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JOGO DIDÁTICO: UM INSTRUMENTO FACILITADOR NA APREENSÃO DO
CONTEÚDO ENTEROPARASITOSES
Luciana Aquiles Sleutjes1
Rosilda Aparecida Kovaliczn2
RESUMO
Observa-se que no ensino de Ciências as aulas expositivas, pautadas na transmissão de
informações pelo professor ainda são muito frequentes. Sabemos que a mudança de
paradigma é necessária, por isso este artigo propõe mostrar um novo caminho apresentando a
incorporação de atividades lúdicas e a utilização do jogo como recurso pedagógico e um meio
de fixação e verificação da aprendizagem. Afinal, é sabido pela literatura que é preciso o
aluno vivenciar e construir o seu conhecimento sentir-se parte do processo de ensino e
aprendizagem. A implementação desse trabalho baseou-se nas ações da Unidade Didática
elaborada no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – do Estado do Paraná,
visando novas maneiras de fazer com que o aluno se interesse pelo conteúdo transmitido. Esse
trabalho foi desenvolvido com alunos da 6ª série do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual
Major Vespasiano Carneiro de Mello, na cidade de Castro – PR, com o objetivo de avaliar o
processo de ensino e aprendizagem em Ciências através de atividades que contemplaram o
conteúdo sobre as enteroparasitose.
Esse recurso favorece uma abordagem sem preconceitos, de tal modo que os alunos foram
capazes de construir o seu processo de aprendizagem em sintonia com a realidade em que
vivem.
Palavras-chave: Jogos didáticos. Parasitos intestinais. Construção do conhecimento.
1 Professora de Ciências e Biologia da Rede Estadual de Educação no NRE/Ponta Grossa. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional. PDE-2010.2 Mestre em Educação. Professora de Parasitologia Humana na Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, Pr. e-mail: [email protected].
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1 Primeiras considerações
Diversão, participação em grupo e consequentemente maior aprendizado. Quem não
gosta disso? Uma proposta de ensino que vise ampliar a forma de aprender de maneira mais
prazerosa é - com certeza - uma boa medida. Por isso, as atividades lúdicas quando vêm para
a prática pedagógica, desde que mediadas e organizadas previamente, são sempre bem
recebidas.
Sabemos da importância de realizar atividades que comunguem conhecimento e
ludicidade e com o propósito de confirmar que essa mistura tem muito a contribuir para a
apropriação do saber, de modo especial no ensino de Ciências, é que foi desenvolvida a
sequência de ações propostas na Unidade Didática 2010, do PDE. Esse trabalho foi realizado
com os alunos da 6ª série C do Colégio Major Vespasiano Carneiro de Mello, no ano de
2011.
A escola, de modo geral, centraliza sua prática num modelo de ensino ultrapassado e
que não supre as novas demandas sociais. Exemplo disso está no formato de aulas ministradas
pela exposição do conteúdo, registro de informações e exercícios. Graciolli, Zanon e Souza
(2008) confirmam essa realidade ao explicitarem que “Os recursos tecnológicos estão
presentes no dia a dia de nossos alunos. A criança hoje vive num mundo repleto de
brinquedos e tecnologias que encantam e fascinam a todos”. Isso não condiz com o espaço
escolar, pois esse – na maioria das vezes – é muito desinteressante, devendo ser mais atrativo
e dinâmico para que possa também encantar nossos alunos. Mudar esse modelo cristalizado
na prática docente nem sempre é fácil, no entanto, é possível. Fazer com que os alunos
possam apropriar-se mais das etapas de trabalho, construindo juntos com a professora os
conceitos que deverão ser assimilados e ‘brincando’ depois com eles, faz com que esses sejam
realmente apreendidos.
A finalidade deste trabalho é apontar a importância do lúdico no ensino das
enteroparasitoses como proposta pedagógica tomando a abordagem desse conteúdo mais
prazerosa e menos constrangedora frente a alunos expostos a essa patologia. Como método de
ensino optou-se pela construção de um jogo didático e aplicação de exercícios lúdicos como
recursos para fixação do conteúdo trabalhado.
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2 Pensando o Ensino de Ciências
Carvalho (1997) postula que o ensino de Ciências na escola precisa mudar. Há
necessidade em dinamizar a sala de aula com o intuito de favorecer o aprendizado. Ainda de
acordo com a autora, é necessária a mudança de paradigma do professor(a): “Precisamos estar
conscientes de que a ação do professor durante o ensino é de ser responsável pela
aprendizagem” (CARVALHO,1997,p.153).
Diante dessa nova postura é que precisamos conceber o aprendizado dessa disciplina,
levando os alunos a refletirem e sentirem que são parte da natureza e como tal o que está
sendo ensinado nos mais diferentes conteúdos está intimamente ligado com sua vida. Afinal, o
impacto do ensino de Ciências hoje sobre as questões sociais que envolvem nossos alunos
deve proporcionar uma visão mais crítica da realidade na qual está inserido à qualidade da
educação se deve ao raciocínio e como ele pode construir o seu conhecimento de maneira que
seu espírito criativo se desenvolva para a aplicação na sua vida, do que aprende em sala de
aula. Por isso, se o educado se identifica com os conteúdos apresentados na disciplina de
Ciências desde cedo, mais chances ele tem de se desenvolver, tornando-se parte de um
processo educativo que viabiliza a incorporação desse estudante numa sociedade mais crítica
e participativa.
Dessa maneira, é imprescindível que seja dada no ensino fundamental – época em que
os alunos terão os primeiros conceitos científicos – uma atenção diferenciada aos alunos, pois
se o conteúdo trabalhado tiver sentido para eles, gostarão de Ciências. Entretanto, se o
encaminhamento for apenas pautado na memorização, descompromissado com a realidade, a
aversão pela disciplina – assim como para qualquer outra – será inevitável.
(CARVALHO,1997)
Diante disso não podemos nos acomodar como profissionais comprometidos com o
processo educacional, nossa função é gerar questionamentos, dúvidas, criar possibilidades.
Precisamos sim, criar condições novas de ensinar para que o nosso aluno se interesse pelos
assuntos trabalhados em sala de aula.
O ensino de ciências não pode ser ministrado tendo apenas o livro didático como único
instrumento, devemos nos fortalecer sob outras fontes, fazer uso de outros recursos como, por
exemplo, atividades lúdicas para ensinarmos mais e melhor porque nossa clientela escolar
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sofre mudanças aceleradas, precisamos adquirir competências novas, para aproximar o
educando da realidade científica, utilizando para isso os mais diferentes recursos. Os PCNs
(BRASIL,2006) reforçam esse caráter de utilização de métodos diversificados ao afirmar que
toda a atividade de sala de aula é única, acontece em tempo e espaço socialmente
determinados, envolve professores e estudantes que têm particularidades quanto às
necessidades e interesses. Assim os materiais de apoio irão auxiliar os educadores dando
sugestões e servindo para certificarem suas práticas ou questionarem-nas, contribuindo para
tornar o conhecimento científico significativo para os estudantes.
Nesta perspectiva, a ludicidade contribui de maneira significativa, torna o conteúdo
de ciência que antes era uma teoria chata, difícil em algo mais prazeroso apresentado de
forma diferente, tornando a aula muito mais atrativa e participativa por parte dos alunos.
2.1 A ludicidade e enteroparasitoses como proposta pedagógica
Através de atividades lúdicas podemos incentivar o aluno a explorar e refletir sobre a
realidade, a cultura na qual vivemos, incorporando e, ao mesmo tempo, questionando regras e
papéis sociais. “A incorporação de jogos na prática pedagógica desenvolve diferentes
capacidades que contribuem com a aprendizagem, ampliando a rede de significados
construtivos tanto para as crianças, como para os jovens” (MALUF, 2006, p. 37).
Outros autores como Campos, Bortoloto e Felício defendem a ludicidade como recurso
para a aprendizagem, além de estar em consonância com a faixa etária em questão. Segundo
eles:
O lúdico pode ser utilizado como promotor da aprendizagem nas práticas escolares,
possibilitando a aproximação dos alunos ao conhecimento científico. Neste sentido,
ele se constitui em um importante recurso para o professor desenvolver a habilidade
de resolução de problemas, favorecem a apropriação de conceitos, e a atender as
características da adolescência. (CAMPOS, BORTOLOTO e FELICIO ,p. 50).
Percebe-se hoje nas escolas, a ausência de uma proposta pedagógica que incorpore o
lúdico como eixo de trabalho. Essa realidade do brincar nas escolas leva a perceber a
inexistência de espaço para um bom desenvolvimento dos alunos, onde eles possam criar
construir o seu conhecimento de maneira divertida, prazerosa. Infelizmente, nosso ambiente
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escolar - de maneira geral - tornou-se cansativo, desgastante, onde o alunado reproduz
respostas prontas e acabadas, não consegue de forma concreta participar do processo de
ensino aprendizagem sendo o condutor do seu raciocínio. Sobre os jogos didáticos
concordamos que:
o jogo oferece o estímulo e o ambiente propícios que favorecem o desenvolvimento espontâneo e criativo dos alunos e permite ao professor ampliar seu conhecimento de técnicas ativas de ensino, desenvolver capacidades pessoais e profissionais para estimular nos alunos a capacidade de comunicação e expressão, mostrando-lhes uma nova maneira, lúdica, prazerosa e participativa de relacionar-se com o conteúdo escolar, levando a uma maior apropriação dos conhecimentos desenvolvidos.(BRASIL, 1999).
Esse resultado, apesar de apontar na direção das ações do professor - muito é de
responsabilidade dele - não se deve atribuir-lhe toda a culpa, uma vez que o sistema muitas
vezes não dá condições para que essa proposta de ensinar e aprender possam ser aplicados no
desenvolvimento intelectual do aluno em uma perspectiva social, afetiva, cultural, histórica e
criativa. Apesar desses empecilhos, é necessário driblar as dificuldades.
Outro teórico do ensino, e um dos formadores dos conceitos do socioconstrutivismo é
Vigotsky. Segundo ele, o papel social da escola, as atividades de cooperação e socialização
através de brincadeiras são de suma importância. Vigotsky postula a:
relevância de brinquedos e brincadeiras como indispensáveis para a criação da
situação imaginária. Revela que o imaginário só se desenvolve quando se dispõe de
experiências que se reorganizam. Dispor de tais imagens é fundamental para
instrumentalizar a criança para a construção do conhecimento e sua socialização. Ao
brincar a criança movimenta-se em busca de parceria e na exploração de objetos;
comunica-se com seus pares; se expressa através de múltiplas linguagens; descobre
regras e toma decisões. (VIGOTSKY, 1988).
Para Cunha (2001), uso de jogos em sala de aula requer que tenhamos uma noção
clara do que queremos explorar. É importante termos claro para quem, onde e para qual
realidade vamos aplicar o jogo. “O ato de brincar proporciona a construção do conhecimento
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de forma natural e agradável; é um grande agente de socialização, cria e desenvolve a
autonomia”. (CUNHA, 2001, p.14).
Diante disso, este artigo propõe ao professor deixar de ser um mero transmissor de
conhecimentos e agir como investigador das ideias e experiências de seus alunos usando para
isso a ludicidade.
Para tanto, foi escolhido o conteúdo sobre Enteroparasitoses – doenças causadas por
parasitos intestinais -, para a realização das atividades do presente trabalho. Esse assunto
representa um problema de saúde e está associado às precárias condições de saneamento e
higiene, embora desperte interesse nos alunos, não tem sido transmitido de forma apropriada,
sendo comum a ideia de que as doenças parasitárias fazem parte de um mundo
subdesenvolvido distante da realidade da qual todos nós fazemos parte.
Apesar da região dos Campos Gerais não apresentar um índice significativo quanto
às doenças parasitárias, devido a não serem de notificação compulsória, essas continuam
sendo um problema de saúde pública, afetando principalmente crianças e adolescentes
Após leituras sobre o tema, foram compilados dados sobre as parasitoses mais
comuns em escolares. (NEVES, 2003; REY, 2001; KOVALICZN, 2000; GONÇALVES,
2003; MONTEIRO, 1995).
As principais enteroparasitoses que comprometem a saúde dos escolares são:
ascaridíase uma doença parasitária causada por um helminto, causada pelo Ascaris
lumbricoides, lombriga ou “bichas”, e sua fonte de infecção é a matéria fecal do próprio
homem, uma vez que o verme tem como habitat o intestino delgado do ser humano. A
tricurose é outra enteroparasitose causada por um geohelminto, o Trichuris trichiura e que na
maioria dos casos está associada com a ascaridíase, devido a semelhança nos processos de
transmissão. A oxiurose ou enterobiose é uma doença cujo agente etiológico é o Enterobius
vermicularis, pequeno nematóide, mais conhecido como oxiúro. A infecção costuma ser
benigna, mas incômoda, pelo intenso prurido anal. A ancilostomose ou amarelão é adquirida
geralmente pelo contato dos pés descalços com o solo contaminado. Em uma hiperinfecção
pode causar anemia.
A teníase é uma doença causada pela Taenia solium ou pela Taenia saginata,
popularmente denominada “solitária”. São vermes platelmintos e o ser humano é o único
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hospedeiro da fase adulta do parasito. Embora a prevalência não seja em crianças, a teníase é
uma enteroparasitose prevalente no Paraná, e significativa devido ao risco da cisticercose
humana causada pela larva da Taenia solium, o Cysticercus cellulosae, conhecido por pipoca,
quirera ou canjiquinha e pode desenvolver-se no ser humano em órgãos como: sistema
nervoso central (cérebro e anexos), olhos, pele (subcutâneo).
A Himenolepsiose causada por um pequeno verme achatado, o Hymenolepis nana é
denominada “tênia anã” devido o seu tamanho reduzido (3 a 5 cm). Já a giardose, é uma
parasitose intestinal causada por um protozoário flagelado, a Giardia lamblia é prevalente
entre escolares no Estado do Paraná, uma vez que é encontrada principalmente em regiões de
clima temperado. O homem é um dos principais reservatórios da parasitose, que atualmente é
considerada uma zoonose, devido a contaminação do solo com fezes de cães e gatos.
Entre as amebas é importante destacar que a Entamoeba coli, um protozoário
bastante comum na população, não é uma ameba patogênica porque se alimentam de
bactérias, grãos de amido, fungos, ou seja, é uma comensal e não um parasito.
Considerando que as crianças representam um grupo de maior suceptibilidade às
infecções parasitárias, esse conteúdo se for trabalhado de forma lúdica vem a aproximar teoria
e pratica de modo a contribuir de maneira significativa na melhoria da qualidade de vida, pois
obteve mais informações e com isso poderá prevenir-se melhor.
Neste sentido, consideramos como uma alternativa viável e interessante a utilização
do jogo didático como recurso para fixação do conteúdo apresentado – as enteroparasitoses.
Para tanto, conforme preconizado no Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE, do
Estado do Paraná, elaborou-se uma Produção Didática intitulada “A Ludicidade como recurso
didático para apreensão do conhecimento sobre enteroparasitoses”.
A escolha do conteúdo enteroparasitoses justifica a metodologia lúdica adotada, pois
se trata de um assunto importante, mas que na maioria das vezes é trabalhado de forma
desvinculada da realidade de nossos educados, esse recurso favorece uma abordagem sem
preconceitos, de tal modo que os alunos foram capazes de construir o seu processo de
aprendizagem em sintonia com a realidade em que vivem.
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3 Caminhos percorridos
A aplicação da produção didática ocorreu no 2º semestre de 2011 no Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE, junto a alunos de 6ª série no ano de 2011 do Colégio
Estadual Major Vespasiano Carneiro de Mello, no município de Castro – PR.
A realização da produção iniciou com a explicação dos parasitos Nematodas:
ascaridíase, tricurose, oxiurose e ancilostomose, através do data-show, usando sempre além da
teoria ilustrações, para tornar o assunto mais atrativo e de fácil assimilação. Em seguida,
foram apresentadas aos alunos algumas atividades lúdicas das quais ficaram muito
interessados, pois era tudo novo e diferente.
Dentre as atividades, destaca-se uma pesquisa sobre as diferenças e semelhanças entre
o processo de transmissão e prevenção dos helmintos “Ascaris e Trichuris”, destacando
porque ambas são denominadas geohelmintoses.
Em seguida, trabalhamos com os alunos um texto de Monteiro Lobato “Jeca Tatu – A
História. Após, foi sugerido aos alunos que produzissem um relato associando o personagem
Jeca Tatu ao ciclo da cana de açúcar e o ciclo cafeeiro na ancilostomose.
Os relatos foram bem parecidos, no entanto, provaram o entendimento por parte dos alunos
em como se dá o processo de transmissão.
Para a continuidade do trabalho, foi entregue aos alunos um questionário como roteiro
de trabalho para que pudessem realizar uma pesquisa a campo. A turma foi dividida em
grupos e orientada a irem aos Laboratórios (Castrolabor, Doff Sotta e Santa Rita) do
município de Castro - Pr. O propósito foi entrevistar os responsáveis sobre os índices das
doenças parasitárias em crianças na faixa etária entre 04 e 14 anos, ou seja, fase escolar.
(QUADRO 1).
QUESTIONÁRIO PARA OS LABORATÓRIOS
1- Quais são as enteroparasitoses mais comuns diagnosticadas nos últimos dois anos?
2- Qual a faixa etária comum a essas enteroparasitoses?
3- Qual o método utilizado para realizar o teste?
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4- Quais são os meses mais procurados para esse tipo de exame, e quais verminoses são
mais comuns nos mesmos?
QUADRO 1 – Questionário aplicado junto aos responsáveis pelos laboratórios de análises clínicas.
O resultado da pesquisa trazido pelos alunos foram: segundo os farmacêuticos
bioquímicos responsáveis pelos exames José Carlos Fonseca, Marcia Shultz e Marcelo Doff
Sotta, a maior incidência na região urbana são os helmintos: Ascaris lumbricoides e larvas de
Strongiloides stercoralis (região urbana). Na Comunidade, segundo eles é comom encontrar
nos examos parasitológicos de fezes o protozoário Giardia lamblia. No Distrito de Socavão, a
Taenia sp (solitária) é mencionada como parasito mais comum. Já os Ancilostomídeos
aparecem em crianças que moram próximas a região de produção de calcário. Esse dado se
explica de acordo bioquímico José Carlos Fonseca porque o calcário torna a água alcalina
favorecendo a presença desse parasito. Ainda segundo ele, não existe uma época mais
evidente para a aparição desses enteroparasitos, visto que os mesmos podem ser
diagnosticados durante todo o ano.
Importante destacar que todos os laboratórios da cidade utilizam os seguintes métodos
para identificação da matéria fecal: sedimentação espontânea, Faust e cols., e o utilizado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS).
Seguindo com as atividades junto aos alunos, o próximo passo foi uma pesquisa na
Secretaria Municipal de Saúde, onde os alunos aplicaram outro questionário. (QUADRO 2).
QUESTIONÁRIO PARA A SECRETARIA DE SAÚDE
1- Há dados sobre as regiões do município desprovidas de saneamento básico?
2- Como é feito o levantamento e o controle das enteroparasitoses no município?
3- Quais são as medidas preventivas realizadas pela secretaria junto as comunidades?
4- É realizada alguma campanha junto às escolas para informação das enteroparasitoses, visto que é uma doença comum entre escolares?
QUADRO 2 – Questionário aplicado junto a Secretária Municipal de Saúde de Castro – Pr, em relação as enteroparasitoses.
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De acordo com os dados coletados pelos alunos (Quadro 2), pôde-se observar que a
referida Secretaria não possui um controle específico sobre as principais enteroparasitoses no
município devido talvez a falta de notificação compulsoria. Falta também um trabalho efetivo
de prevenção, bem como, campanhas junto às escolas municipais, estaduais ou particulares
que efetivem a conscientização sobre o assunto. Desta forma, ficou claro aos alunos e a
comunidade escolar que mais uma vez o trabalho de instrução e prevenção deve ser repassado
à escola, no entanto, isso ainda requer avanços.
Esta atividade trouxe aos alunos a oportunidade de ver a importância e a necessidade
de se ter informações relevantes sobre questões indispensáveis à saúde. Além disso,
verificaram a precariedade do serviço público do município no que tange as enteroparasitoses.
Finalizando esse primeiro grupo de doenças os alunos trabalharam com uma atividade
intitulada “Aprendendo a ilustrar”, onde eles tiveram que desenhar o ciclo biológico da
ascaridiose, e em outro desenho diferenciar os macho e fêmea.
Dando continuidade a aplicação da unidade do PDE, seguimos com a explicação do
segundo grupo de doenças causadas por Cestodas - teniose/cisticercose humana e
himenolepsiose, sempre utilizando de recursos ilustrativos, pois dessa os alunos observam
mais os detalhes. Para essas parasitoses, nas atividades os alunos puderam perceber que as
aulas estavam diferentes, mais dinâmicas, divertidas, e eles participavam ativamente do
processo.
Nesse grupo de enteroparasitos, a primeira atividade proposta foi uma exposição de
dois desenhos, onde os alunos pudessem distinguir as duas tênias que infectam o homem..
Eles observaram detalhes da cabeça (escólex) do parasito e qual a sua importância na
eliminação do verme. Foi sugerido outra atividade, uma pesquisa de consulta na internet sobre
as diferenças entre teníase e ciasticercose. Essa atividade trouxe aos alunos uma grande
satisfação, pois puderam fazer uso do laboratório de informática, com uma proposta de ensino
pertinente ao conteúdo trabalhado, puderam perceber a ligação entre eles, com isso o
resultado foi de uma construção positiva no processo de aprendizagem dos alunos,
confirmando que o professor precisa fazer uso de novas formas de ensinar, inclusive
utilizando as Tecnologias de Informação e Comunicação -TICs.
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Percebemos o quanto os alunos se interessam por trabalhos que envolvam a
tecnologia, onde eles buscam o saber, pois somos da opinião que é no desafio que está o
interesse
Dando continuidade, a próxima atividade foi a interpretação da figura “as fezes
contaminam o solo” para compreender melhor como ocorre o processo de contaminação no
complexo teníase/cisticercose e a importância do saneamento básico. (FIGURA 1).
FIGURA 1 – Processo de contaminação do solo e da água no complexo teníase/cisticercose. Fonte:
Secretaria da Saúde do Paraná
O término da aplicação da unidade didática se deu com o conteúdo as protozooses
intestinais em crianças em idade escolar na qual foram trabalhadas as doenças: amebíase e
giardose. A apresentação do conteúdo foi com o auxilio de mapas ilustrativos e o data show,
para demonstrarmos a morfobiologia dos parasitos. No encerramento do conteúdo
enteroparasitoses, foi realizada uma pesquisa pelos alunos juntos as Secretarias Municipais do
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Meio Ambiente e do Saneamento Urbano, onde os alunos puderam buscar informações sobre
às condições de saneamento básico no município de Castro - Pr (rede coletora de esgoto,
coleta de lixo, tratamento de água e de esgoto).
Paralelamente os alunos realizaram uma investigação nos arredores de suas moradias
quanto água tratada, presença de poços, bicas ou riachos coleta de lixo e rede pública coletora
de esgoto ou, apenas fossa. Também investigaram se algum membro da família já contraiu
verminose ou protozoose, e quais os cuidados que tomaram para não adoecerem novamente.
O foco dessa pesquisa era para que os alunos pudessem confrontar os dados, uma vez
que pertencem tanto a zona urbana central como região periférica da cidade, e algumas
informações poderiam ser diferentes, fator relevante para uma discussão em sala de aula.
Segundo Maria Inez Pedroso, diretora da Secretaria Municipal do Meio Ambiente,
Castro possui atualmente 95% água tratada, e a rede de esgoto engloba 80% do município.
Com relação à coleta de lixo, conforme a diretora está sendo realizada em toda a região,
mesmo na periferia- se não diariamente, pelo menos uma vez por semana.
A parte mais interessante e curiosa verificada por pelos alunos foi em relação ao
questionário se alguém da família teve algum tipo de verminose ou protozoose. Muitos dos
entrevistados, nem sabia o que isso significava, para eles verminose é apenas “bichas”, como
é conhecida popularmente a lombriga. Afirmam que recorrem, recorrem às crendices
populares, simpatias e remédios caseiros para tratamento, e ainda fazem por conta própria o
diagnóstico, como por exemplo, quando a criança queixa-se de dor de barriga, come muito
doce e/ou apresenta vontade de algum alimento são “medicadas” com vermífugos sem mesmo
terem realizado um exame específico para “confirmar” se é portador de algum parasito ou
não. Isso fica claro que realmente a população menos favorecida, necessita de um maior apoio
e orientação da Secretaria Municipal de Saúde.
4 Resultados e Discussão
Com os dados das pesquisas junto as Secretarias Municipais, os alunos puderam
avaliar e discutir as condições de Saneamento Básico em Castro, e sua importância na
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prevenção de parasitoses intestinais. Os alunos relataram a satisfação com as atividades
propostas:
“Nossa professora eu realmente aprendi, não apenas decorei para a prova”. G.S -
aluno da 6ª série.
“Essa nova forma de ensinar e aprender, é muito mais divertida, nunca tinha pensado
nessas doenças dessa forma”. E.V.C - aluno da 6ª série.
“Adorei as pesquisas pude ser dona do meu conhecimento, elaborei as respostas de
maneira que me ajudaram a compreender mais o conteúdo, foi muito legal”. S. M.S - aluno da
6ª série. (FIGURA 1 e 2).
FIGURA 1 -Avaliação realizada por um dos alunos sobre as atividades
desenvolvidas com o conteúdo enteroparasitoses.
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FIGURA 3 – Avaliação realizada por outro aluno sobre as atividades
desenvolvidas com o conteúdo enteroparasitoses.
Como forma de verificação e fixação do conteúdo enteroparasitose realizamos uma
atividade final um Jogo Parasitológico, composto de dois dados; um com as ilustrações dos
parasitos e o outro com as perguntas (o que é, o que causa, como transmite o que fazer para
evitar). (FIGURAS 4, 5, 6, 7 e 8).
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Figura 4 – Modelo do jogo
Foto: AQUILES, L., 2011.
Figura 5 – Faces do dado Figura 6 – Faces de dado Foto: AQUILES, L., 2011 Foto: AQUILES, L., 2011
Figura 7 – Faces de dado Figura 8 – Perguntas
Foto: AQUILES, L., 2011. Foto: AQUILES, L., 2011.
As perguntas coringas poderiam ser sorteadas por qualquer uma das equipes que
quiserem aumentar a sua pontuação. O jogo seguiu as seguintes regras:
A turma dividida em A e B;
• Sorteou-se qual lado dará inicio ao jogo;• Lançou-se os dados tanto das imagens quanto o das perguntas;
Obs.: as respostas para as perguntas foramser dadas de acordo com o parasito selecionado no lançamento do dado das imagens.
• As perguntas coringas foram usadas em caso de empate.(QUADRO 3).• O critério de pontuação foi de um ponto para cada resposta correta.
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PERGUNTAS CORINGAS
1- Que vermes intestinais eram responsáveis pela doença do personagem Jeca Tatu?
2- Cite a parasitose intestinal que poderá ser evitada, em cada um dos casos: a) se não comermos carne crua de porco; b) se não andarmos descalços.
3- Em relação ao amarelão responda:a) Que vermes provocam essa doença?b) Porque as pessoas contaminadas pelo verme podem ficar
anêmicas?
4- Onde vivem as lombrigas adultas?
5- Essa afirmação está correta: “Para ajudar a prevenir a cisticercose é importante tomar água tratada e não comer verduras e frutas mal lavadas”. Justifique:
QUADRO 3 – Perguntas coringas do Jogo Parasitológico de Enteroparasitos.
Os alunos participaram ativamente do jogo parasitológico. (FIGURAS 9, 10 e 11).
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Figura 9 – Alunos jogandoFoto: AQUILES, L., 2011.
Figura 10 – Alunos jogandoFoto: AQUILES, L., 2011. Figura 11 – Jogo: Perguntas Coringas
Foto: AQUILES, L., 2011
Constatou-se que todas as atividades propostas inclusive as lúdicas
atingiram seus objetivos, sendo que o conteúdo teórico “enteroparasitos”
quando relacionado com a prática propicia uma melhor apreensão por parte
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dos alunos, verificando-se um aprendizado real, significativo e não apenas
uma reprodução de teorias prontas e acabadas.
5 Conclusão
A unidade didática desenvolvida sobre parasitos intestinais constou de várias
atividades sendo que algumas delas foram relacionadas à pesquisa de dados sobre as
verminoses mais comuns na região e o saneamento básico no município de Castro.
Com esses resultados os alunos puderam construir as etapas do processo de ensino-
aprendizagem no que diz respeito ao tema tratado.
Um ponto relevante observado no decorrer dessas atividades foi à percepção
dos escolares que concerne a relação entre teoria/prática, causa/efeito que envolve os
conceitos ensinados, uma vez que conseguiram refletir se os dados coletados nas
pesquisas comprovavam ou não a maior ou menor incidência das verminoses em
Castro/PR. Além disso, constataram a necessidade de educação em saúde para que
possam ter uma melhor qualidade de vida.
Acreditamos que a utilização de novas práticas educativas, dentre as quais se
destaca o uso de estratégias de ensino diversificadas - como a realizada por esse
trabalho - possam auxiliar na superação dos obstáculos recorrentes no ensino de
Ciências.
Quanto às atividades envolvendo o jogo, pudemos observar que a presença do
lúdico nas práticas docentes faz com que os alunos sejam estimulados a participar
mais da dinâmica de sala de aula, bem como se apropriem melhor dos que está sendo
ensinado.
Nesse sentido, essas atividades, em especial o Jogo Didático sobre
enteroparasitose, foco deste estudo como meio de fixação do conteúdo apresentado, é
uma alternativa viável e interessante para aprimorar as relações entre
professor/aluno/conhecimento, e foi bem aceito pelos alunos conforme depoimentos.
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A função educativa das atividades diversificadas e o jogo como recurso de
fixação foi facilmente observada durante sua aplicação porque elas favorecem a
aquisição e retenção de conhecimentos em clima de alegria e prazer.
No entanto, há que se observar que essa ferramenta pedagógica deve ser
utilizada como mais um recurso para facilitar o ensino de Ciências, porém não deve
ser a única.
A utilização de diferentes metodologias demonstrada neste artigo contribui
para a ampliação das perspectivas dos professores de Ciências no exercício da
profissão. O trabalho teve por finalidade apresentar atividades diversificadas,
instrumentalizando o professor com alguns exemplos de exercícios que possam
contribuir para a melhoria do ensino e aprendizagem das enteroparasitoses.
6 Referências
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________ L. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. OrientaçõesCurriculares para o Ensino Médio: Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/SEB, 2006.
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CARVALHO. A. M. de P. A pesquisa no ensino, sobre o ensino e sobre a reflexão dos professores sobre seus ensinos IN: Cad.Pesq.n.101 jul.1997, p.153.
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