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INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES CURSO DE ESTADO-MAIOR 2005/2007 TRABALHO INDIVIDUAL DE LONGA DURAÇÃO Gestão de Recursos Humanos no âmbito de uma Força Nacional Destacada: o caso Português Jorge Filipe da Silva Ferreira Maj Cav Presidente do Júri: TGEN José Luís Pinto Ramalho Arguente Principal: COR ADMAER Luís Manuel Pais de Oliveira Arguente: TCOR ART João Alberto C. Q. Furtado de Almeida Arguente: MAJ INF Luís Filipe Almeida Costa

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  • INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES

    CURSO DE ESTADO-MAIOR

    2005/2007

    TRABALHO INDIVIDUAL DE LONGA DURAO

    Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional

    Destacada: o caso Portugus

    Jorge Filipe da Silva Ferreira

    Maj Cav

    Presidente do Jri: TGEN Jos Lus Pinto Ramalho

    Arguente Principal: COR ADMAER Lus Manuel Pais de Oliveira

    Arguente: TCOR ART Joo Alberto C. Q. Furtado de Almeida

    Arguente: MAJ INF Lus Filipe Almeida Costa

  • ESTE TRABALHO FOI ELABORADO COM UMA FINALIDADE

    ESSENCIALMENTE ESCOLAR, DURANTE A FREQUNCIA DE UM CURSO

    NO INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES,

    CUMULATIVAMENTE COM A ACTIVIDADE ESCOLAR NORMAL. AS

    OPINIES DO AUTOR, EXPRESSAS COM TOTAL LIBERDADE

    ACADMICA, REPORTANDO-SE AO PERODO EM QUE FORAM

    ESCRITAS, PODEM NO REPRESENTAR DOUTRINA SUSTENTADA PELO

    INSTITUTO DE ESTUDOS SUPERIORES MILITARES.

    ESTE TRABALHO PROPRIEDADE DO INSTITUTO DE ESTUDOSSUPERIORES MILITARES

    PROFESSOR ORIENTADOR:

    PAULO JORGE VARELA CURRO TCOR INF

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    RESUMO

    H cerca de dez anos que Portugal vem contribuindo com Foras Nacionais Destacadas em

    Operaes de Apoio Paz lideradas por diversas Organizaes Internacionais das quais

    membro, em distintos Teatros de Operaes.

    O actual ambiente estratgico torna previsvel que o emprego de Foras Nacionais Destacadas

    continue a decorrer, no mbito dos compromissos internacionais assumidos (ou a assumir) por

    Portugal.

    Este estudo tem como objectivo analisar a Gesto de Recursos Humanos nas Foras

    Nacionais Destacadas partindo da abordagem de um modelo terico das organizaes, para

    atravs da experincia recolhida obtida atravs da frequncia e grau de concordncia com

    algumas das polticas de Gesto de Recursos Humanos aplicadas nas Foras Nacionais

    Destacadas, verificar se essas polticas so consideradas, pelos militares, como adequadas.

    Para atingir este objectivo procedemos a uma reviso da literatura assente nas teorias da

    Gesto dos Recursos Humanos nas organizaes e nos estudos j realizados sobre este tema,

    conjugando com o respectivo enquadramento legal enformador ao nvel das Foras Armadas,

    mais concretamente na parte aplicvel ao caso do Exrcito Portugus, fazendo tambm uma

    breve comparao com a realidade existente noutros Exrcitos obtida atravs de entrevistas.

    Com base num modelo terico de Gesto de Recursos Humanos nas organizaes elabormos

    um modelo de anlise que nos permitisse ter uma abordagem geral, escolhendo como dimenses

    as funes desse modelo terico e como indicadores o grau de concordncia e/ou a frequncia

    com que as polticas de Gesto de Recursos Humanos foram aplicadas nas FND.

    Analisamos a perspectiva dos militares que j participaram em Foras Nacionais Destacadas,

    particularizando alguns aspectos num estudo de caso centrado no Oficial de Pessoal e na

    perspectiva do Comandante da Fora, recolhendo os dados atravs da aplicao de trs

    questionrios distintos mas complementares. Desta forma consideramos ter analisado as mais

    importantes polticas de Gesto de Recursos Humanos aplicadas nas Foras Nacionais

    Destacadas.

    No final do estudo sugerimos algumas recomendaes que consideramos como pertinentes e,

    que se aplicadas, poderiam no futuro contribuir para uma melhor Gesto dos Recursos Humanos.

    i Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    ABSTRACT

    Portugal has been contributing from the last ten years with National Detached Forces for

    Peace Keeping Operations led by several International Organizations from witch is member, on

    distinct Theaters of Operations.

    The actual strategic environment makes predictable that the employment of the National

    Detached Forces will go on in accordance with the international commitments assumed (or to

    assume) by Portugal.

    The aim of this study is to look into the Human Resources Management of the National

    Detached Forces, starting with an approach to a theoretical model for the organizations, in order

    to verify, throughout the national experience, if the frequency or the degree of concordance for

    some Human Resources Management Policies are considered suitable by the military.

    To achieve this aim we started with some literature revision, focused on the human resources

    management in organizations, and we take a look on the previous studies about this subject, in

    conjunction with the legal framework applied to the Armed Forces, especially to the Portuguese

    Army, and comparing with others Armys vision that we obtained throughout the interviews.

    Selecting one theoretical model from the Human Resources Management in organizations we

    developed one analysis model that allowed a general approach, choosing for dimensions the

    functions of that theoretical model and for indicators the degree of agreement and/or the

    frequency with that the policies of Human Resources Management were applied in FND.

    We analyzed the perspective of the military ones that had already participated in National

    Detached Forces, particularizing some aspects in a case study focused on the Personnel Officer

    and in the perspective of the Force Commander, collecting the data through the application of

    three different questionnaires. By this way we consider that we have analyzed the most important

    policies of Human Resources Management applied in the National Detached Forces.

    Lastly we suggested some recommendations that we consider as pertinent and if applied, they

    will in the future contribute for a better Human Resources Management.

    ii Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    DEDICATRIA

    s minhas queridas filhas, que sempre

    souberam compreender a minha ausncia.

    minha esposa, pela sua motivao e pela

    compreenso aos longos perodos de

    ausncia.

    iii Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    AGRADECIMENTOS

    Para que a elaborao deste trabalho fosse possvel, vrias pessoas me auxiliaram pelo que

    da mais elementar justia manifestar publicamente o meu agradecimento.

    Ao meu orientador, Tenente-Coronel Paulo Jorge Varela Curro agradeo as suas sugestes e o

    apoio que me dispensou ao longo destes meses, possibilitando dessa forma a materializao do

    presente trabalho.

    Aos Oficiais, Sargentos e Praas que de uma forma camarada e disponvel, acederam a

    colaborar atravs do preenchimento dos questionrios, sem os quais este estudo no teria sido

    possvel, o meu bem hajam. Um agradecimento especial ao Major Relvas Marino, meu camarada

    e amigo, que de uma forma pronta me auxiliou na distribuio dos questionrios, permitindo

    assim alcanar um maior nmero de respostas.

    Aos camaradas do Curso de Estado-Maior que me ajudaram com a reviso do trabalho, bem

    como com sugestes e opinies para que o mesmo sasse mais valorizado, o meu muito obrigado.

    O meu obrigado s senhoras da biblioteca pelo apoio prestado na pesquisa bibliogrfica

    contribuindo assim para que a pesquisa fosse mais clere e adequada.

    A todos o meu muito obrigado.

    iv Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    NDICE GERAL

    INTRODUO .......................................................................................................................................... 1 I. ESTADO DA ARTE ............................................................................................................................... 6

    I.1. Enquadramento Terico da GRH.........................................................................................6 I.1.1. Os Recursos Humanos como factor competitivo ......................................................6 I.1.2. Modelos de GRH .......................................................................................................7 I.1.3. Actividades da GRH..................................................................................................9

    I.1.3.1. Quadros de Pessoal ........................................................................................10 I.1.3.2. Recrutamento e Seleco ...............................................................................11 I.1.3.3. Anlise, Descrio e Qualificao de Funes ..............................................12 I.1.3.4. Avaliao do Desempenho.............................................................................14 I.1.3.5. Formao e Desenvolvimento........................................................................16 I.1.3.6. Recompensas..................................................................................................17

    I.2. Caracterizao das Operaes de Apoio Paz ..................................................................19 I.2.1. A participao Portuguesa em OAP ........................................................................19

    I.3. Trabalhos j efectuados......................................................................................................20 I.3.1. Subsdios para uma carreira - tipo dos Oficiais do QP do Exrcito.....................20 I.3.2. Formao por competncias e GRH no Exrcito.................................................21 I.3.3. A ARH nas OAP ..................................................................................................21 I.3.4. A ARH nas OAP. Subsdios para a elaborao de elementos de doutrina ..........21 I.3.5. A Carreira do Sargento do Quadro Permanente...................................................22

    I.4. Sntese Conclusiva .............................................................................................................22 II. APRESENTAO E INTERPRETAO DE RESULTADOS.................................................... 23

    II.1. Metodologia ......................................................................................................................23 II.2. Instrumentao..................................................................................................................23

    II.2.1. Questionrios..........................................................................................................23 II.2.2. Entrevistas ..............................................................................................................25 II.2.3. Pesquisa Documental .............................................................................................25

    II.3. Amostragem......................................................................................................................25 II.3.1. Descrio da amostra .............................................................................................25 II.3.2. Caracterizao da amostra......................................................................................26 II.3.3. Amostra Alfa ..........................................................................................................26 II.3.4. Amostra Bravo .......................................................................................................26 II.3.5. Amostra Charlie .....................................................................................................27

    II.4. Modelo de Anlise ............................................................................................................27 II.5. Tratamento de dados e anlise de resultados ....................................................................28

    II.5.1. Recrutamento e Seleco........................................................................................28 II.5.2. Anlise de Funes.................................................................................................32 II.5.3. Avaliao do Desempenho.....................................................................................34 II.5.4. Recompensas ..........................................................................................................36 II.5.5. Formao e Desenvolvimento ................................................................................37

    II.6. Sntese Conclusiva............................................................................................................39 CONCLUSES E RECOMENDAES .............................................................................................. 41 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................................... 44 BIBLIOGRAFIA...................................................................................................................................... 48 INDICE ONOMSTICO ........................................................................................................................ 50

    v Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1 - Modelo de Gesto Estratgica de Recursos Humanos ...................................................8 Figura 2 - As quatro funes da GRH.............................................................................................8

    NDICE DE TABELAS

    Tabela I.1 - Participao do Exrcito Portugus com FND ..........................................................20 Tabela I.2 - Empenhamento de FND em 19Jun06 ........................................................................20 Tabela II.1 - Relao entre as escalas, questionrios e hipteses .................................................24 Tabela II.2 - Distribuio da Amostra Alfa por Posto actual e QE...............................................26 Tabela II.3 - Distribuio da Amostra Alfa por Posto data do desempenho e TO.....................26 Tabela II.4 - Distribuio da Amostra Bravo por Posto, QE e TO ...............................................26 Tabela II.5 - Distribuio da amostra Charlie por Categoria ........................................................27 Tabela II.6 - Distribuio da amostra Charlie por Categoria e Forma de Prestao de Servio...27 Tabela II.7 - Distribuio da amostra Charlie por Categoria e n de misses...............................27 Tabela II.8 - Distribuio da amostra Charlie por desempenho de funes .................................29 Tabela II.9 - Forma de Formao da FND versus UEO de origem dos militares que a

    constituram ...........................................................................................................29 Tabela II.10 - Efectivo de FND e UEO de origem........................................................................29 Tabela II.11 Anlise das Afirmaes 6, 9, 18, 19 da amostra Charlie.......................................30 Tabela II.12 Anlise das afirmaes 6, 9, 18, 19 da amostra Charlie, por categoria .................30 Tabela II.13 - Anlise da questo 3 da amostra Charlie, por categoria.........................................31 Tabela II.14 - Anlise da questo 3 da amostra Alfa ....................................................................31 Tabela II.15 - Anlise da questo 2.b. da amostra Bravo..............................................................32 Tabela II.16 - Anlise das afirmaes 2, 11, 17, 23, 28 e 33 da amostra Charlie .........................33 Tabela II.17 - Anlise da afirmao 1 da amostra Bravo..............................................................33 Tabela II.18 - Anlise das afirmaes 3, 8, 10, 20, 22, 25, 27, 32, 34, 35 e 38 da amostra Charlie

    ...............................................................................................................................34 Tabela II.19 - Anlise das afirmaes 2, 3, 8 e 14 da amostra Bravo...........................................35 Tabela II.20 - Anlise das afirmaes 5, 16, 21, 25, 29, 31, 36, 37 da amostra Charlie...............36 Tabela II.21 - Anlise da afirmao 21 por nmero de misses ...................................................36 Tabela II.22 - Anlise das afirmaes 4, 12, 20, 24, 26, 30 da amostra Charlie...........................37 Tabela II.23 Anlise dos S1 com o posto de Capito.................................................................38 Tabela II.24 - Anlise das afirmaes 6, 7, 10, 11 da amostra Bravo...........................................38 Tabela II.25 - Anlise da questo 5 e 6 da amostra Alfa ..............................................................39 Tabela II.26 - Anlise da questo 2 da amostra Alfa ....................................................................39 Tabela II.27 - Grau de confirmao das Hipteses .......................................................................40

    vi Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    NDICE DE APNDICES

    Apndice A: MODELO DE ANLISE

    Apndice B: ARTICULAO DA QUESTO CENTRAL COM AS QUESTES DERIVADAS E HIPTESES

    Apndice C: CONDECORAES

    Apndice D: QUESTIONRIO ALFA - APLICADO AOS OFICIAIS DE PESSOAL

    Apndice E: QUESTIONRIO BRAVO - APLICADO AOS COMANDANTES

    Apndice F: QUESTIONRIO CHARLIE - APLICADO AOS MILITARES DE FND

    Apndice G: CARACTERIZAO DOS QUESTIONRIOS

    Apndice H: GUIO DA ENTREVISTA AOS OFICIAIS DE PASES AMIGOS QUE FREQUENTARAM O CEM 2005-2007

    Apndice I: RESUMO DAS ENTREVISTAS AOS OFICIAIS DE PASES AMIGOS QUE FREQUENTARAM O CEM 2005-2007

    Apndice J: GRAU DE CONFIRMAO DAS HIPTESES

    Apndice K: DADOS SOBRE AS FORAS NACIONAIS DESTACADAS

    NDICE DE ANEXOS

    Anexo A: EXEMPLO DE DESCRIO DE FUNES DO COMANDO OPERACIONAL DO EXRCITO

    Anexo B: EXEMPLO DE DESCRIO DE FUNES DA MARINHA

    Anexo C: EXEMPLO DE DESCRIO DE FUNES DA FORA AREA

    Anexo D: JOB SATISFACTION SURVEY DE PAUL SPECTOR

    Anexo E: EXEMPLO DE DESCRIO DE FUNES DOS EXRCITOS DE ESPANHA E ITLIA

    vii Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    SIGLAS E ABREVIATURAS

    A AM Academia Militar ARH Administrao de Recursos Humanos

    B BGECM Bases Gerais do Estatuto da Condio Militar BTm 4 Batalho de Transmisses 4

    C CASE Conselho das Armas e Servios do Exrcito Cav Cavalaria CEM Curso de Estado-Maior CEME Chefe do Estado-Maior do Exrcito CJM Cdigo de Justia Militar Cmd Comando CmdInst Comando da Instruo do Exrcito CmdOp Comando Operacional CmdPess Comando do Pessoal Cmdt Comandante CPOS Curso de Promoo a Oficial Superior CRO Crisis Response Operations CRP Constituio da Repblica Portuguesa CTm 5 Companhia de Transmisses 5

    D DP Desvio Padro ()

    E EMFAR Estatuto dos Militares das Foras Armadas EOP Estrutura Operacional de Pessoal

    F FAI Ficha de Avaliao Individual FFAA Foras Armadas FND Fora Nacional Destacada

    G GRH Gesto de Recursos Humanos

    I IAEM Instituto de Altos Estudos Militares Inf Infantaria IRS Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares

    J JSS Job Satisfaction Survey

    L LOE Lei Orgnica do Exrcito

    M MDN Ministro da Defesa Nacional

    viii Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    N NNAPMIMHP Normas de Nomeao e de Administrao de Pessoal Militar que Integra Misses Humanitrias e

    de Paz O

    OAP Operaes de Apoio Paz OI Organizaes Internacionais ONU Organizao das Naes Unidas ONUMOZ United Nations Operation in Mozambique OS Ordem de Servio OSCE Organizao para a Segurana e Cooperao Europeia

    Q QE Quadro Especial QOP Quadro Orgnico de Pessoal QP Quadro Permanente QPess Quadro de Pessoal

    R RAMME Regulamento de Avaliao de Mrito dos Militares do Exrcito RFM Relatrio de Fim de Misso RH Recursos Humanos RMMMCFA Regulamento da Medalha Militar e das Medalhas Comemorativas das Foras Armadas

    S S1 Oficial de Pessoal SAMME Sistema de Avaliao de Mrito dos Militares do Exrcito SGE Servio Geral do Exrcito SGPQ Servio Geral Paraquedista SPSS Statistical Package for the Social Sciences

    T TN Territrio Nacional TO Teatro de Operaes

    U UEB Unidade de escalo Batalho UEC Unidade de escalo Companhia UEO Unidade, Estabelecimento ou rgo UNAVEM III United Nations Angola Verification Mission III UNOGIL United Nations Observer Group in Lebanon

    ix Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    INTRODUO

    Enquadramento

    Aps o trminus das campanhas em que as Foras Armadas (FFAA) estiveram empenhadas

    nos territrios das ex-provncias ultramarinas seguiu-se um interregno de cerca de 20 anos, at

    que foras militares nacionais fossem novamente empenhadas em misses operacionais reais.

    Este empenhamento inicia-se em 1993, no mbito das novas misses das FFAA, genricamente

    apelidadas de Operaes de Apoio Paz (OAP), com o envio do Batalho de Transmisses 4

    (BTm4) para Moambique, no mbito da United Nations Operation in Mozambique

    (ONUMOZ), considerando-se que esta foi, a nvel nacional, a primeira Fora Nacional

    Destacada (FND). Seguem-se misses em Angola, na Bsnia-Herzegovina, no Kosovo, em

    Timor-Leste e no Afeganisto, estando prevista a projeco de uma Companhia de Engenharia

    para o Lbano em Outubro de 2006. Actualmente existem FND em trs1 Teatros de Operaes

    (TO): Bsnia, Kosovo e Afeganisto.

    O nmero de TO, bem como o tempo de misso (por norma seis meses) tm obrigado a uma

    constante rotao de militares e unidades para responderem a estes compromissos internacionais,

    exigindo um grande esforo e uma adequada gesto dos Recursos Humanos (RH).

    Definio do Objectivo da investigao

    Face ao tema proposto - Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional

    Destacada: O caso Portugus - nossa inteno conduzir um estudo que, tendo como base

    terica um modelo de Gesto de Recursos Humanos (GRH) nas organizaes verifique de que

    modo, face experincia acumulada no mbito da participao nacional em FND, as polticas

    relativas a algumas funes de GRH so consideradas como adequadas para garantir uma gesto

    eficiente dos militares conducente a um melhor desempenho das foras. Simultaneamente,

    procuraremos efectuar um estudo de caso centrado nas perspectivas do Oficial de Pessoal2 (S1) e

    do Comandante (Cmdt) da FND, possibilitando assim a confrontao ou complementaridade dos

    dados numa situao especfica.

    Numa perspectiva de desenvolvimento procurmos identificar quer a prtica que tem sido

    seguida, quer a concordncia dos militares que desempenharam funes em FND, com algumas

    das polticas de GRH.

    1 O TO do LBANO no foi considerado uma vez que data em que escrevemos o nosso trabalho, apesar de estar

    planeada, ainda no se concretizou o envio da fora. 2 Oficial de Pessoal ou Adjunto do Oficial de Recursos para a rea do Pessoal.

    1 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    Importncia do estudo e justificao da escolha

    De acordo com a Lei Orgnica do Exrcito (LOE3) O Exrcito tem por misso cooperar, de

    forma integrada, na defesa militar da Repblica, atravs da realizao de operaes terrestres

    incumbindo-lhe tambm, Participar [] na execuo da poltica externa, designadamente em

    operaes internacionais humanitrias e de paz [](LOE, 2006, Art 1). No plano de mdio e

    longo prazo do Exrcito4 (20052023), considera-se que, no perodo 20052010, a probabilidade

    de ocorrncia do cenrio de defesa do territrio nacional Baixa enquanto que as OAP tm uma

    probabilidade Mdia e as Crisis Response Operations (CRO) uma probabilidade Alta.

    Devido ao elevado empenhamento do Exrcito Portugus em OAP, em distintos TO, nos

    ltimos anos tem sido produzida doutrina, em vrias reas de Estado-Maior, especfica para as

    OAP. No entanto na rea relativa GRH constata-se que existem algumas lacunas, resolvidas

    pelos S1 e pelos Cmdt atravs da aplicao da doutrina aprendida em termos de Campanha5.

    Existindo vasta literatura no que concerne GRH nas organizaes, o mesmo no acontece

    em relao especificidade de um modelo aplicvel instituio militar, pelo que consideramos

    que se poderia tornar motivador a realizao de um estudo sobre um problema real, por forma a

    contribuir para a melhoria das polticas e prticas aplicveis na GRH das FND.

    Delimitao do estudo

    Por condicionamentos de espao e tempo o estudo delimitado da seguinte forma:

    universo de estudo a abordar: os militares do Exrcito que integraram FND de escalo

    Batalho, nos TO da Bsnia, Kosovo e/ou Timor at ao final do 1 semestre de 2006;

    dentro deste universo foram considerados 3 sub-universos: os Cmdt das FND, os S1 e

    os restantes militares;

    temas a tratar: a partir de um modelo terico de GRH nas organizaes, analisar as

    polticas relativas s seguintes actividades: o recrutamento e a seleco, a anlise de

    funes, a avaliao do desempenho, a formao e o desenvolvimento e os sistemas de

    recompensas.

    3 Decreto-Lei n 61/2006 de 21 de Maro. 4 O plano cataloga as probabilidades de ocorrncia dos vrios cenrios em trs categorias: Alta, Baixa e Mdia. 5 Entenda-se Operaes de cariz convencional.

    2 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    Limitaes do estudo

    O presente estudo poder apresentar algumas limitaes, no sentido em que a maior parte da

    anlise depende dos instrumentos de medida utilizados (questionrios e entrevistas) o que,

    devido ao nmero de respostas de algumas das amostras consideradas, podero, nem sempre,

    representar a medida padro; outro factor que alguns dos elementos das amostras j

    desempenharam as funes nas FND h algum tempo, pelo que os dados obtidos podero, por

    vezes, no espelhar a realidade actual.

    Metodologia

    Com base num modelo terico de GRH nas organizaes, construmos um modelo de anlise

    em que partindo do conceito de GRH, consideramos como dimenses as funes de GRH,

    materializadas atravs das actividades que consideramos como principais e como indicadores o

    grau de concordncia ou a frequncia com que as polticas de GRH tm sido utilizadas nas FND,

    conforme procuramos explicitar de forma grfica no Apndice A.

    O percurso metodolgico que seguimos para a elaborao deste estudo foi:

    Inicialmente efectuamos a recenso de literatura e a reviso de trabalhos de investigao

    j realizados no mbito da GRH;

    Desenvolvemos de seguida um trabalho de campo baseado em entrevistas e

    questionrios a par da anlise documental. As entrevistas foram efectuadas a Oficiais de

    pases amigos que frequentaram o Curso de Estado-Maior (CEM) 2005-2007. Os

    questionrios foram aplicados aos Cmdt das FND, aos Oficiais que desempenharam as

    funes de S1 e a outros militares que integraram FND.

    Com o presente estudo pretendemos responder seguinte questo central: De que modo o

    actual modelo de GRH aplicado s FND atende s necessidades de gesto dos militares que

    integram as mesmas?. A partir desta questo central consideramos como questes derivadas:

    Questo Derivada 1 As polticas de recrutamento e seleco de militares para as FND

    so consideradas como adequadas para a formao das FND?

    Questo Derivada 2 De que modo a no existncia de uma anlise de funes tem

    influenciado o desempenho dos militares? Foram estabelecidos mecanismos ou

    procedimentos para colmatar essa falta?

    Questo Derivada 3 A avaliao do desempenho dos militares considerada como

    justa e adequada? Tem servido como catalizador para a atribuio de recompensas e

    detecta as necessidades de formao?

    Questo Derivada 4 O conjunto de recompensas institudo para os militares das FND 3

    Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    reconhecido como justo e tem em considerao o desempenho dos militares?

    Questo Derivada 5 De que modo a formao tem influenciado o desempenho dos

    militares nas FND?

    Com base nestas questes derivadas levantmos o seguinte corpo de hipteses para orientar o

    nosso estudo:

    Hiptese n 1 A Unidade Operacional designada para FND dever nomear os seus

    militares para a misso, independentemente de estes serem voluntrios ou no;

    Hiptese n 2 A existncia de Descrio de Funes a par de outras tcnicas como o

    mentoring, por exemplo, poder contribuir para um melhor desempenho dos militares;

    Hiptese n 3 A avaliao do desempenho avalia mais o mrito e o potencial do que o

    desempenho, contudo tem sido reconhecida como justa e adequada, mas no identifica

    as necessidades de formao, o que no est de acordo com a prpria percepo dos

    militares;

    Hiptese n 4 As recompensas institudas so adequadas e de forma geral a sua

    atribuio considerada justa;

    Hiptese n 5 A conjugao dos vrios cursos (formao inicial, formao contnua,

    etc) com a formao ministrada na fase de aprontamento da FND tem garantido as

    qualificaes necessrias para o desempenho das funes atribudas.

    No Apndice B apresentamos um quadro resumo com a articulao entre a Questo Central,

    Questes Derivadas e Hipteses e os instrumentos utilizados para confirmar (ou no) as hipteses.

    Definio de termos

    Neste trabalho de investigao sero utilizados termos e conceitos que importa definir:

    Fora Nacional Destacada: Unidade militar nacional de um determinado escalo, a

    qual ir cumprir ou encontra-se a cumprir a sua misso fora do Territrio Nacional

    (TN), no mbito das OAP (Curro, 2003, p.4);

    Mentoring: Processo mediante o qual o senior leader (o mentor) partilha informao e

    experincias com um junior leader na tentativa de o ajudar a ter sucesso na sua funo

    actual e futura. Um ensina, aconselha, guia e ajuda o outro no seu desenvolvimento

    profissional e pessoal. As relaes de mentoring podem ser criadas intencionalmente ou

    ser naturalmente desenvolvidas, como parte do relacionamento profissional (Rivera et

    al., 2002);

    Operaes de Apoio Paz: Designao usada que inclui as actividades nas quais

    participam foras multinacionais, sob a gide da Organizao das Naes Unidas

    4 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    (ONU) ou da Organizao para a Segurana e Cooperao na Europa (OSCE), que

    tem por finalidade manter, garantir e restaurar a paz e segurana internacionais. Estas

    actividades levadas a cabo, normalmente, de acordo com resolues do Conselho de

    Segurana da ONU, num quadro de cooperao com as partes em conflito ou no, so

    instrumentos para o controlo e para a soluo de conflitos entre Estados ou no interior

    deles (IAEM, 1996, p.3-1);

    Polticas de GRH: So orientaes contnuas sobre a forma como a organizao tem

    inteno de gerir os seus RH. As polticas definem a filosofia e os valores da

    organizao no que diz respeito forma como as pessoas devem ser tratadas e a partir

    dos quais derivam os princpios que devero ser seguidos pelos gestores quando lidam

    com assuntos relacionados com RH (Armstrong, 1999, p.259).

    Organizao do estudo

    Vamos organizar o presente trabalho em quatro partes: Introduo, dois Captulos de

    desenvolvimento e Concluses e Recomendaes.

    Na Introduo definimos, entre outros aspectos, a contextualizao, o objectivo da

    investigao e a sua importncia, a delimitao do estudo, a metodologia e o corpo de conceitos.

    O Captulo I ser dedicado ao estado da arte, com trs subcaptulos: o 1 subcaptulo onde

    ser efectuado o enquadramento terico da GRH do ponto de vista das organizaes de acordo

    com os temas a tratar que apresentamos na delimitao do estudo e, simultaneamente, a sua

    referenciao no que respeita aos documentos normativos que enquadram o funcionamento em

    geral das FFAA e em particular das FND, na ptica de como se processam as actividades de

    GRH nas FND; o 2 subcaptulo com uma breve abordagem do que so as OAP e participao

    portuguesa neste tipo de operaes; o 3 subcaptulo com uma breve referncia a alguns dos

    trabalhos j elaborados sobre esta temtica e a que recorremos para orientar o nosso estudo;

    O Captulo II destina-se apresentao da metodologia seguida na elaborao do trabalho,

    seguindo-se a apresentao, anlise e interpretao dos dados recolhidos nos trabalhos de campo

    com recurso s entrevistas e questionrios efectuados, bem como anlise documental

    realizadas. Este captulo organizado, por actividades de GRH, segundo as hipteses

    enunciadas.

    Por fim iremos apresentar as Concluses da investigao efectuada no sentido de responder

    questo central e questes derivadas e algumas Recomendaes que entendamos seja oportuno

    efectuar.

    5 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    I. ESTADO DA ARTE

    I.1. Enquadramento Terico da GRH

    Ao iniciarmos a elaborao deste enquadramento conceptual no podemos deixar de referir o

    que a GRH, bem como a seu enquadramento terico de acordo com alguns dos autores que se

    dedicam ao estudo desta temtica.

    Iremos assim, seguidamente, caracterizar a GRH, iniciando com a conceptualizao dos RH

    como factor competitivo.

    I.1.1. Os Recursos Humanos como factor competitivo

    A GRH, que descende do conceito de gesto de pessoal (Bilhim, 2006, p.18) e hoje

    tambm j denominada como Gesto de Talentos Humanos, Gesto de Parceiros ou de

    Colaboradores, Gesto do Capital Humano, Administrao do Capital Intelectual e at Gesto

    de Pessoas (Chiavenato, 1999, p.2) diz respeito a todas as decises e aces de gesto que

    afectam a relao entre as organizaes e os seus empregados, envolvendo por isso todas as

    aces relativas seleco, formao, desenvolvimento, recompensas e relaes com os

    empregados (Bilhim, 2006, p.29).

    Podemos ento inferir que desde que existem organizaes, independentemente do nmero de

    funcionrios e da sua estrutura hierrquica, que tambm tem existido GRH. Contudo as pessoas

    nem sempre foram encaradas da mesma maneira: de engrenagem sujeita ao determinismo de

    uma mquina, passaram a ser cidados, parceiros activos, e so agora elevados a factor

    estratgico. Este carcter estratgico atribudo ao factor humano traduz o aspecto mais

    relevante da GRH na actualidade (Bilhim, 2006, p.19).

    Embora numa abordagem diferente, Rosinha et al. (2003, p.81) atribui a mesma importncia

    aos recursos humanos, considerando que As organizaes enquanto sistemas vivos, para

    atingirem os seus objectivos, reflectem a vitalidade da sua mais valia, os indivduos.

    Por outro lado, Chiavenato (1999, p.11) considera que A Administrao de Recursos

    Humanos (ARH) refere-se s polticas e prticas necessrias para se administrar o trabalho das

    pessoas.

    Segundo Caetano e Vala (2002, p.vii) a dinmica organizacional que tem vindo a

    desenvolver-se nas ltimas dcadas fez salientar o papel fundamental dos recursos humanos na

    construo da competitividade e da qualidade que as organizaes se propem alcanar, para

    garantirem a sua sobrevivncia e desenvolvimento no actual contexto scio-econmico, e que

    hoje consensual que a gesto de pessoas constitui uma componente essencial de qualquer

    6 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    estratgia organizacional.

    Bilhim (2006, p.36) considera que actualmente, os recursos humanos constituem o recurso

    estratgico das organizaes, dada a sua criatividade, bem como a inovao e o potencial que

    representam, o que os coloca como um activo organizacional que, como tal, necessita de ser

    valorizado atravs de investimento em formao.

    Para Chiavenato (1999, p.xxvii) a gesto de pessoas tem sido a responsvel pela excelncia

    de organizaes bem sucedidas e pelo aporte de capital intelectual que simboliza, mais que

    tudo, a importncia do fator humano em plena era de informao.

    Considerando ento que os recursos humanos, so um dos vectores estratgicos de qualquer

    organizao, torna-se necessrio que esta lhes d uma perspectiva de desenvolvimento pessoal,

    permitindo assim a sua manuteno no interior da organizao.

    Vamos de seguida verificar como que se estrutura a GRH para atingir os objectivos

    organizacionais.

    I.1.2. Modelos de GRH

    Sendo a finalidade da GRH contribuir para o sucesso organizacional, ou seja melhorar a

    eficcia e a eficincia da organizao, deve desenvolver as suas actividades de uma forma

    integrada, pois como diz Cardoso et al. (2000, p.22) citando Gurin (1991) existe uma

    adequao e simbiose quer entre os objectivos e actividades da GRH, quer entre estes e os

    objectivos e actividades da organizao.

    De entre os modelos existentes na vasta bibliografia de GRH escolhemos o modelo de Gesto

    Estratgica de RH de Fombrun, Tichy e Devana apresentado por Bilhim (2006, p.31 e 41-43) e

    por Cardoso et al. (2000, p.26-28). Estes ltimos referem que, de acordo com Fombrun, Tichy e

    Devana, os factores ambientais tm uma influncia considervel na definio da misso e das

    estratgias da empresa, repercutindo-se, por sua vez, na estrutura da empresa e no seu sistema

    de GRH. A misso e a estratgia representam a razo de ser da organizao e determinam, em

    grande medida, a escolha de meios em matria de recursos humanos, financeiros e tecnolgicos.

    As estruturas organizacionais, so representadas como um mosaico de actividades diferenciadas

    e coordenadas de modo a implementar a estratgia e a realizar a misso.

    Este modelo desenvolvido por Fombrun, Tichy e Devana representa a denominada Escola de

    Michigan, sendo conhecido como a perspectiva da contingncia, ou seja a perspectiva terica

    que reala a necessidade de desenvolver sistemas de gesto de pessoas compatveis com os

    grandes objectivos da organizao, como o aumento da qualidade e a melhoria da

    produtividade (Bilhim, 2006, p.41).

    7 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    Na figura 1 apresentamos os componentes deste modelo e as suas relaes de

    interdependncia, num ambiente com as dimenses culturais, econmicas e polticas.

    Figura 1 - Modelo de Gesto Estratgica de Recursos Humanos

    (Fonte: Cardoso et al., 2000, p.27)

    Operacionalizando o sistema de GRH, Bilhim (2006, p.31) subdivide-o em quatro funes

    (Seleco, Recompensas, Avaliao do Desempenho, e Desenvolvimento) que so

    desempenhadas pelos gestores de recursos humanos em todas as organizaes. Concebe ainda

    uma varivel dependente Realizao/Desempenho que considera como sendo uma funo

    transversal a todos os componentes do sistema de GRH. Esta concepo, cuja representao

    grfica se apresenta na Figura 2, uma adaptao do que j tinha sido idealizado por Fombrun,

    Tichy e Devana.

    Figura 2 - As quatro funes da GRH

    (Fonte: Adaptado de Bilhim, 2006, p.31)

    O sistema de GRH esquematizado na Figura 2, de acordo com Bilhim (2006, p.31) envolve:

    A Seleco, que pretende saber quem so as pessoas que esto melhor preparadas para a

    realizao das tarefas prescritas na descrio de funes;

    A Avaliao do Desempenho, como facilitadora da distribuio equitativa de

    recompensas e motivadora das pessoas;

    As Recompensas, sob a forma de compensaes em resultado da Avaliao do 8

    Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    Desempenho;

    O Desenvolvimento, que resulta das necessidades detectadas na Avaliao do

    Desempenho e que serve de recurso potenciado para a melhoria do desempenho actual

    ou como preparao para desafios futuros.

    Realada a importncia da GRH e definido qual o modelo terico que ir delinear o fio

    condutor da nossa investigao, importa agora particularizar cada uma das quatros funes acima

    referenciadas, mencionando apenas as actividades que consideramos como principais.

    I.1.3. Actividades da GRH

    Ao consultarmos a vasta bibliografia de GRH constatamos que os vrios autores descrevem

    de forma diferenciada as actividades de GRH, apesar de se verificar um fio condutor comum.

    Bilhim (2006, p.12) considera a existncia de Tcnicas e Prticas de GRH, dividindo-as

    em: atraco de RH para a organizao (compreendendo a anlise, descrio e desenho de

    funes, o quadro de empregos, o recrutamento, a seleco e o acolhimento e a socializao), o

    desenvolvimento de competncias e a avaliao (com as competncias profissionais, a gesto da

    formao, a avaliao do desempenho e a gesto e desenvolvimento da carreira) e a fidelizao

    de recursos humanos (atravs da avaliao de funes, do sistema de recompensas e da

    segurana e ergonomia).

    Chiavenato (1999, p.11-12) denomina-as como Polticas e Prticas enunciando um

    conjunto de treze, que podem ser resumidas em seis processos bsicos.

    Rocha (1999, p.30) considerando que existe um consenso generalizado enuncia as seguintes

    actividades de GRH: Recrutamento e seleco, integrao, anlise e descrio de funes,

    planeamento de recursos humanos, avaliao do desempenho, remuneraes e incentivos,

    higiene e segurana, formao profissional e desenvolvimento pessoal e organizacional, controlo

    e auditoria de recursos humanos.

    Cardoso et al. (2000, p.31) no seu estudo seguem as actividades da GRH descritas por

    Gurin (1991): a organizao do trabalho - abarcando duas vertentes, o desenho

    organizacional e o desenho dos postos de trabalho - o recrutamento, a seleco, a avaliao de

    desempenho, a gesto de carreiras, a formao e o desenvolvimento, os sistemas de retribuio,

    as relaes com empregados e as relaes colectivas de trabalho. Acrescentam a todas estas

    actividades a gesto provisional de RH, que apesar de no ter sido considerada por Gurin, a

    consideram como indispensvel para a boa prtica desta gesto.

    No nosso estudo e adaptando a organizao do trabalho de Cardoso et al. (2000), vamos

    seguir as seguintes actividades de GRH: o recrutamento e a seleco, a anlise de funes, a

    9 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    avaliao do desempenho, a formao e desenvolvimento e as recompensas.

    Para alm da abordagem destas actividades, parece-nos necessrio que, para um melhor

    entendimento dessas actividades, iniciemos a nossa abordagem pela constituio da FND em

    termos da sua estrutura organizacional, mais concretamente do seu Quadro Orgnico de Pessoal

    (QOP) ou como mais recentemente tem vindo a ser utilizado a Estrutura Operacional de Pessoal

    (EOP). Assim iremos de seguida abordar a problemtica dos Quadros de Pessoal (QPess).

    I.1.3.1. Quadros de Pessoal

    Todas as organizaes dependem de pessoas para poderem desenvolver a sua actividade (J.

    Baltazar, 2005, p.10), pelo que aps a fase de recrutamento e seleco estas passaro a integrar o

    seu QPess.

    Citando Santos (1997, p.8) J. Baltazar (2005, p.10) considera que os QPess sero, em cada

    momento, a medida do equilbrio entre a necessidade de realizar as tarefas e a necessidade em

    manter os custos com pessoal dentro dos valores definidos pela Organizao, referindo-se a

    cargos, funes ou tarefas. A criao dos QPess resulta da necessidade de estabilizar

    determinados conjuntos de actividades e tarefas que sejam complexas e exijam responsabilidade,

    permitindo assim organizar a actuao interna e externa da organizao (Cmara, Guerra e

    Rodrigues, 2003, p.311)

    Com base nos QPess que advm do Decreto-Lei 202/936 de 03Jun, o General Chefe do

    Estado-Maior do Exrcito (CEME) define e aprova os QOP, que como diz Santos (1997, p.11)

    procuram traduzir as necessidades do Exrcito, decorrentes das actuais misses especficas

    que esto atribudas organizao.

    No caso especfico das FND7 cometida ao Comando Operacional (CmdOp) a

    responsabilidade de elaborao da EOP, bem como a superviso da sua implementao, em

    coordenao com o Comando do Pessoal (CmdPess), com base nos pressupostos da Directiva8

    do General CEME para o aprontamento dessa fora. Ao CmdPess compete a implementao da

    EOP, bem como o recompletamento da fora e a nomeao do pessoal que indigitado pela

    Unidade Organizadora9. esta EOP/FND que traduz as necessidades da fora em termos de

    6 Este Decreto-Lei apenas define o QPess para os militares do Quadro Permanente (QP). 7 De acordo com o Decreto Regulamentar n 43/94 de 02Set do Ministrio da Defesa Nacional, que estabelece as

    atribuies, organizao e competncias do Estado-Maior do Exrcito, Diviso de Operaes que compete, com a colaborao das restantes Divises, elaborar e difundir os QOP (Art 7). Para o caso especfico das FND entendeu o CEME criar uma norma excepcional, conforme se refere no texto.

    8 exemplo a Directiva 96/CEME/06 de 18Abr06 Aprontamento da UEB/TACRES/KFOR para a operao da NATO no Kosovo (2Semestre/06).

    9 Unidade Organizadora o Comando ou a Grande Unidade (Brigada) qual atribuda a misso de aprontar uma FND. Por norma a Unidade Organizadora designa depois uma Unidade Mobilizadora que uma unidade de escalo Regimento/Batalho e que se constituir como a unidade base para o levantamento dessa FND.

    10 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    pessoal, por cargos/funes.

    Estando definida a estrutura da fora, operacionalizada na sua EOP, necessrio ento que

    sejam definidas as funes, pois esta definio que permite definir o perfil profissional dos

    futuros ocupantes (Bilhim, 2006, p.230). Depois da definio da anlise, descrio e qualificao

    de funes, que ser abordada mais frente, pode passar-se fase de recrutamento e da seleco

    dos candidatos, que o que nos propomos abordar de seguida.

    I.1.3.2. Recrutamento e Seleco

    I.1.3.2.1. Recrutamento

    Em termos de literatura consultada praticamente unnime a ideia subjacente s definies de

    recrutamento. Para Bilhim (2006, p.230) recrutamento um processo que visa atrair o maior e

    melhor nmero de candidatos potenciais para desempenhar um determinado posto de trabalho.

    No mesmo sentido, considera Rocha (1999, p.81) ao afirmar que por recrutamento entende-se o

    conjunto de tcnicas e mtodos destinados a atrair candidatos capazes de ocupar determinados

    cargos na organizao.

    Existem trs tipos de recrutamento: o recrutamento interno, se for dirigido a pessoas da

    prpria organizao, o recrutamento externo quando se procura pessoas estranhas organizao

    e o recrutamento misto que combina as duas formas anteriores (Cardoso et al., 2000, p.38).

    Cmara, Guerra e Rodrigues (2003, p.320) consideram que para o recrutamento interno existem

    trs solues: a escolha directa, o concurso interno e o recomendar um amigo; para o

    recrutamento externo consideram: recrutar directamente ou a utilizao do servio de empresas

    especializadas.

    Para o presente estudo, vamos considerar que o recrutamento interno aquele que feito ao

    nvel da Unidade Organizadora e que o recrutamento externo aquele que feito quando a

    Unidade Organizadora no consegue completar a EOP com o pessoal das unidades sob o seu

    comando, solicitando ao CmdPess (atravs do CmdOp) o recompletamento da FND.

    De acordo com as Normas de Nomeao e de Administrao de Pessoal Militar que Integra

    Misses Humanitrias e de Paz10 (NNAPMIMHP), a nomeao de militares para as FND

    processa-se por: oferecimento, escolha ou imposio de servio. Em termos de recrutamento s

    nos interessa salientar a nomeao por oferecimento, por ser aquela que necessitar de

    recrutamento, pois s havendo a divulgao das vagas existentes que os candidatos se

    podero oferecer. Assim, de seguida, aps o enquadramento terico relativo Seleco,

    focalizaremos a nossa ateno nesta forma de nomeao para as FND. 10 Aprovadas por despacho do General CEME, n 29/CEME/02, de 07Fev02.

    11 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    I.1.3.2.2. Seleco

    Aps a identificao dos potenciais candidatos para preencher as vagas existentes que ocorre

    na fase do recrutamento, passa-se para a fase de seleco que visa escolher, de entre os

    candidatos atrados pelo recrutamento, a pessoa certa para o lugar certo, envolvendo as

    seguintes fases: triagem das candidaturas, entrevistas, testes e deciso (Bilhim, 2006, p.232).

    Para Chiavenato (1999, p.107) a seleco funciona como uma espcie de filtro que permite

    que a organizao admita apenas as pessoas que apresentam as caractersticas desejadas,

    baseando-se o processo selectivo na comparao entre os requisitos do cargo a ser preenchido e

    as caractersticas dos candidatos a esse cargo.

    Para o caso concreto das FND, de acordo com as NNAPMIMHP (Art 8), nas nomeaes por

    oferecimento, ser dada preferncia s nomeaes de acordo com os seguintes critrios:

    adequao do posto e qualificao funo; conhecimentos tcnicos e experincia no

    desempenho de funes da especialidade; garantia de maior permanncia no tipo de misso;

    conhecimentos de lngua inglesa; capacidade e robustez psicofsica, etc.

    Para que possam ser cumpridos estes critrios, nomeadamente o primeiro e o segundo

    necessrio saber qual o contedo da funo que o candidato vai desempenhar, considerando

    Bilhim (2006, p.230) que no deve existir recrutamento (e consequentemente seleco) sem estar

    definida a funo ou, na sua ausncia, esta dever ser previamente elaborada.

    Para se saber qual o contedo da funo torna-se ento necessrio efectuar a anlise,

    descrio e qualificao de funes, que o ponto que pretendemos abordar seguidamente.

    I.1.3.3. Anlise, Descrio e Qualificao de Funes

    A anlise de funes uma metodologia utilizada para descrever, de forma to exaustiva

    quanto possvel, os diversos componentes de uma funo, respondendo a vrias finalidades da

    GRH, entre as quais se salienta a definio das caractersticas a requerer ao individuo para que

    este tenha um correcto desempenho (Caetano e Vala, 2002, p.274), ou como diz Bilhim (2006,

    p.221) o que preciso ser feito e que perfil deve ter o futuro empregado para desempenhar com

    sucesso o que deve ser feito.

    A anlise de funes procura identificar as tarefas, as actividades e as responsabilidades de

    uma determinada funo11, concentrando-se em quatro reas: requisitos mentais; requisitos

    fsicos; responsabilidades envolvidas; condies de trabalho (Bilhim, 2006, p.222; Chiavenato,

    2004, p.244).

    11 A funo o conjunto de tarefas e actividades, cujo desempenho concorre para o exerccio de um cargo, sendo o

    cargo um conjunto de deveres, funes tarefas e actividades atribuveis a um s titular (CmdInst, 2004, p.20 e 42). 12

    Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

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    Chiavenato (2004, p.244) diferencia a anlise da descrio de funes (que denomina de

    cargos) entendendo que a anlise pretende estudar e determinar os requisitos qualificativos, as

    responsabilidades envolvidas e as condies exigidas enquanto que a descrio preocupa-se

    com o contedo do cargo (o que o ocupante faz, quando faz, como faz e por que faz). Rocha

    (1999, p.97) apresenta a mesma linha de raciocnio de Chiavenato, considerando que a anlise e

    descrio de funes consiste na indicao do conjunto de tarefas que compem uma funo

    (descrio) e no enunciado das capacidades, responsabilidades e esforos exigidos por essa

    funo (anlise).

    De acordo com Bilhim (2006, p.222), a anlise de funes fornece informao til para

    outras tcnicas de GRH, tais como recrutamento e seleco; avaliao do desempenho;

    compensao; formao e desenvolvimento de carreiras. Caetano e Vala (2002, p.273 e 404),

    acrescentam que a anlise de funes pode tambm ser utilizada no redesenho dos postos de

    trabalho e que o pagamento do trabalho tem como fundamento clssico o sistema de

    descrio, anlise e avaliao de funes, no sendo este, contudo, o nico modo de remunerar

    os colaboradores.

    Rocha (1999, p.106) entende qualificao (ou avaliao) como o processo que possibilita

    determinar o valor relativo de cada funo dentro da estrutura organizacional e que se segue

    descrio e anlise de funes, precedendo a especificao, isto , da indicao dos vrios

    factores especficos de cada funo que so: requisitos do saber, requisitos mentais ou

    sensoriais, requisitos fsicos, responsabilidades envolvidas e condies de trabalho.

    De acordo com Santos (2006, p.19) a qualificao de funes pretende atribuir uma

    classificao ou valorao, de acordo com a sua importncia na organizao, isto , resulta do

    posicionamento do perfil (genrico) no quadro hierrquico da organizao. No mesmo sentido

    aponta Rocha (1999, p.107) quando descreve o mtodo de ordenao das funes que consiste

    em comparar funes e orden-las segundo a sua ordem de dificuldade e de importncia de

    forma a hierarquiz-las.

    No Exrcito Portugus, apesar de haver um manual sobre a anlise de funes do Exrcito12,

    aprovado por despacho de 31Out87 do Director do Departamento de Instruo do Estado Maior

    do Exrcito, no existe, de uma forma geral e organizada, anlise de funes. Existem alguns

    casos pontuais, como o caso do CmdOp, que aps a respectiva anlise de funes elaborou as

    Descrio dos Cargos, conforme exemplo apresentado no Anexo A.

    Contrariamente situao existente no Exrcito, a Marinha e a Fora Area j possuem

    12 MT 110-1 Abordagem Sistmica da Instruo 2 Parte: Anlise de Funes do Exrcito. Saliente-se no entanto

    que este manual especfico para a rea da Instruo. 13

    Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

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    Descrio de Funes, para todos os cargos da sua estrutura, conforme exemplos em Anexo B e

    C, respectivamente.

    Sabendo quais so os requisitos de cada funo e aps o desempenho dessa mesma funo,

    ressalta a necessidade de medir a sua proficincia, pelo que de seguida iremos abordar a questo

    da avaliao do desempenho.

    I.1.3.4. Avaliao do Desempenho

    Bilhim (2006, p.31, 258 e 259) considera que a avaliao do desempenho sendo a pedra

    angular da GRH um processo de medida e gesto do nvel de realizao dos membros de

    uma dada organizao fornecendo a informao necessria para a tomada de deciso e

    servindo como controlo estratgico para medir o desempenho actual relativamente aos

    objectivos estratgicos j fixados e facilita uma distribuio equitativa das recompensas e

    motiva as pessoas.

    Segundo Chiavenato (2004, p.259) a avaliao do desempenho "uma apreciao do

    desempenho de cada pessoa no cargo e de seu potencial de desenvolvimento futuro", no

    devendo ser um fim em si mesmo, nem garantindo, apenas pela sua existncia, o alcanar dos

    objectivos organizacionais (J. Baltazar, 2005, p.20).

    Importa antes de mais relembrar que, conceptualmente, existem diferenas entre avaliao do

    desempenho e avaliao do potencial. Santos (1997, p.30) diz que Stoner considera importante

    que se saiba distinguir entre "desempenho actual" e "desempenho potencial", referindo ainda que

    a deteno de qualificaes, bem como o facto de se demonstrar capacidades para ter um bom

    desempenho numa determinada funo no implica que se realize um bom desempenho noutro

    cargo ou funo e que a experincia mostra-nos que isto nem sempre se verifica, acontecendo,

    por vezes, que as pessoas so promovidas a cargos onde acabam por no ter um desempenho

    adequado.

    Da vasta literatura existente (Bilhim, 2006, p.260; Caetano e Vala, 2002, p.386), retiramos

    que qualquer sistema de avaliao do desempenho integra trs componentes: os objectivos,

    os instrumentos e os procedimentos.

    Mas, para que se possa avaliar o desempenho necessrio que o avaliado saiba o que se

    espera dele, ou seja, qual o seu contributo para que sejam atingidos os objectivos

    organizacionais, implicando que da parte da organizao seja observado, medido e comunicado o

    comportamento individual que se pretende medir (Rocha, 1999, p.120), o que pressupe que ter

    de haver previamente uma anlise e descrio das funes tal como foi anteriormente referido.

    Podemos ento considerar que a avaliao do desempenho uma ferramenta da GRH,

    14 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    devendo servir no apenas para medir o desempenho passado, mas para de forma proactiva

    identificar o que necessrio efectuar para que se atinja o mximo de eficincia e eficcia

    organizacionais (Bilhim, 2006, p.258).

    No Exrcito, a Avaliao encontra a sua base legal no Estatuto dos Militares das Foras

    Armadas (EMFAR13) que estipula no Art 80 que A avaliao do mrito obtida atravs da

    apreciao do currculo, com especial relevo para a avaliao individual, tendo em vista uma

    correcta gesto de pessoal e que essa mesma avaliao feita com base em critrios

    objectivos referentes ao exerccio de todas as suas actividades e funes, sendo o sistema da

    avaliao de mrito regulamentado para cada Ramo por portaria do Ministro da Defesa Nacional

    (MDN). A finalidade da avaliao individual : seleccionar os mais aptos para o desempenho de

    determinados cargos e funes, actualizar o conhecimento do potencial humano existente, avaliar

    a adequabilidade dos recursos humanos aos cargos e funes exercidos, etc (Art 82).

    O Regulamento de Avaliao do Mrito dos Militares do Exrcito (RAMME14), refere no seu

    prembulo que A avaliao constitui uma importante fonte de dados para o planeamento da

    ARH, que a elege como sector de assessoria da sua gesto, devendo ser orientada por objectivos

    claros e flexveis, contribuindo decisivamente para a adequao dos meios disponveis aos

    objectivos estabelecidos, devendo apoiar-se na componente avaliao do mrito e privilegiar os

    bons desempenhos. Um dos objectivos do RAMME (Art 3) Definir critrios objectivos,

    claros e simples que permitam avaliar da competncia e aptido dos militares.

    O Sistema de Avaliao de Mrito dos Militares do Exrcito (SAMME), tem como bases: a

    formao, a avaliao individual, o registo disciplinar (RD) e a antiguidade (RAMME, 2002,

    Art 5). A avaliao individual a valorao das aces, comportamentos e resultados do

    trabalho observados no desempenho de cargos, exerccio de funes ou execuo de tarefas e

    traduz-se no preenchimento de uma ficha de avaliao individual (FAI) (RAMME, 2002, Art 5).

    So atribuies dos Conselho das Armas e Servios do Exrcito (CASE) apreciar: a

    qualidade do desempenho dos cargos e funes do avaliado exercido no actual e, no mnimo, no

    anterior posto; a natureza, as condies e as exigncias peculiares dos cargos e funes; a

    qualidade do desempenho de cargo de posto superior, quando tenha ocorrido; o elenco e

    contedo de funes e cargos desempenhados (RAMME, 2002, Art 20).

    Enquadrada a avaliao do desempenho, e tendo como farol o objectivo do nosso estudo,

    importa agora abordar a questo da formao, na ptica de que esta Avaliao do Desempenho

    ajuda a organizao, na sua necessidade de proceder a [] formao (Bilhim, 2006, p.260).

    13 Decreto-Lei 236/99 de 25Jun. 14 Portaria n. 1246/2002 de 07 de Setembro do MDN.

    15 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    I.1.3.5. Formao e Desenvolvimento

    Cmara, Guerra e Rodrigues (2003, p.415) e Bilhim (2006, p.247) consideram que a formao

    um processo formal e informal de aquisio de conhecimentos, atitudes e comportamentos, que

    so relevantes para a actividade desenvolvida e para o prprio desenvolvimento individual e

    engloba a reciclagem ou a actualizao de conhecimentos anteriormente adquiridos, bem como

    o reforo de atitudes e comportamentos desejveis para o contexto organizacional.

    A formao liga-se ao mesmo tempo, aos anseios de desenvolvimento e valorizao dos

    trabalhadores e s necessidades das organizaes, contribuindo para o sucesso de ambos

    (Bilhim, 2006, p.247), ou como entende Rocha (1999, p.140) serve para aumentar as

    capacidades das pessoas, sob o ponto de vista profissional.

    Para Bilhim (2006, p.247) atravs da formao que o indivduo fica habilitado a

    desempenhar melhor a sua funo e a ser mais autnomo e senhor de si.

    Em termos de objectivo a formao pode ser orientada para o cargo procurando assim

    melhorar o desempenho actual numa dada funo ou orientada para o desenvolvimento para

    preparar o indivduo para o desempenho de uma funo futura ou desenvolver as suas

    capacidades individuais (Cmara, Guerra e Rodrigues, 2003, p.418).

    De acordo com Cmara, Guerra e Rodrigues (2003, p.429) para que a actividade de formao

    numa organizao seja um elemento integrante de uma GRH de sucesso essencial que haja um

    diagnstico de necessidades rigoroso, se recorra s formas e tipos de formao mais adequadas e

    que a avaliao da mesma seja exigente.

    No mesmo sentido, Santos (1997, p.29) considera que para elaborar um plano de formao

    objectivo e adequado necessrio que em primeiro lugar se proceda a um levantamento

    exaustivo das necessidades de formao (diagnstico de necessidades). Na organizao militar,

    o farol para o contedo deste diagnstico so as atribuies (especificidades) das funes ou de

    um conjunto de funes-tipo estatutariamente definidas que motivam a prpria formao.

    De acordo com Cmara, Guerra e Rodrigues (2003, p.403) A formao torna-se, assim, um

    elemento crucial para o desenvolvimento de RH, possibilitando [] uma resposta adequada e

    consentnea com as exigncias do exterior.

    seguindo esta linha de raciocnio que M. Baltazar (2005, p.388-389) considera que A

    formao dos RH em qualquer organizao constitui-se como uma prioridade e

    simultaneamente factor de progresso e desenvolvimento da mesma, assim como de toda a sua

    envolvente. Focalizando o seu trabalho na organizao militar, esta autora diz que esta desde

    sempre tem apostado fortemente na formao dos seus membros e que esta necessidade [de

    16 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    formao] surge cada vez mais premente pelo facto da sociedade actual ser mais competitiva e

    estar sujeita a mudanas rpidas e profundas em todos os seus domnios. Considera ainda que

    a participao contnua e crescente no exterior em vrios TO, executando diversas misses

    um dos factores que tm orientado de forma mais decisiva a evoluo do processo formativo

    dos efectivos militares.

    Em relao Instituio Militar, as bases legais para a formao podem ser encontradas nas

    Bases Gerais do Estatuto da Condio Militar (BGECM15), que no seu Art 12 estipula que a

    formao simultaneamente um direito e um dever dos militares devendo estes receber treino e

    formao geral, cvica, cientfica, tcnica e profissional, inicial e permanente, adequados ao

    pleno exerccio das funes e misses que lhes forem atribudas e ainda formao de

    actualizao, reciclagem e progresso, com vista sua valorizao humana e profissional e

    sua progresso na carreira.

    O EMFAR define no seu prembulo, entre outros aspectos, que foi propsito do legislador a

    criao de condies para a institucionalizao do ensino e formao nas FFAA, estando a

    formao, como um direito do militar, consagrada na alnea b) do Art 25, que diz que o militar,

    tem, nomeadamente, direito: a receber formao adequada ao pleno exerccio das funes e

    misses que lhe forem atribudas tendo em vista a sua valorizao humana e profissional. Mas

    a formao tambm se constitui como uma das condies especiais de promoo, conforme

    estipulado na alnea c) do Art 60.

    Vista a formao e o desenvolvimento, importa agora realar outra das actividades que

    tambm deve ser dependente da avaliao do desempenho que o sistema de recompensas,

    considerando Chiavenato (1999, p.190) que, por exemplo, a avaliao do desempenho

    proporciona um julgamento sistemtico para fundamentar aumentos salariais, promoes,

    transferncias e, muitas vezes, demisses de funcionrios.

    I.1.3.6. Recompensas

    O sistema de recompensas o conjunto de contrapartidas materiais e no materiais que os

    empregados auferem em virtude da sua avaliao de funes, da qualidade do seu desempenho e

    da sua identificao com a cultura e estratgia da organizao (Bilhim, 2006, p.303).

    De acordo com o Art 15 das BGECM so devidos aos militares de acordo com as diferentes

    formas de prestao de servio, os benefcios e regalias fixados na lei. Este conceito

    operacionalizado pelo Art 20 do EMFAR que refere que o militar tem [] direito a perceber

    remunerao de acordo com a sua condio militar, forma de prestao de servio, posto,

    15 Lei n 11/89 de 01Jun.

    17 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    tempo de servio, cargo que desempenhe, qualificaes adquiridas e situaes particulares de

    penosidade e risco acrescido.

    Contudo, quando falamos de recompensas, no nos estamos a referir apenas a remuneraes,

    mas a todos os incentivos pecunirios, ou no, a que o militar tem direito. Para efeitos do

    presente estudo iremos debruar-nos apenas sobre as seguintes recompensas16: suplemento de

    misso, condecoraes e louvores.

    Os militares que participam em FND tm direito a um suplemento de misso com a natureza

    de ajuda de custo, fixado por portaria conjunta dos Ministros da Defesa Nacional e das Finanas

    (NNAPMIMHP, Art 14). Para alm deste suplemento, durante o tempo em que se encontram no

    exterior do TN, os militares ficam isentos do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares

    (IRS). Releva-se que o suplemento de misso diferenciado segundo um determinado

    agrupamento de postos.

    A razo para considerarmos neste nosso estudo as condecoraes e louvores, que no so

    especficos para o caso das FND, prende-se com o facto de a prtica ter demonstrado que a

    quantidade e a qualidade dos mesmos mais elevada para o caso das FND quando comparada

    com a situao de tempo de paz, conforme se depreende dos dados apresentados no Apndice C.

    De realar que at aprovao do actual Regulamento da Medalha Militar e das Medalhas

    Comemorativas das Foras Armadas17 (RMMMCFA), houve militares nas FND que foram

    condecorados com a medalha de servios distintos com palma, reservada para situaes de

    campanha. Contudo, desde a aprovao deste regulamento (Dec02) que no houve mais

    nenhuma condecorao com palma, por a misso no ter sido considerada em campanha18.

    Apesar de para efeitos de condecoraes e louvores as misses das FND no serem consideradas

    em campanha, para efeitos de punio e de acordo com o Art 9 do Cdigo de Justia Militar

    (CJM19) consideram-se equivalentes a crimes cometidos em tempo de guerra os []

    relacionados com o empenhamento das Foras Armadas ou de outras foras militares em

    misses de apoio paz, no mbito dos compromissos internacionais assumidos pelo Estado

    Portugus.

    Tendo chegado ao fim do enquadramento terico da GRH que nos propusemos abordar,

    iremos de seguida caracterizar as OAP, na perspectiva da participao Portuguesa.

    16 No caso das FND existem mais recompensas, como o sejam as licenas, o apoio social, a possibilidade de os

    militares em RV/RC terminarem o seu contrato no final da misso, o aumento de tempo de servio, etc. 17 Decreto-Lei n 316/2002 de 27Dec. 18 O Art 3 define o que campanha (contrariamente ao Regulamento anterior que no definia) competindo ao

    CEMGFA definir quais as situaes que devem ser consideradas como tal. 19 Lei 100/2003 de 15Nov.

    18 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    I.2. Caracterizao das Operaes de Apoio Paz

    De acordo com a Constituio da Repblica Portuguesa (CRP) s FFAA incumbe a defesa

    militar da Repblica, incumbindo-lhes tambm satisfazer os compromissos internacionais do

    Estado Portugus no mbito militar e participar em misses humanitrias e de paz assumidas

    pelas organizaes internacionais (OI) de que Portugal faa parte20 (Art 275), pelo que se

    encontra constitucionalmente consagrada a participao das FFAA em misses no exterior do TN.

    Desde o final da guerra do ultramar21, com a necessria reconverso das FFAA at sua

    profissionalizao ditada pelo fim constitucional do servio militar obrigatrio, que a par das

    transformaes ocorridas (e algumas ainda a decorrer) as FFAA tm tido uma participao cada

    vez maior em misses de paz no mbito das OI de que Portugal membro.

    I.2.1. A participao Portuguesa em OAP

    No mbito das OAP, as FFAA Portuguesas tm desempenhado um papel relevante em apoio

    da poltica externa do Estado Portugus.

    A primeira participao de Portugal em OAP, foi em 1958, no mbito da ONU, na United

    Nations Observer Group in Lebanon (UNOGIL), misso que se destinava a assegurar o

    encerramento das fronteiras do Lbano entrada de armas e mercenrios e na qual

    participaram alguns observadores (IAEM, 1996, 2-6).

    Em termos de unidades constitudas do Exrcito, em 1993 constitudo o BTm4 para a

    UNMOZ, seguindo-se em 1995 o envio duma Companhia de Transmisses (CTm 5) para a

    United Nations Angola Verification Mission III (UNAVEM III).

    Em 1996 a participao Portuguesa em OAP intensifica-se com o envio de um Batalho para

    o TO da Bsnia-Herzegovina, sendo este ano segundo M. Baltazar (2005, p.127) o momento

    que frequentemente se designa como o incio da internacionalizao das nossas FFAA.

    Em 1999 aparecem dois novos TO para onde so enviadas FND: o Kosovo e Timor-Leste.

    Mais recentemente, em 2005, para o TO do Afeganisto enviada uma Companhia, estando

    prevista a projeco em Outubro de 2006 de mais uma FND, desta vez para o TO do Lbano.

    At ao momento22 e reportando-nos apenas a TO para onde foram projectadas unidades

    constitudas, o Exrcito Portugus esteve presente em Moambique, Angola, Bsnia, Kosovo,

    Timor-Leste e Afeganisto com 36 Unidades de Escalo Batalho (UEB23) e 05 Unidades de

    Escalo Companhia (UEC), conforme resumo apresentado na Tabela I.1, cumprindo variadas

    20 Este artigo foi aditado CRP na reviso constitucional de 1997. 21 Ou guerra colonial. 22 Final do 1 Semestre de 2006. 23 Apndice K Caracterizao das FND que constituem o Universo em estudo.

    19 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    misses integrado em diversas OI, num envolvimento crescente em TO to diferenciados e

    alguns a grandes distncias do TN, sendo a participao actual a indicada na Tabela I.2.

    Tabela I.1 - Participao do Exrcito Portugus com FND

    Teatro de Operaes Escalo EfectivoMoambique (1993-1994) (ONUMOZ) UEB (BTm) 459

    Angola (1995-1998) (UNAVEM III/MONUA) UEC (CLog/CTm/DSan) 1.149

    Bsnia (1996-2006) (IFOR/SFOR/EUFOR) 21 UEB 7535 Kosovo (1999-2001) / (2005- 2006) (KFOR) 6 UEB e 3 DOE 1847 Timor (2000-2004) (INTERFET/UNTAET/UNMISET) 8 UEB 5372 Afeganisto (2005- 2006) (ISAF) 2 UEC 314

    Total 36 UEB + 5 UEC 16.676 (Fonte: CmdOp dados referidos a Jul06)

    Tabela I.2 - Empenhamento de FND em 19Jun06

    Organizao TO Operao Unidade Efectivo UE Bnia-Herzegovina EUFOR BrigMec 223 NATO Afeganisto ISAF Comandos/TACP/QG 161 NATO Kosovo KFOR BRR 307

    Total 691 (Fonte: EMGFA, 2006)

    Aps este breve enquadramento sobre as OAP e a participao Portuguesa, iremos de seguida

    referir, de uma forma sucinta e por ordem cronolgica da sua elaborao, os principais trabalhos

    elaborados sobre a temtica da GRH nas FND ou relacionados com alguns dos aspectos que

    abordamos no nosso estudo.

    I.3. Trabalhos j efectuados

    I.3.1. Subsdios para uma carreira - tipo dos Oficiais do QP do Exrcito.

    Este trabalho foi realizado pelo Major de Infantaria Barreiros dos Santos24 no mbito do CEM

    1995/1997. O autor identifica as principais disfunes da ARH no Exrcito no mbito da gesto

    de carreiras e apresenta cenrios de evoluo no mbito das carreiras, propondo diferentes

    tipologias de carreiras consoante as origens dos oficiais do QP. Das suas concluses destacamos

    que existe a necessidade de uma definio clara de competncias e perfs (contedos) no

    apenas para o desempenho de funes-tipo, mas sobretudo ao nvel das tarefas de cada funo

    e que a formao deve ser considerada como um vector estratgico, quer ao nvel da aquisio

    de conhecimentos e competncias, quer da aquisio/modificao das atitudes e

    comportamentos no sentido de um desenvolvimento e valorizao sistemticos. 24 Actualmente Coronel e encontra-se colocado no Instituto de Estudos Superiores Militares.

    20 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    I.3.2. Formao por competncias e GRH no Exrcito

    Este trabalho foi realizado pelo Major de Infantaria Bastos Rocha25 no mbito do CEM

    1996/1998. O autor aborda a questo da formao no Exrcito e o seu relacionamento com a

    GRH. Das concluses apresentadas pelo autor salientamos O sistema de GRH [..] em

    funcionamento no Exrcito Portugus no encontra paralelo em nenhum modelo terico,

    estando as diversas actividades respeitantes aos recursos humanos repartidas por dois rgos

    de planeamento de longo e mdio prazo e por dois comandos funcionais, havendo interferncias

    vrias nos processos gerados, que ainda mais dificultam as actividades do prprio sistema e

    entre outras medidas prope a Execuo duma anlise dos cargos e funes e respectivos

    requisitos, por forma a contribuir para uma clara definio dos objectivos de formao.

    I.3.3. A ARH nas OAP

    Este estudo foi realizado pelo Major de Infantaria Moreno Rato26, no mbito do CEM

    2000/2002. O autor analisa o modo como tem sido executada a ARH no mbito de uma FND em

    OAP, desde a fase de aprontamento, passando pela fase de projeco e de implementao do

    apoio e, por ltimo, na fase de retraco do dispositivo.

    Das concluses do autor, salientamos que a implementao da ARH a uma FND tem-se

    baseado em tcnicas flexveis e adaptveis ao ambiente e s necessidades de cada momento. As

    sucessivas alteraes introduzidas so disso um exemplo, numa procura constante de

    seleccionar os meios necessrios para que sejam atingidos os objectivos pretendidos e que se

    continuam a verificar algumas disfunes no decorrer das diferentes fases percorridas pela

    Fora.

    I.3.4. A ARH nas OAP. Subsdios para a elaborao de elementos de doutrina

    Este trabalho foi realizado pelo Major de Infantaria Varela Curro no mbito do CEM

    2001/2003. O autor aborda a problemtica da ARH nas OAP na ptica da recolha e

    sistematizao de elementos de doutrina com base na experincia nacional neste tipo de

    operaes, concluindo que a anlise e sistematizao em lies aprendidas, devido sua

    importncia justificam e aconselham a elaborao de elementos de doutrina consubstanciados

    num manual prprio, ou pelo menos num anexo ao actual manual de ARH-Campanha que sirva

    de apoio quer ao ensino quer actuao dos elementos das FND.

    Salienta ainda o autor quais as diferenas existentes entre as vrias funes especficas em

    25 Actualmente Tenente-Coronel e encontra-se colocado no Estado-Maior General das Foras Armadas. 26 Actualmente Tenente-Coronel e encontra-se colocado no Instituto de Estudos Superiores Militares.

    21 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    campanha e em OAP, bem como qual a sua importncia relativa.

    I.3.5. A Carreira do Sargento do Quadro Permanente

    Este trabalho foi realizado pelo Major de Cavalaria Jos Baltazar27 no mbito do CEM

    2004/2006, abordando a questo das carreiras dos Sargentos do QP, atravs de uma anlise

    sistmica de um modelo de Gesto de Carreiras. Apesar de este trabalho ser dedicado apenas aos

    Sargentos do QP, reala-se de interesse para o nosso estudo, o enquadramento terico

    apresentado, a metodologia seguida na apresentao dos dados bem como as concluses das

    quais se salienta: a anlise e descrio de funes, no se encontra levantada pelo Exrcito,

    impondo restries e indefinies, e a avaliao do desempenho, no existente no contexto do

    Exrcito, surge-nos como uma disfuno.

    I.4. Sntese Conclusiva

    Com a elaborao deste Captulo foi nossa inteno efectuar o enquadramento terico da

    problemtica da GRH nas organizaes a par da referenciao do corpo normativo que norteia o

    emprego das FND, efectuando de seguida uma breve sntese dos aspectos que consideramos

    mais significativos.

    Os recursos humanos so um dos vectores estratgicos de qualquer organizao pelo que

    necessrio que sejam desenvolvidos mecanismos que garantam o seu ingresso bem como a sua

    manuteno no interior da organizao. Para isso necessrio que sejam desenvolvidos e

    implementados sistemas de GRH alinhados com a estratgia organizacional.

    Todos os gestores no desempenho das suas actividades tm de gerir os seus RH tendo para tal

    de desenvolver uma srie de actividades (tais como o recrutamento e seleco, a anlise de

    funes, a avaliao do desempenho, as recompensas e a formao) de uma forma sistmica e

    no de forma individualizada.

    A anlise de funes uma parte essencial em qualquer modelo de GRH, pois atravs dela

    que se vai definir o que para ser feito pelo titular da funo, de que aptides/habilitaes e

    experincia dever ser portador, etc. A anlise e descrio de funes, que no existe de forma

    sistematizada no Exrcito, apesar de frequentemente referenciada no corpo normativo, permite

    estabelecer critrios para a seleco e recrutamento bem como adequar a formao s

    necessidades reais do desempenho, bem como fornecer dados para a avaliao do desempenho,

    permitindo o ajustamento do sistema de recompensas.

    De seguida iremos apresentar os dados referentes ao trabalho de campo.

    27 Actualmente encontra-se colocado na Brigada Mecanizada.

    22 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    II. APRESENTAO E INTERPRETAO DE RESULTADOS

    II.1. Metodologia

    Decorrente dos objectivos do estudo comeamos por definir a amostra e os instrumentos a

    aplicar. De seguida realizaram-se algumas entrevistas exploratrias com o objectivo de definir as

    dimenses e variveis a integrar na construo dos questionrio a aplicar. Aps a sua elaborao,

    foram contactados os militares a quem seriam aplicados os questionrios, aos quais foram

    transmitidos os objectivos do trabalho, regras de aplicao, prazos e formas de envio dos

    questionrios preenchidos. Os dados resultantes dos questionrios foram por fim introduzidos em

    base de dados atravs do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Foi

    tambm elaborado um guio para as entrevistas realizadas ao mesmo tempo que decorria a

    aplicao dos questionrios e a pesquisa documental. Numa ltima fase foi integrada a

    informao das entrevistas e os dados dos questionrios com a pesquisa documental com o

    objectivo de verificar qual a validade das hipteses.

    II.2. Instrumentao

    Os instrumentos deste estudo consistiram na aplicao de trs questionrios, na realizao de

    entrevistas e na pesquisa documental.

    II.2.1. Questionrios

    O questionrio Alfa (Apndice D) aplicado no nosso estudo destinou-se a efectuar um estudo

    de caso, centrado no S1 de uma FND, para procurar de uma forma mais precisa verificar qual a

    validade da aplicao de um modelo terico de GRH a uma FND.

    O questionrio Bravo (Apndice E) pretendeu abordar duas vertentes: por um lado validar o

    estudo de caso centrado no S1 de uma FND, atravs da perspectiva do Cmdt da FND; por outro

    lado verificar qual a concordncia do Cmdt relativamente ao modelo de GRH aplicado nas FND.

    O questionrio Charlie (Apndice F) pretendeu verificar qual a validade da aplicao de um

    modelo terico de GRH a uma FND, atravs da anlise do grau de concordncia dos militares

    com algumas das polticas aplicadas s FND, bem com a frequncia com que algumas se

    verificaram.

    Os determinantes pessoais includos nos questionrios foram distintos, tendo sido includos no

    incio dos mesmos.

    Os determinantes organizacionais, adaptados a partir do Job Satisfaction Survey (JSS) de

    Paul Spector (em Anexo D), e que foram includos nos questionrios Bravo e Charlie para

    avaliao foram: o recrutamento e a seleco, a anlise de funes, a avaliao do desempenho, a

    23 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    formao e o desenvolvimento e as recompensas. Para esta adaptao, consideramos como

    escalas que avaliam os determinantes organizacionais, as actividades da GRH que nos

    propusemos abordar. A adaptao deste instrumento nessas cinco escalas constitua a parte III do

    questionrio Bravo e a Parte II do Questionrio Charlie.

    Para alm dos determinantes organizacionais, adaptados a partir do JSS de Paul Spector,

    foram includos nos questionrios outros determinantes organizacionais, em que para as mesmas

    escalas foram criadas perguntas abertas, semi-abertas e fechadas, procurando no entanto que,

    aquando do seu tratamento estatstico fossem todas fechadas. Foi nossa inteno procurar

    caracterizar as actividades de GRH nas FND quer atravs do grau de concordncia, quer de

    perguntas mais descritivas, procurando no entanto trabalhar nas mesmas escalas.

    Os itens dos questionrios, pertencentes s diferentes escalas avaliadas, so referidos no

    Apndice G.

    Os determinantes organizacionais includos no questionrio que se dividem em cinco escalas

    procuram reflectir as actividades de GRH, procurando reflectir os processos desenvolvidos ou a

    concordncia dos militares inquiridos. As diferentes escalas so avaliadas por um nmero

    varivel de afirmaes, que desenvolvemos no Apndice G, cuja relao com as hipteses

    formuladas a apresentada na Tabela II.1.

    Tabela II.1 - Relao entre as escalas, questionrios e hipteses

    Escala (Dimenso)

    Questionrio Alfa

    Questionrio Bravo

    Questionrio Charlie

    Recrutamento e Seleco H1 H1 H1

    Anlise de Funes H2 H2 H2

    Avaliao do desempenho -- H3 H3

    Recompensas -- H4 H4

    Formao e o desenvolvimento H5 H5 H5

    As cinco escalas avaliadas constituem as dimenses de anlise e que correspondem a cada

    uma das hipteses levantadas. A forma de resposta, nas escalas de concordncia, constituda

    por uma escala de quatro pontos que varia desde Discordo = 1 a Concordo = 4, no tendo

    sido includa a possibilidade de resposta neutra.

    24 Maj Cav Ferreira - CEM 05-07

  • Gesto de Recursos Humanos no mbito de uma Fora Nacional Destacada: O caso Portugus

    II.2.2. Entrevistas

    Foram efectuadas entrevistas a trs dos quatro Oficiais de pases amigos (Espanha, Estados

    Unidos da Amrica e Itlia)28, que frequentaram o CEM 2005-2007, destinadas a recolher as

    experincias dos exrcitos dos seus pases, possibilitando obter outra perspectiva,

    complementando assim a informao. Para a conduo das entrevistas, semi-estruturadas,

    procedeu-se elaborao de um guio (Apndice H), de forma a dar uma maior sistematizao,

    objectividade e rigor informao a recolher, sendo apresentados os resumos no Apndice I.

    II.2.3. Pesquisa Documental

    Como complemento aos dados resultantes dos questionrios e entrevistas foi efectuada uma

    pesquisa documental. Esta pesquisa envolveu a consulta de:

    Relatrios de Fim de Misso (RFM) elaborados pelas FND, existentes no CmdOp;

    QOP/EOP disponibilizados pelos S1;

    Ordem do Exrcito;

    Documentos legislativos, manuais e outros documentos.

    II.3. Amostragem

    II.3.1. Descrio da amostra

    Esta investigao desenvolve-se sobre o universo de todos os militares do Exrcito Portugus

    que integraram as FND de escalo Batalho nos TO da Bsnia, Kosovo e Timor Leste, desde

    1996 at ao final do 1 semestre de 2006, num total aproximado de 14500 militares. A partir

    deste universo foram considerados trs sub-universos: o sub-universo Alfa constitudo pelos S1;

    o sub-universo Bravo constitudo pelos Cmdt; o sub-universo Charlie constitudo pelo

    remanescente dos militares que integraram FND (cerca de 14500 militares).

    No primeiro e segundo casos, apesar de se ter procurado que a amostra coincidisse com o sub-

    universo, tal no foi possvel. No terceiro caso a amostra seleccionada numa primeira fase

    incidiu sobre os militares que dispunham de conta de e-mail do Exrcito, tendo depois esta

    amostra sido alargada a outros militares atravs da aplicao do mesmo questionrio em papel.

    Consideramos que esta ltima, no sendo, formalmente, uma amostra representativa, tenda para

    a representatividade.

    28 No foi entrevistado o Oficial de Moambique devido pouca experincia em OAP com U