juleni andrade larissa fadel marisa schmidt rogério...
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Uma Escada
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1
Amélia de Morais
Decimar Biagini
Dhenova
Janete do Carmo
Juleni Andrade
Larissa Fadel
Márcia Poesia de Sá
Marisa Schmidt
Rogério Germani
Rosana Lazzar
Tiagilla
Wasil Sacharuk
Uma Escada
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2
Lances
Sinto a frieza do concreto nos pés descalços, e subo o primeiro
degrau. A vontade é de pedir socorro mas respiro fundo e
continuo. Mais um degrau. São doze até o primeiro lance. O prédio
caindo aos pedaços, mais três lances e encontrarei o topo afinal.
Nos primeiros seis, uma pedra me espera. Mas não me atenho. A
luz da lua ilumina a fenda, marca o cinza e distorce a cena. Quase
desisto. E sei o quanto me vale o risco. Penso no feitiço e na
oferenda. Penso na emoção de ser a primeira da fila horrenda. O
frio nos pés, os dedos arroxeados... tudo tão lúgubre, tão insano,
cruel... a meta é o outro lance.
É com as pernas pesadas que me aproximo do meio, o frio subindo,
a umidade gelando as canelas... tudo tão frio, tão escuro, vejo
vários olhos grudados nas fendas. Quase choro. Mas mantenho a
envergadura. Sou feita de metal agora. Continuo apostando na
rusga.
É o último lance. Lá em cima, eu sei, ele me espera. Talvez com a
faca na mão, ou dormindo na cama de casal, ou tomando banho ou
na sala, vendo tv, ou escutando música... não conto apenas que
talvez ele tenha ido mesmo embora, como disse na penúltima
cena, antes de me jogar escada abaixo, tornando tudo cinzento.
Dhenova
Uma Escada
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3
Todo santo ajuda
Ah, desgraça
que para baixo
todo santo ajuda
resta tomar o rumo
direto ao cu do judas
Incerto que a passada
leve-me somente acima
lá onde perco minha rima
fica um tanto desengonçada
sem nenhum sentido ou prumo
E se acaso eu abrace essa sorte
eu creio que dessa feita eu escapo
assim eu despisto a pegada da morte
talvez ela me deixe ou então ela me siga
só de pensar eu sinto esse frio na barriga
Eu queria encontrar o rumo do meu oriente
para sair de vez do meu universo subversivo
mas eu não tenho sequer uma pequena certeza
daquilo que posso encontrar logo à minha frente
eis que a beleza é esse mistério de estar aqui, vivo.
Wasil Sacharuk
Uma Escada
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4
DESCIDA
Algo seria encontrado...
Ao deixar a luz,
os degraus forjam o mistério.
Quando em cima,
na crista,
foi céu.
Aos fins que justificavam os meios,
vários esteios de sinos estridentes.
Um pé após o outro...
rumo ao fundo,
ao lodo
Algo estaria preste a ser desvendado...
JULENI ANDRADE
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5
A UM PASSO DO PASSADO
Ao pe´da escada,
Perco a cabeça...
Subo depressa
Antes que a vontade desça.
Percorrer os velhos degraus
Faz com que nova emoção apareça.
Lembranças revivem a cada passo;
Apagadas, estavam, pela poeira espessa.
Chego ao meio, paro, penso; porém, prossigo.
Existe meu direito, mas sou inteiramente avessa.
Se há focos de luzes, também há sombras!
Seguir, partir... não há nada que impeça.
Encontro-me, próximo ao patamar;
Então, deixo o lugar, é melhor que esqueça!
Janete do Carmo
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6
O LANCE DA ESCADA
No cume da escada
Existe uma saída
Pulando da sacada
Dá-se cabo a vida
No cume da escada
Existe uma descida
Rolando da sacada
Fica a carne moída
Abaixo da escada
Existe alma penada
Forçando sua tropeçada
Enquanto olha para o nada
Decimar Biagini
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7
ENCONTRO
Adormeci depois de vívidos pesadelos. A vida não me dava mais as
mãos e a saudade só apertava meu coração. Ficar acordada me
violentava até a respiração. Tanto sofrimento, medo e vontade de
que tudo fosse diferente. Inúmeras tentativas de colorir a estrada a
minha frente para que eu pudesse caminhar entre estrelas e
ladrilhos cintilantes.
Mas a esperança já tinha perdido. Me restou a saudade...e
lentamente meus olhos se cerravam para um profundo sono em
busca do meu desejo.
Agora podia ver uma tortuosa escada entre escombros à minha
frente. Senti medo, mas minha vontade pela procura do que eu
nem mais sabia era mais forte. Fui lentamente subindo os degraus
com um vestido longo e negro. A cada passo que dava percebia
que uma luz se ascendia nas minhas costas. A minha frente uma
porta rumo ao desconhecido. Tirei os sapatos e subi correndo para
alcançar aquilo que achava que seria minha salvação. Os degraus
pareciam intermináveis e a porta cada vez mais distante. A cada
passo dado mais escuridão a minha frente. Já cansada, me
arrastava nos últimos degraus para alcançar a porta...e finalmente
estava ali, frente a frente com a tão almejada saída. Trêmula ...me
levantei devagar apoiada por escombros e num impulso apertei a
maçaneta para baixo. Estava emperrada. Retirei forças não sei de
onde e me levantei completamente. Coloquei as duas mãos
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8
naquela porta fria e a empurrei. Dei um pulo para trás quando me
deparei com uma luz que ardia meus olhos. Lágrimas desciam e
escorregavam nos degraus. Me limpei e abri vagarosamente os
olhos. Vi que a luz não estava além daquela porta. Vi um espelho
refletindo toda a luz que me acompanhara nessa minha
caminhada. A Luz que estava atrás de mim e que nunca me
abandonou. Além daquela porta havia um espelho. Deparei comigo
mesma, meu eu e minha luz. Percebi que não tinha nada ali para
procurar. Tudo que precisava estava dentro de mim...só eu que
não via!
Larissa Fadel
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9
SUSPIRAR
S ubo a escada
U sando o corrimão
S oa alto o coração
P arece que vai parar
I nspiro forte e...nada
R astejo muito cansada
A lcanço o primeiro andar...
R ecebo de Deus, o olhar.
TIAGILLA
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10
DÚVIDAS
Aonde levará
este estreito caminho?
O que nos aguarda
lá em cima?
Quando estarei
lá no alto?
Por que terei que subir
esta estranha escada?
Como saberei
se não subo?
Amélia de Morais
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11
RUMO AO CUME DE TUDO
Não eram anjos...
Cada arrepio
sentido,
mais um pouco
de tudo aquilo.
Não eram deuses...
Cada degrau
subido,
mais um tanto
de tanto medo.
Não eram demônios...
Cada passo
transcorrido,
mais perto
do longe vindo.
Não eram amigos...
Uma Escada
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12
Cada rastro
deixado,
mais um eu
bem repartido.
Não eram feras...
Cada vez mais perto da luz estranha,
cada vez menos perto do real,
cada vez mais longe da minha vida,
cada vez menos longe do fim.
O apogeu da vida é o nascimento da morte.
JULENI ANDRADE
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13
No morro e no asfalto
A fadiga companheira já sabe de cor o rumo
Desta escada moribunda que todo dia nos leva
Cedo, esperança no sol, noite só medo da treva
A escada é a fronteira, embora feita sem prumo.
Separa a vida do asfalto, do dinheiro sofrido
Para onde me despenco na rotina do trabalho
E para cima a canseira nesta vida sem atalho
No barraco feito de zinco e piso de chão batido.
Sou esta mulher do povo, cheia de teima e garra
Mãe de filhos pouco vistos, criados a farinha e marra
Que no sobe e desce eterno espera melhores dias
Sou parte integrante dos degraus da escadaria
Onde meus pensamentos alinhavam uma história
Criada no limo do cimento e nos desvãos da memória.
Marisa Schmidt
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14
ASCENSÃO
Primeiro passo
antes do catar lucidez...
Sólidos pensamentos caem
fazendo barulho de vidros quebrados.
Mais um degrau,
menos uma certeza.
Asperezas brotam
na subida.
A escada é rude,
a imagem é fosca,
fósseis bailam como dançarinos no gelo.
Sombrias, ascensão e reflexão.
A pouca luz quem vem do alto
não elucida segredos da meta.
O que fazer quando os fins
não abonam os meios?
JULENI ANDRADE
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15
Atalho
Degraus gelados
De uma escada exalando urina
Exigem esforço maior na
Subida
Dos meus pés descalços
Exigem
Lucidez antes do vômito
Sensibilidade que me faz querer sapatos
Inteiros ( não furados)
Para continuar andando
Vagarosamente
E plácido na jornada ao céu;
Andar lento sobre o mundo
E seus cacos.
Rogério Germani
Uma Escada
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16
Via cruz versos credo...
Subo apressada os degraus, dobro o corpo, mãos sobre os joelhos,
a fim de buscar o oxigênio "roubado"...Tava aqui agora, cadê?
A boca seca, a garganta resmungando...
Depois do quarto lance da escadaria, tô bufando feito aqueles bois
malucos que o povo persegue lá na Espanha.
O sol rachando na testa, foi-se o frescor do banho matinal, inferno!
A boca aberta, feito bagre quando sai do rio pendurado no anzol.
-Solto uns 30 "Afes"!
Nem fiz promessa, por que tô pagando?
Olho para cima, desconsolada...Vixi!- Ainda falta mais da metade!
O cara que inventou isso, não tinha mãe, nem usava saltinho
"plataforma".
-Consulto o relógio...Ai, meu Deus do céu!- Não vai dar tempo!
Uma Escada
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17
Atropelo alguns "passantes"...
-O que esse povo faz aqui a essa hora?- Se eu combinasse, não
vinha ninguém.
Enfim, chego...Arfante, peito estufado [mais]. Olho em volta, cadê
o homem?
-Já foi!
Filho da p...
Na descida, acendo um cigarro e me vingo!
Só não sei de quem...
Rosana Lazzar
Uma Escada
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18
Um novo olhar
Em Braille,
Sua alma tateou o vazio.
Naquele instante
Não sentiu fome nem frio;
Somente afago dos gélidos degraus
Sob seus passos cegos.
A penumbra maior não vinha dos olhos,
Pousava no espaço vasto de possibilidades
No longo caminho a percorrer
Até conseguir tocar a mão suave de Deus
( Ele ainda estaria lá?)
E, num flashback celeste, por detrás dos óculos
Enxergar coroada a luta de seus pobres pés inchados
E ainda serenos.
Rogério Germani
Uma Escada
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19
Rugas no cimento
São tantos os degraus
quebrados pelo tempo
são tantas as rugas
marcadas no cimento
idas e vindas
saltos descalços
dedos em riste
em atos tão falhos
nos cantos, o limo
de um verde escuro
nele desenhos
com cheiro de úmido
subida continua lenta
coração apertado
emoção indica sendas
e a resposta lá no alto...
Dhênova
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20
Os anjos caem
Sereno,
Sentado sobre os calcanhares
Ele fitou o céu
E no trajeto de seculares pedras,
Por entre suas frestas, viu
O olho secreto de Deus.
Foi o bastante...
Sem nada mais questionar,
Ele arrancou as asas
Iluminou a áurea cinza pela queda
E na estreita escada
Recomeçou seu angelical caminhar
Com o coração aos pulos,
Repleto em seu humano aprendizado.
Rogério Germani
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21
O pagador de promessas
Minucioso,
desamarrou os cadarços
desvencilhou-se dos sapatos e das meias
retirou cinto, calça, camisa,cueca
e, depois de dobrá-los,
pôs a pilha de roupas sobre cúmplice pedra.
Seu último artigo de luxo
uma caixa de fósforo com único palito
a tudo incendiou sob os pés da escada;
tinha o corpo em brasas
e a alma iluminada quando , de olhos acesos
deu o primeiro passo e bradou:
Senhor,volto a Ti do mesmo jeito
que aqui cheguei!
Rogério Germani
Uma Escada
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22
Escada que leva a Cruz Alta
Botei o pé na escada
como se fora estrada
milhão de metros acima
Busquei no sentido da rima
e quis encontrar no improviso
um riso
E fiz do poema um aviso
mandei ver na profecia
usei truques de magia
Lancei rumo na poesia
as letras riscaram caminho
nelas deitei o meu ninho
E sei que não fui sozinho
construí minha própria ribalta
ao lado do poeta de Cruz Alta.
Wasil Sacharuk
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23
Preto e Branco
Passo a passo
compasso
Preto e cinza
degraus de nada
acima
Carrego fardos
dos atos
sina
Coluna etéria
lágrima
menina
Subo ao abismo
desço a desolação
paro no meio
da emoção.
Márcia Poesia de Sá
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24
Pedra de todos os ângulos
Num palco atemporal
Ela, a pedra
enfrenta as tristes vozes do desolamento.
Sob os holofotes da lua
Ela declina
Se escora nos degraus da escada;
Petrificada, paira, contemplativa
Sobre sua sina e limbo eriçados nos séculos.
Ela, a pedra, não se mexe
Tem sabedoria de rocha perante a vida;
Une seus olhos imóveis
No destino único da escada: observar vultos,
Vivos passos no exercício da subida.
Rogério Germani
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25
Tic tac tic tac...
E o som se repete a vida inteira
uma nesga de momentos se passando
neste sobe e desce de minhas verdades
Tic tac tic tac
E os degraus se confundem com cansaço
são de pedra, mas parecem aço
derretendo os meus sonhos sem parar
Tictactictac...
Estagnado no presente me desbravo
escavando com as mãos um campo alado
já sem sol, eu fecho a porta...
e sumo.
só ele me acompanha na descida...
Tic tac tic tac.
Márcia Poesia de Sá
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26
Tateando caminhos
Passo
falso
espaço
cadafalso
engaço
encalço
exato
descalço
Pegadas
perdidas
escadas
subidas
cruzadas
descidas
cobertas
cobridas
Correto
errado
incerto
cortado
sentido
aberto
pensado
fechado.
Wasil Sacharuk
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LEMBRANÇAS DE MENINA
Queria de novo a escadaria
De cimento cru e desalinhada
Que levava em risos a criançada
No sobe e desce em correria
No fim da descida, o quintal
Recanto de mil estripulias
O galinheiro tosco e o arsenal
De bagos de mamona...
Não matava, mas como ardia!
O cigarro de chuchu foi o ensaio
Para nossa futura vida de adultos
o berro da avó, quase desmaio,
E um mundo de lágrimas e insultos!
Queria de novo a escadaria
E o primeiro beijo desajeitado
Então em uma foto eu guardaria
Meu eu menina e o primo namorado...
Marisa Schmidt
Uma Escada
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28
Mistério jocoso
Em cada dobra
lágrimas sobram
e molham meus pés na subida
joelhos sangram
alma esfola
o peito e o resto dos ossos
...Às vezes, penso:
para chegar ao céu,
tenho mesmo que ir no caminho estreito?
Rogério Germani
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29
SOB OS PÉS
Sob os pés descalços,
a aspereza fria
dos degraus de pedra
subindo e descendo
as memórias vivas
dos acontecidos...
Ontem fora o riso
hoje, o silêncio.
O amanhã ensaia
sua escrita e métrica.
Vãs, estas subidas!
Vorazes descidas!
Passos fazem a trilha
sob os pés e vozes...
Aline de Mello Brandão
Uma Escada
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