john stott - sinais igreja viva

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7/13/2019 John Stott - Sinais Igreja Viva http://slidepdf.com/reader/full/john-stott-sinais-igreja-viva 1/61  A B U E D I T O R A As marcas de uma igreja cheia do Espírito Santo John Stott

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  • A B UE D I T O R A

    As marcas de uma igreja cheia do Esprito Santo

    John Stott

  • Sinais de uma

    Igreja Viva- John Stott

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    Contedo

    APRESENTAO DA VERSO EM ESPANHOL............................................................... 31. A IGREJA PRIMITIVA..................................................................................................... 42. IMPERFEITOS, MAS ENRIQUECIDOS....................................................................... 133. PODER NA FRAQUEZA................................................................................................ 234. O ESPRITO E A PALAVRA............................................................................................335. IMAGENS DA IGREJA.................................................................................................. 436. MODELOS DE MINISTRIO PASTORAL....................................................................52

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  • APRESENTAO DA VERSO EM ESPANHOL

    John Stott um conhecido e respeitado mestre da Bblia. Alm de ter pastoreado uma igreja anglicana e desempenhar-se como lder evanglico em seu pas, Inglaterra, autor de muitos livros traduzidos para vrias lnguas.

    John Stott apia de diversas formas instituies evanglicas de formao pastoral e teolgica. Colabora ativamente com a Comunidade Internacional de Estudantes Evanglicos, em misses evanglicas nas universidades de todos os continentes. Visitou a Amrica Latina pela terceira vez em 1995. Nessa ocasio deu, na Argentina e Costa Rica, uma srie de conferncias sobre a perspectiva bblica da igreja e dos desafios para o prximo milnio. Este livro uma coletnea dessas conferncias, editadas de forma conjunta pela IINDEF, da Costa Rica, e editora Certeza da Argentina.

    Agradecemos o apoio das instituies que patrocinaram a visita de Stott. Em San Jose, Costa Rica, a Escola de Estudos Pastorais (ESEPA) convidou e organizou as viagens de Stott. Na Argentina, agradecemos em particular a cooperao da Fundao Escola Bblica Evanglica, Vila Maria, Crdoba, que dedicou s conferncias de Stott as Jornadas de Reflexo deste ano. As gravaes realizadas em ambos os lugares deram o material para este livro.

    Especialmente agradecemos ao irmo John Stott por seu servio ao Reino de Deus, tanto ao dar as conferncias como ao apoiar a sua publicao.

    Uma igreja viva procura responder ao propsito com que Cristo a fundou e as necessidades peculiares da nossa poca. Essa a mensagem deste livro, e pode ser tambm a realidade de nossas igrejas.

    Os editores em Espanhol1

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    1 A presente traduo foi feita a partir da verso em espanhol Senales de una Iglesia Viva. Tradutor desconhecido. Reviso Marcelo Herberts.

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  • 1. A IGREJA PRIMITIVA

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    E perseveravam na doutrina dos apstolos, e na comunho, e no partir do po, e nas oraes. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faliam pelos apstolos. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unnimes todos os dias no templo, e partindo o po em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de corao, louvando a Deus, e caindo na graa de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor igreja aqueles que se haviam de salvar. (Atos 2:42-17)

    Ns, os cristos, estamos unidos no s por nosso compromisso com Jesus Cristo, como tambm por nosso compromisso com a igreja de Jesus Cristo. Precisamos ter a mesma perspectiva da igreja que Jesus tinha, e redescobrir a viso de uma igreja viva, renovada pelo Esprito Santo, tal como foi nos seus primeiros tempos. O propsito de Deus no salvar indivduos e perpetuar seu isolamento. Deus se props edificar a igreja, uma comunidade nova e redimida. Planejou-a na eternidade passada, est levando-a a cabo no processo histrico do presente, e ser aperfeioada na eternidade que vir.

    A igreja est no centro do plano de salvao. Cristo morreu no s para nos redimir de toda iniqidade, mas tambm para reunir e purificar para si mesmo um povo entusiasmado pelas boas obras. Assim diz a Palavra:

    0 qual se deu a si mesmo por ns para nos remir de toda a iniqidade, e purificar para si um povo seu especial, ~eloso de boas obras. (Tifo 2:14)

    Na eternidade, Deus nos reunir aos redimidos por Cristo como um s povo, do qual o apstolo Joo teve uma antecipao extraordinria:

    Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multido, a qual ningum podia contar, de todas as naes, e tribos, e povos, e lnguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mos; e clamavam com grande vo~ dizendo: Salvao ao nosso Deus, que est assentado no trono, e ao Cordeiro. (Apocalipse 7:9-10)

    Neste livro tomaremos como base para nossa reflexo sobre a igreja os captulos da primeira carta de Paulo aos Corntios. Antes, a ttulo de introduo, daremos uma olhada na igreja primitiva, como a descreve Lucas no livro de Atos.

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    Como uma igreja viva?

    E natural que para responder esta pergunta voltemos ao relato de Pentecostes no livro de Atos. E bom que sejamos realistas na leitura. Costumamos ver a igreja primitiva com uma atitude idealista, romntica. Maravilhamo-nos com seu mpeto evangelstico, seu impacto transformador no mundo. Falamos dela com admirao, como se no tivesse defeito; esquecemo-nos das heresias, das hipocrisias, das rivalidades e imoralidades que perturbavam a igreja primitiva tanto quanto a perturba hoje. Contudo, existe algo evidente: essa igreja primitiva em Jerusalm foi profundamente renovada pelo Esprito Santo. Qual era a evidncia da presena e do poder do Esprito Santo? Se pudermos responder esta pergunta, poderemos tambm responder outra: Qual a evidncia da presena do Esprito Santo na igreja de hoje?

    Lucas descreve quatro marcas de uma igreja cheia do Esprito. Esses so traos que deveriam caracterizar toda igreja aberta para a presena e o poder do Esprito Santo.

    Ensinamento apostlico

    Esta primeira caracterstica surpreendente e no muitas congregaes a teriam em conta hoje. A igreja viva uma igreja que est aprendendo, uma comunidade que estuda.

    A primeira coisa que Lucas disse sobre esta igreja renovada pelo Esprito que ela perseverava na doutrina dos apstolos: E perseveravam na doutrina dos apstolos (Atos 2:42).

    Poderamos dizer que, no dia de Pentecostes, o Esprito Santo abriu uma escada para a igreja. Os mestres da escola eram os apstolos, a quem Jesus tinha escolhido e treinado: e haviam trs mil estudantes... na realidade, meninos do jardim de infncia. Estes recm-nascidos para a f, convertidos e cheios do Esprito Santo, no estavam dedicados a desfrutar de uma experincia mstica que os fizera se esquecer ou de arrazoar sobre o que criam. Pelo comentrio, perseveravam na doutrina dos apstolos e queriam aprender tudo o que fosse possvel. Tinham fome da verdade e queriam sentar-se aos ps dos apstolos e absorver seus ensinamentos.

    A plenitude do Esprito Santo incompatvel com o antiintelectualismo. O Esprito de Deus Esprito de verdade. Esse foi um dos ttulos que Jesus mesmo deu ao Esprito. Se quisermos estar cheios do Esprito, sua verdade ser importante para ns.

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    Aqueles crentes primitivos no pensaram que bastava para eles a presena do Esprito Santo em seu interior para conhecer a verdade. No deram por certo que, por haver recebido a plenitude do Esprito Santo, este era o mestre que precisavam, e que poderiam prescindir dos mestres humanos. No foi assim na igreja primitiva. Os novos crentes sabiam que Jesus havia nomeado os apstolos para que fossem mestres da igreja, e procuravam aprender todo o possvel e perseveravam na sua doutrina.

    Como se aplica isto igreja de hoje? O que significa para ns perseverar na doutrina dos apstolos, ser fiel em conservar seusensinamentos? Entendemos que j no h apstolos na igreja. Pode haverministrios apostlicos, como os que realizam misses, os plantadores de igreja, os lderes. Estas pessoas exercem ministrio apostlico, mas no podemos cham-las de apstolos. Ningum na igreja atual tem umaautoridade comparada a de Paulo, Pedro ou qualquer dos apstolos de Jesus Cristo. Eles tinham uma autoridade nica para ensinar em nome de Jesus e ningum tem essa autoridade hoje. Ento, se no h apstolos na igreja contempornea, como podemos nos submeter aos ensinamentos dos apstolos? Seus ensinamentos chegaram at ns pela Bblia. O NovoTestamento precisamente isso: os ensinamentos dos apstolos. Esta a nica classe de sucesso apostlica em que cremos, a continuidade da doutrina apostlica por meio do Novo Testamento.

    Uma igreja cheia do Esprito uma igreja bblica, uma igreja neo- testamentria, uma igreja apostlica. Nela se ensina as Escrituras. Os pais ensinam a Bblia aos filhos. Os membros da igreja lem e refletem sobre as Escrituras todos os dias. O Esprito de Deus dirige o seu povo a submeter-se Palavra de Deus, e quando o faz, essa igreja se renova com a presena do Esprito Santo.

    Comunho e ajuda mtua

    A segunda marca de uma igreja viva que descobrimos na leitura de Atos o amor e o cuidado mtuo entre os crentes. Se a primeira marca o estudo, a segunda a comunho.

    A palavra comunho que utilizam algumas verses a traduo de koinonia. Este termo descreve aquilo que temos em comum, o que compartilhamos como crentes em Cristo. Isto se refere a duas verdades complementares.

    Em primeiro lugar, compartilhamos a graa de Deus. O apstolo Joo comea sua primeira carta com estas palavras: Nossa comunho com o Vai e com

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    o Filho, Jesus Cristo... Paulo fala da comunho que temos com o Esprito Santo. A comunho autntica uma comunidade trinitria. Ns os crentes participamos em comum no Pai, no Filho e no Esprito Santo.

    H um segundo aspecto da koinonia. Tambm temos em comum o que damos. Este o aspecto a que Lucas d nfase. Em suas cartas, Paulo usa esta mesma palavra, koinoma, para referir-se a uma oferta que estavam dando s igrejas. O adjetivo koinnico significa generoso e, nesta passagem, Lucas descreve a generosidade dos cristos primitivos:

    E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. (Atos 2:44-15)

    Esta passagem nos perturba. Preferimos salt-la para evitar o desafio que ela encerra. Devemos imitar literalmente estes crentes? Quis Jesus que todos seus seguidores vendessem suas possesses e repartissem o que obtivessem delas? Sem dvida, o Senhor chamou a alguns de seus discpulos a uma pobreza voluntria total. Esse o chamamento que fez ao jovem rico, por exemplo. A ele, Jesus disse expressamente que vendesse tudo e o desse aos pobres. Este foi tambm o chamado de Francisco de Assis, na idade mdia, e provavelmente o chamado de Madre Tereza, em Calcut. Eles nos recordam que a vida no consiste na abundncia dos bens que possumos. Mas no todos os discpulos de Cristo so chamados a isso. A proibio da propriedade privada uma doutrina marxista, no crist. Mesmo na igreja em Jerusalm, a deciso de vender as propriedades e dar tudo foi uma questo voluntria. Quando passamos para o versculo 46, lemos que os crentes se reuniam em suas casas. Quer dizer, continuavam tendo casa e propriedades pessoais. Pelo visto, no haviam vendido todas as casas, seus mveis e suas propriedades! Contudo alguns tinham casas, e os crentes se reuniam nelas.

    No obstante, no devemos evadir do desafio destes versculos. Alguns suspiram com alvio porque no sugeri que devemos vender tudo e repartir. Mas, mesmo que no seja o nosso chamado particular, todos fomos chamados a nos amarmos mutuamente como faziam aqueles cristos.

    O primeiro fruto do Esprito Santo o amor. Em particular, a igreja primitiva cuidava dos pobres, e compartilhava com eles parte de suas possesses. Esta atitude deve caracterizar a igreja em todos os tempos. A comunho, a disposio de compartilhar, generosa e voluntariamente, um princpio permanente. A igreja deveria ser a primeira entidade no mundo na qual se abolisse a pobreza. Conhecemos as estatsticas. O nmero de gente que vive na misria, sem cobrir as necessidades bsicas para sobreviver, aproximadamente de um bilho. A mdia dos que morrem de fome cada dia

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    de dez mil pessoas. Como podemos viver com estas estatsticas? Ns cristos que vivemos em pases mais ricos devemos ajustar nosso estilo de vida e viver com mais simplicidade. No porque cremos que isto vai solucionar os problemas macroeconmicos do mundo, seno por solidariedade com os pobres.

    Uma igreja cheia do Esprito uma igreja generosa. A generosidade tem sido sempre uma caracterstica do povo cristo porque nosso Deus um Deus generoso. Por isso, outra palavra que expressa a atitude de generosidade a palavra graa. Se Ele d tudo de graa, se nosso Pai generoso, Seus filhos tambm devem ser generosos.

    Adorao prazerosa e reverncia

    Os primeiros cristos no eram s fiis em conservar os ensinamentos dos apstolos na comunho uns com os outros. Tambm se reuniam uns com os outros. Tambm se reuniam e participavam juntos no partir do po, e nas oraes (Atos 2:42).

    E, perseverando unnimes todos os dias no templo, e partindo o po em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de corao (Atos 2:46)

    O partir o po se refere, sem dvida, a Ceia do Senhor. Provavelmente, alm dos smbolos do corpo e do sangue de Cristo na igreja primitiva havia tambm uma ceia compartilhada, um gape. As oraes que se mencionam aqui no so as oraes privadas, mas sim as reunies de orao.

    Existem dois aspectos da vida de adorao da igreja primitiva que so desejveis em uma igreja renovada. Aqueles cristos mostravam equilbrio nos dois sentidos.

    Por um lado a adorao era formal e informal. Isso deduzimos do versculo 46, onde nos dito que adoravam nas casas e no templo. E interessante que os primeiros cristos continuaram adorando no templo. No abandonaram de imediato a igreja institucional; queriam reform-la de acordo com o evangelho. Seguramente no participavam dos sacrifcios do templo, porque entendiam que os sacrifcios j haviam sido cumpridos definitivamente com a morte e ressurreio de Cristo. No entanto, continuaram participando das reunies de orao no templo. Estas reunies tinham certa formalidade, mas os cristos as suplementavam com reunies mais informais e espontneas nos lares.

    Creio que aqui h uma lio importante para a igreja contempornea. Algumas igrejas so demasiado conservadoras. Resistem a mudanas, parecem

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    feitas de cimento; seu lema parece ser a expresso litrgica, para sempre, pelos sculos dos sculos, amm...

    Nesse tipo de congregao os adultos precisam escutar os jovens, e estes deveriam estar representados na direo da igreja. No necessrio que estejamos sempre de acordo com eles, porm devemos escut-los com respeito. Os jovens, por sua vez, entenderam que a maneira com que Deus transforma a igreja institucional mais pela reforma paciente do que pela revoluo violenta.

    No precisamos nos opor ao formal atravs do informal; cada um apropriado no seu momento. Precisamos dos servios dignos e solenes no templo, mas tambm precisamos nos encontrar nos lares, onde podemos ser mais informais e espontneos. A adorao se enriquece tanto com a dignidade como com a espontaneidade.

    Um segundo aspecto do equilbrio que guardava a adorao na igreja primitiva era sua atitude de gozo e ao mesmo tempo reverente. A palavra que traduz alegria no versculo 46 descreve gozo exuberante. Deus havia enviado seu Filho ao mundo, agora havia derramado Seu Esprito em seus coraes... Como no iram estar alegres! O fruto do Esprito Santo amor, e tambm alegria.

    Podemos imaginar naqueles crentes um gozo muito menos inibido do que as tradies costumam nos permitir. Algumas reunies de adorao parecem mais funerais. Todos esto vestidos de preto, ningum sorri, ningum diz nada, tocam-se hinos com muita lentido e toda atmosfera lgubre. Por qu? Alegremo-nos no Senhor! Cada reunio deve ser uma celebrao alegre.

    Contudo, a adorao da igreja primitiva tambm se caracterizava pela reverncia. Seus cultos no eram irreverentes. Se em algumas reunies o ambiente funerrio, em outros demasiado leviano. No refletem a presena solene e soberana de Deus. Os primeiros cristos no conheciam esse erro. Quando o Esprito Santo renova a igreja, a enche de alegria e tambm de reverncia ante Deus.

    Evangelizao contnua

    Finalmente, uma igreja viva uma igreja evangelizadora. At aqui, temos considerado no estudo a comunho e a adorao. Lucas nos diz que a igreja era fiel e perseverava nas coisas. Esses eram os feitos caractersticos da igreja, cheia do Esprito Santo desde o dia de Pentecostes: aprendiam dos apstolos, ajudavam uns aos outros, adoravam a Deus. Se a passagem

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    terminasse aqui, esta seria uma igreja incompleta. No h referncia sobre o mundo, suas necessidades, sua alienao de Deus. Sempre um risco tomar um versculo isolado. Atos 2:42 um versculo favorito e clssico e se tem feito muitas mensagens e discursos sobre esta passagem. No entanto, se somente se faz referncia ao versculo 42, todas essas mensagem ficam desequilibradas. No h ali uma descrio completa e harmnica da igreja. No poderamos pensar em uma igreja como uma comunidade ocupada unicamente de si mesma, como se tivesse abandonado o mundo necessitado que est do lado de fora. Somente quando chegamos ao final da passagem, se completa a perspectiva:

    E todos os dias acrescentava o Senhor igreja aqueles que se haviam de salvar. (Atos 2:47)

    Nesta breve referncia podemos aprender alguns pontos sobre a evangelizao. O primeiro que o Senhor mesmo acrescentava os que haviam de ser salvos. O Senhor Jesus inclui cada dia novos crentes igreja. Certamente, Jesus Cristo delega aos ministros e lderes da igreja a tarefa de admitir os novos membros da igreja mediante o batismo. Porm somente Ele pode admiti4os na igreja invisvel, quando se arrependem e confiam em Jesus como Salvador e Senhor. O ensinamento, o testemunho dirio dos membros da igreja e sua vida de amor aos demais, so os meios que Deus usa para fazer chegar Sua mensagem ao mundo. Porm quem salva e incorpora novos membros a Sua igreja Jesus Cristo.

    Vivemos em uma poca que confia muito no ativismo e na tecnologia. Sem dvida, h de se fazer uso de toda tecnologia que o Senhor tem nos dado. Porm temos que nos humilhar diante de Deus e reconhecer que somente Cristo pode abrir os olhos dos cegos, destapar os ouvidos dos surdos e dar vida s almas mortas. A igreja hoje necessita ser mais humilde.

    Um segundo ponto sobre a evangelizao que Jesus fazia duas coisas, e estas devem sempre estar juntas. Acrescentava cada dia igreja os que iam ser salvos, quer dizer, no os acrescentava sem serem salvos nem os salvava sem os acrescentar a igreja. Salvao e vinculao igreja so dois atos que vo juntos.

    Em terceiro lugar, Jesus fazia isto cada dia. O Senhor fazia crescer dia a dia a comunidade. A evangelizao no um assunto ocasional, deve ser algo contnuo. Quando a igreja est cheia do Esprito Santo, se abre ao mundo necessitado de Deus e ento as pessoas podem ser acrescentadas cada dia igreja. Existem congregaes que no tm tido um novo convertido nos ltimos dez anos; e se chegassem a ter um, no saberiam o que fazer com ele,

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    to extraordinrio o fenmeno! Cultivemos a expectativa de que o Senhor acrescente diariamente novos membros igreja.

    Relaes renovadas

    Os quatro sinais da igreja que vemos na igreja primitiva tm todos a ver com nossas relaes.

    O primeiro que se menciona a relao com os apstolos. Os cristos se dedicavam a receber e conservar os ensinamentos dos apstolos. Tambm estavam relacionados entre si: perseveravam na comunho, se amavam uns aos outros, se cuidavam mutuamente. Certamente, se relacionavam com Deus. O adoravam no templo e nas casas, formal e informalmente, com alegria e com reverncia. Finalmente, os primeiros cristos estavam relacionados com o mundo fora da igreja, e por isso a cada dia chegavam mais pessoas que recebiam o evangelho de Jesus Cristo.

    Faz um tempo, escutei um grupo de jovens que havia visitado todas as igrejas da cidade, mas no tinha encontrado nenhuma que realmente lhes satisfizesse. Deixaram de buscar e se denominaram a si mesmos de cristos desligados. Quando perguntei o que tinham estado procurando, o que entendiam que deveria ser a igreja, mencionaram quatro pontos. Aqueles jovens no tinham idia de que estas qualidades estavam escritas no livro de Atos; disseram que estavam buscando uma igreja que tivesse pregao bblica, onde a Palavra fosse exposta e que tivesse aplicao prtica. Em segundo lugar, buscavam uma igreja que tivesse comunho real, onde os membros se cuidassem mutuamente e se apoiassem. Em terceiro lugar, buscavam uma igreja que adorasse, na qual fosse uma realidade a presena de Deus. Em quarto lugar, estavam buscando uma igreja que tivesse um ministrio para o mundo.

    O que aqueles jovens buscavam, como tantos outros, era nada menos que uma igreja viva, verdadeiramente renovada, uma igreja que mostrasse exatamente as quatro caractersticas que vimos estar presentes na igreja primitiva.

    O Esprito Santo veio em Pentecostes e Ele no deixou a igreja. Nossa responsabilidade no esperar que o Esprito Santo volte, mas antes, reconhecer Sua soberania na igreja. Devemos nos humilhar ante Ele, buscar sua plenitude, sua direo e Seu poder. Quando isso ocorrer, nossa igreja se aproximar a esse maravilhoso ideal que nos apresenta o livro de Atos: o ensinamento apostlico, a comunho uns com os outros, a adorao viva, e a

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  • evangelizao contnua. Oremos por nossas igrejas, para que se renovem e cumpram o propsito para o qual Cristo fundou a Sua igreja!

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    2. IMPERFEITOS, MAS ENRIQUECIDOS

    Paulo, chamado para ser apstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmo Sstenes, igreja de Deus que est em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: Graa seja convosco, e pa~ da parte de Deus nosso Vai, e do Senhor Jesus Cristo. Sempre dou graas a Deus por vs, pela graa de Deus que vos foi dada em Cristo Jesus; porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda palavra e em todo o conhecimento, assim como o testemunho de Cristo foi confim/ado entre vs; de maneira que nenhum dom vos falta, enquanto aguardais a manifestao de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual tambm vos confirmar at o fim, para serdes irrepreensveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel Deus, pelo qual fostes chamados para a comunho de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. Rogo-vos, irmos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no falar, e que no haja dissenses entre vs; antes sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer. Pois a respeito de vs, irmos meus, fui infomiado pelos da famlia de Clo que h contendas entre vs. Quero di^er com isto, que cada um de vs di~: Eu sou de Paulo; ou, Eu de Apoio; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de Cristo. Ser que Cristo est dividido ? Foi Paulo crucificado por amor de vs? Ou fostes vs batizados em nome de Paulo? Dou graas a Deus que a nenhum de vs batizei, seno a Crispo e a Gaio;para que ningum diga que fostes batizados em meu nome. E verdade, batizei tambm a famlia de Estefanas, alm destes, no sei se batizei algum outro. Porque Cristo no me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; no em sabedoria de palavras, para no se tornar v a cm~de Cristo. (I Corintios 1:1-17)

    Quando lemos os primeiros captulos da carta aos Corintios, encontramos uma imagem ambgua da igreja. No poderia ser de outra maneira: o que o apstolo descreve a igreja real, com suas contradies e paradoxos. H uma tenso entre o que a igreja aspira ser e o que a igreja na realidade. H uma distncia entre o que a igreja agora e o que chegar a ser algum dia. A igreja em Corinto no escapava desta ambigidade, como se torna evidente desde os primeiros versculos da carta.

    A saudao de Paulo: A ambivalncia da igreja

    Paulo, chamado para ser apstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmo Sstenes, igreja de Deus que est em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para serem santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: Graa seja convosco, e pa~ da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. (I Corintios 1:1-3)

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    A carta comea, como era costume ento, com a apresentao e a saudao de quem escreve. Paulo se apresenta primeiro a si mesmo como o escritor da carta e logo apresenta e sada os corntios, os destinatrios da carta. Finalmente, o apstolo apresenta a sua mensagem, resumindo em seu desejo para os corntios: graa e paz de Deus e nosso Senhor Jesus Cristo.

    Em nove das treze introdues das suas cartas, Paulo se apresenta como apstolo de Cristo pela vontade de Deus ou por mandamento de Deus. Na saudao inicial desta carta, ainda que Paulo inclua Sstenes na sua saudao igreja, s aplica a si mesmo o ttulo de apstolo de Jesus Cristo, enquanto que a Sstenes o chama de irmo.

    H muita confuso na igreja atual sobre a palavra apstolo. No Novo Testamento este termo usado em trs sentidos. Em somente um versculo se aplica a todos os crentes, em Joo 13:16, onde Jesus disse que aquele que enviado no maior do que quem o enviou. A palavra enviado traduzida do grego apstolo. Jesus declara que os cristos esto comprometidos com a misso apostlica da igreja no mundo. Nesse sentido geral, todo cristo um apstolo. O segundo uso da palavra se aplica aos cristos como enviados da igreja. Em II Corntios 8:23 e em Filipenses 2:25, Paulo descreve a Epafrodito como seu apstolo ou enviado. Os apstolos da igreja no Novo Testamento eram o que hoje chamamos missionrios, mensageiros do evangelho enviados para uma igreja em particular com uma misso especfica.

    O uso mais freqente do termo apstolo no Novo Testamento no seu sentido restrito, aplicado aos doze apstolos de Jesus. A este grupo reduzido se somou o apstolo Paulo, provavelmente Tiago e talvez mais alguns. No eram apstolos da igreja, mas sim apstolos de Cristo, mensageiros que Ele havia elegido e chamado. Paulo, a exemplo dos doze, recebeu este chamado de Jesus Cristo de forma direta e pessoal. Como eles, tambm era testemunha da ressurreio. E certo que no havia conhecido Jesus Cristo em sua existncia terrena; to pouco teve o enorme privilgio de passar esses trs anos formativos com os discpulos de Jesus. No entanto, o Cristo ressuscitado lhe apareceu pessoalmente; sem essa experincia da ressurreio de Cristo, Paulo no poderia ter sido um apstolo.

    Paulo se refere aos seus antecedentes como apstolo no captulo 9 da mesma carta aos Corntios, e reitera o mesmo conceito no captulo 15, ao enumerar as aparies de Jesus depois da ressurreio. Em 15:8, disse: Por ltimo, como a um abortivo, apareceu a mim. Ainda que se trate de uma apario peculiar de Cristo, posterior a sua ascenso, Paulo reclama a validade desta circunstncia para respaldar seu nome na lista dos apstolos. Podemos dizer com toda firmeza que na atualidade no h na igreja apstolos de Jesus Cristo, porque ningum teve uma apario do Cristo ressuscitado. Existem

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    lderes, bispos, evangelistas, pioneiros, missionrios e plantadores de igrejas aos quais podemos nos referir como ministros apostlicos. E vlido dar-lhes o qualificativo apstolo (adjetivo), porem no lhes corresponde o ttulo de apstolo (substantivo). H uma diferena fundamental entre aqueles primeiros apstolos e qualquer mensageiro do evangelho que os tem sucedido.

    A igreja primitiva compreendeu muito bem esta diferena. Quando morreu o ltimo apstolo, a igreja sabia que se iniciava uma etapa nova, a era ps-apostlica. Uma das melhores evidncias disto o testemunho do bispo Igncio da Sria, a quem os eruditos localizam ao redor de 110 DC, quando j tinham morrido os apstolos. Igncio foi condenado morte por ser cristo e ia a caminho de Roma, fazia seu martrio. Durante a travessia, escreveu uma srie de cartas s igrejas, algumas das quais chegaram ate ns. Nelas Igncio repete com freqncia este conceito: No lhes dou ordem ou mandamento como fizeram Pedro e Paulo, porque eu no sou apstolo para condenar os homens. Ainda que fosse bispo, Igncio enfatizava que no era apstolo nem tinha a mesma autoridade que eles. E de se esperar que ns entendamos este conceito com a mesma clareza.

    Se houvesse hoje pessoas com a mesma autoridade que aqueles primeiros apstolos, deveramos agregar seus ensinamentos ao novo Testamento e toda a igreja estaria comprometida em aceit-los e obedec-los. Porm ningum tem a autoridade comparvel dos doze e Paulo. Devemos distinguir entre os apstolos da igreja, os quais existem muitos ao redor do mundo hoje, e aqueles apstolos de Cristo.

    A igreja pertence ao mesmo tempo ao cu e terra

    Paulo escreve igreja de Deus que est em Corinto. Quando escreve aos tessalonicenses sada igreja dos tessalonicenses em Deus. Ambas as descries so verdadeiras. A igreja vive tanto em Deus como no mundo, ainda que tenha se tornado muito difcil manter o equilbrio. Houve uma poca em que a igreja se apartou totalmente do mundo. Com a pretenso de estar s em Deus, se isolou em um ambiente nostlgico. Em outras ocasies, os cristos cometem o erro oposto e se comprometem a tal ponto com o secular que perdem a identidade nica que tm de estar ou pertencer a Deus.

    A igreja no foi chamada nem para se excluir nem para se assemelhar totalmente ao mundo. No temos liberdade para nos retirarmos do mundo, nem to pouco para nos confundirmos com ele. Nas palavras de Jesus, devemos estar no mundo, porm no sermos parte do mundo. Precisamos lembrar continuamente que a igreja pertence a dois mbitos: ao cu e a terra.

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    A igreja santa e est em processo de santificao

    A igreja tem dois estados em relao com a santidade; um atual e o outro potencial. Por um lado, os cristos j so santos, no sentido de terem sido separados para Deus. Por outro lado, so chamados para serem santos, a desenvolver uma vida de santidade.

    Neste sentido, a igreja se parece muito ao antigo povo de Israel. No Antigo Testamento, uma e outra vez se nomeia Israel como nao santa. Era a nao escolhida por Deus. No entanto, no era uma nao de pessoas santas se que no bem pelo contrrio. Por isso, Deus constantemente os instava a voltar-se a Ele e a serem santos. A igreja hoje tem a mesma ambigidade: j santa e, ao mesmo tempo, Deus a chama para ser santa.

    A igreja invoca a Deus e chamada por Ele

    H uma reciprocidade nestes chamados, que poderamos denominar de objetivo e subjetivo. Primeiro Deus nos chama para sermos santos e logo nos chama a Ele para que nos faa santos. Somente quando invocamos a Deus para que Ele realmente seja Deus em ns, temos esperana de chegar a ser o que realmente devemos ser.

    Podemos dizer da igreja o que John Newton dizia de si mesmo. Havia sido traficante de escravos e logo que se converteu chegou a ser pastor e escritor de hinos, um dos quais o to conhecido Maravilhosa graa. Newton dizia: No sou o que devo ser, no sou o que quero ser, no sou o que um dia espero ser; mas graas a Deus no sou o que fui antes, e pela graa de Deus que sou o que sou. Essa a realidade do j mas ainda no na vida individual do cristo, e a verdade da igreja tambm.

    A igreja o povo santo de Deus; foi comprada pelo sangue precioso de Cristo e santificada pelo Esprito Santo. No entanto, Cristo ainda no apresentou diante do trono sua noiva ausente de manchas e rugas. H uma tenso inevitvel entre a realidade essencial e a realidade atual, entre o humano e o divino, entre o j e o ainda no. Para manter o equilbrio fundamental recordar que vivemos entre dois momentos chaves na histria: entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. A histria da igreja transcorre entre o que Cristo fez quando veio e o que far quando vier outra vez, entre o j do Reino inaugurado e o ainda no do Reino consumado.

    Esta tenso entre a igreja real e a ideal se vive muito especialmente em relao com a unidade da igreja. Em um sentido, h s uma igreja, a igreja de Deus, Sua igreja universal. No entanto, a igreja crist ainda no uma, e mais

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    bem se encontra dividida. Essa a realidade, e devemos aprender a viver nela, ao mesmo tempo em que aceitamos a unidade essencial da igreja de Cristo.

    Ao de graas: A identidade da igreja

    Sempre dou graas a Deus por vs, pela graa de Deus que vos foi dada em Cristo Jesus; porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda palavra e em todo o conhecimento, assim como o testemunho de Cristo foi confirmado entre vs; de maneira que nenhum dom vos falta, enquanto aguardais a manifestao de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual tambm vos confim/ar at o fim, para serdes irrepreensveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel Deus, pelo qual fostes chamados para a comunho de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. (I Corintios 1:4-9)

    Antes de admoestar ou criticar a igreja por sua desunio, sua imoralidade, seus litgios, sua m conduta na Ceia do Senhor... Paulo d graas por eles, com toda sinceridade, porque sabe que Deus est operando neles.

    E sempre melhor ressaltar o positivo antes do negativo, e dar graas pelo bom antes de comear a corrigir ou criticar. Paulo d graas tanto pelo que a igreja j como pelo que um dia chegar a ser; d graas as Deus pela graa presente e tambm pela glria futura da igreja.

    O apstolo harmoniza a ambigidade da igreja porque sua perspectiva combina o passado, o presente e o futuro dos crentes. O passado se expressa na graa que foi dada aos corintios em Cristo Jesus. Por Ele foram enriquecidos em toda palavra e conhecimento, tanto para a salvao como para o servio. O conhecimento (guosis) neste caso o conhecimento recebido pela iluminao divina. Em outras palavras, os corintios crentes tinham sido capacitados para conhecer a Deus por meio de Cristo. Tambm foram enriquecidos em toda palavra (,logos), termo que alude comunicao dessa revelao. O presente se reflete no versculo sete, quando o apstolo declara que aos crentes no lhes falta nenhum carisma ou dom. Posto que foram enriquecidos em tudo, agora no lhes falta nada. Isto no quer dizer que todos os cristos tm os dons; mais adiante, no captulo 12, o apstolo explica que o Esprito Santo quem distribui os dons a cada crente na congregao. Cada igreja local pode ter a certeza de que tem recebido tudo o que precisa. Finalmente Paulo se move at o futuro. Essa igreja que foi enriquecida e qual no falta nada est, no entanto, esperando ansiosamente a vinda de Cristo. Ainda que a igreja em Corinto houvesse sido enriquecida em tudo, estava muito longe de ser perfeita, como qualquer leitor da carta poderia se dar conta. Por isso Paulo v o futuro, quando Cristo a confirmar definitivamente e a apresentar irrepreensvel ante Deus.

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    No h contradio entre esses trs aspectos da identidade da igreja. Foi enriquecida no passado, no lhe falta no presente nenhum dom espiritual, e, no entanto, espera sua perfeio final. Paulo conclui no versculo nove com uma declarao maravilhosa:

    Fiel Deus, pelo qual fostes chamados para a comunho de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. (I Corntios 1:9)

    Deus nos chamou (passado aoristo no grego) para ter comunho com Seu Filho Jesus Cristo. Nossa experincia presente como cristos que, dia a dia, podemos viver em comunho com Jesus Cristo. Deus fiel e por Sua fidelidade podemos ter confiana no futuro. Ele manter suas promessas.

    A identidade da igreja se encontra nessa tenso entre o passado, o presente e o futuro. Mantenhamos essa perspectiva, e demos graas a Deus porque o que somos, e o que seremos, o devemos a Sua graa e fidelidade.

    A apelao de Paulo: Unidade da igreja

    Rogo-vos, irmos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no falar, e que no haja dissenses entre vs; antes sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer. Pois a respeito de vs, im/os meus, fui infom/ado pelos da famlia de Clo que h contendas entre vs. Quero di^er com isto, que cada um de vs di~: Eu sou de Paulo; ou, Eu de Apoio; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de Cristo. Ser que Cristo est dividido? Foi Paulo crucificado por amor de vs? Ou fostes vs batizados em nome de Paulo? Dou graas a Deus que a nenhum de vs batizei, seno a Crispo e a Gaio; para que ningum diga que fostes batizados em meu nome.E verdade, batizei tambm a famlia de Estfanas, alm destes, no sei se batizei algum outro. Porque Cristo no me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; no em sabedoria de palavras, para no se tornar v a cm~ de Cristo. (I Corntios 1:10-17)

    Depois da ao de graas, Paulo faz aos corntios uma apelao comovente. Depois de agradecer a Deus pelo enriquecimento dos corntios em Cristo, lhes faz um chamado urgente, por causa da dolorosa diviso que h entre eles. Acaba de lhes escrever sobre sua comunho e agora tem de exort- los pela sua falta de comunho. Contudo, Paulo segue se dirigindo a eles como irmos e irms. Qui o faz de propsito, para lembr-los de que pertencem famlia de Deus e que com seu comportamento, em alguma medida esto contradizendo sua identidade.

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    Paulo apela em nome de Cristo

    No versculo dez, a palavra em grego significa literalmente que Paulo apela a eles atravs do nome de Jesus Cristo. Paulo no estava s declarando sua autoridade apostlica ou falando em nome de Jesus Cristo. Os exortava no nico nome que todos os cristos invocam e no qual todos foram batizados. Essa era a base para sua apelao.

    Paulo apela unidade

    Em um s versculo, existem vrias expresses que reforam a apelao do apstolo unidade. O ltimo verbo que usa muito interessante. Em grego o verbo catando, que fazia aluso a remendar ossos quebrados ou rede de pescar. E um verbo que denota a ao de reparar algo quebrado. No caso dos corntios, a comunho que tinha sido quebrada e Paulo sabe que eles a iro reparar.

    Paulo apela diante da desunio

    Tinham falado a Paulo sobre as discusses e divises que haviam entre os corntios. Este o nico dado que Paulo tem a respeito da situao. O versculo doze explica em que consiste o problema. No grego, a expresso que se traduz sou de indica uma aliana ou pertencer a algum. Os membros da igreja estavam declarando sua aliana ou lealdade a diferentes apstolos. Parece ainda que uma destas faces reclamava uma unio particular e exclusiva com Cristo. Alguns comentaristas tm interpretado que esta nica frase, eu perteno a Cristo, um recurso retrico de Paulo para causar impacto. Mas as quatro expresses so idnticas em sua estrutura gramatical e mais bem parece indicar que este quarto grupo reclamava uma unio especial com Cristo, talvez porque constitua os que O haviam visto ou ouvido pessoalmente.

    Sugere-se que entre estes grupos haviam distintas teologias em competio. Na realidade, no texto no h nenhuma evidncia delas. A diviso parece dever-se mais bem a personalidades em conflito do que a princpios ou correntes doutrinrias diferentes. Paulo se sente profundamente afetado por esse conflito e insiste com os corntios que ele irmo deles assim como eles o so dele. Ele no um mestre nem eles o pertencem e, portanto, eles no tm nenhum direito de fazer estas alianas que os dividem entre si.

    Ao final do captulo 3 da mesma carta, Paulo afirma que se algum pertence a algum na igreja crist, so os lderes que pertencem igreja, e no esta aos lderes.

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    Paulo apela ao essencial

    H um matiz de urgncia na apelao de Paulo, e com razo. A atitude partidarista ou separatista dos corntios tem implicaes muito srias. Esses desacordos, disse Paulo, so teologicamente ofensivos porque contradizem os fundamentos do evangelho em trs sentidos: contradizem a pessoa de Cristo, a cruz de Cristo e o significado do batismo em Cristo. Em outras palavras, Cristo era quem ficava ofendido e negado por todos os grupos.

    Paulo mostra que essa conduta inaceitvel por meio de trs perguntas retricas, cada uma das quais se responde negativamente. Acaso est Cristo dividido? E sua primeira pergunta. Acaso h mais de um Cristo? Acaso fracionaram Cristo? Logicamente que no. Seria uma idia ridcula. Existe um s Cristo, indivisvel. A segunda pergunta retrica do apstolo : Foi Paulo crucificado por vocs? Em outras palavras, acaso vocs esto confiando em Paulo e sua crucificao para ser salvos? Aqueles que declaram pertencerem a Paulo esto supondo que ele quem os redimiu. S a idia j era absurda. Cristo, no Paulo, quem foi crucificado por eles. E em terceiro lugar, acaso foram batizados no nome de Paulo? H alguma razo para ter uma aliana especial com algum ser humano por causa do batismo? Com esta argumentao, Paulo enuncia trs verdades essenciais do evangelho.

    A primeira que Cristo um s e indivisvel: h s um Cristo, h s uma cabea do corpo de Cristo. A segunda verdade que Cristo foi crucificado por ns e, como conseqncia, pertencemos s a Ele. A terceira afirmao tem relao com o batismo cristo. O batismo testemunho de nossa aliana com Cristo e de nossa exclusiva lealdade a Ele.

    Paulo desenvolve o conceito do batismo com toda claridade em Romanos 6. Fomos batizados na morte e ressurreio de Cristo; a f interna e o batismo a demonstrao externa de que estamos unidos a Cristo em Sua morte e ressurreio. Em outras palavras, Sua morte nossa morte e Sua ressurreio nossa. Todos ns somos batizados em Cristo e s nEle.

    Paulo sustenta que, com sua atitude sectria, os corntios negavam as verdades essenciais do Evangelho porque davam a lderes humanos a posio que s Cristo tem. Sacrificavam o nome de Cristo, em cuja morte e ressurreio haviam sido batizados, em troca pelo nome de um ser humano que s os havia batizado fisicamente. O apstolo se mostra agradecido de no haver batizado a nenhum deles, salvo a Crispo, a Gaio, e a famlia de Estfanas. Ningum mais poderia dizer que havia sido batizado em seu nome.

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    O que Paulo enfatiza que no tem importncia alguma quem o que batiza. O que realmente importa em quem somos batizados: em Cristo mesmo. Obviamente, Paulo no diminui a importncia do batismo. Sabe que foi institudo por Jesus e que parte integral da Grande Comisso. Como se depreende de Romanos 6, o apstolo tinha uma percepo profunda do batismo.

    Quanto a sua tarefa, Paulo se define como evangelista. E um pioneiro, chamado por Deus para levar a mensagem aos lugares onde ainda no havia sido pregada. Paulo afirma que a sua pregao no foi com palavras de sabedoria humana para no fazer v a cruz de Cristo. Descobrimos aqui uma dupla renncia por parte do apstolo. Renunciou sabedoria do mundo para pregar a loucura da cruz. Ademais Paulo renunciou retrica e confiou s no poder do Esprito Santo.

    O que fazer com as diferenas?

    H uma tenso iniludvel entre o que a igreja e o que deve ser, entre o que a igreja j e o que chegar a ser. Vivemos esta tenso em nossas congregaes, tal como ocorria na igreja em Corinto.

    A situao especialmente evidente na desunio entre cristos. Sem dvida h uma s igreja de Cristo, mas no mostramos e nem desfrutamos dessa unidade. A igreja um povo santo de Deus, comprada pelo precioso sangue de Cristo e santificada pelo Esprito Santo. No entanto, a realidade ambgua da igreja um desafio para que busquemos santidade e procuremos unidade em torno da essncia do evangelho da cruz de Cristo.

    Quando h diferenas sobre temas teolgicos srios, o Novo Testamento no s permite como ordena a separao da igreja. Em sua carta, o apstolo Joo expe com claridade as doutrinas que no devem ser toleradas dentro da igreja: aquelas que negam a humanidade de Jesus Cristo ou negam o evangelho da graa gratuita por meio da cruz. Quem as sustenta merece uma maldio ou juzo de Deus. Com a mesma severidade se expressa Paulo na carta aos glatas. As falsas doutrinas sobre a pessoa e a obra de Jesus Cristo de nenhuma maneira podem ser aceitas. Sobre estes assuntos deve aplicar-se a disciplina na igreja, at a excomunho, porque so verdades centrais do evangelho.

    Em compensao, o que devemos fazer sobre os assuntos que so secundrios, mas causam diviso? H muitos temas que nos dividem. Ainda que todos creiamos no Pai, no Filho e no Esprito Santo, entramos em pleitos por muitos temas: a quantidade de gua que se necessita para batizar algum, a interpretao das profecias, porque cremos que certas profecias foram ou iro

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    ser cumpridas. At nos dividimos por questes culturais em relao liturgia. Todos cremos nos dons, cremos que a igreja o corpo carismtico de Cristo e cremos nos ministrios de todos os crentes. No entanto, discutimos sobre quais so os dons mais importantes e como so recebidos.

    H inumerveis polmicas sobre assuntos secundrios. Como diferenciamos o primrio do secundrio, o central e o marginal? Sugiro uma norma que pode ajudar quando queremos dialogar entre cristos bblicos, isto , entre cristos que consideram a Bblia como mxima autoridade. Se estivermos igualmente dispostos a submeter-nos autoridade das Escrituras e chegarmos a decises diferentes sobre um tema, ento devemos concluir que esse um assunto secundrio. Se as Escrituras no so claras para nos levar a uma concluso nica, significa que esse assunto no central ao evangelho e que sobre esse tema devemos aceitar e respeitar nossas diferenas.

    Estes so temas aos quais chamamos de adifora, isto , assuntos que no so essenciais seno marginais. Um breve epigrama que vem do sculo XVII, e que se adjudica a Ruperto Meldinius, de muita ajuda neste terreno. Traduzido do latim, expressa:

    No essencial, unidade.No que no essencial, liberdade.Em todas as coisas, caridade.

    Sem dvida a igreja pode ser uma comunidade mais harmoniosa e uma esfera mais feliz se nos esforarmos por viver com este critrio. No deveramos brigar por assuntos doutrinais secundrios. Muito menos brigar por zelos, por ambio ou por questes de personalidade, como ocorreu na igreja em Corinto e ocorre hoje em muitos lugares. Pergunto-me que aconteceria com as divises eclesisticas se pudssemos pensar sobre isto de maneira honesta. Muitas das nossas divises respondem mais a diferenas culturais que teolgicas. Outras, mais a temperamentos que a princpios doutrinrios. E muitas so causadas por ambies pessoais mais do que por ambio em Cristo.

    Examinemos nossas motivaes. Tenhamos cuidado, ao pregar e batizar, de no estimular s pessoas a se sentirem mais leais a ns do que ao Senhor. Isto era o que havia horrorizado Paulo. Substituir o nome de Cristo pelo nosso prprio nome contradizer o evangelho. O apstolo culmina o captulo 1 com um chamado humildade. Pede que ningum se jacte em outros seres humanos e muito menos em si mesmo: O que se gloria, glorie-se no Senhor (1:31). Esse o essencial. Que nosso anelo seja estarmos cada vez mais centrados em Jesus Cristo, tanto em nossa doutrina como em nossa vida.

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  • 3. PODER NA FRAQUEZA

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    Porque a palavra da cm~ deveras loucura para os que perecem; mas para ns, que somos salvos, o poder de Deus. Porque est escrito: Destruirei a sabedoria dos sbios, e aniquilarei a sabedoria e o entendimento dos entendidos. Onde est o sbio? Onde est o escriba? Onde est o questionador deste sculo? \^isto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria no conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregao os que crem. Pois, enquanto osjudeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, ns pregamos a Cristo crucificado, que escndalo para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que so chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus mais sbia que os homens; e a fraqueja de Deus mais forte que os homens. Ora, vede, irmos, a vossa vocao, que no so muitos os sbios segundo a carne, nem muitos os poderosos. Nem muitos os nobres que so chamados. Pelo contrrio, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sbios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas ignbeis do mundo, e as despregadas, e as que no so, para reduzir a nada as que so; para que nenhum mortal se glorie na presena de Deus. Mas vs sois dele, em Cristo Jesus, o qual para ns foi feito por Deus sabedoria, e justia, e santificao, e redeno; Porventura no tomou Deus louca a sabedoria deste mundo? Para que, como est escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. E eu, irmos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, no fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vs, seno a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueja, e em temor, e em grande tremor. A minha linguagem e a minha pregao no consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstrao do Esprito de poder; para que a vossa f no se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. (I Corntios 1:18-2:5)

    Nesta passagem o apstolo Paulo menciona quatro vezes o poder (1:18-24; 2:4-5). Faz referncia ao poder de Deus, da cruz, de Cristo e do Esprito Santo. A estas referncias podemos agregar mais duas, tomadas de sua segunda carta aos Corntios:

    Temos, porm, este tesouro em vasos de barro, para que a excelncia do poder seja de Deus, e no da nossa parte. (II Corntios 4:7) E ele (o Senhor) me disse: A minha graa te basta, porque o meu poder se aperfeioa na fraqueja. Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquejas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo. (II Corntios 12:9)

    Hoje vivemos em uma sociedade que adora o poder. Obviamente, a situao no nada nova. A cobia pelo poder tem caracterizado sempre o ser humano. Foi precisamente essa ambio que conduziu a queda de Ado e

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    Eva, j que Satans os tentou a desobedecer em troca de lhes dar poder. A sede de poder se expressa hoje em trs ambies humanas muito amplas: a ambio desmedida pelo dinheiro, pela fama e pela influncia. Encontramos esta cobia pelo poder em todos os mbitos: na poltica, na vida pblica, nas relaes familiares, nos negcios, na indstria e no exerccio profissional. Lamentavelmente, tambm aparece na igreja: na luta pelo poder eclesistico nos altos nveis, nas disputas denominacionais, no exerccio da liderana em algumas igrejas locais e ainda nas organizaes paraeclesisticas que pretendem converter-se em imprios mundiais. Se formos honestos, descobriremos que esta sede de poder chega ao plpito. O plpito um lugar extremamente perigoso para qualquer filho de Ado. O poder mais intoxicante que a bebida e mais vicioso que as drogas. Lorde Acton, um poltico ingls do sculo XIX, estava preocupado pelas lutas de poder no seio do governo que pretendia ser democrtico, e ainda na igreja catlica romana, que ele pertencia. Em 1817, o Concilio Vaticano I declarou a infalibilidade do Papa. Lorde Acton manifestou seu desacordo, e suas palavras seguem vigentes: O poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe ab s olutamente.

    Tambm deveria nos preocupar a luta pelo poder que vemos entre os evanglicos, ainda se se trata do poder do Esprito Santo. Porque queremos receber poder? Buscamos realmente o poder para testificar, para viver em santidade, para viver com humildade? Ou reflete um desejo egosta de exaltar nossa prpria figura, ampliar nossa influncia, impressionar e at manipular os outros? At o evangelismo pode ser, em ocasies, uma forma velada de imperialismo se promove mais o poder humano do que o Reino de Deus.

    Nossa nica preocupao deveria ser a majestade absoluta do Senhor Jesus Cristo e a honra de Seu Reino. Cristo mesmo nos adverte contra a ambio de poder. Ainda que no mundo usa-se a autoridade para controlar outros, Jesus disse a seus discpulos que no devia ser assim entre eles:

    Mas entre vs no ser assim; antes, qualquer que entre vs quiser tornar-se grande, ser esse o que vos sirva; e qualquer que entre vs quiser ser o primeiro, ser servo de todos. Pois tambm o Filho do homem no veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos. (Marcos 10:42-15)

    Jesus no se aferrou ao poder que legitimamente lhe pertencia. Se Ele renunciou ao poder, ns devemos fazer o mesmo. Esta perspectiva totalmente oposta do mundo. Este valoriza o poder. Deus, pelo contrrio, insiste na humildade. No h maneira de reconciliar estas duas perspectivas. So opostas e devemos escolher entre elas.

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    Provavelmente temos absorvido mais do que demos conta desta mentalidade secular. O filsofo Nietzsche construiu todo um sistema sobre a premissa do poder. Propunha um mundo dominado por governantes autoritrios e opressores, no qual no havia lugar para seres dbeis e enfermos. Seu ideal era o super-homem. Nietzsche adorava o poder e depreciava Jesus Cristo por sua fraqueza. Ao contrrio, o modelo que Cristo ps diante de ns foi um menino. Por isso, o ttulo deste captulo nos apresenta diretamente o paradoxo do Evangelho: poder na fraqueza. Esse o tema central de ambas as cartas de Paulo aos corntios. Diferente do mundo, o poder de Deus se mostra por meio da fraqueza. A fragilidade humana o terreno no qual se manifesta o poder divino.

    Na passagem de I Corntios 1:17-2:5 encontramos trs expresses da mesma realidade: o poder de Deus se mostra na fraqueza da mensagem, na fraqueza dos receptores desta mensagem, e na fraqueza daqueles que pregam a mensagem.

    A fraqueza na mensagem: a cruz

    Porque a palavra da cm~ deveras loucura para os que perecem; mas para ns, que somos salvos, o poder de Deus. Porque est escrito: Destruirei a sabedoria dos sbios, e aniquilarei a sabedoria e o entendimento dos entendidos. Onde est o sbio? Onde o escriba? Onde est o questiona dor deste sculo? \^isto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria no conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregao os que crem. Pois, enquanto osjudeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, ns pregamos a Cristo crucificado, que escndalo para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que so chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus mais sbia que os homens; e a fraqueja de Deus mais forte que os homens. (I Corntios 1:18-25)

    Paulo repete duas vezes o conceito de poder na fraqueza da mensagem: nos versculos 18-21 nos versculos 22-25. Ambos os pargrafos comeam com uma referncia cruz e em ambos os casos o apstolo assinala que a perspectiva humana da cruz diferente da de Deus.

    A loucura da pregao

    O versculo 21 culmina no primeiro pargrafo com uma afirmao maravilhosa do Evangelho. Contm trs importantes contrastes. Quem tomou a iniciativa de vir para salvar os pecadores? A resposta pe em evidncia o primeiro contraste entre Deus e o mundo. A sabedoria do mundo falhou, mas Deus tomou a iniciativa e enviou Seu Filho para salvar aqueles que creram nEle. O resultado desta iniciativa de Deus nos mostra o segundo contraste. A

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    salvao em Cristo no s conhecimento acerca de Deus, tal como a sabedoria humana poderia chegar a oferecer. A salvao que Deus oferece muito mais que simplesmente conhecer sobre Ele; restaurar plenamente nossa relao com Ele. O terceiro contraste surge ao perguntar como se levou a cabo esta iniciativa. Deus o fez atravs da loucura da pregao. O que era impossvel para a sabedoria do mundo, Deus se contentou em fazer atravs do kerygma, isto , a mensagem do evangelho.

    Loucura da cruz

    O segundo pargrafo sobre a fraqueza da mensagem do Evangelho compreende os versculos 22-25. O apstolo elabora outra vez o mesmo tema; Deus mostra a Sua sabedoria atravs da loucura de cruz. E na cruz, com toda a sua fraqueza, que Deus demonstra o Seu poder. Paulo faz referncia perspectiva que tanto os judeus como os gentios tinham da cruz.

    Os primeiros pediam sinais e milagres. Esperavam um Messias poltico que expulsasse as legies romanas para o mar Mediterrneo e restaurasse a soberania do povo de Israel. Cada vez que um lder revolucionrio dizia ser o Messias anunciado, os judeus lhe pediam sinais de poder que dessem credibilidade a suas pretenses. Por isso, uma e outra vez, faziam a Jesus essa pergunta: Quais so os sinais que tu fazes, para que te creiamos? Os judeus esperavam poder, no fraqueza. O Cristo crucificado era um tropeo para as expectativas judias, que imaginavam um lder poderoso cavalgando a frente de um potente exrcito. O que lhes oferecia o Evangelho? A pattica figura do nazareno crucificado, um verdadeiro insulto ao orgulho nacional. Como podia o Messias de Deus terminar Sua vida crucificado, condenado por seus compatriotas e ainda debaixo da maldio de Deus mesmo? Para a perspectiva judaica isto era inaceitvel.

    Os gregos, por sua parte, esperavam demonstraes de sabedoria. Estavam treinados para escutar cada nova teoria e comprovar se era razovel para a lgica humana. Se para os judeus a cruz era expresso de fraqueza, para os gentios era de loucura. Para os gregos e romanos a crucificao era um mtodo de execuo pblica muito humilhante. Estava reservada unicamente a criminosos; nenhum cidado livre era crucificado. Redundava inconcebvel dessa forma. Ccero, o grande orador romano, disse que a cruz no s era alheia ao corpo de um romano seno para sua mente, seus olhos e seus ouvidos. A cruz era algo to horroroso que um cidado no devia presenciar uma crucificao, nem falar sobre ela, nem ainda consider-la em sua imaginao.

    Em contraste com a percepo da cruz que tinham tanto judeus como gentios, Deus fez dela o meio para mostrar a Sua sabedoria e poder: Cristo

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    o poder e a sabedoria de Deus, porque o insensato de Deus mais sbio do que os homens, e o fraco de Deus mais forte do que os homens (1:24-25).

    Porque descartamos a cruz?

    As palavras de Paulo so muito relevantes em nossos dias e tm especial aplicao no ministrio da pregao. Ainda que no nos enfrentemos com judeus nem com gregos do primeiro sculo, existem modernos representantes de ambos os grupos. A cruz continua sendo pedra de tropeo para aqueles que, como Nietzsche, adoram o poder. A cruz tropeo para todos os que confiam no poder humano e em sua prpria capacidade para se salvar.

    Como os judeus contemporneos de Paulo, muitos de ns tratamos de nos amparar em nossa prpria justia. Muitas pessoas crem que Deus est obrigado a aceit-las por suas boas obras. Quem pensa assim tem uma percepo muito pequena de Deus, ou melhor, uma exagerada percepo de si mesmos. Ao contrrio, aqueles que tiveram sequer uma viso parcial da majestade de Deus no podem cair em nenhum destes erros. Nunca ningum pode se salvar a si mesmo e ningum nunca o far. Essa a mensagem da cruz e por isso pedra de tropeo para aqueles que tm uma exagerada percepo de seu prprio poder.

    Assim como a cruz tropeo para os que confiam em sua prpria moralidade, loucura para aqueles que confiam em sua prpria capacidade intelectual. A. G. Ayer, um filsofo de Oxford particularmente famoso logo depois da Segunda Guerra Mundial, escreveu um livro intitulado Linguagem, verdade, e lgica. Assim se referiu com sarcasmo ao Cristianismo:

    De todas as religies histricas, h muito boas razes para considerar o Cristianismo como a pior, porque descansa em duas doutrinas. A primeira o Pecado Original, e a segunda, a expiao vicria de Cristo. Ambas so intelectualmente inconcebveis e moralmente absurdas.

    Esta a perspectiva do mundo sobre a cruz. Ao contrrio, para aqueles que Deus chamou, a cruz no fraqueza, mas poder. No loucura, mas sabedoria. A cruz o poder de Deus porque por meio dela Deus tornou possvel a salvao dos pecadores. Ele nos reconcilia consigo mesmo, nos livra da culpa de Seu justo juzo sobre os nossos pecados. Ele no liberta da escravido de nosso egocentrismo e nos pe nos elevados caminhos da santidade. Tudo isso s possvel por meio da cruz.

    A cruz tambm sabedoria de Deus, porque por meio dela Deus no s resolve o nosso problema mas tambm, por assim dizer, Seu prprio

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    dilema. Como poderia Deus expressar sua justia e condenar os pecadores sem frustrar desta maneira Seu amor por eles? Como poderia expressar Seu amor e perdoar pecadores, sem pr em dvida Sua justia? Em outras palavras, como poderia ser ao mesmo tempo um Deus justo e salvador? A resposta de Deus foi a cruz. Ali, em Seu Filho, tomou nosso lugar, levou nossos pecados e morreu nossa morte. Paulo desenvolve este tema extensamente em sua carta aos Romanos. Em 3:21-26 declara que, na cruz, Deus demonstrou Sua justia. E em 5:8, 22 afirma tambm que ali Deus demonstrou seu amor. Sem dvida a cruz sabedoria de Deus, muito mais efetiva e poderosa que a sabedoria humana!

    Poder na fraqueza dos crentes

    Ora, vede, irmos, a vossa vocao, que no so muitos os sbios segundo a carne, nem muitos os poderosos. Nem muitos os nobres que so chamados. Velo contrrio, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sbios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas ignbeis do mundo, e as despregadas, e as que no so, para reduzir a nada as que so; para que nenhum mortal se glorie na presena de Deus. Mas vs sois dele, em Cristo Jesus, o qualpara ns foi feito por Deus sabedoria, e justia, e santificao, e redeno; Porventura no tomou Deus louca a sabedoria deste mundo? Para que, como est escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. (I Corntios 1:26-31)

    Deus no escolheu mostrar Seu poder na fraqueza da mensagem, mas tambm na fraqueza de quem recebe a mensagem. Os versculos 26-27 descrevem os crentes em Corinto. No havia evidncias de sabedoria nem de poder entre a gente convertida ali - bem pelo contrrio. So termos fortes os que Paulo usa no versculo 27: louca, fraca, ignbil, desprezada do mundo... Nesta classe de gente havia atuado o poder de Deus.

    A estratgia divina no mudou. Deus segue escolhendo o que para o mundo no para desfazer o que tem pretenso de ser algo. Nos versculos que seguem, o apstolo explica que Deus quis faz-lo para que ningum se jacte em Sua presena. Todo o crdito da salvao pertence unicamente a Deus. Por Ele, e s por Ele, Jesus Cristo para ns sabedoria, justificao, santificao e redeno. Cristo nossa justificao porque por Ele fomos postos em harmonia com Deus. Isto j aconteceu no passado. Cristo, ademais, nossa santificao, que o processo que transcorre no presente e pelo qual chegamos a ser como Ele. E em terceiro lugar, nossa redeno. O contexto indica que se refere redeno de nossos corpos, e por isso faz referncia indireta glria futura.

    Estas trs realidades so evidncia do poder de Deus em ns por meio de Cristo. Em outras palavras, Cristo a demonstrao do poder de Deus

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    nestes trs fatos que se cumprem, respectivamente, no passado, no presente e no futuro. Em nenhum sentido podemos atribuir estas realidades a algum mrito nosso. Tudo se deve graa de Deus, atravs de Cristo na cruz.

    O primeiro captulo desta carta de Paulo culmina no versculo 31, onde o apstolo cita o profeta Jeremias. Ainda que a referncia de Paulo no seja completa, vale a pena ler no Antigo Testamento, por sua pertinncia neste tema:

    Assim di~ o Senhor. No se glorie o sbio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua fora; no se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o Senhor, que fao benevolncia,

    jm\o e justia na terra; porque destas coisas me agrado, di~ o Senhor. (Jeremias 9:23-24)

    A maioria dos convertidos de Corinto pertencia aos nveis mais baixos da sociedade. Ainda que houvesse excees, no havia entre eles pessoas de influncia; to pouco eram aristocratas ou intelectuais. Mais bem os que aceitavam o Evangelho eram os incultos, os pobres, os socialmente excludos e os escravos. O fato de que o Evangelho havia chegado a eles para salv-los e os transformar, foi outra evidncia que Paulo usou para mostrar que o poder de Deus se manifesta na fraqueza humana.

    A quem pregamos?

    Como aplicamos este ensinamento situao de hoje? O apstolo no afirma em nenhum momento que Deus nunca salva pessoas inteligentes, ricas ou influentes. Paulo mesmo, antes Saulo de Tarso, era uma pessoa instruda e sbia. Em Corinto se havia convertido Crispo, regedor e chefe da sinagoga local. E interessante a quem Paulo menciona nas saudaes que envia a igreja em Corinto em Roma, na carta que Paulo os escreve estando em Corinto. Um dos mencionados no ltimo captulo Gaio, um homem to rico que poderia ter oferecido hospitalidade a toda a comunidade crist em Corinto. Outro deles, Erasto, era encarregado das obras pblicas da cidade.

    Estes exemplos so importantes para que faamos uma correta aplicao dos ensinamentos do apstolo. Seria errado pensar, por exemplo, que no devemos evangelizar os universitrios, os lderes da comunidade ou os ricos. O que Paulo declara que o poder de Deus s produz salvao nos fracos. Se algum que forte do ponto de vista humano quer ser salvo, deve estar disposto a se tornar fraco. Jesus Cristo ensinou claramente esta verdade, quando bendisse aos meninos e disse que os que querem entrar no Reino de Deus tm que se fazer como um deles (Marcos 10:13-15).

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    Poder na fraqueza de quem prega

    E eu, irmos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, no fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vs, seno a Jesus Cristo, e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueja, e em temor, e em grande tremor. A minha linguagem e a minha pregao no consistiram em palavras persuasivas de sabedoria, mas em demonstrao do Esprito de poder; para que a vossa f no se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. (I Corintios 2:1 -5)

    Deus elegeu a fraqueza e a loucura da cruz para nos salvar, e s os que se reconhecem dbeis podem receber essa mensagem de salvao. Agora, o apstolo agrega que o mensageiro do Evangelho no tem poder seno em sua fraqueza.

    Hudson Taylor, que viveu no sculo XIX, foi fundador das misses China, e dizia que todos os gigantes de Deus foram pessoas fracas. Isto muito certo com respeito ao apstolo Paulo. Em contraste com aqueles a quem chamava de superapstolos, Paulo no confiava em suas prprias habilidades. Aqueles eram soberbos, tinham confiana em si mesmos e se jactavam de sua prpria autoridade e poder. Com sua atitude estavam causando problemas na igreja em Corinto. Paulo disse mui claramente que os que assim atuavam eram falsos apstolos. Ele, pelo contrrio, se reconhecia fraco e recusava usar sua prpria sabedoria humana. Paulo havia renunciado filosofia humana e havia escolhido a cruz de Cristo. Ademais, havia renunciado retrica grega e havia optado confiar s no poder do Esprito.

    Ao comear o captulo 2 Paulo declara, uma vez mais, que ele no quer apelar sabedoria humana seno unicamente a Jesus Cristo, e a este crucificado. Confessa aos corintios que ao chegar ali havia se sentido nervoso e assustado. No entanto, em vez de confiar em sua prpria retrica, ps sua confiana na demonstrao do Esprito e do poder de Deus.

    Esta confisso de fraqueza no tpica dos pregadores evanglicos na atualidade. Nos seminrios se preocupam em inculcar nos estudantes confiana em si mesmos e destreza na pregao. Se Paulo se matriculasse em um seminrio hoje, provavelmente no o considerariam um estudante muito promissor. Seguramente lhe teriam dito: Paulo, voc um cristo maduro; no tem nenhum motivo para estar nervoso. Por um acaso voc no sabe o que estar cheio do Esprito Santo? Voc deve ser forte e mostrar confiana em si mesmo.

    Ainda que fosse inteligente e tivesse uma personalidade forte, ao mesmo tempo era frgil e emocionalmente vulnervel. Porm, Paulo no tinha

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    vergonha de admitir que tinha medo. Chegou at ns uma descrio do apstolo que data do sculo III, que pode ou no ser precisa. Esta traduo diz que Paulo era uma pessoa de pouca estatura, feio, calvo, encurvado e sobrancelhas muito cerradas. No Novo Testamento, lemos que seus opositores diziam que sua aparncia fsica era fraca e que no era eloqente ao falar.

    No era precisamente algum a quem valeria a pena olhar e escutar! Seguramente tudo isso contribua com esse sentimento de debilidade que tinha Paulo. Mas em sua fraqueza, ele recordava e recorria ao poder de Deus.A meno, no versculo 4, demonstrao do Esprito e do poder em sua pregao provavelmente no se refere a milagres, ainda que tambm os tenha feito. E mais provvel que se refira ao milagre da converso de seus ouvintes. Cada apresentao do Evangelho envolve um encontro de poder entre Cristo e Satans, e em cada converso se demonstra o poder superior de Jesus Cristo. Isto possvel porque o Esprito Santo toma nossas palavras, pronunciadas com fraqueza, e com Seu poder as leva mente, ao corao e conscincia dos que escutam, para que possam reconhecer a verdade e crer.

    Quem converte os pecadores?

    Uma vez mais, no devemos interpretar equivocadamente este ensinamento de Paulo. No nos pedido que reprimamos nossa personalidade ou que simulemos ser fracos. To pouco se sugere que cultivemos uma falsa fragilidade, ou que renunciemos usar a razo quando apresentamos o Evangelho. Antes, o que o apstolo exemplifica e ensina um reconhecimento honesto de que ns no podemos salvar a ningum. No uma personalidade envolvente nem a persuaso inteligente que produz convico. S o Esprito Santo pode converter. S Deus d vista aos cegos e vida aos mortos. E o Esprito de Deus que manifesta Seu poder por meio do Evangelho de Jesus Cristo. O poder no est em ns, como to pouco estava em Paulo; est na cruz e no Esprito Santo.

    Em 1958, eu estive participando em uma misso evangelista na Universidade de Sidney, na Austrlia. Havia feito apresentaes durante toda uma semana e no ltimo dia estava totalmente sem voz. Ainda que tenha orado, meu estado era pior ao chegar o horrio da reunio. Pus minha confiana no Senhor, sem saber o que poderia suceder. Pedi a alguns estudantes cristos que lessem a passagem de II Corintios 12:9-12. Como Paulo, sabia que o poder de Deus se aperfeioaria na minha fraqueza. Como ele, decidi regozijar-me nas minhas fraquezas e em meus problemas, para que o poder de Deus se mostrasse. Nesse dia no pude usar nenhum recurso para modular a voz nem dar expresso mensagem. Foi uma pregao roca e montona. Quando fiz o convite para aceitar Jesus Cristo, houve uma

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    resposta maior do que a dos dias anteriores. De todo o salo se adiantavam estudantes para receber a Cristo. Mas o mais interessante o seguinte: desde 1958 tenho voltado uma dezena de vezes Austrlia. Em cada visita, algum tem chegado e me dito: Lembra daquela reunio na Universidade de Sidney? Eu me converti naquela noite! Aquelas converses foram duradouras. Sem dvida, um exemplo de que o poder de Deus se mostra ainda mais em nossa fraqueza.

    O Cordeiro de Deus

    Temos uma mensagem apresentada em uma cruz, que expressa fraqueza. Esta mensagem proclamada por pregadores fracos, cheios de temor. E recebida por pessoas fracas, desprezadas pelo mundo. Deus quis escolher um instrumento fraco para apresentar a mensagem de Cristo crucificado aos proletrios em Corinto, e Ele atua da mesma maneira hoje.

    O princpio do poder na fraqueza alcana sua mxima expresso na pessoa de Cristo. Sendo Deus, no se aferrou a Sua condio; pelo contrrio, se esvaziou de Seu poder e Sua glria, e se humilhou para nos servir e nos salvar. Depois de ser batizado por Joo, Jesus foi tentado no deserto da Judia. Ali, o diabo lhe ofereceu poder, mas Jesus Cristo o repeliu. Pelo contrrio, com firmeza se dirigiu a Jerusalm e se entregou voluntariamente mxima expresso de fraqueza e humilhao: a morte na cruz. Por isso Deus o exaltou a mais alta honra.

    Se acompanharmos a Joo no captulo 4 de Apocalipse, veremos uma porta aberta no cu. A primeira coisa que se v desta porta aberta um trono, smbolo de poder e soberania. E o trono do Reino de Deus. O apstolo Joo continua descrevendo sua viso e algo nos enche de assombro. No trono no somente reconhece Deus em toda Sua grandeza, seno a um Cordeiro como imolado. Se o trono smbolo de poder, o cordeiro tosquiado e sacrificado smbolo de fraqueza. Em outras palavras, ali, no trono da eternidade, reina o poder atravs da fraqueza. Deus em Cristo, na cruz; e o Cordeiro de Deus, no trono. Essa a prpria essncia de Deus. Que haja em ns a mesma atitude que houve em Cristo Jesus!

    Isto o que o mundo mais precisa. Este o tipo de lder cristo que a igreja precisa hoje. Onde esto? Lderes e evangelistas que olhem para o Cordeiro no trono e o sigam aonde quer que Ele v. Homens e mulheres que renunciem sabedoria e ao poder deste mundo, porque sabem que o poder de Deus se manifesta na sua fraqueza.

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  • 4. O ESPRITO E A PALAVRA

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    Na verdade, entre os perfeitos falamos sabedoria, no porm a sabedoria deste mundo, nem dos prncipes deste mundo, que esto sendo reduzidos a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistrio, que esteve oculta, a qual Deuspreordenou antes dos sculos para nossa glria; a qual nenhum dos prncipes deste mundo compreendeu;porque se a tivessem compreendido, no teriam crucificado o Senhor da glria. Mas, como est escrito: As coisas que olhos no viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o corao do homem, so as que Deus preparou para os que o amam. Porque Deus no-las revelou pelo seu Espirito; pois o Esprito esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus. Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, seno o espirito do homem que nele est? Assim tambm as coisas de Deus, ningum as compreendeu, seno o Esprito de Deus. Ora, ns no temos recebido o esprito do mundo, mas sim o Esprito que provm de Deus, a fim de compreendem/os as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus; as quais tambm falamos, no com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Esprito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural no aceita as coisas do Esprito de Deus, porque para ele so loucura; e no pode entende-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que espiritual discerne bem tudo, enquanto ele por ningum discernido. Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor, para que possa instru- lo? Mas ns temos a mente de Cristo. (I Corntios 2:6-16)

    As trs personagens da trindade tiveram interveno na composio das Escrituras. A Palavra veio de Deus, se enfoca em Cristo e foi inspirada pelo Esprito Santo. Podemos definir a Bblia como o testemunho do Pai sobre o Filho, dado atravs do Esprito. Dedicaremos este captulo para refletir sobre o papel do Esprito Santo na composio e interpretao das Sagradas Escrituras.

    Na seo inicial da sua carta, Paulo ps em evidncia o contraste entre a sabedoria do mundo e a loucura do Evangelho. A cruz de Cristo pedra de tropeo para os judeus e loucura para os gentios. Nesta seo, reflete acerca da verdadeira sabedoria. Qui o faz como uma compensao no seu argumento, para que os corntios no pensem que o apstolo rechaa completamente a sabedoria e que prefere a loucura, a estupidez. Acaso rechaa o apstolo o conhecimento e o lugar da mente? Logicamente que no.

    A verdadeira sabedoria

    Na verdade, entre os perfeitos falamos sabedoria, no porm, a sabedoria deste mundo, nem dos prncipes deste mundo, que esto sendo reduzidos a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistrio, que este ve oculta, a qrnl Deus preordenou

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    antes dos sculos para nossa glria; a qual nenhum dos prncipes deste mundo compreendeu;porque se a tivessem compreendido, no teriam crucificado o Senhor da glria. Mas, como est escrito: As coisas que olhos no viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o corao do homem, so as que Deus preparou para os que o amam. (I Corntios 2:6-9)

    A verdadeira sabedoria tem trs caractersticas. Em primeiro lugar, para os que so nascidos de novo em Cristo, e s para os maduros; no para os recm-nascidos na f. E comida slida que os imaturos ainda no esto em condies de assimilar. Em segundo lugar, a sabedoria verdadeira vem de Deus, no do mundo. E, por ltimo, o propsito desta sabedoria nossa glria. As boas novas no s anunciam a justificao por f; incluem a certeza de que nosso destino final compartilhar a glria de Deus.

    Os pensamentos de Deus so inalcanveis para a mente humana. Como disse Isaas:

    Porque os meus pensamentos no so os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, di~ o Senhor. Porque, assim como o cu mais alto do que a terra, assim so os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos. (Isaas 55:8-9)

    Esta sabedoria que vem de Deus s se pode conhecer se Ele a revelar. Por isso, nos prximos versculos, Paulo descreve a obra do Esprito Santo como agente da revelao divina. Sua funo abarca quatro aspectos; o Esprito esquadrinha, revela, inspira e ilumina a verdade de Deus.

    O Esprito esquadrinha

    Porque Deus no-las revelou pelo seu Esprito; pois o Esprito esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus. Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, seno o esprito do homem que nele est? Assim tambm as coisas de Deus, ningum as compreendeu, seno o Esprito de Deus. (I Corntios 2:10-11)

    O Esprito esquadrinha tudo, ainda o profundo de Deus. A atividade de esquadrinhar ou investigar mostra cjue o Esprito Santo uma pessoa, no meramente algo ou uma fora. E um ser pessoal que tem a capacidade de investigar. Como sabe qualquer investigador, existem aspectos da anlise e reflexo nos quais o mais avanado dos computadores incapaz de substituir a mente humana. Da mesma maneira, s o Esprito Santo capaz de investigar tudo, at o mais profundo de Deus.

    O termo grego que se traduz como esquadrinhar eranaiu. Molton e Milligan, em sua obra sobre o vocabulrio do Novo Testamento, citam um

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    papiro do sculo III onde este verbo se aplica aos empregados de aduana, aqueles que revisam minuciosamente uma carga ou bagagem. Ou seja, Paulo concebe o Esprito Santo como um incansvel trabalhador que investiga ainda o mais profundo do ser de Deus.

    Paulo tambm se refere tarefa do Esprito Santo em termos de conhecer. Compara a capacidade da mente humana para conhecer seus prprios pensamentos com a capacidade do Esprito Santo para conhecer os pensamentos de Deus. Nem o mais desenvolvido dos animais pode compreender melhor que os seres humanos o que significa ser humano. Em um sentido, cada pessoa tem conscincia de si mesma e quem melhor se compreende. Paulo aplica ao Esprito Santo este conceito da autocompreenso e afirma que ningum conhece as coisas de Deus, seno o Esprito de Deus. Ningum pode compreender melhor a Deus que Deus mesmo.

    O Esprito Santo esquadrinha o mais profundo de Deus e s Ele tem uma compreenso plena da pessoa de Deus. A pergunta que segue : O que o Esprito Santo faz com isso?

    O Esprito revela

    Porque Deus no-las revelou pelo seu Esprito... Ora, ns no temos recebido o esprito do mundo, mas sim o Espirito que provm de Deus, a fim de compreendermos as coisas que nos foram dadas gratuitamente por Deus; (I Corntios 2:10,12)

    S o Esprito Santo conhece realmente a Deus, e s Ele se d a conhecer. Deus quer ter comunho com o ser humano. Por isso se revela por meio de Seu Esprito, para que Sua pessoa e Sua sabedoria no fiquem escondidas. A palavra ns, no versculo 10, em grego um termo enftico. Neste contexto se refere aos apstolos, porque s eles receberam a revelao especial de Deus, como antes os profetas do Antigo Testamento. Paulo faz a mesma afirmao em Efsios 3:5:

    O qual [o mistrio de Cristo] em outras geraes no foi manifestado aos filhos dos homens, como se revelou agora no Esprito aos seus santos apstolos e profetas.

    Em ambos os textos o apstolo declara que Deus o autor da revelao, o Esprito Santo o agente, e os apstolos so os receptores e intermedirios desta revelao. Os apstolos receberam dois dons, diferentes, mas relacionados entre si. Deus lhes concedeu o dom da salvao e tambm o dom de compreender e comunicar essa salvao que receberam gratuitamente.

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    Paulo provavelmente o melhor exemplo deste duplo processo. Em suas cartas, oferece uma maravilhosa exposio da salvao pela graa: Deus derrama Seu amor sobre os pecadores; por isso enviou Seu Filho para morrer na cruz por ns, que no merecamos seno juzo. Deus levantou Cristo da morte para mostrar que Ele no morreu em vo. Por f, internamente, e por batismo, externamente, chegamos a ser um com Cristo em Sua morte e ressurreio.

    O Evangelho abre a nossa mente e faz arder o nosso corao. Como Paulo soube tudo isso e como pde fazer uma apresentao to compreensvel? Pde faz-lo, primeiro, porque ele mesmo recebeu a salvao e, tambm, porque recebeu a revelao do Esprito Santo para interpretar a sua prpria experincia.

    O Esprito inspira

    As quais tambm falamos, no com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Esprito Santo, comparando coisas espirituais com espirituais. (I Corntios 2:13)

    A revelao da verdade de Deus se faz por meio da inspirao. Os apstolos comunicam o que chegaram a compreender por inspirao do Esprito. O versculo 12 se refere ao que os apstolos receberam por revelao. O versculo 13 descreve o que eles comunicam a outros, por inspirao do Esprito.

    O Esprito Santo que esquadrinha o profundo de Deus, revelou o plano de salvao aos apstolos para que estes comunicassem a outros. Da mesma maneira que o Esprito no guardou para si o resultado da Sua investigao, os apstolos to pouco se apropriaram da revelao, mas a compartilharam com outros. A verdade para ser compartilhada, e eles compreenderam que eram administradores da revelao de Deus. No o fizeram apelando para a sabedoria humana, mas com as palavras que ensinam o Esprito. O mesmo Esprito que esquadrinha o mais profundo de Deus e que revelou estes segredos aos apstolos, tambm foi quem lhes deu as palavras com as quais transmitir esta verdade.

    Este versculo, indiretamente, respalda o que chamamos de inspirao verbal. Isto significa que a inspirao divina inclui as palavras com as quais se comunica a revelao de Deus. Paulo sustenta que as palavras com as quais os apstolos expressaram a mensagem foram dadas pelo Esprito Santo. Muitos rechaam esta doutrina, qui porque no a compreendem corretamente. Vale a pena dedicar alguns pargrafos para esclarecimento.

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    A inspirao verbal

    Digamos primeiro o que no a inspirao verbal. No implica que cada palavra na Bblia seja literalmente a verdade. Os autores bblicos escreveram em diferentes estilos literrios, cada um dos quais deve ser interpretado de acordo com suas prprias normas: a histria como histria, a poesia como poesia. O sentido das palavras pode ser, segundo o caso, literal ou figurativo. Por exemplo, os primeiros versculos do Salmo 119 descrevem o sol se levantando e se pondo. No interpretamos literalmente a expresso, j que sabemos que no o sol que se move seno a terra. To pouco interpretamos literalmente quando o salmista descreve o sol como um habitante de tendas, como uma noiva, ou como um atleta. Jesus usou com freqncia figuras de linguagem em Seus ensinamentos. No entanto, Ele mesmo advertiu contra o excessivo literalismo. No evangelho de Joo, por exemplo, tanto a Nicodemos como a mulher samaritana disse que era absurdo que interpretassem literalmente as figuras que havia usado do novo nascimento ou da gua da vida.

    A inspirao verbal to pouco implica que o Esprito Santo fez um ditado verbal aos escritores bblicos. Os mulumanos crem que Al, por meio do anjo Gabriel, ditou o Coro a Maom em rabe; ele escrevia s o que lhe ia sendo dito. Os cristos no crem que a Bblia foi escrita desta maneira. Os autores bblicos no foram simplesmente escribas que punham no papel o ditado divino. Ainda que o Esprito Santo se comunicasse atravs deles, eles mantinham o controle de suas capacidades e expressavam sua personalidade peculiar.

    Por isso encontramos na Bblia variedade de estilos literrios e ainda diferentes nfases teolgicas. Ams o profeta da justia de Deus; Osias, o de Seu amor; Isaas de Sua soberania. O mesmo certo no Novo Testamento: Paulo o apstolo da graa; Tiago, o das obras; Pedro, o da esperana e Joo, o do amor.

    Muitas sees da Bblia so narrativas histricas. Estes escritos no foram ditados pelo Esprito Santo; Moiss, Samuel, Esdras, Neemias e os evangelistas do novo Testamento realizaram investigaes histricas. Lucas o disse explicitamente no prefcio que fez do Evangelho. A inspirao divina e a investigao humana no so incompatveis em absoluto.

    Em terceiro lugar, a inspirao verbal no significa que cada frase da Bblia palavra de Deus. O Pacto de Lousana firmado em 1974 declara que a Bblia no contm erros naquilo que afirma. Mas devemos agregar que nem tudo o que a Bblia contm, o afirma.

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    Por exemplo, no livro de J se incluem extensos e tediosos discursos de seus amigos. Estes sustinham que J estava sendo castigado por seus pecados. No entanto, ao chegar no ltimo captulo do livro, Deus disse duas vezes a esses homens: Vocs no falaram de mim com retido. Portanto, no temos liberdade para citar esses versos como palavra de Deus.

    O livro de J, e tudo o que a Bblia contm, a Palavra de Deus. Mas esta deve ser entendida como um todo, e cada texto em seu contexto. Inspirao verbal significa que o Esprito Santo falou atravs de seus autores bblicos e que estes devem ser entendidos de acordo com seu estilo literrio, o sentido literal ou figurado das palavras, o contexto, e a inteno com que escreveram. As palavras so um privilgio do ser humano. Sem elas no conheceramos nem poderamos expressar o que h em nossa mente e corao. Pensamos em palavras, ainda quando no as pronunciam