leitura crÍtica do video clipe

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COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA Disciplina ofertada aos alunos do 2 0 período dos cursos de licenciatura em História e em Geografia e de bacharelado em Serviço Social da Universidade Federal do Triângulo Mineiro Professora responsável: Dra. Alexandra Bujokas de Siqueira Aula 3 ATÉ QUE EU CURTO SERTANEJO UNIVERSITÁRIO TÁ LOUCO? EU SOU METAL

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Material didático para aulas de leitura crítica da mídia preparados pela professora Alexandra Bujokas de Siqueira para a Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

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Page 1: LEITURA CRÍTICA DO VIDEO CLIPE

COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIADisciplina ofertada aos alunos do 20 período dos cursos de licenciatura em História e em Geografia e de bacharelado em Serviço Social da Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Professora responsável: Dra. Alexandra Bujokas de Siqueira

Aula

3ATÉ QUE

EU CURTO

SERTANEJO

UNIVERSITÁRIO

TÁ LOUCO?EU SOUMETAL

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PLANO DE TRABALHOOobjetivo desta aula é começar a ensinar aos alunos al-

guns aspectos fundamentais da teoria e da prática da lei-tura crítica damídia. Faremos isso usando imagens fixas eemmovimento, texto e som não verbal. Esta aula irá apre-sentar emmais detalhes osmétodo de “desmontar” o textomidiático e, para tanto, estudaremos dois dos três concei-tos do nossomapa da leitura crítica: signo e estruturas nar-rativas. Na próxima aula, vamos nos deter no conceito derepresentação.Antes da aula, você tem duas tarefas:1. Assistir o videoclipe “The day that never comes” da

banda de trash metal Metallica, e ler o texto das páginas15 e 16. Este texto desmonta a estrutura narrativa do vi-deoclipe e mostra como a representação do herói ameri-cano do enlatado hollywoodino (quem diria!) se repete noclipe de uma banda de metal. Use a decupagem das ima-gens das páginas 17 a 20 para desmontar a narrativa vi-sual. Use o arquivo em PDF “Decupagem detalhadaMetallica”, disponível noMoodle, para aprofundar sua aná-lise;2. Ouvir o programa de rádio “Língua, Linguagem, Lin-

guafone”, disponível no Moodle e responder as questõesdo guia de estudos do programa, que estão na página 21.Durante a aula, vamos analisar a estrutura narrativa e

os signos principais de dois dos três textosmidiáticos apre-sentados na aula 1: a propaganda “Hope Ensina” e a pro-paganda “Veja Macho-alfa”.A tarefa para depois da aula é usar o que você apren-

deu na aula para analisar o videoclipe de Lucas Lucco epublicar sua análise no fórum “Desmontando a Princesi-nha”. Faça pausar no vídeo para prestar atenção no con-teúdo das imagens, identificar os signos mais relevantes eque ideias eles estão representando.

MAPA DA LEITURA CRÍTICA DA MÍDIANas próximas cinco aulas, você deve se apropriar desse mapa conceitual e saber

acioná-lo toda vez que for analisar criticamente um texto midiático, qualquer que seja ele

O sentido gerado é:- conotado?- denotado?

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guarda / Ele acerta sua carne /Vocêé nocauteado / Boca tão cheia dementiras / Tende a enegrecer seusolhos / Apenas os mantenha fechados /Continue rezando / Apenas continue es-perando / Esperando por ele / O dia quenunca vem”.Quando assisti o clipe, fiquei surpresa

com a história que o diretor ThomasVin-terberg criou: “The day that nevercomes” mostra um dia difícil na vida deum soldado americano no Iraque ou noAfeganistão, e cria uma típica históriacom começo, meio e fim, intercalada porcenas da banda tocando no meio do de-serto. E aqui começa um problemarock’n’roll.Na perspectiva dos estudos de mídia,

narrativas são cadeias de fatos que geramum sentido final.Assim, representação evalores emergem do texto, e não de umasuposta interpretação livre do observa-dor. Se quisermos ter consciência dos

ESTUDANDO ESTRUTURAS NARRATIVAS Leia este texto sobre estruturas narrativas e re-presentação a partir do videoclipe “The Daythat never comes”, do Metallica, gravado nodisco Death Magnetic, de 2008. Preste atençãono modo como o texto desmonta o clipe emtermos de começo, meio e fim e, ao fazer isso,identifica as representações e valores subja-centes ao modo como a história foi organizada.

Na tentativa de aproximar conceitosda área de estudos de mídia à realidadecotidiana dos alunos de licenciaturas daUniversidade Federal do Triângulo Mi-neiro, resolvi encarar um videoclipe dabanda de heavy metal Metallica. Se acultura midiática é o palco das disputassimbólicas, então uma das mais impor-tantes bandas de rock da atualidade tam-bém deve ter lá as suas controvérsias derepresentação.

O clipe escolhido foi o da música“The day that never comes”, do álbum“Death Magnetic”, lançado em 2008.Quando comprei o disco e ouvi a cançãopela primeira vez, a imagem queme veioà consciência foi a de um detento, vi-vendo sua última noite na prisão e aguar-dando ansiosamente o dia da liberdade –que parece nunca chegar. Vários ele-mentos da letra permitem essa interpre-tação: “Nascido para te maltratar/Melhor só aceitar isso / Você se res-

Nem Metallica escapa*Alexandra Bujokas

processos subjetivos através dos quaislemos , introjetamos idéias e damos sen-tido ao mundo, o primeiro passo é tentarse afastar emocionalmente das narrati-vas que nos chegam pela cultura midiá-tica, e olhar o que há ali. Façamos isso.O clipe de “The Day that never

comes” pode ser organizado em termosde começo, meio e fim. A história co-meça com um grupo de quatro soldadosfazendo patrulha em uma região desér-tica, quando são atingidos por uma ex-plosão. Rapidamente eles se posicionampara contra-atacar, mas um soldado ficaferido. O líder do grupo fornece os pri-meiros socorros, pede ajuda e tenta man-ter seu companheiro consciente.A partirdaí se desenrolam as complicações dahistória: o soldado ferido está à beira damorte e é levado de helicóptero, o líder

do grupo volta para a base e, enquantorecarrega suas armas, adquire uma ex-pressão sombria, típica de quem pensaem revanche. Ele reúne sua tropa e voltapara o deserto. No meio do caminho, ossoldados encontram um carro parado,um homem com trajes típicos da culturamuçulmana mexendo no motor, umamulher de burca dentro do veículo. Ossoldados se posicionam estrategicamenteao redor do carro, o comandante mandao homem se ajoelhar e aponta sua arma,e este é o momento de maior tensão nahistória. Mas a mulher decide sair docarro e caminha com asmãos levantadasem direção ao comandante. Olhos nosolhos e o líder deduz que eles não são ter-roristas. A arma é abaixada. No final, ossoldados ajudam omuçulmano a conser-tar o carro, deixam-no seguir seu cami-nho e o comandante olha para o sol,numa atitude reflexiva.Ao explicitar a evolução do clipe,

temos evidências que nos ajudam a re-fletir sobre o processo narrativo que foicriado ali: como as informações foramfornecidas, atrasadas ou sonegadas, quaispistas foram dadas para guiar nossa in-terpretação, como a história joga com

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nossas convicções.Vejamos. O que o texto nos fornece

são indícios de que alguém provocouuma explosão, ferindo um soldado ame-ricano, mas não sabemos quem é o autordo atentado. Entretanto, o cenário nos dáuma pista: eles estão no deserto, logodevem ter sido atingidos por inimigos deguerra, iraquianos ou afegãos. Não sabe-mos se o soldado ferido morreu, mas sa-bemos que o episódio desencadeousentimentos de vingança no líder dogrupo, por causa do modo como foiconstruída a cena em que ele recarrega aarma e decide voltar ao mesmo cenárioem que foram atingidos no início da his-tória. Quem assiste filmes de guerra estáacostumado com cenas de revanche entremocinhos e bandidos e, no clipe do Me-tallica, claramente o soldado americano éo herói e os muçulmanos são os vilões.Essa interpretação fica clara se identifi-carmos o modo como o processo narra-tivo evolui: os soldados estão fazendouma ronda de rotina, tranqüilos, mas atranqüilidade é interrompida por um ata-que. É “natural” que eles saiam em buscade justiça...Quando explicitamos a estrutura e o

processo narrativo de uma história, con-seguimos reunir dados para identificar asrepresentações e disputas simbólicas queestão em jogo. Fazemos isso identifi-cando os elementos que são estereotipa-dos, aquilo que foge dos estereótipos equais são os valores subjacentes aosfatos e personagens.No clipe, temos um estereótipo de

herói: embora o grupo seja formado pordois soldados negros e um latino, o líderdeles tem olhos azuis e pele clara. É umtípico galã americano. Mas não se podedizer o mesmo sobre o personagemmu-çulmano: embora ele use os trajes quenos levam a identificar sua origem e cul-tura, o homem não tem os traços faciaistípicos, não tem barba e nem turbante.Por que um se ajusta ao estereótipo e ooutro foge?A repostas está no próprio sintagma

narrativo, que foi construído segundouma perspectiva tipicamente norte-ame-ricana daquele fato. Em outras palavras,para que o soldado não atire, o homemmuçulmano não pode se parecer com oestereótipo do homem-bomba (emboraos homens-bomba sejam minoria nocontingente de pessoas que usam barba

e turbante no Iraque), caso contrário,americanos típicos poderiam rejeitar oclipe, achando que foi um erro poupar avida de um inimigo mortal.Ao evitar o estereótipo estético, o di-

retor conseguiu fazer do muçulmanouma figura simpática, porque ele não separece um muçulmano e, por isso, foipoupado. Mas, convenhamos, essa éuma representação sectária, ideológicae injusta que, no final das contas cons-trói o soldado como um herói conscientee generoso. Mesmo num momento deira, ele foi capaz de fazer um julgamentoe ser justo. Quem se lembra das imagensde tortura na prisão de Guantanamo ouassistiu o documentário “Fahrenheit 11de setembro” do diretor Michael Mooretem representações bem diversas doexército dos Estados Unidos. Nesse sen-tido, o clipe do Metallica está mais parafilme ideológico de Hollywood do que

para uma mensagem crítica típica deculturas supostamente alternativas comoo heavy metal.Curioso foi ler o depoimento que vo-

calista James Hetfield deu para a MTVamericana: “A única coisa que não meinteressava aqui era o Metallica estar li-gado com alguma guerra moderna oualgum evento corrente que pudesse serconsiderado como algum tipo de críticapolítica de nossa parte”. Ao que parece,sem querer, ele acertou: realmente nãohá crítica política ali; o clipe apenas rea-firma uma posição largamente difundidanos discursos hegemônicos estaduni-denses: os americanos fazem o que écerto.No livro “Aula”, o semiólogo francês

Roland Barthes disse que a ideologia éplural como os demônios. Estava certo,ninguém escapa da representação ideo-lógica. Nem o raivoso Metallica.

Assista o clipe “The day that never comes” no Moodle no link “Video-clipe do Metallica” (se você não gosta de metal, prepare seus ouvi-dos!).

Use os frames das próximas páginas para desmontar a estrutura nar-rativa do videoclipe no seu exercício de leitura crítica.

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Anotações pessoais sobre a análise das imagens: signos mais relevantesDICA DA PROFESSORA:

use o arquivo em PDF “Decupagem de-talhada Metallica” disponível na aula de hojedo Moodle para identificar nos frames os mo-

mentos da narrativa comentados notexto das páginas 15 e 16.

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ESTUDANDO O CONCEITO DE SIGNOOuça o programa radiofônico “Língua, linguagem, linguafone”, postado no Moodle.À medida em que o programa for tocando, faça anotações pessoais sobre o que você entender a respeito do seguinte:1. Como podemos definir “linguagem”?2. Quantos tipos de linguagens usamos para compreender e comunicar?3. O que é signo?4. Quais são os tipos de signos?5. Descreva cada um dos tipos e dê exemplos do seu repertório pessoal.6. Pense em mensagens comuns do seu dia-a-dia: toques de telefone, slogans publicitários, objetos da moda. Que tipos de sig-nos são combinados para criar sentido nesses exemplos?

PENSE NISSO:Esses signos são do mesmo tipo? Que tipo de associação fazemos para atribuir sentido a cada um deles, isto é, como você sabe que o de cima significa “reser-vado para cadeirante” e o de baixo significa “paz e amor” ou “movimento hippie”? Se você não sabe responder, ouça novamente o programa radiofônico. A res-posta está lá.

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PERGUNTAS QUE AJUDAM ADESMONTAR O TEXTO MIDIÁTICO1. Como começa e como termina?2. O que muda O que muda no desenvolvimento da narrativa?3. Quem são os personagens?4. Qual é a função de cada personagem no desenrolar da narrativa?5. Que signos se destacam?6. Esses signos que se destacam estão no lugar de qual ideia?7. Que valores associamos aos fatos e personagens?8.Afinal, que significados a edição desse texto coloca em evidência?9. Quais outros textos falam sobre o mesmo assunto? E que pers-pectivas trazem?

ANOTAÇÕES - “Hope ensina”

ANOTAÇÕES - “Macho-alfa”

ANOTAÇÕES - “Princesinha”

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GB - Amor, eu bati seu carro...Entra efeito sonoro de freio e batidaEntra grafismo “Errado”Corte seco

Entra som de prato de bateriaGB - Amor, eu preciso te falar umacoisa..Corte seco e plano mais fechado na mo-deloGB - ... eu bati seu carro...Entra efeito sonoro de sinoEntra grafismo “Certo”Corte seco

Close na modeloGB - De novo!Corte seco

HOPE ENSINA - PROPAGANDA 1 - BATI O CARRO

Plano aberto com modelo desfilando, da es-querda para direita, usando sutiã e calcinhafio dental. Quando ela passa em frente àlogo marca, a imagem do corpo fica trans-parente e depois volta a ser sólidaEntra som de saxofone, melodia típica deshow de streapteaseNARRADOR - Você, brasileira, use seucharme. Hope, bonita por natureza.Fim do som de saxofone.

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HOPE ENSINA - PROPAGANDA 2 - CARTÃO DE CRÉDITO

Entra som de bateriaGB - Amor, sabe o teu cartão de crédito?Puf!Entra som de prato de bateriaEntra grafismo “Errado”Corte seco

Entra som de prato de bateriaGB - Amor, eu estourei o limite do cartãode crédito...Entra efeito sonoro de sinoEntra grafismo “Certo”

Corte seco e plano mais fechado na mo-deloGB - ... do seu, e do meu!Corte seco

Plano aberto com modelo desfilando, da esquerdapara direita, usando sutiã e calcinha fio dental. Quandoela passa em frente à logo marca, a imagem do corpofica transparente e depois volta a ser sólidaEntra som de saxofone, melodia típica de show destreapteaseNARRADOR - Você, brasileira, use seu charme.Hope, bonita por natureza.Fim do som de saxofone.

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HOPE ENSINA - PROPAGANDA 3 - MAMÃE VEM MORAR COM A GENTE

Entra som de bateriaGB - Amor, a mamãe vemmorar com agente!Entrasom de sinoEntra grafismo “Errado”Corte seco

Entra som de prato de bateriaGB - Meu amor, sabe quem vemmorarcom a gente? Mamãe!Entra efeito sonoro de sinoEntra grafismo “Certo”

Corte seco e plano mais fechado na mo-deloGB - ... não é o máximo?Corte seco

Plano aberto com modelo desfilando, da esquerdapara direita, usando sutiã e calcinha fio dental.Quando ela passa em frente à logo marca, a imagemdo corpo fica transparente e depois volta a ser sólida.Entra som de saxofone, melodia típica de show destreapteaseNARRADOR - Você, brasileira, use seu charme.Hope, bonita por natureza.Fim do som de saxofone.

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VEJA - MACHO-ALFA

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