introdução à computação ubíqua

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1 Introduo Computao UbquaComo sero os computadores do futuro? Os computadores so seguramente uma tecnologia que nos habituamos a associar a uma evoluo muito rpida e permanente. Contudo, a evoluo tecnolgica, nem sempre linear e por vezes h determinados momentos em se reunem as condies no s para fazer mais rpido e mais potente, mas tambm para fazer radicalmente diferente, criando oportunidades completamente novas para um determinada tecnologia. Tal como no passado houve um momento em que um determinada conjugao de avanos tecnolgicos permitiu a evoluo do at ento dominante paradigma

mainframe

para o paradigma do computador pessoal, tambm agora estamos perante um novo momento em que se reunem as condies adequadas para o salto para um novo paradigma computacional. A Computao Ubqua esse novo paradigma e corresponde portanto a uma mudana dos pressupostos mais fundamentais dos Sistemas Informticos, implicando necessariamente uma mudana muito signicativa na nossa relao com as tecnologias de informao. Esta mudana sobretudo marcada pelo transio de um modelo centrado no paradigma do computador pessoal, para um modelo basedo na ubiquidade das tecnologias de informao, na enorme variedade de dispositivos computacionais, pessoais ou no, e na crescente integrao das tecnologias de informao nas mais variadas situaes do quotidiano. Os computadores deixam de ser vistos apenas como ferramenta de produtividade e entretenimento que temos em cima da secretria para passarem a ser uma uma presena constante nos mais variados aspectos das nossas vidas e uma discreta extenso de ns prprios e de todo o ambiente que nos rodeia. Mais do que uma nova tecnologia ou processo, a Computao Ubqua sobretudo uma nova forma de potenciar as tecnologias existentes, renando-as, adaptando-as ou recombinando-as de forma a integrarem novas situaes de uso que seu conjunto redenem o signicado do que um computador e de qual o seu papel no nosso mundo.

1.1 O m da informtica normal ou a era do computador pessoal e do paradigma desktopSe pedssemos a 100 pessoas que nos descrevessem um computador, teramos seguramente cerca de 100 respostas descrevendo uma caixa, provavelmente em tom de cinzento, qual estaria ligado um teclado, um rato e um brilhante ecr a cores. Esta descrio corresponde quilo a que todos ns nos habituamos a pensar como sendo um computador, ou pelo menos um computador dito normal. Esta ideia particular do que um computador est de tal forma impregnada nos nossos pressupostos sobre a informtica que dicil a qualquer um de ns afastarmo-nos muito dela, mesmo quando conscientemente percebemos que ela j no corresponde ao que hoje a realidade da informtica. Explicar o que a computao ubqua implica contextualizar a sua emergncia no mbito da evoluo da Informtica e em particular na entrada numa era ps-desktop. Tal como a conhecemos e habituamos a ver evoluir durante as ltimas dcadas, a Informtica tem sido fortemente marcada pela omnipresena do Computador Pessoal (o vulgar PC) e pelo paradigma desktop que lhe est associado. Quando foi introduzido, o computador pessoal

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foi algo de profundamente revolucionrio. mente em sistemas

mainframe, s estava acessvel a governos ou a grandes empresas.

A informtica, at ento baseada essencialCom

o aparecimento dos PCs comeou a concretizar-se algo que at ento no passava de uma viso para um futuro distante: cada pessoa poder passar a ter o seu prprio computador individual. O PC tornou-se assim no modelo de referncia daquilo o que um computador. Os seus pressupostos e particularidades de operao passaram a constituir um elemento central das competncias, prticas e cultura informtica de vrias geraes, de tal modo que quando pensamos em computadores pensamos imediatamente em computadores pessoais, quando pensamos na utilizao de um computador pensamos numa pessoa sentada a uma secretria com um teclado e um rato e quando pensamos em aplicaes pensamos em programas que so instalados e executados no PC, enquadrados em janelas que podemos mover, fechar, minimizar ou expandir. Esta continua a ser a forma mais comum de pensar o funcionamento dos sistemas informticos, quer para o vulgar utilizador de poucos conhecimentos tcnicos, quer para programadores, Engenheiros informticos, comerciais, formadores, ou outros prossionais ligadas s Tecnologias de Informao. O que as pessoas vem como sendo a informtica, ou pelo menos a informtica normal , corresponde assim no essencial informtica tal como a conhecemos no modelo do computador pessoal. No entanto, a realidade j hoje bem diferente e mesmo tratando-se de uma revoluo tranquila, todos os grandes pressupostos que estiveram na base na computao desktop tm cada vez mais vindo a ser postos em causa, no s levantando novos desaos, mas sobretudo abrindo novas oportunidades para reconsiderar o conceito de computador e o seu papel no nosso quotidiano. computador. Uma nova era da informtica corresponder necessariamente a uma mudana mais disruptiva em que seja revisto todo o conceito do que um

1.2 Novos paradigmas ps-desktopO enquadramento cultural e tcnico associado ao computador pessoal acaba por ser determinante na forma como antevemos o futuro da Informtica. A forma como os pressupostos do paradigma desktop se encontram fortemente enraizados na nossa cultura informtica, limita naturalmente a nossa capacidade de conceber realidades alternativas e acaba tambm por inuenciar a forma como se perspectiva o futuro dos computadores. A evoluo tecnolgica contnua e muito rpida uma ideia de tal forma associada s tecnologias da informao e das comunicaes que assumida quase como sendo uma propriedade intrnseca dessas mesmas tecnologias. Contudo, e numa anlise mais atenta, podemos como o conceito de computador mudou to pouco ao longo das ltimas 2 dcadas, desde o aparecimento do Computador Pessoal. Embora impressionante a muitos nveis, a evoluo da informtica durante esse perodo foi essencialmente no sentido de mais capacidade e a menor preo. Por isso, se perguntamos a algum como que sero os computadores dentro de alguns anos, obteremos facilmente uma resposta povoada de computadores mais rpidos, mais potentes, mais pequenos, e j agora ligados a redes de grande capacidade mesmo que sem os, mas que no fundo correspondero em muito s caractersticas do paradigma desktop. No entanto, e tal como em muitas outras reas tecnolgicas, por vezes atingem-se pontos em que de repente se reunem as condies para ume evoluo mais profunda que pe em causa os principios fundamentais que at ento eram seguidos e que abre portas para uma nova era. Nesta seco vamos ver quais so os factores que esto a proporcionar que isso suceda com a Informtica e quais os novos paradigmas computacionais ps-desktop que esto a emergir como resultado.

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1.2.1 Factores de gerao de novos paradigmasEmbora essas evolues estejam todas fortemente interligadas e sejam por isso difceis de individualizar, h 5 grandes tendncias que importa referir:

Sistemas embebidos e novos materiais de computao:

A Lei de Moore tem A sua

tido um papel marcante na evoluo da informtica nas ltimas dcadas.

origem remonta a uma declarao em 1965 de Gordon Moore, um dos co-fundadores da Intel, que armou ento que a densidade de transstores colocados nos circuitos integrados havia duplicado em cada ano desde que estes haviam sido inventados e previu que essa tendncia se manteria durante os anos seguintes [11]. Esta previso acabaria por se revelar surpreendentemente acertada, tendo tido um forte impacto na expectativa com que hoje esperamos uma torrente contnua de novos produtos electrnicos cada vez mais poderosos, mais pequenos e mais baratos. Contudo, a evoluo ao nvel da capacidade computacional j no signica apenas que o PC da campanha de ano novo vai ser mais rpido do que o PC da campanha de Natal. Signica tambm que hoje podemos ter sistemas computacionais sucientemente poderosos, mas ao mesmo tempo baratos e pequenos, para os podermos integrar em novas situaes de uso onde at agora tal era invivel. Embora imperceptveis maior parte das pessoas, os sistemas embebidos so j h muitos anos parte integrante do nosso quotidiano, sendo que mais de 98% dos processadores existentes em todo o mundo no esto em computadores tradicionais como os PCs mas sim embebidos em produtos to comuns como os electrodomsticos, os automveis, ou os brinquedos de criana. Mais recentemente, a possibilidade de incorporao de circuitos embebidos em novos tipos de materiais, como por exemplo os transistores em papel [5], veio aumentar ainda mais os domnios de aplicao de dispositivos computacionais. Camisolas que medem automaticamente dados vitais [2], ecrs que se podem dobrar e meter no bolso ou botes de controlo que so apenas desenhos na prpria roupa so j muito mais do que co cientca e constituem sinais claros da passagem para um novo patamar. medida que estes sistemas se vo tornando mais ecazes e vo ganhando capacidades de comunicao, todo um novo mundo de potencialidades que se abre. Nesse contexto o recurso escasso j no a capacidade de processamento mas sim a ateno das pessoas e os principais desaos tecnolgicos j no so no hardware mas sim nos sistemas que os integram de forma robusta e espontnea.

Comunicaes ubquas:

Um outro elemento fundamental neste processo a cres-

cente disponibilidade de tecnologias de comunicaes sem os destinadas a pequenos dispositivos. Os ltimos anos assistiram normalizao e posterior disseminao de um conjunto alargado de protocolos de comunicaes em os, que a escalas diferentes, proporcionam as bases para um ambiente em que tudo comunica com tudo o resto. As redes IEEE 802.11 (wi-) so um bom exemplo do tipo de mudana que as redes sem os podem proporcionar. Apresentadas inicialmente como uma mera alternativa utilizao de cabos nos casos em que isso no fosse possvel, so hoje no s isso mas tambm um mecanismo de posicionamento, um meio de criao de redes comunitrias ou um elemento de marketing nos estabelecimentos ou cidades que as oferecem como um servio de convenincia. Esta evoluo tem sido acompanhada por vrias outras tecnologias de rede, desde as de cobertura alargada como o GPRS ou o conjunto de tecnologias 3G, at s de muito curto alcane como as redes Bluetooth ou Zig-Bee. No seu conjunto, estas tecnologias garantem um leque de solues diverso que permite s tecnologias de redes sem os suportar um conjunto de cenrios de aplicao cada vez mais abrangente e poderem ser de facto e cada vez

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mais encaradas como uma tecnologia ubqua.

Novos Sensores:

Uma outra tecnologia cuja ubiquidade crescente so os sensores.

Quer se trate de cmaras de vdeo nas estradas, cmaras fotogrcas nos telemveis, sensores de esforo nas pontes, ou sensores de localizao, como os receptores GPS, temos cada vez mais nossa volta uma panplia de mecanismos que permitem aos sistemas informticos recolher de forma automtica informao sobre eventos e estados do mundo fsico, seja a temperatura, imagens, cheiros, movimento, som ou uma qualquer outra realidade fsica. Esta capacidade, aliada a mecanismos de anlise inteligente de dados, permite que os sistemas informticos possam obter um conhecimento cada mais rico sobre o que se passa no mundo fsico e, em alguns casos, descobrir mesmo realidades que at ento no eram sequer perceptveis aos prprios Humanos. Tudo isto abre a oportunidade para a criao de sistemas informticos que se adaptam ou actuam directamente sobre o ambiente fsico.

Eco-sistema de servios:

Um factor relativamente mais recente mas nem por Exemplos como o

isso de menor impacto a emergncia de um conjunto muito vasto de servios disponveis via Web cuja concepo assumidamente aberta. Flickr, o YouTube, o Facebook, o Twiiter ou o Google Maps, entre muitos outros, baseiam a sua estratgia na facilidade de acesso aos dados que gerem, suportando vrios APIs que lhes permitem estar disponveis de muitas formas diferentes e mesmo integrar a funcionalidade oferecida por outros servios. Isto proporciona um eco-sistema de servios sobre os quais possvel criar muitas novas aplicaes sem necessidade de desenvolver todos os elementos do sistema.

Cultura digital:

A crescente adopo e mesmo dependncia em relao s tec-

nologias de informao permite tambm uma presena cada vez mais constante no quotidiano das pessoas, proporcionando o surgimento de novos cenrios de utilizao at h pouco inimaginveis. Nesse contexto de presena quotidiana, a inovao j no surge apenas da inovao tecnolgica mas tambm e cada vez mais da inovao social que resulta das novas formas de apropriao da tecnologia que vo surgindo como fruto dessa mesma presena. No seu conjunto, estas mudanas proporcionam as condies para uma evoluo disruptiva do conceito de informtica. medida que os seus efeitos se vo fazendo sentir cada vez, o contexto tecnolgico e social para a concepo de sistemas informticas vai-se afastando cada vez mais afastado do contexto e dos pressupostos que deram origem ao modelo do tradicional computador de secretria. Isto no s coloca em causa o papel do paradigma desktop como paradigma central da nossa relao com os computadores, como obriga a explorar abordagens radicalmente distintas que sejam capazes de tirar o mximo proveito das potencialidades oferecidas por esta nova realidade. As mudanas apresentadas so muito mais do que simples avanos tecnolgicos e no seu conjunto daro seguramente origem a formas de pensar e organizar os sistemas informticos radicalmente diferentes daquelas a que estamos habituados. paradigmas. Nesta seco sero descritos alguns desses novos

1.2.2 Computao MvelA Computao Mvel, nas suas vrias vertentes, uma consequncia evidente das evolues tecnolgicas ocorridas desde os anos 90, mas sobretudo desde o incio deste sculo. A possibilidade de incluir cada vez mais capacidade computacional em pequenos dispositivos

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de bolso e a crescente disponibilidade de redes sem os proporcionaram as condies de base para que os computadores deixassem de ser apenas peas de secretria e pudessem passar a acompanhar-nos para onde quer que fossemos. A evoluo nos dispositivos de computao ser porventura a mais notvel de todas essas evolues, e tambm, junto do grande pblico, a sua face mais visvel. Qualquer pessoa que nos ltimos anos j tenha tido mais do que um telemvel, PDA ou PC porttil seguramente que ter sentido esta evoluo de uma forma muito mais concreta do que seria possvel descrever aqui. De certa forma pode mesmo dizer-se que esta evoluo tem tido um peso excessivo na percepo e expectativas dos utilizadores, tendo-se disseminado um pouco a ideia de que o grande objectivo de um PDA ou Smartphone deveria ser conseguir suportar as mesmas funes que um qualquer computador de secretria. Uma outra rea cuja evoluo tem sido crucial na promoo do suporte mobilidade so as redes sem os. Tecnologias como o GPRS, o Wi-Fi ou o UMTS tem um potencial to vasto que dicilmente deixaro de ser um sucesso e de ter um forte impacto na oferta de servios para utilizadores mveis. Nesta rea, a evoluo tem sido um pouco mais lenta, embora, por vezes, mais por razes de mercado do que de tecnologia. Contudo, o crescente amadurecimento das tecnologias e dos mercados tem tido um efeito muito positivo na oferta de servios. Outras tecnologias mais vocacionadas para a comunicao a curta distncia, como o bluetooth, proporcionam novas oportunidades de interaco espontnea entre dispositivos prximos e so potenciadoras de servios fortemente situados. Para alm destas oportunidades abertas pela evoluo tecnolgica, h tambm em termos de contexto um enquadramento muito favorvel explorao de novos mercados e novos servios proporcionados pela mobilidade. Para muitas empresas, a mobilidade hoje vista como um importante factor diferenciador e uma vantagem competitiva importante nos seus processos ou mesmo nos seus modelos de negcio. O sector bancrio por exemplo, apostou fortemente nessa rea, criando sistemas multi-canal que permitem aos seus clientes o acesso via web, SMS, voz, ou aplicaes mveis. Estes investimentos foram feitos na perspectiva de que isso iria permitir uma maior personalizao dos servios e, portanto, uma maior delizao dos clientes, ao mesmo tempo que permitira uma reduo dos custos com as agncias e a explorao de modelos mais rentveis. Em organizaes em que os seus colaboradores executam uma signicativa parte da sua actividade fora das instalaes da organizao, a computao mvel tambm se revelou uma ferramente muito importante na otimizao de processos. Para alm de permitirem o acesso remoto a dados operacionais, e assim a execuo de operaes at ento s possveis no escritrio, os sistemas mveis vieram tambm possibilitar alteraes signicativas nos prpios processos de negcio, criando ciclos de gesto mais simplicados e muito mais ecientes. No por isso surpreendente que aquilo que se normalmente se designa

workforce automation

tenha sido uma das principais reas de sucesso dos sistemas mveis, pois permite que os processos sejam substancialmente mais rpidos e baratos com ganhos evidentes ao nvel da produtividade. A Computao Mvel pode tambm permitir a informatizao de processos que at ento no eram passveis de serem suportadas por ferramentas informticas, conseguindo assim dar origem a novas fontes de valor para as empresas. Imagine-se, por exemplo, a utilizao de sistemas mveis num restaurante para processar os pedidos dos clientes. Esse sistema permitir sem dvida optimizar processos j existentes, possibilitando, por exemplo, que a encomenda chegue mais depressa cozinha e consequentemente a comida chegue mais depressa ao cliente, mas vai permitir tambm que se faam coisas que at ento no eram sequer possveis. Podem-se identicar padres de pedidos como forma de optimizar a gesto de stocks, pode-se optimizar a distribuio de esforo pelos vrios funcionrios, ou

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pode mesmo fazer-se uma gesto dinmica do menu, em funo dos stocks existentes, do nvel de ocupao do restaurante, ou das horas do dia. Tudo isto pode ser transformado em lgica de negcio e acabar por gerar um valor que vai muito alm da simples execuo mais rpida dos pedidos. Tambm do ponto de vista dos operadores mveis h uma forte aposta no mercado dos servios de dados, j que esta vista como a melhor alternativa para aumentar os lucros. Num mercado como o dos telemveis, em que a taxa de penetrao j to elevada, difcil conseguir aumentos de receitas custa de novos clientes. A nica alternativa para os operadores poderem manter os seus fortes ritmos de crescimento deixa assim de ser a conquista de novos clientes e passa a ser o aumento das vendas a cada cliente, o chamado ARPU (

Average revenue per user ).

Uma das possibilidade para o conseguir fazer as

pessoas falar mais, mas isso por si s no garante o crescimento esperado, sobretudo porque implica quase sempre descidas nos preos das chamadas. A alternativa ento vender novos servios, e aqui que entram os servios de valor acrescentado e a chamada Internet mvel j que estes tm um grande potencial de criar novas utilizaes e de gerar por isso novas receitas.

1.2.2.1 Os desaos fundamentais da mobilidadeUma das questes centrais da computao mvel a identicao dos desaos fundamentais que o suporte mobilidade introduz no desenvolvimento dos sistemas informticos. Esta questo da identicao dos desaos fundamentais da computao mvel foi abordada por diversos autores [4, 14, 12, 6], em especial nos anos 90 quando se tentava denir o mbito e enquadramento da computao mvel enquanto rea cientca. Seguindo uma estrutura semelhante utilizada por Forman em [4], podemos agrupar os grandes desaos da computao mvel ento identicados em torno de trs caractersticas fundamentais: A dinmica introduzida pela mobilidade, a utilizao de redes sem os e as necessidades de portabilidade associadas aos dispositivos mveis.

A dinmica introduzida pela mobilidade:

Nos convencionais sistemas de PC a impressora

de secretria, os atributos que caracterizam o seu ambiente operacional so essencialmente estticos, tal como o conjunto de recursos utilizados, e.g. ou o servidor de cheiros. De uma forma geral, o pressuposto que esse ambiente operacional do sistema, embora possa ir mudando, muda a um ritmo sucientemente lento para que o processo de adaptao seja gerido manualmente. Assume-se que o ritmo de alteraes no signicativo comparativamente ao tempo de vida das aplicaes. por isso com alguma naturalidade que se espera que as aplicaes sejam fechadas, ou mesmo que todo o sistema seja reiniciado, de cada vez que seja necessrio proceder a alguma alterao na congurao do sistema. Pelo contrrio, no caso de um sistema mvel o ambiente operacional encontra-se constantemente em mudana devido precisamente s mudanas de local de funcionamento, o que pe em causa um dos pressupostos bsicos do modelo desktop. O sistema deixa de poder assumir que determinado recurso (uma impressora, uma ligao de rede de rea local ou um servidor) estar sempre disponvel e ter de acompanhar permanentemente a evoluo do seu ambiente operacional como forma de descobrir novos recursos que quem disponveis e adaptar-se s caractersticas de cada novo ambiente. A simples ideia de ter de re-iniciar o sistema s porque se alterou algum aspecto do ambiente operacional torna-se algo impensvel, exigindo por isso solues radicalmente diferentes para a identicao, seleco e congurao dos recursos que possam existir em cada novo ambiente. Um bom exemplo de como os requisitos da

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mobilidade, e nesse caso concreto o advento do wi-, veio implicar alteraes nos sistemas informticos, a forma como os sistemas operativos comearam a permitir automatizar o processo de ligao a uma rede sem os. Algo que anteriormente era considerado um evento to raro que poderia implicar complexas conguraes e uma reiniciao do sistema, pode agora ser feito sem qualquer interveno do utilizador. Esta necessidade de adaptao a um ambiente dinmico estende-se s aplicaes, j que algumas das caractersticas do ambiente operacional podem ter uma inuncia muito forte no funcionamento das mesmas, como por exemplo, a existncia ou no de ligaes de rede, a natureza dessas ligaes, o tamanho do ecr disponvel, e os servios disponveis na proximidade. medida que o sistema se move, as aplicaes tm de ter a capacidade de localizar, seleccionar e interagir com novos servidores que sejam mais adequados nova localizao.

A utilizao de redes sem os:

As consequncias para o sistema resultantes da

utilizao de redes sem os so provavelmente as menos evidentes, pois, partida, poderia pensar-se que o facto de os dados circularem sobre um meio de transmisso que por acaso no utiliza os no deveria ter qualquer efeito ao nvel do desenvolvimento das aplicaes. Contudo, existem diversas caractersticas particulares das Em primeiro lugar, as ligaes redes sem os que fazem com que assim no seja.

sem os so inerentemente menos veis do que as redes de cabos, originando taxas de erro muito superiores. Isto deve-se essencialmente s caractersticas do meio que sensvel a diversos factores de erro normalmente mais reduzidos, ou mesmo inexistentes, nas redes de cabo, como sejam, por exemplo, interferncias entre redes, rudo, ou reexes de sinal. Tudo isto faz com que as ligaes em redes sem os sejam muitas vezes intermitentes e muito variveis em termos de largura de banda, desempenho e abilidade. Em segundo lugar, as ligaes sem os so disponibilizadas por redes cuja cobertura no universal. Em muitos casos as redes so construdas para cobrir apenas uma zona em particular, mas mesmo no caso das redes cuja cobertura suposto ser muito extensa, por exemplo um pas inteiro no caso dos operadores celulares, existem sempre zonas para as quais no existe cobertura, sejam zonas rurais isoladas ou um parque de estacionamento subterrneo. O que isto signica que existe uma forte probabilidade de um utilizador mvel ter de passar por locais onde essa cobertura no exista. As aplicaes mveis tm por isso de ser capazes de lidar com naturalidade com a forte possibilidade de carem desligadas das entidades remotas com as quais precisam de estabelecer comunicao. Essas faltas de ligao podero ser por vezes muito curtas, mas podem ocorrer com alguma frequncia. Uma outra caracterstica relacionada com a anterior o facto de poderem existir diversas redes mais ou menos sobrepostas, devendo o dispositivo ser capaz de dinamicamente ir seleccionando uma das redes disponveis. sistema. Alm disso, essa seleco poder ter em conta factores to diversos como os custos, o tipo de servios suportados, ou as necessidades actuais do Esta heterogeneidade tambm tem importantes implicaes para as aplicaes mveis. A primeira a necessidade de operar sobre condies muito diversas de ligao rede. Uma aplicao tanto pode dispor num determinado momento de uma ligao com grande largura de banda e latncia curta, como pouco depois ver-se confrontada com uma outra ligao de largura de banda muito reduzida e pouco depois car mesmo durante algum tempo sem ligao nenhuma. Para poder lidar com estas variaes necessrio que os sistemas mveis tenham alguma possibilidade de acompanhar a disponibilidade dos servios de rede e de reagir de forma adequada. Por exemplo, um programa de correio electrnico pode adiar durante algum tempo o envio de uma mensagem no urgente at que existe uma ligao a uma rede de custo

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mais reduzido e maior largura de banda. Uma outra consequncia da utilizao de redes sem os a existncia de maiores riscos em termos de segurana, uma vez que o meio partilhado entre todos e por isso mais susceptvel a ataques diversos. Isto no signica que as redes cabladas so seguras e as redes sem os inseguras, mas apenas que no caso de uma rede sem os h um conjunto mais alargado de riscos para os quais necessrio cuidados especcos. Finalmente, as redes sem os suportam uma largura de banda muito reduzida em comparao com a largura de banda suportada pelas redes cabladas. Isso resulta em parte das caractersticas de transmisso do meio e indirectamente tambm consequncia do facto deste ser muito sensvel a interferncias, obrigando por isso a protocolos mais conservadores na vericao de erros. Os sistemas mveis devem por isso ser desenhados de forma a no implicarem a necessidade de transferncia de grandes quantidades de informao. As implicaes do uso de redes sem os podem portanto resumir-se como sendo a forte susceptibilidade do dispositivo car sem qualquer ligao durante alguns perodos, a reduzida largura de banda, os riscos acrescidos de segurana e a existncia de condies de ligao muito variveis que obrigam a que as aplicaes tenham um boa capacidade de adaptao.

A necessidade de portabilidade:

A necessidade de poder transportar facilmente

os dispositivos mveis algo que tem implicaes bvias no que se refere miniaturizao dos dispositivos. No entanto, para alm dos desaos tcnicos relacionados com o desenvolvimento de hardware cada vez mais pequeno e simultaneamente mais poderoso, existem implicaes importantes no prprio desenvolvimento das aplicaes mveis. A primeira consequncia o facto dos elementos computacionais mveis Num serem mais limitados em termos de recursos do que os elementos estticos.

dispositivo computacional cujos requisitos bsicos incluam a portabilidade, haver sempre menos memria, menos disco, um processador mais simples e um ecr mais pequeno do que haver num sistema correspondente para o qual a portabilidade no seja um requisito. Assim, as aplicaes desenvolvidas para dispositivo mveis so normalmente feitas com muito cuidado no que se refere ao espao ocupado no sistema ou ao desempenho dos algoritmos utilizados. Este dever ser sempre calculado tendo em conta as caractersticas prprias do sistema ao qual se destina a aplicao. A interface com o utilizador outra rea que fortemente afectada pelas limitaes dos pequenos dispositivos, onde o ecr e o teclado, a existir, so normalmente muito reduzidos, obrigando por isso ao desenvolvimento de solues capazes de optimizar ao mximo os mecanismos de interaco disponveis. Uma outra consequncia importante da portabilidade a dependncia de uma fonte de energia nita e normalmente bastante limitada. Este aspecto particularmente importante na medida em que a tecnologia das baterias no evolui ao mesmo ritmo que a tecnologia informtica, pelo que as perspectivas de grande evolues nesta rea so muito reduzidas, pelo menos no curto ou mdio prazo. Pelo contrrio, a rpida evoluo ao nvel das tecnologias utilizadas no desenvolvimento de dispositivos, permite, por exemplo processadores cada vez mais rpidos mas tambm mais consumidores de energia. O mesmo se aplica cada vez maior utilizao de redes sem os, tambm ela causadora de fortes consumos de energia. Para poder lidar com esta caracterstica da mobilidade, os sistemas mveis tm de ser capazes de gerir ecientemente a energia disponvel recorrendo a todos os mecanismos de poupana que possam ser usados. Mesmo as aplicaes deveriam ter alguma sensibilidade poupana de energia, utilizando, por exemplo, protocolos de comunicao que minimizem o nmero de vezes que a rede sem os precisa de ser utilizada. Finalmente o facto de os dispositivos serem pequenos e

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fceis de transportar tem como efeito secundrio que tambm sejam mais fceis de perder, de se danicarem ou de serem alvo de roubos. Esta caracterstica implica que os sistemas mveis devam ser capazes de lidar com este risco acrescido, atravs nomeadamente da sincronizao frequente dos seus dados com a sua infra-estrutura de funcionamento. De uma forma mais genrica, o grande desao da mobilidade essencialmente a necessidade de suportar a adaptao s mudanas que a existncia de mobilidade origina no ambiente computacional das aplicaes. Num inuente artigo de 1994, Randy Katz da Universidade da Califrnia em Berkeley resumia da seguinte forma a importncia do suporte adaptao:

A questo fundamental no tanto o facto de o meio de comunicao ser sem os mas sim que o sistema seja capaz de continuar a fornecer informao num ambiente que, precisamente por o sistema ser mvel, se encontra em constante mudana. [9] A mudana pois uma das caractersticas fundamentais do ambiente computacional de um sistema mvel, onde natural que as aplicaes tenham de enfrentar variaes rpidas, imprevisveis e muito signicativas num conjunto de elementos fundamentais do seu ambiente operacional, como, por exemplo, a qualidade de servio da rede, a sua localizao, o custo de utilizao da rede, a energia disponvel nos dispositivos ou os recursos disponveis [3]. Todos estes factores podem afectar fortemente a capacidade de um sistema desempenhar determinadas funes e tm por isso de ser devidamente considerados no desenvolvimento de um sistema mvel. Pelo contrrio, aplicaes desenhadas para o ambiente desktop so tipicamente criadas com base no pressuposto de que o seu ambiente operacional algo que no ir sofrer alteraes frequentes ao longo do tempo de execuo das mesmas. Este na maior parte das vezes um pressuposto razovel para o ambiente desktop j que de facto as alteraes no so frequentes. Contudo, tal signica que essas aplicaes no estaro preparadas para funcionar de forma adequada no ambiente extremamente dinmico originado pela mobilidade em que a mudana um factor fundamental. Para conseguir operar de forma efectiva perante mudanas permanentes, um sistema mvel dever ento ser capaz de se adaptar s mudanas com que se pode deparar, ou seja, dever ter um comportamento reactivo que lhe permita adaptar as suas aces em resposta s alteraes no seu ambiente operacional.

1.2.2.2 A mobilidade como novo paradigmaUma questo pertinente que se coloca a propsito dos desaos do suporte mobilidade em sistemas informticos a de saber at que ponto esses desaos so intrnsecos aos cenrios de mobilidade ou resultam apenas de limitaes circunstanciais da tecnologia actual. Embora seja evidente que o suporte mobilidade levanta um conjunto signicativo de novos desaos, tambm se pode argumentar que muitos desses problemas seriam meramente transitrios, resultando portanto de limitaes circunstanciais das tecnologias envolvidas. Assim sendo, nada de fundamental teria de ser mudado com a introduo da mobilidade e bastaria que a evoluo tecnolgica permitisse que as plataformas mveis se fossem aproximando do nvel de desenvolvimento das plataformas desktop. Esta uma questo importante pois dela depende em boa parte a perspectiva com se ir abordar o desenvolvimento de sistemas mveis. Se se aceitar a ideia das limitaes transitrias, ento a tendncia ser para reutilizar nos sistemas mveis solues prximas das utilizadas noutros sistemas, na expectativa de que no curto prazo qualquer limitao existente possa ser ultrapassada pela evoluo da tecnologia. Se, pelo contrrio, se se

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considerar que estas limitaes iro sempre existir, ento a tendncia ser para apostar em abordagens novas e mais especcas que sejam capazes de dar resposta adequada s caractersticas prprias dos cenrios de mobilidade. Na primeira viso, os sistemas mveis surgem sobretudo como um parente pobre dos computadores pessoais, j que no conseguem suportar to bem todas as funcionalidades suportada pelos seus correspondentes desktop. Slogans populares como

Where, Any Media

Any Time, Any

resumem bem essa ideia geral de um cenrio em que algum equipado

com algum tipo de dispositivo porttil e ligado a uma rede sem os, poderia ir para onde lhe fosse mais conveniente e mesmo assim continuar a aceder a servios que at ai s lhe estariam disponveis em frente a um computador pessoal. Muitas das aplicaes disponibilizadas em ambiente mvel assumem uma viso de que a computao mvel essencialmente uma forma de tornarmos o nosso PC um pouco mais pequeno e substituir a ligao por cabo por uma ligao sem os, de forma a podermos levar esse PC para qualquer lado, algo que se pode designar genericamente pela ideia do

move .

desktop on the

Esta abordagem centra-se sobretudo na replicao em cenrios de mobilidade de

funcionalidades at ento s disponveis nos computadores de secretria e contribui para que a generalidade das actuais aplicaes mveis ainda sejam na sua essncia aplicaes muito prximas do paradigma desktop, em particular aquelas que se baseiam em portteis ou mesmo em PDAs. A grande diferena apenas o facto de j no estarmos presos a um local especco para poder beneciar dos servios de informao, mas todo o paradigma de computao e de interaco com o utilizador continua essencialmente o mesmo. De acordo com esta viso, a mobilidade abordada essencialmente do ponto de vista dos muitos problemas e desaos que a sua introduo origina no desenvolvimento ou funcionamento dos sistemas informticos e o grande objectivo da investigao e desenvolvimento na rea da computao mvel seria o de aproximar, tanto quanto possvel, a experincia de utilizao em ambientes mveis proporcionada pelo tradicional ambiente de computao desktop, ultrapassando assim as muitas limitaes que a mobilidade impe ao funcionamento dos sistemas informticos. Se verdade que esse modelo de acesso em qualquer local aos nossos dados, servios e aplicaes atraente e ser um mercado muito vasto, tambm igualmente verdade que se pode pensar na mobilidade no apenas na perspectiva das suas limitaes mas sobretudo do ponto de vista das novas oportunidades que proporciona, assumindo logo partida que a explorao dessas oportunidades pode implicar a utilizao de paradigmas de computao radicalmente diferentes dos utilizados no modelo desktop. Assim, a computao mvel deixa de ser vista apenas como uma forma de conseguir disponibilizar uma verso para sistemas mveis, e portanto necessariamente empobrecida, das aplicaes anteriormente disponveis em desktop e passa a ser pensada sobretudo na perspectiva das novas aplicaes que poder originar. O facto de cada vez termos no nosso meio mais dispositivos computacionais e de cada vez mais esses dispositivos serem capazes de comunicar entre si, origina cenrios de utilizao que no se assemelham em nada a qualquer aplicao que existisse no ambiente desktop. Um bom exemplo disso mesmo so as aplicaes baseadas na localizao, cuja essncia resulta precisamente da mobilidade dos utilizadores entre vrios locais e que no teria por isso nenhum correspondente no modelo desktop. O suporte mobilidade implica claramente abordagens especcas diferentes das tradicionalmente usadas nos computadores pessoais, seja ao nvel da interaco com o utilizador, na gesto das comunicaes, ou na necessidade de poupar energia. por isso evidente que a Computao Mvel, quer pelas novas possibilidades que abre, quer pelas implicaes que introduz a vrios nveis, signica claramente um primeiro passo para l da era do PC, criando novos desaos na concepo de sistemas informticos e em particular colocando

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em causa alguns dos pressupostos de base do paradigma desktop.

Contudo, na sua es-

sncia podemos descrever a computao mvel como sendo uma rea tecnolgica nova, com desaos prprios, mas em que o paradigma de base continua a ser muito prximo do paradigma desktop. Apesar das muitas oportunidades que proporciona, a computao mvel no dar origem a paradigmas verdadeiramente diferentes enquanto as pessoas continuarem a ver os dispositivos mveis como mini-desktops, as aplicaes como programas que executam num dispositivo e o ambiente computacional como um espao virtual onde se entra para desempenhar determinadas tarefas e do qual se sai assim que essas tarefas estejam terminadas [1]. A maior parte dos sistemas mveis continuam a seguir no essencial o paradigma desktop. Esse paradigma faz de tal maneira parte da forma como pensamos nas tecnologias de informao que mesmo os sistemas mveis so normalmente encarados como uma forma de podermos continuar a fazer em qualquer lado o que at ento apenas era possvel em frente ao computador de secretria.

1.2.3 Mark Weiser a Computao como tecnologia ubquaA designao Computao Ubqua teve origem no incio dos anos 90, quando Mark Weiser e a sua equipa em Xerox Parc usaram pela primeira vez o termo para designar um novo paradigma para a relao das pessoas com a informtica em que a tecnologia passaria a estar fortemente embebida nas prticas das pessoas sem ser necessariamente o foco da sua ateno. Num conjunto de artigos publicados na altura [16, 17, 18], Mark Weiser apresentou as grandes ideias que viriam a constituir a essncia da viso da Computao Ubqua, sendo por isso frequentemente designado como o pai da Computao Ubqua. O seu falecimento em 1999, precisamente na altura em que a Computao Ubqua se armava como rea cientca, contribui ainda mais para manter at hoje um certa urea visionria em torna das suas ideias apresentados no inicio dos anos 90. A primeira dessas ideias consistia na constatao de que o nmero de dispositivos computacionais por pessoa vinha aumentando consistentemente ao longo dos anos e que isso seria um elemento marcante na denio das grandes eras da informtica. Assim, na era dos

mainframes, para um nico computador existiam muitas pessoas que de forma partil-

hado iriam fazer uso dos seus servios. Com a era do computador pessoal, comeou a ser possvel uma nica pessoa poder ter um computador s para si, algo que foi absolutamente revolcuinrio e que proporcionou um forte mudano de paradigma no que se refere ao papel dos computadores na sociedade. Essa evoluo manteve-se, e actualmente, no s h muitas mais pessoas com um computador s para si, como cada vez mais h vrios computadores por uma nica pessoa. Esta passagem para um cenrio de mltiplos computadores por pessoa, marcaria assim o inicio de um novo paradigma que teria de ser adequado s circunstncias dessa nova realidade. Em vez de um mundo em que os computadores estariam apenas disponveis na forma de uma caixa em cima da secretria, Mark Weiser antecipava um mundo em que a computao estaria disponvel um pouco por todo o lado e que por cada pessoa haveria no um mas potencialmente vrias centenas ou milhares de computadores. Estes podem aparecer sob formas to diversas como uma telemvel, um computador de bordo no carro, uma consola de jogos ou um impressora multi-funes. No contexto da utilizao dos espaos dirios de trabalho, da rua ou da casa, uma pessoa poderia estar continuamente a interagir atravs de redes sem os com uma mirade de pequenos dispositivos integrados das mais diversas formas nesses espaos fsicos. Para poder suportar prticas e situaes de uso muito diversas, a computao seria baseada em dispositivos de formatos e escalas igualmente diversos, nomeadamente os aces partilhadas, os

pads,

boards,

quadros de grandes dimenses para inter-

dispositivos do tipo cadernos para anotaes e escrita, e os

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tabs,

pequenos dispositivos computacionais que podiam existir em grandes quantidades

para suportar funes especcas e interaces muito bsicas. A segunda ideia forte da computao ubqua, tal como foi apresentado por Mark Weiser, a integrao da computao com os espaos fsicos. Esta integrao com o mundo real insere-se tambm na ideia de que os computadores no deveriam implicar uma alienao em relao aos espaos em que vivemos. Mark Weiser faz mesmo uma comparao com a realidade virtual apontada-a como o extremo oposto da Computao Ubqua na medida em que tenta substituir os estimulos sensoriais do mundo real por estimulos gerados por computador. Pelo contrrio, na Computao Ubqua, a realidade do mundo fsico deveria tanto quanto possvel estar integrada com os servios e aplicaes proporcionados pelos sistemas informticos. Isto implicaria a capacidade dos sistemas informticos terem formas de adquirir informao sobre o que se passa no mundo real e de acturam nesse mesmo mundo real. A terceira ideia fundamental da Computao Ubqua a de que essa forte integrao dos computadores e das comunicaes no nosso ambiente fsico e nas nossas actividades deveria ser capaz de originar modelos de utilizao to naturais que nem precisaramos de ter conscincia da sua presena. No fundo desta ideia que surge o conceito da computao como tecnologia ubqua, algo que no fundo assenta em dois principios aparentemente contraditrios. O primeira o de que os computadores vo estar por todo o lado, e de tal maneira disseminados que, onde quer que estejamos, poderemos estar sempre a beneciar dos servios de uma imensido de dispositivos computacionais. O segunda principio que toda essa infra-estrutura, toda essa imensido de pequenos dispositivos computacionais estaria de tal maneira integrada no nosso ambiente e nas nossas prticas habituais que se tornaria praticamente invisvel. Esta ideia est bem resumida numa das suas citaes mais conhecidas, em que Mark Weiser refere:

As tecnologias mais relevantes so aquelas que j desaparecem. J esto de tal modo embebidas nas prticas quotidianas que j no se distinguem dessas mesmas prticas. [16] Esta ideia de desaparecimento ou invisibilidade expressa por Mark Weiser no signica necessariamente que os dispositivos estejam sicamente escondidos ou invisveis, ou mesmo que no saibamos que eles esto l. Signica apenas que normalmente no necessitaremos de tomar conscincia da sua presena para tirar proveito das suas funcionalidades, ou seja, poderamos tirar proveito deles mesmo sem serem o foco da nossa ateno. A ideia de que a computao possa ser uma tecnologia ubqua resulta naturalmente do percurso realizado por muitas outras tecnologias que j atingiram essa ubiquidade. So tecnologias que se integraram de tal maneira na forma como vivemos ou trabalhamos que j nem pensamos nelas como sendo tecnologias. Mark weiser refere como exemplo a escrita, algo aparentemente to simples, to disponvel e to basilar na nossa sociedade que dicilmente pensamos nisso como sendo tecnologia, embora todos saibamos no s da sua existncia mas tambm da sua importncia no nosso dia-a-dia. Um outro exemplo, e esse de evoluo mais recente, o caso dos motores. Surgidos com a revoluo industrial eram no incio tudo menos ubquos, j que eram os seus requisitos de instalao que determinavam em larga medida o local de criao das fbricas, a arquitectura das mesmas, e at a organizao do trabalho. Ningum beneciava da energia de um motor sem estar bem consciente Hoje em dia, carregamos num disso, quanto mais no fosse pelo cheiro e pelo rudo.

boto de fechar o vidro do carro, ou no zoom de uma mquina de lmar e, embora no fundo o saibamos, dicilmente nos ocorrer que estamos a utilizar um motor. Considerese por exemplo um carro moderno, e poderemos facilmente estar perante cerca de 40

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motores, desempenhando funes to diversas como abrir o vidro do carro, auxiliar a direco ou a travagem ou proporcionando um sistema de ar condicionado. No entanto, excepo provvel do motor principal, todos os outros so usados sem uma conscincia activa da sua existncia. Da mesma forma, a ubiquidade da computao passaria tambm por os computadores passarem a ser vistos como meras ferramentas para suporte a prticas diversas em vez de serem o verdadeiro foco da ateno, ou seja que as pessoas se pudessem concentrar mais na tarefa e menos na ferramenta. Em complemento a estes principios, Mark Weiser defendeu tambm a ideia de que os computadores se deveriam transformar cada vez mais numa tecnologia calma [19], ou seja uma tecnologia capaz de nos proporcionar um acesso constante a informao sem exigir da nossa parte uma ateno contnua. Os computadores deveriam para tal passar a explorar a periferia da nossa ateno como canal adicional de comunicao. exemplicadas no clssico Estas ideias foram

dangling string,

uma ta pendurada no tecto cuja velocidade

de rotao estava associada ao ritmo de transmisso de informao numa rede Ethernet. Embora simplista, esta ideia foi a precusora do conceito de display de ambiente que ser analisado mais frente. Quando Mark Weiser apresentou a sua viso da Computao Ubqua no inicio dos anos 90, a maioria das ideias propostas eram extremamente futuristas, j que a tecnologia necessria para as suportar era ainda extremamente limitada ou mesmo no existente. Contudo, a grande contribuio do trabalho de Mark Weiser foi precisamente a de ter lanado as bases para uma nova viso para os sistemas informticos, fortemente disruptiva relativamente ao paradigma dominante da computao desktop PC, e sucientemente atraente para estimular toda uma nova gerao de cientistas e engenheiros a explorar novos paradigmas para o papel da informtica na nossa sociedade. Hoje, mais de duas dcadas depois, a tecnologia existente, tanto ao nvel dos dispositivos como das comunicaes, permite j criar muitos dos cenrios ento sonhados, mas a aproximao possibilidade real de concretizao veio tambm revelar a abrangncia e complexidade dos desaos envolvidos, como a abilidade, a robustez, a necessidade de coordenao espontnea entre entidades heterogneas e sobretudo a integrao em prticas sociais. Da mesma forma, tambm veio mostrar que a Computao Ubqua implica muito mais do que tirar proveito da inovao tecnolgica e implica tambm considerar um conjunto muito abrangente de outras consideraes de ordem social, econmica, poltica, ou de privacidade.

1.2.4 Pervasive ComputingO termo computao

pervasive

surgiu em meados dos anos 90, quando a IBM lanou a sua

prpria iniciativa nesta rea. Originalmente, pode dizer-se que existiriam algumas diferenas de foco entre a computao

pervasive

e a computao ubqua. Enquanto que esta

ltima se focava, pelo menos conceptualmente, na ideia da invisibilidade da tecnologia e na emergncia de tecnologias de computao calma, a computao

pervasive

tinha um

foco bastante maior na utilizao de dispositivos mveis e na sua capacidade de interaco espontnea com outros dispositivos e com os espaos fsicos [15, 13, 10]. Numa perspectiva mais literal, poderiamos encarar a computao ubqua como tendo uma tendncia para as questes de Interaco Humano-Computador e para a possibilidade de utilizarmos computadores sem sequer nos apercebermos disso, enquanto que a computao

pervasive

teria

uma maior tendncia para as questes de sistema e para a possibilidade de integrao total entre os nossos dispositivos pessoais e dispositivos existentes no espao nossa volta. Apesar de algumas diferenas que pudessem inicialmente existir nos respectivos focos, ambas as reas tinham muito mais em comum do que aquilo que as distinguia e como resultado natural da evoluo da abrangncia de temas, ambas as vises acabaram por ser integradas,

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sendo hoje quase sempre utilizadas de forma indistinta. No caso concreto do Portugus, o termo Computao Ubqua tem a vantagem adicional de ser muito mais natural do que as possveis tradues de computao designao Computao

Pervasive.

Em-

bora seja cada vez mais comum, sobretudo em textos de origem Brasileira, encontrar a Portuguesa . Numa traduo letra o signicado mais natural seria que se inltra, que penetra; espalhado, difuso; penetrante. Contudo, a traduo para ubquo ou univeral tambm aceitvel pelo que no existe tambm a nvel do nome nenhuma razo de fundo para ter de usar ambas as expresses com sentidos diferentes.

1

Pervasiva, no evidente que essa palavra existe sequer na lngua

1.2.5 Inteligncia AmbienteO termo Inteligncia Ambiente, designado internacionalmente por Ambient Intelligence ou simplesmente AmI, corresponde a uma viso para os sistemas de informao que assenta na ideia de os espaos fsicos em que trabalhamos e vivemos sero capazes de sentir a presena Humana e reagir de forma adequada, fazendo com que as nossas aces nesses espaos sejam mais seguras, mais ecientes, mais informadas, mais confortveis ou simplesmente mais estimulantes. De acordo com esta viso, esses espaos estaro equipados com diversos tipos de sensores, sejam eles de video, audio, localizao, ou quaisquer outros, que conjuntamente com a presena de outros dispositvos computacionais pessoais ou no e redes sem os, permitiro ao sistema perceber as actividades que se esto a desenrolar e agir pro-activamente da forma mais adequada. A Inteligncia Ambiente, como conceito, comeou a emergir no incio deste sculo quando o Information Society and Technology Advisory Group (ISTAG), um grupo de trabalho da Comisso Europeia para a denio das estratgias de inovao na rea das tecnologias e sociedade de informao, publicou uma srie de inuentes relatrios sobre o tpico [7, 8] e incluiu a Inteligncia Ambiente como um dos grandes temas do 6 Programa Quadro do programa IST. A subsequente associao da AmI com as politicas Europeias para a sociedade do conhecimento, tal como denidas no Conselho Europeu de Lisboa em 2000, juntamente como o continuado esforo nanceiro nessa rea no 7 Programa Quadro, contribuiram de forma decisiva para fazer da Inteligncia Ambiente uma rea de investigao muito activa e capaz de mobilizar de forma muito signicativa quer o meio acadmico quer o meio empresarial. Como resultado, nos ltimos 10 anos, esta viso emergiu como uma rea de investigao multi-disciplinar dentro da Computao Ubqua, atraindo um considervel esforo de investigao, nanciamento e ateno pblica. Esse interesse reecte-se tambm no elevado nmero de grupos de investigao em Inteligncia Ambiente e tambm nas muitas conferncias focadas nos tpicos AmI que foram surgindo um pouco por toda a Europa. Outro indicador do grau de sucesso desta rea a crescente emergncia de comunidades mais vocacionadas para reas de aplicao mais especcas com especial destaque para a rea da Sade ou para o apoio ao envelhecimento, tambm designado

Ambient Assisted Living

ou AAL.

Muitas das principais caractersticas da Inteligncia Ambiente so partilhadas com as caractersticas originais da Computao Ubqua, na qual a Inteligncia Ambiente se enquadra de forma natural. Principios como a interaco espontnea, a integraao entre fsico e virtual e formas de interaco mais naturais so partilhadas entre ambas as vises. A Inteligncia Ambiente difere apenas no especial foco que coloca nos interfaces inteligentes que so sensveis aos seus utilizadores. Da mesma forma que a Computao Ubqua sempre se baseou muito na viso de Mark

1

O signicado da palavra pervasivo em http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=23571

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Weiser e na tentativa de levar prtica os princpios por ele propostos, a Inteligncia Ambiente tambm foi sempre fortemente entendida como correspondendo no essencial aos principios apresentados nos relatrios do ISTAG, que assim acabaram por denir em larga medida aquilo que passou a ser considerado como sendo as caractersticas essenciais da Inteligncia Ambiente. Num desses relatrios, numa das passagens mais frequentemente citadas, o ISTAG apresenta da seguinte forma a viso da AmI. : "[...] os Humanos estaro rodeados de interfaces inteligentes suportados por tecnologias de computao e de comunicaes que estaro por todo o lado [...]. A Inteligncia Ambiente [...] est consciente das caractersticas de cada presena Humana e das respectivas personalidades, sendo capaz de assumir as respectivas necessidades e responder de forma inteligente a indicaes de vontade faladas ou gestuais, podendo mesmo iniciar dilogos inteligentes. A Inteligncia Ambiente dever tambm ser no intrusiva, permancendo quase sempre invisivel: ou seja, estar em todo o lado e no entanto na nossa conscincia em lado nenhum, a menos que dela necessitemos. A interaco dever ser relaxante e agradvel para o cidado, e no necessitar de uma curva de aprendizagem signicativa."[8]. Nesta descrio, podemos encontrar referncias quelas que viriam a ser as ideias fundamentais da viso da Inteligncia Ambiente, nomeadamente: a ideia de que as tecnologias de informao iriam induzir uma alterao radical nos espaos em que vivemos; a ideia de tecnologia computacional ligada em rede, e fortemente embebida e disseminada nos objectos e infra-estuturas fsicas; uma viso da interaco como algo que ocorre de forma bastante transparente para as pessoas; a natureza anticipatria e pro-activa do sistema libertando as pessoas da necessidade de controlaram de forma explicita o ambiente; e interfaces inteligentes que sabem interpretar o contexto da sua utilizao, sendo com isso capazes de ser adaptarem no apenas presena de pessoas, mas tambm s situaes, tendo em conta por exemplo a disposio, actividades ou expectativas que as pessoas possam ter num determinado momento. Embora este conjunto de propriedades no seja mandatrio nem esteja especicado em qualquer documento mandatrio, elas acabam por estar implicitas nas agenda de investigao dos grupos de investigao, conferncias e empresas que trabalham nesta rea, sendo por isso um elemento unicador no contexto desta comunidade.

1.3 A era ps-desktopA principal ideia comum aos vrios paradigmas que foram apresentados a da substituio do modelo desktop como paradigma central da nossa relao com os computadores. Essa substituio ocorre num contexto de grande mudana dos prprios sistemas informticos, sendo esses novos paradigmas simultaneamente um reexo e um motor dessa mesma mudana. Importa por isso tambm caracterizar um pouco mais quais podero ser as principais diferenas dos sistemas informticos numa era ps-desktop, independentemente dos paradigmas computacionais que venham a emergir desse novo contexto computacional.

1.3.1 Extrema heterogeneidade na composio dos sistemasA heterogeneidade extrema uma consequncia que resulta directamente da existncia de uma grande diversidade de dispositivos espalhados um pouco por todo o lado. O problema da heterogeneidade no novo, nem surge apenas com a Computao Ubqua, j

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que qualquer sistema distribudo, sobretudo se incluir diversas entidades administrativas e suporte mobilidade, tm de existir algumas preocupaes ao nvel da variedade dos dispositivos que vo ser suportados. Contudo, em cenrios de Computao Ubqua o problema da heterogeneidade assume uma dimenso exacerbada pelo nmero muito mais elevado de dispositivos em causa, pela sua extrema diversidade e pela necessidade de suporte espontaneidade das interaces entre esses dispositivos. Por serem optimizados para determinadas funes, os dispositivos envolvidos num sistema de Computao Ubqua apresentaro grandes diferenas entre si, seja na forma, nas capacidades computacionais, nas dimenses, ou no tipo de rede a que se encontram ligados, mas no nal todos devero poder coordenar as suas actividades em torno dos objectivos do sistema. Nesse cenrio, muitas das abordagens utilizadas para lidar com a heterogeneidade existente nos sistemas actuais, no sero aplicveis.

1.3.2 Sistemas contnuos e auto-organizadosUm sistema de Computao Ubqua dever estar sempre em funcionamento e ser capaz de evoluir e de se auto-organizar continuamente medida que os dispositivos, servios ou utilizadores vo surgindo e desaparecendo. O sistema na verdade uma composio de elementos diversos com contextos operacionais e administrativos que potencialmente tambm podem ser muito distintos. Cada novo elemento que acrescentado tem portanto de integrar este eco-sistema que por sua vez tem de lidar de forma natural com o elevado dinamismo que dai resulta. Quer seja pela movimentao natural das pessoas quer seja por algum tipo de falha, o surgimento e desaparecimento de dispositivos e servios tem de ser encarado como uma circunstncia natural do funcionamento do sistema. As funcionalidades do sistema emergem assim da combinao de dispositivos e servios que vo estando disponveis e podem ir variando com eles, mas o sistema como um todo nunca se desliga. Uma consequncia lateral disto que, em termos administrativos, deixa de ser razovel esperar que exista um nico administrador para todo o sistema. O sistema passa a ser todos os dispositivos locais que devero ser capazes de interagir de forma ocasional, sem necessidade de uma gesto administrativa comum. Tudo isto contrasta fortemente com o modelo actual em que o conceito de sistema passa sobretudo pelo conceito de aplicao que corre num dispositivo. Esse dispositivo pode ser usado quando necessrio, congurado e desligado quando no estiver a ser usado. Um administrador pode tratar de o congurar, denindo as aplicaes a suportar e as respectivas conguraes. Tal como sucedia com a heterogeneidade, a necessidade de lidar com a dinmica do sistema no um problema completamente novo, tendo recebido especial ateno com a generalizao dos computadores portteis. Contudo, em cenrios de Computao Ubqua ela atinge um nvel de tal maneira elevado que implicar solues radicalmente distintas das at agora utilizadas em sistemas distribudos. Num ambiente de Computao Ubqua, questes como a mobilidade de utilizadores, a introduo e remoo dinmica de dispositivos e a forte associao entre as infra-estuturas fsicas e de computao so a norma e no casos para lidar como se fossem situaes excepcionais. Assim, todos os elementos do sistema tem de ser concebidos de forma a permitirem que o sistema se possa auto-organizar, evoluir e re-organizar constantemente em funo dos recursos disponveis em cada momento.

1.3.3 A fuso entre o ambiente fsico e as infra-estruturas computacionaisUm das implicaes mais interessantes da Computao Ubqua a crescente aproximao entre o ambiente fsico em que vivemos e as infra-estruturas computacionais que suportam o mundo virtual dos dados e programas de computador. Actualmente, esses dois mundos,

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o fsico e o virtual, encontram-se no essencial separados.

A forma como um utilizador

pode manipular o mundo virtual restringe-se praticamente utilizao de um teclado e rato, sendo a passagem do mundo virtual para o fsico limitada utilizao dos ecrs dos computadores ou impressoras. A crescente fuso entre ambos ser uma consequncia natural da crescente proliferao de dispositivos computacionais nos espaos fsicos em que vivemos e da sua capacidade de perceber o que se passa nesse meio fsico de forma a poderem proporcionar as funcionalidades mais adequadas a quem neles se encontra. Com os computadores um pouco por todo o lado, mas embebidos no nosso ambiente de forma natural, fcil perceber que da nossa interaco com o ambiente fsico que cada vez mas resultar a nossa interaco com os sistemas informticos. Por outro lado, os prprios sistemas sero cada vez mais concebidos tendo em conta o espao em que vo ser utilizados e o contexto da sua utilizao, levando por isso ideia de que o sistema se destina a um espao e no a um dispositivo. Desta aproximao resulta um cenrio em que ambas as realidades se integraram de tal maneira que o computador passa a ser o ambiente fsico. o espao fsico com todos dispositivos a presentes que assume o estatuto de ambiente computacional e de entidade dinamicamente programvel. Os programas passam assim a ser executados em espaos fsicos especcos e no em espaos virtuais cuja prpria existncia se destina precisamente execuo de software, como sucede actualmente com as aplicaes para PCs.

1.3.4 Localidade de Referncia baseada na proximidadeA localidade de referncia designa genericamente o conjunto de servios ou recursos usados por um sistema num determinado momento. Uma das consequncias importantes da Computao Ubqua ser a cada vez maior importncia da proximidade fsica na denio da localizao de referncia, ou seja cada vez sero mais ricas e intensas as interaces com o ambiente que nos est mais prximo. Repare-se, por exemplo, que num cenrio clssico de computao mvel tal no acontece. Um utilizador mvel pode ir mudando o seu local de utilizao de um sistema sem nunca alterar a sua localidade de referncia, pois pode usar sempre o mesmo dispositivo para aceder aos mesmos servios atravs, por exemplo, da mesma rede UMTS. Deste ponto de vista, a sua localidade de referncia praticamente esttica e muito pouco ou mesmo nada dependente do local onde se encontra. Pelo contrrio, num cenrio de Computao Ubqua passa a existir uma interaco muito forte entre os dispositivos que se encontram prximos, resultante por um lado da fuso com o ambiente fsico e por outro da gerao de funcionalidades proporcionadas pela interaco espontnea entre dispositivos. A localidade de referncia estar assim fortemente associada aos recursos e servios disponveis nas proximidades e ser tambm por isso fortemente varivel em funo da mobilidade dos utilizadores. Uma consequncia importante ao nvel da concepo dos sistemas, e em particular da sua escalabilidade, ter de considerar que medida que um utilizador se afasta de um ambiente, a intensidade das suas interaces com esse ambiente ir necessariamente diminuir. Quando hoje se fala na necessidade de um determinado sistema ser escalvel, o mais certo que esse sistema seja utilizado por vrios milhares ou mesmo milhes de utilizadores, independentemente da localizao destes. Num ambiente de Computao Ubqua, em que podero existir dezenas, centenas ou milhares de dispositivos concentrados num determinado contexto de execuo, as questes de escalabilidade s se podem pr ao nvel local, sendo impensvel que um sistema local, concebido para suportar as interaces dos utilizadores de um espao, pudesse de repente ser utilizado com a mesma intensidade por milhes de utilizadores. Da mesma forma, no seria vivel do ponto de vista de um utilizador, manter o mesmo nvel de interaces com todos os espaos de Computao Ubqua independentemente da sua presena nesses espaos. A

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localidade de referncia pois uma consequncia natural da integrao com o espao fsico, mas tambm um elemento central na escalabilidade de todo o conceito.

1.3.5 Paradigma centrado no utilizadorUma caracterstica fundamental dos paradigmas ps-desktop serem fortemente centrados no utilizador. Como utilizadores de computadores pessoais, -nos muitas vezes difcil perceber at que ponto o computador pessoal uma tecnologia centrada na mquina e no nas pessoas. J estamos habituados a trabalhar segundo as regras impostas pela mquina e adaptamos a nossa forma de trabalho de maneira a podermos utilizar os computadores. Mesmo os que j sentiram enorme frustrao ou mesmo incapacidade na sua utilizao, tendem a reconhecer a sua prpria incompetncia e dicilmente pensaro que tudo deveria ser diferente. Dizer-se que um sistema centrado no utilizador no passa apenas por admitir ou reconhecer a importncia de considerar o utilizador no sistema, mas passa sobretudo por pensar que a forma como utilizamos os sistemas informticos deveria ser radicalmente diferente, de maneira a que toda a gente pudesse reconhecer neles, no s ferramentas teis para a realizao das suas tarefas, mas tambm elementos de valorizao da vida diria, mesmo nos seus aspectos mais mundanos. A mudana de foco da tecnologia para o utilizador por isso muito mais do tentar fazer algo que seja mais agradvel ou simples de utilizar. Num sistema verdadeiramente centrado no utilizador, este no ter sequer de possuir o seu prprio dispositivo, podendo em qualquer altura utilizar um dispositivo que se encontre disponvel e que seja adequada para a tarefa em curso. Os utilizadores sero capazes de interagir com o ambiente, que o computador, de forma natural usando voz, gestos, a manipulao de objectos ou o olhar como formas de interaco. Cmaras, microfones e servios de interpretao estaro disponveis para ajudar a perceber as intenes do utilizador. Um cenrio comum num ambiente deste tipo um utilizador iniciar um actividade num determinado local, de seguida suspender essa actividade porque precisa de se dedicar a uma qualquer outra actividade, e mais tarde retornar actividade inicial, talvez j num local diferente, com outros dispositivos e outros recursos disponveis e mesmo assim ser capaz de recuperar a sua informao e o estado de execuo em que a tarefa se encontrava. Em vez de se considerar essencialmente dispositivos e aplicaes, necessrio passar a considerar como entidades centrais da organizao do sistema a tarefa do utilizador, os dados do utilizador e o contexto de utilizao pelo que a avaliao dos sistemas em contexto real passa tambm a ser um elemento fundamental da concepo de sistemas informticos.

1.4 A Computao Ubqua como rea cientcaA Computao Ubqua uma rea cientca emergente cujas origens podem ser encontradas nos anos 90 do sculo passado, mas cuja autonomizao de reas mais genricas como a computao mvel ou a Interaco Humano-Computador ainda recente. O reconhecimento da Computao Ubqua como rea cientca prpria ocorreu no nal do sculo passado, com o surgimento das primeiras conferncias e revistas cientcas especicamente dedicadas a este tema. Comearam a surgir importantes revistas e conferncias dedicadas especicamente Computao Ubqua e assistiu-se a uma exploso de workshops, tutoriais e outros eventos dedicados Computao Ubqua em conferncias de reas cientcas j estabelecidas, com especial relevo para as conferncias de Comunicaes, Sistemas Distribudos e Interaco Humano-Computador. A Computao Ubqua ainda uma rea muito recente, tambm do ponto de vista

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pedaggico. Embora j no se possa dizer que existam poucos cursos ou disciplinas que abordam de alguma forma a rea da Computao Ubqua, a verdade que numa anlise mais cuidada se pode constatar que a maioria desses cursos pouco tm de comum entre si. Contrariamente ao que sucede com reas cientcas j bem estabelecidas, na Computao Ubqua, os formatos, contedos e mtodos de ensino no se encontram ainda devidamente consolidados, existindo por isso abordagens muito diversas e vises bastante distintas sobre o que deve ser o ncleo de conhecimentos e competncias resultantes de uma disciplina deste tipo. Esta circunstncia obriga naturalmente a que o plano de uma disciplina nesta rea precise de incluir uma reexo ainda mais aprofundada do respectivo enquadramento cientco e pedaggico, reectindo mesmo sobre o que prprio corpo de conhecimento associado. Finalmente, a Computao Ubqua tambm uma rea inerentemente multidisciplinar com desaos transversais a muitas das reas cientcas tradicionalmente associadas s Tecnologias de Informao, Comunicaes e Electrnica, e mesmo para alm destas. Por essa razo, a computao ubqua uma disciplina necessariamente abrangente que mesmo do ponto de vista tecnolgico pode ser abordada de muitas perspectivas diferentes. Tal facto contribuiu ainda mais para a diversidade de abordagens e para a diculdade em atingir consensos em relao ao que poderia ser um plano de referncia para uma disciplina de Computao Ubqua. Tratando-se portanto de uma rea cientca ainda recente, cujo mbito e fundamentos esto ainda em forte evoluo e ainda para mais fortemente caracterizada pela sua abrangncia e multi-disciplinaridade, no um exercicio simples tentar denir com exactido qual que deve ser o corpo de conhecimento associado Computao Ubqua. O facto de se tratar de uma rea em evoluo e com um corpo de conhecimento ainda por denir faz com que se possa mesmo questionar a sua essncia. Pode por exemplo Ainda que este argumentar-se que a Computao Ubqua, ainda que levantando alguns requisitos e desaos especcos, seria apenas mais uma rea de aplicao desses conceitos. possa ser um argumento dicil de rebater completamente quando visto na perspectiva de uma qualquer disciplina em particular, ele torna-se obviamente limitado quando visto na perspectiva do conjunto de disciplinas envolvidas na Computao Ubqua. Os desaos cientcos associados Computao Ubqua podem ser agregados em torno de trs reas fundamentais: Sistemas, Inteligncia e Experincia de utilizao.

Sistemas abrange as principais componentes de sistema, incluindo hardware, software, comunicaes e a sua integrao. Enquadram-se aqui contribuies da Electrnica, Comunicaes, Engenharia de Software ou Sistemas Distribudos.

Inteligncia abrange a utilizao de informao, sobretudo recolhida dos sensores, para inferir estados do mundo real ou tomar decises sobre a melhor forma de actuar nesse mundo. Incluem-se aqui as ontologias e modelos de espao, a Inteligncia Ambiente, o Ambient Assisted Living, reality mining, machine learning, contextawareness, proactive computing,

Experincia de utilizao envolve o estudo de factores Humanos relacionados com o desenvolvimento e utilizao da tecnologia, incluindo estudos etnogrcos, estudos de utilizao, ou processos de design centrado em valores Humanos.

Mais do que uma forma de estruturar o corpo de conhecimento associado Computao Ubqua, estas trs reas reectem de algum modo o envolvimento de comunidades diversas. Assim, pessoas com um perl de Informtica, Comunicaes ou Electrnica tendero a centrar-se nos desaos associados criao de sistemas de Computao Ubqua, quer

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seja no desenvolvimento de uma tecnologia especca, por exemplo um novo sistema de localizao interior, quer seja na integrao de componentes hetergeneos num todo funcional e coerente. Por sua vez, a Inteligncia Articial, nas suas diversas variantes, aparece fortemente representada no tema da Inteligncia, sendo a Ambient Intelligence uma agenda para a Computao Ubqua vista pela perspectiva da Inteligncia Articial. Finalmente, a comunidade de Interaco Humano-Computador, bem como outras reas tradicionalmente mais distantes da Informtica, como o Design, a Sociologia ou a Psicologia, surgem associadas criao de experincias de utilizao que sejam adequadas e propiciem valor para as pessoas. Trabalhar numa rea to multi-disciplinar como a Computao Ubqua no signca ter competncias em todas estas reas. Signica apenas ter alguma sensibilidade para compreender o papel e as contribuies que as vrias reas podem trazer para o desenvolvimento de um sistema e ser capaz de trabalhar em equipa com os especialista das vrias reas cientcas.

SumrioEste captulo introduziu a computao ubqua, enquadrando-a como uma mudana de paradigma em relao ao modelo at agora predominante do computador pessoal. O paradigma desktop o modelo essencial que determina muito daquilo que para ns so os computadores e as suas aplicaes. A crescente necessidade de suportar diversas formas de mobilidade na utilizao de sistemas informticos veio pr em causa alguns dos pressupostos com que tradicionalmente esses sistemas so desenvolvidos e teve um impacto considervel na forma como pensamos e utilizamos os sistemas informticos e de comunicaes. Foram apresentados 3 grandes desaos que a mobilidade coloca no desenvolvimento desses sistemas, e embora alguns desses desaos possam vir a ser atenuados pela futura evoluo da tecnologia, no essencial podemos dizer que eles so de facto inerentes mobilidade e como tal iro exigir sempre solues distintas das utilizadas no modelo desktop. Contudo, e apesar da necessidade de algumas adaptaes especcas, a generalidade das aplicaes mveis so no essencial ainda muito prximas daquilo que o paradigma desktop, sendo a principal preocupao a de tentar reproduzir em ambiente de mobilidade as funcionalidades normalmente disponveis nos PCs. Esta forma de encarar a mobilidade, embora muito relevante, no explora ainda a diversidade de novas oportunidades que a crescente disponibilizao de dispositivos no convencionais vem permitir, abrindo por isso espao a novos paradigmas que, partindo de incio de pressupostos mais adequados nova realidade tecnolgica, consigam gerar utilizaes mais inovadoras dessas mesma tecnologia. A Computao Ubqua, pelo contrrio, surge como uma viso da informtica em que os computadores se tenham tornado de tal maneira ubquos que a sua utilizao se faa quase sempre de forma inconsciente e marca por isso uma ruptura muito forte com o paradigma desktop. Esta ideia, ainda que no necessariamente el viso preconizada h cerca de 20 anos por Mark Weiser, tem vindo a tornar-se uma realidade cada vez mais presente nas nossa vidas. Dentro de 20 anos, as duas dcadas que agora acabam e em que o PC foi o simbolo do computador j no sero mais do que um breve ponto na histrio dos computadores. A Informtica ter-se- transformado de facto numa tecnologia biqua, e a Computao Ubqua, tal como aqui abordada, j no ser mais tema de conversa mas apenas sinnimo de informtica.

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Sumrio Recomendaes de Leitura

Mark Weiser:

Os artigos de Mark Weiser que introduziram o conceito de computao

ubqua constituem um inevitvel ponto de partida para quem pretende trabalhar nesta rea. Embora sejam j antigos e estejam claramente ultrapassados do ponto de vista tcnico, estes artigos continuam a ser uma referncia fundamental para se perceber as origens e o enquadramento da computao ubqua, quanto mais no seja pelo papel que tiveram na criao de uma determinada viso da computao ubqua que viria a ser extremamento inuente em toda um gerao de investigadores. Os artigos, bem como algumas notas adicionais sobre o tema, podem ser todos encontrados em: http://www.ubiq.com/hypertext/weiser/UbiHome.html

M. Weiser, Some Computer Science Issues in Ubiquitous Computing, Communications of the ACM, vol. 36, 1993, pp. 75-84. M. Weiser, The Computer for the 21st Century, Scientic American, vol. 265, Set. 1991, pp. 94-104. M. Weiser, The world is not a desktop, ACM Interactions, 1994, pp. 7-8. M. Weiser and J. S. Brown, "The Coming Age of Calm Technology," PowerGrid Journal, vol. 1, 1996.

Pervasive Computing: Vision and Challenges.dos, passando pela computaa mvel.

Este artigo apresenta uma descrio

da evoluo da Computao Ubqua e Pervasive desde as origens nos Sistemas DistribuUm outro aspecto interessante deste artigo a enumerao de um conjunto de desaos associados Computao Pervasive, que neste artigo so posteriormente usados como motivao para a construo de um sistema concreto designado Aura.

M. Satyanarayanan, "Pervasive Computing: Vision and Challenges," IEEE Personal Communications, vol. 8, pp. 10-17, 2001.

Being Human HCI2020.

Este relatrio aborda a evoluo da Interaco Humano Com-

putador e, numa perspectiva mais abrangente, a relao dos Humanos com os computadores. O captulo 1, Our Changing World, introduz as principais tendncias na evoluo da utilizao dos computadores e analisa a forma como essas tendncias tm vindo a afectar de forma fundamental o papel e a percepo da presenaa dos computadores na nosso sociedade e na noss vida quotidiana. Este captulo interessante sobretudo por proporcionar uma viso actualizada e real sobre a forma como a computao ubqua est de facto a emergir e a ser apropriada pela sociedade.

R. Harper, T. Rodden, Y. Rogers, e A. Sellen, Being Human: Human Computer Interaction in 2020, Microsoft Research Ltd, 2008. O relatrio est disponvel em: http://research.microsoft.com/en-us/um/cambridge/projects/hci2020/

ISTAG.

Este relatrio do ISTAG apresenta vrias vises e cenrios para o futuro da

Inteligncia Ambiente. Este e outros relatrios do ISTAG foram muito inuentes na criao do conceito de Inteligncia Ambiente e continuam a ser uma leitura essencial para se entender essa rea da Computao Ubqua.

Scenarios for Ambient Intelligence in 2010, EC. O relatrio est disponvel em: ftp://ftp.cordis.europa.eu/pub/ist/docs/istagscenarios2010.pdf

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Revistas e conferncias cientcasEntre as revistas mais relevantes na rea, a maior parte com menos de 10 anos, podem indicar-se as seguintes:

IEEE Pervasive Computing (IEEE) Personal and Ubiquitous Computing (Springer) Pervasive and Mobile Computing journal, PMC (Elsevier) Mobile Networks and Applications (Kluwer) Mobile Computing and Communications Review (ACM SIGMOBILE) IEEE Transactions on Mobile Computing (IEEE) IEEE Personal Communications (IEEE)

No que se refere a conferncias internacionais cujos tpicos estejam directamente relacionados com esta rea podem referir-se as seguintes:

International Conference on Ubiquitous Computing (UbiComp) International Conference on Pervasive Computing (Pervasive) IEEE International Conference on Pervasive Computing and Communications (PerCom) International Conference on Mobile Systems, Applications, and Services (MobiSys) International Conference on Mobile Computing and Networking (Mobicom) IEEE International Conference on Pervasive Services (ICPS)

No contexto nacional, realizou-se pela primeira vez em Guimares em 2006 uma primeira conferncia dedicada exclusivamente Computao Ubqua, a CSMU 2006, cujo objectivo passou em grande medida pela promoo de uma comunidade nacional com interesse nesta rea. Um dos principais interesses da consolidao dessa comunidade pode ser precisaEsse esforo teve recentemente mente na rea do ensino atravs da troca de experincias, da oferta de formao conjunta ou da interaco entre alunos de diferentes instituies. camente Computao Mvel e Ubqua: continuidade com a criao de uma track na conferncia INForum 2009 dedicada especi-

http://inforum.org.pt/INForum2009/sessoes/computacao-movel-e-ubiqua

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