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HISTÓRIA DO ACRE: DA INDEPENDÊNCIA À INTEGRAÇÃO AO TERRITÓRIO
BRASILEIRO
Autora: Idália Maria dos Santos Dias Buss1
Orientador: Vanderlei Amboni2
RESUMO
Este artigo trata da relevância de se estudar a História do Acre visto que esta se encontra de forma incompleta nos livros didáticos de História e na formação dos historiadores em geral, e a maioria dos estudantes e até professores, desconhecem a forma como se deu a ocupação dessa região da Amazônia pelos brasileiros, incorporada ao território nacional. O recorte temporal pesquisado, a partir da segunda metade do século XIX até a segunda década do século XX, foi definido por ser uma época de intensa riqueza na região amazônica devido à grande demanda da borracha por parte de países europeus e dos Estados Unidos, provocando dessa forma as disputas e o início dos conflitos entre seringueiros/seringalistas brasileiros e o governo boliviano pela posse das terras do atual Estado do Acre. Nesse sentido, este artigo pretende contribuir com professores e alunos no estudo do tema. Na implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola, professores e funcionários da Escola Estadual Agostinho Stefanello tiveram acesso à mesma, como também outros professores do Ensino Público do Paraná, quando da realização do GTR – Grupo de Trabalho em Rede, através do EaD. Na Unidade Didática, atividades metodológicas foram preparadas para que os alunos se sentissem estimulados a aprender sobre a História do Acre de forma crítica e dinâmica, através de imagens, entrevistas, leitura e interpretação de textos e documentos oficiais, atividade com mapas sobre a evolução territorial do Brasil, visita a um seringal no município de Alto Paraná, utilização de recortes de cenas das minisséries históricas televisivas, pesquisa na Internet com roteiro, caça-palavras, lendas da região amazônica, especialmente do Acre.
Palavras-chave: Acre; Ocupação; Conhecimento; Território; História.
1 INTRODUÇÃO
1 Professora PDE 2010- Escola Estadual Agostinho Stefanello 2 Mestre – Professor da UNESPAR - Campus de Paranavaí
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo trata da História do Acre da independência à integração ao
território brasileiro. A falta de material didático sobre o assunto nas escolas
brasileiras é evidente. A história do Acre se apresenta de forma incompleta nos livros
didáticos e no processo de formação dos próprios professores, de forma geral. Além
disso, em nossa escola dispomos de raro material escrito e audiovisual sobre o
tema. Assim, através deste artigo pretendemos esclarecer como essa região
pertencente ao território boliviano se emancipou historicamente da Bolívia, passou a
Estado Independente e, deste, a território brasileiro.
Temas acerca do Acre são pouco explorados nos projetos de pesquisa em
História do Brasil em nossa região. Pretende-se fazer uma contribuição
acrescentando à historiografia já existente uma nova maneira de abordagem sobre o
assunto ao pesquisarmos sobre a história desse estado brasileiro, com recorte
temporal entre os anos de 1899 a 1911, quando do auge da produção da borracha
naquela região.
Analisaremos também os sujeitos históricos que tomaram parte na luta pela
sua emancipação política, mudando e consolidando as fronteiras de nosso país,
alterando a cartografia e delineando as fronteiras do Brasil. Nessa perspectiva, o
estudo da história regional é importante para a compreensão da história em sua
totalidade, pois lacunas existentes nos livros didáticos serão supridas e, ao
professor, na práxis pedagógica, terá conteúdos para desenvolver o ensino.
Dessa forma, queremos fornecer subsídios para que os alunos se sintam
estimulados a aprender sobre a História do Acre de forma crítica, dinâmica, a
conhecer diferentes sujeitos históricos em outro tempo e espaço, a entender e
respeitar a diversidade cultural brasileira e a conhecer e valorizar aspectos
desconhecidos da história do seu país, bem como mostrar aos professores além do
citado conteúdo, a viabilidade de trabalhar com minisséries televisivas nas aulas de
História do Brasil.
Para tanto, utilizamos em nosso trabalho diversos tipos de atividades tais
como: o estudo de documentos oficiais, estudos historiográficos, pesquisas com o
uso da Internet, trabalho com mapas, entrevista, visita a um seringal de Alto Paraná,
utilização de fontes visuais, como recortes das minisséries históricas televisivas
“Amazônia – de Galvez a Chico Mendes” e “Mad Maria” produzidas pela Rede
Globo, relacionadas aos conteúdos de História, fazendo com que haja uma
integração entre as técnicas convencionais de educação e as metodologias
audiovisuais.
Para que as atividades ficassem melhor organizadas, os alunos produziram
as mesmas em um caderno específico para a Produção Didático Pedagógica, as
quais iam sendo realizadas, vistadas e corrigidas pela professora durante o período
de implementação. No momento da correção, eram direcionados debates sobre as
atividades realizadas verificando-se assim o aprendizado dos alunos.
Não só os professores da Escola Agostinho Stefanello tomaram
conhecimento do projeto, como também os professores de várias regiões do Paraná
puderam conhecer a pesquisa através do Grupo de Trabalho em Rede, o GTR. O
mesmo é constituído de Fóruns de Discussão e Diários, onde os cursistas tiveram
acesso ao projeto, lendo-o, analisando o mesmo, interagindo e discutindo as
atividades propostas e mesmo contribuindo com a tutora dando sua colaboração
com atividades sugeridas pelos mesmos sobre o tema, conforme veremos no corpo
do artigo, seção 6.
2 Movimentação interna: a conquista da terra da borracha e as lutas pela emancipação política
Despertava-se, no mundo, para uma nova civilização, a industrial, em que a
matéria-prima borracha era prima-dona. Estrela de primeira grandeza na
sociedade que a utilizava no fabrico de um sem-número de utilidades,
consumidas sem cessar. A procura era intensa, e o preço do produto bruto
alcançava altas cotações. (TOCANTINS, 1998, p. 26).
O grande desenvolvimento industrial dos países europeus e dos Estados
Unidos da América, na segunda fase da Revolução Industrial, gerava uma grande
procura por borracha para a fabricação de pneus para carruagens, bicicletas, carros,
entre outros usos. Na Floresta Amazônica a seringueira nativa era abundante.
Graças à borracha, a Amazônia e o Acre tornaram-se conhecidos mundialmente. O
Brasil tornou-se o maior produtor de borracha do mundo.
Inicialmente a extração da borracha começou no Pará. Sendo o método de
extração do látex descuidado com as árvores, gerava o esgotamento das
seringueiras nativas que eram abandonadas. Em busca de novos locais, os
brasileiros foram penetrando no Alto Amazonas até chegarem ao Acre. Sem
saberem, estavam explorando as terras bolivianas.
Para trabalhar na extração do látex das seringueiras, foram para a Amazônia
milhares de nordestinos, principalmente do Ceará, saídos de sua terra pela grande
seca e pela falta de terras para trabalhar.
De acordo com o relato de Euclides da Cunha (1909, p.20):
[...] São as secas do Nordeste que tangem para as cidades do litoral essa população de famintos assombrosos, devorados das febres e das bexigas. E a preocupação exclusiva do poder público consistia em libertá-las quanto antes daquelas invasões de bárbaros. Mandavam-nos para a Amazônia – vastíssima, despovoada, o que equivalia a expatriá-los dentro da própria pátria. Nunca, até aos nossos dias, a acompanhou um só agente oficial, ou um médico. Os banidos levavam a missão dolorosíssima e única de desaparecerem... E não desapareceram [...].
Além dos nordestinos, também foram para o Acre brasileiros de outras
regiões pelos mais variados motivos, e até estrangeiros como os sírios e os
libaneses. Todos viajavam durante muitos dias nos gaiolas (barcos) pelos rios da
Amazônia, única via de transporte para se chegar aos seringais. Iam em busca de
uma vida melhor, na esperança de enriquecer e voltar à sua terra natal. No entanto,
isso não ocorreu com a grande maioria. O que os esperava era uma vida solitária e
cheia de sofrimento no meio da floresta.
A população amazônica aumentava na medida em que crescia a procura
pelas indústrias dos Estados Unidos (maior consumidor) e da Europa pela borracha
brasileira. Sobre o aumento populacional nessa região, Prado Júnior (1994, p. 240)
ressaltou que:
[...] A grande riqueza veiculada pela exploração da borracha nos seus tempos
áureos transformara completamente a Amazônia. Sua população subira de
337.000 habitantes em 1872, para 475.000 em 1890, e 1.100.000 em 1906.
Em plena selva erguera-se uma cidade moderna, Manaus, capital do Estado
do Amazonas que orçava, no momento da crise, por 70.000 habitantes.
Belém, capital do Pará e porto internacional da exportação da borracha,
velha, mas modesta cidade colonial, atingirá então 170.000 habitantes. E o
longínquo território do Acre, entranhado 5.000 km no continente, e deserto
até os primeiros anos do século atual, reunirá em menos de um decênio para
mais de 50.000 habitantes.
Os governos do Pará e do Amazonas recebiam muitos impostos sobre a
venda da borracha. Também os seringalistas (donos dos seringais) obtinham muita
riqueza. As famílias dos coronéis viviam no luxo em Belém e Manaus. Moravam em
casas suntuosas, suas mulheres usavam roupas finíssimas importadas da Europa,
eram cobertas de joias e mandavam lavar parte de suas roupas em Paris. Os filhos
geralmente iam aprimorar seus estudos na Europa. No entanto, quem mais lucrava
com a venda da borracha eram as casas exportadoras. Conforme Andrade (2006, p.
27), “estas instituições eram basicamente controladas por estrangeiros e sem elas
dificilmente haveria comércio internacional”.
Enquanto isso, o governo boliviano tomou conhecimento do que estava
acontecendo no Acre. Aquela região que produzia tanta riqueza era da Bolívia. O
governo boliviano imediatamente fundou um povoado no Acre, Puerto Alonso, com a
intenção de cobrar altos impostos sobre a borracha acreana. Além disso, também
baixou decretos sobre a justiça, a terra e a navegação. Com base em Araújo (2006,
p. 2), “Os impostos cobrados no posto chegavam a 40% sobre o preço do produto”.
Além disso, também baixou decretos sobre a justiça, a terra e a navegação. Ao
tomar conhecimento dessas medidas os brasileiros sentiram seus interesses
ameaçados. O governo do Amazonas preocupado com a situação passou a
estimular e financiar a resistência dos seringalistas aos bolivianos.
A esse respeito, Tocantins (1998, p.36), nos relata que “Não demorou a
rebelião. A 1º de maio de 1899, o advogado cearense José Carvalho, secretário da
prefeitura Municipal de Floriano Peixoto (Estado do Amazonas), acompanhado de
proprietários de seringais, exigiu aos bolivianos sua retirada”. Como os bolivianos
estavam em minoria, não tiveram escolha e retiraram-se em 10 de maio de 1899. Foi
a primeira tentativa de tomar posse do Acre pelos brasileiros e o início da chamada
Revolução Acreana. Na verdade, embora o Acre fosse boliviano, foram os brasileiros
que o colonizaram ao explorarem a borracha, apesar de já ser habitado por índios.
3 Da independência à integração ao território brasileiro
O governo federal não apoiava a tomada do Acre pelos brasileiros, pois em
1867 assinara um tratado com os bolivianos abrindo mão do Acre. Mas o governador
do Amazonas e os patrões seringalistas precisavam impedir a volta dos bolivianos
ao Acre para evitar prejuízos. Assim, optaram por confiar uma expedição ao
jornalista e diplomata espanhol Luís Galvez Rodrigues de Arias, que através de
amizade no meio jornalístico, fez contatos com representantes do governador
Ramalho Júnior do Amazonas e demonstrou sua vontade de comandar uma
expedição para ir para o Acre tomar posse daquelas terras. Bezerra (2006, p. 40)
comenta que Galvez foi escolhido por ter envolvimento com a “questão do Acre”,
estando ligado à Junta Revolucionária do Acre, organizada em 24 de fevereiro de
1899, representando o Amazonas e o Pará.
Em 4 de junho de 1899, Galvez saiu “de Manaus para o seringal São
Jerônimo, onde, juntamente com os componentes da Junta Revolucionária do Acre,
marcou a data de 14 de julho para proclamar o Estado Independente do Acre”
(BEZERRA, idem). Essa foi a solução encontrada pelos seringalistas, que sem o
apoio do governo federal e em vias de perderem suas fontes de rendimentos,
entoaram as palavras de ordem: “Já que nossa pátria não nos quer, criamos outra”.
Simpatizante dos ideais da Revolução Francesa, Luís Galvez prestou-lhe
homenagem proclamando em Porto Acre (Puerto Alonso), a República Independente
do Acre, no dia 14 de julho de 1899. O Acre tornou-se um país.
No entanto, ao assumir o governo, Galvez tomou determinadas medidas que
não agradaram aos seringalistas (donos dos seringais). Entre elas, a de criar um
imposto de 10% sobre a borracha que saísse do Acre e a participação da população
nas decisões políticas do país. Ainda segundo Bezerra (2006, p. 47), as medidas de
Galvez iam contra os interesses econômicos e políticos dos patrões. Galvez foi
tirado do poder pelos seringalistas, mas acabaram lhe devolvendo o cargo.
Os jornais despertavam a consciência nacional a favor dos brasileiros no
Acre. Por outro lado, em 15 de março de 1900, o presidente Campos Sales mandou
uma força naval para acabar com a República do Acre ou a “República de Galvez”
que durou cerca de oito meses. Isso ocorreu pacificamente e Galvez, o “Imperador
do Acre”, rendido depois de oito meses de governo “desceu o rio a bordo do aviso
de guerra Tocantins. Em Belém, tomou o navio do Lóide Brasileiro até Recife, de
onde se transferiu para a Europa [...]”. (TOCANTINS, 1998, p. 38).
Os bolivianos desceram a Cordilheira dos Andes com uma pequena tropa e
retomaram sua posição no rio Acre.
Em 16 de novembro de 1900, uma nova expedição brasileira foi para o Acre.
A Expedição Floriano Peixoto ou “Expedição dos Poetas”, formada por poetas,
jornalistas e escritores. No entanto, esses “bravos” não tinham a mínima noção
sobre as artes da guerra e em poucas horas de combate foram derrotados pelos
bolivianos em Puerto Acre. Retiraram-se para Manaus em 24 de dezembro de 1900.
As autoridades brasileiras consideraram encerrada a questão do Acre. Mas
um fato veio mudar essa situação. Temendo perder o controle que tinha na região, o
governo boliviano assinou em 1901, um contrato com o Bolivian Syndicate, uma
empresa internacional, que iria explorar as riquezas da região e ter acesso de
navegação aos nossos rios, entre outros direitos. O governo brasileiro ficou
preocupado com a situação temendo que outros países viessem para a Amazônia
colocando em risco a soberania do país.
De acordo com Silva (2007, p. 4), diante dos acontecimentos:
A preocupação do governo brasileiro era que o estabelecimento da empresa criasse um fato que levasse a uma corrida na Amazônia. Se o Syndicate conseguisse se estabelecer no Acre estaria aberto o precedente para que as potências coloniais pudessem forçar outros contratos do mesmo gênero [...].
No Acre, os brasileiros pretendiam realizar um novo movimento para
expulsar dali os bolivianos. Só precisavam de um líder que os conduzisse na luta.
Araújo (2006, p. 3), comenta que ”Plácido de Castro, outro herói do Acre foi
contratado pelos seringalistas para prestar serviços de agrimensor. Ex-militar, o
gaúcho Plácido havia participado das forças federalistas no Sul”.
Plácido de Castro torna-se comandante-chefe de um exército improvisado
formado por seringueiros e seringalistas. Tocantins (1998, p. 43), comenta que
“Tudo ajustado. Plácido traçou os planos da campanha. Início no alto-rio descê-lo,
até chegar a Puerto Acre, cidadela boliviana. Ao contrário das campanhas
precedentes, tentativas que vieram do baixo-rio”. A data marcada para a revolta, foi
o dia em que os bolivianos comemoravam sua independência, 6 de agosto de 1902,
na Vila de Xapuri, que foi facilmente dominada. Em menos de duas semanas, os
bolivianos pediram uma trégua e os dois países concordaram em cessar fogo.
4 O Estado do Acre no mapa brasileiro
Nesse contexto, surge a figura de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o
Barão do Rio Branco que percebeu o perigo iminente de se instalar na região
amazônica o colonialismo internacional e o afastou a tempo. Não da forma habitual,
pelas armas, mas sim pela diplomacia. Ao assumir o cargo de Ministro do Exterior
teve como medida primordial afastar o Bolivian Syndicate da Amazônia, pagando ao
mesmo a quantia de cento e dez mil libras esterlinas pela desistência do contrato
com a Bolívia.
Em 17 de novembro de 1903, o Barão do Rio Branco assinou em nome do
presidente do Brasil, Rodrigues Alves, o Tratado de Petrópolis com o representante
da Bolívia, pondo fim aos conflitos entre os brasileiros do Acre e o governo boliviano.
Segundo esse tratado, o Brasil comprou o Acre à Bolívia por dois milhões de libras
esterlinas, terras devolutas de Mato Grosso, e se comprometia a construir para uso
da Bolívia, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, entre outros benefícios.
Após quatro anos de vigência do Tratado de Petrópolis, pelo qual o Brasil indenizou em dinheiro a Bolívia, o Barão do Rio Branco fez este cálculo: “Em quatro anos o Tesouro já se pagou do que despendeu com a chamada compra do Acre, ficando-lhe em benefício de £ 113,401, que ao câmbio de
15 representam 1.814:423$920”. (TOCANTINS, 1998, p. 19).
Apesar da assinatura do Tratado de Petrópolis, a questão do Acre não se
encerrou. Faltava ainda fixar as fronteiras entre o Peru e o Brasil. Sabendo das
compensações financeiras do Tratado de Petrópolis dadas à Bolívia, o governo do
Peru pretendia também lucrar com os problemas de fronteiras. No entanto, o
governo brasileiro alegando que não havia nenhum tratado de fronteiras entre o
Brasil e o Peru, não concordou com um pagamento em dinheiro, mas sim com
terras. Segundo relato de Tocantins (1998, p. 50),
A 8 de setembro de 1909, depois de cinco anos de difíceis negociações, foi assinado o tratado que pôs fim às divergências e estabeleceu definitivamente a configuração geográfico-política do Território Federal do Acre, que passou a medir 152.000
quilômetros quadrados. Diminuiu porque o Brasil entregou ao país vizinho, no Alto Juruá e no Alto Purus, territórios onde só haviam peruanos.
O Acre que depois do acordo com a Bolívia media 181.000 quilômetros
quadrados, ao ceder parte desse território para o Peru passou a ter 152.000
quilômetros quadrados de território. Conforme Bandeira (2000, p. 8), um território
“cinco vezes maior do que a Bélgica e um pouco maior do que a Inglaterra (com o
País de Gales)”. A legitimidade da incorporação do Acre ao território nacional, como
entidade jurídico-administrativa, através da “Lei nº 1.181, de 25 de fevereiro de 1904
e o Decreto do executivo nº 5.188, de 7 de abril de 1904, emprestam ao Acre a
categoria de Território Federal, uma figura nova no Direito Constitucional brasileiro
daquele tempo.[...].(TOCANTINS, 1998, p. 50).
Finalmente o Acre teve seus limites geográficos definidos e incorporados ao
território nacional alterando o mapa de nosso país. Observe os mapas a seguir:
Figura 1 - Mapa do Brasil no final do século XIX
Elaborado pela autora
Figura 2 - Mapa do Brasil após o Tratado de Petrópolis (1903)
Elaborado pela autora
5 A História do Acre na mídia: as representações pelo olhar das câmeras
Atualmente o desenvolvimento científico e econômico cria uma grande
variedade de tecnologias que introduzem em nosso cotidiano novas formas de
comunicação. Entre elas, embora não seja a mais recente, a TV é sem dúvida a
mais presente entre a população. Segundo Moran (2007, p. 162), “A informação e a
forma de ver o mundo predominante no Brasil provêm fundamentalmente da
televisão. Ela alimenta e atualiza o universo sensorial, afetivo e ético que crianças e
jovens – e grande parte dos adultos - levam para a sala de aula”.
Dentre os mais variados gêneros televisivos surgidos a partir da criação da
TV no Brasil (1950), destacamos as novelas que deram origem às minisséries, a
partir de 1982, com a minissérie Lampião e Maria Bonita da Rede Globo de
Televisão.
O gênero televisivo das minisséries baseia-se em grande parte em fatos
importantes da nossa história. Contam a história com uma linguagem diferente, que
atrai, prende com suas imagens e cenas que nos levam a outras épocas e lugares.
Através da representação os acontecimentos que nos parecem distantes, abstratos,
passam a fazer parte de nossas vidas. Além disso, segundo Tesche (2006, p. 7):
A ficção seriada televisiva constitui-se num fenômeno importante
para pensarmos o presente como cultura, para compreendermos
melhor o nosso cotidiano não mediado pelo discurso histórico.
Através desse tipo de narrativa realizam-se intervenções que nos
permitem, também, observar a História do cotidiano, ainda não
narrativizada, não enquadrada pela lógica da historiografia. O
fascínio da ficção seriada televisiva decorre de sua capacidade de
oferecer ao telespectador o preenchimento dos vazios da História,
constituindo aí mundos possíveis.
As minisséries históricas mostram aos brasileiros parte de nossa história que
muitas vezes é pouco conhecida. Priorizam a cultura e a identidade nacionais,
privilegiam regionalismos, adaptam textos literários. Além disso, utilizam um estilo de
linguagem diferente, escrita com a intenção de cativar os telespectadores através de
uma história de vida. Nas minisséries os romances são entrelaçados aos fatos reais
para contar a história do Brasil tão pouco conhecida.
Em nosso trabalho contamos com a exibição de recortes da minissérie
Amazônia - de Galvez a Chico Mendes em sua primeira fase, da Rede Globo de
Televisão, e algumas cenas da minissérie Mad Maria da mesma empresa. A primeira
delas, escrita pela autora acreana Glória Perez e dirigida por Marcos Schetman,
pretende contar a história dos cem primeiros anos do Acre. A trama da minissérie
contou com referências dos romances “O seringal”, escrito por Miguel Jerônymo
Ferrante (pai da autora), e “Terra Caída”, de José Potyguara.
A minissérie estreou em 2 de janeiro de 2006, sendo composta por 55 capítulos e
dividida em três fases. Conta a história do Acre a partir de 1899, em plena
Revolução Industrial e época do auge da produção da borracha no Brasil - onde a
região amazônica era a única produtora no mundo – e, portanto alvo do interesse de
potências internacionais, já que a emergente indústria automobilística necessitava
dessa matéria-prima para a fabricação de pneus.
Em sua primeira fase, a minissérie mostra a migração dos nordestinos para a
região do Acre desde a viagem até a chegada ao seringal, o contraste social
existente entre a vida da família do seringueiro e a do seringalista, os perigos e as
condições a que era exposto o migrante e a exploração que sofria por parte do
seringalista.
A esse respeito, Olivério (2009, p. 21) relata que:
Na minissérie, apresenta-se o cotidiano de duas famílias que simbolizam
as classes socioeconômicas presentes na região: a do seringalista e a do
seringueiro. Para mostrar a cultura, os conflitos e a vida de riqueza e luxo
dos seringalistas, a trama conta a história de coronel Firmino (José de
Abreu), casado com dona Júlia (Malu Valle), pai de Tavinho (Paulo
Nigro) e Augusto (Ronaldo Dappes). E, para retratar a saga difícil de um
povo batalhador e suas características, é detalhado o dia-a-dia da família
de Bastião (Jackson Antunes), sua mulher Angelina (Magdale Alves) e
seus filhos Delzuite (Giovanna Antonelli) e Bento (Thiago Oliveira), que,
assim como milhares de famílias, migraram do Nordeste para o Acre na
tentativa de ganhar dinheiro com a extração do látex das seringueiras.
São mostrados os constantes conflitos provocados por interesses tanto dos
brasileiros quanto dos bolivianos, estes que até o final do século XIX nem se
lembravam que o Acre existia. Além disso, mostra que embora os modos de vida
entre o seringueiro e o seringalista fossem diversos, na hora de lutar por seus
interesses se unem contra os bolivianos, numa luta sem apoio do governo federal,
longe de tudo e de todos. A minissérie procura homenagear os três principais heróis
do Acre, Galvez, Plácido de Castro e Chico Mendes.
Também é abordada na minissérie a cultura da região dos seringais, como
por exemplo, as lendas (como a do boto e do caboclinho da mata), superstições,
receitas utilizando plantas para curar doenças, benzeduras, a submissão das
mulheres, a exuberância da Floresta Amazônica e os rios amazônicos, contrastando
com as terras secas de onde vinham os nordestinos (que se encantavam ao ver
tanta água), e os bastidores políticos da recém-formada república.
É importante destacar na minissérie a importância dos jornais que naquela
época mostravam notícias não só do que realmente se passava naquela remota
região, mas também manipulando e inventando acontecimentos das lutas no Acre
para forçar o governo federal, através da pressão da população a apoiar os
brasileiros que lutavam pela posse daquele território. Essa posição do governo
federal divergia da posição do governador do Amazonas que apoiava e financiava os
brasileiros do Acre devido aos seus interesses, os impostos sobre a venda da
borracha, e até mesmo aquele espaço rico em seringueiras. No entanto não se
declarava publicamente a favor devido ao temor do governo federal.
A participação da mídia em divulgar conflitos é muito importante, embora
como vimos, nem sempre as notícias sejam verdades absolutas. Atualmente, com a
grande quantidade de informações às quais temos acesso, mais do que nunca
temos que averiguar o que é correto. Em 2006, no mesmo ano em que começou a
minissérie Amazônia – de Galvez a Chico Mendes, a mídia brasileira divulgou a
notícia sobre o confisco da Petrobras, companhia brasileira instalada na Bolívia e
atuando na área de energia (o gás natural), pelo governo de Evo Morales. Uma
notícia que deixou os brasileiros surpresos e revoltados ao mesmo tempo.
Em maio de 2006, na 4ª Cimeira União Europeia – América Latina e Caribe,
em Viena, na Áustria, em entrevista à imprensa, o presidente da Bolívia, Evo
Morales, descartou a possibilidade de indenizar a refinaria da Petrobras na Bolívia,
da qual tinha se apoderado após alguns meses de mandato. Além disso, Morales
lembrou que a compra do Acre pelo Brasil no início do século XX, deu-se em troca
de um cavalo e que em seu governo isso não acontecerá, já que a luta dos povos
indígenas é historicamente a defesa do território e dos recursos naturais. O erro
histórico de Morales é contestado pela história do Acre.
A minissérie Mad Maria, baseada no romance do escritor e sociólogo Márcio
de Souza, foi escrita por Benedito Ruy Barbosa e dirigida por Ricardo Waddington,
indo ao ar em 2005, em comemoração aos quarenta anos da Rede Globo.
A história praticamente desconhecida pelos brasileiros trata da construção da
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré Railway Company, cujo proprietário Percival
Farqhuar (personagem real), recebeu uma concessão pública do governo brasileiro
para acabar de construí-la em 1911, como parte do pagamento à Bolívia pelo
território do Acre. Antes da empresa de Farqhuar, outras duas empresas já tinham
tentado a construção da ferrovia sem obter sucesso. A ferrovia foi projetada para
interligar Porto Velho a Guajará-Mirim, ambas no estado de Rondônia.
Conforme Stivanin (2005, p. 1):
A história da Madeira-Mamoré rendeu livros e agora uma minissérie na Globo, Mad Maria. A construção da estrada de ferro envolveu jogo de interesses, um sonho que custou a vida de muitos imigrantes na região amazônica, apelidada na época como o inferno verde. Esses fatos não passaram incólumes pela imprensa da época, como pode ser comprovado
na série de reportagens intitulada Impressões sobre Uma Viagem aos Amazonas, o Drama da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, assinada por Rubens Rodrigues dos Santos e publicada no Estado em 1955.
O governo de Rondônia recuperou oito quilômetros da Madeira-Mamoré que
estava abandonada para que a filmagem da minissérie fosse realizada. Além disso,
também deu apoio através de profissionais das mais diversas áreas para ficarem à
disposição da equipe da Rede Globo.
A trama da minissérie que alterna momentos fictícios com os reais, nos
mostra toda a dramaticidade vivida pelos milhares de trabalhadores que vieram dos
mais remotos recantos do mundo, atraídos por promessas infundadas trabalhar em
meio à Floresta Amazônica. Além dos salários miseráveis, as doenças tropicais, os
conflitos, os escorpiões, o clima e os péssimos alojamentos faziam de suas vidas um
verdadeiro inferno. Calcula-se que tenham morrido cerca de seis mil trabalhadores.
A palavra Mad, que em inglês significa louca, refere-se ao fato da loucura de
se construir uma ferrovia naquela região com condições tão adversas, e Maria era o
nome das locomotivas movidas a vapor da época, como a Maria Fumaça, por
exemplo.
Apesar da minissérie também tratar de romances envolvendo os
personagens, procuramos utilizar apenas as cenas relativas à construção da
ferrovia, envolvida no pagamento feito à Bolívia de acordo com O Tratado de
Petrópolis.
6 Socializando o projeto através do GTR – Grupo de Trabalho em Rede
Uma das etapas do cronograma da professora PDE foi o GTR - Grupo de
Trabalho em Rede, EaD, iniciado em 13/10/11 com término em 25/11/11, onde a
mesma atuou como tutora do grupo de professores do Ensino Público. A primeira
parte deu-se com a apresentação dos professores cursistas e da tutora, para em
seguida passarmos a uma atividade sobre o Projeto de Intervenção Pedagógica na
Escola no Fórum de Discussão1:
Objetivo da atividade: Promover uma discussão sobre o Projeto de Intervenção
Pedagógica, para que haja interação entre os participantes e tutora, o que
contribuirá para ampliação das ideias relacionadas à temática proposta.
Descrição/encaminhamentos: Os livros didáticos (o documento pedagógico mais
utilizado na escola) tratam da expansão territorial do Brasil desde o período colonial,
mas muito pouco nos dizem como se deu o processo histórico para que "esse
Brasil", o Acre, passasse a fazer parte da nossa história e do nosso território. Por
que isso acontece? Reflita, questione, discuta, e dê sua opinião. Ela é muito
importante para este projeto.
Vejamos alguns depoimentos dos cursistas acerca do mesmo.
Cursista 1 – “Durante muito tempo a história foi construída em cima dos interesses
da elite. Há bem pouco tempo os olhares se voltaram para o vencido, deixando de
focar somente no olhar do vencedor; mas, mesmo assim, o olhar do vencedor ainda
predomina entre os documentos históricos. O território do Acre nunca despertou
tanto interesse daqueles que escreviam história; isso não quer dizer que lá não
tenha acontecido nada de importante para a nossa formação histórica. Talvez pelo
fato dos acontecimentos da elite portuguesa estarem ligados com as cidades
litorâneas, como Porto Seguro, Salvador e posteriormente a chegada da corte ao Rio
de Janeiro, os olhares históricos não tenham acompanhado o que acontecia do
outro lado do país; pois a elite estava do lado de cá ”.
Cursista 2 – “Conhecer o „novo‟, o „diferente‟, é instigante. Optar por esse curso com
a proposta de conhecer um pouco mais e discutir os motivos pelos quais esse Brasil,
o Acre, está tão distante das discussões da sala de aula quanto é distante
geograficamente dos grandes centros de poder de nosso país é que me motivou a
participar desse grupo de estudos. A formação daquele Estado e a integração
daquele território às fronteiras brasileiras é, como o de outros territórios brasileiros,
apenas objeto de menção nos nossos livros didáticos, não de reflexão e análise. Já
é um bordão a verdade de que a história que se conta é a do vencedor. Mas a nova
história vem resgatando fatos, acontecimentos que dizem respeito não somente ao
vencedor, nem tampouco reproduz apenas a visão das elites dos centros de poder.
Está cada vez mais presente a discussão de outros pontos de vista [...] Entender o
que lá ocorreu, como ocorreu, e qual a importância da integração daquele território
ao território brasileiro, instiga a nossa curiosidade de historiadores que somos, assim
como nossa necessidade de entender a sociedade da qual fazemos parte”.
Cursista 3 – “Olá Idália, assim como o professor [...] também optei pelo seu tema,
justamente por ele sair de nossa zona de conforto, que são os assuntos mais
abordados nos livros didáticos. Conhecia a história do Acre, mas sem a devida
fundamentação teórica, fiquei feliz em descobrir através do seu projeto que parte dos
meus conhecimentos estão presentes nas fundamentações teóricas.
Busco nesta participação do GTR, a fundamentação teórica necessária para poder
trabalhar com mais segurança a história do Acre em sala, e espero também
amadurecer ideias para o desenvolvimento das metodologias necessárias para
trabalhar o tema em sala”.
O Fórum de Discussão 2, tratou da análise e interação entre os cursistas
sobre a Produção Didático-Pedagógica da tutora, discutindo e opinando sobre a
mesma. Vejamos algumas interações:
Cursista 1 - “Professora Idália sua produção didática ficou muito bem elaborada,
pois oferece aos alunos diversidade de atividades didáticas pedagógicas, que
facilitam muito o aprendizado. Em verdade, nós professores de história muitas vezes
nos sentimos esmagados pela quantidade de temas que temos que dar conta no
decorrer de uma série, e temos consciência que ao trabalhar um tema de forma
muito mecânica, dificilmente o aprendizado será absorvido a longo prazo pelo aluno.
O encaminhamento apresentado no projeto, com certeza é o ideal, explorar um tema
sob várias perspectivas metodológicas”.
Cursista 2 - “O presente trabalho apresenta-se de forma clara, interessante, muito
bem elaborado, e rico em imagens. A forma sequencial como as atividades foram
distribuídas por vossa pessoa, encaixam de forma correta dentro da faixa etária da
sétima série. Os mapas, muito bem organizados no trabalho, enriquecem o visual e
facilita a orientação do aluno dentro daquilo que ele está estudando. Entre tudo que
fora visto e apresentado, creio que a sugestão feita pela professora [...] a respeito da
inclusão de um mapa atual do Acre, político e físico, enriqueceriam ainda mais o que
já está montado de forma tão bem elaborada. Durante a leitura também percebi a
ausência desse item, e ao final da análise, embora muito bem escrito e apresentado,
a presença de tal mapa seria um item a mais, para o que já está muito bem
desenvolvido e explicado. A respeito da parte histórica não há nada a acrescentar,
simplesmente perfeito para o estudo. Quanto à parte didática, não vejo nada a ser
mexido, muito bom. Gostei muito”.
Cursista 3 – “Também acho que a distribuição das atividades ao longo do
desenvolvimento dos conteúdos do texto, como ocorre no Folhas, proporcionem uma
interação maior do aluno com o conteúdo trabalhado. Em nossa escola, inclusive,
toda a orientação para a produção de atividades dá-se nessa direção. Por outro
lado, quando as atividades são bem planejadas, como ocorre nesse caso da
Unidade Didática da professora Idália, certamente a interação do aluno com o
conteúdo e a aprendizagem acontece de forma eficiente”.
No Fórum 3, tratamos da Implementação Didático-Pedagógica na Escola,
colocando o seguinte enunciado:
Será muito importante socializar com você os avanços e desafios enfrentados
durante esta fase de Implementação Pedagógica. Por isso, neste Fórum, estarei
relatando e discutindo com vocês as experiências e os resultados observados no
desenvolvimento do meu Projeto na escola. Sua tarefa é a de ler, refletir e opinar
sobre os resultados que apresento, trazendo contribuições para o debate. Este é um
momento muito importante para o desenvolvimento do meu trabalho no PDE. Conto
com sua participação!
“Quando apresentei o meu Projeto na escola para os Professores, Equipe
Pedagógica e os demais funcionários fiquei um pouco nervosa, porque afinal
tratava-se de um assunto novo e eu não sabia qual seria a reação deles. Mas
quando terminei vários professores vieram me cumprimentar pelo tema escolhido e
falar da sua falta de conhecimento sobre o assunto. Fiquei muito contente. Aos
alunos expliquei o projeto com o uso do mapa do Brasil e percebi o interesse deles
quanto ao tema.
No primeiro encontro dei a Justificativa e a Problematização do projeto no
quadro, sempre com o mapa do Brasil por perto. A seguir iniciei as atividades.
Os alunos gostaram bastante da atividade de colorir e completar os
mapas, mas alguns tiveram dificuldade em responder algumas questões sobre os
mesmos. Corrigimos oralmente com os alunos respondendo às questões.
O Caça-Palavras e Complete é a atividade preferida dos alunos. Entreguei
uma apostila a cada dupla, com o texto „Como o Acre se tornou brasileiro‟. Primeiro
lemos o texto e depois fizeram a atividade em duplas, desenhando a bandeira do
Acre no Caça-Palavras, pesquisando no texto as palavras e completando as frases.
Optei pela segunda opção do Caça-Palavras por ser mais barato e os alunos
elaborarem a bandeira. Embora a atividade fosse em duplas, cada aluno recebeu
uma folha com o Caça-Palavras, porque gostam de procurar as palavras e desenhar
e conseguem aprender melhor dessa maneira.
A pesquisa pela Internet sobre a história da borracha deu um probleminha
porque a rede à qual estão ligados os computadores não suporta vários acessos ao
mesmo tempo. Ainda bem que alguns já tinham terminado e tudo acabou dando
certo. Também já foi realizada a pesquisa sobre a Estrada de Ferro Madeira-
Mamoré e vimos as imagens da mesma.
Fizemos a leitura do texto de Euclides da Cunha sobre a vida do seringueiro
e os alunos estranharam as palavras usadas pelo autor. Mas ao pesquisarem no
dicionário já entenderam melhor. Os alunos leram as respostas e fizemos
comentários sobre o assunto. A seguir coloquei a minissérie Amazônia – de Galvez
a Chico Mendes, com cenas tratando do mesmo assunto do texto. Os alunos
gostaram muito.
Achei interessante quando os alunos leram os dois artigos do Tratado de
Petrópolis e viram que realmente o Brasil pagou pelo Acre, e que não foi como o Evo
Morales disse. Ficaram indignados. E eu brinquei com eles: „E aí pessoal, o Acre foi
trocado por um cavalo?‟ Não professora !
Os alunos estão muito ansiosos para ir ao viveiro de mudas de seringueira
do sr. José Dadalto, pioneiro nessa cultura no Noroeste do Paraná, onde farão a
entrevista com ele e verão com se faz o enxerto para que a seringueira produza
mais e em menos tempo, e a um dos seringais de Alto Paraná para ver a produção
do látex. Apesar de já ter ido falar com o Sr. José, marcado a visita e conseguir a
condução, por problemas de saúde, tive que adiar a data. Problemas acontecem e
temos que estar preparados. Mas logo iremos.
Haverá uma apresentação das lendas do projeto e já estou sabendo que os
alunos estão caprichando. Vamos ver como vão se sair. Na verdade, não enfrentei
grandes problemas até agora. O cronograma vai atrasar um pouco por causa do
problema de saúde que tive. Mas acredito que tudo vai dar certo”.
Cursista 1 - “Parabéns pelo seu projeto. Eu sei o quanto é difícil desenvolver
atividades com os alunos, para que respondam com entusiasmo. Por isso, fico feliz
em participar do GTR, porque você nos forneceu um tema pouco trabalhado e
discutido. Porém, rico em atividades interessantes.
Ao estudar seu projeto, levou-me a conhecer e a relembrar uma parte da
História do nosso país, que realmente nunca abordei com tamanha profundidade.
Espero agora, com este material em mãos, que eu possa fazer uso e, da mesma
forma, desenvolver magistralmente quanto ao desenvolvimento descrito em seu
projeto.
Sempre resisti em participar do trabalho do GTR, mas agora espero que os
outros que vierem sejam sempre temas que nos levem, cada vez mais, a melhorar
nossa prática e que realmente nossos alunos gostem da proposta e participem com
interesse” .
Cursista 2 – “Olá professora Idália, antes de qualquer coisa quero dizer que gostei
muito da sequência de atividades utilizada por vossa pessoa. Não atropelou nenhum
assunto, fez tudo de forma sequencial e progressiva. Desta forma o assunto e o
conteúdo, como um todo, entra na cabeça dos alunos, fazendo com que eles
mesmos construam mentalmente a história do Acre, dentro de uma lógica com
começo, meio e fim, importante para o entendimento nessa faixa etária”.
Cursista 3 – “Sempre achei um dos assuntos mais chatos de História de e trabalhar
com os alunos o que se refere aos tratados de fronteiras. Salvo as questões
relacionadas às bandeiras, que romperam o Tratado de Tordesilhas e foram as
primeiras ações que ampliaram efetivamente o território português na América ao
explorarem áreas espanholas, os tratados posteriores sempre achei complicado
trabalhar com os alunos e torná-lo interessante a eles. Nesse GTR, além de
aprender a ter um novo olhar sobre a questão das fronteiras, ainda aprendi a
trabalhar a questão numa ótica para mim nova e muito interessante. Em outras
palavras, aprendi a gostar do GTR, ao qual até aqui também resistia e, de quebra,
ainda passei a ter um novo olhar sobre a questão das fronteiras do Brasil e, no caso,
especificamente sobre a „aquisição‟ do Acre. Só tenho a agradecer à professora
Idália e ao fato de ter participado desse grupo de estudos em rede”.
O cronograma do GTR foi realizado dentro do período previsto, com os
cursistas participando até o final, discutindo e dando ideias a respeito do projeto.
CONCLUSÃO
O tema deste artigo, História do Acre: da independência à integração ao
território nacional, procurou esclarecer de que forma um espaço geográfico
esquecido por todos, de repente, devido à sua riqueza natural, a borracha, torna-se
alvo da cobiça de brasileiros, bolivianos, do governo do Amazonas e também
desperta o interesse de empresas estrangeiras durante o final do século XIX, quando
o imperialismo europeu assolava a Ásia e a África.
Uma história que envolveu ricos e pobres, brasileiros e bolivianos, um
conflito pela posse de terras que geravam a riqueza para uns e o pão de cada dia
para outros. Mas, sobretudo geraram prosperidade para o país, embora efêmera.
Naquele tempo, como agora, nos bastidores da política os interesses vinham em
primeiro plano. E aqueles brasileiros lá no Acre, abandonados à própria sorte,
conforme vimos, fizeram a diferença.
Os resultados obtidos na apresentação do projeto a funcionários e
professores da escola, a implementação do Projeto junto aos alunos da 7ª série e as
discussões e opiniões dadas pelos cursistas durante a tutoria no GTR sobre o tema,
atestam para a viabilidade de se estudar a história regional de nosso país, de buscar
novos conhecimentos, de ousar e utilizar recortes de minisséries históricas para falar
dos conteúdos sobre a história do Brasil, já que há tão pouco para ser mostrado.
Foi um desafio pesquisar e escrever sobre o presente tema, porém
gratificante. Principalmente quando percebi o interesse, a dedicação dos alunos ao
realizarem as atividades diversificadas, ao tomarem conhecimento de algo que eles
nunca tinham aprendido, ao entrevistarem o pioneiro da cultura da seringueira em
Alto Paraná e visitarem o seringal e terem a oportunidade de conversar com o
responsável, questioná-lo sobre a cultura. Quando eram exibidas as cenas das
minisséries, eles queriam mais. Não se contentavam com os recortes das mesmas.
Ao lerem o texto sobre o Acre, se indignarem com o que Evo Morales disse sobre a
aquisição do Acre pelo Brasil. Se admirarem, quando trabalharam com os mapas do
Brasil desde a época do Tratado de Tordesilhas até nossos dias, ao compararem e
perceberem como o traçado territorial do país foi mudando, se redesenhando,
tomando o corpo atual. Então percebemos que realmente vale a pena tentar o novo,
o desconhecido, polêmico até. Sair da mesmice, mostrar outras histórias de lugares
remotos e esquecidos na nossa História.
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