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LESÕES, ISOLAMENTO E EXPRESSÃO IMUNO-HISTOQUÍMICA DO Mycobacterium bovis NO GRANULOMA DA TUBERCULOSE EM BOVINOS DO NORTE FLUMINENSE ALESSA SIQUEIRA DE OLIVEIRA DOS SANTOS UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ JULHO - 2004

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LESÕES, ISOLAMENTO E EXPRESSÃO IMUNO-HISTOQUÍMICA DO Mycobacterium bovis NO GRANULOMA DA TUBERCULOSE EM

BOVINOS DO NORTE FLUMINENSE

ALESSA SIQUEIRA DE OLIVEIRA DOS SANTOS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO

CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ JULHO - 2004

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LESÕES, ISOLAMENTO E EXPRESSÃO IMUNO-HISTOQUÍMICA DO Mycobacterium bovis NO GRANULOMA DA TUBERCULOSE EM

BOVINOS DO NORTE FLUMINENSE

ALESSA SIQUEIRA DE OLIVEIRA DOS SANTOS

Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal

Orientador: Prof. Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho

CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ JULHO - 2004

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LESÕES, ISOLAMENTO E EXPRESSÃO IMUNO-HISTOQUÍMICA DO Mycobacterium bovis NO GRANULOMA DA TUBERCULOSE EM

BOVINOS DO NORTE FLUMINENSE

ALESSA SIQUEIRA DE OLIVEIRA DOS SANTOS

Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal

Aprovada em 14 de julho de 2004

Comissão examinadora:

Prof a. Gisele Braziliano de Andrade (Doutora - Anatomia Patológica) - UFRRJ

Prof. Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira (Doutor - Parasitologia) - UENF

Prof. Márcio Manhães Folly (Doutor - Medicina Veterinária) - UENF

Prof. Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho (Doutor - Anatomia Patológica) - UENF (Orientador)

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“Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro

amanhã. Portanto, HOJE é o dia certo para AMAR, ACREDITAR, FAZER e,

principalmente, VIVER”. (Dalai-Lama)

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iii

A

minha amável mãe, Zerci Siqueira, que me permitiu uma educação vitoriosa, acreditando ser o melhor caminho.

A

minha sempre amada Virgínia Celvia, em quem procurei me espelhar

sempre no tocante à sabedoria, sinceridade e honestidade, pela importante

participação na minha vida acadêmico-profissional e emocional.

Ao

meu marido Aldir, por estar ao meu lado me incentivando, admirando o meu trabalho, compartilhando os momentos alegres e agradáveis como também,

os tristes e de impaciência.

Dedico

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iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por nos permitir a vida, as conquistas e as vitórias e, nos

momentos tristes, angustiantes e perigosos, sua presença nos determinou força e

coragem.

Ao meu irmão Alexandre Luiz, que me serviu de exemplo para a realização

deste trabalho, mostrando-me que a dedicação e o esforço resultam na nossa

própria satisfação.

Ao meu orientador Prof Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho, um exemplo de

profissional da educação, que me ensinou com paciência e dedicação a admirar a

Anatomia Patológica.

À Profª. Leila de Souza Fonseca, do Laboratório de Micobactérias-UFRJ,

pelo apoio e co-orientação na área de microbiologia.

À Profª Eliene Carvalho Fonseca, do Laboratório de Imuno-

histoquímica/Hospital Antônio Pedro/UFF, pela parceria e orientação na realização

da técnica imuno-histoquímica.

À Dulce Cordeiro, que me recebeu nesta cidade no início desta caminhada,

confiando a mim seu lar, seu carinho materno e sua amizade.

À admirável amiga Ana Bárbara, quem me acompanhou em todas as etapas

deste trabalho, sempre paciente, extrovertida e perseverante.

Aos amigos do Setor de Anatomia Patológica, que me permitiram a

realização deste trabalho em um ambiente descontraído e alegre.

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v

À técnica e amiga Luciana da Silva Lemos, pelas diversas orientações, não

somente científicas como também pessoais, que muito me serviram e foram

aplicadas com êxito.

Ao técnico Rodrigo Barros Crespo, que sempre se mostrou dedicado e

cuidadoso na realização do seu trabalho.

A toda a equipe do LSA, professores, alunos e técnicos, pela troca de

informações que contribuiu para o desenvolvimento deste trabalho.

A toda equipe do Laboratório de Micobactérias da UFRJ, em especial, ao

Marlei Gomes que me ajudou e me ensinou com muita dedicação.

Ao amigo Médico Veterinário Moacir Bogado, pela participação e interesse

na coleta de material.

Aos companheiros e amigos Médicos Veterinários, Paulo Barros, Anna

Cássia Corbia, Liliane, e aos técnicos, Rafael e Leonardo, do Serviço de Inspeção

de Carnes pela contribuição na coleta de material.

A Giovana e Magda da biblioteca, por serem sempre solidárias na orientação

à busca de trabalhos científicos.

A Elenita e a Etiene, pelo educado e atencioso atendimento na Pós-

graduação.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ,

pelo auxílio financeiro.

À Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro - UENF, por

permitir o ensino e a educação.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a conclusão deste

trabalho.

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BIOGRAFIA

Alessa Siqueira de Oliveira dos Santos, filha de Zerci Siqueira de Oliveira e

Luiz Celso Soares de Oliveira, nasceu em 08 de novembro de 1977, na cidade do

Rio de Janeiro - RJ.

Em 1997, foi admitida no curso de Medicina Veterinária pela então

Universidade Estadual do Norte Fluminense.

No período de 1998 a 2002, na graduação em Medicina Veterinária na

Universidade Estadual do Norte Fluminense, foi aluna de iniciação científica.

Foi admitida, em agosto de 2002, no Curso de Pós-graduação em Produção

Animal, Mestrado, Sanidade Animal, da Universidade Estadual do Norte Fluminense

Darcy Ribeiro - UENF, em Campos dos Goytacazes - RJ, submetendo-se à defesa

de tese para conclusão do referido curso em julho de 2004.

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CONTEÚDO

RESUMO.................................................................................................................ix

ABSTRACT .............................................................................................................xi

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 4

2.1. Definição ....................................................................................................... 4

2.2. História da doença ........................................................................................ 5

2.3. Tuberculose como uma importante zoonose................................................. 7

2.4. Agente etiológico........................................................................................... 8

2.5. Patogenia ...................................................................................................... 9

2.6. Lesões......................................................................................................... 11

2.7. Epidemiologia.............................................................................................. 12

2.8. Métodos de diagnósticos............................................................................. 16

2.8.1. Prova de tuberculina................................................................................. 16

2.8.2. Provas sorológicas....................................................................................17

2.8.3. Necropsia..................................................................................................18

2.8.4. Exame microscópico.................................................................................18

2.8.5. Exame bacteriológico................................................................................19

2.8.6. Imuno-histoquímica...................................................................................19

2.8.7. Métodos de reconhecimento de ácido nucléico........................................21

2.9. Controle e tratamento..................................................................................21

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3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................. 24

3.1. Desenho do estudo ..................................................................................... 24

3.2. Colheita das amostras................................................................................. 25

3.3. Metodologia utilizada................................................................................... 25

3.3.1. Caracterização macroscópica da lesão.................................................... 25

3.3.2. Histopatologia........................................................................................... 25

3.3.2.1. Análise estatística..................................................................................26

3.3.3. Imuno-histoquímica .................................................................................. 26

3.3.4. Cultura...................................................................................................... 27

3.3.4.1. Digestão do tecido................................................................................. 27

3.3.4.2. Descontaminação do inóculo.................................................................28

3.3.4.3. Inoculação em meio de cultura e incubação..........................................28

3.3.4.4. Provas bioquímicas ...............................................................................28

3.3.4.4.1. Teste de sensibilidade ao TCH........................................................... 29

3.3.4.4.2. Urease................................................................................................ 29

3.3.4.4.3. Pirazinamidase................................................................................... 29

3.3.4.4.4. Produção de niacina........................................................................... 30

3.3.4.4.5. Reduçâo de nitrato ............................................................................. 31

3.3.4.4.6. Preferência por piruvato ..................................................................... 31

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................... 32

4.1. Estudo macroscópico .................................................................................. 32

4.2. Estudo microscópico ................................................................................... 34

4.3. Imuno-histoquímica ..................................................................................... 36

4.4. Estudo microbiológico..................................................................................37

5. CONCLUSÕES ................................................................................................. 40

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 41

8. APÊNDICES...................................................................................................... 51

8.1. Apêndice A (Pranchas e Figura) ................................................................. 52

8.2. Apêndice B (Protocolos)...............................................................................56

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RESUMO

SANTOS, Alessa, S.O., M. S., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; Julho de 2004; Lesões, isolamento e expressão imuno-histoquímica do Mycobacterium bovis no granuloma da tuberculose em bovinos do Norte Fluminense; Professor Orientador: Prof. Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho. Professoras Conselheiras: Gisele Braziliano de Andrade, Márcio Manhães Folly e Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira.

A tuberculose bovina é uma enfermidade infectocontagiosa crônica

granulomatosa causada pela bactéria Mycobacterium bovis e está associada a

importantes agravos para a saúde pública e econômicos. As perdas econômicas são

decorrentes da morte dos animais, perda do potencial produtivo, condenação de

carcaças com lesão e descréditos das propriedades afetadas. O exame

anatomopatológico é um importante recurso diagnóstico no post-mortem, tanto na

necropsia convencional quanto na inspeção sanitária de animais de abate. Visou-se

relacionar lesões macro e microscópicas com a espécie de Mycobacterium isolada,

de forma a estabelecer padrões morfológicos que sirvam de apoio aos inspetores

sanitários de carnes, além de consolidar a técnica de imuno-histoquímica no Setor

de Morfologia e Anatomia Patológica do LSA/UENF. Dos 123 animais estudados, 90

foram positivos para a prova de tuberculina intradérmica (PPD). No abate sanitário,

foram colhidas amostras de todos os animais, inclusive dos PPD positivos sem

lesões, principalmente dos pulmões e seus linfonodos. Realizou-se a histopatologia

pela coloração de hematoxilina e eosina (HE) e Ziehl-Neelsen (ZN) e o isolamento e

identificação do M. bovis. Macroscopicamente, lesões granulomatosas compatíveis

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com tuberculose foram observadas em 72% dos animais, sendo que, nos positivos

para o PPD, 61,8% apresentaram lesão. Dentre aquelas, 63% estavam localizadas

nos pulmões e seus linfonodos, caracterizando a via aerógena como a principal via

de infecção. Nas lesões macroscopicamente sugestivas, a microscopia/HE revelou

um granuloma epitelióide completo, algumas vezes, com mineralização. Pelo método

de ZN, foram demonstrados escassos bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) nas

lesões, enquanto a técnica LSAB+ (L-streptoavidina-biotina) de imuno-histoquímica

demonstrou grânulos ou círculos acastanhados maiores do que os BAAR corados

pelo ZN. Em ambos os métodos, os bacilos marcados estavam no citoplasma de

células epitelióides, gigantes e livres na área de necrose. O isolamento e

identificação do M. bovis foi possível em 14 (56%) amostras das 25 testadas. Apesar

da cultura ser considerada um diagnóstico “ouro”, a histopatologia demonstrou mais

amostras positivas do que o bacteriológico. Isto, provavelmente, devido à escassez

do bacilo viável na lesão e do processamento laborioso exigido para a cultura. Na

região estudada, a tuberculose é enzoótica, que faz com que o exame

histopatológico, nestas condições, seja considerado conclusivo nas necropsias e

inspeção sanitária post-mortem.

Palavras-chave: bovino, imuno-histoquímica, inspeção sanitária, patologia,

tuberculose.

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ABSTRACT

SANTOS, Alessa, S.O., M.S., Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro; July, 2004; Lesions, isolation and immunohistochemical expression of Mycobacterium bovis in granuloma of tuberculosis in cattle of Fluminense North. Adviser: Eulógio Carlos Queiróz de Carvalho. Counselor: Gisele Braziliano de Andrade, Márcio Manhães Folly e Francisco Carlos Rodrigues de Oliveira.

Bovine tuberculosis is a granulomatous chronic infectious disease caused by a

bacteria Mycobacterium bovis, and is associated with animal and public health and

economic problems. Economic losses are caused by death of infected animals, lower

productivity, problems associated with carcasses condemned and discredit of the

affect farms. Anatomopathological exam is an important diagnostic test during post-

mortem, such as conventional necropsy as well as on sanitary inspection of

slaughtered animals. The aim of this investigation was to relate gross and

microscopic lesions with the species of isolated Mycobacterium to establish

morphologic standards, and to use and consolidate the immunohistochemical

technique in our Sector. The study was carried out with one hundred and twenty-

three cattle with ninety positive by the intradermic tuberculin test (PPD). Samples

were collected from all animals including those positive to the PPD without

suggestive macroscopic lesions, mainly samples of lungs and lymph nodes. Samples

were submitted to histopathology by haematoxylin and eosin (HE) and Ziehl-Neelsen

(ZN) staining and to the isolation and identification of the M. bovis. Macroscopically,

suggestive granulomatous lesions of tuberculosis were observed in 72% of the

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animals considering that 61,8% of lesions had been observed in positive to PPD.

63% of those lesions were in lungs and lymph nodes, determining the aerogenous

route as the main infection. From typical macroscopic lesions, the microscopic/HE

revealed complete epitheliod granuloma and sometimes calcification. Using ZN stain,

few of acid-fast bacilli (BAAR) were observed in lesions. When the LSAB+

immunohistochemical technique was used, positives were seen as brownish granules

or circles with a greater size than BAAR stained by the ZN method. By both methods

BAAR the expression was located in cytoplasm of epithelioid and giant cells and in

areas of necrosis. By culture, 14 samples were positive out of the 25 samples

studied. The isolates of M. bovis were identified by biochemical tests, colony

morphology and staining characteristics. Despite the culture had been considered the

“Gold standard”, definitive diagnosis, histopathology detected more positive samples

than cultivation. This difference could be attributed to scarcity of the available bacilli

on lesions and to the laborious processing for the culture. In studied region,

tuberculosis is enzootic, however the histopathology was conclusive diagnosis in

necropsy and the post-mortem inspection.

Keywords: bovine, immunohistochemical, sanitary inspection, patology, tuberculosis.

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1. INTRODUÇÃO

A tuberculose bovina (TbB) é uma zoonose de caráter inflamatório e

infectocontagioso, cujo agente micobacteriano mais importante é o Mycobacterium

bovis, que produz uma lesão granulomatosa típica. Em estágios iniciais da doença

ou quando o agente é Mycobacterium avium, as lesões podem não estar presentes à

necropsia.

Os bacilos clássicos da tuberculose são Mycobacterium tuberculosis

(homem), M. bovis (bovinos) e M. avium (aves), podendo, no entanto, ocorrer a

infecção cruzada entre estes e várias outras espécies, tais como: mamíferos e aves

domésticos e silvestres. Mycobacterium bovis é cosmopolita e bastante virulento,

podendo afetar os diferentes tecidos e espécies animais.

A tuberculose nos bovinos possui distribuição mundial, concentrando-se,

principalmente, em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, notadamente,

naqueles com criações intensivas de bovinos leiteiros. Esta enfermidade determina

prejuízos à pecuária e riscos à saúde da população que consome produtos de

origem animal.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) elegeu a tuberculose,

principalmente, a determinada pelo M. bovis, como importante zoonose profissional

nos grupos como magarefes, tratadores de animais e veterinários. O aumento no

número de casos de tuberculose humana vem tendo como principal causa do seu

advento a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - AIDS, em que os bacilos M.

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tuberculosis e M. bovis se instalam oportunisticamente no organismo debilitado pela

virose.

A TbB é primordialmente respiratória e sua transmissão, basicamente,

aerógena. A introdução da enfermidade nos rebanhos se dá comumente pela

aquisição de animais infectados, que contaminam os sadios por eliminação do bacilo

pela respiração, corrimento nasal, leite, fezes, urina, secreções vaginais e uterinas e

pelo sêmen. A ingestão de leite é a principal via de transmissão para os animais

jovens, enquanto a transmissão pelas vias intra-uterinas, pelo coito e pelo sêmen,

não é comum. É possível o contágio de bovinos, por M. bovis, a partir de pacientes

bacilíferos pelo ar, ou ainda pela urina de pacientes com tuberculose urogenital que

excretam nos cochos e bebedouros.

A doença, embora crônica, pode assumir caráter agudo progressivo.

Qualquer tecido pode ser afetado, mas as lesões de aspecto caseoso são mais

comumente observadas nos linfonodos da cabeça, do pescoço, nos mediastínicos e

mesentéricos, pulmões, intestinos, fígado, baço, pleura e peritônio. Em animais com

infecções recentes, os sinais clínicos possam não estar presentes. Entretanto, com a

evolução do quadro, após vários anos, os sinais incluem emaciação progressiva,

aumento de volume dos linfonodos e, em alguns casos, tosse, dispnéia e episódios

de diarréia intercalados com constipação.

Para o diagnóstico da TbB no animal vivo, é aplicado o teste alérgico

intradérmico, que pode ser associado às manifestações clínicas, testes sorológicos

(Elisa - Enzyme Linked Immunosorbent Assay e γ - IFN - gama interferon) e a

técnica de Polymerase Chain Reaction (PCR). No animal morto, a necropsia

baseada nas lesões macro e microscópicas é o método mais comum para

comprovar a doença. As amostras processadas para exames histopatológicos

podem ser submetidas aos métodos de colorações de rotina pela hematoxilina e

eosina (HE) e especiais, como: Ziehl Neelsen (ZN), Kinyoun-Fite e Imuno-

histoquímica (método ABC-P, DAKO). Esta última altamente sensível, capaz de

detectar os antígenos do Mycobacterium bovis e até mesmo seus fragmentos nas

lesões. É recomendável o diagnóstico bacteriológico por cultivo do agente, a partir

de amostras teciduais congeladas, associado ao exame histopatológico, que permite

a confirmação do diagnóstico.

As lesões da tuberculose animal podem se apresentar com vários padrões

de acordo com as espécies de Mycobacterium e hospedeiros envolvidos.

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Mycobaterium bovis acomete principalmente bovinos, homem, suíno e,

ocasionalmente, cavalos, cães, gatos e ovinos. Mycobacterium avium causa a

doença em aves e, ocasionalmente, em gatos, bovinos, suínos, ovinos, cavalos e

macacos em cativeiro. Mycobacterium tuberculosis de ocorrência mais comum no

homem, ocasionalmente, infecta suínos, macacos de cativeiro, cães, gatos, bovinos

e aves.

Em áreas de alta incidência, a doença é causada, quase exclusivamente,

pelo M. bovis. As infecções causadas pelo M. avium, geralmente, têm curso benigno

e auto-limitante e, freqüentemente, as lesões não são observadas. Quando

presentes, estão geralmente nos linfonodos mesentéricos e retrofaríngeos,

raramente, com 2 cm de diâmetro. A lesão pelo M. avium, mais proliferativa que a

pelo M. bovis, exibe menos caseum (necrose), com pouca ou nenhuma calcificação

e com células gigantes mais numerosas. Mycobacterium tuberculosis raramente

infecta bovinos e, quando o faz, a doença tem cura espontânea.

Nesta investigação, objetivou-se relacionar e discutir as lesões macro e

microscópicas com a espécie de Mycobacterium isolada, de forma a estabelecer

padrões morfológicos que sirvam de apoio aos inspetores sanitário de carnes, além

de consolidar a técnica de imuno-histoquímica no Setor de Morfologia e Anatomia

Patológica do LSA na UENF para o diagnóstico da tuberculose bovina.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Definição A tuberculose bovina (TbB) é uma enfermidade infectocontagiosa, de caráter

zoonótico, causada pelo Mycobacterium bovis. A doença é predominantemente

subclínica, inicialmente, evoluindo para a cronicidade, com lesões granulomatosas.

O granuloma, que originou o termo tubérculo, é típico e completo, constituído por

uma zona central de necrose caseosa, na qual podem-se observar mineralizações

circundadas por macrófagos que se modulam em células epitelióides e células

gigantes multinucleadas de Langhans e por linfócitos, plasmócitos e neutrófilos,

podendo ainda desenvolver uma fibroplasia periférica (NEILL et al., 2001).

A tuberculose bovina é classificada como uma doença da lista B pela

Organização Internacional de Epizootias (OIE, 2000), com importantes efeitos

socioeconômicos e em saúde pública nos países afetados, com um impacto

potencial significante no comércio internacional de animais vivos e seus produtos

(WEDLOCK et al., 2002).

2.2. História da doença

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A história revela que a tuberculose é conhecida desde a Antiguidade, com

referências à doença em múmias egípcias e nos escritos dos filósofos Hipócrates,

Celsus e Avicena. A denominação tuberculose apareceu pela primeira vez em 1840.

Múmias da dinastia de Ramsés reinante há 3.000 anos apresentavam lesões de

tuberculose óssea. As primeiras descrições desta micobacteriose em animais se

devem a Aristóteles (384-322 a.C.), sendo que, na época, as lesões em bovinos

eram atribuídas a outras infecções. A orientação da conduta para sacrifício

ritualístico e de matadouro sugere que os judeus antigos conheciam as lesões da

tuberculose em ruminantes (CORRÊA e CORRÊA, 1992).

Na Europa, do século XVI até o final do XVIII, acreditava-se que o “mal

perláceo das serosas” dos bovinos, era sífilis, transmitida aos animais por pessoas

doentes que mantinham relações sodômicas com vacas. Hoje, se conhece como

tuberculose perlada (MATTHIAS, 1988).

Em 1797, Klencke informou sobre a relação entre o consumo de leite de

vaca e o aparecimento das denominadas escrófulas (linfadenopatia cervical

tuberculosa), observadas com maior freqüência entre crianças alimentadas com leite

de vaca do que aquelas alimentadas com leite materno (MATTHIAS, 1988;

GRANGE, 2001).

Em meados do século XIX, aproximadamente, metade da população

tuberculosa inglesa tinha tuberculose nodular ou escrofulose, e de ossos e

articulações, cuja origem era bovina (CORRÊA e CORRÊA, 1992).

Villemin, em 1868, após uma série de experimentos, demonstrou que a

tuberculose humana e a dos bovinos podiam ser transmitidas a coelhos e cobaias

por inoculação de material (Villemin, 1868, apud GRANGE, 2001).

Robert Koch, em 1882, descobriu o agente infeccioso, corando-o pela

fucsina-anilina e, finalmente, em 1884, isolou M. tuberculosis. E em sua primeira

comunicação, concluiu que a doença perlada bovina tinha a mesma etiologia da

tuberculose humana e que, conseqüentemente, para o bem da saúde pública, o

homem deveria ser protegido da tuberculose bovina (CORRÊA e CORRÊA, 1992;

ROXO, 1997).

Em 1891, Strauss e Gamaléia demonstraram que o bacilo aviário era

diferente do bacilo do tipo humano e bovino, contradizendo Paulicki que observou

semelhança entre a tuberculose humana, bovina e aviária. Theobald Smith, nos

EUA, em 1896, verificou que havia diferenças culturais e patogênicas entre os

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agentes de tuberculose bovina e humana e, no ano de 1898, isolou M. bovis

(CORRÊA e CORRÊA, 1992; ROXO, 1997; SOUZA et al., 1999).

A primeira prova definitiva da transmissão da tuberculose bovina ao homem,

decorrente da ingestão de alimentos, ficou evidente quando Ravenel, em 1902,

isolou, em uma cultura pura, os bacilos presentes em gânglios mesentéricos de uma

criança falecida de meningite tuberculosa, no Hospital Infantil da Filadélfia, EUA.

Tais bacilos foram inoculados em três bovinos, os quais em menos de 30 dias

vieram a óbito. Os resultados da necropsia destes animais demonstraram que a

causa da morte foi tuberculose (SOUZA et al., 1999). Kuhnaus, em 1931, verificou

que a carne poderia transmitir a doença ao homem, quando o animal era afetado por

uma tuberculose generalizada e, neste caso, a carcaça seria condenada durante a

inspeção realizada nos matadouros. Alguns fabricantes de salsichas utilizavam este

material condenado para o preparo de seu produto que, quando consumidas sem o

tratamento térmico prévio, oferecia um grande risco às pessoas (Feldman, 1955

apud SOUZA et al., 1999).

Tendo em vista a dimensão do problema e sua importância para a saúde

pública, muitos países adotaram programas de controle da doença, tais como: rotina

de inspeção de carnes, pasteurização do leite e medidas de controle da doença nas

populações animais (KANTOR e RITTACCO, 1994).

Torres e Pacheco, em 1938, informaram sobre o isolamento do bacilo do tipo

bovino de lesões humanas, tratando-se da primeira publicação da literatura médica

nacional. De 1988 a 1992, houve um aumento no número de notificações de

tuberculose no Brasil, chegando a 85.955 casos. Nestes casos, não foi possível a

identificação da espécie de Mycobacterium envolvida (SOUZA et al., 1999).

Até 1970, o bacilo bovino foi considerado uma variante do M. tuberculosis e

denominado M. tuberculosis variante bovis ou M. tuberculosis subespécie bovis.

Neste mesmo ano, Karlson e Lessel propuseram sua classificação como espécie

individual, denominada M. bovis (FERREIRA NETO e BERNARDI, 1997).

2.3. Tuberculose como uma importante zoonose

As zoonoses são enfermidades comuns ao homem e aos animais que,

atualmente, representam uma importante ameaça para a saúde humana e animal

em todo o mundo, (Macedo, 1986 apud BUBNIAK, 2000). Dentre estas, destaca-se

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a tuberculose com distribuição mundial, cuja ocorrência sofre variação por região e

país, sendo considerada uma antropozoonose e também uma zooantroponose

(BUBNIAK, 2000).

Uma importante razão para o interesse na tuberculose bovina é a

susceptibilidade do homem à doença pelo mesmo agente etiológico, Mycobacterium

bovis. Desta forma, a tuberculose intestinal pode estar relacionada à ingestão de

leite cru, sendo considerada a principal causa de manifestação da doença não-

pulmonar em regiões rurais (GRANGE e YATES, 1994). Mycobacterium bovis

também tem sido isolado de pacientes imunodeprimidos, infectados pelo vírus HIV.

A comprovação dessa relação foi observada nos países industrializados diante do

grande número de seres humanos infectados pelo vírus HIV e M. bovis, constituindo

uma significativa causa dos altos índices de morbidade e mortalidade no homem

(COSIVI et al., 1998). No Brasil, estima-se que existam 150.000 coinfectados pelo

HIV e pelo bacilo da tuberculose (O GLOBO, 1998).

Na primeira metade do século XX, a tuberculose pulmonar humana causada

pelo M. bovis tinha uma baixa prevalência, entre 0,5 e 5%, porém, nas últimas

décadas, os registros mostraram tendências de elevação do número de casos de

tuberculose pulmonar por M. bovis, em comparação a outros órgãos. Cerca de 40-

60% das lesões tuberculosas causadas por M. bovis se manifestam nos pulmões.

(GRANGE e YATES, 1994). A tuberculose humana causada pelo M. bovis é clínica,

radiológica e patologicamente indistinguível da causada pelo M. tuberculosis

(COSIVI et al., 1998; Hedvall, 1942 apud WEDLOCK, 2002).

Estimativas indicam que a incidência da tuberculose humana por M. bovis

poderá atingir um patamar mais elevado a partir do momento que investimentos na

infra-estrutura laboratorial da rede pública forem efetuados, possibilitando, desta

maneira, a realização de isolamento e identificação das espécies de micobactérias

(LILENBAUM, 1998).

Embora a doença nos bovinos seja causada principalmente pelo M. bovis, o

M. tuberculosis pode causar a infecção nesta espécie em menor proporção e,

freqüentemente, subclínica (Pritchard, 1988, apud SHIRIMA et al., 2003).

As implicações da tuberculose bovina para a saúde humana e animal em

associação com os regulamentos do comércio internacional têm resultado na adoção

de programas de erradicação para o controle da doença por todo o mundo

(DOHERTY e CASSIDY, 2002).

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2.4. Agente etiológico

As micobactérias são bastonetes fracamente gram-positivos, às vezes,

filamentosas, imóveis, sem cápsula nem esporos, amplamente distribuídos na

natureza, sendo muitos saprófitas e alguns patogênicos oportunistas

(DUNGWORTH, 1991). Pertencem ao reino Procaryotae, divisão Firmicutes, classe

Thallobacteria, ordem Actinomycetales, família Mycobacteriaceae e gênero

Mycobacterium (GOMES, 2000). As diferentes espécies de micobactérias se

caracterizam por reter a coloração vermelha da fucsina fenicada e, por isso,

denominadas bacilo álcool-ácido resistente (BAAR). Esta expressão significa que

estes germes, quando corados pela fucsina, não se deixam descorar por uma

mistura de álcool e ácido clorídrico (TRABULSI, 1999). Tal característica se deve à

complexidade da sua parede celular, composta por uma espessa camada de

lipídeos e ácidos micólicos (CORRÊA e CORRÊA, 1992).

Mycobacterium bovis tem sido descrito como o organismo responsável por

causar a tuberculose bovina, por mais de um século. O agente é infeccioso não só

para o bovino, mas também para o homem, cão, gato, porco, ovelha, cabra e cavalo

(MATTHIAS, 1988). Tal espécie de micobactéria está inserida no complexo M.

tuberculosis, incluindo ainda o M. tuberculosis, M. africanum, M. microti, M. canetti

(WEDLOCK et al., 2002), M. caprae e o mais recentemente inserido no complexo, o

M. pinnipeddi (COUSINS et al., 2003).

A demonstração do M. bovis em material patológico pode ser conseguida

mediante cultura bacteriológica (MATTHIAS, 1988). Quanto ao isolamento, crescem

em meios especiais, compostos por gema de ovo e amido, enriquecidos por

asparagina e contendo verde malaquita para inibir contaminantes. O Löwenstein-

Jensen (LJ) com piruvato é o meio sólido mais utilizado (CORRÊA e CORRÊA,

1992). Ao contrário do M. tuberculosis, o M. bovis apresenta um crescimento

escasso em meios sólidos num período de 3-4 semanas, sobre os quais formam

colônias úmidas, brilhantes, lisas, achatadas, com coloração amarelada ou com uma

camada contínua como um véu (MATTHIAS, 1988). Na etiologia da tuberculose animal, são importantes as espécies M. bovis, M.

tuberculosis e o M. avium (CORRÊA e CORRÊA, 1992). Estas espécies ocorrem

com mais freqüência em seus respectivos hospedeiros, entretanto, pode ocorrer

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infecção cruzada (DUNGWORTH, 1991). As outras espécies de micobactérias

causam doenças que podem ser denominadas como micobacterioses ou recebem

nomes próprios, como a paratuberculose ou doença de Johne (CORRÊA e

CORRÊA, 1992).

Mesmo com as evidências da resistência das micobactérias nas fezes

bovinas nos pastos e no esterco dessecado nos estábulos escuros, as mesmas se

mostram sensíveis quando submetidas ao calor (pasteurização) e frente à ação da

luz solar direta. Resistem por muitas horas ou dias aos desinfetantes comuns, sendo

a formalina, o ácido cresolsufônico e soluções cloradas a 3-4% os meios químicos

mais ativos contra a bactéria (MATTHIAS, 1988). Genov (1965) apud MORRIS et al.

(1994) inoculou M. avium, M. bovis e M. tuberculosis nas fezes, sangue e urina e

observou que todos permaneceram viáveis no período máximo de 332 dias a 24ºC,

quando protegidos da luz solar direta. Segundo Soparcker (1917) apud PHILLIPS et

al. (2003), o M. bovis parece ser mais resistente à luz solar do que o M. tuberculosis.

2.5. Patogenia

Conforme NEILL et al. (2001), para uma melhor compreensão da completa

patogênese da tuberculose bovina é importante relacionar as fontes de

contaminação, o início da infecção e as respostas imunológica e patológica.

Embora o gado bovino doente seja a principal fonte de infecção no rebanho,

os animais silvestres como texugos, veados, gambás e furões podem atuar como

importantes reservatórios, mais comum nos países como o Reino Unido, Irlanda do

Norte e Nova Zelândia (PHILLIPS et al., 2003).

A infecção pelo M. bovis pode ser iniciada, principalmente, pela via

respiratória, mas é possível a contaminação pela via digestiva, através da ingestão

do agente nas pastagens, água, fômites e leites contaminados, sendo esta última

fonte de maior relevância nos bezerros, os quais se infectam ao mamar. Outras

vias, como genital e cutânea, embora raras, são possíveis (NEILL et al., 2001).

Quanto à resposta imunológica relacionada à infecção, admite-se que a

tuberculose bovina pode exibir diferentes respostas imunes, dependendo do estágio

da doença e da interação entre o agente e o hospedeiro. A resposta imune bovina

ao M. bovis parece ser complexa e dinâmica durante a infecção e envolve uma série

de eventos celulares. A resposta mediada por células é dominante, com pouca ou

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nenhuma detecção de anticorpos, com exceção de lesões disseminadas e extensas

vistas em animais anérgicos. Esta resposta é iniciada após o reconhecimento por um

linfócito do tipo T de um antígeno micobacteriano processado e associado ao major

histocompatibility complex (MHC) de células apresentadoras, como os macrófagos.

Todo este conjunto de eventos desencadeia a liberação de citocinas, gama

interferon (IFN-γ) e interleucina (IL), que são cruciais na ativação e atração dos

macrófagos ao foco infeccioso. No estágio inicial, a resposta imunológica deverá

destruir ou inibir o microorganismo mas, posteriormente, podem ocorrer reações de

hipersensibilidade do tipo retardada que tendem à formação de granulomas e

necrose caseosa tecidual, resultando em redução funcional do órgão afetado (NEILL

et al., 2001; WEDLOCK et al., 2002).

Quando o M. bovis ingressa no organismo, seja pela via respiratória ou

digestiva, multiplica-se no local de entrada, comumente nos pulmões ou intestino. O

conjunto de lesão do local de entrada e do linfonodo regional denomina-se complexo

primário. Essa lesão, nos bovinos, pode persistir, com ou sem progressão, ou pode

cicatrizar completamente. Nos focos de infecção, há acúmulo de linfócitos e

macrófagos, que se modulam em células epitelióides e gigantócitos de Langhans,

formadas pela fusão dos macrófagos. Inicialmente, as lesões consistem de

pequenos tubérculos caracterizados como formações nodulares firmes, de cor

branca a amarelada, constituídas de células epitelióides e gigantes de Langhans,

rodeadas por uma camada de linfócitos, de células plasmáticas e de monócitos.

Com a evolução da lesão, o granuloma tuberculoso desenvolve uma fibroplasia

periférica e necrose caseosa central, na qual podem-se observar áreas de

mineralizações por precipitações de sais de cálcio (DUNGWORTH, 1991; NEILL et

al., 2001).

A manifestação da doença é dependente da via de infecção, da resposta

imune do hospedeiro e da virulência do organismo infectante. Nos bovinos, as curas

clínica e bacteriológica são raras, sendo comum o estabelecimento da doença

progressiva (CORRÊA e CORRÊA, 1992).

2.6. Lesões Na infecção aerógena, que é a mais comum, as alterações macroscópicas

iniciais são pequenos granulomas tuberculosos, vistos com freqüência no terço distal

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do lobo caudal dos pulmões, mas os bacilos podem disseminar-se pelas vias

linfática e hematógena e, neste caso, as lesões podem se estabelecer no fígado,

rins, intestinos e serosas (LÓPEZ, 1998).

A lesão patognomônica da tuberculose é o tubérculo, um granuloma clássico

composto de uma infiltração de células epitelióides e algumas células gigantes de

Langhans que, no caso da bovina, se caracterizam comumente pela presença de

material caseocalcário. Freqüentemente, o centro do granuloma se apresenta

necrosado e calcificado. A necrose está cercada por um infiltrado inflamatório com

predomínio de linfócitos e por fibrose na periferia. A necrose é resultado da

hipersensibilidade mediada por células e é de caráter caseoso. A calcificação é

característica de algumas espécies animais, não sendo observada na tuberculose

aviária (DUNGWORTH, 1991; JONES et al., 1997; LÓPEZ, 1998).

Com a progressão da doença, os tubérculos coalescem e as lesões

aumentam de tamanho, formando grandes áreas de necrose caseosa,

caracterizando a tuberculose dita caseosa (LÓPEZ, 1998). Tubérculos solitários ou

em aglomerados podem ocorrer nas serosas, mais comum na pleura e peritônio. As

áreas afetadas da pleura, visceral e parietal, são engrossadas pelo tecido de

granulação (fibroso) que, como regra do processo tuberculoso em serosas, não

invade o parênquima. A característica das lesões é nodular, podendo essa ser séssil

ou pedunculada, denominada tuberculose perolada ou perlácea (DUNGWORTH,

1991). Quando a lesão é maciça, os tubérculos caseosos expandidos podem romper

um vaso sangüíneo e os bacilos alcançarem a circulação, estabelecendo a

disseminação hematógena. O curso da doença, depois de generalizada, é rápido e

denominado como tuberculose miliar, devido ao grande número de tubérculos do

tamanho de sementes de milho que se desenvolvem em muitos tecidos e órgãos

(DUNGWORTH, 1991; LÓPEZ, 1998), sendo rara no útero, conforme MATTHIAS

(1988) e LILENBAUM (1998).

As lesões da tuberculose bovina são denominadas paucibacilar, devido ao

escasso número de bacilos álcool-ácido resistentes observados em cortes

histológicos. A escassez ou ausência de micobactérias, em análises de lesões

anatomopatológicas sugestivas de tuberculose, pode estar associada a três

hipóteses: 1. deficiência do método de isolamento com morte na descontaminação

ou dificuldade de se multiplicar no cultivo; 2. morte da micobactéria após promover a

lesão, pela defesa do próprio organismo e 3. lesão causada por outro tipo de

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microorganismo (BROWN e NEUMAN, 1979; BALIAN et al., 1997). RIDLEY (1983) e

YOUNG et al. (1990) acreditam que a escassez de bacilos é devido à ativa resposta

imune presente nas inflamações granulomatosas causadas por micobactérias.

2.7. Epidemiologia A tuberculose bovina é uma enfermidade que afeta diferentes espécies de

ruminantes, principalmente, bovinos e, menos freqüentemente, ovinos e caprinos,

podendo raramente acometer os eqüídeos (CORRÊA e CORRÊA, 1992). Algumas

espécies silvestres, como texugos do Reino Unido e veados do Norte da Irlanda,

representam uma fonte mantenedora da infecção (MORRIS et al., 1994; COSIVI et

al., 1998).

A doença pode ser introduzida no rebanho, principalmente, pela aquisição

de animais infectados, podendo propagar-se nos bovinos sadios independentemente

do sexo, raça e idade (SOUZA et al., 1999), porém animais adultos são mais

suscetíveis devido à maior possibilidade de contágio no decorrer dos anos. Entre as

raças, os zebuínos são mais resistentes que os taurinos e bubalinos (ACHA e

SZYFRES, 1989; CORRÊA e CORRÊA, 1992).

Há evidências de que tanto a resistência genética do hospedeiro a uma

infecção por M. bovis quanto a influencia de fatores fisiológicos e imunológicos, em

animais e em pessoas, interferem grandemente no curso da tuberculose (MORRIS

et al., 1994). Estudos em coelhos revelaram que aqueles muito resistentes ao M.

bovis apresentavam lesões pulmonares localizadas, após inalarem o bacilo,

enquanto os coelhos susceptíveis desenvolviam a doença rapidamente progressiva

e disseminada pela inalação de pequenas quantidades de M. bovis (LURIE, 1964).

A prevalência da doença nos países é variável de acordo com o sistema de

exploração animal. A alta incidência da tuberculose é mais evidente nos rebanhos

leiteiros estabulados, enquanto, para os rebanhos de corte criados extensivamente,

a tuberculose é de menor importância epidemiológica (ACHA e SZYFRES, 1989;

SOUZA et al., 1999). MORRIS et al. (1994), demonstraram que, quando novilhas

sadias pastavam juntamente com vacas altamente infectadas, a incidência da

infecção permanecia baixa, ao contrário do que acontecia quando as mesmas

novilhas eram estabuladas com vacas doentes. SHIRIMA et al. (2003) na Tanzânia

Oriental, usando o teste intradérmico comparativo, mostraram que a prevalência da

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tuberculose bovina foi significativamente mais alta na criação de sistema intensivo

quando comparada com a criação extensiva. Nos países em que não são adotadas

medidas adequadas de profilaxia, a morbidade média varia de 8-10%, sendo maior

em bovinos leiteiros que nos de corte.

Esta enfermidade apresenta distribuição mundial, mas nos EUA, Canadá e

países da Europa sua incidência foi controlada pela preconização das campanhas

de erradicação e controle, através do teste de tuberculina e abate dos animais

infectados (JONES et al., 1997).

Com a implementação dos programas de controle de tuberculose bovina,

alguns países da América do Sul, como Uruguai, Venezuela e Paraguai, tiveram

uma redução na prevalência da doença de 4,5 para 0,01%, de 1963-1984; 3,48 para

0,37%, de 1954-1964 e de 1,40 para 0,24%, de 1981-1990, respectivamente

(KANTOR e RITTACCO, 1994).

Dados do Ministério da Agricultura referentes à prevalência da tuberculose

bovina no Brasil, realizados entre 1974 e 1984, apresentaram um índice de 1,82%,

representados por 6.491 focos da doença (BUBNIAK, 2000). O rebanho bovino do

Brasil está estimado em mais de 165 milhões de cabeça. Dados de 1986 mostraram

que o nível de infecção estava entre 0,9-2,9%, com 6,2-26,3% dos rebanhos

possuindo animais infectados, sem que essas taxas mostrassem tendências de

diminuição (KANTOR e RITTACCO, 1994).

No Brasil, pouco enfoque é dado à prevalência da infecção nos rebanhos

bovinos. Alguns pesquisadores, utilizando o teste de hipersensibilidade, estimaram a

prevalência individual em diferentes regiões do País. LANGENEGGER et al. (1981)

trabalharam com 24 rebanhos leiteiros da região Sudeste do Brasil, entre os estados

de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e verificaram índice de reatividade de

9,7%. No Sul do Brasil, RICCETTI et al. (1989) diagnosticaram a doença em 60%

dos municípios. No estado de São Paulo, SAMARA et al. (1996) testaram 748

bovinos e identificaram índices de prevalência de 6,8%, enquanto SOERENSEN et

al. (1992) estudaram um rebanho estabulado com 331 vacas de aptidão leiteira e

verificaram 32% de reatividade às provas intradérmicas, confirmando com a

necropsia e cultura.

No Rio de Janeiro, LILENBAUM (1998) testou 1632 bovinos de aptidão

leiteira em diversas propriedades com histórico sugestivo de tuberculose e verificou

que 12,7% de animais foram reativos ao teste intradérmico cervical simples. Os mais

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altos índices de positividade foram relatados nos estados do Nordeste, e os

menores, nos estados do Sul e Sudeste.

SCHENK et al. (1982) concluíram que a prevalência (0,20%) encontrada

para a tuberculose bovina no estado do Mato Grosso do Sul foi baixa se comparada

à taxa estimada (2,62%) para o Brasil. A justificativa desse resultado foi que os

animais utilizados nesse estudo eram de corte, normalmente, submetidos à

exploração extensiva, enquanto que a tuberculose é mais freqüente em gado leiteiro

com tipo de criação intensiva, em condições de estabulação favorecendo a

propagação da doença.

Embora a transmissão do M. bovis possa ocorrer por várias vias, a forma

mais freqüente da doença é a pulmonar, pela via aerógena, através da inalação de

gotículas contaminadas. A infecção pela via digestiva é possível, através da ingestão

de fezes, água, pastagens, leite e fômites contaminados. Logo nos primeiros dias de

vida, os bezerros podem infectar-se por meio da ingestão do colostro contaminado,

ou até mesmo por fômites ou muco, pelo hábito da mãe lamber o filhote (PHILLIPS

et al., 2003). Resultados de infecções experimentais, simultaneamente por via

aerógena e alimentar, demonstraram que 80 a 90% dos bovinos são infectados por

via aerógena, através da inalação de aerossóis contaminados com o bacilo; e 10 a

20% por via digestiva (CORRÊA e CORRÊA, 1992; SOUZA et al., 1999). Existem

vias menos comuns, como a via cutânea, que requer inicialmente uma porta de

entrada para a instalação do processo infeccioso. Ou ainda a via genital, pelo coito,

onde são produzidas infecções por contato resultando no aparecimento de lesões no

pênis, na vulva e na vagina. Na tuberculose uterina, a transmissão congênita,

embora rara, pode ocorrer via cordão umbilical (MATTHIAS, 1988; NEILL et al.,

2001).

Existem relatos da possível transmissão da tuberculose dos seres humanos

para os bovinos. Nesses casos, a infecção é principalmente pela via respiratória,

mas existem ocorrências de humanos com tuberculose genito-urinária, que infectam

os bovinos ao urinarem nos cochos. Em primeira instância, a tuberculose genito-

urinária é de interesse limitado para os epidemiologistas que estudam a transmissão

da doença, no entanto, essa prática bizarra é um hábito comum entre os

trabalhadores rurais. Na Alemanha, a tuberculose bovina é rara, porém, quando

ocorre, o homem é tido como o principal transmissor da doença para o gado. Desta

forma, uma maior atenção dos médicos e veterinários deve ser requerida em relação

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à atuação do homem, como importante fonte de infecção (GRANGE e YATES, 1994;

GRANGE, 2001).

Em bovinos adultos, 95% dos casos de tuberculose são causados pelo M.

bovis. Há relatos de raros casos de tuberculose bovina progressiva causada pelo M.

tuberculosis, determinando uma doença que pode regredir ou curar

espontaneamente. O M. avium também tem sido considerado como patogênico para

os bovinos, causando a doença progressiva generalizada, com localização nos

linfonodos mesentéricos (CORRÊA e CORRÊA, 1992).

Em relação aos prejuízos econômicos na pecuária de leite e de corte,

estima-se uma redução de 10% na produção de leite, 20% na produção de carne,

devido à condenação de carcaças, e a um aumento do índice de infertilidade do

rebanho (FERREIRA NETO e BERNARDI, 1997). Na Argentina, o atraso na 1ª

lactação, a diminuição no número e duração das lactações resultaram no

decréscimo de 18% na produção de leite de vacas tuberculosas quando comparadas

com o rebanho leiteiro sadio (Nader e Husberg, 1988 apud KANTOR e RITTACCO,

1994).

Embora incomum, a tuberculose humana causada pelo M. bovis é um

problema de saúde pública. A infecção nos seres humanos pelo M. bovis quase

sempre ocorre pela inalação de aerossóis ou pelo consumo do leite contaminado.

Esse problema é minimizado quando o leite é submetido ao processo de

pasteurização. Muitos pesquisadores têm voltado a atenção para o fato de que a

tuberculose pulmonar pelo M. bovis é mais comum nos moradores rurais do que nos

urbanos. Os médicos veterinários e magarefes estão sujeitos à infecção através da

inalação de aerossóis gerados durante o manuseio das carcaças contaminadas. Na

maioria dos casos, os humanos se contaminam ainda quando jovens e podem

apresentar linfoadenopatia cervical (escrofulose), lesões intestinais, tuberculose

cutânea crônica (lupus vulgaris) e outras formas não-pulmonares (GRANGE e

YATES, 1994; COSIVI et al., 1998; GRANGE, 2001).

Trabalhos realizados na Nigéria consideraram a ingestão de carne

contaminada como responsável por cerca de 45% dos casos de tuberculose em

humanos causada pelo M. bovis (SOUZA et al., 1999).

Informações em relação à tuberculose humana pelo M. bovis, nos países

desenvolvidos e subdesenvolvidos, são escassas. Na América Latina, estima-se que

o M. bovis seja o responsável pela ocorrência de 2% dos casos de tuberculose

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pulmonar e 8% da forma não-pulmonar, sendo a porcentagem mais alta em regiões

de criação intensiva de gado leiteiro (GRANGE, 2001).

2.8. Métodos de Diagnóstico 2.8.1. Prova de tuberculina O método-padrão para o estudo da tuberculose bovina é o teste de

tuberculina (OIE, 2000). Este teste se baseia na resposta do animal à injeção de

tuberculina descrita com uma resposta de hipersensibilidade do tipo tardia.

Atualmente, existem dois tipos de testes em uso. O teste intradérmico simples, que

consiste na injeção intradérmica de 0,1 ml de purified protein derivative (PPD) bovino

(produzido do M.bovis - cepas AN5 ou Vallee) na região do pescoço ou na prega

ano-caudal do animal. E o teste intradérmico comparado, que consiste na injeção

intradérmica simultânea de 0,1 ml da tuberculina bovina e 0,1 ml da aviária

(produzida do M. avium - cepas D4ER ou TB56) no mesmo lado do pescoço, com

uma distância de 15 cm entre as aplicações. O último teste é utilizado para

diferenciar animais infectados com M. bovis daqueles sensibilizados devido à

exposição a outras micobactérias, ou seja, reação cruzada. A diferença nas reações

de ambos PPDs indica que nenhum animal está infectado com M.bovis ou mostra

uma reação não-específica de hipersensibilidade retardada (MONAGHAN et al.,

1994; WEDLOCK et al., 2002). Tais testes avaliam respostas de hipersensibilidade

retardada, 72 horas após uma injeção intradérmica de tuberculina ou PPD. A

intensidade da reação independe do grau das lesões tuberculosas e é determinada

pelo edemaciamento e espessura sofrida pela pele, que será medida com um

cutímetro antes e depois da injeção intradérmica da tuberculina. Podem ser obtidos

resultados falso-negativos nas infecções recentes (30-50 dias); nos casos de

animais anérgicos decorrentes do acometimento generalizado (tuberculose miliar);

no período entre testes de 42 a 60 dias; durante quatro a seis semanas pós-parto

(imunossupressão transitória); em situações de desnutrição; e no uso inescrupuloso

e consciente de certas drogas; e ainda por fatores relacionados ao teste PPD, como

validade do produto, variações na leitura e interpretação do teste. Reações falso-

positivas ou duvidosas podem aparecer em bovinos que foram sensibilizados por

outras micobactérias como M. paratuberculosis, M. avium, tuberculose cutânea e

micobactérias atípicas, e em animais tuberculinizados. Neste caso, é necessária a

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realização minuciosa da inspeção post-mortem (MONAGHAN et al., 1994; ROXO,

1997).

A sensibilidade do teste refere-se à habilidade para identificar animais

doentes, enquanto a especificidade refere-se à identificação de animais não-

doentes. Estima-se que a sensibilidade do teste de tuberculina varia de 68-95%,

enquanto a especificidade é estimada ser de 96-99% (MONAGHAN et al., 1994).

2.8.2. Provas sorológicas

O teste do gama interferon (IFN-γ) baseia-se na titulação de gama-interferon,

em amostras sanguíneas de animais infectados, produzido por linfócitos

sensibilizados durante 16-24 horas do período de incubação com o antígeno

específico - PPD bovino. Esta técnica visa à avaliação de respostas celulares in

vitro, dias depois de realizado o teste de tuberculinização simples (OIE, 2000).

Segundo DOMINGO et al. (1995), na Espanha, e LILENBAUM et al. (1999), no

Brasil, este teste se mostrou mais sensível e mais rápido do que o teste intradérmico

simples, quando testado em rebanhos leiteiros. A proliferação de linfócitos T e de

gama-interferon corresponde à imunidade celular, enquanto a prova de ELISA

(Enzyme Linked Immunosorbent Assay), à imunidade humoral. A técnica de ELISA

mede a ligação do anticorpo ao antígeno, sendo um teste complementar ao teste

baseado na imunidade celular (OIE, 2000).

2.8.3. Necropsia As possibilidades de diagnóstico da TbB, a partir da necropsia de casos

clínicos e de inspeção de carnes, seguem com a detecção de lesões típicas macro e

microscópicas, aceitas para o diagnóstico anatomopatológico conclusivo em áreas

enzoóticas. Mas, afora essa condição epidemiológica, a necropsia deve ser seguida

do isolamento bacteriológico para o diagnóstico definitivo (CORRÊA e CORRÊA,

1992; CORNER, 1994; SEVA et al., 2002). A inspeção sanitária de carnes em

bovinos, que é um ato necroscópico, corresponde a um exame meticuloso de pelo

menos 6 pares de linfonodos entre os da cabeça, torácicos, mesentéricos e da

carcaça, bem como dos pulmões, fígado, baço, rim, úbere e órgãos genitais,

podendo identificar até 95% dos animais com lesões macroscópicas. Esse

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procedimento é empregado, muitas vezes, em animais reagentes à tuberculina,

permitindo uma avaliação criteriosa das lesões macroscópicas dos tecidos e a

colheita asséptica de tecidos intactos para exames mais detalhados no laboratório

(CORNER, 1994).

2.8.4. Exame microscópico Este método de diagnóstico pode ser aplicado em animais vivos ou no post -

mortem. As amostras em “swab” nasal ou tecidos preparados para a histopatologia

podem ser submetidos à clássica coloração de ZN, corando as micobactérias.

Também oferecem resultados satisfatórios a coloração de fluorescência e a técnica

de imuno-histoquímica. O diagnóstico é feito, se o tecido apresentar o conjunto de

lesões histológicas características de um granuloma, bem como o microorganismo

(OIE, 2000). A técnica de ZN pode revelar bacilos corados em vermelho em pequeno

número nos processos causados pelos agentes M. bovis ou M. tuberculosis e, em

grande número, naqueles relacionados com M. avium (MILLER et al., 1995).

MATTHIAS (1998) descreveu que a técnica de ZN pode ser considerada a mais

adequada para demonstrar tintorialmente as bactérias tuberculosas.

2.8.5. Exame bacteriológico O estudo bacteriológico envolve procedimentos e materiais, tais como,

meios de cultura, descontaminação e condições de incubação, os quais influenciam

no sucesso do isolamento. Uma vez isolado o agente, testes adicionais como a

técnica de análise de DNA e anticorpos monoclonais podem ser aplicados para

confirmar sua identidade (CORNER, 1994; OIE, 2000).

A cultura em meios de Löwenstein-Jensen e Stonebrink favorece o

crescimento de bactérias a partir de 10 bactérias/ml de espécime, mas requer

cuidados de colheita e remessa, a fim de manter a viabilidade do agente para

crescer nos meios de cultura (KANTOR, 1988). A ausência de micobactérias em

amostras de animais tuberculina positivos com lesões típicas ou sugestivas pode

estar associada ao baixo número encontrado nas lesões no momento da coleta das

amostras ou à dificuldade de isolamento de cepas de M. bovis (PINTO et al., 2002).

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Um animal positivo para o teste de tuberculina pode não apresentar lesões

macroscópicas evidentes no post-mortem (OIE, 2000). Neste caso, o exame

bacteriológico tem sido apontado como a sinalização mais segura da presença de

micobactérias em animais com tuberculose e outras micobacterioses (CORNER,

1994; PINTO et al., 2002). Portanto, é recomendada a utilização simultânea de

técnicas histológicas e culturais no estudo de lesões granulomatosas similares à

tuberculose (ANDRADE et al., 1991). Apesar de o isolamento ser um diagnóstico

definitivo, pode requerer mais do que 12 semanas para a confirmação cultural da

infecção e a identificação da cepa por métodos bioquímicos (CORNER, 1994).

2.8.6. Imuno-histoquímica A imunoistoquímica é uma combinação de técnicas histológicas,

imunológicas e bioquímicas que possibilita a detecção de antígenos tissulares in situ,

por meio da utilização de anticorpos específicos e moléculas marcadoras (GIMENO,

1995). A localização de tais antígenos pode ser feita a partir de tecidos frescos

(cortes de congelação) ou tecidos já fixados e processados pelos métodos

histológicos convencionais (Oliveira, 1998 apud SILVA e NOGUEIRA, 2002), através

da conjugação das moléculas de imunoglobulina com moléculas marcadoras,

normalmente, de caráter enzimático, tais como, a peroxidase e a fosfatase alcalina

(GIMENO, 1995). A técnica quando direta, o anticorpo marcado com a enzima

(anticorpo primário) terá afinidade com o antígeno específico, enquanto, na indireta,

o anticorpo marcado com a enzima será secundário (anticorpo anti-Ig do animal

onde foi produzido o anticorpo primário), capaz de se ligar ao primário que está

conjugado com o antígeno específico presente no tecido. A enzima peroxidase,

atualmente, é aplicada nas seguintes técnicas imunoistoquímicas: peroxidase-

antiperoxidase (PAP), complexo avidina-biotina-peroxidase (ABC) e estreptavidina-

biotina marcada. A técnica PAP compreende a utilização de um anticorpo primário,

que se conjuga com o antígeno específico nos tecidos, um anticorpo secundário e

um complexo de três moléculas de peroxidase e dois anticorpos antiperoxidase

(complexo PAP). A técnica ABC baseia-se na interação das moléculas de avidina e

biotina e inclui a utilização de um anticorpo primário não-conjugado, um anticorpo

secundário conjugado com biotina e um complexo avidina-biotina-peroxidase (ABC).

A utilização da técnica estreptavidina-biotina compreende o emprego de um

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anticorpo primário não conjugado, um anticorpo secundário biotinilado e uma

solução de estreptavidina marcada com peroxidase (GIMENO, 1995). A utilização da

estreptavidina, molécula protéica obtida do Streptomyces avidini, com afinidade

equivalente à avidina pela biotina e menor tendência a se unir a elementos celulares,

contorna a possibilidade de ligações inespecíficas (Oliveira, 1998 apud SILVA e

NOGUEIRA, 2002). A imunoistoquímica, segmento moderno da histoquímica, é um

conjunto de técnicas relativamente recente cuja crescente utilização tem provocado

grande impacto na patologia humana e veterinária, devido à sua elevada

sensibilidade e especificidade (Oliveira, 1998 apud SILVA e NOGUEIRA, 2002). Esta

técnica permite a avaliação da relação entre a presença de antígenos específicos

nos tecidos com as lesões por eles provocadas, com rapidez e precisão nos

diagnósticos, favorecendo a durabilidade do material corado e a realização de

estudos retrospectivos (SILVA e NOGUEIRA, 2002). Diante da alta especificidade,

esses métodos imunoistoquímicos podem ser usados para avaliar a precisão de

diferentes técnicas imunológicas e sorológicas (BREES et al., 2000).

2.8.7. Métodos de reconhecimento de ácido nucléico A técnica de Polymerase Chain Reaction (PCR) é baseada na amplificação

de determinados segmentos do DNA. É um método rápido, simples e extremamente

sensível, capaz de detectar até 10 fg DNA de micobactéria, o equivalente a 5

organismos (COLLINS et al., 1994). O uso de PCR, em amostras clínicas de

pacientes humanos, é aplicado para a detecção do complexo M. tuberculosis, mas é

de pouco uso para o diagnóstico de tuberculose animal. A PCR tem sido usada

também em tecidos fixados em formalina, embebidos em parafina para detectar o

grupo do M. tuberculosis e distingui-lo do M. avium. O estudo de análise de DNA

pode ser mais rápido e seguro do que os métodos bioquímicos para a diferenciação

do M.bovis de outros membros do complexo M. tuberculosis (OIE, 2000). Apesar de

esta técnica detectar apenas uma micobactéria, necessita de cuidados para evitar a

contaminação da amostra com outro material de necropsia, podendo resultar em

falso-positivo (VITALE et al., 1998).

2.9. Controle e tratamento

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O maior incentivo para o controle da tuberculose bovina é a prevenção da

doença nos humanos. Além disso, a doença é responsável por grandes perdas

econômicas em criações de animais (OIE, 2000).

O programa Nacional de controle da tuberculose bovina se baseia no

diagnóstico de animais reativos por meio da realização do teste de tuberculina em

todo o rebanho e da remoção dos animais infectados. Esta medida de teste-e-abate

tem resultado no sucesso da erradicação ou na redução da incidência da infecção

em países desenvolvidos, incluindo a Austrália, e aqueles na América do Norte e

Europa (WEDLOCK et al., 2002).

Esse programa de teste-e-abate deve ser associado com uma série de

outras medidas para o sucesso do controle da doença. É importante o controle do

trânsito de novos animais no rebanho (teste de tuberculina negativo, provenientes de

rebanhos livres, quarentenário e isolamento de animais suspeitos), e adoção de

medidas gerais de higiene, como limpeza e desinfecção das instalações, com o

objetivo de impedir a disseminação da doença pelo rebanho (ROXO, 1997;

WEDLOCK et al., 2002). Em alguns países, a presença de animais silvestres

infectados, tem sido a razão do fracasso desse programa. É necessário o controle

desses animais silvestres mantenedores do M. bovis para um eficaz controle da

doença nos rebanhos (WEDLOCK et al., 2002).

Nos países exportadores de carne, leite e seus derivados, os benefícios da

comercialização têm sido o maior incentivo para a implantação de tais programas.

Para muitos países desenvolvidos, o teste-e-abate é impraticável por razões

econômicas e políticas, e ainda, pela resistência dos proprietários à adesão do

sistema, já que não existe uma política para ressarci-los financeiramente. Uma outra

medida para tais países poderia incluir a observação dos animais infectados nos

abatedouros, seguido do rastreamento da propriedade de origem, com segregação

e, se necessário, a eliminação dos animais infectados (WEDLOCK et al., 2002).

No Brasil, o Ministério da Agricultura recomenda o método do teste-e-abate.

Menos da metade dos países da África, Ásia e América Latina adotou o sistema de

teste-e-abate e a notificação da doença para o controle da tuberculose bovina.

Embora não exista notificação oficial de prevalência para a enfermidade em muitos

desses países, sabe-se que a tuberculose bovina é enzoótica e persistente (MODA

et al., 1996). A distribuição da infecção para o homem pode ser prevenida por

melhorias na educação voltada para a saúde pública, adoção de práticas de higiene,

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pasteurização do leite e vacinação dos neonatos com Bacilo de Calmette-Guérin

(BCG). (WEDLOCK et al., 2002).

O Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem

Animal (RIISPOA), do Serviço de Inspeção Federal (Lei 1253, art. 119 e 196),

estabelece a decisão sanitária oficial sobre a tuberculose em matadouros,

determinando critérios de rejeição parcial, aproveitamento condicional e condenação

de carcaças, segundo sua condição anatomopatológica, e ainda o abate dos animais

em separado, submetendo-os a uma inspeção mais rigorosa (BRASIL, 1997).

No que se refere ao tratamento de animais doentes, existe pouco benefício

proveniente do uso de antibióticos para o tratamento de animais com tuberculose

bovina. Assim, os animais tratados devem permanecer positivos para o teste de PPD

e, como o tratamento não deve ser totalmente eficaz, o uso de um único antibiótico

deve levar ao desenvolvimento de resistência ao mesmo, resultando na persistência

da doença e a disseminação da infecção no rebanho (WEDLOCK et al., 2002).

Embora não exista tratamento recomendado pelo Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento, LANGENEGGER et al. (1991) demonstraram a eficiência

do tratamento de animais tuberculosos com a droga isoniazida.

Considerando que OLIVEIRA e RAMOS (1978) realizaram a becegeização

de bezerros e novilhas e não obtiveram proteção ao M. bovis, o desenvolvimento de

uma vacina efetiva para o gado seria uma importante estratégia para o controle da

tuberculose bovina, inclusive para os países nos quais a economia não suporta a

implementação do teste-e-abate como programa de controle (WEDLOCK et al.,

2002).

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Desenho do Estudo Os 123 animais estudados, reagentes ou não à prova da tuberculina, foram

divididos em 3 grupos. Eram bovinos mestiços, com predomínio de fêmeas leiteiras,

abatidos em Matadouros sob Inspeção Estadual nos Municípios de Campos dos

Goytacazes e Conceição de Macabu, estado do Rio de Janeiro. O grupo 1 (G1) foi

composto por 89 bovinos reagentes à prova de tuberculina e foram destinados ao

abate sanitário em Matadouro sob Inspeção Estadual no Município de Conceição de

Macabu. O grupo 2 (G2) compreendeu 33 bovinos sem sinais clínicos de tuberculose

no ante-mortem e, quando submetidos ao abate em Matadouro sob Inspeção

Estadual no Município de Campos dos Goytacazes, apresentaram lesões sugestivas

de tuberculose. Além dos G1 e G2, foi estudado também, um caso isolado de um

bovino mestiço, fêmea, 5 anos de idade, anérgico ao teste de tuberculina e com

sinais clínicos de tosse, febre alta, intensa apatia e queda na produção de leite.

Todos os animais destinados ao abate nos Matadouros sob Inspeção Estadual foram

avaliados no exame ante-mortem. As amostras foram colhidas nas linhas de

inspeção no decorrer do abate. Já o animal do caso isolado, foi submetido à

eutanásia e necropsia.

3.2. Colheita das amostras

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No período de março de 2003 a março de 2004, foram colhidas amostras de

pulmões e de seus linfonodos satélites (retrofaríngeos, mediastínicos e

traqueobrônquicos) e, excepcionalmente, outros linfonodos, fígado, intestinos, rins,

útero e serosas, todas as amostras com lesões granulomatosas sugestivas de

tuberculose.

No G1, foram colhidas amostras de pulmões e seus linfonodos satélites

mesmo sem lesão macroscópica.

3.3. Metodologia utilizada 3.3.1. Caracterização macroscópica da lesão O exame macroscópico foi realizado nas linhas de inspeção. As lesões

eleitas estavam representadas por granulomas caseocalcários sugestivas de

tuberculose, atentando para as variações de padrões anatomopatológicos que, ora

eram extensamente caseosos, com ou sem mineralização e, ora, pequenos

tubérculos típicos e solitários. A mensuração foi efetuada com régua milimetrada.

3.3.2. Histopatologia Para a realização do exame histopatológico, as amostras foram fixadas em

formol tamponado neutro a 10% (PROPHET et al., 1994) durante 24 a 48 horas e

encaminhadas ao Setor de Morfologia e Anatomia Patológica do Laboratório de

Sanidade Animal na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Em

seguida, foram clivadas, armazenadas em cassetes e submetidas ao processador

automático da marca Leica/TP1020, para desidratação, em diferentes concentrações

de álcool etílico e clarificação em banhos de xilol. O material foi então incluído em

parafina e os blocos cortados em seções de 5 micras (µm) no micrótomo semi-

automático da marca Leica/RM2145, para posterior coloração de rotina pela HE. Em

todos os casos em que se observou o conjunto de lesões características de

tuberculose, realizou-se a coloração especial de ZN para a demonstração de bacilos

álcool-ácido resistentes. As lâminas foram examinadas em ocular de 10 e objetivas

de 40 (400X) e 100 (1000X) ao microscópio óptico para a visualização dos bacilos,

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em campos previamente selecionados com objetivas 10, notadamente, naqueles

ricos em macrófagos epitelóides e/ou gigantócitos e necrose.

3.3.2.1. Análise estatística

Para obter uma estimativa do percentual de amostras com lesões

histológicas típicas de tuberculose e positivas para a técnica de ZN, foi utilizado o

teste Q-quadrado (SAS, 1990).

3.3.3. Imuno-histoquímica A técnica de imuno-histoquímica foi realizada no Laboratório de Imuno-

histoquímica e Hibridização do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital

Universitário Antônio Pedro, no Departamento de Patologia da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal Fluminense, localizada em Niterói, estado do Rio

de Janeiro. Foi aplicada a técnica indireta da estreptavidina-biotina, utilizando o kit

LSAB+ (DAKO, USA) e o anticorpo primário policlonal anti-M. bovis produzido em

coelho (BCG - DAKO, USA), conforme descrito por GUTIÉRREZ CANCELA e

GARCÍA MARIN (1993). O anticorpo primário, anti-Mycobacterium bovis, foi

previamente diluído em 1:600, conforme a bula do fabricante, para um teste piloto.

Várias outras diluições foram tentadas até que se estabelecesse a ideal de 1:4500, a

qual foi aplicada em amostras de três animais com lesões típicas de tuberculose,

selecionadas ao acaso. Os cortes, dispostos nas lâminas silanizadas (DAKO, USA),

foram seqüencialmente desparafinados na estufa por 10 minutos, ainda na estufa,

dentro do xilol, por mais 10 minutos, e quatro banhos em diferentes soluções de xilol,

por 5 minutos. Em seguida, os cortes foram hidratados em diferentes concentrações

de álcool por 20 minutos e lavados em água destilada por 5 minutos. Para a inibição

da peroxidase endógena, as lâminas foram incubadas em um becker com solução

de peróxido de hidrogênio a 3%, sobre a placa agitadora, por 30 minutos à

temperatura ambiente. Após isso, os cortes foram tratados com tampão citrato em

banho-maria à temperatura de 96ºC, por 30 minutos, para a recuperação antigênica.

Passado esse tempo, as lâminas foram colocadas em temperatura ambiente por 20

minutos para esfriar e banhadas no tampão Tris buffered solution (TBS). Para

inibição de ligações inespecíficas, cobriram-se os cortes com uma solução de leite e

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albumina de sangue bovino, deixando por 1 hora na estufa a 37ºC. Assim, estavam

preparados para a incubação com o anticorpo primário, na diluição de 1:4500 por 30

minutos, seguida da incubação com anticorpo secundário biotinilado por mais 30

minutos e, por fim, com a enzima estreptoavidina marcada com a peroxidase por 30

minutos. A incubação com o cromógeno à base de diaminobenzidina (DAB)

devidamente diluído permitiu a revelação de cor marrom-escura e, por fim, os cortes

foram contracorados com Hematoxilina por 30 segundos, desidratados em banhos

de álcool, clarificados em banhos de xilol e montados com lamínulas.

3.3.4. Cultura Para o estudo bacteriológico, 25 amostras foram colhidas e acondicionadas

individualmente em sacos plásticos, conservadas pelo frio e transportadas para o

Laboratório de Micobactérias da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Centro

de Ciências da Saúde (UFRJ/CCS), na Ilha do Governador, Rio de Janeiro - R.J.

O exame microbiológico consistiu do isolamento e caracterização

morfológica das colônias em meios de cultura específicos, da determinação de

BAAR nas amostras cultivadas e da identificação da espécie de Mycobacterium, por

meio das provas bioquímicas, seguindo o protocolo do Manual de Bacteriologia da

Tuberculose (BRASIL, 1994).

3.3.4.1. Digestão do tecido Foram retirados assepticamente, vários fragmentos da amostra individual

com cerca de 2-4 g. Em seguida, esta porção foi triturada em gral com auxílio de

areia estéril e um bastão de vidro. O macerado foi homogeneizado com 10 ml de

água destilada, ficando em repouso por 30 minutos.

O material reserva foi congelado em freezer a -20ºC até que o estudo

estivesse finalizado para, se necessário, ser reutilizado.

3.3.4.2. Descontaminação do inóculo O sobrenadante foi transferido para um tubo Falcon e tratado pelo Método

de Kubica, proposto por KENT e KUBICA (1985). Este método, usando N-

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acetilcisteína como agente de liquefação, visou à redução da mortalidade de

micobactérias, prevenindo resultados falso-negativos em materiais paucibacilares. O

sobrenadante foi tratado com a solução NALC-NaOH a 4%, esterilizada em partes

iguais durante 15 minutos em temperatura ambiente, visando à descontaminação da

amostra. A seguir, a amostra foi neutralizada com solução tampão Sorensen pH 6,8

na proporção de 1:4. A suspensão foi então centrifugada a 3.000 g durante 30

minutos, sendo o sobrenadante descartado e o sedimento ressuspendido com 0,5 ml

de solução tampão Sorensen, para a semeadura de 0,1 ml em cada tubo com o

meio. Em seguida, foi realizada a baciloscopia, pela coloração de ZN, para a

demonstração de BAAR no sedimento ressuspendido.

3.3.4.3. Inoculação em meio de cultura e incubação Para o isolamento primário, foi semeado 0,1 ml do inóculo em dois tubos

contendo meio sólido Löwenstein-Jensen (LJ), à base de ovo, com piruvato e, em

outros dois tubos, contendo o meio LJ com glicerol. Os tubos, inicialmente, foram

levemente fechados, para a evaporação da umidade presente no meio. A partir daí,

os tubos foram bem fechados para evitar o ressecamento do meio. As amostras

foram incubadas a 37ºC durante 3 meses com observação semanal do crescimento.

Estando este era visível, foram feitas baciloscopia e coloração com a técnica de ZN

para a visualização dos BAAR.

3.3.4.4. Provas bioquímicas

Nos tubos que apresentaram crescimentos de colônias típicas de

micobactérias, realizou-se a baciloscopia pela coloração de ZN para a constatação

da presença de BAAR. As colônias foram repicadas e semeadas em duplicata nos

meios LJ com piruvato, LJ comum, 7H9 com piruvato e 7H9 com glicerol. As colônias

que exibiram caracterização morfológica sugestiva de M. bovis foram submetidas às

seguintes provas bioquímicas para a identificação da espécie: sensibilidade ao

thiophen-2-carboxylic acid hydrazine (TCH), urease, pirazinamidase, produção de

niacina, redução de nitrato e preferência de piruvato como fonte de carbono,

conforme proposto por GRANGE et al. (1996).

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3.3.4.4.1. Teste de sensibilidade ao thiophen-2-carboxylic acid hydrazine (TCH) Para a realização do teste, foram utilizados dois tubos com o meio LJ,

contendo 5 mg/l de TCH. Para o inóculo desta prova, foi preparada uma suspensão

com turvação correspondente à escala de MacFarland tubo 1. Em seguida, foi

inoculada 0,1 ml da amostra em cada tubo, contendo LJ com o TCH e, em tubos-

controle, LJ comum e LJ com piruvato, e incubados por três semanas a 37ºC em

estufa bacteriológica. A leitura dos tubos foi efetuada semanalmente.

3.3.4.4.2. Urease

A partir do cultivo recente em meio LJ, uma alça cheia de crescimento foi

emulsionada num tubo contendo 1,0 ml de caldo de uréia esterilizado por filtração e

com o pH à 5.8+0.1 (1 g de peptona; 1 g de glicose; 5 g de NaCl; 0,4 g de KH2PO4;

20 g de uréia; 1ml de vermelho de fenol à 1%; 0,1 ml de Tween 80, água q.s.p.

1.000 ml). A seguir, incubou-se em estufa à 37ºC por 18 horas.

A leitura foi realizada com 2, 18, 42, 48 e 72 horas e, considerada positiva,

quando houve mudança de cor do caldo, de amarelo para rosa escuro ou vermelho.

Foram utilizados controle positivo (tubo inoculado com Mycobacterium aurum) e

controle negativo (tubo inoculado com Mycobacterium terrae ATCC 15755).

3.3.4.4.3. Pirazinamidase O teste detecta a desaminação da pirazinamida, produzindo ácido

pirazinóico e amônia. M. tuberculosis produz teste positivo após 4 dias de incubação

e M. bovis é negativo após 7 dias de incubação (WAYNE et al., 1964). Para a

realização do teste, foi preparado um substrato, adicionando, a um litro de água

destilada, 6,5 g de caldo Dubos, 0,1 g de pirazinamida, 2 g de ácido pirúvico e 15 g

de agar, o meio foi distribuído 5 ml em tubos 16x150 mm e esterilizado a 121ºC/15

minutos. A seguir, os tubos foram colocados na posição vertical para solidificação.

Para cada amostra, foram inoculados 2 tubos com alça bem cheia de modo que o

inóculo fosse visível a olho nu. Após 4 dias de incubação a 37ºC, foi adicionado, em

um dos tubos, 1ml de solução de sulfato ferroso amoniacal a 1%, recentemente

preparada. Os tubos foram deixados à temperatura ambiente por 30 minutos e

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examinados contra um fundo branco para verificar a existência de uma banda rosa

nos tubos positivos. Os tubos negativos foram mantidos em geladeira por 4 horas e,

novamente, examinados. O segundo tubo inoculado, o das amostras com resultado

negativo, foi examinado da mesma maneira após 7 dias de incubação. Um padrão

da coloração desenvolvida foi preparado, substituindo-se a pirazinamida por ácido

pirazinóico na preparação do substrato. Foram utilizados controle positivo (tubo

inoculado com Mycobacterium avium) e controle negativo (tubo inoculado com

Mycobacterium kansasii).

3.3.4.4.4. Produção de niacina Este teste é capaz de demonstrar a habilidade de algumas micobactérias em

sintetizar o ácido nicotínico (COLLINS et al., 1985). Para a realização desta prova

foram utilizados tubos com o meio de cultura LJ comum com crescimento

bacteriano. Em cada tubo, foram adicionados 1,5 ml de água destilada e realizados

cortes longitudinais no meio para a liberação do ácido nicotínico produzido por

determinadas espécies de micobactérias. Em seguida, os tubos foram mantidos em

repouso por 30 minutos na posição horizontal. Após esse tempo, os mesmos foram

posicionados verticalmente por 5 minutos e transferiu-se 0,5 ml do volume de cada

tubo para outros tubos menores. Tiras de papel reagente (Difco) impregnadas com

anilina, cianeto e bromo foram inseridas nos tubos e observou-se por 5 minutos,

para a visualização da mudança de cor. A coloração verde-limão indica resultado

positivo, caso contrário, não há alteração na cor. Culturas controle de micobactéria

niacina positiva (M. tuberculosis - H37Rv) foram testadas.

3.3.4.4.5. Redução do nitrato Para esta prova, foi preparada uma solução de nitrato de sódio a 0,01 M em

tampão fosfato (solução substrato de nitrato), a qual foi adicionada a tubos contendo

um homogeneizado da amostra de crescimento bacteriano com 0,5 ml de água

destilada. Em seguida, os tubos foram agitados e incubados a 37ºC por 2 horas em

estufa bacteriológica. Na seqüência, foi adicionada à solução uma gota de ácido

clorídrico, duas gotas de sulfanamida e duas gotas de hidrocloridrato de N-

naftiletilenodiamina. A reação positiva é indicada pela coloração rosada, mostrando

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a capacidade de produzir a enzima nitratase, a qual reduz o nitrato a nitrito. Culturas

de M. tuberculosis H37Rv foram utilizadas para o controle positivo.

3.3.4.4.6. Preferência de piruvato Inicialmente, a inoculação foi feita em meios LJ com piruvato e com glicerol

para uma prévia seleção, considerando que o M. bovis utiliza melhor o piruvato

como fonte de carbono (GRANGE et al., 1996). Após a observação do crescimento,

as colônias crescidas foram repicadas e inoculadas em dois tubos contendo LJ com

piruvato e, em outros dois tubos contendo LJ comum. Os tubos foram incubados a

37ºC e o crescimento foi comparado depois de quatro semanas.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Estudo macroscópico

As fêmeas leiteiras foram as mais acometidas, o que é compreensível e

amplamente relatado, considerando a maior exposição destas ao agente quando

confinadas no ato da ordenha. O exame macroscópico das alterações revelou o

predomínio de lesões granulomatosas caseosas nos pulmões (Prancha 1A) e

linfonodos mediastínicos e traqueobrônquicos (Prancha 1B). Mas, algumas vezes,

observou-se o desenvolvimento de tubérculos caseosos no parênquima e na

superfície de outros órgãos e de linfonodos, como no intestino, fígado (Prancha 1C),

medular renal bilateral (Prancha 1D), útero (Prancha 1E) e nas serosas pleurais

(Prancha 1F), peritoneal e pericárdica, determinando a tuberculose generalizada.

Macroscopicamente, lesões granulomatosas compatíveis com tuberculose foram

observadas em 72% dos animais, sendo que nos positivos para o PPD, 61,8%

apresentaram lesão. O elevado percentual (63%) de lesões estabelecidas no

aparelho respiratório, sobretudo, nos pulmões e nos respectivos linfonodos

demonstrou que, para os animais do presente estudo, a principal via de entrada do

agente foi a aerógena, coincidindo com o estudo de FREITAS et al. (2001) e MOTA

et al. (2002). CORNER et al. (1994) relataram que 86% das lesões de tuberculose

bovina podiam ser identificadas através do exame dos pulmões e dos linfonodos

mediastínicos, retrofaríngeos mediais e brônquicos.

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Alguns poucos casos de abscessos múltiplos e diminutos do fígado

mereceram um diagnóstico diferencial por lembrarem, na macroscopia, a lesão miliar

da tuberculose. Isto é razoável apenas a olho nu, já que, microscopicamente, o

abscesso é facilmente caracterizado por uma cápsula fibrocelular, contendo o

exsudato purulento. Esta é uma situação que bem retrata as dificuldades por que

passam os inspetores, quando não dispõem de um apoio laboratorial.

As lesões estabelecidas pela tuberculose são predominantes em órgãos

ricos em tecidos reticuloendoteliais, podendo ser vistas em qualquer linfonodo do

corpo. Entretanto, 70 a 90% das lesões foram predominantes nos linfonodos da

cabeça e na cavidade torácica (CORNER et al., 1994).

Os tubérculos granulomatosos se diferenciavam no tamanho, número e

distribuição, variando de diminutos a extensos, solitários ou numerosos e localizados

ou difusos. O tamanho dos granulomas variava em faixas extremas de 0,3 cm até 10

cm no maior eixo (Prancha 1E e 1A). Em alguns casos, o conteúdo caseoso

exuberante dos granulomas acarretava na deformação dos órgãos que, nos casos

de linfonodos, não era possível a distinção entre as camadas cortical e medular

(Prancha 1B). O “caseum” com coloração amarelo-creme apresentava, algumas

vezes, consistência firme e endurecida (Prancha 1D) e, outras, consistência pastosa,

semelhante ao “queijo coalho” com ou sem mineralização (Prancha 1B). Os

tubérculos foram observados na intimidade e na superfície dos órgãos e, em

algumas situações, estavam dispostos focalmente, mas puderam ser vistos

disseminados. Nos poucos casos com alterações generalizadas, foram detectados

tubérculos perláceos solitários ou coalescidos nas serosas pleural, peritoneal e

pericárdica. Conforme DUNGWORTH (1991), este processo tuberculoso em

serosas, denominado tuberculose perlácea, não invade o parênquima do órgão

devido à sua limitação por um tecido de granulação (fibrocelular). Nesta condição de

processo generalizado, as lesões também se estabeleceram nos rins, fígado,

linfonodos mesentéricos e útero, cujas lesões, neste último, estavam caracterizadas

por numerosos pequenos tubérculos no endométrio (Prancha 1E). Segundo

LILENBAUM (1998), este raro achado de tuberculose uterina pode estar relacionado

com a infertilidade do animal.

Dentre os animais reativos para o teste de tuberculina, 61,8% apresentaram

lesões macroscópicas típicas, próximos do índice de 52% detectado por CORNER et

al. (1990). Para CORNER et al. (1994), esta proporção poderia aumentar

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significativamente com o emprego de um exame anatomopatológico mais detalhado,

razão pela qual os animais reativos para o teste de tuberculina sem lesões visíveis

não podem ser caracterizados como falso-positvos ou reatores sem lesões visíveis,

considerando que o método de inspeção post-mortem aplicado e os locais

anatômicos examinados interferem na sensibilidade do exame macroscópico.

4.2. Estudo microscópico

No exame histopatológico pelo método de rotina, hematoxilina e eosina,

apenas 61,8% dos bovinos do G1 apresentaram as características histológicas de

uma reação granulomatosa típicas de tuberculose, do chamado “granuloma

completo” (Prancha 2A). Para os G2 e o caso isolado, todas as amostras testadas

resultaram em lesões histológicas tuberculóides. Os granulomas apresentaram

áreas de necrose caseosa central com freqüente deposição de material calcário

(Prancha 2B), rodeada por um infiltrado inflamatório de macrófagos, linfócitos,

neutrófilos, células epitelióides e células gigantes de Langhans (Prancha 2C e 2D), e

uma cápsula de tecido conjuntivo fibroso na periferia, caracterizando um granuloma.

Em poucos casos, pôde-se observar uma extensa área de necrose caseosa sem

calcificação circundada pelo infiltrado inflamatório, mas com poucas ou nenhuma

reação gigantocitária. Esta variação histopatológica, entre caseificação e infiltrado

inflamatório e células gigantes inclusive, está de acordo com os resultados

encontrados por GUTIÉRREZ CANCELA e GARCÍA MARÍN (1993). A necrose é

resultado da hipersensibilidade mediada por células e é de caráter caseoso.

Acredita-se que a hipersensibilidade retardada em um nível elevado, devido a

grandes quantidades de antígeno bacteriano, pode ter um efeito destrutivo sobre os

tecidos (CARTER, 1998). A calcificação é uma característica de algumas espécies

animais, observada comumente na tuberculose bovina, o que não ocorre na

tuberculose aviária e de outros animais (DUNGWORTH, 1991; JONES et al., 1997;

LÓPEZ, 1998).

O exame histopatológico pela coloração especial de ZN permitiu a

visualização de bacilos isolados ou, raramente, em grupos no interior de células

epitelióides e gigantes de Langhans (Prancha 3A e 3B) e, algumas vezes, na

periferia da área de necrose. Mesmo adotando uma sistemática visando a aumentar

as possibilidades de demonstração dos agentes, conforme relatado no capítulo

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Material e Métodos, do presente trabalho, estes se mostraram escassos. Achados

semelhantes também foram descritos por McILROY et al. (1986), que observaram o

pequeno número de micobactérias nas células gigantes ou em áreas de necrose nas

lesões dos bovinos, enquanto SEVA et al. (2002) descreveram estes achados nos

granulomas tuberculóides dos caprinos. Mesmo as lesões sendo extensas nos casos

positivos, o número de bacilos foi muito baixo, muitas vezes, era único. Diante

desses resultados, consideramos positivas todas as amostras que apresentaram

uma lesão granulomatosa tuberculóide típica da tuberculose, independente da

presença ou ausência do BAAR. Ainda assim, no tratamento estatístico pelo teste de

Q-quadrado, a técnica de ZN revelou-se altamente significativa, o que permite

considerar a coloração como importante método complementar de diagnóstico.

Em regiões em que a doença é enzoótica, é aceito o diagnóstico

histopatológico como conclusivo (ROXO, 1997). Isto nos respalda naqueles casos

em que a cultura não foi positiva.

A técnica de ZN não teve uma correspondência direta com a cultura de M.

bovis. Naqueles materiais submetidos à cultura com resultado positivo para M. bovis,

apenas 50% foi ZN positivo. Estudos registraram que em 35 materiais isolados de M.

bovis, apenas em 48% foram observados BAAR (Mota et al., 1977 apud ANDRADE,

1989)

Segundo ANDRADE et al. (1991), a não observação de BAAR em cortes

histológicos de lesões é um fato freqüente na tuberculose bovina, devido à presença

de escasso número de bactérias na lesão e, não, à sua ausência.

Acredita-se existir uma relação direta entre a gravidade da lesão e a espécie

de micobactéria (GUTIÉRREZ CANCELA e GARCIA MARÍN, 1993). Diante da

severa lesão com extensa área de caseificação e mineralização estabelecida nestes

casos estudados de tuberculose bovina, concordamos com RIDLEY (1983) e

YOUNG et al. (1990) que observaram a relação entre a ausência de bacilos na lesão

de tuberculose bovina e a morte da micobactéria após promover a lesão, decorrente

da defesa do próprio organismo (resposta imunológica). Para estes autores, a lesão

em bovinos de caráter paucibacilar mimetiza a forma tuberculóide da lepra humana,

a qual apresenta lesão exuberante com a demonstração de escassos bacilos.

Um excelente referendo para o exposto anteriormente são os achados de

uma outra micobacteriose, a paratuberculose, estudada na UENF. As lesões

impressionam pela riqueza em bacilos fucsinófilos ao lado de uma reação

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granulomatosa relativamente pouco exuberante, ou seja, sem caseificação e

mineralização (RODRIGUES et al., 2004).

4.3. Imuno-histoquímica A imuno-histoquímica (IHQ), com a técnica indireta da estreptavidina-biotina,

permitiu a marcação do M. bovis em lesões granulomatosas tuberculóides, no

interior de macrófagos, em células epitelióides e gigantes de Langhans. Observou-se

uma imunomarcação difusa e clara nas áreas de necrose. Como os achados de

GUTIÉRREZ CANCELA e GARCÍA MARÍM (1993) e THORESEN et al. (1994), a

reação positiva pela IHQ se distinguiu da coloração de ZN, marcando os bacilos

como grânulos (não baciliformes) de coloração acastanhada e maiores do que os

BAAR. Quanto à visualização da marcação, a técnica de IHQ permitiu uma reação

diferente, reluzente e com mais clareza, de avaliação mais fácil do que a obtida pelo

ZN. Todas as amostras que foram positivas pela IHQ, também foram positivaspela

coloração de ZN e pela cultura. Neste estudo, a IHQ demonstrou ser um importante

método complementar para o diagnóstico da tuberculose bovina, sendo mais prático

e rápido quando comparado ao isolamento que se trata de um método meticuloso e

demorado. Desta forma, a IHQ pode ser útil no diagnóstico de doenças infecciosas

crônicas, principalmente, quando o isolamento é laborioso e demorado (AMANO et

al., 1994; THORESEN et al., 1994).

A comparação entre a coloração de ZN e a técnica de IHQ em lesões de

tuberculose em bovinos e caprinos mostrou que os casos negativos para o método

de ZN foram positivos na IHQ. Acredita-se que essa sensibilidade possa ser devido

à técnica de ZN detectar somente organismos íntegros, enquanto a IHQ marca

antígenos micobacterianos, organismos vivos ou mortos e fragmentos, mesmo com

a parede celular defeituosa (GUTIÉRREZ CANCELA e GARCÍA MARÍM, 1993).

Estudos realizados em tecidos de caprinos com lesões compatíveis com a

tuberculose demonstraram que a técnica de IHQ revelou mais casos positivos,

sendo mais sensível do que a coloração de ZN. A IHQ também revelou fragmentos

positivos na forma de massas indefinidas na necrose (SEVA et al., 2002).

PAOLICCHI et al. (2001) estudaram lesões granulomatosas de paratuberculose em

veados vermelhos e concluíram que a IHQ foi muito eficaz na identificação do

Mycobacterium avium paratuberculosis (Map) no interior dos macrógafos, nas

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células epitelióides e gigantes de Langhans, exceto nas áreas de necrose onde a

imunomarcação foi difusa e clara. Para estes estudiosos, o método pode ser

especialmente usado quando não existir material viável para o isolamento

bacteriano, ressaltando que os resultados são rápidos, contrastando com o longo

período requerido para o crescimento de certas micobactérias. Estudos

retrospectivos em lesões de paratuberculose bovina revelaram que a demonstração

do Map em amostras teciduais foi mais precisa com a técnica de IHQ do que com a

coloração de ZN e concluíram que aquela técnica pode ser um importante

complemento a métodos histopatológicos, principalmente quando o número de

bactérias nas lesões é baixo (MASSONE et al., 1990; THORESEN et al., 1994).

4.4. Estudo microbiológico

O exame microbiológico proporcionou o isolamento do Mycobacterium sp. e

a identificação, por provas bioquímicas, da espécie bovina (M. bovis). Das 25

amostras submetidas ao isolamento, foi observado em 14 (56%) amostras o

crescimento de colônias com a morfologia similar à das micobactérias (Tabela 1). A

baciloscopia das amostras em que houve o crescimento de colônias típicas permitiu

a visualização de BAAR, a partir de preparações coradas pelo ZN. Pôde-se observar

colônias brancas, pequenas, com superfície rugosa e crescimento lento e escasso,

após um período de 2-3 meses, típico do M. bovis (Figura 1). Ao contrário do M.

tuberculosis, o M. bovis apresenta um crescimento escasso em meios sólidos

(MATTHIAS, 1988). Em 50 amostras obtidas de bovinos, o isolamento foi possível

em apenas 12% (PINTO et al., 2002), enquanto ANDRADE (1989) analisou diversos

tecidos de bovinos com lesões e logrou o isolamento e tipificação como M. bovis em

40 das 59 amostras testadas. FREITAS et al. (2001), estudando bubalinos, tipificou o

M. bovis em 33 cepas de micobactérias das 49 identificadas, a partir de lesões

localizadas nos variados linfonodos e nos pulmões. O isolamento e identificação do

M. bovis a partir de lesões características de tuberculose nos linfonodos do aparelho

respiratório em bubalinos também foram relatados por MOTA et al. (2002).

Das 6 amostras teciduais sem lesões macroscópicas e microscópicas

aparentes, escolhidas aleatoriamente para a cultura, 3 foram positivas no isolamento

(Tabela 1), o que esta de acordo com os relatos sobre o isolamento de

micobactérias em bovinos e suínos sem lesões (BROWN e NEUMAN, 1979;

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LILENBAUM et al., 2002). O exame microbiológico foi positivo diversas vezes em

casos sem lesões, confirmando a sua importância em situações especiais de

inspeção que demandem maior proteção à saúde pública (PINTO et al., 2002). Para

este resultado, deve-se considerar a possibilidade de contaminação das amostras no

ato da colheita e/ou no processamento das mesmas. Quando animais reatores ao

teste de tuberculina não apresentam lesões visíveis, esta situação deve ser

esclarecida pelo método bacteriológico, o qual poderá permitir uma prevalência tão

alta quanto 10% (CORNER et al., 1990).

O exame microbiológico foi negativo em 8 amostras com lesões

microscópicas típicas (Tabela 1). Esse resultado pode estar associado ao pequeno

número de micobactérias nas lesões no ato da coleta da amostra (PINTO et al.,

2002). Para RICHARDS e THOEN (1977), o processo de congelamento e

descongelamento das amostras contribui para a redução da viabilidade bacteriana. A

escassez ou ausência de bacilos em lesões sugestivas de tuberculose foi também

relatada por BROWN e NEUMAN (1979); ANDRADE et al. (1991); BALIAN et al.

(1997).

Apesar de a cultura ser considerada o diagnóstico “ouro” (CORNER, 1994),

no presente estudo a histopatologia identificou mais amostras positivas do que o

isolamento (Tabela 1).

Tabela 1. Comparação entre a histopatologia pelo HE e pelo ZN, em material com isolamento positivo e negativo para M. bovis.

Histopatologia/HE Histopatologia/ZN M. bovis

positivo negativo positivo negativo

Isolado 11 3 6 8

Não isolado 8 3 5 6

Total 19 6 11 14

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Por meio das provas bioquímicas de sensibilidade ao TCH (thiophen-2-

carboxylic acid hydrazine), urease, pirazinamidase, produção de niacina, redução de

nitrato e preferência de piruvato como fonte de carbono, os resultados permitiram a

identificação do M. bovis em todas as amostras isoladas.

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5. CONCLUSÕES

A tuberculose é um problema sanitário e de saúde pública importante na

região deste estudo.

A elevada casuística, no período considerado, permite enquadrar a

tuberculose bovina como uma enzootia, mesmo que só tenham sido computados

aqueles casos detectados em instituições de matança sob a Inspeção Oficial.

A IHQ revelou-se útil na demonstração do M.bovis.

O cultivo, mesmo que considerado “método ouro” e útil em estudos

epidemiológicos, não é adequado para o diagnóstico de rotina (casuística) por ser

meticuloso e requerer um período longo para a sua conclusão.

O diagnóstico anatomopatológico (macro e microscópico), considerando o

aspecto enzoótico, foi conclusivo, e se constitui num importante apoio laboratorial ao

Serviço de Inspeção de Carnes e na rotina de diagnóstico.

A tuberculose bovina teve como agente etiológico, o M. bovis, o principal

responsável pela enfermidade na região.

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8. APÊNDICES 8.1. APÊNDICE A: Ilustrações 8.2. APÊNDICE B: Protocolos

APÊNDICE A

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Prancha 1: Tuberculose bovina A) Pulmão - granuloma caseoso. Pneumonia tuberculosa caseosa. B) Linfonodo mediastínico - granuloma com extensa caseose. Linfadenite tuberculosa. C) Fígado - granulomas múltiplos e pequenos. Hepatite tuberculosa miliar. D) Rim - superfície de corte com granuloma com caseose densa na medular. Nefrite tuberculosa. E) Útero - múltiplos tubérculos (granuloma) no endométrio. Endometrite tuberculosa. F) Pleura parietal - pequenos granulomas recobertos por serosa. Pleurite tuberculosa perlácea.

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Prancha 2: Tuberculose bovina. A) Granuloma tuberculóide completo. Endometrite tuberculosa. 40X, HE. B) Granuloma evidenciando área de mineralização. Linfadenite tuberculosa. 100X, HE. C) Células gigantes de Langhans imersas na zona de células epitelióides. Linfadenite tuberculosa. 400X, HE. D) Granuloma broncogênico com evidência do epitélio respiratório aparentemente preservado (seta). Bronquite tuberculosa. 100X, HE.

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Prancha 3: Linfadenite tuberculosa bovina. A) Grumos de bacilos fucsinófilos (BAAR) em macrófagos epitelióides. 1000X, ZN. B) Escassos bacilos fucsinófilos na periferia de gigantócito de Langhans. 1000X, ZN. C) Imunomarcação acastanhada de M. bovis em macrófagos epitelióides e gigantócito de Langhans. 400X, IHQ. D) Imunomarcação de M. bovis na periferia de gigantócito de Langhans. 1000X, IHQ.

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Figura 1: Escassas colônias brancas, pequenas e rugosas de M. bovis em meio LJ.

APÊNDICE B

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1. COLORAÇÃO DE HEMATOXILINA E EOSINA

PROCEDIMENTO:

• Xilol I - 1 a 3 min

• Xilol II - 1 a 3 min

• Álcool etílico 1 - 1 min

• Álcool etílico 2 - 1 min

• Álcool etílico 3 - 1 min

• Água corrente - 1 min

• Água destilada - 1 min

• Hematoxilina - 4 a 6 min

• Água corrente - banho

• Água corrente - 15 min

• Água destilada - 1 min

• Álcool 70% - 1 min

• Eosina - 15 a 30 segundos

• Álcool etílico 1 - 1 min

• Álcool etílico 2 - 1 min

• Álcool etílico 3 - 1 min

• Álcool etílico 4 - 1 min

• Álcool etílico 5 - 1 min

• Xilol I - 1 a 3 min

• Xilol II - 1 a 3 min

• Montar a lâmina e lamínula com parmount

RESULTADO:

Núcleo = azul

Citoplasma = rosa

2. COLORAÇÃO DE ZIEHL-NEELSEN

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PROCEDIMENTO:

• Xilol I - 2 min

• Xilol II - 2 min

• Álcool etílico absoluto 1 - 1 min

• Álcool etílico absoluto 2 - 1 min

• Álcool etílico absoluto 3 - 1 min

• Água corrente - 1 min

• Água destilada - 1 min

• Carbo fucsina - 30 min

• Água corrente - lavar bem

• Gotejar o álcool ácido a 1% até que o corte fique rosa pálido

• Água corrente - 8 min

• Água destilada - 1 min

• Azul de metileno (solução de trabalho) - mergulhar

• Água corrente - lavar bem

• Água destilada - 1 min

• Álcool etílico a 95% 1 - 1 min

• Álcool etílico a 95% 2 - 1 min

• Álcool etílico absoluto 1 - 1 min

• Álcool etílico absoluto 2 - 1 min

• Xilol I - 2 min

• Xilol II - 2 min

• Montar a lâmina e lamínula com parmount

RESULTADO:

Bacilo = vermelho

Fundo = azul

3. TÉCNICA DE IMUNO-HISTOQUÍMICA

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1. Colocar os cortes em lâminas silanizadas; 2. Desparafinização dos cortes:

• colocar as lâminas na estufa - 10 min

• colocar as lâminas dentro do xilol na estufa - 10 min

• 4 banhos no xilol - 5 min

3. Hidratação dos cortes:

• 2 banhos no álcool absoluto - 5 min

• 2 banhos no álcool a 96% - 5 min

• banhar as lâminas na água destilada - 5 min

4. Bloqueio da peroxidase endógena:

• colocar as lâminas no peróxido de hidrogênio sob agitação - 30 min

• tampão TBS (Tris-Buffered Saline) - banhar.

5. Recuperação antigênica:

• colocar as lâminas no tampão citrato em banho maria à 96ºC - 30 min

• esfriar em tºC ambiente - 20 min

• tampão TBS - banhar

6. Inibição das ligações inespecíficas:

• incubar com leite na estufa - 1 h

7. Incubação com o anticorpo primário

• cobrir todo o corte com o anticorpo primário previamente diluído

• incubar “overnight” na geladeira

• 2 banhos no TBS - 5 min.

8. Incubação com o anticorpo secundário e a enzima

• cobrir todo o corte com o anticorpo secundário e incubar a tºC ambiente - 30 min

• 2 banhos no TBS - 5 min

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• incubar com a enzima em tºC ambiente - 30 min

• 2 banhos no TBS - 5 min

9. Revelação o DAB (diaminobenzidina)

10. Contracorar com hematoxilina - 30 segundos

• 2 banhos na água destilada

• banhar na água amoniacal

• banhar na água destilada

• 2 banhos de álcool a 96% - 1 min

• 2 banhos de álcool absoluto - 1 min

• 4 banhos de xilol - 1 min

11. Montar as lâminas com Entelan

RESULTADO:

Bacilo = castanho