harpas selvagens
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Sousândrade
Harpas SelvagensRevisão e atualização ortográfica
Iba Mendes
Publicado originalmente em 1863.
Joaquim de Sousa Andrade de Caukazia Perreira
(1832 — 1902)
“Projeto Livro Livre”
Livro 484
Poeteiro Editor Digital
São Paulo - 2014www.poeteiro.com
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Projeto Livro Livre
O “Projeto Livro Livre” é uma iniciativa que propõeo compartilhamento, de forma livre e gratuita, de
obras literárias já em domnio p!blico ou quetenham a sua divulga"#o devidamente autori$ada,especialmente o livro em seu formato %igital&
'o (rasil, segundo a Lei n) *&+-, no seu artigo .,os direitos patrimoniais do autor perduram porsetenta anos contados de / de janeiro do ano
subsequente ao de seu falecimento& O mesmo se observa em Portugal& 0egundoo 12digo dos %ireitos de 3utor e dos %ireitos 1one4os, em seu captulo 56 e
artigo 7), o direito de autor caduca, na falta de disposi"#o especial, 8- anosap2s a morte do criador intelectual, mesmo que a obra s2 tenha sido publicadaou divulgada postumamente&
O nosso Projeto, que tem por !nico e e4clusivo objetivo colaborar em prol dadivulga"#o do bom conhecimento na 5nternet, busca assim n#o violar nenhumdireito autoral& 9odavia, caso seja encontrado algum livro que, por algumara$#o, esteja ferindo os direitos do autor, pedimos a gentile$a que nos informe,a fim de que seja devidamente suprimido de nosso acervo&
:speramos um dia, quem sabe, que as leis que regem os direitos do autor sejamrepensadas e reformuladas, tornando a prote"#o da propriedade intelectualuma ferramenta para promover o conhecimento, em ve$ de um temvel inibidorao livre acesso aos bens culturais& 3ssim esperamos;
3té lá, daremos nossa pequena contribui"#o para o desenvolvimento daeduca"#o e da cultura, mediante o compartilhamento livre e gratuito de obrassob domnio p!blico, como esta, do escritor brasileiro 0ous<ndrade= “Harpas
Selvagens”&
> isso;
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BIOGRAFIA
Durante a 2ª fase romântica, no Brasil, Joaquim de Sousa Andrade ou
Sousândrade, como preferia que fosse chamado, despontou-se como um poeta
pouco conhecido entre seus contemporâneos. Segundo Haroldo de ampos,dotado de um estilo irre!erente e ousado, o citado autor acentua tal
caracter"stica por meio, dentre outras coisas, da #i$arria de seu pr%prio nome,
que consiste na aglutina&'o de seu nome de fam"lia.
(studos so#re sua #iografia retratam que Sousândrade nasceu na fa$enda )ossa
Senhora da *it%ria, pr%+ima ao rio ericum', munic"pio de uimar'es, no
estado do aranh'o, a no!e de /ulho de 012, !indo a falecer em S'o 3ui$, a 20
de a#ril de 0452, le!ando consigo uma !ida repleta de a!enturas e de di!ersas
peregrina&6es por todo o mundo.
7ilho de Jos8 Joaquim de Sousa Andrade e de aria B9r#ara ardoso,
importantes fa$endeiros pertencentes : elite no#re de Alcântara, muito
precocemente, o poeta e sua irm' Ana ficaram %rf'os de pai e m'e,
desencadeando a desestrutura familiar e a ru"na da fortuna herdada. )as
pala!ras de ampos, tais acontecimentos foram e+plorados anos depois pelo
poeta, na o#ra ;< uesa=, em que 8 e!ocada sua infância feli$ e e+posto todo
seu inconformismo pro!ocado pela fal>ncia da fa$enda *it%ria.
A estes dados a respeito de sua !ida familiar, tais estudos #iogr9ficos re!elam a
fase errante que marcou a !ida de Sousândrade. ampos cita !iagens deste
poeta pela (uropa, Ama$onas, (stados ?nidos e por !9rios pa"ses da Am8rica
3atina, destacando que,durante sua perman>ncia no pa"s norte-americano, o
poeta maranhense tra#alhou incansa!elmente partes do longo poema ;<
uesa=, cu/as primeiras data&6es remontam o ano de 01@1.
Dado seu contato com as mais di!ersificadas culturas, po!os e realidades
sociais, Sousândrade !i!enciou de forma muito pr%+ima as ma$elas humanas e
sociais. ampos re!ela que a e+peri>ncia deste autor com os di!ersos estilos de!ida, caracter"sticos de diferentes po!os, contri#uiu para acender seu fer!oroso
esp"rito a#olicionista e repu#licano, o que 8 compro!ado pela sua atua&'o como
um desprendido cidad'o e patriota de seu tempo. 3utou com muita !eem>ncia
pela a#oli&'o da escra!atura, pela proclama&'o da ep#lica, pela reforma de
desen!ol!imento da educa&'o, #em como pela morali$a&'o dos costumes.
---Referência bibliográfica:Gisele Alves: “Para um glossário neológico da obra “O Guesa”, de Sousândrade: uma proposta”.(Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Lingüística.
Orientador: Prof. Dr. Evandro Silva Martins). Universidade Federal de Uberlândia, 2006.
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ÍNDICE
ESTÂNCIAS I – DESESPERANÇA.....................................................................................
II – HINO.....................................................................................................III - AO SOL.................................................................................................IV - TE DEUM LAUDAMUS.......................................................................... V - A LEGENDA...........................................................................................VI - A HÉCTICA............................................................................................VII - A... ......................................................................................................VIII - VISÕES...............................................................................................IX - O ROUXINOL........................................................................................X - CANÇÃO DE CUSSET.............................................................................
XI - UM DIA É SEMELHANTE À ETERNIDADE..............................................XII - MINH’ALMA AQUI! ............................................................................XIII - A VIRGENZINHA DAS SERRAS.............................................................XIV - HORA COM VIDA................................................................................XV - VEM NOITE....................................................................................XVI - "... .....................................................................................................XVII - SONHOS DA MANHÃ........................................................................XVIII - M... ..................................................................................................XIX - PO#RE $ILHA DA POL%NIA.................................................................XX - #ERÇOS DO AMOR PRIMEIRO.............................................................XXI - O PR&NCIPE A$RICANO.......................................................................XXII - PRIMEIRAS-"GUAS...........................................................................XXIII - VAMOS 'UNTOS! .............................................................................XXIV - O INVERNO.......................................................................................XXV - " PARTIDA DE UM VELHO EN$ERMO................................................XXVI - $RAGMENTOS DO MAR....................................................................
NOITES
XXVII - O CIPRESTE......................................................................................
XXVIII - A VELHICE.......................................................................................XXIX - A ESCRAVA........................................................................................XXX - A MALDIÇÃO DO CATIVO...................................................................XXXI - VISÕES..............................................................................................XXXII............................................................................................................XXXIII..........................................................................................................XXXIV - VISÕES...........................................................................................XXXV - VISÕES............................................................................................XXXVI..........................................................................................................
SOLIDÕES
(
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)0)0,,,,1,/,*,+111/)/*/*(*)
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XXXVII - V 222...........................................................................................XXXVIII - DIA DE NATAL..............................................................................XXXIX - A MUSA..........................................................................................XL - O TRONCO DE PALMEIRA.....................................................................
XLI...............................................................................................................XLII - O CASAL PATERNO.............................................................................XLIII - $RONDOSOS CEDROS D’OUTRORA...................................................XLIV - MEUS NOVE ANOS N’ALDEIA...........................................................XLV.............................................................................................................XLVI............................................................................................................
ÚLTIMA PÁGINA........................................................................................
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ESTÂNCIAS
I - DESESPERANÇA
Ó tarde dos meus dias!Ó noite da minha alma!...
A vida era tão calmaAqui na solidão!
o rio, que corrias,Tuas águas vão secar...A flor no seu murchar
Que importa a viração?
Ó sol da minha infncia,Que valemme os teus raios?
A lua em seus desmaios"m t#mulo em$ranquece.
% tu, que na distncia&e deste a vida e a dor...
%u surto ' a esp(rança, o amor&eu peito não aquece.
% eu que sonhei tanto!% eu que tanto via
)o longe d(algum diaA vida aparecer...
)o rio do meu pranto&eus anos vão passando*
Assentome, esperando+ meu triste morrer.
Assim, rápidas floreson-elas da manhãem terdes amanhã
)as l/mpidas capelas,
0assais1 vãose os amores
% o hino da $ele-a*)em deume a nature-a
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"m dia! assim como elas.
ivago os olhos lentoso plano ao monte, aos c2us*
%u lá ve3o um s4 eus,%m eus somente o amor1
Aqui, levamme os ventos%u, nada tenho sorte!
)o cume eu ve3o a morte,)os vales morta a flor.
A mim pranto e saudade,A mim f#ne$re e5/lio,
6antando um$roso id/lioa morte 7 som$ra fria*
%m pálida orfandadeAs dores me aca$am
&is2rias me em$alam)os $erços da agonia.
Adeus... palma, que ouvias
&inha harpa 7 som$ra tua*Tu 2s a vo- que 2 sua,
%u sou tua criação.
Ó tarde dos meus dias!+i noite da minha alma!
A vida era tão calma%m pa- na solidão!
Adeus 7 doce vida,Adeus 7 rosea esp(rança% o c2u! que era $onança6o$rindo o campo e o lar1
Adeus, terra querida!Adeus, formosa infante!0or li, no mundo errante,e novo eu corro o mar.
II - HINO
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8 li$erdade os cantos!A filha destes c2us,A filha do meu eus
% minha irmã do peito,&eus sonhos do meu leito,os vales minha flor,a vida o meu amor*
Ó doce li$erdade,9magem da verdade
os meus altares santos!
)a tua divindade+s astros nos parecem
Que pelos montes descem1+ mar so$e o rochedo1+s ventos o arvoredoiceras transportar1
A fonte a suspirare perde na soidão*
Quem vi$ra o coraçãoTu 2s, 4 li$erdade!
Ainda na saudadea pátria, na distncia
:s tu que dás constncia,Que fa-es tanto amar+ sol, o campo e o lar!
+ /ndio prisioneiro)ão teme o cativeiro,)em era por ser vivo
+ t/mido cativo6horando a li$erdade...
6oitada filomelaeu canto desfiguraTirada da espessura*
Qual perde o murm#rio&udado o leito o rio*
Tam$2m a cor perderas,%m tiras te fi-eres...
% o mar que tens na face,
Que em$e$e um sol que nasce,;oi s4 cadente estrela
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% o sol que do arvoredo6rescia docemente
<aiando resplandente,
0or eus despedaçado)o espaço foi lançado!% o mundo todo eu trevas,
6onfuso o tronco, e as fervas,+s mares e o ri$eiro%m negro paradeiro,
6aiu monte e penedo!
% quando um astro novo=iesse duvidando
%m ve- do sol andando,A vaga n(outros climas,+ c2u por outras cimasA desdo$ra? se achara*Tremera e se apagara!
"ns campos e outro monte>á frma outro hori-onte,
% a l/ngua 2 d(outro povo...
=irenteáurea $andeira,%u choro assim te olhando
)o ar desenrolando*A virgem d(inocente
+uviu o homem que mente*%nleiate ao pendão,
:s morto coração*A raça está perdida1)em fora denegrida
)ão sendo $rasileira...
os lá$ios criadores% a fronte, 4 li$erdade,
Tu foste a claridadeQue o astro edificou,)ossa alma irradiou1
8 crença tu me elevas)a vo- do vento e as selvas1
&e levam nesta vida,
Qual ave ao c2u perdida,+s teus, os teus amores!
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@ela árvore da gl4ria,Teus frutos 3á penderam,Teus filhos 3á morreram*
Apenas 7 tua som$ra,Tão rota, e qu(inda assom$ra,8 morte se arrastando,
Teu nome estre$uchando+s ve3o! indiferentes
8 terra e o eus1 descrentes<ompendo a vil mem4ria...
% d(águia ensanguentada)as serras, pelo a$ismo
emendo ao despotismo,Ó v/tima piedosa,
8 vo- $aça e ruinosaisseste 7 eternidade
+ adeus! não há verdade,<a-ão, virtude, amor,
)os campos não há flor8s mãos da foice afiada.
Ó mãe da humanidade,Ó raio de meu eus,
+h! lançate dos c2us,Que o gelo se desfaça!
Teu eco em plena praçaesdo$re a palma de ouro
0or entre o verde louro!' Ao peso de sua dorA força caia, horror!
Aos p2s da li$erdade.
6audal açoita o rio+ mar, n(alta corrente1
% o mar, que 2 mais potente,<ugiu ' 7s ca$eceiras<eflui pelas $alseiras*
Assim que$remse os ferroso despotismo d(erros)os infernais altares!
<epousa nos palmares,Ó livre sol d(estio.
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Maranhão, 1856
III - AO SOL
T/mida e $ela e taciturna virgem0elos campos, na -ona solitária,o mar no isolamento, lá do a-ul
@anhando a terra de uma lua argBntea,8 matinada so$ressalta e foge*
6hama aos seios o manto, os p2s retiraa terra e voa, desco$rindo os $osques
Que estremecem, do monte a som$ra arranca,Toma 7 pressa os vestidos que vão soltos
% as grinaldas d(estrelas, fugitiva.<oda o plaustro de um pr/ncipe, os cavalos
=em nevados nos vales do oriente16o$re os ares a poeira do caminho
Alva como o p4 d(água1 se arrepiam)o ninho as aves desatando o $ico1@risa fresca e geral passa acordando+s vegetais, o oceano1 $elas nuvense marinhe coral, nuvens de p2rola
6omo a face de um lago os c2us a$riram1%stende o colo o pássaro cantando
0or detrás da palmeira, qual perguntaAos pastores, ao gado apascentando
CQuem fa- este rumor?D desli-a o orvalho)a flor, derrama o vento, o vento leva
+ndulaçEes d(incenso1 a nature-a)as $arras da manhã respira amores*
A noiva docemente $oce3ando)(alva da noite da esperança longa
%m$alada nos $erços con3ugais.
ol! id2ia de meu eus, me aquentaelada a fronte pálida, sulcada
o ceticismo horrendo1 sol, m(inspira"m cntico de pa-, que a musa afeita
)este cantar selvagem, rude, asp2rrimo,Que o temporal da sorte ao peito ensina,
6omo ao rochedo a vaga, ao monte o raio,
6omo a torrente 7s som$ras da espessura,uro golpe ao carvalho, ave enfe-ada
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>amais cantou de amor* a$riume a $oca%sta sede eternal, que eu mesmo ignoro,
e um dese3ar... que secame a e5istBncia,Que minha alma lacera, como ao peso
(um africo samoun sem fim rolando!
A$re um lado da a$4$ada celeste,Amostra o rosto, s4, cent4clo e $elo,
<ege de lá seu mundo* apaga os c/rioso seu altar da noite1 arrasta a nuvem
% em$alança nos ares, som$reando+ vale do pastor e das $oninas1
%ncarna de mil cores o arvoredo10ousa um raio na p2tala das flores
6omo virgens a$rindo alegremente1%spalha almo chuveiro. ol! 4 sol,
eus dos meus olhos, meu caminho francoA unidade invis/vel, me suspende
este lodo da terra onde hei manchadoA alma de meu eus! rios, montanhas,
Fevantai minha vo-1 aves, favnios,)ão pergunteis que nasce de alegria%m vosso seio que vos move os ecos*
6antai, cantai de amor, su$i louvores,@atei as asas, penetrai os ventos*
: nosso pai! enchendo os nossos camposa terra de mil dons1 as nossas veias,
6omo do pensamento eus nossa alma,@anha de sangue e vida. A $or$oleta
o$re as folhas dormindo, a água passando,8 $eira da corrente, a ti se eleva
%m tur$ilhEes de lu-es centelhando,eslaçando seus vos, que um raio fura1
e cada ve- que $rilha, mati-adoo p4 das asas d(/ris1 a velhice
Arrasta a li seus passos1 minha vistaAmo co$rir de lágrimas te olhando,;alar contigo, consultarte o que 2s*
%m$ora a minha vo- nos teus fulgoresTu percas desdenhoso, e não respondas.
Quantas ve-es passava a contemplarte
olitário no mar! sem pai nem mãe,Teus raios ensopei com minhas lágrimas,
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Que os teus raios secaram* então contigoomente e o mar, meu pensamento erravaAnte os meus olhos, mas sem ver a$ertos,
)em despertava me roçando a fronte.
Amigos mendiguei, meu peito aos homens,&eus $raços, minha fronte, a$ri minha alma16omo os homens vi rindome um momento!
&e odiavam depois, logo amanhã*+utros $uscava1 mas, as mesmas ondaso mesmo oceano mentiroso e amargo1
6orri terras em fora e passei mares,=i novos climas ' sempre os mesmos homens!
)em um s4... nem um s4 achei que o nomeanto de amigo merecesse ao menos!
Ah! se um ente nascera, que eu amasseeste amor todo que meu peito espaça!
u$lime erupção, nasceu minha alma!
esde então, na descrença ressequido&urchou, caio meu coração, e os homens,
Que minh(alma lho rude calcinaram,)unca mais pude amar vou solitário
0elas praias som$rias da e5istBncia.
Gs ve-es recostado num penhasco,A minha criação faço ideal*
;ormo um coro de virgens de1 anos d(ontem)uas e puras1 me rodeiam, cantam,%u adormeço... mas, desperto, ru3o!Tu, deus im4vel, su$alterno, seiva,
espertador da terra, ergues meus sonhos,&aterial hip2r$ole dos c2us!
&entira, ou não sei que ve3o em sua frenteQue não entendo, e me repugna eu fu3oAs minhas solidEes, não posso amálos*
Ah! se eu pudesse, $em feli- que eu fora!' &esmo de um eus descri... perdão, enhor!
% mirrado na dor, pelos desertos@uscava som$ra* ' as árvores murchavam,
esfolhavam! da fronte que eu sostinhaescansar pelo colo de seus troncos,
Tocar meus p2s sua leiva! e5posto ao clima,+ sol fendeume o dorso, como açoite
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a 0rovidBncia, e amei p(ra sempre o sol.
Ó tu, dia primeiro, em que no espaçoA fogueira de ouro o sopro eterno
Acendeu* quando a terra estremecia%m pasmo se revendo, e tudo em vo-es)aturalmente! Ó tu, dia vindouro,
%m que a mão, que a ergueu, desça apagála 'Que $ela cena! quanto denso fumo
)ão há de se e5alar d(entre os seus dedos,a tocha imensa no morrer! quisera
entir ranger meus ossos, pertur$arme)essa emoção de horror! verte apagando,Qual verte ao mundo vindo, eu s4 quisera
%sses dois dias vida, entre eles morte.ol esplBndido e $elo! deus vis/vel!
Tu, corpo do meu eus, queima o meu corpo1=á minh(alma 7 tua alma, ao eus somente!
ilBncio. 0assa o vento em meus ouvidos,C%mudece!D disseramme* quem foi?...
<ios, montanhas, /ncolas do $osque,6egos nascemos, meus irmãos da morte,
em sa$er quem n4s somos, onde vamos...0ara cantar?... 6antemos harmoniasAo sol que se levanta do arvoredo,Fá das terras de al2m, fruto d(estio*
%nchamos nossos olhos de seus raios,)osso peito de f2 ' eus 2 mais longe!
IV - TE DEUM LAUDAMUS
El ego, et terra, mafequeCoelumque, tibi canticum damus!
>á longe de mim vai comprida a margema infncia feli-* navego ao largo,
a $arca ao leme1 os gon-os ferrugentos<angendo são custosos meneados
0elo meu $raço que os tufEes cansaram.)a pesada corrente eu vou descendo,
A $risa voa fresca, a-ul o c2u1
@alança, entesa ou $ate o pano e$#rneo,6onforme a direção1 n(alta ri$eira
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+ndulaçEes sonoras levantando9ndolente e penosa a vaga aduncaArruinada em pedras, na fragura,
)a costa, no rochedo. Agora eu canto.
+s rios que deságuam se entorpecem1A nuvem desce mais dos c2us de seda,=em suspensa escutarme1 acalma o vento,
6a/da vela1 fora d(água os pei5es+ dorso ondeiam1 mudamente alcione
o #mido ninho serpenteia o colo1istante a vo- do mar, distantes praiaso$re si mesmas desterrando vãose1
Aceleradas som$ras das palmeirasAs seguem para o e5tremo, as cumiadas
As som$ras deitam para trás da serra,Que co$riamlhe o rosto* 2 amplo o $erço!
6alada a nature-a espera em torno&inha vo- responder. Agora eu canto*
C&eu enhor +nipotente!&inha harpa, as harpas do monte,
o rio caudal e a fonte,Fi$rada a nuvem nos ares,
0erante et2reos altarese humilharam. anto! anto!
eus imenso! eterno sopro+s lá$ios teus fecundaram*
+s c2us de soes s(estrelaram,o$re os soes outros c2us vão*
)asce o mundo, a criação)asce, e canta. anto! anto!
6heio o vácuo, o espaço ondulao infinito1 retum$ante
eme o caos, e palpitante6omeça $rilharviver
6ontemplarse, estremecer1<ugir de herror! anto! anto!
% nos ventos, e nas ondas,)o universo equili$rado,
Harmonioso, animado% num átomo da terra,
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)uma flor, penedo ou serraTeu nome está. anto! anto!
%co infindo envolve o mundo
9nfindo se renovando*+ntem vime alevantando,Ho3e me ve3o a cantar1Amanhã no meu lugar
Talve- serei... anto! anto!
Ande o mar lam$endo a areia&anso e calmo e deleitoso,
+u se estorça proceloso6ortado da ventania,
+ mar teu nome di-ia,ilo ainda. anto! anto!
=e-es quando o filho ingratoo$re o p4 dorme indolente,
% renegado ou descrente)ão te vB na doce esp(rança,
=ingativo e sem $onançaei5a os leitos. anto! anto!
%rre a lua em $rancas noites,oure o sol ru$ras celagens1%stas montanhas selvagens,%stas compridas palmeiras
6antando pelas ri$eiras,ão louvores. anto! anto!
&eu enhor +nipotente!enhor eus da criação!%scuto o meu coração,
=erguemse os cumes do c2u,Queime o raio o a-ul do v2u '
<epetiram! anto! anto!
anto! anto! eus dos astros,Que lá no Hore$ Adonai,
+ ru$o cercarte vai%m flamas de um fogo inalo,
6amadas de um fumo grato6irculando! anto! anto!
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&e o$edeceram* pelos c2us um coro=ai ondulando d(encantados 4rgãos '
A vo- dos animais, dos elementos,
as plantas o meu cntico entoando.
CTu, que enriquecesA$rahão nos desertos,Que livras da infmia
&ois2s e >aco$1Que fa-es avid
onhar o &essias,Que o nome estremece,
estr4i reis so$er$os,
uas águas que desce<emonta o >ordão,uas altas muralhas
esfa- >eric4Aos olhos im4veiso sol suspendido
)as mãos do >osu2 'Teus filhos encontras
)a ingratidão!
)o para/so esquecemTeu preceito* as feras
;raternais, tão mansas,9nimigas são1
=enenoso inseto+s consome1 os prados
&urcha como o sol!>á cidades vingam,
e corrompem, morremo dil#vio aos p2s.
)o c2u arco de rosasTraçou nova aliança,
% novas plantas nascem.@alta-ar so$er$a
)o festim ruidosoFá profana os vasos
e >erusal2m*
a tua mão de fogo0elo muro errante
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aniel amostraAs impressEes fatais
Ao assom$rado conviva*eslocouse o %ufrates!
@a$ilnia pream<u$ras mãos de 6iro!
Amavas 9srael,A idolatria a ru/na1
<ainha que levantas,Tam$2m perdes >udá!...
' &eu eus, tão grande que 2sA terra que não sente
9gnorate, e sorri!
' )os seios te compreendo,Tua gl4ria me engrandece,Tu 2s minh(alma, 4 eus!&inh(alma um reino teu.D
)o firmamento os ares se em$alaram1<emovidas as margens se apro5imam1
alta o pei5e no mar, desprende alcioneAtado o longo $ico e 3á revoa1
A $arca m4$il nas argBnteas asas0elas correntes l/quidas se alegra.
V - A LEGENDA
C+nde vais? pertur$ado no sem$lante,a som$ra de ti mesmo perseguido!
+ que entre os dedos te relu- mal preso)a mão se enegrecendo, 4 desleal?)ão ouves um gemido lá no monte?
+ 6risto 2 quem suspira... e porque foges?...D0erguntava o ple$eu d(asco. + disc/puloTreme, seus olhos se desconcertaram.A e5alação de um $ei3o nos seus lá$ios
9nda fa-ia nuvens* 2 maldisseA$ominosa venda... ouro fatal!
' Fava 0ontius suas mãos nas mãos da esposa,CTu disseste que eu sou Cdi-endo o 3usto*
%ntão ringiulhe o coração do crime,% de remorsos afrou5ando os $raços,
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+ templo ressoou d(argBnteas moles+s p2s rodeando de 6aifás* Csangu/neas,A c4r$ona as não quer, aos peregrinos
angu/neos campos d(Haceldama comprem.D
' % no outro dia uma árvore encontrouse%stendida no chão, fogo nem tinha,% em cin-as desfa-iase fumante!
emia o )a-areno ao longo açoiteo fariseu. 6horava o caro 0edro
Quando o galo cantou* negar trBs ve-es+ rei de alil2ia! ' em nardos ' triste,
As oliveiras do horto entristecendo% as torvas águas que de ouvilo voltam.
+ sonho confirmouse dos profetas*+ que viste morrendo era o &essias!
;alava >eremias inspirado 'á$ias revelaçEes* C6aim primeiro9nve3ou, foi traidor* dinheiros vis
o primeiro assassino a terra os ve3a6ometa errante despertando longe,
Fonge, e fa-Bla estremecer de assom$ra6ada ve- que gemerem malfadadas%ntroncadas irmãs no cofre impuro1
(/gneo facho perseguido,A$re as mãos o irmão d(A$e9,
=endidos serão d(escravosTristes filhos d(9srael1
=endido verão d(infmiaagrado, puro &essias!
&uitos soes hão de tur$arse...D0or2m, calou >eremias.
6omo ao chefe poderoso,;atal 7 $ela +rleans,
6omo ao rude pegureiro,6omo 7s rosas cortesãs!
% quantas ve-es nas grutas)ão verás teu coração,
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6omo do demnio opresso,acudirte a vi$ração?...
<ecolhe so$re o teu peito
0uras virgens argBnteas1&aculado nunca o ouro;atal a dor do &essias.
Quase ao sol posto, nos lugares santos<omeiro velho, entrou, de p4 co$erto1% de fora uma vo- se ouviu correndo
%ntre soluços por hist4ria longa*C=Bs, filha minha, aquela cru- pendente?
Ali gemeu profundo, doce e manso1
Aqui estas naves assom$rosas,Açoitado de varas... arrastado...uores ru$ros derramou >esus!
%stas paredes salpicadas, negras,edenta a terra que pisavam monstros
%nsanguentou de pranto... e roto o corpoe lançadas cru2is... desfalecia
a lagrimosa mãe nos castos $raços,Que a fronte $ei3a que os 3udeus cuspiram!
;ugiram seus disc/pulos1 a preçoeus vestidos os cães dilaceravam!...
Ali a fenda pavorosa, escura+nde os supl/cios uma ve- descansam '
6áli5 amargo de a-edado fel,6(roa tecida d(espinhosa vime...
9nda este vento que na cru- se enleia' &eu eus! meu eus! porque me a$andonaste? '
0arece repetir como se o lenho)essa vo- eternal fundida fora*
entro ainda de um sol ve3o uma fronte,% dentro dela uns olhos de piedade!...
+ c2u trBs horas s(envolveu de som$ra1o dia a nona o v2u do templo rasga,
6omo o raio divide a noite densa,% caio trove3ando em duas partes1
Tremeu a terra e se fenderam as pedras!%rguemse os mortos que dormiam, correm
)ovos viventes visitar seus lares!
o$re esta rocha deslocada um an3oe sem$lante de lu-, de argBnteas vestias
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Assentouse, e de um $raço tão nevado+ caminho apontou de alil2ia
orrindo 7 lamentosa &adalena,Que chora de pra-er compridos dias,
%ncarnada visão dourando as nuvens...D
9a falando como o vento grosso)a mata, a filha pela mão, que ouvia
&ovida e terna o compassar prof2tico*)a garganta gelou sua vo- dorida,
6horo rouco vertendo* era tão triste,o passo tateando, os olhos cheios,"ma entrada por onde ele sa/sse!
+s ecos desca/am das ru/nas,
%ntre os p2s delas repousaram lentos.' antos sepulcros! perenal sossego,
&isteriosa pa-, soidão profundauspensa em som$ras ' qual vapor dei5ando
Fevantarse a verdade nua e $ela!Que não em cornos de loquace fama.
+nde vais, po$re don-ela?CAh, senhor meu pai morreu!...
A todos ela a$raçava,6orria louca e gritava*
C=ede a lu-! a lu- 2 $ela...&as a 4rfã desgraçada
Ho3e s4 por essa estrada...Ah! senhor, meu pai morreu...D
A rou5idão do ocaso apenas dava0elas montanhas da cidade santa*% num silBncio pensativo o velho,
6omo o que a noite fa- su$indo os astros,escansou numa lasca da ru/na1
Favada do crep#scu(lo a fronte calva,%rmo rochedo que as escumas cercam,
)os om$ros virginais da filha amada"m pouco recostando adormecia...
% meiga infante com seus dedos r4seosas faces lhe tirava os regos d(água.
' a noite a $risa se alevanta e verte
as suas asas em torno dela o sono*6oros celestiais cantando ouvia
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%m seráfica vo- num sonho vago,Quando ao seu grito despertou* d(aurora9nundada ' e seu pai $uscava em vão!
9nda alguns dias, nessas mesmas horas,+ clarão $oreal se apresentava1;ormado a pouco e pouco, e se e5tinguindo
Tão docemente. )em not/cias houve&ais da po$re filhinha que o guiava.
VI - A HÉCTICA
De amor e gozo, ela ai morrer
a"enas a laran#eira da ida come$aaabrir%lhe a ig&sima%nona flor' suas
folhas crestaram no i$o, a seia nãocircula mais((( mulher!
)ascer ontem, morrer amanhã,"m s4 dia na vida e5istir,
Ho3e s4! como a flor da romã,=er sua p2tala ru$ra cair*
&ariposa das noites mimosa,=endo a aurora na $ela candeia,o$ressalta ao nascer, e amorosaeu encanto sua morte incendeia*
Alvo p4 de suas asas trementes,Todo o corpo em amor desfa-endo1+lhos grandes de =Bnus umentes9nda $elos de morte languendo,
9nda amores pedindo famintos)o pesado levar derradeiro
+u caindo, qual lmpada e5tintose envolvendo no crepe agoureiro*&ulher! tu não vieste so$re a terra
0ara a impura e5istBncia* nessa idade(infantes anos, folha tenra e verdeFançada pelo vento so$re o t#mulo,
6ontra/da e mirrada. 9gnorante,Que de ti tu não sa$es*... 0rovidBncia!
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Que ao menos morres sem sa$Blo ainda.frega, acesa, devorando amores
em temperança, num s4 golpe o cáli5,erramando d(e5cesso e de ofegante,
Aca$asteo, ca/ste em$riagada,=oluptuosa1 num suspiro longo+ veneno tomoute. % tu nem pensas0orque medrosa e trBmula palpitas10orque $atem tuas fontes, fugitiva,
9nconstante te a$raças toda inquieta62us frios $raços de marfim1 2 as trancasesdo$radas penduramse em teu corpo*
Anelante, fren2tica, dementee um go-ar... que não há nem 2 da terra*
;usão terr/vel do inferno e o c2u!ecos lá$ios em fogo e os olhos #midos
Fampe3ando fugaces... % eu maldigoe minha ve- o amor! o amor, que 2 vida.
&ulher, an3o celeste que minha almaToda a$ranges n um riso, 4 meus amores!)ão tu, que me ouves* eu te choro, sim,6om piedade sincera e dor que sangra1
&as so$re os teus meus lá$ios nem meu peito
)ão se alimentam, não* mulher sem mancha,@ela e simples, mulher como eu compreendo,
An3o, irmã, doce esposa e mãe do homem,eu amor e ideal, com essa eu falo.
Ó desespero, 4 fado! e sempre, e sempre)essa queda a$ismosa! lindo fruto
a manhã suspendido 7 fl4rea comaQue a $orrasca fatal, que a mente acende,
Agita e lança ao p4* co$reo a poeira,0asto dos $ichos, apodrece e aca$a!% o mundo todo escarnecendo dela,ua v/tima, se o $rilho a cor apaga
% as faces murcham. %ntão passa mendiga1% os homens que de amor ontem nutrira,
Que em seus lá$ios arderam, desdenhosos6ospemlhe a fronte! e na mis2ria some.
Amor material d(imundas v/timas,)ada tens de comum com os meus amores!
Ó sorte da mulher, destino horrendoe apascentando em casta virgindade,
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Tigre tão farto! e descansar nem sa$eo cndido re$anho todo avaro
&atar ' somente o sangue $e$e e a $ocaAma eterna em cruor $anhada, e dorme!
em vida o coração, pisado o corpo,8rido e vil $agaço agora o dei5ao$re os campos aos corvos, 7 imund/cia.
Ó sorte da mulher! An3o coitado,em asas, sem voar... quem fe-te assim?
: tua vida somente o despontar,Quando longe do amor o peito dorme(ecos va-io do estrondar das veias,
Que vão som$rias, e os sentidos livres
9nocente se e5pandem, como esta árvore!)a face o fresco virginal, e os olhos
6heios de humor de lu-1 2 flor a$rindoToda perfumes, nitide- e cores,
Que os insetos rodeiam ' não na toquem!Toda doçura e mansidão, agora
Toda selvagem, d(infantis crue-as,(inconstncia infantil1 ora piedosa,
Toda um riso e $rincar, toda esquivança,
=ergntea ao vento, singele-a toda ';oi sua vida em $otão. % o vento sopra*
% mais forte a vergntea 3á resiste,0ara o $reve estalar... e sopra o vento*% 3á n(alma lhe anseia amor1 seus olhos,eu coração, suas veias, todo o corpo%m$o$orado em amor, o cáli5 pende,
A flor a$re ' ai, coitada, o fim Istá pr45imo,As folhas pelo chão vãose perder
' e queres ser feli-, amor não queiras*&as onde há vida quando amor não ha?Antes a morte ' ou ama eternamente,
% nem te iludas porque não viveste...A vida toda está no fugir dela.
% o homem ruge contra ti d(impura,)o3osa, imunda criação da terra,Tu, fraco, sedutor, monstro fala-,
0orque de 3oelhos lhe $ei3aste os p2s?
onde veiote a fala tão sonora,Que em $alido amoroso a ovelha arrasta,
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@ranca, indecisa da e5istBncia ao t#mulo?onde veiote o pranto, mentiroso?...% a po$re crente, que tu di-es, finges
%la o teu deus que teus des/gnios rege,
Arrancoute da morte, e triunfante,%m seus del/rios natural perdida,eme em teus $raços... 0álida desperta,
olitária se achou! espalha a vistae si em torno, em solidEes va-ias,
% rompe fundos ais! ningu2m a entende.@aço medo escorreuselhe no corpo1=estiuse de mortalha, 7 terra, e s4!
Fongos adeuses, por2m tarde, e5pira.% o homem? como ave ensanguentada
a rapina noturna alça o seu canto,)em olha para trás fugindo ' a infame.
+h! não te rias da po$re-a sua*;raca e amante, que grande-as d(almaHumana e franca! @ruto, que a calcaste8s plantas vis, demnio dos infernos!
)isboa
VII - A...
Tu não 2s como a ára$e infante%ncantada no $ranco corcel
)os desertos d(areia $rilhante,8urea adaga no cinto de anel,
+u na doce ca$ilda ' ondulante)os amores de louro don-el1
)os floridos quiosques saltando,+u n(ogiva fumosa a dormir,
6ousas d(8sia amorosa sonhando,Que sonhadas se fa-em sentir*
Tu não 2s como a ára$e ' amandoTens no rosto mais santo sorrir!)em semelhate a r#tila estrela,)em as ondas douradas do mar,
)em a flor mais esplendida e $ela1Terra e c2u não te sa$e imitar*
@rilha uns olhos de $ron-e a don-ela,ocemente te ve3o a me olhar.
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*lto Mar
VIII - VISÕES
+ui, mademoiselle, adieu(adieis "our tou#ouras(
im, don-ela, te amei, v/tima po$reos caprichos do homem vão do mundo*
&inha fala escutaste, a vo- sonoraos lá$ios teus $randiu lá na minha alma,
Tanto dentro a calar e tão suave...&as, um momento* esvaecia aragem
0elos sinos da torre que dormiam,
% passou. 9ndeciso inda o silBncio%slava e $elo, quando estala o raio*6ndidos seios virginais tremeram,
ensitiva mimosa se fechava*;ormosa lu- do sol se esverdeando
0or frescos ramos de frondoso estio,Que a nuvem tolda, que o tufão desloca.' "ns olhos infernais, $lasfBmia a $oca
Fatiu danosa contra ti, 4 deuses!
)em tu mesma o sa$ias, d(inocente% descuidada amando, os sentimentose flores pela morte assim te davam.;i-eramte sa$er que era de amoresQue vermelha te vias, tão vaidosa,
+ pensamento meu, no fundo espelhoA radiar de formosura e encanto
0assando, te enlevando, ora assaltadaQuando o sangue alterado reflu/a
%nvenenado ao coração* me vendo,Que tu amavas para sempre o creste.%ras como ave-inha que 7s primeiras
+ndas do sol sacode e estende as asas.Ah, que o mesmo nascer dessa manhã
;oi pr do sol do amor, am$os morremos!>á foges diante mim, teus olhos $elos
o$re os meus, vergonhosos 3á se apagam%m mudo prantear do que passouse.
ua ca$eça me encostou no peito)amorado, sua nuvem de ca$elos
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(am$rosiadas noites na montanhaespe3ou nestes om$ros longos crespos!
6heirosa e pura, como os l/rios são)o vaporoso e cndido crep#sculo
o luar da lua ' respirei, por nuvens,+ corpo seu de vaga suspirando.%u vi fundido um s2culo numa hora!
% ho3e as horas seculares sintoe desencadeando dos meus dias...
oluçaste, ovelhinha mansa, ouvindo+ tronco de que 2s fruto 7 ventania<ugir horrendo e mau* Camores vis,
Amor de poeta nos teus seios, louca!
=aga criança, ou foge a lira torpe,+u de teu pai e a corte a$andonada...
% os teus paços doirados, e esse mundoQue luminoso te rodeia? oh, crime!A filha da rique-a amando o artista
Que vive d(ilusEes! sonhar, que vale?eus cofres de papel somente aos vermes%stão cheios, $em como os raios vergam
e seus armários de volumes áridos
os outros seus irmãos, que assim viveram.<aça de loucos, po$res e orgulhosos,
;ormando uma fam/lia e s4s se amando,0orque s4 uma sorte 2 para todos
%m todo o tempo1 voam pelas nuvens,Feves como elas* n4s de ouro $rilhantes,
%quil/$rio da terra, o c2u go-amos!...D
0or2m, tu, inocente, sim, perdoa*Fancei 4dio a teu pai1 quis dentro em mim<omper as leis da nature-a, odiandote!8 vo- do pensamento eu vi minh(alma
6air de horror! morrendo nos meus p2s!%u piseia! e sorrime, de tão fraca...
Ai tu, que me fi-este? amar somente,% o homem ingrato te maldisse, an3o!
% ho3e, enraivecido, ho3e eu te dei5o*+deio o mundo, 2s dele. á perdão,
0erdão... 4 virgem! se me amaste um dia,% s(inda o podes* não porque eu mereça*
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0or minha imagem não manchar teu peito*Tão puro como o achei respire eterno.
Tam$2m não sei... não quero verte, e morro
e penso que esse amor desses tre-e anosQue primeiro por mim saiute n(alma6omo o sol no oriente que esperasseomente por seu dia inda nas trevas,0ara 7 vo- do enhor apresentarse,Tão de ontem faleça a lu- das alvas!
&inha flor que eu plantei! +rvalho dela,J2firo dela fui... quem que arrancoute
a terra pr4pria, para transplantada)(outro clima te dar, onde lá cresças,
% 3á planta mais fraca e triste e pálida?Ah! com que viço o teu amor vingava!
Ah! se somente a mim, don-ela, amasses,6omo feli- tu foras, ensopando
)um s4 amor lua alma!... Tu, sem crença,/mpio, assassino, homem, que eu mordera
Teu sangue! mas, respeito* dele correeiva de flor* a veia torna l/mpida
8lveo puro. 6o$arde eu fui, 4 meiga,
0elo mundo fugir, darte o despre-o!' + Fuso como 2 $elo ao deus da sorte=ida, amor e5alando! o Tasso amante,
=/tima assim, os dias seus prolonga)um t#mulo que os ecos lhe esfriavam
os ais doridos, de um ou dois seus passos)a terra entrando* >osafá piedoso,
Teu pranto vai morrer no lago impuro,%st2ril 7s cidades, e o orrento
&esmo, viste o orrento como as cin-asas prostitutas que cercavam o Asfaltito!% o cantor de &ar/lia, quando os campos
uas ervas estremecem de escutálo%m tão saudoso adeus lá se ausentando,
@ranco touro amoroso das pastagens&ugindo aos montes, arrastado o levam
0elas torpes correntes da pol/ticaemer em negros climas! 9nda amam
Todos eles morrendo* eu 3á não te amo '
%u que te amava, e não co(amor de lá$ios*6om amor d(alma, em que eu amo angustiarme,
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%m contraçEes de morte me e5aurindo1%ssa pai5ão de f#ria ardente, horr/vel,Que soe peito de poeta arder sem fim!
arte ao mundo, sua filha, por no mundo%smagarte infeli-, -om$ar de ti!)ão sa$es, atro cão, que a $ranca virgem(homem carece para amála, e amanteoces harpas lhe afine, onde ela passe
=iva e mimosa 7 idade que não morre?...asta o ouro a mão d(homem, o tempo o mármor
;a- cair das cidades, podres frutos,=ãose com o tempo os deuses1 mas a lira,
+ s2c(lo, as geraçEes passando ouviram
8 eternidade, e o tempo asas nem corta.% ver não temes da inocBncia os dias,
Fongo viver, finados tristemente,%scorrendo das mãos de vil mat2ria,
Quantas ve-es no v/cio mergulhadas?
+h! tu, porque me amaste? e os no$res tantos,Que te incensam de roda, não $asta vão?0ara que me quiseste, eu longe andando?
;oges deles para mim... )ão* emudece8 po$re-a, ao candor* tam$2m no $osque
ei5a a selva frondosa ingBnua pom$a,=ai no pálido e fraco e humilde ramo
<ecostarse e gemer ' assim no peitoonoro 2 livre, de singela, a virgemAma a$rigarse e suspirar, morrer.
Que longos dias, dos tão curtos, poucosias que eu tenho a percorrer ligeiroAs campinas da vida, eu hei perdido%m tua adoração, penosos, tristes!
Arrependerme... não, que esta e5istBnciaToda minha não vale um teu sem$lante,"m teu rápido olhar. Quanto me custa
A tua ausBncia sopesar ainda!Amo ao longe te ver1 roçar os muros
Que ha$itas1 Istremecer 3ulgando ouvirte1)utrirme de ilusEes, de que me nutro,
6antando nas soidEes da minha vida,%m #midos suspiros meus amores
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%5pirando em teu peito1 esta saudadeQue dei5aste em$alandome nas lágrimas...
%u sou ditoso de perderte! adeus...
Adeus! perdoa, se inda o podes, virgem!
IX - O ROUXINOL
<ou5inol, o que procuras0or entre o verde murtinho,0or entre a grama cheirosa,0or entre as moitas da rosa*
0rocuras acaso o ninho
Que a torrente deslocou?
Teu amor inda dormia)a ramagem do espinheiroando 7 prole almo calor*% vais perguntando 7 flor,6omo 7s águas do ri$eiro,Quem teu ninho te levou.
Teu s4 possuir no mundo,oces filhos, doce amor,
Tudo, tudo te aca$aram...Ai, porque não te mataram
%ssa torrente de horror% os gritos do vendaval!
+ra somes na toiceira,+ra na pedra musgosa% pelas fendas da terra,
6omo quem se desenterra1Fevantas na vo- quei5osa
Teu canto, que di- teu mal.
enegre a terra tuas penas,<ompe tuas penas o espinho)ão sentes? e vais cantando,Teus amores demandando,
%m$ora perdido o ninho
6heio de frutos de amor.
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=Bs o sol como refulgeepois que a chuva estiou,<efletindo so$re o orvalho0elas folhas do carvalho?
)unca o sol não rutilou,Quando o peito anseia a dor.
+s pimpolhos resplandecem,0erfuma a $risa o 3asmim*
)ada sentes, filomela,Que no mundo sem tua $ela,
+ mundo ledo carmim,ão trevas nos olhos teus.
o$re a margem do ri$eiro,T#mido e torvo correndo,
Triste e muda a terna amante,esplumada e delirante,
e tempo em tempo gemendoAca$a os instantes seus.
%ila 3unto de seus filhos,Am$os mortos! roto o ninho
<ou5inol, pára o teu canto,<espeita seu mudo pranto,)as coifas do rosmaninho
=ai solitário chorar.
%la não te ouve, não te olha,Toda na prole sem vida!%les morreram da sorte1
A mãe lhes dará sua morte1% tu 7 amante querida*
A todos ve3o aca$ar!
Tu, amor, que cegas o homem,ás mortes mil 7 mulher1
Tu, que eu te chamo deus1Tu, que dimanas dos c2us,0orque não fa-es morrerA mim que tudo perdi?
X - CANÇÃO DE CUSSET
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e fosses, moreninha, sempre $ela,Tão $ela como 2s ho3e nesta idade,
%u fora e5p(rimentar se amor perdura,
Te amando muito.
%u sei que amor e5iste %nquanto $rilhaA flor da mocidade resplandente1
0or2m, que logo morre, quando os anosA vão murchando.
+ sonho que de noite nos em$ala%m vagas estranhe-as não sonhadas,
Apagase com o sol ' rompendo as nuvens,
%le 2 qual 2*
)ão sa$es, moreninha, que os amoresão astros deste c2u do nosso tempo?: noite que, passando, al2m d(aurora
ei5a a lem$rança?
)ão quero pois amar, sentir não queroA dor que sempre d4i, que sempre dura
aquilo que passou tão docemente% tão de pressa!
%u tenho inda saudades dos $rinquedosos tempos festivais da minha infncia,
os $ei3os que $e$i da mãe querida% a $enção de meu pai1
%u tenho inda saudades da don-ela,A quem dei meu amor, o amor primeiro!
% ela ao romper d(anos tão queimada)essa pai5ão!
+s lares paternais, meu $erço amado,6om quem no $osque andava os companheiros,
Amigos que eu perdi... $asta p(ra a vidaFevarme ao fim.
ich-
8/18/2019 Harpas Selvagens
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XI - UM DIA É SEMELHANTE À ETERNIDADE
)asce a menina, e suspensa
6omo um fruto matinalorme nos seios da mãe,@ela serpente do mal.
>á desperta no outro dia,@ranca rosa a$rindo amor,e co$re de pe3o e graças,6omo os mist2rios da flor.
% foi virgem s4 num dia,
% no outro dia 2 don-ela,%sposa e mãe 3á mais tardeTam$2m cria a prole $ela.
Quando não foi prostituta% n(alva a estrela apagou,
)em foi a fria velhiceQue so$ os p2s a calcou...
Quando no crime e nos v/cios)ão afoga o coração,
Quando maldita não somee$ai5o da perdição.
% 2 sempre a mesma cenaQue repete, ilude o mundo,
6omo a página dos anos,6omo o sol no c2u profundo.
XII - MINH’ALMA AQUI!
%is o c2u todo estrelado.%is as campinas do prado,
%is o monte cultivadoQue tantos anos não vi!
Andei por terras estranhas,
%ntre amor, $2licas sanhas,rande-as eu vi tamanhas!
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% sempre minh(alma aqui!
0ela cndida capelao vale, sonora e $ela,
+nde o pastor, a don-elaalvas cantão do enhor1
0ela campestre harmonia,0or esta vaga poesia,0ela inata simpatia
a nature-a do amor1
0or este $osque de flores%ntrelu-indo em verdores,
)o pa/s dos arredores+ndeando o plano e o monte1
0or minha terra palmosa8 tarde, enferma e saudosa,
Quando manada formosa=aria as margens da fonte1
0ela r#stica choupana
o lavrador, da silvana,a co$erta americana
%rguendo espiral o fumo,
Qual no hori-onte do mar@ranca vela a $alançar,A lu- d(aurora a cortar
ereno, transverso rumo*
%squeço o mármor lavrado)as cidades levantado,6omo figuras do fado
0or nuvens metendo a coma1
%squeço o c2u so$re a terra1oirado gelo na serra,
As torres que desenterraagrada, ruinosa <oma!
Maranhão
8/18/2019 Harpas Selvagens
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XIII - A VIRGENZINHA DAS SERRAS
=Bs, 4 mãe, que vão di-endo,Toda a gente do arra$alde?Que eu amo, por2m de $alde,
Que o meu amor vaise em$ora,Que na lira se evapora
Tanto amor que ele me tem...
%le deume um $ei3o, ardente!Tão doce como a sua fala,Que de sua $oca se e5ala
6omo o perfume da flor1&as... foi um $ei3o de amor,
Que ainda me queima o rosto.
&eu coração estremece,&inh(alma foge de mim*
%u nunca senti assim+ correr da minha vida...
A pa- da infncia 2 perdida,
&inha mãe, eu vou morrer.
%u agora o compreendo*%le chamoume infeli-,
)em mais afagarme quis,)o3ento da sorte sua*Ho3e $ela como a lua.0ara enoitar a manhã.
%le chorou uma lágrima)a minha face, coitado!
%ra tão triste e mudado...&eu eus! me vendo, di-ia,
% eu de ouvilo tremiaem sa$er o que ora entendo*
Centir amor nessa idade,C)esses tre-e anos de flor,CQual manhã tinta de cor,
CQue logo se esvai no dia...C6omo a tua sorte, &aria,
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C6omeçate ho3e enganar!
CTu sa$es? eu vou partir...CQuem dera que eu não partisse!
Cempre comigo te visseC%m vida eterna de amar!CAdeus, &aria, chorar
Ce3a sempre a nossa vida.D
&eu senhor! porque me olhaste?0orque me ensinaste amar?
% tu vais correr o mar%, talve-! queimar por hiTeus olhos que so$re mi
e amorosos se e5tinguiam.
Que queres do mundo? e sa$es+nde vais? o que procuras)essa sede de loucuras?
+h, não vás... fica comigo...0or estes vales te sigo
as minhas serras de 6intra.
9rei de ru$ra saloia0lantar a terra lavrada,% de$ai5o da ramada
)a calma te acolherei*Teus suspiros $e$erei,
)a serra gemendo as águas.
&e vestirei como as flores...0ara a lira te enflorar,
4 por mim doce a tocar!Humilde no teu mandado,
0astora de nosso gado,%u serei, oh! tua escrava.
% uma escrava te não! $asta% uns amores de tre-e anos?
0elos c2us americanose 6intra a filha não queres...Tu choras... não tem poderes
+s olhos que a pátria choram.
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%u te sigo... Queres livreTer no mundo o coração.
"ma cativa 2 prisão?% s4 maldi-es tua sorte,
% s4 me falas de morte*a$erei te consolar.
' :s selvagem dos teus $osques,os teus climas do equador*
olta a vida, solto o amorAo falar da nature-a1
Tu amas pela aspere-a<esvalar teu pensamento.
Terás, 4 vento da selva,Terás, 4 vo- natural,
6om o meu amor virginal+ teu ser livre senhor...
0or2m, chorando? sua dor,@ei3oume... não sei... voou!
onhos mãos eu vi de noite,6om rios d(água sonhei!
&eu choro, 4 mãe, verterei,% como as ondas andandoTristemente e soluçando
=ou morrer tam$2m no mar.
&inha, infncia pertur$aram*6om minha mãe sossegada1&e dei5aram desgraçada,Que docemente eu vivia...%ra a noite! irmã do dia*&eu amor tudo aca$ou!
&eu amor foi s4 d(uma hora,;oi como o l/rio sorrindo*entia minh(alma a$rindoQual filha do sol num raio!0or2m murcha 3á desmaio)os seios de minha mãe.
Cintra
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XIV - HORA COM VIDA
%u contemplava o c2u no pr do sol,+lhando para o sul. Ana comigo,
epois de toda a tarde em nossos $rincos,)o cair do crep#sculo assentouse)os meus 3oelhos, pensativa olhando1% depois nos meus om$ros por dormirei5ou pender sua fronte sonolenta,6omo essas flores de alegria, como
A rosa $ranca matutina, infante@ela entristece no fechar da noite.
orme, flor da manhã, sono sem sonhos)a árvore do amor, pom$a celeste
Que adormeceu na terra, sB meu -2firo6om teu alento virginal* teus seios
6omo nos seios de tua mãe eu sinto.
6omo et2reo rochedo, negra nuvem6omeçou a crescer1 atrás se a$riam
<elmpagos, relmpagos, que fendem6omo o fogo da casa dos pastores%ntre a parede r#stica acendendo.
A noite desentrançase em desordem0or toda a terra1 os ventos furiosos
oltaramse acocando a chuva adiante1+ $osque estronda, como em desfilada
&il cavaleiros nos despenhadeiros1+ mar repete o c2u1 perto o trovão,Qual so$re n4s rolando pelos tetos,0esado $rama, e so$ a terra o sinto
+s meus p2s levantar, qual de medrosa<efletindo sua vo- que cai dos ares,
% o mar de$ai5o arremessando os uivos!+s raios despe3avamse em distncia
o$re uma torre negra* e o $ron-e rompem,Todo o templo arru/nam, como os an3oso fogo, que o enhor aqui mandasse
estruir seus altares profanados.&as, passou. @ranquearam mansamente
As estreladas ondas, morre o vento,%spalhase o luar pela montanha,
A limpide- do c2u $rilha a torrente0ara os vales sonoros, e eu desperto
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6omo de um sonho mati-ado d(B5tases.6orri a minha mão no corpo d(Ana*
Qual num raio do sol mimosa pom$aArrepia o pescoço, estende as asas
%m sensaçEes gostosas, se encolhendo,&e apertando com os $raços longos, $rancos,%stremece, e tão plácida ondulava!)o manto meu agasalhada, #mido
0elas ra3adas que de um lado entravam.
%is uma hora da vida que me encanta.Ah, que um(hora eu vivi nesta e5istBncia!
' &eus sentidos, minha alma 7 tempestadeHorr/vel, $ela1 e so$re o coração
"m an3o virginal, uma criança.' %la depois faloume dos trovEes,Que vendome tão quieto não temia
ormindo1 e deume um $ei3o, e pela mãoFevame 3unto de sua mãe re-ando.
XV - VEM NOITE
./ "artem do ocaso as sombras "rimog0nitas da noite' #/ imagens de amor diante mim reoam, nascem meus lado,
chamam%me 2 e eu estreme$o!
=em, 4 noite esperançosa,o$re a montanha descer,)as asas som$rias, longas,Tantos crimes esconder.
Fá fuma a linda ca$ana+nde irei morrer de amores.
=em, 4 noite, me arre$ata0ara a filha dos pastores.
6om teus mádidos alentos,=arrendo a flor e os perfumes,
Amorna o fogo em$alado0elo aquilão dos ci#mes.
;u3o a eus, que me condena,;oge a filha ao velho par '
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0ara amor! oh, vem, 4 noite,Tantos crimes ocultar.
*utcuil
XVI - "...
3amb&m "or entre os cardos abre a rosa(
Amor! amor! na mangueira>á cantaram os passarinhos*Acorda, 4 linda, no monte=amos ver nascer o alvor*
&esmo assim desentrançada
=em, não tardes, meu amor!
G frescura repousemoso $oninoso pomar,
&eigas auras, meiga flor6ontemplando, 4 doce amor!
A $or$oleta respira% deslaca 2$rios revos,
6omo a folha solta ao ar*&as 7s correntes do olor
)ão, não anda, 4 virgen-inha,Fouca, louca vai de amor.
0rateado rompe o l/rio)evinitentes casulos,<oda dele o $ei3aflor9ludese vendo amor.
A laran3eira ofereceFindo adorno 7 linda noiva...&ati-a os verdes raminhos
e cintilante candor*% $elo o pomar! mais graças=e3o nele ao verte, amor!
>á se douram teus ca$elos,ourouse toda a manhã,
Teus olhos dão mais fulgor)ão fu3as... 4 doce amor!
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;oi o sol como 2 formoso,Feda $arca em mar de a-ul ';a-es do mundo um primor!
% mais que o mundo o teu rosto(e$#rneor4seo palor*0or ele que tudo alegra,
0or ele ru3o de amor.
o$re n4s verga a ramagem+ murmuroso espinheiro
im$oli-ando o pudor*Ó virgen-inha os espinhos
)ascem mais onde há mais flor*
0udi$unda e rigorosaTam$2m me foges, amor.
Tens medo que o sol te ve3a?este -2firo em tuas trancas?Tens medo que o sai$a a flor
Que tens nos olhos amor?
6oitadinha, an3o inocente!
As asas de musa temes&anchar da manhã na cor
o primeiro sol da vida!% delirante em ru$or
Ao seio as fechas, nem sa$es!0lantando rosais de amor.
4erlcuman, 185
XVII - SONHOS DA MANHÃ *(((
;oge do sol, 4 noite, lenta $arca,=ais no golfo do dia naufragar*
Aqui somente os temporãos me agitam*<emonta ao largo mar.
<ecomeça tuas horas sonolentaso cume das estrelas para o monte
6adentes d(astro em astro1 o sol que morra)o fundo do hori-onte.
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+h, maior do que um deus, do$rado escravoo$re a terra, meus olhos te adoravam!
%stranha de me ver assim, teus olhos
6astos se envergonha vão.
%u $ei3ava os teus p2s, que nos meus lá$iose contra/am fugitivos, frios,
Qual trBmula mimosa sensitiva)o calor dos estios.
(inocente, ignorante, qual murmurasT/midas negativas amorosas,
Que somente se lBem na cor das faces
6omo vermelhas rosas.
6ercada de uma lu- religiosa,Tens dentro das tuas mãos a minha mão*)ão se ouve uma vo-, somente arque3a
A $oca e o coração.
)ossos olhos formavam longo pranto...+h, quantas ve-es l/mpidas torrentes
%ngrossaram de novo adormecidas&ori$undas correntes!
0or so$re o nosso peito ondeante $ai5ose$ruçavam sua lu- morta, em$e$ida)as águas dos seus rios da esperança
6omo d(e5tinta vida*
6omo dois coraçEes que se $uscavam,%rrantes som$ras de soidão, de d4*
Que$rados de emoção estremeceram,4 pranto... e pranto s4.
+h, tu nunca me olhaste! e o que mais falao que essa lágrima espontnea, pura?
6omo o sulco celeste, como as veias<etratando a espessura.
% um respeito de amor prendeume os lá$ios,
% eu pedia aos c2us tu não falasses,An3o mudo... terror $elo su$iume,
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>ulguei a vo- soltasses*
;oi $rando soluçar1 como na areia6ai suas ondas a-uis quei5oso mar,
6omo a lua, passando as 3ardas nuvens,<espira outro luar.
>á sentia no teto as andorinhas,A calhandra no ramo, o rou5inol
%ntrando pelas fendas, e os o$reiros,Tudo di-ia o sol.
' Temeste acaso que de ti sou$essem?...6a$ia a minha mão* eu despertava
a tua adoração* perulea som$ra>á longe se apagava.
Qual linfático sol ve3o rodeando&eu corpo como a terra, que fecundas
e força e vida1 qual de amor, d(esp(rançaToda minh(alma inundas*
epois, desfe-se em raios vaporosos1
&eu peito era s4 lágrimas* eu via,Toda minha e5istBncia desgraçada
)o sonho se esva/a.
% de hora em hora mais eu tenho amor*%u a$ro diante mim som$ras da morte
0or verte no long/nquo duvidoso,%m$ora, em$ora a sorte!
: por ti que estes montes frutificam,Que estes campos do mar são meus amores1
: por ti que nos c2us tenho um s4 eus,)o prado tantas flores!
Tu 2s a vo- que e5primo, 2s o meu eco,:s minh(alma, 2s a minha eternidade!
Ó noite, volta a minha vida, apagao dia a claridade!
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XVIII - M...
&aria, porque choravas)a minha triste partida?
ou tão longe, escuto aindaA tua quei5a perdida!
+ nosso amor educadoos $erços, na solidão,
;oi como a flor enganadaAos $afos da viração.
6rescemos* e d(inocente&e davas o teu amor.
Ameite! porque te amava,;ui teu sevo ceifador.
0or2m, essa flor colhidaA grata som$ra da palma,%ncanto! ideal mimoso!
Aroma eterna minh(alma.
Ameite! tua vo- d(aragem
Ainda ouço, don-ela,)os olhos meus em$e$ida
;oste para sempre $ela.
:s comigo em c2us estranhos,Toda formosa aldeã.
9nda 3untos nos deitamos)as ramas do pirinã.
+s anos que vão descendoe3am dias d(esperança1A noite de tempestade
ucede o sol da $onança.
&aria, dos olhos $elosAs veias l/mpidas pára,
)ão laves do fogo as facesQue eu amoroso $ei3ara.
&aria, constncia e vida,% todo esse amor d(outrora*
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+s anos a flor não murchamQuando o amor não descora.
4aris
XIX - PO#RE $ILHA DA POL%NIA
"ns olhos d(eterno, saudoso cantarQue em ondas van-eam, se arqueam no mar
Que em pranto se fa-emQue em lu- se desfa-eme enchendo de amor1"ns lá$ios tão tintos
e vida e pudor
)ão vendas, don-elae fronte d(estrela!
%m$ora mendiga, chorando na terra(estranhos, sem pais,
)ão manches essa alma no go-o mundano,Que o c2u vale mais!
Tiranos oprimem tua po$re fam/lia,Tua pátria infeli-...
A ;rança 2 tão $ela! coitada ave-inha,
Tu se3as feli-!%ncontres um ramo nas selvas gaulesas.+h, lua mãe te faltou, virgem, $em cedo,
;lor sem rocio, rou5inol sem ninho!% nossa mãe perdida... chora! chora!Qual pára o via3ante, e mudo e triste
Ante o a$ismo... não foi da morte a id2ia*% nem pranto e nude- sem dor os homens
Te viram, lindo c2u d(alvas estivas.4aris
XX - #ERÇOS DO AMOR PRIMEIROKE47D9L
Tristes recordaçEes! a mãe chorosa,6omo quem $usca confirmar um sonho
Ante a som$ra que fica do passado%rrante pelos s/tios tão queridos
)uma saudade sem poder dei5álos,6arpe sua filha amada* 3ulgou vBla
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)aquela flor ao vento s(inclinando1=aga promessa a nature-a e5prime
%m doces gestos de quem vai ser mãe,% ela 3á sente palpitarlhe os seios,
%la em$alalhe os $raços d(esperança '%spera ' assalta ' vai ' por2m sorriuse,;oi leve sussurrar daquele ramo.
+ amor materno triunfou, que$rouse&undano orgulho aos p2s da humanidade*
Tudo a convida 7s lágrimas, e o mundo: tão mesquinho, que um amor somente
+ fa- esva-iar! elira e geme,=endo harmonia a$ençoada em tudo,ua filha amando como as aves amam,
9nocente e divina, e ser maldita;ugitiva do lar* remorso a come '
6erdosos 3avalis a acometendo,%m gritos, sem lhe a vo- sair dos lá$ios '
% seu vivo sonhar. % contra o filho+ homem, que 2 mais $ruto, inda fremia!
)os $erços viviam d(argBntea e5istBnciaTenrinha don-ela, 2fe$o gentil*
&ais eles cresciam, mais neles vi$ravamAssnias d(amores na crença infantil.
Tão linda era a virgem! mais linda que a lua)a <ice das folhas, nas ondas do mar '
eu rosto era nota de lira encantada,eu corpo cadBncia de um vago pensar*
% ele tão no$re, sisudo e formoso,)o raio dos olhos derrama a pai5ão ';eridos centelham de morte, na calma
ão 4rgãos sagrados cm $randa canção.
9ntriga se erguera, vai lisa serpente;ala-, venenosa minando as fam/lias*
+s velhos rugiram vingança de sangue1+s moços choravam compridas vig/lias.
;urtivos uma hora no templo se viam*
)a h4stia e no cáli5 seus olhos 3uraram*)o eterno da noite da vida distante
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"m sonho de um dia somente sonharam.
%m lá$ios ardidos não dormem suspiros,Qual aves de fogo perdidas no espaço
6arpindo seu ninho, seus olhos se fecham,6oitados amantes, ouvindo o fracasso.
% filhos da infncia que amavam seus pais,>á ouvem suas $Bnçãos em mudo terror*Tão doce d(outrora, sua mãe a$orrece '
&ais crua se a leva, mais nutrea de amor.
o$re os 3oelhos paternais o moçoelirante caiu nas mãos sostida
A fronte apai5onada. %la inocenteAs disc4rdias senis* CenhorD di-ia,
C&inha vida não dais, eu sou mendigoC0or serdes pai, e s4... na divindade
Ceste amor que 2 do c2u minh(alma apuro*CQue não se3ais maldito nos meus lá$ios
C&eneai a ca$eçaC6respa de cãs* de$alde não são elas
C+ selo da prudBncia...D
em$lante de punhal cingiulhe o aspeto,e amarelo clarão $anhado e tinto
os olhos dentro de uma som$ra negra,Qual se gBmeos não fossem, transtornados1
=acila o corpo1 os dentes se arrastaram%m seus rancores1 convulsando os $raços,
=/scida $oca $iliosa impreca*C=aite!De repete* C=aite!
C% o pranto, fraco! desses olhos tira.D
olitária estava a virgem)o seu e5/lio de amor,%m torno dela gemia,
%nquanto a $risa corria9ndecisa, $reve flor '
Timidamente e5primindoeu viver encantador.
6om seus p2s sua mãe se a$raça
Toda em lágrima $anhada*eus olhos eram piedosos,
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eus ca$elos envirosos,6omo a sua alma cortada,olorosa a cru- do 6risto)a mão de cera a3untada.
Apresentalhe nos $raços+s lácteos seios que amou
e maternais vi$raçEes,+nda n(alva dos verEes
Que o mar na praia ondulou*C%la nossa ilha pre-ada
C% este sol que eus criou,
C0elas flores que plantaste
C)as terras do teu 3ardim,C0or este lago dormenteC% pela verde corrente
CQue cerca os p2s do 3asmim,C%las aves que te amaram,C;ruto que nasceu de mim!
C)ão queiras de um pranto f#ne$reCTudo murchar que foi teu*
CQue valem do mundo amores,C6omo estação de verdores,C6omo uma aurora do c2u?...
Cesgraçado o amor que a filhaC%m fera vil converteu!
C&eu caminho tu levasteC0ra o encontro do amor*C%u era ovelha inocente,
CTu vias essa alma ardente,C% nem vias com terror
C"ma pai5ão que cresciaC6omo para a morte a dor!
C+ amor com os anos mudaC%m cada quadra da vida*
CHo3e 7 mãe pertence a filhaCQue depois o amor humilha.C:s culpada, 4 mãe querida,
Cigo as leis da nature-a...C)em sou maldita perdida.D
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9ra de pais da terra si$ilava6ontra o casal de eus e de natura.
;lores, a$rivos, perfumai a relva)os $raços da soidão1 som$ra da $alsa,6ai fresca e trBmula dos -2firos1
=inde do monte, estrelas taciturnas,o monte, 4 sol de raios criadores,
Aos cantos matinais da cotovia!
% o colono cantava*C)os meus vales da ermnia,
C&eu amor 3unto de mim,
C)unca o dia foi tão $elo,C)unca a noite amei assim!
C&orremos num sol ' do c2uC)osso amor foi tão somente
C"m raio puro do %terno,CQue logo a si se recolhe
Cestes pedestais do inferno.D
' : vo- et2rea ' os amantesi-em sempre quando a ouviam
air do rio ou do campo '&orreram num sol! tão $reve0assa na esfera o relampo. '
)uma noite de pra-eresQuando as lu-es se apagaram,
% long/nquas desmaiaramonorosas vi$raçEes
as copias que eles cantavam)o mui saudoso violão,6omo opresso coraçãoAlmas irmãs e5alando1
Quando pelo ameno riou$iam longas canoas
Fonga palma em curvas proas,
=ela de ramos ao vento1
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0elos $ancos de remeiros)oturnas alas cantando,
&elodias $alançando)o silBncio dos mangueiros,
&elodias encantadas,&elodias que chora vão
Que nas correntes $oiavamas mansas águas do Anil '
os regolfos 7 cadBnciao remo na pá tangida,
6omo 7s ve-es comprimida0arece a nuvem cantar1
Quando num leito de som$ras0álida lua descia,
6omo que seu rosto erguiaFá de trás dos hori-ontes '
0or ver os astros ficando,0or ver a terra 3a-endo,
0or ver 7s auras correndo
@rando arfar o palmeira!
%sse rumor indecisoa nature-a, a ardentiaQue ruga a proa e desfiau$indo na mar2 cheia1
Quando o monte está dormindoo$re os vales de$ruçado,
% som$rio e rodeadoe vago e $elo pavor '
"m(ave parou no teto,)(asas o sono estendeu*
)em mais o vento correu,)em mais ouviuse uma vo-.
%ra o tempo em que os campos do outro anoQueimam os pastores ao pascigo novo*
"m fogo oculto da 3uncosa terra+s seios lavra e lam$e. o$re o rio.
8/18/2019 Harpas Selvagens
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4, pendia a ca$ana graciosao par amante em páramo espaçoso
@ranco ar$usto de flor entre a verdura.
=irentes trepadeiras nas paredes+ $u5o e a primavera s(estendiam,0erfumadas de flor*
% arde o fogo na flor, arde a pindo$a%m rápido estridor.
%ntre o fumo de altar, $atendo as nuvensuave claridade entrou no c2u.
>á nada e5iste!0assando os pescadores na corrente,
0erguntam C=iste?D
% o $oato correu. 6onta na hist4ria>unto do fogo de 7 noitinha 7 porta,
A calada da r#stica fam/lia,6ndida e crente o camponBs vi-inho*C)ão descam$avam as estrelas ainda*
C=i florir no oriente uma roseiraC6omo o dia* so$re ela revoaram
Cuas rodas de nuvem tão $onitas,CTão l/mpidas, tão alvas como o pom$o!C% a roseira as levou ' rosas e o dia '
CFá para o fundo do anilado c2u.CTornou anoitecer* e so$re as margens
CA ca$ana das vo-es arcang2licas,CQual na entrada do estio os passarinhosC;a-em seu ninho, se aninhando cantam,
C)ão viuse mais1 assim desaparecemCFá nos mares do )orte ás luas mortas
C0alácios encantados a desoras.D
Quanto 2 doce a desgraça dos amores,A lem$rança das lágrimas en5utas
ervindo de horas vagas namoradasAs camas d(ara$rosia, são prel#dios
e um eterno go-ar que os c2us ensaiam!' &as os dias feli-es são tão poucos...
>á nada e5iste!
0assando os pescadores na corrente,0erguntam C=iste?D
8/18/2019 Harpas Selvagens
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XXI - O PR&NCIPE A$RICANOKE47D9L
9 amor do c&u em terra s:4or um dia, e morre como
as flores morrem(
C@ela escrava da minha alma,o leu pr/ncipe senhora,Adeus ' a ilha m(espera,
>á desponta a ru$ra aurora.D
C)ão, 4 pr/ncipe, não fu3asa som$ra da tamareira*4 contigo, como 2 doceescansar nesta ri$eira!
+lha, a praia 2 tão deserta,Tão deserto este areai...=e3o o mar leão sanhudo6om sua 3u$a de cristal.D
C;ilha da noite sem astrosÓ filha minha, )Mdah!
;lor do verde sicmoro,ias de sol do aarah,
&il homens levam a guerra8s margens do enegal*
%m ferros trarei mil homens)estes caminhos de sal.
Quando a lua andar trBs ve-es,=indo depois a nascer,
os teus $raços desatado)os meus $raços te hás dever.D
C)ão, 4 pr/ncipe, não fu3as!)ão sei o que n(alma eu sinto...
&orrerei... se assim te fores*
6rB nos meus olhos, não minto.
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A vo- d(a$estru- n(aurora,%stes soluços do mar,
+ vento morno, o c2u triste)ão sentes tanto falar?...
>á de$ai5o do $ao$a$=Bem com o sol saudar o dia*
agrado o fogo se acende,Templo de folhas lumia*
@atendo o p2 das ra/-es,i-em aos teus antepassadosQue 3a-em dentro do troncoHá dois mil anos passados'
Que venham ver seus dom/nios,Que ainda e5iste a nação '
Todos adoram cantando,Todos 3oelhos no chão.
Acordam... vão pelos galhosAs som$ras dos velhos reis...+ povo e o reino $endi-em
=ivendo n(antigas leis...
;i-eram o giro... lá descem)a ordem da sucessão...
%m torno o povo 3á dança,<uidosas palmas na mão.
espediuse o aniversárioo que foi vivo primeiro.
%ntraram as almas... s4 pende"m $raço do derradeiro...
rita o átropos ao lado,;a-endo voltas, -um$indo,
6rnio pálido em seu dorso.estos sinistros a$rindo...
+h, não vás! calamidade&ove o $raço e dá sinal*
A morte voa na guerrao peão ao principal.
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% esse vegetal sarc4fago+nde dormem teus av4s,
)au perdida ve3o em mares...
ervindo de terra a n4s!...D
Amor de gl4ria insensata=ence os amores dá escrava*% o coração que não mente
=ingança dele $radava.
6omo ave a fugir do ramo,Que prende o laço, a don-ela
ua alma tem pelas asas
%m forças nos $raços dela*
% mais longe indo a piroga,&ais a luta se animava*% d(asas longas o alado
6onsigo o ramo arrancava.
eus gritos aterram os ventos=oltando as vagas no mar,
+ cavo da vela e$#rnea=eiose oposto formar.
<olou nas a$as do monte,emeu na $eira arenosa,As ondas vieram mansas
Fam$erlhe a pele mimosa*
a/am d(água por vBla,;a-iamlhe um $erço amigo,
"mas escumas de floresTra-endo vo-es consigo.
0ávidas fogem. as praiasFonga o $erro a penedia*
C&inha sorte ela sonhava,0endente o $raço a di-ia.D
0arou seus ramos o tronco,
Nalofo no$re ululando*As rochas foram sens/veis,
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eu choro 7s rochas levando.
9nda os olhos se desfiam0or negron/tido rosto,
9nda gelava na $oca&udas falas de desgosto,
"ns frutos nas mãos guardando,ostoso pasto de amor.
Tomoua nos largos om$ros*C&orre o que comigo for!D
6omo o elefante mordidoo insondi no palmar,
e vBlo as vagas recuamAmedrontadas ao mar.
CAs correntes! as correntes!Tempestade e o vento largo!
&eu rumo o a$ismo, do nauta=o- de agouro o pranto amargo.D
0assa a ilha de or2a,
0assa as terras de acar,)(outro dia o 6a$o=erde
;icava longe a $oiar.
)avegando 7 negra popa,%le a vive, ela o matava*
eu pranto era fumo se e5alao corpo frio que lava*
%le a cinge so$re o peito6omprimindo o coração*
A frialdade da morte;a-lhe querida ilusão.
Fi$rase no ar indecisa,audosa e tarda a pairar*
+lha aos c2us, olha na terra,)ão pde a terra dei5ar
A alma que a terra amou*Ave muda esvoaçando
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%m volta do $elo pássaro,0artindo sempre e ficando.
&orria contente o amante*
0or nuvens a som$ra vendo,A$raçavase com a morte,&em$ros a ela estendendo.
%le 3á vBse em caminho,A vida na morte está1
&as, vBse vivo* m(espera!@rada C4 alma de )Mdah!D
)ingu2m sa$e aonde o 3unco
Acaso fora encostar ')aufragado, em terra imiga,
0elas costas de al2m mar*
Qual n(areia a caravana=e-es some nos desertos,As ondas nada disseram
)estes campos desco$ertos.
9nda ho3e pelos vales,0elos montes vai gemendo
%rrante, som$ria gente,+s nomes deles tra-endo.
%, tão lenta, vem com a noite)os cumes da penedia
Arrancar ave estrangeira;undos pios de agonia*
epois revoa, chorandoo$re a praia e so$re o mar,
% se perde no hori-onte0ara outro dia assomar.
i-em ser a alma do pr/ncipeQue futuros vem contar*
0erderam seu rei, sua tri$oTerras altas de acar.
7eneg;mbia
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XXII - PRIMEIRAS-"GUAS
Ó tempo onde a poesia tam$2m nasce!
6oroa triunfal das mãos das auras,ãote louvor os animais contentes16onversa a nature-a com suas ervas16resce a vegetação, cantando o rio1
+ c2u de transparente a-ul, e os mares0ela corrente $alançosa o levam
)um leito de liquor* eu tam$2m vivo
+ c2u, a terra sorri,@rilham astros, nascem flores,
6antam aves na montanha,;ormosa estação de amores!
)as plantas do prado ameno;avnio passa e volteia,;alam naiades na fonte,
;ala na vaga a sereia*
)ovo o campo, a rBs esmalta,
&imosa cria a pular1Fisa fusca novilhinha
Anda a manada inquietar*
<oça as pontas aguçadas)o touro, foge ligeira,
6ava ou $erra, e na plan/cieoude3a incerta carreira.
=erdura matinal da criação!0rimeiros dias da e5istBncia, quando
)as mãos de eus o mundo palpitava!%ncantado pra-er da nature-a!)ua don-ela peregrina, cndida
A sair da espessura aos campos verdesA$rindo as flores, despertando os -2firos!' + hori-onte se em$ala, como os olhos
a formosura preguiçosos li$ram=agas frmas de amor* mati-a o monte1
0ela $ai5a odorante o inseto gira1A serrania se tra3ou de galas1
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%m seus galhos os troncos se encurvaramesdo$rando suas folhas vigorosas,
Aos esmaltes do sol pendendo a fruta1eitouse a onda, por adormentála
esce apenas galerno1 em seus clamores=ai quei5oso ri$eiro, qual perdido,As pedras compungindo e o penhasco.
o$re a margem do ri$eiro,)o regaço da espessura
Terno 7 vo- que$rada d(água%5alta o moço gentio
+s encantos da tapuia,a caça quando voltou1
)os seus $raços cor do cocooirado no man-ari,
e ramo em ramo o 3api,6huva de flores por ele,
e leito em leito a corrente,+lhando ao c2u descansou*
% tão ditoso de amores@rincos engendra cora ela,
Tecelhe as trancas corridas
% depois uma capela,% depois, de vivas tintas
%nchelhe a face de cores.
6omo minha alma s(engrandece ao verte0rinc/pio da e5istBncia do equador!)em os anos caducos envelhecem
)a -ona perenal, formosa, esplendida*)asce o inverno em cndida menina,
%ducada e nutrida do alvo leitea camponesa forte, e como a planta=içosa desenvolvese uma virgem '=e-es nos olhos centelhando o raio,
A $ela vo- nas asas do trovão,0elo corpo ro$usto lhe ondulando%sta vegetação d(:den ' 7s ve-ese uma triste-a pensativa e doce.
"ra vago contemplar ' ve-es risonha
e difundindo em trinos contendores)a fresquidão dos ramos, so$re a aurora
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A espalharse de amor ' ou se amostrando)a flor a$erta da geniparana,o maracu3á ro5o, aos afagos
a nature-a rindose, a fugirse
Aos seus $ei3os na ponta da vergntea.os castelos argBnteos do -od/aco=enha agora o verão, nem desfaleceandolhe o reino florescente a irmã,
Que seis meses depois torna a ser dela,Quando 7s flechas do sol o campo fuma
6alcinado e fendido e o vento move@ranco areai os astros retratando1
Quando dos montes para a $eira descemFedas tropas ' eu amo ouvir suas vo-es,
ormir na choça, levantarme cedo,A malhada mugindo a alvoroçarse,
6omo o grupo das nuvens no oriente.
+ $osque molemente se sacode)os vapores da terra em$alsamada1
As palmeiras se a$raçam pela encosta,Amorosas don-elas se esquivando
Aos enleios dos -2firos que gemem,
eus esgalhos e as pencas arre$entam,Aonde o sa$iá guarda o seu ninho,+s cachos pelo colo suspendidos10ericumã que passa $race3ando0elo longo d(areia ecos repete
a vo- dos vegetais, por toda a parte<enascente harmonia1 acordam os salmos
%ntre as aves palustres pela $ordaa a-ulada lagoa1 o cisne a corta;ormosa 3açanã dálhe acidentes
%rguendo as asas esmaltadas, longas1)a moita do capim depEe seus ovos,
Qual outros picam, qual 3á estão tirando1Atra/da ao seu canto uru$arana
=em no $ico morrer da $ela alcione1)os ares a araponga, alimentando
oce pom$asemf2l no ramo a prole.
Fá ronca o pecori, restruge a onça
as entranhas da $renha ' amor a leva,Amor a mata no cair da som$ra
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a ta$oca frondosa* as feras te amam,9nocente sorrir da nature-a!
<e#nemse os vaqueiros nos currais,
%stão ferrando o gado* as ancas fumam)a chapa dos senhores, $erra a ane3a*<ompemse as festas* das cortinas saltam
0ara o touro que parte e a vaca $ravae apro5imando inquieta 7 vo- dos filhos
9nda encostados* na plan/cie amansam+s poldros, e 7 parelha se desfilam.
0ercorre a $acalar o senhorio,+s agr/colas falam de suas lavras.
+ camponBs na r#stica choupana0assa alegre o serão 3unto da amante*8 terna viola que nas mãos lhe treme6omo em doce gemer se evaporando
eus amores reconta apai5onado;lores perenes aos que são ditosos
K&eu cipreste fatal que nunca murcha,6(oa negra lança me escrevendo letrasL*
CTe lem$ras, -agala, aindaQuando o amor nos ferio?
%sses dias tão formososa quente sesta do estio.%sses floridos no inverno;a-iam pelos meus olhos,
%u te não vendo, o inferno!Bs que a terça escurecia,6omo a noite eu a chorar*&ocho noturno me ouvia,
+uviame a lua $ranca)estes c2us a divagar1
9nda acordado me achava+ canário, o rou5inol
Quando a romper começava&imosas cançEes ao sol1
% eu so-inho levavaAs ovelhas 7s campinas1
)ão me alegravam matinas
%m lindo ro5o arre$ol...D% desperta, e dei5a o canto,
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)os olhos a prlhe um $ei3o*C6omo tudo está sorrindo,Jagala, que assim te ve3o!D
0or2m no prado da ri$eira guiam%m $alada amorosa alvo armentio1<elu- o orvalho no capim rasteiro,
Que mais se atenra pela som$ra irmã*% ali se $rindam de murtinho e flores,% em virentes 3uncais passam na sesta.
4ericumã, 185
XXIII - VAMOS 'UNTOS!
3u ser/s ma bergerette, .e serai ton "astoureau'
* nous chante l<alouette, * nous bondit le taureau(
;ormosa Ana dos campos, vem comigo,=amos ver pascentar nosso re$anho,6omo salta na relva o teu castanho
6arneirinho que tanto e tanto estimas*
=em tra-erlhe nas mãos cheiroso trevo,A lã mimosa lhe afagar* tremente=irá de manso, cndido, inocente
<esvalar em teus p2s, lam$er de amor.
A tarde 3á se estende na campina,% 3á $alando a ovelha a3unta os filhos
Tangendo para o cerco* os verdes trilhos,As alvas ancas d(alvas tetas $anha.
+ gado 2 todo alegre nesta quadraQuando a terra floriu, primeiras águas1
6ontente o peito humano esquece as magoas,+ >aneiro a sorrir pintando os montes.
<isonhos c2us, na lavra as plantas nascem*%rrar 2 doce os campos viridantes,
A vista dilatar pelas distantesolidEes melanc4licas, caladas1
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=er como $randamente em$ala o ventoAs folhas meneantes da palmeira,
6omo ao choro lá cantam da ri$eira
As aves que com ela vão descendo.
u$iremos o cimo da colunaA fresquidão go-ar da tarde amena,
as filhas do silvedo a cantilena)as som$ra da espessura realçando1
=er como do salgado 3á rumina)2dia manada 7 som$ra dos mangueiros,
6ontemplando das ondas os cru-eiros
Quando passa a canoa a navegar.
% depois, o serão gostoso e grato%m prática inocente e deleitosa*6ontarás em tua fala sonorosa
Aquilo que mais sou$e te agradar*
% eu te escutarei nessa harmoniaQue fa- minh(alma delirar, morrer!
A lua tão vaidosa em seu correr)os ares sentirá tanta ventura.
;ormosa Ana dos campos, vamos 3untos0elos s/tios do nosso alvo re$anho,
0ela relva onde $rinca o teu castanho6arneirinho gentil, que são teus mimos.
4ericumã, 185
XXIV - O INVERNO
ão lágrimas, são lágrimas fecundasA chuva no arvoredo carregado
Arrastando no chão sua flor e os ramos*%5ala o campo os mádidos aromasAs $or$oletas esmaltadas, $elas,
(asas largas e a-uis, aos mil confusos9nsetos de ouro* lá no $osque longe
+ lago $errador. ;resca roseiraToda a$erta de rosas encarnadas,
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omo um an3o da guarda se arrepia,ussurra ao $ei3aflor que ruge as asas,
efendendo suas filhas* e amoroso%le pia e fa- c/rculos, defuma
uas penas em seus $afos virginais10or2m, respeita a vo- materna e maga,&imosas folhas, e os $otEes que inclina+ viço esplBndido e o cristal ' humanas
on-elas, que verteis na mocidadeA r#$ea seiva que de e5cesso monta.
alve! felicidade melanc4lica,oce estação da som$ra e dos amores '%u amo o inverno do equador $rilhante!
A terra me parece mais sens/vel.Aqui as virgens não se despem negras
8 vo- do outono desdenhoso e d2spota,Ai delas fossem irmãs, filhas dos homens!
Aqui dos montes não nos foge o tronoessas aves perdidas, nem do prado
esaparece a flor. G co$ra mansa,6or d(a-ougue, tardia, um$rosa e d#ctil,
)o marfim do caminho endurecido
erpenteia, como onda de ca$elosa formosura no om$ro. A noite a lua,
Qual minha amante d(inocente riso,64(a face $ranca assentase nas palmas
a montanha estendendo os seus candores,&ãe da poesia, solitária, errante*
+ sol nem queima o c2u como os desertos,impáticas manhãs 2 sempre o dia.
eme 7s cançEes d(aldeia apai5onadas&4i saudoso violão* as vo-es cantam
6om náutico e celeste modulado.6hama 7s tácitas asas o silBncio
Ao repouso, aos amores* as torrentes0rolongam uma saudade que medita*
=aga contemplação descora um pouco+ adolescente e o velho* doce e triste
%u ve3o o meu sentir a nature-a<espirar do equador, selvagem $elae olhos alados de viver, 7 som$ra
Adormecendo d(árvore espaçosa.
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+ touro muge1 a ondulação passandoeita o 3unco, que torna a levantarse,
% de novo se acama e s(em$alança.A filha das soidEes e dos mist2rios
o meio dia e da tarde desmaiada,A mãe dos ais, a rola desgraçadaeme, geme! ' se cala a nature-a,
Tudo se despovoa e se deserta,%ntrando a revocar reminiscBncias,
Que a lem$rança perdida ela desperta.=Bse um gBnio a vagar por toda a parte
e mãos no rosto, de pendido colo% os 2$anos compridos em desfios '
%u amo o inverno! ' e o gBnio que divaga
escera coluna pelo vale 7s praias,% lá perante as águas pára e chora,9rmãs tão $elas que se simpati-am1
% os seus prantos consomemse nas fendas%negrecidas pela encosta parda.
6ai a tarde dos serros emanando+s vermelhos vapores do ocidente.
)ão teve sol o dia, suspendido
a chuva por detrás, vento nem houverosso orvalho se escoa na espessura*
+ c2u d(um a-ul vasto se evapora.ai da varanda do casal a filha,
Tão cheia da amplidão que está na tarde10ura e cndida e vaga, tudo amando,
6hega ao p2 de uma flor, afagaa e passa,6omo quem disse Cnão 2s tuD* se nascemas ervas que a rodeiam com suas flores
@or$oletas de prata, se estremecem% vem suas asas lhe encostar nos $raços,
0ousar em seu vestido e seus ca$elosos seios almos umectando a alvura.=irgem das $renhas, eu no teu regaçoormirei plácido? eu nesses teus olhosFongos esquecerei meu pensamento,+ coração de amores s(inflamando?...
=ai distra/da pela estrada nova,o ca3u ru$ro e o limoeiro em fruto
)o manto florescido se enco$rindo.%u amo o inverno! 4 mata silenciosa,
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+nde suspira a nam$upreta, e cantasalmos o sa$iá d(/ntimas harpas!
eu mais um passo a nature-a, e nasce
A vi ração mimosa do crep#sculo*Quando a canoa do ana3á se a$rindoa parte do poente a flor mi#da
(e$#rnea fenda pelo tronco entorna,6omo a p2rola corre perfumada
os lá$ios de uma esposa1 se desprende"m coco e fa- a vi$ração no solo.
A cigarra se esvai penosa, e morre.' á mais um passo a nature-a, e s(ergue
)oturna $risa pelos negros ramos1
% 3á somente senhoreia a noite>uncada de luar. %spasma os gritos
+ urutau/ na um$au$eira alvar,Tão conchegado a se perder no tronco,6omo se o tronco que desconcertasse
"ma vo- vegetal pelas soidEes.Qual d(estrelas em p4 que os c2us filtrassem,
Treme o hori-onte de folhame argBnteo,orme aos piados de desagasalho
o ca$or2 friento. Agora estendese"ma nuvem de chum$o* e n(alta noiteemia a chuva* a madrugada 2 $ela,Finda menina a amanhecer na fonte.
%strala a ave no $osque, aves ignotas<ompem alegre matinada* o rio%nlaça o p2 da languida 3ussara,
+nde o tucano em$alase engasgado6antando so$re os cachos* -um$e a a$elha,
A silvestre uruçu se envermelhece)os #midos mati-es, se revolve)a dourada resina que destila
+ $acuripanã de amenos $álsamos% amorenada fruta. + sol fechouse.
oida acorda a ave-inha que dormia,An3o da tempestade, ela a conhece,% começa a gritar voando inquieta*
+s ramos fervem* fogem se a$rigando0ela $arreira os r4seos trova dores1
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% ela s4 temperasse estridente(/gneos carmes! o cedro range e os montes,
% entre os p4los van-eia a tempestade*=ai lançada tinindo pelas nu v2us
6ontra os trovEes que se arre$entam1 guinchaeguindo o raio, e, no cru-ar dos ares,as asas solta el2tricas fa/scas!
6omo ela, tam$2m pre-o os $alançoso vendaval furioso e do relmpago,% minha alma agitar na vo- dos c2us.
%u amo o inverno! aqui durmo de amores,<edo$rando a galharda seriquara
)os $am$urrais do rio1 a espreguiçarse)a montanha a palmeira ao doce fluido
o áureo dedo do sol, doirada fBni5A renascerse da cin2rea noite '
+u minh(alma agitando 7 vo- dos c2us.Maranhão
XXV - " PARTIDA DE UM VELHO EN$ERMO
C% eu dei5ar este c2u... como este clima
)a sua eternidade de verdura...Ó maravilha vegetal do :den!
Trinta anos passei, como nos $erços(uma hora encantada* ouvia apenasArrastaremse as águas pelos vales,
%m seus saltos partidas so$re a rocha...+h, vi por toda parte a nature-a
%loquente, orgulhosa em ma3estade6omo a lua de Agosto em flor a$erta!
;i- aqui minha pátria... ho3e estrangeiro+ filho teu verás, fria ermnia,%rrante e deslocado como a ave
Que desconhece ao manhecer seu pouso1% t/mido o meu passo não se fi5a
0elas margens do <eno... ah, sorte do homem!% eu dei5ar este c2u... )em vim faminto
omente ouro $uscar* amei no peito&inha alma dilatar ante a harmonia1
%5tenso o coração sentir rugindo,
&eu ser engrandecendo!... Adeus, @rasil!...D+s olhos alimpando, assim falava
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+ tão no$re ancião descendo 7s praias)o seu enfermo andar* em$arca1 e a vista
%lástica dei5ava so$re a terra6omo presa, quando ele 3á navega.
As costas para o rumo do navio,%ncostado na popa, em longo prantoeneroso desfa- os c2us e o monte+nde 3a- o gigante, e so$ os mares
+ <iode>aneiro se escondia1% ele inda nos p2s se suspendendo0rocura as cumiadas no hori-onte.
XXVI - $RAGMENTOS DO MAR
*( )(4aris
Adeus, 4 Fu5em$ourg d(árvores grandes,(estátuas $elas e marm4reo lago,
%u não vos verei mais! 6horai comigo,%u s4 não vos amei, tam$2m me amastes,
)o estrondo vegetal ouvi meu nome 'Adeus, Fu5em$ourg! Tronco d(outrora,
;rondoso castanheiro, a cu3a som$ra&editava as liçEes d(alta or$ona,
&eu velho amigo aonde eu recosteime6heia a ca$eça dessa vida d(alma
Que as sonoras paredes e5alavam,Qual feridas do eco d(eloquBncia
o F2vOque e aint&arc, senti meu peitoA$raçarvos! da casca onde eu vos $ei3o<e$ente um galho, e nele um nome viva.
9nda ontem, dos ramos d(esmeralda6heirosa e fresca e doce primavera%scorr/eis em mim* ho3e somente%stremeceis 7 minha vo-, adeus!
@risas do Fu5em$ourg e as flores dele.
Qual dos $osques saindo, ainda se armaA vo- da pátria mori$unda a filha
o pastor, generoso an3o da guerra!;oi seu primeiro amor a li$erdade,
eu esposo fatal desfalecendo0or entre os homens! % ela enverga a espada,
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+s seios tece virginais e a fronte(aço lu-ido, e a cru- pende do 6risto
)o cinto feminino. %ila hero/na!ando pátria 7 sua pátria, ao rei sua c(roa1
A sua vo- de >osu2 treme +rleans%sperançosa1 e despese do manto%nsanguentado que a cercava opressa.
%ila atada a coluna, qual detida0ara aos c2us não voai pelas suas asas
Que as chamas crestam e os vales de <uãoa fogueira sua vo- separam e di-em*C=endida na traição fraterna... vedea,
C&ártir do amor da pátriaD1 4 dores d(alma!Aurora $oreal nos c2us suspensa,
% de vergonha a terra envermelheceAo long/nquo clarão. 0assando o vento,As aves que a rodeiam quando canta o
)a vi-inha ramagem, todos 3untos,Con-ela d(Are!D repetimos sempre.
% de uma a uma percorria as alasestas mulheres mudas, pelo nome
6hamandoas e di-endolhes sua morte.
Fedo casal de cisnes so$re o lago6orta dois sulcos docemente iguais*%u peço a eus a vida destas aves,% uma esposa feli-, an3o, amorosa,
&anso e piedoso e cndido cordeiro,&udos levando assim nossa e5istBncia.
Quantas meninas vão por entre as florese $elas graças, de formoso corpo!
0isando a relva de iana a casta&ontanhesa e da mágica =elleda*=irgens materiais, 4 lindas flores!
Humanas flores, cndidas don-elas!&inh(alma diante v4s ama e revive
%m sol, orvalho, amor, $risas desfeita.
%u parto, a torre 3á marcou meu tempo,Adeus, Fu5em$ourg! 9nda as muralhas
0assando eu vou $ater co(as minhas mãos
a longeva or$ona, a mãe das letras19nda uma ve- eu vou mirarlhe as ondas,
8/18/2019 Harpas Selvagens
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6omo a desoras ao luar do enao$re a ponte das artes de$ruçado
9ndo 7 pátria, indo 7 pátria 7s vo-es d(água.
olfo de @iscaia.6omo fogeme a terra dos p2s,(envolvendo nesse amplo hori-onte!
=ãose terras da ;rança, perdidas!Fá sumiuse 0aris trás do monte*
6omo o sol quando no ocaso0alpitante desfalece.
uvida um(hora entre nuvens,0or nuvens desaparece.
Ce3as feli-!D me disseram.e3as feli-... ah, quem dera!
)ão mais que um dia! e mais triste)a minha infncia eu morrera.
Quantas lágrimas dásme, 4 $ela ;rança!A$rivos, solidEes, quero chorar1
@risas da noite, emudecei1 oceano,
A$afai minha vo- nas vossas ondas...
%lo vasto de vo-es grasnadoras+ hori-onte cingiu, se enrouquecendoD.
+ vento alevantou1 gritaram aves0elo em torno da nau1 procura a$rigo
A andorinha nas velas1 meio corpo%rguemse os pei5es1 enfurece o mar1
6ru-am raios no c2u em ve- d(estrelas,0ousam nos montes de suspensas nuvens,<aios nos mastros pousam* tudo horrores
% raiva, tudo ameaça! o claro verde,+ puro a-ul das águas florescidas,
6omo campo murchou, que sangue anegra.Amo viver no seio compulsado
o vendaval, $atendo impuras asase n4cteo corvo1 os ares corta o $osque,
"iva o mar 7 sua som$ra fugitiva*% minha alma estremeça muito em$ora,
A morte os om$ros a calcarme, amigo&inha face afagando 7 fala ao menos
8/18/2019 Harpas Selvagens
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)ão dorme no 4cio de cansada pa-.' %ncastelamse as ondas* qual cidade
(homens, que no orgulho vão suspendemeus ricos tetos som$reando os vales
% a casa humilde do pastor, que os raiosAqueciam do sol su$indo os montes.
á sinal de perigo, leva rota@andeira de socorro ao mastar2u*
Fi$rados todos vão, ningu2m socorre,)as asas infernais da tempestade.
)em olha eus 7 terra, o c2u fechouse.A vo- do oficial apenas se ouve
F#gu$re, como o vento que falasse,
+u da vela que rasgase e desfraldaAntes de ser colhida. Homens tão fracos,
+ que fa-eis agora murmurandoe$ai5o do conv2s, mudado o rosto?...
' % a não que passou desarvorada,Qual ferido tapir salvando a$ismos,
Fá que$rouse na ponta do rochedo 'ormindo, mudo! e os mares levantaram
ua vo- noturna 7 vo- da ventania,
Aves, que no cair da presa mortaoltam em desordem triunfante grito.FamentaçEes humanas, tudo a morte<espirou, consumiu em si, somente
%sparsos restos do naufrágio ondeiam*anguinárias coroas tem na fronte,+ medonho livor mais carregando.
% as vagas toam, e t#midas se atiramo$re as vagas ' mulheres desgraçadas,
0erdidos filhos, seus esposos mortos.
+ tempo serenou1 rise o sem$lante,6omo vai se compondo o mar* 3á so$em
8 co$erta, 7s ru/nas se arrepiam,Que 3a-em como a selva descomada.
6anta o nauta, redondamse alvos panos.0or ver $rincar o atum, se a3untam ledos
A tarde so$re a $orda os passageiros.
ensas nuvens de fumo doloroso;a-emse em tiras, despregadas caem
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Atrav2s do hori-onte* a lua francaA$re seus seios de don-ela, e despe
eus vestidos no mar, como estas ondasArdentia de prata espane3ando1
6ndidas pom$as vaporosas voam,Tecem com as asas por seu rosto um v2u '&enina ru$ra pondo a mão nos olhos
"m(hora se escondeu, um(hora os astrosAmostram seu $rilhar, depois se apagão.
A lua feminina, 2 fresca noiva*As $rancas nuvens que a rodeiam manso
+s en5ovais de sedas ondulantes1+ c2u cheio d(estrelas o seu templo
+nde espera o amante, incensos auras1
% o oceano os 4rgãos levantando%m doces, divinais epitalmios.
)a $atida em que vai, fare3a e resnaAlado negro cão mordendo as ondas.%u s4 medito, a eus s4 me alevanto1
6onfusa multidão povoa errante+ conv2s, e da terra os homens falam*
0ara eles 2 mudo o isolamento
o mar, caindo a tarde fria e triste.% o mar som$rio despenteia a grenha,
escrente e sem esp(rança, de loucura,e frenesi, que o desespero arrasta*
%ngolirnos d(um golpe, os nossos ossosespedaçar o ve3o num momento!
% os homens re#nemse, amontoam+uro sanguinho e 3ogam1 se enraivecem
"ns contra os outros, sfregos de sangue.)a vo- da nature-a o eus nem ouvem!Amote, 4 mar, em louca tempestade,
&ais do que os homens com $onança n(alma16om as cousas do mundo eles procuram
+ %terno esquecer! são condenadoserrando ouvidos, sacudindo a fronte
8 3ustiça que falalhes da v/tima,Que geme ainda ensanguentada e quente.
Traga o dia so$re a fronte
Aurora láctea dourada,+u distante precipite
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%m som$ra negra e pesadaanguento ocaso a seus p2s*
' eus quem 2? quem 2 que adoro? '
%stas vagas eloquentesAo seio desçam das águas,%rgam seu colo, se empinem,e despedacem nas fráguas,6onvulsas, enfermas, $elas*
' eus quem 2? quem 2 que adoro? '
A onda pergunta ao vento,Quando a levanta a passar1&as o vento a despertava*
0ara lam$em perguntar*% a mesma vo- se repele,=agando de mar era mar.
% somente a mude- destes desertose responde ao seu eco no infinito.
7erras de Cintra
+h, ma3estade do oceano! eu vite
Ampla fronte de c2u de eus* so$re ela,6omo ante o sol nevoeiro transparente,
+ pensamento em ondas infinitas0assar... passar! e calmo o rei do s2c(9o)em toscane3a ou estremece a testa.
%u sentime nascer, e tu me visteTur$ado nos teus olhos, era um raioQue mais l#cido raio engole e apaga*
6alor vital correume pelas veiase prisioneiro que por muitos anos;echado em negros cárceres a vista
A$re ao dia, e de 3#$ilo pranteia,elira o coração, de vida e5ulta!
6omparava tua fronte esse universoe sentimento e meditar que e5ala1%u pesava tua vo- nos meus ouvidos
6onsultando a harmonia1 um ar celeste0alpitava umas ondas rodeandote.
uia na cerração, $ei3ei tua destra,Que se esfria nos anos mergulhada,
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6o$erta dessas rugas generosas1%ssa mão su3eitada envelhecida)o doce cativeiro das insnias,
%m metro moldurando o pensamento*
% de tua ve-, senil, piedoso pranto%m teus olhos que$rouse! 4 sentimento,Que $rande 7 alma do poeta sempre virgem
F/mpido choro, que os verEes não seção!
0ensador solitário, 4rfão, proscrito0oeta! eilo assentado1 estão com ele
omente os seus dois cães, 3unto 7 lareira,@rancos como a candura1 mansos, t/midos
6omo a fidelidade. % não encontras
)os homens um amigo? e os animaisAmamte mudos e naturalmente.
A pa- te rodeava, e nas paredes0endiam quadros dos que amaste, e foram1
% todos no silBncio da saudadeA página da vida pareciam
esenrolar a li, cora a vista lenta&emorando o passado. Qual se mem$ro
essa fam/lia eu fora, há longo tempo0erdido, ausente, no meu lar chegado,
enti minh(alma a$rirse ingBnua e largaA $randa atmosfera que eu respiro*
"m dos cães te afagava, como vendo)os teus olhos lu-ir o amor paterno1
+ outro vinha a mim lam$erme a face% as mãos, inquieto de alegria e festas
;elicitarme do rever meu pai!
%u parti1 tu virás 7 pátria verme.
%is, minh(alma se e5pande! 6omo o ventoTão livre e solto, meu irmão me entende,&e esperta e espalha pela fronte ardente
6om pedaços de nuvens meus ca$elos!Qual amigos achados, que se a$raçam
+ coração no coração vi$rando(entusiasmo, e ofegos derramam
a $oca a$erta generosa chama,% os sentimentos 7s feiçEes remontam.
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Aqui @Mron cantou. &esmo esta pedra,Que ora sente uma gota fria e rápidao meu pranto que apaga a viração,
Talve- estremecera de escutálo,Qual do raio ferida. +h! me pareceQue aqui te ve3o, 4 @Mron, a meu lado,A rainha esquerda unido me incitando
Ao desespero da descrença imiga6om tua vo- infernal ' verdade horr/vel!
' % 7 minha destra o tenho, an3o da guarda0reso a meu $raço contra a forca tua,
&e arrancando de ti* co(um dedo santoApontame p(ra o sol que sai das serras
0iedoso Famartine! e o penhasco@randia e geme no pesar da luta*
% d(um lado o demnio e o an3o d(outro,% eu no meio, minh(alma despedaçam!
' =oa comigo, 4 an3o, nas tuas asas6ndidas salvame* o demnio em$ora&e persiga mostrandome os meus dias6omo são desgraçados... por2m, antes
;ala- esp(rança, que a descrença eterna.
Aqui tam$2m virás, sol dos teus dias,ol dos dias depois, de todo o tempo,
e tua ve- suspirar* e tu, 4 pedra,Hás de moverte então, e não do medo
a tempestade $ela, e nem do pioa andorinha perdida que não so$e,
Que nas fendas descai1 por2m de ouviloTão sonoro e divino, que no monte
%m$atendose os montes e os penedos,% o olmo e o pinheiro, que de antigos
0assa o vento e não do$ramse ' entoaram6omo o coro do templo 7 vo- solene
Que do altar se levanta* o plano e o valeAos c2us, aos mares levaram seus ecos*
% do seio dormente a nature-a9gnoto o canto universal desperte!
+h, minha alma s(e5pande! ampla se e5ala
)o c2u! e o corpo que terreno 7 terraFanguido cai, ainda 2 $elo verse
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Que $elo templo, se aca$ado o mundo!)atural harmonia a um eus somente,"ma vista, uma vo-1 não este inferno*
+ $ruto contra o $ruto, o homem do homem
%scondese da terra nas entranhas!A fera amara ao cndido cordeiro,)em de morte manchara a lã mimosa1As aves não perderamse nas nuvens
0erdendo o ninho e o $osque de medrosas1)em os filhos do 6risto sangrariam
)em morreram na lança muçulmana1)ão viram tantos s2culos idolatras
euses de ouro $anhar fumante sangue*+ mar sempre $onança, o c2u d(auroras,
+ raio não voara entre o negrume0ousar no velho tronco, ave de fogo,% fa-Blo cair, gritando aos homens!
Ó grande-a su$lime! oh, eu quisera=er com meus olhos esse dia, quando
+ eco da palavra era o nascer,ravitar e cair, o amontoar
os seres ' confusão negre3a os ares,
)(hora tudo surgindo! oh, eu quisera&eus ouvidos nutrir desses terroreso fracasso das águas e dos montes,
% ver divino o vulto suspendido0elo espaço, que rasgase ante dele,
Atrás dele ondulando! A$erta e franca)asce a lua sem cPr, cintilam astros,
Fampeia o sol... 0or2m, meu eus di-iaQue s4 ho3e eu devera remontarmeAo princ/pio e nascer, e contemplar,<ugir d(ignaro, e de $lasfBmias ve-es+s lá$ios escumar, fender minh(alma!
% $ando alado de fantasmas giram%m manadas no ar comosas nuvensQue o pastor Aquilão condu- ao sul*
&(envolvem, passam, amam estar comigoA minha imagem pro3etando nelas10ela face do sol se espalham lentas,
+ plano e o monte som$reando, e as floresArrefecendo e os homens do tra$alho.
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A lua desmaiada está na serrae saudade e luar $anhando o p/ncaro*
impatia e candor trou5e no rosto
Que move a terra, qu(emudece ao vBla.o$re a grama cheirosa estendo o corpo,)um meio sono amolecidos olhos,
TrBmulos raios so$re as minhas pálpe$ras%nvergam seus fulgores, que anteve3o
;rescos, long/nquos, l/mpidos, saudosos,6omo a lu- virginal d(alvas deleite.
' : tarde pura* muito longe encontro,Tão longe! apenas onde a vista alcança,
6omo elásticas águas se estendendo,
6omo restos de lu-, mimosa relvaAmena e verde1 um(árvore a som$reia
Que $elo monstro enrola, e frutos pende."m homem como o dia transparente,
<odeado de sol, com frmas de homem,&as, que as perde se as $uscas, que 2 tamanho,
Que na simple unidade 2 s4 vis/vel!Fá está no cume de dourado3nonte*"m formoso casal anda a seu lado
e ro$usto mance$o e loura moca,<edondos seios e os ca$elos lisos,9nocentes $rincando com as feras
Que andam tão mansas que não fa-em mal.+ vulto cristalino contemplando
A harmonia geral da criação,9nterdi- um s4 fruto! e os a$ençoa*%ntrou no seu repouso as se5to dia,
)o cair do ocidente... Horror! das nuvensFonga espada de fogo meneando,
@radando um an3o dentro d(asas desceG vo- de maldição tudo se aterra!
;ogem deles os $rutos! vão $anidos,6oitados...=ão chorando desses campos...
Fá se assentaram tão cansados... olham0ara trás de saudade... árida a terra
>á regam de suor, pedindo um fruto...0erseguidos do inseto o corpo co$rem,
antes tão $elo ao sol!... filhos 3á nascem
0ervertidos tam$2m* nascem nas doresa mãe, que hão de amanhã, seios que os criam,
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0artir de mágoa... de mis2ria os homens>á desfa-emse! ' + c2u cresce d(encantos1)a porta da choupana há quem m(espere*
As vo-es de &acia as serras desço,
<espondendo ao meu nome, que ela chama.
+h, selvagem que eu sou* maldigo um(horaA inocBncia que eu amo! ela inda n(alva
TrBmula, esquiva e t/mida de verme,As ve-es so$ressalta, aperta os seios6omo sustendo o coração que foge
6o(as mãos frias e $rancas1 se enru$esce)as faces am$as, e seus lá$ios tremem,
% seus olhos fugaces não se filam
o$re os meus... e ela amame! ela foge!% eu... quero assentála em meus 3oelhos,
6orrer a minha mão nos seus ca$elos,6o$rila minha irmã toda de $ei3os,
)utrirme da sua fala... +h, desespero!%u manchála ela teme! e 3á tem n(alma%sse amor de mulher, o amor do go-o,
ele em$ora estremeça?... + an3o! 4 virgem!&eu amor não 2 esse, o amor da fera*
%u nutrome de amar, vivo porque amo(e5istBncia e poesia encher minh(alma,Que não de torpe e languida e cansada
%svaece em desmaios, e os sentidos6om o pensamento em$rutecido morrem.
&as, idade feli-! po$re inocente,Ho3e teus olhos s4 movem teu peito,Teus ouvidos tua vo-. Fá vai cantandoeus cnticos d(infncia, que sua mãe
%nsinoulhe levar a eus. % eu ru3o,)ão sei de que... de amor! $race3o os $raços,
acudo a fronte ao respirar mais livre.+h, não cantes* se queres que eu te escute,
e3a dos meus 3oelhos, an3o! virgem!' Aqui eu vivo* em mim tudo renasce,
entimento de amor e d(esperançaQue a multidão gastavame do peito.
3e#o
Quando o sol de al2m das nuvensespe3a os raios no mar,
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Todo encarnado o hori-onte,Fonge, longe a se afastar,6omeçam auras do Te3oA$erta vela a em$alar.
"m chora o adeus da pátria,"ra cai nos $raços do amigo
audosos, sem perigo1Aquele $ei3ou sua mãe.
"ma s4, mimosa e virgem,)ão teve quem a$raçar,
o pai aos lados pendente6orria a vista no mar.
Tão 4rfã! tão piedosa... eu logo ameia% para sempre! eu creio... e a virgem amoume!
Tinha tre-e anos de idade!9dade da transição,
Quando da vida assaltadaente mimosa emoção.
;ormosa e pálida e $ela,Toda e5pansiva de amor,
)a graça pudica verte%manaçEes de pudor.
Am$os n4s 4rfãos na terra,Achados acaso assim...
&eus olhos iam so$re ela,eus olhos vem so$re mim.
%is vultos nascem no hori-onte, crescem,Assom$ram c2us e mar* quem sois, fantasmas?
esco$ri vosso rosto e os vossos olhos...6intra! 6intra, que sem mim ficais!
Tudo de lá me acena, 4 meus amores,&onte saudoso, 4 0ena! que me ouvias,@race3ando com as nuvens e orgulhoso
o c2u, do sol, meu canto qu(ensinavas.
Tudo me acena! as fontes mais suspiram,&aria 3ovem lá me $ate o lenço
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Alvo como ela, e #mido do pranto6omo o seu peito, que como ele ondula1
Alvoroçada grita... ai! que parece6(os os $raços arrancar a alma e mandarm(a*
i-erme Cnovo amor guardamte os mares*C&e foges* lá nos c2us te encontrarei...DTão nova, como as $reves primaveras
Que tem florido nesse vale ameno.' Ó $ela 6intra! arrancame, saudade,
&eu coração do peito, e que palpiteo$re as ondas da serra1 ou v4s, 4 penhas.
&ontes, ergueivos, me segui com ela!6intra! 6intra, que ficais! 4 mares,
Que a verde coma desfolhais ao vento,
)ão regaceis o vosso colo undoso0ara enco$rila... 4 nuvens derrocadas,
)ão cai diante mim... Ó 6intra! 4 6intra!Qual meus olhos no pranto, vos sepultam
)o 2ter espaçoso os hori-ontes...lha de 7( icente
8 palavra de eus caia o mundo*;oi um gigante o que surgiu no espaço!
(homem que era, a$rindo os olhos ávidos% a garganta inflamada, hiante ' rise,
>ulgando seu irmão defronte dele '% so$re o 6riador, 7 imagem humana
%nquanto sua o$ra contemplava um pouco,Fançase! ' eus se retirou de um lado*% devorando o viu sua pr4pria som$ra,=eloso coração rangendo, um monte
)as cavernas do peito! de cansaçoA l/ngua pendurava, imensa serpe,
6omo espada de sangue fumegandoQue de dentro dos om$ros arrancasse!
Horrendo $erro, como o vendaval.As nuvens separou ' no desengano*
% de novo a ca$eça suspendendo,+ndulante muralha se antepunha
% o monstro gira por detrás mugindo.' %ntão, contra esse filho o eus dos astros
eu raio d(indignado fulminando,
+ fe- despedaçar* di- Cdo teu sangue+ oceano se forme, e dos teus mem$ros
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A dura terra, que produ-a vermes6omo tu 2sD* e novos homens nascera,)asce a serpe o germina a morte deles1% este mar de verdete 2 sangue humana
Acre, e sempre a ferver polutas fe-es1A mais árida rocha, onde se que$ram=entos, naufrágios co$rem, e nunca treme,
=em do seu coração1 e os outros 4rgãosão essas outras terras, mato, a$rolhos1
% o homem que do c2re$ro lhe sai,0ior do que ele foi aqui respira,6omo essBncia volátil delet2ria,
&/nimo em corpo, em ser cruel grand/ssimo!
0orque não repousais uma hora, oceano?6omo o esp/rito do homem, que não dorme
At2 morrer! um eco indo passando0ela esfera* Cquem sou? quem deume o ser?+nde me levam? donde eu vim?...D perdeuse
=os espera tam$2m o fim do homem?Quão grande não será, solene e $ela,
e vossa morte a hora! num momentoulcando o c2u, qual raio luminoso,
o aceno da mão divina a som$ra,6ontraireis1 d(imenso estremecendo% como a vacilar da vo- que ouvistes,
Fevantando um gemido ' e depois... nada!% como o homem, sem sa$er que fostes,
=ossas cin-as varrendo o vento leva0elas soidEes sem fim. Que sois, oceano?
%terna agitação, suspiro eternoTendes no seio* emudecei, dormi...
)ão podeis, qual minha alma, e força oculta,Que sempre contra mim se ergue e me que$ra
6omo hástea resistente, vos ameaça*Al2m a tempestade se revolve
0ara açoitarvos. >á, como eu, convulso<ugis, lutais1 como eu v4s pereceis,
esangrado cais* inda e5pirandoomos irmãos, oceano, inda o $uscamos '
%m$alde! e sem viver n4s morreremos.' %rguei, erguei a vo-! ide entre os astros,
@atei as praias, sacudi os montes,espertai o universo, que responda,
8/18/2019 Harpas Selvagens
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As ve-es em tempestade,&uitas ve-es em $onança*0or2m vãose desondandoA nossa vida 2 mudança.
G tarde, quando o sol da Isfera atirase% no ocidente, qual guerreiro, morre
(al2m fun2reas nuvens que suspensas&il $i-arras figuras, mil castelos,
elvas, rui nas pelo c2u desenham,9ludindo de maga fantasia
<u$ras campinas solitárias, amplas,6omo 3uncadas de sangu/nea relva,
A som$ra de um com$ate que ficara,
Que pelas fendas dei5am ver as nuvensTão longe! so$re o sol pousa minh(alma,>untos naufragam. %ntão amo perderme
)a soledade et2rea, e divagandoG discrição da minha imagem, eu erro.&as a tarde s(esvai, os c2us s(estrelam,
A meditar cansado ora me assento)oturno e triste na sonora proa,
olitário co(o mar e a fresca $risa1
+ pensamento a$erto, mas torvadoa grande-a ideal, pasma somente,
Admira e não sente o que compreende,6omo de amor em$rutecido, cai.
%rrante, agora me de$ruço 7 $orda,=endo as ondas passar em$ranquecidas
6omo plumas de cisne, minha fronteA umedecer de p4. e noite eu ve3o0ovoado de som$ras, de florestas,e fogos de pastor o mar deserto,
% rodeado de mude-, acordo.Ana roçoume o $raço* fria, trBmula
0elas som$ras procurame* CQue eu ve3oDTanta triste-a e solidão na lua alma!
%nchea de mim... Tua fronte desdo$radaAo longo pensamento, o que tens nelaQue a fa- tão pálida e piedosa e doce6omo a lu- do crep#sculo long/nquo?
Que frie-a te $anha o coração!
&urchando como 7 vo- d(ave agoureiraAmanhã inda há sol... não morres ho3e...
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+h! desperta, $rinquemos nesta idadea risonha manhã, nevada e pura,
@or$oletas do campo, a flor colhamos!D
% eu sonhava* e eu vime solitário,+lhando o espaço $alançando estrelas.
% esses sonhos que eu via, onde 3á forama apai5onada aurora? e foise o dia*
% eu que fui? e amanhã, quando outro solFançandose em seu vo arre$atado(água que se a$re para o cume a-ul
)ovos sonhos prestarme e nova esp(rança,Que eu serei amanhã, nesse outro dia?...
%u não tenho amanhã* minha e5istBnciaToda aca$o sempre ho3e, em$ora triste,
&ais triste o meu porvir me aterra sempre.
% tu, esperança, e tu, consoladorae todos, que me falas? oh, não queiras
&ais perseguirme1 vaite, 4 inimiga,ão mui longas tuas horas, mui comprido
Tu me fa-es o tempo... que ele passe
0ara mim, como um ai de mori$undo!%nfadonha, pesada, a$orrecida,
Ó vida d(esperança, que 2s penosaTortura deste inferno do e5istBncia!
&anga esvelta das nuvens se despenha;are3ando o mar, penoso e longe
A vo- das vagas se em$ateu no ocaso*"m $raço de gigante monstruoso(et2rea serrania se alongando
0enetra as águas, famintando presaAs entranhas revolve1 longas ondas+ rodeiam e $rave3am, como feras
eus irmãos defendendo* lentamente,e um pulso cheio, convulsivo, igual,9ndiferente vai colhendo, engoleas,
% se recolhe, e so$re o peito encru-a.% o chuveiro passou, desfe-se a trom$a,
A onda que a $ei3ava ao mar se aplana
e recentes rosais* assim da torre+ preso se de$ruça e estende o corpo
8/18/2019 Harpas Selvagens
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0or a amante chegar, que se suspende)as pontas do alvo p2, que as mãos se tocam
(uma invis/vel atração chegadas.=olta 7s som$ras da torre o prisioneiro1
0elas paredes resvalou saudosaQual raio fugitivo, e desparece.
&eneia a larga cauda e as $ar$atanasFimoso leviatã cheio de conchas
6om dorso de rochedo que ondas cercam16ristalinos pendEes planta nas ventas,
e $rilhantes vapores, que em $andeiras/ris enrolam de formosa som$ra.)egra fragata lá circula as asas
o$re a nuvem dos pei5es voadores.Agora rompe a não lenç4is infindos
Que o mar t2pido choca, e vindo a aurora>á salta a criação d(escamas $elas.
=em formosa galera a largos panosArque3ando ansiosa1 silva o apito,A cortesia náutica respondese.>á ia $em mon4tona a viagem
)esta mortificante calmaria*Tristes campinas da água, se não foram%ssas novas surdindovos dos flancos,;a-endo de alegria estes sem$lantes,+u torva tempestade a desfa-Blos.
e novo 3á nos vamos isolando*Apenas desta ilha so$re ess(outra,
Que vai ficando atrás do p4 que erguemos,+s olhos inda estão1 e os meus somente
0rocuram naufragar, morrer... quem dera0orto de salvação onde ancorassem!
' "m mar tempestuoso eu tenho dentro,6omo este mar desesperado eu ando*
%stes raios da noite almofluentes)ão me afagam. A lua cor das alvas
Atravessa o ocidente matutino,H4stia cristã nas sacrossantas aras1
%m fogos de ru$i fronteira rosa,Fu-ente cáli5 se suspende no ar
0ela mão invis/vel criadorao sacerdote rei, do eus dos astros.
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81
)em as horas do sol são minhas horas,A noite para mim perde o seu sono,
)em 2 meu nem sou dele o mundo ' eu amo!
Quem foi que t(ensinou tão triste pouso,Ó solitária virgem? onde vagueiamTeus pensamentos? que um suspiro corta
)esse mimoso, cndido, tenu/ssimoArfar ' teus seios l/mpidos se erguendo
9gualmente, e de ti mesma esquecida,Teus olhos onde vão? quanto 2s do c2u0ousada assim! de claroa-ul vestida,
%svelta e simples, singele-a toda,esma-elada e virginal e infante,
)o $raço longo reclinada, n(haste@otam pendido ao cristalino peso
a aromosa manhã. =e-es s(enrugamTua fronte e os olhos, so$ o pensamento
Que numa ave passou na face d(água."ra doce encanto, amores espontneos
6orrem como onda do teu rosto, e o corpoQue$rado pelo meio! % tu nem pensas,
0o$re inocente, o ar que tu respiras
: minha vida derramada em torno.
&eu pensamento delirante, oh, nunca6o(essas asas não voes! ave atrevida,
Arro3ada num c2u deliciosoe fantasias magas! tenho -elos
o meu louco ideal pensando nela,Jelos dos sonhos meus minh(alma açoito,<epreendo os meus olhos, meus dese3os,
Quando por ela l/quidos fluindo,Querem morrer, devanear d(amores
esterrados por ela e tão coitada,Tão d(inocente mansidão... Horror!
+h, remorsos! mancheia na minh(alma*om$rio a$ismo, um antro, a$rime o inferno,
+nde eu possa esconderme do meu eus!Costas do =rasil
alve! p/ncaros frondosos
o meu frondoso @rasil,+s p2s em verde esmeralda,
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A fronte num c2u de anil.
ão meus irmãos estes aresQue vem meu rosto afagar,
)o meu encontro saudosos6orrendo por so$re o mar.
As aves so$em que eu venho,%scuto seu doce canto
)a montanha realçando
0elo c2u longo descanto.<eque$randose as palmeiras
<espiram suavemente,
6omo virgens encantadas1
+ regato ergue a corrente.+ sol desonda seus raios0elos decl/vios do monte1As nuvens se purpureiam,
=estem galas o hori-onte*6omo a fam/lia que espera
+ filho por muito ausente,%m festas tudo se enova,Tudo alvoroça contente.
Ó terras que o ser me deram,<ecolheime em vosso seio,
6omo os irmãos a >os2,Quando d(escravo lhes veio.
a cara pátria, 4 musa do crep#sculo,Ao c2u a-ul que está sorrindo, acorda+s pretos olhos, e os ca$elos d(2$ano
Aos ventos, solta aos ventos, doce amada!A vo- d(alma desprende 7 vo- do monte
as palmeiras sonoras e dos rios
Que nos campos se erguendo ao mar se lançam!Ó musa, 4 musa! acorda o sono eternoo leito de al2mmar, da fria %uropa.
8 som$ra do deserto, erguido o vento,o$ tuas mãos tuas harpas se desatem*
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e tua ve- adormenta a selva antigaQue te sou$e educar feli- d(outrora)a vida maternal d(alva dos anos,
%scutarte o vagido acalentado
)o canto de seus pássaros $rilhantes.<ece$e o filho teu, pátria adorada1&ãe piedosa, não sequeislhe o seio.
>io de .aneiro
)em olhes para o chão servil dos homens,;alcão divino1 das tuas nuvens sentea terra a vida, o inspirado encanto*Qual /ndia virgem das florestas suas,Que seu leito são ramos de folhagem
+nde ela dorme 7 nature-a e cresce%n2rgica e selvagem, nua e $ela,Ao eco de Ama-onas e palmeiras
Que em toda parte lhe renasce, e em$ala+ deserto e os sertEes. %la divaga
0orque a alma tem cheia d(e5istBncia*+ra pende no rio e dálhe ouvidos
0or entenderlhe a ondulação das vo-es,=endo co(s $raços se uma estrela apanha,
Fu-entes $4ias nos espelhos d(água1+ra a$raça uma selva e lhe pergunta
Que di- no seu falar ' quando ela acena6om seus ramos ao c2u ' que di- o vento?
' % a criação seus cnticos esmaltaAos 4rgãos perenais da nature-a,
% a /ndia virgem por seus montes erraem medo d(homens, sem temer as feras.
Torrentes de poesia, essa poesiaQue a muita dor talve-, talve- a idade<epresou no teu peito, há de e5alarse6om tua alma desfeita, como o fumoQue do cedro que arde erguese puro%m long/nquo hori-onte do crep#sculo
em ser dos ventos pertur$ado aos c2us.% as douradas cadeias sonorosas
Que em $ons tempos viris eterni-avas,+ mundo todo arrastaram de novo
6om m/stico poder que tens dos c2us.
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%ste c2u tão a-ul, e o sol num fogo(americana lu-1 este mar verdeu$indo pela encosta enegrecida
os p/ncaros do sul sempre de galas,
<o5as nuvens no cimo, um r2gio mantoe opulenta, eternal, fresca e cheirosa=egetação ondeandolhes nos flancos,
aias por corpo de mulher formosa,<omperam... romperam, cisne celeste,
+ teu canto final! que vais partir...0or2m, tudo isto, 4 pai, dáme s4 lágrimas,
)ão entendo porque* parou no peito&eu coração, minh(alma de medrosa
o$ si se recolhe, e de uma noite
Tão pálida como ela envolta, cai.: minha vida um pesadelo eterno
(uma noite afrontosa* quando um dia<aiará para mim? quando este peso
0oderei sacudir, que tanto mata?Acordar, levantarme deste leito
a terra, duro e triste, e sudoradoo meu peito que em forças se desfa-?...
=ahia
Ó minha sorte d(ho3e! 4 sorte d(ontem!)ão me viste passando, 4 mar, tão ledo)as asas da esperança? e uns doces ares
em esforço levavamme inspirado)(um c/rculo de amores vaporoso,0rimaverosas graças respirando,
<osa encarnada ao sol e5posta a$rindo.
Que viagem feli-! quanta $onança,Quanto galerno! as ondas se humilhavam
0or dei5ála passar, que amor sentiam% murmurando amor se de$ruçavam
)os $raços do oceano indo em suspiros...ia, encanto difunde em torno dela
oce lu- d(inocBncia erguendo os raios.)ão a viste, matrona $rasileira,
0assar na glauca relva? pom$a nova)um voar titu$ante 7 flor do lago '
<oçando a ponta d(asas docementeFminas dei5a vinculando, tintas
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o carmim matinal, do verde lácteo,<espiraçEes do dia em frescos $erços.
' &eigas rolas a-uis do um$roso norte,=ossa irmã se perdeu, gemei na selva.
)em ouro nem rique-as a fa-iam,eu ser todo era ela, uma flor nua,Toda cheirosa e $ela de si mesma*
oces nuvens de um puro firmamentoepois da chuva 7 tarde, os seus vestidos
0elo seu corpo algodoso e tenro,+s $raços longos de vergntea, os om$ros
e seda, se anilando se a$randavam1%spreguiça no seio alvoreas p2rolas,
6omo 7s $onanças do alto mar vivendo1)as conchas de marfim, como de p2talas,Astros nos p4los dois orvalhos tremem*
ingela como a estrela do crep#sculoo c2u a-ul tra3ada, e como o l/rioomente de suas folhas inocentes,
%u viaa minha noiva! matutina,)essa idade fatal, quando eu as amo1
Quando esparso o pudor na lu- do rosto,
uvidosa a pai5ão, ignoram e temem10orque naturalmente inda s4 sentem
A dor que os olhos vertem, e assaltadas6om vaga timide- nos fogem* pensão)o seu recolhimento, e de piedosas
4 nos sa$em fugir1 po$res! nos amame um amor virginal apenas d(alma,
Que os vis sentidos não se nutrem dele.' 6ai tuas folhas, @ahia, das mangueiras,a 3aca murcha a flor, teus frutos morre1' =4s, 4 rolas a-uis do um$roso norte,
ei5ai as penas* a perdi... perdivos.
)ovil#nio na #mida montanha@rando claro das faces estilando
e a-ulado cristal, que lava o temploas compridas palmeiras, que amorosas%stremecem dos p2s 7 rama e envergam
oces arcos aos -2firos dos cumes,
%nquanto a $ai5a de sereno empasta*+ astro se perdeu1 deste hori-onte
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=e3o a terra em meus p2s desfalecendo!Agora os temporais são meus encantos,
&esmo o naufrágio amara, em noite horrenda@rigar com a morte* compulsar minha alma
osto em sonhos de amor, ou nos perigos%ntão eu vivo. +s mares Istão mudados,+h, ela não vem mais... olhai as ondas!
6aio a noite em mim, nem mais seus olhos+ dia me alevantam, como d(antes.
>ecife
alve, 4 $arca formosa! alve, 4 $arca!0a/s dos meus amores do alto mar*
em tBla vossas asas vos erguendo,
6omo as ondas correis? onde a dei5astes?' A direção do acaso, nos meus olhos&il ve-es eu a vi, que nela eu penso*;oi somente a ilusão da imagem pura
%manandome d(alma 7 diante... 4 som$ra,Que em tua som$ra me cansas fugitiva!
9nda a impressão guardais dos p2s mimosos,Ó $arca, no conv2s ' quando ela andava
istraindo, radiando o pensamento
0ela verdura da água? Que respeito!6omeçavam nos c2us as tempestades,
As nuvens desfa-iamse ao vBla!' e$alde a multidão rompe de noite,
%strela su$alterna que perdeuseo seu astro, e, sem lu-, por trás do espaço
=ai apagada errante1 oh, foi de$aldeQue tudo pareceume a ti! não era.0orque dei5aste o teu vestido a-ul?Que fa-iame ao longe conhecerte,
6omo pelas suas flores qual a planta,6omo pelas suas nuvens a manhã.
Maranhão
e so$ a proa se levanta d(águaTão pura como o c2u, coroada d(ervas
@ela ninfa do norte* o 0indo heleno+ sol que tessalino alumiava
Fem$rar fa-ia1 americana 0alas
e enlevando no mar, como vaidosa6orre os olhos em torno pelos om$ros
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)os filhos, como selvas que a rodeiam*' Aquele vB, que as ta$as desenterra
epultas na folhagem do carvalho,Ao clima das palmeiras transplantado,
%ncheas das festas do guerreiro e os cantosA vo- do maracá ruidoso e $elo16aminho de 0ascal, so$e os altares
@ei3ar suas mãos, sacrificar a )eton,6ingida a fronte1 a corrupção moderna
Açoita vo- romana. >á mais perto,A minha vista me pertur$a, sinto
@anharme o peito um ar... que eu não estranho,&as, que procuro conhecer... %u amo
%stas costas, aquele pedregulho,
Que a resposta de um /ndio fe- o nome.9solado e limoso ali suspenso,
%strela refletindo ao navegante,Apertado nos $raços das escumas,<ei d(água sacudindo a ca$eleira
%ntre as $rancas ocenidas risonhas!&ais longe espalhase uma terra... Alcntara!
)egra ossada d(incgnito cadáver%ra sepultura a$andonada, $ela
6ingida das $arreiras como sangue1% pelas torres tristemente errando
=e3o as som$ras dos meus antepassados,0elos ávitos t#mulos se encostam.
9lha de ão Fui-! meu eus, eu morro!@andeira de ão &arcos, entre as palmas
=erdes como ela! oce claridade6ircundame, em transportes, qual a morte
&e adormece d(enlevos! eus, 4 eus!)as águas deste mar lava a minha alma,Ao lado de meus pais dei5a o meu corpo
)esta hora de rever o &aranhãoAs rainhas terras, minhas ondas glaucas
% o meu sol do equador meu c2u minh(almaQue 2 tudo isto que frma a minha pátria!
elvagem sou, nos montes eu nasci0or entre as camponesas e os pastores
Amo a vida levar entre os louvoresas aves do meu lar cantando a mi1
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Amo os costumes em que fui criado,6orrer livre no $osque e na ri$eira,&eus amores 7 som$ra da palmeira
escantar, e dormir sono enlevado1
Amo a vo- de poesia na floresta,% o -um$ido noturno dos insetos,9nvernosos concertos incompletos
os lagos, invernosa a tarde e nesta1
%u amo o trove3ar, tremer do monteQuando em lascas o tronco atira o raio,=er os astros caindo em seu desmaio,
)as torrentes perder seu leito a fonte1
)a mata o sa$iá melodiandoQuando, a chuva estiou, e os passarinhos
a meia noite1 andar pelos caminhos,Amo ouvir os tropeiros ir cantando1
Amo a vo- da cigarra no hori-onte,A tarde quando pousa ave som$ria
Ante a fronte da noite e os p2s do dia,A mãe com os filhos a voltar da fonte*
: esta a minha terra, este o meu sol,%stes meus ares que eu respiro n(alma,%sta a rama que a$rigame da calma,%ste o meu c2u da tarde e do arre$ol.
uspenso nestes cumes arenososou ave do seu ninho em torno olhando,
%, vaidosa! suas asas levantando6anta, e percorre os climas tão saudosos1
Triunfante adormece, ine$riadae B5tase e pra-er ao som das vagas6aindo no areal, $atendo as fragas,
%ncantando os 3ardins d(água salgada1
% longa o eco pelas praias lento1
e sensaçEes as penas arrepia,%stremece de amor, e a onda fria
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Qual vo- do derradeiro menestrel)o monte quando sua harpa suspendia!
9nda 7 som$ra da lua na choupana
@ai5o canta na viola essas cantigas,Que eu amava da infncia, tão antigas,Triste escravo... 2 sua dor que ali dimana.
0elas dunas me estendo, qual de amorA$raçoas mesmo 7 face do luar1
e dia inda me sentem delirar%ntre os raios plangentes do equador.
(um c2u de negro a-ul t2pido velo
rosso e l/mpido cai, nevando a terra,A mim e os vales e o rochedo e a serra,
% eu m envolvo da noite e o c2u tão $elo!
ias do meu pa/s! como eu revivoe$ai5o do meu sol de um clima ardente!
+ vento muge e sopra duramente;endida encosta do calor estivo.
=e3o em torno de mim minhas irmãs,% as minhas virgen-inhas mais crescidas,
&ais t/midas, sisudas, mais queridas,&eus amigos, meus velhos d(alvas cãs*
%m todos $raços eu me lanço e choro,% todos emudecem me revendo,
oce pranto dos olhos escorrendo,oce peito me a$rindo, aonde eu moro*
%scutam minha fala, a reconhecem1&eus ouvidos eu encho d(harmonias*
+h, que eu torno encontrar meus outros diasos outros tempos, que nos anos descem!
a minha vida recomeço o fio*o dia de ho3e ao dia da partida,
eus! apaguemos... 7 estação florida9nverno sucedeu, renasça o estio!
Qual n(um sonho eu vacilo, eu paro, eu olho,
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=ácuo o peito d(ausBncia quero encher...into necessidade de morrer!
)a minh(alma som$ria me recolho.
0or2m de novo o c/rculo me estreitam6ontemplativos, tocamme, se chegam1"m momento meus olhos não en5ergam,
)os seus om$ros me atiro, em meus se deitam.
Aqui a vida corre docemente6omo a e5istBncia dos primeiros anos,Fhana e despida e l/mpida de enganos,
+nda a-ul pelas voltas da corrente.
Aqui sinto nascer alegre o dia 'A andorinha no teto, a vo- d(infante
6horando, o rou5inol* marm4rea amante,A lua que comigo adormecia,
esmaiou, s(escondeu nos meus lenç4is;ugindo como adultera1 e, -eloso,
@elos dardos despede o $elo esposouerreiro so$re mim dos arre$4is.
% no silBncio a lua vai tão $ela!ei5o minh(alma, dei5o o pensamento0erderse na amplidão do isolamento,
%nquanto eu vou saudar minha don-ela.
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NOITES
XXVII - O CIPRESTE
C%m horas silenciosas,Quando a lua desmaiada
<oça os decl/vios celestes,e pranto a face cortada1
Quando arranca dos meus ramosTrBmula som$ra e restampa,6omo o vo so$re o cadáver,
)a lisa face da campa '
e estendendo, alva $alança0endida lá no ocidente1
Que volta e $ei3ame os p4s,=oando $ela e crescente '
?em "resumo serem meus os "ensamentos filos:ficos nesta segunda "arte' emtodo o tem"o eles e@istiram, desde que o homem, descendo os bra$osestendidos ao c&u, olhou sobre si, e interrogou a natureza com a razão que lhed/ a erdade de uma E@ist0ncia infinita, e que "arece negar%lhe a ida al&m(Aoram sim"les disserta$Bes escritas em erso( Eu res"eito, amo a id&ia uniersal2 encantadora! 7ublime!
%u sinto pelo meu tronco,esatadas so$re a aragem,Trancas leves se a$raçarem,
6aindo prantos na la3em.
0rantos regamme as ra/-es,@anhamme as folhas, suspiros,
A$ro os seios aos gemidosos mais long/nquos retiros.
+s quei5umes soluçados)o sepulcro materna!
0enetram, vi$ram meu corpo,;antasma piramidal.
a vi#va meiga e triste
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Facerados sentimentoseus lá$ios vertendo puros,
%m$alamme como os ventos.
olitário e mudo e grave)o meio do cemit2rio,Terra pálida de mortos
%nvolvo em fundo mist2rio*
ou som$ra aos ossos da campa,;aço o passante pensar,
o negro $osque do inverno%u presido o desfolhar1
Tra3ado de folhas negras,0intame o gesto a triste-a...
&as, aos t#mulos dou som$ra,% uma vo- 7 nature-a.
&edrosa e tão fida aos votos,Amparo a virgem que chora,
A minha seiva alimentaA que ela perde e descora1
Fouco amante, qual fechado)a minha vestia fatal,
o$re a campa da don-elaei5a o corpo e um punhal*
% do peito qu(inda $ateArranca a alma! e qual vento0assando levame, 7s nuvensFançada num pensamento!
% no sossego da noite,Quando as estrelas esvoaçam,
At2 que os raios do dia&ui de longe a terra ameaçam,
)o frio 3ardim dos mortos%u ve3o espectros nascer*
Todos irmãos me rodeiam,
Ave noturna a gemer1
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esaparecem n(uma hora,)um duvidoso rumor1
<enascem, vagam, murmuramom$rias longas de amor1
0elas muralhas contemplam,Acenam passada a vida...
0or2m, tão tristes caminhão0ara a eternal dormida*
)as sepulturas os ve3oo$re os ossos se estendendo,% depois com o v2u da terra,
Que romperam, se envolvendo*
A cada pedra que a$ateFongo gemido se e5ala.
Acorda o mundo dos vivos1)o meu pa/s tudo cala.
% do nascer ao sol por0lantam mortos no 3ardim,
)ovas flores que com a noite
=ingam em torno de mim.
&/stica som$ra da vida,a morte a negra e5pressão '
%u amo o ci presta1 a rosa)ão me esmalta o coração*
%ncantos do afortunadoAmoroso trovador.
e cipreste a minha lira&eneia cançEes de dor.
XXVIII - A VELHICE
3alez ainda uma noite((( seus olhos foram no horizonte' um inculo de l/grimaassomou' e o elho distraio o "ensamento(
;ria e pálida velhiceesce lá no fundo vale '
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Tão fundo, que não se en5erga)as som$ras envolto o leito!
esce, a pa- leva no peito
6omo quando a palma envergao 3usto a vida se e5ale)os $erços da meninice.
emendo ao peso da idade;raquea o languido passo1
% desce, e pára, rodeia0or toda a parte seus olhos*
Adiante tecemse a$rolhos!
Atrás um monte se arqueia!este lado encontra o espaço!este lado enche a saudade!
% depois num mar de pranto)aufraga, $anha o hori-onte1% depois... sem remo e $arca
)ão tem senão mar e c2u!
Toda a esperança perdeu,eu pulso a vida não marca,
Apagase o sol no monte0or entre noturno canto.
&onte fatal d(anos seuse seus dias tão pesados,%rguidos tão lentamente,
Tudo 3a- no pr do sol!
)o cum(stá murcha a frol1<oda a terra do ocidente
%m passos tão apressados0ara o nascente de eus!
>á sua fronte empalidece,eus olhos lá se fitaram
Fonge, al2m... riso da morte<oçalhe o velo da face*
6eleste e5pressão 3á nasce
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%m seu sem$lante. Tão forte,6omo sua alma arrancaram,+lhando o$l/quo estremece!
6oragem! mais um s4 passo,a porta não recueis*A casa de vosso pai,
onde partistes, chegastes*
)o caminho não cansastes?escansai, entrai, entrai!' %le passou. 0erce$eiso via3ante o fracasso?...
)ada. Tudo emudeceu*A poeira do caminho
o$re os seus rastos caio*&orre uma vo- no hori-onte.
ecou a veia da fonteQue pela terra sumiu,
A ave parte ao seu ninho,"m homem ho3e morreu.
XXIX - A ESCRAVA
CTriste sorte me arrasta nesta vida!%scrava eu sou, não tenho li$erdade!Tenho inve3a da $ranca, que tem dela
Todas horas do dia!
%u sinto me crescer vida nos anos,% mais velo- que a vida amor eu sinto
Querer a$rir em mim... eu sou escrava,&inha fronte 2 servil.
0or estes c2us meus olhos amorteço,)estas plagas de anil piedosa os canço1
Ah! neste horror da escravidão perdida...)estes c2us não há eus!
Tenho amor, sinto dor, minha alma 2 $elaAqui na primavera a espane3arse!
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0or2m nas pr4prias asas me recolho,+ cativeiro as cresta.
"m s4 raio do sol não me pertence,
%u nunca o vi nascer1 quando ele morreAinda o encarnado do ocidente)ão posso contemplar*
&esmo esta hora que furto 7 meia noiteAo meu repouso do alque$rado corpo,
A ver as estrelinhas nos meus olhos6omo no manso rio,
%u não tenho segura! o vento leve,
A lua como eu sou d(alvas camisas,;a-emme estremecer1 eu ve3o em tudo
&eus so$er$os senhores.
%u me escondo, que a terra não me ve3a,)as som$ras da folhosa $ananeira*% os insetos noturnos me parecem
enunciar meu crime...
+h! não digam que eu venho ao astro pálido&inha sorte chorar... %u tenho inve3aa $ranca, porque tem todas as horas
o dia todo inteiro!
%u sou $ela tam$2m, minha alma 2pura,&ais do que ela talve-... cansa o meu corpo
omente o cru servir, nervosos medos% o del/rio da morte...
o mundo o meu amor não se alimenta,Que não há li$erdade* eu sonho os c2us...
&as, nos c2us não há eus... na minha vida)ão há nenhuma esp(rança!
%m$ora, o sangue do meu peito se3a0reces ao 6riador, meu coração
=irgem deilhe* gemendo ao sacrif/cio,0or ele inda se e5ale.
Tenho inve3a da $ranca, com tal sorte
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Quanto eu fora feli-! os dias todos!0assara todo o tempo aos c2us olhando,
Quisera ver meu eus!
+uvira todo o cntico dos pássaros,os ventos e das selvas e dos mares1As flores eu amara como adorno
o meu templo d(estrelas...
%scrava eu sou, em$ora a$rase a vida,%smoreceme tudo e desanima1
Al2m deste hori-onte eu nada espero,Aqui me ve5a a sorte...D
6antava o galo preto* ela esquecida,=eio a aurora encontrála, que at2 ho3e)ão vira, nunca. Fhe pasmava a vista,
&as enlevada e doce, prolongando)as faces novas relu-entes fios*
% de um encanto rodeada esteve,Quando o açoite vi$rou longe. ' %ra um preso
Que gemia ao nascer, ao pr do sol,Harpas memnnias se escorrendo em dores,
At2 que desmaiasse, e adormecia8 cadBncia dos golpes que o rompiam.
% o dei5avam 3a-endo* a vida e o sangue@ofa em golfadas d(e5pirante $oca.
' Todo o dia dormiu, talve- sonhasse...9nda dormindo está, no $raço o corpo%m desmem$ros lanhado se amontoa
Transudando uma água* a ver se 2 morto,6om a ponta do açoite o tocam* im4vel,
%rgue os olhos de vidro, e lento os caia lu- aos passos lh(inundando os ferros
e som$ria prisão. =ive* e começae novo a desfa-er nos ais um nome1
% tornava a dormir, at2 que aca$a*9nda o sacodem, gritam, e ferem ainda!
' %ra da escrava o irmão* 3ovem como ela,Bmeos do mesmo amor, am$os sonhando
este ideal que as almas arre$atae generoso enlevo. A linda filha
e seus senhores, da crioula inve3a,%le amara, coitado! 4 cor, 4 sorte,
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99
Que negro e escravo o fe-! entenciado;oi aos ferros morrer de fome lenta,e sede lenta1 e na manhã, no ocaso,im$oli-ando o sol, ir pouco e pouco
A vida mais sens/vel derramando)os laços infernais do viramundo!% do seu peito retalhado nasce
6omo da terra um som su$terrneo,0uros 4rgãos de amor crescendo aos c2us.
T/mida espantase a crioula, e foge*Feva o dia a vagar so-inha errante,
6omo quem da e5istBncia em despedidaa#da o sol e os campos.
&endigando piedade, chora 7s portasa fa-enda vi-inha* os homens riam,%m troco lhe pediam seus amores,
o$re o seu colo uma hora*
% ela estremecia, e, d(inocenteQual vagas de pudor vinham so$re ela.
% como o sol ca/sse, ela voltava
e si mesma ao senhor.
eu erro a confessar, os p2s lhe $ei3a,Que a magoam* soluços não lhe valem)em pranto virginal nem eus do c2u,
Tudo emudece 7 escrava!
%stendida no chão de finas pedras,Que 3á sangramlhe o corpo que se arqueia,
0edia a eus 3ustiça da inocBncia,6ompai5ão ao tirano.
0eiada em duros n4s, lhe começavamespir o corpo e o seio* ela tran-iu*
argalhada infernal o$l/qua ao mundo...%mudeceu. &ist2rio!
% seu irmão gemeu no mesmo tempo,%m seu t#mulo o sol tam$2m fechouse,
% todos para o eus partiram 3untos '6rioula, escravo e sol.
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XXX - A MALDIÇÃO DO CATIVO
ou cativo, na cor trago a noiteesta vida d(escravo tão má!&ãos do dia que algemas nos tecem
anguinosas, no inferno são lá!
)o silBncio d(um$roso passado"m gemido recorda sua dor*
% o fracasso dos soes qu(inda vemerão sempre gemidos de horror.
9nda mesmo que mudese a sorte,9nda mesmo que mude a nação,Terra onde gememos em ferros
>unquem flores servis ' maldição!
)ão dormido nos $raços da esposa,Que por terras estranhas vendida)unca mais eu verei* eu que a via
%ntre os dentes d(uma onça incendida.
=i seu colo arque3ante cru-ado,&agoada sua face de amor...
&uito em$ora, mas nunca do$radae mulher que era minha ao senhor!
%ntrançada com peias na escada,6ompassados açoites si$ilam,
% $anhados da carne que tra-em=ão n(areia, e de novo cintilam*
% a cadBncia do golpe e dos gritos&ais o horr/vel da cena redo$ra*
<uge a fera de um lado1 a inocente+h, de dores se morde, se enco$ra!
=i seu corpo de negras correntes%nleado, que o roto vestido
@em mostravalhe, e os ferros e o corpo...
&uito em$ora, mas nunca vendido!
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&uda e lenta passou, fatigadae um tra$alho d(insano sofrer*
% os seus olhos e os meus se encontraram,% entre pranto vi pranto correr.
ura vida, que amava, onde foi?% nem mais minha filha e mulher,
Que em la$ores d(escravo eram $risasQue em seus seios me vinham colher.
A desoras, sopito o tirano,Ao mortiço clarão da candeia
&inha filha afagou minha destraFá no rancho palhoso d(aldeia.
&inha filha cresceu, e formosa6omo a flor lhe nascia a feição '%ram faces de um preto retinto,%ram olhos de um vivo loução.
%, depois da ign4$il vingança,>á vendida na praça, e por hi,
em respeitos 7 igre3a ' qual eus,
;a- um(orfã, uma vi#va, ai de mi!
%, da magoa infantil esquecido,oce mãe quando a o$riga açoitar...
% eu craveilhe as cadeias... n4s am$os4 por ela esta vida a levar '
A$re os olhos de fera sedenta,Amoroso da po$re filhinha,
Amoroso... que fera não ama*i-, fa-Bla, rendida, rainha
0or2m eu que no peito co-iaÓdio ingrato de um vil coração,
Aguardava pretido a don-elaa serpeia, fala- sedução.
&as a filha d(outrora paterna,@em depressa, qual sempre a mulher
elirante do mundo, de amores%m seus $raços se foi recolher*
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espre-ou minha $enção! perdido,estru/los pensei* desgraçado,
Am$os 3untos segui pelas som$ras,
6omo espectro d(infernos armado.
)ão que em sangue insensato alme3asse&inha faca tingir* que ante o risoa filhinha a que$rara, coitada,Tam$2m %va pecou no 0ara/so*
&as nas ervas da dor, mutiladoo tão cru meu senhor vingativo '
6epa f2rtil, que frutos lhe dava
e alimento e de amor... ah! % cativo
%u fui cão de fare3os danadosTrás da prole infeli- e o senhor*
% esta faca como inda se escorre%m dois sangues! mas de uma s4 cor.
% eu agora por $renhas erradas,0or /nvias me fu3o a vagar1
ecas folhas meu leito da noite,)egra coifa por cima a em$alar*
% fantasmas me cercam, medrosas=ãose as feras no antro esconder1Feve aragem, passando por longe,into os gritos que$rar do descrer*
Tudo pasma de verme! naturaTreme q monstro como ela não gera!
)ão, sou homem tam$2m... % eu matara&ais mil ve-es laivada pantera!
;u3o as mádidas horas da tarde,&oles raios da lua me aterram,% esses hinos do sol dessas aves
ão si$ilas que dentro me $erram.
% no eterno da dor som$ras l#$ricas
=emme a fronte d(insnias pisar,e destorce o meu corpo, em minh(alma
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e desfarpa o remorso a calar!
&as de eus não sou r2pro$o, o peito)em malvado nem $rn-eo 2 meu*
%nsopado nos 4leos do crime+nde geme a inocBncia, acendeu.
% d(impuro que era, inda sinto+s meus ossos tremerem rangendo1
+h! são lavas que as veias me inundam,;2$reas l/nguas me a pel refrangendo.
% eu matar minha filha... e nem pre-o(a$rir sangue tirnico, ignavo.
0or2m, sou renegado, assassino '% eis a sorte, e eis a vida do escravo.
@aldo em corpo, que outro homem domina1Alma est2ril minando nos v/cios,esgarrada nas trevas da morte,
Fongo inferno de longos supl/cios*
+h! quem foi que for3ounos os ferros?
+h! quem fe- neste mundo o cativo?Açoitado, faminto, sem crença,
em amor ' sem um eus! ' vingativo.
=4s, 4 $rancos, calcando so$er$os,9numanos assom$ros sangrentos,)egra relva de humildes ca$eças,6omo alados de presa sedentos*
)ão sentis esfolhada no peito&urcha pa- d(esmaiada virtude,
% de grata poesia estalarvos8ureas cordas de um santo ala#de?
)ão sentis sentimentos su$limes,62us divinos d(enlevo e pai5ão,%strangeiros medrosos fugirvos
em asilo no mão coração?...
=ossos filhos 3á nascem amandoAs del/cias do açoite $randido,
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6omo os cães esfaimados se agarram0elo flanco ao tapir perseguido*
)ascem vendo essa nuve agoureira
A formarse de em torno dos olhos,Quando fa-emse em vidros, raivososespe3ando sangu/neos desolhos.
6astigando sua mãe tão querida&ãos piedosas de trBmula filha 'Quem fi-era! e sorrirase ao choro
Que ante os olhos maternos humilha?...
+h, no inferno viveis que vivemos,
0ara n4s não, os c2us não se espraiam*=4s a$utres as carnes nos comem1os cordeiros as pragas vos caiam.
% mirrado da vida que sofro,Quero a triste na morte aca$ar*
% o a$ismo que a vo- me sepulta,=á meu corpo tam$2m sepultar...
(escura grota 7 pedregosa $ordaFançando maldição
+ escravo sumiu. +co fracasso@ateu na solidão.
% as aves em coro levantaramTriste cantar,
&on4tono e carpido, eram lamentose longe mar.
% na selva ululada do fugido+ silBncio caio.
% o vento estendeu compridas asas,% a folhagem Istrugiu.
% eu prendo o ouvido contra a terraQue vi$ra os seios*
onora ondulação de longe tra-meFatidos feios*
Tra-me por pedras deslocadas lenta
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6adeia longa(elos de ferro, que arrastada eterna,
Fá se prolonga*
Tra-me rugir de fera1 7 vo- do açoiteemer profundo,Tão doloroso, tão de piedade '
)um vasto mundo!4aris
XXXI - VISÕES
%isme s4! nem os -2firos me cercam,
)em ouço a vo- da nature-a B do homem*Que para sempre os meus ouvidos percam%sses horrores que o meu ser consomem!
"m momento feli- da solidão 'Quanto tempo não fa- que eu não respiro!
6omo treme de amor meu coração*e estre$uchando esta alma! +h, que eu deliro!
%u s4! nem o meu eus! que, desdenhoso,%m troco de um amor do peito ardente,os meus ais e do pranto esperançoso,espede so$re mim sarcasmo algente.
)em o meu eus! que enchiame de vida*Ó minha doce esp(rança! 4 minha crença!
Ó desespero, 4 alma perseguida,' em crimes ' quem te deu tão má sentença?
)a mis2ria eu nasci, nela crescido0ara nela morrer, sempre mis2ria!
0or toda a parte, e sempre! um vão gemido '6horo e morte a cair da vil mat2ria.
Que! tudo 2 miserável neste mundo!6omo as cousas se dão tanto valor!...Famenteio de o ver o verme imundo
e 3ulgando feli-, se dando amor...
ecou meu pranto1 e s(inda o vou chorar,
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%u delire, me espasmo de risada!6uspo so$re o meu ser* vi o pisar
0rimeiro o eus e o levantou do nada!
)ão quero a lu- do sol* se apague o dia0ara o meu e5istir... que mundo horr/vel!;ugi de mim, perseguição som$ria,
0ensamento de um eus, e o ser vis/vel.
)egra noite, eu vos amo, quando a terra0assos d(homem não vi$ra, e nem dá estreita
"m s4 clarão1 profundo o mocho $erra*Amo essa ave, de horror essa hora 2 $ela!
Antro da fera, escondeme como elae sua pele nas do$ras mosqueadas.
ois meu an3o do amor, desgraça $ela1ois meu :den, cavernas assom$radas.
Aqui podem meus olhos apagadose tornar acender, se encandear1
&ordido o corpo em tBne$ros rosnados,;elicidade Cpde inda encontrar...
=ida, que 2s tu? %storcese convulsa&inh(alma, e estala! + rei lá se em$e$eda)a farsa da e5istBncia... A morte impulsaTodos 7 mesma $arca, 7 mesma queda*
o$re os olhos aperta estreita fronte1Acena escarnicando* Ceila, em$arcaiD*
% passa a humanidade humilde, insonte1o alto mar nos escolhos* Cnaufragai!D
% o que resta do homem? =entos, vagas,Astros $rilhantes, não emudecei...
+h, verdade fatal, que assim me tragas!%m$ora inda ficais e eu aca$ei,
Tendes noites tam$2m na vida evada,)ão triunfais de mim, nem vos lamento*
Todos! descemos 7s soidEes do nada,
)o$res, eu, e o mendigo vil, no3ento.
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% tu ouves, acaso, eus, tu ouves%m contorçEes me arre$entarem as veias)egras d(agro cruor? )ão, não me louves,
áme pálido rir1 por2m, me creias!
7erras de Cintra
XXXII
os ru$ros flancos do redondo oceano6om suas asas de lu- prendendo a terra
+ sol eu vi nascer, 3ovem formosoesordenando pelos om$ros de ouro
A perfumada luminosa coma,)as faces de um calor que amor acende
orriso de coral dei5ava errante.%m torno de mim não tragas os teus raios,
uspende, sol de fogo! tu, que outrora%m cndidas cançEes eu te saudava
)esta hora d(esperança, erguete e passaem ouvir minha lira. Quando infante
)os p2s do laran3al adormecido,+rvalhado das flores que choviam
6heirosas dentre o ramo e a $ela fruta,
)a terra de meus pais eu despertava,&inhas irmãs sorrindo, e o canto e aromas,
% o sussurrar da r#$ida mangueira%ram teus raios que primeiro vinham<oçarme as cordas do ala#de $rando
)os meus 3oelhos t/midos vagindo.+uviste, sol, minh(alma tBnue d(anosToda inocente e tua, como o arroio
%m pedras estendido, em seus soluçosAndando, como o fe- a nature-a*e uma lu- piedosa me cercavas
Aquecendome o peito e a fronte $ela.9nda apareces como antigamente,
&as o mesmo eu não sou* ho3e me encontrasA $eira do meu t#mulo assentado
6om a maldição nos lá$ios $ranquecidos,A-edo o peito, resfriada cin-a
+nde resvalas como em rocha l$rega*%scurece essa esfera, os raios que$ra,
Apagate p(ra mim, que tu me cansas!A flor que lá nos vales levantaste
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u$indo o monte, 3á na terra inclina.
%u vi caindo o sol* como relevosos et2reos salEes, nuvens $ordaram
As cintas do hori-onte, e nas paredes%státuas negras para mim voltadas,Tristes som$ras daqueles que morreram1
Fogo depois de funerais co$riuseToda amplidão do c2u, que recolheume.
As flores da trindade se fecharam,% 3á a$rem no c2u t/midos astros1
Apenas se amostrou marm4rea deusa.Que sossego! me deito nesta la3em,
&eus ouvidos eu curvo, o pensamento0enetra a sepultura* o caminhante
Assim vai pernoitar em fora d(horas,% $ate ao pouso, e descansando espera.
@elos t#mulos, verde ciparisso,aime um $erço e uma som$ra. 6omo inve3o
%sta vegetação dos mortos! rosas&eu corpo tam$2m pde alimentar.
Al2m passa o sussurro da cidade,
% nem quero dormir neste retiro0elo amor d(4cio* mais feli- o 3ulgo
Quem fa- este mist2rio que me enleva,eus somente alumia este caminho.
)asce de mim, prolongase qual som$ra,)egra serpe crescendose anelando,
6adeia horr/vel* sonoroso e lento"ra elo cada dia vem com a noite
<olando dessas fráguas da e5istBncia0renderse lá no fim ' a morte de ho3eQue procurava a de ontem1 a d(amanhã
=irá unirse a ela... e vai tão longa!6omo palpita! % eu deste princ/pio,&udo, e sem poder fugirme dele,
>á estou traçando com dormentes olhosFá diante o meu lugar ' oh, dores tristes!
Todos então ao nada cairemos!% o ru/do do crime esses an2is
)ão, não hão de fa-er* num s4 gemido,;undo, emudeceram sono da pa-.
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+h, este choro natural dos t#mulos+nde dormem os pais, indica, amigos,
0erda... nem as asas ao futuro
)ão sei voar* a dor 2 do passadoQue se esquece na vista enfraquecida,6omo fica o deserto muito longe.
enão a morte me tra-endo a noite,)ada mais se apro5ima* solitário
As $ordas me de$ruço do hori-onte,)utro o a$ismo de mágoas, de mis2rias!
0orto de salvação não há na vida,esmaia o c2u d(estreitos arenoso...
%u fui amado... e ho3e me a$andonam...
&eiEes do nada, desapareceime!
XXXIII
Quando nessas horas vagasocemente me encantavas
+ pensamento de amor,0or essas del/cias magas
)ovo sol me alumiavas6ampos formados de flor*
% eram minhas horas vagas+ feli- passar contigo...o$ a vo- de murm#rio
6omo da fonte nas fragas,6omo de mar sem perigo,6omo das folhas d(estio.
eguimos sol da vida at2 o ocaso,% o passado e os anos e a idade
eguindo os nossos passos nos despertam%m repetidos gritos* morre o eco
)o late3ante a$ismo, as flores murcham...)as florestas do horror a alma se enoita,=ai gemendo a rasgarse pelos troncos.
A vida está minada de desgostos*o pão da vil mis2ria se alimenta
)a mesa da desgraça, a sede amansa)as águas da amargura1 vem a morte
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0iedosa em$alar seu leito e estendeA mão que alve3a d(ossos amarelos,
%ntoa uma vo- pálida, qual choroQue em mori$undos lá$ios adormece*
C9nda tens de ver a aurora,C=er o ocidente a cair,
C9nda do mundo ao sorrirCTens de sofrer, de gemer1
CAinda verão teus olhosCÓdio e sangue os c2us de eus!
C&entira nos lá$ios seusC)os teus ouvidos de horror!
Corme, filho da desgraça,Cono da po$re inocBncia,
Corme, dorme ' na e5istBnciaC9nda terás de acordar.D
@em cedo eu despertei1 antes quiseraormir eternamente. Achei verdade4 na morte* o porvir estremecendo,
Apagando o que passa, e o dia d(ho3e0or trás das costas sacudindo ao nada,
%, por despre-o, ao sol somente ossadas.ei um passo, escutei, voltando os olhos
%ra um festim* as lu-es se apagaramu$itamente 7 e5alação da tur$a*6onfusão infernal! na escuridade
+s dentes $atera, se mordiam os homens.)ova lu- aparece, o sangue lava,
% para envergonharse um s4 não vive.
)em olho ao mundo sem me rir de vBlo*altadores delfins ledos de vida,
e a$raçando com a morte, dançam. ente*Teu passo mais risonho 7 morte chega1
0ela senda mais doce e mais florida0elas mãos ao destino ela te leva1
As lu-es do pra-er mentem que há c2u,Atrás dos prismas da ilusão 3ogando*
+lha so$re li mesmo ' homem, que horror!esde ti a perderse pude tu penses
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Tudo 2 mis2ria, e tudo 2 s4 desgraça.
XXXIV - VISÕES
=arre aquilão* frondoso et2reo $osqueespe as folhas do dia1 sa-onado
6ai atrav2s da tarde o fruto de ouro,%ntre nuvens de aroma o sol vermelho1
)oturno prado de mati-es cheio<oça a lua com as asas prateadas1
%ncostado no sul pende o cru-eiro1=ai d(estreitos "rano rodeado.
Tudo perdi na vida... hei muito amadoTodavia, e sem fim! meus dias, noites,&eus anos todos, todas minhas horasA amor eu dei* $em ve-es soluçando...&inha alma 2 secas folhas em pedaços
0artidas pelo vento1 pelo espaço0erdese est2ril som meu pensamentoe que$rado ala#de. %m teu sossego,om$ra da tarde, fugitivo guardame*
4 tu sa$es calarme a vo- dos lá$iosAmargo-os, descrentes1 $randa calma
%stender so$re mim no desespero&e ro5eando em contusEes de morte '
%u não sei o que eu sou, porque amo e choro*el/rio, esforço vão! om$ra da tarde,
;a-e cair a noite na minha alma0ara um sono sem sonhos. 6omo 2s $ela,
;alecendo entre coros de suspiros9ndo por toda a parte! 2 melanc4licoilencioso o $osque, a vo- do vento1
&elanc4lico o mar, nos seus desertos%m$alando a canção dos marinheiros1
A montanha palmosa, o rio mudo,+s campos melanc4licos, gemendoA lenta vo- do gado, e dos pastores0elas cortinas tristemente, e $ai5o,+u sentados 7 porta da choupana.
Horas da tarde, quem vos fe- tão frias
0ara me adormecer?... &ão pesadelo,;oge, noite, de mim1 tuas som$ras caiam,
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Quero ver inda o sol! +h! malfadadaorte do homem* quanto mais fadigas,Quanto mais e5istBncia ' mais um dia,
0ara ainda sofrer na mesma terra
+nde em vão desesperas, tu mendigas!"m s4 dia 2 tua vida, o mesmo solT(o repete continuo, o mesmo sempre
6o(a mesma noite e aurora, e os sonhos mesmos4 promete a esperança1 ela s4 mente.
&eu destino fatal! de meu não tenho)em uma hora sequer* esta em que eu falo,
>ulgueia minha, quis d(ego/smo tBla,0ara dála ao meu t#mulo... passou,
% perdeuse. &eu eus, como eu te ve3o0residindo o teu or$e, e a mira no leito
o sofrimento que me dás, e a terra%m mil frmas ' de frutos, d(homens, d(aves
Ho3e a fa-erse, por comerse inda ho3e,e tão má, tão faminta que a fi-este!
% ris deste espetáculo, impassivoFá no teu c2u dormindo ao nosso pranto!% ris mofando ao mori$undo em vascas,
Quando em $erros estorce o corpo e os $raços,e$ai5o do carrasco em negra luta,
%m sinistro $randear ringindo o leito!
<2ptil criador comendo os filhos,Quis compararme a ti! fui assassino,
0or ver a dor, que tu amas, no meu peito.
Amei a formosura* mansa e t/mida8 minha vo- seguiume... como inda amo,
Que estremeço de ouvirme a negra hist4ria!Amando por amar, toda ela amores,
"m desma-elo virginal, infante1&eu amor, minha escrava, minha filha,
6ndida mai, senhora, que adorava1ua vida minha s4, vida que eu deilhe1Que ela sou$e me dar, sua minha alma*
6riação de n4s am$os n4s somente.epois que dentro dos desertos vime,
4 com ela e contigo, eus, ferindo%ssa corda afinada ao som mais alto1
8/18/2019 Harpas Selvagens
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Quando a vi delirante a desalmarsee envergando em meus $raços, d(inocente
e um choro natural, sentime fera,%nfe-ada e com sede, aos teus escárnios!
% um deus me vendo Kcomo tu, crieia,Rnica esfera sua, em mim te via1Quis matála lam$em, nem criminoso%u sou, qual tu não 2s, tu, enlevado)os dolorosos gritos de teus filhosL,
Ave $ranca, rompilhe o liso colo)as minhas mãos de ferro! %la e5pirava...9nda o meu nome doce em seus suspiros;ormava, e desfa-iase1 inda uns olhos
F/quidos, lentos, trBmulos voltavam
)os meus olhos d(inferno! Tão piedosa,uvidar, parecia do meu peito
;erino e monstro! como em sonhos, $usca;eli- realidade, ouvirme ainda
A vo- do caro amante* repudiada...)uma comprida esp(rança esvaecendo
%m lágrimas em ondas, desfalece0endente aos $raços pálidos da morte,
Que o homem $ruto lhe estender não sou$e,
6ndido l/rio vivo. %ram meus olhosFançando um fogo... e o que lança vão era alma!
Ave $ranca! ondulou morrendo, e a terra+nde fria caio foi no meu peito.
Quero a morte deter tomoa nos $raços,acudoa, grito ' que me digam antes
o alento final esse mist2rioQue fa- desesperar... omente um nomeAchei, meu nome lhe passou nos lá$ios*)egra morte nos meus, quando eu di-ia,
0redispondo os sentidos miseráveis,C%spera ' espera ' agora ' morre ' morre!D
+s teus fi2is a ti no passamento@radam tam$2m, tam$2m mandas que morram.
Ali tudo ficou, gelou no sangue+ ar que 2 nossa vida %nquanto ondula
Quente e agita o coração e as veias,
;a- o peito sonoro e as faces tintas.+nde a alma?... %u vi! seu corpo 7 terra
8/18/2019 Harpas Selvagens
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Tudo arrastou, se consumiu com ela.
6omo eu era, enhor, te encontro sempreem ter descanso, pelos teus dom/nios.
"ma v/tima s4 dor deume eterna1&il em cada momento apenas podeme suspiros formar o ar que respiras!
"ma s4 vo- e5tinta a mim gritava,"ns olhos s4 me olharam* eus somente
e uma s4 criatura, uma s4 vida&inha foi, aca$eia, e5austo eu morro.0or2m tu viverás* quando este mundo>á não derte alimento, crias mundos.
o teu re$anho os #ltimos $alidos
i-em teu nome, como t(e5pro$rando1%spasmase nos teus o derradeiro
@ranquear dos seus olhos, tão mendigos% tão fi2is 7 prometida esp(rança...
Tal nas mãos do pastor agno mimoso,Que deu tantos carinhos, que dormia
%ntre os seus p4s, nos rastos seus andava '+ sangue derramando, espera aindaK&aterial esperança!L e crB na vida.
0or2m, 3urote, eus ' farto para sempre,into minha alma de remorsos cheia!
% tu?... 6om a vista me rodeio* as aves,Que no entrar da espessura nos saudaram,
Tinham fugido1 pelos ramos indaeus desplumes seu medo me disseram1
% os meus ca$elos eriçados, grossos,e alisavam c(oa fronte1 o rio, os ventos,
+ tronco vegetal tinham parado&e vendo! %u despertava em meu del/rio
Ante a realidade! a virgem morta,0álida e fria a reconheço, eu ru3o!
% de homem verme, comecei chorar.' Quis seu corpo aquecer so$re o meu corpo1
"ni sua $oca 7 minha, a vo- lhe dando,Que o t#mulo não guarda. %m verdes folhas
)ua deiteia, as mãos postas, e as trancas%scorreramlhe em torno. ias, dias
0reso a seus p2s levei a contemplála!
randes e a$ertos so$re mim ficarãoeus olhos fi5os e vidrados, longos
8/18/2019 Harpas Selvagens
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6omo a meditação de uma sentença!
% a terra animada desfigurase*rão de poeira que o vento ergueu numa hora,
0asseou so$re a massa de que 2 parte,% so$re si caio, se envolve e perde.%u vi! ' seu corpo transparente inchando10erderemse os seus olhos nas suas faces1
Humor f2tido escoase da carne,Tão pura e fresca, tão cheirosa inda ontem,Que ela amou apertar em mira, d(insonte
;ren2tica de amor, nervosa e trBmula!;ormosa ondulação das castas ancas,
os seios virginais, da alva cintura
@ela voluptuosa... disformouse%m repugnante, Kquem que a vira e amara!L
%m no3enta, esverdeada, monstruosa+nda de podridão! Jum$iam moscas,;amintos corvos so$re mim se atiram,<ecurvas unhas regaçando e a$rindo
)egras asas e o $ico, triunfantesoltando agouros! %u a defendia
a ave e do inseto, que irritados vemme.
0resenciei desfa-erse esse mist2rio,Que foi meu c2u na terra, onde eu pensava
%5istir e morrer! Homem o que 2s?...e dia vinha o sol ferir so$re ela,
% como a lua o n/tido cadávere a-ulado am$iente rodeouse1
=apores levantavamse era coroas(inflamando, perdendose* de noite
@ranco fogo pairava docemente,6omo as roupas de um an3o so$re as pontas
e verdoso 3uncal, no espaço aonde%nfraquecia a e5alação na aragem=aporoso espalhandose. % depois,
=ermes internos que espontneos nascem=em rompendolhe a pele se delindo...
+s lá$ios pudi$undos re$entaram...eus olhos!... se fendiam seios, faces
% os castos flancos!... um soroso l/quido
6orrendo pela terra... %u quis limpálaesses monstros horr/veis, que a comiam
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)o tronco das palmeiras, olho ao longe*Ara o campo o colono, o sulco e5ala6heirosa emanação l2pida, umente1
+ carro cantador passa no vale
%ntre as r#sticas vo-es sonolento16o$rem a selva os areais de prata,6o$rem o dorso dos $ois1 verte lamentos
&ori$undo acauã no fundo $osque,&esta espessura de soluço enchendo.
&as, inda o que eu sou não m(o disseste,)ingu2m m(o respondeu* me fale em$ora
Que tu se3as, a mata, este penhasco,+ sopro deste vento assim mugindo,
6omo as almas dos mortos te $uscando '
)elas não posso crer, não posso crerte,Que em mim não creio! eus, dáme outra essBncia.
&uda o meu ser, su$stitui minh(alma0ara poder te amar, crente e feli-,;eli-! : meu sofrer o desespero,
%ste dese3o e carecer... que aspiro...&inha morte eternal! muda o meu ser.
% 2s tu mesmo que dás minha descrença!
0assava a vida a procurarte ' %scuta*e dia ao desespero me levaste1
Tiram meu sono 7 noite os teus sarcasmos.)um deserto, mui s4, de terras vastas,
em um vento e nem vo-, o sol somenteo$re a minha ca$eça achei $atendo1)ão havia mais ar, $aldava as forças
0or soltarme, e mil $raços me enleavam1% eu apenas pensava na e5istBncia,
Alma e corpo, e um eus. + sol se apaga*%m cima dele um monte alcantilouser
% u(a face de ferro se $runiao$ ele, como liso era o meu plano*
Asas nasceram.1 e uma mão, que o tinha,+ larga so$re mim ' foi um momento*
&ais negra se fa-ia a escuridade%le mais perto 3á1 lá vem! lá vem!
;a- um vento, que a som$ra espessa, acalca10enetra a atmosfera, que se estala1
>á range e arre$entase nos ares,;uracão na floresta 7 meia noite,
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Aos ecos infernais dei5ando lascas,6entelhas vivas. %smagoume em átomos.
"ma dor me passou, qual uma nuvemQue se inunda de lu-, vaise escoando*
Feve fumaça alevantou, perdeuse.Assustado acordei ' lá ia o sol.' +utras ve-es sonhei prisEes d(inferno,0or onde eu era horror, e horror vi tudo.+utras ve-es sonhei na concha de ouro.
4, no ar em$alado. +utras sonhava.%ntão cora asas de mimoso fogo
Sgneos p2s a$raçar da %ternidade,% de lá ver o tempo so$re o mundo
=oando, de que eu mais não carecia.
+utras ve-es sonhei, morrer meu corpo0orque morria a alma dentro dele.
+utras, que não há morte* o corpo e a alma%ra sua luta final que se separam,
6omo a que a sorte das naçEes decide*%la por ir viver por hi ' no c2u '
%m descanso talve-, ou livre ao menos,+u nova terra, e amar novos amores1%le por desfa-erse em outros seres,
Que se desfa-em n(outros, a perdersee vida era vida. % eu inda acordava
)as torturas do adeus, nesses estorços,0ara trás a ca$eça, em vasca os olhos,
A mastigada l/ngua despe3ando.+h! dáme ao menos que de ti me esqueça*
)a pa- dos coraçEes talve- tu desças%stes est2reis, desgraçados campos
;lorir verdes ' de li, do amor, da crença.
)asce a manhã no c2u, alvas formosasão tur$antes do sol* hino encantado
<ompe a terra, que leva ao som dos 4rgãos%t2reos, do regato e do arvoredo1
=ai no hori-onte uma ave1 pelos camposaltam flores e orvalhos, mil doiradas@or$oletas ao sol se em$alançando.Ainda a minha vo- di- o teu nome,
9nda te escuto... mas, descreio ainda!
Que minha alma arrancou de mim passando,
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6omo folhas do mato o vento leva?Que m#sicas divinas oprimiram
&eus ouvidos de afagos de harmonias!Que 2 isto que me enleia, que me prende,
Que me atira p(ra as nuvens que me em$alam)o ocidente de fogo, e a vo- me a$afa?
enhor! enhor! perdoa, eus, perdoa!+uvi tuas harpas, na sua vo- esta vão
=o-es celestiais ' l/quidas veiasTeciamse na relva do teu solo,
0elos teus p2s divinos se humilha vão.0ara o verme vaidoso em t2rreo lodoesdenhaste falar1 por2m eu te ouço
)as vi$raçEes sonoras do instrumentoQue em suspiros degela o peito meu.
o$ um montão de ru/nas, um tug#rio,e palácio que foi, ora ocultava
o sol do mundo uma fam/lia* outrorao$er$a e radiosa, de mil homens
+u de amigos Kno3entos mascarados,Homens e amigos, raça desgraçadaL
<odeada d(incensos, de sorrisos,e meiga adulação. ;ulmina a sorte1
As ondas inconstantes da fortunao$re si refluindo, 7 praia seca
ei5ou ao desamparo o po$re náufrago*%, esse $ando de a$utres, quando o viram
4, dessecado, desapareceram!
Ho3e somente o caminhante pára,escansa uma hora 7 som$ra das paredes,
6aindo os torreEes, passeia a vista,&edita a vida, e se levanta e segue,
Ao punhal da saudade a$rindo o sangueas veias da alma. )o montar das ru/nas,
6ontempla. Ali a sala onde rugira+iro sanguinho, no fulgor das lu-es)o veludo e cristal* pulverulenta,
es$otada a pintura, ondeia o teto(aranhoso tecume, o um$ral pendente1
Que$rados moveis, apagados, t2rreos*Ali a seda resvalou das $elas,
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Ali 3orrou clarão de amor, que e5cita...Fu-ente o chão ' lá está, fendido e su3o,
Que não pde fender ruidosa dança...+ tempo, a sorte como tudo estraga!
"m escravo que apenas da rasoura%scapou, lento passa, mal co$erto1+ vento o leva, os olhos fundos, tristes,antes tão ledos nos serEes cantados1&agro, s4 geme, que sua mãe vendida,
=endidos seus irmãos, vai aca$ando%m mudo tra$alhar penosos dias...
ias da escravidão v4s sois $em longos!Tempo, correi, passai, sumi sua vida.' "m eco doloroso prolongavase
0or esses desolados aposentosom$rios ' d(outrora... % tu fi-este mais...
+ mar van-eia preguiçosas ondas)o oleoso deserto, e muge e $errao$re a praia arenosa, longe* 4 mar
Ó meu irmão do isolamento e lágrimas,Ó mar, como eu te amo! + que tu di-es
)esse choro profundo? acaso triste
Famentas meu del/rio? acaso sa$esQuem deute a vo- a ti, dor 7 minha alma?
<esponde, mar! Ai! não, tam$2m demandasQuem prendeute nas margens, que não salvas,
% dentro delas assanhado $ramas,+ peito ensanguentando pelas rochas.' % árido este c2u com tantos astros,
6emit2rio d(espectros luminosos6om ar de menospre-o cortesão,4 reflete mon4tonos esgares '9ncentivo da dor, do desespero1
o despre-o, talve-! escrença eterna,9nesgotável cálice me encheste
)este mundo sem fim, para nutrirme)esta morte eternal que arranco 7s noites!
ias d(alma, que o sol lu- 7 mat2ria.
XXXV - VISÕES
Aonde eu vou, enhor, onde me levas?
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% isto que me arrasta, e que eu não ve3o,: tua mão? +h, então levame, levame!
Tenho fome* mas, sangue não me nutre,
<epugno de comer os meus irmãos,entarme 7 mesa dos humanos corvos,8ridos olhos de faminta chama,
0astar sanguentas postas de cadáver 'Teus filhos como eu sou, nasci da terra.
Tenho sede* horrori-ame sorvBlasF/mpidas ondas nos meus p2s tão mansas!
&as, tenho sede... Fevame 7 tua fonte,Ó eus, dáme $e$er a água da crença.
0orque fu3o dos homens? porque eu amo,=agar pela montanha e pelas praias,
Qual d(outra essBncia, qual d(areia ou d(onda;ormado, e como espectro, e como som$ra,
%rrante uma hora e desaparecendo,0ara nascer de novo e inda perderse,
;igura he$raica que os desertos formam0ela face arenosa escorregando?...
)ão tenho uma fam/lia na minh(alma(irmãos, d(irmãs tamanha? e porque amo
4 tBlos na minh(alma, e longe deles?: que a distncia prende mais o amigo,
6omo a dor que eus dá fa- mais amálo?Que encantos ve3o em verme s4 comigo,6om a lem$rança dos mortos e o passado,
6emit2rio de crnios florescido?%star com minha lágrima espontnea,
Que eu nem sei porque choro1 e solitário)uma isolada solidão, que eu ve3a
&uito longe, que eu s4 viva no meio% por mim, sem ningu2m que dBme a vida,om$ra pesada e vil?... KCnão tens nas mãosTeus dias?... eus t(en3eita... ei5a os vivos,
%nteado da terra, est2ril peso,%les respirem livre...D +uço o demnio!L&as, no deserto eu vivo, nem procuro
<ama d(árvore* o sol me queima a fronte,
e seus raios me visto qual de fogo,6hamo o sol meu irmão e a nature-a1
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A manhã minha virgem nova e $ela0or quem morro de amores1 amo a tarde,
Que minha mãe semelha1 o vento, os montesão meus amigos1 minha musa a noite1
)oite minha alma, os sonhos as estreitosQue me adormecem na piedosa lu-1+ rio, o mar, o lago melanc4lico,
&eu ser d(ho3e e o passado1 e o meu futuro...+h, meu futuro! a tempestade e o raio
onoras velas do navio rasgamTão quase a naufragar cortando o golfo.
Quando cair meu corpo so$re a terra,e uma alma eu tiver que eus não queira,
9rei então morar so$re um rochedo6omo ave do mar, que dB s4 pousoA mim, o mais, cercado de oceano
0or toda a parte e c2u que perca a vista1+ceano remoto, onde não passe"ma vela, que qual fanal me ve3a
uspenso no hori-onte. % se minh(almaeus a quiser, 4 v4s que mais me amastes,
)essa pedra isolada como eu sonho,
Fançai meus tristes ossos espalhadoso$re essa pedra de soidão* 7 noite
@ranca aurora virá tra-endo orvalhos6air fagueira. % se alma n4s não temos...
ei5aios inda lá dormir tranquilos,Tão cansados da vida! com suas ondasomente e o sol e a tempestade $ela,
6(os irmãos que eu amava os rodeando.
Tu, essBncia imortal do nosso corpo,)asces com ele? 2s filha dele? o crias?...
=ive sem alma o $ruto, o homem morrera!% porque? e organi-ados todos somos,
A alma, que do corpo não carece,%la que vive s4 mais venturosa,
0orque o não dei5a como o $ruto, quando9ndigno dela? 6on3unção su$limeiu$lime aniquilar! A eternidade
omente a eus* a n4s, homens d(argila,
+ gBnio para olhálo, o amor, o canto,% este vago anelar... alma, e5istBncia
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o pensamento, que mais so$e e lu-e,A ele todo! )utrese em desgostos
rosseira esp(rança, e nada a satisfa-*Triste e cansada a $emaventurança
esse dia sem noite, que descansa,)ão valera depois* Ce eus que importa,eparamos aqui...D tam$2m o avaro
)unca se farta de ouro, a águia mais alta&ais quer su$ir as solitárias nuvens1Ao mármore da estátua que talhaste
eras vida, tam$2m morrera humana1;i-erate imortal, mil outros deuses
Quiseram derri$ar seu pai, mais go-oonhariam al2m. A eternidade
)o homem!... eus, perdoa1 deste o sonho,Tão fresco em$alançar, suave engano
a vaidosa loucura. Quanta vida,Quanta felicidade neste mundo!
Amor desde o nascer, e sempre amorAt2 nas tristes lágrimas da morte!
K<eligioso terror! lá passa enterro...ons de sino rodeiamme tão f#ne$res!...
Avante!L 7s nossas mãos fecunda terra
oira ru$entes frutos, flores a$re1"ma vo- doce e maternal no $erço,
Fedice inata vB sorrir a infncia1+s amores depois1 inda a velhice
Tem pra-er e ilusão. i-nos cada anoAs estaçEes o c/rculo da vida,
ilo um dia ligeiro* ve3o a esferaair das frias som$ras e tornar,
as mesmas cin-as renascerem vidas.Qual instru/da a terra de seus filhos,
ores ho3e, amanhã go-os lhes verte,Que seriam mon4tonos. enhor!
)ada sei. )o mist2rio que geroute9rás perderte, lu- de teda pálida
Que arde enquanto o ar rodeia flama*Acenderamte aqui, al2m te apagam,% depois? e depois!... +lha a teu lado,
%is teus ossos ali! A eternidadeA n4s nos levantando desta terra,
%stá na sucessão da vida e morte*+ndulação dos ventos animados
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Que 3á vimos vivendo neste tempo.igam em$ora os profetas, não sa$emos
Qual foi seu nascimento* ve3o tudoempre na mesma idade1 houveram sempre
á$ios e hão de e5istir1 o dia 2 mudoesde a aurora ao sol pr. iro dos ventos!6/rculo eterno que descreve o sol!
a/mos de uma noite, entramos n(outra,)4s somos um s4 dia, e n4s contamos
)ossos minutos pelas nossas dores.
Alma do homem, se imortal tu 2s,6omo cresces com os anos da criança?
6omo desmaias quando o corpo enferma?
0endurados nos seios maternais+ da r2cia, o de <oma sempre foram
6omo quando da idade aos ecos longos(encostavam ao $ordão septuagenário,0endiam a vista, o pensamento imenso,6omo se ao peso dele opresso o corpo;rou5o se desfi-esse em eternidade.)ão tens idade, 2s infinita, 2s uma*% 7 mat2ria momentnea desces,
eguila engrandecendote com ela19nimiga que 2 tua, vens amála,
=estir a virgem de pudor, de encantos,Apodrecer ao pestilente clima
a prostituta imunda, e por vontade,Que do corcel as r2deas tu governas!
+ que vens cá $uscar? romper tuas asasQue são divinas, sucum$ir 7s dores,
As torturas da carne* oh! foras louça,H4spede errante das regiEes et2reas,
=ir so$re a pedra repousar tão vil,escansar uma sesta, e 3á partida
A presença de um eus ir ser 3ulgada!% não foi ele que mandoute 7 terra,
% porque tudo fe-1 tudo sa$endo,&edindo os passos teus antes que os movas?.
;a-em de eus um monstro, te fa-endoimples escárnio seu. &orta a ra-ão% o sentimento livre e a consciBncia,
+ corpo vale mais* cndida filha,A gl4ria do enhor, leu ser eterno
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&edem teus altos vos1 mais vais, mais vives,Que a eus somente a a$soluta vida!
)ossa vida este sangue, a seiva d(árvore,
esta árvore pensante e divinal1ão perfumes nossa alma, diferentes,empre anelante a se perder nos c2us1
+ pensamento, o resplendor que a cinge,A atmosfera vegetal am$iente1
: seu tronco o amor, a gl4ria1 os ramos,+s frutos e o som$rio gasalhoso
% as flores ' a virtude, o crime. : $eloAmar um eus, oh! sim, que um pai n4s temos
Amor, que fa-es dor, que a dor esqueces!
% para amar nem peço alma infinita '&aterial condição do mundo aos c2us.
Amemos de amor santo, amor sem esp(rança,&ãe enganosa da am$ição, dos v/cios*
%sse amor natural 2 mais divino,o que quando nos di-em duramente*
CAdora o que a vingança aguarda, o raio&anda e a peste, o eus de sangue e morte!D
% curvamse os co$ardes, mas não amam,
o medo infame e do terror1 escravosAmantes!... como o pai vi$rando o açoite0ede a $enção do filho. Amor mais puro
emos ao eus dos homens, por n4s mesmos,6omo os pássaros cantam na espessura.%m$ora o sol se apague, os rios sequem,
)ão vamos d(interesse ante os altaresFágrimas d(olhos espalhar, vilmente&is2rias confessar aos impostores,
&ais miseráveis inda, que se enovam)a esperança de que eles purificam.
6omercio d(alma nos marm4reos c2us%ntre o povo e o ministro, o rei sopito
0ela alta nuvem* e, quando despertadoAos latidos do crime, iremos, no3o!
6horar, pedir... 6horemos todo o dia,0or2m, movidos de um amor ' da crença!
Triunfo 7 consciBncia, e sufocado%stale dentro o coração perverso!
eus deunos para n4s o mundo todo,
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+ sol, os astros e este mar2 a selva1eunos vida e sa$er. % o homem pede,
0or pedir, por sonhar pede somente,+ salário do go-o em recompensa
e uma e5istBncia d(asas soltas, pura,Que ele pr4prio s4 mancha! então gemendoente do v/cio as farpas. + inocente@em ve-es sofre* mas, o sangue dele@anha a sociedade que o condena*
+ homem cria o mal ' por consumilo '6ontra o seu deus, oh, prole generosa!
A eternidade em recompensa ainda0ela sua morte e as horas que passasse)a adoração divina! e eus nem fBlo
0ara id2ia tão vil* negando $rutoA 3ustiça infinita, ele não sendo
Tam$2m por esses c2us infindo n(alma.' : c2u em si a caridade, o amor*
6ndidas palmas seu caminho 3unção,Fágrimas vB correr sua morte, e rindo%m piedosa alegria e5tingue os olhos.(alma eterna a virtude não carece1
)em por não ser eterna o crime, os v/cios
a nature-a pendem. %m letras /gneaso$re o rosto da lua aparecesse
A verdade imortal, e as leis da terra)ão fossem mais ' 4 mundo desgraçado,
%u quisera te ver... a lua fora&entirosa* ' a verdade fa- escravos* '
uvidar 2 viver* o homem 2 livre!' e eu lenho eternidade, não m(o digamHomens como eu* no espelho do universo
=e3o uma s4 imagem refletida*0ura religião da consciBncia,
o sentimento da moral divina&e levaram naturalmente e cego.=e3o s4 pedras o falar dos homens*A fera de ra-ão $erre aos cordeiros.
' )em quero recompensa 7 minha vida,8s minhas dores, meu amor de um eus '
Amando tenho o c2u, tenho o meu 0ai!%u sou da terra* a terra, o vento, 7s águas
ão por preço seus cantos? não são eles0reço de amor 7 criação somente?...
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er feli- 2 amar, feli- eu eraAmando a doce mãe na doce infncia.
' + navegante sol passa na esfera,&iramse estreitos nele, e dános dia
Aos nossos olhos e o calor ao sangue*=oa ao sol deste sol, muito al2m dele,A alma do meu corpo na e5istBncia,Ao clima et2reo de sua vida e flores.
)ão 2 amor divino o amor da terra,+nde 2 fanal da longitude o lucro.
Ó santo, 4 generoso amor da pátria!Ai dele o que disser* Cos sacrif/cios
Ao nosso corpo, que o enhor amansam,
A n4s as portas das del/cias a$re1A pátria dávos ouro, augustas gl4rias,6om$atei peto pátria, salvo a morte!D
Hão de cair teus dentes, e os teus lá$ios@a$a infecta derramem do teu peito!
' 6aiam os templos aos p2s da nature-a,: mais $elo este sol de lu- de dia*6omo do mori$undo 7 ca$eceira
0arece a vela insinuar piedosa
+ caminho a passar, mudoeloquente%le nos di- Cal2m!D mais do que os ecoseslavados, que estão se desmaiandoAnte a paternidade desses homens,
Que se di-em do 6risto a imagem pura,0or di-erem* C$atei! feri os peitos!
6horai agora!De as lágrimas s(entornam,ela o terror a vista pela terra*9nteresse servi!!D $randi o remo
o $ai5ei da esperança, al2m dos maresa vida ' o porto d(inefável go-o!D
)ão me ensinem os cnticos sagrados.%nquanto lava de harmonia a a$4$ada
As imagens que impuras mãos talharam,%ntre as paredes tão mesquinhas postas1
%nquanto verte lu- de terra o c/rioo$re a tur$a sonora, gemem 4rgãos% o sino ' que o dinheiro vil comprou
=ou na campina me deitar cheirosae$ai5o deste c2u 7 vo- do vento,
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as águas e do $osque, e a nature-a6heia d(um solitário sol! como ela,entir meu coração valente e novo
(inspiraçEes formosas1 que não dessas
;rases diárias que aprendi, mon4tonas,9nsens/veis na máquina dos lá$ios.
: tão feli-, em$ora o mundo e a sorte,em ser por gratidão do leite e a cama,
)aturalmente amar o filho os seios+nde nascera, a mãe seu filho amando!% essa mãe que adoramos nos promete
+utro sonoro $erço al2m da morte?)ão 2 na morte que ela 2 mais querida?
0orque a perdemos que a amamos tanto?...+ puro amor não tem, não tem esp(rança.
Amai a eus na pa-, na ru$ra guerra,)as ondas do pra-er amai a eus,
)a a$undncia ou no fundo da mis2ria,)a morte, desgraçada amaio ainda.Tirese o filho, a mãe seu leite perde*
eus morrera, seu mundo aniquilando*0erdida a vo- da nature-a e os astros,
+ mar e os homens, quem seu nome ouvira?Quem dissera que ele 2?... 6edro infinito,eus frutos somos n4s aos c2us olhando.%le o quis. e consuma a alma do ingrato!
%rgase a crença que natura ensina,6omo a corrente perenal descendo!
' %sperança do go-o o amor dos homens,% sempre esp(rança e go-o! Amor da terra
Querem darte, enhor* não alimentaelicado man3ar corruptos seios.
A unidade os cegou* multiplicarameuses aqui nascidos filhos deles1% pelos mil altares que divagam
ão migalhas de amor. %u não conheço)em mais que um eus, nem deuses su$alternos*
Ao primeiro me elevo, amo o primeiro.' 9dolatria eterna! as $entas águas
@rutal gentilidade não lavaram*
A fam/lia cristã se degeneraesde a morte de um pai. %lege o povo
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"m para santo, e dá poder divinoe suas mãos 7s dele... Homens da terra,
Tão n2scios, que $uscais? como os insetos)oturnos, ante o dia deslum$rados,
A ca/rem se agarram pelas folhas.' Fá se em$ala na praça o enforcado*+ carrasco em seus p2s se dependura,
=ai nos om$ros saltarlhe... esperta o peitoAo t/mido mance$o ' a tur$a aplaude!
As carpideiras torres não choraram*)em se alegrão passando o inocentinhoQue viu antes a morte que o $atismo*
>á leva deste mundo o 3ulgamento*%ra fogo lento vai gemer, nem pde
%m coros celestiais ser queru$im...An3os te negam, enhor eus, não sendo
%ducados e feitos por mãos deles!Hip4critas, eu vi monstros do incesto,
Que ungidos foram, qu(inda o são no ocaso!' 6urvaram os animais antigamente
As ru$ras aras d(ouro a fronte do homem*e mil homens os p2s ho3e $ei3amos.
Todos um coração sangrando mordem,
Todos vivem da vida que era d(outrem,Que para si aos seus irmãos arrancam.
Humanas feras, muito mais que os homens,;erinos homens, muito mais que as feras,
A nature-a verte* indiferente"m e outro adorara, se não fosse
&eu amor todo s4 de um eus ' um eus!% s4 de um sentimento pio e irmão
=e3o o mundo ' do monte ao $ruto ao homem.
Fia a @/$lia por noite indo os gemidoso 6risto neste dia d(endoenças1
Fogo o enfado da vida adormeceume.C=oa, terra do sol que vem nascendo,C<ece$er os seus raios que se perdemC)o árido espaço, de fecundas flores
C&urchas regiEes a$rir...D %u so$ressalto,6aindo o livro. 0elas ruas corro,
6omo levado de u(a mão* no peito
e engrossando o coração me estronda1%m destroçado pensamento a fronte
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&e sussurrava. Agora tudo pára.+ c/rculo em que eu ia, se escoando,
esencantoume em terra. eus! a som$ra(Ana fronteira a mim! Quantos amores
e um sentir tão m/stico se li$ram)este espaço, infinito! encadeado,(entre os meus olhos e os seus olhos!... e ela,
% eu, mão grado nosso, nos fugindo,Bnio invis/vel nos sustinha* encanto,
;lecha atrativa se irradia dela,%u era o astro do meu centro em torno.
%u senti uma vo- #mida e vaga6omo $risas de seda me enleandoe asas vaporosas, e um perfume
e $oca virginal1 rumor depois,6omo do estremecer das folhas verdes,
% as rolas quando voam. Que me arrasta?...6omo d(aurora afugentado sonho,
&inha alma foi de mim. <angeram pedras,@em como outrora na cidade santa.6hamoume louco atropelada tur$a.
' &ais divina que amor, oh, mais celesteo que o reino dos c2us e o ser dos an3os!
% eu $em cansado desta vida morta,=iveume o seu amor! entro de um astro
6orrendo penetrei na minha grutaem lu-* tudo uma som$ra povoava.
%stendime no chão dando uns a$raços,@ei3ando uns p2s em soluçar de amante
;eli- ' felicidade o amor somente '%u era o esposo dessas som$ras todas,Todas uma, ou meus olhos todas elas,
Ternas de mira, chorando aos meus del/rios.' Tu me fa-es cristão, tu dásme a crença,
Tu 2s o signo santo dos meus lá$iosQuando a aluada em l/mpidas endechas
e ti falando despertarme vem*Ó ave da manhã, quem que ensinoute
i-Bla?... &e alevanto, e ve3o o dia)o oriente indeciso. %ntão, $randindo
)a minha vo- teu nome, eu vi a erguerseas montanhas o sol1 risonhas lu-es
e suspenderam nas fitaceas palmas,Que se do$raram refletindo orvalhos
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Adiante dele1 $alançouse o vento1%stremeceu a selva, como as virgens
)o fim do sono sem sonhar suspiram1: pelo em torno se afinaram r#sticos
alt2rios de alegria. =iste, 4 Ana,Ó som$ra da mulher que não e5iste,(uma e5istBncia d#$ia a nature-a
A$rirse como a flor? assim minha alma.0or2m, eu sonho que de mim te arrancam*&eus gritos, meu chorar de nada valem...
&esmo som$ra de amor, que eu ame, eu perco!
Tudo 2 mentira em miserável mundo!Tu, que eu 3ulgueite dom celeste e santo,
A maldição a ti, que me enganaste,;alsa ami-ade... não 2s mais que do homem
Hipocrisia e erpe. % eu pensavao amor na eternidade... maldiçãoA toda esta e5istBncia! )uvem $ela
6o$ria uma hora a flor que o vale cresce.Apareceu o sol ' negra verdade!
% tudo não foi mais do que uma som$ra,"ma estação da momentnea infncia.
Ho3e, 4 irmã, eu rece$i tua carta,)a flor do amanhecer me alevantando,6omo essas aves que n(aurora cantam)o teto da choupana e estão di-endo
Que o sol 3á nasce* e eu que no meu leitoArque3ava do$rado dos mãos sonhos,;oste lágrimas d(alva, o dia d(ho3e...%nchesteme de amor todo este dia!e nossa mãe, tão doce, me falavas*
Ceus lem$rese de sua alma... eu sou tua mãe...C)ão me fales assim... morrer tão longe,Ce dor e de saudade, onde não sai$am
Ce ti homens e o mundo... 4 meu amigo,CQuantos punhais no coração me em$e$es!...Ceus quer nos consolar... do esposo ao lado,
C"m $em perto do outro n4s vivamosCempre, sempre, meu eus!... serei tua mãe,
CTeu consolo, depois desse gran 0ai
Co$erano, a quem sempre eu rogareiCTão triste pressentir, e os sonhos mude,
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CTire do solitário pensamento...C)ão desanimes ' tão esmorecido!...C>á estás cansado de viver? 2 cedo '
C+h! 2 tão cedo ' vive mais um dia!...D
Que palavras do c2u! ainda a terraá flores que nos dBem tão grato aroma?...+h, fala sempre dela, nossa mãe!
Há tanto tempo morta... oh, fala sempre!+ que derrama no meu peito a lágrima,
or, orfandade, dáme tam$2m vida*% minha alma viver, 2 na triste-a
olitária e5ilarse1 o d4 dos t#mulos,a saudade co$rila. &e rodeiam
Tristes som$ras da noite, frias, mudas,
ão mist2rios do morto* e tu disseras&eu limite amanhã, ho3e chorando1
0or2m não, 2 minh(alma que 2 tão triste,)em tenho tanto amor, que a vida chore.
ão teus melhores dons o pranto e as dores,enhor, porque mais perto a ti nos levam*0or isso eu amo a noite, amo o deserto '
Fá se desatam as prisEes magoadas,
% s4 contigo estou, e não nos ouvem.)os perigos do mar, so$re o naufrágio,
Quem teu nome ensinou, que o nauta ignora?Ao mori$undo que se estorce e do$ra,
Que sua vida passou salteando os montes,escrente as veias qu(inda rompem sangue6om suas unhas cortou ' seus ais da morte
Quem do teu nome encheu, ferindo os troncos% as penedias que seu leito o ouviram?...
Ó 0ai, 4 eus dos homens, eus dos astros,Que nessa hora tua mão piedosa estendes
% uma esmola de graças nela $rilha!Horas feli-es do perigo e dores,
olenes, $elas, do enhor tão perto!' ão teus filhos eleitos esses $ardos
emendo pela terra sem ter pátria,<odeados de morte, os p2s te $ei3am.
o$re o mar, procurando o c2u, se eleva
%m colunas de som$ra e de ar e d(água"m templo* ve3o um ser $ai5ar so$re ele,
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Que as colunas $randeiam, o mar se arqueia,Humildemente geme, e o mar indmito!
&ais puro do que a noite, eu mal o en5ergo,6omo o sol... não, não 2, que o sol num disco
%ncerra as frmas de ouro* não tem frma,0arece a eternidade e o infinito!isseras qual uma ave transparente
Que com as asas envolve a imensidade!"ma lu-, que concentrase a e5tinguirse,
ando mais claridade ao pensamento,Quanto a tire aos sentidos1 que tão pura
%stendese d(ali por toda a parte,A terra, os astros e os celestes ares
em refração seus raios trespassando,
%m$e$endo de vida e de piedade1Que tudo anima e fa- amor tão santo,
Que de um s4 pulso inteiro este universo"ma respiração palpita eterna
A ela s4! )ela s4 tudo desperta*As aves vivem mais a ela cantando1As plantas quando o -2firo as agita1+ mar quando mugindo $al$ucia,
9nfante o nome de seu pai, mais vive1
+ $osque amigos não teria e os ventose fossem mudos, não dissessem ' eus!
%u tam$2m vivo mais, morrendo nele1+h, tudo vive mais nele vivendo!
ai minha alma de mim, ante os altares)ão su$iu* filho ingrato, arrependido,Que apro5ima seu pai timidamente1
6ão que mordera seu senhor, que humildee arrasta e escondese em lugar so-inho,
A vista lenta, e doce como a crença,%spiandoo por ver se ele o perdoa 'Assim piedosa por detrás das ondas
0ede som$ra 7s colunas... &as, quem tudoAfugentou, co$riu de horror do mundo?...
eme a festa nos flancos do castelo,9mpura ondulação d(infrenes vo-es
Tolda o espaço* minha alma recolheuseTrBmula e fria a emudecer de susto1
% da poeira sonora que ergue a terra%u não ve3o mais nada, os olhos turvos.
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% depois outras vo-es me perguntam*Ce fosses um caminho, onde encontrasses
alteadores mil e um homem preso,
% te dissessem* este homem vai morrer*e queres passar livre, matao1 ou morres*:s simples instrumento. + que farias?D
<espondi* eu sou livre, não matara,&e perseguira a som$ra do assassino1&orresse em$ora. <iramse de mim.0ergunteilhes* se fosse o prisioneiro
=osso amigo mais /ntimo? C&atávamos10orque ele ia morrer, e n4s somente
)ossa vida salvávamos, podendo
er #teis inda a ele e aos que ficassem.D
e fosse vossa amante, vossa filha,e fosse vossa mãe? C9nda matávamos1
Assassinos não 2ramos, da morteendo o punhal por mãos d(outrem vi$rado.D
<ime deles então. &as, vossa mãe6om um sem$lante de c2u pelo seu rosto1
6om seus olhos de lágrimas olhando
eu filho que ela amou, $ei3ou na infncia,6om seu canto da tarde so$re o leito
%m$alou e adormeceu ' seu filhoQue ela a$ençoava ao sol nascendo,
)as estreitos da noite, e 7 flor do campo,Ao vento quando move a nature-a1
ua alma da e5istBncia era o seu filho,eu filho os seios lhe romper, sangrálo
e morte! donde a vida em lácteas ondas6orrialhe, num rio espontneo
o c2u por climas divinais passando!%la piedosa vos pedira a morte,
im, por vida inda darvos* leopardos!% a maternal doçura feminina
+ peito d(homem não $randira ' ego/smo!0or um dia talve- 3á s4 no mundo,
Que se passa a dormir, que nada vale,ereis a morte ao que teria inda anos
e vivo tervos na moral do amor...
"m cão 3á vi morrer salvando um homem!' % eu matar minha mãe... meu eus! viessem
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<aios do inferno so$re mim, serpentes(asas e olhos de fogo, com mil mortes
Todas Isfaimadas, com mil deuses, todos"nhas e dentes regaçando em f#ria
0ara aca$arme ' ainda eu me sorrira '+s monstros friamente desdenhando,)os p2s de minha mãe eu suspirara&eu #ltimo suspiro1 e ela morrera,
)4s am$os morrer/amos! Ó homens,ei5aime com meus sonhos, com minh(alma,
)ão vinde pertur$ála1 diferentes=4s não sois meus irmãos, vos tenho horror!
)aqueles ares, vede, há pouco estava%dificado um templo* eu sossegado
G som$ra do meu eus parava uma hora*;alastes, tudo se sumiu! dei5aime
6o a minha noite e as minhas ondas, tendes+ dia inquieto para v4s e o mundo.
=em, 4 musa, modesta divindade,%m pedaços minha alma na poesia
=erter* eu te amo! que minha alma rompes% mais leve me dei5as do seu peso,
Tão descorada! quem das faces #midas+ veludo celeste matutino,
As rosas virginais tão cedo esfolha?Tam$2m a dor apaga, como a onda+ dourado fulgor da areia $ranca,
As faces1 nos teus olhos lá se e5tingueA esperança* mulher enganadora,
0or quem morrem os homens iludidos,%sgotados de vida e crentes nela.
i-endo inda ela no cair do t#mulo6o(os $raços de cadáver suplicantes,
% ela voa risonha d(inconstncia.&inha terr/vel inimiga, esp(rança!
ecaste os meus 3ardins e as minhas linfas1%u morra ao menos sem te ouvir long/nqua
Teu canto sirenal1 roçar tua vestia6repitante a ca/rem minhas pálpe$ras,e estendendo na morte1 deusa falsa,=á tranqila, minh(alma deste inferno,
+nde 7 tua vo- somente errante andava1% cansada da vida, outra não pede1
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&as, inda viverá se eus o manda.)em para os c2us nem para a terra, esp(rança,
)ão careço de ti, mulher perdida!
0elos vales do espaço a vista eu solto0or detrás do hori-onte, quando as nuvensAo c2u limpo não traçam seus limites1Tão amplo e tão va-io o Armamento4 adormece e eleva* então me sinto
T#mido o c2re$ro, esquecer meu peito&eu coração, d(uma alma entorpecida,% de um pesado pensamento assom$ras
A$atemme* enhor, dá vida e forçaQue eu possa compreenderte para amarte,
i-emm(o os homens1 mas a voa dos homens%st2ril para mim, ouvir nem posso*
ou como eles1 me fala tu somente!' Tu vens no galopar da tempestade?=ens no pavor da noite e so$re o sol?)o tempo derri$ando nos seus passos
Tão largas geraçEes e geraçEes?6om p2s de fogo a terra verde3ante
;a-er passando adusta, esses imp2rios,
6idades em pedaços palpitantes? '&as os meus olhos materiais não $astam!
=em tu mesmo, a verdade e o infinito,<efletir na minh(alma, que se esmaga
o$ o imposs/vel no estupor que fa-es!' 6omo tu fa-es delirar O matas
+ que em terra se arrasta /nvio 7s tuas portas!+h! que pai que tu 2s! oh! maldição!
e eu pudesse dormir sono de um morto,0or não sonhar em ti, dera esta vida!
@alar da vaga humilde, 2s s4 7s praias.
% aquele sol co$arde vai fugindoA voltarme o seu rosto! se eu pudesse
0elos ca$elos arrancálo 4 ocaso,% destes $raços o suster im4vel
Fá no meio do espaço, e frente a frente,;enderlhe o peito, que uma vo- soltasse
%m fumo envolta!... A lua desmaiando
e enco$re por detrás dos arvoredos,"ns olhos timoratos da don-ela
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issimulando a id2ia, e detençosa;e- dois passos no a-ul, tremeu de mim.
% este vento, que há pouco nos meus om$rosAs elásticas asas meneava,
%scapouse tam$2m, me ouvindo ' eu s4!...
&as, o rio que passa a-ul, vermelho,6onforme a cor do c2u, quem foi que o fe-?
Quem 2 que do despenho alcantiladoFevao saudar os campos e esses vales?
% este vento que me açoita as facese condenado e arrancame os ca$elos?
% este coro florestal da terra,olene e cheio, como dos altares,
=o-es, 4rgãos, incensos todo o templo?%ste meu pensamento pressuroso
<olando dentro em mim? este meu corpo)inho dessa ave de tão =astas asas?...Quanto 2 su$lime todo este universo!
Quem te negara o ser? ' quando houve tempoQuando nada e5istiu, que tudo fe-se!
&ás, o infinito compreender não posso.onde sa/ste, eus, onde vivias,
<odeado do espaço? ele geroute0or dominálo sol onipotente?
&ais ele fora. )ão. Acaso o caos,<evolvido incessante 7s tempestades,%stalado em lascEes, lavas $rilhantes,+utras t2rreas, li$randose em$aladas
)as asas da atração fraterna entre elas,Qual presas pelas mãos por não perderemse,
+rdenouse por si? ou fora acasoA criação fatal, tudo se erguendo
egundo as circunstncias? +h, infernoa o$scura ra-ão ' mofa, ludi$rio
6om que eus pisa o homem! "m eus fe- tudo!"m eus... palavra a$strata, incompreens/vel...
&as a sinto tão ampla, que me perde!' % então, quem aos mares suspendidos
A verdura defende, e que se atirem"ns astros so$re os outros? eus... um eus
Ao sol dá cetro e lu-, asas ao vento,
Feito 7s águas dormir, del/rio ao homemQuando queira a$raçálo. orme o infante
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o$ os p2s de sua mãe, que ama e não sa$e*A nature-a ao 6riador se humilhe.
)ão tenho alma infinita, porque 2 cegaA verdade imortal* visse ela o eterno '
Quanto eu amara! quanto! %u sou $astardo,)ão sei quem são meus pais... se amar não posso,A e5istBncia me enfada* en3eitoa, e morro!
%u estava num mar de calmariaAmplo e cheio de sol, meu peito o esquife&udo arque3ava1 as velas da minha alma
)ão arredonda nem um vento ' descem,0elo coração se escorrem1 durmo
)o meio das soidEes de minhas mágoas.
enti na minha face um doce alentoTra-er os meus ca$elos* fria e t/mida
&ão seráfica a testa levantoume6om li$erdade fraternal1 meus olhos
e pranto escuros não puderam vBla.uvidava uma vo- de sensitiva,
e fle5/vel luar, long/nquo incerto,0orque era virgem e amante1 mas, coragemeulhe a piedade, o amor* eu tenho ouro,
C&uito ouro p(ra darte1 ergue a tua vistaCa terra, qual meditas que ela guarda
CTantas rique-as, te denega escassaC+ teu pão de amanhã... sB meu esposo...
C&eu esposo feli-! ' al2m desta alma,C"ns anos alvorais e os meus amores
C6astos, muito ouro para darte eu tenho.D+s meus olhos na terra pelo ouro!...)ão, pesados de morte descaiam*
"m s4 meu pensamento ao ser mundano,Ao sangu/neo motor nunca eu dei,%u andava $em longe! e eriçava
A longas do$ras de um espanto $elo% de nervosas comoçEes minha alma
o$re as $ordas do nada* lá nascia+ mundo, os campos se estendiam, os montes
o$repunhamse, e logo o $osque, as ervas6oroam e co$rem de folhagem e som$ra1
%u sentia esmagaremse na esfera
+s astros seu caminho procurando,<e$anho alvoroçado em campo estranho,
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epois se acomodavam1 o sol despedeeus raios primogBnitos1 mais fracas%streitos 7s mais fortes se rodeiam,6omo o rei do +riente está no meio
e mulheres tão $rancas, tão mimosas.0or2m sem lu-, que o seu amor reflete%m distncia. %u choro, virgem moça,+ amor, por2m não o amor da carne1
%u choro a dor que o corpo não conhece)em teu ouro não cura. ' e repente+ mar tremeu1 as ondas sepultavam*se
Assim, perto de n4s, como s4 a terrae$ai5o as devorasse, nos ouvindo1
urdo estrondo $anhou todo o hori-onte,
Terremoto passou su$marino.As mãos prende nos seios assustados,
<espirando perdão nos olhos $elos)o rosto meiacor, tal pousalousa
;olheia as asas que de sol se orvalham0or c2u de $rando, d(inocente a-ul.
)ão te aterres de mim, fala um defuntoA virgem longos $raços amorosos.
%u 3á não vivo mais* vBs, como eu fu3oe ti, mugindo 7s solidEes e 7s noites,
e monte em monte, como a fera errante?Amo a$raçar a rocha sonorosa,
Quanto amava a mulher inda homem mesmo&eu peito aquece a pedra, e destas mãos
Afago as ondas suas que me cercam.+ $ardo d(ilusEes, que ia cantando
&imosos carmes do equador esplBndido0elas margens risonhas da esperança,
Aca$ou*tenho 4dio aos c2us, aos homens,Troco a lu- peto som$ra, e s4 respiro
estruição e tempestade e morte!
6omo ia tão fresca a primavera!% eu me sinto cair do verde cume,
Qual fruto apodrecido pelo inverno,+ velho d(alvas cãs d(envira $ranca
Que de viver cansou1 nem tenho inve3a
Ao homem que em seus cálidos estios6ontempla o vasto da e5istBncia. Ai dele
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+ que desesperou deste mist2rio!este silBncio est#pido nos c2us!+ pavoroso assom$ro de natura
%m vago e n2scio sussurrar! Ai dele...
espre-o ao mundo, e maldição a esta alma,Que os olhos a$re para ser mais cega!
"ma onda no mar levando o eco,&eu coração 2 campa solitária%rrante petos naves ruinosas
e t#mulos desfeitos, rotas som$raso peito meu1 2 como ave ferida,
Que somente estre$ucha, entesa as asas0ara os gemidos no estertor da morte*
)em F/$ano sagrado eu sou, e a gle$aa eternidade os cedros meus não plantão1
)em olho para o longe, envolta a fronte%m negros $raços de ata#de, eu durmo.
6ansado via3or, descanso 7 $aseo monte que desci ' frondosos campos!
+nde as imagens duvidosas, $elas,=erdes folhas arrancamme passando
+s ventos a perder* eu estremeçoQue nos v2us d(ilusão que al2m s(estendem
)ão durma o raio da desgraça, e as florese p2talos rosados não me arro3em
6om seu peso de ferro. +h! doce aurora! '
%ra fantasma1 a vo- de escuridão)a carreira dos ventos misturouse*
CQue faço, qu(inda e5isto? a morte! a morte!% os te4logos di-em ' nossa vida
0ertence a eus, que a dá ' &is2ria ao homem=il e5istBncia mendigando, fraco!
9nda aos dias mais fundos de desgraça!% eu in#til no mundo, e lasso dele,
&inha vida nas mãos, não quero os dias...%spinhados ca$elos se amoleçam,
A fronte alisese aos que me ouvem mudos6om fi5o terror passar nas som$ras
0ela esfera infernal das minhas noites 'D
onho, sonho de amor, que me adormeceD
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Tumultuosa, amotinada esta alma!"ma inefável am$ição me segue*
&ulher, uma somente, como os an3os,%m cu3as mãos eu desfolhasse todo
%ste amor que me anseia, vaga vivaA querer se perder. ;eli- da virgemQue nasceu para mim! que eu acordálaAo meio dia do amor! como essas flores
Que a$rem 7 força do calor do sol10or isso ainda mortas vertem cheiro% o vivo do escarlate não descoram,6omo as d(aurora que favnio anima4 %nquanto do orvalho umedecidas,
e fresca mocidade as faces tintas.
%ssa que so$re mim primeiro os olhosAcender de pai5ão, que ainda estavam
%ntre as capelas virginais fechados1%ssa, onde o candor de um riso infante%nvergonhou primeiro o gesto ameno,
% o coração repreenda O de mimosa@usque, po$re! tirar de si minh(alma1%ssa, dormindo da e5istBncia o sono
esde os seios da mãe It2 ao meu peito,
Alto o sol, viuse nua diante dele ')ão era vol#pias sensuais enferma
escamisandose, espasmando o corpo ')um assalto de amor vago, encantado,0udica rosa em flor, se esconde, crenteQue no seu rosto o coração lhe salta*
Ó virgem, onde estás? 4 rainha noiva!...' Fá das partes do c2u a ve3o... vem...
=4s podeis começar os nossos dias,Fácteas manhãs e as $risas da montanha!
6asal ditoso, n4s não pecaremos,Aqui não há serpente. A minha fronte
omente por dormir o teu regaço,Teus p2s hão de em$alar, nos meus ca$elos
entindo o afago da tua mão cheirosa.)osso universo s4 de n4s composto,
Amores respirando no ar, amores+ coração $anhando, iremos longe...
+nde s4 testemunhe a nature-a,
A terra, o vento e as estreitos altas+ nosso corpo nu... an3os selvagens!
8/18/2019 Harpas Selvagens
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+s $erços de roseiras e a ramada)ão murcharão neste :den* novo sol
Há de ver se murchando o velho monte,)ovas flores nascer, nova esmeralda
ourando nova relva, se estendendoos p2s aos 3oelhos, como 7 lu- aspira,0or o cinto lam$er, $raços d(esposo)o enlear de enlevos ' oh, triunfo!
)estes 3ardins há eus, so$re este clima+ndula o Armamento dos amores.
A tempestade, o mar, a vo- d(ameaças)os provocara o riso* o sol somente)ossos quentes vestidos, muda lua
)os seus serEes de luar tão s4 nos vira '
Fonge d4s vivos, evocando os c2us!%terna vida! amor eterno! esta alma,Ave perdida, errante, ho3e somente
Ao ninho conhecido, ao ninho amadoFevantará seus vos, e do passado
em ler nem crença não terá saudades.
' =Bla saudosoolhar mui longamente+ caminho que eu fui, quando lhe ouvia*
CAdeus, vem cedoD* e vBla inda so-inha,Qual presa 7 minha imagem que a circunda,
0ensativa e $em triste* e quando, $ela6omo c2u, num relmpago assaltada
=oando me encontrar, darme tão linda"ma face de amor ao $ei3o amante,
% de alegre de mim desapareça...% sempre, sempre no primeiro dia,
% di-erme lá da alma* C6omo podes%ssas horas passar sem mim tamanhas?...D
%m$ora o sonho se rompesse, eu vite!6hameite an3o dos mares* oh! me salva,
Terra onde eu tenho de aportar, ou morro)os escolhos da sorte, a não perdida!
6hameite estrela do pastor1 chameiteA flor dos c2us, que eu ve3o solitária
&inha irmã, como eu sou, no mundo d(homensA mim teus olhos s4 te amostrem, como
Ao sol nos c2us do dia os astros morrem.' &as, nada foi* em$alde nos meus olhos,
8/18/2019 Harpas Selvagens
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6omo a lu-, eu 3ulguei tudo ela ser1As árvores em flor eu sacudia,
As que eu achava mais como ela1 em$alde%u vi $rancas imagens se gerando
)a rainha vo- ' perdiamse qual nuvens,Qual pom$as vaporosas no hori-onte(alvas da esp(rança e da felicidade*"m eco prolongavase, e somente,%m rápidos, sens/veis ondulados,
6anto d(ave da tarde ap4s a chuva.' An3o mimoso, de nevadas roupas,
% os ca$elos de sol, os p2s argBnteos!...Amo esta som$ra ' tu, mulher não 2s.
0or2m tu me di-ias no descermosaquele morro 7 tarde* Cnestas virgens
Amor não ha, poeta, ouro somente+s pais lhes mostram1 teu cantar desdenham,
:s po$re, nada vales* e que importaAlma capa- de suspender os c2us
A$ai5ados aqui na vida /ntima,Que 7 nature-a o coração desdo$ra
% o corpo despe desta impura terra?...
Que importa ' 2s po$re, nada vales. +lha,+ homem que lá vBs delas cercada: vil traficador, nasceu tão $ai5o*% ho3e um potentado numeroso,
=ai 7s salas do rei, $rilhante o peito!A velha po$re mãe Istá pelas ruasA mendigar o pão, ele a desmente
Quando a $enção lhe dá! Órfãos, vi#vas+ nome seu maldi-em1 mas tem ouroTanto, 7 vista pertur$ar! uas filhas
&ais l/mpidas e tenras são presentesQue os pais ricos lhe levam1 e esses olhos
Tintos em menospre-o, resvalados0elas costas a amor, que ouro s4 que$ra,Arrasta nos seus p2s, deita era seu chão
&arm4rea cortesã de frios risos,e fáceis prantos que seu peito ignora.
)ão há felicidade, isto que 2 d(alma)as metálicas frmas se mareia1
Amor do corpo s4 ' n um dia, cansa,%nfastia a e5istBncia, a alma se fecha.D
8/18/2019 Harpas Selvagens
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' &as, eu te respondia* e que me imporia+ ouro e os amores das mulheres?
%u, descrente do mundo, adeus eternoisse 7s suas virgens. ;ale a nature-a,
6ala a fortuna* a timide- dos campos,+u a filha do pr/ncipe so$er$oHá de ser minha, morrerei por ela,
&ão grado o meu destino* indiferença,%u despre-o o que possa a terra darmo.
Amava uma criança outrora, quandoAos seus $rinquedos inocentes via
=oltar minha e5istBncia1 e tanto amoume,Aos carinhos dei5ar da mãe querida
0elo vir suspendesse em meu pescoço@ei3andome, apertandome* parece
Que nela estava a aurora dos meus dias%m cada amanhecer se enru$escendo1
% 3á corriam negros de triste-a% de orfandade. +h! tudo era alegria
iante dela, nascer* lu- matutinaQue um -2firo alevanta afugentando
+s primeiros negrumes da minha alma.
@or$oleta do prado ao sol voandoAs asas $rilha e esmalta, a mim se lança
)os raios de um amor do coração*=e3oa l/mpido l/rio rodeado
o candor virginal, despenteada,6o a camisa infantil nevada e pura,
+s $raços nus e o colo, os p2s de rosas,Fevantarse do leito e vir correndo,
&imosa e $arulheira como a criaQue salta na campina ao vir do dia,
eus $ei3os matinais prme na fronte,As mão-inhas correr nas minhas faces,
Que no seio lhe encosto perfumado+ndeando de ang2lica inocBncia,
e vapores de amor, que e5alam an3os.=e3oa no sol pender, cantando os pássaros
6om saudade, e nos hinos vegetais0elos desterros da montanha e o vale1)as palmeiras cadentes no hori-onte
Qual lmpadas et2reas, ou de noiteAlve3andose os campos estrelosos
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6omo frota no mar1 e sempre e5ata&inha som$ra, meu raio me seguindo
)(um cativeiro que o amor prendia,Finda a$elha que em mim seu mel formava.
6aminhando o c2u d(astros, nos co$rimosos seus moles e trBmulos clarEes,6omo das $arras da manhã vermelha
o formoso equador1 e eu lhe mostravaA nature-a esplendida nas flores.
C=em comigo* desponta alvo açucena!D%u lhe disse, e por vBla acompanhoume
"m meu contemporneo, meu amigo(infncia, $elo, namorado e ledo,
Quanto eu era som$rio e mudo e triste*6adeias trança deslum$rantes, grossas1
%ra a flor dos salEes e da $ele-a% na lira cantava os seus amores.
' +lhounos a menina friamente,% d(entre os meus 3oelhos desdenhosa
;oge ao gentil, ao festival mance$o1% os an2is afagando que pendiam,
;e- um ar de mulher e a$andonoume!
%u senti meus ca$elos se entesarem!&ofou da minha vo- desconcertada,% que o luto e a po$re-a me co$riam,% nunca mais amoume. Ó nature-a,Ó eus, que fa-es a mulher tão $ela
esde o $erço, e tão fraca! inocentinha,Que má sorte 2 a tua, que o teu peito
angue tão mão $anhou! e eu te amava,6om que amor eu não sei, mas 2 verdade.
Ho3e mais fortes te coroam os anos,% a minha vo- escutaras piedosa.
' %spera a nature-a aos teus amores*A terra 2 falsa, não te iluda a terra.% eu de minha ve- 3urei que o ouro
)unca $rilhara so$re mim* não queroQue por ele me adorem. Quando a virgem,
Quando eu nos encontrarmos, que a correnteo amor nos 3unga e comunique, entre am$os
&ais nada al2m de n4s ' triunfe o amor!
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XXXVI
Ó noites infernais da minha vida!esespero e descrença os c2us e a terra*
Fá não tem uma vo- que diga ' esp(rança!Aqui não há sorrir que diga ' amor!
"ma lua cansada e sempre morta,ormindo pelos cumes das montanhas1
"ma hip2r$ole $ruta1 uns pirilampos)uma a$4$ada f2rrea pendurados '
8ridos campos onde moram pedras!)ão ve3o a aurora mais do que um sem$lante
(escárnio 7 humanidade1 o feio ocaso+s olhos a fechar s4 lem$ra a morte.
A terra por si mesma fa-se em homens*Jum$e espectro inconstante de urnas horas,
)em mata a fome, e vaise desfa-endo '9nda a sonhar, que não viveu, sonhava.
&eu sonho dos feli-es, que passouse,
0orque me despertaste? %ntrei num c2u.+uvindo ' eu te amo! ' foi mentira. + inferno
Ho3e me envolve, me envolvendo o amor!
(esperança em esperança corre a vida '%5istir 2 esperar* porque eu morri
esde que a vela suspendendo 4 acaso+ meu canto entoei desta desgraçai
&ar sem praias! ' seus ventos me di-iam1)ão vBs lá no hori-onte os verdes cumes>untos ao c2u? ' Andei! fagueiro e ledo.% tão cansado, e sem chegar mata nunca,
=i caindo a verdade! %is porque eu morro*=ive quem dorme e sonha. A dor me uivando,
%u quis aniquilar minha e5istBncia,Que era fantasma o ser, mentira a vida.
&eus ecos delirantes retum$aram)a minha alma em suas chamas consumida,
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%m vão!... Quero viver ' vem, c2u da noite,@anharme do teu sono* eu durmo, eu vivo.
emnio d(alma, ceticismo horrendo,
;ilosofia cega, oh, vaite! vaite!as opressoras escarnadas garrasoltame ' aos vales da o$scura crença.
%squecete de mim, fechame as asasinistras de som$rio noiti$4*
%u quero amar a eus, homem e os an3os*=aite! dei5ame em pa- ' feli- eu sou!
6onsumiste minha alma enegrecida.
Tu disseste, que um eus não me acompanha1=ã fumaça minha alma, que meu corpo%m cin-as perderá passando o vento.
&e negas um repouso, um doce amigo1&(incitas duvidar no amor da virgem*
% murcho e frio me recolho 7s som$rasa minha vida a me a$raçar co(a morte.
+lhei... &eus dias vi do sol caindo.%scutei... ;oi meus lá$ios estalando
%m maldiçEes ao ser desta e5istBncia,Ao er que so$re o sol conta os meus dias!
% eu que me assentava ao p2 da serra,=endo as estreitos como ninfas de ouro
u$indo lá do fundo da corrente,6omeçandose a noite a encher de som$ras1
%sperando que a lua atravessasse)o vale, por saudála destes nomes '
CAna e minha mãeD ' achei s4 t#mulos*0álido o amor, pálida ami-ade!
Achei a minha vida ser tão longa!6omo o passar da eternidade* em$alde
ormia as horas, e nas dores de ho3e&eus dias de depois eu descontei.
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SOLIDÕES
XXXVII - V (((
K M?* >M M*>*%.97F L
?ão mais o amor fatal, o amor do inferno'Encanto o amor da natureza 2 7ale!
Quando fores mais crescida,Quando sou$eres falar
Quando mu dares os dentes,ei5aremos o palmar*
% este p2 de mangueiroQue som$reia este lugarHá de cair de saudade
o$re estas águas do mar.
)a leiva de terra estranha6ai do $ico d(ave errante+ grão que preso levava%ra seu voar inconstante1% dali nasce uma planta*
Quem foi que a plantou? Avante,0or entre as moitas da ur-eesmaia en3eitada infante*
)em da quadra cultivada0elas mãos do lavrador,
)em da semente aquecida%m seios fortes de amor,%la não foi... desfalece,
6omo os mist2rios da flor,+lhando a sorte de eus%m muda, inocente dor.
)os seus $anquetes o mundo%spera a filha sem pai1
+s homens lançamlhe o preço1%m vil mis2ria descai*
<ode a os olhos mendigos,
% nada encontra... um s4 ai!A morte sua presa arrasta1
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0or2m, eu digo* esperai!
Triunfo! triunfo, 4 eus!)ão morres, filha, sou eu1
:s aos lados de teu pai,%rgue a fronte, o sol 2 teu.' )ão mintas... como eu te amara!
&eu pranto nunca escorreu0or uma felicidade...
%stou nas portas do c2u! '
Órfã da mãe perdida,)em 2s a filha do amor,
Que o fogo d(alva dos anos
4 queima, não ama a flor*)esse qual vago saudoso,)esse qual perder da cor
@em di-es que 2s d2$il frutoe adolescente candor*
esanimado crep#sculo%m teu sem$lante esmorece,
:s $otão misterioso
Que de manhã desfalece*)em a $rancura da rosa+ corpo teu não aquece1+ pardo destas campinas
o$re o teu colo adormece*
:s a irmã da parda rolaolitária e s4 don-ela,
Quando co(a vo- despovoaA tarde assom$rada e $ela*6omo o gBnio da triste-a,Tudo cala em torno dela1e ela passa, tudo e5ila,
6oitada flor amarela!
6orça morena dos montes,@astarda cor do ana3á,
Todo o mundo te despre-a,6omo a tua sorte 2 tão má!
)ão!... do mundo eu nada quero*;ilha amor, tudo aqui Istá!
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=ivamos como as correnteso tortuoso &apa. '
>ibeiro da it:ria
%scondido na espessuraFá da =it4ria deserta*Que eu se3a tudo o que tenhas.
Teu astro da vida incerta1% s4 tu minha e5istBncia
Que eu sinto que em ti desperta,&eu canto da nam$upreta,;lor nos meus 3ardins a$erta.
Ó filha da escrava negra!
%u encontro em ti poesia.&esmo no teu nascimento
o crep#sculo do dia,% no a$andono dos $rancos,Que te fa- tão triste e fria*
Tudo passa, a fira vive,Tu não tens noite som$ria.
6ativa no ocaso d(ontem,
%is o sol da li$erdade!...%u choro, que tenho o peito*Tão cheio desta ami-ade 9...Ao leito impuro desceras,
esceras antes da idade 'Horror! as asas de um an3o
4 voem 7 %ternidade.
Quando fores mais crescida% 3á sou$eres faltar,
Quando mudarei os denteDei5aremos o palmar*;a-enda de meus paia.9remos ver o =es#vio
uas lavas aos c2us lançar,A $ela ;rança há de verte,% as louras filhas do mar.
Tu, perfume dos meus dias,
Que dar somente quis eus*%le o sou$e... 2 que na terra
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%u nada tenho dos c2us,Al2m dos vago del/rios
Que ve3o nos sonhos meus1+s meus amores são sonhos,
9nda um sonho eu 3ulgo os teus.
Tu serás a companheiraa minha triste e5istencialTe mostrarei dos estreitosA harmoniosa cadBncia1as harpas misteriosasA virginal confidBncia,
+uvirás meus sons noturnosa noite n(alta dormBncia.
% estas aves da tarde,% estas terras do lar
6horando te acompanharão)o dei5armos o palmar1% este p2 de mangueiroQue som$reia este lugar
Há de cair de saudadeo$re estas águas do mar.
9a tão triste o meu choro,Que o rio, o vento chorava1
&esmo a som$ra do mangueiro6omo a triste-a esfolhava*
A minha po$re filhinha9gnorante e terna olhava,
% de t/mida e medrosa)o meu corpo se apertava.
o$re os p2s do velho mangueA minha fronte pendia,% minha filha $rincando
0arece mimosa cria)a relva do praturá1
Fonge a tarde se esva/a*As noites do &ariano
0elos meus olhos eu via...
Margens do 4ericumã
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XXXVIII - DIA DE NATALK *97 MEG7 C9?3EM49>H?E97 D9 4E>CGML
>aia o sol, brilha no talo
Morre o sol, fenece a flor(
Tudo passa e vai com o tempo,)ossa vida e nosso amor1
oce quadra em que go-amosFogo muda em dissa$or.
;a-em anos que n(aldeia,0átria nossa onde nascemos,
Feda gente concorria,
Fedas festas desfrutemos*
)ossas virgens mati-avam)osso prado como a flor16orria o vento nas folhas,&eigas palavras de amor*
%stendiase o hori-ontee fumarentas choupanas,
)os pa/ses d(arredores6antavam $rando as silvanas*
<ugia o tam$or alpestre,6adBncia vão os cativos
Toada africana 7s dançasas crioulas d(olhos vivos*
"ma viola harmoniosa,oce frauta pastoril,
&imosa esteira de relva,)osso teto um c2u de anil,
)oite e dia eram momentosQue como o vento passavam!
)a minha infante don-ela&eus olhos não se fitavam*
)em mais os tempos meus dias
6om suas asas me arrancaram,%m som$ras de amor desfeitos
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%m torno dela a$ai5arão.
% nessa pura inocBnciaTanto amor me arre$atava,
Que minh(alma no meu peite@elos sonhes delirava*
CAn3o do c2u, flor do campo,CQue me diceste que eu sou!
C;ui como a noite o$scuraCQue n(alva o sol despertou1
CFevantaste a minha fronte,C&eus olhos d(4rfão ca$idos*
C&inha vida, amor, esp(rançaC%u ve3o em ti renascidos!
C+h! 3uro pela minh(alma,C0or ti, que di-es que eu sou,C0or este amor que me deste,
C% 7 vida que me em$alou*
C+u morrer, ou suspenderte
C)os louros da eternidade,C6om$ater pelo teu nomeCA sorte, a adversidade!
CArrancarte deste infernoC0ara o meu clima dos c2us,
CArrancarte 7 morte, ao nada,Ce poss/vel fosse, a eus!...
C)o romper desses nove anos,C%5pande as asas de amor,C0ura e cndida, remonta
C)as harpas do teu cantor.D
0or2m ho3e no desterroeste long/nquo saudoso
&inh(alma perdese, esvaise+nda do eco vaporoso1
&inhas horas vão pesadaso$re a corrente da vida*
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&e desanima a e5istBnciae uma tarde esmorecida.
% eu a choro, que a amava!
A ela meu doce amor*;eli-! que os homens ignoramQuem dáme tão pura dor*
A ela que apareceumee formosura radiante,
% deume o dia 7 minh(alma0ela noite escura errante*
A ela som$ra encantada
Que d(inocente me amou1A ela que despertoume
% que me disse, que eu sou.Dezembro de 185I( >io de .aneiro
XXXIX - A MUSA *( J( D(
9 "rimeiro me falaste ao cora$ãodoce da inf;ncia( Minha musa des"ertou'
e ao "Kr%do%sol da ida ef0mera,ainda se e@ala ao seu astro
da aurora(
: noite e solidão! noite e silBncio!)oite e minh(alma! noite e meus amores!
F/mpidas alvas não respira a lua,)em ondas d(harpa e4lia nem de vo-es
)ão vagam* desce a som$ra e co$re os valesa penedia, na verdura um$rosa.
<ecolheme em teu seio, nos teus om$rosei5a cairme a fronte mutilada
o triste pensamento e da triste-a1ei5a correr meu choro e os meus soluços,
;ilha da noite, minha musa, dei5ai&inha coitada mãe por toda a parte%rguendome piedosa se enfraqueço
)o caminho da vida tão dif/cil16o(os ca$elos me en5uga a fronte e os olhos
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a mágoa e do sofrer pisados, mortos*i-me C6oragem!De me consola e anima.
' Qual será meu destino? porque eu choro,6omo quem vai morrer n(alva do dia,
ei5ando a pátria e toda esta e5istBnciaQue eu tinha no meu gBnio, e toda esta almaQue me em$ala num c2u que tanto eu sonho?
Tu, que 2s do c2u, 4 minha musa, fala...Ah! estremeces... 2 que eu vou morrer.
olitário nas plagas do deserto,%rrante como o vento, ou pelos mares,)a sepultura de meus pais chorando,
e som$ra em som$ra procurando a$rigo
)os ramos do cipreste, eu s4 contigoTenho me achado, minha filha e amores,
Tu, mãe que minha mãe deume em morrendo,@afe3ando o meu corpo nos teus $raços
6omo um $erço d(infante, como um pássaro&ovendome em seu ramo 7 viração1
Tu, fiel 3unto a mim sempre te encontro,empre tu, sempre tu ' numa alegria,
+lhando para trás desse passado
e lágrima e saudade, olhando adiante+ astro d(amanhã long/nquo e frio
)a sua lu- duvidoso. +h! quanta vida,Quanta poesia, quanto amor eu tinha,
Qual n(um glo$o de ferro um sol fechadoomente 7 espera de uma vo- divina,
a inspiração de eus para nascer,entro desta alma d(ontem! vacilante,Que há de se apagar voltando a aurora,Fogo no amanhecer! 0erdido 6Mgnus,
)ão mais, não te ouviram... Quantas mil floresHei plantado! e um sol somente ao tempo,
eus, pedia por dartas perfumadas)os 3ardins do ideal, puras e a$ertas.
&elanc4lica noite, minha musa,6omo eu te amo assim! som$ra nos campos,om$ra nos montes, nem a lua e estreitos1
omente o vento no deserto, longe
+ mar na costa, um l2pido sussurro%5alando a folhagem. Horas tristes!
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&eu corpo de cansado se desmem$ra,+ dia nem passei rasgando a terra.
&eus ca$elos som$rearam minha fronteQue pende no meu peito, que a levanta
)o pesado $ater, vi$ramme as fontes.%ntão rios de mágoa e de triste-a)as suas ondas me levam. Tremo a morte
Que sinto vir andando1 eu a$ro os olhosAo tacto de sua mão* ve3o um sepulcroAonde eu vou cair! 3á está tão cheio...As cin-as de meu pai, de minha mãe,Tantos amigos, muito amor perdido0ela foice do tempo, na minh(alma
6oros, incensos, lu-es do meu templo,Que al2m do meu peito se e5tinguiram!...
Hiante para mira, não vos fecheis,epulcro de meus pais ' eu venho 3á,
Quero ver minha mãe... por2m, me aterra,Tenho medo da morte, nesta idade,
)em sei porque... os tempos não me esperam,l4ria não vinga po$re flor dos vales,
6oroas do carvalho da montanha.0or2m 7 minha pátria, 7s minhas virgens
=indo a$rindo tão puras, encantadas,0or2m 7 minha mãe dei5ar quisera
0endurada ao seu t#mulo uma lmpadae lu-, d(4leos eternos1 ao cipreste
Que dálhe som$ra uma harpa que gemesse0assando o vento, ao homem que so-inho
<epousasse so$ ela, a dor no peito*o$ o musgo do tempo, na folhagem
Temporã, não perderase ho3e mesmo(um noturno clarão piedoso e doce
eu leito d(an3o alumiado em som$ras*=iria o coração sens/vel, triste
)o caminho da lu- peregrinando,erramarlhe seus $ei3os com suas flores,
orido pranto sufocando n(alma.
+h, não mates ainda, o sol nascendo!
&ais um dia, meu eus! dá mais um diaG minha vida como a flor, tão pouco
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Te pede um filho ' dá! na eternidade"m dia o que 2? enhor! adiante!
Adiante! vai morrer* em negra torreo destino a tua hora está soando*
6hegaste ao porto de manhã1 Ó musa,;ilha da noite, a$raçame e morramos!Adeus, $elo universo de poesia,
Que de em torno o meu corpo, nos meus olhos% na mente ralavame* um chãos vivo,
Que, como tu fa-ias num acenoAs estreitos e o sol, na harpa que inspiras,
Que sa$es dar, enhor, puros arroios(harmonia tu viras, teus incensos1
a casa do pastor humilde fumo
umido aos tur$ilhEes que os c2us escurãoos castelos dos reis1 mas, rece$eras
A po$re criação, tam$2m divina...+ homem, o inseto são teus filhos, te amam*
=ale tanto p(ra ti -um$ido incerto6omo um hino, que o mesmo amor os move.
Tão tristes minhas cndidas irmãs,Amigos que tenho ho3e, e mesmo os outros
Que d(outrora eu amei ' ah, não me amavam!% esse l/mpido coro d(inocentes
Qu(inda não sa$em amar, que inda não sentem;eridas que homens fa-em 7 morte eterna1
0or isso rindo e amando, rindo ignaras,Que o outro amor s4 chora1 as minhas rosas,&eus an3os do meu c2u do pensamento '
=e3oas errantes, pálidas vestidas,@radando por meu nome1 eu não respondo*esentrançamse e choram pelas margens
o rio onde eu vaguei por esta vida10erguntamlhe por mim, pegam suas águas
0or uma onda deter nas mãos tão frias,Que lhes diga onde estou1 escutam, esperam...
% nas águas suas vo-es vão perdidasTão $elas que a ave emudeceu no ramo!
+s louros da =it4ria qu(inda esperam%stremecer 7 minha vo- so$ eles,
uas folhas me chovendo e a grata som$ra,
+nde espiamme os pássaros calados<econhecendome a tão longa ausBncia,
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emendo murcharam de mil saudades,e desesp(rança mugiram na ru/na.
' %is porque eu choro de morrer tão cedo*0or2m, dos an3os rodeado, eu morro*
Qual palmeira de argBnteas $or$oletase co$re esvoando na manhã d(estio,Que fogem, quando ao golpe do colono
6aio1 coitadas, cintilando as asas=em de novo pousar, erram nos ares+nde a rama ondeava, e se retiram1A metade inda volta, uma s4, duas,
Que mais o orvalho e o som $e$erlhe amaram,6hegam perto, por2m desaparecem,
e acostumadas1 por si mesma, triste,
9nda o dia seguinte aquela vinhaQue ainda o amor engana1 então sumiram
0or uma ve-, e a palma a terra envolve.Assim quero morrer1 inda descendoG noite quero ouvilas suspirando,%m trepida candura as asas d(ave
Tremendo desdo$radas na corrente1+uvilas medrontadas do cadáver
Que amaram apertar1 mesmo fugindo
0erdendome, esquecendo, amara vBlas)o hori-onte do t#mulo espalhadas.
;ora $elo voltar depois da morte% muda vista percorrer ao mundo1
%, antes de tornar ao pouso eterno,6antar saudoso adeus, nessa triste-a
esse solene soluçar dos montes*% traçar so$re as páginas da la3em
eus mist2rios, mist2rios desta vidaQue eu não posso entender, e o eus que adoro
XL - O TRONCO DE PALMEIRA
+h! eu sou como a palma sem folhasolitária nas praias do mar*
&inha fronte seus ventos romperam9nda $ranca da infncia doirar.
+s passantes aqui nesta fonte,
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Quando outrora, tão doce, corria,=inham todos $e$er* ho3e seca,
i-em tristes olhando Cum s4 dia!D
A verdura perdeuse co(as aveseste monte co$erto de relva,)em as som$ras por ele se estendem
6omo vagas dos ramos da selva1
6omo em fendas que o raio fi-era,Ho3e o vento s4 vem si$ilar,
Fisas pedras da encosta rolando,04 fumante no cume a soprar.
e$ruçadas no roto penhasco.Fongas águas seu canto entristecem0elas som$ras da tarde, e com ela
o hori-onte selváticos descem
Fentos ecos pousar, lentas rolas,Tristes filhas, do isolamento,
A$stratas no tronco sem folhas,em ter vo-es, sem ter pensamento.
esco$ertas ra/-es lhe secam,%nvergarse disseras de dor*
o$re as ondas seus arcos descreveAnte os raios do sol do equador.
em a veia que cerquelhe os p2s,uspendida na pedra cortada,Qual da foice do /ncola negro%squecida na terra queimada,
9nda 2 $ela a gemer aos tufEes,<ama a rama perdendo a murchar
+h! eu sou como a palma sem folhas.olitária nas praias do mar!
Aortaleza d<*lc;ntara
XLI
)oite silenciosa! #nico a$rigoQue ficoume no mundo! nesta praia
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Tão solitária me lançaram* triste,9ndiferente, mudo, nada encontra
&inha vista por longe ' murchas ervas% o tronco desfolhado me rodeiam.
)ão sai deste rochedo veia d(água0ara o vale sem flor1 e a onda amarga"m choro est2ril nos meus p2s derrama.
+ cipreste espiral dáme somenteua mão de t#mulo! t#mulo piedoso
% a som$ra frou5a, mori$unda 7 fronte0endida minha, $ranca e sem esp(rança*
% no deserto dela eu sinto erranteA nuvem da alma... 4 musa desgraçada!
Apagamse os meus olhos friamente,
em uma onda de lu-, sem raio e5tremo,%m fundo ocaso pálido* minha alma
)em mais corre de amor, de amor os gritos)em mais a chama do meu peito espertam.
&inhas asas ca/ram, como outono=era despindo o meu corpo1 folhas mortas
A crepitar se escoam... tudo era torno)ada lenho de mim! dorme o silBncio
)o caminho deserto, e s4 palpitam
&eus rastos apagados pelo vento*% mugi$undo ao longe o mar contando+s meus desgostos 7s sonoras plagas,
Ao peito meu sonoro d(oco tronco,Que o vapor fraco do meu pranto e5ala,
;endido ao coração que se convulsaem verter uma seiva! %u sou cadáver
G mão divina estremecendo ' chora! '% minha alma começa nos meus olhos
esfa-erse e cair, se esvaecendo.
ilenciosa noite! um c2u apenasAdiante eu vi raiar* mostroume a terraos meus pedaços espalhada, e eu s4,A dor me contraiu* oh! como 2 longo
+ caminho que eu vou! ' por este monte%u tenho de passar* cada uma pedra
Que eu ergo, e sinto atrás de mira cair,"m passo eu dou ' de menos este sol
&e dei5a respirar. 6ansado e morto)a minha tum$a eu 3á me deito* noite,
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+cultame em tua som$ra!... >á $ranqueiaA$ertas margens do hori-onte a aurora*
Ave de >uno desplumando estreitos)as saias ondulantes, tu mentiste!
+ perfumado mel que dás 7 a$elha,6om a mão d(ouro espremendo dos ca$elos1Tão mimoso sorrir com que te inundas% fa- poesia aos pássaros e ao vento.
e que valem p(ra mim? )a terra onde)ão há vegetação, tua lu- de lua
Que vem fa-er? nasci perto da morte,+ meu nascente escureceu no ocaso.
' >ulguei a noite eterna! e desdenhoso+ c2u mostrame ainda o dia d(ontem
Que matame de novo em cada dia...A noite do infeli- não tem manhã.Feito da vida, morte, leito da alma,
eca a fonte de mim, que inda esperais?Aca$ei de viver ' nem sou$e o mundo.&eu inc4gnito adeus somente 7 noite,
6ora quem lenho vivido, ao monte, 7s praias!
)(aurora ' eu penso no descer da tarde1
&al fecha a noite ' 3á procuro o dia*Quem me dera esquecer dormindo as horas,
6onsumilas!... desperto, e ve3o o tempo%m seu lento cair! pouco avancei
)o querer apressar minha e5istBncia*+ tempo d(asas para mim não voa,
;alta muito p(ra noite, oh! muito! muito!
6hega trBmulo velho suspirandoA $eira do seu t#mulo, com a vista+ fundo mede, e foge horrori-ado*
=olta ainda, e vacila* 4 tempo ' olhaistante o mundo com saudade e pranto.
%spanta, se uma $risa fria e leve"m pedaço da neve ergueulhe 7 fronte
Que as idades som$reiam, quando um eco=ago perto passou, atrás sentindo
<umor d(inseto* a morte sai de tudo,e toda a parte surde ' da flor-inha,
a corrente que deitase no valeo ramo que no p2 se meneou '
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C6omo tudo era morte, nature-a,Ce$ai5o dessas frmas $em fagueirasC6om que tu me iludias, te escondendoC)(uns vestidos de amor, ledice e vida!
CHo3e, porque rompeste as fantasiasCQue em outro tempo eu vi te em$ele-avam?C+cultavas na flor tantos fantasmas?C%sta a verdade, dura, horrenda, feia,CQue com tanto sorrir preludiaste?...
CA $ondade de eus não está nas doresCQue o fim da vida magoado pisam...D
% voltase1 e de novo arrepiado%stremece, correr tenta, de$alde*
0ara aonde? ' chegaste em toda a parte!
)ão há partida ao porto do infinito!+ mundo todo 2 sepultura a$erta,
Fousa silenciosa o c2u1 da esp(rança)ão reverdecem os ramos que murcharam.
+ pensamento t/mido afrou5adoa vista, pelos raios, se irradia.
' Que tens, velho? inda queres vida? ainda?...6omo 2s feli-, que tanto vives! e eu,
Tão cansado dos meus primeiros dias,
=a-ia a terra achei, sem ter esperança.6erro os olhos, e atirome contente)a eternidade sossegar ' ao )ada!
;ica no meu lugar, dáme a tua noite,esta manhã teus anos recomeça.
' : tempo! sente no cair das horasQue$rarse o coração, como hei sentido
0assando a vida. Aqui dei5arás a alma)a saudade do mundo e dos amores,
e primeiro não visses descarnadaerpe co(as faces da mulher sorrindo,
;eiçEes e5teriores de natura*@ár$ara a doce morte antes das dores,
)a alegria não salva, ela assassina.' )em mais o amor, o amigo! horror ao mundo*
)em olhes para trás saindo dele.&anhã por entre as noites da e5istBnciaA esperança lá está nas mãos de eus...% eus está na dor ' nossa alma inteira
A ele, no sofrer divini-ada.
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Amor, felicidade 2 toda a terra,+ infeli- sou eu* em c/rc(lo estreito
<odeiame o pra-er e a vida1 e triste,(uma outra nature-a, em mi me fecho '
)em digo a minha dor que o homem sinta,+s homens não me podem consolar.
XLII - O CASAL PATERNO K3>*L
Eu era o =en#amin queridodestes lugares(((
Tetos! que o vagido ouviramQuando despertoume o mundo1
&ontes! que a$ai5ei su$indo1=ales! que descendo ergui1
Troncos! meus contemporneos,>ulguei que estiv2sseis mortos.
Fua! que correndo eu viaAma a segurar meus passos1
ol! que meu pai mostroume,=enho viver convosco.
/tios da minha infncia! então qual concha0elas auras tangida ao mar d(aurora,6ndidos anos foramme, 4 infncia!
Ó árvores, que vistesme em seus om$rosAos em$alos da vo- adormecido,
Qual vosso fruto $alançais ao vento1eguindome a crescer, depois ao lado
0ela mão de meu pai de um passo lentoA correr e saltar, e me ensinando+ nome deles e do c2u, 4 árvores,%u vos sa#do! não desconheçais,
6o$rime deste ramo ' a calma 2 forte...Hei medo de estar s4 com estas som$ras
Ó meu casal, 4 meu casal amigo!6omo está repetindo a nature-a
Tudo o que 3á passou!... fala! que e5istes.
6omo as flores se erguem diante dela!6omo crescem suas folhas!... %nganosas
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9magens atrav2s 7s minhas lágrimas*epois que o pranto cai, tudo 2 triste-a.
Acorda, minha mãe, que tanto dormes
Fá na pálida campa! vem ouvirmeilacerado o canto das ru/nas,este assom$rado solitário o canto.' Tudo 2 silBncio, solidEes 2 tudo*
Apenas o eco magoado e lentoa minha vo- e5pira no fracasso
a folhagem cadente, nos rumorese amortecido vento pelas fendas
&usgosas, e os destroços espalhadosa fa-enda, que foi, que assola o tempo.
;oi um go-o e $rincar a infncia minha,;oi del/cias de amor*
&eus dias matinais! dias que eu tinha,Finfas no p2 da flor.
0or2m, tão poucos! despontando a vida6errouse o meu nascente1
A noite se despenha denegrida
6aindo tristemente.
% esses lindos verdoresesse $elo solnascer,
0enhores por entre o riso,0or entre a vo- a correr,
Tudo passou tão de pressa,;oi tão de pressa morrer!
oce nome de mãe, que eu amei tantoentro do coração!
oce nome de mãe que era o meu cantoo anoitecer na $enção.
% perdeuse para sempre)o meu peito a minha vida,6omo nos c2us enu$ladosA minha estrela querida*
Assim de tarde aparece<amo d(ouro na espessura
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6ercado d(aves cantando*0assa o )atal, e não dura.
% como o ledo paud(arco
4 numa tarde sorri,&imosas tão $reves flores&urchas nos meus p2s as vi.
eus olhos por seu rosto se estendendo,%rrava a claridade que espalhavam.
Tão $oa minha mãe! tão maternal!...Tão má! tão homicida esta saudade!
' As árvores vi#vas se despiramo verdemar esplBndido e frondoso,
0elo silBncio m/stico e som$rio*entimentos fi2is que estão guardando
+s t#mulos sagrados de seus reis,Qual dom2sticos =elhos mudos vagam
0elos salEes va-ios dos senhores.Acompanharvos venho1 neste p4rtico
Tomo o meu posto, aqui fico encostado*6horemos 3untos, companheiras minhas1
6horai, amigas, soluçai comigo.
Tinha sua fronte o repousoa piedade e do amor1@onança divina, eterna
;ormava seu resplandor*%ssas coroas se romperam,
o$re um cadáver penderam.
@ei3ei seus lá$ios tão frios,@ei3ei seus olhos fechados*
9nda amor seus lá$ios tinham,9nda em pranto desfiados
eus olhos eu vi chorando,0elos seus 4rfãos clamando.
A escravidão toda errante,Que sonho inquieto inspirava,0or meio da noite andando,
)oturnamente ululava?
&esmo os cedros pareciamQue soluçando se erguiam.
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As laran3eiras do s/tio"mas morreram, murcharam1
A criação fugitiva,
+s pom$ais se a$andonaram1Tudo mudava n(um dia,+ vale fundo gemia.
+ olho d(água secou,0erderam o trilho os caminhos,ei5aram as folhas os troncos,
ei5aram as aves os ninhos*Tudo num dia mudava,+ monte longe chorava.
Todas as aves e o gado,Tudo o que a viu nestes s/tios
Tudo morreu de saudades,Tudo com ela aca$ou*
&urcharam flores no prado,)o monte o cedro murchou.
Aonte da it:ria
% eu penetro os anos que passaram,o minha mãe ao lado aqui me assento1
+uço tocar a campa avemaria,o pai religioso o grave acento.
6omo 2 triste o espetác(lo da tapera!)o fundo do deserto ondeia o vento.
' + eco de uma pedra... desmoronamAntigos torreEes onde eu nasci!"m gemido... suspira mori$undo+ confidente velho, esse africano;ilho da li$erdade, escravo aqui.
%squecera o velho d(8frica+ pa/s onde há poesia,
A longa margem que o Jaire0or mBs d(inverno floria1%squecera a lua argBntea,
As lu-es do sol do dia,0elo nome dos finados
Que revive n(agonia.
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)esta orfandade des$otada eu vivo...&eu eus! quero fugir aos vossos reinos.
)esse tempo eu não sonhava*
)ão viume o sol delirar,)ão viume o cume dos astros)os fundos vales do mar.
0or2m, desço dessas nuvens% sou na terra a chorar,)o meio da soledade
os desertos do palmar1ou de$ai5o das fruteiras
<enascer vendo o passado*%m cima responde a rola
+ meu suspiro cortado*e meus pais a eus eu falo
Fá no orat4rio sagrado.9magens mortas povoam+ mundo do desgraçado.
&inha mãe, pede que eu morra,0ede que eu morra, meu pai1
0ede a eus descendo 7s pontas
a montanha do inai,Quando a lei gravou nas tá$uas,
i- ao profeta Cespalhai!D
XLIII - $RONDOSOS CEDROS D’OUTRORA
;rondosos cedros d(outrora,Que destes som$ra ao meu gado,
Quando na calma do estioAndava errante no prado1
0equi-eiro envelhecido,Que lh(estendeste a ramada
6heia de trBmula som$ra,o tosco fruto envergada1
&eus campos d(antigamente,Que longas olas cercavam1
@ela colina, o penhascoQue no ocidente enrou5avam*
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alve! ' c2us da nature-a4 viva para chorar '
;oste agigantada virgem,
:s murcho outono a esfolhar.
Ó dias dos outros tempos!Ó dias da minha aurora!
6omo encantado me vistes,;rondosos cedros d(outrora!
@rada a noite, e despovoa+s negros cumes do c2u1+s vossos vestidos novos
Tam$2m a noite os rompeu.
%ra o sol da minha idade,:ramos gBmeos da selva,6om ele $rincava 3unto
)estas campinas de relva*
8s mesmas horas dormimos,As mesmas nos despertaram,
A mesma fonte $anhounos,% as mesmas aves cantaram.
%u era gBmeo co(as palmas,A crescer nos comparando '
"ra dia acheias mais altas,=iramme n(outro as passando.
@elo pássaro que amava@ateu as asas, voou*
Aqui ' nos p2s destes troncos&inha e5istBncia findou...
it:ria
XLIV - MEUS NOVE ANOS N’ALDEIA
+uemL numa "edra do caminhodescansando uma hora
#/ "elas sombras da ida, não
oler/ em religioso sil0nciouns olhos agarosos aos ales
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da inf;nciaL #/ ão tão longena e@tensão "rofunda e obscura,
e a"enas a lembran$aos amolece ainda de fresquidão
e de rela, caindo o "ranto saud/el e tão ternocomo esses mesmos noe anos
d<aldeia!
)ove anos eu tinha e vivia)os desertos do 0ericumã,
% meu pai ensinavame a @/$lia% os preceitos da igre3a cristã1
% meu pai educava minh(alma,&inha mãe fa- o meu coração
6ada dia mais amplo, de amoresQual de flores o enchendo com a mão.
6omo eu era feli- nesse tempo!em da vida a lem$rança de horror,
Alegrando meus olhos num riso,%spontneos chorados na dor.
&uitas ve-es 7 pedra assentado,Quando o sol começava a sumir,
&editando confuso no livro,%u perdia com o sol o e5istir!
%ntre as mãos o meu rosto escondido,6rendo imagens, que eu via, apagar1
&inha fronte estalava e $atia,Tur$ilhEes vindo nela roçar*
A$ismavamme os astros da noite,Quando a lua suas fases mudava1+ pra-er da manhã há minh(alma,
Qual meu pai, não sei que me animava.
% pensando que o mundo s4 era%ntre as nossas montanhas d(aldeia,
Que depois do hori-onte s4 eus,
%u tremia no mar dessa id2ia*
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Qual sa$ido de um sonho me olhava,Que sentia me o ar comprimir1% medroso fugindo das trevas
Gs irmãs que lá $rincam me "nir '
&eu sem$lante inda pálido viam10or2m nunca ningu2m revelou*Tinha medo di-er meu pensar,
6onhecBlo inda mais me aterrou!
' @em amava do velho africanorave o aspeto, nevada sua fronte1
Fonga hist4ria lhe ouvi, tão saudosa,6omo a chuva descendo do monte.
0rocuravao 7 tarde* assentado)o $atente, rugia na mão
Foura palma, vedando 7 palhoça0o$re e limpa gentil criação.
=er o /ndio, suas penas, sua flecha1os ciganos o $ando esmaltado,
;ui confuso que eus outras gentes
&ais que a n4s tanto houvesse criado!
% eu di-ia* por tua grande-a)ão $astaram teus filhos, meu eus,
% estes montes e o vale florido% as estreitas que pisas nos c2us?
0or2m, tudo me enova, me alegra*)2dia rBs condu-indo o vaqueiro,0ascentar o re$anho, a chegadaQuase 7 noite de um cavaleiro.
' alvas santas amei de &aria,;oime noite de festas o sá$ado,Fento o sino do$rando sonoro,<epetindo na selva e no prado.
% prop/nquas vi-inhas fam/lias>untas ledo passavam o serão*
%5ultounos a infncia de vida,&esmo infncia e5ultou no ancião.
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Altas alvas tocavam matinas,Quando $rilha o domingo no c2u1
@ela, acesa, fumosa a capela
%ra harpe3os de um cntico he$reu.
erramavamse so$re a montanhaFongas ondas de um sol tão formoso,6omo vestias, como harpas et2reas
esdo$radas pelo ar vaporoso.
6almo o tempo, o descanso de eusAmplas horas fa-iam lem$rar,
&uito ao longe uma pom$a arrulhando,
Fonge harmnico o galo a cantar*
Tinha o dia mais eco, nas árvores@alançavase o vento mais $rando,oce e mesta canção das sen-alas&inha mãe no seu fuso levando*
Toda a casa mais clara, mais nova1%ram os trilhos mais longos, nitentes,
Que o da lua nascendo ang#stia,&urcha as flores do sol inocentes.
%u corria nos ralos do ocaso&e vestir todo de ouro no campo,9nda as filhas da noite me achavam
%sperando acender pirilampo.
' + inverno pasmávamos 3untos<eunidos no grande casal,
)o verão nossos pais nos levavamAos retiros, 7 roça, ao curral.
)os dissemos a prole da lua<ecolhidos no seio de um(asa1
9ndo o sol para a tarde, $rincamos0elas som$ras da $eira da casa.
=ia o monte, as palmeiras suspensas
0elas $ordas de um c2u todo em cor '@elas campas, qual flores de fogo
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)as vermelhas manhãs do equador.
e amoroso estendime na relvaa campina co$erta d(enfeite,
+u na tosca fumante ramadaos pastores das vacas de leite1
e amoroso nos p2s me deitavaa laran3a cheirosa e florida,
6omo a cria que a som$ra procura,Que so-inha encontrouse perdida*
%sperando cantar filomelaQue suspira na moita do mato,
% as palmeiras sonoras erguerem@elos 4rgãos co(a vo- do regato.
0erto o vento passava long/nquo% o pomar de sens/vel tremia,
6omo a fonte que vai modulada,Que entre as huraidas ervas corria.
Tinha areia de prata o o9hod(água,
Tinha conchas e encantos sem fim,<edolentes suas margens, seus pei5es
=inham mansos em torno de mim.
' 6omo as rolas do s/tio a conhecemQue em seus om$ros desciam pousar!
<evoavam seus pom$os so$re ela,&inha mãe vindo a aurora saudar*
Feda escolta das aves domesticas=ai trás dela num coro selvagem1
% ela fe- seu passeio matino,6olhe um fruto envergando a ramagem.
+ terreiro lhes co$re de grãos,+nde fervem qual folhas na serra1
% depois estendendo suas asas9nda estão se lavando na terra*
% levantamse as rolas aos galhos+nde passam nas calmas do dia,
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0ara dar 7s irmãs a criareus filhinhos do ninho eu pedia.
6omo pousa na rBs, tão coitado
0erguntoume gentil $emtevi*C+nde a vida me levas nos filhos?D"m açor eu não sou* respondi.
CTu quiseras que 7 mãe te arrancassem?C=er seu pranto que os olhos vertessem?...
C4 as vo-es de mãe adormentam1C+utras asas, que a mãe não aquecem.
CTu me queres tirar do tra$alho?
C6omo 2 doce o tra$alho dos filhos!C%u não ve3o tua mãe doces frutas
CApanhando por darte nos trilhos?
CTerei sempre o que darlhes nos ares1CQuando a mim me faltar, oh, com $ei3os
C&inha fome eu irei enganando,C&inha sede e os meus outros dese3os*
C&olhes vBs a garganta $atendoCQuando os tocas, a$rindo o $iquinho?
C6omo quando eu chegava no ramoCão suas vo-es, oh, dáme o meu ninho!
C%les choram tremendo de frio,C>á tem fome* não queiras trocar
C%ssa cama que eu fi-lhes das penasCQue eu podia do corpo arrancar,
C% estas asas que os co$re da noite,C"m calor natural neles dando,
C% a comida 3á meia digestaCo meu seio em seus seios passando,
C%los panos que aquentas no fogo,C%la dura e tão fria comida...
C6omo 2 grato o viver com sua mãe!C6omo 4 triste o perderse essa vida!...D
Apertouseme o meu coração,
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)unca mais nem um ninho eu tirei*Qual da minha estar 3unto eu amava,
=Blos 3untos sua mãe eu amei.
% ficoume um pesar no meu peito...6omo quando ave triste cantou,6omo quando suspira a ri$eira
Que a torrente passando dei5ou.
Toda a parte por onde eu andasse<odeoume um temor de perdBla*
%u corria a$raçar minha mãe,)unca farto de amála e revBla.
Aquela ave faloume p(ra sempre,Todas mais ela s4 repetiam1
%u pedi minha mãe não cantasse,0orque mesmo os seus cantos di-iam.
Apertavaa sens/vel, suas faces)os meus $ei3os de filho amoroso 'Que entristecea mil ve-es olhando
6omo agouro em meu rosto piedoso...
' 9de ho3e 7 =it4ria, e vereis...6ai o dia formoso do sol,
0or2m so$re ru/nas, vest/gioso que foi meu amor no arre$ol1
"ma s4 laran3eira e nem flores,+ olhod(água secou! nem as casas...
4 tu ficas, 4 tempo, 4 eterno,Tudo a n4s nos arrancas com as asas!
' &inha vida era toda o presente,;oime um sonho da noite o passado
Que se apaga com a lu- matutina,&eu porvir um s4 passo apressado*
&inha vida era um vale o$scuro,@rilho honesto de cndida estrela...+nde fostes, meus $elos nove anos?
+nde fostes, aldeia tão $ela?...
8/18/2019 Harpas Selvagens
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Ó descanso no colo materno!Ó desertos do 0eriçumã!...
% meu pai ensinavame a @/$lia% os preceitos da igre3a cristã.
*uteuil
XLV
Dorme cm leito de bonan$aG feliz, na "az da cren$a'
7em sonhos no sono "l/cido7onhando, s: sonha amor(
Eu sonho quando não durmo,
4or ier nesse "assado'Dormindo, maus "esadelos
Me sobressaltam de horror(
Ó tu! que nos relmpagos dos olhos%m$alaste minh(alma, vaga incerta
6a/da nos tens p2s, n um c2u d(amoresFevada por encanto ' e convulsosa,
% ávida de ti, ampla qual nuvens,
&e enlouqueceste de uma vida eterna!Aonde foste? onde estás? porque morreste,
=irgem co(as formas da nevada nuvem)(alvacenta manhã co(a graça ang2lica?...
Tu, que $ei3aste minha face e amanteesli-avas por mim, me estremecendo,&imosa e mansa, linda rosa d(ontem,%ra suspirar s4 teu, a$rindo ao -2firo1
Tu, que era teus seios, tão feli-, sentias+ late3ar da minha fronte cálida,
&eus lá$ios quentes ofegando amores1Que aos meus del/rios piedosa andavasTeus olhos so$re mim, de apai5onados
)uma lu- pranteada se que$rando1%nleando os teus $raços indolentes
0elos meus om$ros... onde foste? ' 9nda amo!Amote, eu sinto, de tuas som$ras fu3o,
a vida eu fu3o que contigo amei.
A m#sica celeste, essa poesiaQue foi minha de harmnicos enlevos,
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Quando em teu peito tres$ordava esta alma%m ondas de um pensar tão melanc4lico
e tantos ignorados sentimentos,)ão quero ouvira m#sica, essas harpas
Que no meu coração notas coavam1)ão quero o canto nem tremor dos $osques)em vo- da fonte nem clarão da lua!
onhos tão $elos, que no amor se geram,)o meu passado, como horror tra-eisTão de som$ria morte a rodearme,&e roçando a passar! eu estremeço*0or2m não sei correr da minha sorte1% porque? como a ovelha ignorante
Que pasma ao c2u, que relampeia e estala6omo o pestane3ar do deus das som$ras,
% sacode a ca$eça e nada entende,+u que aos olhos da fera os seus aperta
% $alido inocente apenas solta)a morte penetrante* eu sou como ela.
' Ó vida desgraçada, 4 minha vida,Quem que te fe- assim? quem te vivera
e eu não fora? faminta, miserável,
;ugindo aos homens, s4, assim na terraA rugir do meu ser 7 vo- que eu sinto
Fá dentro d(alma remorderme! os vivosAterrando de mim1 persigo os mortos.
%u careço de amar, viver careço)os montes do @rasil, no &aranhão,ormir aos $erros da arenosa praia
a ruinosa Alcntara, evocandoAmor...0ericumã!... morrer... meu eus!Quero fugir d(%uropa, nem meus ossos
escansar em 0aris, não quero, não!+h! porque a vida despre-ei dos lares,+nde minh(alma sempre forças tinha0ara elevarse 7 nature-a e os astros?
Aqui tenho somente uma 3anela% uma geira de c2u, que uma s4 nuvemA seu grado me tira1 e o sol me passa
Ave rápida, ou como o cavaleiro*
% lá! a terra toda, este sol todo '% num c2u anilado eu m(envolvia,
8/18/2019 Harpas Selvagens
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6omo a águia se perde dentro dele.
9ngrato o filho que não ama os $erçoso seu primeiro sol. %u se algum dia
Tiver de descansar a vida errante,6aminhos de 0aris não me verão*A trav2s os meus vales solitários
%u irei me assentar, e as $risas t2pidasQue os meus ca$elos pretos perfumavam,
os meus ca$elos velhos a asa trBmula%m$ranqueceram* quando eu nascia&eu primeiro suspiro elas me deram1
&eu #ltimo suspiro eu lhes darei.
Quando eu for navegando 7 minha terra,A viração mareira no meu rosto,
%spane3ando esta alma no oceano,6omeçarei amar! e o sol co(os raios,
6omo $raços de amante, as mariposas,As inconstantes ondas afagando,
Amansandoas de amor em re$eldia1% a lua formosa, como a rosa
Quando as p2talas todas desdo$rando
=ai, qual virgem de amor descamisada)evado seio a arregaçar dormindo
%m seus leitos de a-ul resvala, ondula1% as long/nquas montanhas fumarentas
A $alançarem na água1 e o nevoeiroesrolando dos c2us, difuso ao longa
)o hori-onte1 e quando so$re as margens%nlevado da pátria o meu $ai5ei,
inete inquieto aos conhecidos s/tios,%u vir1 so$ os meus olhos, que uma lágrima
0artem, partem de alegres as palmeiras,%sses rios e serras, esses campos,
9rmãs, amigos, tudo... então morrer!
0renhes de raios, de trovEes as nuvensArrastam pelos c2us pesados elos
e cadeia inegual, por despertarme.+ c2u estremeceu* de a-ul, prescito
As faces retraiu1 negrento fumo
6orreu1 a terra densa vestia cai.% eu dormia o meu sono de acordado
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Quando a dor amortece* olhos desvairos,eslavados das lágrimas, não olham.
&inha alma errante, de voar nas trevas;echa as cansadas escorridas asas1
&eu pensar afadigame* do mundo;ugitivo eu serei... oh, minha sorte!&inha mãe pelos c2us a$andonoume9nda infante, meu pai tam$2m morreu1
Amei doces irmãs, eu não sei delas16ompanheiros gentis da meninice,
a carreira nos prados, se perderam1&eigas adolescBntulas celestes,
Que descer dos mais anos me fa-iam)o 3ardinoso al$or andar com elas,
;echadas flores, tão cheirosas, foram!0erdi tudo o que amei! tudo me foge,
% nem a morte eu sou ' tudo o que eu tocoesfa-se, horror! % o meu c2u, meu $erço,
% os an3os do meu sonho, e o meu sol d(ouro,isudo ancião cora fronte de meu pai,
% os meus amores... )ão! quando sonhandoAuguramme a$andono, e solitário
6omo o >4 piedoso, ainda a ve3o
Bmea do meu amor, em n4s nascido,0or n4s criado, que ela amou primeiro,
Que primeiro eu amei, que amemos tanto!=e3oa correndo não sei donde, e doida,
eus vestidos no vento desdo$rados% os #midos ca$elos1 $raços longos
espedaçando o ar, que diante ondeia,0or mais solta chegar1 incertos gestos
)a face, nos seus lá$ios, nos seus olhose choro, de alegria ou de piedade,Tremente por ditosa e de triste-a
=endome como o >4* dos c2us, do mundo%5ulado e faminto, e sem a$rigo
A ventania, aos vermes! po$re filha,0o$re escrava de amor, porque inda o amas?
=erte consolaçEes, tra- salvamento,oces afagos tão de mãe saudosa,
oce fresco da tarde me alentando16om seus ca$elos a nude- me co$re,
&oles ondas no mar se desfa-endo,e desdo$rando, rodeando a praia1
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0alma ao sol, so$re mim seu corpo inclina,%u sinto a som$ra me passar na fronte
6aindo co(o murm#rio da sua fala,Quando eu acordo!... % que me importa o mundo,
% que me importa o c2u que me a$andona!"nidade o poeta a$solutaem depender dos astros nem da terra,
6anta por nature-a como o pássaro.0or nature-a as lágrimas espalha,
=endo os homens mis2ria, ele mis2ria1A escorregar co(os mais so$re a desgraça,
6urte saudades do que vai passandoArrastado do tempo, e que ele amara*Amor, de que se nutre, e nunca farto,
eu alimento devorando, morre!' ofre o homem vivente, ao menos o homem
a$e di-er sua dor, que eus afaga,)ão sare em$ora1 mas o po$re $ardo,Ai dele ' de gemer suas veias rompe,
6omo ignoto do er, vai delirante,=ai sem sa$er de si, do que sentira,
Que foi tão fundo1 que ningu2m lhe entende!"m fantasma sumiuse espavorido,
@elo voando 7 noitidão do a$ismo,onde aparece* Cpassa, eleva o eco
a tua vo-, 4 som$ra misteriosa,Que n4s da crençaD di-em Cnão sa$emos
Teus latidos ouvir, del/rios torvos%m candentes marasmos reve-ados.D
' ecava, se ergue e se $alança a onda%m seus trBmulos p2s so$re o oceano*
;ilho dos mares, filho das estreitos,%rrante como a onda ao p4lo eu sigo.
A som$ra da palhoça americana%ila assentada ao lado de sua mãe
Aprendendo a tecer n(alva almofada,0o$re inocente! %isme a$andonado)o meio da =it4ria, entre as ru/nas,
0or entre os laran3ais sem flor nem folhas,em ra/-es nem fruto, semeados
0or mãos do furacão por so$re a terra!
6orro a$raçar os seios tão fecundos,@ei3ar tão ampla, tão piedosa fronte,
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ifusos meus afagos derramarlhe)o pensamento, que se lança, ondeia%5pansivo e materno, aos p2s de eus)os olhos de seu filho... os lá$ios firo
)a dura casca do longevo troncoo $acuri-eiro e a pedra1 em ve- da $oca0erfumada da vo- celeste e t2pida,%m ve- do colo amorenado e fresco
e minha mãe de vi$raçEes pac/ficas!' &e de$ruçava lá na infncia longe,
Tão f2rtil, matinal e tão amada...6omo 2 árido o pranto que eu espalho!
A erva, o musgo não estavam nela,
%u ve3o a sala em chão enegrecido% liso pelo tempo, alegre e limpa,
6om seus r#sticos moveis d(angelim1Atada a $ranca rede neste canto,
<ainha minha mãe do trono argBnteo<epartindo suas ordens $randamente*Amiga escravidão contente a escuta,
@asta mata derri$a, os montes queima.a terra quente e #mida do fogo
%manam das entranhas os vapores,o lavrador o sacrif/cio aos c2us,
9n4cuo, a cada passo repetido)o cair de uma en5ada, erguer d(um eco,
A vo- saudosa e náutica da escravaAcompanhando os cavadores no eito1
)o $raço pende a cesta de pindo$a6o(a semente do outro ano conservada,
&elhor 7 plantação1 e o vento leve&onta e $alança as o$laçEes divinas
o tronco quB inda fuma e os longos sulcosQue o grão sepultam. >á loureia o milho,
=erde3a o arro-al na $ai5a, e so$e)a ladeira viçosa o algodoeiro,
Que vermelha maniva a cima entouça*epois, rica a colheita ' oh, tão feli-es!
% eus tudo nos dava, largas eiras,Amplos terreiros a$undante enchia.
)a lavra a padroeira se feste3a6om festas, com selváticos cntaros,
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Que dera inverno copioso 7s plantas,0ara o rio que sai do fundo leito1
=erão formoso na colheita, aos campos,8s pingues pescas e u$ertosos $osques.
%m fresca madrugada n4s partimosratos dias passar na doce quinta
6ora sua vida de um ano ou dois1 a lua)os raios da manhã sua lu- perdia.)o seio do caminho se enco$rindo,
ritando por seus pais, que cedo a$raçam,=ão saltando os crioulos1 vão nos mansos,
)os es$eltos corc2is $rancomimosos&eu pai, minhas irmãs1 atrás os servos,
% os cães ladrando 7 fugitiva corsaQue na volta da lua sai na estrada1
)o meio minha mãe, eu no seu colo,)o carro cantador, sonoro e lento,0or formosa parelha igual tirado,
;umante o dorso, sacudindo a frontee ramos enfeitada, um lácteo $afo
%5alando saudável1 pelos ares0oenta nuvem de marfim desonda
o caminho de fita. A vo- confusaa leda caravana matinava
Harmonia selvagem, mas tão $ela!
Que risonho pa/s, que novidadeo$ressaltou minha alma! alto hori-onte
+ tu3upar domina, se amontoa8urea colheita pelo em torno1 as aves
6antam no meio do arro-al que ondeiaAo vento estivo1 serpenteia o rio
Turvo e plácido, al2m perdido, al2m0assando 7 som$ra do algodão plumoso
Que das margens se a$raça, entrança os ramos16ortado, al2m, da estiva que de$ruço;ormou naturalmente o pequi-eiro1
% pela ri$a as verdes ca$aceiras%ra floridos cordEes se dependuram*
)uvem co$re o terreiro, vagam nuvens&ati-adas no ar, como folhagem
<ugidora que o vento cerca e arranca,A árvore queimada enverdecendo,
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Tristes, pálidas torres que não do$ram,9nconstante despindo o m4$il manto0ara outra enramar, co$rir de flores
6om a $reve estação desta que esfolha.
=oltávamos, passada uma semana,&ui saudosos, da lavra. )os tra-iam)ossa mãe preta e todos os escravos&il presentes d(infncia* a cuia nova
Tingida e resinosa1 o cará ro5o1ois ovos de perdi-, da glauca tona1
A leda, $erradeira seriquarae p2s e olhos vermelhos, verdoengosFongo $ico e a plumagem1 uns filhinhos
o como viridante em quentes plumas.
G tarde, quando a lua no hori-onteesco$ria de prata o rosto umenteAgitado no mar de um c2u d(a-ul,
+s cumes do ocidente se e5tinguindo,6omo o casal do :den se assentavam&eus pais 7 fresca porta no $atente=endo o nosso folgar* interrompido
Quando o sino vi$rava na capelaAngelusave1 renascendo logo.
Fá chegava o feitor, depunha a foice,% a meu pai relatava o dia findo1
o$re a queima lhe fala, as chuvas teme*C6orre mais a$undante no caminho
CTortuoso &apa, $anhou das margensCA lustrosa cantã, que se ergue olente1
C>á taiocas se alastram doidamenteC+u vão su$terrneas1 n(alta mata
C+ acauã cantou, ecos de longeCFevaram por mais longe os outros ecos1
CAcimamse nos c2us os seteestrelos,CAcentrada num forno a lua pende 'C+utros sinais eu vi ' todos os astros
Cão maiores mais lu-em1 são mais fundosC+s campos, perto os matos d(outra $anda,
C% mais amplo o hori-onte1 7 madrugadaCritavam gansos para o sul passando1
C6omprido $ando eu vi passar 7 tardeCa colhereira r4sea1 o sol no poente
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C=ermelho* tudo as chuvas anuncia.D
)os $raços maternais que me em$alavam,%m ondas de alegria derramando
+ cansaço infantil, eu me atirei"m dia e, de pra-er, preso em soluços.>á mudo e descansado olhando os outros
)o tecume em que andavam, despedirme,0or entre eles perderme, ia pensando*
)o lançarme, senti na minha fronte6air gotas de pranto, eu estremeço...
&inha mãe me apertava, e como alegre;oi di-endo* CHo3e $rincas, no meu colo,CQual na pátria, depois da vida errante,
CHo3e vens descansar... oculta sorteCQuantas ve-es não muda os seios almos,
Cel/cias da mãe terna e o doce filho,C0or um leito de pedra! estes rosais,
CTanto c2u, tanto amor, por tantas dores,CFongo penar, morrer! oh, eus te salve
Cos frios dentes d(assassina sorte...D)ada pude entender1 mas, comoveume
A vo- dorida lhe escutar, tão triste!
% assim como a progne implume aindae encolhendo tremente so$ as asas%stendidas da mãe, quando na torre
Que$rou a tempestade, eu a seu lado9gnaro emudeci tam$2m chorando.
' 9ndu-iume a voltar aos meus $rinquedos,%nquanto era feli-, %nquanto infante.
)unca mais ser contente eu não sa$ia*&inha mãe nunca mais contente olhoume
6om sua vista de esp(rança* um que piedoso% de triste-a estava em seu sem$lante
+lhando para mim, tão carinhosa!6omecei a passar todos meus dias
>unto dela, onde quer que ela estivesse,+u na rede da sala, ou passeando
0or entre a laran3eira, ou nos pom$ais1ormia no seu leito, a vo- lhe ouvindo 'Tremendo adormecer! ' e quando n(alva
6antava o galo, eu despertava, a via,
% como triunfante e pra-enteiroessa noite salvar, $ei3eilhe a fronte!
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)ão podia perdBla um s4 momento,Temia não sei que, porque nem sei...
% morreu minha mãe, perdi meu pai,
A =it4ria, os escravos aca$aram!...ou 4rfã, sou perdida andorinhaArrancada do ninho pelo vento,
)ão sei por onde eu vou... murchando a vida)esta minha invernosa primavera.
Assim, meu eus, no mundo os 3ustos passam,em ru/do ' vai som$ra solitária
Que refletiste uma hora. Ah! se eu pudesse=oltaram meu pa/s ah, se eu pudesse!
0assando, resgatar 7 li$erdade%sses vendidos, miserandos velhos
a =it4ria feli-es! po$res criase minha mãe, por hi morrendo, c2us!
arlhes a respirar no fim da vida+s ares do palmar onde nasceram*
% pasmados d(encanto ao ninho amado.Qual aves da saudade erguendo o coto
0ara o colo esconder fechando os olhos.
%ntão morrerem... mas, ouvindo ainda+ som dos $osques, o gemer da rola,
% o lago $errador por muda noiteHarmoniosa, e as aves da alvorada,% o suspiro e5alarem no seu canto!
Ainda a solidão nos conhecera,+ deserto ecoara, e so$ os p2sent/ramos a terra estremecer!
A campa quando mãos de amor a tocam,%scorrendo uma vo- que$rada, um pranto.
)ossa casa erguer/amos da noiteessas mesmas ru/nas do casal,
%ntre elas1 serviria a mesma porta,+s esteios os mesmos, o $atente,
%sses mesmos terrEes desmoronados)ovas paredes levantarão1 tudo
)os falara o passado... tudo lágrimas!: fagueiro chorar por muitos olhos,
0or muitos coraçEes, por muitos lá$ios+ mesmo choro, o sentimento e amores
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os tempos que 3á foram! ' e eu pudesse&eus amigos vendidos li$ertar!Ainda ver passando a colhereira,
+ ganso 7 madrugada, os meus palmares
% a rola da =it4ria e as aves todas!...% mudo a minha dor come a minha alma)os anos verdes, como verde fruto&astigado com força nos vora-es,
)os ri3os dentes a estralar que$randoa homicida, fatal, da minha sorte*
0or2m, não perca o fio da e5istBncia,eus no meu peito, amor nos olhos am$os,
Fonge do mundo, o r#stico ala#de)a destra sonorosa ' hei de vencBla!
ou como a cria desmamada e triste,Que uma gota de leite mendigando@ale em torno de todas as ovelhas*
A$anamlhe a ca$eça* eu não sou filho.Andorinha dos mares, so$re as ondas0erdida, as asas de cansada arrasta10assa a frota alve3ando qual cidade,
=oa aos mastros de um, d(outro navio,
+s marinheiros gritam, e ela voltae t/mida outro $ordo, e deste aquele*
Ai de ti coitadinha, fecha as asas,olta um gemido e lançate da vida,=ai na morte pousar1 cai desse cumeos teus dias $em l#gu$res n(aurora!
Ah, se eu tivesse mãe! então... ah! sim,)em como ave do mar, nem como a ovelha*
A seus lados feli-, $em 3unto dela,&eus $raços enlaçandolhe o pescoço,
@e$endo os olhos seus, seus doces lá$ios,ua respiração $randa, amorosa,
Que alentou minha infncia e fora eterna1=ivendo nela s4, toda minha alma
erramando so$re ela, ao mundo, ao tempo&ostrara o meu amor! ' Ó v4s, que a tendes,
Amai a vossa mãe, amaia sempre,Amai ainda ' quanto amei, quanto amo
&inha mãe... minha mãe!... tu, divindade,
&eu sol da infncia que me davas tudoenti meu pranto como triste corre1
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=ede meus dias solitários, áridos,;ruto que não vingou* tão cedo, a selva&orreu, caio* 7 calma e5posto, o sueco
e perdeu, e mirrou não tenho mãe.
6om o são lentos, longos, e pesados+s dias deste mundo! como custaArrastar este arado da e5istBncia,
<ompendo a leiva pedregosa e secaQue não dá uma flor! Tu me a$andonas,
eus, na terra ingrata? ' eu vou seguirte,e depois deste mundo asas me derdes...
XLVI
3ua oz na inf;ncia adormeceu no ber$oMeu dormir de flor
E de saudade e amor, mãe, & sobre um tmulo que eu canto(
om$ria morte me acompanha, eu sintoeu faminto alentar* cada um meu passo
A$re um sepulcro, e me desaparece.A lu- me aterra, desconheço o dia,
)oite que treme apresentarse ao solAntes da vida eu morro. +lhava apenas
%ssa terra de vastos hori-ontes...&eus olhos cam$aleiam pelas faces,
6omo o ocaso despedese dos p/ncaros.)ascem ecos distante... um s4 minuto,
Ó ecos, esperaime ' eu vou cair!
)ão me vBs, minha mãe, neste deserto?em pátria, como a nuvem desgarrada<esvalando por c2us de noite pálida*em parar numa terra d(e5istBncia '
6orrente cristalina por amores,0or amores a c#pula palmosa,
om$ria e mui sonora, do folhedoeus aromas com os cnticos das aveso$re mim derramando em casto leito
e vai cheiroso, do penhasco ao seioescansada a ca$eça, e o 3unco e as flores
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o pá ramo por virgens do meu peito,% por meu teto o c2u1 cndida lua
)o meio da cer#lea ca$eleira%5alando o seu rosto de don-ela,
6laro manto de sedas perfumadas6o$rindome da noite, árida esta alma&(em$evecendo d(orvalhoso efl#vio1ormindo o sono plácido da crença,
Afagarte em meus sonhos de ventura,=erme infante em teus $raços, em tua fronte
>uncar, 3uncar meus $ei3os... minha mãe!)ão me vBs, doce mãe, neste deserto?
% o 3ardineiro sol da madrugada
@anhando as flores de perfume e tintas,+u quando da palmeira aos p2s arro3a
A meneante imagem, no ocidente6armini-ando o mar, e a nature-a
%ntre as m/sticas som$ras de uma tarde,Quanto eu amara! que esta vida enchera
e todo este universo, minha mãe!
)ão tenho um s4 amigo, sou tão po$re...
Que eu ve3o um mundo... ningu2m sa$e ao menos*%5tintos olhos e uma t2rrea fronte
)ão vão c(o ledo romanesco em galas.+h, quem pudesse penetrarlhe o e5/lio,ondar seus mares d(ilusEes e a$ismo,
% os mist2rios erguer n alma do $ardo 'om$ria diante o sol, por entre as lu-es,
0ara os dias da noite solitária!em gemer uma dor, choraas consigo,Ao mundo que sorri, sorriso empresta1
)a pa- da solidão rasga sua alma1Fucu$raçEes 7 hora evosa e tácita,
% umas gotas de lágrima espontneao$re essas flores de triste-a e insnia.
&eu corpo 7 terra a$andonei mis2rrimo*e saudades, de amor, sonhos, esp(ranças,e ti, de um eus alimentei meu peito '% para o mundo, minha mãe, tão po$re!...
%rrante pelas ondas do oceano,+ som das vagas temperoume a lira,
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%cos delas seus ecos repetiram.olitário dos homens, forasteiro,
)a soledade do ideal ouviasimpáticas, soluços me ensinando
Arrancar ao coração1 com elas%rrei a mente n(amplidão calada1emi com elas na canção do nauta,
<ealçando na proa sonorosa%m silBncio a desoras1 pelo $o3o
<ompendo as trancas, quando a lua enflora,Quando a lua umedece, $ela em mares,
@ela no c2u a-ul, no cavo pano.uspenso e$#rneo pelas vergas longas16horei com elas na e5tensão profunda
0ovoada do 2ter anilado,Quando da noite a $alançarse ao colo
em $osque ave sentida ia piando1%nsinaramme a vo- rude e selvagemArando o vendaval rouco e ruinoso1
%m calma eu vias açoitando as rochase &arrocos, d(%spanha, ou docementeAs velas $alouçando, e, qual mulheres
(ardentia vestidas, de$ruçadas
0elo &editerrneo, o pensamentoA descantar perdidas, suspirando1
% quando 7 matinada saltam pei5es,<u$ente caravela esmalta 7 tona,% de mansas e languidas dormiam
esfalecidos ventos nos seus $raços.% no vago ondular da vida alheia
)ão $usco a nature-a, amoa* nos homens%ncontrar meus irmãos... ah! minha mãe,
Ao meu amor s4 tu. ;oste* ' a tua som$ra,Alma, ou o que houvesse de imortal em ti,
;icoume triste musa do crep#sculo1a saudade uma lira encordoei
)o meu pranto por ti, no amor a eus.' @al$o, fl2$il infante ao desamparo,
enti necessidade* eu quis vi$rála0or meu consolo1 e t/mido, aos meus olhos
%nvolveume pudor, fugia crBla1<u$esce a musa, inocentinha virgem
&eiga nota de amor passar sentindo.% eu cresci na crença de meu pai.
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&eu pai tam$2m morreu, erguilhe as cordasa lira que me deste, em noite escura
Ao mundo esquivo 7s som$ras do sepulcro.
%m pálida orfandade eu fui qual folha)as asas dos tufEes ludi$riada*a selva me arrancaram tenra e murcha,
Quando o sol rodeavame num $erçoe flores e favnios, quando as aves
)o trino virginal d(argBntea infncia...Que amanhecer, 4 mãe, quanto era horror!
6olocado me achei num hori-onte+nde o fogo queimara a terra, as flores,
Tanto sorriso pradinal no monte,
)o vale a pragana aureando ao sol!A terra estava negra, re$uçada
%m camadas de cin-a1 al2m, al2m6repe alvacento levantando apenas '
% o c2u nem sou$e darme um fresco orvalho!6horei! perdidas lágrimas de 4rfão.0edi consolaçEes! por2m, 7 terra.
% os meus gemidos as soidEes comeram1&eu pranto aquece resfriada cin-a1
% ningu2m me entendeu. ivago ignoto.
Feviano $ai5ei das águas todas,=ergntea e5ile do frescor movida,
Amei, oh, quanto amei! an3os da infncia,Que os meus anos d(aurora mati-aram!
%ram ondas saltando, s(infiltravam,6omo em praia, em meu peito sonoroso1% como ondas de vida os meus suspiros
0iedosos caindo, me escutaram*oces cantos teci de amor travessos,
esalentada mansidão da serpe."m rápido sorriso 7 flor dos lá$ios
)asceu, tingiu de amor, passou, morreu.uav/ssima aragem desprendendo
Amena rosa de recentes cores,;agueira linfa vinculando a concha,
% nem mais divaguei... morreste?... virgem!An3o coitado, que tremeu de amarme,
Arder as asas na silvestre chamao meu amor1 almpada sagrada,
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Fu- delirante me sentir nos seios(4leos divinos suspirar, morrer.
Fongos, pranteados em$alava os olhos,
Que a face afrescam de uma lu- infante,Ao c2u de a-ul asserenado, manso,9deal d(harmonias respirando,
6omo a rosa em seus $afos se difunde1% nos fracassos desse peito alheioAn3os, nuvens divinas se e5alavam*
C=irgem de vaporosas criaçEes,Cáme um $ei3o por asas, dá com elas
CQue eu su$a 7 salvação, 4 casta! 4 noiva!CTu, que alvoreces entre o coro e as harpas
Ca nature-a, que as montanhas vi$ramC0or estes vales onde o vento dorme1
CTu, que te inclinas 7 espaçosa som$raCa tarde, como a t2pida lem$rança,
C% o saudoso passado, dáme um $ei3o!C%nche meu coração dos teus mist2rios!D
' % ela não falou* confusa e $ela,ei5ou nos olhos melindroso assomo.' % ela não falou* meus olhos $ai5os
Fampe3aramlhe aos p2s, doce mendigoo$rado ante os altares da esperança.
uaves l/nguas de mimosa flamaentiase a sair no puro alento
a aromosa $oca* ar$ena alpinaQue na calma foi do ávido assaltada,
%m cansaço e medrosa um ar faminta.=aguei por so$re as pálidas ru/nas,
8 rota som$ra do espinheiro agreste*)em mais ouvi a rola solitária,
Famentoso acauã deume o seu canto)as horas do silBncio taciturno,
% outras aves do sol desconcertadasoleni-aram o amanhecer e a tarde.0ercorri as campinas lá da infncia,
)ão encontreias, de mudadas que eram1<egou meu pranto os cardos do alpestrio
6rescidos no álveo do olhod(água. As floresQue plantavas no pátio, o p2 ramoso
o $ugari morreu, nem mato as co$re!A capela das salvas +h! quem pde
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+ casal da =it4ria interdi-erme?>á vacila o esteio, alta parede
%ra seus p2s se amontoa, a$ate o teclo1%m sentido asso$io lá se envolta
Amarela 3i$4ia, ao lado gemeA coru3a d(agouro, das ru/nas0residindo o cair, noturno esvoaça
+ morcego e pende, rumoreia o vento.
% o teu casal me foi negado um dia0ela terra tão má! pecoreando
Ao relento passei noite sem fim,)o meio das soidEes do meu passado,%m pedras estendido. Quantas dores
A$afavamme as som$ras! meus gemidosApenas iam se perder no vale.
e lassidão sonhava, adormecia*%u era o teu sepulcro misterioso,
)a minh(alma encerrei teu pensamento,&eu peito a lousa do epitáfio* em mim=isEes senti que os t#mulos rodeiam
<oçarem fugitivas como o vento0or muda folha1 imagens dolorosas
&e acenavam de longe, revoavam,6a/am como! do ar, feridas pom$as
Quando cegas do sol vão contra os muros,%m saudade convulsas me a$raçando1e tão chorosas me acordaram %u s4!)as ondas do suor, espectro errante,
esca$elado e pálido entre as árvores 'espovoado c2u! Ó mãe, 4 mãe!
&eu eus! porque mataste minha mãe?0orque mudaste as flores destes s/tios?0orque murchaste todas estas árvores?
6omo tantas ru/nas se amontoam!A verdura risonha do outro tempoesfalece do prado, e triste as avesFevantamse 7s colinas do hori-onte
%negrecidas, áridas. Quem dera=ivesses inda aqui! doce velhice,
Apoiada em meus om$ros, titu$antes
)ossos passos, feli- te condu-ira)as margens odorantes de tua fonte
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Keca e perdida em carrascais sem florL,Te dando água na mão, que tanto amavas
)a folha da cantã, e 7 tua vistaorrindo as linfas gárrulas passaram1
A tarde, vagarosa, em doce prática,)o teu passeio a respirar no monteo $osque perfumado $rasileiro
Ar t2pido e saudável* so$re a pedraa ladeira, encostadaa mim, por longe
=agando os olhos d(afrou5ada vista6omo esses cantos vesperais desmaiam,)uma hist4ria sem fim, mas agradável,@randa fita de mel, por entre as frases.
+ nome do teu filho acentuando1
% depois, quando a som$ra 3á ca/sseos laran3ais perante os astros todos,
0elos trivios 7 morta claridade=irmos tra-idos para o teto amado,+nde 3á passam as primeiras lu-es1
escansando no toro de paud(arco,Tu falarás então, por2m sem lágrimas*
CAqui tuas irmãs contigo 3untasCHá vinte anos $rincavam1 lá, teu pai
C%sse p2 de loureiro que inda cresceC0lantou quando nasceste, esperançosoC)o teu futuro ' a idade dele 2 a tua.D
% no terreiro se a3untando os pretos,6omeçamse acender os fogos r#sticos.)em mais o canto das sen-alas ouço...
+h, quantas cousas tem mudado o tempo!Ó eus, porque mataste rainha mãe?
6urveime 7 rama do palmar atlante,)o esto de uma quadra da e5istBncia,
0erto 7 sorte minguada ouvindo a morte...&as, foi sonho. Açoitado do destino
0erdi as margens que eu amava, ingratas!&inha dor comprimi, pranto de sangue0or dormila chorei! chorei saudades,o peito a fronte a levantar gravosa
=ergada ao pensamento, fundos olhosTremulando no vulto do gigante
<e$uçado em seu manto de penhascos,%ntre os c2us a ca$eça, 9h(entoucando
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ilencioso nevoeiro a grenha1;alecendo no a-ul das serranias
os Órgãos endentados ' qual n(areiao l/$ico deserto, o sol aceso,
(em$alançam palmeiras no espelhoso,%ncantadas cidades, ilha ou selva,+nde elevase muda a caravana ')o remanso das águas desenhadas
&el/fluas do >aneiro. +h, meus encantos!&ãe despiedada que seu filho en3eita,
A pátria me negaram... 0osto 7s chuvas,enti murchar meus anos inda a$rindo1
&inha vida pendeu e5tenuadae suspiros e dores1 esta seiva
a minha alma s(evapora, esvaise10ela a2rea rai- repousa o outono,
% os tur$ilhEes ardentes a laceram.
%u vou su$indo o rio da e5istBncia6ontra as correntes em penosa $alsa*
%stendo a vista pelo esteiro, $uscoeter co(as mãos as ondas, que me fogem!rito, que se não perca o meu passado '
% perdese com o eco... e pelas margensApenas uma lu- se e5tingue, um monte
%mpalidece e seca, as minhas torresesfa-emse em ru/nas, um cipreste
Fá no fim do hori-onte o corpo estende!...% voltome ao caminho para adiante*+ tempo se apro5ima, e passa* e digo,
+ futuro lá 3a- atrás da nuvem '0or2m $ranqueia a nuvem... peço ainda
G noite, que me espere %nquanto há dia '+ sol desaparece, e tudo 2 noite!
' %stá minh(alma se escorrendo em chagasTão vivas, de sangu/neos meteoros
)ela cheia de noite, ou como os raios)a sua tempestade serpenteiam!
%u via o tempo segundarme 7s pressas*C6orre! corre! que eu passo.D %u corri tanto,
Que a vida toda numa aurora andei
At2 aos pedestais desta muralha!Ainda as verdes p#rpuras me cercam,
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% esta desgraça que eu radeio as cresta.)ão posso mais seguir* num desalento,
%u caio, e de fadiga mal me arrastoG $eira de uma som$ra, so$re o marco
A fronte delei5ar em desca$elos9ndiferente pela terra o corpo*&eus olhos apagados, pelo vale
%m$alde se demoram nos meus rastos,Que palpitam, que somemse e os aturvam.
+ sol vacila a contemplarme, e pára!=oltolhe as costas, meu despre-o ao sol,
Que não 2 mais a mim como da noiva+ $anho perfumado do noivado10or2m onda que o l/vido cadáver
"medece insens/vel. + a$andono: meu leito da morte* e5piro, aca$o,
em terno pranto, sem amigos $raços*=e3o um inverno a desfolharme apenas,
% p#rpuras crestadas1 vo-es mortasinto apenas vi$radas na montanha.
Que leito $elo, e preguiçoso, e morno!)este en3o da vida ao menos diga*
%ternidade de dor $e$eu minha alma,0or ela fui nutrido, e me sepulta1
4 aqui não achei mentira o mundo.' : rochedo meu peito 7 flor estranho*
% do pra-er nas g2lidas cavernasomente encova horror, linfas amargas!
6riação desgraçada ' nasce o $ardo0ara sofrer, e maldi-er os c2us.
%nsopada nos $álsamos do go-o,os amores, da vida a infncia minha
;oi uma hora, e passou, tão leda e $ela!&eu corpo da doença corrompido&isturase co(a terra1 anoitecido,
A noite emprestame as som$rias frmas*% nem espero amanhecer mais nunca...&orrer! tão cedo, no quartel primeiro,+ sol no monte a palpitar d(esp(ranças)um vidroso fulgor... +h, enhor eus!
+s dias eu não choro para o mundo,)ão carecem de mim go-os, pra-eres*
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on-ela vacilante minha pátria,)ova e rica d(encantos, e tão po$re,
Tão 4rfã como eu sou de pais e amores,e todo o peito meu quisera amála,
A$rir com ela no su$ir dos anosQue não sa$em murchar celestes flores '&is2rrimo sonhar! vãose os meus dias
)a corrente indomável tropeladosos pendores da sorte ao fundo a$ismo.
0orque, eus, me criaste? em minha auroraou v/tima ' o que fi-? ' 6orre, homem louco!
Ave magra e sem ninho vai cantando,e morta a descansar de vo em vo,
6onforme a terra ataviada, mia,
(um c2u alpestre, ou desatando encantos.
oloroso cipresteda minha alma+ndeia no meu rosto a som$ra errante
os ramos denegridos, anuncia6omo os em$alos de noturno sino
+ enterro que passa, a minha morte '&inha morte amanhã... talve- inda ho3e.
6horam verme e5alar a vida d(ontem
)o $erço adolescente1 eu sinto o prantoo fundo peito, que s4 meu 3ulgava,)(olhos estranhos, a doer na fronte
os que me cercam, repetindo mudos*C&orrer tão cedo!D 6omo 2 $elo, vede,
A morte do poeta nesta idade!&imoso cisne pelo c2u de um lago
esplumando suas alvas sem ter mancha6omo as virgens gemeu, gemeu l gemeu!
)em sa$e s(inda 7 terra um corpo fica,e fica a terra, as flores e as campinas1em para cima os olhos d(esperança,
&udo e candidamente está sorrindo '%5pirando e sorrindo. ' &as, a pátria?
(enlevando ine5perta pousalousa)o sorriso fala-, da humana serpe,+ra, com sede, sedu-indo a cega1
Fogo depois, escarnecendo a n2sciaesflorada* Cs4 farta os vis dese3os,
Tão va-ia de amor divino!DÓ pátria!enhor, salvaa! enhor! %u morra, em$ora.
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' o desco$rimento não morreram os d2spotas,)ão, que o cndido povo, o povo infante
)ão cessou de gemer. ' Ah! contra o d2$il
+ forte não triunfa* ele envilece.Tem a alma no peito espaço igualo mesquinho senhor, do escravo fraco.
6o$ardia 2 pisar o choro humilde,6o$ardia 2 chorar nos p2s tiranos*A sorte comutada, eles semelham.
)ão tem sorte o magnnimo, tão alto%stá no trono ou no servil gra$ato.' <apina simulada, a fronte 2 clara0erante o dia, no favor das som$ras
esusando ao trav2s, t(insulta, e passa*6om ar d(escravidão te distra/ste!
' Tão indolente, quem te dá piedade=endo os teus campos se esterili-arem?
+ eus, o pr4prio eus, se ofende e vinga*0este, desolação, mis2ria, seca,ritos de cativeiro e maldiçEes,
+ horror que fa-es, s4 nas mãos te estende!' espre-/vel te olharam, em torpe estagno
A ressonar, em gurgitada em gulae tão pesada tradição retr4grada*+lharamte vistosa, como a Fimace
Arrastando na concha o fátuo ego/smoe$ruçarse mui lenta so$re as praias
e um vasto mar, em camas de ouro ' de ouroe alimentando ali do limo e d(ervas
Que as ondas tra-em das opostas margens,as margens todas que não se3am suas,
&ove a ca$eça apenas, e um dos cornos,Aonde os olhos se arredondam, fura
As cápreas -onas, e no 0rata o molha1+ outro, ao norte pelas nuvens dentro,Acende no equador por entre os signos,
% nas águas seus arcos esverdeiao primonato filho dos oceanos!
% o corpo se perdeu quase nos Andes,% al2m dos Andes, lhe a$raçando as plantas,
6om vo- dos s2c(los que o futuro a$alam,
<esponde o grande mar ao mar Atlntico!
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' %rguete! movete! sB senhora, impera,%stende as asas, voa ao sol candente,6ampeia so$ranceira pelas nuvens,9magem do condor das serranias!
Arma a 3ustiça no ama-nio $raço,%rgue os teus filhos que te erguer sonharam16urva os teus filhos quando ingratos foram1Fava tua fronte que os estranhos cospem,
aliva /nvida, mas despre-o há nela!' A onde 2 viva a rique-a o homem corre,
Todos amam viver, a pátria encontram*%m seu 3a-er dormente, não amigos,
%5aurila s4 vem, como $andidosQu(im$ele v/tima inda insultam quando
%m seus congressos da montanha $ailam.' +h, desperta! dormindo em pleno dia...
+ $ruto pesadelo da pol/tica)ão dá sonhos ' afoga e cansa e mata '
0isando nos seus p2s a Fi$erdade...% a Fi$erdade nos teus seios geme!
0or amor de si mesma. A nuvem presaesespera e se arro3a na tormenta*Ap4s os seus destroços miserandos
A $onança virá, por2m, tão tarde!...e $riosa, prepara 7 nature-a
Templos 7 eterna lu-* ' na superf/cie=em rolando do glo$o* eila $em perto,
a#da nossas plagas os primeiros6larEes e o crepitar! =e3o o +riente6in-a vasta, por onde ela passara,
e um fumo $ranco se perdendo e leve.A$ar$arando vãose os que ela dei5a,
+ tempo em$ora lhe não lave os traços,% o $ár$aro +cidente ora resplende.
As ondas transporá* que 3á se espelha)as 6olm$ias dos Andes e dos mares1
% a som$ra então, que nos envolve ainda,9rá longe de n4s, e a cauda fria
%stenderá no c2u que nos eclipsa '+ dia aqui(stará ' ;oi lei do ol.
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)LTIMA P"GINA
e eu escrevesse um pr4logo, seria tão somente pedindo ao p#$lico medesculpasse de lhe haver oferecido os meus concertos ' frios, tão mal
entoados e r#sticos. A dor, os sofrimentos, a saudade foram o an3o desgraçadodessas inspiraçEes como o grito fatal das aves da noite. %u nunca os pretendipu$licar ' os restos disputados aos vermes e ao tempo seriam roto cipreste aomeu t#mulo ' que, se um dia o pensasse, certamente não os teria escrito,nunca eu seria poeta, ainda s4 pelos escrever. %u os cantava descuidado, semdarlhes nome os perdia ' quando o peito mais leve como que adormeceu.0or2m, a sorte falou mais perto... e ho3e os procuro para dálos. %stremeço 7sfráguas por onde eles tem de rolar, e tenho remorsos de haver dado cousa tãomá. %u nunca os pretendi pu$licar* foi a sorte que falou de mais perto* perdoai.
afara e inculta, aos ausp/cios da 9nfortuna pálida, a terra s4 produ-iu floresvenenosas* não as respireis1 passai longe do vale ' eis o caminho. Toda via, euamo naturalmente esta vida errante, sem lei nem futuro* inseto em arri$açãocont/nua, tuas asas cortaram, cairás em teus primeiros -um$idos. 8 som$ra doteu nome, doce irmã, $ela e feli- &aria>os2, eu teria a$rigado os meusprimeiros ensaios1 por2m, não encontrei neles um refle5o divino da poesia deque s4 mereces de ser rodeada, e encolhi o meu dese3o. : a sorte que me andailudindo, eu não morrerei ainda.
%u ve3o um firmamento de vasto a-ul, um astro se levanta no meio. Tudodesmaia em torno de mim* 2 que nada era estável1 e tu, #nica realidade que euve3o, eu vivo, tu e5istirás!
A$stenhome de a3untar a este volume, por 3á tão longo e de certo fatigante,notas so$re lugares, costumes e nomes naturais, que por falta de indagaçEescient/ficas possam ainda ser desconhecidos.
>io de .aneiro, 185N .9*+GM DE 79GO*%*?D>*DE
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