limites e continuidade -...
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Limites e continuidade
Limite (finito) de uma função em a � �
Salvo indicação em contrário, quando nos referimos a uma
função estamos sempre a considerar funções reais de variável
real (f.r.v.r.), ou seja, funções definidas num subconjunto de �,
D f, com imagens em �.
Começamos por dar a noção de limite de uma função em a � �,
que terá de ser um ponto de acumulação do domínio de f.
Intuitivamente,
� um valor a � � é um ponto de acumulação de A, com A
subconjunto de �, se nos podemos aproximar de a, tanto
quanto pretendermos, por valores de A, diferentes de a.
� Uma função f tende para l quando x tende para a (sendo
a um ponto de acumulação de D f) se as imagens por meio
de f dos valores do domínio diferentes de a aproximam-se
tanto quanto quisermos de l, desde que os objectos se
aproximem o suficiente de a.
Definição: Diz-se que a � � é um ponto de acumulação deA (sendo A um subconjunto de �) se, em qualquer intervalo da
forma �a � �,a � ��, com � � 0, existe pelo menos um elemento
de A diferente de a.
Ao intervalo �a � �,a � ��, com � � 0, chama-se vizinhançade a com raio �.
Notação: O conjunto dos pontos de acumulação de A representa-
-se por A �.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 1
Nota 1: Um ponto de acumulação de A pode pertencer ou não a
A; um ponto de A pode ser ou não ponto de acumulação de A.
Nota 2: Pode-se provar que a é um ponto de acumulação do
conjunto A sse existe uma sucessão de elementos de A,
diferentes de a, que tende para a.
Recordemos a definição de limite de uma função, dada no
secundário (recorrendo a sucessões).
Definição de Limite (segundo Heine):
Sejam f uma função, a um ponto de acumulação de D f e l � �.
Diz-se que f tende para l quando x tende para a se
qualquer que seja a sucessão xn, de elementos de D f, diferentes
de a (pelo menos a partir de certa ordem),
se xn � a então f�xn� � l.
Diz-se ainda que l é o limite de f quando x tende para a e
escreve-se
x�alim f�x� � l.
Consequência imediata: Se existem sucessões de elementos de
D f, que tendem para a por valores diferentes de a (ou seja, os
termos, pelo menos a partir de certa ordem, são diferentes de a),
cujas imagens tendem para limites diferentes, então não existe
x�alim f�x�.
Isto é, se existem un e vn, sucessões de elementos de D f, tais que
un�� a, vn
�� a e lim f�un� � lim f�vn�, então não existe
x�alim f�x�.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 2
Definição de limite (segundo Cauchy):
Sejam f uma função, a um ponto de acumulação de D f e l � �.
Diz-se que f tende para l quando x tende para a se,
qualquer que seja o número real � � 0,
existe um número real � � 0,
tal que, para qualquer x � D f\�a�,
se |x � a| � �, então f�x� � l � �.
Simbolicamente,
x�alim f�x� � l
sse
�� � 0 �� � 0 �x � D f\�a� : |x � a| � � � f�x� � l � � .
Podemos, agora, tornar um pouco mais precisa a ideia intuitiva:
x�alim f�x� � l
sse
as imagens dos pontos do domínio, diferentes de a,
estão tão próximas quanto quisermos de l
(proximidade definida pelo �, f�x� � �l � �, l � �� ),
desde que nos aproximemos suficientemente de a
(proximidade definida pelo �, x � �a � �,a � �� ).
Observação: As definição de limite segundo Heine e segundo
Cauchy são equivalentes.
Proposição: O limite de uma função num ponto, se existe, é único.
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Limites laterais:
Intuitivamente:
� estudamos um limite lateral de f em a quando a aproximação
de a é feita apenas por valores superiores a a - no caso do
limite à direita - ou apenas por valores inferiores a a - no
caso do limite à esquerda;
� no primeiro caso, f terá de ser um ponto de acumulação do
conjunto dos pontos do domínio superiores a a e, no
segundo, terá de ser um ponto de acumulação do conjunto dos
pontos do domínio inferiores a a.
Definição: Limites laterais (segundo Cauchy):
� Sejam a um ponto de acumulação de D f � �a,��� e l � �.
Diz-se que f tende para l, quando x tende para a por
valores superiores a a (ou à direita de a), e escreve-se
x�a�lim f�x� � l,
se �� � 0�� � 0�x � D f :
0�x�a��
x�a � |x�a|��
�a � x � a � � � |f�x� � l| � ��.
� Sejam a um ponto de acumulação de D f � ��,a e l � �.
Diz-se que f tende para l, quando x tende para a por
valores inferiores a a (ou à esquerda de a), e escreve-se
x�a�lim f�x� � l,
se �� � 0�� � 0�x � D f :
���x�a�
0 x�a � |x�a|��
�a � � � x � a � |f�x� � l| � ��.
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Proposição: Seja a um ponto de acumulação de D f. Então
x�alim f�x� existe sse
x�a�lim f�x� e
x�a�lim f�x� existem e são iguais
(sendo esse o seu valor).
Limites infinitos e no infinito
Pretendemos agora generalizar a noção de limite aos casos em
que x tende para infinito e/ou o limite da função é infinito.
Observações prévias
As definições que se seguem serão mais claras se pensarmos
que, quando falamos de x próximo de a, temos que distinguir três
casos:
� se a � �, estamos a considerar x num intervalo
�a � �,a � ��, com � � 0 (quanto menor for o �, mais
próximo garantimos que x está de a);
� se a � ��, estamos a considerar x num intervalo �M,���,com M � 0 (quanto maior for o M, mais próximo
garantimos que x está de ��);
� se a � ��, estamos a considerar x num intervalo ���,N�,com N � 0 (quanto menor for o N, mais próximo
garantimos que x está de ��).
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Casos a � � e l � �� ou l � ��
Seja a um ponto de acumulação de D f.
� Diz-se que f tende para �� quando x � a, e escreve-se
x�alim f�x� � ��,
se �M � 0 �� � 0 �x � D f\�a� : �|x � a|� � � f�x� � M�.
Intuitivamente,
x�alim f�x� � ��
sse
as imagens dos pontos do domínio, diferentes de a,
estão tão próximas quanto quisermos de ��
(proximidade definida pelo M, f�x� � �M,��� ),
desde que nos aproximemos suficientemente de a
(proximidade definida pelo �, x � �a � �,a � �� ).
� Diz-se que f tende para �� quando x � a, e escreve-se
x�alim f�x� � ��,
se �N � 0�� � 0�x � D f\�a� : �|x � a|� � � f�x� � N�.
Nota: De modo análogo ao que já foi feito, definem-se os limites
infinitos quando x tende para a por valores superiores a a ou
por valores inferiores.
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Diz-se que f tende para infinito quando x tende para a, e
escreve-sex�alim f�x� � �, se
x�alim |f�x�| � ��.
� Sex�alim f�x� � ��, f diz-se um infinitamente grande
positivo quando x tende para a;
� sex�alim f�x� � ��, f diz-se um infinitamente grande
negativo quando x tende para a;
� sex�alim f�x� � �, f diz-se um infinitamente grande quando
x tende para a.
Observação: Uma função f pode ser um infinitamente grande
em a sem quex�alim f�x� � �� ou
x�alim f�x� � ��.
Neste caso diz-se que, quando x tende para a, f tende parainfinito sem sinal determinado.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 7
Casos a � �� e l � �
� Sejam f uma função cujo domínio não é majorado e l � �.
Diz-se que f tende para l quando x � ��, e escreve-se
x���lim f�x� � l,
se �� � 0 �M � 0 �x � D f : �x � M � |f�x� � l| � ��.
� Intuitivamente,
x���lim f�x� � l
sse
as imagens dos pontos do domínio
estão tão próximas quanto quanto quisermos de l
(proximidade definida pelo �, f�x� � �l � �, l � �� �,
desde que nos aproximemos suficientemente de ��
(proximidade definida pelo M, x � M, � � �.
� Sejam f uma função cujo domínio não é minorado e l � �.
Diz-se que f tende para l quando x � ��, e escreve-se
x���lim f�x� � l,
se �� � 0 �N � 0 �x � D f : �x � N � |f�x� � l| � ��.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 8
Casos a � �� e l � ��
a � ��
Seja f uma função cujo domínio não é majorado.
� Diz-se que f tende para �� quando x � ��, e escreve-se
x���lim f�x� � ��,
se �M � 0 �N � 0 �x � D f : �x � N � f�x� � M�.
� Diz-se que f tende para �� quando x � ��, e escreve-se
x���lim f�x� � ��,
se �N � 0 �M � 0 �x � D f : �x � M � f�x� � N�.
a � ��
Seja f uma função cujo domínio não é minorado.
� Diz-se que f tende para �� quando x � ��, e escreve-se
x���lim f�x� � ��,
se �M � 0 �N � 0 �x � D f : �x � N � f�x� � M�.
� Diz-se que f tende para �� quando x � ��, e escreve-se
x���lim f�x� � ��,
se �M � 0 �N � 0 �x � D f : �x � N � f�x� � M�.
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Propriedades dos limites finitos
Proposição (alguns limites básicos):
Sejam a,b � � e n � �. Então
1.x�alim b � b;
2.x�alim x � a;
3.x�alim xn � an.
Proposição: Sejam b � �, n � � e f e g funções tais que
x�alim f�x� e
x�alim g�x� existem e são finitos, com a finito ou
infinito. Então:
� as funções bf, f � g, f � g, f � g e f n têm limite finito em a e
x�alim bf�x� � b
x�alim f�x�,
x�alim �f�x� � g�x�� �
x�alim f�x�
x�a� lim g�x�,
x�alim �f�x� � g�x�� �
x�alim f�x�
x�a� lim g�x�,
x�alim �f�x� � g�x�� �
x�alim f�x�
x�a� lim g�x�,
x�alim �f�x��n �
x�alim f�x�
n
;
� sex�alim g�x� � 0, a função
fg tem limite finito em a e
x�alim
f�x�g�x�
� x�alim f�x�
x�alim g�x�
.
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Proposição (limites alguma funções)
As seguintes funções têm limite, em qualquer valor a dos
respectivos domínios, cujo valor é igual ao valor da função em
a:
� polinómios, funções racionais (isto é, o quociente de dois
polinómios), raiz índice n, as funções trigonométricas (seno,
coseno e tangente), exponencial e logaritmo.
Proposição (Princípio do Encaixe para funções):
Se f, g e h são funções tais que, para todo o x numa
vizinhança de a (excepto, eventualmente, em a),
h�x� f�x� g�x�,
e
x�alim h�x� �
x�alim g�x� � l,
então
x�alim f�x� � l.
Limite notável:
x�0
limsen�x�
x � 1.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 11
Observações complementares
Nota: Da definição de Cauchy resulta imediatamente que
x�alim f�x� � l �
x�alim �f�x� � l� � 0 �
x�alim f�x� � l � 0,
o que se usa frequentemente quando aplicamos o Princípio do
Encaixe.
Recorde-se ainda o seguinte:
Diz-se que f é um infinitésimo quando x tende para a se
x�alim f�x� � 0.
Proposição: Se f é um infinitésimo quando x tende para a e g
é uma função limitada, então f � g é um infinitésimo quando x
tende para a.
Ou seja,
o produto de um infinitésimo por uma função limitada
é um infinitésimo.
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Propriedades dos limites infinitos
Para limites infinitos, nalguns casos o conhecimento dos limites
das funções envolvidas nas operações permite-nos, de imediato,
saber o limite da nova função; noutros casos, temos que calcular
explicitamente o valor do limite da nova função - tem-se o que
se chama uma indeterminação.
Nota: Todas as propriedades que se seguem são válidas para a
finito ou infinito.
Proposição: Sejam f e g funções, para as quais faz sentido
falar de limite em a, tais que, para todo o x numa vizinhança de
a (excepto, eventualmente, em a),
g�x� f�x�.
1. Sex�alim f�x� � ��, então
x�alim g�x� � ��;
2. sex�alim g�x� � ��, então
x�alim f�x� � ��.
Propriedades da soma
Proposição: Sejam f e g funções.
1. Sex�alim f�x� � �� e
x�alim g�x� � ��, então
x�alim �f�x� � g�x�� � ��;
2. sex�alim f�x� � �� e
x�alim g�x� � ��, então
x�alim �f�x� � g�x�� � ��;
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 13
3. sendo b � �, sex�alim f�x� � � e
x�alim g�x� � b, então
x�alim �f�x� � g�x�� � �
(se o limite de f for �� ou ��, o limite da soma também o é).
Notação abreviada:
Estas propriedades são frequentemente escritas na forma
���� � ���� � �� ���� � ���� � � �
���� � b � �� ���� � b � � � � � b � �
Atenção, esta é uma mera notação abreviada, que deve ser
interpretada exactamente no sentido das propriedades 1., 2. e 3.
da proposição anterior, e não como se estivessemos realmente a
"somar os infinitos" ou a "somar infinito com b".
Símbolos de indeterminação (associados à soma)
Na notação abreviada, os símbolos
���� � ���� � � �
são designados por símbolos de indeterminação.
Isto quer apenas dizer que, nas situações correspondentes, o
facto de existir ou não limite, bem como o seu valor, depende
das funções envolvidas; não resulta imediatamente de uma
propriedade das operações.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 14
Observação: Como f � g � f � ��1 � g�, é fácil deduzir as
propriedades da subtracção. Os símbolos de indeterminação da
subtracção são:
���� � ���� ���� � ���� � � �
Propriedades do produto
Proposição: Sejam f e g funções.
1. Sex�alim f�x� � � e
x�alim g�x� � �, então
x�alim ��f � g��x�� � �
(caso f e g tendam para � � ou para � �, pelo sinal do
produto podemos saber se f � g tende para � � ou � �);
2. Sex�alim f�x� � � e
x�alim g�x� � b � �\�0�, então
x�alim ��f � g��x�� � �
(caso f tenda para � � ou para � �, pelo sinal do produto
podemos saber se f � g tende para � � ou ��).
Observação: Por exemplo, na alínea 1, tem-se que:
� se f e g tendem ambas para �� ou ambas para � �, f � g
tende para ��;
� se uma das funções tende para �� e a outra para � �,
f � g tende para � �.
Conclusões análogas se tiram para a alínea 2.
Símbolos de indeterminação (associados ao produto)
0 � ���� 0 � ���� 0 � �
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Propriedades do quociente
O estudo do quociente de duas funções fica mais simples tendo
presente que
f�x�g�x�
� f�x� � 1g�x�
.
Assim, as propriedades desta operação resultam das do produto e
das duas primeiras alíneas da proposição que se segue.
De igual modo, uma indeterminação associada ao quociente
pode sempre transformar-se numa indeterminação associada ao
produto.
Proposição: Sejam f e g funções, com g não nula numa
vizinhança de a (excepto eventualmente em a�:
1. sex�alim g�x� � �, então
x�alim 1
g�x�� 0;
2. sex�alim g�x� � 0, então
x�alim 1
g�x�� �
[ sex�alim g�x� � 0�, então
x�alim 1
g�x�� ��,
sex�alim g�x� � 0�, então
x�alim 1
g�x�� �� ];
3. sex�alim g�x� � � e
x�alim f�x� é finito, então
x�alim
f�x�g�x�
� 0;
4. sex�alim g�x� � 0 e
x�alim f�x� é infinito ou finito e diferente
de zero, então
x�alim
f�x�g�x�
� �
(dependendo do sinal das funções f e g, poderemos podemos
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 16
saber se este limite é �� ou ���.
Na notação abreviada, escreve-se
b� � 0 �
0� � b
0� �, se b � 0
Símbolos de indeterminação (associados ao quociente)
00
��
Mais alguns limites notáveis
Os seguintes limites são conhecidos (demonstram-se sem ser
pelas propriedades dos limites), estão relacionados com
propriedades importantes das funções em causa e são chamados
de limites notáveis:
x���lim ex
x � ��
x���lim lnx
x � 0
x�0lim ex�1
x � 1
x�0lim
ln�x�1�x � 1
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Propriedades da exponenciação de funções
Sejam f e g funções, com f�x� � 0, para qualquer x � D f.
Em ��
x � e ln�x�
pelo que
f�x�g�x� � e ln�f�x���g�x�.
Assim, as propriedades da exponenciação de funções resultam
das propriedades da exponencial, do logaritmo e do produto de
funções.
Proposição: Se f e g são funções, com f�x� � 0, para qualquer
x � D f, tais que
x�alim f�x� � b � �\�0� e
x�alim g�x� � c � �,
então
x�alim f�x�g�x� � bc.
Quando algum dos limites é infinito na prática o mais eficaz, em
geral, é fazer a transformação acima indicada.
Símbolos de Indeterminação (assoc. à exponenciação):
00 1� ����0
Recorrendo a
f�x�g�x� � e ln�f�x���g�x�
podemos transformar estas situações em indeterminações do tipo
���� � 0, 0 � � e ���� � 0.
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Continuidade de uma função
Sejam f : D f � � � � uma função real e a um ponto de
acumulação de D f , que pertence a D f.
Diz-se que f é contínua em a sex�alim f�x� existe e é igual a f�a�.
Assim, da definição de limite segundo Cauchy, resulta que
f é contínua em a � D f
sse
�� � 0�� � 0�x � D f : |x � a| � � � f�x� � f�a� � � .
� f é uma função contínua, se f for contínua em todos os
pontos do seu domínio;
� f é contínua à direita em a sex�a�lim f�x� � f�a�;
� f é contínua à esquerda em a sex�a�lim f�x� � f�a�;
� Se �a,b� � D f, diz-se que f é contínua no intervalo �a,b�se f é contínua em todos os pontos do intervalo �a,b�, é
contínua à direita em a e é contínua à esquerda em b.
Nota: Das correspondentes propriedades dos limites resulta que
as seguintes funções são contínuas, nos respectivos domínios:
� polinomiais, racionais, raíz índice n, trigonométricas (seno,
coseno e tangente), exponencial e logaritmo.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 19
Prolongamento por continuidade
Sendo f e g duas funções com domínios D f e Dg, diz-se que
g é um prolongamento de f (ou que f é uma restrição de g)
se
D f � Dg e �x � D f, f�x� � g�x�.
Sendo a um ponto de acumulação de D f, com a � D f, diz-se
que f é prolongável por continuidade a a, se existe um
prolongamento de f, com domínio D f �a�, contínuo em a.
Proposição: Seja a um ponto de acumulação de D f, com
a � D f . Então
f é prolongável por continuidade a a sse existe e é finitox�alim f�x�.
Neste caso, o prolongamento por continuidade de f a a é a função
g : D f �a� � �
definida por
g�x� �f�x� , se x � D f
x�alim f�x� , se x � a
.
Exemplo:
O prolongamento por continuidade da função senxx , definida
em �\�0�, é a função g : � � � definida por
g�x� �senx
x , se x � 0
1 , se x � 0.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 20
Propriedades da continuidade (relativamente àsoperações)
Das correspondentes propriedades dos limites resulta que:
Proposição: Sejam b um número real, n um inteiro positivo e
f e g funções contínuas em a. Então
� as funções bf, f � g, f � g, f � g, fn e | f | são contínuas em a;
� se g�a� � 0, as funções 1g e
fg são contínuas em a;
Proposição: Se f é uma função contínua em a e g é contínua
em f�a�, então g � f é contínua em a.
Teorema (continuidade da função inversa):
Se f : I � � � � é uma função contínua e estritamente
monótona em I, então:
� f é invertível em I;
� f�1 é estritamente monótona;
� f�1 é contínua.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 21
Funções trigonométricas inversas
Considere-se a função sen : � � ��1,1�.
Esta função é contínua, mas não é injectiva.
O seu gráfico é
Restringindo-a ao intervalo �� �2
, �2�, temos a restrição
principal do seno:
sen| �� �
2, �
2�: �� �
2, �
2� � ��1,1�
(por abuso de notação, em geral é representada apenas por sen).
Esta função é contínua e estritamente crescente em �� �2
, �2�,
logo é invertível e a sua inversa é contínua e estritamente
crescente em ��1,1�:
1
-1
π/2
-π/2
0
1
-1
π/2
-π/2
1
-1
π/2
-π/2
0
senx arcsenx
arcsen : ��1,1� � �� �2
, �2� e
y � arcsenx sen y � x � y � �� �2
, �2�
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Considere-se a função cos : � � ��1,1�.
Esta função é contínua, mas também não é injectiva.
O seu gráfico é
Restringindo-a ao intervalo �0,��, temos a restrição principaldo coseno:
cos| �0,��
: �0,�� � ��1,1�
(em geral, é representada simplesmente por cos).
Esta função é contínua e estritamente decrescente em �0,��, logo
é invertível e a sua inversa é contínua e estritamente decrescente
em ��1, 1�:
1
-1
0
π
π/2
1
-1
0
π
π/2
cosx
1-1 0
π
π/2
1-1 0
π
π/2
arccosx
arccos : ��1,1� � �0,�� e
y � arccosx cosy � x � y � �0,��
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 23
Considere-se a função tangente, definida por tgx � senxcosx , em
�\ k� � �2
: k � � .
Esta função não é injectiva, mas é sobrejectiva.
O seu gráfico é
Restringindo-a ao intervalo � �2
, �2
, temos a restrição
principal da tangente:
tg| � �
2, �
2
: � �2
, �2
� �
(em geral, é representada simplesmente por tg).
Esta função é contínua e estritamente crescente em � �2
, �2
,
logo é invertível e a sua inversa é contínua e estritamente
crescente em �:
0 π/2-π/2 0 π/2-π/2
tg x
0
π/2
-π/2
0
π/2
-π/2
arctgx
arctg : � � � �2
, �2
e
y � arctg x tgy � x � y � � �2
, �2
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Funções cotangente, secante e cosecante
Observação: As três funções trigonométricas seguintes serão
usadas à frente.
Cotangente
A função cotangente é definida por
cotg x � cosxsenx , em �\�k� : k � ��.
O seu contra-domínio é �.
Para x � k� � x � k� � �2
, com k � �,
cotgx � 1tgx
.
Funções secante e cosecante
As funções secante e cosecante são definidas por
sec x � 1cosx , em �\ k� � �
2: k � � ,
cosec x � 1senx , em �\�k� : k � ��.
Trabalhar com estas funções reduz-se a trabalhar com o seno e
com o coseno.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 25
Teoremas fundamentais das funções contínuas
Teorema de Bolzano (ou do Valor Intermédio):
Se f é contínua no intervalo fechado �a,b� e k é um número
estritamente entre f�a� e f�b�, então existe pelo menos um
c ��a,b� tal que f�c� � k.
Intuitivamente,
uma função contínua num intervalo não passa de um valor a
outro sem assumir todos os valores intermédios.
Corolário 1: Se f é contínua no intervalo �a,b� e não se anula
em ponto algum de �a,b�, então em todos os pontos de �a,b� a
função f tem o mesmo sinal.
Corolário 2: Se f é contínua no intervalo �a,b� e
f�a� � f�b� � 0, então f tem pelo menos um zero em �a,b�.
Teorema de Weirstrass: Qualquer função contínua num
intervalo �a,b� (fechado e limitado) tem máximo e mínimo
nesse intervalo.
Observação: Em qualquer um destes resultados, as condições
são apenas condições suficientes; não são condições necessárias.
Ana Matos - Matemática I (versão de 25 Out. 2015) Lim. e Cont. - 26