNΩosmolpesopCO2

pO2

kgsSemSNCUIVmVVolW

rDPEPMglχNSnpteste t

Inglês

Ayrcm2

cpmcpsCiECGEq°CgHbHzhJI ou LmminMmolNΩosmolWTpCO2

pO2

kgsecWkCNSIUVmVVolW

rSDSEMdfχNSnpt test