inquérito (hábitos de leitura)

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INQUÉRITO AOS HÁBITOS DE LEITURA DOS ALUNOS DO AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS DO VISO Porto, 2010/2011

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Inquérito aos hábitos de leitura dos alunos do Agrupamento Vertical de Escolas do Viso (POrto), 2011

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Page 1: Inquérito (Hábitos de Leitura)

INQUÉRITO AOS HÁBITOS DE LEITURA DOS

ALUNOS DO AGRUPAMENTO VERTICAL DE

ESCOLAS DO VISO

Porto, 2010/2011

Page 2: Inquérito (Hábitos de Leitura)

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Sumário:

Introdução ………………………………………………………………………………………………………… 3

1. Objectivos e metodologia …………………………………………………………………………………. 3

2. Ideias e atitudes face à leitura …………………………………………………………………………… 6

3. Prática de leitura ………………………………………………………………………………………………. 9

Conclusão …………………………………………………………………………………………………………..17

Page 3: Inquérito (Hábitos de Leitura)

3

Introdução

Um dos principais problemas que o Agrupamento Vertical de Escolas do Viso tem vindo a apontar nos seus

Projectos TEIP é o insucesso académico, que embora tenha vindo a diminuir, continua a preocupar toda a

comunidade escolar. Um dos aspectos que tem sido relacionado com este insucesso é a dificuldade que

alguns alunos manifestam na compreensão da leitura e na falta de hábitos de leitura.

A equipa a ler+ teve, este ano lectivo, duas preocupações para as quais orientou o seu trabalho: uma,

tentar perceber as dificuldades na leitura no 1º ciclo e no 5º ano; outra, conhecer os hábitos de leitura. No

primeiro caso aguardamos o estudo que está a ser desenvolvido em parceria com o Instituto da Criança, da

Universidade do Minho, para podermos fazer uma proposta de intervenção.

No segundo caso, a equipa aLer+ realizou um inquérito aos hábitos de leitura que aplicou do 2º ano ao 9º

ano, em todas as escolas do Agrupamento.

As actividades que temos desenvolvido têm procurado promover a leitura em contexto escolar, quer ao

nível da sala de aula, quer nas bibliotecas escolares do Agrupamento. No entanto consideramos, que

embora já tardiamente, era importante conhecer as ideias e atitudes face à leitura e à prática dos nossos

alunos.

Esperamos que este trabalho nos permita definir com mais clareza as práticas a desenvolver no âmbito da

leitura quer nas bibliotecas quer nas turmas.

O objectivo deste estudo limita-se a analisar os hábitos de leitura das crianças e jovens que frequentam o

nosso agrupamento com idades compreendidas entre os 6/7anos e os 15anos.

1. Objectivos e metodologia

Objectivos gerais deste estudo:

Com este trabalho pretendemos essencialmente obter respostas para as seguintes questões:

Como encaram a leitura os alunos?

Existem hábitos regulares de leitura?

Quais os motivos porque não lêem?

Quais os motivos que os levam a escolher um livro?

Qual a percentagem de leitores entre os alunos dos diferentes níveis de escolaridade?

Que tipo de livros preferem os alunos dos diferentes ciclos?

Falam sobre as suas leituras com os amigos?

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Metodologia

Os inquiridos

Para obter respostas significativas considerou-se indispensável que o estudo abrangesse todas as escolas

do agrupamento e todos os anos. No caso dos alunos do Pré-escolar e 1º ano aplicaram-se inquéritos aos

encarregados de educação, mas ainda não é possível apresentarmos os dados.

O questionário

Inicialmente foi pensado para conhecer também os hábitos da família, mas devido a dificuldades no seu

tratamento restringiu-se apenas aos hábitos dos alunos e foi constituído por 15 questões para o 2º e 3º

ciclo e por 12 para o 1º ciclo.

Nas questões 4 e 5 tentámos analisar as respostas por géneros. Teria sido interessante fazer este tipo de

análise em todas as questões, mas não foi possível.

Os inquéritos foram respondidos ou na Hora do Conto, na Biblioteca, ou aplicados em turma pelos

professores, que trataram os dados da turma. No caso do 2ºe 3º ciclo foi o professor de matemática, umas

vezes com os alunos, outras, eles próprios, que fizeram a contagem dos dados da turma.

A certa altura do processo, percebemos que havia uma questão que não tinha sido colocada inicialmente

mas que nos pareceu pertinente: As atitudes e as práticas de leitura seriam diferentes nos rapazes e

raparigas? Procuramos então fazer esta distinção sempre que os dados recolhidos pelos professores o

permitissem. No caso do 1º e do 2º ciclo foi possível mas o mesmo não aconteceu no 3º ciclo, porque nem

todos os professores os tinham recolhido desta forma. Evidentemente que o erro foi nosso que deveríamos

ter dado uma grelha de recolha igual à que fornecemos ao 1º e 2º ciclo. Apesar destas falhas foi possível

obter respostas.

Graf. 1: Género por

ciclos.

Page 5: Inquérito (Hábitos de Leitura)

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O sexo masculino é maior no 1º e 2º ciclo e o feminino no 3º. Seria talvez interessante perceber porquê. Os

rapazes abandonam os estudos mais cedo? Têm piores resultados no decorrer da vida escolar? Quais os

motivos que levam a que sendo maior o número de alunos no início da vida académica sejam as raparigas

que permanecem no sistema?

As respostas

Num universo de alunos a percentagem de respostas ultrapassou os 90%, excepto no caso do 6ºAno que

atingiu apenas 69,55%. Estes valores permitem - nos tirar conclusões significativas. O inquérito foi o mesmo

para todos os anos, excepto as perguntas xyz, que no 1º ciclo os professores entenderam que seria melhor

retirá-las.

No tratamento levado a cabo procurámos distinguir por sexo as questões “Para ti a leitura é…”; “Costumas

ler regularmente” com o objectivo de perceber as diferenças entre géneros na forma como olham para a

leitura e os hábitos de leitura. No entanto, no 3º ciclo, apenas foi possível em duas turmas esta distinção

porque os professores que recolheram os dados da sua turma apenas nos entregaram os dados finais sem

fazer a diferenciação pretendida, por isso no 3º ciclo os totais das respostas são de todos os alunos.

O número total de respostas foi o seguinte:

.

Nota: Não foram considerados os alunos dos cursos CEF e EFA(s).

O tratamento

Numa 1ª fase, os professores titulares, no 1º ciclo, e o professor de matemática, no 2º e 3º ciclo, fizeram a

recolha de dados da turma. Em seguida os dados foram tratados por anos e escola; depois por ano de todas

as escolas (1º ciclo) e por fim por ciclo. No 2º e 3º ciclo o tratamento foi realizado por anos e por ciclos. No

final analisaram-se os dados procurando comparar os resultados por ciclos.

Total de alunos inscritos por ano e ciclo no Agrupamento

2º Ano

3º Ano

4º Ano

5º Ano

6º Ano

7º Ano

8º Ano

9º Ano

Total de alunos por ano

96 122 139 101 82 86 51 55

Total de alunos por ciclo

357

183

192

Nº de inquéritos respondidos e %

2º Ano

3º Ano

4º Ano

5º Ano

6º Ano

7º Ano

8º Ano

9º Ano

89 114 128 70 57 64 49 53

92% 93% 92% 91% 69,5% 74,5% 96% 96%

Page 6: Inquérito (Hábitos de Leitura)

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2. Ideias e atitudes face à leitura

Como ponto de partida para esta análise a primeira interrogação a fazer refere-se ao conjunto de

representações que os nossos alunos possuem acerca do acto de ler e que pode condicionar a prática

individual de leitura. O nosso questionário incluía uma questão a partir da qual se procurava aferir a ideia

que cada um tinha em relação à leitura. A questão nº 4 pedia aos inquiridos que situassem o seu grau de

concordância relativamente a 4 hipóteses:

Para ti a leitura é:

Um prazer;

Uma obrigação;

Um aborrecimento;

Uma distracção.

Graf.2: O que é para ti a

leitura

Conforme se torna evidente no gráfico 2, a ideia que os alunos mais associam à leitura é, em primeiro lugar,

a da leitura como prazer (73% no 1º ciclo; 65% no 2º)e no 3º ciclo como distracção, (35,9%)logo seguida

pelo prazer( 33,8).

A passagem do 2º ciclo para o 3º ciclo acentua as diferenças. A distribuição pelas hipóteses apresentadas é

maior. A ideia da leitura como prazer diminui de acordo com o ano de escolaridade. Assim para 34,5% do

7º ano, decresce no 8º para 25,5% e no 9º para 19,8%. No caso do 9º ano a distribuição é igual na leitura

como prazer e como aborrecimento. No 8º ano a leitura é vista mais como uma distracção.

Estamos, assim, face a uma representação de leitura, nos 3 ciclos, que julga o acto de ler como um prazer e

como uma distracção (3º ciclo). Contudo ao analisarmos as respostas que relacionam a leitura como um

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aborrecimento encontramos diferenças significativas, sobretudo no 3º ciclo. Enquanto no 1º ciclo a

percentagem de respostas é de 8,9%, no 2º, é de 4% e no 3º ciclo é de 20,7%.

Gráf.3: A leitura

como aborrecimento

Observando as respostas dadas por ano, no 3º ciclo, percebe-se que é no 9º ano que a ideia de

aborrecimento aumenta significativamente 32,1%, contra 14% no 7º e 14,3% no 8º ano.

Gráf.4: 3º Ciclo

De uma forma geral estes dados confirmam a ideia generalizada de que há uma alteração na visão da

leitura no período da adolescência. É uma fase de descoberta de outros interesses. O próprio mercado

livreiro nos dá conta disso. Há muito mais obras de qualidade e autores que escrevem para crianças do que

para jovens.

Page 8: Inquérito (Hábitos de Leitura)

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Fazendo a distinção por género, no 1º e 2º ciclo, verifica-se que a ideia de prazer na leitura aumenta nas

respostas das raparigas no 2º ciclo, enquanto que no 1º ciclo praticamente não há distinção por sexo.

Gráf.5:

Distinção

por

género, no

2º e 3º

ciclo

Desta análise podemos concluir que:

A atitude dos nossos alunos perante a leitura é positiva. Nos três ciclos associam o prazer e a

distracção ao acto de ler.

A comparação das respostas por sexo mostra que são as raparigas que mais vêem a leitura como

um prazer.

Na entrada na adolescência de uma maneira geral, e em particular nos rapazes, dá-se uma

alteração na forma de olhar a leitura, que pode ser preocupante. O número de jovens que a

vêem como um aborrecimento é significativo.

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3. Prática de leitura

Analisados os significados atribuídos à leitura pelos nossos alunos, vamos determo-nos agora nas práticas

propriamente ditas.

A declaração de uma prática habitual de leitura de livros é diferenciada segundo o ciclo de estudos. No 1º e

2º ciclo os valores são aproximados (70,3% e 51,4% respectivamente) enquanto no 3º ciclo o nº dos que

não lêem é mais significativo, do que o daqueles que dizem ler (52,6% afirma não ler enquanto apenas

32,3% dizem fazê-lo.). É notória a tendência para uma acentuada diminuição das práticas de leitura no 3º

ciclo, que decresce segundo o ano de escolaridade.

Gráf.6:

Regularidade da

leitura

No 3º ciclo a percentagem dos que dizem ler e dos que afirmam não ler mostra que, apesar da tendência

ser não ler, ela é gradativa e acentua-se no 8º e 9º ano.

Gráf.7: 3º Ciclo

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Estes valores acompanham a tendência nacional em que é notória uma acentuada diminuição da prática

de leitura de livros à medida que aumenta a faixa etária dos alunos. Teria sido interessante comparar a

leitura de livros com a leitura noutros suportes (revistas, jornais, Internet..).

A declaração de uma prática regular de leitura é igualmente diferente entre sexos. Já no 1º ciclo se começa

a notar essa distinção. A maioria das respostas mostra que são as raparigas que afirmam mais ler. Mesmo

no 3º ciclo, com base nas turmas em que temos dados diferenciados por sexo, são quase na totalidade

raparigas que afirmam ler.

Gráf. 8: Distinção por

género dos hábitos de

leitura.

No 1º e 2º ciclo, em que foi possível fazer a distinção por sexos, 82,5% e 91,7% das raparigas do 1º e 2º

ciclo respectivamente afirmam ser leitoras habituais contra 58,2% e 31,3% dos rapazes dos mesmos ciclos.

Graf. 9: Motivos para

não ler

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Relativamente aos não leitores, isto é, aqueles que dizem não ler nunca livros não escolares, na pergunta

que procura encontrar os motivos para a não leitura, conforme podemos observar no gráfico, a opção

“prefiro fazer outras coisas” é a mais frequente.

Comparando os motivos por ciclo verificamos que:

no 1º ciclo: o 1º motivo são as dificuldades na leitura (9,3%), seguida já pelo “prefere fazer outras

coisas (7,6%);

no 2º ciclo: a maioria das respostas apontam já para “prefiro fazer outras coisas”(15,7%), embora

12,6% refiram que têm dificuldades na leitura ou em compreender o que lê.

No 3º ciclo: o motivo mais frequente é claramente o “prefiro fazer outras coisas”(40,4%), seguido

pelo “não me apetece e canso-me facilmente”(16,3%)Esta é uma tendência que se tem vindo a

observar no 3º ciclo, ou seja, um progressivo afastamento da leitura nestas faixas etárias. Contudo,

convêm destacar os 7,8% de alunos que referem como motivo o terem dificuldades em

compreender o que lêem.

Para além desta análise de motivações para a leitura, o inquérito solicitava também aos alunos um

testemunho menos subjectivo, relativo às suas práticas efectivas de leitura. Com efeito, os alunos eram

questionados sobre a leitura ou não de livros no próprio momento da aplicação do inquérito, sendo-lhes

também solicitado a identificação do autor e título que se encontravam a ler.

Gráf. 10: Prática

de leitura

Ao compararmos estas respostas com as apresentadas no gráf. 6, verificámos que no 1º ciclo, a

percentagem dos que declaravam ler (70,3%) com os que agora dizem estar a ler, baixa para os 49,9%. No

2º ciclo afirmavam ler 51,4% ,e na resposta a esta pergunta, só 38,3% dizem estar a ler. No 3º ciclo, dos que

se declaravam leitores, (32,3% ), apenas 25% respondem que estão a ler.

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No pedido que é feito para que indiquem o título e o autor do livro que estão a ler, no 2º e 3º ciclo nota-se

uma descida no número de leitores atentos (poucos indicam o nome do autor e o título da obra). No 1º

ciclo, os professores entenderam retirar esta questão, provavelmente porque não podemos falar ainda de

leitores no 1º ciclo, embora já os haja, porque a leitura é pouco autónoma nas nossas EB1(s).

Apesar da variedade de autores e títulos indicados, é possível discernir uma clara preferência pelos contos

e livros de aventura e mistério. Os autores que aparecem mais referenciados no 5º e 6º ano, foram Ana

Saldanha e Sophia de Mello B. Andersen, o que nos sugere, contrariamente ao que tinham afirmado

anteriormente, que escolhiam os livros pela capa e não se notava nenhuma interferência da escola, as

respostas agora dadas sugerem a influência da Biblioteca escolar e das aulas de Língua Portuguesa. No 3º

ciclo, o género preferido é claramente, o romance de suspense e mistério . A escritora mais referida é

Stephanie Meyer . Surge igualmente Ana Saldanha, que foi uma sugestão da biblioteca este ano lectivo.

Como seria de esperar a percentagem dos leitores, anteriormente identificados, baixa consideravelmente

face a estas questões mais específicas, onde para além da declaração de leitura era também necessário

identificar o autor e o título daquilo que se lê. Consideramos assim que a diferença entre os que dizem ler e

os que efectivamente lêem determina os leitores mais regulares.

Aos alunos era também pedido que indicassem a razão pela qual tinham escolhido o seu último livro lido. A

partir do gráfico 11 é possível observar, que no 3º ciclo, a recorrência do “interesse pelo tema” (38,6 %),

como justificativo da leitura seleccionada, dá uma imagem de segurança pessoal nas escolhas, seguida

pelo” A capa chamou-me atenção”( 21,1%) . No caso do 2º ciclo inverte-se a situação, sendo o motivo mais

escolhido a capa do livro (33,1%), e o segundo motivo o tema (29,9%).

Gráf. 11:

Motivo da

escolha do

último livro

lido.

Todas as outras razões, em ambos os ciclos, são residuais, nomeadamente a leitura seleccionada por

conselho dos pais ou dos professores. Isto poderia assinalar uma crescente perda de importância de

instituições como a escola e a família na definição dos hábitos e preferências de leitura de livros. Contudo,

quando foi pedido a indicação do autor e título do livro, na questão anterior, notou-se que no 2º ciclo é

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importante a influência da escola. Já no 3º ciclo talvez possamos associar o motivo da escolha, no caso do

3º ciclo, à busca de afirmação da própria individualidade. Esta pergunta foi retirada no 1º ciclo .

Regularidade da leitura

Foi também pedido aos alunos que respondessem a um conjunto de questões sobre a regularidade com

que liam. Começamos por analisar o número de livros lidos no último ano. (Esta questão não foi formulada

no questionário aplicado no 1º ciclo). A hipótese mais assinalada, tanto no 2º como no 3º ciclo, foi a de 3 a

5 livros por ano (35,4% e 33,7%, respectivamente). Continua a verificar-se que os alunos do 2º ciclo lêem

mais do que os do 3º ciclo. É significativa a diferença de valores nas respostas dos que não leram nenhum

livro: 6,3% no 2º ciclo e 25,3% no 3º ciclo.

Gráf. 12:

Quantidade de livros

lidos num ano.

Da mesma forma, quando questionados “há quanto tempo terminaste de ler o último livro”, 50,4% dos

alunos do 2º ciclo respondeu que há menos de um mês, enquanto durante o mesmo período, só, 16,9% dos

alunos do 3º ciclo declarou fazê-lo. A opção com mais respostas neste ciclo foi há vários meses (25,3%).

Gráf. 13: Há

quanto tempo leu

o último livro.

Page 14: Inquérito (Hábitos de Leitura)

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Relativamente ao tempo dedicado à leitura por semana, a maioria dos alunos lê durante pouco tempo. No

1º ciclo, 31,4% lê entre meia hora ou menos, e 28,7% entre meia hora e 2 horas por semana. No 2º ciclo os

valores sobem ligeiramente, nos mesmos tempos (44,1% e 32,3%). A percentagem dos que não lêem é

semelhante nos dois ciclos. Mas agrava-se significativamente no 3º ciclo 29,5%. O tempo que a maioria dos

alunos dedica à leitura é meia hora ou menos, o que permite afirmar que só a uma pequeníssima

percentagem de alunos do 3º ciclo poderemos considerar leitora.

Gráf. 14: Tempo

dedicado à

leitura.

Page 15: Inquérito (Hábitos de Leitura)

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Género de livros lidos

O questionário solicitava aos alunos dos três ciclos a indicação de três géneros de livros, que

fossem objecto da sua leitura habitual.

Um primeiro olhar sobre o escalonamento das preferências de leitura de livros mostra uma clara

preferência no 1º ciclo pelo género Conto “Histórias de animais /fábulas”(34,7%),Histórias

tradicionais/contos de fadas (33,2%) Contos (29,6%) Num segundo plano, embora ainda relevante,

encontra-se a preferência pela Banda Desenhada (29%). No 2º ciclo a preferência vai para os livros de

Aventuras/Viagens/ Explorações (50,4%), logo seguida pelo Terror/Mistério (36,2%) e a poesia (31,5%). Este

valor é para nós significativo, porque difere do habitual em jovens desta faixa etária e sobretudo num

contexto sócio-cultural como é o nosso. Acreditamos que tal se deve ao investimento feito pela biblioteca e

professores neste domínio. No 3º ciclo a preferência recai sobre os livros de Terror/Mistério.

Graf. 15:

Preferências de

leitura

A idade assume-se, mais uma vez, como uma variável significativa na discriminação do género de livros

lidos pelos nossos alunos.

Page 16: Inquérito (Hábitos de Leitura)

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Amigos

Sendo do conhecimento geral a importância das relações de convivialidade e de amizade com

outros do seu nível etário na definição das suas práticas e preferências, julgámos por bem introduzir duas

questões no inquérito que nos permitisse determinar o grau de influência dos amigos sobre os hábitos de

leitura das crianças e jovens do nosso Agrupamento. Baseámo-nos, em 3? Indicadores: o hábito de leitura

dos amigos, a presença da leitura nas conversas com os amigos e a influência destes na escolha da leitura.

Gráf. 16: Frequência

de leitura dos amigos.

Quando inquiridos sobre os hábitos de leitura dos amigos, 77,6% dos alunos do 1º ciclo afirmam que

aqueles lêem frequentemente, e 20,2% não o fazem. No 2º ciclo, 80,3% dos amigos lêem, e apenas 18,9%

não. No 3º ciclo, 38% dos amigos lêem frequentemente mas 47% não o fazem. Estes valores poderiam

apontar para a importância que a leitura tem entre os nossos alunos, contudo a análise à questão seguinte

vem de certa forma contrariar esta ideia. Quando questionados sobre se era costume falarem sobre livros,

as respostas foram preocupantes. No 1º ciclo responderam “Raramente” (21,5%) e” Nunca “(27,8%). A

situação no 2º ciclo é semelhante (Raramente 44,1% e Nunca 15,7%). Responderam “ Muitas vezes”,

apenas 13,6% no 1º ciclo e apenas 3,1% no 2º ciclo. No 3º ciclo, definitivamente, o assunto livros não é do

interesse dos nossos jovens. Responderam “Raramente” e “Nunca” 36,1% e 34,3% ,ou seja, a grande

maioria. Apenas 1,2% fala muitas vezes e 15,1% algumas vezes.

Gráf. 17: Conversa

sobre livros entre os

amigos.

Page 17: Inquérito (Hábitos de Leitura)

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Conclusão

Este estudo foi visto desde o início como uma pequena contribuição para a caracterização

dos hábitos e práticas de leitura das crianças e jovens que frequentam o nosso Agrupamento.

Em termos gerais e de forma algo esquemática, podemos dizer que os nossos alunos do 2º

ao 9º ano apresentam traços de relação com a leitura próximos daquilo que se conhece ser o

padrão geral das crianças e jovens de ambientes urbanos e oriundos de meios culturalmente

desfavorecidos. Assim, a leitura tem, entre estes jovens, uma presença limitada no conjunto das

suas práticas dominantes de ocupação de tempos livres. No seu todo, os inquiridos apresentam

índices baixos de prática habitual de livros, sendo de assinalar uma vantagem das raparigas e dos

alunos de mais tenra idade. Um facto, que nos parece comum ao que habitualmente se afirma, é

uma acentuada diminuição da prática de leitura de livros à medida que aumenta a faixa etária dos alunos.

Os leitores (os que no momento do inquérito liam) representam cerca de 50% no 1º e 2º

ciclo e 25% no 3º ciclo. São maioritariamente as raparigas que lêem. A sua leitura é

predominantemente Conto, Aventura e Romance de mistério, de acordo com a sua faixa etária.

Contudo o número de livros lidos por ano e o tempo dedicado à leitura é manifestamente pouco.

Dentro dos que afirmam ler, parecem-nos ser leitores pouco atentos, porque não identificam ou

identificam com pouca precisão o autor e título do livro que estavam a ler. Um aspecto que nos

leva a interrogar é sobre as razões da não leitura por parte de um grande grupo de alunos. Se

recorrermos directamente às respostas obtidas, ressaltam várias razões dependendo do nível de

ensino. No 1º ciclo o principal motivo é as dificuldades na leitura; no 2º ciclo, apesar da maioria das

respostas ser “preferir fazer outras coisas”, também 12,6% referiram que têm dificuldades na leitura ou em

compreender o que lêem. No 3º ciclo, embora maioritariamente apresentem como motivo para não ler o

preferir fazer outras coisas e o “não me apetece e canso-me facilmente”, existem 7,8% que apontam como

motivo o terem dificuldades em compreenderem o que lêem. Este aspecto pareceu-nos importante porque

se prende com o ensino da compreensão leitora, de que os professores do 1º ciclo e do 5º ano de L.P tanto

ouviram falar. Não há dúvida que há trabalho diferente a desenvolver. Mas poderá haver outras razões

para a não leitura. O facto de os nossos alunos lerem menos do que seria desejável não pode ser desligado

do contexto social em que se integram. Sabemos que os nossos alunos vivem em bairros sociais, onde

o nível de instrução é baixo e elevado o grau de iliteracia. Estes défices culturais e educativos da

comunidade constituem certamente razões para a não motivação para a leitura. Este facto obriga

a que a escola tenha um papel crucial na aproximação dos nossos alunos à leitura.

As actividades que as escolas e jardins do Agrupamento têm vindo a aplicar no

desenvolvimento das competências de leitura e na sua motivação, são já reflexo da necessidade

sentida por todos os professores. Mas não tenhamos dúvidas: não se formam leitores se antes não

os ensinarmos a ler e a compreender. É urgente esta intervenção na área da leitura. Não podemos

continuar a justificar o insucesso com as condições sócio-económicas e culturais do meio. Os

projectos de leitura das turmas têm que ser consistentes e envolver todos os professores das

turmas. O diagnóstico atempado pelo conselho de turma das dificuldades na leitura, a

caracterização por aluno dessas dificuldades, a clarificação do tipo de dificuldades, a definição de

Page 18: Inquérito (Hábitos de Leitura)

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estratégias a seguir para a recuperação dos alunos com dificuldades, o conhecimento dos hábitos

de leitura (preferências de leitura, tempo dedicado à leitura por semana, etc.) constituirão a base

para a criação do projecto de leitura das turmas.

Esperamos contar com a colaboração de todos os professores na análise dos dados aqui

apresentados e sugestões de intervenção no domínio da leitura, da compreensão da leitura e na

aproximação dos livros, de forma a desenvolver práticas de leitura. No fundo a formar leitores e

por isso cidadãos livres.