l. elcio abdalla aula 3 erceira aula inflação e energia escura história térmica do universo...

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l. Elcio Abdalla aula 3 erceira aula Inflação e energia escura •História térmica do universo •Modelos de Friedmann abertos e fechados •Problemas com os modelos de Friedmann: horizontes, homogeneidade, curvatura... •Possível solução: inflação •Energia escura: evidências observacionais •Acelerando o universo •Modelos de inflação e energia escura •Vantagens e desvantagens dos modelos

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Page 1: L. Elcio Abdalla aula 3 erceira aula Inflação e energia escura História térmica do universo Modelos de Friedmann abertos e fechados Problemas com os modelos

l. Elcio Abdallaaula 3

erceira aula

Inflação e energia escura

•História térmica do universo

•Modelos de Friedmann abertos e fechados

•Problemas com os modelos de Friedmann: horizontes, homogeneidade, curvatura...

•Possível solução: inflação

•Energia escura: evidências observacionais

•Acelerando o universo

•Modelos de inflação e energia escura

•Vantagens e desvantagens dos modelos

Page 2: L. Elcio Abdalla aula 3 erceira aula Inflação e energia escura História térmica do universo Modelos de Friedmann abertos e fechados Problemas com os modelos

l. Elcio Abdallaaula 3

3.1 História térmica do universo

3.1 história térmica do universo

tempo

temperatura

redsh

ift

energia

15

Gy

3.2

K10

-3 eV

0

10

-11 s

1 TeV10

15 K

10 13

Unif. eletrofraca1

00

s10

10 K

1 MeV

10 10

Nucleosíntese

50 K

y3.1

04 K

10 eV

10 4

Rad. Matéria300 K

y3000

K1 eV

1100

Desacoplamento

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.2 o papel da curvatura espacial

3.2 Modelos de Friedmann abertos e fechados: o papel da curvatura espacial

22222

2

2222

1)( dsenrdr

Kr

drtadtds

A métrica de Friedmann-Robertson-Walker é, em tempo comóvel:

A primeira equação de Friedmann é:

dt

da

aa

aH

1

Usamos a equação de continuidade (ver aula passada) para obter a dependência da densidade em função do fator de escala:

wp

pH

0)(3 )1(3

00

w

a

a

0

3

4

a

a

a

mat

rad

G832

2 a

KH

termo decurvaturadecai maisdevagar,

~ a -2

Portanto, o termo de curvatura se torna progressivamente mais importante se o universo é dominado por radiação, ou por poeira!

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.2 o papel da curvatura espacial

É útil definir a densidade crítica, para a qual o universo seria plano:

23G8 Hcrit G8

3 2

Hcrit

Dividindo a densidade pela densidade crítica, obtemos o parâmetro de densidade:

critHa

K

22 3

11 G83

22 a

KH

O parâmetro de densidade é o indicador da curvatura espacial:

)(11

)(01

)(11

fechadoK

planoK

abertoK

A discussão acima mostra que, se o universo de fato tem sido dominado por poeira ou por radiação, então =1 é um ponto instável: se >1, então cresce com o tempo; se <1, então diminui com o tempo; e se =1 , permanece constante.

Exercício: mostre que, se tivéssemos hoje =0.9 , então o parâmetro de densidade teria os seguintes valores no passado:

16

6

1011000

10110

z

z

Problema!!!

Se K≠0 e Ω~1 hoje, como

explicar

que 1-Ω era, no passado, um

número tão insignificante???

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l. Elcio Abdallaaula 3

Observações do parâmetro de densidade

Idades de aglom. glob./galáxias em z~2-3: m < 0.6

RCF: = 1.0 ±0.08

Dinâmica de galáxias e aglomerados: 0.15 < m < 0.4

Evolução de aglomerados: m ~ 0.3

SÓ MATÉRIA EM GALÁXIAS E AGLOMERADOS!

Portanto, de duas uma: ou a curvatura é hoje importante, mas era inicialmente insignificante e só na nossa era ela se tornou tão importante quanto o resto da matéria (mas... por quê??) ; ou então, as observações e a interpretação da RCF e da estatísica da distribuição de galáxias realmente estão indicando que, por algum motivo, a curvatura foi suprimida e permanece insignificante.

Estatística de LSS/simulações = 1.0 ±0.3

3.2 o papel da curvatura espacial

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.3 problemas dos modelos de friedmann

3.3 Os problemas dos modelos de Friedmann de poeira e radiação.

Vimos que os modelos de Friedmann de Big Bang dominados apenas por poeira (w=0) e radiação (w=1/3) acumulam alguns pontos nebulosos:

O problema do horizonte: o universo visível hoje engloba uma região imensa, onde regiões que nunca haviam estado em contato antes se encontram. E o que verificamos é que essas regiões causalmente desconexas são formidavelmente parecidas. Em particular, a RCF vindo de direções opostas desde distâncias gigantescas têm a mesma temperatura, apesar de nunca ter estado em contato anteriormente (pelo menos isso é o que o modelo de poeira+radiação diz).

O problema da curvatura: a densidade do universo é hoje misteriosamente próxima à densidade crítica, ou seja, 1 . Mas se a curvatura não for exatamente igual a zero, esse valor é instável e deveria crescer ou diminuir muito rapidamente. Seria uma coincidência fantasmagórica se as condições iniciais do universo foram ajustadas precisamente para que só na era atual tivesse um valor próximo da unidade.

O problema da origem das inomogeneidades: o modelo de Big Bang simples não dá qualquer dica de como ou por quê surgiram as flutuações iniciais de densidade e pressão que posteriormente cresceram para formar as estruturas visíveis do universo. Nem diz por que essas flutuações têm uma amplitude constante (~ 10 -5) nas mais distantes regiões do universo.

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.4 a panacéia inflacionária

3.4 A solução: inflação (expansão acelerada)

A idéia da inflação é a seguinte: suponha que, nos seus primórdios, o universo passou por uma fase durante a qual a expansão era acelerada, ou seja:

0,02

a

aaqa

Por exemplo, podemos ter um fator de escala:

0)1(

1,

2

11

t

pp

a

a

pt

taa

p

Hteap :lim

Essa fase acelerada seria provocada por alguma forma de matéria cuja equação de estado seria:

Mas... o que isso resolve?

p

pwa w

3

32,)1(3

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.4 a panacéia inflacionária

O problema da curvatura (ou o problema de ) :

A primeira equação de Friedmann (de novo):

Se a forma de matéria que domina o universo tem p>>1, a densidade de energia dessa matéria decai muito mais devagar do que o termo de curvatura,

pa /2

G832

2 a

KH

No limite p ∞ , a densidade é constante e o termo de curvatura decai exponencialmente:

Htea

Kconstp 2

2,:

Portanto, o efeito de uma era inflacionária é suprimir a curvatura. Todos os modelos mais realísticos de inflação prevêem uma era inflacionária longa o suficiente tal que hoje a curvatura é completamente insignificante.

Ou seja, a inflação prevê =1.

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.4 a panacéia inflacionária

O problema do horizonte.

Considere, por simplicidade, a era da radiação (matéria ultra-relativística) e assuma que a curvatura já foi “para o espaço”. Sem inflação, teríamos:

2/1

2

4

G83ta

H

a

tta

dttadt

Hp 2)'(

')(

0

Agora suponha que entre os instantes ta e tb, a evolução do universo não foi determinada por matéria ultra-relativística, mas sim por uma outra forma de matéria que provoca expansão acelerada. Temos então:

bb

p

a

ba

ba

p

aa

a

ttt

t

t

tt

tttt

tt

ttt

ta

2/1

2/1

2/1

2/1

)(

ta tb

a(t)

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.4 a panacéia inflacionária

O horizonte de partículas fica, neste caso:

Exercício: verifique!

p

a

baHp t

t

p

ttd

1

2

Se tb >> ta (ou seja, se a fase inflacionária dura bastante), e se p>>1, então o segundo termo é muito maior que o primeiro (que é o horizonte num universo dominado apenas por radiação). O efeito da inflação sobre o cone de luz passado é o seguinte:

t

tb

ta

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.4 a panacéia inflacionária

A origem das perturbações

Como veremos em detalhe nas próximas aulas, a inflação é um excelente mecanismo de criar de partículas a partir do vácuo.

O mecanismo funciona do seguinte modo: durante a inflação os pares virtuais, que existem em todos os lugares e a todos os instantes como consequência das relações de incerteza da mecânica quântica, sofrem um “arrasto” causado pela expansão acelerada do universo. Alguns desses pares são separados e se convertem em pares reais.

Essas partículas aumentam a densidade de energia em alguns locais, dando assim origem às regiões mais densas que darão partida ao processo de formação de estruturas.

Em resumo: a inflação explica por que o universo é tão homogêneo em grandes escalas (problema do horizonte), elimina o problema da curvatura e, ainda por cima, fornece um mecanismo quântico de geração das inomogeneidades primordiais que deram origem à estrutura do universo.

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.5 energia escura

3.5 Energia escura

A inflação resolve os problemas dos modelos simples de Friedmann, propondo que houve uma era de expansão acelerada nos primórdios do universo.

Mas talvez essa não tenha sido a única era de expansão acelerada: há fortes indícios do que HOJE o universo estaria entrando num novo período de aceleração!A causa dessa expansão acelerada é comumente denominada energia escura.

Esses indícios são:

As observações de Supernovas Ia

O espectro da radiação cósmica de fundo (RCF)

As medidas de matéria aglomerativa (associada a galáxias)

As observações de número de aglomerados em função do redshift

A idade de estrelas a aglomerados globulares

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.5 energia escura

Supernovas Ia

P.J.E. Peebles

SN1997ff

m=1, =0

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l. Elcio Abdallaaula 3

RCF

3.5 energia escura

08.00.10

m

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l. Elcio Abdallaaula 3

Combinando Supernovas, RCF e LSS:

3.5 energia escura

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l. Elcio Abdallaaula 3

TODAS as observações astronômicas e astrofísicas são consistentes com um universo onde:

1. a densidade de energia é muito próxima da densidade crítica

2. a matéria aglomerativa (bárions + CDM) perfaz menos de 35% dessa densidade de energia total

3. alguma forma de matéria que causa aceleração perfaz mais de 60% da densidade de energia total.

3.5 energia escura

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.6 modelos de aceleração cósmica

3.6 Como obter aceleração: modelos cosmológicos

)3(3

4p

G

a

a

Podemos combinar as equações de Friedmann e obter:

Portanto, é claro o que temos de fazer: formular algum tipo de matéria que tenha:

3

1

3 wp

A solução mais lembrada para a energia escura é a constante cosmológica, ou energia de vácuo, . Como sua densidade de energia é obviamente constante, sua equação de estado é w=-1 . A vantagem dessa solução é que ela é simples. A desvantagem, é que ela sofre de três probleminhas:

1. A densidade de energia de vácuo necessária para ajustar as observações é da ordem de (1 meV) 4, ou seja vááááááárias ordens de magnitude abaixo das escalas de energia do Modelo Padrão.

2. É um mistério a razão pela qual esperou até a era atual para começar a dominar a dinâmica do universo.

3. Não dá para “ligar” nem “desligar” inflação não termina!

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l. Elcio Abdallaaula 3

Há uma outra possibilidade: campos escalares.

Hubble “drag”Potencial

V() 03 , VH

)()( 221 V

Campo escalar canônico:

Se a energia cinética => “slow roll” :

)()( 221 Vp

for << do que a energia potential

1w)()(

)()(w r. s.

221

221

V

Vp

constante)( V

)( Vp

Com o slow-roll, funciona como uma quedecai no tempo

V

Equação de movimentopequeno

3.6 modelos de aceleração cósmica

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.6 modelos de aceleração cósmica

Exemplo explícito: o modelo “power-law inflation” (potenciais exponenciais)

Vs

VeMV s 1, ,

/4

VH

VH

2

212

,

G83

03

Devemos substituir esse modelo nas equações de Friedmann e de Klein-Gordon:

Vamos tentar uma solução do tipo:t

pH

t

tata

p

,)(

00

Examinando as equações acima, somos levados a considerar o campo escalar:

00 ln)(t

tt

Substituindo essas expressões nas equações acima, obtemos:

00

00

/ln)/(42

20

21

2

2

/ln)/(4

020

G83

03

tts

tts

eMtt

p

es

M

tt

p

t

2

20

422

2

20

4

0

1G83

)13(2

2

s

tMsp

s

tMp

s

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l. Elcio Abdallaaula 3 3.6 modelos de aceleração cósmica

Resolvendo em função de p, obtemos:

)13(G8

2G16

20

0

ppM

pt

s

ps

Portanto, determinamos que existe uma solução para o caso de potenciais exponenciais que é dada por:

p

t

tata

t

tpt

00

0

)(

lnG4

)(

Em resumo: basta escolher os parâmetros do potencial de tal forma que p>>1, para obter uma solução inflacionária. Basta que o campo escalar domine o background para que a solução acelerada seja válida (há outra solução, claro, mas ela é um transiente). Esses modelos são populares tanto em inflação quanto em energia escura.