história da construção

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Histria da Construoos ConstrutoresCoord. arnaldo sousa Melo Maria do CarMo ribeiro

FICHA TCNICA Ttulo: Histria da Construo Os Construtores Coordenao: Arnaldo Sousa Melo, Maria do Carmo Ribeiro Figura da capa: Detalhe de uma ilustrao da Bblia Morgan, Paris (?), circa 1250, pertencente The Pierpont Morgan Library (New York): Ms. M. 638, fol. 3r. Disponvel em: http://themorgan.org/collections/swf/ exhibOnline.asp?id=204). Edio: CITCEM Centro de Investigao Transdisciplinar Cultura, Espao e Memria Design grfico: Helena Lobo www.hldesign.pt ISBN: 978-989-97558-0-2 Depsito Legal: 335192/11 Concepo grfica: Sersilito-Empresa Grfica, Lda. Braga, Outubro 2011

SUMrIo

Apresentao Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Le renouveau des recherches sur les populations du btiment. Une histoire de sources et dchelle Robert Carvais e Valrie Theis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Processo construtivo e artfices da construo em Bracara Augusta. Uma abordagem preliminar Jorge Ribeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ordenanzas urbanas de la construccin en la Baja Edad Media castellana Rafael Comez Ramos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . As gentes da construo na sociedade medieval portuguesa Manuel Slvio Conde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Os construtores das cidades: Braga e Porto (sculos XIV-XVI) Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Os homens da construo nas ilhas atlnticas da Madeira e dos Aores (sculos XV e XVI). Cargos, funes e organizao profissional dos sectores da construo Isabel Soares de Albergaria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Encomendadores e construtores num projecto de integrao cultural e inovao estilstica o caso das parcerias na oficina romnica de S. Pedro de Ferreira (Portugal) Manuel Lus Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Les btisseurs du chantier gothique du Monastre de Bataille (Portugal): XIV-XVIe sicles Sal Antnio Gomes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Construtores e artesos muulmanos: do servio colectivo do rei ao desempenho individual (sculos XIII-XV) Maria Filomena Barros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Salrios e nveis de vida dos construtores em Portugal na Baixa Idade Mdia Srgio Carlos Ferreira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pour une approche biographique des artisans Philippe Bernardi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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APrESENTAoArNAldo SoUSA MElo MArIA do CArMo rIbEIro

A investigao em torno da Histria da Construo tem-se assumido como uma das reas mais inovadoras e interdisciplinares, congregando historiadores, arquelogos e historiadores da arte, mas tambm engenheiros, arquitectos e at juristas. Esta temtica apresenta-se particularmente atractiva ao possibilitar a realizao de anlises diacrnicas de cronologias variadas, bem como o cruzamento de diversas perspectivas e metodologias de investigao. Por tudo isto, os estudos tm-se revelado muito frutuosos, alcanando significativos progressos em alguns pases e materializando-se, nos ltimos tempos, na realizao de certos Congressos Internacionais de elevada qualidade, tais como o International Congress on Construction History, desde 2003, e o Congreso Nacional de Historia de la Construccin, de Espanha, desde 1996. Portugal tem contribudo de modo limitado para o avano da investigao nesta rea, muito embora sejam de referir algumas iniciativas que, recentemente, tm vindo a ser desenvolvidas. A ttulo de exemplo refira-se o Colquio Histria da Construo a Populao dos Construtores, realizado na Universidade do Minho, nos dias 29 e 30 de Outubro de 2010, do qual este livro em grande parte devedor. Mencione-se que o referido colquio visou iniciar um ciclo a que se pretende dar continuidade, subordinado ao tema da Histria da Construo. Por fim, refira-se ainda que o mesmo surgiu na sequncia dum protocolo de cooperao entre o CITCEM (Centro de Investigao Transdisciplinar Cultura, Espao e Memria) e o LAMOP (Laboratoire de Mdivistique Occidentale de Paris Universit Paris 1 e CNRS), no mbito da organizao dum seminrio internacional sobre Histoire de la Construction, que se desenvolveu ao ritmo mensal na Universidade de Paris 1 Sorbonne, entre Janeiro e Junho de 2010, e que contou com a colaborao das Universidades de Roma La Sapienza e Louvain-la-Neuve, alm das universidades e centros francs e portugus j referidos.7

HISTRIA DA CONSTRUO OS CONSTRUTORES

Na sequncia da organizao e participao portuguesa num desses seminrios, intitulado La Population des Constructeurs, promoveu-se o referido Colquio Histria da Construo a Populao dos Construtores, na Universidade do Minho. Este livro, intitulado Histria da Construo Os Construtores, centra-se nesse tema especfico o dos homens e das mulheres da construo , em diferentes perodos cronolgicos. Nele participam especialistas de diferentes reas do conhecimento, com perspectivas e metodologias de anlise igualmente distintas. Esta obra inicia-se com a participao de Robert Carvais e Valrie Theis, que oferecem um excelente balano sobre o estado da arte da Histria da Construo, incluindo a problemtica em torno da definio de uma nova rea cientfica, a apresentao actualizada da bibliografia mais relevante, bem como as tendncias de investigao desta temtica nos ltimos anos, a nvel internacional. Segue-se um conjunto de outros estudos que incide sobre a organizao das actividades da construo em determinadas cidades, no perodo romano e medieval, incluindo o sculo XVI, e num amplo espectro territorial. Referimo-nos s cidades do Porto e de Braga, s urbes do vale do Tejo, aos centros urbanos das ilhas dos Aores e da Madeira e ainda a cidades castelhanas. O trabalho de Jorge Ribeiro incide sobre o processo construtivo e os artfices da construo em Bracara Augusta, baseando-se nos resultados das escavaes arqueolgicas realizadas em Braga ao longo dos ltimos 35 anos. Partindo dos registos arqueolgicos e dos edifcios conservados, o autor procura reconstituir os processos construtivos que caracterizavam as obras romanas, em particular a direco da obra, os materiais utilizados, o planeamento, os trabalhadores envolvidos, bem como as etapas da construo. Rafael Cmez Ramos estuda as ordenaes relativas construo nas cidades do reino de Castela durante a Baixa Idade Mdia. Para tal, analisa a organizao das corporaes/grmios de construtores, partindo dos seus antecedentes islmicos, tendo como exemplos as ordenaes urbanas das cidades de Toledo, Sevilha e Crdova e destacando, por fim, a continuidade dessas ordenaes. Manuel Slvio Conde aborda as gentes da construo nas cidades medievais portuguesas, sobretudo do vale do Tejo que, segundo o autor, tm atrado pouco a ateno dos investigadores portugueses, em virtude da escassez documental. O autor procurou analisar os construtores sob trs aspectos, designadamente a composio do grupo socioprofissional e o seu peso relativo no quadro dos ofcios de vrias cidades; a organizao profissional; e o estatuto socioeconmico especfico dos pedreiros e carpinteiros. Arnaldo Sousa Melo e Maria do Carmo Ribeiro apresentam um trabalho sobre os construtores das cidades de Braga e do Porto, nos sculos XIV a XVI que pretende constituir um contributo para o estudo da temtica a nvel nacional. Atravs da8

APRESENTAO

anlise de exemplos retirados daquelas cidades caracterizam aspectos significativos da populao dos construtores, designadamente os cargos, as profisses, os nveis de especializao e a organizao do trabalho e da empresa da construo, mas tambm, as formas de remunerao. Isabel Soares de Albergaria oferece um estudo acerca dos homens da construo nas ilhas atlnticas da Madeira e dos Aores nos alvores da poca moderna. Atravs dos exemplos das cidades do Funchal, Angra, Vila Franca do Campo ou Ponta Delgada, onde se regista um forte dinamismo do sector da construo, a autora procurou demonstrar que estes homens constituam um grupo socioprofissional bastante heterogneo, que inclua os prestigiados mestres das obras reais, mas tambm os simples oficiais de pedreiro ou carpinteiro. Neste trabalho, Isabel Albergaria aborda ainda o reforo legislativo ao nvel das instncias nacionais e locais, em consequncia do desenvolvimento urbano ocorrido na viragem do sculo XV para o XVI. Um outro conjunto de comunicaes versou sobre os homens da construo especificamente em determinados estaleiros de edifcios de prestgio e emblemticos, nomeadamente da igreja de S. Pedro de Ferreira, no sculo XII, ou do Mosteiro da Batalha, nos sculos XIV a XVI. Manuel Lus Real analisa a construo da igreja romnica de S. Pedro de Ferreira, que revela a existncia de uma oficina constituda por trs grupos de artfices, oriundos de regies distintas e com uma identidade cultural muito pronunciada, que trabalharam em simultneo. Alm de um mestre local, o autor identifica neste templo mais duas equipas de pedreiros, lideradas por mestres provenientes, respectivamente, de Coimbra e Zamora. A justificar a contratao destes trs grupos, encontra-se a invulgar disponibilidade de recursos financeiros por parte dos cnegos de Ferreira, mas tambm o percurso poltico e cultural da nobreza da regio e da igreja portuense. Sal Antnio Gomes analisa os construtores do estaleiro gtico do Mosteiro da Batalha nos sculos XIV a XVI. Os centenrios trabalhos desta construo determinaram a fixao de uma comunidade de construtores e de artistas, mas tambm de oficiais administrativos. Neste estudo, merece particular destaque a reconstituio da biografia de alguns dos homens que participaram na construo do referido Mosteiro. Este livro inclui ainda um trabalho de Maria Filomena Barros sobre o papel especfico das minorias mouras no sector da construo na Idade Mdia. Segundo a autora, a importncia da participao dos muulmanos nesta actividade, em Portugal, localiza-se sobretudo na zona meridional do Reino, onde se concentravam estas comunidades. Este contributo mouro estava normalmente relacionado com o servio ao monarca, que frequentemente correspondia a dois nveis de participao: os servios colectivos e o desempenho individual de mesteres especializados.9

HISTRIA DA CONSTRUO OS CONSTRUTORES

Srgio Ferreira desenvolve um estudo sobre os salrios e os nveis de vida dos construtores, em Portugal, na Baixa Idade Mdia. O autor aborda os principais factores que definiam os salrios dos construtores, em particular as caractersticas do trabalhador, a hierarquia dentro de cada mester e as condies do mercado, com particular destaque para as mudanas provocadas pela Peste Negra. Este trabalho procurou ainda analisar o conceito de nveis de vida, atravs do cruzamento da evoluo dos salrios dos construtores com uma amostra de preos. De destacar ainda, pela originalidade, o contributo de Philippe Bernardi sobre a biografia dum mesteiral da construo do sculo XV, no sul de Frana, que possibilita um olhar concreto e inovador sobre realidades de que apenas conhecemos o quadro geral. Para finalizar, queremos expressar o nosso agradecimento a todos aqueles que tornaram possvel a publicao deste livro. Ao CITCEM e FCT, ao Departamento de Histria e em particular a todos aqueles que contriburam com os seus estudos para a composio desta obra e para a prossecuo dos objectivos a que nos propusemos.

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lE rENoUVEAU dES rECHErCHES SUr lES PoPUlATIoNS dU bTIMENT. UNE HISToIrE dE SoUrCES ET dCHEllESrobErT CArVAIS* VAlrIE THEIS**1

La question des populations du btiment est au cur de lhistoire de la construction. Mme si pour beaucoup dhistoriens, lhistoire de la construction porte essentiellement sur les questions techniques, se rsumant aux interrogations rsolvant comment a tient? et pourquoi a tombe?, il demeure indniable tout au moins cette question fait encore dbat aujourdhui que lhistoire de la construction est indissociable de lhistoire des hommes qui sont au cur des actions de lart de btir que ce soit sur le terrain de la commande, de la conception ou du chantier. On ne saurait tudier un brevet rcent dassemblage, une nouvelle technique constructive, un procd original de fabrication sans sintresser au contexte de cette dcouverte, qu'elle soit conomique, juridique ou sociale. Notre histoire technicienne de la construction est forcment explique, justifie, ajuste par les sciences humaines et sociales et vice et versa. Or, lhistoire de la construction sest constitue en champ majeur de recherches au cours des annes 2000. Lhistoire des hommes sur les chantiers na pas attendu ces annes l pour tre entreprise. Elle faisait lorigine partie de lhistoire des arts, architecture comprise. Combien de clbres architectes ont fait lobjet de recherches? Pourtant presque aucun travail ne porte alors sur les inconnus de cette histoire. Paralllement ces tudes, lhistoire du droit dans les annes 1940 proposait une histoire des corps ou corporations, analysant quelque peu mais toujours de manire groupe lhistoire des communauts de mtiers, abordant et l lhistoire des* CNRS Universit Panthon-Assas; cole Nationale Suprieure dArchitecture de Versailles ** Universit Paris-Est Marne-la-Valle

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compagnons, mais il ne sagissait que dune histoire des entrepreneurs, pas des ouvriers. Cest concomitamment lhistoire des institutions et faits sociaux et celle dhistoire urbaine dans les annes 1970 et 1980 que les premiers travaux importants sur les populations de la construction ont vu le jour. Au mieux, mais ctait dj beaucoup, la population des travailleurs des chantiers tait englobe dans des tudes densemble du milieu de lartisanat, tudes pionnires comme celles de Charles-Marie de la Roncire sur les prix et les salaires Florence dont une partie tait consacre aux salaires dans le btiment travers ltude du cas des matres maons1, de Richard Goldthwaite sur lhistoire conomique de la construction de Florence dont louvrage divis en deux tient le pari de traiter dans une premire partie des commanditaires et dans une seconde des gens du btiments (architecte, artisans et main duvre)2 ou encore le travail de Bronislaw Geremek sur le salariat parisien3. Mais les figures du manuvre ou de lartisan du monde de la construction taient alors convoques pour rpondre une problmatique qui tait avant tout une problmatique gnrale dhistoire conomique et non en tant que population spcifique de travailleurs posant un certain nombre de problmes symptomatiques. A la fin des annes soixante en France, la thse de Christiane Klapisch-Zuber sur les travailleurs du marbre Carrare faisait aussi partie de ces rares travaux historiques avoir pris le problme de la spcificit des travailleurs du monde de la construction au srieux4, mais au moment de la sortie de lHistoire de la France urbaine, en 1980 Jacques Le Goff se plaignait encore que nous soyons si mal renseigns sur lorganisation des grands chantiers urbains des cathdrales5. Cette impression ne devait plus rester trs longtemps dactualit car les annes 80 virent se multiplier les travaux mettant laccent sur la population des travailleurs venant ainsi combler une lacune trs franaise. Philippe Braunstein, qui fut lun des principaux acteurs de ce renouveau souligne en effet dans lensemble de ses travaux sur la construction dans le Milanais combien de telles tudes faisaient partie depuis la fin du XIXe sicle des proccupations des chercheurs allemands

1 La Roncire C.-M. de, Prix et salaires Florence au XIVe sicle (1280-1380), Rome, 1982 (Collection de lcole franaise de Rome, 59). 2 Goldthwaite R., The Building of Renaissance Florence. An Economic and Social history, Baltimore, John Hopkins UP, 1980. 3 Geremek B., Le Salariat dans lartisanat parisien aux XIIIe-XVe sicles: tude sur le march de la main duvre en Moyen-ge, traduit du polonais par A. Posner et C. Klapish-Zuber, Paris, Ecole des hautes tudes en sciences sociales, 1968 (Industrie et artisanat, 5). 4 Klapisch-Zuber C., Les matres du marbre. Carrare, 1300-1600, Paris, Ed. de lEHESS, 1969. 5 Le Goff J., Lapoge de la France urbaine mdivale. 1150-1330, in Le Goff J. (dir.), La ville en France au Moyen ge, rdition du tome 2 de lHistoire de la France urbaine, Paris, Seuil, 1980, rd. 1998, p. 280.

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LE RENOUVEAU DES RECHERCHES SUR LES POPULATIONS DU BTIMENT. UNE HISTOIRE DE SOURCES ET DCHELLES

par exemple6. Ses travaux, comme ceux de Fausto Piola-Caselli sur la construction du palais des papes dAvignon7, se sont dabord concentrs sur les grands chantiers monumentaux, les rares nous avoir laiss une production comptable et notariale abondante, production qui est la fois une aubaine pour les chercheurs aujourdhui encore les travailleurs des chantiers ordinaires nous sont plus mal connus que ceux des chantiers des palais, monastres ou cathdrales mais aussi un filtre qui sinterpose entre la ralit des statuts, des origines et des pratiques des hommes du chantier et le chercheur, filtre qui nest pas seulement celui de la mise par crit mais qui est aussi li aux objectifs particuliers qui taient ceux des rdacteurs de ces sources, soucieux de la standardisation de donnes moins destines dcrire le chantier et ses hommes qu assurer le meilleur suivi possible des dpenses et le contrle des travailleurs. De surcrot, laube du XXIe sicle, les recherches sur les gens de peu contriburent dvelopper aux confins de la micro-histoire des tudes sur les inconnus de lhistoire8. Si on peut dfinitivement croire aujourdhui une renaissance de ce genre dtudes, cela est d en partie la concomitance de plusieurs facteurs: lapparition dune nbuleuse intellectuelle autour de la construction; la mise en perspective et la recherche dune variabilit dapproches focales, bref la multiplication des chelles dtudes; lusage de sources nouvelles et la relecture de sources dj anciennes et dj publies. Nous passerons sur le premier point qui est connu de tous: la renaissance de lhistoire de la construction. A linitiative de lEspagne, de lItalie et de la GrandeBretagne, socits savantes, congrs internationaux, nationaux rguliers, revues, sites internet ddis, sminaires se sont dvelopps de manire fulgurante en lespace de dix ans9. Ces manifestations donnent les opportunits de nouveaux dbats sur la question des populations du btiment.

6 Braunstein P., Les salaires sur les chantiers monumentaux du Milanais la fin du XIVe sicle, in Barral i Altet X. (d.), Artistes artisans et production artistique au Moyen ge, I Les Hommes, Paris 1986, p. 123-132. 7 Piola-Caselli F., La costruzione del palazzo dei papi di Avignone (1316-1367), Milan, 1981. 8 Boglioni P., Delort R., Gauvard Cl. (dir.), Le petit peuple dans lOccident Mdival, Paris, Publication de la Sorbonne, 2002. Plusieurs articles se rfrent au monde du btiment, en particulier celui de Ph. Bernardi, Jeune, pauvre, tranger: dautres manire dtre matre, p. 421-435. 9 Sur ce point consulter Huerta S., Lhistoire de la construction en Espagne: origines et tat des recherches dans Carvais R., Guillerme A., Ngre V. et Sakarovitch J. (dir.), Edifice & Artifice. Histoires constructives, Paris, Picard, 2010, p. 65-76.

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La question de lchelle permet prcisment de nouer des approches totalement diffrentes de ces populations. Si lon parle de population, cest demble que lon considre un groupe de personnes unies par le seul fait quelles sont actives dans un mme domaine. Or, nous avons l plusieurs situations possibles qui se compltent et senchevtrent. Il existe une grande varit de populations du btiment et il est rarement loccasion de les tudier toutes: que ce soit des individus ou des communauts, la recherche ne couvre pas lensemble des situations et loin sen faut. A ct de monographies nombreuses sur des individus dont on dresse la biographie parce que ce sont des personnalits (les grands architectes surtout, les grands entrepreneurs un peu moins) combien a-t-on dhommes et de femmes du btiment qui restent dans lombre (ceux qui nont pas laiss une uvre inoubliable, les manuvres, les dshrits du btiment)? Les recherches sur les groupes institutionnels de personnes runis par un statut, un projet, une mission ne sont pas en reste. Nombreux sont les travaux historiques, voire juridiques sur les communauts de mtiers, que ce soit les maons, les charpentiers, les plombiers, les jardiniers, etc. mais quid des recherches sur des mtiers plus rares, sur des groupes parallles, qui agissent avec et donc en dehors de ces communauts. Nous pensons aux auxiliaires de justice (huissier, greffier, procureur) dans le cadre dun tribunal corporatif et qui sont bien entendu lis aux familles des gens du btiment par alliances diverses. Quid des interrogations sur des sous-groupes lintrieur des mtiers, par exemple les jurs-experts, les arbitres, les syndics et adjoints, etc. ou bien les hommes travaillant sur tel ou tel chantier qui forment des populations htrognes, mais pas si instables quil ny parat? De plus travailler sur un groupe dindividus qui partagent un intrt commun ne doit pas nous limiter une tude institutionnelle, nous entendons par l que les recherches publies chez les historiens du droit sur les communauts de mtiers dans les annes 30 50 ou mme les tudes institutionnelles anglo-saxonnes fort rputes dans la ligne des travaux de Steven Kaplan ou de Michal Sonenscher10, bien que plus satisfaisantes que les premires (elles sont plus ralistes sur le plan conomique) restent incompltes en msestimant laspect micro de ces histoires. En effet, force de tenter danalyser les dynamismes politiques, juridiques et conomiques dun systme, elles manquent laspect pratique de lhistoire qui approfondit les dtails essentiels, qui entrevoit les sensibilits, les mentalits des individus, qui permet de nuancer les conclusions, qui nous montre par exemple comment, lchelle individuelle, un matreKaplan S. L., Rflexions sur la police du monde du travail, 1700-1815, Revue historique, 1979, p. 17-77; du mme auteur, La lutte pour le contrle du march du travail, Revue dhistoire moderne et contemporaine, 1989, p; 436-479; Sonenscher M., Works and Wages: Natural Law, Politics and the EighteenthCentury French Trades, Cambridge, Cambridge University Press, 1989.10

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maon peut cumuler des fonctions complmentaires (officier municipal, syndic hrditaire des maons, juge de ces derniers)11, des mtiers a priori contradictoires (entrepreneur, architecte) et des situations de pouvoir (proche du roi, proche du Parlement) ou comment, lchelle collective, des groupes de pressions politiques insaisissables peuvent influer in extremis sur la rdaction dune clause des statuts du mtier de maons leur interdisant de pratiquer le march forfait12, comment des regroupements de gens de mtiers peuvent faire basculer une gouvernance force de contestations13, comment la diversit des situations conomiques de chaque entreprise du btiment prouve malgr tout un dfaut duniformit et de reprsentativit de lactivit constructive. Bref, pour tudier des populations, il apparat indispensable de ne pas trop se fourvoyer dans des tudes gnrales, mais il convient de les complter par des recherches ponctuelles; allier ainsi le regard micro au regard macro et vice et versa. Cela pose invitablement la question des sources. Quelles soient darchives ou archologiques, crites ou orales, administratives ou littraires, les sources sur lhistoire des populations mritent d'tre renouveles ou rexamines. Tout cela sans omettre de les passer au crible de lanalyse critique de leurs auteurs (on ne peut traiter de manire identique une archive du for prive: correspondance, journal personnel, testament et une archive publique: nomination dans une fonction, condamnation judiciaire, statuts organisant un mtier), une norme et une pratique, mais aussi de lanalyse tout autant critique de leurs lecteurs (on oppose radicalement une analyse scientifique du texte et de son support et une production grand public ou encore une tude indpendante dun organisme de recherche et celle sponsorise par une entreprise, comme celle que pourrait subventionner un syndicat dentrepreneurs des btiments). Afin de renouveler lhistoire des populations du btiment, il est apparu ncessaire duser de sources neuves et inhabituelles dans ce champ: par exemple les sources judiciaires ou les archives prives dentreprises. Saisir les gens duDrens I., Un sicle ddiles parisiens: Jean Beausire et sa ligne, in Rabreau D., Massounie D. et Prvost-Marcihlacy P. (dir.), Paris et ses fontaines: de la Renaissance nos jours, Paris, Dlgation laction architecturale de la ville de Paris, 1995, p. 132 142. 12 Carvais R., La procdure de vrification des lettres patentes, moyen parlementaire de ngocier, voire dimposer le droit in Anagnostou-Canas B. (dir.), Dire le droit: normes, juges, jurisconsultes, Paris, Universit Panthon-Assas (Paris II)/LGDJ, 2006, p. 267-284. 13 Carvais R., Les auxiliaires juristes et maons de la Chambre des Btiments, subalternes ou supplants pour une justice idale? in Cl. Dolan (dir.), Entre justice et justiciables: Les auxiliaires de la justice du Moyen Age au XXe sicle, Qubec, Les Presses de lUniversit de Laval, 2005, p. 697-716.11

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btiment par le biais des conflits quils ont pu avoir avec leurs contemporains ou leurs collgues sest rvl fructueux plus dun titre: bien sr, les btisseurs de la prvt et vicomt de Paris possdaient depuis le Moyen ge le privilge dtre contrls judiciairement par un tribunal corporatif: la Chambre des Btiments ou juridiction de la maonnerie dont les archives nont subsist qu partir de 1670, est une des rares institutions de ce type permettre une approche trs fouille du monde parisien de la construction: des matres douvrage aux matres duvre en passant par les experts, les savants spcialiss en hydraulique ou en mcanique, les architectes, les inventeurs de nouvelles techniques de lart de btir, les commerants de matriaux, les corps de mtiers agissant sur les chantiers avec les maons, tailleurs de pierre et les charpentiers comme les transporteurs, les grutiers, mais aussi les compagnons et les manuvres, ceux pour lesquels nous ne possdons pas ou trs peu de renseignements. Mais on pourrait imaginer une recherche similaire dans les archives dautres cours (Chtelet, tribunaux de police, Parlement, tribunaux consulaires, etc.). De plus, les archives judiciaires contiennent des archives purement corporatives comme les dossiers de matrise avec des informations sur la carrire, le stage de formation, les parrains indiquant le rseau et le chef duvre du candidat, ce qui permet une tude approfondie de ce groupe de compagnons devenus matres sur une longue priode. De manire identique les archives prives dentreprises ont donn lieu des travaux d'une grande richesse: que ce soit celles des institutions bancaires, celles des socits de construction ou celles des entreprises de btiment donnent accs des rouages inaccessibles par le biais des archives classiques. Signalons au passage que les archives des entreprises du btiment, incompltes pour la priode de lAncien Rgime, auraient d fleurir au XIXe sicle. Or il faut attendre, notre connaissance, la fin dudit sicle pour en avoir trace en raison sans doute de la mise au secret des corporations la Rvolution. Ces archives existent pour les avoir vu passer en vente aux enchres prives et devraient attirer davantage les conservateurs ou les syndicats patronaux qui devraient inciter leurs adhrents en faire dpt dans des fonds publics darchives, comme les archives du travail de Roubaix. Imaginez ce que lon peut dcouvrir dans ces documents propos des populations dans lindustrie de la construction (hirarchie des professions, tractations dembauche, dplacements des manuvres au gr des chantiers, situations financires des ouvriers, des contrematres et des patrons, transmission du savoir par lapprentissage, etc.). Afin de renouveler lhistoire des populations du btiment, il est apparu galement ncessaire de rexaminer des sources anciennes qui avaient dj fait lobjet danalyse par le pass: Nous pensons dabord aux sources conomico-juridiques comme les devis et marchs, prix-faits tant pour les constructions prives que pour les travaux publics (archives notariales, fonds des ponts et chausses, des ministres,16

LE RENOUVEAU DES RECHERCHES SUR LES POPULATIONS DU BTIMENT. UNE HISTOIRE DE SOURCES ET DCHELLES

des conseils des btiments civils, bref des administrations), les procs-verbaux dexpertises ou rapports de futures cautles dans certaines villes du Sud-Est de la France (archives ddies, fonds Z1J des archives nationales ou minutes des notaires), mais nous pensons aussi aux sources institutionnelles qui ont t revisites, analyses nouveau et qui ont permis de nouvelles dcouvertes comme les archives des corporations, des compagnons, des cours de justice et enfin les sources purement conomiques comme les documents comptables qui ont donn la possibilit de continuer apprhender le cot des travaux mais aussi la mobilit des travailleurs et leur niveau de vie travers leurs salaires. Jouant sur ces deux critres dchelles et de sources des degrs divers, lhistoire des populations du btiment se dveloppe dans trois directions: la mobilit des travailleurs, leur statut et lorganisation de la vie en communauts.

I La mobILIt des gens du btImentCe thme permet essentiellement de suivre les traces des minorits, des manuvres, des populations migres, qui rpondent aux appels doffre hors de leurs frontires pour vivre. Ce champ de recherche permet de travailler deux chelles selon les sources dont le chercheur pourra bnficier. Mais autant dire que les sources de limmigration sont, pour les priodes qui nous intressent, difficiles obtenir ou construire du fait mme du dplacement gographique des populations. Lorsquon sattache lorigine des travailleurs, il reste souvent difficile de savoir si tel personnage dit de tel endroit en vient vraiment o sil sagit dun surnom renvoyant une origine gographique connue approximativement de ses compagnons ou de ses employeurs, dun surnom qui ne fait que garder le souvenir dune rgion abandonne de longue date par les membres de sa famille ou encore dune mention accole son nom de famille par assimilation lorigine du groupe de travailleurs avec lesquels il sest fait embaucher. Lorsquon tente de suivre le parcours des travailleurs des chantiers, on se heurte en outre aux lacunes des sources et au risque de prendre un personnage pour son homonyme. Ainsi, les tentatives de cartographie de la provenance des travailleurs sont toujours des entreprises voues lapproximation mais qui, en devenant de plus en plus nombreuses depuis une trentaine dannes, ont permis de faire ressortir certaines tendances lourdes comme les liens entre le niveau de qualification des travailleurs et leur mobilit sur de longues distances. Si sur la plupart des chantiers, la majorit des travailleurs ordinaires vient des villages ou des rgions alentour, ce qui peut quand mme reprsenter plusieurs heures de marche par jour, les matres les plus qualifis se recrutent sur un march qui fonctionne lchelle europenne (en Italie et en Hollande au XVIe sicle, par example).17

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Pour un ensemble dexemples rcents sur cette question au Moyen-Age nous renvoyons aux travaux de Philippe Bernardi dans sa thse dans laquelle il utilise archives notariales (contrats de mariage, contrats dembauche, testaments) et monographies, afin de prciser lorigine gographique des artisans travaillant Aix14. Sur 1115 personnes apprenant ou pratiquant un mtier du btiment, prs de 530 individus ne sont pas originaires de la ville, soit plus de 47,5% de la population recenss entre 1401 et 1550. Cela lui permet de cartographier limmigration aixoise et den dresser une chronologie tant pour les matres que pour les ouvriers. Lauteur va jusqu dmontrer linfluence de limmigration sur les mthodes de construction (pltre, taille de pierre et bois) avec toutes les prcautions scientifiques dusage, cest--dire sans en grossir dmesurment les traits: Lier les transferts technologiques aux seuls dplacements des artisans serait certes une erreur grossire qui reviendrait nier linfluence par exemple du commanditaire.15 Il sinterroge ensuite sur les diffrentes faons dont les artisans quils soient matres, apprentis ou compagnons sintgrent professionnellement (contrat prix-fait ou engagement dure dtermine), dnotant les rticences et le protectionnisme du milieu aixois. Enfin, il met plat non sans nuance une typologie des dplacements des populations, lobligeant oprer des sondages dans des fonds darchives loigns de la ville dAix. Il dmontre ainsi des mobilits rayonnantes et itinrantes. La difficult danalyse de cette mobilit plus importante chez les matres les plus minents lamne conclure quune circulation plus importante des petits artisans nest pas carter16. La question de la population des limousins dans les mtiers du btiment est rcurrente dans lhistoire europenne au point dtre une figure symbolique des populations migrantes dans le champ de la construction. Aprs la thse dj ancienne (1986) de Marie-Anne Moulin sur Les maons de la Haute-Marche au XVIIIe sicle17, des travaux plus rcents ont fait voluer notre savoir sur ce sujet pour la priode contemporaine, en particulier les travaux de Jean-Luc de Ochandiano, Lyon, un chantier limousin. Les maons migrants (1848-1940) paru en 200818. Cet auteur, en cours de thse, sinterroge sur comment vivaient cesBernardi Ph., Mtiers du btiment et techniques de construction Aix-en-Provence la fin de lpoque gothique (1400-1550), Aix-en-Provence, Publications de lUniversit de Provence Aix-Marseille I, 1995, p. 43. 15 Bernardi Ph., op. cit., p. 58. 16 Bernardi Ph., op. cit., p. 65-68. La citation est de la page 68. 17 Moulin M.-A., Les Maons de la Haute-Marche au XVIIIe sicle, Clermont-Ferrand, Facult des lettres et sciences humaines de lUniversit de Clermont-Ferrand, 1986 (Publications de lInstitut dEtudes du Massif Central, 29). 18 Ochandiano J.-L. de, Lyon, un chantier limousin. Les maons migrants (1848-1940), Lyon, Editions Lieux Dits, 2008.14

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maons migrants au sein des villages? Quelles solidarits mettaient-ils en uvre malgr un environnement globalement hostile? Quelles luttes collectives ont-ils menes pour accder de nouveaux droits? Comment se sont-ils peu peu intgrs dans lespace urbain mais aussi dans une culture nationale plus large? Il travaille sur lvolution de lappartenance de ces hommes un groupe social. La rfrence mdivale, encore valable lpoque moderne, la communaut de hameau, comme lappelle lhistorien Alain Corbin, ne semble pas contradictoire avec la conscience dappartenir un groupe plus large, la fois professionnel et rgional, voire plus tard la classe ouvrire et la Nation. A partir darchives policires et judiciaires, de chantiers et diocsaines, ainsi que dune riche documentation associative et syndicale, lauteur parvient dresser le tableau assez riche de la migration limousine dans lagglomration lyonnaise, les luttes sociales de ces populations et le processus de qualification de la main duvre li lindustrialisation du secteur du btiment. Sur le XXe sicle, un dossier remarquable publi par les Cahiers des Annales de Normandie en 2001, sous la direction de Mariella Colin, est consacr lmigrationimmigration italienne et les mtiers du btiment, en France et en Normandie. Ce travail pose en plusieurs tudes de cas des questions essentielles qui ont des rpercussions sur les interrogations intemporelles: par exemple, le partage entre une migration des lites et des ouvriers; lusage de la main duvre immigre dans les chantiers immenses des BTP, dmontr par zone gographique; la rception ou le rejet de ces populations en France durant ou hors des priodes troubles; leur spcialits techniques qui induit leur russite ou leur chec dans leur terre daccueil, bref une analyse conomique des entreprises du btiment19. A noter la publication dun dossier photographique qui redonne un visage ces travailleurs anonymes et qui mrite le dtour. Signalons enfin une enqute de terrain ralise rcemment par le sociologue Nicolas Journin qui nous dmontre et nous fait regretter ce que lhistoire ne peut que suggrer ou qumettre sous forme dhypothses, qui met mal beaucoup dides reues et nous permet dtre assez prudent lanalyse de nos sources parfois si minces. Il nous rvle par exemple que: beaucoup de prcaires ne sont pas instables; que les sans-papiers ne travaillent pas forcment au noir; que les rgles de scurit ne protgent pas forcment toujours les ouvriers; que si les travailleurs concerns ne saffrontent que rarement avec leurs employeurs, ils entretiennent une rvolte souterraine qui peut menacer loccasion les constructions et contraindre lesditsColin M. (dir.), Lmigration-immigration italienne et les mtiers du btiment en France et en Normandie, Caen, Muse de Normandie, Cahiers des Annales de Normandie, n 31, 2001. Voir galement Colin M. (tudes runies par), Limmigration italienne en Normandie de la Troisime Rpublique nos jours. De la diffrence la transparence, Caen, Muse de Normandie, Cahiers des Annales de Normandie, n 28, 1998.19

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employeurs mettre en uvre des amnagements. 20 Le dplacement gographique des travailleurs en masse par ncessit conomique na rien voir avec le voyage sur requte de quelques savants techniciens au service de lexpertise. Dailleurs, tudi isolment, le travailleur se mtamorphose au cours de son existence.

II statut changeant de Lhomme au travaILLtude du statut juridique de lhomme au travail permet de se concentrer plutt sur lchelle macro bien quil pourrait permettre de dvelopper des analyses micro sur lvolution du statut dun personnage si son histoire tait suffisamment documente, puisque les recherches gnrales sont finalement souvent la somme de recherches sur plusieurs individus. Les sources invoques dans ce cadre sont essentiellement des sources notariales et judiciaires. Cette question qui a fait lobjet de renouvellements en profondeur, englobe en fait de nombreuses subdivisions en fonction de ce quon entend par statut. Le terme peut en effet renvoyer aux titres attribus ou reconnus aux travailleurs par les responsables du chantier, mais aussi aux fonctions exerces par tel matre duvre dans ldification dun btiment, architecte ou entrepreneur ou encore du nom de la charge que le travailleur occupe21. Si les premires tudes se sont souvent contentes dessayer de faire rentrer les diffrents types de travailleur dans le schma des apprentis, valets et matres, tout en constatant la plupart du temps linadquation avec la diversit des statuts prsents dans les sources, nous en sommes aujourdhui en train de nous en librer et les travaux de Philippe Bernardi ont jou un grand rle dans cette volution en montrant dabord quelles conditions historiques contemporaines avaient permis ce schma unique de simposer dans lhistoriographie en dpit de la ralit de sources qui mettent plus souvent en scne des formes variables de bipartitions. Ces travaux ont galement mis en valeur la diversit des termes employs pour dsigner les travailleurs dune rgion lautre et dune poque lautre. Le constat nest pas seulement celui dune diversit des statuts et du vocabulaire utilis pour les dsigner en fonction des temps et des lieux: la lecture de son dernier ouvrage22, le chercheur est amen une plus grande prudence dans linterprtation dun mme20 Journin N., Chantier interdit au public. Enqute parmi les travailleurs du btiment, Paris, Ed. La Dcouverte, 2008. 21 Theis V., Dcrire le chantier ou crire le chantier? Titres et offices dans les comptes de construction pontificaux de la premire moiti du XIVe sicle, in Jamme A. et Poncet O. (dir.), Offices, crit et papaut (XIIIe-XVIIe sicle), Rome, cole franaise de Rome, p. 643-666. 22 Bernardi P., Matre, valet et apprenti au Moyen ge. Essai sur une production bien ordonne, Toulouse, CNRS/Universit de Toulouse le Mirail, (Mridiennes / srie Histoire et techniques), 2009.

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terme qui, comme celui de matre, se rvle finalement trs polysmique, mme dans un cadre gographique et chronologique restreint, en fonction des sources et donc des types de rapports sociaux sur lesquels un texte particulier veut insister. Cette libration du vocabulaire permet dsormais dapprofondir les recherches concernant le statut entendu comme le type de contrat liant la main duvre au chantier. Aujourdhui, les historiens ne se contentent plus, pour comprendre les conditions dactivit des travailleurs du chantier, de regarder quel titre ils portent et de prendre en compte le type de contrat qui les lie au chantier: la journe, la tche, au prix-fait. On prte attention la dure dembauche garantie pour les travailleurs journaliers, car travail pay la journe ne veut pas dire embauche la journe. Lorsquon ignore quelle est cette dure dembauche, on prte attention au nombre de jours travaills dans le mois ou dans lanne, aux monnaies dans lesquelles les salaires sont verss, au rythme de versement des salaires ou des tranches dans le cas de prix-faits, autant dlments qui permettent de mieux imaginer quelle pouvait tre la scurit ou linscurit de lemploi de ces travailleurs et parfois mme leur niveau de vie dont on sait aussi aujourdhui quil ne dpendait pas toujours uniquement du travail fourni sur le chantier mais de nombreux autres facteurs qui pouvaient, pour certains dentre eux, avoir un lien avec le chantier comme la vente de matriaux ou la location desclaves. Le cas des esclaves nous amne, pour le Moyen ge, une autre dimension de la question du statut des travailleurs, plus juridique et sociale. Les travaux sur la population des travailleurs nous ont permis de sortir de limage monolithique dun chantier peupl uniquement dhommes libres adultes et chrtiens. Dj, Auguste Choisy dans son Art de btir chez les Romains stait interrog sur la condition ouvrire des chantiers et tait parvenu expliquer les tapes constructives par les statuts varis des citoyens romains libres ou travailleurs quasi forcs, voire esclaves23. On ne nie plus aujourdhui limportance de la prsence des esclaves sur certains chantiers, prsence parfois marginale mais qui pouvait devenir trs importante en priode dacclration de celui-ci ou dans les contextes de manque de main duvre se prsentant pour lembauche24. Parmi ces esclaves, certains taient musulmans ce qui nous amne aussi limportance du chantier comme lieu de contact entre les diffrentes religions prsentes en Europe: le chantier est un lieuCarvais R., Auguste Choisy: pour un usage des sciences sociales au service de lhistoire de la construction dans Huerta S. et Girn J. (dir.), Auguste Choisy: 1841-1909. Larchitecture et lart de btir, Actas del Simposio International celebrato en Madrid, 19-20 noviembre de 2009, Madrid, Instituto Juan de Herrera, escuela Tcnica Superior de Arquitectura, 2009, p. 121-150. 24 Pour une tude rcente concernant le travail des esclaves sur les chantiers mdivaux voir Victor S, La construction et les mtiers de la construction Grone au XVe sicle, Toulouse, CNRS/Universit de Toulouse le Mirail, (Mridiennes), 2008, en particulier p. 162-163.23

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part o se ctoient des populations chrtienne, musulmane mais aussi juive et ce mme lorsque les commanditaires sont des ecclsiastiques chrtiens pourtant peu ouverts aux autres religions25. On y rencontre aussi des femmes, que la nature des sources rend parfois plus visibles que dans le cadre dun artisanat urbain o une veuve peut exercer seule le mtier pendant des annes mais en le faisant sous le nom de son dfunt mari ce qui a pour consquence de la rendre moins visible26. Prsentes en petit nombre, les femmes sont souvent cantonnes leffectuation de certaines tches comme le transport de pierres, sable, mortier et eau, tches qui permettent de voir combien il est difficile de justifier leur faible rmunration par leur manque de force: ce ne sont pas les tches les plus dlicates, les moins pnibles qui sont confies aux femmes, mais souvent les moins qualifies, mme lorsquelles demandent un savoir faire pratique dterminant pour la russite des oprations comme lorsquil sagit de mler leau la chaux pour faire un bon mortier27. Dans ces tches ingrates elles retrouvent les garons ou jeunes, dont il est souvent bien difficile de dterminer lge mais qui taient probablement encore comme certains apprentis au seuil de lenfance quand linverse dautres travailleurs, en labsence de retraite, taient contraints de rester sur le chantier pour survivre alors quils ntaient plus en mesure daccomplir leur tche aussi bien quautrefois, subissant ainsi parfois une baisse de leur rmunration28. Une des grandes questions poses par les recherches rcentes dans le domaine du statut de lhomme du btiment au travail et de ses missions et responsabilits (droits et devoirs) rside dans la diffrence du statut rserv larchitecte et lentrepreneur. Ce dossier pose alors la question de la dfinition de ces deux fonctions et celle de la naissance de larchitecte moderne la fin du XVIIe et au dbut du XVIIIe sicle29. Ltude darchives judiciaires permet de poser les conditions ncessaires et suffisantes pour quun entrepreneur exerce ses fonctions dans le btiment: avoir obtenu une matrise et tre titulaire dun contrat ou march dentreprise30. RobertBernardi Ph, Esclaves et artisanat: une main duvre trangre dans la Provence des XIIIe-XVe sicles, Ltranger au Moyen ge, XXXe congrs de la Socit des historiens mdivistes de lenseignement suprieur public, Paris, Publications de la Sorbonne, 2000 (Publications de la Sorbonne, 61), p. 79-94. 26 Bernardi Ph., Pour une tude du rle des femmes dans le btiment au Moyen ge, Provence historique, 173, 1993, p. 267-278. 27 Victor S. op. cit., p. 160-161. 28 Ibid., p. 246-247. 29 Carvais R., Creating a Legal Field: Building Customs and Norms in Modern French Law, in Kurrer K.-E., Lorenz W. et Wetzk V. (ed.), Proceedings of the Third International Congress on Construction History, Cottbus, Brandenburg University of Technology, 2009, p. 321-328. 30 Carvais R., La force du droit. Contribution la dfinition de lentrepreneur du btiment in Histoire, conomie et socit, 1995, n 2 spcial sur le thme Entreprises et entrepreneurs du btiment et des travaux publics (XVIIIe XXe sicles) sous la responsabilit de D. Barjot, p. 163-189.25

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Carvais, dans le cadre de sa thse sur la Chambre des Btiments, a pu finaliser une liste exhaustive des maons parisiens entre 1670 et 1790 qui permet de savoir au cours dune recherche sur une construction si nous sommes vritablement en prsence dun architecte ou dun entrepreneur ayant usurp le titre darchitecte31. Il est dailleurs surprenant de dcouvrir les passages existant entre ces statuts: combien dartisans maons ont abandonn pendant un laps de temps leur statut pour devenir architectes, le temps de leur activit conceptrice32, et vice et versa! Cest aussi une question de statut virtuel que Steven Kaplan pour les corporations en gnral, Alain Thillay pour le faubourg Saint-Antoine et dautres ont traite dans leur travaux propos des faux ouvriers33. Ayant analys ce statut dans le monde du btiment, Robert Carvais a trouv que, sil devait sappliquer aux gens qui nous intressent, on parlerait davantage de faux matres, cest--dire de compagnons se faisant passer pour des matres alors quils nen possdaient ni la comptence, ni le statut juridique. Pour la priode contemporaine, tant que le statut de larchitecte na pas t encadr (1940, pour la France), nous sommes confronts aux mmes types de confusion entre entrepreneurs et architectes, sauf quavec le temps les sources apparaissent plus fiables. Ainsi, des travaux denvergure sont publis prsentant sur un territoire circonscrit la nbuleuse professionnelle du btiment distinguant architectes, ingnieurs, gomtres et entrepreneurs, sans compter les vocables de constructeur, durbaniste, de promoteur, de dcorateur, de conducteur de travaux, partir de la notion de matre duvre, mais aussi toute une varit de sous-distinction selon que larchitecte est ou non vrificateur, voyer, communal, dpartemental, du ministre, du gouvernement, des btiments civils, divisionnaire, attach, agr, en chef, conseil, inspecteur, expert, etc.34 La varit de statuts si diffrents impose danalyser le regroupement des travailleurs en communaut.

31 Carvais R., La Chambre royale des Btiments. Juridiction professionnelle et droit de la construction Paris sous lAncien Rgime, thse de doctorat dEtat en droit, Universit de Panthon-Assas (Paris-II), 2001, 3 vol., t. 3, p. 1035-1084 ( paratre aux ditions Droz, Genve). 32 Voir lexemple de Pierre-Alexandre Delamaire qui abandonne sa matrise de maon pour devenir architecte par supplique devant le Matre gnral des btiments le 19 mai 1924 (A.N. Z1J 221). 33 Kaplan S. L., Les faux ouvriers de Paris au XVIIIe sicle, Annales ESC, 1988, p. 353-378; Thillay A., Le faubourg Saint-Antoine et ses faux ouvriers Paris aux XVIIe et XVIIIe sicles, Seyssel, Champ Vallon, 2002; Hoffmann Ph. R., In defense of corporate liberties early modern guilds and the problem of illicit artisan work, Urban History, 2007, p. 76-88. 34 Hamon F., Hervier D., Hommes et mtiers du btiment, 1860-1940. Lexemple des Hauts-de-Seine, Paris, Monum, 2001.

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III LorganIsatIon des hommes en communautDe ltude des statuts si varis des travailleurs ont dcoul bien des travaux et des questions, dont beaucoup demeurent ouvertes, concernant en particulier les liens entre les statuts, la rmunration des travailleurs et lorganisation des quipes, cest--dire lanalyse du regroupement des hommes du btiment. Les recherches sur ce thme se sont appuyes avant tout sur des fonds darchives comptables, puis sur des archives prives de nature entrepreneuriale, communautaire et expertale. Un premier apport des recherches sur lorganisation en quipe des travailleurs du btiment a t de remettre en cause limage dun chantier grouillant de dizaines voire de centaines douvriers travaillant de concert, tous corps de mtiers confondus. Ltude des comptes a permis de montrer que le nombre de travailleurs prsents sur le chantier tait souvent moins important quon ne le croyait, mme pour des chantiers de monuments majestueux, que les besoins taient calculs au plus juste en fonction des phases de la construction qui faisaient se succder ou ponctuellement sassocier des groupes appartenant des corps de mtier distincts35. Ces diffrences entre corps de mtiers ont fait couler beaucoup dencre pour tenter de savoir quelles taient les populations de travailleurs les mieux loties, la plupart des tudes distinguant souvent les fustiers et les lapicides (et les sous catgories de chaque branche: menuisiers, charpentiers, maons ou tailleurs de pierre) des autres mtiers considrs en gnral comme moins bien lotis, que ce soit en raison de niveaux de salaire infrieurs ou dune moins grande rgularit de lembauche. Les historiens ont aussi tent de comprendre quelles taient les diffrences de tche et de niveau de qualification lintrieur des grandes catgories de mtier souvent floues employes par les rdacteurs des sources: alors que ce flou nexistait probablement pas pour les spcialistes de la construction prsents sur le chantier, il rend aujourdhui difficile notre comprhension des diffrents niveaux hirarchiques lintrieur dune quipe de travailleurs, niveaux hirarchiques qui ne peuvent tre envisags en tenant compte des seuls salaires qui savrent trs variables dun corps de mtier lautre, mais aussi lintrieur dun mme corps de mtier et pour une mme personne en fonction des moments de lanne et des phases du chantier36. Restituer les raisons de ces variations de salaire est indispensable pour comprendreOn en a un excellent exemple grce lextrait des comptes de la fabrique de lglise Saint-GervaisSaint-Protais de Gisors dits par Etienne Hamon dans Comptabilit de chantier, in Guyotjeannin O. et Vieillard F. (dir.), Conseils pour ldition des textes mdivaux, fasc. I: conseils gnraux, Paris, cole nationale des Chartes-CTHS, 2001, p. 104-115 et Un chantier flamboyant et son rayonnement: Gisors et les glises du Vexin franais, Besanon, Presses universitaires de Franche-Comt, 2008. 36 Anheim E. et Theis V., Fixation et standardisation des rmunrations la cour pontificale dans la premire moiti du XIVe sicle, dans la publication prvue dans cadre de lANR Salaire et salariat au Moyen Age, sous la direction de Patrice Beck, Philipe Bernardi et Laurent Feller ( paratre).35

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comment les quipes de travail fonctionnaient mais reste aujourdhui encore une tche trs difficile accomplir car cest le domaine dans ltude de la population des travailleurs qui donne le plus souvent lieu des raisonnement de type circulaire: tel travailleur est mieux pay que les autres parce quil est plus qualifi, plus habile, plus connu sur le chantier, quil effectue ponctuellement une tche plus difficile, parce quon est en priode de manque de main duvre, etc., et ce qui prouve quil est plus qualifi, plus dou, plus connu est le fait quil soit mieux pay que les autres, raisonnement que lon retrouve exactement de la mme manire pour les baisses de salaire. Bien entendu, tous ces critres entraient en ligne de compte, et constituent un objet dtude passionnant, mais il est malheureusement rarissime que ces diffrences entre travailleurs fassent lobjet dexplications du type de celles mises en valeur rcemment par Sandrine Victor Grone o lon enregistre dans les sources les raisons de certaines variations de salaire en soulignant la qualit ou la mdiocrit dun ouvrier, son jeune ou son grand ge, etc.37 Autant de petites mentions qui tout dun coup donnent une personnalit, une ralit plus grande ces personnages qui quittent la masse des travailleurs pour devenir des personnes. Et au-del des difficults mentionnes plus haut, cest dailleurs sans doute ce qui fait lattrait des sources anciennes concernant la construction lorsquon veut travailler sur les hommes: la diversit de ces sources, leurs ttonnements en font des crits o les hommes, leurs qualits, leurs accidents, une partie de leur histoire familiale, de leur vie en dehors du chantier, restaient visible dune manire compltement impossible imaginer aujourdhui alors mme que la masse des documents conserve sur chaque travailleur est devenue si grande. Cependant, nous pouvons, tout de mme dans une profusion dinformations, obtenir autant sinon plus de dtails sur les qualits des travailleurs. Dans les archives de lentreprise Louise de Rennes au dbut du XIXe sicle38, on trouve toute une correspondance entre entrepreneurs rvlatrice de leur connivence et prcise sur la qualit de la main duvre quils se prtent. La communaut est alors rduite aux entrepreneurs travaillant ensemble sur des chantiers communs. Dans une lettre date de Rennes du 14 mai 1823, lentrepreneur Louise prcise son collgue Fleury la manire de tester la capacit dun compagnon quil lui fait parvenir pour travailler: je vous envoie un charpentier avec son livret. Cest un homme qui parat expriment et qui dit avoir t matre longtemps, ce nest pas une bonne note pour la conduite. Vous verrez ce quil sait faire. Sil peut nousVictor S., op. cit., p. 246-250. Ces archives dun trs grand intrt historiographique sont passes aux enchres publiques Rennes le 23 octobre 2003. Les Archives dpartementales d'Ille-et-Vilaine se sont portes acquseurs de quelques lots. Nous en avons acquis un lot. Le reste a t achet par des personnes prives.37 38

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faire la corniche cela sera autant de fait. Il en ira un autre dimanche. Ayez soin de lui montrer les 4 morceaux de bois propres faire la corniche. Marquez les longueurs. Noubliez pas les 2 onglets et larcature de 20 cms tenon horizontal dans le derrire et sous chacun des cts vous savez quil y un onglet et un tenon dun pouce qui senfonce dans la pierre de taille. Faites couper plus long de 3 autres pouces cause de bien faire la coupe. Il aura 30 s par jour et lorsquon pourra le mettre la tche il est prvenu de cela. Il na pas doutils. Tachez den dnicher dans le grand coffre et au surplus voyez sil y a une scie de long, une lime, un harpon, des haches cochoires et des doloires, des Besaiges etc. Faites faire ltat de cela par Boutin et rpondez moi car lautre charpentier na sans doute rien non plus. Il serait bon davoir des outils pour loccuper moins que Gueneron nen ait, etc. Vous lui en prter pour attendre ce quon fera faire. Tachez de remettre cet ouvrier boire et passer auparavant le sable de la Madelaine et en faire tirer Quiberon. Dans une missive date de Rennes du 15 mai 1824, que lentrepreneur Boutin adresse son collgue Fleury, il est donn de nombreux dtails sur la main duvre utilise: les noms de chacun dentre eux, leur pays dorigine, leur qualit, leur salaire, lorganisation de leur labeur. Il mest venu hier 2 tailleurs de pierre qui reviennent de Redon. Ils se rendront Tintniac lundi. Ils taient avec Poirier qui revient aussi la semaine prochaine, le pauvre diable a presque toujours eu la fivre depuis quil nous a quitt Tintniac. Il va encore en revenir dautres de ce pays. Ils y sont tous malades et ont chicane avec Dardel pour les prix et tre pays en francs. Je lui annonce quon payait Tintniac 6 livres pour 6 jours. Le nouvel ingnieur qui arrive dans une quinzaine nest quaspirant. Il se nomme Conaco, Ange Aufray le connait, le dit bon diable. Je ne vous rejoindrai que pour mardi soir, ne faites point de comptes de chantiers, beaucoup sont pays et les autres ont reus des acomptes, je les rglerais. Je vous engage les ajourner. Il parat certain que 7 ou 8 canariens du nombre desquels sont Herbin, Bernard jeune, Maicon et Balandrat viendront Tintniac nous demander dner le dimanche 23 de ce mois, si cela a lieu, je le saurai et nous nous mettrons en mesure. Il est bien essentiel de poser les portes la Madelaine ainsi que les paltres39 avant larrive de cet aspirant. Mr. Blanchard a chass de chez lui le sieur Lecoup qui a t se plaindre. Cest lui qui me la dit. Faites prvenir le charpentier pour la Madelaine et priez le de passer les 2 ou 3 juste mes roues et jaurai besoin de cette charrette la fin de la semaine prochaine. Tous les canariens se portent bien. Dans un courrier dat de Dinan du 1er aot 1824, lentrepreneur Michel confirme son collgue Fleury, avec lequel il travaille sur la construction de deux cluses,39 Terme de serrurerie. Bote de fer qui forme la partie extrieure dune serrure et qui en contient tout le mcanisme ou les ressorts et les pnes.

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quil a lintention de tenir son ancienne promesse de ne point lui retirer tous ses maons, mais stonne de ne pas avoir reu la liste de ceux quil dsire conserver, dautant que plusieurs dentre eux lui ont dj rclam du travail. Cette incertitude contrarie nos travaux, veuillez donc la leve le plus tt possible poursuit-il . Je compte sur ce que vous mavez dit que vous vous rduirez au nombre le plus petit et que nous partagerions aussi les maons poseurs qui sous peu de jours vont vous tre moins utiles Je compte sur votre dlicatesse pour ne pas menvoyer ce que vous avez de plus mauvais. Un maon tant de notre pays nous sommes mme de les apprcier leur juste valeur. Est-ce une allusion la qualit de la main duvre trangre? En ce qui concerne les salaires des ouvriers, lorsque ceux-ci sont contests et quil faille en arriver un contentieux, les tribunaux apportent des lments dvaluation qui permettent de comprendre les conditions de travail, la qualit et les critres de la paie. Au XVIIIe sicle Paris les juges maons tiennent compte mme lencontre dun entrepreneur de la pnibilit du travail, des risques encourus par les ouvriers, du contenu de son uvre et de lapport ou non par les ouvriers des outils et accessoires pour travailler40. Enfin, dans le domaine du btiment, le rle de lexpertise demeure primordial. Cette tche rgule par le roi en 1690 entre architectes et entrepreneurs mriterait une tude approfondie car cette communaut en charge de fonctions indispensables sans parler de sa constitution ds le Moyen ge et des turbulences quelle a connues pendant le XVIIe sicle agissant comme btisseur ordinaire le plus souvent tous les jours de la semaine, possde un savoir spcifique et surtout constitue un ensemble de charges publiques rmunratrices. Cette double activit que les experts exercent pourrait tre analyse partir de sources existantes (biographiques et dactivit). Cette recherche nous permettrait de comprendre les interactions entre les niveaux professionnels: le contrle de la qualit du travail et celui du statut travailleur. Nous pourrions ainsi faire dune pierre deux coups. Ce sont les archives juridiques qui ont permis lhistorienne de lart amricaine Susan V. Webster de dmonter que la ville de Quito en Equateur a t construite au XVIe sicle non pas par des architectes et entrepreneurs colons, mais par des indiens autochtones. Nous vous renvoyons ses articles et ouvrages quelle a fait paratre mais encore ceux paratre comme un dictionnaire des matres et ouvriers indiens qui contribuera sans doute fortement faire sortir de lanonymat toute

Carvais R., Les critres judiciaires dvaluation des salaires du btiment aux XVIIe et XVIIIe sicles: une question de preuve dans la publication prvue dans cadre de lANR Salaire et salariat au Moyen Age, sous la direction de Patrice Beck, Philipe Bernardi et Laurent Feller ( paratre).40

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une population du btiment: los olvidados comme elle les appelle si justement dans un livre paratre41. Ainsi, grce au dveloppement de ces trois champs daction de la recherche sur la mobilit, le statut des travailleurs et leur regroupement collectif mais aussi grce beaucoup dautres champs encore dcouvrir et mettre en uvre mens dans un contexte historique favorable avec des focales variables et des sources neuves ou revisites, nous pensons pouvoir croire que les populations du btiment vont dsormais progressivement sortir de loubli et quun nom sera rendu au plus humble des tres humains ayant travaill lart de btir. La couverture du recueil des actes du Premier congrs francophone dhistoire de la construction42, reprsentant un chantier de construction dun palais deux ailes lpoque de la Renaissance nen est-il pas le vibrant tmoignage? Alors que la btisse se trouve en fond, tous les plans successifs depuis le premier plan sont occups par une foule de gens de mtiers en activit, recouvrant plus de la moiti de la surface de la toile, comme si Pietro di Cosimo avait voulu rendre chacun de ses artisans et compagnons une identit.

bIbLIographIeAnheim, E. et Theis, V., Fixation et standardisation des rmunrations la cour pontificale dans la premire moiti du XIVe sicle, dans la publication prvue dans cadre de lANR Salaire et salariat au Moyen Age, sous la direction de Patrice Beck, Philipe Bernardi et Laurent Feller ( paratre). Bernardi Ph, Esclaves et artisanat: une main duvre trangre dans la Provence des XIIIe-XVe sicles, Ltranger au Moyen ge, XXXe congrs de la Socit des historiens mdivistes de lenseignement suprieur public, Paris, Publications de la Sorbonne, 2000 (Publications de la Sorbonne, 61), p. 79-94. Bernardi, Ph., Pour une tude du rle des femmes dans le btiment au Moyen ge, Provence historique, 173, 1993, p. 267-278. Bernardi, PH., Matre, valet et apprenti au Moyen ge. Essai sur une production bien ordonne, Toulouse, CNRS/Universit de Toulouse le Mirail, (Mridiennes / srie Histoire et techniques), 2009. Bernardi, Ph., Mtiers du btiment et techniques de construction Aix-en-Provence la fin de lpoque gothique (1400-1550), Aix-en-Provence, Publications de lUniversit de Provence Aix-Marseille I, 1995, p. 43.

Webster S. V., Masters of the Trade: Native Artisans, Guilds, and the Construction of Colonial Quito, Journal of the Society of Architectural Historians 68, n 1 (March 2009), p. 10-29 (Cet article a t prim en 2010 par le Harold Eugene Davis Prize from the Middle Atlantic Council of Latin American Studies); du mme auteur, Los olvidados: Maestros artesanos y sus obras en el Quito colonial. Quito (Ecuador), Abya Yala, paratre en 2011. 42 Carvais R, Guillerme A., Ngre V., Sakarovitch J., Edifice & Artifice. Histoires constructives, op. cit. Cette uvre attribue Pietro di Cosimo vers 1515-1520 provient du Muse des arts John and Marble Ringling, Sarasota (Floride, USA).41

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LE RENOUVEAU DES RECHERCHES SUR LES POPULATIONS DU BTIMENT. UNE HISTOIRE DE SOURCES ET DCHELLES

Rsum: Lhomme est au centre de lhistoire de la construction. Il nest plus question aujourdhui de considrer ce champ de recherche uniquement sous langle de lobjet bti dans ses aspects les plus techniciens. Sa dimension humaine trop souvent nglige connat depuis les annes 2000 un renouveau dans trois directions: celle de la mobilit des travailleurs du btiment, de leur statut et de lorganisation de leur vie en communaut. Ces approches sont permises par lapparition dune nbuleuse intellectuelle autour de lhistoire de la construction, de la multiplication des chelles dtudes et de lusage de sources nouvelles et la relecture de sources dj anciennes et publies. mots-cls: Histoire de la construction, Mobilit des constructeurs, Communauts, Statut et organisation, Historiographies et sources. ResumO: O homem est no centro da histria da construo. Hoje em dia j no possvel considerar este campo de investigao unicamente sob o ngulo do objecto construdo nos seus aspectos mais tcnicos. A sua dimenso humana frequentemente negligenciada conhece, desde os anos 2000, uma renovao segundo trs direces: a da mobilidade dos trabalhadores da construo; o seu estatuto; e a organizao da sua vida em comunidade. Estas perspectivas novas puderam e podem florescer graas ao aparecimento duma nebulosa intelectual em torno da histria da construo, multiplicao das escalas de estudo e ainda utilizao de novas fontes, juntamente com a releitura de fontes j antigas e publicadas. Palavras-chave: Histria da construo, Mobilidade dos construtores, Comunidades, Estatuto e organizao, Historiografias e fontes.

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ProCESSo CoNSTrUTIVo E ArTFICES dA CoNSTrUo EM brACArA AUGUSTA. UMA AbordAGEM PrElIMINArJorGE rIbEIro*1

1. a probLemtIca dos processos construtIvosO estudo dos processos construtivos constitui um tema de abordagem complicada. Por um lado devido natureza das fontes, por vezes pouco elucidativas e escassas. Os contratos que chegaram aos nossos dias so raros e evidenciam padres relacionais diferentes. As fontes epigrficas e iconogrficas, por sua vez, so pouco numerosas. Por outro lado a construo e a arquitectura constituem domnios tradicionalmente analisados apenas desde a perspectiva artstica. Superadas estas dificuldades surgiram, nos anos 90, novas linhas de investigao que defendem a desmontagem do processo construtivo a partir das evidncias arqueolgicas e uma anlise sob uma perspectiva mais econmica e social. Conhecem-se assim algumas obras de referncia, tais como os trabalhos que Janet DeLaine dedicou s Termas de Caracala. A arqueologia tem um papel importante nestas novas abordagens, permitindo valorizar o processo construtivo com base nos materiais e tcnicas construtivas utilizados e reconhecer os sucessivos modelos arquitectnicos aplicados nas cidades. Procura-se agora definir etapas e reconhecer os agentes envolvidos na construo, introduzindo noes quantitativas: nmero de trabalhadores, quantidade de materiais e custos. De referir que estes exerccios passam pela produo de propostas de restituies dos edifcios em estudo e pela realizao de analogias com base nos livros de contas das grandes obras do Renascimento e nos primeiros manuais de engenharia e arquitectura dos sculos XVIII- XIX.* Bolseiro de Ps-Doutoramento da FCT, CITCEM, Universidade do Minho.

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HISTRIA DA CONSTRUO OS CONSTRUTORES

2. Fontes para o estudo dos processos construtIvosApoiamos a nossa pesquisa nos documentos arqueolgicos produzidos pelas escavaes realizadas em Braga ao longo dos ltimos 35 anos, no mbito do projecto de Bracara Augusta, que permitiram identificar uma srie de grandes edifcios pblicos e privados, como o teatro, as termas do Alto da Cividade e a casa das Carvalheiras. Partindo dos registos arqueolgicos e dos edifcios conservados tentamos reconstituir os processos construtivos que caracterizavam as obras romanas, tentando perceber o funcionamento e organizao das mesmas: direco da obra, materiais utilizados, planeamento, trabalhadores envolvidos e etapas da construo. A anlise dos materiais presentes numa obra para alm de elucidar sobre a sua provenincia e utilizao, permite ainda fazer uma aproximao aos trabalhadores da construo, assim como s ferramentas e mquinas utilizadas. Na nossa abordagem consideramos igualmente o que se conhece sobre este assunto noutros contextos do mundo romano. Escolhemos como exemplos de abordagem dois casos que consideramos representativos da construo em Braga: o teatro para a construo pblica e as Carvalheiras para a construo privada. Este exerccio apoia-se apenas nos dados arqueolgicos, tendo em conta que no temos outras fontes disponveis para nos servir de auxlio.

Figura I. Intervenes arqueolgicas realizadas em Braga

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PROCESSO CONSTRUTIVO E ARTFICES DA CONSTRUO EM BRACARA AUGUSTA. UMA ABORDAGEM PRELIMINAR.

2.1. O teatro do Alto da CividadeO teatro romano, construdo na colina da Cividade, anexo s termas pblicas, perto do centro monumental da cidade, constituiu certamente uma das grandes obras urbanas de Bracara Augusta, realizadas nos incios do sc. II2. Esta construo deve ter monopolizado importantes meios financeiros e humanos, durante um largo perodo de tempo. O edifcio encontra-se ainda em estudo, contudo as vrias escavaes realizadas permitiram j exumar cerca de metade do mesmo.

Figura II. Perspectiva O/E do teatro

2.1.1. A tomada de decisoSabemos que a construo de obras pblicas dependia sempre de uma deciso poltica nesse sentido supomos que a deciso de construir o teatro deve ter partido de uma anlise ponderada da Ordo Decurionum de Bracara Augusta. possvel que a proposta tenha partido de algum dos membros da ordo ou mesmo de um magistrado da cidade. No temos evidncias que indiciem a interferncia do poder imperial ou provincial nesta construo. Calculamos que o agente promotor inicial, a ordo decurionum, tenha escolhido uma comisso promotora responsvel por obter o financiamento necessrio s construes. De referir que a construo do teatro deve ser entendida no mbito de um processo complexo que integra igualmente a edificao de umas termas pblicas situadas nas imediaes. Estas duas construes resultam assim de um projecto de reorganizao dos espaos envolventes do forum da cidade3. A construo destes edifcios provocou alteraes considerveis na trama urbana, com o corte e integrao de pelo menos trs ruas.

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Martins e Fontes, 2010: 114. Martins e Fontes, 2010: 115.

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HISTRIA DA CONSTRUO OS CONSTRUTORES

2.1.2. O financiamento da obraTrata-se de um projecto de grande dimenso, como tal consideramos que tenham sido procurados fundos de natureza pblica e privada: parte do errio da cidade, donativos das elites urbanas, interessadas no aumento do seu prestgio e talvez mesmo dos magistrados locais. Isto implica de certa forma que tenha sido realizada uma estimativa dos custos, possivelmente solicitada a um arquitecto, de forma a definir quem ia pagar o qu. No sabemos concretamente quem pagou estas obras uma vez que nenhuma inscrio chegou aos nossos dias. No entanto, a provvel presena de uma elite abastada dever estar associada ao financiamento das obras pblicas, seja ele em dinheiro ou em gneros, tendo em conta que parte desses indivduos estava ligada ao comrcio e a actividades artesanais como o trabalho da madeira, produo cermica, vidreira ou metlica4. A comisso promotora j referida dever ter sido assessorada por uma comisso tcnica responsvel pela estimativa dos custos. Num segundo momento, resolvido financiamento, a ordo decurionum dever ter designado um curator para coordenar a construo do edifcio, que trabalhava em parceria com as comisses tcnicas. Estes agentes tinham que assegurar a ligao entre os promotores polticos e as diferentes equipas tcnicas responsveis pela construo, assegurando situaes de aumento de custos ou alteraes do projecto.

2.1.3. O desenhoNo temos nenhum desenho ou esquema associado ao teatro no entanto sabemos que as obras monumentais tiveram na sua base documentos complexos, projectos e outros documentos tcnicos elaborados por especialistas5. Vitrvio no seu livro V do De Architectura aborda a questo dos teatros disponibilizando dados sobre o seu desenho e construo, no entanto a sua obra deve ser considerada mais uma doutrina global do que um manual de construo6. possvel que circulassem no Imprio alguns esquemas de edifcios monumentais, como seria o caso dos teatros, veiculados, muito provavelmente pelos militares, que se deslocavam com frequncia, facilitando a tarefa dos arquitectos. O teatro de Bracara Augusta, pelas semelhanas que apresenta com outros construdos em perodos anteriores, poder igualmente ter sido projectado por um arquitecto de uma outra qualquer cidade, possuidor de uma vasta experincia na construo deste tipo de edifcios.Martins, 2009: 207. Seigne, 2004: 54. 6 Mar, 1994: 20.4 5

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PROCESSO CONSTRUTIVO E ARTFICES DA CONSTRUO EM BRACARA AUGUSTA. UMA ABORDAGEM PRELIMINAR.

Figura III. Planta do teatro

Os dados j disponveis permitem avanar que se trata de um exemplar cannico7 realizado por tcnicos experientes, conhecedores dos modelos clssicos, denunciando igualmente a existncia de um desenho prvio.

2.1.4. Planificao da obraA complexidade de uma construo como o teatro tornava imprescindvel que a gesto da mesma, em homens, materiais e logstica, fosse realizada por uma pessoa altamente qualificada, que geria a interaco entre gruas, cimbres, pessoas, animais e materiais. Os vrios materiais necessrios, por exemplo, deviam assim ser solicitados com antecedncia s oficinas. Esta tarefa de planificao era da responsabilidade do curator, assessorado pela comisso tcnica. Nesta fase j existiam certamente condies para que o arquitecto trabalhasse o desenho com pormenor, realizando eventualmente levantamentos com agrimensores. O incio da obra deve ter sido marcado pela realizao de vrios contratos pblicos com construtores individuais (redemptores), ou sociedades (societates publicanorum), os quais tero sido propostos pela comisso tcnica encarregada da obra, dirigida pelo curator.

2.1.5. Preparao do terrenoOs dados arqueolgicos disponveis indicam-nos que a construo do teatro implicou uma srie de tarefas como o arrasamento de construes anteriores, nivelamento de cotas e remoo dos escombros, tarefas certamente previstas no custo da obra.7

Martins e Fontes, 2010: 115.

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HISTRIA DA CONSTRUO OS CONSTRUTORES

Nesta fase dos trabalhos actuavam os agrimensores e gromatici, executando as necessrias tarefas topogrficas para facilitar a futura implantao do edifcio. No temos evidncias directas da sua actividade no entanto, a regularidade e complexidade do edifcio denunciam o uso de aparelhos tais como groma e chorobates.

2.1.6. Execuo da obra2.1.6.1. Os intervenientes A construo do teatro implicou a colaborao de vrias equipas de especialistas. Para alm da figura do arquitecto, j referida, devem ter actuado nas obras do teatro equipas de trabalhadores de natureza diversa e respectivos encarregados. A anlise do edifcio denuncia assim a presena de pedreiros (muros de alvenaria, bancada), carpinteiros (andaimes, tbuas), alguns muito especializados uma vez que a montagem de estruturas de madeira destinadas a auxiliar a construo das abobadas era de grande exigncia tcnica. Efectivamente era apenas realizvel por pessoas conhecedoras das propriedades da madeira, designadamente das foras de traco, compresso, toro e dos sistemas de montagem mais adequados. Os acabamentos dos elementos ptreos por sua vez requeriam a presena de canteiros. Estariam ainda presentes ferreiros encarregados do fabrico e manuteno das ferramentas, assim como de diversos materiais metlicos como os pregos. Os acabamentos detectados em algumas zonas do edifcio, tais como as pinturas do aditus norte, denunciam o trabalho de pintores, especialistas possivelmente itinerantes. Deve ser igualmente considerada a figura do machinator, associada aos vrios engenhos necessrios para a colocao de elementos pesados, impossveis de manipular com a simples fora humana. A construo das estruturas em opus quadratum da basilica norte, a realizao dos contrafortes inferiores ou mesmo a colocao dos elementos arquitectnicos da frente cnica por exemplo comprovam a colaborao destes indivduos. Finalmente, um grande nmero de trabalhadores indiferenciados estaria ligado s tarefas mais bsicas, como o fabrico das argamassas, o talhe superficial da pedra e o transporte dos materiais dentro da obra. 2.1.6.2. Os materiais A construo do teatro exigiu grandes quantidades de materiais, essencialmente pedra, tijolo, argamassas e madeira. A pedra seria proveniente da regio de Bracara Augusta e alguma mesmo do prprio local, resultante do desmantelamento da colina para implantao do edifcio. Detectamos pelo menos evidncias de trs tipos de granitos: granito de Braga, granito de Barcelos e granito da Povoa de Lanhoso. Os fustes da frente38

PROCESSO CONSTRUTIVO E ARTFICES DA CONSTRUO EM BRACARA AUGUSTA. UMA ABORDAGEM PRELIMINAR.

cnica merecem ser destacados, devido s suas particularidades, designadamente o acabamento polido e a forma monoltica, no propiciada por qualquer tipo de pedreira. De referir que estes elementos podem eventualmente ter sido financiados por algum notvel da cidade. Os materiais latericios devem ter sido encomendados s oficinas que laboravam na zona de Prado, mas possivelmente tambm a alguns ateliers localizados na cidade. Quanto madeira, a sua origem dever ser procurada nas extensas matas que deviam cobrir os montes que circundavam a cidade. Alguma seria eventualmente proveniente do Gers, atravessado pela via XVIII que assegurava um fcil transporte para Braga. 2.1.6.3. A construo A construo deve ter iniciado com as tarefas de adaptao da estrutura ao terreno, transformando o macio original numa forma cncava, destinada a receber a cavea. Num segundo momento possvel que as tarefas de construo se tenham iniciado em vrios pontos em simultneo, provavelmente com a realizao do muro perimetral, das cimentaes da cavea e dos trabalhos relacionados com o levantamento das estruturas associadas scaena e formalizao da orchaestra. Propomos assim um processo iniciado com a construo da cavea e do muro perimetral, definindo em simultneo a profundidade da orchestra e dos aditus. Definida a cena seria fundamental erguer o muro do postcaenium, os embasamentos da frente cnica e dos muros estruturais das baslicas laterais com eles articulados. Construda a estrutura muraria devem ter sido implantadas as infra-estruturas de drenagem, a colocao das bancadas, construo das tribunalia e do porticus in suma-cavea. Nesta fase devero ter sido colocadas as escadas e pavimentos de pedra do aditus, orchestra e prtico. Finalmente, dever ter iniciado o programa decorativo da frente cnica cuja montagem exigia a utilizao de gruas apoiadas no solo do pulpitum, assim como a ornamentao da frons pulpiti e da fachada externa do edifico.

2.2 A domus das CarvalheirasO processo construtivo de uma habitao privada apresenta normalmente uma complexidade menor. O nosso exemplo apresenta a particularidade de constituir a nica domus totalmente escavada em Bracara Augusta. Conseguimos recuperar neste edifcio os passos que esto na origem da execuo de uma obra privada em qualquer parte do mundo romano, tendo em conta as devidas particularidades de cada local.39

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Figura IV. Perspectiva S/N da domus das Carvalheiras

A casa das Carvalheiras foi construda a noroeste da rea monumental da cidade, numa zona privilegiada, j servida por eixos virios fundamentais para o transporte dos materiais e das machinae. Calculamos que o custo do terreno tenha sido bastante elevado, no entanto grande parte dever ter sido amortizado com o aluguer de espaos comerciais localizados na parte baixa da casa.

2.2.1. Tomada de deciso e desenhoPartimos do princpio que quando uma pessoa decidia a construo de uma habitao privada j tinha provavelmente definido a ideia de base e determinado o dinheiro disponvel para a realizao da mesma. Como referimos acima, trata-se normalmente de um projecto mais simples do que aquele que vimos para uma obra pblica e frequentemente o proprietrio assumia a projeco do mesmo. A domus das Carvalheiras apresenta no entanto caractersticas que talvez denunciem a contratao de um arquitecto ou de um construtor experiente, atravs de um documento que estipulava as condies da obra, bem como custos e prazos de entrega.

2.2.2. Preparao do terrenoA preparao do terreno implicava frequentemente alteraes da topografia original. Nesta etapa procedia-se a tarefas de verificao da natureza do terreno, verificao do nvel fretico, direco das escorrncias e disposio da rocha natural. A casa das Carvalheiras foi implantada num terreno que oferecia uma morfologia algo irregular. O construtor/ arquitecto optou por implementar duas plataformas com cotas distintas, separadas por um muro de conteno situado sensivelmente a meio da casa. Ter sido desaterrada a metade norte da casa, sendo provvel que algumas das terras tenham sido reaproveitadas para os trabalhos de nivelamento da parte sul.40

PROCESSO CONSTRUTIVO E ARTFICES DA CONS