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Processos e técnicas de pesquisa social

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Processos e técnicas de pesquisa social

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Material Teórico

Responsável pelo Conteúdo:Prof. Esp. Ana Kely Braga de Oliveira Monte Peres

Revisão Textual:Prof. Ms. Claudio Brites

A pesquisa qualitativa

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• Conceito

• Breve fundamentação teórica da pesquisa qualitativa

• Características

• Metodologia da pesquisa qualitativa

· Entender a pesquisa qualitativa não só a partir de seus conceitos, mas também como meio de qualificar a história de vida do sujeito com base em uma teoria

Caro (a) aluno (a),

Nesta Unidade, abordaremos o conceito, as características e a metodologia da pesquisa qualitativa.

No link Materiais Didáticos, você encontrará o conteúdo e as atividades propostas para esta Unidade; aproveite todo o material disponível como forma de apoio para a realização das atividades e lembre-se de respeitar os prazos estabelecidos no cronograma do curso.

Bom estudo!

A pesquisa qualitativa

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Unidade: A pesquisa qualitativa

Contextualização

A pesquisa qualitativa envolve muitos aspectos, com vistas a chegar a um resultado o mais plausível possível.

Todo estudante, seja ele acadêmico ou curioso, já fez pesquisa algum dia. Vamos avaliar seu potencial como pesquisador? Para isso, preencha o questionário abaixo conforme as orientações, use S para sim e N para não.

Fonte: pgcl.uenf.br

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Conceito

A pesquisa qualitativa, objeto de estudo desta Unidade, traz em seu bojo a objetividade e a subjetividade do sujeito, fatores que não podem ser traduzidos em números. Cabe ao pesquisador analisar esses dados e interpretá-los de acordo com o aporte teórico base de sua pesquisa. Nesse aspecto, o pesquisador possui papel fundamental, uma vez que é ele quem trará significado aos fenômenos estudados.

Cabe-nos ressaltar que uma pesquisa possui alguns pontos de vista, sendo eles:

• Da natureza da pesquisa;

• Dos objetivos;

• Dos procedimentos técnicos;

• Da forma de abordagem do problema.

Do ponto de vista da natureza, uma pesquisa pode ser classificada como:

Básica Quando, de maneira mais ampla, produz conhecimento; porém, sem previsão de aplicabilidade.

Aplicada Produz conhecimento voltado à solução de situações especí� cas, com previsão de aplicabilidade.

Em suma: a pesquisa básica está relacionada a verdades e interesses universais, enquanto que a pesquisa aplicada está relacionada a verdades e interesses locais.

Do ponto de vista dos objetivos, a pesquisa pode ser classificada como:

Exploratória

Tem o formato de pesquisa bibliográ� ca e estudo de casos.

Parte do levantamento de hipóteses, buscando maior aproximação como problema.

Metodologicamente, envolve levantamento bibliográ� co, análise de exemplos relacionados ao problema, entrevistas com sujeitos que vivenciaram o problema.

Descritiva

Tem o formato de levantamento de informações.

Parte da descrição de aspectos de determinado fenômeno ou estabelece relação entre suas variáveis.

Metodologicamente, envolve o uso de coleta de dados, questionário e observação sistemática.

Explicativa

Tem o formato de pesquisa experimental e pesquisa Ex post facto.

Parte da explicação da razão, visando ao aprofundamento do conhecimento da realidade por meio de fatores que contribuem para a ocorrência do fenômeno.

Metodologicamente, quando nas ciências naturais, faz uso do método experimental; já nas ciências sociais, faz uso do método observacional.

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Unidade: A pesquisa qualitativa

Relacionada aos procedimentos técnicos, a pesquisa pode ser classificada em:

Bibliográ� ca Tem seu ponto de partida em materiais já analisados e publicados. Por exemplo: livros, artigos e material disponibilizado na internet.

Documental Tem seu ponto de partida em materiais a serem analisados.

Experimental Tem seu ponto de partida em variáveis capazes de alterar o objeto de estudo, por meio da observação de seus efeitos.

Levantamento Tem seu ponto de partida no questionamento objetivo dos sujeitos, sobre o qual o comportamento pretende se aprofundar.

Estudo de Caso Tem seu ponto de partida no minucioso e exaustivo estudo sobre determinado objeto sobre o qual se pretende aprofundar.

Ex post facto Tem seu ponto de partida em experimentos que ocorreram depois dos fatos.

Pesquisa-ação Tem seu ponto de partida na participação do pesquisador em meio a uma ação e/ou resolução de um problema.

Participante Tem seu ponto de partida na interação entre pesquisadores e/ou membros das situações analisadas.

Ao que compete à forma de abordagem do problema, a pesquisa pode ser classificada em:

Quantitativa Baseada em recursos e técnicas estatísticas, lida com fatos de maneira real, mensurável, delimitada. Leva em consideração o que pode ser quanti� cado.

QualitativaLida com fenômenos, de maneira subjetiva. Baseia-se na interpretação do pesquisador, a partir do referencial teórico escolhido, expressadas nas relações sociais.

Chizzotti (2014) aponta a pesquisa qualitativa como forma transdisciplinar de acesso ao conhecimento científico:

A pesquisa qualitativa recobre, hoje, um campo transdisciplinar, envolvendo as ciências humanas e sociais, assumindo tradições ou multiparadigmas de análise, derivadas do positivismo, da fenomenologia, da hermenêutica, do marxismo, da teoria crítica e do construtivismo, e adotando multimétodos de investigação para o estudo de um fenômeno situado no local em que ocorre, e, enfim, procurando tanto encontrar o sentido desse fenômeno quanto interpretar os significados que as pessoas dão a eles. (p. 28)

Os fenômenos estudados, em geral, são dotados de liberdade, razão e vontade próprias, por isso têm o poder de atribuir significados às relações sociais, motivo que permite com que sejam descritos e analisados independentemente de dados estatísticos.

A pesquisa qualitativa qualifica, dá sentido à história de vida do sujeito, tendo como base uma teoria. O sujeito se sente parte da pesquisa à medida que ele tem voz, e o pesquisador tem o compromisso com a transformação da realidade pesquisada, seja pela intervenção direta, seja pela explicitação das implicações sociais do conhecimento produzido. (LUNA, 2003, p. 22-23).

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Breve fundamentação teórica da pesquisa qualitativa

As grandes transformações econômicas, sociopolíticas e culturais que ocorreram na Europa entre os séculos XVII e XVIII, a exemplo da Revolução Inglesa (1688) e da Revolução Francesa (1789), deram o pontapé inicial para o desenvolvimento científico. As novas necessidades oriundas dessas mudanças abriram espaço para novos processos de intervenção nos fenômenos da natureza, exigindo, assim, a invenção de instrumentos de peso e medida. O pensamento dominante à época baseado em dados físicos cede lugar à lógica matemática, contrapondo-se também à lógica formal aristotélica, com vistas a estudar movimentos, volumes, tempo e espaços.

Paralelo a todo este processo, a própria sociedade vigente, agora mais ampla e complexa, reelabora-se em meio a tensões e conflitos em virtude de sua nova demanda social, culminando em movimentos políticos capazes de dar conta de novas formas de vida e de vida em sociedade.

Nesse viés,

Uma concepção sociopolítica, suscitada pelos movimentos sociais e pelo desenvolvimento do capitalismo mercantil, forjou a crítica das teorias absolutistas, do direito natural dos príncipes em favor do contratualismo e do liberalismo, valorizou a soberania do indivíduo na formação da vontade geral e elaborou os fundamentos do Estado nacional. (CHIZZOTTI, 2006, p. 34)

Dessa forma, a Europa apregoou o conhecimento acumulado como o responsável pela libertação da humanidade em relação às forças naturais e, consequentemente, de suas necessidades e privações, propiciando um sistema social igualitário, fraterno e próspero, baseando-se na razão e na liberdade para a elaboração de leis universais de conduta. Logo, não tardam a surgir grandes pensadores com suas teorias acerca do conhecimento, a exemplo de Francis Bacon (1561-1626), René Descartes (1596-1650), Galileu Galilei (1564-1642) e Isaac Newton (1642-1727).

As primeiras raízes da pesquisa qualitativa aparecem em meados do século XIX de forma autônoma e dando continuidade ao processo de desvinculação das exigências metodológicas das ciências da natureza, encontrando suas bases no empirismo e no idealismo.

Partindo da visão empirista, o conhecimento se dá de uma visão particular e, posteriormente, abre-se para um todo por meio da indução, alcançando uma ideia geral sobre determinado assunto, ou seja: a partir de indivíduos particulares é possível se chegar à coesão geral da sociedade, graças à experiência externa derivada do contato imediato do sujeito com o objeto do mundo exterior.

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Unidade: A pesquisa qualitativa

As sensações ou as percepções, que formam a experiência externa, compõem os dados empíricos a partir dos quais se estruturam noções mais gerais e complexas. A ideia resulta da universalidade das percepções externas do mundo empírico que percutem os sentidos e, neles, ficam impressas. O conhecimento é um processo indutivo que se inicia com os dados particulares, ou empíricos, e atinge noções gerais. Este método indutivo permite passar de um fato particular observado a outro, condicionado pela associação das ideias, e não só fazer enumerações, mas também chegar à generalização da experiência. Por isso, os empiristas rejeitam a teoria das ideias inatas platônicas e o racionalismo cartesiano que partia de alguns princípios, evidentes em si e por si, dos quais, por um método demonstrativo, deduzia-se a certeza. (CHIZZOTTI, 2006, p. 39-40)

Em síntese

O empirismo propõe inferências indutivas fundamentadas em proposições particulares (micro), apoiadas nas observações e experiências do pesquisador, com a finalidade de se atingir o macro, resultando em proposições teóricas mais universais).

Com relação à visão idealista, temos como maior representante Immanuel Kant (1724-1804), considerado o fundador do Idealismo, que propõe que

[...] o conhecimento é inconcebível sem o uso ativo de certas categorias cognitivas, intuitivamente, dadas pela experiência (sensação, hábitos, etc.) que são, logicamente, antecedentes ao processo cognitivo e ativas na experiência daquele que conhece. O conhecimento não se restringe à mera percepção passiva de objetos externos, mas pressupõe a atividade imprescindível da mente no processo de conhecer.

[...] Kant (...) parte da crítica ao empirismo para afirmar que o conhecimento não se resume às impressões exteriores sobre uma consciência passiva e inerte; há um conhecimento que independe da experiência sensível. (CHIZZOTTI, 2006, p. 41)

Para Kant, é por meio da razão que se origina o conhecimento humano, por ser algo ativo da consciência que entende e elabora o mundo em si e para si. Hegel (1770-1831) também compartilha da mesma visão e acrescenta-lhe o espírito como concreto universal, no qual o conhecimento é o resultado do que Chizzotti (2006, p. 42) chama de “pluralidade de mentes”, que agem de maneira dinâmica em meio ao tempo e ao espaço.

A partir de então, Kant e Hegel ampliaram concepções e distinguiram conceitos importantes, como:

Dialético, que preconiza a emancipação humana com base na liberdade e na razão prática, capazes de possibilitar a transformação social;

Idealismo, que em paralelo com o romantismo e o existencialismo, ressalta a subjetividade, com reservas à transformação progressiva da história e da sociedade humanas

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Diante do exposto, é possível notar que a evolução da pesquisa qualitativa traz em seu bojo tensões teóricas que apontam para técnicas mais inovadoras, que distanciam a pesquisa de uma padronização, ou seja, de um único modelo de teoria e prática. Assim, as ciências que permeiam o mundo real de homens e mulheres em sociedade sobressaem-se com métodos e técnicas mais elaborados, visando compreender a visa social:

A história deixa de ser um gênero literário e, depois, abandona a perspectiva da filosofia da história que visava as lições do passado que se repete, para se firmar como um domínio do conhecimento que define as bases científicas de estudo dos fatos vividos. A antropologia firma-se como um campo que procura, em princípio, descrever sinteticamente os costumes, hábitos, ritos, etc. de sociedades “primitivas” e se consolida como uma ciência que procura uma compreensão global dos sistemas sociais. A sociologia desgarra-se da reflexão abstrata e normativa da vida social e avança na especificação dos fatos sociais, nas regras do método sociológico, na fundamentação compreensiva da vida social. (CHIZZOTTI, 2006, p. 47)

Percebe-se a necessidade da pesquisa começar a se profissionalizar, assumindo caráter importante na vida do pesquisador acadêmico, bem como um meio original para analisar diferentes culturas, lugares e grupos considerados primitivos, considerando suas experiências, práticas, rituais, celebrações e o que tudo isso lhes representa. Como exemplo, temos a etnografia e o trabalho de Malinowski, que procurou sistematizar a descrição científica das observações da vida do “outro”, validando cientificamente seu relato nos parâmetros da confiabilidade e objetividade: “[...] o pesquisador descreve o caos dos fatos observados, estabelece os fundamentos da análise, os critérios de comprovação para extrair interpretações generalizantes fidedignas” (CHIZZOTTI, 2006, p. 51).

É preciso destacar, também, a contribuição da fenomenologia, da hermenêutica, do marxismo e das teorias críticas neomarxistas ao levantarem novos olhares a respeito do estudo de diferentes culturas, acrescentando novos aportes teóricos e metodológicos sobre a significação do sujeito em sua relação com o outro e a sociedade, dentro do contexto da pesquisa. Consequentemente, a neutralidade científica do discurso positivista é questionada e o que vem à tona é a necessidade de emancipação e transformação social por meio da investigação dos problemas ético-políticos e sociais. Nesse contexto, ganham espaço os métodos clínicos de observação participante, coleta partilhada de dados e a entrevista em lugar do questionário. A observação participante rivaliza-se com as amostragens quantitativas, a arte de interpretação sobrepuja a estatística (CHIZZOTTI, 2006, p. 54).

Da pesquisa qualitativa emergem novas temáticas baseadas nas classes sociais, gênero, etnia, raça e cultura, agregando outras questões teóricas e metodológicas aos seus estudos, levantando debates acerca do estatuto da pesquisa. Nesse movimento, a pesquisa qualitativa vai se desvinculando de teorias positivistas, ao buscar entender o sujeito em seu cotidiano, em meio a suas interações sociais, caminhos pelos quais sua realidade se constrói.

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Unidade: A pesquisa qualitativa

Características

Podemos inferir que a interpretação de uma pesquisa qualitativa não tem em seu âmago expressar opiniões ou revelar pessoas. Ao contrário, é a partir do conjunto de opiniões e representações sociais sobre o tema investigado que se explicita os resultados da pesquisa em questão. E, nesse viés, tanto a análise quanto a interpretação dos dados ocorrem ao longo de todo o processo de pesquisa.

Por isso, não raro o pesquisador precisa voltar ao trabalho de campo ora iniciado em busca de informações mais pontuais e específicas, com vistas a produzir uma interpretação dos dados com base nas referências teóricas utilizadas na fase exploratória.

A posição social do autor da pesquisa, a onipotência descritiva do texto científico, a transcrição objetiva é posta em questão: o pesquisador está marcado pela realidade social. Toda observação está possuída de uma teoria, o texto não escapa a uma posição no contexto político e a objetividade está delimitada pelo comprometimento do sujeito com sua realidade circundante. (CHIZZOTTI, 2006, p. 56)

Na pesquisa qualitativa, o pesquisador tem o natural papel de se colocar no lugar do sujeito, procurando entender o seu modo de ver o fenômeno, mas sem acrescentar sua opinião quanto ao fato. Parece meio contraditório, porém, o pesquisar, ao optar por esse tipo de pesquisa, compreender o fenômeno pela ótica do sujeito, levando em consideração suas relações sociais, bem como a maneira subjetiva desse sujeito de encarar os fatos ao seu redor, mas o interpreta com base no método adequado ao seu estudo, valendo-se de seus conhecimentos empíricos previamente adquiridos, aliado às suas próprias experiências sociais.

Nesse âmbito, Minayo (2012) acrescenta que:

Fazer ciência é trabalhar simultaneamente com teoria, método e técnicas, numa perspectiva em que esse tripé se condicione mutuamente: o modo de fazer depende do que o objeto demanda, e a resposta ao objeto depende das perguntas, dos instrumentos, das estratégias utilizadas na coleta de dados. À trilogia acrescento sempre que a qualidade de uma análise depende também da arte, da experiência e da capacidade de aprofundamento do investigador que dá o tom e o tempero do trabalho que elabora. (p.622)

)

Trata-se de um processo linear, em que a pesquisa qualitativa acaba por envolver o pesquisador, com seu conhecimento teórico, experiências e criatividade, o sujeito, com sua subjetividade, e o problema, objeto de estudo da pesquisa, que está sendo explicado ou compreendido.

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Minayo (2012) levanta, também, algumas premissas necessárias no uso de uma análise qualitativa:

Conhecer os termos estruturantes das pesquisas qualitativas. Sua matéria prima é composta por um conjunto de substantivos cujos sentidos se complementam: experiência, vivência, senso comum e ação. E o movimento que informa qualquer abordagem ou análise se baseia em três verbos: compreender, interpretar e dialetizar. (p. 622)

Para a autora, a experiência produz a compreensão do ser humano, bem como seu significado no curso da vida, experiência essa que serve de combustível para a reflexão e é expressa na linguagem. Paralelamente, a vivência por si só produz reflexão pessoal sobre a experiência e é entendida a partir da reflexão de cada sujeito, ou seja, diferentes sujeitos podem ter a mesma experiência, mas cada um terá uma vivência diferente, considerando suas particularidades como: personalidade, história de vida, valores, preconceitos, etc. O senso comum pode ser entendido como: opiniões, valores, crenças e maneiras de enxergar diferentes situações originárias de diversas experiências que permeiam o cotidiano social. A ação, aqui considerada humana e social, é a liberdade que o sujeito tem para construir e transformar sua realidade, a partir das condições sociais encontradas e das experiências que lhe faz um ser histórico.

Definir o objeto sob a forma de uma pergunta ou de uma sentença problematizadora e teorizá-lo. A indagação inicial norteia o investigador durante todo o percurso de seu trabalho. Sua reflexão analítica, neste momento, orienta-se para o delineamento adequado do objeto no tempo e no espaço: que não deve ser tão amplo que permita apenas uma visão superficial e nem tão restrito que dificulte a compreensão de suas interconexões. (MINAYO, 2012, p. 623)

Para a autora, a investigação se traduz na busca pela resposta do questionamento inicial e, ao definir o objeto sob a forma de uma pergunta, o pesquisador tem a possibilidade de expor, de maneira mais aprofundada, hipóteses ou pressupostos ora existentes como intuição nas indagações iniciais.

Delinear as estratégias de campo (MINAYO, 2012, p. 623): levando-se em conta que os instrumentos operacionais são carregados de teorias, escolhê-los com base na fundamentação teórica é um passo fundamental.

Dirigir-se informalmente ao cenário de pesquisa, buscando observar os processos que nele ocorrem (MINAYO, 2012, p. 623): aproximar-se do contexto da pesquisa por meio de um olhar analítico propicia maior segurança quando da abordagem do objeto; à medida do possível, o pesquisador deve procurar exercitar a técnica da entrevista, o que lhe permitirá ratificar pressupostos, hipóteses e/ou instrumentos.

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Unidade: A pesquisa qualitativa

Ir a campo munido de teoria e hipóteses, mas aberto para questioná-las. É preciso imergir na realidade empírica na busca de informações previstas ou não previstas no roteiro inicial. (MINAYO, 2012, p. 623)

Neste contexto, como nos ensina Malinowski, é necessário que o pesquisador tenha em mãos todo o aparato teórico que lhe servirá de base para a pesquisa qualitativa; mas não de maneira engessada, a ponto desse mesmo pesquisador não ser capaz de abrir mão de verdades próprias em prol dos imprevistos oriundos da realidade estudada. Em termos práticos, o pesquisador deve se valer de seus referenciais teóricos, mas, à medida que a pesquisa ganha corpo, é possível contar com novos sujeitos não previstos anteriormente, quando esses vêm para agregar informações à fala de outros sujeitos.

Ordenar e organizar o material secundário e o material empírico e impregnar-se das informações e observações de campo. É preciso investir na compreensão do material trazido do campo, dando-lhe valor, ênfase, espaço e tempo. (MINAYO, 2012, p. 624)

A ordenação do material levantado é traduzida na organização de textos teóricos e referenciais norteadores da pesquisa, além do próprio material de observação, a exemplo do diário de campo, e de documentos geográficos, históricos, estatísticos e institucionais que fazem parte de todo o processo. Acrescentam-se, ainda, materiais resultados de entrevistas, grupos focais e fontes primárias.

Construir a tipificação do material recolhido no campo e fazer a transição entre a empiria e a elaboração teórica. O esforço compreensivo tem o sentido de valorizar ao máximo os achados do campo. (MINAYO, 2012, p. 624): logo, parafraseando Minayo, é preciso ordenar os relatos e os dados de observação, por determinada classificação, como classe social, idade, religião, sexo, etc.; classificar o material de acordo com o recorte que o pesquisador já tenha feito através de sua leitura homogênea; aprofundar-se na compreensão das estruturas ora apresentadas nas entrevistas, por meio da releitura do material elaborado a partir de sua reordenação e, a partir de então, sintetizá-lo em quatro ou cinco tópicos de maior destaque apontados pelos próprios sujeitos.

Exercitar a interpretação de segunda ordem. A compreensão propiciada pela leitura atenta, aprofundada e impregnante que deu origem às categorias empíricas ou unidades de sentido, nesse momento, deve merecer um novo processo de teorização. (MINAYO, 2012, p. 625)

Tal ação visa detectar a necessidade de se aprofundar em mais referências teóricas, quando as primeiras levantadas não dão conta de interpretar os materiais coletados em campo.

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Produzir um texto ao mesmo tempo fiel aos achados do campo, contextualizado e acessível (MINAYO, 2012, p. 625): tendo em vista que o caráter da pesquisa qualitativa é descritivo, seu texto deve reunir informações concisas, coerentes e as mais fieis possíveis à realidade de onde se originou. É preciso levar em conta que a compreensão e a interpretação como produto final da pesquisa configuram-se na práxis do pesquisador; do contrário, sua pesquisa estaria incompleta ou pobre de informações, se apenas tivesse a descrição do que o pesquisador encontrou em campo.

Assegurar os critérios de fidedignidade e de validade (MINAYO, 2012, p. 625): tendo em vista essa afirmação, Minayo propõe algumas medidas para assegurar a fidedignidade:

• trabalhar com teoria, método e técnicas adequados e utilizáveis por qualquer outro pesquisador;

• explicitar ações, interesses e dificuldades encontrados em campo pelo pesquisador, quando de sua trajetória rumo à construção do objeto;

• procurar olhar o objeto sob seus diversos aspectos, comparando o resultado de duas ou mais técnicas de coleta de dados e de duas ou mais fontes de informação;

• validar relatos tendo como base a comparação de falas com as observações de campo;

• não se apegar a uma verdade única, colocando em prática a diversidade de sentidos contidas nas falas dos sujeitos.

No processo do fazer pesquisa qualitativa, o pesquisador se detém à compreensão dos fenômenos a serem estudados – a exemplo de ações do sujeito em seu ambiente social – com interpretações livres de representatividade numérica, dados estatísticos e/ou relações de causa e efeito; logo, nota-se a importância da interação entre a observação e o referencial teórico, para que seja possível a interpretação científica do fenômeno estudado.

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Unidade: A pesquisa qualitativa

Elencamos, a seguir, algumas das principais características de uma pesquisa qualitativa:

• Tendencialmente é descritiva, uma vez que sua finalidade é, justamente, descrever e/ou entender realidades variadas por meio do cotidiano social e das perspectivas humanas;

• possui enfoque indutivo, evoluindo ao longo de seu processo, apoiado em estratégias capazes de ressaltar relação entre fenômenos e emergir novos pressupostos;

• configura-se de maneira interpretativa, uma vez que utiliza-se da descrição e da análise de dados como síntese narrativa;

• a realidade investigada é subjetiva e complexa, pois a compreensão do fenômeno pelo pesquisador ocorre através da perspectiva do sujeito;

• utiliza-se do ambiente natural como fonte para a coleta de dados, tendo em vista a construção desse instrumental com perguntas abertas e flexíveis, explorando a relação pesquisador-sujeito;

• a análise dos dados apoia-se na análise de conteúdo, que tem como plano de pesquisa uma proposta mais flexível, cuja evolução de uma ideia ocorre em meio ao seu aprendizado;

• a confiabilidade e a validade são de difícil determinação, dada a natureza subjetiva desse tipo de pesquisa;

• os resultados produzem proposições e especulações, sendo situacionais e limitados ao contexto, por isso, maior enfoque em seu processo do que em seu resultado.

Reconhecer que há uma relação entre sujeito e objeto no processo qualitativo de construção científica implica na necessidade de um esforço metodológico que permita a produção de uma análise o mais sistematizado e aprofundado possível, sem a presença de subjetivismo, achismo ou espontaneísmo.

Metodologia da pesquisa qualitativa

A metodologia da pesquisa qualitativa está relacionada à análise e interpretação dos dados adquiridos ao longo do processo. Antes, porém, é preciso ressaltar que entre a análise e interpretação há diferenças significativas.

A análise se remete em ir além do que está posto, decodificando os dados e apontando relações entre eles. Já a interpretação está ligada ao sentido da fala ou ação do sujeito para, a partir daí, compreender ou explicar o que está sendo analisado.

[...] quando falamos de análise e interpretação de informações geradas no campo da pesquisa qualitativa, estamos falando de um momento em que o pesquisador procura finalizar o seu trabalho, ancorando-se em todo o material coletado e articulando esse material aos propósitos da pesquisa e à sua fundamentação teórica. (MINAYO, 2012, p. 81)

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A responsabilidade é do pesquisador em fazer uma avaliação do material coletado antes de finalizar a pesquisa, observando se o material disponível possui qualidade de registro e se o mesmo é suficiente para análise pretendida.

A mais conhecida metodologia de análise é a de conteúdo, que nada mais é do que um conjunto de técnicas que possibilita várias formas de analisar os conteúdos dos dados da pesquisa. A esse respeito, Chizzotti (2006) nos diz que:

A análise de conteúdo visa decompor as unidades léxicas ou temáticas de um texto, codificadas sobre algumas categorias, compostas por indicadores que permitam uma enumeração das unidades e, a partir disso, estabelecer inferências generalizadas. (p. 113)

Logo, o uso da análise de conteúdo é bastante diversificado e, como exemplifica Minayo (2008, p. 84), ela pode ocorrer por meio de análise de obras, de depoimentos, de livros didáticos, etc., cada um deles com um propósito especificado pelo pesquisador.

A análise de conteúdo segue alguns passos, de maneira aleatória, de acordo com o que é seguido pelo pesquisador, bem como o propósito da pesquisa:

• Divisão em partes dos dados coletados;

• Categorização dos dados separados;

• Descrição do resultado de cada categorização;

• Inferência dos resultados;

• Interpretação dos resultados obtidos com base no aporte teórico.

Assim, levemos em consideração alguns conceitos:

• Categorização: é preciso respeitar o princípio da homogeneidade, o que leva a obrigatoriedade das categorias serem:

[...] (a) exaustivas (estas devem dar conta de todo o conjunto do material a ser analisado; se um determinado aspecto não se enquadrar nas categorias, devemos formular outra categorização); (b) exclusivas (isso significa que um aspecto do conteúdo do material analisado não pode ser classificado em mais de uma categoria); (c) concretas (não serem expressas por termos abstratos que trazem muitos significados); (d) adequadas (em outras palavras, a categorização deve ser adaptada ao conteúdo e ao objetivo a que se quer chegar). (MINAYO, 2008, p. 89)

• Inferência: deduzindo, de maneira lógica, aspectos do conteúdo que está sendo analisado, partindo de premissas dadas em outras pesquisas relacionadas ao assunto estudado. Vale ressaltar que a inferência localiza-se no processo entre a descrição (enumeração das características do texto, resumida após tratamento analítico) e a interpretação (a significação concedida a essas características). (MINAYO, 2008, p. 90)

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Unidade: A pesquisa qualitativa

• Interpretação: procurando significar, de maneira mais ampla, os dados analisados, com base em profunda apreensão teórica do assunto estudado. Ainda segundo Minayo,

[...] com esse procedimento procuramos ir além do material. E, com base nas inferências, discutimos os resultados da pesquisa numa perspectiva mais ampla, trabalhando na produção do conhecimento de uma área disciplinar ou de um campo de atuação. (MINAYO, 2008, p. 90)

Importante!

Alcançamos a interpretação quando atingimos a sincronia entre os dados da pesquisa, os resultados obtidos advindos desses dados, as inferências realizadas e a teoria empregada.

Não menos importante, temos também:

• a análise de narrativa que, via de regra, se expressa por meio de linguagem aberta, partindo de princípios previamente estabelecidos e buscando expor o significado dos dados coletados por meio desses princípios. Conforme Chizzotti (2006, p. 119), é um tipo de análise [...] de cima para baixo, a partir de uma interpretação do pesquisador, em oposição às análises internas, de baixo para cima, a partir do próprio texto, tal como a etnografia se vale;

• a análise de discurso que, segundo Van Dijk apud Chizzotti (2006, p. 122), é uma forma de estudar o uso da linguagem que procura identificar o processo pelo qual as pessoas dão forma discursiva às interações sociais, produzem sentidos ao que falam e orientam suas ações no contexto em que vivem. Lembramos que o discurso se relaciona com as relações sociais, sendo sua compreensão possível quando estas relações estão estabelecidas.

Em síntese

As pesquisas que se valem da análise do conteúdo, do discurso ou de narrativas para o aprofundamento de seus estudos têm se destacado de maneira expressiva e inovadora em termos de técnicas e possibilidades de ampliação de sua investigação.

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Material Complementar

Livros:MINAYO, Maria Cecília de Souza (organizadora); DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 27. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

INDICAÇÕES DA BIBLIOTECA VIRTUALTítulo: A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. Autor: Mirian Goldenberg Número de chamada: 301:001.8  G566a  Biblioteca Central Prof. Gilberto Padovese - SM  Biblioteca Setorial Anália Franco - AF  Biblioteca Setorial Liberdade - LIB  Biblioteca Setorial Pinheiros – PINISBN: 8501049654

Título: A entrevista na pesquisa qualitativa: mecanismos para validação dos resultadosAutor: Maria Virgínia de F. Pereira do Couto RosaNúmero de chamada: 37.001.5  R695e  Biblioteca Central da Universidade de Franca - UNIFRAN ISBN: 85-7526-179-7

Título: Introdução a pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação: o positivismo, a fenomenologia, o marxismo Autor: Augusto Nibaldo Silva TriviñosNúmero de chamada: 300.72  T841i  Biblioteca Prof. Lúcio De Souza – UNICIDISBN: 9788522402731

Leituras:Análise qualitativa: teoria, passos e fidedignidade.Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n3/v17n3a07.pdf.

Metodologia da Pesquisa: um guia prático.Disponível em: http://www.pgcl.uenf.br/2013/download/livrodemetodologiadapesquisa2010.pdf.Acesso em 02 jun. 2015.

Pesquisa Qualitativa – características, usos e possibilidades.Disponível em: http://www.dcoms.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/pesquisa_qualitativa_caracteristicas_usos_e_possibilidades.pdf

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Unidade: A pesquisa qualitativa

Referências

CHIZZOTTI, A. . Pesquisa Qualitativa em ciências humanas e sociais. 6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. v. 1. 144p .

LUNA, S. V. Planejamento de Pesquisa: Uma Introdução: Elementos Para Uma Analise Metodológica. 3. ed. São Paulo: Educ, 2003.

MINAYO, M. C. S. (org.); DESLANDES, S. F.; GOMES, R.; Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 31ª ed., 2012.

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Anotações

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